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Mossad - Michael Bar-Zohar e Nissim Mishal
Mossad - Michael Bar-Zohar e Nissim Mishal
MICHAEL BAR-ZOHAR
A Amy Korman,
pelos conselhos,
pela inspiração,
e por ser o meu pilar de apoio.
NISSIM MISHAL
“Este livro conta o que devia ser sabido e não é — que a força oculta de Israel é tão
formidável quanto sua reconhecida força física.”
O erro
Calle Garibaldi
Contagem decrescente
Planejamento da fuga
Chegada do avião
Dia 19 de maio.
Nessa tarde, o avião da El Al aterrissou em Buenos Aires. Havia
funcionários do protocolo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, judeus
locais efusivos e crianças com pequenas bandeiras azuis e brancas de ambos
os lados do tapete vermelho estendido no corredor de chegadas.
Poucas horas depois, Isser conversou com o piloto, Zvi Tohar, e um
executivo da El Al e marcou a hora de decolagem: meia-noite de 20 de
maio.
Isser descreveu os seus planos. Após uma curta discussão,
concordou-se levar a cabo o plano A: Eichmann seria levado a bordo como
membro doente da equipe. O seu duplo, Yehuda Carmel, já tinha entregado
à equipe do Mossad o seu uniforme e documentos em nome de Ze’ev
Zichroni, navegador da El Al. Shalom Danny, o mestre falsificador da
equipe, manipulou os documentos, para que eles se ajustassem como uma
luva a Eichmann. Carmel recebeu documentos novos e foi informado de
que em breve sairia da Argentina.
Nessa noite, houve uma atividade frenética na “Base”. Após uma
semana de espera tensa, os agentes do Mossad voltaram a ganhar vida.
Eichmann foi drogado e adormeceu. Os agentes desfizeram
meticulosamente a casa. Os vários instrumentos e dispositivos foram todos
desmontados, os pertences pessoais embalados e a casa completamente
restaurada ao seu estado anterior. A altas horas da madrugada, nada restava
que pudesse dar a menor impressão do papel que a vivenda tinha
desempenhado nos oito dias anteriores. Em todas as outras casas se fizeram
ações similares.
Dia 20 de maio.
Isser saiu pela última vez do hotel, chamou um táxi para a estação
ferroviária e guardou a bagagem. Depois, retomou a rotina dos cafés dos
dias precedentes. O pessoal da El Al foi o primeiro a contactá-lo e, juntos,
prepararam um horário pormenorizado.
Ao meio-dia, começou a derradeira fase. Isser pagou a conta no
último café que visitou, foi buscar a bagagem e rumou ao aeroporto, para
supervisionar a operação de fuga. Caminhou pelo terminal, à procura do
melhor lugar para instalar o seu posto de comando. Passeou-se pelas zonas
de lojas e compra de bilhetes e finalmente descobriu o bar dos empregados
do aeroporto. Na rua, fazia um frio de rachar e o bar estava cheio de
funcionários de atendimento ao público, pessoal de terra e pessoal de voo,
todos em busca de uma bebida quente ou uma refeição ligeira. Isser ficou
encantado. Era o lugar ideal. Ninguém repararia nele nem daria conta das
consultas apressadas e sussurradas com os seus homens. Isser esperou até
uma cadeira ficar vazia e foi dela que começou a supervisionar os últimos
movimentos em solo argentino.
“Olá! El Al!”
Dia 22 de maio.
O avião aterrissou no aeroporto de Lod nas primeiras horas da
manhã.
Às 9h50, Isser foi diretamente para Jerusalém. Yitzhak Navon,
secretário de Ben-Gurion, conduziu-o imediatamente ao gabinete do
primeiro-ministro.
Ben-Gurion ficou surpreso. “Quando chegou?”
“Há duas horas. Temos Eichmann.”
“Onde está ele?”, perguntou o Velho Homem.
“Aqui, em Israel. Adolf Eichmann está em Israel, e, se concordar,
nos o levaremos à polícia imediatamente.”
Ben-Gurion manteve-se em silêncio. Não explodiu em pranto, como
alguns jornalistas afirmaram mais tarde, nem desatou a rir triunfalmente,
como outros escreveram. Não abraçou Isser, nem mostrou emoção alguma.
