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ADG-A/PER - PROJETO 1462

EMPRESA DO SISTEMA ELETROBRÁS

Resistência de Aterramento e
Diferenças de Potencial de Passo
e de Toque para Sistemas de
Aterramento Empregados em
Redes de Distribuição Rural

RELATÓRIO TÉCNICO ADG-A/PER no 899/2000

Autores:

João Clavio Salari Filho - CEPEL

Luiz Abel Alves dos Santos - FPLF (Fundação Padre Leonel Franca)

João Márcio Lima do Nascimento - FPLF (Fundação Padre Leonel Franca)

Data:

29/11/2000

RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO E DIFERENÇAS DE POTENCIAL DE PASSO E DE TOQUE PARA SISTEMAS


DE ATERRAMENTO EMPREGADOS EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO RURAL
II
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ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO_____________________________________________________________ 1
2. RESISTIVIDADE DO SOLO __________________________________________________ 2
2.1 ESTRATIFICAÇÃO DO SOLO EM DUAS CAMADAS HORIZONTAIS _________________ 4
2.2 RESISTIVIDADE APARENTE _________________________________________________ 5
2.3 MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE DO SOLO PELO MÉTODO DE WENNER ____________ 6
2.3.1 SOLO UNIFORME __________________________________________________ 7
2.3.2 SOLO ESTRATIFICADO EM DUAS CAMADAS HORIZONTAIS _____________ 8
2.3.3 EQUIPAMENTO PARA MEDIÇÃO _____________________________________ 9
2.3.4 CUIDADOS NA MEDIÇÃO ___________________________________________ 9
2.3.5 ESPAÇAMENTO ENTRE AS HASTES ________________________________ 10
2.3.6 DIREÇÕES A SEREM MEDIDAS_____________________________________ 10
2.4 MODELAGEM DO SOLO EM DUAS CAMADAS HORIZONTAIS ___________________ 11
2.4.1 MÉTODO SIMPLIFICADO ___________________________________________ 14
2.4.2 MÉTODOS USANDO TÉCNICAS DE OTIMIZAÇÃO ______________________ 17
3. CÁLCULO DA RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO PARA SISTEMAS DE ATERRAMENTO
TÍPICOS RURAIS _________________________________________________________ 18
3.1 SISTEMAS DE ATERRAMENTO FORMADOS POR UMA HASTE OU UM CABO
HORIZONTAL_____________________________________________________________ 18
3.1.1 HASTE __________________________________________________________ 18
a) Solo Uniforme_____________________________________________________ 18
b) Solo Estratificado Em Duas Camadas Horizontais _______________________ 20
3.1.2 CABO HORIZONTAL _______________________________________________ 22
a) Solo Uniforme_____________________________________________________ 22
b) Solo Estratificado Em Duas Camadas Horizontais _______________________ 23
3.2 SISTEMAS DE ATERRAMENTOS FORMADOS POR HASTES INTERLIGADAS EM
PARALELO ______________________________________________________________ 24
a) Solo Uniforme_____________________________________________________ 29
b) Solo Estratificado Em Duas Camadas Horizontais _______________________ 30
4. CONSIDERAÇÕES DE SEGURANÇA PESSOAL _______________________________ 30
4.1 DIFERENÇAS DE POTENCIAL DE PASSO E DE TOQUE E CORRENTE MÁXIMA
PERMITIDA ______________________________________________________________ 30
4.2 DETERMINAÇÃO DOS VALORES MÁXIMOS ADMISSÍVEIS DAS DIFERENÇAS DE
POTENCIAL DE PASSO E DE TOQUE ________________________________________ 31
5. PROGRAMA PARA CÁLCULO DA RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO E DAS DIFERENÇAS
DE POTENCIAL DE PASSO E DE TOQUE PARA SISTEMAS DE ATERRAMENTO TÍPICOS
RURAIS _________________________________________________________________ 35

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5.1 SISTEMAS DE ATERRAMENTOS IMPLEMENTADOS ___________________________ 35


5.2 EXECUÇÃO DO PROGRAMA _______________________________________________ 38
6. CONCLUSÕES ___________________________________________________________ 44
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ___________________________________________ 44

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1. INTRODUÇÃO

Por se tratar de um fator preponderante para o bom desempenho e segurança de um


sistema elétrico e, mais ainda, para garantir os limites dos níveis de segurança pessoal, o
quesito aterramento deve sempre merecer uma atenção especial.

Normalmente, o sistema de aterramento de linhas de distribuição trifásicas, bifásicas e


monofásicas com neutro físico é meramente uma medida protetora; portanto, a corrente flui
no circuito de terra somente durante um curto ou sob condições de desequilíbrio.

Por outro lado, no caso da linha monofilar com retorno por terra - MRT -, na qual o solo é o
“condutor” de retorno da corrente, o sistema de aterramento instalado conduz a corrente de
carga do circuito tanto quanto qualquer corrente de curto na linha, o que leva à necessidade
de atenção especial para o aterramento das linhas MRT. Pode vir a acontecer que, em
algumas regiões, em que os solos apresentem alta resistividade, sejam necessários
complexos sistemas de aterramento, o que aumentará consideravelmente os seus custos
e poderá vir a inviabilizá-los economicamente.

Em síntese, os principais objetivos do sistema de aterramento de uma linha de distribuição


são [1 ,2 ,5 ]:

• No caso de linhas com fase(s) e neutro físico, garantir a eficiência dos mesmos,
limitando em valores adequados os deslocamentos do neutro, por ocasião de
ocorrência de faltas à terra.

• Permitir a terra ser um retorno de corrente no caso da linha MRT.

• Garantir a segurança pessoal, através da limitação das diferenças de potencial de


passo e de toque a valores aceitáveis, quando da ocorrência de circulação de correntes
pelo neutro, em condições normais ou de surto.

• Fazer com que os equipamentos de proteção sejam mais sensibilizados e isolem o


mais rapidamente possível as faltas à terra.

• Escoar as cargas estáticas geradas nas carcaças dos equipamentos.

• Viabilizar o escoamento de sobretensões indesejáveis para a terra, limitando as


tensões transferidas ao longo da rede, em conseqüência da incidência de surtos
atmosféricos.

A escolha do sistema de aterramento adequado deve ser baseada em análise técnico-


econômica global, em que sejam cotejadas as vantagens e desvantagens de cada tipo de
sistema possível de ser construído, à luz das características específicas da região a
eletrificar.

Com isso, quando pretende-se buscar um baixo valor da resistência de aterramento, pode-
se evitar erros primários, como, por exemplo, utilizar hastes profundas em solos com
segunda camada de resistividade maior do que a primeira. Nessa situação de solo, num
caso mais extremo, tem-se aquele de tentar-se instalar hastes em um solo com uma
camada boa sobre rocha, no qual melhor seria instalar cabos horizontais. Analogamente,

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outro caso comum, é quando do cravamento de muitas hastes curtas num solo onde a
camada menos resistiva encontra-se a uma profundidade maior, onde melhor seria partir
para um tratamento do solo com gel ou concreto ou empregar hastes profundas.

Vale também ressaltar que, às vezes, é mais interessante optar por soluções que priorizem
a redução das diferenças de potencial na superfície do solo a valores aceitáveis, e não a
redução da resistência de aterramento.

Presentemente, estes e outros itens, como, por exemplo, as metodologias para a medição
da resistência de aterramento e das diferenças de potencial de passo, aterramento de linha
primária, para o aterramento de equipamentos, entre outros, estão sendo tratados no
relatório técnico [23 ], ainda em fase de desenvolvimento.

No entanto, enquanto esse relatório não é concluído, visando fornecer subsídios imediatos
aos profissionais do ramo de projeto de sistemas de aterramento, apresenta-se neste
documento algumas equações para o cálculo da resistência de aterramento de alguns
sistemas de aterramento simples e uma técnica para a modelagem do solo em duas
camadas horizontais. Além disso, em função das facilidades computacionais atuais, essas
equações e outras mais abrangentes encontradas nas referências [3 ,4 ,16 ] foram
implementadas na versão 1.0 do programa computacional ATERURAL, desenvolvido em
linguagem Microsoft FORTRAN. Com esse programa pode-se calcular para oito sistemas
de aterramento típicos, instalados em um solo estratificado em duas camadas horizontais,
a resistência de aterramento e os maiores valores das diferenças de potencial de passo e
de toque na superfície do solo.

2. RESISTIVIDADE DO SOLO

Como o solo é o meio no qual ficam imersos os eletrodos que compõem o sistema de
aterramento, o conhecimento de suas características é de fundamental importância,
podendo-se destacar a resistividade elétrica do solo como o parâmetro principal. Como
exemplificação, para um sistema de aterramento sob um solo considerado uniforme,
quanto maior a resistividade do solo, maior será a resistência de aterramento do sistema.

O solo, normalmente, é um condutor de baixa qualidade, com valores típicos de


resistividade na faixa de algumas unidades a milhares de Ωm. O cobre, por sua vez, tem
resistividade na faixa de 10-8 Ωm, ou seja, da ordem de 1 bilhão de vezes menor.

O conjunto de fatores que determinam a resistividade do solo compreende:

• Tipo de solo: lama, húmus, limo, argila, calcário, granito, basalto, etc.

• Mistura de diversos tipos de solo.

• Variação com a profundidade.

• Tamanho e distribuição da partícula (grão) do material.

• Compactação e pressão.

• Composição química: basicamente óxido de silício (areia), silicatos de alumínio


(argilas), carbonatos de cálcio e de sódio e água, de forma que a condução de

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corrente pelo solo se faz pelo processo eletrolítico, que necessita de água para sua
realização.

