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Fisica Geral II

Book · July 2010

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1 author:

Edmundo M. Monte
Universidade Federal da Paraíba
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Física Geral II
Prof. Dr. Edmundo Marinho do Monte
edmundo@fisica.ufpb.br

Curso de Licenciatura em Matemática – UFPBVIRTUAL


Ambiente Virtual de Aprendizagem: Moodle (www.ead.ufpb.br)
Site da UFPBVIRTUAL: www.virtual.ufpb.br
Site do curso: www.mat.ufpb.br/ead
Telefone UFPBVIRTUAL (83) 3216 7257

Carga horária: 60 horas Créditos: 04

Ementa

Gravitação, Oscilação, Ondas, Ondas de Som, Estática e Dinâmica dos Fluidos, Temperatura,
Calor, Transferência de Calor, Teoria Cinética dos Gases, Primeira e Segunda Lei da Termodinâmica.

Descrição

Este é um curso para alunos que tenham estudado mecânica newtoniana e cursado um ou mais
semestres de cálculo. O conteúdo deste curso dá ao aluno uma boa cultura de física básica, exceto por não
estudarmos outras propriedades da matéria, como por exemplo, carga. Como a própria ementa nos mostra,
os assuntos abordados da física básica são em bom número e em muitos casos não imediatamente
relacionados. Portanto, devemos estar atentos que este é um curso que requer muita dedicação e paciência
para nos adaptarmos a mudanças bruscas de assunto de um capítulo para outro. Porém, este texto foi
construído para servir de guia para formação de um curso básico de física para alunos, especialmente, da
licenciatura em matemática.
O propósito da unidade - Gravitação - é o de introduzir a lei da gravitação Newtoniana. Na unidade
II introduziremos algumas ideias sobre oscilação. Na unidade temática III daremos algumas ideias do
fenômeno ondulatório e sua introdução como modelo matemático, especialmente em uma corda. Na
unidade IV daremos algumas ideias de fenômenos ondulatórios mais específicos como a propagação desses
fenômenos em duas e três dimensões, tais como: ondas sonoras no ar. A mecânica dos fluidos será estudada
de forma muito superficial, porém procuramos abordar os elementos essenciais. Noções de temperatura,
calor e transferência de calor serão estudadas nos capítulo VI. No capítulo VII usaremos descrições
macroscópicas e microscópicas para compreender as propriedades térmicas da matéria. O estudo das
transformações de energia envolvendo calor, trabalho mecânico e outros tipos de energia e como essas
transformações podem estar relacionadas com as propriedades da matéria chamaremos termodinâmica, no
capítulo VIII estudaremos as leis da termodinâmica.
Alguns problemas resolvidos e propostos serão fornecidos com a finalidade do estudante ter uma
maior compreensão da teoria fixando alguns conceitos, medidas de grandezas físicas, etc.

Objetivos

O objetivo deste curso é fornecer para o aluno uma formulação mais precisa, em termos
matemáticos, da gravitação newtoniana, oscilação, ondas, ondas sonoras, mecânica dos fluídos e da
termodinâmica. Com isto, ao final deste curso o estudante deverá adquirir noções de física básica.

3
Bibliografia

No final deste texto será apresentada uma bibliografia básica, donde me apoiei para montar estas
notas de aula. Muitos exemplos, problemas e figuras serão retirados dessa bibliografia, além de buscar
muitas vezes a internet como ponto de apoio.

Unidades Temáticas Integradas

Unidade I Gravitação

 A Lei de Newton da Gravitação Universal


 Força Gravitacional Exercida pela Terra sobre uma Partícula
 A Medida da Constante Gravitacional
 Órbitas dos Planetas
 Energia Gravitacional
 O Campo Gravitacional
 Interação Gravitacional entre uma Partícula e um Objeto Extenso
 Teorema de Newton da Interação Gravitacional entre Distribuições Esféricas de Massa
 Massa Gravitacional, Massa Inercial e o Princípio de Equivalência
 Problemas resolvidos e propostos

Unidade II Oscilação

 Movimento Harmônico Simples


 O Oscilador Harmônico Simples
 Energia do Oscilador
 Pêndulo Simples
 Pêndulo Físico e Pêndulo de Torção
 Oscilações Amortecidas e Oscilações Forçadas
 Problemas resolvidos e propostos

Unidade III Ondas

 Pulsos de Onda
 Ondas Viajando
 Velocidade de Onda em uma Corda
 Energia em uma Onda
 A Superposição de Ondas
 Ondas Estacionárias
 Problemas Resolvidos e Propostos

Unidade IV Ondas de Som

 Elasticidade
 Ondas Sonoras – Ondas Longitudinais
 Ondas Sonoras Estacionárias
 Efeito Doppler
 Problemas Resolvidos e Propostos
4
Unidade V Estática e Dinâmica dos Fluidos

 Pressão em um Fluido
 Empuxo
 Escoamento do Fluido
 Equação de Bernoulli
 Problemas Resolvidos e Propostos

Unidade VI Temperatura, Calor e Transferência de Calor

 Expansão Térmica
 Calor e Energia Térmica
 Capacidade Calorífica e Calor Latente
 Transferência de Calor
 Problemas Resolvidos e Propostos

Unidade VII Teoria Cinética dos Gases

 Equação do Gás Ideal


 O Conceito de Pressão e Temperatura do Ponto de Vista Molecular
 A Distribuição de Maxwell-Boltzmann
 Calor Específico de um Gás
 Processos Adiabáticos
 Problemas Resolvidos e Propostos

Unidade VIII 1a , 2a e 3a Leis da Termodinâmica

 Primeira Lei da Termodinâmica


 Segunda Lei da Termodinâmica
 A Máquina de Carnot
 Entropia
 Terceira Lei da Termodinâmica
 Problemas Resolvidos e Propostos

5
5
Unidade I - Gravitação

1 GmL M T
R  Rg    T F
2
r r2

fig. I.1. A figura mostra a interação gravitacional entre a Lua e a Terra.

1. Situando a Temática

O propósito desta unidade temática é o de introduzir a lei da


gravitação Newtoniana. Estudaremos a lei da gravitação universal formulada
por Newton, a constante gravitacional G e sua medida, a aceleração da
gravidade g de corpos caindo próximos à Terra, as órbitas dos planetas, a
energia potencial gravitacional, a velocidade de escape, a ação gravitacional
de uma massa esférica, a massa inercial e massa gravitacional com o
princípio de equivalência. A fig. I.1 mostra a Lua em seu movimento orbital
em volta da Terra e através da formulação Newtoniana da gravitação
universal, a Lua e a Terra estão ligadas por uma força.

2. Problematizando a Temática

A alta precisão da mecânica celeste é legendária. Cálculos usando as


leis de Newton do movimento e a lei de Newton da gravitação permitiu
predições para o movimento de planetas, satélites e cometas. Essa
abordagem teórica concorda muito precisamente com as observações
astronômicas. Por exemplo, predições de posições angulares planetárias
concordam com as observações com uma precisão de poucos segundos de
arco, mesmo depois de um período de dez anos. A teoria da gravitação
Newtoniana provou ser eficiente quando astrônomos notaram um
movimento anômalo de Urano. Eles previram que esse movimento anômalo
estaria sendo provocado por uma força gravitacional vinda de uma massa nas

6
vizinhanças daquele planeta. Um novo planeta foi encontrado, Netuno.
A força gravitacional é uma das quatro forças da natureza. Apesar de
permear todo o nosso espaço físico, agindo sobre massas, é uma força de
muito pouca intensidade quando comparada às forças fraca, forte e
eletromagnética. Quando calculamos essa força entre dois prótons separados
por uma distância de 2  10 15 m obtemos um valor de 10 34 N, enquanto
obtemos 100 N para força eletromagnética.
A principal aplicação da gravitação é na astronomia, viagens
espaciais de satélites, na medicina, etc. Apesar da gravitação de Newton ser
uma teoria de alta precisão, algumas observações, como o desvio do periélio
de Mercúrio, não coincidem com os cálculos previstos por essa teoria. Ao
contrário da gravitação formulada pela Relatividade Geral, os dados
observacionais do desvio do periélio de Mercúrio vêm a ser confirmados por
essa outra teoria.
Atualmente, problemas fundamentais da física continuam a existir,
por exemplo, como explicar a expansão acelerada do universo. Algumas
tentativas estão sendo feitas, agora formulando a gravitação com teorias mais
gerais do que a Relatividade Geral.

3. A Lei de Newton da Gravitação Universal

Foi Newton quem descobriu que a força interplanetária que mantém


os corpos celestes em suas órbitas é a força gravitacional. A lei da
gravitação universal formulada por Newton estabelece que:
Uma partícula atrai uma outra com uma força diretamente proporcional ao
produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da
distância entre elas.
A intensidade da força gravitacional entre duas massas m1  M e
m2  m separadas por uma distância r é

GMm
F eq. I.1
r2

fig. I-2. Interação gravitacional entre duas massa.

onde G é a constante universal. Seu valor em unidades internacionais ou


métrica é

G  6,67  10 11 Nm 2 / kg 2

A fig. I-2 mostra a direção da força atrativa sobre cada partícula.


Note que as duas forças são de igual intensidade e direções opostas, elas
formam um par ação e reação. Por outro lado, a ação da força é a distância,

7
não requerendo contado entre as partículas e a atração gravitacional entre
duas partículas é completamente independente da presença de outras
partículas. Segue que a força gravitacional obedece ao princípio da
superposição linear, isto é, a força gravitacional líquida entre dois corpos
(por exemplo, Terra e Lua) é o vetor soma das forças individuais entre todas
as partículas que compõem os corpos. Podemos assim usar este fato para
aproximarmos os corpos celestes como partículas pontuais.

4. Força Gravitacional Exercida pela Terra sobre uma Partícula

Aproximando a Terra e um corpo próximo a ela por um ponto, a


força gravitacional exercida pela Terra sobre este corpo (partícula) é


GM T m  GM T m r
F ou F  eq. I.2
r2 r2 r

onde r é a distância medida do centro da Terra à partícula fora da Terra. Se a


partícula está dentro da Terra a força é menor.
fig. I.3. Força gravitacional Se a partícula está na superfície da Terra em r  RT , então a eq. I.2
entre duas partículas. GM T m
F eq. I.3
RT2

A corresponde aceleração da massa m é

F GM T
a  g eq. I.4
m RT2
Mas essa aceleração é exatamente aquela que chamamos aceleração da
gravidade g.
Em geral teremos a aceleração para uma distância r

GM T RT2
a  2 g eq. I.5
r2 r

9,8

4,9

RT 2 RT 3 RT r
2
fig. I.4. Gráfico da aceleração em m/s da gravidade versus distância radial r em
metros.

8
5. A Medida da Constante Gravitacional

A constante G é muito difícil de ser medida com


precisão. Isto ocorre devido às forças gravitacionais entres
massas no laboratório serem pequenas e portanto os
instrumentos para detectar estas forças serem extremamente
sofisticados. As medidas de G são feitas com uma balança de
torsão de Cavendish.

O valor da constante G é determinado através da


aproximação das pequenas massas das massas grandes e a
comparação dos torques surgidos no cabo central de
sustentação.

fig. I.5. Experimento de Cavendish.

6. Órbitas dos Planetas

É razoável considerarmos o Sol fixo e imóvel estudando apenas o


movimento dos planetas.
Se supusermos as órbitas dos planetas aproximadamente circulares
de raio r, a força gravitacional age como uma força centrípeta, tendo o Sol
como o corpo central. Se a velocidade do planeta é v, a equação de
movimento

GM s m mv 2 GM s
F 2
 Fc    v2 eq. I.6
r r r
2r
Temos que v  , onde T é chamado o período da órbita. Assim o
T
período para órbita circular é dado por

4 2 3
T2  r eq. I.7
GM s

Mesmo as órbitas dos planetas em torno do Sol sendo


aproximadamente circulares nenhuma dessas órbitas é circular. Foi Kepler
que mostrou através das observações este fato. Isso é a primeira lei de
Kepler:
‘As órbitas dos planetas são elipses com o Sol em um
dos focos’

fig. I.6. Uma órbita elíptica de um planeta, com o Sol em


um dos focos.

A segunda lei de Kepler expressa essencialmente a conservação do


momentum angular do planeta em torno do Sol, já que a força gravitacional
9
é uma força central. Ela é chamada lei das áreas.
‘O segmento de reta que une o Sol ao planeta varre áreas iguais
em tempos iguais’

A terceira lei de Kepler relaciona o período da órbita


ao tamanho dela. Uma generalização da equação eq. I..7:
‘O quadrado do período é proporcional ao cubo do semi-eixo
maior da órbita do planeta’
As três leis de Kepler são também aplicadas a satélites e a
cometas. Também são aplicadas a órbitas de estrelas, como em
fig. I.7. Lei de Kepler das áreas
sistemas binários de estrelas. Por outro lado, são aplicadas a movimento
de projéteis próximos da Terra.
Notamos que na nossa descrição matemática do movimento
planetário não contemplamos as forças dos outros planetas muito menores
do que a do Sol. Porém, num tratamento mais preciso, essas forças devem
ser levadas em conta. A força líquida sobre qualquer um dos planetas é então
uma função da posição de todos os outros planetas. A solução da equação do
movimento envolve o problema de muitos corpos. No cálculo do movimento
de um planeta é incluído o cálculo do movimento dos outros planetas. Não
temos uma solução exata desse problema, apenas cálculos envolvendo
análise numérica. Dessa forma as leis de Kepler descrevem uma primeira
aproximação do movimento planetário. Isto resulta no desvio do periélio de
alguns planetas.

7. Energia Gravitacional

Sabemos do estudo da mecânica que a força gravitacional é uma


força conservativa, isto é, o trabalho realizado por esta força para deslocar
uma partícula de um ponto a outro somente depende da localização destes
pontos e não do caminho entre eles. Assim podemos definir a energia
potencial gravitacional
r  
U (r )    F  d r  U ( P0 ) eq. I.7

Tomamos aqui um ponto numa distância infinita da massa central M


e colocamos U ( P0 )  0 . Note que esta integral pode ser calculada para
qualquer caminho, em particular numa linha reta. Então,

r   r   GMm
U ( r )    F  d r  U ( P0 )  0     (GMm / x 2 ) i  i dx   q.I.8
 
r

Veja que a energia potencial gravitacional cresce com a distância, de


um valor negativo para zero. Isto decorre naturalmente pelo fato da força ser
atrativa. Por outro lado essa energia é mútua, de M e m, mas por exemplo se
M >> m podemos dizer que a energia é apenas de m, já que praticamente M
10
não se move.
Algumas vezes é desejável calcular a força da energia potencial.
Suponha que dois pontos P e Q são separados apenas por um deslocamento

infinitesimal d r , então U(P) será diferente de U(Q) somente por uma
quantidade infinitesimal,
 
dU  U ( P )  U (Q )   F  d r   Fx dx  F y dy  Fz dz , assim
 U U U 
F  ( , , )  U ( r ) .
x y z

Neste caso dizemos que F provém de um potencial. Podemos rever
este resultado em um curso básico de cálculo.
A energia total é igual a U+K, mas se M é estática, então a energia
cinética K é devida apenas ao movimento de m, assim pela conservação de
energia,

1 2 GMm
E U  K  mv   const. eq. I.9
2 r

Da eq. I.6 e eq. I.9 podemos calcular facilmente a energia para uma órbita
circular:

1 GM s m GM s m 1 GM s m
E U  K    eq. I.10
2 r r 2 r

A energia negativa E é exatamente a metade da energia potencial.


Para uma órbita elíptica a energia total é também negativa. Pode-se mostrar
que E é escrito como na eq. I.10, substituindo r pelo semi-eixo maior da
elipse. A energia total não depende do formato da elipse e sim do seu
tamanho global. Se a energia é próxima de zero, então o tamanho da órbita é
muito grande. O que caracteriza as órbitas de cometas, indo além do limite
do sistema solar. Se a energia é exatamente zero, então a elipse torna-se uma
parábola, para distâncias infinitas e velocidade zero. Se a energia é positiva,
então a órbita é uma hipérbole, o astro alcança distâncias infinitas com
velocidades diferentes de zero e continua movendo-se em linha reta.
Para um detalhamento sobre as órbitas dos planetas podemos estudar
as curvas de potencial através da eq. I.9, calculando-se a expressão da
velocidade para determinar qualitativamente: pontos de retorno e equilíbrio,
níveis de energia, órbitas ligadas e não ligadas. Ou, de forma mais precisa,
muito mais difícil, resolver uma equação diferencial definida pela eq. I.9
para a posição da partícula.

Um objeto de massa m na superfície de um astro de massa M está


sujeito a uma força da gravidade exercida por tal astro. Qual deve ser a
velocidade inicial mínima aproximada que deverá ser lançado o objeto, da
superfície do astro, para que ele não retorne mais? Como tal objeto escapará
do astro? A velocidade correspondente é chamada velocidade de escape. No
infinito a velocidade do objeto é zero e a energia potencial também. Dessa
11
forma E = 0, como a única força que realiza trabalho é a gravitacional, que é
conservativa, então na superfície,
1 2 GM T m
E  K U  0  mv  
2 RT

2GM T
v eq. I.11
RT

Note que estamos considerando um corpo lançado em pontos acima da


superfície da Terra onde, aproximadamente, o atrito com o ar é zero e a força
do Sol sobre ele tem um pequeno efeito.

8. O Campo Gravitacional

Uma abordagem para descrever interações entre objetos na Terra que


não estão em contato, veio com o conceito de um campo gravitacional o qual
permeia nosso espaço físico. O campo gravitacional é definido como

 1 
g F eq. I.12
m

O campo gravitacional em um ponto do espaço é igual à força


experimentada por uma partícula teste colocada no ponto multiplicada
escalarmente pelo inverso da massa da partícula. Note que a presença da
partícula teste não é necessária para o campo existir. A Terra cria o campo.
Como exemplo, considere um objeto de massa m próximo a superfície da
Terra. O campo gravitacional a uma distância r do centro da Terra é


 1  1 GM T m r
g F  
m m r2 r

 GM T 
g r eq. I.13
r2

1 
onde r  r é o vetor unitário apontando radialmente em direção à Terra e
r
o sinal menos indica que o campo está na direção do centro da Terra.

9. Interação Gravitacional entre uma Partícula e um Objeto Extenso

Notemos que até agora a interação gravitacional que estamos


considerando é entre partículas. Porém agora temos interesse em saber como
tratamos o caso de interação gravitacional entre objetos extensos.
Se uma partícula de massa m interage gravitacionalmente com um
objeto extenso de massa M, a força gravitacional total exercida pelo objeto
sobre a partícula pode ser obtida dividindo o objeto em vários elementos de

12
massa M i para tomar o vetor soma sobre todas as forças exercidas por
todos os elementos. A energia potencial para qualquer um desses elementos
é dada por U  GmM i / ri , como podemos ver na fig. I.8.

A energia potencial total do sistema de partículas de massa M é obtida,


quando tomamos M i  0 ,
fig. I.8. Interação entre uma
dM partícula e um objeto extenso
U  Gm  eq. I.14
r de massa M.
Agora calculamos a força gravitacional através de  dU / dr para obter

 dM 
F  Gm r eq. I.15
r3

r 
onde  r é o vetor unitário dirigido do elemento dM em direção a
r

partícula e o sinal menos indica que a direção da força é oposta a de r .

10. Teorema de Newton da Interação Gravitacional entre Distribuições


Esféricas de Massa

Vamos mostrar um teorema muito importante que trata da interação


entre corpos extensos com simetria esférica. Os planetas, bem como outros
corpos, podem ser considerados com esta simetria.

