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Cabala, Ciência

eo
Significado da Vida

Dr. Michael Laitman, PhD


Tradução: Chaim Ratz

Revisão: Kate Weibel

Editor: Claire Gerus

Desenhos: Avi Ventura

Layout: Baruch Khovov

Capa: Richard Aquan

Impressão e pós-produção: Uri Laitman


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Cabala, Ciência e o Significado da Vida

Copyright © 2006 by MICHAEL LAITMAN


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1057 Steeles Avenue West, Suite 532, Toronto, ON, M2R 3X1, Canadá
Impresso no Canadá

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de qualquer maneira sem a permissão por escrito do editor,
exceto em caso de breves menções dentro de
artigos de crítica ou resumo.
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ISBN: 0-9738268-9-4

PIMEIRA EDIÇÃO: OUTUBRO DE 2006


Cabala, Ciência
e o Significado da Vida
Prefácio .......................................................................................................................................
Parte I: A Cabala Encontra a Física Quântica ...............................................................................
Participantes da Conferência em São Francisco.................................................................
Apresentação da Cabala ....................................................................................................
A Natureza da Matéria ......................................................................................................
Força Doadora e Força Receptora .....................................................................................
Entre Cabala e Ciência ......................................................................................................
Teoria Quântica ................................................................................................................
A Credibilidade da Teoria Quântica ..................................................................................
Parte II: A Essência da Sabedoria da Cabala ................................................................................
Lutando pelo Equilíbrio ....................................................................................................
A Estrutura da Realidade ..................................................................................................
Parte III: Percepção da Realidade ................................................................................................
Construindo o Kli (Vaso/Ferramenta) Espiritual................................................................
Padrões de Percepção........................................................................................................
Recobrando a Consciência ................................................................................................
Descrevendo a Realidade ..................................................................................................
Parte IV: Entendendo o Gene Espiritual .......................................................................................
A Reshimo ........................................................................................................................
Revelado e Oculto ............................................................................................................
Leis da Natureza ...............................................................................................................
Cabala — a Ciência Moderna ...........................................................................................
Apêndices.....................................................................................................................................
Glossário ..........................................................................................................................
Cabalistas Escrevem sobre a Cabala..................................................................................
Destacados Eruditors Escrevem sobre a Cabala.................................................................
Prefácio

A essência da natureza humana é o seu perpétuo e evolutivo desejo por prazer. Para concretizar
este desejo, nos sentimos compelidos a descobrir, inventar e melhorar a nossa realidade. A
progressiva intensificação do desejo de prazer foi a força por trás da evolução humana ao longo da
nossa história.
O desejo pelo prazer evolui através de várias etapas. Na primeira fase, manifesta-se pela
necessidade de subsistir, como alimentação, reprodução e família. Na segunda fase aparece o
desejo por riqueza, e na terceira, há um desejo de honra, poder, e fama. O desenvolvimento destas
três fases levou a grandes mudanças na sociedade humana: ela se tornou diversificada, uma
sociedade de muitas classes.
A quarta etapa representa o nosso anseio de aprendizagem, conhecimento e sabedoria. Isso se
manifesta no desenvolvimento da ciência, dos sistemas educativos, e da cultura. Esta etapa
associou-se à Renascença e a Revolução Científica, e ainda é predominante hoje. O desejo de
conhecimento e erudição exige que compreendamos o nosso entorno.
Para compreender o estado atual da humanidade e suas perspectivas, temos que construir uma
ponte ligando várias divisas na evolução da ciência. Estas divisas afetaram significativamente
nossa abordagem da vida.
A Revolução Científica que ocorreu durante o século XVI trouxe mudanças radicais em nossos
padrões de pensamento. Naquele tempo, os pesquisadores acreditavam que as teorias deviam ser
testadas através de experiências e observações. Além disso, advertiram-nos a evitar explicações
mitológicas e religiosas. O pensamento científico centrava-se na análise da realidade, e a busca por
respostas científicas para antigas questões. Até então, esses temas eram atribuídos a um poder
divino.
Em seu livro "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural” (1687), Isaac Newton (1642-1727)
propôs uma teoria da mecânica que nos permitiu calcular a mudança no movimento de qualquer
corpo quando influenciado por uma determinada força. O sucesso da teoria de Newton apresentava
uma visão nova e completa do mundo. O ponto de vista determinístico de Newton declarava que,
em qualquer caso, independente de sua natureza, certa lei natural irá manifestar-se. A presença do
Divino era de pouca importância, porque a trajetória de todos os movimentos é fixa, e não havia
intervenção do Divino.
A abordagem determinística foi bem descrita pelo astrônomo Pierre Simon Laplace (1749-1827)
quando ele tentou explicar a Napoleão como o nosso sistema solar foi formado. Quando Napoleão
lhe perguntou sobre o lugar de Deus no processo, Laplace respondeu: "Je n'avais pas besoin de
cette hypothèse-la" ("Eu não vejo a necessidade desta hipótese").
Assim, a ciência não deixou margem para a existência de outros aspectos além de seus próprios
limites, incluindo as realidades que estão ocultas a partir de nossa percepção. Todos acreditavam
que a humanidade tinha descoberto as medidas necessárias para conhecer o mundo como ele
realmente era.
No final do século XIX, parecia que a física clássica tinha fornecido aos pesquisadores um
conjunto completo de leis para todos os fenômenos naturais. Muitos pesquisadores defenderam
que essas leis os ajudariam a explicar os poucos fenômenos que permaneciam mistérios. Visto que
a física sempre foi considerada "a mãe de todas as ciências", e a vanguarda da tecnologia e da
experimentação, suas descobertas também serviram como base para a investigação de outras
ciências.
A era da física moderna começou no início do século XX, com as descobertas revolucionárias de
Albert Einstein (1879-1955). A Teoria da Relatividade de Einstein gerou uma mudança
fundamental na atitude frente a tudo o que se conhecia previamente sobre tempo, espaço, massa,
movimento e gravidade. A teoria de Einstein unificava o tempo e o espaço em uma única entidade
- tempo-espaço - revogando a premissa de que o tempo e o espaço eram absolutos.
Na década de 1930, surgiu outra teoria: a Mecânica Quântica, também conhecida como Teoria
Quântica. Isso impulsionou uma revolução na física onde todas as medições rendiam apenas
resultados quantitativos aproximados, probabilidades que os cálculos da Teoria Quântica iriam
interpretar.
A Teoria Quântica foi capaz de descrever diversos fenômenos que não podiam ser explicados por
teorias anteriores. O mais famoso destes foi a dualidade onda-partícula, que mostra que objetos
microscópicos, tais como elétrons, se comportam como ondas em algumas condições, e como
partículas em outras.
Um conceito fundamental da Física Quântica é o Princípio da Incerteza, que sustenta que o
observador afeta o evento observado. Daí, a pergunta chave é: "O que as medições realmente
medem?". Este princípio implica que o conceito de um "processo objetivo" torna-se irrelevante.
Além dos resultados medidos, uma "realidade objetiva" simplesmente não pode existir.
As descobertas da Física Quântica mudaram drasticamente a abordagem dos cientistas. O conceito
determinista, que dizia que a física revelou fatos objetivos da natureza e descrevia suas existências
absolutas, foi descartado.
Ele foi substituído pelo entendimento de que a física não conhece a verdadeira essência da
natureza. A física só pode auxiliar na construção de paradigmas, padrões e fórmulas que calculam
resultados de um experimento dentro de certo limite de probabilidade.
A ciência contemporânea faz a distinção entre a "verdadeira realidade", que existe independente
do observador, e a realidade que o observador consegue descrever. Hoje, os pesquisadores
compreendem que o que havia sido definido como "verdade absoluta" foi destinado a abrir
caminho a novas conclusões e experimentos. Estes, por sua vez, renderão novas fórmulas e
experimentos.
Agora fica evidente que a ciência não apresenta a verdade absoluta, mas sim uma imagem do
mundo como demonstrado através de experimentos, percepções e paradigmas atuais. Além disso,
quanto maior o nosso conhecimento do mundo, maiores as incertezas e contradições que
enfrentamos.
O reconhecimento do que foi exposto acima tem reduzido significativamente a predominância das
ciências naturais em geral e da física em particular. Como alternativa, a ciência foi colocada como
uma ferramenta que descobre uma parte limitada da realidade, ao invés de uma verdade absoluta.
A verdadeira realidade está escondida de nós, não podemos descobri-la por meio dos
conhecimentos científicos.
Nos últimos anos, muitos cientistas têm se interessado por várias religiões, teorias da nova era e
misticismo. Eles estão tentando encontrar novos instrumentos e novas maneiras de compreender as
partes ocultas da realidade, inatingíveis pelo uso de métodos convencionais de investigação.
Esta difícil situação científica tem culminado em uma crise desde a virada do século, desafiando a
nossa capacidade de expor a imagem completa do mundo em que vivemos, e de compreender as
regras que regem tanto a natureza como a humanidade.
Uma vez que a humanidade tenha esgotado seu desejo de conhecimento e erudição, e que a
realidade visível tenha sido pesquisada, um novo desejo vem à tona: conhecer os conceitos mais
elevados e a parte oculta da realidade. Esta é a fase da evolução dos desejos que a humanidade
alcançou hoje.
Este é o pano de fundo para o surgimento da sabedoria da Cabala, que oferece uma nova
perspectiva à humanidade, uma visão científica do mundo que os Cabalistas descobriram há
milhares de anos. Nosso desejo de conhecer toda realidade mostra que a humanidade está pronta
para ser exposta à Cabala.
A percepção Cabalística do mundo inclui premissas que outras religiões aceitam sem questionar,
juntamente com a abordagem científica. A Cabala desenvolve ferramentas dentro de nós que nos
levam a uma realidade abrangente e fornece os meios para investigá-la.
Cabala, Ciência e o Significado da Vida apresenta os fundamentos da ciência que exploram os
aspectos da realidade que estão ocultos dos cientistas. Quando descobrirmos essas partes ocultas, o
conhecimento do mundo em que vivemos será completo. Ao unirmos ambos, o oculto e o
revelado, nos prepararemos para a investigação científica precisa e para a descoberta das fórmulas
genuínas.
Ao revelarmos o oculto, a nossa visão do mundo se tornará completa, livre dos limites da
percepção relativa, e seremos capazes de revelar a existência de qualquer parte da
realidade, além do tempo, espaço e movimento. A Sabedoria da Cabala confere tudo o que foi
descrito acima a todas as pessoas que realmente a procuram.
Este livro é baseado em palestras dadas pelo autor e compiladas por seus alunos.
A Cabala Encontra a Física Quântica
Uma conferencia científica única aconteceu em São Francisco, Califórnia, em março de 2005,
apresentando o Cabalista e PhD Michael Laitman, e os físicos quânticos William Tiller, PhD, Dr.
Jeffrey Satinover, e Fred Alan Wolf, PhD. Os três cientistas participaram do documentário de
grande sucesso “What the Bleep Do We Know?” (Quem somos nós?). O tema da conferência foi
“A Física Quântica encontra a Cabala”.
Essa fascinante conferência consistiu de discussões fechadas e apresentações públicas. Seguindo
as introduções dos outros participantes, o Dr. Laitman deu uma visão geral da Cabala, explicando
a estrutura da realidade, e como a substância da Criação – o desejo de receber prazer – se
desenvolve. Levou apenas uma sessão para se criar uma linguagem comum entre os cientistas.
Ainda à noite, os cientistas apresentaram suas áreas específicas de especialização em uma
apresentação pública para palestrantes e alunos da Universidade da Califórnia (Berkeley) e da
Universidade de Stanford.
Na manhã seguinte, eles voltaram à mesa de discussão. Entre os debates, eles trocaram suas
impressões sobre a conferência e compartilharam histórias de suas próprias buscas.
Algumas semanas mais tarde, o Dr. Satinover participou de um congresso em Israel cujo tema era
“A Sabedoria da Cabala”. Durante o congresso, o Dr. Laitman e o Dr. Satinover discutiram
diversos tópicos, como o livre arbítrio, a crise global, a unidade familiar no século XXI, a
intensificação da busca pela espiritualidade, e o futuro da raça humana. O Dr. Satinover fez uma
apresentação pública sobre a física quântica e suas implicações.
As explanações sobre a Cabala nesta parte do livro são baseadas nessas reuniões.
O Editor
Participantes da Conferência de São Francisco
Professor William Tiller
Prof. William Tiller, PhD em Física, Universidade de Toronto, anteriormente foi professor de
Engenharia e Ciência de Materiais na Universidade de Stanford. Publicou mais de 250 artigos
científicos, incluindo muitos livros. Alguns de seus primeiros livros foram: Some Science
Adventures with Real Magic, Conscious Acts of Creation: The Emergence of A New Physics,
Science and Human Transformation: Subtle Energies, Intentionality e Consciousnes.

Fred Alan Wolf, PhD


Fred Alan Wolf, PhD em Física Teórica, pela UCLA, é palestrante e físico quântico, que esteve
em contato com físicos renomados como David Bohm (1917-1992), estudou com Richard
Feynman (1918-1988), um dos físicos mais importantes do Século XX.
O Dr. Wolf é também autor de onze livros traduzidos em vários idiomas. Alguns de seus livros
são: Taking the Quantum Leap: The New Physic for Scientists, The Yoga of Time Travel: How the
Mind Can Defeat Time, Matter into Feeling: A New Alchemy of Science and Spirit e Mind into
Matter.

Jeffrey Satinover, MD, MSc


Dr.Jeffrey Satinover é graduado no M.I.T (SB), Harward (EdM), Universidade do Texas (MD), e
Yale (MS). Ele completou o treinamento em psicologia analítica no Instituto C.G. Jung de
Zurique. Foi integrante da “Fellow in Psychiatry” and “Child Psychiatry's Seymor Lustman
Residency Research Prize” (segundo lugar). Em 1975 ele foi o “Conferencista William James” em
Harward. Até recentemente, ele era Professor Associado no Departamento de Física da
Universidade de Yale. Atualmente, o Dr. Satinover está completando seu doutorado em Física
Quântica na Universidade de Nice, na França, e ensina lei constitucional na Universidade de
Princeton.
O Dr. Satinover escreveu cinco livros de sucesso que foram traduzidos em nove idiomas, e
venderam milhares de cópias. Seu livro mais famoso, The Quantum Brain, criou novos padrões
em relação à literatura de ciência popular e foi aclamado pela critica. Esse livro toca em vários
assuntos: matemática, ciência, computadores, física quântica e inteligência artificial. Outros dois
livros do Dr. Satinover se tornaram best-sellers: Cracking the Bible Code; e Homosexualilty and
the Politics Truth.

Michael Laitman, PhD


O Dr. Michael Laitman tem PhD em Filosofia pela Academia Russa de Ciência e Mestrado em
biocibernética pelo Instituto Politécnico de São Petersburgo. Ele foi discípulo e assistente pessoal
do Rabino Baruch Ashlag (1907-1991) por 12 anos. Durante esses anos, o Dr. Laitman aprendeu o
Método Sulam, que são os ensinamentos que foram passados ao seu mentor pelo pai dele, o
Rabino Yehuda Ashlag (1884-1954), conhecido por Baal HaSulam e por seu comentário Sulam
sobre O Zohar.
O Dr. Laitman já escreveu trinta livros sobre Cabala, os quais foram traduzidos em dez idiomas.
Suas aulas diárias são transmitidas ao vivo e gravadas em TV a cabo nos Estados Unidos, Israel e
pela Internet , para milhares de estudantes do mundo inteiro. Nos últimos anos, o Dr. Laitman
tornou-se palestrante em conferências científicas e convenções na Europa, Leste Asiático e
América do Norte, expondo sobre as ligações entre a Cabala e a Ciência.
O Dr. Laitman conta que quando terminou os estudos, estava procurando por uma profissão onde
fosse possível explorar o sentido da vida. Ele escolheu Biocibernética pois esse campo estuda os
sistemas de vida e as leis que regem a existência deles.
“Eu esperava”, ele explica, “que através desses estudos, eu pudesse entender como os seres
inanimados evoluem para seres vegetais e, depois, para seres animados. Mesmo assim, a pergunta
que mais me incomodava era: Para que nós vivemos?”. Essa é uma pergunta que surge em cada
um de nós, mas desaparece no decorrer de nossa rotineira corrida pela vida.
“Quando eu completei meus estudos acadêmicos, eu trabalhei no Instituto de Hematologia de
Leningrado, na Rússia. Mesmo quando conduzia minhas pesquisas enquanto estudante, eu era
fascinado com a maneira surpreendente com que uma célula viva sustenta a vida. Eu estava
abismado pela incorporação harmoniosa de cada célula no corpo. A pesquisa centralizava-se na
estrutura da célula e suas varias funções no corpo, mas eu não consegui achar uma resposta a
respeito do porque da existência do corpo.
“Eu achava que, assim como uma célula do corpo, o corpo também faz parte de um sistema
maior, e esse sistema opera como uma parte do todo. Mesmo assim, minhas tentativas de
pesquisar essa questão do ponto de vista científico foram rejeitadas com freqüência. Foi-me dito
que a Ciência não lida com essas questões.
“Desiludido, eu resolvi ir embora da Rússia o mais rápido possível, esperando continuar em Israel
a pesquisa que tinha cativado meu coração. Em 1974, depois de ter sido um “refusinik” (pessoa
que era negada a permissão de saída pelo governo da União Soviética) por quatro anos, eu recebi a
tão esperada permissão de saída e cheguei em Israel. Aliás, lá também, só me ofereceram para
conduzir estudos e pesquisas no limitado nível da celula-única.
“Eu percebi que teria que procurar por um lugar onde pudesse estudar o sistema da realidade.
Procurei isso na Filosofia, mas em pouco tempo percebi que a resposta não seria encontrada lá.
Então, tentei encontrar as respostas na religião, mas não encontrei nada além de uma representação
mecânica dos Mandamentos. Aqui, não havia um entendimento profundo.
“Somente depois de muitos anos procurando, eu finalmente encontrei o meu mestre, o Rabino
Baruch Ashlag. Estive com ele por doze anos, de 1979 a 1991. Para mim, ele foi O Último dos
Moicanos, o último Cabalista na cadeia dos grandes Cabalistas que existiram através das gerações.
Eu era seu assistente pessoal e discípulo. Eu não saí de perto dele todo esse período. Em 1983, eu
escrevi e publiquei meus três primeiros livros, com seu apoio.
“Depois que meu mestre faleceu, eu comecei a desenvolver e publicar todo o conhecimento que
adquiri dele. Eu considerei isso uma continuação direta do seu trabalho. Em 1991, eu fundei o
Bnei Baruch, um grupo de Cabalistas que estuda e pratica o método do Baal Ha Sulam e do seu
filho, o Rabino Baruch Ashlag”.
Desde então, Bnei Baruch tem se tornado uma organização internacional com milhares de
estudantes . Seus membros pesquisam, estudam e disseminam a Cabala'.
O Bnei Baruch mantém o maior site de Cabala na Internet, oferecendo informações preciosas em
vinte dois idiomas, e o maior arquivo de mídia, textos, livros, e filmes na Internet
(www.kabbalah.info). O Bnei Baruch fundou recentemente o Ari Films, uma companhia de
produção de documentários e filmes educacionais, transmitidos na TV a cabo em Israel, América
do Norte e Europa.
Além disso, o Bnei Baruch estabeleceu o Instituto de Pesquisa Ashlag (ARI), em homenagem ao
Baruch Ashlag, que serve como um centro de debates públicos sobre Cabala. O objetivo
educacional e acadêmico do ARI nasceu de um profundo compromisso de trazer os ensinamentos
do Baal HaSulam para o palco central do debate publico.
Quando o Rav Laitman viu o filme, “What the Bleep do we Know?” (Quem somos nós?), ele disse
: “Eu fiquei radiante com a sensação de que parece que os cientistas que apareceram no filme
estavam fazendo a mesma pergunta que eu fazia tempos atrás. Eu pensei que talvez eles se
interessassem com o que a sabedoria da Cabala oferece".
Apresentando a Cabala
(Um resumo da apresentação do Dr. Laitman no painel público na presença de alunos e
professores das universidades de Berkeley e Stanford).
A sabedoria da Cabala (“recepção” em hebraico), como seu nome implica, nos ensina a receber.
Ela explica como percebemos a realidade à nossa volta. Para entendermos quem somos, primeiro
devemos entender como chegamos a perceber a realidade que nos rodeia, e como lidamos com os
eventos que acontecem conosco. A sabedoria da Cabala oferece-nos todas essas percepções.
A sabedoria da Cabala não veio para um indivíduo naturalmente, mas somente quando ele atinge o
nível certo de maturação. É por isso que a Cabala está sendo exposta a tantas pessoas nos dias
atuais, e esta é também a razão pela qual ela ficou oculta durante milhares de anos.
As gerações anteriores acreditavam que o mundo existe por si só; quer queiramos ou não nós
estamos aqui para percebê-lo, o mundo é do jeito que é e existe objetivamente, de forma
independente. Posteriormente, as pessoas começaram a compreender que a nossa imagem do
mundo é formada pelo que somos. Em outras palavras, a imagem do mundo é uma combinação de
nossos próprios atributos e circunstâncias externas.
Portanto, nós percebemos apenas uma parte de tudo que nos cerca. Por exemplo, agora existem
inúmeras ondas fora de nós, mas só podemos perceber uma delas, a onda que nós estamos
sintonizados a perceber. Assim, nós percebemos as condições externas de acordo com nossas
qualidades internas. Se nós não temos nada em comum com o mundo exterior, não perceberemos
nem sentiremos nada disso.
A Cabala fala amplamente da nossa percepção do tempo, do espaço e do movimento. Por que nos
parece que a realidade se expande, que está a certa distância de nós? Qual é a fonte do nosso
perpétuo sentimento de movimento e mudança? Ele é resultado da internalidade dos processos que
estamos experimentando, ou será que ele existe independentemente deles?
Quanto mais progredimos no estudo do nosso ser interno, mais descobrimos que a nossa
percepção da realidade depende de nós. Quando a humanidade evoluir suficientemente em
conhecimento, ciência e tecnologia, nós seremos capazes de perceber o que a sabedoria da Cabala
tem para oferecer.
A sabedoria da Cabala afirma que em torno de nós só há "A Luz Superior", uma força única em
um estado permanente e imutável. Nada existe além desta Luz Superior.Em tal estado, as palavras
existentes ou inexistentes significam a mesma coisa, porque nós só medimos as mudanças. Quando
não há mudanças, não há nada a ser medido.
Dentro de cada um de nós existe um “gene”, um pouco de informação que constantemente evoca
em nós novas sensações e emoções. Nós imaginamos o mundo de dentro dessas sensações, de
onde nós podemos obter a consciência de que existimos. Todos estes processos ocorrem dentro de
nós e projetam a nossa percepção do mundo exterior.
Na verdade, nada existe fora de nós, mas nossa imagem da realidade surge como se estivesse fora
de mim. O conceito que eu apresento aqui foi descrito pelos maiores Cabalistas há milhares de
anos atrás, e é fascinante e impressionante na riqueza de experiências que ele proporciona. Está
escrito no Livro do Zohar (O Livro do Esplendor) que somente quando compreendermos,
experimentarmos e dominarmos essa percepção é que entenderemos os escritos nos livros
Cabalísticos e no próprio Zohar.
Uma vez que tenhamos reconhecido os limites de nossa percepção, a Cabala
pode ensinar-nos a descobrir o que realmente existe fora de nós. Através da Cabala, nós podemos
transcender as nossas qualidades naturais, construir novas ferramentas de sensação, e através delas
experimentarmos plenamente a realidade externa.
Quando nós somos libertados das cadeias de nossas percepções inatas, podemos descobrir um
mundo totalmente novo e começamos a experimentar o fluxo eterno, completo e ilimitado da vida.
Nós seremos capazes de experimentar as forças que atuam sobre a realidade como uma força
única, e eventos que pareciam acidentais para nós, inesperados ou incompreensíveis, de repente
fazem sentido.
Para essas pessoas, o mundo espiritual pode tornar-se um sistema de forças que está por trás de
nossa realidade visível, as forças que impulsionam a realidade. É como examinar um bordado: de
frente, ele se parece com qualquer outra imagem, mas por trás, você pode ver os fios que
compõem a imagem, e suas interconexões. Descobrir esses fios e interconexões fornece o
conhecimento sobre nós mesmos e o mundo que nos rodeia.
A sabedoria da Cabala está surgindo agora porque estamos vivendo em uma época especial: por
um lado, temos muitos meios de triunfar em sermos felizes, mas por outro lado, parece que não
conseguimos alcançar isso. A Cabala não anula nenhum outro ensinamento ou ciência. Ela
também não contesta o progresso da humanidade ao longo das gerações. Ela aprecia as conquistas
da humanidade, mas à medida que chegamos ao ápice dessas conquistas, a humanidade está
começando a experimentar uma crescente necessidade de sentir a realidade completa. Esta é a
razão para o interesse crescente na Cabala atualmente.
Para atingirmos esse objetivo e experimentarmos o mundo espiritual, nós devemos cultivar em nós
qualidades idênticas às do mundo espiritual. Tudo o que percebemos na realidade, é através de
uma equivalência de qualidades. Portanto, nós vemos e descobrimos coisas novas no mundo de
acordo com as qualidades dentro de nós.
À medida que amadurecemos, nós adquirimos novas qualidades, tanto de nossos pais quanto do
nosso entorno. Depois de absorvê-los, podemos usá-las para estudar a realidade à nossa volta. Nós
adquirimos diferentes tipos de atributos, alguns dos quais despertam em nós naturalmente no
devido tempo, e alguns são adquiridos pela influência do nosso ambiente. No entanto, algumas
qualidades não podem ser adquiridas naturalmente, e devem ser desenvolvidas dentro de nós
através de um método especial.
A sabedoria da Cabala constrói tais qualidades. O ato de estudar textos autênticos de Cabalistas
genuínos nos afeta como leitores de uma forma única, evocando discernimentos sutis. Não existem
outros textos ou métodos no nosso mundo que possam fazer tanto. O estudo da Cabala cria uma
percepção especial com a qual podemos começar a ver o que parece ser a "realidade usual" de uma
nova perspectiva.
Podemos comparar isso à observação de um estereograma (uma figura na qual os objetos
delineados têm a aparência de solidez). Quando olhamos diretamente para a foto, ela parece um
misto de linhas incompreensíveis. Mas se nós fixarmos nosso olhar, nós seremos capazes de
"penetrar" a imagem e ver uma imagem rica e tridimensional.
A sabedoria da Cabala age em nós da mesma maneira, ajudando-nos a "capturar" essa imagem. Na
verdade, a Cabala não apresenta nada de novo, mas simplesmente redireciona o nosso olhar para
que possamos começar a "ver".
Quando a pessoa começa a perceber a imagem correta, e experimenta a abertura do Mundo
Superior, esta descoberta é acompanhada da maravilhosa sensação de vida eterna e do infinito e
ilimitado fluxo de prazeres. Este é o lugar para onde nossas vidas estão nos levando.
A Natureza Da Matéria
A Sabedoria da Cabala tem evoluído durante milhares de anos e foi disseminada entre os
Cabalistas ao longo da história. Eu gostaria de fazer uma breve revisão dos pontos-chaves neste
processo.
• O primeiro Cabalista foi o Patriarca Abraão (aproximadamente 1.800 a.C.). O
Sefer Yetzira (O Livro da Criação) é atribuído a ele.
• 500 anos depois de Abraão, Moisés escreveu seu Livro da Torá (O Pentateuco),
por volta de 1.350 a.C..
• No século II d.C., o Rabi Shimon Bar-Yochai escreveu o Sefer ha Zohar (O Livro
do Esplendor).
• A Cabala floresceu no século XIX na cidade israelense de Safed, liderada pelo
Cabalista Rabbi Isaac Luria Ashkenazi, o Ari (1534-1572). Ele apresentou seu
método em seus livros e, atualmente a sabedoria da Cabala baseia-se na Cabala
Luriânica (A Cabala do Ari). A Cabala Luriânica relaciona a Cabala a uma
ciência: não há meditação, cantos, encantos, amuletos ou desenhos mágicos de
letras.
• O rabino Yehuda Ashlag (1884-1954), conhecido como Baal HaSulam (dono da
escada) por seu comentário Sulam (Escada) sobre o Zohar, pavimentou o caminho
para nossa geração. Seus escritos permitem com que nos conectemos às antigas e
autênticas fontes que os gigantes do passado deixaram para trás.
A Cabala que nós estudamos hoje contém o mesmo conhecimento que foi transmitido desde
Abraão através de todas as gerações. Eu tive o privilégio de passar doze anos ao lado do filho mais
velho e sucessor do Baal HaSulam, o Cabalista Baruch Shalom Ashlag, e eu dele recebi esse
conhecimento.
A sabedoria da Cabala é um método para descobrir a parte oculta da realidade, o reino
imperceptível da realidade que nossos cinco sentidos não podem apreender. Ela desenvolve outro
sentido em nós, aquele que percebe a realidade que existe além de nossa atual percepção.
A Cabala diz que toda a realidade é constituída por uma substância chamada "desejo de receber
prazer". Este desejo de receber prazer é basicamente o desejo de ser preenchido com alegria e
prazer; isso é o que muitas vezes referimos como "egoísmo". Este desejo de receber opera em
todos os níveis de existência: inanimado, vegetal, animado, e falante.
Embora o desejo de receber seja a substância de toda a realidade, o desejo em si não é nem matéria
nem átomo, que veio mais tarde. Tudo o que foi criado, que existe como base da realidade, baseia-
se no desejo de desfrutar, uma aspiração pelo prazer. Em cada nível de realidade, essa aspiração
assume diferentes formas.
Todo Cabalista, sem exceção, de Abraão até o último grande cabalista (Baal HaSulam), sustentou
que toda a substância da Criação consiste do desejo de receber. Cada livro de Cabala fala sobre a
mesma coisa, e todos os Cabalistas estão de acordo a esse respeito.
Os Cabalistas são pessoas que atingem o Mundo Superior; eles falam sobre a realização real, não
sobre teoria. A palavra “realização” refere-se ao último grau de compreensão. Deixe-me tornar as
coisas mais fáceis de entender, utilizando alguns desenhos.
Nós dizemos que o desejo de receber é a base da Criação. Ele é criado pela expansão da Luz
Superior. (Na Cabala, o termo "Luz" designa dar, doar, amor; ela é referida
como "o Criador"). Assim, a Luz criou o desejo de receber que quer ser preenchido com a Luz.
Assim, o desejo de receber também é chamado Kli (vaso/recipiente). Veja a Figura 1.