“Tem certeza de que é Eichmann?”, perguntou. “Como o
identificaram?”
Isser respondeu que sim, surpreso. Descreveu a Ben-Gurion todos os
critérios pelos quais Eichmann fora identificado, e sublinhou que o próprio
prisioneiro tinha admitido ser Adolf Eichmann. Mas o Velho Homem não
ficou inteiramente satisfeito. Não basta, disse. Antes de poder autorizar
novos passos, queria que uma ou duas pessoas que tivessem conhecido
Eichmann o visitassem e identificassem formalmente. Precisava da certezas
absolutas, e não diria uma palavra sobre aquilo ao governo até que a tivesse.
Isser telefonou para seu escritório e ordenou ao pessoal que
descobrisse duas pessoas que pudessem identificar pessoalmente Eichmann.
Logo localizaram dois israelenses que tinham conhecido Eichmann. Foram
levados à cela onde estava o prisioneiro, falaram com ele e identificaram-no
formalmente.
Ao meio-dia, um enviado israelense irrompeu num restaurante de
Frankfurt e foi direto a uma das mesas, onde um homem de cabelo grisalho,
visivelmente nervoso e tenso, estava sentado sozinho. “Herr Bauer”, disse o
israelense, “temos Adolf Eichmann. Nossos homens o capturaram e
levaram para Israel. A qualquer momento haverá uma declaração do
primeiro-ministro no Knesset.”
Bauer, pálido e profundamente emocionado, pôs-se de pé. Tinha as
mãos trêmulas. O homem que dera à Mossad o endereço de Eichmann na
Argentina, o homem sem o qual, muito provavelmente, Eichmann nunca
seria descoberto, não conseguiu se conter. Explodiu em choro, agarrou o
ombro do israelense, abraçou-o e beijou-o.
16h — Na sessão plenária do Knesset, Ben-Gurion subiu ao
palanque do orador. Leu uma declaração curta com voz firme e clara:
“Tenho a informar ao Knesset que os serviços de segurança de Israel
acabam de pôr a mão num dos maiores criminosos nazistas de todos os
tempos, Adolf Eichmann, responsável, com outros líderes nazistas, pela
chamada “Solução Final”, ou seja, pelo extermínio de seis milhões de
judeus europeus. Eichmann está presentemente detido aqui, em Israel. Será
em breve levado a julgamento, em Israel, de acordo com a lei relativa aos
crimes nazistas e seus colaboradores.”
As palavras de Ben-Gurion foram recebidas com choque e
admiração, que se transformaram num aplauso enorme e espontâneo. O
espanto e a admiração espalharam-se pelo Knesset e por todo o mundo. No
final da sessão do Knesset, um homem levantou-se de um lugar atrás da
bancada do Governo. Poucos lhe conheciam o rosto ou o nome. Era Isser
Harel.
O julgamento de Adolf Eichmann começou a 11 de abril de 1961,
em Jerusalém. A acusação apresentou 110 sobreviventes do Holocausto
como testemunhas. Algumas nunca tinham falado do seu passado, e
contaram pela primeira vez as suas histórias de horror. Foi como se todo o
Estado de Israel se colasse ao rádio e seguisse com grande dor e terror a
história pavorosa que emergia dos testemunhos. E como se todo o povo
judeu se identificasse com o procurador, Gideon Hausner, que confrontou o
criminoso nazista como representante dos seus seis milhões de vítimas.
A 15 de dezembro de 1961, Eichmann foi condenado à morte. O seu
recurso foi rejeitado pelo Supremo Tribunal e o perdão recusado pelo
presidente Yitzhak Ben-Zvi. A 31 de maio de 1962, Adolf Eichmann foi
informado de que o fim era iminente. Na cela, o condenado escreveu
algumas cartas à família e bebeu meia garrafa de vinho tinto Carmel. Por
volta da meia-noite, o reverendo Hull, pastor não-conformista, entrou na
cela de Eichmann, como tinha feito noutras ocasiões. “Hoje, não vou
discutir a Bíblia consigo”, disse-lhe Eichmann. “Não tenho tempo a perder.”
O pastor saiu, mas depois entrou um visitante inesperado na cela de
Eichmann. Rafi Eitan.