Teorema: A interação gravitacional entre dois corpos que possuem


distribuições de massa com simetria esférica, para pontos externos das
esferas, é igual à interação gravitacional entre duas partículas localizadas
nos centros dessas esferas.
Prova:
Podemos começar calculando a energia potencial total entre uma casca
esférica, dividindo a casca em elementos de massa 
M i , e uma
partícula m no seu exterior,
GmM i
U   ( ) eq. I.15
ri
onde ri é a distância entre M i e m.
Tome um anel da casca como na
fig. I.9

Tome um anel de uma casca


esférica, obviamente a reunião
de desses anéis nos dá a casca
inteira. O anel está a uma m
fig. I. 9. Interação gravitacional entre duas massas esféricas.
distância ri  L da partícula
m. O anel tem uma largura Rd , um raio Rsenθ e uma circunferência

13
 2 Rsen  e assim à área da superfície do anel é  2 R 2 send . A massa
do anel é proporcional a área dessa superfície. Como a massa total M é
uniformemente distribuída sobre a área total  4R 2 da casca, podemos
escrever
 2R 2 send 1
M i  M   Msend para massa do anel.
 4R 2 2
No limite M i  0 e encontramos da eq. I.15

GmMsend
U   eq. I.16
2L
Aplicando a lei dos cossenos, L2  R 2  r 2  2rR cos e calculando
dL / d , onde r e R são constantes, L  r  R como maior valor de L e
L  r  R como menor valor de L, teremos

GmM rR GmM GmM


U   dL   [ L] rr  RR   (2R)
2rR r R 2 rR 2rR

GmM
U  eq.I.17
r

Esse resultado mostra que a energia potencial é calculada como se


toda a massa estivesse em seu centro. Então a força,  dU / dr , entre a
casca e a partícula é exatamente calculada como se toda a massa estivesse no
centro.
A distribuição de massa esférica é uma coleção de cascas esféricas.
Assim a força gravitacional entre a distribuição de massa esférica e a massa
m será calculada como se toda a massa da esfera estivesse no seu centro,
quando aplicado o princípio da superposição de forças. Note que este
resultado permanece para uma densidade de massa não uniforme. Pela
terceira lei de Newton, a distribuição de massa sente igual força. Agora se
substituímos a partícula de massa m por uma distribuição de massa esférica,
e indagamos sobre a força de atração gravitacional entre as distribuições de
massa esférica, pelos argumentos acima é fácil ver que a força gravitacional
é calculada como se as massas estivessem concentradas em um ponto.
Terminando assim a prova do teorema.
Se agora a partícula está dentro da distribuição esférica o cálculo
procede de forma análoga, isto é, apenas os limites da última integral são
trocados para L  R  r e L  R  r , para obtermos,

GmM
U  eq. I.18
R

Note que U é constante, dessa forma quando m se move no interior


da esfera nenhum trabalho é realizado sobre ela, como consequência a força
gravitacional é igual a zero em qualquer ponto no interior da casca esférica.
Para uma distribuição de massa esférica consideremos uma partícula
dentro dessa distribuição. A força líquida que temos é devido à massa
14
contida em um raio menor do que o raio onde a partícula está, como se a
massa dessa parte da esfera estivesse concentrada em seu centro. Assim, de

uma forma geral, teremos para intensidade de F

GmM ( r )
F  eq. I.19
r2
onde M(r) é a quantidade de massa contida dentro da massa esférica, cujo o
raio é r, calculado a partir da localização da massa m. Esta é a força
gravitacional sobre uma partícula localizada dentro de uma massa esférica.

11. Massa Gravitacional, Massa Inercial e o Princípio de Equivalência

Quando a massa de um corpo é medida de acordo com sua inércia,


dizemos que essa massa é inercial. Isto é, quando queremos medir a massa
de um corpo, comparamos a massa desconhecida com uma massa padrão,
fazendo-se exercer forças uma sobre a outra e calculando as razões das
acelerações obtendo a razão inversa dessas massas. De acordo com essa
definição, massa é a medida de sua inércia, ou seja, a medida da oposição
que o corpo oferece a qualquer mudança de seu estado de movimento.
Por outro lado, quando medimos massa através de um peso padrão
através de uma balança comparamos a força gravitacional que a Terra exerce
sobre as massas. A massa medida dessa forma é chamada massa
gravitacional.
Seria razoável que a massa de um corpo tivesse a mesma medida por
ambos os métodos.
Sejam P1 e P2 os pesos de dois corpos, se P1  P2 , teremos
gm1  gm2  m1  m2 . Isto é, as massas inerciais são iguais. A igualdade
dessas massas inerciais se mantém devido ao fato delas poderem cair
livremente com a mesma aceleração.
Por outro lado, podemos de um sistema referência acelerado simular
os efeitos da gravidade. A similaridade entre os dois efeitos é chamada de
princípio de equivalência. Por exemplo, se estamos num elevador fechado,
em queda livre, não saberemos se estamos em um sistema acelerado ou se
sujeitos a um campo gravitacional.

Exercícios Resolvidos

Exemplo I. 1
Qual é a força gravitacional entre um homem de 70 kg e uma mulher de 70 kg
quando estão separados por uma distância de 10m? Trate as massas como particulas.
Solução:
GM T m 6,67  10 11 N .m 2 / kg 2  70kg  70kg
F 2
 2
 3,3  10 9 N .
r (10m)

Exemplo I. 2

15
As órbitas do planeta Vênus e da Terra são aproximadamente circulares quando
giram em torno do Sol. O período de Venus é 0,615 anos e o da Terra é 1 ano.
Mostre que os raios das órbitas são tais que rT  1,38rV .

Solução:

2 4 2 3
De fato, usamos T  r para ambos os planetas para chegarmos a
GM s
relação,
rT TT1,5 (1ano)1,5
 1,5   1,38 .
rV TV (0,615ano)1,5

Exemplo I. 3
11
Sabendo-se que o raio médio orbital da Terra é 1, 496  10 m , calcule a massa do
Sol.
Solução:
4 2 3 4 2 r 3
Usamos T2  r  Ms  2
 1,989  10 30 kg , onde
GM s GT
T= 3,156  10 7 s .

Exemplo I. 4
Um astronauta está em uma espaçonave com uma órbita circular de raio
9,6  103 km ao redor da Terra. Em um ponto da órbita ele faz a nave impulsionar
para frente e reduz sua velocidade. Isto coloca a nave em uma nova órbita elíptica
com apogeu igual ao raio da órbita velha, mas com perigeu menor. Suponha que o
3
perigeu da nova órbita é 7,0  10 km . Compare os períodos da nova e velha
órbita.
Solução:

4 2 3
O período da órbita velha, que é circular, Tvelha  r  9,4  10 3 s ,
GM T
enquanto de acordo com a terceira lei de Kepler o período da nova, que é elíptica,
4 2 3
Tnova  a  7,5  10 3 s , onde
GM T
a  (9,6  10 3 km  7,0  10 3 km) / 2 , a sendo o semi-eixo maior. Então o
período da nova órbita é aproximadamente 20% menor do que o da velha. Mesmo o
astronauta diminuindo sua velocidade no apogeu, ele leva menos tempo para
completar a órbita. A razão disso vem do fato que o piloto cresceu sua velocidade no
perigeu e encurtou a distância em torno da órbita.

Exemplo I. 5
9 9
Sabendo-se que o periélio de Mercúrio é 45,9  10 m e o afélio 69,8  10 m
encontre a velocidade de Mercúrio no periélio e no afélio.

Solução:

16
Note que no afélio e periélio as velocidades são perpendiculares ao raio assim a
norma do momentum angular de cada ponto é dado por mv P r p e mv a ra . Usando a
conservação de momentum angular

mv P rp  mv a ra
Por conservação de energia mecânica

1 2 GM S m 1 2 GM S m
mv p   mva  .
2 rp 2 ra
Substituindo a equação anterior nesta última, obtemos facilmente,

v p  5,91  10 4 m / s e v a  3,88  10 4 m / s .

Exemplo I. 6
Um ‘meteoróide’ está inicialmente em repouso no espaço interplanetário a uma
grande distância do Sol. Devido a influência da gravidade, ele começa a cair em
direção ao Sol ao longo de uma linha radial. Com qual velocidade ele colide com o
Sol?
Solução:
A energia do ‘meteoróide’ é

1 2 GM S m
E mv   const.
2 r
Inicialmente U = 0 e K = 0, já que v = 0 e r   . Assim em qualquer tempo depois

1 2 GM S m 2GM S
E mv   0 ou v  , no momento do impacto,
2 r r
r  RS , onde RS  6,96  10 8 m . Logo v  6,18  105 m / s . Essa quantidade
é chamada velocidade de escape, caso o corpo estivesse sendo lançado do Sol.

Exemplo I. 7
Qual a energia potencial gravitacional de uma partícula na vizinhança da Terra?
Solução:
GM T m
Sabemos que, U ( r )  
r
A mudança de energia potencial entre o ponto r e o ponto sobre a superfície
da Terra é então
GM T m GM T m
U  U (r )  U ( RT )   
r RT
Se r  RT e r  RT  z é a altura acima da superfície da Terra da partícula m

GM T m
U  2
z  gmz .
RT
Essa é nossa velha expressão da energia potencial gravitacional de uma partícula de
massa m a uma altura z da superfície da Terra. Note que esta aproximação que
fizemos vale para r  RT  z  RT .

Exemplo I. 8

17
Uma esfera tem massa M e raio R. Encontre a força gravitacional sobre uma
partícula de massa m em um raio r  R .
Solução:
3
A massa contida na esfera de raio r é diretamente proporcional ao volume 4r / 3 .
3
A massa total M é distribuída sobre o volume 4R / 3 . Assim

4r 3 / 3 Mr 3 GmM ( r ) GmM


M (r )  M 3
 3 eF  r
4R / 3 R r2 R3

r
R
Note que a força cresce diretamente proporcional ao raio r, quando r = R a força
2
para de crescer e começa a decrescer com 1 / r .

Exercícios Propostos

Exercício I. 1
Um satélite de comunicações tem uma órbita circular equatorial ao redor da Terra.
O período da órbita é exatamente um dia, pois o satélite sempre permanece numa
posição fixa relativa a rotação da Terra. Qual deve ser o raio de tal órbita
geoestacionária?
7
Resposta: r  4, 23  10 m

Exercício I. 2
A massa m1 de uma das esferas pequenas da balança de Cavendish é igual a 0,0100
kg, a massa m 2 de uma das esferas grandes é igual a 0,500 kg, e a distância entre o
centro de massa da esfera pequena e o centro de massa da esfera grande é igual a 5
cm. Calcule a força gravitacional F sobre cada esfera produzida pela esfera mais
próxima.
Resposta: use a expressão da força para achar duas forças de mesmo valor e de
intensidade muito pequena.

Exercício I. 3
Suponha que uma esfera pequena e uma esfera grande sejam destacadas do
dispositivo da balança de Cavendish, descrita no exercício acima, e colocadas a uma
distância de 5 cm entre os centros das esferas, em um local do espaço muito afastado
de outros corpos. Qual é a intensidade da aceleração de cada esfera em um
referencial inercial?
8 2 10
Resposta: 1,33  10 m / s e 2,66  10

Exercício I. 4

18
Uma nave está sendo projetada para levar material até Marte que tem
RM  3,40  10 6 m e massa m M  6,42  10 23 kg . O veículo explorador que
deve pousar em Marte possui peso na Terra igual a 39200 N . Calcule o peso e a
6
aceleração desse veículo em Marte. (a) a uma altura de 6  10 m acima da
superficie de Marte. (b) e sobre a superfície de Marte. Despreze os efeitos
gravitacionais das Luas de Marte que são muito pequenas.
2 2
Resposta: (a) 1940 N e 0,48 m / s ; (b) 15000 N e 3,7 m / s

Exercício I. 5
(a) Um corpo de massa m é lançado verticalmente da Terra. Qual a velocidade
mínima necessária para atingir uma altura igual ao raio da Terra?
(b) Qual a velocidade de escape desse corpo?
Despreze a resistência do ar, a rotação da Terra e a atração da Lua.

RT  6,38  10 6 m e M T  5,97  10 24 kg .
Resposta: (a) 28400km / h e (b) 40200km / h

Exercício I. 6
Três esferas estão localizadas nos vértices de um triângulo
0
retângulo de 45 . Determine a norma e a direção da força
gravitacional resultante sobre a esfera menor exercida pela ação
das duas esferas maiores.

11 0
Resposta: Força de 1,17  10 N e 14,6 em relação ao eixo x.

Exercício I. 7
Pesquise para encontrar uma relação entre o peso aparente e o peso real de um corpo
localizado na Terra.

Exercício I. 8
Pesquise para descrever a ideia fundamental do conceito de buraco negro com base
nos princípios da mecânica de Newton.

Exercício I. 9
Pesquise e responda: Quando o centro de gravidade de um sistema de partículas
coincide com seu centro de massa?

Exercício I. 10
Uma barra homogênea de comprimento L e massa M, fina (sem espessura), está a
uma distância h de uma partícula de massa m, ambas as massas localizadas na
horizontal. Calcule a força gravitacional exercida pela barra sobre a partícula.
 GMm 
Resposta: F  i.
h ( h  L)

Exercício I. 11

19
Duas partículas cada uma de massa M estão fixadas sobre o eixo y, em y = b e y = -
b. Encontre o campo gravitacional em um ponto p sobre o eixo x, a uma distância x
a direita de x = 0.
 
2GMx
Resposta: g   3
i.
2 2 2
(x  b )

Exercício I. 12
Um projétil é lançado verticalmente para cima da superfície da Terra com uma
velocidade inicial de 15 km/s. Encontre a velocidade do projétil quando ele estiver
‘muito longe da Terra’, desprezando os efeitos do ar. Se ele tivesse inicialmente
uma velocidade de 8 km/s, qual a atura máxima que ele atinge? Despreze novamente
os efeitos do ar.
Resposta: 10 km/s e 1,05 RT .

Exercício I. 13
Uma esfera sólida de raio R e massa M é simetricamente esférica, mas não
uniforme. Sua densidade ρ é proporcional à distância do centro da esfera, para
r  R . Isto é,   Cr para r  R e ρ = 0 para r  R , onde C é uma constante.
(a) Encontre C. (b) Encontre o campo gravitacional para r  R . (c) Encontre o
campo gravitacional em r = R/2.
4 2 2
Resposta: (a) C  M / R , (b) g  GM / r , (c) GM / 4 R .

Exercício I. 14
Pesquise sobre o fenômeno das marés em gravitação.

20
Unidade II - Oscilação

fig. II.1. Exemplos de oscilações e osciladores.

1. Situando a Temática

O propósito desta unidade temática é o de introduzir algumas ideias


sobre oscilação. Estudaremos o movimento harmônico simples, o oscilador
harmônico simples, que pode ser modelado por um sistema acoplado massa-
mola, a energia de um oscilador, o pêndulo simples e outros sistemas
oscilantes, como por exemplo, o pêndulo físico. Também estudaremos as
oscilações amortecidas e forças. A fig. II.1 mostra o gráfico de um sistema
oscilante e uma engrenagem oscilante.

2. Problematizando a Temática

Um dos assuntos de mais importância na física é aquele que estuda


os fenômenos oscilantes. A oscilação está presente na natureza, como o
movimento orbital de um planeta ao redor do Sol, o movimento de rotação
de um CD em um computador, o movimento de vai e vem de um pistão em
uma engrenagem de um automóvel, a vibração de uma corda em uma
guitarra, o movimento vibratório de uma ponte ou edifício, etc.
Quando estudamos em detalhes um sistema acoplado mola-massa, as
equações matemáticas que se desenvolvem para descrever tal sistema são de
grande importância, pois equações análogas são resgatadas na descrição de
todos outros sistemas oscilantes.
Dentre muitos problemas ligados a oscilação de um sistema físico,
pode ser citado um problema prático que existir na mecânica de automóveis:
as forças dos gases da combustão geram torque pulsante na árvore de
manivelas e no volante, em regimes de baixas rotações, onde se podem
detectar com mais evidência essas oscilações de torção. Essas oscilações são
transmitidas através da embreagem ao sistema de transmissão do veículo. As
engrenagens livres da transmissão recebem essas oscilações, gerando
vibrações entre os dentes das engrenagens livres, resultando em ruídos em
regimes de marcha lenta. A solução desse problema surge através de um
sistema de amortecimento de molas e um volante bi-massa. Esse é um
exemplo de oscilação ligada à indústria automobilística. Veja a fig. II.2 para
ter uma ideia do problema.

21
fig. II.2. Exemplo de um sistema oscilante na indústria automobilística.

3. Movimento Harmônico Simples

O movimento de uma partícula ou de um sistema de partículas é


periódico se ele é repetido em intervalos regulares de tempo. Um movimento
periódico de vai e vem de um corpo é chamado de oscilação. Existem muitos
movimentos dessa natureza como, por exemplo, o movimento de um pistão,
de um pêndulo, de uma corda de guitarra, etc.
Um movimento é dito movimento harmônico simples (MHS) se a
posição como função do tempo tem a forma

x  A cos(t   ) eq. II.1

onde A,  e  são constantes. A quantidade A e chamada de amplitude do


movimento, que é a distância entre o ponto médio (x = 0) e o ponto de
retorno ( x = A ou x = -A);  é a frequência angular, que está relacionado
ao período do movimento, isto é,

2
T eq. II.2

Enquanto que a frequência do movimento,

 1
   eq. II.3
2 T

A unidade de frequência é dada em ciclos por segundo e de


frequência angular radianos por segundo. A unidade de frequência
usualmente é o Hz (hertz): 1 hertz = 1 Hz = 1 ciclo por segundo. O
argumento do cosseno, (2t   ) é chamado de fase e  é dita fase
constante. Essa constante determina em que tempo a partícula alcança o

22

ponto de deslocamento máximo. Isto é, t max    0 ou t max   . O

que nos mostra que a partícula alcança o ponto de deslocamento máximo em
-  /  , antes de t = 0.
Note que x  A cos(t   )  Asen[t  (   / 2)] , pode ser
representado por uma função seno quando mudamos a fase constante. Por
outro lado,
x  A cos(t   )  ( A cos  ) cos t  ( Asen ) sent , expressando o
MHS como uma superposição de funções senos e cossenos.
Existe uma simples relação geométrica entre o MHS e MCU –
movimento circular uniforme. Considere uma partícula movendo-se com
uma velocidade angular  sobre um círculo de raio A. Se em t = 0 a posição
angular dela é    , então a posição angular num tempo depois é
  t   , as coordenadas do ponto do círculo são
x  A cos(t   ) e y  Asen(t   )  A cos(t     / 2) ,
donde vemos que x e y possuem MHS.

4. O Oscilador Harmônico Simples

O Oscilador Harmônico Simples consiste de uma massa acoplada


uma mola de massa ideal que obedece a lei de Hooke.

fig. II-3. Deslocamento de uma


massa ligada a uma mola de acordo
com a lei de Hooke.

Usando a segunda lei de Newton obtemos a equação de movimento da massa


do sistema acoplado massa-mola

d 2x
m  kx eq. II.4
dt 2

Podemos resolver essa equação através de equações diferenciais, mas vamos


deixar para um curso de mecânica geral esses cálculos. Sabemos que, dadas
as condições iniciais de eq. II.4, podemos garantir a existência da solução da
equação e, nesse caso, determinar o movimento.

23
Da eq. II.1 calculando-se a primeira e segunda derivadas com relação ao
tempo obtemos
d 2x
m 2
  2 x eq. II.5
dt

Assim comparando eq. II.4 e eq. II.5 concluímos que o movimento massa-
mola é um MHS com uma frequência angular

k
 eq. II.6
m

Para as condições iniciais, t = 0, teremos, a velocidade v  v0 e a posição


k
x  x0 , onde x 0  A cos  e v0   Asen . Daí e do fato do sistema
m
massa-mola ser um MHS

k k m k
x  A cos( t   )  x0 cos( t )  v0 sen( t) eq. II.7
m m k m
que expressa o movimento em termos das condições iniciais.

5. Energia do Oscilador

1 2
A energia cinética de uma massa m em um MHS é: K = mv ,
2

1
K m[  A sen (t   )]2 
2
eq. II.8
1 1
mA2 2 sen 2 (t   )  kA2 sen 2 (t   )
2 2

Enquanto a energia potencial associada à força restauradora da mola, que é


conservativa, é

1 2 1 1
U kx  k[ A cos(t   )]2  kA 2 cos 2 (t   ) eq. II.9
2 2 2

1 2
O valor máximo para K e U é igual a kA e o valor mínimo é 0. Quando x
2
= 0, K é máxima pois a velocidade é máxima nesse ponto, enquanto U = 0.
Quando a massa alcança o ponto de retorno K = 0 e U é máxima, isto para
um deslocamento máximo.
Como a força é conservativa, E = K + U é uma constante de
movimento. Note que podemos ver facilmente

1 2
E kA eq. II.10
2
24
Note que o deslocamento máximo e velocidade máxima podem ser dados
em termos de E

2E 2E
x max  A  e v max  eq. II.11
k m

1 2
Vamos analisar a curva de potencial para um MHS U  kx
2
que podemos ver no gráfico ao lado:

Note que os valores máximos para os deslocamentos dependem


do valor de E mostrado no gráfico como o nível de energia.
Aumentando-se a altura do nível de energia a amplitude de
oscilação aumenta, visto que a distância entre os pontos de
fig. II. 4. Curva de potencial
retorno aumenta.
do MHS como função de x

6. Pêndulo Simples

O pêndulo simples consiste de uma partícula sustentada por um fio


inextensível de massa desprezível. Ele oscila em torno da posição de
equilíbrio, como podemos ver na fig. II.5.