Figura 1
Em outras palavras, o desejo de dar cria o desejo de receber, isto é, a Luz quer que o Kli (vaso)
receba o que ela quer lhe dar.
O desejo de desfrutar é o princípio da matéria; a Cabala nomeia-o "matéria primordial". No
entanto, ela ainda não é uma matéria completa, porque neste ponto ela é criada inteiramente pela
ação da Luz. Este processo precede a formação de qualquer matéria conhecida por nós, muito
tempo antes da formação material do nosso universo.
Uma vez que este desejo de receber origina-se da ação da Luz, ele sente a Luz (o prazer) em um
nível mínimo. Neste ponto o desejo de receber não tem nenhum desejo independente pela Luz.
Para torná-lo independente e desenvolver ainda mais o desejo de receber, nós precisamos
acrescentar outro elemento: a consciência do desejo de sua própria existência.
O Criador (Luz) dá ao desejo de receber a sensação de que ele existe, que há "um Doador", isto é,
algo que lhe dá o prazer que ele está sentindo. Assim, uma vez que o desejo de receber prazer é
sentido, ele começa a sentir o doador do prazer dentro do prazer.
Da mesma forma, quando nós recebemos um presente, nós sentimos a atitude do doador em
relação a nós, além da doação propriamente dita. Nós devemos observar que quando nos referimos
ao Criador, nos referimos na verdade ao doador. Neste estado de coisas, o ser criado (criatura)
começa a sentir que há uma colisão entre o prazer e a sensação do doador do prazer (Figura 2).
Esta colisão provoca uma reação na criatura, fazendo-a querer ser como o Criador, porque o
Criador é maior do que o próprio prazer. Neste ponto, o desejo de receber evolui para o nível
seguinte.
Figure 2
Então, o desejo de receber escolhe ser um doador, como o Criador (doador). Esta é a primeira
reação da criatura, embora ela ainda não seja uma escolha totalmente independente. Ela é, antes de
tudo, uma reação oriunda da sua sensação do doador, o que a torna uma reação obrigatória,
derivada inteiramente da presença do doador. Portanto, o desejo de receber não tem livre escolha
na questão.
Agora, a criatura começa a contemplar o que ela pode dar ao Criador. O Criador dá porque Ele é a
fonte do prazer. Mas quando a criatura também quer dar, ela descobre que não tem nada para dar
em troca.
Assim, através da sua necessidade de dar ao Criador, a criatura descobre a natureza do Criador. A
criatura descobre o Amor do Criador por ela. No entanto, se o Criador ama a criatura e quer
agradá-la, conseqüentemente o Criador deve querer ou precisar de algo. A criatura percebe que a
necessidade do Criador é Seu desejo de satisfazer a criatura; quando a criatura aproveita, o Criador
também aproveita. Mas quando a criatura não aproveita, nem o Criador aproveita.
Para concretizar o seu desejo de dar ao Criador conforme o Criador dá à criatura, a criatura decide
receber o prazer do Criador. Este processo é, de certa forma, semelhante a uma criança que come
para agradar sua mãe. Desta forma, mesmo quando a criança recebe o alimento da mãe, ela age
como um doador em relação a sua mãe.
Quando a criatura está neste estado de ser, podemos dizer que ela é semelhante ao Criador: ela
recebe aquilo que o Criador quer dar, mas apenas para devolver ao Criador. A criatura dá da
mesma forma o Criador dá. No entanto, este não é o fim do processo. Agora que a criatura
realizou um ato similar ao do Criador, ela sente um prazer adicional: o prazer de ter o status do
doador.
Esse prazer cria um novo desejo na criatura: o desejo de desfrutar o status do doador, bem como o
desejo que a Luz criou pela primeira vez na criatura. Este novo desejo não vem "de Cima”, e por
isso merece o título de "um ser criado", "uma criatura" (Figura 3).
Figure 3
A raiz da palavra hebraica NIVRA (ser criado) vem da palavra Bar (fora). Assim, o termo
"criatura" ou "ser criado" refere-se a algo ou alguém fora da vontade do Criador.
Uma vez que a criatura é formada, ela passa por uma seqüência de estados interligados como
conseqüência de causa e efeito. Esses estados são referidos como "Mundos Superiores". A Luz
Superior e o desejo de receber descem através dos Mundos Superiores ao nível mais inferior,
chamado de "nosso mundo".
No nível do nosso mundo, nós somos totalmente controlados pelo desejo de receber e estamos
completamente separados da sensação da Luz Superior, o Criador.
Uma vez que o desejo de receber desce ao nosso mundo, torna-se independente da dominação do
Criador, pois é somente através dessa separação que o propósito da Criação (tornar o desejo de
receber idêntico ao Criador) pode ser realizado. Na Cabala, esta identificação é chamada de
"Equivalência de Forma entre a criatura e o Criador”.
A sabedoria da Cabala descreve cada estágio evolutivo do desejo de receber, desde a primeira fase
da Criação descendo até o nosso mundo. Ao estudar estas fases, podemos compreender como o
mundo material, o tempo, o espaço e o movimento foram todos formados, e como o desejo de
receber evoluirá.
Toda a nossa história é determinada pela evolução do nosso desejo de receber; isso pode nos
ajudar a entender como a humanidade evolui. Na realidade, todo processo, sem exceção, é o
resultado do nosso sempre crescente desejo de receber.
Uma vez que a estrutura espiritual que acabamos de descrever se materializa, a matéria que forma
o nosso mundo é criada. O nosso mundo tem experimentado diversas épocas de evolução, e hoje
estamos numa fase em que estamos começando a compreender que a evolução espiritual deve
começar.
Atualmente, a humanidade está enfrentando uma série de crises sociais e científicas. Muitos sinais
apontam para o atual estado desolador da humanidade e a crise mundial que ela está
experimentando. A dependência de drogas cresce continuamente e começa em uma idade cada vez
mais jovem; a depressão está se espalhando como uma praga e o terrorismo internacional se
tornou incontrolável.
Há apenas um propósito em relação a todas as questões acima: ajudar a humanidade a entender
que a raiz de todos os nossos problemas é a intensificação do nosso desejo egoísta de receber, e
que temos de corrigir isso. Os Cabalistas escreveram sobre a intensificação do ego há muito tempo
atrás, explicando que quando a humanidade atingisse esse estado, seria o momento de revelar a
sabedoria da Cabala como meio para se corrigir o ego.
Vamos reiterar o que discutimos até agora. Existe um Criador que quer dar. Esta é a Raiz, ou Fase
Zero. A fim de dar, Ele deve ter alguém para dar, e como o Criador quer dar, Ele cria um Kli que
recebe o "presente", isto é, o Criador dá ao Kli. Este é o Estágio Um.
Para que isso ocorra, o receptor precisa primeiro querer o prazer. Se eu construo em você um
desejo por algo e depois dou o que você quer, você não vai aproveitar meu presente, porque esse
não é o seu próprio desejo. Você deve sentir que ele é o seu próprio desejo, antes que possa defini-
lo como “prazer”. Assim, no final do Estágio Um, a criatura começa a sentir o Doador e Sua
natureza.
O desejo de receber evolui ao sentir o Doador (Estágio Um), e, conseqüentemente, ao querer ser
como o Doador (Estágio Dois). Nesse estágio torna-se vantajoso para a criatura ser como o
Doador (Estágio Três). No entanto, esta é apenas uma fase na formação do desejo de receber, e a
criatura não está realmente ciente que está recebendo algo.
Na verdade a criatura não tem consciência de nenhuma destas observações; elas são apenas fases
na evolução do desejo de receber bruto. Este desejo bruto ainda deve descer, formular e afastar-se
do Criador até que pare de senti-Lo completamente. Ele deve descer ao nível do nosso mundo, e
só então sentirá o desejo nele como seu próprio desejo independente (Estágio Quatro). Desta
forma, ele acreditará que é livre e não se submete ao governo do Criador.
Neste estágio, quando o indivíduo quer descobrir o Criador no nosso mundo, o desejo parecerá
surgir primeiro. Assim, a pessoa será capaz de dar ao Criador como resultado do livre-arbítrio, e
isso constituirá a sua forma de doação livre. Você poderia dizer que da perspectiva do Criador,
isso nada é mais que uma fantasia, e que o Criador realmente comanda o espetáculo. Embora isso
seja verdade, não diminui o fato de que, da perspectiva da criatura, a ocultação do Criador permite
que ela sinta-se independente.
No final do Estágio Três, a criatura decide receber do Criador a fim de assemelhar-se a Ele.
Embora no Estágio Dois a criatura já tenha o desejo de dar, este ainda não é o seu próprio desejo;
ele não é um desejo “como o Criador”, como no Estágio Três, mas um desejo oriundo diretamente
do Criador.
Deixe-me dar um exemplo para explicar o que quero dizer. Suponha que estou servindo-lhe um
pedaço de bolo. Você poderia dizer que não sabe o que é isso, que você não tem o desejo inicial
por tal bolo, mas daí eu o convenço de que você realmente deve experimentá-lo porque o bolo é
fantástico. Nesse processo, eu lhe dou tanto o desejo quanto a satisfação, a realização do desejo.
Portanto, há uma evolução na transição entre as fases, em que "essa coisa" (o desejo) de repente
"acorda" e torna-se consciente de si mesma. É como se ela começasse a conversar com o Criador.
Esta evolução resulta de uma colisão interior na criatura entre os dois fatores: o prazer e o Doador
do prazer. Na realidade, tudo o que existe são estes dois elementos.
O Estágio Três também marca o despertar de um novo desejo da criatura: a inveja em relação ao
Criador. Em relação a isso, a inveja é um elemento positivo e útil, porque nos impulsiona a evoluir
mais.
Finalmente, no fim do Estágio Quatro, a criatura sente que está dando prazer ao Criador. Assim,
ela se considera contendo o mesmo status do Criador, e sente o prazer que surge ao ter alcançado
o status do Criador, o prazer de dar, de ser um criador.
Este estado de ser cria na criatura um desejo de desfrutar esse status, apreciar esse prazer. Como
esse desejo não chega à criatura diretamente do Criador, mas evolui como resultado de suas
próprias ações, ele é considerado um novo desejo, que nós atribuímos à criatura. Isto é o que
chamamos de "desejo de desfrutar" (Figura 4).
Figura 4
Neste último estágio, a criatura recebe o prazer de compartilhar o status do Criador , e se entrega a
ele. Deste modo, a criatura se entrega a dois prazeres: o prazer que vem do Criador, e o prazer que
vem da partilha do status do Criador. Este estado de ser é chamado de Ein Sof (Sem Fim ou
Infinito), e se refere ao estado onde não há limitações em relação ao desejo.
Isto não se refere à distância, tempo ou espaço no sentido físico. Pelo contrário, esta é uma
observação que diz respeito à natureza do desejo, isto é, que o próprio desejo é ilimitado.
Ao receber esses prazeres, a criatura descobre de novo que existe uma fonte de prazer. Ela
descobre que o Doador é a fonte do prazer, e sente-se como o receptor. Desta vez, a sensação é
válida porque o desejo de receber neste estágio é a própria criatura, e não um que chegou até ela
do Criador.
Conseqüentemente, a criatura sente que quer escapar de seu próprio desejo. Ela quer evitá-lo, e
não quer pertencer ao seu próprio desejo por mais tempo. A rejeição que ela sente em relação ao
seu próprio desejo a induz a "restringi-lo" (evitar usá-lo). O desejo ainda está lá, mas agora a
criatura se abstém de utilizá-lo. Portanto, a sensação de satisfação, o prazer, cessa.
Ao permanecer com o desejo, a criatura decide alcançar o status do Criador, o único status que
agora a criatura deseja ter – o do Criador. Ela sente que deve dar ao Criador sem receber qualquer
recompensa para si. A partir de agora, todas as suas ações serão destinadas exclusivamente para
atingir esse objetivo.
Para alcançar este objetivo, a criatura realiza uma complexa série de operações: ela cria uma
cadeia de ocultações (revestimentos) na Luz Superior, chamados "mundos" (a palavra hebraica
para "mundo" é Olam, que deriva da palavra Haalama, ocultação). No final da cadeia dos mundos
está "este mundo". Como o processo que criou a criatura é composto de cinco partes, a diminuição
da Luz Superior ocorre através de cinco níveis de ocultação, cinco mundos, cujos nomes são Adam
Kadmon, Atsilut, Beria, Ietsira e Assia.
No processo de construção desses mundos, a criatura constrói um ambiente para si. No mundo de
Atsilut, o desejo de receber é dividido em dois: uma parte interna (alma) e uma parte externa
(ambiente, entorno), na qual a alma opera. Este estágio ainda não pertence ao nosso mundo.
Como resultado dos eventos posteriores, a alma e o seu ambiente experimentarão o processo de
quebra, e, conseqüentemente, cairão vários níveis até o nível "deste mundo". Só agora começa a
formulação da matéria que compõe o nosso mundo.
A partir desta fase, da quebra do desejo de receber, começa a evolução histórica do mundo
material que estamos familiarizados. Uma vez que o universo foi criado, os níveis inanimado
(imóvel), vegetal e animado são criados, e depois deles, o nível falante (humano) é formado
(Figura 5).
Figura 5
Na sua fase inicial da evolução, a humanidade tem desejos físicos por sustento, reprodução e
família. O corpo sempre tem estas necessidades elementares para se manter; nós precisamos delas
mesmo se estivermos sozinhos em uma ilha.
A segunda fase de nossa evolução caracteriza-se por um desejo crescente por riqueza, seguido por
um desejo de poder e respeito. Esses impulsos por riqueza, poder e respeito são considerados
"desejos sociais", assim chamados por duas razões:
A) Nós absorvemos estes desejos do nosso ambiente social. Se vivêssemos sozinhos, não
os desejaríamos.
B) Estes desejos só podem ser realizados dentro de uma estrutura social.
O último estágio evolutivo é o desejo por conhecimento e erudição. Nós queremos cada vez mais
conhecimento, queremos saber tudo e investigar tudo – donde a evolução da ciência.
Hoje, como nós estamos nos aproximando do final desta evolução, a qual durou milhares de anos,
nós estamos começando a perceber que isso realmente não rendeu nenhum fruto. Nós nos
encontramos em uma situação única: queremos ser preenchidos com prazeres, mas não
conseguimos encontrar nenhuma fonte de prazer verdadeiro. Além disso, não podemos definir
com precisão o que queremos. Assim, encontramo-nos perplexos e desorientados, como crianças
perdidas, sem saber que caminho escolher. Embora queiramos algo, nós não sabemos o que é ou
onde encontrá-lo.
Nós atribuímos à palavra "coração" a soma dos desejos que evoluíram em nós através dos nossos
ciclos de vida: desejos físicos, desejos sociais, e o desejo de conhecimento. Em oposição a esses
desejos situa-se “o ponto no coração”, uma “partícula” de um novo desejo que evolui acima de
todos os outros desejos. Na verdade, o ponto no coração é o despertar do desejo de conhecer a
Força Superior, e é o despertar deste desejo que traz a pessoa à sabedoria da Cabala, como meio
para realizar este desejo.
O despertar do ponto no coração traz confusão, o subproduto da origem desse ponto no Mundo
Superior. As leis do Mundo Superior pertencem a uma realidade onde o tempo, o espaço e o
movimento não se aplicam.
Naturalmente, os nossos cérebros estão organizados de modo que sempre pensamos em termos de
tempo, espaço e movimento. Mas nesta nova etapa, nós começamos a sentir que aquilo que
determina tudo é o modo como pessoalmente sentimos a realidade, e que a realidade em si é
imutável.
Assim, nós gradualmente sentimos que a realidade é estática e que o tempo, o espaço e o
movimento realmente não existem. Nós começamos a perceber que todas as nossas experiências
passadas aconteceram apenas dentro de nossas sensações, e que tudo depende do quanto
cultivamos nossa capacidade de sentir.
Nós precisamos de tempo para nos ajustar ao conceito de que nada muda, exceto o ritmo pelo qual
abrimos as nossas "ferramentas sensoriais". Quando tivermos feito isso, começaremos a sentir o
mundo em que vivemos de forma muito natural, simples, sem quaisquer limitações, preconceitos,
regras, opressão, coerção, ou pressões externas.
O ponto no coração é o princípio do desejo pela espiritualidade. Atualmente, poucas pessoas estão
nesta fase, mas seu número está aumentando o tempo todo. Finalmente, todo ser humano deve
alcançar esse ponto onde o desejo pelo Criador é o mais elevado, um ponto iniciado pela inveja
mencionada anteriormente, isto é, pela necessidade inerente em cada criatura de atingir o status do
Criador.
Nós devemos entender que quando dizemos que o Criador é bom, queremos dizer que o Criador
nos criou com a intenção de nos levar ao melhor estado de ser possível, ou seja, ao próprio estado
do Criador. Assim, este é o estado ao qual deve ser levada a criatura. Qualquer estado inferior a
este não será, portanto, considerado adequado. Conseqüentemente, o propósito da Criação é
permitir que atinjamos o status do Criador (veja a Figura 6).
No entanto, para atingirmos o nível do Criador, nós devemos começar a sentir que o nosso desejo
é totalmente oposto a do Criador, que o Criador quer apenas dar, e que nós queremos apenas
receber. Este é o vazio e a escuridão do Kli (vaso), em oposição à Luz. Reconhecer esta oposição
desenvolve-nos como criaturas. Para nós conhecermos o Criador, primeiro devemos conhecer o
estado oposto ao seu, o "anti-Criador", um estado de tormentos insuportáveis que coloca um
grande ponto de interrogação sobre a nossa capacidade de resistir a esses tormentos.
É justo dizer que nós ainda não iniciamos o processo de conhecimento do anti-Criador. Para
sentirmos a nossa total oposição do Criador, nós teremos que descer emocionalmente a níveis mais
inferiores. A sabedoria da Cabala está surgindo agora porque é impossível experimentar estes
estados fisicamente, e a Cabala é o meio que facilita a nossa caminhada através dos estados de
oposição ao Criador, para experimentá-los em nossa consciência e nossas mentes, não em nossos
corpos.
Nós podemos comparar este processo a uma pessoa com dor. Essa pessoa pode aguardar até que a
dor se torne insuportável e então recorrer a um médico, ou recorrer ao médico logo que a dor
aparece. Neste último caso, o diagnóstico precoce do problema poupará a pessoa do sofrimento
que vem com a doença. Em outras palavras, uma pessoa inteligente toma a medicação logo que os
sintomas da doença aparecem, impedindo assim o seu início.
Ao fazê-lo, a pessoa pode evoluir de forma consciente, através do raciocínio, e, assim o Kli
(criatura) aprende a se conscientizar da sua oposição à Luz. A sabedoria da Cabala é um método
que nos ajuda a evoluir através do conhecimento, em vez da dor, e ela está surgindo hoje para
permitir que a humanidade reconheça o mal que reside no egoísmo, antes que ele se manifeste
completamente, infligindo danos terríveis em todos os aspectos da vida.
Portanto, a sabedoria da Cabala, como meio para se alcançar tanto a nossa evolução quanto o
propósito da criação, deve alcançar toda a humanidade. Quanto mais pessoas participarem da
Cabala, e quanto mais disseminarmos ela em todo o mundo, melhor para todos nós. O Baal
HaSulam escreve sobre isso claramente em sua Introdução ao Livro do Zohar.
O primeiro investigador a se questionar sobre o universo e as forças que conduzem a humanidade
foi Abraão. Ele fazia parte de um dos vários povos que viviam na Mesopotâmia (antiga Pérsia), e
naquela época não havia divisão em nações. Ele descobriu o método pelo qual podemos conhecer
a realidade além da nossa percepção comum, e descreveu suas pesquisas e descobertas em seu
Sefer Ietsira (Livro de Criação).
Abraão começou a reunir os alunos e ensinou-lhes a sabedoria da Cabala. Com o tempo, este
grupo de Cabalistas tornou-se uma nação. Muitos anos mais tarde, após a ruína do Primeiro e
Segundo Templo, este grupo de Cabalistas perdeu a sua percepção da Realidade Superior ; eles
caíram do seu nível de consciência espiritual e só foram capazes de perceber sua realidade física.
Este foi um processo realmente gradual. Alguns perderam sua percepção espiritual
com a ruína do Primeiro Templo, e o resto perdeu com a ruína do Segundo Templo. O Rabino
Akiva foi o último grande Cabalista a atingir o nível da lei espiritual denominada "Amai ao teu
próximo como a ti mesmo”. A intensificação do egoísmo levou a um ódio infundado entre as
pessoas, em vez da sabedoria da Cabala.
Mesmo assim, apesar da queda, um seleto grupo de Cabalistas permaneceu, e passou a sabedoria
de geração em geração até o momento em que toda a humanidade necessitasse dela. Atualmente, é
preciso reavivar a ciência antiga, reviver o estudo da Cabala, descobrir a Realidade Superior
através dela, e passá-lo a toda humanidade.
Entretanto, é importante observar que a Cabala não tem nada a ver com religião, e não implica que
nós precisemos fazer qualquer ação física. Como já foi dito anteriormente, a Cabala só fala dos
desejos e intenções com relação ao Criador
Isso pode nos levar a concluir que, visto que a solução para nossos futuros desafios reside na
disseminação da Cabala para toda humanidade, teremos que converter todo mundo em Cabalista.
Na verdade, nós não precisamos.
A humanidade é construída como uma pirâmide. Como em qualquer outro campo do
envolvimento humano, noventa e nove por cento da população mundial é passiva. Eles não
investigam ou criam, mas simplesmente contam com os frutos das descobertas científicas.
Portanto, nós devemos nos voltar para aqueles que estão preocupados com o destino do nosso
mundo e o futuro da humanidade. Nós não esperamos que bilhões de pessoas estudem Cabala, mas
se nós pudermos usar a ciência para presentear a humanidade com a imagem da realidade, isso
fará com que todos mudem, pois todos nós somos partes de uma estrutura única.
Como dissemos anteriormente, o Kli (vaso/criatura) que o Criador criou tornou-se uma alma no
mundo de Atsilut. Esta é a alma coletiva ou geral, chamada Adam ha Rishon (O Primeiro Homem).
No início, todas as suas partes estavam unidas em harmonia maravilhosa, e ela era preenchida com
a Luz Superior. Nesse estágio, a soma das partes criava a perfeição. Mais tarde, a alma
experimentou um processo de quebra e caiu a um nível chamado de "abaixo da barreira", onde a
sensação espiritual termina. As partes da alma única continuaram a existir abaixo da barreira, mas
sentiam-se separadas entre si. (Figura 6).
Figura 6
Para esclarecer estas palavras, podemos dizer que elas permanecem no “mesmo lugar”, como
antes, mas outra sensação foi adicionada a elas. Esta é a sensação de que elas existem dentro de si
mesmas. Na espiritualidade não há lugares e as mudanças são apenas na qualidade da percepção
delas e suas sensações. Assim, cada uma das partes vive agora dentro de si, e sente somente a si
mesma.
Tal estado de ser é chamado de "este mundo", que é a situação em que estamos hoje. A Força
Superior está agindo sobre nós (partes separadas) para nos trazer de volta ao estado corrigido, e
esta será a realização do propósito da Criação.
Na verdade, a Força Superior "atirou-nos" neste mundo para reconhecermos quão diferentes nós
somos Dela. Nós temos que desejar voltar a subir a partir deste ponto mais baixo até o estado
corrigido da existência, onde estamos todos conectados. A diferença entre a natureza humana e a
natureza do Criador é evidente através dos milênios de sofrimento, um processo completo de
descida e subida projetado para que possamos perceber quão abomináveis nós somos uns para os
outros. Em outras palavras, todo o egoísmo da pessoa deve ser exposto, e só então perceberemos
porque devemos, voluntariamente, nos reconectar.
Nós devemos entender o problema que surge quando queremos satisfazer um desejo. Por exemplo,
quando uma pessoa faminta senta em um restaurante e espera por uma refeição, no momento que a
refeição é servida e a pessoa começa a comer, o apetite começa a diminuir. Quanto mais a pessoa
come, menos fome ela sente, e com a falta de fome, o prazer diminui. Mesmo que grande parte da
comida seja deixada sobre a mesa, e mesmo que a comida seja deliciosa, sem o desejo (apetite)
por ela, o prazer cessa.
Este cenário se repete na satisfação de cada desejo. Se surge um desejo em nós, nós somos
motivados a satisfazê-lo. Nós ficamos tensos e nos esforçamos para satisfazer nosso desejo, mas
uma vez que tenhamos atingido o nosso desejo, ele desaparece. Pode levar alguns minutos,
algumas horas ou semanas, mas mais cedo ou mais tarde (geralmente mais cedo), a satisfação
desaparece. Deste modo, o mesmo prazer que satisfaz o desejo também o elimina.
Além disso, a obtenção de um prazer constrói um desejo que é duas vezes mais forte que o
anterior. Os Cabalistas disseram que "Aquele que tem cem quer duzentos", aquele que tem
duzentos quer quatrocentos, e assim por diante. Como conseqüência, quando nós adquirimos certo
prazer, nós permanecemos duas vezes mais vazios que antes. Se pudéssemos encontrar uma forma
de estarmos sempre preenchidos com prazeres, nós estaríamos sentindo a vida eterna.
Existe uma maneira de fazer isso: separar a "unidade sensorial" em duas partes. Uma parte
receberá o prazer, e a outra parte vai senti-lo. Em outras palavras, se houvesse alguém para quem o
prazer fluísse através de mim, o meu prazer não seria extinto. Se houvesse outra pessoa no
processo de recepção do meu prazer, a unidade sensorial seria dividida em duas.
Nesse caso, eu poderia separar o receptor do prazer daquele que sente. O receptor seria outra
pessoa, e aquele que sente o prazer seria eu. Ao fazer isso, a sensação do prazer pode se tornar
interminável e render a sensação de vida eterna.
Nós podemos comparar a situação acima a uma mãe e seu filho. A mãe aproveita o prazer de seu
filho e pode, portanto, dar sem restrição e deleitar-se nele. Se eu pudesse amar alguém de forma
que o agradando eu sentisse isso como o meu próprio prazer, o meu prazer seria ilimitado. Para
reconhecer esse princípio, as nossas almas tiveram de quebrar e descer a este mundo.
Quando o ponto no coração, o desejo verdadeiro de despertar a sensação do mundo espiritual,
desperta nas pessoas, elas se voltam à sabedoria da Cabala. O estudo da sabedoria da Cabala é o
estudo do nosso verdadeiro estado: o estado de pré-ruptura. Este é o único estado que existe.
Mesmo agora nós estamos nele, embora não tenhamos consciência disso. Ao desejarmos sair do
estado obscuro que nos encontramos e despertarmos para sentir a nossa existência real, nós
atraímos o efeito da Luz dentro desse estado.
Nossos esforços em destravar nossas ferramentas de sensação e perceber o nosso verdadeiro
estado de ser, desenvolvem novos vasos em nós. Assim, nós começamos a sentir o quanto nós
estamos todos conectados, como partes de um único sistema.
Há Luz e satisfação infinita fluindo continuamente através de cada parte do sistema. A razão para
todos os sofrimentos e problemas que o mundo está vivendo hoje é forçar a humanidade a retornar
ao seu estado verdadeiro e perfeito, chamado Gmar Tikkun (“O Fim da Correção).
Voltar ao estado natural e perfeito é um processo que o Criador predeterminou do começo ao fim.
Cada fase é ditada de cima para baixo. Em cada um de nós existe um gene espiritual no qual todos
os nossos estados (passado, presente e futuro) estão impressos. A alma deve subir pela mesma rota
e estágios pelos quais caiu do Alto. No entanto, o caminho de volta depende do quanto
reconhecemos que o nosso estado egoísta é ruim, e compreendemos que estar mais perto do
Criador é o estado que preferimos experimentar.
Assim, os estágios predeterminados construídos no gene espiritual evoluem através da Luz, ou
seja, através da Força Superior, e nos levam de um estado ao outro. Se nós percebermos que é do
nosso interesse ascender e "convidar" a Luz Circundante a trabalhar em nós, nós aceleraremos a
nossa evolução e sentiremos a verdadeira espiritualidade. Por isso, nossa liberdade de escolha
reside apenas em acelerar o processo.
O termo "Luz Circundante" descreve a Força que nos atrai em direção ao atributo de doação. Ela
nos atrai ao estado corrigido, que é o atributo do Criador. Todos os nossos estados futuros existem
dentro de cada um de nós, mesmo que não os sintamos. A projeção do nosso estado corrigido e
altruísta sobre o nosso estado egoísta, desperta em nós o atributo de doação.
O nosso estado corrigido é chamado de Gmar Tikkun (“Fim da Correção”). No Gmar Tikkun, cada
alma está preenchida com prazeres ilimitados e uma completa equivalência de forma com o
Criador. Em nosso estado atual, a Luz que preenche nossas almas no Gmar Tikkun brilha sob a
forma de Luz Circundante; seu poder é determinado pela intensidade do nosso desejo em adquirir
o atributo de doação.
A Luz é o poder de doação, o poder de dar. Se a pessoa quer atingir o atributo de doação, ela deve
fazer com que a força de doação, a luz que preenche a pessoa quando ela está corrigida, projete-se
sobre seu estado atual. A Luz Circundante nos corrige e nos traz de volta para a qualidade de
doação. É como uma pessoa digna que se perdeu e agora desperta para retornar à decência.
De fato, para atravessarmos a barreira que separa o mundo material do mundo espiritual, nós
devemos mudar a nossa intenção, da relação de ódio mútuo para a relação de amor. As mesmas
regras se aplicam a todas as partes da Criação, do elemento mais inferior da realidade ao mais
elevado. Tudo depende da perspectiva do observador que descobre as regras.
Entretanto, até que uma ciência seja matematicamente estabelecida, não pode ser considerada uma
ciência. Por exemplo, a física quântica diz respeito a uma realidade limitada pelo tempo e espaço.
Mas o que estamos falando aqui está além do tempo e do espaço.
Portanto, enquanto a física quântica não é estendida para incluir dimensões além do tempo e do
espaço, pode ser difícil para a ciência convencional prosseguir com a investigação. Por esta razão,
é importante encontrar um ponto tangencial, uma conexão entre a física quântica e a Cabala, para
que a Cabala investigue a realidade no local onde a física não pode alcançar.
Em outras palavras, para se avançar a um nível mais elevado, nós devemos expandir a ciência
contemporânea para incluir a consciência, e este é um grande passo.
Neste ponto, pode ser benéfico descrever como a Cabala se relaciona com a nossa percepção da
realidade. Nós percebemos a realidade através de nossos cinco sentidos: visão, audição, olfato,
paladar e tato. No entanto, tudo aquilo que nós realmente sentimos é a nossa própria reação ao que
existe fora de nós, sem nenhuma percepção da realidade objetiva e real.
Por exemplo, uma onda atinge meu ouvido, que a interpreta como som. Eu sei disso graças à
reação da membrana da minha orelha (tímpano) à onda que a pressiona. Na verdade, tudo que eu
estou medindo é a minha própria reação; eu não sinto a onda em si. Eu percebo uma gama de sons
de acordo com as mudanças nas minhas capacidades auditivas e a saúde do meu mecanismo
auditivo. No entanto, eu não tenho idéia do que realmente acontece fora de mim. Todos os nossos
instrumentos de percepção e os nossos sentidos funcionam de forma semelhante.
Nós podemos dizer que estamos encerrados numa caixa, e tudo aquilo que medimos são nossas
impressões interiores, criando em nós a sensação de que a realidade fora de nós muda. Nós não
podemos saber se algo muda; não podemos sequer saber se algo realmente existe fora de nós. Nós
simplesmente não temos meios para sair de nós mesmos e testar isso.
O Prof. Tiller mencionou Tor Norretranders, o renomado pesquisador dinamarquês que publicou
um livro intitulado A Ilusão do Usuário 1. Norretranders observa um ponto intrigante quanto à
funcionalidade do inconsciente e o que ele contém. Parece que os cinco sentidos percebem
cinqüenta milhões de bits de informação por segundo, recolhidos na forma de fluxos de