O sequestror parou de frente para o condenado vestido com um
uniforme castanho-claro. Eitan não disse uma palavra. Eichmann olhou para
ele e disse em alemão: “Espero que a tua vez chegue depois da minha.”
Os guardas levaram Eichmann para uma pequena divisão convertida
em sala de execução. O prisioneiro foi posicionado sobre um alçapão e
passaram-lhe um laço pelo pescoço. Um pequeno grupo de oficiais,
jornalistas e um médico, todos com permissão para presenciar a execução,
ouviu suas últimas palavras, ditas em conformidade com a tradição
nazista: “Voltaremos a nos encontrar [...]. Vivi acreditando em Deus [...].
Obedeci às leis da guerra e fui leal à minha bandeira [...].”
Dois policiais atrás de um biombo apertaram simultaneamente dois
botões, dos quais apenas um acionava o alçapão. Nenhum sabia qual era o
botão de controle, para que o nome do carrasco de Eichmann se mantivesse
desconhecido. Eitan não viu a execução, mas ouviu o baque do alçapão.
O corpo de Eichmann foi incinerado num forno de alumínio no pátio
da prisão. “Viu-se fumaça negra subindo para o céu”, escreveu um
jornalista americano. “Ninguém disse uma palavra, mas foi impossível não
recordar os crematórios de Auschwitz...”
Pouco antes do amanhecer do dia 1º de junho de 1962, um navio
rápido da guarda costeira de Israel atravessou a fronteira das águas
territoriais israelenses. O motor foi desligado e enquanto o barco andava
silenciosamente à deriva, um policial jogou as cinzas de Eichmann no
Mediterrâneo.
O vento e as ondas dispersaram os restos do homem que, 20 anos
antes, declarara alegremente: “Saltarei à gargalhada para o túmulo, feliz por
ter exterminado seis milhões de judeus.”
No leito da mãe moribunda, Zvi Malkin pensou na família
massacrada, na irmã Fruma e nos filhos pequenos dela, mortos no
Holocausto. Inclinou-se sobre a mãe e murmurou: “Mãe, peguei Eichmann.
Eruma foi vingada.”
“Eu sabia que você não esqueceria sua irmã”, sussurrou a
moribunda.
7. ONDE ESTÁ YOSSELE?
Caro Herberts,
Com a ajuda de Deus e de alguns dos nossos compatriotas, cheguei
em segurança ao Chile. Descanso agora, depois de uma viagem cansativa,
e estou certo de que também você chegará em breve a casa. Entretanto,
descobri que fomos seguidos por duas pessoas, um homem e uma mulher.
Temos de ter muito cuidado e tomar todas as precauções. Como eu sempre
disse, você corre um grande risco por trabalhar e viajar com seu nome
verdadeiro.
Pode vir a ser desastroso para nós, e também levar à descoberta de
minha verdadeira identidade.
Espero, portanto, que as complicações no Uruguai tenham ensinado
a você uma lição para o futuro, e que passe a ser mais prudente. Se reparar
em algo suspeito dentro ou em redor de sua casa, lembre-se do conselho
que dei — saia e se esconda com os homens de Von Leeds [líder nazista que
tinha fugido para o Cairo com um grupo de exilados alemães] durante um
ou dois anos, até que haja uma anistia definitiva.
Quando receber esta carta, por favor responda para o endereço que
conhece, em Santiago, no Chile.
Teu, Anton K.
MICHAEL BAR-ZOHAR
NISSIM MISHAL
BIBLIOGRAFIA E FONTES
FONTES GERAIS
Livros em hebraico
Livros em inglês
Livros em francês
ENTREVISTAS
Isser Harel, Yaa’cov Caroz, Izzi Dorot, Yitzhak Shamir, Amos
Manor, Meir Amit, Anton Künzle, Menachem Barabash, Victor Grayevski,
Yitzhak Rabin, Ezer Weizman, Haim Israeli, Dr. Pinhas (Siko) Zusman, Uri
Lubrani, Wernher von Braun, Rafi Eitan, Raphi Medan, Yitzhak Sarid, Eli
Landau, Hanoch Saar, Avraham (Zabu) Ben-Zeev, Emanuel Allon, Amnon
Gonen, família de Elie Cohen, família de Alexander Israel, Ze’ev Avni, e
muitas outras pessoas que preferiram manter o anonimato.
EXTRATEXTO