Como a partícula e o fio estão dispostos


como uma unidade rígida, o movimento pode ser
considerado como uma rotação em torno de um eixo
localizado no ponto de suspensão, então

  I  mgLsen 
d 2
mL2   mgLsen  mL2 
dt 2 fig. II.5. Diagrama de um pêndulo simples.

d 2
 gsen  L eq. II.11
dt 2

Para pequenas oscilações do pêndulo, sen    (isto pode ser entendido


através da série de Taylor para função f ( )  sen sobre o ponto   0 ) a
eq. II.11 torna-se,

d 2
 g  L eq. II.12
dt 2
Veja que esta equação tem a mesma forma da eq. II.4 e, dessa forma, é um
MHS, isto é,
  A cos(t   ) eq. II.13

25
com frequênciaangular de um pêndulo simples igual a
  g / L . Enquanto o período é dado por
T  2 /   2 L / g . Notemos que o período somente depende do
comprimento do fio e da aceleração da gravidade e não da massa da partícula
e amplitude de oscilação.
A energia de cinética pode ser vista como,
1 2 1 d 2 1 2
K I  I [ ]  mL [Asen(t   )] 2 
2 2 dt 2

1
K mgLA 2 sen 2 (t   ) eq. II.14
2
A energia potencial é simplesmente a energia potencial
gravitacional,
U  mgh  mg ( L  L cos  )  mgL(1  cos ) , mas se  é suficiente
pequeno, levando em conta uma aproximação através da série de Taylor
1
para função f ( )  cos  sobre o ponto   0 , cos   1   2 , portanto
2
1
a energia potencial U  mgL 2 
2

1
mgLA 2 cos 2 (t   )
U eq. II.15
2
1
Notemos que E  K  U  mgLA 2  const. . Assim E é uma constante
2
de movimento.

7. Pêndulo Físico e Pêndulo de Torção

Nós vimos na secção anterior que o pêndulo simples comporta-se


como um MHS para pequenas amplitudes de oscilação, próximas à posição
de equilíbrio. Muitos outros sistemas físicos comportam-se dessa forma. Isto
é, a força efetiva é usualmente proporcional ao deslocamento. Vejamos isto
através da série de Taylor para uma F = F(x), onde x é o deslocamento.

 dF  1  d 2F  2
F ( x )  F (0 )    x   2  x  ... eq. II.16
 dx  x0 2  dx  x0

Se o movimento é em três dimensões cada componente da força tem


um desenvolvimento de Taylor semelhante nas respectivas direções.
Podemos ter x =  quando o deslocamento for angular.
Para x = 0, no ponto de equilíbrio, F(0) = 0 e se o deslocamento é
suficientemente pequeno os termos de ordem superior ou igual a dois podem
ser desprezados quando comparados aos de primeira ordem. Assim,

 dF 
F ( x)    x eq. II.17
 dx  x 0
26
 dF 
Se tivermos F ( x)  kx , onde k    vemos que a lei de
 dx  x 0
Hooke é uma aproximação geral que descreve forças para pontos próximos
ao de equilíbrio. É fácil ver, analisando a derivada de F com relação a x, que
podemos verificar que teremos um equilíbrio estável quando k  0 (a força
é restauradora), equilíbrio instável quando k  0 (a força é repulsiva),
enquanto x = 0 teremos um equilíbrio neutro.
Um pêndulo físico consiste de um corpo sólido que está suspenso
por um eixo. Sob a influência da gravidade, o corpo tem um movimento de
vai e vem. Podemos ver na fig. II.6 o diagrama de um pêndulo físico.

A equação de movimento é aquela para um corpo


rígido,
d 2
  I    I , por um lado    MgLsen e assim
dt 2
obtemos a equação de movimento para oscilações
suficientemente pequenas,

d 2
 MLg  I eq. II.18
dt 2

A solução dessa equação representa um MHS com frequência


fig. II.6. Diagrama de um pêndulo físico.
  MgL / I .
O pêndulo de torção é muito parecido com o pêndulo
físico, entretanto a força de restituição (peso) é substituída por
um tipo de mola espiral. Sob a suposição que o deslocamento do pêndulo de
torção da posição de equilíbrio seja suficientemente pequeno, o torque é
proporcional ao deslocamento angular

   eq. II.19

onde  é a constante de torção da mola ou fibra, com unidades


Nm/rad. A equação de movimento do corpo rígido é

d 2
   I eq. II.20
dt 2
Que é novamente a equação de um oscilador que possui MHS, cuja
frequência é dada por
   / I . Podemos ver exemplos de pêndulos de torção na
figura ao lado.

8. Oscilações Amortecidas e Oscilações Forçadas

Em um oscilador real, digamos um pêndulo, existem forças externas,


por exemplo forças de atrito. Se o pêndulo começa a se movimentar com
uma amplitude ao longo do tempo essa amplitude diminui.

27
A fig. II.8 mostra o deslocamento de um
oscilador com atrito. O movimento resultante é
chamado de movimento harmônico amortecido.
Esse movimento pode ser representado pela
função

_
x  A0 e ( b / 2 m )t cos( t   ) eq. II.21

quando a força de amortecimento  bv é


suficientemente pequena e x é solução da
fig. II.8. Linha de universo de uma partícula com
dx d 2x
movimento harmônico amortecido. equação diferencial,  kx  b m 2 ,
dt dt
_
onde   k / m  b 2 / 4m 2 na eq. II.21.
_
Quando b  2 km em  , teremos um amortecimento crítico, o sistema
não oscila mais, retornando para sua posição de equilíbrio sem oscilar.
b  2 km corresponde a um superamortecimento. O sistema não mais
oscila também mas volta para posição de equilíbrio mais devagar do que o
caso anterior. Enquanto para b  2 km o sistema oscila com uma
amplitude que diminui continuamente. Essa condição denomina-se de
subamortecimento.
Um amortecedor de carro é um exemplo de oscilador amortecido,
bem como um dispositivo usado nas raquetes de tênis que diminui as
vibrações.

Nas oscilações amortecidas, a força de


amortecimento não é conservativa, a energia mecânica não é
constante e diminui tendendo a zero ao passar o tempo.
Vamos deduzir a taxa de variação da energia.
Temos que
1 2 1 2 dE dv dx
E mv  kx   mv  kx como
2 2 dt dt dt
fig. II.9. Exemplos de osciladores amortecidos dx d 2x
 kx  b m 2
dt dt

dE
 bv 2 eq. II.22
dt

Podemos manter constante a amplitude das oscilações amortecidas


se fornecemos ao sistema um empurrão no final de cada ciclo. Esta força
adicional é chamada de força propulsora.
Quando aplicamos uma força propulsora variando periodicamente
com  a um oscilador harmônico amortecido, o movimento resultante é
uma oscilação forçada. A frequência da oscilação da massa é igual a
_
frequência da força propulsora  . Veja que    . O caso mais simples é
aquele em que a força propulsora é senoidal, isto é, F (t )  Fmax sent .
Novamente não vamos resolver a equação diferencial, deixado para outro
28
curso. A expressão da amplitude de um oscilador forçado em função de  é
Fmax
A . Quando   k /m em k  m 2 = 0,
2 2 2
( k  m )  b w
A  Amax .
Quando a amplitude correspondente à oscilação forçada está próxima da
frequência da oscilação natural do sistema, essa amplitude atinge um pico,
dizemos que ocorreu o fenômeno da ressonância. A ressonância de um
sistema mecânico pode ser destrutiva. Em projetos da aviação e de
engenharia este conceito é fundamental. O tratamento matemático da
ressonância é deixado para um curso de mecânica geral.

Exercícios Resolvidos

Exemplo II. 1
Uma espécie de altofalante usado para diagnóstico médico, oscila com uma
frequência de 6,7 MHz . Quanto dura uma oscilação e qual é a frequência angular?
Solução:
1 1
O período T é dado por T  6
 1,5  10  7 s . Por outro lado
 6,7  10 Hz
sabemos que   2  (2rad / ciclo)( 6,7 10 6 ciclos/s) =
7
4,2  10 rad/s.

Exemplo II. 2
Em um sistema acoplado verificamos que ao puxarmos a mola por um dinamômetro
da esquerda para direita com uma força de 6 N, este produz um deslocamento de
0,030 m. A seguir removemos o dinamômetro e colocamos uma massa de 0,50 kg
em seu lugar. Puxamos a massa a uma distância de 0,020 m e observamos o MHS
resultante. Calcule a constante da mola. Calcule a frequencia, frequencia angular e o
período da oscilação.
Solução:
F 6
A força restauradora da mola é -6,0 N, assim k     200 N / m .
x 0,030
k
A frequência   20 rad/s. A frequência angular é
m
 20rad / s
    3,2ciclos / s  3,2 Hz . O período
2 2rad / ciclo
1
T   0,31s / ciclo ou simplesmente 0,31 s.

Exemplo II. 3
No exemplo anterior coloque m = 0,50 kg, um deslocamento inicial de 0,015 m e
uma velocidade inicial 0,40 m/s. Calcule o período, a amplitude e o ângulo de fase
do movimento. Escreva as equações para o deslocamento, a velocidade e a
aceleração em função do tempo.

29
Solução:
O período é o mesmo pois, para um MHS, este somente depende da massa e de k .
2
2 v 0 12
A amplitude A  ( x0  2 )  0,025m . O ângulo de fase é calculado por

v0
 tg    53  0,93rad .
x0
Agora teremos x  A cos(t   ) = 0,025cos(20t-0,93);
v  Asen(t   )  0,50sen(20t  0,93) ;
a   2 A cos(t   )  10 cos(20t  0,93).

Exemplo II. 4
Na oscilação do ex.II.2 coloque x = 0,020 m. Ache a velocidade máxima e mínima
atingidas pela massa que oscila. Ache também a aceleração máxima. Calcule a
velocidade e a aceleração quando a massa está na metade da distância entre o ponto
de equilíbrio e seu afastamento máximo. Qual a energia total, a potencial e a energia
cinética nesse ponto?
Solução:
k
Da eq. II.10 podemos expressar v A 2  x 2 . A velocidade máxima
m
acontece quando x = 0 passando a massa da esquerda para direita e assim v = +0,40
m/s. Enquanto a velocidade mínima acontece quando x = 0 passando a massa da
direita para esquerda, v = -0,40 m/s.
k
Temos que a   x . A aceleração máxima se dará para x = -A. Logo a = +8
m
m / s 2 . A aceleração mínima ocorre em x = +A e assim, a =  8m / s 2 .
Para x  A / 2 , v  0,35m / s e a  4 m/s.
A energia total será dada por eq. II.10, E = 0,040J. Enquanto
1 2 1
U kx  0,010 J e K  mv 2  0,030 J .
2 2

Exemplo II. 5
Um bloco de massa M preso a uma mola de constante k descreve um MHS na
horizontal com uma amplitude A1 . No instante em o bloco passa na posição de
equilíbrio, uma massa m cai verticalmente sobre o bloco de uma pequena altura.
Calcule a nova amplitude e o período do movimento.
Solução:
Note que o movimento está dependo da posição e assim usamos o método da
energia. Antes da massa cair E = const.. Quando ela cai a colisão é totalmente
inelástica, a energia diminui, voltando a ser constante depois da colisão.
1 2 1 k
Antes da colisão: E1  0  Mv1  kA1  v1  A1 . Enquanto o
2 2 M
momentum linear é Mv1  0.
Durante a colisão existe conservação do momentum linear do sistema massa-bloco.
A colisão dura muito pouco tempo, de forma que a massa e o bloco se encontram em

30
x = 0. Note que U = 0 e que temos somente K, porém menor do que K antes da
colisão.
Depois da colisão: O momentum linear é ( M  m)v 2 e pela lei de conservação de
momentum linear Mv1  ( M  m)v 2 , de onde podemos obter v 2 e obtermos,
1 2 1 M2 2 M
E2  ( M  m)v 2  v1  E1 . Na verdade podemos dizer
2 2 M m M m
que a energia cinética perdida é usada para elevar a temperatura do bloco. Como
1 M
E2  kA2  A2  A1 .
2 M m
mM
O cálculo do período é T  2 . Veja que a amplitude tornou-se maior e
k
o período menor.

Exemplo II. 6
Os amortecedores de um carro velho de 1000 kg estão completamente gastos.
Quando uma pessoa de 980 N sobe lentamente no centro de gravidade do carro, ele
baixa 2,8 cm. Quando essa pessoa está dentro do carro durante uma colisão com um
buraco, o carro oscila verticalmente com MHS. Modelando o carro e a pessoa como
uma única massa apoiada sobre uma única mola, calcule o período e a frequência da
oscilação.
Solução:
F 980
A constante da mola é k     3,5  10 4 . A massa da pessoa é
x  0,028
P / g  100kg . A massa total que oscila é m=1100 Kg. O período
m
T  2  1,11s . Enquanto a frequência é   0,90 Hz .
k

Exemplo II. 7
Suponha que o corpo de um pêndulo físico seja uma barra de comprimento L
suspensa em uma de suas extremidades. Calcule o período de seu movimento
oscilatório.
Solução:
O momento de inércia de uma barra em relação a um eixo passando em sua
extremidade é
1
I ML2 . A distância entre o eixo de rotação e o centro de massa é L/2. Para este
3
pêndulo físico,
I 2L 2 L
T  2  2   2 . Note que o período desse
MgL / 2 3g 3 g
2
pêndulo físico é do período de um pêndulo simples.
3

31
Exercícios Propostos

Exercício II. 1
Uma massa de 400 kg está se movendo ao longo do eixo x sob a influência da força
4
de uma mola com k  3,5  10 N / m . Não existem outras forças agindo na
massa. O ponto de equilíbrio é em x = 0. Suponha que em t = 0 a massa está em x =
0 e tem velocidade de 2,4 m/s na direção positiva. Qual a frequência de oscilação,
qual a amplitude e onde a massa estará em t = 0,60 s?
Resposta: 1,5 Hz; 0,26 m; -0,16 m.

Exercício II. 2
Uma massa m está pendurada vertivalmente acoplada a uma mola de constante k.
Encontre a equação de movimento, quando levamos em conta a força da gravidade.
Resposta: x  A cos(t   )  mg / k .

Exercício II. 3
Uma molécula de hidrogênio ( H 2 ) pode ser considerada um sistema de duas
massas ligadas por uma mola. O centro da mola, ou seja, o centro de massa do
sistema pode ser considerado fixo e assim a molécula consiste de dois osciladores
3
vibrando em direções opostas. A constante da mola é 1,13  10 N / m e a massa
27
de cada H é 1,67  10 kg . Suponha que a energia de vibração da molécula é
19
1,3  10 J . Encontre a amplitude da oscilação e a velocidade máxima.

11
Resposta: 1,1  10 m e 8,8  10 3 m / s .

Exercício II. 4
2
Qual é o comprimento do pêndulo em um lugar cuja gravidade g  9,81m / s ? O
pêndulo tem um período de exatamente 2 s , onde cada balanço leva 1 s.
Resposta: 0,994 m.

Exercício II. 5
Um pêndulo físico consiste de uma esfera uniforme de massa M e raio R suspensa
por um cabo com massa desprezível e comprimento L. Levando em conta o tamanho
da bola, qual é o período de ‘pequenas’ oscilações desse pêndulo?
Resposta:
2
g ( R  L)
2 2
R  ( R  L)2
5

Exercício II. 6
O haltere da balança de Cavendish consiste de duas massas iguais de 0,025 kg
conectadas por uma barra com massa desprezível e de comprimento 0,40 m. Quando
o conjunto se movimenta, a balança gira para frente e para trás com um período de
3,8 minutos. Encontre o valor da constante de torção.
6
Resposta: 1,52  10 N .m / rad .

32
Unidade III - Ondas

fig. III.1. Exemplos de ondas.

1. Situando a Temática

Nesta unidade temática daremos algumas ideias do fenômeno


ondulatório e sua introdução como modelo matemático, especialmente em
uma corda. Estudaremos os conceitos básicos como ondas transversais,
longitudinais, pulsos de onda, função de onda geral, ondas em uma corda,
energia de uma onda, superposição de ondas e ondas estacionárias. Nesta
unidade e na próxima estudaremos as ondas mecânicas que são perturbações
que se propagam em um meio. Porém na natureza não temos apenas ondas
mecânicas, temos as ondas eletromagnéticas que não necessitam de meio
para se propagar. Ainda existem outros fenômenos ondulatórios associados
ao comportamento das partículas atômicas e subatômicas, ligados aos
fundamentos da mecânica quântica.

2. Problematizando a Temática

Quando estudamos o movimento de rotação de um corpo rígido, as


partículas que o compõe não se movem umas com relação as outras.
Diferentemente para um corpo deformável como o ar, água, cordas, sólidos
elásticos, podemos estudar o movimento ondulatório desse corpo, isto é, um
movimento coletivo de partículas em um corpo, mas aqui as partículas se
movem relativamente umas com relação as outras e elas exercem forças, que
dependem do tempo, umas contra as outras.

3. Pulsos de Onda

Considere uma corda elástica como um sistema de partículas que


está submetida a uma perturbação em um de seus pontos. O movimento é
33
transmitido de uma partícula a outra e a perturbação se propaga ao longo das
linhas das partículas. Tal perturbação é chamada de pulso de onda.
Dependendo da direção da perturbação, ela pode ser chamada de onda
transversal ou onda longitudinal, como podemos distinguir na fig. III.2.

fig. III.2. Exemplos de propagação de uma onda longitudinal na primeira figura


e onda transversal na segunda figura.

4. Ondas Viajando

Considere um pulso de onda transversal,


como na fig. III.3, viajando ao longo de uma
corda com uma velocidade v. Suponha que a
forma do pulso permanece constante. Para
um tempo t = 0, a forma da onda representa
uma função y = f(x). Em um tempo t > 0, um
tempo depois, y = f(x - vt). Note que, se a
onda viaja no sentido contrário de x, y = f(x
fig. III-3. Pulso de onda em t = 0 e em t = x/v > 0, + vt), para um tempo t > 0.
o pico viajou uma distância vt. No caso especial de ondas
harmônicas, isto é, que em t = 0, a forma da
onda é uma função seno ou cosseno. Temos

y  A cos kx eq. III.1

para t = 0, onde A é chamada a amplitude da onda, k é o número de onda,


não confunda com a constante de uma mola. As cristas da onda ocorrem em
kx = 0, 2π, 4π, ...Os valores mínimos de y são chamados de vales da onda
que ocorrem em kx = π, 3π, 5π, ...A distância de uma crista a outra é
chamado comprimento de onda

2
 eq. III.2
k

A onda pode ser descrita pelas seguintes expressões, viajando na direção


positiva de x ou negativa de x. Isto é,

y  A cos k ( x  vt ) e y  A cos k ( x  vt ) eq. III.3

O período da onda é o tempo de sua viagem correspondente a  ,

T  /v eq. III.4


enquanto a frequência da onda é
34
f  v/ eq. III.5

A frequência angular é dada por

  2f  kv

Agora teremos a função de onda,

y  A cos[(2 /  ) x  2vt ]  A cos(kx  t ) eq. III.6

5. Velocidade de Onda em uma Corda

A velocidade de uma onda depende da característica do meio e, às


vezes, de  . Vamos mostrar a velocidade de uma onda numa corda.
Considere uma corda como na fig. III.4.

A tensão na corda é F1 e sua densidade


é d kg/m, vamos assumir a amplitude da onda
muito pequena, comparada ao tamanho da corda.
Desta forma podemos dizer também que F1 =
const. já que a perturbação é muito pequena.
Nosso sistema de referência está se movendo
para direita com velocidade do pulso. Nesse
fig. III.4. Uma corda inicialmente esticada e bem ajustada entre
sistema, o pulso está em repouso e a corda viaja dois pontos fixos, com tensão F1 , depois um pulso é aplicado
para esquerda. Cada segmento da curva viaja ao
adquirindo uma velocidade v.
longo de um caminho tal como o pulso.