1
The User Illusion: Cutting Consciousness Down to Size (Penguin Press Science S. 1991).
informação na consciência. O subconsciente processa a informação matematicamente, mas ele só
processa um pequeno fragmento da informação, cerca de cinqüenta bebês de informação por
segundo.
Evidentemente, há uma enorme lacuna entre os cinqüenta milhões bebês de informação recebidos
e os cinqüenta bebês processados. O principal elemento a ser observado é que o subconsciente
envia ao cérebro apenas a informação que o cérebro determinou antecipadamente que seria
significativa. O resto da informação é descartado pelo subconsciente. Estes resultados parecem
corroborar a perspectiva da Cabala com relação ao desejo de receber.
Desconhece-se ainda se a ciência de ponta e os destacados investigadores percebem que a
evolução da investigação depende da mudança do nosso próprio interior - o interior do
investigador. Afinal, nós estamos estudando a nós mesmos; a nossa capacidade de progredir na
investigação depende do modo como mudamos a nós mesmos.
No filme "What the Bleep Do We Know?" e em publicações similares da ciência popular, podemos
encontrar declarações de que existem possibilidades infinitas a nossa volta. A sabedoria da Cabala
explica que tudo o que existe a nossa volta é a Luz Superior em um estado de completa
imobilidade, e que todas as mudanças e possibilidades infinitas estão dentro de nós. Tudo aquilo
que vemos é o reflexo de nós mesmos na Luz fixa e imutável.
Eu respeito o conceito de que para progredirmos na investigação nós devemos mudar a nós
mesmos, como a próxima percepção que o mundo virá a compreender. Esse é um processo que
começou com Newton, continuou com Einstein, e continuou com a Física Quântica. Agora é a
hora de uma nova fase. A investigação finalmente descobrirá que nada muda, exceto as nossas
ferramentas internas, algo que os Cabalistas descobriram há milhares de anos. Hoje, um número
crescente de pesquisadores e pensadores estão antecipando que a ciência chegará a essa opinião.
Força Doadora e Força Receptora
O conhecimento Cabalístico que possuímos é resultado das investigações Cabalísticas realizadas
por pessoas cujas almas ansiavam com a pergunta sobre o sentido da vida. Elas usaram um método
especial para começar a sentir a realidade de forma abrangente, e escreveram livros sobre o que
descobriram. Quando os Cabalistas sentiram pela primeira vez a realidade completa, eles a
chamaram de "abertura do dos olhos".
A abertura dos olhos é o processo de subir os mesmos degraus pelos quais todos nós descemos, do
já mencionado estado infinito (Ein Sof). A sabedoria da Cabala compreende duas ordens paralelas:
1. De cima para baixo: a descida do desejo de receber desde Ein Sof, através de todos os
Mundos Superiores, até "este mundo".
2. De baixo para cima: a subida do investigador desde “este mundo”, atravessando a barreira,
os Mundos Superiores, até Ein Sof.
A Cabala fala sobre o desejo de receber, ou seja, o desejo de desfrutar. Como nós já dissemos,
existem cinco fases no processo de criação do desejo de receber. Nós sinalizamos estas fases com
quatro letras hebraicas: a ponta do Yod (.), depois o Yod (‫)י‬, Hei (‫)ה‬, Vav (‫)ו‬, Hei (‫)ה‬, e nós
chamamos esta estrutura pelas letras HaVaYaH. Nós também atribuímos a esses cinco estágios,
cinco nomes: Keter, Hochma, Bina, Zeir Anpin e Malchut.
A ponta do Yod é Keter (Figura 7), designando o início da manifestação do desejo que se afasta da
Luz, como um ponto negro dentro da Luz. A partir deste ponto, desenvolve-se a letra Yod - o
desejo primordial. A forma da letra Yod é como um ponto com um espinho na sua cabeça e uma
cauda em sua extremidade. Ela simboliza a criação da nova matéria, anteriormente inexistente, a o
desejo de receber. Este estágio é chamado Hochma.
Visto que a letra Yod evolui, o desejo de receber continua a evoluir, absorvendo o atributo de
doação do Criador. A combinação do atributo de doação e de recepção gera uma nova qualidade,
chamado Bina, designado pela letra Hei.
Bina contém a primeira matéria que quer ser semelhante à Luz que a gerou. A forma da letra Hei
simboliza a integração dos atributos de recepção e doação. Isso gera a forma de doação acima do
desejo primordial.
Após isso, o desejo quer realizar um ato de doação, como o Criador fez anteriormente, e por isso
tenta ser como a letra Yod. Mas como dessa vez este é um ato que o próprio desejo executa,
atribui-se a ele a forma da letra Vav.
A letra Vav simboliza os nossos esforços de ser como o Doador, o Criador. No entanto, o ato de
Vav é considerado incompleto, pois é uma decisão que foi tomada antecipadamente, uma
conseqüência do desejo de Hei de doar. A incompletude do desejo, simbolizada pela letra Vav, é
sugerida em seu nome Zeir Anpin – face pequena (Aramaico). Em Zeir Anpin falta a decisão
independente, a “cabeça”.
Quando Zeir Anpin realiza o ato de doação, ele descobre o que significa ser um doador. Em
conseqüência, ele começa a querer atingir o status do Doador, e este último desejo é chamado
Malchut. O desejo de Malchut é voltado totalmente a receber o atributo de doação; portanto, como
Bina, ele é simbolizado pela letra Hei.
No entanto, há uma diferença fundamental entre o primeiro Hei de Bina e o último Hei de
Malchut. Em Bina, a combinação de recepção e doação vem do Criador, "do Alto", enquanto que
em Malchut esta combinação vem "de baixo", da nossa ânsia pelo status do doador, um desejo que
se origina do seu próprio desejo de receber. Agora nós podemos ver porque as letras Yod, Hei,
Vav, Hei simbolizam o nome do Criador. É o padrão pelo qual o Criador formou o desejo de
receber, dentro do qual o desejo de receber sente o Criador como uma Luz que o preenche.