• Concentração de sais dissolvidos na água retida: a resistividade decresce com a


concentração de sais (vide Figura 1a)∗∗ .

• Teor de umidade: a resistividade decresce sensivelmente com o teor de umidade até


em torno de 15 a 20%; acima desse valor as variações são bem menores (vide
Figura 1b).

• Temperatura: a resistividade decresce com a elevação de temperatura (vide Figura


1c).

ρ [Ωm]

ρ [Ωm]
3
ρ [Ωm] 10 -

2 3 2
10 - 10 - 10 -

2
10 - 10 - 10 -

1- | | | | 10 - | | | | 1- | | | | |

0 5 10 15 0 10 20 30 -20 0 20 40 60
o
Concentração de sal [%] Umidade [%] Temperatura [ C]
(a) (b) (c)

Figura 1 - Exemplo de variação da resistividade do solo com a concentração de sal (a), umidade (b) e
temperatura (c)

As diversas combinações entre esses fatores resultam em solos com características


diferentes e, consequentemente, com valores de resistividades distintos.

Assim sendo e com vistas a utilizar as metodologias de cálculo disponíveis, o que se faz
na prática é estabelecer faixas de variação de resistividade por tipo de solo (vide Tabela 1)
e definir uma estrutura de um modelo equivalente para o solo local. A estrutura definida
deve proporcionar um desempenho semelhante ao da estrutura real. Para fins de cálculos
usuais, como o solo dificilmente é homogêneo, isso tem sido alcançado pela estratificação
do solo em camadas horizontais, em particular, duas camadas.

∗∗
A resistividade da água pura é quase infinita, ou seja, a água seria um isolante perfeito caso não
contivesse sais que, através da ionização, permitem a condução de correntes elétricas.

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Tabela 1 - Variação da resistividade em função do tipo do solo [1 ,5 ]

TIPO DE SOLO ρ [ Ω m]

lama 5 a 100

húmus 10 a 150

limo 20 a 100

argila com 40% de umidade 80

argila com 20% de umidade 330

terra de jardim com 50% de umidade 140

terra de jardim com 20% de umidade 480

argila seca 1.500 a 5.000

calcário fissurado 500 a 1.000

calcário compacto 1.000 a 5.000

granito 1.500 a 10.000

areia com 90% de umidade 1.300

areia seca 3.000 a 8.000

basalto 10.000 a 20.000

2.1 ESTRATIFICAÇÃO DO SOLO EM DUAS CAMADAS HORIZONTAIS

No modelo de dupla camada, o solo é caracterizado pelas resistividades das camadas


superior e inferior, respectivamente ρ 1 e ρ 2 , e pela espessura h da camada superior. A
camada mais profunda é considerada com profundidade infinita. Em alguns casos, ficando
a camada superior muito larga, o solo pode ser considerado como praticamente uniforme.

Nesse modelo, quando da injeção de corrente no solo através de um eletrodo situado junto
a sua superfície, o comportamento dos fluxos de dispersão de corrente no solo é função
da resistividade das camadas, como pode ser visto na figura a seguir.

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Figura 2 - Dispersão dos fluxos de corrente no solo

Tem-se então:

ρ 1 – resistividade da primeira camada do solo [Ωm];

ρ 2 – resistividade da segunda camada do solo [Ωm];

h – espessura da primeira camada do solo [m].

2.2 RESISTIVIDADE APARENTE

Conforme a Figura 2 anterior, a passagem da corrente elétrica injetada num sistema de


aterramento para o solo depende da composição do solo, no caso do exemplo, dos valores
dos parâmetros ρ 1, ρ 2 e h do solo em duas camadas. Além disso, a dispersão da corrente
no solo também da forma em que o sistema de aterramento este está enterrado no solo,
por exemplo, no caso de uma simples haste vertical, da profundidade que esta está
enterrada da superfície do solo.

Por sua vez, a resistência de aterramento de um sistema de aterramento é função dessa


dispersão de corrente. Em outras palavras, colocando-se um sistema de aterramento com
a mesma geometria em solos diferentes, ele terá diferentes resistências de aterramento.
Obviamente, sistemas de aterramentos diferentes no mesmo solo, terão resistências de
aterramento diferentes.

Nesse contexto, inseri-se a definição de resistividade aparente do solo. A resistividade


aparente não tem nenhum sentido físico, na verdade, é uma resistividade fictícia que o solo
apresenta a um determinado sistema de aterramento, caso o solo pudesse ser
considerado uniforme. É um parâmetro útil, pois, conhecendo-se seu valor, pode-se
empregar as formulações desenvolvidas para solo uniforme, as quais são mais simples.
Para melhor entendimento, seja a expressão genérica da resistência de aterramento R para
qualquer sistema de aterramento:

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• Em solo uniforme:

R = ρ ⋅g 1 . (2.2-1)

• Em solo estratificado em duas camadas horizontais:

R = f (ρ1 , ρ 2 , h , g 2 ) . (2.2-2)

Sendo:

ρ - resistividade do solo uniforme [Ωm];

g1 – função da geometria do sistema de aterramento [Ωm];

f – função dos parâmetros ρ 1, ρ 2, h e g2;

ρ 1 - resistividade da primeira camada do solo [Ωm];

ρ 2 - resistividade da segunda camada do solo [Ωm];

h - espessura da primeira camada do solo [m];

g2 – função da geometria do sistema de aterramento [Ωm].

Fazendo-se na equação (2.2-1) a resistividade aparente ρ a ser igual a do solo uniforme, isto
é, ρ=ρ a , após aplicar esta igualdade na equação (2.2-2) tem-se:

g1
ρa = . (2.2-3)
f (ρ1 ,ρ 2 , h, g 2 )

2.3 MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE DO SOLO PELO MÉTODO DE WENNER

Existem diversos métodos para a medição da resistividade do solo. Esses métodos podem
ser enquadrados basicamente em duas classes: medições diretas e medições indiretas
[1 ].

As medições diretas são baseadas na extração, a várias profundidades, de amostras de


materiais do solo que são então examinadas em laboratórios especializados. Tais
medições são usualmente realizadas após as medições indiretas terem confirmado que a
região em estudo é promissora.

As medições indiretas são baseadas em uma certa “resposta” do solo a uma certa
“excitação”. Entre os vários métodos que empregam medições indiretas, tem bastante uso
no Brasil o Método de Wenner [1 ,7 ]. Tal método emprega um arranjo de quatro eletrodos,
sendo que cada par de eletrodos serve respectivamente para injeção de corrente no solo e
medição de diferença de potencial induzida no solo.

No arranjo de Wenner, os quatro eletrodos são alinhados, uniformemente espaçados de


uma distância a e enterrados perpendicularmente no solo a uma profundidade q (vide
Figura 3). Uma corrente I é injetada para o solo por meio dos eletrodos mais afastados (C1

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e C2) e é medida a diferença de potencial UP1P2 entre os eletrodos internos (P 1 e P 2).

A relação entre UP1P2 e I tem dimensão de resistência (R) e é dada por:

U P1P 2
=R . (2.3-1)
I

C1 P1 P2 C2

(a) Vista de Topo

I
A
V
a a a

P2 C2
C1 P1
q

(b) Vista lateral

Figura 3 - Arranjo de Wenner para medição de resistividade do solo

Se recorre-se à definição de resistividade aparente ρ a e utiliza-se a equação (2.2-1), tem-


se:

U P1 P2
= R = ρ a ⋅ g1 , (2.3-2)
I

sendo a função g1 dependente do espaçamento a e da profundidade dos eletrodos q. Além


disso, se injetar-se a corrente nos eletrodos internos e medir-se a diferença de potencial
entre os eletrodos externos, a função g1 será a mesma.

2.3.1 SOLO UNIFORME

Para um solo uniforme de resistividade igual a ρ, considerando-se os quatro eletrodos


verticais como cilíndricos e com toda a extensão em contato com o solo e, para tal, a
metodologia do potencial médio apresentada em [4 ], chega-se a:

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  2  
  2 + 2 1 +  a   
  2q  
 a 
2 2
U P1P 2 ρ    a   a 
=R = ⋅ 2 ln   + 2 1 +   − 2 1 +   −  (2.3-3)
I 2πq   a 
2
q  2q  q
  1 + 1 +    
   q   

Se aplica-se a essa expressão a condição dos espaçamentos entre eletrodos muitíssimo


superior à profundidade q, isto é, a>20q, chega-se a outra expressão, bastante simples e
muito empregada:

U P1 P 2 1
= R = ρ⋅ . (2.3-4)
I 2 πa

Comparando-se essa expressão com a expressão (2.3-2), para o caso de um solo


qualquer, chega-se a:

ρa = 2 πa ⋅ R . (2.3-5)

Essa equação traduz o comportamento dos quatro eletrodos cilíndricos verticais como o
de quatro eletrodos pontuais na superfície do solo. Note-se que, sob essa aproximação, a
resistividade é somente função do espaçamento a entre os eletrodos.

