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William Moreira Lima Neto

A Economia do Seguro
História Há relatos de que os babilônios, gregos e chineses já utilizavam
mecanismos semelhantes aos contratos de seguro para garantir as
do perdas no transporte de cargas.

Seguro Contudo, as características dos contratos de seguros que


conhecemos atualmente foram desenvolvidas no início do século XIV
pelos comerciantes genoveses. A palavra apólice (policy) vem do
italiano polizza.

O seguro marítimo foi o grande responsável pela difusão das


operações de seguro. O mais velho contrato de seguro ainda
preservado data do ano de 1547. A cobertura destes contratos não
cobriam somente a embarcação e a carga mas também a morte da
tripulação, dos comerciantes e o custo no caso de ataque de piratas.

O seguro de incêndio foi fortemente impulsionado após o grande


incêndio de Londres de 1666.
Desenvolvimento de Produto
Natureza Há muitas definições para risco. Estaremos
utilizando o conceito de que risco é a
do Risco exposição a uma perda ou injuri.
e do
Seguro
Há dois tipos de risco:
risco especulativo, que envolve as
oportunidades de perdas ou ganhos e inclui
risco dos negócios, hedging, e jogos; e
risco puro, que está associado a ocorrência
de uma perda ou não.
A Economia do Seguro
Natureza O seguro tem por objetivo a proteção contra perdas
financeiras oriundas de um evento aleatório. A perda
do Risco deve ser fortuita.
e do
Seguro Só é passível de seguro de eventos aleatórios que
podem ser medidos em termos monetários.

O seguro não reduz a probabilidade de perda.

Contribui para o bem-estar geral, melhorando a


perspectiva de que os planos não serão frustrados por
eventos aleatórios.
A operação de seguro está somente associada a perdas
econômicas provenientes de um evento cuja causa é
proveniente de um risco puro.
A Economia do Seguro
Natureza Uma exposição excessiva a perda deve ser evitada.
Uma atenção especial deve ser dada ao acúmulo de
do Risco riscos (catástrofes) e limites de cobertura.
e do
Seguro A frequência e o montante da perda esperada podem
ser calculados.

O prêmio deve ser suficiente para cobrir os riscos e o


custo de administração.

A operação não deve se sobrepor ao interesse público.


Ex. Não deve encorajar atividades criminosas.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Introdução Há dois principais objetivos corporativos: objetivos operacionais,
market share, posição de mercado, lucros; e objetivos de
solubilidade que estão focados na constituição das provisões,
políticas de investimento, resseguro e solvência.

Há uma complexa inter-relação entre esses objetivos que juntos


fazem parte da estratégia operacional (desenvolvimento das
apólices, distribuição, subscrição, gerenciamento dos sinistros e
precificação).

Alinhar o preço aos objetivos operacionais é conhecido por


processo de precificação. Há duas fases principais nesse
processo. Primeiramente, é necessário definir os prêmios (ou
taxas) que levam em conta os princípios do seguro. Por fim, deve
ser definido o preço final para levar em conta o ambiente
competitivo do mercado e as suas estratégias.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Filosofia da Observar os princípios que regem o seguro são
Classificação fundamentais para manter a solubilidade da seguradora.
– Princípios
do Seguro
Princípio 1 – Riscos seguráveis deveriam ser subscritos de
tal maneira que o prêmio e as condições prevenissem
seleção contra a seguradora.

Princípio 2 – A regulação do sinistro deve ser feita de


maneira firme e justa.

Princípio 3 – A seguradora deve fixar prêmios que sejam


adequados e razoáveis entre os segurados.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Filosofia da
Classificação É importante identificar a diferença entre o risco de
– Seleção seleção adversa e o risco moral. A seleção adversa
dos riscos ocorre antes da elaboração do contrato. Já o risco
seguráveis moral se verifica depois.

Ações de Avaliação da política de subscrição podem


reduzir o risco moral e, principalmente, a seleção
adversa.