Figura 7
Visto que a Luz preencheu o desejo de receber em Hochma e o inseriu com a sensação do Doador,
o desejo começou a se sentir como um receptor, e quis ser como o Doador. O desejo pode
facilmente mudar a sua natureza, porque nesta fase ele não é um desejo independente, mas que
veio do Criador. No entanto, o desejo de receber em Malchut já é um desejo independente da
criatura.
Quando o desejo de receber em Malchut quer receber tanto a Luz que vem do Criador quanto o
prazer de ter o status do Doador, ele começa a ver a oposição que existe entre os seus próprios
atributos e os atributos da Luz. Então, o desejo de receber experimenta a diferença entre ele e a
Luz. A sensação desta dolorosa diferença faz com que ele realize o Tzimtzum (restrição da Luz).
Em outras palavras, a reação por descobrir o quão opostos são seus atributos daqueles do Criador,
remove toda a Luz que o preencheu.
A partir deste momento, o Tzimtzum (restrição) se torna a lei reguladora em todas as ações do ser
criado. A Luz deixará de entrar num desejo oposto ao Criador, porque a criatura assim decidiu.
Desta forma, o Tzimtzum torna-se uma lei obrigatória na Criação.
A lei do Tzimtzum diz que, enquanto nós (a criatura) formos egoístas, não seremos capazes de
sentir o Criador e o prazer que vem Dele. Existe apenas um pequeno segmento de toda a realidade,
chamado "este mundo", onde se pode receber prazer e desfrutar dentro de um desejo egoísta,
apesar da lei do Tzimtzum. Isto nos permite existir no nível físico, antes de começarmos a nos
corrigir e nos tornarmos mais equivalentes ao Criador.
Nós temos que entender que a existência egoísta, tal como a nossa atual existência neste mundo,
não existe na realidade. Ascender a partir deste mundo significa ascender um desejo pessoal à
qualidade de doação. Neste mundo, o desejo de receber funciona para dentro, e no mundo
espiritual, ele funciona para fora, dando, como o Criador.
Em outras palavras, o mundo espiritual observa a lei do Tzimtzum, e o termo "espiritualidade" se
refere aos estados em que somos semelhantes ao Criador. Em nosso estado atual, nós somos
egoístas, e estamos opostos ao Criador.
Vamos voltar ao processo da criação. O termo "mundo" descreve certo estado da criatura, o desejo
de receber. Deste modo, o estado da criatura antes do Tzimtzum é chamado de "o mundo Ein Sof"
(o mundo infinito), e o estado após o Tzimtzum é chamado de "o mundo do Tzimtzum" (o mundo
da restrição).
Após o Tzimtzum, o Kli (vaso/ recipiente) permanece vazio e deve decidir o que fazer depois. Ele
sente que ficar vazio é inútil tanto para si mesmo como para o Criador. O ato do Tzimtzum tornou-
o independente do domínio da Luz, mas com isso ele ainda não alcançou nada, porque o Tzimtzum
não o torna um doador como o Criador.
O Kli entende que pode realizar uma ação semelhante àquela que tinha realizado enquanto
transitava de Hochma a Bina. No entanto, agora isto seria por sua própria vontade, livre e
independente. Ele entende que pode dar prazer ao Criador se receber a Luz Dele com a intenção de
dar a Ele. Afinal de contas, esta é a vontade do Criador – deleitar e contentar a criatura.
Assim, quando a Luz (prazer) alcançou a criatura (Kli), a criatura, juntamente com a sensação que
veio do Criador, primeiro a rejeitou. Ela fez isso para não senti-la diretamente, para não sentir a
vergonha de ser oposta ao Criador. Desta forma, a criatura seguiu a lei do Tzimtzum, que não
permite a recepção com a intenção da autogratificação.
Depois, a criatura mediu os prazeres que havia a sua frente e avaliou o resultado em relação ao seu
próprio desejo de desfrutar. Ela só recebeu esta quantidade específica de prazer depois que sabia
exatamente o quanto poderia receber a fim de satisfazer o Criador, e não a si mesma. O restante da
Luz foi, então, recusado.
Os Cabalistas explicam isso usando o exemplo do convidado e o anfitrião. O anfitrião serve todos
os tipos de iguarias requintadas e conduz o convidado à mesa. O convidado sente vergonha e
recusa educadamente. Na verdade, o convidado tem medo de se sentir como um receptor e por
isso protege seu ego da vergonha.
Agora é a vez do anfitrião implorar: "Eu fiz tudo isso para você! Você sabe como eu me importo
com você. Quero satisfazer-lhe com o que eu preparei para você; por favor, você comerá por
mim?". Fazendo isto, o anfitrião demonstra ao convidado uma deficiência, uma necessidade de
que este receba suas iguarias. Agora, o convidado sente que aceitando comer os alimentos ele
satisfaz a necessidade do anfitrião. Ao comer ele faz um bem ao anfitrião.
Assim, o equilíbrio do poder muda: se o convidado recebe para satisfazer o anfitrião, já não é mais
recepção, e sim doação. Segue-se que o convidado usa o amor do anfitrião para devolver prazer ao
anfitrião.
Outro exemplo de uma relação do tipo doação-recepção é entre pais e filhos. Na verdade, a criança
é o chefe da família, usando o amor dos pais para manipulá-los, a fim de satisfazer suas
necessidades. Naturalmente, as pessoas nesses exemplos são egoístas. As coisas acontecem de
forma bem diferente no mundo espiritual, mas tais exemplos podem nos ajudar a entender o
princípio. O processo que ocorre nos Mundos Superiores é construído sobre um princípio muito
semelhante: se a pessoa recebe prazer com a intenção de satisfazer o Criador, isso não é
considerado recepção, mas doação. Ao realizar este ato, o ser humano iguala-se ao Criador e
adquire os pensamentos do Criador.
Em outras palavras, a Luz nos criou desde o princípio com um enorme e gigantesco desejo por ela.
Este desejo está em nós até mesmo agora, mas ele está latente e, portanto, nós não sentimos a Luz
do Criador. Este desejo (pela Luz) deve ser evocado.
É importante perceber que estamos lidando com a pesquisa do termo "Criador" de uma forma
puramente científica. Em outras palavras, nós podemos medir a nossa sensação do Criador com
ferramentas precisas, quantificando cada sensação, e expressando-a numericamente. A ferramenta
com a qual podemos medir a sensação do Criador é chamada "a sabedoria da Cabala". Nós
podemos definir com precisão quais Luzes penetram que parte do Kli, com que força, e em que
condições.
A Cabala fala sobre o desejo de receber criado pelo Criador. Estes dois, o desejo de receber e o
Criador, são elementos muito elevados, no sentido de que precedem todas as religiões e crenças. A
Cabala trata das duas forças atuantes na realidade, a força que doa, chamada "Criador", e a força
que recebe, chamada "criatura".
A Cabala não tem nada a ver com qualquer religião ou qualquer outra fé. Eu não quero comparar a
Cabala a outros ensinamentos, nem desejo discutir qualquer religião, seja Hinduísmo, Judaísmo,
Cristianismo, ou Islã. Afinal, por que lidar com a religião, se nós podemos discutir a física do
Mundo Superior?
O desafio de explicar esse material é que não podemos comparar nossas emoções. Nós não
podemos dizer que o termo "Força Superior” que uma pessoa sente é idêntico ao termo "Força
Superior” que outra pessoa sente. Portanto, é inútil tentar comparar este ou aquele ensinamento
com a Cabala.
A Cabala é uma técnica que fornece ferramentas precisas, matemáticas e mensuráveis. Quando eu
registro dados relacionados a um estado, qualquer outro Cabalista pode realizar o mesmo ato com
suas próprias ferramentas, e conhecer os dados aos quais eu estava me referindo. A sabedoria da
Cabala oferece uma medição precisa das emoções do ser humano.
Os livros de Cabala descrevem as impressões dos Cabalistas da Força Superior. Eles descrevem
suas emoções e nos deixam fórmulas que explicam quais ações internas precisamos realizar no
nosso desejo de receber. Dessa forma, nós aprendemos a praticar atos de recepção e de doação da
Luz que o Criador quer conceder a nós.
Um Cabalista mede com bastante precisão o prazer que pode ser recebido ou rejeitado. Assim, nós
recebemos instruções exatas quanto ao tipo de trabalho interior que devemos fazer em cada
estágio. Desta forma, nós saberemos como trabalhar com nossos desejos em relação à Luz.
Entre Cabala e Ciência
Uma conversa entre o Dr. Jeffrey Satinover e Michael Laitman, PhD, Israel, Abril de 2005

O Conceito de Liberdade na Física Quântica


Rav Laitman: Quais são as perspectivas atuais da ciência em relação ao tema da liberdade de
escolha?
Dr. Satinover: A ciência moderna como um todo, e eu estou usando o termo "como um todo"
porque apresentarei em breve uma significativa correção dele, percebe a realidade como uma
simples realidade material. Ela observa a realidade material como uma máquina integral e
complexa. Eu demonstrarei este conceito usando o modelo do trem de brinquedo. Se nós
ativarmos o trem, ele vai andar nos trilhos e pessoas imaginárias darão um giro nele. Este modelo
é apenas uma máquina.
Você certamente dirá que no modelo do trem de brinquedo, cada uma das suas partes não tem
liberdade de escolha. Da mesma forma, a maioria dos cientistas contemporâneos dirá a você que o
universo físico é exatamente como o trem de brinquedo, e que a ação de cada parte do universo é
determinada totalmente por eventos anteriores no universo. Eles ainda insistirão que não há outro
modelo. A realidade é feita exclusivamente de um universo e um “trem de brinquedo” dentro dele;
não há construtor ou engenheiro que projeta e constrói o trem de brinquedo.
Paralelamente a esta visão, há um ramo da ciência moderna chamado de “Mecânica Quântica”.
Este ramo reconhece que a teoria que acabamos de apresentar está incorreta, e que existe de fato
um elemento de liberdade total no universo físico, onde partículas de átomos não se comportam
mecanicamente, mas "escolhem" como se comportar. Eu estou usando a palavra "escolher" entre
aspas porque nossa linguagem é muito limitada para explicá-lo suficientemente. O verdadeiro
problema é que a ciência não pode dizer nada sobre a natureza do que quer que faça essas
escolhas, pois elas surgem completamente aleatórias para nós.
Se a pessoa entende corretamente a teoria quântica, a mais avançada das ciências, ela pode
perceber que existe uma possibilidade de livre arbítrio autêntico nos seres humanos. No entanto, a
ciência moderna não pode explicar de forma clara como e onde é usado tal livre-arbítrio.
Rav Laitman: Parece que além da natureza simples e acessível, as partículas têm algum modo de
"livre escolha", mas como será que isso afeta os seres humanos? Isso não significa que nós
tenhamos livre escolha no dia-a-dia. Talvez, em algum lugar, na profundidade da matéria, existam
forças adicionais ou probabilidades que obedeçam a uma regularidade que não podemos conceber
no determinismo usual.
Dr. Satinover: Correto. Estes discernimentos são sutis e complexos. As maiores mentes da
ciência vêm discutindo sobre eles nos últimos oitenta anos . Parece que os elétrons individuais
podem “escolher livremente” trajetórias diversas, apesar de suas limitações. Os elétrons não
podem fazer muito; eles não conseguem escrever livros, se casar, ou ir para a guerra. No entanto,
dentro de suas limitações, parece que eles têm certo grau de liberdade.
Quando eu digo que "o elétron escolhe", estou usando frases soltas. A verdade é que nós não
sabemos realmente quem ou o que faz a escolha. O que nós sabemos é que o comportamento de
cada partícula de matéria no universo é duplo: em parte, ela se comporta de acordo com leis fixas
e, em parte, ela se comporta de forma irregular, afetada por algo que não faz parte do nosso
universo conhecido.
Portanto, pode-se dizer que, por exemplo, a criação do nosso Universo também é dupla: em parte,
resultado de processos físicos anteriores, e, em parte, criada por uma Força Superior. Mas a
ciência não pode provar isso. Tudo que ela pode provar é que nós entendemos que as ações físicas
não são determinadas exclusivamente pelas ações físicas que as precedem. Pelo contrário, nós
entendemos que "algo mais" afeta a matéria, mas a ciência não pode nos dizer o que é esta coisa,
nem, certamente, como investigar, confirmar, ou refutá-la.
Alguns poderão argumentar que é como se os elétrons tivessem pseudocérebros que tomassem
essas decisões, mas eu não endosso essa teoria. Neste momento, você é livre para acreditar em
qualquer coisa que você escolher.
Quando um objeto quântico se conecta com outro objeto quântico, ele desencadeia o processo de
tomada de decisão, inflamado pela conexão entre eles. Este processo pode ser com um observador
que está observando a partícula, mas o observador não é obrigatório.
O verdadeiro mistério não está na questão do observador externo, mas no fato de que parece haver
certa liberdade transmitida dentro da matéria. Essa liberdade aponta para "algo" que está além do
universo material, sem nos dizer nada sobre a natureza deste "algo".
Rav Laitman: Eu não consigo entender porque nós não encontramos este mistério até agora.
Quando nós pesquisamos o corpo humano e a psicologia humana, nós não encontramos quaisquer
forças latentes que possam causar comportamentos inexplicáveis. É estranho que tenhamos de
dividir átomos em partículas minúsculas para finalmente descobrir que não há nada neles exceto
uma explosão de energia minúscula, onde finalmente percebemos que não sabemos para onde eles
vão se mover num instante, ou mesmo se nós estamos diante de uma onda ou partícula. Não faria
mais sentido encontrar primeiro essas forças ocultas em um nível muito mais elevado, que
pertença à consciência humana? Por que os físicos, que estudam átomos sem vida, são aqueles que
subitamente encontram uma vida oculta entre essas partículas?
Dr. Satinover: Eu acho que esta é uma das grandes ironias do século 20. Na Física Newtoniana
,os físicos descobriram um universo sem vida. A visão de que a matéria é inerte, e percebê-la
como mera máquina, evoluiu como um desdobramento da investigação na física, química, e
biologia. Finalmente, os físicos também criaram a percepção de que os seres humanos nada mais
são que máquinas.
No dia-a-dia, intuitiva e emocionalmente, nós sentimos a nós mesmos como criaturas livres que
fazem suas próprias escolhas. Além disso, os psicólogos se apóiam na premissa de que seus
pacientes podem escolher livremente. Se eu pensasse em meus pacientes como máquinas, eu teria
desistido de praticar a Psicologia.
No entanto, a premissa razoável e rigorosa do início do século XVII até o século XX, premissa
que todas as ciências confiam, é que todas as coisas são máquinas.
É verdade que a maioria das pessoas não se sente como uma máquina no dia-a-dia, daí a
contradição entre a compreensão científica do mundo e a forma como as pessoas realmente levam
suas vidas. A medicina moderna, a psiquiatria moderna, e todas as doutrinas que investigam a
mente humana e o sistema nervoso não deixam espaço para a suposição de que as pessoas têm
livre arbítrio.
Rav Laitman: O que você está dizendo insinua que os físicos também não queriam lidar com um
sistema que não fosse mecânico. No entanto, a descobertas que surgiram dos experimentos nos
forçou a reconhecer que existe outra força que anula os resultados deterministas que havíamos
previsto.
Dr. Satinover: É realmente isso que aconteceu. Isso só se tornou evidente quando foram
realizados experimentos rigorosos em mecânica quântica no nível subatômico. Os primeiros
resultados deixaram os cientistas perplexos. Einstein, por exemplo, apoiou a opinião de que o
mundo era uma máquina sem vida. Ele pensava que a mecânica quântica era impossível e até
mesmo a definiu como "insana". A possibilidade de que pudesse existir certa liberdade na matéria
fez com que ele proclamasse sua bem conhecida afirmação: "Deus não joga dados com o
universo."
Embora Eistein usasse a palavra “Deus”, ele estava usando essa palavra com cinismo. O que ele
quis dizer era que este nível da matéria, não pode haver qualquer liberdade, como demonstravam
os experimentos. Ele percebeu que se a liberdade existisse neste nível da matéria, isso significaria
o fim da ciência, razão pela qual ele disse que a ciência não pode ser construída sobre tais
posturas.
Rav Laitman: Por que é isso deve significar o fim da ciência? A investigação científica não nos
estimulou sempre a progredir e mudar nossas opiniões? Por que existem tantos cientistas dizendo
que nós estamos nos aproximando do fim da ciência?
Dr. Satinover: Primeiro, Einstein estava errado quando pensou que este seria o fim da ciência.
Ele também estava errado quando pensou que a mecânica quântica é falsa. A mecânica quântica
demonstrou que o conhecimento científico tem seus limites. Os cientistas da teoria quântica
atingiram o limite da investigação e depois a abandonaram.
Eu acredito que o fato mais importante com respeito a sua opinião é que a teoria quântica deixa
muito claro que existe um limite para a capacidade da ciência, e ao mesmo tempo destaca que há
algo mais, do outro lado da fronteira. Eu tenho notado que muitas pessoas esquecem esse ponto, e
acabam se confundindo entre a teoria quântica e a Cabala. A teoria quântica declara de forma
inequívoca que a ciência pode alcançar esse limite e provar que ele existe, mas a teoria quântica
também diz que a ciência não pode dizer nada sobre o que está além dessa fronteira. Não está nas
mãos da ciência descobrir isso, e neste ponto ela admite suas limitações.
Rav Laitman: A nossa percepção da realidade resulta de nossa pesquisa da realidade. Ela é criada
dentro de nós de acordo com os nossos sentidos e a nossa percepção. Muito provavelmente, se nós
fossemos criados com tecnologias mentais e intelectuais que nos permitissem analisar de forma
diferente aquilo que vemos, nós poderíamos atravessar essa fronteira. Em outras palavras, embora
este possa ser o limite de nossas qualidades atuais, talvez esta limitação exista apenas em nosso
estado atual. Seria possível que nós pudéssemos encontrar alguma maneira de mudar nossos
atributos e atravessar essa fronteira?
Deixe-me colocar de forma diferente: é possível que tudo aquilo que nós desconhecemos sobre
partículas quânticas decorre do fato de que estamos presos dentro de uma estrutura de tempo,
espaço e movimento? Se nós nos livrássemos desta limitação, nós poderíamos ter visto todo o
processo de forma diferente? Será que o desconhecido se torna conhecido se nós aperfeiçoarmos
nossas qualidades?
Dr. Satinover: Nesta conversa, eu escolhi deixar de lado a minha visão pessoal do mundo, da
espiritualidade e da Cabala, de propósito. Eu não sou um especialista em nenhum deles. Aqui, eu
estou tentando servir como um emissário do mundo científico que continua reticente sobre o que a
ciência pode ou não fazer.
É possível que os seres humanos tenham sido emanados como criaturas com potencial espiritual
que lhes permite atravessar a fronteira. Como ser humano, eu desejo fazer exatamente isso, e acho
que todas as pessoas se esforçarão para isso. Pode ser que a Cabala seja o método científico que
torna isso possível.
No entanto, a ciência exata exige que sejamos vigilantes e reconheçamos seus limites. A ciência
pode conduzir a humanidade à fronteira, mas não pode nos levar a atravessá-la. Em outras
palavras, um cientista não pode usar a teoria quântica como método para atravessar a fronteira,
que o próprio método aponta.
Rav Laitman: Quanto ao argumento de que existem infinitas possibilidades à nossa volta, não
significa que o cientista observador é quem escolhe entre elas?
Dr. Satinover: Nós não sabemos. A teoria quântica demonstra que certas partículas escolhem uma
trajetória e outras escolhem outra; mas nós não podemos dizer de onde vem essa escolha. Nada
pode ser dito sobre isso do ponto de vista científico; é um completo mistério.
O truque é reconhecer o mistério e não fingir que temos uma resposta quando não temos. Tal
reconhecimento pode nos levar a perceber que existe algo "além" da realidade. Este
reconhecimento não nos diz o que é isso, mas pode nos levar a querer saber sobre isso.

A Unidade Familiar
Dr. Satinover: Qual é a abordagem Cabalística das relações entre homens e mulheres no início do
século XXI, e qual o prognóstico Cabalístico nessa área?
Rav Laitman: Do ponto de vista da Cabala, é importante que um homem e uma mulher estejam
juntos, caminhando juntos no caminho da autocorreção, alcançando equivalência com a Força
Superior. Ao fazer isso, eles se complementam tanto material como espiritualmente. Tanto o
homem como a mulher tem algumas correções a fazer. Ao fazer sua correção pessoal e recíproca,
eles chegarão à conexão correta, de tal forma que sua relação será semelhante à Força Superior.
A diferença entre o que ocorre no século XXI, comparado ao que ocorreu ao longo da história, é
que hoje nós estamos envolvidos em uma crise global. Esta crise é evidente em cada nível das
relações humanas, incluindo pessoal e familiar.
A causa está na intensificação do ego e do desejo de obter prazer. Hoje, o ego humano está em seu
ápice; nós não podemos mais controlá-lo. Como resultado, nós estamos perdendo a capacidade
que tínhamos antes de lidar com nós mesmos e com nosso mundo.
Nós já não queremos pertencer a alguém ou a uma família. À medida que o ego se exalta, as
pessoas não conseguem suportar estarem perto umas das outras. As relações familiares em geral, e
as relações conjugais em particular, são as primeiros a serem prejudicados pela explosão do ego,
pois nossos cônjuges são as pessoas mais próximas a nós.
No passado, a família estava a salvo das flutuações: era uma ilha de estabilidade. Quando havia
problemas no mundo, nós saíamos de casa e lutávamos, mas queríamos voltar para casa. Quando
tínhamos problemas com nossos vizinhos, podíamos mudar de local, mas a nossa família
continuava uma unidade considerada um lugar seguro. Mesmo quando nós não desejávamos
realmente uma família, nós mantínhamos a unidade familiar viva para cuidar de nossos filhos ou
pais idosos.
Hoje, porém, o ego cresceu tanto que nada pode contê-lo. Nós continuamos tentando lidar com
nossos egos e falhamos repetidamente. É verdade que em alguns lugares a situação ainda não é tão
extrema. No entanto, isto irá mudar em breve, devido ao despertar do ego em todo o mundo.
A solução para este problema é nós começarmos a corrigir a nossa natureza: a correção dos nossos
egos. Se nós não fizermos nada para corrigir nossos egos, mergulharemos no abuso de drogas ou
no suicídio, ou experimentaremos a violência do terrorismo global. Nós certamente não vamos
querer ter filhos ou construir famílias, uma tendência que já estamos vendo. Mesmo sem
catástrofes ecológicas, cairemos no caos e na autodestruição. A nossa situação atual exige que nos
perguntemos pra que estamos realmente vivendo, e se há saída para a nossa situação.
Este é o ponto onde chegamos à sabedoria da Cabala. Os Cabalistas escreveram que em épocas
como a nossa, a Cabala surge para ajudar a corrigir nossa natureza. Assim, nós podemos usar a
Cabala para nos elevar a um novo nível de existência eterna e completa.

Destino Pessoal e Destino Coletivo


Dr. Satinover: Qual é a explicação Cabalística sobre o destino pessoal e o destino coletivo? Eu
entendo a importância da união entre as pessoas, mas será que a Cabala tem uma posição com
respeito a cada indivíduo, apesar do destino dos outros?
Rav Laitman: A sabedoria da Cabala, especificamente, promove o crescimento pessoal. Nós
podemos demonstrar isso através da abordagem Cabalística da educação; a Cabala afirma que a
educação apropriada é obtida exclusivamente por meio do exemplo pessoal. É inútil tentar mandar
nas pessoas.
A educação apropriada baseia-se na construção de um ambiente correto e eficaz, além de fornecer
bons exemplos pessoais. As pessoas agirão de acordo com os exemplos que observam, e os
utilizarão conforme o seu nível de desenvolvimento pessoal. Nós devemos tratar cada indivíduo de
acordo com a sua força individual, visto que todo e qualquer indivíduo no mundo é único.
Todos nós somos partes de uma alma coletiva, e cada um de nós possui uma parte única do todo.
Mesmo que uma parte da alma geral esteja ausente, a estrutura estará incompleta e não
atingiremos o propósito da Criação. Portanto, nós devemos cuidar da parte pessoal de toda e
qualquer pessoa. Nós devemos permitir que todos evoluam de uma forma adequada para se
desenvolverem.
A Cabala faz uma distinção entre uma vida social adequada e a evolução individual. Para manter a
sociedade, todos devem certamente obedecer às regras que ela estabelece. Mas quando se trata do
crescimento pessoal, a singularidade de cada pessoa deve ser preservada com fervor. A Cabala
explica em detalhes como o crescimento pessoal e a adesão às regras da sociedade devem ser
misturados, e especifica como se constrói uma sociedade que permita a todos os seus membros
evoluir à sua própria maneira.
A Cabala opõe-se totalmente a qualquer coerção cultural ou educacional dos países Ocidentais em
relação aos países do terceiro mundo. Isso é prejudicial a ambos. A coerção destrói a singularidade
desses povos, porque não os deixa evoluir em seu próprio ritmo e de acordo com suas próprias
regras e cultura. Esta situação cria uma verdadeira deformidade na humanidade e produz
resultados deploráveis.