2.3.2 SOLO ESTRATIFICADO EM DUAS CAMADAS HORIZONTAIS

Para esta modelagem de solo, considerando que os quatro eletrodos para o arranjo de
Wenner podem ser representados por eletrodos pontuais na superfície do solo e
empregando-se a metodologia apresentada em [4 ], tem-se:

  
  
ρ1  ∞
n 

U P1 P 2 1 1
=R = 1 + 4 µ  − , (2.3-6)
I 2πa 

2 2
n =1   2 nh   nh 
  1 +  a  2 1+ 
 a  
  

sendo µ o fator de reflexão, o qual é dado por:

ρ1 − ρ 2
µ= . (2.3-7)
ρ1 + ρ 2

Combinando-se a expressão (2.3-6) com a expressão (2.3-2) obtém-se:

  
  
 ∞
n 

1 1
ρ a = ρ1 1 + 4 µ  −  . (2.3-8)
 
2 2
n =1   2 nh   nh 
  1 +   2 1 +   
   a   a  

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Note-se que, nessa equação, a resistividade aparente é função, além do espaçamento a,


das resistividades das duas camadas e da espessura da primeira camada,
respectivamente, ρ 1, ρ 2 e h.

Essa equação será muito útil para a determinação dos parâmetros ρ 1, ρ 2 e h em função
dos valores de resistividade aparente medidos pelo método de Wenner, como será visto no
item 2.4.

2.3.3 EQUIPAMENTO PARA MEDIÇÃO

Na prática, ao invés de se utilizar um voltímetro e um amperímetro, a medição da


resistividade do solo pode ser feita diretamente por ohmímetros para testes de
aterramento, sendo muito usado o aparelho Megger. O instrumento possui quatro terminais,
dois de corrente (C1 e C2) e dois de potencial (P 1 e P 2).

Conectando-se duas hastes C1 e C2 aos terminais de corrente do aparelho, este faz circular
uma corrente produzida por uma fonte interna e processa a leitura da tensão entre as duas
hastes P 1 e P 2, que devem ser conectadas aos seus dois terminais de potencial (vide
Figura 4).

C1 P1 P2 C2 ohmímetro para testes


de aterramento

q
a a a

Figura 4 - Esquema para medição de resistividade do solo com ohmímetro

As hastes usadas devem ter aproximadamente de 0,20 a 0,50m de comprimento e


diâmetro variando de 10 a 15mm. O material que forma a haste deve seguir as mesmas
condições das hastes empregadas nos sistemas de aterramento, isto é, ser bom condutor
de eletricidade, praticamente inerte às ações dos ácidos e sais dissolvidos no solo, sofrer a
menor ação possível da corrosão galvânica e ter resistência mecânica compatível com a
cravação e movimentação do solo. A profundidade das hastes no solo deve ser de 0,10 a
0,20m.

2.3.4 CUIDADOS NA MEDIÇÃO

Durante a medição, devem ser observados os itens a seguir [1 ,5 ,6 ,7 ]:

• As hastes devem estar bem alinhadas.

• As hastes devem estar igualmente espaçadas.

• As hastes devem estar cravadas firmemente no solo a uma mesma profundidade.

• O aparelho deve estar posicionado simetricamente entre as hastes.

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• As hastes devem estar bem limpas, principalmente isentas de óxidos e gorduras


para possibilitar bom contato com o solo e com os cabos de interligação.

• A condição do solo (seco, úmido, etc.) durante a medição deve ser anotada.

• Não devem ser feitas medições sob condições atmosféricas adversas, tendo-se em
vista a possibilidade de ocorrência de raios.

• Não deixar que animais ou pessoas estranhas se aproximem do local.

• Deve-se utilizar calçados e luvas de isolação para executar as medições.

• Deve-se verificar o estado do aparelho, inclusive a carga da bateria.

• O local escolhido para medições deverá ser sempre longe de áreas sujeitas a
interferências, tais como torres metálicas de transmissão, cabos contrapesos,
pontos de aterramento de sistemas com neutro aterrado, torres de
telecomunicações, solos com cabos ou canalizações metálicas, cercas aterradas,
entre outros.

2.3.5 ESPAÇAMENTO ENTRE AS HASTES

As medições da resistividade do solo pelo Método de Wenner podem ser feitas visando
determinar variações horizontais ou verticais da resistividade.

No caso de investigar-se variações horizontais, a técnica de medição consiste em mover-


se todo o arranjo de medição sem alterar os espaçamentos entre eletrodos e
ortogonalmente à suposta interface entre regiões com resistividades diferentes.

Quando as variações verticais estão sendo investigadas, o espaçamento entre os


eletrodos de corrente deve ser aumentado em passos, forçando assim a penetração da
corrente para camadas mais profundas. Nesse caso, visando identificar-se a
horizontalidade das camadas do solo, preferencialmente as medições devem abranger
toda a área da instalação e o espaçamento entre os eletrodos deve variar desde adotando-
se a série: 2, 4, ..., 2n. Quando se emprega o Método Simplificado para modelagem do solo
em duas camadas horizontais, necessita-se mais leituras para pequenos espaçamentos,
possibilitando assim uma melhor estimativa da resistividade da primeira camada. Para os
sistemas empregados nas linhas rurais, utiliza-se o valor máximo de 32m, mas esse valor
pode ser menor ou maior dependendo da natureza do projeto.

2.3.6 DIREÇÕES A SEREM MEDIDAS

O número de direções em que as medidas devem ser feitas depende de:

• Importância do local de aterramento.

• Dimensão do sistema de aterramento.

• Variação acentuada nos valores medidos para os respectivos espaçamentos.

Para sistemas de aterramento pequenos, como é o caso daqueles empregados para

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reguladores de tensão, religadores, seccionalizadores, chaves à óleo, etc, é suficiente


medir, para cada espaçamento, em 1 ou 2 direções (vide Figura 5).

localização do sistema
de aterramento
1 1
2 1

2 3

Figura 5 - Direções a serem feitas as medidas

Para cada direção, devem ser anotados os espaçamentos e os valores da respectiva


resistividade aparente medida (ρ am). Se o equipamento não informar diretamente o valor da
resistividade, pode-se usar a equação (2.3-5).

Ao final, para cada espaçamento, deve-se tirar a média (ρ am média) após eliminar, sob algum
critério, as medições errôneas. Um critério razoável é eliminar as medidas com desvio (em
módulo) acima de 40% em relação à média. O exemplo da tabela a seguir ilustra melhor
essa situação, na qual pode ser constatada a eliminação dos valores 1040 e 330.

O desvio é calculado pela seguinte equação:

ρ am média − ρ am
Desvio = 100 ⋅ [%] (2.3-9)
ρ am média

Tabela 2 - Valores de resistividade medidos em três direções e valores médios após a eliminação de
algumas medições

Resistividade Medida ρ am [Ω
Ω m] e Desvio [%]
Espaçamento
Direção 1 Direção 2 Direção 3 Média após a
a [m]
eliminação
ρ am Desvio ρ am Desvio ρ am Desvio

2 315 8,7 370 -7,2 350 -1,4 345

4 480 30,4 1040 -50,7 550 20,3 515

8 580 1,1 570 2,8 610 -4,0 587

16 885 -32,8 785 -17,8 330 -50,5 835

... ... ... ... ... ... ... ...

2.4 MODELAGEM DO SOLO EM DUAS CAMADAS HORIZONTAIS

A modelagem do solo em duas camadas horizontais é feita baseando-se na interpretação


de várias medições de resistividade aparente efetuadas no local de instalação do sistema
de aterramento sob pesquisa, preferencialmente em um período seco, imediatamente

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antes da ocorrência de chuvas e, se possível, com o local já terraplanado e compactado.

Na Figura 6 estão apresentados quatro exemplos de correlações entre a resistividade


aparente medida e o espaçamento entre eletrodos.

No exemplo (a) está claramente visível que o solo é razoavelmente uniforme e tem
portanto uma única resistividade ρ. Esse caso uniforme, entretanto, não é muito comum. A
presença normal, por exemplo, de camadas de areia, argila, calcário, rocha, etc.,
separadamente ou misturadas entre si, resulta um solo não homogêneo, que pode ser
estratificado, por exemplo, em camadas aproximadamente horizontais e paralelas à
superfície. Isso pode ser visto nos exemplos (b) e (c), os quais caracterizam um solo
tipicamente estratificado em duas camadas horizontais. No exemplo (d) mostra-se um
caso de solo estratificado em várias camadas horizontais.

No exemplo (e) está mostrado um exemplo de medições errôneas, pois em geral as


curvas de resistividade têm inclinações suaves e não apresentam variações bruscas,
exceto se existem, por exemplo, dutos enterrados ou outras estruturas próximas da
superfície ou ainda descontinuidades locais do solo. Mudanças laterais no solo,
provocadas, por exemplo, por falhas geológicas verticais, podem também ser
responsáveis por variações bruscas na curva de resistividade aparente [1].

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ρam

a
ρam ρam
(a) solo praticamente uniforme

ρ1
ρ2

ρ2
ρ1
a a

(b) solo em duas camadas ( µ<0) (c) solo em duas camadas ( µ>0)

ρam ρam

a a

(d) solo em várias camadas (d) medições errôneas

Figura 6 - Exemplos de curvas de resistividade aparente medida (ρ am ) versus o espaçamento entre


eletrodos (a)

Empregando-se a expressão (2.3-8) é possível obter alguns métodos analíticos para


determinação dos parâmetros de um solo estratificado em duas camadas horizontais.
Entre esses, podem ser destacados:

• Método usando Curvas Padrão.

• Método que consta no catálogo do aparelho Yokogawa.

• Método de Tagg para determinação da resistividade da 1a camada.

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• Método simplificado.

• Métodos usando técnicas de otimização.

Neste trabalho serão comentados os dois últimos métodos.

