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SÃO JOÃO E OS SOLSTÍCIOS NA MAÇONARIA

SÃO JOÃO E OS SOLSTÍCIOS NA MAÇONARIA.

Embora o assunto já tenha sido exaustivamente debatido e esclarecido


por autores autênticos da Maçonaria, ainda muitas dúvidas campeiam o solo
maçônico no que diz respeito às figuras patronais de João, o Baptista e de
João, o Evangelista.
Nesse sentido, tenho recebido muitos pedidos de esclarecimento sobre o
assunto através do Consultório Maçônico José Castellani da revista A Trolha
de Londrina, PR, assim como pelo diário eletrônico JB NEWS in Perguntas e
Respostas – Florianópolis, S.C.
Dado ao exposto seguem as seguintes considerações sobre o tema:
Para o esclarecimento necessário dessa questão e para que não se caia
no campo das suposições “inventando” padroeiros para a Maçonaria só porque
esse ou aquele Rito pretende identificar um “santo” em particular, é antes
imprescindível que o estudante conclua que a questão não é só a de identificar
um padroeiro para um Rito específico, senão antes identifica-lo como um
patrono de toda a Maçonaria, independente dos Ritos e Trabalhos nela
praticados (as Lojas de São João).
Nesse pormenor seria lógico antes se compreender a razão dessa
escolha ou costume como parte integrante da história da Sublime Instituição. É,
portanto imperativo que antes se entenda o porquê dessa relação que envolve
as datas comemorativas dos “santos padroeiros – Baptista e Evangelista” como
uma espécie de patronos da Maçonaria.
Desde quando? Qual a razão de João, o Baptista e João, o Evangelista
aparecerem nesse misto de respeito religioso e alegoria simbólica intrínseca à
Maçonaria? Por que a Moderna Maçonaria ainda mantém essa tradição?
Sem ter a pretensão de aqui querer ensinar astronomia e geografia, o
tema, entretanto merece ser identificado tanto pela feição científica, bem como
pela cultural que envolve as crenças pertinentes aos cultos solares da
antiguidade – base de grande parcela das religiões conhecidas.
Essa explicação, embora condensada, está no fato de que o planeta
Terra além de girar em torno do seu próprio eixo em um ciclo diário e noturno
totalizando vinte e quatro horas (rotação), também o Planeta se desloca no
espaço em uma trajetória elíptica (elipse) ao redor do Sol (translação), cuja
viagem completa resulta no período conhecido por “ano” (arredondados
trezentos e sessenta e cinco dias).
Em seu deslocamento elíptico ao redor do Sol, a Terra estará no seu
trajeto mais, ou menos afastado do Sol o que implica no Planeta estar
em periélio - o ponto de órbita com menor afastamento distando 147 milhões
de quilômetros e em afélio – ponto de órbita com maior afastamento com 152
milhões de quilômetros de distância. Assim o afélio se opõe ao periélio, e vice-
versa.