O Tzadik (Justo)
Dr. Satinover: Qual é a natureza e o papel do Tzadik (pessoa justa)?
Rav Laitman: O termo Tzadik refere-se à pessoa que está em um grau em que Matzdik (justifica)
as ações da Força Superior. O Tzadik justifica tudo o que acontece na Criação, porque ele
conseguiu sentir a totalidade da Criação, e não apenas a parte acessível aos nossos cinco sentidos.
O justo percebe as leis que governam o reino mais além das fronteiras dos nossos cinco sentidos:
as leis que afetam o nosso mundo, criam tudo dentro dele, governam o desenrolar de cada evento,
e o conduzem ao fim desejado pelo Criador.
Assim, um Tzadik é, obviamente, um Cabalista, aquele que revela o Mundo Superior, o Mundo
das Forças, o nível no qual são feitos os planos relativos a este mundo, e do qual elas descem para
operá-lo.
A natureza do Tzadik corresponde ao nível que o Tzadik alcançou. A Cabala explica que tudo o
que sentimos na realidade adere ao princípio da "equivalência de forma", o "princípio da
congruência".
Em cada um dos nossos cinco sentidos, nós percebemos certos lapsos de realidade. Por exemplo, o
nosso sentido da audição nos permite ouvir certa gama de freqüências, e os nossos olhos podem
ver um intervalo finito de cores. Se nós tivéssemos sentidos adicionais, poderíamos perceber a
realidade de forma diferente e, talvez, perceberíamos outras dimensões.
Na verdade, nós não podemos sequer imaginar como poderíamos perceber a realidade se
tivéssemos outros sentidos. Acontece que os nossos cinco sentidos, com seus lapsos específicos
criam limites que definem o nosso sentido de realidade. Nós não podemos ultrapassar esse limite.
No entanto, existe um método que permite a percepção para além desta imagem da realidade,
incluindo as forças que governam nossa realidade, que chamamos de "Mundo Superior". O modo
como somos capazes de percebê-las é baseado no mesmo princípio que se aplica à nossa
percepção da realidade, ou seja, a "equivalência de forma". Em outras palavras, nós devemos nos
igualar a essas forças.
A nossa tarefa é cultivar os atributos que habitam a Esfera Superior, a qual conduz o nosso mundo.
No entanto, é impossível conhecer estes atributos antes de alcançá-los. Portanto, aqui nós somos
assistidos pelos Cabalistas, aqueles que já estão "lá", que nos ensinam como adquirir esses
atributos. Eles explicam como a pessoa pode desenvolver um sentido interno e adicional, uma
"alma", através de atividades especiais. Usando esse sentido nós podemos perceber uma realidade
adicional que estava previamente oculta; daí o epíteto da Cabala: “a sabedoria do oculto”.
Perceber essa realidade oculta nos leva a compreender as fórmulas com as quais ela age sobre nós,
a meta para a qual está nos levando, e a maneira com que está executando essas fórmulas. O
Cabalista está dentro dessa realidade e é parte integrante dela, uma parte que a justifica. Nesse
estado, a pessoa é chamada de Tzadik, e esta é a natureza do Tzadik.
A justificação das ações do Criador engloba 125 níveis. A concordância total com as ações do
Criador é alcançada no último nível. Cada pessoa deve alcançar esse nível final. Este processo de
vida e morte, que repetidamente nos "recicla" neste mundo, é que nos permite subir ao nível da
retidão absoluta, daquele que justifica totalmente o Criador.

Sofrimento Humano
Dr. Satinover: Eu acho que o assunto que as pessoas acham mais difícil de aceitar é o sofrimento
humano. Por um lado, o sofrimento motiva as pessoas a buscar a espiritualidade. Por outro lado, é
muito difícil aceitar o sofrimento. Como é que a Cabala se identifica com essa questão?
Rav Laitman: Certamente, esta é uma questão que confunde a todos. Por um lado, nós estamos
falando de uma Força Superior benevolente, mas se ela é "Superior", significa que é melhor do
que nós. No entanto, o nosso mundo está cheio de angústia e sofrimento. Será que a angústia e o
sofrimento também vêm dessa Força? Existe mais de uma Força? Se for assim, elas estão em
guerra uma com a outra?
Dr. Satinover: Eu me refiro não só à questão filosófica da natureza do sofrimento, mas também
do aspecto prático.
Rav Laitman: A realidade é feita do nosso desejo de desfrutar e do prazer que motiva este desejo
a agir. Estes são os dois únicos componentes em todos os níveis da realidade: o prazer e o desejo
de receber prazer. Em termos Cabalísticos podemos denominá-los "a Luz e o Kli (vaso)".
Quando o prazer está ausente, ele cria a sensação do desejo de desfrutar. Mas, às vezes, a falta de
prazer é tão intensa que cria a sensação de sofrimento. Como tudo é composto por determinada
medida e qualidade do desejo de receber prazer, tudo também sofre quando ele está ausente:
minerais, plantas, animais, e pessoas.
Na verdade, o sofrimento é uma sensação necessária que impulsiona a criatura a abandonar o seu
estado atual e avançar para o próximo. Sem sofrimento, não há movimento. Na verdade, o
movimento significa que o meu estado atual é insatisfatório, de modo que eu decido que ficarei
melhor em um estado diferente. O sofrimento nos permite realizar o esforço necessário para nos
movermos em direção a uma situação que parece melhor. Assim, é impossível progredir sem
sofrimento.
A Força Superior não tem outra maneira de nos elevar a estados melhores, exceto através do
sofrimento. Se ela nos criou egoístas, com um desejo de nos satisfazermos no prazer, então a única
maneira que ela pode nos levar de um estado para o outro é através da sensação de sofrimento.
No entanto, ainda é preciso explicar porque existe muito mais sofrimento hoje do que antes. O
propósito da Criação é que a humanidade alcance o grau mais elevado da realidade.
A única forma de enfrentar esse objetivo é através de um imenso impulso para alcançá-lo, ou
posto de modo diferente, a partir de grandes sofrimentos. Isso não se refere necessariamente ao
sofrimento físico. Aparentemente, nós temos tudo hoje, mas sentimos que algo está faltando, e
essa sensação de ausência é o nível mais elevado de sofrimento.
Para avançarmos, para sairmos das fronteiras deste mundo e começarmos a buscar algo maior, nós
devemos sofrer. Nós devemos sentir o sofrimento no nível mais profundo, para que possamos,
respectivamente, atingir o estado mais elevado. Esse estado sublime de ser que existe em
comparação a este mundo é o mundo espiritual; portanto, o sofrimento também deve ser espiritual,
e não físico.
No sofrimento espiritual, a pessoa não sofre por falta de realizações mundanas. Embora existam
realizações mundanas, elas não fornecem uma sensação de subsistência, ou mesmo uma sensação
de estar vivo. Aqueles que especificamente lamentam a falta de "sentirem-se vivos" terão a força
para pedir alguma coisa além desta vida.
Por esta razão, nós não veremos uma humanidade satisfeita no futuro próximo. Pelo contrário, o
sofrimento intensificará e assumirá uma forma mais espiritual. A sensação de falta de satisfação
espiritual ofuscará qualquer abundância física. Não haverá nada gratificante e prazeroso para nós.
A depressão se espalhará por todo o mundo e a sensação de angústia não nos deixará viver nossas
vidas em paz.
O resultado dessa angústia será o aumento de conflitos, medos, surtos de diversos problemas
psicológicos e psiquiátricos. Essas coisas acontecerão especificamente com a abundância de
material de base, mostrando-nos que o que nos falta em nosso mundo não é o sustento material,
mas a sensação de viver. É assim que a Cabala explica o processo que se avizinha.
O caminho para enfrentar este desafio é utilizar a Cabala para entender a fonte do sofrimento. Isso
suavizará o sofrimento, uma vez que veremos que existe uma razão para ele. Isto nos permitirá
começar a correção antes de mergulharmos na aflição. É por isso que estamos trabalhando duro
para prevenir, ao invés de curar; e prevenção, significa permitir que a humanidade se dê conta da
sabedoria da Cabala antes que ela caia em depressão profunda.
Talvez seja mais fácil encarar o conceito Cabalístico e o propósito do sofrimento se nós
entendermos o seu ponto de vista sobre a morte em geral. Eis o que a Cabala diz sobre a morte:
nós somos peças individuais de um Kli espiritual, chamado Adam ha Rishon (O Primeiro
Homem). A alma de Adam ha Rishon foi dividida em bilhões de almas que desceram a este
mundo. Este mundo é constituído por uma série de corpos, cada um com sua própria alma. O
objetivo é que cada pessoa volte à mesma raiz em Adam ha Rishon do qual ela desceu.
Quando nós chegamos pela primeira vez a este mundo, nossas almas são apenas um "ponto". Se
nós não construirmos um Kli espiritual a partir deste ponto, enquanto vivemos neste mundo, as
nossas almas regressarão às suas raízes em Adam ha Rishon como sementes que não evoluíram,
inconscientes e sem vida. Em outras palavras, nós não sentimos nossa própria existência até que
nossas almas revistam um novo corpo neste mundo.
No entanto, se nós cultivarmos este ponto por meio da intenção altruísta, até que ele se torne um
Kli espiritual, esse Kli permanecerá após a morte de nossos corpos físicos, já que começamos a
sentir a Força Superior enquanto vivemos neste mundo. Essa conexão permanece, pois não faz
parte do nosso corpo biológico.
O Kli espiritual percebe o que está fora de nós, independentemente das nossas percepções
sensoriais naturais. Uma vez que estamos fora de nós, a vida e a morte física não afetam o modo
como a alma percebe. Portanto, nós não sentimos a vida e a morte neste mundo tão intensamente,
já que as sensações espirituais permanecem intactas. Mais precisamente, com o tempo nós
devemos transcender essa alternância biológica entre a vida e a morte a ponto de não sermos
afetados por ela, em absoluto.
Teoria Quântica
Palestra do Dr. Jeffrey Satinover no Congresso Internacional de Cabala, Israel, abril de 2005
Esta palestra se concentrará em um campo que é considerado "ciência avançada”, mas que, em
comparação com a Cabala, é na verdade bastante primitivo. Pense em uma pessoa que não sabe o
que é uma noz e, de repente, vê uma casca de noz. Ela perde muito tempo estudando-a e por
muitos anos assume que ela é um objeto completamente sem vida. Finalmente, após longos e
extenuantes anos de pesquisa, ela examina os símbolos complexos na parte interna da casca e
conclui que esta deve ser a casca de um objeto vivo, provavelmente contendo dentro dela um
organismo vivo em desenvolvimento que não é a casca em si.
Assim como essa pessoa, a ciência moderna tem tido sucesso pesquisando o mundo físico por
centenas de anos, assumindo que este mundo é toda a realidade. A premissa era de que o mundo
físico era uma entidade sem vida, e que não havia nada além dele. A ciência concluiu
recentemente que se nós examinássemos detalhadamente o mundo puramente físico, seríamos
capazes de encontrar uma prova sutil de que o mundo físico é apenas uma casca que cobre uma
entidade viva em seu interior.
Deixe-me tentar explicar a razão pela qual, especificamente, a teoria quântica moderna é um tipo
de "ciência delimitador". Há um amplo debate em torno da teoria quântica, por isso eu
apresentarei apenas o que eu penso que está correto. Eu também recomendo que vocês estudem
este tema por conta própria para saberem o que os outros pesquisadores encontraram, e depois
tirem suas próprias conclusões.
Eu gostaria de salientar que a mecânica quântica e a ciência moderna não falam nada sobre a
Cabala ou a espiritualidade. No entanto, elas falam que o mundo físico não é o fim. Elas provaram
que existe algo além, mas não conseguem dizer nada sobre sua natureza. Eu penso que é de suma
importância definir este ponto com precisão.
Todo o nosso conhecimento, juntamente com o imenso poder da teoria quântica e suas deduções
sobre o mundo físico, faz-nos deduzir duas coisas:
1. Deve haver algo além do mundo físico.
2. Nós não sabemos nada sobre esse "algo" e não conseguimos pesquisá-lo através da
ciência.
Muitas vezes nós queremos que a ciência sirva de instrumento na pesquisa da espiritualidade. Mas
os melhores cientistas já perceberam que isto é impossível. A ciência pode servir de instrumento
intelectual, levando-nos a concluir que há outra coisa. Em termos Cabalísticos, ela pode ser um
barco que nos leva a conhecer o ponto no coração. A matemática mais complexa da mecânica
quântica pode ser uma ferramenta que nos permite reconhecer a existência do ponto no coração.
Mas a ciência não pode ir além desse ponto.

*
Deixe-me tentar fazer uma introdução fácil e breve da teoria quântica. Eu não usarei a matemática
sofisticada e apresentarei somente termos que vocês provavelmente já ouviram antes. Se estes
termos não faziam sentido antes, eu quero felicitá-los, porque eles não deveriam fazer sentido.
Os antigos Cabalistas diziam que é impossível imaginar a verdadeira natureza da realidade. A
mecânica quântica contemporânea chegou a uma conclusão muito parecida. É impossível usar
quaisquer termos ou imagens para compreender corretamente a natureza da realidade física. Por
exemplo, muitos de vocês devem estar cientes da famosa declaração de que quando você entende a
matéria corretamente, você entende que ela é ao mesmo tempo uma onda e uma partícula. Esta é
uma declaração muito moderna, e talvez vocês estejam imaginando algo sobre ela, ou estejam
estabelecendo uma pequena equação mental.
Na verdade, entretanto, esta não é senão uma linha de símbolos totalmente sem sentido. Não há
como torná-los lógicos.
Eu já declarei anteriormente que a teoria quântica permite-nos compreender os limites da ciência
contemporânea e declara que há "algo" além do próprio mundo físico. Para explicar isso, eu
descreverei mais tarde um fenômeno surpreendente, cuja pesquisa está atualmente sendo
desenvolvida, chamada "computação quântica".
Além disso, eu relatarei um experimento genial que foi descrito de forma conceitual pela primeira
vez na década de 1960, por Richard Feynman (1918-1988), um dos maiores físicos do século XX
e prêmio Nobel em Física. Esta representação é, ainda hoje, a descrição mais concisa do mistério
que rodeia a mecânica quântica. Mais tarde, este experimento foi executado com vários tipos de
partículas. Eu oferecerei a minha explicação do porque que esta ciência demonstra o limite da
Ciência, e porque ela aponta diretamente para a existência de "algo" além do mundo material
objetivo.
Por gerações, a perspectiva fundametal da ciência era compatível com aquela de Einstein. A
percepção de Einstein ainda prevalece entre muitos cientistas, afirmando que não há nada além do
mundo físico. Considerando que o cérebro é construído exclusivamente de partículas físicas,
qualquer evento específico, ou seja, a interação de uma partícula com outra, é definido totalmente
pela localização das partículas e seus movimentos no momento anterior. A mesma perspectiva se
aplica a todos os eventos no mundo físico, incluindo os eventos em nossos corpos, mentes,
pensamentos, e interconexões.
Em outras palavras, todo o universo físico é um mecanismo mecânico sem vida, desdobrando-se
inevitável e fatalmente. Qualquer percepção que nós achamos ser nossa, a nossa própria percepção
de nós mesmos como seres humanos conscientes e sensíveis, com nossas próprias intenções, (tudo
aquilo que fazemos agora e no resto da nossa vida humana) é apenas uma ilusão. Não há amor,
ódio, paixão ou satisfação. Nós somos partículas sem vida dentro de composições complexas que
se desenvolvem ao longo do tempo.
Todo o nosso progresso na medicina se baseia inteiramente nessa perspectiva e, graças a ela, teve
êxito. Muitos de nós devemos nossas vidas a ela. Esta perspectiva é muito atraente e não pode ser
facilmente descartada.
No entanto, este princípio ataca brutalmente não apenas a nossa percepção de nós mesmos, mas a
nossa necessidade de atribuir propósito e significado à vida. No entanto, por mais irritante que
seja, uma grande parte do mundo funciona justamente dessa maneira mecanicista.
Muitos filósofos contemporâneos reconheceram que, embora esta visão tenha proporcionado
grandes benefícios, ela impôs uma alarmante aflição sobre nós devido à crença de que a vida é, no
final das contas, sem sentido.
Por exemplo, os nazistas aplicaram rapidamente esta perspectiva em diversas áreas e tornaram-se
muito eficientes tanto como assassinos quanto cientistas. Muitas vezes, a atitude da medicina
moderna para com as pessoas é fria e cruel, principalmente por causa da eficiência da perspectiva
de que a vida não tem sentido.
A ciência da computação é um tipo de destilação extrema da perspectiva mecânica até a
matemática e a lógica das interações mecânicas. A base científica para a ciência da computação
moderna é a idéia de que uma entidade física pode existir em vários estados simultaneamente. O
computador é composto de componentes que são baseados em "bits", e contém uma quantidade
enorme deles. O "bit" é uma entidade física que pode existir em um dos dois estados.
A mecânica quântica moderna leva em conta um fenômeno com implicações de longo alcance. Ela
sustenta que pode haver entidades físicas existindo em dois estados simultaneamente. Acreditem
em mim por um só momento - tal coisa realmente existe. Isto significa que se um computador
padrão pode estar em n estados, um computador quântico pode estar em 2n estados ao mesmo
tempo.
No laboratório da Universidade de Yale, nós construímos um dispositivo que contém 400
componentes desse tipo. Isto pode parecer um número relativamente pequeno, mas esse
dispositivo pode gerar uma memória de 2400 bits. Este é um número tão grande que nem sequer
podemos nem mesmo percebê-lo. Portanto, nós estamos falando sobre a construção de
computadores com poder tão fantástico que poderiam literalmente fazer magia.
Como surgiu a hipótese de que dois estados diferentes poderiam existir simultaneamente? Aqui
devemos mencionar um experimento conduzido por Richard Feynman cerca de cinqüenta anos
atrás. Supondo que exista um tanque cheio de água contendo um dispositivo que se move para
cima e para baixo. Esta ação cria ondas de duas fontes diferentes, fazendo com que as ondas
cruzem seus caminhos. Finalmente, o caminho de cruzamento das ondas criará um padrão
conhecido como "padrão de interferência" (Figura 8). Este padrão é uma coleção do caminho de
passagem das ondas. É um fenômeno muito bem conhecido e nós podemos facilmente calcular
onde serão estes pontos de passagem.

Figura 8
Agora, deixe-nos imaginar um experimento semelhante, mas com partículas em vez de
ondulações. Imagine uma pistola disparando partículas semelhante a projéteis em uma tela. Se
nós colocássemos uma divisão entre o projétil da pistola e a tela, com uma pequena fresta nela, e
atirássemos em direção à tela, apenas um fino raio de partículas penetrará a tela através da fenda.
Conseqüentemente, as partículas sempre aparecerão em certo ponto previsível (Figura 9).
Figura 9
Se nós mudássemos o experimento um pouco e fizéssemos dois cortes na divisão em vez de um,
nós esperaríamos que as partículas alcançassem dois pontos distintos na tela, assim como nós
tínhamos um ponto distinto na tela quando havia apenas uma fenda. No entanto, se nós
construíssemos o experimento corretamente, em uma determinada relação entre o tamanho das
partículas e o tamanho das fendas, o resultado seria bastante diferente: descobriríamos que as
partículas surgiriam ao longo de toda a tela, e não apenas em dois pontos previsto.
Como resultado, as partículas surgiriam até mesmo em espaços ao longo de toda a tela e em
ambos os sentidos, indefinidamente. A quantidade de partículas em cada ponto diferiria, sendo
mais abundante no centro e diminuindo gradualmente à medida que nos afastássemos do centro. A
proporção entre o número de partículas surgindo em cada ponto cria um padrão de onda (figura
10). Como resultado, pode-se dizer que as partículas quânticas são tanto ondas quanto partículas,
simultaneamente.

Figure 10
Isso levanta a questão: "O que é uma onda?". Para simplificar como isso funciona, eu explicarei
primeiro com precisão limitada, e depois corrigirei a imprecisão. Uma onda é a divisão de
probabilidades para encontrar uma partícula em um determinado ponto ao longo da tela. Na
verdade, a partícula da pistola projeta uma "onda de probabilidades móvel", a probabilidade de
que certa determinada partícula estará em um determinado local.
Agora, permitam que eu me corrija: quando nós medimos os números que descrevem a quantidade
de partículas que surgiram em cada ponto da tela, nós obtemos um resultado matemático que não
combina perfeitamente com uma onda de probabilidades móvel. Pelo contrário, ele é a raiz
quadrada da probabilidade.
De fato, algumas raízes quadradas são negativas. A probabilidade de que algo aconteça no mundo
real pode oscilar entre 0 e 1, mas não pode ser negativo. Em outras palavras, esta "coisa" que se
expande no espaço não existe no mundo físico, mas ela ainda cria um impacto.
Mesmo se nós disparássemos uma partícula por semana, a probabilidade da distribuição
permaneceria idêntica ao padrão de interferência das duas ondas que mencionamos acima. Na
verdade, mesmo se disparássemos uma única partícula, desmontássemos o equipamento, o
montássemos novamente anos mais tarde, e disparássemos outra partícula isolada, nós ainda
teríamos exatamente o mesmo resultado (figura 11).

Figura 11
Este padrão de probabilidade é construído com precisão mecânica absoluta. Ele é tão
surpreendente que parece estender-se além do tempo e do espaço. A estrutura desse fenômeno é
predeterminada em um mecanismo perfeito, a sua matemática é conhecida com precisão total, e
hoje este fenômeno nos auxilia na construção de surpreendentes e precisos dispositivos de
computação.
Se nós disparássemos uma única partícula, seríamos capazes de prever com absoluta precisão
matemática a probabilidade dessa partícula atingir um determinado ponto na tela. No entanto, a
mecânica quântica diz, e este é o meu ponto principal, que nada no universo físico pode
determinar exatamente onde essa partícula baterá.
Em outras palavras, quando você está olhando para milhões de partículas, algumas questões são
determinadas com absoluta certeza matemática. No entanto, o local específico onde cada partícula
pousará permanece indefinido por alguma coisa no universo físico.
Como resultado, alguns dos maiores físicos deduziram que há um elemento determinista no
universo que opera exatamente como nós temos pensado. No entanto, há outro elemento operativo
desconhecido delicadamente misturado na textura do universo que não interfere com o
desdobramento da mecânica. É por isso que tudo parece mecânico aos olhos de quem não está
observando de modo suficientemente aguçado.
No entanto, se observarmos com muito cuidado, veremos que qualquer desdobramento particular
no universo é afetado por algo que não faz parte do universo. Além disso, já que a própria teoria
requer um elemento que é essencialmente extra-universal, nós ficamos com um limite.
É por isso que alguns físicos proclamaram que a física quântica fosse uma ciência delimitadora,
uma ciência que aponta para o limite que os seres humanos podem chegar ao pesquisar o universo
físico. Em outras palavras, esses físicos afirmam que há algo além desse limite que a ciência
nunca será capaz de identificar.