2.4.1 MÉTODO SIMPLIFICADO

Este método oferecerá resultados razoáveis somente quando o solo poder ser considerado
estratificável em duas camadas, isto é, quando a curva ρ am x a tiver o aspecto dos
exemplos (b) e (c) da Figura 6, nos quais observa-se uma considerável tendência de
saturação assintótica nos extremos e paralela ao eixo dos espaçamentos.

Como já foi assinalado nessas figuras, a assíntota para pequenos espaçamentos é típica
da contribuição da primeira camada do solo; já para espaçamentos maiores, tem-se a
penetração da corrente na segunda camada, e sua assíntota caracteriza nitidamente um
valor diferente de resistividade. Isso resultaria em uma primeira aproximação dos
parâmetros ρ 1 e ρ 2. Mesmo assim, ter-se-ia ainda que calcular o valor da espessura da
primeira camada h.

A idéia deste método simplificado se baseia em variar o espaçamento das quatro hastes do
modelo de Wenner, tal que o espaçamento seja exatamente igual a espessura h. Assim,
como a=h, a expressão (2.3-8) torna-se mais simples e igual a:

ρ a ( a = h)  ∞   

1 1
= M ( a =h ) = 1 + 4 µ n  −  . (2.4-1)
ρ1  n =1  1 + 2 n
2
2 1+ n2  

Na figura a seguir está mostrada a variação da função M(a=h) com o fator de reflexão µ.
Note-se que esta curva pode ser facilmente interpolada pela seguinte equação do 2o grau:

M (a = h) = 0,09 ⋅ µ 2 + 0,3942 ⋅ µ + 0,9983 , (2.4-2)

a qual tem utilização muito mais simples quando comparada com a expressão (2.4-1).

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1,6
1,4
1,2
1,0
M (a=h) 0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
µ
Figura 7 - Variação da função M (a=h) com o fator de reflexão µ

Portanto, para a estimativa de ρ 1, ρ 2 e h deve-se fazer o seguinte procedimento:

1. Traçar a curva ρ am(a) x a, obtida pela medição em campo usando o Método de


Wenner.

2. Prolongar a curva ρ am(a) x a até interceptar o eixo das resistividades e determinar o


valor de ρ 1, isto é, a resistividade da primeira camada do solo.

3. Traçar a assíntota no final da curva ρ am(a) x a e prolongá-la até o eixo das


resistividades, o que indicará o valor da resistividade ρ 2 da segunda camada do solo.

ρ2 − ρ1
4. Calcular o fator de reflexão µ = .
ρ 2 + ρ1

5. Com o valor do fator µ obtido, determinar o valor da função M(a=h) pela


equação (2.4-2).

6. Calcular: ρ a ( a =h ) = ρ1 ⋅ M ( a =h ) .

7. Com esse valor de ρ a (a=h) encontrado, entrar na curva ρ am(a) x a e localizar o


espaçamento correspondente. Esse valor será a espessura h da primeira camada.

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Exemplo:

Com os valores da Tabela 1, resultantes de medições de resistividade de um


solo pelo Método de Wenner, determinar pelo Método Simplificado os parâmetros
ρ 1, ρ 2 e h da modelagem do solo em duas camadas.

Tabela 3 - Valores medidos pelo Método de Wenner

a [m] Ω]
R [Ω ρ am(a) [Ω
Ω m]
1 160,7 1010

2 77,5 974

4 35,4 890

6 18,5 696

8 9,9 500

12 5,0 380

16 2,8 280

22 1,7 230

32 1,0 210

1200
1000

800
ρam (a) [Ωm]

600
400

200
0
5
0 10 20 30 40
a [m]

Figura 8 - Curva resistividade aparente medida versus espaçamento entre eletrodos

1. O traçado da curva ρ a(a) x a está mostrado na Figura 8.

2. Pelo prolongamento da curva ρ a(a) x a, tem-se: ρ1 = 1010 Ωm .

3. Traçando a assíntota, tem-se: ρ 2 = 200 Ωm .

200 − 1010
4. Cálculo do fator de reflexão µ: µ = = −0,669 .
200 + 1010

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5. M (a = h) = 0,09 ⋅ ( −0,669 )2 + 0,3942 ⋅ ( −0,669 ) + 0,9983 = 0,775 .

6. Cálculo: ρ a ( a =h ) = ρ 1 ⋅ M ( a =h ) = 1010 ⋅ 0, 775 = 783 Ωm ;

7. Com esse valor de ρ a (a=h) encontrado, entrando-se na curva ρ am(a) x a, obtém-se:


h ≅ 5,0 m .

Resultado:

ρ 1 = 1010 Ωm

ρ 2 = 200 Ωm .
 h = 5,0 m

2.4.2 MÉTODOS USANDO TÉCNICAS DE OTIMIZAÇÃO

Os métodos que usam técnicas de otimização têm sido alvo de muitos pesquisadores nos
últimos anos, pois, uma vez que elabora-se o processo computacional e em face das
facilidades computacionais atuais, obtém-se resultados com maior rapidez e
confiabilidade.

Tais métodos tornam-se imprescindíveis quando o comportamento da curva ρ am(a) x a não


traduz que o solo pode ser facilmente modelado em duas camadas horizontais.

Basicamente, os valores dos parâmetros ρ 1, ρ 2 e h procurados são aqueles que levam ao


mínimo da seguinte função desvio:
2

∑ [ρ (a ( ) ) − ρ (a ( ), ρ , ρ , h)] ,
m
f o (ρ1 ,ρ 2 , h ) = am i ac i 1 2 (2.4-3)
i =1

sendo:

m - número de medições;

a(i) - espaçamento entre eletrodos para determinada medição [m];

ρ am(a(i)) - resistividade aparente medida para o espaçamento a(i) [Ωm];

ρ ac(a(i), ρ 1,ρ 2,h) - resistividade aparente calculada para o espaçamento entre eletrodos
para determinada medição e para valores específicos de ρ 1, ρ 2 e h [Ωm]. O cálculo é
feito empregando-se a expressão (0-8).

Trata-se de um problema de otimização não-linear com as restrições de que os


parâmetros devem ser maiores do que zero. Embora existam diversos métodos que
possam ser empregados, o processo apresentado em [9 ], o qual baseia-se no Método dos
Mínimos Quadrados, mostrou-se bastante eficiente para os problemas em questão. Essa
metodologia foi implementada no trabalho [10 ] e cuja aplicação ao exemplo do item
anterior levou aos seguintes resultados:

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ρ1 = 1014 ,6 Ωm

ρ 2 = 204 ,2 Ωm .
 h = 4,85 m

A proximidade desses valores com aqueles obtidos simplificadamente no item anterior


confirma a viabilidade de aplicação do Método Simplificado a solos estratificáveis em duas
camadas.

3. CÁLCULO DA RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO PARA SISTEMAS DE


ATERRAMENTO TÍPICOS RURAIS

A resistência total vista pelo sistema de aterramento de um equipamento em questão é


composta das parcelas:

• Resistências de conexão dos cabos de ligação no terminal do sistema de


aterramento e no terminal do equipamento.

• Resistência do cabo de ligação (ou “impedância”, no caso de cabos com grande


comprimento).

• Resistência do material que forma os eletrodos do sistema de aterramento.

• Resistência de contato da superfície dos eletrodos com o solo.

• Resistência formada pelo solo que envolve os eletrodos, isto é, resistência oferecida
pelo solo à dispersão de corrente dos eletrodos para o solo.

Dessas parcelas, a última parcela, que é também denominada resistência de aterramento


do eletrodo, é a mais importante. Seu valor é o maior, mas, depende do solo, varia
sazonalmente, entre outros fatores. As outras parcelas da resistência são menores e
podem ser controladas facilmente.

3.1 SISTEMAS DE ATERRAMENTO FORMADOS POR UMA HASTE OU UM CABO


HORIZONTAL

3.1.1 HASTE

a) Solo Uniforme

A resistência de aterramento de uma simples haste instalada em um solo uniforme pode


ser determinada aproximadamente por meio da seguinte equação [4 ]:

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t ρ

2r
Figura 9 - Haste em solo uniforme

ρ   4L   1 + t / L  t  4 t / L + 4(t / L ) 
2
R 1h = ln   − 1 + ln   + ln   [Ω]; (3.1-1)
2 πL   r   1 + 2t / L  L 1 + 4 t / L + 4(t / L) 
2

e, caso L〉〉 t , vem ainda:

ρ   4L  
R 1h = ln   − 1 [Ω] , (3.1-2)
2 πL   r  

a qual é uma expressão muito empregada.

Significam:

ρ = resistividade do solo uniforme [Ωm];

L = comprimento da haste [m];

t = distância da superfície do solo à cabeça da haste [m];

r = raio equivalente da haste [m]: r = 4S / π ;

S = área da seção transversal do eletrodo [m 2]:

Haste de seção circular Haste Cantoneira

2r

S S
Figura 10 - Seção transversal das hastes circular e cantoneira

É importante esclarecer que, tal critério de equivalência de área não é recomendável para a
definição de hastes alternativas, ou para a substituição de cantoneiras por tubos ou vice-
versa. Na verdade, para os comprimentos usuais de hastes, em face da pequena influência
do raio equivalente das mesmas no valor final da resistência de aterramento, deve ser
sempre padronizado o menor raio compatível com o grau de dificuldade previsto para a
cravação da haste no solo.