Tome L da corda ao redor do caminho curvo, muito


pequeno, para um  muito pequeno do círculo. Note que
    
F 1 + F 2 = F = F centripeta , tal que F  dLv 2 / R , por outro

lado a norma de F é  F1 . Temos que R  L ,
assim a velocidade de uma onda transversal é

Fig. III.5. Forças que atuam no segmento L


F1 
v  eq. III.7 da corda, onde F é a resultante.
d

Observe que, como a velocidade da onda é independente da forma,


podemos pensar uma onda harmônica como uma sucessão de pulsos
negativos e positivos. Se os pulsos têm mesma velocidade, todas ondas
harmônicas sobre a corda tem mesma velocidade, independente do
comprimento de onda. Apesar de nosso exemplo ser uma corda, o calculo da
velocidade é geral. A velocidade de onda depende da força de restituição e
da inércia do meio. Porém a velocidade depende da forma na maioria dos
tipos de onda e assim os pulsos se tornam rasos. Um meio que proporciona

35
isto é chamado de meio dispersivo.
Em contraste, para o caso de ondas harmônicas sobre uma corda,
essas ondas em meio dispersivo não podem ser considerados como
simplesmente uma sucessão de pulsos, pois os pulsos mudam sua forma,
enquanto as ondas harmônicas não. Então nós chamaremos a velocidade do
pico de um pulso de onda de velocidade de grupo, enquanto a velocidade de
uma onda harmônica a velocidade de fase.

6. Energia em uma Onda

Uma onda transversal em uma corda tem energia cinética, pois as


partículas estão em movimento e por outro lado tem energia potencial
porque um trabalho é preciso para esticar a corda. Considere um intervalo
dx e  a densidade de massa da corda para esse intervalo dx , assim

1 dy
dK  (  ) dx( ) 2 eq. III.8
2 dt

dy
é a energia cinética desse pedaço de corda, onde é sua velocidade.
dt

Note que quando a onda passa em dx a corda estica mais com um


comprimento aproximado de dx 2  dy 2 , a corda perturbada e
invadindo a dimensão y. Então a mudança de comprimento da
corda é, L  dx 2  dy 2  dx ou
dy 2 1 dy
L  dx[ 1  ()  1]  dx[1  ( ) 2  1] 
fig. III.6. Pedaço ‘pequeno’ da corda dx 2 dx
entre x e x+dx. 1 dy 2 dy
L  ( ) dx , para suficientemente pequeno.
2 dx dx

A energia potencial

1 dy 2
dU  FL  F ( ) dx eq. III.9
2 dx

onde F é a força de tensão para esticar a corda e dU é a energia associada ao


intervalo dx interpretada como o trabalho que deve ser feito contra a F.
A energia total associada a dx é
1 y 2 1 y
dE  dK  dU   ( ) dx  F ( ) 2 dx , enquanto a densidade de
2 t 2 x
energia da onda

dE 1 y 2 1 y 2
 ( )  F( ) eq. III.10
dx 2 t 2 x

Tem-se uma onda harmônica,

36
dE 1
 [(  ) 2  Fk 2 ] A 2 sen 2 ( kx  t ) ,
dx 2
F
em virtude de   kv e v 

dE
  2 A 2 sen 2 ( kx  t )  eq. III.11
dx

A energia deve viajar com uma onda de velocidade v , então para


dx
dx: dt  é o tempo de mover esse intervalo. Assim, para uma onda
v
harmônica, a potência transportada de uma onda é

dE dE
P v  v 2 A 2 sen 2 ( kx  t )  eq. III.12
dt dx

7. A Superposição de Ondas

Muitos tipos de ondas obedecem ao princípio de superposição, isto


é, quando duas ou mais ondas se propagam, esta propagação é independente,
ou seja, uma onda se propaga como se nenhuma outra onda a perturbasse.
Muito embora, se uma onda de som é muito forte, o princípio da
superposição não vale mais, assim como ondas de choque. Aqui não
devemos nos preocupar com esse tipo de ondas e assim o princípio da
superposição continua valendo.
Como primeiro exemplo, vamos considerar duas ondas propagando-
se em uma mesma direção com mesma frequência e amplitude, mas fases
diferentes, como ondas em uma corda, no ar, na superfície da água. As
funções de onda são,

y1  A cos(kx  t ) e y 2  A cos(kx  t   ) ,
pelo princípio da superposição y  y1  y 2 e usando uma identidade
trigonométrica,
1 1
y  2 A cos(kx  t   ) cos  .
2 2
Se   0 , as ondas estão em fase, elas encontram crista com crista e vale
com vale. Isto é uma interferência construtiva. Enquanto se    , as
cristas das ondas se encontram com vales e a interferência é destrutiva, neste
caso y = 0. Se duas ondas tem amplitudes diferentes suas interferências
destrutivas não darão um cancelamento total das ondas.
Um outro exemplo de superposição é quando consideramos
frequências diferentes,
y1  A cos(k1 x  1t ) e y2  A cos(k2 x  2t ) , teremos
_
1
y  y1  y2  2 A cos[ (k ) x] cos( k x) , para t = 0, k  k1  k2 e
2

37
_ _
1
k ( k1  k 2 ) . Se k << k a onda y pode ser interpretada como uma onda
2
_
1
cujo número de onda é k e amplitude 2 A cos[ ( k ) x] , sua amplitude
2
variando devagar com a posição. Essa amplitude é chamada de amplitude
modulada. Veja a figura mostrando a superposição resultante de ondas com
 e  diferentes.
Ao passar o tempo, o padrão dessa fig. III.8 se move para direita
com velocidade de onda. Isto evolui
para o fenômeno dos batimentos. Isto é
o fenômeno da amplitude baixar e subir.
A frequência de tais pulsos é dita
frequência de batimento. O intervalo de
tempo entre esses batimentos é
fig. III.7. Ondas de frequências diferentes. t  x / v  2 / kv e a frequência
de batimento é
1 vk vk1 vk2
f      f batimento  f1  f 2 .
t 2 2 2
Pela superposição de ondas harmônicas de
diferentes amplitudes e freqüências, nós construímos formas
de ondas complicadas. De fato, pode-se mostrar que
qualquer onda periódica pode ser construída pela
superposição de um número suficientemente grande de
fig. III.8. O gráfico mostra uma superposição de ondas harmônicas senoidais e cossenoidais. Chamamos este
ondas dando uma amplitude modulada. resultado de teorema de Fourier. Para fazermos essa
composição usamos as séries de Fourier que poderemos ver
em um curso mais avançado.

8. Ondas Estacionárias

Vamos considerar a superposição de duas ondas com mesmas


frequências e amplitudes, mas propagando-se em direções opostas. As
funções de onda e sua resultante são
y1  A cos(kx  t ) e y2  A cos(kx  t ) e
y  y1  y2  2 A cos kx cos t eq. III.13

y descrevendo uma onda estacionária. Essa onda viaja nem para direita nem
para esquerda, seus picos permanecem fixos enquanto toda a onda cresce e
decresce em harmonia. Se y acima representa o movimento de uma corda,
então cada partícula da corda executa um MHS. Entretanto, em contraste ao
caso de onda viajante, onde a amplitude de oscilação de cada partícula é a
mesma, a amplitude de oscilação agora depende da posição com valor
Acos kx em uma posição x.
Posições onde a amplitude de oscilação é máxima são:
kx  0, ,2 ,... , onde k  2 /  x  0,  / 2,  ,3 / 2, ..... Os máximos são
devidos a interferência construtiva entre as ondas. Da mesma forma para

38
 3
amplitude zero: kx  , , ..., ou x   / 4,3 / 4,..., os mínimos são
2 2
devido a interferência destrutiva entre as ondas. Os mínimos de ondas
estacionárias são chamados de nodos e os máximos de antinodos.
Estamos supondo até agora que uma corda é um objeto longo sem
pontos finais. Existe uma condição de contorno, nos pontos extremos da
corda. A deformação y deve ser zero nesses pontos em todos os tempos. Isto
impõe sérias restrições sobre as ondas que podem ser geradas na corda. Note
que ondas estacionárias com nodos nos extremos satisfazem essa condição
de contorno. Podemos ver um exemplo a seguir:
  2 2
y1  Asen( x) cos( vt ) , y2  Asen( x) cos( vt ) e
l l l l
3 3
y3  Asen( x) cos( vt ) , onde
l l
correspondem respectivamente os gráficos da
fig. III.9,

Esses possíveis movimentos da corda são ditos


modos normais. Os comprimentos de onda
desses
2
modos são: 2l, l, l ,...
3
v
Enquanto as frequências desses modos: ,
2l
v 3v fig. III.9. Modo fundamental(G1), primeiro modo harmônico(G2),
, ..... Essas frequências são chamadas
l 2l segundo modo harmônico(G3).
também de frequências normais, próprias ou
autofrequências que, em geral, são escritas como,
nv
f  , n = 1, 2, 3, .... mostrando que todas as autofrequências são
2l
múltiplos da frequência fundamental v / 2l .
Em geral, qualquer movimento da corda será alguma superposição
de vários modos normais, dependentes de como o movimento começou. Um
exemplo de modos normais de uma corda fixa nos extremos se assemelha a
uma barra numa mesma condição, como em uma ponte.

Exercícios Resolvidos

Exemplo III. 1
Uma corda esticada e presa em uma das extremidades sofre uma oscilação senoidal
na extremidade que não está presa com uma amplitude de 0,075 m, e uma frequência
de 2 Hz. A velocidade da onda é 12 m/s. No instante t = 0 a extremidade possui um
deslocamento nulo e começa a mover no sentido +y. Suponha que nenhuma onda
seja refletida na extremidade presa. Ache a amplitude, frequência angular, período,
comprimento, e número de onda. Escreva uma função de onda. Escreva equações

39
para o deslocamento em função do tempo na extremidade da corda que é dado o
pulso em um ponto situado a 3 m desta extremidade.
Solução:
A amplitude é aquela dada no problema, A = 0,075 m. A frequencia angular é
  2f  2rrad / ciclo  2ciclos / s  12,6rad / s . O período é
T  1 / f  0,5 s. O comprimento de onda,   v / f  6m . O número de onda,
k  2 /   1,05rad / m ou k   / v  1,05rad / m .
Coloque x = 0 onde se encontra a extremidade do pulso no sentido +x. A função de
t x
onda é, y  y( x, t )  Asen2 (  )  Asen(t  kx) .
T 
Agora para x = 0: y  y( 0, t )  Asen(t ) e para x = 3 m:
y  y (3, t )  Asen(t  k 3) .

Exemplo III. 2
No exemplo anterior a densidade da corda é 0,250 kg/m. Qual é a tensão na
extremidade do pulso da corda para que a velocidade da onda observada seja igual a
12 m/s?
Solução:
F
v  F  dv 2  36 N .
d

Exemplo III. 3
Uma das extremidades de uma corda está presa a um suporte fixo no topo de um
poço vertical de uma mina com profundidade igual a 80 m. A corda fica esticada
pela ação do peso de uma caixa com massa igual a 20 kg presa na extremidade
inferior da corda. Um geólogo no fundo da mina balança a corda enviando um sinal
lá em cima. Qual é a velocidade da onda transversal propagada na corda? Sabendo
que um ponto da corda executa um MHS com frequência igual a 2 Hz, qual é o
comprimento de onda?
Solução:
Despreze a variação da tensão devido ao peso da corda. A tensão F na corda é
produzido pelo peso da caixa. Então F  mg  196 N . A densidade é dada por
m F
d  0,0250kg  v  . Por outro lado
l d
v 88,5m / s
   44,3m .
f 2 s 1

Exemplo III. 4
No exemplo III. 1 qual é a taxa de transferência de energia máxima que o pulso
fornece para a corda? Ou seja, qual a potência instantânea máxima? E a média?
Solução:
dE dE
P v  v 2 A 2 sen 2 ( kx  t ) d a potência máxima é v 2 A2d . A
dt dx
potência média é a metade da máxima.

40
Exemplo III. 5
Deduza a equação da onda em uma corda para deformações suficientemente
pequenas em um ‘pequeno’ segmento da corda.

Solução:

A fig. III.10 mostra um segmento


de corda esticada. Vamos considerar
pequenos deslocamentos verticais. O
segmento mede x e sua massa m  dx ,
onde d é massa por unidade de
comprimento. O segmento se move
verticalmente na direção y e a força de fig. III.10. Segmento de uma corda
tensão resultante nessa direção é,
FRy  Fsen 2  Fsen1 . Como  é muito pequeno, sen  tg e assim
FRy  Ftg  2  Ftg1 . Veja que a tangente do ângulo feita pela corda com a
horizontal é a deformação (declive) da curva formada pela corda. Isto é,
y
  tg  , onde y  y ( x, t ) . Então FRy  F (  2  1 ) . Teremos
x
  (  2  1 ) como a variação de declives nos extremos do segmento.
2 y  2 y
Usando a segunda lei de Newton, F  dx  F  d . No
t 2 x t 2
    y  2 y
limite x  0, portanto lim    . Usando a
x  0 x x x x x 2
expressão da velocidade da onda obtemos a equação da onda:

 2 y 1 2 y
 eq. III. 14
x 2 v 2 t 2

Exercícios Propostos

Exercício III. 1
A tensão em uma corda é fornecida por um objeto pendurado de massa 3 kg como
mostra a figura abaixo. O comprimento da corda é l = 2,5 m e sua massa m = 50 g.
Qual é a velocidade das ondas sobre a corda?

Resposta: 38,3 m/s

41
Exercício III. 2
Mostre que a função do tipo y( x, t )  y( x  vt ) satisfaz a equação de onda. Em
particular verifique para a função de onda y ( x , t )  Asen( kx  t ).
Resposta: Observe a eq. III.14.

Exercício III. 3
Uma onda é descrita por y  0,002sen(0,5 x  628t ) . Determine a amplitude,
frequência, período, comprimento de onda e velocidade da onda.

Resposta: 0,002 m; 100 Hz; 0,01 s; 12,6 m; 1260 m/s.

Exercício III. 4
Uma corda de densidade linear 480 g/m está sob uma tensão de 48 N. Uma onda de
frequencia 200 Hz e amplitude 4 mm viaja na corda. Qual a taxa média de transporte
de energia da onda?

Resposta: 61 W.

Exercício III. 5
A função de onda para uma onda harmônica sobre uma corda é
1 1
y( x, t )  ( 0,03m) sen (2,2m x  3,5 s t ). Para qual direção a onda viaja?
Qual é sua velocidade? Encontre o comprimento de onda, frequência, período dessa
onda. Qual o deslocamento máximo de qualquer segmento dessa corda? Qual a
velocidade máxima de qualquer segmento?

Resposta: Para direita,

  2,86m, v  1,59m / s, f  0,557 Hz,


T  1,80 s , A  0,03m, vmax  0,105m / s

Exercício III. 6
Considere duas ondas viajando em direções opostas e suas funções de onda
y1  Asen(kx  t ) e y2  Asen(kx  t ) . Mostre que a soma dessas ondas é
uma onda estacionária. Uma onda estacionária sobre uma corda que está fixa nos
extremos é dada por y( x, t )  0,024sen(52,3 x) cos( 480t ) , daí encontre a
velocidade da onda e a distância entre os dois nodos.

Resposta: v  9,18m / s e a distância 6 cm.

42
Unidade IV - Ondas de Som

fig. IV.1. Ondas sonoras recebidas pelo ouvido e cérebro humano.

1. Situando a Temática

Nesta unidade temática daremos algumas ideias de fenômenos


ondulatórios mais específicos como a propagação desses fenômenos em duas
e três dimensões, tais como: ondas sonoras no ar. Em outro curso pode-se
ver a propagação de ondas de luz em um meio transparente e no vácuo.
Todas essas ondas podem ser descritas graficamente por suas frentes de
onda, ou seja, os locais das cristas da onda em um dado instante de tempo.
De todas as ondas mecânicas da natureza, em nosso cotidiano, as m
ais importantes são as ondas longitudinais que se propagam em um meio,
como por exemplo, as ondas sonoras percebidas pelo
ouvido humano num certo limite de frequência.
Quando o tempo passa, as frentes de onda se
dispersam para longe da fonte. Essa dispersão é uma
característica da propagação das ondas em duas e três
dimensões. Isto significa que a intensidade da onda
decresce quando a frente de onda cresce em tamanho.
Podemos tomar como exemplo as ondas sonoras fig. IV.2 Ondas sonoras provocadas por um diapasão.
provocadas por um diapasão.

2. Problematizando a Temática

Nesta unidade discutiremos as diversas propriedades das ondas


sonoras, não apenas em termos de deslocamentos, mas sim em termos de
flutuações de pressão de um meio. Estudaremos as relações entre
deslocamento, flutuações de pressão e intensidade e ainda algumas
propriedades como interferência entre dois sons. Estudaremos também um
fenômeno ondulatório chamado efeito Doppler que trata do movimento da
fonte, por exemplo, sonora ou de um ouvinte se movendo no ar.
Sem dúvida existe uma grande importância em estudarmos as ondas
longitudinais, tais como a onda sonora, em instrumentos musicais, em
aplicações tecnológicas voltadas para medicina, etc.

43
3. Elasticidade

Materiais reais não são perfeitamente rígidos, quando sujeitos a uma


força eles deformam. Quando uma substância deforma, sujeita a uma força,
mas retorna a sua forma inicial quando removemos a força, a substância é
dita elástica.
Considere um cilindro de um material de tamanho L e seção
transversal de área A. Se uma força F é aplicada alo longo do eixo do
cilindro e isso causa uma mudança no comprimento L do cilindro, então
nós definimos a tensão de dilatação e a deformação de dilatação como:
F L
tensão  dilatação  deformação  dilatação 
A L
Quando a tensão e a deformação sobre um corpo são suficientemente
pequenas, verificamos a relação:
Tensão
Y  módulo  eslasticidade
Deformação

Este módulo é chamado também de módulo de Young. A tensão e o módulo


são medidas em pascal, 1 pascal = 1 Pa = 1 N/ m 2 .
Se a tensão excede o limite de elasticidade, o material não retorna sua forma
original quando a tensão é removida.
Podemos também definir o módulo de cisalhamento, quando ao
corpo submetemos uma tensão de cisalhamento mudando sua forma, como
acontece com uma superfície de um tecido ao ser cortado por uma tesoura.

tensão  cisalhamento F/A


S 
deformação  cisalhamento x / h

Onde h é a altura do corpo, A é a área da superfície, F é a força tangente a


superfície e x é o deslocamento linear que corresponde a um
deslocamento angular de uma das arestas da superfície.
Quando um objeto é sujeito a uma força de todos os lados, ele é
sujeito a uma pressão P. Se uma força F age perpendicular a uma área A, a
pressão exercida é P  F / A . Essa situação aparece quando um objeto é
imerso em um fluído como o ar ou água. Quando pressionado de todos os
lados, o volume V de um objeto será mudado para V ' . Medimos essa
mudança pelo módulo de compressão:

F/A P
B 
V / V V / V

Onde V  V '  V . Quando B é ‘grande’ dizemos que o material é mais


difícil de ser comprimido. Contrariamente, a compressibilidade do material é
1/B.

44
4. Ondas Sonoras – Ondas Longitudinais

Longitudinal significa que as variações de pressão do meio são


paralelas a direção de propagação da onda. Nós podemos visualizar essa
situação na figura IV.4.

Podemos mostrar, usando a segunda lei de Newton,


que a velocidade de uma onda sonora é dada por
fig. IV.4 Movimento longitudinal em uma mola.