A Credibilidade da Teoria Quântica


Qualquer teoria pode provar-se errada. Do mesmo modo, a teoria quântica é só uma teoria que
pode resultar em um equívoco. Além disso, ainda hoje existem cientistas que a consideram errada
e estão à procura de alternativas.
No mundo da ciência, é comum que uma teoria caia para outra subir em seu lugar. No entanto,
existe uma sutil distinção a ser feita aqui. Deixe-me explicar, comparando a Teoria Newtoniana
com a teoria da relatividade de Einstein. Primeiro, vamos supor que existe uma vara que se move
no espaço. De acordo com Einstein, se nós fizermos a vara se mover extremamente rápido, ele
começará a encolher. Segundo Newton, independentemente da velocidade, a vara permanecerá
como está. Assim, nós temos duas teorias concorrentes.
Alguns dirão que a teoria de Newton é completamente falsa e que a de Einstein é correta. De fato,
se olharmos para a questão superficialmente, esta será uma afirmação verdadeira. No entanto, o
fato é que essa afirmação é falsa.
A maneira exata de se decidir entre as duas teorias é dizer que a teoria de Newton é um caso limite
da teoria de Einstein. Isto significa que na maioria das circunstâncias habituais, as varas não
podem se mover tão rápido quanto dura para nós vê-las encolher. Portanto, na maioria dos casos, a
explicação de Newton é verdadeira.
No entanto, a percepção de Einstein está geralmente correta. Não apenas ela é verdadeira em
relação às velocidades habituais, mas também seria verdadeira se nós acelerássemos a velocidade
a uma velocidade tal que pudéssemos realmente ver a vara encolhendo.
Se a ciência descobre uma nova teoria que diga que a representação atual da realidade pela
mecânica quântica seja um caso delimitador, então tudo aquilo que temos dito sobre a teoria
quântica permanecerá verdadeiro. Se você afirma que ela é incorreta, então você terá que mostrar
que ela é total e essencialmente falsa. Esta possibilidade sempre existe, teoricamente, mas a
mecânica quântica tem provado até aqui como esta teoria científica é bem sucedida na história da
ciência, passando por mais testes rigorosos do que qualquer outra teoria até hoje. Por isso, é
altamente improvável que ela venha a ser, essencialmente, refutada.
*
Na sua origem, a ciência era baseada em uma visão religiosa, que percebia o mundo como uma
entidade viva, onde diversas forças espirituais agiam, tais como fantasmas e demônios. Mais tarde
veio a ciência mecânica moderna que determinou que a teoria anterior fosse uma falácia completa,
e que o mundo poderia ser mais bem entendido utilizando-se os princípios mecânicos da física e
da química.
A Ciência mecânica determinou que não houvesse fantasmas ou demônios habitando e operando a
matéria. Em vez disso, ela postulou que a matéria é operada por causa e efeito. As reações
químicas não acontecem de acordo com os fantasmas da alquimia, mas de acordo com as reações
químicas quantificáveis que podem ser mecanicamente controladas pela matemática.
Essa abordagem mecânica tornou possível o nosso enorme progresso na compreensão da matéria e
seu modo de ação. Isso também conduziu a inúmeras inovações tecnológicas que nos beneficiaram
por muitos anos. Como dissemos anteriormente, a medicina moderna é fundamentalmente baseada
nessa visão de mundo mecânico.
Até a década de 1930, a crença predominante era de que a biologia era diferente de todas as outras
ciências. Acreditava-se que, embora um organismo vivo fosse feito de produtos químicos, ele era,
no entanto, operado por uma entidade viva que não era uma simples matéria.
No entanto, a evolução da biologia contemporânea só pôde ocorrer depois que se decidiu descartar
a idéia da entidade viva. Os professores que insistiam no apoio ao velho conceito foram
descartados de universidades. Assim, a moderna engenharia genética, a biologia molecular e a
farmacologia progrediram através da abordagem mecanicista inanimada de reduzir biossistemas
vivos a nada mais do que máquinas complexas.
Há um ponto muito interessante sobre a relação entre a física e as outras ciências. Todas as
ciências (química, biologia, zoologia, antropologia, sociologia e qualquer outra ciência)
conceberam seus modelos de acordo com a percepção mecanicista da ciência real, a física. Na
verdade, esse processo continua hoje.
Em muitas universidades por todo o mundo, várias ciências têm ainda que adaptar seus modelos
aos modelos da física do século XIX. O problema é que a física já abandonou esses modelos.
Mesmo a biologia molecular, que estuda o objeto mais minúsculo, ainda tem que recorrer ao
caminho que a revolução quântica pavimentou.
Cerca de um ano atrás, eu dei um curso no Departamento de Bioquímica da Universidade de
Toulouse, França. O chefe do departamento não tinha conhecimento do fato de que para
compreender o processo evolutivo da proteína, a pessoa precisava levar em consideração os efeitos
quânticos, e que é por isso que o mesmo não pode ser entendido em termos da mecânica clássica.
Este é apenas um exemplo de como até mesmo ciências "fundamentais" como a bioquímica não
internalizaram as implicações da mecânica quântica.
Mesmo em seu tribunal de origem, na física, a maioria dos físicos ainda não se deparou com as
implicações da descoberta de que os acontecimentos se desenrolam no universo físico, sem
serem completamente determinados por eventos anteriores no universo físico. Este conceito
ainda é chocante para a percepção científica predominante em todo o mundo
Nós estamos no meio de uma revolução conceitual que progride lentamente. Cada vez mais,
físicos, biofísicos e cientistas biomoleculares estão começando a entender o impacto da mecânica
quântica. No entanto, apenas poucos reconheceram que a evolução incorpora efeitos quânticos no
processo de concepção dos organismos. Quando estes cientistas começaram a enfrentar esta
revolução conceitual, alguns deles compreenderam a implicação de longo alcance: que a visão
mecanicista foi ultrapassada, e que algo tinha vindo para substituí-la.
Em nota pessoal, eu gostaria de dizer que mesmo quando era jovem, eu sentia que os mistérios do
mundo físico escondiam um profundo mistério. Mesmo antes que eu soubesse do que se tratava a
física quântica, eu acreditava que mergulhar em suas profundezas me levaria ao mundo espiritual.
Além disso, eu sempre fui atraído intuitivamente pela Cabala. Sempre me deparei com ela na sua
forma genuína, eu sentia que ela manifestava uma verdade inerente.
A Essência da Sabedoria da Cabala
Lutando pelo Equilíbrio

Quando crianças, muitos de nós acreditavam que o mundo estava repleto de todos os tipos de
forças, tais como fantasmas nos contos de fadas. À medida que nós crescemos, nós gradualmente
abandonamos essa crença, mas de vez em quando ainda sentimos o quão forte essas forças
realmente existem.

Na verdade, nós estamos buscando por elas a todo o momento. Nós queremos saber sobre o
mundo em que vivemos, porque se não o fizermos, nós nunca seremos libertados dessa sensação
de incerteza, para vivermos em paz e confiança. Nós sentimos curiosidade em entender o mundo
em que vivemos para melhorarmos nossa condição de vida. Esta curiosidade evoca questões
como: “Quem sou eu?”, “Onde estou?”, “O que será de mim?”. Tais questões nos estimulam a
buscar conhecer a realidade em que vivemos.

A realidade é dividida em duas partes: o ser humano e seu ambiente. Alguns dizem que nós só
devemos estudar e mudar a nós mesmos, afirmando que fazendo assim, nós nos sentiremos
tranqüilos e atentos ao mundo mais positivamente. Outros, entretanto, dizem que nós devemos
permanecer como somos, tirar o máximo proveito do que o mundo nos dá, e mudar o mundo para
que se ele se ajuste às nossas necessidades. De qualquer maneira, isso não significa que nossas
vidas estão indo muito bem.

O melhor estado no qual nós podemos nos entender com o mundo é através do equilíbrio. Se
todos me entendessem e quisessem exatamente o que eu quero, este seria o estado de equilíbrio.
Não existe estado mais perfeito que o sentimento de estar em equilíbrio com o mundo. Isto só
pode ser comparado ao estado de feto dentro do útero da minha mãe: tudo existe somente para
cuidar de mim; não há necessidade de se erguer quaisquer defesas.

A ciência se refere a esse estado como “homeostase”. A palavra grega “homo” significa mesmo
ou similar, e “stasis” significa condição. Este é o estado de existência que qualquer objeto na
realidade busca alcançar.

As leis da física, química e biologia explicam que a única razão para qualquer movimento da
matéria, seja ela inanimada, vegetativa, animada ou falante, está em seu desejo de estar em
equilíbrio com seu ambiente. Para nós, como seres humanos, estarmos em equilíbrio com nosso
ambiente, nós precisamos conhecer a natureza do mundo à nossa volta e como podemos nos
igualar a ela.

Somente então nós saberemos como alcançar o estado onde todos desejarão aquilo que nós
queremos, terão os mesmos pensamentos e não guardarão nenhum rancor contra os outros. Assim,
todos revelariam a paz e o amor. Este é o objetivo pelo qual a Cabala existe; ela nos ensina como
obter a paz entre toda a humanidade, e entre a humanidade e a natureza.

Todas as nossas investigações do mundo e de nós mesmos são realizadas pela ciência.
Lamentavelmente, o progresso da ciência e da tecnologia não nos tem feito mais felizes. Graças a
todos os esforços para se alcançar um estado de tranqüilidade, plenitude e felicidade, a nossa
realidade está se tornando mais dura e ameaçadora a cada dia que passa.
Mas se todos nós estamos nos esforçando pelo melhor, por existem problemas? Os problemas
existem porque nós não conhecemos toda a realidade, como ele se comporta, sua estrutura ou
como ela age sobre nós. Nós não sabemos o que precisamos igualar.

Parece que quanto mais nós investigamos a matéria, quanto mais tentamos entender nossa própria
natureza e a natureza do mundo exterior, mais falhamos em enxergar o que a natureza quer de nós,
por que ela existe, e qual o propósito de cada elemento na natureza.

Alguns pesquisadores investigam a camada externa da matéria; outros pesquisam a fundo sua
estrutura, até o nível molecular e os relacionamentos entre os átomos e as partículas subatômicas.
Os mais avançados pesquisadores afirmam que, em certo nível, a matéria se torna evasiva. Desse
ponto em diante eles não entendem o que acontece. Entretanto, a razão pela qual eles falham em
entender a existência abaixo do nível subatômico não está na falta de ferramentas de pesquisa mais
sofisticadas, mas na incapacidade do ser humano de perceber a realidade de forma geral.

Enquanto nós contamos apenas com os nossos cinco sentidos, nós sentimos que podemos fazer
com a realidade o que queremos. Ao entrarmos no mundo espiritual, entretanto, nós percebemos
que, de fato, é a realidade que faz conosco aquilo que ela quer. De certo nível da espiritualidade
em diante nós entendemos que somos nós que estamos construindo nossa própria realidade. Em
outras palavras, nós reconhecemos que a realidade é uma espécie de projeção de nós mesmos.

Este último nível é o que os pesquisadores contemporâneos descrevem. Eles afirmam que existe
certo limite além do qual nós não podemos perceber. Este ponto entre o mundo físico e perceptível
e o que se estende além da nossa percepção é o ponto de encontro entre a ciência e a Cabala.

A Cabala explica que existe um estilo de pesquisa que nos permite penetrar no “nível das causas”.
Ao usá-lo, a pessoa pode entender com certeza o motivo no qual o mundo existe, o que ele quer de
nós, e como nós podemos existir em equilíbrio com ele, um equilíbrio que nós experimentaremos
como paz e tranqüilidade. Aqueles que já pesquisaram esse reino são chamados “Cabalistas” e
seus escritos descrevem o resultado de suas pesquisas.

Os Cabalistas dizem que além da matéria visível encontra-se o desejo e a deliberação da Natureza,
que envolve toda a realidade. Esse desejo e deliberação circundam a realidade, protegem-na, e a
operam para poder beneficiarem-se dela. Além disso, esse desejo e deliberação constituem a lei
geral da realidade. Em outras palavras, a lei geral da realidade é a doação absoluta, e toda a
matéria na realidade precisa igualar-se a ela.

A sabedoria da Cabala nos ajuda a perceber e a sentir a verdadeira atitude da Natureza em relação
a nós. Dessa forma, nós podemos tratar a Natureza com a mesma atitude e, assim, nos igualarmos
a ela.

Os níveis de revelação da verdadeira realidade são chamados “mundos”. Assim como os cientistas
examinam a estrutura dos materiais com microscópios, ou investigam as profundezas do espaço
com telescópios, os Cabalistas também penetram no pensamento que envolve a realidade usando a
sabedoria da Cabala.
O nosso progresso na pesquisa da realidade é uma verdadeira aventura. Nós podemos começar a
sentir o nosso passado e o futuro, e descobrir que o tempo na verdade não existe; que, de fato, tudo
já existe. Um Cabalista pode viajar no tempo, tal como o percebemos agora, e progredir ou
regredir além do estado atual.

As pessoas que são capazes de tais “saltos no tempo” são chamadas “profetas”. Elas não prevêem
ou imaginam o futuro, mas simplesmente se deslocam vários níveis à frente, em direção a um
nível específico da realidade que o resto da humanidade um dia alcançará. Elas nos falam “de lá” e
nos dizem o que sentem em suas “épocas presentes”. Elas poderiam com a mesma facilidade
serem grandes historiadores, regredindo a estados que a humanidade uma vez experimentou,
revivê-los, e nos falar sobre eles.

Muitas vezes, nós podemos encontrar escritos Cabalísticos que descrevem eventos antes do seu
próprio tempo, tal com Abraão vagando de um lugar ao outro, encontrando pessoas, aprendendo o
que elas diziam e o que faziam. Para saber tudo isso, o pesquisador Cabalístico precisa voltar no
tempo para alcançar o mesmo estado que Abraão alcançou, isto é, um nível específico, e nos dizer
sobre aquela realidade estando totalmente presente nela. Um Cabalista pode colher impressões
daquela época e transmiti-las a nós.

O Baal HaSulam descreve isso da seguinte maneira: Porém, como aqueles que alcançaram o
nível onde Abraão estava, ou qualquer um, eles vêem e sabem o que Abraão viu e sabia. Por
essa razão eles sabem o que Abraão diria, e da mesma forma em todos os dizeres dos nossos
sábios quando eles interpretaram os versos da Torá. Tudo isso porque eles também atingiram o
nível, e cada nível na espiritualidade é uma realidade. Todo mundo vê a realidade, como
aqueles que chegam à cidade de Londres na Inglaterra vêm o que está na cidade o que é dito
nela.

–Baal HaSulam, Shamati, artigo 98: A Espiritualidade É Aquilo Que Nunca Será Perdido.

Além da capacidade de se mover no tempo, os Cabalistas descobrem outras forças na realidade.


Não é por coincidência que as lendas falam de fantasmas, demônios e anjos. Embora elas
realmente tenham um significado muito diferente daquilo que nós atualmente atribuímos a elas,
tais forças existem. Um Cabalista que investiga as profundezas da natureza começa a ver suas
forças operativas, conecta-se a elas, e utiliza-as beneficiar a si próprio e toda a humanidade.

A admissão ao estudo da realidade requer certos esforços, mas isso também absorve toda a vida
interior da pessoa e provê uma realização plena. A pessoa que estuda a realidade descobre a razão
da nossa existência, sabe onde todos nós temos que chegar, e entende as razões de nossos
múltiplos problemas.

Portanto, a Cabala não é uma mera pesquisa científica. Pelo contrário, ela é um método prático
destinado a nos ajudar em todos os momentos de nossas vidas. Através da Cabala, a pessoa
descobre o futuro, o passado, seus atributos quando ela desceu pela primeira vez a este mundo há
muitas vidas, e o caminho que ainda precisa ser transposto.
Vendo ambos os lados da moeda, a pessoa entende o que fazer e como fazer da melhor forma. Os
Cabalistas também conseguem perceber as forças agindo sobre eles a todo instante, tal como o
porquê alguém deveria casar com certo indivíduo, ou porque as crianças de alguém são com elas
são. Todos esses detalhes são pré-determinados. De fato, atualmente até mesmo a ciência
reconhece que esta informação é determinada nos genes.

Existe uma famosa história sobre gêmeos que foram separados quando eram muito jovens e
perderam contato um com o outro. Trinta anos depois eles se reuniram e descobriram que ambos
tinham a mesma ocupação, suas esposas tinham o mesmo nome, eles tiveram filhos com os
mesmos nomes, e até mesmo as casas em que viviam eram do mesmo número. As coisas se
desenrolam dessa maneira por causa de nossa informação interna, que define tudo que acontecerá
conosco e cada um dos estados que nós experimentaremos na vida.

A Cabala denomina essas predefinições internas que guiam a vida de uma pessoa, Reshimot. As
Reshimot existem em cada pessoa, e cada estágio que ela vivencia tem a intenção de ensinar algo
que estimulará a pessoa a avançar em direção à conquista do objetivo final.

Se nós conhecêssemos as forças que agem sobre nós e a nossa estrutura interior, nós poderíamos
nos preparar para cada estágio futuro. Se nós soubéssemos como estar em equilíbrio com a lei
geral da realidade, a realidade nos pareceria totalmente oposta à aparência atual.

A sabedoria da Cabala não tem o propósito de nos ensinar sobre a realidade de uma maneira
simplesmente científica, de modo que nós possamos filosofar sobre os “habitantes” dos Mundos
Superiores. Mais do que isso, ela nos ensina a controlar nosso destino a cada momento. Todas as
forças e eventos que nos pressionam têm a intenção de nos ajudar a nos tornarmos líderes de nossa
própria realidade. “Líderes da realidade” significa que nós estamos em equilíbrio com a realidade
em cada momento da existência. Portanto, a nossa tarefa é descobrir o que significa “estar em um
estado de equilíbrio”.

Controlando o Mundo Material

Os investigadores Cabalísticos da realidade descobriram que a realidade é composta pelo nosso


mundo e os mundos superiores. O mais inferior de todos os mundos é o nosso mundo material; o
resto são mundos espirituais. Nos mundos espirituais, não existe tal coisa como a matéria física na
forma que existe no nosso mundo material. A substância dos mundos espirituais contém somente
desejos, forças e pensamentos.

Nós pensamos que podemos controlar os problemas do nosso mundo, mas quando nós
ascendemos a um nível superior, nós imediatamente entendemos que o problema é só uma
conseqüência. A matéria é operada pelas Forças Superiores, os Mundos Superiores. Como nós
ainda não estamos nestes mundos, não estamos aptos a controlá-la.

Se nós quisermos mudar alguma coisa, nós precisamos ascender ao nível acima do nosso, onde as
preparações são feitas antes de serem implantadas em nós. Somente neste nível nós adquirimos
certo nível de entendimento e habilidade para mudar qualquer coisa. A vida seguidamente nos
prova que não controlamos nada, e, na maioria dos casos, nós estamos na 3ª idade antes de
percebermos que a vida simplesmente passou.

Apesar do progresso tecnológico, a humanidade está totalmente confusa em relação ao seu


progresso. Nós estamos em um estado terrível porque estamos o mais longe possível do equilíbrio,
e até que nós adquiramos o conhecimento e a força para mudarmos qualquer coisa em um nível
mais elevado do que a matéria, nós não teremos um momento de descanso. Somente quando nós
nos elevarmos ao nível e às forças que operam o nosso mundo é que alcançaremos o equilíbrio tão
desejado.

Abrindo Nossos Olhos

Toda a realidade é um pensamento simples e imutável de doação e outorga. Os Cabalistas se


referem a esse pensamento pelo nome de “O Pensamento da Criação”. Eles dizem que sua
essência é o desejo do Criador de fazer o bem às Suas criações. Se nós não nos relacionarmos de
forma semelhante a esse abrangente pensamento da realidade, nós estaremos em desequilíbrio com
ele, o qual nós experimentaremos como sofrimento.

Obviamente, nós não o sentimos. E mesmo que depois venhamos a senti-lo, nós acharemos difícil
entendê-lo. Mas se nós percebêssemos que era assim que a realidade funciona, nós mudaríamos
nossos hábitos.

Assim, o nosso único objetivo seria abrir os nossos olhos e ver que de fato é assim. A sabedoria da
Cabala nos ajuda a perceber isso; quando o fizermos, nós certamente mudaremos.

Se eu percebesse que alguma coisa poderia melhorar a minha situação, eu a perseguiria de todas as
maneiras possíveis. E se eu tivesse que dar alguma coisa para melhorar, eu a daria, desde que ela
melhorasse meu estado de ser. Entretanto, a dificuldade primordial é abrir nossos olhos e perceber
o que está atualmente oculto de nós.

Todos os nossos estágios evolutivos são pré-ordenados no pensamento da Criação, mas o caminho
e a velocidade com que nós os atravessamos dependem inteiramente de nós. De fato, nós podemos
andar por todo o caminho hoje, e nos equivalermos ao Pensamento da Criação.

A Estrutura Da Realidade

Durante toda a sua existência, a humanidade tem utilizado seus cinco sentidos para investigar a
realidade na qual vive, e coletar os achados para formular ciências. O propósito da ciência e do
conhecimento humano acumulado é melhorar as nossas vidas e nos ajudar a usar o mundo onde
vivemos de forma mais efetiva.
A sabedoria da Cabala, diferente de todas as outras ciências, investiga um reino cuja existência
engana a pessoa comum. Para investigar este reino, a pessoa precisa estar equipada com outro
sentido, um sentido que percebe o “Mundo Superior”. Com essa capacidade sensorial adicional, a
pessoa pode coletar informação sobre o Mundo Superior e experimentá-lo. Como qualquer
cientista comum, o Cabalista pode anotar as reações às ações. Os Cabalistas são investigadores do
Mundo Superior, e como tais, eles têm anotado suas descobertas ao longo de milhares de anos de
investigação. O conjunto dos seus registros constitui a sabedoria da Cabala.

A sabedoria da Cabala descreve as ações que se originam no Criador e descendem ao nosso


mundo através dos Mundos Superiores. Ela também descreve como elas se expandem através da
realidade corporal que todos nós podemos perceber com os nossos cinco sentidos.

O nosso mundo é uma conseqüência dos Mundos Superiores. Assim, a sabedoria da Cabala
contém conhecimento sobre os Mundos Superiores e o nosso mundo. Os Mundos Superiores
pertencem a um nível mais elevado de existência que o nosso mundo, onde tempo, espaço e
movimento não existem, mas somente forças abstratas. Conseqüentemente, a Cabala contém a
existência de todos os tempos conforme eles são expressos em nosso mundo.

A Cabala é um meio que nos ajuda a investigar todos os estágios da existência. Esta seqüência de
estágios inclui o estágio antes de nossa alma revestir os corpos físicos, todas as nossas fases
enquanto existimos neste mundo, e a situação quando a alma deixa o corpo e retorna às suas raízes
no Mundo Superior.

A Cabala lida com tudo que se expande do Criador para a realidade que Ele criou, e a qual Ele
conduz ao Seu objetivo desejado. A Cabala não lida com o próprio Criador.

Devido à crise que a humanidade está enfrentando e a crescente sensação de desespero e vazio,
chegou o momento da sabedoria da Cabala aparecer. A Cabala explica que o propósito da
realidade é elevar a humanidade ao nível de igualdade com o Criador. O propósito do declínio da
humanidade a este mundo é para que possamos nos elevar de forma independente ao nível mais
alto – o nível do Criador.

Enquanto nós estamos neste mundo e ascendemos em direção ao Criador, nós mantemos ambos os
lados da realidade, à medida que estamos em nosso mundo fisicamente e nossas almas no nível do
Criador. Este é o propósito de nossa existência, predeterminada pelo Criador, que conduz a todos
nós a Ele.

No final de todas as nossas encarnações físicas neste mundo, nossas almas alcançarão o nível do
Criador. Este processo é similar a qualquer outro processo gradual na realidade. Do ponto de vista
do Criador, o início do processo e seu fim são o mesmo ponto. Porém, enquanto não existe
conceito de tempo para o Criador, para nós o processo se estende por milênios, um período longo
o suficiente para que nós adquiramos o discernimento e as qualidades necessárias para evoluir.
Gradualmente, isso nós ajudará as nos tornarmos mais semelhante ao Criador, para finalmente nos
tornarmos parceiros com Ele.
Basicamente, o processo é de desenvolvimento gradual. O processo evolutivo da humanidade é
como o amadurecimento de uma fruta: seca e azeda enquanto está verde, e doce e suculento no
final. Se nós não soubéssemos como a fruta amadurece, nós teríamos erroneamente pensado que a
acidez da fruta amadureceria para uma fruta ainda mais ácida. Mas como nós sabemos o final feliz
do processo desde o início, nós podemos justificar todo o processo. Assim, somente aqueles que
sabem o final do processo podem justificá-lo; se nós, também, pudéssemos ver nosso estágio
futuro, nós entenderíamos e justificaríamos as ações do Criador.