Já medidas para identificar grupos homogêneos que


geram um prêmio justo reduzem o risco de seleção
adversa.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Filosofia da
Deve observar o conceito de segurabilidade. A perda deve ser
Classificação fortuita e deve ser possível estabelecer claramente se uma
– Elaboração perda segurada ocorreu.
das Políticas
de Aceitação Geralmente há dois tipos de apólices que são comercializadas.
Aquelas que cobrem todos os riscos exceto os excluídos. E as
que nomeiam os riscos e os eventos passíveis de cobertura.

As políticas de aceitação devem ser levantadas pelos


subscritores da seguradora (Back office). Deve ser evitado que
tais políticas sejam definidas pelos setores da companhia
responsável pela venda (Front office). Desta forma, evitam-se
muitos problemas que elevariam o risco operacional.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Filosofia da
O formulário da proposta é o principal instrumento para o
Classificação subscritor criar algum julgamento que levaria a aceitação do
– outros risco individual. Portanto, deve ser completo o suficiente para
aspectos permitir uma boa análise de risco.

É bem compreendido que o mercado alvo da seguradora


costuma ter um forte efeito na experiência de sinistro. Mas é
importante observar que o risco moral é maior em certas
carteiras.

As políticas de aceitação e de liquidação de sinistros devem


estar disponíveis em um guia a disposição dos responsáveis
por esse processo.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Filosofia da
Classificação Uma vez que todos os demais itens tenham sido
– tarifação definidos, o valor a ser cobrado aos segurados deve ser
justo.

O prêmio a ser cobrado deve ser suficiente para cobrir os


custos com sinistros, os gastos com a operação e uma
margem de lucro.

O custo futuro esperado dos sinistros é conhecido como


prêmio puro (ou prêmio de risco puro). Para estimar esse
valor, deveriam ser levados em conta fatores como
inflação e mudanças em geral no ambiente de negócio.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Filosofia da
Classificação Os ganhos com investimento deveriam ser considerados
– tarifação nesse processo. A princípio, seria possível descontar o
pagamento esperado de sinistros e os gastos até a data
em que o prêmio é recebido. Esse conceito de desconto
de fluxo de caixa está sendo discutido no projeto
Solvência II.

A margem de resultado operacional deveria ser


considerada sobre o grau de incerteza sobre os custos
dos sinistros futuros e a quantidade de capital necessário
para suprir esses riscos.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Filosofia da Como já foi dito anteriormente, são três os objetivos operacionais da
Precificação seguradora: alcançar uma específica taxa de retorno sobre o capital;
maximizar os lucros; e manter ou aumentar o market share.

O primeiro objetivo está associado a um retorno esperado de longo prazo


sobre o investimento feito.

O objetivo de maximizar os ganhos representa um dilema do gerenciamento,


já que as expectativas dos acionistas com os resultados podem estar além das
demandas do mercado.

Por fim, o ultimo objetivo pode gerar um desequilíbrio na carteira, pois pode
acarretar em tarifas não rentáveis. O mais importante é que deve estar claro
que esses custos ensejarão num aumento do risco de precificação e, por
conseguinte, afetará o capital da empresa.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Filosofia da Para definir uma estratégia de preços, é necessário ter em mente algumas
peculiaridades do mercado tais como o canal de distribuição, o nível de
Precificação competição, os segmentos de mercado para diferenciar produtos e serviços.

Diferentemente da filosofia da tarifação, o processo de precificação está


fortemente associado aos fatores citados anteriormente. Contudo, toda essa
estratégia deve observar os critérios definidos com base no manual de
subscrição.

Observar os fatores de risco, por exemplo, é essencial para evitar anti-seleção.


Não somente os fatores de riscos observados na carteira da seguradora devem
ser mapeados mas também os fatores de risco que normalmente são
utilizados pelo mercado.

Em mercados onde os agentes estão sempre se modificando, é importante


sempre manter atualizadas as regras de subscrição. A identificação de novos
fatores de risco para uma determinada carteira acaba sendo um diferencial
competitivo.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Prêmio Há muitas abordagens para definir o prêmio atuarial. Escolhemos uma
que está próximo aos conceitos de prêmio em finanças. Desta forma, uma
“Atuarial” definição simples e objetiva seria que prêmio é uma compensação paga a
seguradora para assumir um risco de um terceiro.

Há vários princípios que podem ser justificados para o cálculo do prêmio.


