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INSTITUTO SANTO TOMÁS DE AQUINO

Faculdade de Filosofia e Teologia

Dossiê de Leitura
O caminho da justiça:
na sabedoria dos Provérbios

Prof. Ma. Karen Colares


Aluno: William Felippe da Silva Coutinho
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SILVA, Valmor da. O caminho da Justiça: na sabedoria dos Provérbios. São Paulo: Paulus
Editora; 1ª edição, 2018.
Para adentramos propriamente no livro deste dossiê, precisamos nos situar sobre os
escritos sapienciais e poéticos, vale ressaltar que a sapiencialidade se baseia na razão e
experiência, esse conhecimento como fonte teologal, com o aspecto de ser algumas vezes
ambígua, forçando o sábio a questionar seus próprios dogmas enraizados. O texto é
caracterizado por dois gêneros literários, didático ou especulativo, e com diferentes formas
literárias, duas dessas são os aforismos breves ou reflexões profundas, bem como narrativas,
poemas, diálogos entre outros. Em seu contexto histórico se tem uma tradição de Israel apenas
subjacente, a sabedoria não é um meio exclusivo do povo israelita sendo assim um fenômeno
difundido no antigo oriente próximo especialmente na Mesopotâmia e Egito. Os seus ambientes
de produção são marcados pelos clãs familiares e escola de escribas/sábios, em marcos de
datação, não temos algo concreto, acredita-se que os escritos são da época exílica e pós-exílio;
com isso a época viveu uma grande crise socioeconômica ameaçando a tradição israelita,
iniciou-se quando os persas assumiram o poder, colocando um novo sistema de cobrança de
impostos, exigindo assim o pagamento não mais com porcentagem agrícola como era feito
anteriormente e sim em dinheiro, isso tudo ocasionou em uma grande crise para os judeus,
muitos acabaram hipotecando suas casas e até mesmo vendendo membros da família. Este
apanhado histórico nos ajuda a compreender melhor as observações e apontamentos feitos pelo
autor do livro deste dossiê.
Valmor procura nesta obra traçar um caminho da justiça no livro de Provérbios, para o
autor a legalidade é perceptível gravemente nas vitimas, mas pobres, tendo em vista os
transtornos socioeconômicos cujo os judeus viviam na época. A justiça neste contexto aponta
o modo do proceder, que se assemelha ação humana a Deus, pondo a sabedoria evangélica
como destino final de cada ser humano, influenciando na maneira que os mesmos se comportam
diante de suas realidades. Esta sabedoria no livro de provérbios vem muita da experiência dos
antepassados e esta ligada a teologia da retribuição, onde o ser humano necessita de uma
resposta daquilo que ele faz, seja bom ou mal, vinculada ao seu proceder. A questão primordial
deste livro é destacar a justiça e a injustiça no livro de Provérbios através das simbologias da
época, exílica e pós-exílica, tendo em vista um saber ordinário entre os escribas deste período.
No primeiro capítulo o autor nos norteia sobre a logica própria no livro de Provérbios,
nos mostra as suas ambiguidades, contrates, luzes e sombras, abordando os seguintes temas:
sabedoria antiga e sempre nova, a sabedoria erudita e popular, sabedoria de culturas de lá e de