Na Escada De Degraus

“Escalando os degraus dos Mundos Superiores” é um termo genérico usado para todos os novos
discernimentos coletados ao longo do caminho espiritual, o perpétuo desenvolvimento interno e as
novas qualidades que a pessoa assume a todo instante.

Como mencionado anteriormente, a criatura é composta de um desejo de receber prazer. Este


desejo é dividido em cinco partes elementares, chamadas “os cinco níveis de Aviut (espessura)”.
Eles são classificados do Aviut zero (raiz) até o Aviut quatro. Assim, o termo Aviut serve para
medir a intensidade do desejo.

Cada um dos níveis básicos de Aviut é dividido em cinco subníveis, e cada um deles é dividido
mais uma vez em subdivisões. Assim, o desejo de receber é dividido em 125 níveis (ou degraus) e
nós devemos corrigir todos eles.

A correção do desejo significa usar o desejo por prazer para trazer prazer a outro. Tal uso é
chamado de “doação” ou “outorgamento”. O atributo do Criador é a doação, e a abundância que se
expande Dele às Suas criaturas é uma expressão do Seu desejo de dar a elas.

Portanto, corrigir o ego humano do “querer satisfazer a si mesmo” para o “querer doar” é
considerado uma ascensão em níveis. A cada nível a pessoa adquire mais desejo de doar e,
conseqüentemente, sente-se mais semelhante ao Criador. A cada ascensão a pessoa fica mais
próxima do atributo do Criador e do propósito da vida. O processo persiste até que ela adquira o
atributo do Criador por completo e se torne idêntica a Ele.

Para permitir que os seres humanos se corrijam, o Criador criou os mundos e seus níveis antes de
criar a humanidade. Somente depois é que a humanidade foi criada e reduzida a este mundo. A
partir daqui nós humanos precisamos subir de volta às nossas raízes. Conseqüentemente, a Cabala
trata com duas sucessões: “de Cima para baixo”, relacionada com a descida gradual dos mundos e
seus níveis, e “de baixo para Cima”, relacionada à ascensão da alma através dos mesmos níveis.

Os mundos que se originam do Criador são: Ein Sof, Adam Kadmon, Atsilut, Beria, Ietsira, Assia,
e, finalmente, o nosso mundo (Figura 12). A Cabala descreve a criação dos mundos e como a alma
desce do Criador, através de todos os mundos, até o nosso. Entre os Mundos Superiores e o nosso
mundo existe “a barreira” que separa o mundo material do mundo espiritual.
Figure 12

Abaixo da barreira, o corpo e a alma estão no nível deste mundo, e nós começamos o nosso
processo de correção neste nível. A partir deste mundo a alma ascende através do acúmulo de
conhecimento da realidade espiritual, atravessando os mundos de Assia, Beria, Ietsira, Atsilut,
Adam Kadmon, e, finalmente, retornando ao mundo de Ein Sof. Lá, no estado chamado de Gmar
Tikkun (O Fim da Correção), a alma está completamente reunida com o Criador.

A sabedoria da Cabala abrange toda a realidade abaixo do Criador: os mundos, tudo dentro deles,
a descida da alma a este mundo e o seu retorno para o alto. Em outras palavras, a sabedoria da
Cabala contém todos os estados e situações da humanidade.

Todos os mundos, incluindo o nosso, situam-se um abaixo do outro. Assim, todos os mundos
englobam os mesmos elementos. A Luz emerge do Criador e atravessa todos os mundos descendo
até este mundo. Conseqüentemente, cada elemento que está presente no mundo de Ein Sof também
está presente em todos os mundos. Os Cabalistas definem essa relação como “raiz e ramo”:

Portanto, não há uma só coisa ou evento da realidade encontrado no mundo inferior que você
não encontre sua imagem no mundo acima dele, tão idêntico como duas gotas no lago, e eles
são chamados de “Raiz e Ramo”. Isso significa que este item encontrado no mundo inferior é
considerado um ramo do seu padrão encontrado no mundo superior, sendo a raiz do item
inferior, como este é o local onde esse item no mundo inferior foi impresso e feito para existir.
—Baal HaSulam, A Essência da Sabedoria da Cabala

Vemos, assim, que todo elemento ou detalhe neste mundo, com todas as suas conexões, está
presente também nos Mundos Superiores, de Assia a Ein Sof. O universo, o Planeta Terra, o
inanimado, vegetal, animado e falante também são encontrados nos mundos acima deste mundo.
Só há uma diferença entre os elementos deste mundo e os elementos do Mundo Superior: nos
Mundos Superiores os elementos são forças, e em nosso mundo são matérias.

Alcançar os Mundos Superiores capacita a pessoa a ver as forças que operam acima de cada
elemento deste mundo. Quando alcançamos o Mundo Superior, nós nos damos conta dos tipos de
comportamento de cada elemento da realidade daquele mundo, a razão para esse comportamento e
suas qualidades. A sabedoria da Cabala facilita a nossa ascensão para o Mundo Superior e permite
que a pessoa observe do alto o comportamento de cada objeto a partir desse mundo.

Cruzar a barreira é um processo gradual. Estudar Cabala com o objetivo de aproximar-se do


atributo do Criador – o atributo da doação – aumenta o discernimento da pessoa. Percepções mais
sutis emergirão progressivamente, relacionadas à realidade na qual a pessoa vive. A pessoa
começa a sentir as operações nos “bastidores” da matéria, as forças que operam a matéria visível e
perceptível.

Um Cabalista continua a sentir a mesma realidade que sentia antes com os cinco sentidos comuns,
mas ao mesmo tempo percebe as forças além dos limites da percepção dos cinco sentidos com a
ajuda do sexto sentido. A realidade oculta torna-se cada vez mais compreensível, e a existência de
outra realidade além da imagem deste mundo torna-se aparente.

A revelação da realidade espiritual divide-se em três fases, chamadas Ibur (gestação), Katnut
(infância) e Gadlut (maioridade). Na primeira fase (Ibur) nós podemos perceber o nosso estado,
mas não compreendê-lo. Na segunda fase (Katnut) nós compreendemos que algo está
acontecendo, mas ainda não conseguimos participar independentemente da ação espiritual. Na
terceira fase (Gadlut) nós obtemos a força e a sabedoria para participar na ação espiritual e afetar a
realidade espiritual.

No terceiro nível, nós começamos a determinar o fluxo das forças desde o Mundo Superior até o
nosso, e vice-versa. Como indivíduos, nós nos tornamos participantes ativos, condutores através
dos quais o fluxo viaja desde o alto até embaixo e de baixo para cima. No nível de Gadlut, nós
entendemos a nossa parte e operamos como conectores entre os mundos. Esse é o nosso estado
corrigido, e cada pessoa precisa atingi-lo.

Cada pessoa pode chegar a sentir cada item e elemento de todos os mundos. Tudo o que nós
precisamos é de um sentido especial e sutil, a capacidade de discernir e sentir. Mesmo neste
mundo, nós discernimos diferenças consideráveis entre as sensações de uma criancinha, um
jovem, um adulto e um cientista. O estudo da Cabala constrói continuamente novas percepções e
discernimentos em nós, e ao final, conduz à percepção dos Mundos Superiores.

Do que foi dito, podemos entender que a Cabala contém todos os ensinamentos e ciências deste
mundo. Sem explicações apropriadas, nós poderíamos nos perder e pensar que Cabala é um
ensinamento místico de feitiçaria e milagres.

Há quem a relacione com o Judaísmo, mas, na verdade, a sabedoria da Cabala não qualquer
conexão com misticismo, religião ou qualquer outra fantasia imaginada pelo homem. O propósito
da sabedoria da Cabala é apenas um: levar a humanidade à equivalência com o Criador através da
correção gradual.

A Cabala é um método eficaz para a correção do egoísmo da humanidade, exatamente porque foi
escrita por aqueles que se corrigiram. O desejo da pessoa de se aproximar dos estados descritos
nos livros de Cabala faz com que esses estados “projetem uma força corretora” sobre o estado
atual da pessoa. Essa força é chamada “Luz Circundante”. Ela muda as qualidades da pessoa,
permitindo que indivíduos sintam seu estado corrigido através da formação gradual das qualidades
altruístas neles.

O estudo da Cabala foca o mundo de Atsilut. O mundo de Atsilut, chamado “O Mundo da


Correção”, está acima do Parsa. Ele é o sistema projetado especialmente para corrigir a pessoa,
desde que ela o deseje. A Luz que preenche a alma corrigida de uma pessoa no mundo de Atsilut
brilha sobre o seu estado atual como Luz Circundante, uma força que corrige a natureza humana,
do egoísmo para o altruísmo. A Luz Circundante eleva a alma através de todos os mundos, até que
ela retorne à sua raiz. Portanto, o mundo de Ein Sof é a meta final, nosso mundo é o ponto de
partida, e o aperfeiçoamento dos atributos humanos é chamado de “ascensão nos níveis dos
mundos”.

A Cabala é para aqueles que se perguntam sobre o propósito de suas vidas, aqueles que não estão
satisfeitos com prazeres mundanos, como sexo, riqueza, honra ou conhecimento. Quando toda a
humanidade acordar para perguntar sobre o propósito da vida, a sabedoria da Cabala emergirá. Os
Cabalistas apontaram o ano de 1995 como o início dessa época, donde a necessidade de sua
disseminação.

Quatro Linguagens Na Sabedoria Da Verdade

Os Cabalistas, como foi mencionado anteriormente, investigam o Mundo Superior, o mundo além
da percepção de uma pessoa comum. Por isso, as descrições das conquistas dos Cabalistas se
relacionam com o Mundo Superior, mas como nós não estamos conscientes da existência de um
mundo espiritual além do nosso, nós relacionamos suas palavras com o nosso mundo, em um
fenômeno chamado “materialização”.

Quando a Torá (os Cinco Livros de Moisés) foi escrita, o povo de Israel estava em um nível
espiritual. Mas após dois mil anos de afastamento da espiritualidade, desde a ruína do Segundo
Templo, as histórias da Torá parecem referir-se a episódios históricos ou à conduta moral.

Porém, este não é o caso. Cada elemento no mundo está conectado ao mesmo elemento em todos
os outros mundos por uma conexão de “raiz e ramo”. Com base nesse princípio, os Cabalistas
desenvolveram uma linguagem que se apóia no paralelismo entre os Mundos Superiores e o nosso
próprio mundo. Nela, os processos que se desenvolvem no mundo espiritual são descritos usando
nomes dos ramos, tomados do nosso mundo.
Os Cabalistas usam quatro tipos diferentes de linguagem para explicar como nós podemos atingir
o nível do Criador e como podemos atrair até nós a Força de Correção que inverterá a nossa
natureza do egoísmo para o altruísmo. Essas linguagens são a linguagem da Bíblia, a linguagem
das leis, a linguagem das lendas, e a linguagem da Cabala.

Em seu ensaio, A Sabedoria da Cabala e sua Essência, o Baal HaSulam escreveu que existem
quatro linguagens na sabedoria da verdade, e a essência da sabedoria da Cabala não é diferente da
essência da Bíblia. Porém, as leis, as lendas e a linguagem da Cabala são mais convenientes e
apropriadas para o uso.

A diferença entre as linguagens está em sua precisão. A linguagem da Cabala é mais precisa em
descrever a conexão entre a raiz no Mundo Superior e o ramo no mundo inferior. Quanto mais
exata for a conexão da pessoa com sua Raiz Superior, maior a Força de Correção que ela recebe.

A linguagem da Cabala aplica-se a termos que não existem em nosso mundo, tais como “mundos”
e “Sefirot”, diagramas e fórmulas. Essa linguagem torna mais fácil evitar a confusão e a
materialização, e facilita uma abordagem clara e ordenada do estudo. A linguagem da Cabala é
essencialmente diferente de outras linguagens devido ao modo claro e inequívoco com que
descreve o propósito da Criação – a similaridade da criatura em relação ao Criador, isto é, a
inversão do egoísmo em altruísmo.

Atualmente, o principal livro da Cabala são os seis volumes do Talmud Esser Sefirot (O Estudo
das Dez Sefirot) do Baal HaSulam, baseado nos escritos do Ari. Em 2000 páginas, o Talmud Esser
Sefirot esclarece a estrutura dos Mundos Superiores, acompanhando de diagramas, glossários e
tabelas de questões e respostas para revisão do material. Na introdução do livro, o Baal HaSulam
acrescenta detalhes sobre as razões pelas quais a linguagem da Cabala é preferencial às outras
linguagens em nossa geração.

Hoje, a humanidade chegou à última fase na evolução do desejo de receber. É por isso que o Baal
HaSulam adaptou o método do Ari à estrutura das almas da nossa geração – para torná-lo acessível
a todos.

Mudar A Si Mesmo

Muitas pessoas, equivocadamente, relacionam a sabedoria da Cabala à religião Judaica. Na


verdade, a Cabala e a religião são essencialmente diferentes. O propósito da religião é acalmar as
pessoas; ela nutre a esperança de que se eu rezar, a atitude do Criador para comigo mudará.

A Cabala adota uma abordagem bem diferente: a raiz da palavra “oração” (Tefila, em hebraico)
significa “sentenciar” ou “julgar” (Palal, em hebraico). Em outras palavras, a pessoa sentencia a si
mesma, examina a diferença de qualidade entre ela e o Criador, e pede para receber a força para
corrigir seus próprios atributos.
A sabedoria da Cabala explica que o Criador é imutável. Sua atitude para com Suas criaturas é
absoluta – Ele é bom e faz o bem, tanto para o bem quanto para o mal.

Todos sentem a pressão constante da Força Superior segundo sua distância Dela. Quando a pessoa
está longe da Força superior, a pressão é intensa, e quando ela está perto da Força Superior, a
pressão alivia.

Embora a Força Superior empregue diversos meios para atrair-nos para perto Dela, Seu propósito
é sempre o mesmo – levar cada ser humano à perfeição. Se nós quisermos mudar para melhor,
somos nós que devemos mudar. Nós temos que ascender a um nível superior, e em cada ascensão
vamos nos sentir mais próximos do Criador e nossas almas estarão preenchidas e satisfeitas. Não
há outro modo de induzir mudanças em nossas vidas.

Através da história, a humanidade implorou por uma mudança que viesse da Força Superior, mas a
mudança nunca veio. A Força Superior espera que a mudança venha de nós. Enquanto nós não nos
desenvolvermos por meio da sabedoria da Cabala, nossos caminhos permanecerão cheios de
aflição. Os golpes que nos empurram por trás nos obrigam a encontrar outro lugar que pareça
melhor. Mas isso dura pouco, até nós percebermos que o novo lugar não é tão bom quanto parecia.
Assim, nós nos mudamos para outro lugar e a cena se repete.

Porém, se nós nos desenvolvermos através da Cabala, o nosso estado corrigido se projetará sobre o
estado presente e o iluminará. Com essa Luz, nós saberemos como avançar. Se nós soubermos o
objetivo correto, para começar, nós seremos atraídos a ele com satisfação. Esta é a diferença entre
a evolução humana comum e a evolução de acordo com a sabedoria da Cabala.

Hoje, o mundo está se desenvolvendo inconscientemente, sem compreender as razões para sua
existência. A humanidade não sabe para onde está sendo conduzida e por que cada pessoa nasce,
vive e morre. A sabedoria da Cabala abre nossos olhos e nos guia para a perfeição e a eternidade
que vêm ao obtermos o grau do Criador.

Quando nós começamos a examinar a nossa posição na realidade usando a sabedoria da Cabala,
descobrimos que a atitude do Criador para conosco é intencional. Torna-se evidente que pedir ao
Criador para mudar Sua atitude é inútil. Se nós avançarmos com a ajuda da Luz, o nosso ritmo
excederá os sofrimentos e nós progrediremos mais rápido. Esse é todo o benefício do estudo da
Cabala: acelerar o progresso espiritual para vencer o sofrimento.

Hoje, no início do século XXI, a humanidade está à beira do abismo: o abuso de drogas está em
ascensão, e o desespero e o medo da destruição total não deixarão outra escolha à humanidade
senão fugir do sofrimento que a incitará por trás.

De tudo o que foi dito, nós podemos ver claramente que descobrir que a atitude do Criador para
conosco é intencional é de suma importância. Essa atitude do Criador nos capacita a nos
dirigirmos a Ele como a um companheiro de viagem, e pedir-Lhe ajuda, sabedoria e força para
progredirmos em Sua direção. Tal pedido é respondido pelo Criador instantaneamente. Ele
revelará os Mundos Superiores, e nos ensinará como progredir.
Assim como nós ensinamos nossas crianças a usar a realidade circundante de forma sábia, o
Criador ensina os Cabalistas. Ele revela os mundos espirituais a eles, e os aceita dentro desses
mundos. Nesse estado, os Cabalistas sentem as Forças que agem na realidade e começam a
participar do processo de forma independente e sábia.

A sabedoria da Cabala muda a pessoa, do progresso através da força negativa que nos impulsiona
por trás, para um progresso mais fácil e rápido através da Força Positiva que nos puxa pela frente.
A Cabala é única porque desenvolve nossa capacidade de reconhecer o mal e admiti-lo. Ela
desenvolve percepções sutis e precisas do bem e do mal.

A dificuldade em discernir o bem do mal é que o verdadeiro mal – nosso ego – parece ser bom
para nós. Nós estamos acostumados a tratar nossos egos como meios para nos desenvolvermos. De
fato, nossos prazeres, nossas existências, nossa própria essência e nosso “eu” pessoal são sentidos
em nossos egos.

A Cabala ajuda a discernir o que causa sofrimento, como ele pode ser reparado, e nos permite
progredir em cada fase da evolução. A diferença entre um indivíduo altamente evoluído e um
menos evoluído está na capacidade de discernir o bem do mal.

Nós podemos comparar isto a um medidor. Quanto menor for a unidade que o medidor mede,
maior a precisão desse instrumento. O estudo da Cabala nos torna progressivamente sensível ao
discernimento entre o espiritual e o material, entre a doação e a auto-recepção.

Se uma pessoa moderna tiver a oportunidade de conhecer a Cabala e as possibilidades que ela
oferece, tal pessoa pode compreender seu propósito da criação: ascender através de todos os
mundos até Ein Sof enquanto vive neste mundo físico.

A Atitude Correta Perante A Realidade

Cabala em hebraico significa “recepção”. Como o nome indica, a Cabala ensina como receber.
Com a atitude correta perante a realidade, é possível experimentar uma satisfação infinita. Essa
satisfação infinita não vem do sexo, da comida, de um novo carro, de uma casa grande, ou outros
prazeres transitórios e mundanos. Ao contrário, ela vem daqueles prazeres que podem nos
preencher com tanta felicidade que transcenderemos toda a sensação de tempo ao recebê-los.

Nós sentimos a passagem do tempo através de oscilações entre sentimentos bons e maus, ou
sensações de satisfação ou ausência de satisfação. Porém, quando nós estamos em um estado de
júbilo, tornamo-nos inconscientes do tempo. A sabedoria da Cabala nos diz que podemos eliminar
o tempo, assim como a sensação de distância e quaisquer outros limites ou fronteiras. Aquele que
atingiu tal estado está claramente vivendo em um mundo infinito e ilimitado.

As nossas vidas sempre conterão dois elementos opostos – prazer e desejo, positivo e negativo. O
prazer que impregna o desejo sacia-o e o anula. Nós nos deparamos com esse fenômeno em cada
área da vida. Quando o positivo neutraliza o negativo, nós acabamos não sentindo mais nada.
Enquanto estivermos nesse curto-circuito de prazer e desejo, permaneceremos presos numa
equação cujo resultado é zero. Porém, coloque um resistor entre esses opostos e eles trabalharão
perfeitamente, criando uma satisfação perpétua.

Os Cabalistas explicam que o prazer tem origem na Força Superior. Essa Força nos envia prazer
porque nos ama. Quando nós tentamos receber o prazer diretamente, o prazer anula o nosso desejo
de aproveitá-lo, e assim, o prazer acaba.

Porém, existe outra maneira de nos relacionarmos com o prazer: se nós pudéssemos descobrir o
amor da Força Superior para conosco e devolver Seu amor com o nosso, nós nos tornaríamos
equivalentes à Força Superior. Cada parte desejaria satisfazer a outra, e o desejo de satisfazer a
outra seria o prazer de cada parte. Então, o prazer teria origem em cada parte, como conseqüência
do amor dessa parte pela outra. É por isso que o prazer do amor não extingue o desejo por ele, e a
criatura recebe uma sensação infinita de prazer, que é sentida como vida infinita.

Vamos esclarecer isto com um exemplo: quando uma mãe dá um doce à sua filha, a filha
experimenta o prazer do sabor do doce. Assim que o doce acaba, o prazer desaparece. Porém, se a
filha se relaciona com sua mãe, em vez de se relacionar com o próprio doce, ela pode pensar no
amor de sua mãe por ela, que é a razão pela qual ela lhe deu o doce. Assim, ela poderá decidir
receber o doce não porque ele é gostoso e agradável, mas porque ela quer retribuir o amor de sua
mãe.

O modo pelo qual ela poderia expressar amor por sua mãe seria receber o doce que sua mãe quis
lhe dar. Portanto, a filha não se relacionaria com o prazer do doce, mas com a alegria que sua mãe
recebeu do prazer da filha com o doce.

Isso cria uma relação completamente nova entre o doador e o receptor. Agora, eles devem se
igualar. Portanto, o problema do positivo e do negativo que se neutralizam é resolvido porque o
receptor – o negativo – tornou-se um doador – o positivo. Se o vaso recebe a Luz somente para
retribuir o amor do Superior, ele se equivale completamente ao Doador, o Superior. O prazer não
mais extingue o desejo, e o prazer permanece.

Não importa quem dá ou quem recebe. Somente a intenção é que interessa, o modo pelo qual nós
nos relacionamos com o dar e o receber. Nós podemos nos relacionar com a Força Superior de tal
modo que não seremos receptores em relação a Ela, mas doadores. Tal intenção nos capacitará a
receber não porque desejamos o prazer, mas porque queremos agradar a Força Superior.

No fim do processo, e porque nós agimos do mesmo modo que a Força Superior, nós adquiriremos
gradualmente Sua razão, estatura, e nível. Quando conseguirmos executar esse processo
internamente, começaremos a sentir uma conexão com a Força Superior; nós sentiremos que
adquirimos Sua razão, que estamos aprendendo a receber Dela e como podemos doar-Lhe prazer.
Basta esse simples ato de mudar a intenção, para que nos tornemos progressivamente equivalentes
à Força Superior eterna e ilimitada.

Para fazer isto, nós precisamos da revelação da Força Superior, da sensação de que há uma Força
Superior, que Ela nos ama e quer nos preencher abundantemente. Se nós sentirmos tudo isso,
começaremos a sentir a relação entre nós e a Força Superior. Portanto, a única dificuldade diante
de nós é encontrar um modo de descobrir a Força Superior, senti-La e manter contato com Ela.

O estudo da Cabala ajuda qualquer pessoa a desenvolver essa espécie de contato. Essa relação
entre o ser humano e a Força Superior começa assim que a pessoa sente que há um “campo” que
sustenta toda a realidade, uma Força Superior, e que ela está dentro dele. Se nós apenas
começamos a sentir que essa Força existe, e que Ela se relaciona conosco de uma forma amorosa,
desejando que nós a conheçamos e nos aproximemos Dela, nós começaremos a desenvolver esse
tipo de relação de forma natural.

Pessoas que experimentaram a morte clínica falam de uma Luz sublime que nos espera, e muitos
cientistas também estão começando a considerar conceitos similares. Mas não é necessário
experimentar tais apuros para sentir essa Luz. O estudo da Cabala pode, gradualmente, capacitar-
nos a sentir a Força superior. Nós começamos a investigar a realidade e a agir de acordo com o
que descobrimos e percebemos.