Denuit et all (2005) e Kass et all (2008)

Sem maiores formalismos, os princípios do prêmio são regras que atribui


um prêmio para um risco segurado.

Em mercados onde os agentes estão sempre se modificando, é


importante sempre manter atualizadas as regras de subscrição. A
identificação de novos fatores de risco para uma determinada carteira
acaba sendo um diferencial competitivo.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Prêmio Para se ter uma visão do nível dos custos dos sinistro para um período em
que as taxas estão relacionadas, é necessário que o atuário:
“Atuarial”
determine que informação (tanto quantitativa quanto qualitativa)
relevante que está disponível; colete dados; selecione uma apropriada
classificação de risco; analise os dados de acordo com essa classificação;
selecione as hipóteses para a modelagem; teste os resultados para
variabilidade e sensibilidade.

A natureza da informação e o apropriado procedimento para a


classificação de risco dependem do tipo de negócio que está sendo
avaliado. Pode se tratar de uma nova carteira ou de uma já estabelecida.

Também deve ser verificado se a carteira é de calda longa (ou não), se as


classes de risco já são pré-estabelecidas ou dependam muito de
julgamentos qualitativos do setor de subscrição.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Prêmio Quando se está tratando de novas carteiras ou de carteiras em que as
informações qualitativas são mais relevantes, estamos diante dois
“Atuarial” aspectos mais difícil no processo de precificação.

No primeiro caso, é importante buscar fontes de informação no


mercado. Já para os casos em que o fator qualitativo é muito levado
em conta, o atuário deve monitorar algumas medidas de risco e
informar se estão saindo dos padrões pré-estabelecidos pelas
políticas da empresa (back office).

Já nas carteiras mais convencionais de curto prazo, por exemplo,


devem-se buscar grupos homogêneos.

O ideal é analisar duas quantidades separadas: frequência e


montante de sinistro. Também é importante avaliar se há mudanças
relevantes no perfil da exposição ao risco.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Prêmio Custo dos sinistros por unidade de risco;
“Atuarial” Estrutura adequada de tarifação;
– Prêmio Ajustamento de franquias.
Puro
Identificar quais as informações relevantes estão
disponíveis;
Recolher os dados;
Escolher as hipóteses dos modelos;
Analisar os dados de acordo com as hipóteses;
Definir uma métrica para quantificar o sinistro;
Testar os resultados.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Prêmio Sugira uma estrutura tarifária para um novo produto;
“Atuarial” Revise completamente a estrutura tarifária existente;
– Prêmio Revise as relatividades na estrutura de rating existente;
Puro Monitore a performance de uma estrutura tarifária para ver se
uma revisão é necessária.

Métodos de tarifação por experiência são técnicas que tem sido


desenvolvidas para solucionar o problema da heterogeneidade
dos resíduos que não foram eliminados pelo uso dos fatores
tarifários no processo de subscrição.
Abordagem Bayesiana
Teoria da Credibilidade
Filosofia da Tarifação e Precificação
Prêmio O prêmio comercial teórico para um risco é a quantidade necessária para que a
“Comercial” seguradora tenha lucro após o pagamento dos sinistros e despesas esperados,
levando em conta os ganhos com os investimentos.

𝑅(1 + 𝑒)(1 + 𝜆)
𝑃=
1−𝑟−𝑐

P: prêmio Comercial Teórico


R: prêmio de Risco
e: taxa de despesas para liquidação dos sinistros

𝜆: lucro
r: percentual do custo do resseguro
c: comissão e gastos com a subscrição
Filosofia da Tarifação e Precificação
Classificação No mercado atual, é extremamente difícil manter subsídios cruzados.
dos Riscos A competição e a informação leva as empresas buscarem prêmios
justos para os segurados.

Desta forma é necessário estabelecer uma estrutura tarifária que


permita compartimentar os segurados em classes de riscos
homogêneas.

É bastante conhecido que os segurados do sexo feminino causam


menos acidentes de veículos do que os do sexo masculino. Então,
parece razoável que os prêmios daqueles sejam inferiores a destes.

Uma estrutura tarifária desbalanceada, num mercado competitivo,


leva a antiseleção e, em muitos casos, a insolvência.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Classificação Existe uma série de fatores que são candidatos a entrarem na
dos Riscos estrutura tarifária. Contudo, é necessário confirmar (ou ajustar) essa
estrutura a priori a partir da coleta de dados.