B
v eq. IV. 1

Onde B é o módulo de compressão e ρ é a densidade de massa do


meio em que o som está viajando. Como para todas as ondas f  v ,
teremos, aproximadamente, a velocidade do som no ar como sendo 343 m/s
a uma temperatura de 25 0 C, e 5130 m/s no ferro.
Quando nós escutamos um som nós detectamos seu nível (mais
agudo ou menos agudo) e sua altura. O nível de um som é sua frequência e
sua altura é proporcional a intensidade de potência da onda. Humanos
podem tipicamente escutar numa faixa de frequência de 20 a 20.000 Hz. A
potência média por unidade área perpendicular à direção de propagação da
onda sonora é a intensidade. Humanos podem detectar intensidades de uma
faixa de I 0  10 12 W/m 2 a 1 W/m 2 . Definimos a quantidade em decibéis,
I
  10 log 10 eq. IV. 2
I0

Suponha que uma onda está se propagando ao longo do eixo x de um


cilindro com densidade ρ e área da secção transversal A. Um elemento de
massa dm ocupa um volume dV e segue um movimento harmônico ao longo
do eixo x. A energia média dE dessa massa é igual à energia cinética
2
máxima 1 / 2(dm)v max , onde v max = xmax é a velocidade máxima da
partícula, não a velocidade da onda sonora, e x max é a amplitude máxima de
vibração. Por outro lado, dm  dV  Adx. Então,
1
dE  1 / 2( dm)v 2  Adx(x max ) 2
2
dE
A potência é a taxa de transporte de energia, P  é,
dm

1
P A 2 x max
2
v eq. IV. 3
2

A intensidade do som é definido como,

potência 1
I   2 x max
2
v eq. IV. 4
área 2

45
A variação Pmax em uma amplitude de pressão pode ser colocada como,
(Pmax ) 2
Pmax   v xmax , e I  eq. IV. 5
2 v

5. Ondas Sonoras Estacionárias

Ondas sonoras
estacionárias podem ser
montadas quando é refletida de
volta e para frente em um recinto
fechado. Em particular são
montadas em uma coluna de ar,
tal como em instrumento
musical, composto de um tubo.
fig. IV.3 Na primeira parte mostra-se do primeiro ao terceiro harmônico para um
tubo aberto nas extremidades, enquanto na segunda parte da figura mostra-se o
mesmo para um tubo aberto em das extremidades.
Em geral podemos colocar para o tubo aberto nas extremidades:

v
fn  n , n = 1, 2, ... eq. IV. 6
2L

Em um tubo que apenas uma das extremidades é aberta somente os


harmônicos impares estão presentes,

v
fn  n , n = 1, 3, ... eq. IV. 7
4L

6. Efeito Doppler

Quando escutamos um som de um objeto em movimento notamos


que sua altura varia conforme o movimento desse objeto. Na verdade, tanto a
fonte sonora como o ouvinte podem se mover relativamente um em relação
ao outro. Este efeito é chamado de efeito Doppler.
Vamos inicialmente supor um ouvinte A se movendo, com velocidade v 0 se
aproximando de uma fonte F. A frequência da onda sonora é f F e
comprimento de onda   v / f F . As cristas das ondas que se aproximam do
ouvinte se movem com uma velocidade de propagação em relação ao
ouvinte igual a v  v 0 . Assim,
v  v0 v  v0 v
f0    (1  0 ) f F eq. IV. 8
 v / fF v

Note que quando o ouvinte se aproxima da fonte, v 0  0 ele ouve um som


com uma frequência mais elevada, isto é, uma altura mais elevada do que
ouvida por um ouvinte em repouso. Contrariamente, quando o ouvinte se

46
afasta da fonte teremos v0  0 e ele ouve o som mais baixo.
Se supusermos fonte e ouvinte em movimento teremos uma
expressão geral incluindo todas as possibilidades do movimento da fonte e
do ouvinte:
v  v0
f0  f eq. IV. 9
v  vF F

Exercícios Resolvidos

Exemplo IV. 1
Seres humanos podem ouvir numa faixa de frequências de 20 a 20.000 Hz. Para qual
faixa de comprimento de onda no ar corresponde esta faixa de frequências,
considerando a velocidade do som é de 340 m/s.
Solução:
v v
1   17 m e  2   0,017m
f1 f2

Exemplo IV. 2
A corda de um piano vibra a uma frequência de 261,6 Hz, quando excitada em seu
modo fundamental. Qual são as frequências do primeiro, segundo e terceiro modo
harmônico dessa corda?
Solução:
v v
Usando a eq. IV.6, f n  n , f1  1  261,6 Hz, f 2  2 f1 , f 3  3 f1 e
2L 2L
f 4  4 f1 .
Exemplo IV. 3
Um diapasão vibra a uma frequência de 462 Hz. Uma corda de um violino
desafinado vibra a 457 Hz. Qual o lapso de tempo entre os dois batimentos?
Solução:
f b  f 2  f1  5 Hz, logo Tb  1 / f   0,2s.

Exemplo IV. 4
Um longo tubo é fechado em um dos extremos e aberto em outro. Se a frequência
fundamental do som nesse tudo é de 240 Hz, qual é o comprimento do tudo?
Assuma a velocidade do som no ar 340 m/s.
Solução:
v
Da eq. IV.7, f n  n , para n = 1,
4L
logo teremos, L  0,35 m.

Exemplo IV. 5
A uma distância de 5 m de uma fonte sonora, o nível de um som é de 90 dB. Qual a
distância que a fonte tem de estar para que o nível do som caia para 50 dB ?
Solução:
Vamos imaginar uma onda esférica,

47
potência P I 2 r12
I1   , analogamente, 
área 4r12 I 1 r22
I I I
1  10 log 1 = 90 dB  1  10 9 e 2  10 5
I2 I0 I0
Logo teremos, r2  500 m.

Exemplo IV. 6
Uma sirene do corpo de bombeiros soa a uma frequência de 300 Hz. Um bombeiro
escuta e vai ao encontro dessa fonte sonora a uma velocidade de 20 m/s. Qual a
frequência da onda sonora escutada pelo bombeiro?
Solução:
v  v0 v  v 0 v 20
f0    (1  0 ) f F  (1  )  300  318 Hz
 v / fF v 340

Exercícios Propostos

Exercício IV. 1
10 2 3
O módulo de compressão do cobre é 14  10 N / m e densidade 8920kg / m .
Qual a velocidade do som no cobre?
Resposta: 3960 m/s

Exercício IV. 2
Suponha uma fonte sonora irradiando uniformemente em todas as direções. Por
quanto decibeis o nível de som decresce quando a distância da fonte duplica?
Resposta: Aproximadamente 6 dB.

Exercício IV. 3
Qual o nível de intensidade em decibéis de um som cuja intensidade é
4  10 7 W / m 2 ? Qual é a amplitude de pressão desta onda sonora? Assuma a
velocidade do som no ar 340 m/s.

Resposta: 44 dB.

Exercício IV. 4
Uma sirene de um carro de polícia emite um som em uma frequência de 1200 Hz.
Sobre a condição da velocidade do som no ar ser de 340 m/s, que frequência você
escutará se a sirene se aproxima a uma velocidade de 30 m/s? Que frequência você
escutará quando a sirene se afasta a uma velocidade de 30 m/s?
Resposta: 1316 Hz e 1103 Hz.

Exercício IV. 5
Um navio usa um sistema de sonar para detectar objetos submersos. O sistema emite
ondas sonoras na água e mede o intervalo de tempo que a onda refletida (eco) leva
para retornar ao detector. Determine a velocidade das ondas sonoras na água e ache
o comprimento de onda de uma onda com frequência igual a 262 Hz.
Resposta: 1480 m/s e 5,65 m.

48
Exercício IV. 6
Suponha que a buzina de um trem emite uma onda sonora de uma frequência de 440
Hz quando o trem com uma velocidade de 30 m/s se aproxima de um observador
parado. Em que frequência o observador escuta esta buzina.
Resposta: 484 Hz.

49
49
Unidade V - Estática e Dinâmica dos Fluidos

fig. V.1. Atmosfera terrestre é uma camada essencialmente gasosa – um fluido. Na segunda parte
da figura podemos ver a água – um fluido em movimento escoando em um grande tubo .

1. Situando a Temática

Os fluidos desempenham um papel muito importante em nossas


vidas, desde o ar que respiramos à água que bebemos. A matéria se encontra
em três fases: líquido sólido e gasoso, os fluidos são gases e líquidos. Os
fluidos circulam em nosso corpo e estão presentes na atmosfera terrestre, que
junto com outros fatores ambientais são responsáveis pelo clima de nosso
planeta. Nesta unidade temática daremos algumas ideias de mecânica dos
fluidos.

2. Problematizando a Temática

Nesta unidade discutiremos algumas propriedades dos fluidos.


Iremos começar estudando conceitos básicos da estática dos fluidos, em
situações que envolvem equilíbrio, ou seja, estudando os fluidos em repouso,
conceitos tais como: densidade, pressão empuxo, tensão superficial, etc. Para
tal estudo iremos usar como base as leis de Newton. Por outro lado, o estudo
dos fluidos em movimento é muito mais complexo, a dinâmica dos fluidos
na verdade é uma das partes da mecânica mais difíceis de estudar. Vamos
utilizar alguns modelos idealizados e princípios tais como as leis de Newton,
conservação de energia, para podermos visualizar um movimento de um
fluido e suas propriedades em um caso realístico. Mesmo assim iremos tratar
fluidos de uma forma conceitual, deixando para um curso mais avançado
este tópico da mecânica.

3. Pressão em um Fluido

Quando uma força age normal à área A da superfície de um fluido, a


pressão sobre essa superfície é definida por
F
P eq. V. 1
A

50
A pressão é medida em 1 N/ m 2 = 1 pascal (Pa), ou em lb/in 2 ou
psi, isto é, libras por polegada quadrada, onde 1 psi = 6,9  10 3 Pa e um
milímetro de Hg ou torr, 1mmHg = 1 torr ou milibar, 1 mbar = 10 2 Pa e 1
torr = 133 Pa. A pressão da atmosfera ao nível do mar é medida em atm, 1
atm = 1,01  10 5 Pa = 14,7 psi. Note que a pressão é uma grandeza escalar,
em um fluido em repouso a pressão é a mesma em todas as direções para um
dado ponto.
Definimos a densidade de massa  por,

m
 eq. V. 2
V
quando a massa m ocupa um pequeno volume V. A densidade da água é
1000 kg/m 3 .
A pressão em um líquido pode ser calculada quando consideramos
um recipiente aberto como da fig. V. 2.

Considere um cilindro imaginário de fluido de altura h e área A.


Temos a pressão atmosférica para baixo P0 e empurrando para cima do
fig. V.2. Cilindro imaginário
cilindro está a pressão P. Essa parte do fluido está em equilíbrio e assim de fluido dentro do recipiente.
Fbaixo  Fcima . O peso do fluido é mg, dessa forma, PA  P0 A  mg , onde
m = ρV = ρAh, onde V = Ah. Então,

P  P0  gh eq. V. 3

A pressão devido ao fluido somente é gh e ela depende unicamente da


profundidade abaixo da superfície, não da forma ou tamanho do recipiente.
Podemos ilustrar isto na fig. V. 3,
fig. V.3. A pressão P é a
A mudança de pressão ao longo da altura do cilindro é dada por P  P0 . mesma em cada caso.

Notamos que se aumentarmos a pressão P0 , a pressão P aumenta de um


valor igual. Esta conclusão nos leva ao princípio de Pascal: a pressão
aplicada a um fluido no interior de um recipiente é transmitida sem
diminuição a todos os pontos do fluido e para as paredes do recipiente.
Líquidos são virtualmente incompressíveis, assim sua densidade não
muda com a profundidade o que podemos usar esta hipótese na (eq. V. 3). A
pressão em um gás pode ser deduzida usando o mesmo raciocínio. Mas
como os gases são mais compressíveis a densidade é função da profundidade
e nós devemos levar em conta isso no cálculo da massa do cilindro. Isso é
feito por considerar finas camadas do gás e integrar para encontrar a massa
total no cilindro. Como para líquidos a pressão cresce com a profundidade,
mas não de forma linear.

4. Empuxo

Quando um objeto é imerso em um fluido ele sofre uma força de


empuxo para cima já que a pressão no fundo do objeto é maior do que no

51
topo. Daí pode-se enunciar o principio de Arquimedes: Qualquer objeto
parcialmente ou completamente imerso em um fluido sofre um empuxo para
cima por uma força igual ou equivalente ao deslocamento de fluido.
Considere uma porção de água dentro de um recipiente contendo água, como
mostrado na fig. V. 4.

A água acima da porção atua para baixo sobre a porção com o seu
peso. A água em baixo do pedaço empurra para cima a porção. Como a
porção de água está em equilíbrio,
F2  F1  W  0
A força de empuxo,
fig. V.4. Recipiente com água
FE  F2  F1  W eq. V. 4
e um volume selecionado.

Aqui W é o peso do fluido deslocado pelo objeto. Se o peso do


objeto é maior do que W, o objeto afunda. Se o peso do objeto é menor do
que W quando ele é totalmente imerso, ele flutuará na superfície.

5. Escoamento do Fluido

Podemos visualizar o movimento de um fluido através das linhas de


corrente. Uma linha de corrente descreve o caminho seguido por uma
partícula do fluido. A velocidade do fluido em qualquer ponto é tangente à
linha de corrente em um ponto. Quando as linhas de corrente estão mais
juntas, o fluido segue mais rápido. Vamos considerar a seguir as seguintes
hipóteses:
- Escoamento é estacionário - a velocidade não depende do tempo.
- Escoamento é laminar é aquele que se dá suavemente, contrariamente ao
escoamento turbulento que se dá de forma caótica. Este último caso é muito
complicado e estudamos o primeiro por enquanto.
- O fluido é incompressível, como um líquido.
- A temperatura do fluido é constante.
- Atrito é desprezado, isto é, o fluido tem viscosidade zero.
Suponha o escoamento de um fluido através de um
tubo cuja área de secção transversal decresce de A1 para A2 ,
fig. V.5. Escoamento de um fluido em um tubo.
como mostra a fig. V. 5,
Nestas seções retas, as velocidades do fluido são v1 e v 2 ,
respectivamente. Durante um pequeno intervalo de tempo dt, o fluido que
estava em A1 se desloca a uma distância v1 dt de modo que um cilindro
imaginário de fluido com altura v1 dt e volume dV1  A1v1dt se escoa para
o interior do tubo através de A1 . Durante este mesmo intervalo de tempo,
um cilindro com volume dV2  A2 v2 dt se escoa para fora do tubo através
de A2 .
Vamos supor o fluido incompressível, ρ constante. A massa
dm1  A1v1 dt flui para dentro do tubo e a massa dm2  A2 v 2 dt flui para

52
fora do tubo. No escoamento estacionário, a massa total no tubo permanece
constante. Assim teremos a equação de continuidade,

A1 v1  A2 v 2 eq. V. 5

A conservação de massa no escoamento de um fluido incompressível


é expressa pela equação da continuidade, para duas seções retas A1 e A2 ao
longo de um tubo de escoamento, as velocidades de escoamento são
relacionadas pela eq. V. 5.
O produto Av é a vazão volumétrica, a taxa com que o volume do fluido
atravessa a seção reta do tubo
dV
 Av eq. V. 6
dt

6. Equação de Bernoulli

Podemos deduzir uma relação importante entre a


pressão, a velocidade e a altura no escoamento de um fluido.
Essa relação chama-se equação de Bernoulli. Vamos deduzir
esta equação que relaciona a pressão p com a velocidade v e
a altura h para um escoamento estacionário de um fluido.
Considere um líquido escoando através de um tubo
como mostra a fig. V. 6. Quando o líquido se move uma
distância dx na parte mais baixa do tubo e um volume dV
num tempo dt, o trabalho realizado pela pressão P1 sobre o
fig. V.6. Tubo de escoamento e trabalho resultante
líquido é dW1  F1 dx1  P1 A1 dx1  P1 dV . Nesse tempo a
realizado sobre o líquido se movendo da região
pressão P2 na parte superior do tubo realiza um trabalho
mais baixa para uma região mais alta.
dW2  P2 dV . O trabalho resultante é,
dW  dW1  dW2  ( P1  P2 ) dV . Por outro lado, levando em conta as
forças conservativas que atuam numa massa dm do líquido,
1
dW  ( P1  P2 )dV  K  U  dm(v 22  v12 )  dmg (h2  h1 ) .
2
Usando   dm / dV obtemos,
dW dV 1 dm 2 dm
 ( P1  P2 )  (v2  v12 )  g (h2  h1 ) 
dV dV 2 dV dV
1
 (v22  v12 )   g ( h2  h1 )
2
ou seja,

1 2 1
P1  v1  gh1  P2  v 22  gh2 eq. V. 7
2 2
Como os pontos 1 e 2 são arbitrários no tubo,
1
P v  gh  const . eq. V. 8
2

Esta é a chamada equação de Bernoulli.

53
Exercícios Resolvidos

Exemplo V. 1
2
Um submarino tem uma janela de área 0,10 m . Qual a força exercida sobre a
3
janela pela água do mar cuja densidade é 1030 kg/m a uma profundidade de 5000
m?
Solução:
F  PA  ghA  5,05  10 6 N

Exemplo V. 2
Calcule a velocidade média de sangue na aorta de raio 1 cm quando a taxa de fluxo é
5 l/min.
Solução:
3
fluxo = Av, v  fluxo  ( 5000cm ) 1 
 27cm / s
 2 
A 60s   (1cm) 
Exemplo V. 3
3 3
Um balão de ar quente tem um volume de 2,20  10 m . Ele está cheio de ar
3
quente a uma densidade de 0,96 kg/m . Qual a carga máxima que ele pode elevar,
3
quando ele está rodeado com ar frio de densidade 1,29 kg/m .
Solução:
3 3 3
A massa de ar frio deslocada pelo balão é 1,29 kg/m  2,20  10 m =
3 3
2,84  10 kg. O peso desse ar frio é g  2,84  10 , a força de empuxo sobre o
balão. Essa força deve suportar o peso do ar quente e a carga, notando que estamos
desprezando as outras partes que compõem o balão. O peso do ar quente é
3 3
g  0,96  2,20  10 = g  2,11  10 . Logo o peso da carga pode ser no máximo
3 3
g  2,84  10 - g  2,11  10 = g  730 = 7154 N. A carga máxima é de 730 kg.

Exemplo V. 4
3
Um recipiente é parcialmente preenchido com água. Óleo de densidade 750 kg/m é
derramado no topo da água e ele flutua sobre a água sem se misturar. Um bloco de
3
madeira de densidade 820 kg/m é inserido no recipiente e ele flutua na interface dos
dois líquidos. Qual a porcentagem do volume do bloco que está imerso na água?
Solução:
O volume xV está dentro da água e o volume (1  x)V está no óleo. Logo teremos,
3
Vg   água xVg   0 (1  x )Vg , onde a densidade da água é 1000 kg/m ,
  0 28
x 
 água   0 100

Exemplo V. 5
3
Um bloco de gelo de densidade 917 kg/m flutua na água do mar de densidade 1030
3 2
kg/m . Se a área da superfície do gelo é de 20 m e ele tem 0,20 m de espessura,
qual é a massa de um urso pesado que pode permanecer sobre o gelo sem que ele vá
para baixo da superfície da água?
Solução:
murso g  m gelo g  mágua g , V  20  0,2  4m 3
murso   águaV   geloV  452 kg.

54
Exemplo V. 6
Um sifão é um aparato para remover líquido de um reservatório. A saída C deve ser
mais baixa que a entrada A e o tubo deve inicialmente ser cheio com líquido. A
densidade do líquido é ρ. (a) Com que velocidade o fluido sai em C? (b) Qual é a
pressão em B? Qual a altura máxima H que o sifão pode ascender?

Solução:
(a) Compare a superfície, onde a pressão atmosférica p 0 e a velocidade é
aproximadamente zero, com o ponto C.
p 0  0  g (h  d )  p 0  (1 / 2) v 2  0  v  2 g (h  d )
(b) Compare a superfície com o ponto B:
p 0  g (h  d )  p  (1 / 2) v 2  g (h  d  H )
De (a), p  p 0  g ( h  d  H )
(c) Quando H é máximo, a velocidade e pressão vão para zero, assim comparando a
superfície e o ponto B vem,
p 0  0  g ( h  d )  0  0  g ( h  d  H )
Ou
5
gH  p 0 H  p 0  1,01  10 = 10,3 m
g 1000  9,8

Exercícios Propostos

Exercício V. 1

Qual a profundidade de água ( 1000kg / m 3 ) e do mercúrio ( 13.600kg / m 3 ) que é


requerido para produzir uma pressão de 1 atm?
Resposta: 10,3 m e 0,76 m.

Exercício V. 2

Um macaco hidráulico consiste de um grande cilindro de área A conectado a um


cilindro de área menor a. Ambos os cilindros são preenchidos com óleo. Quando a
força f é aplicada ao cilindro menor, a pressão resultante é transmitida para o
cilindro grande, aque então exerce uma força F para cima. Suponha um carro de
2
peso 12.000 N respousando sobre o cilindro grande de área 0,10 m . Qual é a força
2
que deve ser aplicada ao cilindro menor de área 0,002 m para suportar o carro?
Resposta: f = 240 N

Exercício V. 3

Qual é a força resultante agindo sobre uma superfície de uma barragem de altura h e
largura  ?