Como a Terra no seu trajeto elíptico em torno do Sol mantém uma


inclinação constante em relação ao seu plano de órbita (norte-sul) de 23 graus
e 27 minutos, o movimento faz com que as duas regiões terrenas divididas pela
linha imaginária do equador e conhecidas como hemisférios (meias-esferas),
recebam a incidência de mais, ou menos raios solares, ou ainda estes por igual
conforme a localização na sua trajetória ao redor do Sol.
Pela não coincidência do plano de órbita com o plano do equador, do
ponto de vista daquele que estiver situado na Terra, esse movimento simula a
ilusão de como fosse o Sol a se movimentar em torno da Terra. O trajeto dessa
revolução imaginária é conhecido como eclíptica, ou a passagem do astro pelo
círculo máximo da esfera celeste – é a interseção da esfera com o plano de
órbita. Assim os limites, ou pontos máximos dessas inclinações nesse
movimento aparente, tanto no Norte, como no Sul, quando o Sol atinge a sua
maior distância angular do equador cessando o seu afastamento, ocorrem os
dois solstícios[1] que marcam o início do verão e do inverno conforme o
hemisfério terreno – inverno no Norte, verão no Sul, ou vice-versa.
Por ocasião do solstício no ciclo, ou estação do verão, devido a maior
incidência de raios solares, prevalecem assim dias mais longos e noites curtas
na sua duração. Já no ciclo do inverno, devido a menor incidência de raios
solares, prevalecem as noites mais longas e dias curtos na sua duração. Os
solstícios destacam-se no clima terrestre principalmente pela ocorrência do frio
no inverno e do calor no verão.
Por outro lado, no que concerne a esse mesmo movimento aparente do
Sol na sua eclíptica em direção ao solstício, quando passa de um para o outro
hemisfério cruzando o Equador, marca a ocorrência do início da primavera e do
outono conforme o sentido da marcha aparente. Do Sul para o Norte –
primavera no hemisfério Norte e outono no Sul. Do Norte para o Sul –
primavera no hemisfério Sul e outono no hemisfério Norte. O momento em
ocorrem essas passagens ilusórias do Sol de um para o outro hemisfério sobre
o Equador é que acontecem os equinócios[2].
Nessa situação de projeção zenital (equinócio - que dista igualmente),
tanto no outono quanto no inverno, a incidência é igual de raios solares sobre a
Terra. Esse atributo faz então com que os dias e noites sejam iguais na sua
duração.
Devido à inclinação do planeta Terra no seu eixo Norte-Sul, bem como o
seu movimento em torno do Sol (revolução anual e ilusória do Sol) é que
ocorrem os ciclos naturais, conhecidos como as estações do ano - a primavera,
o verão, o outono e o inverno - opostos conforme o hemisfério (verão – inverno,
outono – primavera).
Não obstante essa relação astronômica, tal condição climática também
faria com que as civilizações primitivas já distinguissem as épocas frias e
quentes levando-os a organizar o seu modo de subsistência no trabalho
agrícola.
Sob a óptica do Sol como fonte de luz e calor ele seria proclamado como
divindade soberana e daria o suporte principal para os cultos solares da
antiguidade. Com indelével influência sobre quase todas as religiões e crenças
da humanidade, o homem imaginou os solstícios como portas por onde o Sol
entrava e saia ao terminar o seu trajeto aparente (trópicos de Câncer e
Capricórnio).
Sob o ponto de vista da Terra, as épocas solsticiais desde então seriam
marcas astronômicas idealizadas pelos alinhamentos com as constelações de
Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul, o que sugeria, sob a óptica do
misticismo, inclusive, uma relação com deuses pagãos que, mais tarde e sob a
influência da Igreja, seriam elementos substituídos por santos do cristianismo.
É o caso, por exemplo, do deus Janus (palavra latina que significa porta),
agregado ao panteão romano, cuja representação era de uma divindade
bicéfala, com duas faces simétricas olhando uma para o passado e a outra
para o futuro. De acordo com a posição do Sol na eclíptica, a alegoria
insinuava filosoficamente que o futuro seria construído sobre a luz do passado;
sugeria também que o passado um dia fora presente e futuro, assim como o
futuro seria também um dia, presente e passado.
Com o advento da adoção do cristianismo para o Império Romano, por
obra do imperador Constantino, essa relação solsticial com a divindade bicéfala
pagã seria alterada, quando então foi substituído o deus Janus pelos santos
cristãos João, o Baptista e João, o Evangelista, o que inclusive adequaria e
acomodaria essa relação religiosa para o cristianismo. Nesse pormenor a
identidade do solstício em Câncer (verão no hemisfério Norte e inverno no
hemisfério Sul) por influência de Igreja Católica, ficaria relativo a São João
Baptista (Esperança – daquele que previu a Luz), enquanto que o solstício em
Capricórnio (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul) seria
alusivo a São João Evangelista (Reconhecimento – daquele que pregou a Luz).
Cabe aqui uma recomendação importante: Ao se tratar desse apólogo
religioso inerente aos solstícios e os santos mencionados, o mesmo estará
sempre relacionado ao hemisfério Norte, por extensão isso também ocorre com
esse simbolismo no que concerne à Maçonaria. Como o caráter é simbólico
todas as referências inerentes aos ciclos da primavera, do verão, do outono e
do inverno sempre aludem ao Norte do planeta Terra.
Ainda no que concerne a relação entre o simbolismo solsticial, o cristão e
a própria Maçonaria que também adota os mesmos padroeiros, muito embora a
Maçonaria não seja uma religião, essa alegoria relativa aos dois solstícios, em
última análise, salienta a evidente relação com o deus bicéfalo romano Janus
(que tem duas cabeças) às duas transições solsticiais do verão e do inverno na
banda setentrional da Terra.
O solstício de verão (junho) ficaria então relacionado a João, o Baptista
como aquele que anunciou a vinda da Luz (Jesus, considerado como a Luz do
Mundo), enquanto que o solstício de inverno (dezembro) concernente a João, o
Evangelista, ficaria relacionado àquele que difundiu a palavra de Jesus (a Luz
do Mundo).