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culturas de cá, sabedoria de pobre e de rico, sabedoria de homem e de mulher e a sabedoria de
criança e de pessoa idosa. Esses tipos de sabedoria nos mostram como ela pode abranger todas
as faces da realidade, sendo assim a sua transmissão um ensinamento particular, seu conjunto
abrange toda a realidade. A literatura Proverbial é muito própria da sua época, é caracterizada
pelas grandes sabedorias e princípios que conduzem a história humana, neste sentido o livro
elenca os vários tipos de sabedoria no caminho de Provérbios como dito acima, o elaborador
visa neste capítulo trazer uma abordagem geral do sentido da sabedoria e destaca pontos onde
ela aparece. A sabedoria na época era passada de geração em geração, esta sabedoria se
transmite em forma de mashal em sua forma primitiva e contêm apenas sentenças breves,
geralmente de um só dístico; este dito sabedoria no primeiro tópico o autor nos traz de forma
clara e objetiva a fala sobre a injustiça do rico para com o pobre, onde o rico sempre humilha
os menos favorecidos, (SILVA. p. 26) “o Provérbio bíblico em geral exalta o valor do pobre,
mas há também os que ridicularizam”, o autor nos mostra que a vida de pobreza se tem um
maior valor do que a do rico, colocando a riqueza como um perigo. Notamos que o autor ao
longo deste capítulo traça uma linha que apresenta aspectos da sabedoria ao longo da história
de Provérbios.
Com base nas considerações feitas pelo elaborador, em nos apresentar de forma clara e
objetiva a trajetória do saber em Provérbios, observamos que se trata por segundo o simbolismo
de justiça de forma aprofundada, partindo da concepção bíblica, Deus é justo logo sua justiça é
perfeita, o livro nos mostra que a justiça bíblica se utiliza de símbolos e metáforas para colocar
em exercício esse fato. O autor faz uma leitura comparando os símbolos contemporâneos aos
da época de Provérbios, uma forma nítida desta comparação é a personagem justiça que aparece
como figura feminina, a estatueta do símbolo do direito contemporâneo nos mostra uma mulher
com olhos vendados e com uma espada e balança em suas mãos, essa representação vem da
cultura helênica, aderida pelos romanos com os mesmos elementos básicos, nesta cultura a
justiça é vista na representação de uma mulher só que com os olhos abertos, em suas mãos,
igualmente segurando uma espada e na outra uma balança, vale lembrar que por algumas vezes
a espada era substituída pelo martelo e a balança por uma cornucópia, que era representado pela
fertilidade, abundância, riqueza. Em seguida o autor nos apresenta as metáforas na bíblia, que
ele nos trás em forma de símbolos naturais que são ricos e abundantes em sua essência durante
todo o percurso Sapiencial, mostrando assim onde podemos encontrar no Antigo Testamento,
principalmente no livro de Provérbios que é o foco desta pesquisa, as ilustrações da justiça com
as suas características próprias da literatura isto nos faz compreender melhor as diretrizes da
justiça e também da injustiça no decorrer da história, colocando esses símbolos e metáforas em
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uma espécie de ultrapassagem da imaginação atual, embora estejamos em tempos e lugares
diferentes.
Depois desta trajetória que percorremos em que foi exposto situando a época que
estamos e feita a análise da justiça, entramos agora nela propriamente no livro de Provérbios,
Deus em sua infinita bondade é justo e para os israelitas essa é uma verdade fundante, portanto,
o ser correto pode ser observado como um ponto de partida do plano de Deus para com os
homens. O autor dentro desta temática apresenta os termos de justiça e injustiça com suas
variantes e derivadas terminologias, conceitua dentro do livro de Provérbios a definição de
justiça como a busca do direito, desta forma propõe o seu entendimento e reafirma que baseado
na sabedoria proverbial que devemos caminhar na justiça e no direito. Em paradoxo certifica-
se em forma de paralelismos antitético a aversão entre o ser justo ou não praticante do direito,
no livro bíblico em que estamos trabalhando existem vários exemplos como o escritor coloca
ao longo de sua obra que nos mostra que o fazer justiça se refere a uma prática estrita, desta
forma observamos que ela é de forma distributiva, dar a qual o que é seu. Em provérbios os
conceitos de justiça é reestabelecer o direito, dito que ninguém nasceu superior a outro, por isso
os governantes da época deveriam estabelecer a justiça a favor dos pobres, órfãos e viúvas, a
classe desfavorecida economicamente da época, quando não se exercia tal governo sobre os
desvalidos praticava-se a injustiça. A justiça passa a ser um norteador para a verificação dos
desníveis sociais impostos na época, tornando assim algo efetivo em favor dos empobrecidos,
Valmor conclui apresentando que a justiça só é exercida de forma eficiente se houver uma
imitação ao próprio Deus, desta forma é declarado que a justiça é uma essência divina, ao
contrário da injustiça que não provinha do Senhor.
Em conclusão sobre o livro deste dossiê, o autor, demonstra a polêmica figura da
pobreza, na certeza de que ela é interpretada em conexão há dados objetivos e subjetivos, em
contra partida se há uma dependência de interesses de um determinado grupo e um poder
político dessa forma observamos que ao longo da história não só de Provérbios, mas da
humanidade se tem uma exploração das pessoas menos favorecidas financeiramente, à vista
disso a bíblia assume o papel em favor deste povo desprotegido. O escritor ainda coloca o fato
de que a existência do pobre se dá pela do rico que explora e define a pobreza a quem não tem
bens materiais e alerta que esta condição afeta de forma direta a sua estrutura psicológica e
espiritual, assim sendo observamos de forma clara o apego dos desprovidos de riqueza a Deus,
já que ele é um Deus que luta pelo pobre, órfãos e viúvas. Em síntese, de forma clara esta
observação levantada a respeito do pobre em provérbios é colocada como um conceito de justiça