Resposta: F 
g  h 2
2

55
Exercício V. 4

Um cientista deseja determinar a densidade de uma amostra de óleo extraída de uma


planta. Coloca-se água em um tubo de vidro em forma de U aberto em ambas as
extremidades. Daí é derramada uma pequena quantidade de óleo sobre a água em
um dos lados do tubo e medidas as alturas mostradas no desenho. Qual é a densidade
de óleo em termos da densidade da água e alturas?
Resposta:   h1 água
h2

Exercício V. 5

A densidade do ouro é 19,3  10 3 kg / m 3 e a densidade da água do mar é


1,03  10 3 kg / m 3 . Enquanto o caçador de tesouros puxa para cima da água um
artefato de ouro, a tensão na linha é de 120 N. Qual deverá ser a tensão no fio
quando ele puxa o objeto fora da água, isto é, no ar?
Resposta: 127 N

Exercício V. 6

Um bloco de madeira de peso específico 0,8 flutua na água. Qual a fração do


volume do bloco que está submerso?
Resposta: Se V é o volume do bloco e xV é o volume submerso, x = 0,8.

Exercício V. 7

Uma mangueira de jardim tem diâmetro interno de 2 cm e joga água a uma


velocidade de 1,2 m/s. Qual será a velocidade que sai a água em um bocal de
mangueira de 0,5 cm?
Resposta: 4,8 m/s.

Exercício V. 8

Um grande reservatório é cheio com água. Um pequeno buraco é feito no lado do


tanque a uma profundidade h abaixo da superfície da água. Qual a velocidade que a
água sai do buraco?
Resposta: v  2 gh

Exercício V. 9

Um bombeiro usa uma mangueira de diâmetro interno de 6 cm para liberar 1000 L


de água por minuto. Um bocal é conectado a mangueira a fim de jogar água para
cima para alcançar uma janela 30 m acima do bocal. (a) Com que velocidade deve a
água deixar o bocal? (b) Qual é o diâmetro interno do bocal? (c) Qual a pressão
dentro da mangueira é requerida?
Resposta: 24,2 m/s; 0,03 m; 2,7 atm.

56
Unidade VI - Temperatura, Calor e Transferência de
Calor

fig. VI.1. Temperaturas em nosso planeta. Na segunda parte da figura podemos


ver o calor intenso da superfície solar.

1. Situando a Temática

Calor é uma das formas de energia mais fáceis que o homem pode
detectar em seu meio ambiente, pois temos a sensação de frio, quente,
suamos, tomamos líquidos quando sentimos calor, vemos o motor de um
carro esquentar, tomamos banho de água aquecida por um chuveiro elétrico
ou uma caldeira, etc. Os conceitos de calor, temperatura e transferência de
calor são fundamentais, além de nosso cotidiano, na física, na engenharia e
nos processos industriais. Nestes últimos podemos citar as máquinas
térmicas, as quais têm como base a transferência de energia produzida pela
diferença de temperatura.

2. Problematizando a Temática

Calor é uma forma de energia, ele é a energia cinética e potencial do


movimento aleatório das moléculas, átomos, elétrons e outras partículas.
Hoje em dia o calor é chamado de energia térmica. Entretanto no passado os
cientistas não tinham uma ideia clara do que era o calor. Propôs-se ser um
fluido, chamado fluido calórico. O primeiro experimento que veio a dar uma
evidência do calor como uma forma de energia, foi o experimento de
Rumford, que mostrou que a energia mecânica perdida no atrito é convertida
em calor.
Nesta unidade vamos definir temperatura, incluindo escalas de
temperatura e métodos para determinar a temperatura. Depois vamos discutir
como as dimensões e o volume de um corpo, se alteram com a variação de
temperatura. Passamos a estudar o conceito de calor, o qual descreve a
transferência de energia produzida pela diferença de temperatura, calculando
a taxa dessa diferença. O objetivo desta unidade é mostrar como os conceitos
de temperatura e calor se relacionam, com objetos macroscópicos, deixando
para as unidades seguintes os aspectos microscópicos. Esta unidade também
servirá de base conceitual para estudarmos a termodinâmica: a qual estuda a
energia interna dos sistemas – energia térmica - e como essa energia é
transferida de um sistema a outro.

57
3. Temperatura

Temperatura, do nosso cotidiano, é a medida de como alguma coisa


está quente. Na verdade veremos que a temperatura é proporcional a energia
cinética média dos átomos em uma substância. O calor é a energia que flui
entre dois objetos devido à diferença de temperatura.
Se dois objetos estão em contato eles deverão, após um certo tempo,
ter a mesma temperatura. Dois objetos em uma mesma temperatura estão em
equilíbrio térmico. Esta é a base para podemos ter uma medida física de
temperatura e para construirmos um termômetro usamos: Se um corpo A está
em equilíbrio térmico com um corpo C e um corpo B está em equilíbrio
térmico com o corpo C, então A está em equilíbrio térmico com B. Muitas
vezes esta afirmativa é chamada de lei zero da termodinâmica.
Para associarmos um número à medida de temperatura,
arbitrariamente toma-se 273,15 K como sendo o ponto triplo da água. Este
ponto ocorre quando coexistem as fases: líquido, sólido e vapor da água.
Essa escala de temperatura é chamada Kelvin ou absoluta. Nessa escala, 0 K
é o zero absoluto, o ponto em que classicamente os átomos param de se
movimentar.
Um termômetro padrão é feito com uma quantidade pequena de gás
contido em um frasco. A pressão do gás é proporcional a sua temperatura
numa escala Kelvin e ele é calibrado de forma que o ponto triplo da água
seja 273,15 K. Em uma escala Kelvin a água ferve a 1 atm numa temperatura
de 373,15 K, isto é, 100 K acima do ponto triplo.
A escala de temperatura Celsius é definida como

TC  TK  273,15 eq. VI. 1

Assim o zero absoluto está a uma temperatura degelo da água está a


 273,15 0 C ou 0 K, e o ponto de ebulição da água é de 100 0 C ou 373 K. A
escala Fahrenheit é definida por

9
TF  TC  320 eq. VI. 2
5

4. Expansão Térmica

Quando a temperatura de um sólido ou líquido aumenta, os átomos


vibram de forma mais intensa, tendendo a expandir. Algumas exceções
0
existem, como por exemplo a água que contrai entre 0 0 C e 4 C. Se um
corpo está a uma temperatura T0 e tem um comprimento L0 , quando ele
passa a ter uma temperatura T,

L  L0 T eq. VI. 3

onde  é o coeficiente de dilatação térmica.


58
A área e o volume de um corpo também variam com a variação de
temperatura,
A  2A0 T eq. VI. 4

onde A0  L0  L0 a uma temperatura T0 e   1 .


De forma similar para um pequeno cubo de lado L0 , o volume V0  L30
varia para um volume V, com a mudança de temperatura. Então, para um
coeficiente de dilatação volumétrica   3 ,

V  3V0 T eq. VI. 5

5. Calor e Energia Térmica

A energia interna, também chamada energia térmica de um sistema


é o movimento aleatório de átomos e moléculas do sistema e está associada à
energia cinética e potencial desse sistema. Quando um sistema a uma
temperatura T é colocado em uma vizinhança em que a temperatura é
diferente, a energia é transferida para dentro ou para fora do sistema.
Calor é a energia transferida entre um sistema e suas vizinhanças
por causa das diferenças das temperaturas.
O fluxo de calor Q > 0 quando o fluxo é para dentro do sistema e Q
< 0 quando o calor vai para fora do sistema. O calor tem como unidade o
Joule. Temos que 1 cal = 4,186 J e 1 Btu = 252 cal.
Note que a energia interna de um sistema muda se calor é adicionado
ao sistema ou se um trabalho é realizado sobre ele. Enquanto pressão,
volume e temperatura são propriedades de um sistema, calor e trabalho não
são.

6. Capacidade Calorífica e Calor Latente

Quando calor é adicionado a uma substância, ela se aquece a menos


que ela mude de fase ( por exemplo gás, líquido ou sólido). A diferença de
temperatura T depende da massa da substancia, do calor adicionado e da
espécie do material. A quantidade de calor requerida para aumentar a
temperatura de uma substância para 10 C é chamada a capacidade
calorífica. A quantidade de calor necessária para aumentar a temperatura de
de um 1g de uma substancia é chamado de calor específico c. Se Q é o calor
que causa à massa m um aumento na temperatura de T , então
c  Q / mT ,
Q  mcT eq. VI. 6

Note que o calor específico da água, c = 1 cal/g. 0 C é muito maior do que


muitas das outras substâncias.
As fases da matéria são sólido, líquido e gás (ou vapor). Um gás em
contato com a forma líquida da mesma substância é dito um vapor. Energia
deve ser adicionada a uma substância de maneira a mudar o estado da
59
matéria. A energia que deve ser adicionada ou removida para causar a
transição de sólido para líquido em 1 kg de um dado material é chamada de
calor latente de fusão L f . Se a transição for de líquido para gás
similarmente teremos calor latente de vaporização L v .

7. Transferência de Calor

Quando dois sistemas ou objetos interagem e estão a temperaturas


diferentes, a energia térmica fluirá daquele mais quente para o mais frio. Ao
pegarmos uma panela quente no fogo podemos queimar nossa mão, já que o
calor da panela pode passar para nossa mão que está a uma
temperatura mais baixa. Existem três mecanismos de
transferência de calor que veremos a seguir.

Se aquecermos uma barra de metal, por condução,


os átomos começam a vibrar mais intensamente e transmitir
isto de forma aleatória. Os metais possuem muitos elétrons
fig. VI.3. Transferência de calor por radiação, livres que podem contribuir para a condução do calor.
convecção e condução. Considere uma barra de um material de área de
secção transversal A e espessura x . Uma face é mantida a
uma temperatura T1 e a outra face a uma temperatura T2 como mostra a fig.
VI. 2.

Experimentalmente a energia térmica Q que flui na barra num tempo t


é Q  kA(T / x) , onde T  T2  T1 e k é a condutividade térmica do
material. Podemos escrever para o fluxo de calor na barra para uma mudança
de temperatura T

dQ dT
H   kA eq. VI. 7
dt dx
fig. VI.3. Barra de um certo
material aquecida a duas A transferência de energia térmica por movimento de material é
temperaturas diferentes. chamada de convecção. A convecção natural resulta do fato de quando um
gás ou líquido é aquecido ele expande e ascende carregando energia térmica
com ele. Esse processo é que determina de forma geral o tempo climático.
Esse também é o mecanismo para circulação da água nos oceanos, rios e
lagos, essencial para vida.
Todos os objetos emitem radiação eletromagnética, e essa radiação
carrega energia. A potência radiada de uma superfície de área A a uma
temperatura T é dada pela lei de Stefan-Boltzmann,

P  eAT 4 eq. VI. 8

A emissividade e, que depende da natureza da superfície, está entre 0 e 1 e


não tem dimensão. A constante   5,57  10 8 W / m 2 K , com a
temperatura sendo expressa em K. Quando a temperatura aumenta, as

60
frequências de radiação aumentam seus valores. Se um objeto está a uma
temperatura T e em sua vizinhança a temperatura é T0 , a taxa de energia
perdida é P  eA(T 4  T04 ).

Exercícios Resolvidos

Exemplo VI. 1
Em qual temperatura na escala Fahrenheit é lida: (a) a mesma na escala Celsius; (b)
a metade da escala Celsius; (c) duas vezes aquela da escala Celsius?
Solução:
TF  TC em TF  9 TC  32 , então TF  40 0 F . O restante se faz de forma
5
análoga.

Exemplo VI. 2
0 0
Ouro derrete a uma temperatura de 1064 C e entra em ebulição a 2660 C.
Expresse essas temperaturas em Kelvin.
Solução:
Use a equação TC  TK  273 para calcular as temperaturas em kelvin e não em
gruas Kelvin.

Exemplo VI. 3
0
Uma barra de aço tem 12 m de comprimento quando instalada num portão a 23 C.
0
De quanto seu comprimento muda quando sua temperatura muda de -32 C para
0
55 C? Para o aço   1,1  10 5 / 0C .
Solução:
L   L0 T  0,011m

Exemplo VI. 4

3
Um reservatório de 200 cm feito de vidro é preenchido com mercúrio. Qual
0
volume de mercúrio que transborda quando a temperatura aumenta para 30 C?
Solução:
O volume de mercúrio crescerá por
VHg   Hg V0 T  0,18  10 3 / 0 C  200cm 3 30 0 C  1,08cm 3
O volume do reservatório de vidro crescerá por
Vvidro  3 vidroV0 T  3  11 10 6 / 0 C  200cm 3 30 0 C  0,20cm 3
3
A diferença 0,88 cm é o volume que transborda.

Exemplo VI. 5
0
Uma luva de latão de diâmetro interno 1,995 cm a 20 C está sendo mal colocada
em um eixo de diâmetro 2,005 cm. Para qual temperatura deve a luva ser aquecida
para ajustar ao eixo?   1,9  10 6 / 0C .
Solução:
L L  L0 = 263 0 C  T  T  T  283 0C
L  L0 T  T   0
L0 L0

61
Exemplo VI. 6
Um nova engrenagem é composta por um pistão que contém 0,60 kg de aço, com
0
calor específico 0,11 kcal/kg. C e 1,2 kg de alumínio (calor específico = 0,214
0
kcal/kg . C ). Quanto de calor é requerido para aumentar a temperatura do pistão de
0 0
20 C para a temperatura de 160 C?
Solução:
Q  m aço c aço T  m al c al T  45,19 kcal.

Exemplo VI. 7
Enquanto uma pessoa dorme ela tem uma taxa de metabolismo de
aproximadamente 100 kcal por hora. Essa energia flui do corpo como calor.
Suponha que a pessoa mergulha em um tanque com 1200 kg de água a uma
0
temperatura de 27 C. Se o calor flui para água, de quanto a temperatura da água
aumenta ao passar 1h?
Solução:
Temos que o calor perdido pela pessoa em uma hora é igual ao calor ganho pela
água em uma hora. Então teremos,
0
100  mágua c água T  1200  1  (T  27)  T  27,08 C. Logo a água
0
aumenta 0,08 C.

Exemplo VI. 8
Uma bala de chumbo de 4 g vai a uma velocidade de 350 m/s e se choca com um
0
bloco de gelo a uma temperatura de 0 C. Se o calor gerado pelo atrito derrete o
gelo, quanto de gelo é derretido? O calor latente de fusão do gelo é de 80 kcal/kg e
0
seu calor específico é 0,5 cal/g. C.
Solução:
A energia cinética perdida pela bala é igual a energia ganha pelo gelo. Daí teremos,
1
m b v 2  m gelo L f  m gelo  0,17 g .
2

Exemplo VI. 9
Uma barra de cobre de 24 cm de comprimento tem uma área de seção transversal de
2 0
4 cm . Um dos extremos é mantido a 24 C e o outro a uma temperatura de
0
184 C. Qual é a taxa de fluxo de calor na barra? O condutividade do cobre é 397
0
W/m C.
Solução:
Q T 184  24
H   kA  397  4  10 4   106W , onde W é a unidade de
t x 0,24
potência e o sinal indica a direção do fluxo com relação ao eixo x.

Exercícios Propostos

Exercício VI. 1
o 0
Expresse as temperaturas abaixo nas outras escalas. 98 C, -40 F e 77 K.
0 0 0 0
Resposta: 371 F e 208 K; -40 C e 233 K; -196 C e -321 F

62
Exercício VI. 2
Para manter inteira uma laje de concreto, muitas vezes é colocada madeira entre as
0 0
fendas. As variações de temperatura entre o inverno e verão são de -10 C e 35 C.
Se a laje tem um comprimento de 10 m na temperatura do inverno, quanto aumenta
o comprimento no verão?   10 5 / 0 C.
3
Resposta: 4,5  10 m.

Exercício VI. 3
Rebites de alumínio são usados na construção de aviões e são confeccionados
0
maiores do que os buracos e levados ao resfriamento por gelo seco (CO 2 ) a -78 C
antes de serem colocados nos buracos. Quando eles são deixados no lugar à
0 0
temperatura de 23 C eles se ajustam perfeitamente. Se um rebite a -78 C está
inserido em um buraco de 3,2 mm de diâmetro, qual será o diâmetro do rebite a
0
23 C? Para o alumínio,   2,4  10 5 / 0 C.
Resposta: 3,21 mm.

Exercício VI. 4
0
Um tanque de gasolina de um caminhão tem 25 gal a uma temperatura de 23 C.
0
Depois expoem-se o tanque de aço e a gasolina ao sol a temperatura de 35 C. O
coeficiente do volume de expansão para a gasolina é de 96  10 5 / 0 C que é maior
5 0
do o do aço 1,1  10 / C e assim alguma gasolina transborda o tanque. Qual a
quantidade de gasolina que transbordou? 1 gal = 3,785 L.
Resposta: 0,28 gal.

Exercício VI. 5
0 0
A oitenta gramas de latão, calor específico 0,092 cal/g. C, a 292 C, é adicionado
0 0
200 g de água, calor específico 1 cal/g C, a 14 C, em um tanque isolado de
capacidade calorífica desprezível. Qual a temperatura final do sistema?
0
Resposta: 23,9 C

Exercício VI. 6
0 0 0
A 160 g de água a 10 C é adicionado 200 g de ferro (c = 0,11 cal/g C) a 80 C e
0 0
80 g de mármore (c = 0,21 cal/g C) a 20 C. Qual é a temperatura final da mistura?
0
Resposta: 18,6 C.

Exercício VI. 7
Um coletor solar colocado sobre um telhado de uma casa consiste de uma folha de
2
plástico preto de área 5 m e por baixo está uma bobina de cobre pelo qual passa a
água por dentro dos tubos dela. A intensidade de luz solar no coletor é de 1000
2 0
W/m . A água circula através da bobina e se aquece a 38 C. Supondo que toda a
energia solar aquece a água, a que taxa, em litros por minuto, a água circula através
da bobina?
Resposta: 1,87 l/min.

63
Exercício VI. 8
Quantos cubos de gelo devem ser adicionados a uma vasilha contendo 1 litro de
0
água em ebulição à temperatura de 100 C, desde que a mistura resultante alcance
0
uma temperatura de 40 C? Suponha que cada cubo de gelo tem uma massa de 20 g
e que a vasilha e o ambiente não trocam calor com a água.

Resposta: aproximadamente 25 cubos de gelo.

Exercício VI. 9
Duas lajes de espessura L 1 e L 2 e área A, estão em contanto com suas superfícies a
temperaturas T 1 e T 2 . Qual a temperatura na interface entre as duas lajes? Qual é a
taxa do fluxo de calor?

Resposta:
k1 L2T1  k 2 L1T2 , A(T2  T1 )
T H
k1 L2  k 2 L1 L1 / k1  L2 / k 2

Exercício VI. 10
A superfície do sol tem uma temperatura de 5800 K e o raio do sol é cerca de 7 
8
10 m. Calcule a energia total radiada pelo sol a cada dia, supondo a emissividade 1.

25
Resposta: 1,75  10 J.

64
Unidade VII - Teoria Cinética dos Gases

fig. VII.1. Nesse processo, a pressão em um gás aumenta e o volume diminui. Isto é, a colisão de
suas moléculas deve aumentar, sua energia cinética aumenta e diminui a liberdade de movimento
das moléculas.

1. Situando a Temática

Até agora tratamos as propriedades da matéria em termos de energia


térmica sob o ponto de vista macroscópico, estudando a pressão, o volume e
a temperatura. Entretanto, um gás é composto de átomos ou moléculas. A
pressão de um gás deve estar relacionada com as colisões das suas molécula
com o recipiente que o contém. A capacidade de um gás em ocupar um
recipiente – volume - deve estar ligada à liberdade de movimento das
moléculas. Por outro lado, a temperatura e a energia térmica de um gás
devem estar relacionadas à energia cinética destas moléculas. A descrição
macroscópica está intimamente relacionada com a descrição microscópica.
Por exemplo, a pressão atmosférica é igual a 10 5 Pa em condições normais.
Para produzir esta pressão, cerca de 10 32 moléculas colidem com anteparos
na terra.

2. Problematizando a Temática

Nesta unidade, usaremos descrições macroscópicas e microscópicas


para compreender as propriedades térmicas da matéria. Daremos enfoque ao
estudo dos gases ideais. Esses gases não são reais mas devido à
complexidade das propriedades em um caso realístico optamos por começar
com este caso mais simples. Gases assumem papel importante no tratamento
de processos termodinâmicos. Aqui seguiremos as seguintes hipóteses:
- o número de moléculas é ‘grande’.
- o gás é diluído, isto é, tende ocupar os espaços.
- as moléculas são tratadas como objetos pontuais.
- as moléculas obedecem as leis de Newton.

65
- as moléculas se movem aleatoriamente.
- as moléculas não interagem, exceto quando colidem.
- supomos as colisões elásticas.
Denominamos variáveis de estado as variáveis que indicam o estado
do material, como volume, massa, temperatura e pressão. A relação entre
essas variáveis pode ser expressa através de uma equação chamada: equação
de estado.