Na concepção cristã João Baptista anunciou no verão a Esperança por


intermédio da vinda de Jesus que nasceria em pleno inverno como que
fazendo renascer, ou voltar novamente a Luz (Natalis Invicti Solis), enquanto
que João, o Evangelista pelo Reconhecimento à Luz, passou a difundir a “boa
nova” (evangelho – do grego euangélion, pelo latim evangeliu). Nota-se aqui
mais uma vez a evidente relação com os cultos solares da antiguidade no
hemisfério boreal.
Essa importante representação alegórica igualmente ganharia corpo pela
própria semelhança entre os nomes do deus pagão Janus e Joannes (João). A
palavra João, em hebraico Iheho-hannam, significa a “graça de Deus” e essa
semelhança viria inclusive acomodar a situação pela exclusão e substituição do
deus pagão que se chocava com as tradições do cristianismo. Desse modo
João Batista e o Evangelista passariam a se associar com as datas solsticiais
(junho e dezembro).
Não menos importante também é a relação simbólica configurada na
constelação de Câncer lembrada pelo saudoso Irmão José Castellani in
“Porque São João, Nosso Padroeiro”: “Suas duas estrelas principais (da
constelação de Câncer) tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i =
diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas
estrelas são chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade,
designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth,
correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas há um pequeno conglomerado
de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio,
estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é “creche”, também com o
significado de presépio, manjedoura, berço. Essa palavra, creche já foi,
inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde
crianças novas são acolhidas, temporariamente”.
Note-se então que a previsão alegórica do nascimento de Jesus em uma
manjedoura e outras particularidades inerentes teve origem interpretativa nessa
observação mística relativa à constelação de Câncer (junho, solstício de verão
no hemisfério Norte) e consignada no outro alinhamento com a constelação de
Capricórnio (dezembro, solstício de inverno no hemisfério Norte).
Não obstante ao sentido dessa exegese, vale também a pena mencionar
a relação dela com os cultos solares da antiguidade que mais uma vez se
evidenciaria e passaria, dentre outros, a influenciar na fixação pela Igreja da
data do nascimento de Jesus para a noite de 24 para 25 de dezembro, a mais
longa do ano no Norte, e que alude ao solstício relativo à volta do Sol no
mitraísmo persa (INRI - Igne Natura Renovatur Integra – o Fogo Renova a
Natureza Inteira) e propagada pelo mitraísmo romano na concepção do
Nascimento do Sol Triunfante, ou Invicto (Natalis Invicti Solis). Por ocasião
dessa longa e fria noite de inverno (no Norte) os homens acendiam fogueiras e
faziam oferendas e preces evocando a volta da Luz. Assim o Cristianismo,
valendo-se dessa alegoria solsticial fixaria o Natal (nascimento de Jesus)
identificando à volta do Sol a partir de Capricórnio para o Norte como a Luz do
Mundo, cujo nascimento fora previsto (anunciado em Câncer – verão). Essa
associação daria então a João, o Baptista o rótulo daquele que anunciou a
vinda da Luz, cuja data comemorativa se fixaria em 24 de junho, bem próxima
do solstício de verão no hemisfério Norte que ocorre em 21 de junho - o Sol
alinhado com Câncer. Assim também se daria cooptação com João, o
Evangelista em 27 de dezembro, cuja data praticamente está conexa ao Natal
e ao solstício de inverno no hemisfério Norte que se dá em 21 de dezembro – o
Sol alinhado com Capricórnio. Ao Evangelista seria titulado o desígnio daquele
que pregou a Luz (a doutrina de Cristo).