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visando uma dignidade ou uma melhor forma de viver para os marginalizados, sendo feito de
forma anônima e passada de geração em geração como apresentado no inicio deste trabalho.
Em virtude do que já foi exposto, notamos que o autor em sua obra, o caminho da justiça
na sabedoria dos Provérbios, expõe de forma objetiva os temas a respeito da justiça e injustiça,
o elaborador poderia ter enraizado determinados assuntos como por exemplo: no ponto onde
nos é falado sobre a ambiguidade e paradoxos da vida em Provérbios de forma atual e popular,
poderia aprofundar mais, como esta teologia está inserida no nosso mundo contemporâneo
como ele faz quando se fala do divino, que supera a capacidade humana, o escritor faz
apontamentos certeiros e exibe de forma nítida e concisa esta superação dentro do tema da
ambiguidade e paradoxo da vida em Provérbios. Em termos históricos se é apresentado uma
sabedoria antiga e sempre nova, colocando-a de forma experiencial, como falávamos nos
parágrafos acima, de geração em geração. Poder-se-ia levantar questões, mas aprofundadas
sobre a transmissão que se era feita de forma oral, como se originou e como se difundiu durante
o período exílico e pós-exílio, comparando com o ponto da sabedoria erudita e popular. Fica-
se claro os ditos sapienciais o escritor expõe de forma auto explicativa, com a demonstração
dos exemplos. No inicio da obra o autor fala sobre a sabedoria do rico e pobre, neste ponto não
fica claro a problemática, mas ele completa no capítulo posterior quando se fala da justiça do
rico e do pobre, onde coloca as diretrizes sociais e econômicas, abordando o papel de cada um
na sociedade e com exemplos do próprio texto de provérbios. No capitulo terceiro que é feita a
comparação do simbolismo atual e o bíblico sobre a justiça e a injustiça, podemos ressaltar que
as observações feitas pelo autor no decorrer do capitulo é de muita valia para o entendimento
do tema e nos adentra no conceito proposto, feito de formas metafóricas com acontecimentos
naturais, bem como a colheita, a vinha entre outras, colocando a natureza como serviço da
justiça divina em conformidade com o simbolismo bíblico e atual. Toda via no capitulo quarto
nos é apresentado o conceito dado de justiça no Antigo Testamento, o autor trata ela como um
conceito fundante que tem haver com a conduta do povo, o mesmo esclarece de forma objetiva
e clara as suas diretrizes de forma simples e certeira, fazendo todo um percurso da justiça ao
longo do Antigo Testamento, apontando como ela foi útil para a sociedade, trazendo os seus
pontos positivos e negativos. Vale ressaltar a grandeza do próximo capitulo que o autor
escreveu com maestria demostrando os critérios avaliativos da caminhada social que a justiça
e a injustiça teve para com os pobres, onde o autor completa todo o percurso que fez nos
capítulos anteriores, ressalta a importância dos conflitos causados pelas classes sociais que a
sociedade da época vivenciou, só houve riqueza porque alguns tinham a capacidade de explorar
os menos favorecidos e o autor por meio de exemplos do livro bíblico demostrou esses conflitos
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gerados dentre as categorias sociais, Valmor de certa forma as vezes incompleta conseguiu ao
olhar de pesquisador demostrar a fragilidade da hermenêutica que é atribuída ao livro de
Provérbios, passando pela história bíblica e atual dos povos, não deixando de lado os ditos
populares e a transmissão que se usava na época exílica e pós-exílica que é a passada de geração
em geração.

Referência:
SILVA, Valmor da. O caminho da Justiça: na sabedoria dos Provérbios. São Paulo: Paulus
Editora; 1ª edição, 2018.

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