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Exemplo:

Resistência de aterramento de uma haste com 2,4m de comprimento e diâmetro de


1/2”, cravada verticalmente a 0,5m da superfície, em um solo uniforme com
resistividade ρ=100 Ωm:

100   4 ⋅ 2,4  
R 1h = ln   − 1 = 41,9 [Ω].
2 ð ⋅ 2 ,4   0,5 ⋅ 0,0254 ⋅1 / 2  

Para esse exemplo, a título complementar, utilizou-se o sistema computacional WMALHA


[Error! Reference source not found.] para a obtenção do valor preciso da resistência de
aterramento. Encontrou-se o valor 39,9Ω.

Na prática, nem sempre o emprego de uma única haste fornece o valor de resistência de
aterramento desejado. Assim sendo, analisando-se a equação (3.1-2), pode-se concluir
que as seguintes opções acarretam a redução da resistência de aterramento:

• Aumento do raio da haste.

• Aumento do comprimento da haste.

• Redução da resistividade do solo, o que pode ser feito utilizando-se tratamento


químico no solo.

• Utilização de outras hastes em paralelo.

A primeira opção proporciona pouca redução, porém, rapidamente saturável. As outras


opções são as que proporcionam melhores resultados.

b) Solo Estratificado Em Duas Camadas Horizontais

Para solo estratificado em duas camadas horizontais, o procedimento para o cálculo da


resistência de aterramento não é tão simples. Para cálculos precisos, na referência [4 ]
apresenta-se uma metodologia baseada no Método das Imagens e no Método do Potencial
Médio.

Por outro lado, com vistas a se ter valores aproximados, pode-se empregar a fórmula de
Hummel [5 ] e estimar a resistividade aparente do solo para a haste cravada pela seguinte
equação:

L1 + L 2
ρa = , (3.1-3)
L1 L 2
+
ρ1 ρ 2

sendo:

ρ a - resistividade aparente do solo para a haste em questão [Ωm];

ρ 1 - resistividade da primeira camada do solo [Ωm];

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ρ 2 - resistividade da segunda camada do solo [Ωm];

L1 - comprimento da haste na primeira camada do solo [m] (vide Figura 11);

L2 - comprimento da haste na segunda camada do solo [m] (vide Figura 11).

t
L1 h ρ1

L2

ρ2

2r

Figura 11 - Haste em solo em duas camadas

Pode-se então, com esse valor de resistividade, empregar as equações para solo uniforme
(3.1-1) ou (3.1-2) e determinar a resistência de aterramento da haste:

ρ a   4L  
R 1h = ln   − 1 [Ω] . (3.1-4)
2 πL   r  

Exemplo:

Resistência de aterramento de uma haste de 2,4m de comprimento com diâmetro de


1/2”, cravada verticalmente a 0,5m da superfície, em um solo estratificado
horizontalmente em duas camadas com resistividade ρ 1=50Ωm, ρ 2=300Ωm e h=2,0m:

1,5 + 0,9
ρa = = 72,7 [Ωm];
1,5 0,9
+
50 300

72 ,7   4 ⋅ 2,4  
R 1h = ln   − 1 = 30,5 [Ω].
2 ð ⋅ 2 ,4   0,5 ⋅ 0,0254 ⋅1 / 2  

Da mesma forma, obteve-se para este exemplo pelo sistema computacional WMALHA
[Error! Reference source not found.] o valor 33,3Ω.

Uma forma mais precisa de se calcular a resistência de aterramento neste caso é


utilizando as fórmulas desenvolvidas por Tagg [8 ]:

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• Para a haste na primeira camada:

  nh 
+ 1 
ρ1   4 L  ∞
µn  L
R1 h = ln   − 1 +
2 πL   r  ∑ ln 
2  nh
 [Ω] .

(3.1-5)
n =1
 − 1 
  L 

• Para a haste penetrando na segunda camada:

 
ρ1  1 + µ  2 L ∞
 2 nh + L 
R1 h =  ln   + µn ln 
∑  [Ω] . (3.1-6)
2 πL  1 − µ + 2µ h   r  n =1  (2 n − 2 )h + L 
 
 L

Sendo µ o fator de reflexão dado pela equação (2.3-7).

3.1.2 CABO HORIZONTAL

a) Solo Uniforme

A resistência de aterramento de um cabo horizontal instalado em um solo uniforme pode


ser calculada aproximadamente por [4 ]:

t ρ
2r

Figura 12 - Cabo horizontal

  L2 + r 2 + L L2 + r 2 + 4 t 2 + L  
ρ L ⋅ ln  ⋅  + r + r 2 + 4t 2 
R 1c =   r r + 4t
2 2  . (3.1-7)
2 πL2    
− L2 + r 2 − L2 + r 2 + 4t 2 
 

Caso L〉〉 2 t〉〉 r , vem ainda:

ρ   2L  
R 1c = ln   − 1 , (3.1-8)
πL   r ′  

 r ′ = r, para t = 0
sendo:  . (3.1-9)
 r ′ = 2 rt, para t > 0

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Significam:

ρ = resistividade do solo uniforme [Ωm];

L = comprimento do cabo [m];

r = raio do cabo [m];

t = profundidade do cabo em relação a superfície do solo [m].

Exemplo:

Resistência de aterramento de um cabo horizontal com 3,0m de comprimento e


diâmetro de 0,6cm, cravado a 0,5m da superfície, em um solo uniforme com
resistividade ρ=100 Ωm:

100   2 ⋅ 3,0  
 − 1 = 39,2 [Ω].
R 1c = ln 
π ⋅ 3,0   2 ⋅ 0,3 ⋅ 0 ,01 ⋅ 0,5  

Da mesma forma, obteve-se pelo sistema computacional WMALHA [Error! Reference


source not found.] o valor 44,4Ω.

b) Solo Estratificado Em Duas Camadas Horizontais

Para solo estratificado em duas camadas horizontais, o procedimento para o cálculo da


resistência de aterramento também não é tão simples e, para cálculos precisos, pode ser
empregada a metodologia apresentada na referência [4 ].

No entanto, para cabos enterrados na primeira camada do solo, visando obter-se valores
aproximados, pode-se empregar a equação proposta por Tagg [8 ]:

ρ1   2L  
R 1c = ln   − 1 + R m c , (3.1-10)
πL   r ′  

sendo:

  2  
 1 +  2 nh  + 1  
ρ1 ∞ n      
2
L  2nh 

8 nh
R mc = µ ⋅  4 ln   + −4   + 1 . (3.1-11)
2πL n =1   h  L  L  
2n
  L  
   

Exemplo:

Resistência de aterramento de um cabo horizontal com 3,0m de comprimento e


diâmetro de 0,6cm, cravado a 0,5m da superfície, em um solo estratificado
horizontalmente em duas camadas com resistividade ρ 1=50Ωm, ρ 2=300Ωm e h=2,0m:

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ρ 2 − ρ1 300 − 50
µ= = = 0 ,714
ρ 2 + ρ1 300 + 50

   
 2 n ⋅ 2,0 
2
 1 +   + 1  
50 ∞    3,0   8n ⋅ 2,0  2 n ⋅ 2,0 
2

R mc = ∑
2π ⋅ 3,0 n =1
0,714 n ⋅ 4 ln 
2,0
+ −4 
 3,0 
 + 1  ≅ 4,9
  2n  3,0 
  3,0  
   

50   2 ⋅ 3,0  
 − 1 + 4 ,9 = 24,5 [Ω].
R 1c = ln 
π ⋅ 3,0   2 ⋅ 0 ,3 ⋅ 0,01 ⋅ 0,5  

Da mesma forma, obteve-se pelo sistema computacional WMALHA [Error! Reference


source not found.] o valor 26,8Ω.

3.2 SISTEMAS DE ATERRAMENTOS FORMADOS POR HASTES INTERLIGADAS EM


PARALELO

A interligação de hastes em paralelo é uma forma muito prática de se reduzir a resistência


de aterramento do conjunto. No entanto, para que se calcule a resistência de aterramento
de uma associação de hastes em paralelo, é necessário considerar-se o efeito das
resistências de aterramento mútuas entre as hastes, as quais proporcionam um aumento
da resistência de aterramento do conjunto. Esse efeito é devido à elevação de potencial de
uma haste gerada pela corrente que flui em outra haste, reduzindo a eficiência da
associação. Por outro lado, no caso dos cabos de interligação das hastes serem
enterrados no solo, e, portanto, ter-se que se considerar o efeito destes cabos, há uma
redução da resistência de aterramento do conjunto.

Sejam as figuras a seguir, nas quais mostram-se para duas hastes paralelas em solo
uniforme as suas linhas equipotenciais isoladas e do conjunto. Em ambas as figuras não
se supôs que os cabos de interligação estavam enterrados.

Figura 13 – Linhas equipotenciais de duas hastes em solo uniforme

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Figura 14 - Linhas equipotenciais do conjunto de duas hastes em solo uniforme

A solução clássica para este problema consiste em resolver um sistema de equações


lineares, com dimensão no mínimo igual a quantidade total entre hastes e cabos de
interligação, impondo-se que o potencial é o mesmo em todos os eletrodos que compõem
o conjunto. Se n é o número total de eletrodos (hastes e cabos) que constituem o sistema
de aterramento , tem-se:

R 11 ⋅ I1 + R 12 ⋅ I 2 + L + R1 n ⋅ I n = V
R ⋅ I + R ⋅ I + L + R ⋅ I = V
 21 1 22 2 2n n
 , (3.2-1)
M
R n 1 ⋅ I1 + R n 2 ⋅ I 2 + L + R nn ⋅ I n = V

sendo

I1 + I 2 + L + I n = I . (3.2-2)

Significam:

Rii - resistência de aterramento própria do eletrodo “i”, que é a que foi calculada no item
anterior;

Rij=Rji - resistência de aterramento mútua entre os eletrodos “i” e “j”;

V - potencial em cada eletrodo; é suposto igual;

Ii - corrente dispersa pelo eletrodo “i” para o solo;

I – corrente total injetada no sistema de aterramento.