São João e a Maçonaria – Antes das considerações propriamente ditas,


fica aqui o alerta sobre alguns pontos no tema que não podem ser confundidos:
a) Na matéria há que se vislumbrar que o patrono, ou patronos (São
João) se referem à Maçonaria em geral, e não dela apenas a um rito ou
costume em particular.
b) Como ritos maçônicos, alguns deles possuem o seu próprio patrono,
todavia estes nunca se confundem com os padroeiros gerais da Maçonaria.
c) Ainda existem os protetores regionais da Maçonaria. É o caso, por
exemplo, da inglesa e São Jorge (padroeiro da Inglaterra – 23 de abril).
Entretanto este não pode ser confundido com as comemorações maçônicas
solsticiais relativas a João, o Baptista e João Evangelista.
e) A Maçonaria é oriunda dos canteiros medievais e traz consigo uma
forte influência da Igreja. Como atividade profissional à época ela comemora
até os dias atuais, ainda que de modo especulativo, as festas solsticiais.

Primitivamente (com aproximadamente 800 anos de história) a


Maçonaria era operativa (profissional) e não possuía ritos nem graus.
Constituída de maçons livres (nas Lojas livres), muitos desses grupos
profissionais, além dos santos relativos às datas solsticiais, também não raras
vezes rendiam particularmente preito a outro santo protetor, inclusive a uma
santa.
Conforme costume haurido dessas organizações profissionais do
passado - Associações Monásticas, Confrarias Leigas e da antiga
Francomaçonaria (base da Maçonaria) – e com inegável tempero da Igreja, a
prática comemorativa solsticial alcançaria posteriormente a Maçonaria
Especulativa e por extensão inclusive a Moderna Maçonaria (primeiro sistema
obediencial fundado 1.717).
Isso se explica porque mesmo não sendo a Maçonaria considerada
como uma religião, ela foi historicamente criada à sombra de Igreja Católica
medieval e dela arregimentou assim uma forte influência que dava ao trabalho,
bem como aos seus membros e respectiva profissão, um amoedo religioso.
Em resumo e para aplicação de uma salutar geometria a Maçonaria
precisa de uma vez por todas ser despida de ilações fantasistas e equivocada
que ainda forçam subsistência como aquelas que a tratam como fosse ela uma
Instituição milenar. Ora, essas concepções anacrônicas não cabem mais em
pleno século XXI.
Autenticamente a Maçonaria veio a nascer à sombra da Igreja nos
Canteiros[3] da Idade Média, portanto não seria novidade nenhuma que sob
essa influência a Maçonaria, construtora de igrejas e catedrais, viesse também
possuir um patrono religioso.
Assim, essas associações profissionais geralmente se agrupavam em
reunião nos solstícios de verão e de inverno, cujas reuniões, além de
comemorativas ao padroeiro solsticial, também alcançavam a finalidade de
rever os planos das obras, discutir novos contratos, avaliar as atividades
econômicas e profissionais e promover ingresso de novos artífices na “Arte de
Construir” (iniciar).
Essa relação do Ofício com o verão e com o inverno implicava antes de
tudo num aspecto prático e literal da construção, já que no rigor do inverno
setentrional pouco se produzia na arte de cortar a pedra calcária, bem como a
de com ela se edificar. Efetivamente os trabalhos praticamente permaneciam
paralisados na estação hibernal.
Com o final do inverno e o início da primavera – o rigor do clima mais
ameno - os trabalhos no canteiro (hoje as Lojas especulativas) retomavam as