Os atuários costumam utilizar ferramentas como modelos lineares


(generalizados) para ajustar modelos com as classificações dos riscos
e calcular o prêmio puro.

O conceito de prêmio puro está associado ao custo esperado de todos


os sinistros que surgirem durante o período de cobertura.

Outra situação que necessita estar clara é que no processo de


tarifação de seguros há um compartilhamento de risco entre
seguradora e grupo segurado.
Filosofia da Tarifação e Precificação
Classificação Considere a seguinte variável aleatória 𝑌𝑖 uma quantidade de interesse
dos Riscos atuarial qualquer (frequência, valor, sinistralidade, ...). Para explicar os
resultados de 𝑌𝑖 , o atuário possui variáveis explicativas 𝑋𝑖𝑇 = (𝑋𝑖1 , 𝑋𝑖2 , … )
a sua disposição.

Também há uma série de outras características não observáveis que


poderiam explicar os resultados 𝑌𝑖 . Considere que estas características
seriam dadas pelas variáveis 𝑍𝑖𝑇 = (𝑍𝑖1 , 𝑍𝑖2 , … ).

O prêmio justo (“verdadeiro”) seria dado por E[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 , 𝑍𝑖 ]. Se a


seguradora cobrasse esse prêmio na apólice i, então o segurado pagaria o
prêmio que absorve a variação entre os indivíduos (V[E[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 , 𝑍𝑖 ]])
dentro de cada grupo de risco.

Já a companhia cobre o risco entre os grupos de risco (E[V[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 , 𝑍𝑖 ]]).


Filosofia da Tarifação e Precificação
Classificação Esse compartilhamento dos riscos pode ser resumido usando a
dos Riscos fórmula de decomposição da variância:
V 𝑌𝑖 = E[V[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 , 𝑍𝑖 ]] + V[E[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 , 𝑍𝑖 ]]
Seguradora Segurado

A situação acima é puramente teórica já que os elementos 𝑍𝑖


são desconhecidos. Como somente são conhecidos os dados
𝑋𝑖 , então a decomposição anterior passa a ser:
V 𝑌𝑖 = E[V[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 ]] + V[E[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 ]]
Seguradora Segurado

Desta forma, todo resíduo acabam caindo para a seguradora.


E[V[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 ]] = 𝐸[V[𝑌𝑖 | 𝑋𝑖 , 𝑍𝑖 ] + 𝐸[V[E 𝑌𝑖 𝑋𝑖 )|𝑋𝑖 ]]
Filosofia da Tarifação e Precificação
Classificação
A primeira parte da equação já é parte do risco suportado pela
dos Riscos seguradora. Contudo, a segunda parte representa a variação dos sinistros
esperados em função dos riscos não observáveis (𝑍𝑖𝑇 ).

Devido estes efeitos aleatórios não observáveis, o atuário busca criar um


critério conhecido como tarifação por experiência (experience rating) que
consiste num link entre uma tarifação a priori e a posteriori.

A tarifação por experiência é baseada num mecanismo de punição:


segurados que não tiveram sinistros serão recompensados com descontos
nos prêmios (bônus); enquanto segurados com sinistros serão
penalizados (malos).
Filosofia da Tarifação e Precificação
Classificação
O primeiro conceito que se deve quantificar é o grau de exposição ao
dos Riscos – risco. O conceito é simples, mas há várias abordagens que são vistas
Exposição ao na literatura. A análise da exposição está muito difundida na carteira
Risco de automóveis, mas pode ser definida em outras carteiras.

De um modo geral, a maioria das carteiras possuem vigência anual,


contudo, cada risco inicia a vigência em datas distintas. Considerando
que o estudo é feito em um ano calendário, cada item segurado
estará exposto ao risco por um número de dias menor ou igual a 365.

Um aspecto bastante particular é que o procedimento operacional da


seguradora para o controle da carteira permite a alteração do bem
segurado durante a vigência da apólice. Técnicamente, essa alteração
é conhecida como endosso de alteração. Sendo assim esse tipo de
endosso gera uma nova exposição ao risco.

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