Para o caso simples de dois eletrodos, o sistema se reduz a

 R 11 ⋅ I1 + R 12 ⋅ I 2 = V
 , (3.2-3)
 R 21 ⋅ I1 + R 22 ⋅ I 2 = V

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e a resistência de aterramento do sistema é então dada por:

R 11 ⋅ R 22 + R 12
2
R 2e = . (3.2-4)
R 11 + R 22 − 2 R 12

Se esses dois eletrodos forem duas hastes idênticas sob o solo, com resistência de
aterramento de cada uma igual a Rp e resistência mútua entre ambas igual a Rm, vem:

Rp Rm
R2 h = + . (3.2-5)
2 2

A primeira parcela dessa equação representa exatamente a resistência de aterramento do


paralelo entre as duas hastes caso não existisse a influência da resistência de aterramento
mútua, que é representada pela segunda parcela da equação. A resistência de aterramento
mútua tenderia para zero na situação irreal das hastes infinitamente afastadas.

Para se reduzir os efeitos das resistências de aterramento mútuas, tradicionalmente


emprega-se a distância entre hastes no mínimo igual comprimento da própria haste. Por
exemplo, para hastes com 3 m de comprimento, o espaçamento de 3 m é muito adotado.
Isso pode ser melhor entendido pela curva cheia mostrada na Figura 15, na qual, sem se
considerar o efeito dos cabos de interligação entre as hastes, mostra-se a variação da
relação entre a resistência de aterramento do conjunto de 3 hastes alinhadas (R3h) e a
resistência de aterramento do conjunto das mesmas 3 hastes caso as mesmas
estivessem afastadas infinitamente (R3hinf = R1h/3), em função da distância entre hastes (a).
Os valores dessas curvas foram calculados empregando-se o Sistema Computacional
WMALHA do CEPEL [Error! Reference source not found.]. As hastes são de 3m x 5/8” e
estão cravadas a 0,5m da superfície de um solo uniforme e de resistividade 100 Ωm. Na
curva tracejada, o efeito de cabos de interligação bitola 4AWG foi incluído.

2.0
1.8
1.6 a
1.4
R3h /R3 h i n f

1.2
1.0
0.8
0.6
0.4 sem cond. interlig.
com cond. interlig.
0.2
0.0
0 1 2 3 4 5 6 7
a [m]

Figura 15 - Variação da relação R3h/R3h inf com o espaçamento entre hastes 3m x 5/8” a 0,5m de

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profundidade

Note-se da curva cheia dessa figura que, para espaçamentos maiores do que 3m, começa
a ocorrer um efeito de saturação da redução da resistência do conjunto das 3 hastes. Por
outro lado, quando se considera o efeito do cabo de interligação entre as hastes, a redução
é bem mais acentuada. Apesar disso, na prática, o procedimento usual para a estimativa
do espaçamento mínimo entre hastes tal que o efeito das resistências de aterramento
mútuas seja reduzido, ou para a estimativa da resistência de aterramento total do conjunto
de hastes, não considera a contribuição dos cabos de interligação, e, dessa forma, indica o
emprego do espaçamento mínimo entre as hastes igual ao comprimento das hastes. O
efeito dessa consideração é que os resultados são sempre conservativos e, portanto, estão
a favor da segurança.

É importante colocar que, o acréscimo ilimitado do número de hastes em paralelo não é


viável, visto que, inevitavelmente, se chegará a uma configuração com custos de
construção e manutenção impraticáveis.

Com relação a profundidade compreendida entre as cabeças das hastes e a superfície do


solo, recomenda-se que essa seja de pelo menos 0,5 m. No entanto, quando as hastes são
localizados em áreas sujeitas a passagem de arados ou quaisquer outras ferramentas ou
máquinas agrícolas, esse valor deverá ser elevado para 1,0 m.

Os cabos de interligação devem ser instalados nessa mesma profundidade mínima. O


cabo de descida para o aterramento deve ser conectado, preferencialmente, a uma das
hastes centrais.

A prática recomenda uma distância a ser mantida entre o poste e a haste mais próxima
com um valor mínimo de 1 m.

Inúmeras geometrias empregando hastes paralelas são adotadas. No entanto, pode-se


enquadrar as mais usadas em dois grupos básicos:

• hastes alinhadas:

2 a 5 hastes alinhadas.

• hastes dispostas ao redor de um círculo:

3 hastes formando um triângulo;

4 hastes formando um quadrado com 1 haste no centro;

6 hastes formando um hexágono com 1 haste no centro.

Essas geometrias estão apresentadas nas Figura 16 a Figura 19 a seguir, sendo nessas
figuras:

L = comprimento da haste [m];

r = raio da haste [m];

a = separação entre hastes [m];

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t = distância da superfície do solo à cabeça da haste [m].

a 2r

Figura 16 – 2 a 5 hastes alinhadas

a
L

2r

Figura 17 – 3 hastes formando um triângulo

t
a

2r
Figura 18 – 4 hastes formando um quadrado com 1 haste no centro

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t
a

2r
Figura 19 – 6 hastes formando um hexágono com 1 haste no centro

a) Solo Uniforme

No caso de um sistema de aterramento formado por N hastes iguais, sem considerar o


efeito dos cabos de interligação e baseando-se no desenvolvimento da equação (3.2-5), a
resistência de aterramento do mesmo pode ser dada por:

M
Rp + ∑R mi

R Nh = i =1
, (3.2-6)
N

sendo:

N (N − 1)
M= , o número de combinações de resistências de aterramento mútuas
2
possíveis;

Rp – resistência de aterramento própria de cada haste; dada pela equação (3.1-1) ou


(3.1-2);

Rm – resistência de aterramento mútua entre duas hastes; dada também pela


equação (3.1-1) ou (3.1-2), mas substituindo-se o raio pela distância entre as duas
hastes.

Para o caso particular das hastes ao redor de um círculo, ainda sem considerar o efeito
dos cabos de interligação entre as hastes pode-se usar a fórmula de Schwarz [18 ]:

R Nh =
ρ   4L 
ln   − 1 +
2πLN   r 
2,74 ⋅ L
( 2
)
N −1  ; (3.2-7)
A 

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sendo:

L – comprimento das hastes [m];

r – raio das hastes [m];

A – área delimitada pelas hastes [m 2];

N – número de hastes.

Desejando-se considerar o efeito dos cabos de interligação, é necessário recorrer ao


sistema matricial (3.2-1). Nesse sistema, as resistências de aterramento próprias das
hastes e dos cabos serão calculadas pelas equações (3.1-1) e (3.1-7); as resistências de
aterramento mútuas entre duas hastes pela equação (3.1-1) mas substituindo-se o raio
pela distância entre as duas hastes; as resistências de aterramento mútuas entre um cabo
e uma haste pela metodologia descrita na referência [4 ].

b) Solo Estratificado Em Duas Camadas Horizontais

Para o caso de solo estratificado em duas camadas horizontais, pode-se também


empregar a equação (3.2-6), no entanto, as resistências de aterramento própria e mutuas
serão dadas pelas equações (3.1-5) e (3.1-6).

Para o caso particular das hastes ao redor de um círculo, sem se considerar o efeito dos
cabos de interligação, há também a opção de se utilizar as fórmulas de Nahman [19 ,20 ],
que são uma extensão da fórmula de Schwarz [18 ], mas são equações de uso mais
dificultado e, portanto, não serão aqui apresentadas.

Analogamente, desejando-se incluir o efeito dos cabos de interligação, deve-se recorrer ao


sistema matricial (3.2-1).

4. CONSIDERAÇÕES DE SEGURANÇA PESSOAL

Sob a ótica da segurança pessoal, uma consideração fundamental no projeto de um


sistema de aterramento é que o mesmo atue de forma a assegurar que uma pessoa não
seja submetida a uma tensão elétrica fatal quando do toque em equipamentos aterrados,
da conexão de novos itens ao sistema ou da simples caminhada sob a superfície do solo
sob o sistema ou proximidades, tanto em condições normais de operação do sistema
quanto na ocorrência de um curto-circuito que envolva a terra.

Na prática, isso tem sido solucionado por meio da especificação de diferenças de potencial
máximas admissíveis, as quais uma pessoa possa ser submetida, quais sejam: máxima
diferença de potencial de passo e máxima diferença de potencial de toque.

4.1 DIFERENÇAS DE POTENCIAL DE PASSO E DE TOQUE E CORRENTE MÁXIMA


PERMITIDA

• Diferença de Potencial de Passo

É a diferença de potencial entre os dois pontos na superfície do solo tocados pelos pés de
uma pessoa que caminha no interior da área sobre o sistema de aterramento, sem que a

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pessoa faça contato com qualquer outro objeto aterrado.

• Diferença de Potencial de Toque

É a diferença de potencial entre um ponto de uma estrutura aterrada no qual uma pessoa
toca com ambas as mãos e o ponto na superfície do solo tocado pelos seus pés.

• Diferença de Potencial Transferida

É o caso da tensão de toque em área distante.

• Máxima Corrente Permissível Pelo Corpo Humano

Para freqüência industrial, valor ao qual mesmo associando-se baixas magnitudes de


corrente o corpo humano é muito vulnerável, a magnitude e a duração da corrente
conduzida através do corpo humano devem ser menores do que aquelas que acarretam
fibrilação ventricular, tida como a conseqüência mais perigosa.