suas atividades com força e vigor. Assim os labores do ofício iriam atingir o seu
auge no verão (dias longos e noites curtas), voltariam a declinar no outono e
seriam novamente paralisados no inverno (dias curtos e noites longas).
Vale então a pena mais uma vez salientar que todas as referências feitas
às estações do ano (ciclos naturais) nesse arrazoado, se relacionam
indistintamente àquelas que ocorrem no hemisfério Norte do nosso Planeta
(berço da Maçonaria).
Como as datas solsticiais sucedem nos dias 21 de junho e 21 de
dezembro, isto é, muito próximas das datas religiosas comemorativas a João, o
Baptista em 24 de junho e João, o Evangelista em 27 de dezembro, as
mesmas acabariam por se confundir. Isso pode ser perfeitamente observado
tomando-se por base a fundação em 1.717 da Primeira Grande Loja em
Londres em 24 de junho, dia de São João Baptista (princípio da Moderna
Maçonaria[4] – primeiro sistema obediencial). Do mesmo modo também se
pode observar nos dias atuais onde a maioria das Obediências tem ainda o
costume de dar posse aos Grão-Mestres e Veneráveis das Lojas no dia
comemorativo a São João no mês de junho.
Nesse sentido a Moderna Maçonaria como fiel guardiã da tradição usos
e costumes da Ordem mantém a alegoria dos solstícios nos seus arcabouços
doutrinários, costume esse adquirido desde os primeiros grupos profissionais,
cujas representações simbólicas, independente dos contemporâneos Ritos e
Trabalhos praticados, se apresentam nos Templos maçônicos.
É o caso do conjunto simbólico composto pelo o Círculo e as Paralelas
Tangenciais Verticais, cuja alegoria sugere que o Sol (círculo) não transpõe os
trópicos (Câncer e Capricórnio - as paralelas representam João Baptista e
Evangelista).
Ainda outros símbolos inerentes: o das Colunas Solsticiais B e J que
simbolizam, por exemplo, no Rito Escocês, a passagem dos referidos Trópicos
e entre as quais o Equador do Templo; também no Rito Escocês as
constelações do Zodíaco que marcam simbolicamente a eclíptica do Sol e as
estações do ano, por conseguinte os solstícios e os equinócios; ainda no
arcabouço doutrinário maçônico de vertente francesa a Marcha do Mestre
exprime a curso aparente do Sol de um para outro hemisfério, etc.
Vale a pena também mencionar que no puro e verdadeiro Rito Escocês o
Grau de Aprendiz é aberto com a leitura do Livro da Lei em São João, cap. 1,
vs. 1-5 – implica na prevalência da Luz sobre as trevas como mote doutrinário
do Grau.
No tocante às tradições, usos e costumes da Maçonaria, as Iniciações
operativas (embora muito diferente das que hoje conhecemos) ocorriam nas
reuniões semestrais (solsticiais). Naquela oportunidade em muitas associações
profissionais o “Aprendiz Admitido” pousava a mão direita sobre o Evangelho
de São João para prestar a sua obrigação. Esse costume era assim praticado
porque as datas iniciáticas coincidiam com aquelas relativas aos santos
protetores – a Igreja ditava as regras.
Como à época não existia ainda a imprensa[5] e a Bíblia era propriedade
apenas da Igreja, cujo texto era compilado à mão em papel grosseiro (de
gramatura alta) e resultava em um volume da Bíblia imenso, pesado e
incomodo para o transporte e manuseio. Devido a esse particular o Iniciando
prestava simbolicamente a sua obrigação pousando a mão direita apenas
sobre o Evangelho de São João, que era geralmente reduzido e adequado para
a ocasião à sua primeira página.