3. Equação do Gás Ideal

Um mol é definido como 6,02  10 23 de partículas, que podem ser


elétrons, átomos, moléculas, etc. Nós dizemos que 12 g de carbono é um mol
de carbono. O carbono tem 6 prótons e 6 nêutrons. A massa atômica do
carbono é 12. Isto significa que 12 g de carbono contém 6,02  10 23 átomos,
chamado número de Avogadro. Moléculas são agrupamentos de
átomos, a massa molecular é a soma das massas atômicas da molécula.
Experimentalmente é encontrado que a pressão, volume e
temperatura absoluta (K) de um gás ideal obedecem aproximadamente a
seguinte equação de estado, chamada lei dos gases ideais:

pV  nRT eq. VII. 1

onde n é o numero de mols do gás e R = 8,31 J/K, a constante dos gases


ideais.

4. O Conceito de Pressão e Temperatura do Ponto de Vista Molecular

Vamos deduzir uma expressão para a pressão devido a um gás ideal.


Considere N moléculas contidas em um recipiente (cubo) de lado L, com os
limites alinhados aos eixos x, y, z. Uma molécula movendo-se ao longo de x
com velocidade v x colidirá elasticamente com uma parede e vem de volta
com uma velocidade - v x . Seu momentum mudará de mv x para -
mv x , uma resultante de -2 mv x . Depois de bater na parede, a
molécula volta numa direção oposta e bate na parede oposta e volta a bater
na primeira parede uma segunda vez. Ela viaja uma distância 2L na direção
x e isso gasta um tempo 2L/ v x , tempo entre as colisões com a primeira
parede. A força exercida sobre a molécula pela parede, pela secunda lei de
Newton:
mudança  momentum  2mv x mv 2
F’ =   x .
mudança  tempo 2L / vx L
Pela terceira lei de Newton, a força exercida sobre a parede pela molécula é
F = -F’. A força total exercida sobre a parede é a soma das forças exercidas
por cada molécula,
m 2 2
F (v1x  ...  v Nx ).
L

66
Mas o valor médio de v x2 para N moléculas é
1 2
v x2  2
(v1x  ...  v Nx ) . Então,
N
Nm
v x2 F
L
Se uma molécula tem componentes da velocidade v x , v y , v z , então pelo
teorema de Pitágoras,
v 2  v x2  v y2  v z2 , e os valores médios estão relacionados por
v 2  v x2  v 2y  v z2
Como o movimento é aleatório,
1 2
v x2 = v 2y = v z2 = v
3
A força total sobre a parede é,
2
N mv
F= ( )
3 L
A pressão sobre a parede é

F F 2 N 1
p=  2 , p ( )( m v 2 ) eq. VII. 2
A L 3 V 2

Isto é utilizado para definir a constante de Boltzmann, k B  1,38  10 23 J/K,


onde R = N A k B . A lei do gás ideal e a eq. VII. 2 nos leva a

2 1
T ( mv 2 ) eq. VII. 3
3k B 2

Este resultado nos diz que a temperatura absoluta de um gás é proporcional


à energia cinética molecular.
1 2
v x2 = v 2y = v z2 =
v , assim
3
1 1 1 1 1 1
m v x2 = m v 2y = m v z2 = ( m v 2 ) = k B T
2 2 2 3 2 2
Esta última equação ilustra o chamado teorema da equipartição da
energia que nos diz que cada grau de liberdade de um gás contribui com
1
uma quantidade de energia k B T para energia interna total. Um grau de
2
liberdade é um movimento independente que pode contribuir para energia
total do sistema. Por exemplo, o grau de liberdade de uma molécula está
associado com a rotação e vibração da molécula A energia interna total de n
mols de um gás monoatômico com 3 graus de liberdade é

1 3 3
E  Nk BT ( m v 2 )  Nk BT  nRT eq. VII. 4
2 2 2

A eq. VII. 3 pode ser resolvida para encontrarmos a raiz quadrada da


velocidade quadrada média molecular,

67
v 2  3k BT / m  3RT / M eq. VII. 5

Onde R  N A k B e M  N A m = massa molar em gramas e m = massa de


uma molécula.
Note que essa raiz quadrada da velocidade quadrada média é uma
velocidade média, e que algumas moléculas se movem com mais ou menos
velocidade.
Nessa discussão supomos as moléculas como partículas pontuais. Se
formos mais realistas podemos supor as moléculas como esferas de diâmetro
d e assim possível calcular ao livre caminho médio  entre as colisões das
moléculas. Isto é, a distância média percorrida entre duas colisões
sucessivas. Usando uma abordagem estatística nos leva a

1 RT
 2
 eq. VII. 6
2d N / V 2d 2 N A p

5. A Distribuição de Maxwell-Boltzmann

As moléculas em um gás se propagam em uma ampla faixa de


velocidades. Usando-se métodos da mecânica estatística podemos chegar ao
número de partículas dN em um gás com velocidade entre v e v + dv, dN =
Nf(v)dv, onde

3
m 2 2  mv 2 / 2 k BT
f (v )  4 ( ) v e eq. VII. 7
2k B

f(v) é a função de distribuição de Maxwell-Boltzmann, N é o número de


partículas do gás de massa m. A fig. VII. 2 mostra a função de distribuição
para três temperaturas.

Note que a unidade de f(v) é s/m. A velocidade mais


provável é aquela que corresponde ao pico da
distribuição, onde df/dv = 0. O resultado é

2k B T 2 RT
v mp   eq. VII. 8
m M
fig. VII.2. Função de distribuição para
temperaturas, T1 > T2 > T3 . Onde M = N A m é a massa molar. Através da
distribuição podemos calcular também a velocidade
média,


8k B T 8RT
v   vf (v)dv   eq. VII. 9
0
m M

68
A velocidade quadrada média é dada por,


3k BT 3RT
v 2   v 2 f (v)dv   eq. VII.10
0
m M

6. Calor Específico de um Gás

O calor específico molar de um gás é a quantidade de calor


necessária para aumentar a temperatura de um mol por 1 o C. Considere 1
mol de um gás ideal monoatômico a volume constante. A energia interna do
gás é dada, para n = 1,  E = 3/2 R  T. Teremos o calor específico, C v , a
volume constante, n C v T  E , n = 1; C v  E / T  3R / 2. Então, a
volume constante para este gás monoatômico,

3
Cv R eq. VII.11
2

Caso o gás não seja monoatômico e tem f graus de liberdade, cada


grau de liberdade contribui com ½ R  T para a energia interna e assim C v =
fR/2.
O gás se expande quando calor é adicionado a um recipiente que o
contém e o volume não é mantido constante. Imagine um gás contido em um
cilindro, dentro tem um pistão com um peso em cima, como mostra a fig.
VII. 3. O pistão mantém uma pressão constante sobre o gás. Como o gás
expande, ele puxa o pistão para cima e realiza um trabalho sobre ele. Se a
área da base do pistão é levantada uma distância dx, o trabalho realizado fig. VII. 3. Cilindro com
pelo gás é dW = Fdx = PAdx = FdV, onde o volume cresce dV = Adx e P = um pistão interno e um peso
F/A. Usando conservação de energia, em cima do pistão.
dQ = dE + dW = dE + pdV
Daí podemos escrever
dQ/dT = dE/dT + dW/dT = dE/dT + pdV/dT.
O calor específico molar é então, C p  dQ/dT. Da lei dos gases ideais
dE/dT = 3R/2. Logo, para um gás monoatômico,

3 5R
Cp  RR eq. VII.12
2 2

Para um caso geral, isto é, para um gás ideal qualquer,

R  C p  Cv eq. VII.13
5 7
Para um gás diatômico teremos C v  R e Cp  R .
2 2

69
7. Processos Adiabáticos

Um processo adiabático em um gás é aquele em que nenhum calor é


trocado para fora ou para dentro do recipiente que contém este gás. Este
processo pode ser obtido mudando o volume rapidamente ou por manter o
recipiente bem fechado de forma que somente uma quantidade muito
pequena de calor pode ser trocada.
Se o volume do gás cresce por dV, o trabalho realizado pelo gás
sobre um pistão imaginário é dW = pdV. O calor absorvido é zero e assim a
mudança de energia do gás é dE = -dW = -pdV, onde dE pode ser expressa
dV dp
em termos de mudança de temperatura. Daí encontramos    ,
V p
onde
R  Cv C p
   e da equação anterior encontramos uma equação que
Cv Cv
relaciona p com V

pV   const . eq. VII.14

TV  1  const.( adiabática) eq. VII.15

Podemos estudar os gráficos de p versus V para o caso adiabático sem fluxo


de calor, isto é, Q = 0 e pV   const . Para o caso isotérmico pV = nRT =
const.

Exercícios Resolvidos

Exemplo VII. 1
Um compressor de ar usado para fazer pinturas em automóveis tem um tanque de
3 0
capacidade 0.40 m que contem ar a uma temperatura de 27 C a 6 atm. Quantos
mols de ar têm no tanque?
Solução:
pV 6  1,013  10 5  0,4
n   97,5moles
RT 8,31  300

Exemplo VII. 2
Um pequeno vaso de de volume V contém um gás ideal a 300 K e 5 atm. Esse vaso
é conectado a um vaso de volume 6V que contém o mesmo gás a uma pressão de 1
atm e 600 K. A temperatura de cada vaso é mantida constante.Qual será a pressão
final em cada vaso, após a mistura?
Solução:
pV pV
n1  1 1 e n2  2 2
RT1 RT2

70
pV1 pV2
No final p1  p 2  p e n1'  e n 2'  ' '
e assim n1  n 2  n1  n 2 ,
RT1 RT2
note que 6V1  V2 , logo, p = 5,3 atm.

Exemplo VII. 3
6  10 22 moléculas de um gás ideal são armazenados em um tanque de 0,5 atm a
0
37 C. Determine a pressão em pascal e a temperatura em Kelvin, o volume do
0
tanque e a pressão quando a temperatura aumenta para 152 C.
Solução:
nRT N RT
V   5,1  10 3 m 3 , então,
p NA p
p1 p 2 nR
   p1  0,69atm .
T1 T2 V

Exemplo VII. 4
18
O melhor vácuo que se atinge no laboratório é cerca de 5  10 Pa a uma
temperatura de 293 K. Quantas moléculas possui por centímetro cúbico desse
vácuo?
Solução:
nRT N RT N NA p
V      1240m 3  1,2  10 3 / cm 3 .
p NA p V TR

Exemplo VII. 5
O gás hélio com massa molar 4 g a 330 K tem raiz quadrada da velocidade quadrada
média molecular é 1350 m/s. Qual a raiz quadrada da velocidade quadrada média
molecular do oxigênio com massa molar 32 g a essa temperatura?
Solução:
3 RT / mO
A relação entre as velocidades do oxigênio e hélio é:  0,35
3RT / m He
Assim, raiz quadrada da velocidade quadrada média molecular do oxigênio é igual a
0,35 da do hélio, isto é, 0,35  1350 m/s = 472,5 m/s.

Exemplo VII. 6
10
Gás argônio tem um diâmetro de aproximadamente 3,1  10 m e é usado em um
recipiente de laboratório, mantido a uma temperatura de 300 K. Qual a pressão que
devemos empregar para evacuar o gás de forma que o livre caminho médio seja de
1cm.
Solução:
1 RT
 2
 2
, p  3  10 15 atm
2d N / V 2d N A p

Exemplo VII. 7
3
Uma sala está bem isolada e possui 120 m de ar. O ar da sala está a uma
0
temperatura de 21 C. Quanto de calor devemos adicionar ao ar de forma que a
0
temperatura aumente de 1 C.
71
Solução:
pV 5 5
Q  nC v T , onde: n  , C v  R , logo Q  2,06  10 J
RT 2

Exemplo VII. 8
Dois mols de ar, C v = 5R/2, a uma temperatura de 300 K, estão contidos em um
pistão pesado dentro de um cilindro de volume 6 L. Se o 5,2 kJ de calor é
adicionado ao ar, qual será o volume resultante de ar?
Solução:
1
Q  nC p T , onde C p  C v  R  Q  7 nR(T2  T1 )  T2  389 K
2
T
pV2  nRT2 e pV1  nRT1 , teremos V2  2 V1  7,8L
T1

Exemplo VII. 9
Durante a compressão de uma máquina de combustão interna, a pressão muda
adiabaticamente de 1 para 18 atm. Supondo que o gás é ideal e tem   1,4 , por
qual fator a temperatura muda? Qual o fator de mudança do volume?
Solução:
1 / 
  p 
p V  p V  V2   2 
1 1 2 2  0,13V1
 p1 
Usando que pV  nRT , encontramos uma relação entre as temperaturas.
T2  2,3T1 .

Exercícios Propostos

Exercício VII. 1
Um motorista começa uma viagem em uma manhã fria quando a temperatura é de
0
4 C. Em um posto, ele checa a pressão no pneu de 32 psi + 15 psi (1 atm), onde 15
psi é a pressão atmosférica. Depois de rodar o dia todo, a temperatura do pneu subiu
0
para 50 C. Supondo que o volume é constante, qual a pressão que o ar do pneu tem
aumentado?
Resposta: 54,8 psi

Exercício VII. 2
0
A temperatura e pressão padrão de um um gás é definida como 0 C ou 273 K e 1
5
atm ou 1,013  10 Pa. Qual o volume que um mol de gás ideal ocupa?
Resposta: 22,4 L.

Exercício VII. 3
3
Quantas moléculas tem em 1 cm de hélio a uma tempertura de 300 K?
Resposta: 2,4  10 19

72
Exercício VII. 4
Qual a raiz quadrada da velocidade quadrada média molecular de uma molécula de
nitrogênio no ar a uma temperatura de 300 K? A massa atômica do nitrogênio é 14.
Resposta: 517 m/s

Exercício VII. 5
Estime o livre caminho médio de uma molécula de ar a 273 K e uma pressão de 1
10
atm, supondo que ela é uma esfera de diâmetro 4  10 m. Estime também o tempo
médio entre as colisões para uma molécula de nitrogênio sob essas condições. (use a
velocidade do exercício VII.4)

Resposta:   5,2  10 8 m
10
t = 10 s

Exercício VII. 6
4 mols de argônio estão contidos em um cilindro a uma temperatura de 300 K.
Quanto de calor deve ser adicionado para aumentar a temperatura a 600 K a volume
constante? E a pressão constante?
Resposta: 1,5  10 4 J e 2,5  10 4 J.

Exercício VII. 7
O gás hélio a uma temperatura de 400 K e 1 atm é comprimido adiabaticamente de
20 para 4 L. Qual a temperatura final e pressão?
Resposta: 1170 K e 14,6 atm

73
73
Unidade VIII - 1a , 2a e 3 a Leis da Termodinâmica

fig. VIII.1. Processos termodinâmicos no sol e geleiras.

1. Situando a Temática

O estudo das transformações de energia envolvendo calor, trabalho


mecânico e outros tipos de energia e como essas transformações podem estar
relacionadas com as propriedades da matéria é chamado de termodinâmica.
A termodinâmica é a descrição do comportamento de sistemas físicos em
termos de parâmetros macroscópicos. Este assunto constitui parte
indispensável dos fundamentos da física, química e da biologia e suas
aplicações são, por exemplo: nas máquinas de combustão, nos
refrigeradores, nos processos bioquímicos, na atmosfera terrestre, nas
estrelas, etc. A aplicação da termodinâmica mais importante consiste na
conversão de uma forma de energia em outra, especialmente a conversão de
calor em outras formas de energia. Essas conversões são governadas pelas
leis da termodinâmica. A primeira lei estabelece conservação de energia e a
segunda nos diz a respeito de quanto se atinge a eficiência máxima na
conversação do calor em trabalho. Quando nós baixamos a temperatura de
um sistema, diminuímos os movimentos aleatórios térmicos e assim
diminuímos sua desordem, este fato está relacionado com a terceira lei da
termodinâmica.

2. Problematizando a Temática

Apesar de a termodinâmica descrever o comportamento de sistemas


em termos de parâmetros macroscópicos na prática, processos microscópicos
são irrelevantes. Por exemplo, num motor de automóvel, o comportamento
de combustão dos gases pode ser estudado com quantidades macroscópicas
como temperatura, pressão, densidade e quantidade de calor.
Nesta unidade estudaremos um sistema termodinâmico, aquele que interage,
ou troca energia, com suas vizinhanças ou ambiente de formas diferentes,
mediante troca de calor ou por trabalho mecânico. Quando ocorrem
variações no estado do sistema termodinâmico, chamamos de processo
termodinâmico. Um exemplo de sistema termodinâmico é quando temos

74
uma vasilha com água submetida ao calor de uma chama de um fogão de
cozinha. Ocorre transferência de calor por condução da chama para a
vasilha. À medida que a água é aquecida e chega ao seu ponto de ebulição,
empurra a tampa da vasilha e esta sofre um deslocamento. O estado da água
mudou de líquido para gasoso. Muda o estado do sistema quando mudamos
o volume, temperatura e pressão da água.
Não podemos construir uma máquina que possa converter
completamente uma quantidade de calor em energia mecânica. A explicação
disso está nos sentidos dos processos termodinâmicos dados pela segunda lei
da termodinâmica que veremos nesta unidade, também estudaremos a
situação em que um sistema recebe calor enquanto realiza trabalho dando
uma variação da energia interna, que tem a ver com a primeira lei da
termodinâmica.

3. A Primeira Lei da Termodinâmica

Um sistema termodinâmico pode trocar energia sob forma de calor e


de trabalho com suas vizinhanças. Quando o calor é fornecido para o
sistema, Q > 0; quando o calor é transferido para fora do sistema, Q < 0.
Quando o trabalho é realizado pelo sistema, W > 0; quando o trabalho sobre
o sistema, W < 0. Pode haver uma troca simultânea sob forma de calor e de
trabalho, por exemplo, o calor é fornecido para o sistema e o trabalho é
realizado pelo sistema, ou então, o calor é transferido para fora do sistema e
o trabalho é realizado sobre o sistema. Quando um sistema à pressão p se
expande de um volume V 1 para um volume V 2 este realiza um trabalho

V2

W   pdV eq. VIII. 1


V1

Considere um gás à pressão p em um cilindro conectado a um pistão.


Se o gás empurra o pistão o move de uma pequena distância dx, o gás realiza
um trabalho dW = Fdx. Como F = PA, teremos, dW = PAdx. Nesse
processo, o volume do gás cresce por dV = Adx, então,

dW  pdV eq. VIII. 2

O trabalho total realizado em um processo é igual à área embaixo da curva


que representa o processo no diagrama p-V, como na eq. VIII. 1.
Existem infinitos caminhos pelos quais um sistema pode ir de um
estado a outro. Alguns caminhos ou processos são do tipo isotérmico
(temperatura constante), isobárico (pressão constante), isocórico (volume
constante) e adiabático (nenhum calor flui para fora). Em qualquer processo
termodinâmico, o calor fornecido para o sistema e o trabalho realizado pelo
sistema, além de dependerem do estado inicial e do estado final, dependem
também do caminho, ou o conjunto de estados intermediários através dos

75
quais o sistema evolui.
Quando o trabalho realizado por um sistema, ou sobre um sistema
depende do caminho de um estado a outro, não faz sentido falar de trabalho
em um sistema. Da mesma forma, o calor adicionado ao sistema quando ele
vai de um estado a outro depende do caminho seguido, assim não faz sentido
falar de calor em um sistema. Entretanto, um sistema tem uma energia
interna. Para um gás ideal vimos que a energia interna depende unicamente
da temperatura e da quantidade de gás. Para um gás monoatômico
E  3nRT / 2. Mudanças na energia interna dependem somente dos estados
inicial e final do sistema e assim independe do caminho. A energia interna
de um sistema isolado permanece constante. Ao adicionarmos calor ao
sistema, a energia interna do sistema pode aumentar ou o sistema pode
realizar trabalho em sua vizinhança. Ou então ambos podem ocorrer.
Quando aplicamos a conservação de energia obtemos a equação

dQ  dE  dW eq. VIII. 3

Essa equação representa a conservação de energia – a primeira lei da


termodinâmica. Se o calor é adicionado ao sistema, dQ > 0; se removido, dQ
< 0. Se a energia interna cresce, dE > 0 e se a energia interna decresce dE <
0. Quando o sistema realiza trabalho sobre sua vizinhança, dW > 0. Quando
é realizado sobre o sistema, dW < 0. Lembramos que num processo
adiabático o calor não flui nem para dentro nem para fora do sistema, Q = 0.
Se o processo é isocórico, W = 0. Se o processo é isobárico, W = p(V 2 -
V 1 ).
Em basicamente todas as máquinas térmicas encontramos processos
que são caminhos fechados em um
diagrama p-V. Suponha, por exemplo,
um sistema que vai de um ponto
(p 1 ,V 1 ) a um ponto (p 2 ,V 2 ) ao
longo de um caminho I como mostra
a fig. VIII. 2.