Conforme os estudos de Dalziel [13 ,14 ], os quais são usualmente empregados, na faixa
de duração de 0,03 a 3,0s a máxima corrente permissível Imax para que não ocorra
fibrilação ventricular é dada por:

k
I max = [A], (4.1-1)
t

sento t o tempo do choque e k igual a 0,116 e 0,157 para pessoas com respectivamente 50
e 70 kg de massa.

Cumpre comentar que, a equação anterior é discutida por diversos autores [22 ],
principalmente para valores de t menores que o ciclo cardíaco, que é da ordem de 0,8s.
Além disso, para valores elevados de t, superiores a alguns segundos, indica-se que se
use como valor máximo permissível a corrente de tetanização muscular, que é
sensivelmente inferior ao limiar de fibrilação ventricular; por exemplo, conforme [15 ], é da
ordem de 10mA.

4.2 DETERMINAÇÃO DOS VAL ORES MÁXIMOS ADMISSÍVEIS DAS DIFERENÇAS


DE POTENCIAL DE PASSO E DE TOQUE

Conforme [3 ], Quando da injeção de corrente em ponto de um solo, a diferença de


potencial entre outros dois pontos na superfície do solo, situados às distâncias radiais S1 e
S2 do ponto de injeção de corrente é dada por:

 1 1
US1 ,S2 α  −  , (4.2-1)
 S1 S 2 

sendo α uma constante de proporcionalidade.

Para fins práticos, os pés de um indivíduo quando caminha são considerados afastados de
1m um do outro. Assim fazendo-se, coloca-se na Tabela 4 duas situações para as
distâncias S1 e S2:

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Tabela 4 - Distâncias e diferenças de potencial associadas

Distâncias S 1 e S 2 Significado da Diferença de Potencial US1,S2

S1 - S2 = 1m Upasso - diferença de potencial de passo

S1 ou S2 ← em torno de 1m Utoque - diferença de potencial de toque em S1 ou S2

Essas relações estão melhor esclarecidas nas Figura 20 e Figura 21 a seguir.

U(S)

Upasso

S
S1 S2=S1+1m

Figura 20 - Diferença de potencial de passo

U(S)

Utoque

S
S1

Figura 21 - Diferença de potencial de toque

As diferenças de potencial de passo e de toque são calculadas conhecendo-se o circuito


elétrico representativo da circulação da corrente pelo indivíduo para cada caso. Em
princípio, devem ser consideradas as seguintes resistências:

• Resistência das luvas (Rl)

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• Resistência de contato com o objeto com potencial (Rco)

• Resistência equivalente do corpo humano, entre o ponto de contato e os pés (Rch).

• Resistência dos sapatos e das meias (Rsm).

• Resistências oferecida pelo solo ao fluxos de corrente oriundos de cada pé


(Resistências de contato dos pés com o solo) (Rcp).

No entanto, é freqüente desprezar Rco, que é pequeno quando comparado com Rch e Rcp, e
desprezar Rl e Rsm, o que de certa corresponde a incorporar os valores respectivos, em
termos estatísticos, num critério em que se considerem valores típicos mínimos de Rch, no
sentido de ser um valor com elevada probabilidade de ser excedido, para efeito de cálculo
de segurança de pessoas. Nessas condições, tem-se na Figura 22 os circuitos elétricos
representativos quando um indivíduo é submetido às diferenças de potencial de passo e de
toque.

Ich RTch
RTch/2 RTch/2
Ich

Rp Rp Rp Rp
Rm
Rm
Utoque Upasso
Ras

≅ 1m

≅ 1m

Figura 22 - Circuitos elétricos equivalentes para o cálculo das diferenças de potencial de toque e de
passo

Significam:

• I - corrente que é injetada no solo através do sistema de aterramento [A], o qual tem
resistência de aterramento Ras. Eletricamente, tal corrente dependeria das resistências
RTch e da resistência da combinação entre Rp e Rm, mas em função dos altos valores
dessas resistências, praticamente não sofre influência.

• Utoque - diferença de potencial de toque [V].

• UPasso - diferença de potencial de passo [V].

• Ich - corrente que circula pelo corpo do indivíduo [A].

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• RTch - soma entre a resistência das luvas e as resistências de contato das mãos da
pessoa, a resistência equivalente do corpo humano e a resistência dos sapatos e das
meias [Ω].

A resistência equivalente do corpo humano (Rch) é a soma vetorial da impedância


interna do corpo humano mais as impedâncias da pele. Conforme [15 ], à freqüência
industrial, tal soma é praticamente resistiva, varia com a tensão Ua aplicada ao corpo e
é, para propostas práticas, independente se o caminho de circulação da corrente é
entre mãos ou entre mãos e pés. Para uma probabilidade de 95% de chance de ser
excedida, RTch é em torno de 1750Ω para a Ua=25V e tende assintoticamente, com o
aumento de Ua para 650Ω, podendo utilizar-se a equação aproximada:

R Tch = 2,9 ⋅10 3 ⋅ U −a 0 , 2 [Ω]. (4.2-2)

• Rp - parcela própria da resistência oferecida pelo solo ao fluxo de corrente oriunda de


um pé [Ω].

Para propostas de análise por circuito elétrico equivalente, é comum representar o pé


humano por um disco metálico condutor. Assim sendo, conforme [21 ], a resistência Rp
para um disco metálico de raio b e situado sobre a superfície de um solo estratificado
em duas camadas horizontais é dada por:

ρ 1  ∞
µ1 
n
Rp = ⋅ 1+ 2 ∑ , (4.2-3)
4b  n =1 1 + (2 nh b ) 
2
 

ou, simplificadamente, para solo uniforme de resistividade ρ, vem:

ρ
Rc = . (4.2-4)
4b

Sendo:

ρ 1 - resistividade da primeira camada do solo [Ωm];

ρ 2 - resistividade da segunda camada do solo [Ωm];

h - espessura da primeira camada do solo [m];

ρ2 − ρ1
µ - fator de reflexão: µ = .
ρ 2 + ρ1

• Rm - parcela mútua da resistência oferecida pelo solo aos fluxos de corrente oriundos
dos dois pés [Ω]. Conforme [21 ], para um solo estratificado em duas camadas
horizontais é dada por:

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ρ1  ∞
µ1 
n
Rm = ⋅ 1+ 2 ∑ , (4.2-5)
2πd  n =1 1 + (2 nh d ) 
2
 

ou, simplificadamente, para solo uniforme de resistividade ρ, vem:

ρ
Rm = , (4.2-6)
2 πd

sendo a distância d a separação entre os pés [m].

Vem então, após a resolução dos dois circuitos elétricos da Figura 22:

  Rp + Rm 
 U toque =  R Tch +  ⋅ I ch

  2  . (4.2-7)
U [ ( )]
 passo = R Tch + 2 ⋅ R p − R m ⋅ I ch

Os valores máximos das diferenças de potencial de toque e de passo, Utoque máx e Upasso máx,
podem ser obtidos substituindo-se no grupo de equações (4.2-7) b=0,08m, d=1,0m (passo)
ou d=0,5m (toque) e a corrente Ich pela máxima corrente permissível tal que não ocorra
fibrilação ventricular. A definição da geometria adequada de um sistema de aterramento
instalado sob um determinado solo deve então ser feita tal que as maiores diferenças de
passo e de toque induzidas na superfície do solo não sejam superiores a esses valores
máximos.

5. PROGRAMA PARA CÁLCULO DA RESISTÊNCIA DE ATERRAMENTO E DAS


DIFERENÇAS DE POTENCIAL DE PASSO E DE TOQUE PARA SISTEMAS DE
ATERRAMENTO TÍPICOS RURAIS

Tendo em vista disponibilizar de forma prática aos diversos profissionais do ramo uma
forma de calcular as resistências de aterramento e os maiores valores das diferenças de
potencial de passo e de toque para alguns sistemas de aterramento típicos rurais,
desenvolveu-se em linguagem Microsoft FORTRAN a versão 1.0 do programa ATERURAL.

A metodologia de cálculo implementada no programa ATERURAL foi baseada no conteúdo


descrito nos itens anteriores deste documento e nas referências [3 ,4 ,16 ] e pode ser
aplicada a solos estratificados em duas camadas horizontais.

5.1 SISTEMAS DE ATERRAMENTOS IMPLEMENTADOS

Os seguintes sistemas de aterramentos foram implementados na versão 1.0 do programa


ATERRURAL:

1. 1 haste vertical.

2. 2 hastes verticais alinhadas.

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3. 3 hastes verticais alinhadas.

4. 4 hastes verticais alinhadas.

5. 5 hastes verticais alinhadas.

6. 3 hastes verticais ao redor de um círculo (formando um triângulo).

7. 4 hastes verticais ao redor de um círculo (formando um quadrado) e 1 haste no


centro.

8. 6 hastes verticais ao redor de um círculo (formando um hexágono) e 1 haste no


centro.

Para cada execução do programa ATERURAL, faz-se os cálculos para os oito sistemas de
aterramento mencionados. Além disso, pode-se considerar ou não nos cálculos o efeito
dos cabos de interligação entre as hastes.

Para o cálculo das máximas diferenças de potencial de passo e de toque induzidas na


superfície do solo, utilizou-se o seguinte procedimento:

1. Calcula-se uma grade de potencial, onde a grade é formada por quadrados com
0,5x0,5m em cujos vértices se calcula o potencial induzido.