Assim se explica o hábito, segundo a maioria dos Ritos, do notório uso


do título distintivo - as Lojas de São João, cujos trabalhos são abertos “À Gloria
do G\A\D\U\ e em Honra a São João nosso Padroeiro”, ou ainda: “Uma Loja de
São João, Justa, Perfeita e Regular”.
Obviamente como a questão envolve os dois solstícios, englobam-se
como patronos também os dois São João, o Batista e o Evangelista. Até
porque como a Maçonaria é uma Obra de Luz, nada mais oportuno do que
celebrá-la simbolicamente (sem conotação religiosa) através daquele que
previu a Luz e também daquele que propagou a Luz.
Nesse sentido, em se tratando dos padroeiros maçônicos cujo nome é
João, muitos equivocadamente ainda teimam em propagar o nome de outros S.
João, a exemplo do Esmoler (também conhecido como Hospitalário ou de
Jerusalém) que não tem qualquer relação com a Maçonaria Operativa. Pior
ainda foi a invenção do tal “da S. João da Escócia” que nem mesmo existe no
hagiológio da Igreja.
Alguns equivocadamente ainda associam um santo padroeiro inerente a
um Rito em particular e querem generalizá-lo como patrono de toda a
Maçonaria. Daí a razão dessa propagação desmedida que tem causado muitas
dúvidas para o entendimento de muitos outros.
Aliás, é oportuno salientar que a tal “generalização” tem sido uma
verdadeira erva daninha na prática e interpretação maçônica, geralmente
adubada pelos incautos que ao se referirem a um Rito específico o imaginam
como se fosse ele o único representante de toda a Maçonaria.
Inquestionavelmente esse despautério não condiz com a Verdade, já que os
Ritos e os Trabalhos do Craft são partes integrantes da Maçonaria. Embora a
sua espinha dorsal seja única, cada Rito ou Trabalho (costume) possui a sua
particularidade geralmente oriunda da sua doutrina, da sua cultura e da sua
vertente maçônica (inglesa ou francesa). A Maçonaria Simbólica Universal é
única, porém composta por vários Ritos e Trabalhos do Craft.
A chave da compreensão está no conhecimento e pratica da história
autêntica da Sublime Instituição - acadêmica por excelência. Antes de se
mencionar opiniões de achistas e crédulos em escritos comprometidos (água
contaminada), quando não repletos de opiniões ocultistas hauridas de crenças
pessoais, melhor seria primeiro atender a virtude da prudência na observação
dos fatos.
Retomando o assunto inerente ao mote desse arrazoado e por tudo o
que até aqui fora sobre ele foi mencionado é que a Maçonaria desde o seu
período operativo vem se servindo da relação Homem-Natureza, cujo palco
alegórico de outrora era o canteiro da obra. Atualmente essa analogia está na
topografia e na decoração dos templos maçônicos, bem como nas doutrinas
específicas dos Ritos e Trabalhos da Moderna Maçonaria Simbólica, sejam
eles de conceito deísta ou teísta.
Concluindo: por razões óbvias, despido de qualquer relação com uma
religião ou dogma específico, o padroado da Maçonaria Universal (não de um
rito específico), considerada a característica especulativa da Instituição como
“Obra de Luz” sugerem como patronos os dois personagens ligados
simbolicamente à Luz - João, o Baptista e João, o Evangelista.

PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com

Morretes, Paraná, AGOSTO/2.014.

BIBLIOGRAFIA AUXILIAR.
SPOLADORE, Hercule – Santos Padroeiros da Maçonaria, Diário JB
NEWS nº 1.412, Florianópolis, SC, 2.014.
CASTELLANI, José – Artigo intitulado Porque São João, “Nosso
Padroeiro”, www.lojasmaconicas.com.br, São Paulo, Capital, 2.001.
CASTELLANI, José – Maçonaria e Astrologia – Editora Landmark – São
Paulo, 2.000.
CASTELLANI, José – As Origens Históricas da Mística Maçônica –
Editora Landmark – São Paulo, 2004.
CARVALHO, Assis – Símbolos Maçônicos e Suas Origens – A Trolha –
Londrina, 1.990.
CARR, Harry – Freemasons at Work – Lewis Masonic, 1.992.
HINBERG, Richard – Celebrando os Solstícios – Madras Editora Ltda. –
São Paulo, 2.002.
CHARLIER, René Joseph – Pequeno Ensaio de Simbólica Maçônica –
Edições Futuro – São Paulo, 1.964.
JUK, Pedro – Abóbada do Templo Maçônico - R∴E∴A∴A∴ - Coletânea 6,
pg. 97 – Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2.003.
JUK, Pedro – E o Topo da Coluna do Norte, Conclusões? – INBRAPEM,
Volume 4, - Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2.007.
JUK, Pedro – Alegoria das Colunas Zodiacais – REAA, Anais do VII
Simpósio, Academia Campinense Maçônica de Letras, Campinas, SP, 2.013.

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