Para completarmos o ciclo


retornamos pelo caminho II. O
fig. VIII.2. Um processo cíclico no diagrama p-V.
trabalho realizado ao longo do
caminho I é positivo e igual à área
abaixo da curva I. O trabalho realizado ao longo do caminho II é negativo e
igual a área abaixo da curva II. Então o trabalho resultante realizado por
cada ciclo completo é a área pintada da fig. VIII. 2.

4. Segunda Lei da Termodinâmica

Podemos enunciar a segunda lei da termodinâmica de várias formas


equivalentes, que veremos ao longo desta secção. Ela descreve o sentido da
realização de um processo termodinâmico natural, mas essencialmente ela

76
diz respeito sobre a eficiência máxima disponível na conversão de calor em
trabalho. A segunda lei da termodinâmica, do ponto de vista histórico, nos
diz que:
(a) Segundo Kelvin-Planck: É impossível construir uma máquina cíclica que
converte completamente energia térmica de um corpo mais frio para um
corpo mais quente sem qualquer efeito sobre seu ambiente.
(b) Segundo Clausius: É impossível construir uma máquina cujo único efeito
é transformar energia térmica de um corpo mais frio para um corpo mais
quente sem qualquer efeito sobre seu ambiente.
Um aparato que transforma parcialmente calor em trabalho é uma
máquina de calor. Uma máquina utiliza uma substância de trabalho, por
exemplo, a mistura de gasolina e ar num motor de automóvel. A maioria das
máquinas usa um processo cíclico no qual a substância de trabalho retorna
ao mesmo estado em intervalos periódicos. O funcionamento de uma
máquina pode ser visto na fig. VIII. 3.

Uma quantidade de calor Q é


removida do reservatório quente.
Uma parte desse calor vai para o
reservatório frio e a outra parte é
transformada em trabalho para
vizinhança. Então Q quente = Q frio
+ W. A eficiência de uma
máquina de calor é definida
fig. VIII.3. Esquema de funcionamento de uma máquina térmica.
como:

W
e eq. VIII. 4
Qquente

Este último representa a fração de Qquente que é convertida em trabalho.

5. A Máquina de Carnot

De acordo com a segunda lei da


termodinâmica, nenhuma máquina de calor pode
ter uma eficiência de 100 %. Por exemplo,
perdemos calor por atrito. A máquina de calor
mais eficiente possível é uma máquina
idealizada chamada máquina de Carnot. O
material que é trabalhado é submetido a um
processo reversível, o que em máquinas reais
isto não é possível. O ciclo de Carnot utilizando-
se um gás ideal é visto na fig. VIII. 4. fig. VIII.4. O ciclo de Carnot.

77
As curvas AB e DC são isotérmicas e as curvas CA e BD são adiabáticas. Se
as temperaturas indicadas na fig. VIII. 4 são aquelas dos reservatórios frio e
quente, pode-se mostrar que a eficiência da máquina de Carnot é

T frio
e  1 eq. VIII. 5
Tquente
O ciclo de Carnot é constituído de duas isotérmicas reversíveis e dois
processos adiabáticos. Para melhor entendimento, em um ciclo de Carnot
podemos usar como substância de trabalho um gás ideal dentro de um
reservatório com um embolo móvel, consistindo das seguintes etapas:
O gás se expande isotermicamente a Tquente absorvendo calor Qquente . O gás
se expande adiabaticamente até que a temperatura abaixa para T frio . Daí ele
é comprimido isotermicamente na temperatura T frio botando para fora Q frio .
Finalmente completando o ciclo o gás é comprimido adiabaticamente
retornando ao seu estado inicial na temperatura Tquente . Observe que as
temperaturas usadas nesta secção devem ser em Kelvin e que estes
resultados valem para outras substâncias de trabalho.
Agora podemos enunciar a segunda lei da termodinâmica do ponto
de vista da máquina de Carnot, adaptando as versões de Kelvin-Planck (a) e
Clausius (b) vista nesta unidade. A saber:
(a) Uma máquina de Carnot transforma calor em trabalho sem qualquer
efeito sobre seu ambiente.
(b) Uma máquina de Carnot transforma calor de um reservatório frio
para um reservatório quente sem qualquer efeito sobre seu ambiente.

6. Entropia

Os processos termodinâmicos que acontecem na natureza são todos


irreversíveis, são aqueles que apenas ocorrem em um sentido. Por exemplo,
o fluxo de calor que ocorre de uma panela quente para sua mão ocorre de
forma irreversível, isto é num só sentido, da panela para sua mão. A segunda
lei da termodinâmica nos diz qual o sentido que seguem estes processos
termodinâmicos. Por simplicidade, muitas vezes supomos os processos
reversíveis, o que temos na verdade é uma situação ideal e que acontece tão
próximo quanto quisermos ao estado de equilíbrio termodinâmico ou
mecânico. De fato, não teremos fluxo de calor nem realização de trabalho na
vizinhança do sistema, pois no equilíbrio não ocorre nenhuma mudança no
estado do sistema. Num processo reversível o fluxo de calor entre dois
corpos que possuem uma diferença de temperatura infinitesimal pode ser
invertido fazendo-se somente uma pequena variação em uma temperatura ou
na outra.
O fluxo de calor faz a desordem de um sistema aumentar porque
ocorre um aumento de velocidade média de cada molécula e assim o estado
aleatório ou grau de desordem aumenta.

78
A entropia nos fornece uma forma de quantificar esta desordem. Uma
temperatura elevada corresponde a um movimento muito aleatório. A
medida que aumentamos a temperatura com o fornecimento de calor há um
aumento no movimento das moléculas e em seu estado aleatório. Porém
quando a substância já está quente, a mesma quantidade de calor fornecido
produz um aumento menor ao movimento das moléculas, que já está
elevado. Portanto, o quociente Q/T caracteriza de modo adequado o
crescimento da desordem quando o calor flui para o interior do sistema.
A equivalência entre um ciclo reversível arbitrário e uma coleção de
ciclos de Carnot nos leva, para um processo reversível, ao teorema de
Clausius: A integral de dQ/T em torno de qualquer ciclo é zero,

dQ
 0 eq. VIII. 6
T

A mudança de calor nessa equação é positiva se o calor flui dentro do


sistema e negativa se flui fora. A prova desse teorema é simples e se baseia
no fato que um ciclo qualquer pode ser considerado como pequenos ciclos
de Carnot. Da máquina de Carnot temos que,
Qquente Tquente Qquente Q frio
 ou   0.
Q frio T frio Tquente T frio
Com o resultado do teorema podemos fazer analogia com o estudo da
mecânica de Newton, onde, para forças conservativas podemos definir uma
nova quantidade, chamada de energia potencial, assim definirmos uma nova
variável de estado para um processo reversível: a entropia S,

dQ A dQ
dS  e S ( A)    S ( A0 ) eq. VIII. 7
T A0 T

As unidades de entropia são, cal/K e J/K.


Para um gás ideal em expansão, pode ser mostrado que a mudança
de entropia de um ponto 1 a 2 é

T2 V
S 2  S1  nC v ln( )  nR ln( 2 ) eq. VIII. 8
T1 V1

O fluxo de calor em um reservatório quente para um reservatório frio


pode nos levar a um aumento de entropia. Isto sugere que expressemos a
segunda lei da termodinâmica em termos de mudança de entropia. Para
conseguirmos isto vamos generalizar o teorema de Clausius, eq. VIII. 6 – A
integral de dQ/T para qualquer processo irreversível é menor ou igual a
zero.

dQ
 T
0 eq. VIII. 9

Suponha que um sistema em um estado A sofre um processo irreversível e o

79
traz até o estado B. Imaginemos algum processo que nos leva de volta até o
estado A. Como podemos ver na fig. VIII. 5.

dQ
Para o ciclo completo temos que,   0 , ou
T
dQ B A dQ
   0 , porém, por definição de entropia, eq.
AT B T
A dQ
VIII. 7,  = S(A) – S(B), logo obtemos a entropia para
B T

um processo irreversível:

fig. VIII.5. Um processo irreversível


B dQ
S ( B )  S ( A)   eq. VIII. 10
em I e um reversível em II.
A T

No caso particular de um sistema isolado que não há


fluxo de calor entre o sistema e a vizinhança, dQ = 0, assim
a eq. VIII. 10 se torna,

S ( B )  S ( A)  0 eq. VIII. 11

Podemos ver através da eq. VIII. 11 que a entropia de um sistema isolado


nunca decresce – ela cresce ou fica constante. Microscopicamente, o
aumento da entropia de um sistema significa o aumento da desordem do
sistema. Assim a segunda lei da termodinâmica pode ser reformulada em
termos de entropia: Processos em um sistema isolado sempre tendem a
aumentar a desordem desse sistema. No caso especial de um processo
reversível os aumentos e diminuições de entropia são iguais. Portanto
podemos afirmar que quando todas as variações de entropia que ocorrem em
um processo são adicionadas, a entropia ou aumenta ou permanece
constante.

7. Terceira Lei da Termodinâmica

Esta lei foi formulada por Nernst e afirma que: independentemente


de todas as variáveis macroscópicas que descrevem o sistema, a entropia de
um sistema no zero absoluto de temperatura é uma constante universal igual
a zero. Isto pode ser explicado assim: Quando baixamos a temperatura de um
sistema sua desordem diminui, pois decresce o movimento térmico aleatório
das moléculas do sistema. Do ponto de vista clássico, no zero absoluto, isto
0
é, -273,15 C = 0 K, o ponto zero da escala de temperatura Kelvin, os
movimentos térmicos param completamente e o sistema tende a ficar no
estado mínimo de desordem, isto é, o estado mínimo de entropia. Acredita-se
que não podemos chegar experimentalmente ao zero absoluto, embora
temperaturas da ordem de 10 7 K tenham já sido atingidas. Dessa forma
podemos enunciar a terceira lei da termodinâmica de seguinte forma: é
impossível se atingir o zero absoluto com um número finito de processos
termodinâmicos.

80
Exercícios Resolvidos

Exemplo VIII. 1
Nos processos: adiabático, isocórico, isobárico e isotérmico, calcule as quantidades
W (trabalho), E (energia interna) e Q (quantidade de calor).
Solução:
Num processo adiabático não ocorre transferência de calor nem para dentro
nem para fora do sistema. Loto Q  0 , assim pela primeira lei da termodinâmica
E  W . Se o sistema realiza trabalho sobre as vizinhanças W é positivo e E
diminui. Se as vizinhanças realizam trabalho sobre o sistema W é negativo e assim
E aumenta.
No processo isocórico temos um volume constante para um sistema
termodinâmico. Este não realiza trabalho sobre as vizinhanças do sistema. Logo W =
0, logo, E  Q . Neste processo toda a energia adicionada em forma de calor
permanece dentro do sistema, contribuindo para o aumento da energia interna.
Para um processo isobárico a pressão permanece constante para o sistema.
Em geral, nenhuma das quantidades W, E e Q é igual à zero. Entretanto,
V2
W   pdV  p (V2  V1 ) .
V1

Em um processo isotérmico a temperatura permanece constante. Neste caso


a trasferência de calor para o sistema deve ser dada de forma bem lenta para que o
equilíbrio térmico se estabeleça. Novamente, em geral, nenhuma das quantidades W,
E e Q é igual a zero. Especialmente, para um gás ideal, E  0 , assim,
Q  W . Quando um gás com densidade pequena sofre uma expansão livre, sua
temperatura permanece constante, este gás é um gás ideal. Portanto, podemos
concluir que a energia interna de um gás ideal depende apenas da sua temperatura e
não do volume e da pressão.

Exemplo VIII. 2
Um gás se expande a uma pressão constante de 3 atm de um volume de 2 L para 5 L.
Qual o trabalho que foi realizado?
Solução:
V2
W   pdV  p (V2  V1 )  912 J
V1

Exemplo VIII. 3
Um mol de um gás ideal inicialmente a p1 , V 1 , T 1 está submetido a um ciclo
como mostra a fig. VIII. 6. Calcule o trabalho total realizado pelo gás e o
calor total adicionado durante o ciclo.

Solução:

W AB  0, WCD  0 , WBC  2 p1 (3V1  V1 )  4 p1V1 ,


WDA  p1 (V1  3V1 )  2 p1V1 fig. VIII.6. Ciclo ABCDA.
W  W AB  W BC  WCD  W DA  2 p1V1 , que é o trabalho total.

81
Veja que: Q  E  W  E  pV , como o gás volta ao seu estado
original a mudança de energia interna é zero, E  0 . Portanto, Q  2 p1V1 .

Exemplo VIII. 4
Dois mols de um gás ideal a 600 K são comprimidos até triplicar a pressão. Qual o
trabalho feito pelo gás?
Solução:
V2 nRTdV V2 V p 1
W   pdV    nRT ln 2  nRT ln 2  2  8,31  600  ln
V1 V1 V V1 p1 3
1 4
= 2  8,31  600  ln  1,1  10 J
3

Exemplo VIII. 5
O motor de uma carreta consome 10 kJ de calor e realiza um trabalho mecânico em
cada ciclo de 2 kJ. O calor é obtido pela queima de combustível com calor de
combustão L = 50 kJ/g. Qual é a eficiência térmica deste motor? Qual é a quantidade
de calor que deixa a máquina em cada ciclo? Qual a quantidade de combustível que
é queimada em cada ciclo?
Solução:
W 2000
e   0,20 , a quantidade de calor que é deixada pela máquina
Qquente 10000
é 8000 J, isto é, W  Q quente  Q frio  Q frio  8000 J . A quantidade de
combustível queimada é Qquente  mL  m  0, 20 g .

Exemplo VIII. 6
0 0
Uma casa de força de uma usina opera entre 490 C e 38 C. Qual é a eficiência
máxima possível sob estas condições?
Solução:
T frio
e max  1  = 0,59. Lembre que as temperaturas são em Kelvin.
Tcalor

Exemplo VIII. 7
0
A máquina de uma caldeira produz vapor a uma temperatura de 500 C. A máquina
0
joga o vapor na atmosfera a qual possui uma temperatura de 20 C. Teoricamente,
qual a eficiência desta máquina?
Solução:
T frio
e max  1  = 0,62. Assim, somente 62% do calor pode ser convertido em
Tcalor
trabalho.

Exemplo VIII. 8
Três mols de um gás ideal é expandido vagarosamente, (processo reversível), de
3
0,02 para 0,06 m . Qual é a variação na entropia do gás?
Solução:
dQ V2 p V
S    dV  nR ln 2  27,4 J / K
T V1 T V1

82
Exemplo VIII. 9
Uma máquina ideal do tipo de Carnot opera entre um reservatório quente a 360 K e
um frio a 270 K. Ela absorve 600 J de calor por ciclo no reservatório quente. Qual o
trabalho realizado pela máquina em cada ciclo? Se a mesma máquina opera num
sentido inverso como um refrigerador, qual o coeficiente de performace do
refrigerador de Carnot, K Carnot ?
o trabalho realizado para cada ciclo de forma que remova 1200 J de calor do
reservatório frio a cada ciclo?
Solução:
270 W
e  1  0,25 , por outro lado, 0,25   W  150J
360 Qquente
Para o refrigerador de Carnot: O coeficiente de performace do refrigerador de
Carnot K Carnot é
T frio /(T quente - T frio ) = 270 K /(360 K – 270 K) = 3. Para um refrigerador, sem ser

Q frio
necessariamente de Carnot, K performance  .
W

Exercícios Propostos

Exercício VIII. 1
Um gás ideal sofre uma expansão isotérmica de (p 1 ,V 1 ) a (p 2 ,V 2 ), a uma
temperatura T fixa, enquanto o volume desse gás passa de V 1 para V 2 . Qual o
trabalho realizado pelo gás?
Resposta: W  nRT ln V2
V1

Exercício VIII. 2
Você quer tomar um soverte que contém 900 calorias e depois gostaria gastar essa
energia subindo uma escada. Até que altura você deverá atingir? Considere que sua
massa é de 60 kg e que imaginamos uma eficiência igual de 100%, na conversão da
energia vinda do sorvete em trabalho mecânico, o que na realidade não é verdade.
Resposta: 6,41 m

Exercício VIII. 3
A fig. VIII. 8 mostra um diagrama p-V de um processo
cíclico iniciando em um ponto A e percorrendo um caminho
no sentido anti-horário. O trabalho realizado é W = - 400 J.
Porque o trabalho realizado é negativo? Calcule a variação
de energia interna e o calor trocado durante o processo.
Resposta: E  0 e Q = -500 J.

fig. VIII.7. Um processo cíclico no diagrama p-V.

83
Exercício VIII. 4
Na fig. VIII.8 temos um diagrama p-V indicando vários processos .
No processo AB, 150 J de calor são fornecidos ao sistema e no
processo BD 600 J de calor são fornecidos ao sistema. Encontre a
variação da energia interna o processo AB, a variação da energia
interna no processo ABD e a variação da energia interna no processo
4 4
ACD. Considere p1= 8  10 Pa, p2 = 3  10 Pa, V1=
3 3 3 3
2  10 m , V 2 = 5  10 m .

Resposta:  E AB =150 J;  E ABD = 510 J;  E ACD = 510 J.

fig. VIII.8. Diagrama p-V mostra


processos termodinâmicos.

Exercício VIII. 5
3 3
Uma grama de água (1cm ) se transforma em 1671 cm quando ocorre o processo
de ebulição a uma pressão constante de 1 atm. O calor de vaporização para esta
6
pressão e de L V =2,256  10 J/kg. Calcule o trabalho realizado pela água quando
ela se transforma em vapor e o aumento da sua energia interna.

Resposta: 169 J; 2087 J.

Exercício VIII. 6
Um mol de gás ideal em um cilindro ajustado a um pistão é feito para expandir
suavemente, isto é, para que tenhamos um processo reversível, de um volume inicial
3 3
de 10 cm = V para um volume 2V. O cilindro está em contato com um
reservatório quente e no processo de expansão a temperatura do gás se mantém
constante. Qual a variação de entropia do gás?

Resposta: 1,38 cal/K.

Exercício VIII. 7
Um mol de um gás ideal está inicialmente contido em uma garrafa isolada de
3 3
volume V = 10 cm . Um tubo conectado à garrafa esvazia-a para uma outra de
mesmo volume. Se primeira garrafa é esvaziada bruscamente, isto é, o processo é
irreversível, qual é a variação de entropia do gás?

Resposta: 1,38 cal/K.

Exercício VIII. 8
Um reservatório de calor a uma temperatura de 400 K é brevemente colocado em
contato térmico com um reservatório a uma temperatura de 300 K. Se 1 cal de calor
flui do reservatório mais quente para o mais frio, qual a variação de entropia do
sistema (ambos os reservatórios)?

Resposta: 8,3  10 4 cal/K


84
Exercício VIII. 9
Uma pedra de massa 80 kg desce uma montanha de altura 100 m e para em baixo.
Qual é o aumento de entropia da (pedra + ambiente)? Suponha que a temperatura do
0
ambiente, colina mais ar, é de - 3 C.

Resposta: 69 cal/K.

Exercício VIII. 10
0
Qual a variação de entropia de 1 kg de água quando ela é aquecida de 0 C para
0
100 C ?

Resposta: 1,3  10 3 cal/K.

Exercício VIII. 11
O calor latente de fusão de uma substância é L F e sua temperatura é de T. Qual a
variação de entropia da massa m quando a substância derrete?

Resposta: S  mLF
T

Observação:

Estas notas de aula foram baseadas na bibliografia abaixo, algumas


figuras e exercícios foram adaptados dessa bibliografia. Também algumas
figuras vieram da internet.

Bibliografia:

HALLIDAY, David, RESNICK, Robert, WALKER, Jearl, Fundamentos de


Física, V.2, Ed. LTC.

OHANIAN, Hans C. . Physics, New York, London.

YOUNG, Hugh D., FREEDMAN Roger A., SEARS E ZEMANSKY – Física


II, Addison-Wesley.

TIPLER, Paul e MOSCA, Gene. Physics for scientists and engineers,


United States Naval Academy, Oakland University.

BROWNE, Michael. Physics for Engineering and Science, McGraw-Hill,


USA.

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