2. Acha-se a maior diferença de potencial entre o potencial do sistema e em um ponto


afastado de até, no máximo, 1m da projeção das hastes na superfície do solo. Esse
valor é tido como a maior diferença de potencial de toque.

3. Acha-se a maior diferença de potencial entre dois pontos com afastamento próximo
de 1m. Esse valor é tido como a maior diferença de potencial de passo.

Como é esperado que tais valores máximos não ocorram muito distantes da região
delimitada pelas hastes e em função da simetria das linhas equipotenciais em relação a
uma linha de centro que divide o sistema de aterramento em duas partes iguais, estipulou-
se as seguintes localizações das grades de potencial:

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• Sistemas com hastes alinhadas - vide Figura 23:

1m

x haste
1m
Dist y

Dist

Linha de centro do
sistema de aterramento

Figura 23 - Definição da localização da grade de potencial (sistemas com hastes alinhadas)

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• Sistemas com hastes ao redor de um círculo - vide Figura 24:

Linha de centro do
sistema de aterramento

1m x haste
y

Dist +Raio do Circ.

Dist +Raio do Circ.+1m

Figura 24 - Definição da localização da grade de potencial (sistemas com hastes ao redor de um


círculo)

A distância Dist é calculada como o maior valor obtido entre o comprimento da haste, o
espaçamento entre as hastes e o valor 5m.

Note-se nessas duas figuras a origem dos eixos x e y, sendo o eixo x positivo para cima e
negativo para baixo e o eixo y positivo para a direita e negativo para a esquerda.

5.2 EXECUÇÃO DO PROGRAMA

O programa é iniciado por intermédio da execução do arquivo ATERURAL.EXE. Feito isso,


surge a primeira tela como a seguir:

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Figura 25 – Inicialização do programa ATERURAL

Em seguida, solicita-se o módulo da corrente que será injetada em cada sistema de


aterramento. Para o exemplo de uma corrente de 1A, tem-se:

Figura 26 - Corrente injetada no aterramento

Na tela subseqüente, solicita-se os seguintes dados:

• Raio das hastes;

• Profundidade de instalação das hastes;

• Tamanho das hastes (somente entre 1,0 e 12,0m);

• Espaçamento entre as hastes (somente entre 1,0 e 15,0m).

Para o caso de hastes de 1/2”, instaladas a 0,5m da superfície do solo, com comprimento
de 3,0m e espaçadas de 3,0m, tem-se∗∗ :

∗∗
Obs.: Raio da haste com diâmetro 1/2” = 0,5x1/2x2,54cm = 0,635cm.

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Figura 27 - Dados para as hastes

Na tela que surge na seqüência, caso que se queira considerar os cabos de interligação,
devem ser introduzidos os seus dados, isto é, o raio e a profundidade de instalação.
Usando-se cabos com raio de 0,3cm e instalados a 0,5m da superfície do solo, vem:

Figura 28 - Dados para os cabos de interligação

Em seguida, é perguntado o número de camadas do solo (1 ou 2). Se esse for igual a 1,


supõe-se que se trata de um solo uniforme e deve-se entrar com o valor da resistividade do
mesmo. No caso do número de camadas ser igual a 2, deve-se então entrar com os
valores das resistividades das duas camadas e a espessura da primeira camada.
Fazendo-se o cálculo para um solo em duas camadas, com parâmetros ρ 1=50Ωm e
ρ 2=300Ωm e h=2,0m, vem:

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Figura 29 - Características do solo

Neste ponto, todos os dados já foram introduzidos e então surge a seguinte tela, apenas
para efeito de verificação dos valores:

Figura 30 - Lista dos dados fornecidos

Nas telas que surgem em seguida, são mostrados os resultados para cada um dos oito
sistemas implementados.

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Figura 31 - Resultados para o sistema com 1 única haste vertical

Figura 32 - Resultados para o sistema com 2 hastes alinhadas

Figura 33 - Resultados para o sistema com 3 hastes alinhadas

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Figura 34 - Resultados para o sistema com 4 hastes alinhadas

Figura 35 - Resultados para o sistema com 5 hastes alinhadas

Figura 36 - Resultados para o sistema com 3 hastes ao redor de um círculo

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Figura 37 - Resultados para o sistema com 4 hastes ao redor de um círculo e 1 haste no centro

Figura 38 - Resultados para o sistema com 6 hastes ao redor de um círculo e 1 haste no centro

6. CONCLUSÕES

Neste relatório apresentou-se algumas equações para o cálculo da resistência de


aterramento de alguns sistemas de aterramento empregados em redes de distribuição
rural. Esse cálculo e o cálculo das máximas diferenças de potencial de passo e de toque
foram implementados no programa computacional ATERURAL.

É importante comentar que, tais metodologias baseiam-se em solos modelados


matematicamente em duas camadas horizontais e, dessa forma, os sistemas de
aterramento projetados sob as bases dessas metodologias devem sofrer medições de
resistência de aterramento e potenciais imediatamente após a sua construção, tendo em
vista confirmar os valores de projeto.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1 EPRI - Transmission Line Grounding - Relatório Final EPRI EL-2699, vol.1, outubro,
1982.

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DE ATERRAMENTO EMPREGADOS EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO RURAL
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ADG-A/PER - PROJETO 1462

EMPRESA DO SISTEMA ELETROBRÁS

2 ELETROBRÁS – Coleção Distribuição de Energia Elétrica – Aterramento e Proteção


Contra Sobretensões em Sistemas Aéreos de Distribuição – vol.7, 1990.

3 Salari Fo, J.C.; Dart, F.C. - Aterramento à Freqüência Industrial - Equações Básicas e
Eletrodo Pontual - Relatório Técnico DPP/TEQ no 425, CEPEL, 1997.

4 Salari Fo, J.C.; Dart, F.C. - Aterramento à Freqüência Industrial - Cálculo da


Resistência de Aterramento e dos Potenciais no Solo - Relatório Técnico DPP/TEQ
no 427, CEPEL, 1997.

5 Kindermann, G.; Campagnolo, J.M. - Aterramento Elétrico - Editora Sagra-DC


Luzzatto, 3a edição, Rio Grande do Sul, 1995.

6 Leite, C.M.; Pereira Fo, M.L. - Técnicas de Aterramentos Elétricos - Editora Officina de
Mydia, 2a edição, São Paulo, 1996.

7 Wenner, F. - A Method of Measuring Earth Resistivity - Bulletin, National Bureal of


Standards, Washington D. C., vol. 12, 1916.

8 Tagg, G. F. - Earth Resistances - George Newnes Limited, London, 1964.

9 Meliopoulos, A. P.; Papalexopoulos, A. D. - Interpretation of Soil Resistivity


Measurements: Experience with the Model SOMIP - IEEE Trans. on P.D., vol.1, no. 4,
outubro, 1986, págs. 142-151.

10 Salari Fo, J. C.; Dart, F. C. - Manual do Usuário do Sistema Computacional WSOLO -


Relatório Técnico a ser emitido, CEPEL, DPP/TEQ.

11 IEEE Guide for Safety in Substation Grounding - Norma IEEE-80, 1986.

12 Dalziel, C. F. - Effect of Wave Form on Let-Go Currents - AIEE Transactions, vol. 62,
1943, págs. 739-744.

13 Dalziel, C. F.; e Massoglia, F. P. - Let-Go Currents and Voltages - AIEE Transactions,


vol. 75, parte II, 1956, págs. 49-56.

14 Dalziel, C. F.; Lagen, J. B.; e Thurston, J. L. - Electric Shock - AIEE Transactions, vol.
60, 1941, págs. 1073-79.

15 IEC - Effects of Current Passing Through the Humam Body - IEC Report, publicação
no. 479-1, 1984.

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DE ATERRAMENTO EMPREGADOS EM REDES DE DISTRIBUIÇÃO RURAL
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ADG-A/PER - PROJETO 1462

EMPRESA DO SISTEMA ELETROBRÁS

16 Salari Fo., J. C.; Dart, F. C. - Manual do Usuário do Sistema Computacional WMALHA:


Cálculo de Malhas de Aterramento - Relatório Técnico no 951, DPP/TEQ,
CEPEL,1997.

17 Sunde, E. D. - Earth Conduction Effects in Transmission Systems - Dover


Publications, Inc., New York, 1968.

18 Schwarz, S.J. – Analytical Expression for the Resistance of Grounding Grids – AIEE
Transactions, vol. 73, agosto, 1954, págs. 1011-1016.

19 Nahman, J.; Salamon, D. – Analytical Expressions for the Resistance of Grounding


Grids in Nonuniform Soil – IEEE Transactions on P.A.S., vol. 103, no 4, abril, 1984,
págs. 880-885.

20 Nahman, J.; Salamon, D. – Analytical Expressions for the Resistance of Rodbeds and
of Combined Grounding Systems in Nonuniform Soil – IEEE Transactions on P.D.,
vol. 1, no 3, julho, 1986, págs. 90-96.

21 Heppe, R.J. -Step Potentials and Body Currents Near Ground in Twolayer Earth - IEEE
Transactions on P.A.S., no 1, 1979.

22 Portela, C.M.J. - Aspectos Básicos das Condições de Segurança de Pessoas em


Relação com Descargas Atmosféricas em Subestações e Linhas de Transmissão -
Exemplos de Aplicação - VIII SNPTEE, Grupo VIII, São Paulo, Brasil, 1986.

23 Salari Fo, J.C.; Santos, L.A.A.; Nascimento, J.M.L. - Aterramento de Sistemas Elétricos
de Distribuição à Freqüência Industrial - Relatório Técnico ADG-A/PER a ser emitido.

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