Quando nós sentimos essa Força fora de nós, descobrimos que a Força Superior nos ama; então,
nós começamos a sentir que a Força Superior existe para nos beneficiar, e que Ela quer que
sintamos prazer. Nós desenvolvemos nossas atitudes de modo recíproco.

Não há fantasia aqui; essas coisas são bem reais e mensuráveis. Os Cabalistas medem a forma e o
poder com que essa Força chega até eles, a pressão que Ela faz sobre eles, a resistência
correspondente que eles precisam aplicar, como eles podem se conectar a Ela, assemelhar-se a Ela,
em qual dos seus desejos eles já podem ser como Ela, e em quais eles ainda não podem.

Os Cabalistas são influenciados pela Força Superior e retribuem seu amor na medida em que a
Força Superior se apresenta a eles como amorosa, como desejosa de beneficiá-los.

Nós somos “vasos que sentem”; portanto, tudo começa com nossa sensação da Força Superior.
Todos nós queremos algo. Se nós pudéssemos sentir que esse algo veio de alguém, nossa atitude
em relação à realidade mudaria drasticamente; agora, nós teríamos alguém com quem nos
relacionarmos. O estudo da Cabala pode nos ajudar a sentir a Força Superior, a sensação do
Doador.

A Realidade Exterior

Quando nós começamos a sentir a Força Superior e construímos um relacionamento com ela,
também começamos a sentir a realidade exterior. Os Cabalistas dizem que não há nada à nossa
volta exceto a Força Superior, e que nós estamos em um campo que preenche toda a realidade.
Quando nós começamos a sentir esse campo, nossos corpos tornam-se completamente
insignificantes. Nós começamos a sentir onde existimos de forma permanente, sem fim, com ou
sem nossos corpos. Em tal estado, nós não dependemos mais das sensações que recebemos através
de nossos cinco sentidos.
Nós começamos a perceber a realidade exterior além dos cinco sentidos, em adição à nossa
percepção sensorial natural. Quando isso acontece, a vida ou a morte física não importam mais.
Esse estado está acima da sensação de vida que experimentamos enquanto estamos em nossa
“caixa”; tornamo-nos conectados à corrente infinita da vida que nos cerca. Embora continuemos a
existir neste mundo, nós vivemos simultaneamente em todos os mundos, para sempre.

Tal sensação é provocada pela percepção das duas formas da realidade: a realidade percebida em
nossos cinco sentidos, e a realidade exterior. De fato, a sensação da realidade exterior ofusca a
sensação da realidade percebida em nossos cinco sentidos, porque ela é muito mais intensa, vasta e
ilimitada.

Cruzando A Barreira

Quando a Força Superior se apresenta para uma pessoa como amorosa, e evoca a Forma de doação
nessa pessoa, ela “cruza a barreira” e entra no “mundo espiritual”. Esse processo é muito
semelhante ao modo como foram desenvolvidas as fotografias. Quando eu era criança, nós
tirávamos fotos em um filme e mergulhávamos o filme em produtos químicos para desenvolver as
imagens. Quando o filme era imerso nos produtos químicos, podíamos ver como a imagem
gradualmente se tornava mais clara.

Nós estamos acostumados a tratar o mundo como uma realidade onde as pessoas, organizações e
instituições públicas influenciam o curso de nossas vidas, tal como nossos vizinhos, empregadores
e o governo. Lenta e gradualmente, através de ações dirigidas a descobrir a Força Superior, nós
começaremos a sentir o que realmente está por trás de cada coisa que acontece no mundo. Nós
começaremos a perceber como essa Força maneja as pessoas como marionetes presas a fios, e
compreenderemos o que Ela quer de nós.

Lentamente, através de nossas experiências de vida, nós começaremos a perceber que tudo vem de
uma única atitude de alguém, dessa Força Superior que age sobre nós. Esse é o ponto onde a
sabedoria da Cabala realmente inicia.

Tudo o que acontece antes disso é chamado de “período de preparação”, anterior ao cruzamento da
barreira. A partir do instante que a pessoa começa a sentir a Força Superior, e entra em contato
com ela, começa a entender as instruções contidas nos livros de Cabala que são escritos
especialmente para o leitor. Esses livros dizem aos Cabalistas o que eles devem observar, fazer, e
que reações devem esperar.

Esse processo é semelhante ao modo como adultos ensinam crianças a se comportar. Como as
crianças não conhecem as regras de conduta neste mundo, nós as advertimos sobre coisas que
podem prejudicá-las e sugerimos como elas devem se comportar. Os Cabalistas escreveram suas
instruções para nós exatamente da mesma maneira. Os livros de Cabala são, de fato, manuais que
nos informam como podemos avançar mais rapidamente e melhorar nossa relação com a Força
Superior, uma relação que chamamos “o mundo espiritual”.
Equivalência De Forma

Até aqui, nós estabelecemos que a natureza da Luz é oposta à do vaso: uma é doadora e a outra
receptora. Quando a Luz preenche o vaso, ela o anula. Em outras palavras, o desejo de desfrutar é
neutralizado pelo prazer que o satisfaz. Como resultado, as pessoas estão ocupadas com uma
busca constante por novos prazeres, mas nunca conseguem mantê-los. Nenhum prazer real é
possível enquanto o contato entre a Luz e o indivíduo for baseado no fato do indivíduo ser um
receptor.

Para receber o prazer verdadeiro, a pessoa precisa receber com a intenção de agradar a Força
Superior. Se mantiver essa intenção, ela será satisfeita e será sempre doadora. A vantagem de tal
recepção é dupla: a pessoa é satisfeita tanto com o prazer quanto com o reconhecimento do
Doador. Se a pessoa recebe com o objetivo de agradar a Força Superior, ela começa a conhecer
essa Força Superior, a qual, por sua vez, dá à pessoa que recebe uma sensação da realidade
exterior.

Se nós recebermos apenas com interesse egoísta, sentiremos somente a nós mesmos. Receber com
a intenção de doar à Força Superior, permite-nos conhecê-La. Através de tal recepção, nós
transcendemos nossa própria “caixa” e experimentamos a realidade à nossa realidade.

A sensação da realidade exterior leva-nos a um nível de existência que supera a existência da vida
e da morte neste mundo. A recepção com interesse egoísta, chamada “recepção corporal” é
desqualificada, e a pessoa transcende para a recepção na alma, chamada “recepção para doar” à
Força Superior.

Para que a pessoa comece a receber para doar, ela precisa sentir a Força Superior. A sensação da
Força Superior como Doadora provoca vergonha no receptor, resultando na decisão da pessoa de
receber apenas sob a condição de que ela possa retribuir prazer ao Doador.

Porém, a Força Superior está oculta em nosso mundo. Se ela fosse revelada, nós desfrutaríamos
um duplo prazer egoísta, do prazer e do contato com o Superior. Tal estado, nos “prenderia”
egoisticamente à Força superior, extraindo prazer Dela, e jamais seríamos capazes de mudar,
devolvendo amor ao Doador.

Portanto, a primeira condição para a sensação da Força superior é livrar-se do egoísmo. A


sensação da existência da Força Superior não pode ser percebida no ego humano. Se nós
percebêssemos a Força Superior com nosso desejo egoísta, nos tornaríamos uma Klipa (casca). A
Klipa é um desejo egoísta tão intenso que a pessoa é incapaz de fugir. O único modo de livrar-se
do ego é igualar-se em forma com a Alma Coletiva.
A Alma Coletiva

Todos nós fomos criados como um Kli (vaso) chamado Adam ha Rishon (O Primeiro Homem).
Nós estamos unidos nesse Kli como partes de um sistema único. Para permitir que o Kli seja
corrigido, a estrutura espiritual de Adam ha Rishon fragmentou-se em numerosas partículas. Essas
partículas são as almas individuas que revestem nossos corpos neste mundo. O resultado da
fragmentação é que cada pessoa está confinada em seu desejo egoísta, inconsciente dos outros e
sentindo apenas a si mesma.

Atualmente, após um longo período evolutivo, as pessoas estão começando a sentir os pontos em
seus corações, os pontos que as levam a se reconectar com a Força Superior, a buscar a
espiritualidade. Nesse estágio, nós precisamos obter a força para superar o nosso egoísmo e
transcendê-lo, pois assim seremos capazes de nos conectar com a Força Superior e nos aproximar
Dela à medida que nos igualamos a Ela.

O modo de nos conectarmos a Força Superior é nos unirmos com aqueles que compartilham a
mesma meta espiritual. Embora cada um esteja subjugado ao seu desejo de receber individual,
todos querem transcendê-lo. Tal ambiente social é definido como “ambiente espiritual”. Com isto,
a pessoa consegue quebrar o muro que a separa dos demais.

Embora os que estão em um “ambiente espiritual” ainda possam ser egoístas, eles ainda assim
estão dando o melhor de si para criar uma estrutura semelhante à estrutura corrigida da alma de
Adam ha Rishon. Sozinhos, nós não teremos sucesso nessa tarefa, pois ela contradiz a natureza
humana. O que nós podemos fazer é adquirir um desejo intenso e nos unirmos aos outros.

É aí que entra a sabedoria da Cabala. Os livros Cabalísticos descrevem o estado corrigido das
almas e a diferença entre estes e os estados corrompidos. A principal diferença está na intenção
com a qual usamos nossa natureza. A correção significa que nós mudamos o propósito para o qual
usamos nosso desejo: de causar autogratificação, para beneficiar aos outros.

Quando nós estudamos corretamente a Cabala genuína, chegamos a imaginar o nosso próprio
estado corrigido. Essa imagem estimula a Luz que já preenche o nosso estado corrigido a corrigir
nossa alma. Uma vez que essa Luz corrige nossa alma, Ela a preenche, e nós começamos a
experimentar o mundo espiritual.

Não existe tempo no mundo espiritual, nem espaço, nem movimento. Os Mundos Superiores não
estão acima de nós no sentido físico do mundo. “Ascensão” na verdade significa “recuperar a
consciência”. O estudo da Cabala exige que nos libertemos de nossas vestimentas corporais das
sensações e percepções familiares mundanas, e penetremos dentro da matéria, nas Forças por trás
dela.

Na espiritualidade, nós nos transformamos de observadores da realidade, em conhecedores das


Forças que a descrevem. Nós começamos a entender como é feita a realidade, adquirimos a
capacidade de nos conectarmos com as Forças que criaram a imagem e que, no final, governam-
na. A Cabala é a nossa chave para a “Sala de Controle” da realidade.
Percepção da Realidade
Construindo o Kli (Vaso/Ferramenta) Espiritual

Criando o Kli

A essência do nosso trabalho é criar o Kli. Se nós soubermos construir corretamente a nossa
ferramenta de percepção, entenderemos onde realmente estamos. Como dissemos na seção
anterior deste livro, a nossa substância é constituída de um desejo de receber deleite e prazer.

Se nós conseguirmos tornar essa substância sensível às percepções relativas à recepção e à doação,
seremos capazes de usá-la para perceber o mundo espiritual. É semelhante à maneira como um
bloco de ferro bruto é derretido para criar peças para motores. Quando juntadas corretamente, elas
permitem que o motor funcione.

Da mesma forma, nós devemos trabalhar com nós mesmos para percebermos a espiritualidade.
Construir o Kli espiritual é muito parecido com esculpir - você deve entalhar a matéria-prima e
poli-la até que surja a forma desejada. A matéria-prima, neste caso, consiste de nossos desejos,
pensamentos e intenções.

O Criador criou a Criação com a intenção de fazer o bem às Suas criaturas. Para concretizar Seu
objetivo, Ele criou o Kli - o desejo de receber - que receberia Seu benefício. Inicialmente, esse
desejo não tem forma. Modelar o desejo de receber é o trabalho de todos nós, até que ele esteja
revestido com sua forma final – a doação, a forma do Criador.

A substância em si permanece como no princípio - o desejo de receber prazer - mas mudar a


intenção para doação assemelha o seu modo de ação com o do Criador. Assim, a intenção é a
forma.

Os livros Cabalísticos descrevem as formas que a pessoa deve criar no desejo de receber, degrau
por degrau, para finalmente sentir os benefícios que vêm do Criador. O desejo de receber geral
consiste de 613 desejos e cada um deles é coroado ou por um desejo de receber, ou por um
objetivo de dar. Essas formas de recepção ou doação que "cobrem" cada desejo determinam o grau
de realização espiritual de cada pessoa.

Um degrau é certo nível de resistência da Forma de doação. Isso permite que os benefícios do
Criador se manifestem dentro do desejo de receber. Os diversos preenchimentos dentro do desejo
de receber são a origem dos muitos nomes do Criador. É a percepção individual que nomeia o
Criador conforme o sabor que a pessoa sente dentro da doação do Criador.

Uma vez que os Cabalistas atingiram a natureza da realidade e a estudaram, eles dividiram a forma
do reconhecimento da realidade em quatro níveis: Matéria, Forma na Matéria, Forma Abstrata, e
Essência. A Cabala é um método de estudo prático que conduz os investigadores de forma
profunda e sistemática ao longo do caminho evolutivo. Como em qualquer outro método
científico, a Cabala ensina o investigador o que deve ser feito, que resultados devem ser
esperados, e comenta as razões de cada resultado. A Cabala não se ocupa em descrever estados
teóricos que a pessoa não pode realizar de forma independente e sem plena consciência.
A Cabala define os limites dentro dos quais a realidade pode ser corretamente percebida: Matéria e
Forma na Matéria. Os Cabalistas percebem os discernimentos adicionais (Forma Abstrata e
Essência) apenas vagamente e sem certeza; portanto, a Cabala não se ocupa dessas formas.

Estes limites se aplicam à investigação em ambos os mundos, corporal e espiritual, de forma que a
alma percebe o mundo espiritual exatamente como percebe o mundo físico. Mesmo no nosso
mundo, investigadores e cientistas responsáveis não estudam Formas Abstratas ou a Essência, mas
exploram apenas a Matéria e Forma na Matéria.

A Reação dos Sentidos

Nós existimos no mundo, mas não sabemos o que está fora de si. Por exemplo, nós não sabemos o
que existe fora dos nossos ouvidos, não podemos identificar esse "algo" que pressiona nosso
tímpano. Tudo aquilo que sentimos é a nossa própria reação a esse "algo".

Portanto, o nome que nós damos a um fenômeno exterior é, na verdade, o nome de nossa própria
reação a ele. Muito provavelmente, existem freqüências ou fenômenos diferentes daqueles que nós
criamos dentro nossos ouvidos. No entanto, os nossos ouvidos reagem de uma forma única em
relação ao "algo" desconhecido que está do lado de fora, e é através dessa reação que nós
definimos esse fenômeno. Tudo o que podemos fazer é estudar as nossas próprias reações aos
fenômenos, ou seja, o que acontece dentro de nós.

Resulta que a nossa percepção do mundo é muito limitada. Se nós começarmos a compreender que
aquilo que vemos não é o que está realmente acontecendo fora de nós, poderemos abordar a
investigação sobre como percebemos a realidade de uma forma totalmente nova. Na verdade,
existe certa Essência que atua sobre nós, mas nós nunca a sentimos em sua forma verdadeira.
Tudo o que podemos sentir é a nossa reação interior a ele. Nossa imagem do mundo é a soma das
nossas reações internas, mas não temos como saber o que está realmente presente fora de nós.

Se nós queremos nos relacionar corretamente com a realidade, devemos reconhecer os limites de
nossa percepção. Nós não podemos nos iludir pensando que percebemos a imagem real, pois não
temos nenhuma percepção verdadeira de sua Essência ou Forma Abstrata. Nós só podemos
reconhecer a Forma que reveste a nossa própria Matéria. Embora seja lamentável que nós
precisemos nos limitar, é assim como as coisas são.

Como já dissemos, nós não podemos perceber a imagem completa, só a nossa reação a ela. Nós
também não podemos saber o quão perto a Forma percebida em nossa Matéria está da Forma
Abstrata que existe fora da nossa Matéria, e a afeta.

Da mesma forma que sentimos o que está a nossa volta, o Kli espiritual percebe a realidade
espiritual. Este Kli só consegue sentir a sua própria reação à Luz que está dentro dele, mas não
pode dizer nada sobre a Luz que está fora.
É através de sua reação intrínseca que o Kli compreende e determina o que é a Luz, o que ele é, o
que a Luz quer dele, e o que o Kli quer da Luz. Todas essas representações não têm nenhuma
conexão com o fenômeno, pois ele ocorre fora do Kli.

O Baal HaSulam insiste bastante em explicar estas questões em seu Prefácio ao Livro do Zohar,
uma vez que a Cabala lida exclusivamente com a construção de um Kli para a percepção da
realidade:

Por exemplo, o sentido da visão nos oferece apenas sombras da essência visível, de acordo com a
forma como elas são formadas em oposição à Luz. Da mesma forma, o sentido da audição não é
mais que uma força de golpe de alguma essência no ar. O ar é rejeitado por causa de sua força,
bate no tambor dos nossos ouvidos, e nós ouvimos que há certa essência próxima a nós.

O sentido do olfato não é mais que o ar que surge da essência, bate nos nervos do olfato, e nós
cheiramos. Além disso, o sentido do paladar não é mais que o resultado do toque de alguma
essência em nossos nervos do paladar.

Assim, tudo o que estes quatro sentidos nos oferecem são apenas manifestações das operações
que se originam de uma essência, e nada da essência em si.

Mesmo no sentido do tato, o mais forte dos sentidos, que separa o quente do frio, o sólido e o
líquido, tudo isso não é mais que a manifestação de operações dentro da essência; são incidentes
da essência. O quente pode ser esfriado, o frio pode ser aquecido, o sólido pode ser transformado
em líquido através de operações químicas, e o líquido em ar, isto é, apenas gás, onde qualquer
discernimento em nossos cinco sentidos termina. No entanto, a essência ainda existe, porque você
pode transformar o ar em líquido, e o líquido em sólido.

Assim, você vê que, evidentemente, os cinco sentidos não nos revelam qualquer essência, mas
apenas os incidentes e manifestações de operações da essência.

- Rabino Yehuda Ashlag (Baal HaSulam), Prefácio ao Livro do Zohar, item 12

Assim, uma percepção adequada da realidade é de fundamental importância para nós. Os limites
não são fixados para limitar ou diminuir o nosso conhecimento, ou para nos impedir de participar
de algum assunto proibido. Pelo contrário, quando nós nos afastamos das partes que não
controlamos, poupamos a nós mesmos de uma confusão. Se limitarmos o nosso campo de visão ao
intervalo que podemos controlar, nós perceberemos a verdadeira imagem da realidade. Ao seguir
rigorosamente esta condição poderemos progredir corretamente.

Em nosso estado atual, nós não temos nenhuma percepção da Luz Superior. Isto ocorre devido à
oposição entre os nossos vasos egoístas e a Luz altruísta. Se os nossos vasos combinassem com a
Luz, ou seja, se nós combinássemos o desejo de receber com a Luz, nós seríamos capazes de
percebê-la. Tal "combinação" chama-se "vestir" (ou revestir). Vestir significa atingir a intenção de
doar acima do desejo de receber, uma intenção que a pessoa só pode receber da luz.
Para receber essa intenção da Luz, é preciso ter "o ponto no coração”, um fragmento de Luz dentro
do desejo de receber. Usando isto, a pessoa pode começar a cultivar a combinação entre o seu Kli
e a Luz. O ponto no coração é um fragmento da intenção de doar, e com ele a pessoa pode
começar a usar o resto do "coração", ou seja, o resto do desejo de receber. Se ela conseguir usar o
desejo com a intenção de doar, isso será considerado "vestir a Luz".

Voltemos por um minuto para a maneira como o nosso sentido da audição funciona: para ouvir,
nós devemos sempre manter o equilíbrio das pressões entre nós e nosso entorno. Para equilibrar a
pressão que vem do exterior sobre o nosso tímpano, um delicado mecanismo cria igual pressão na
direção oposta, do interior. Por isso, nós aparentemente medimos a pressão do lado de fora, mas
na verdade, medimos a pressão que criamos dentro, em resposta à pressão externa.

Todas as nossas ferramentas de medição funcionam de acordo com este princípio. Nós podemos
demonstrar isso usando um peso mecânico. Vários objetos participam desta demonstração: uma
mola, um mostrador e o objeto a ser pesado. Colocando o objeto sobre o dispositivo cria- se uma
pressão para baixo (figura 13). Para equilibrar a pressão, a mola puxa para cima. Então, o
mostrador mede a pressão ascendente que a mola está aplicando, e apresenta-a como o peso do
objeto. Medir a pressão do nosso mecanismo interno é definido como "medir a Forma na Matéria e
a Matéria".

Figura 13

Agora vamos voltar ao Kli espiritual. Na espiritualidade, a Forma na Matéria é a reação do Kli ao
que está fora dele. Ela é chamada de "intenção". A intenção com a qual a substância (o desejo de
receber) é usada equilibra o que vem do Alto, ou seja, do Criador. Com isso, um Cabalista pode
medir a equivalência de intenção com a intenção do Criador em relação a ele.

Um Cabalista percebe toda a extensão do desejo de receber deleite e prazer. Se o Cabalista


pudesse usar parte dele com a intenção de doar, isso seria um ato espiritual. Isso ocorre porque a
utilização de qualquer parte do desejo de receber com a intenção de doar demonstra que ele
equilibrou a pressão do Criador. Tal ato é chamado de "construir um Partzuf espiritual" (face), um
termo que indica a medida de equivalência entre o Criador e a criatura, entre a Luz e o Kli.

Os Cabalistas usam os Partzufim (plural de Partzuf) para testar o quanto o Criador quer dar prazer
e o quanto eles podem dar de volta ao Criador. Por exemplo, se a força da intenção de doar com a
qual uma pessoa pode trabalhar reveste vinte por cento da Luz, os restantes oitenta por cento da
Luz serão rejeitados sem ser recebidos. Em outras palavras, a pessoa só pode se equilibrar com o
Criador em vinte por cento de seu desejo de receber, sua substância. É por isso que essa pessoa
não ativará os oitenta por cento restantes do desejo de receber, e os restringirá.

A nossa percepção do Criador depende do poder de nossa intenção sobre a nossa Matéria. Assim
como o peso e a mola, nós só conseguimos medir a nossa própria intenção. A intenção de doar é a
Forma que medimos, daí o termo “Aprendizagem Formativa", que os Cabalistas usam para
descrever como nós aprendemos.

Nós geralmente chamamos a intenção de doar de “sexto sentido". Este termo enfatiza que com a
intenção de doar, a pessoa pode sentir o que está presente para além dos nossos cinco sentidos
naturais.

O nosso sexto sentido funciona exatamente como os nossos cinco sentidos. A única diferença
entre eles é que os cinco sentidos originais estão naturalmente presentes em nós, enquanto que o
sexto sentido é aquele que nós temos que construir por nós mesmos. Embora a sensibilidade dos
sentidos naturais possa variar com a idade ou outros elementos, em geral é verdade que para nós é
natural termos os cinco sentidos funcionando corretamente.

Como foi mencionado acima, somos nós que devemos construir o sexto sentido. Isso ocorre
porque o sexto sentido não é um sentido na acepção habitual da palavra, mas sim uma intenção.
Nossa tarefa é estudar as formas pelas quais o Criador doa, e quando fazemos isso de forma
independente, nós nos desenvolvemos como "criaturas" que existem por direito próprio. Esta é a
diferença entre a humanidade e todas as outras partes da Criação.

Construindo As Formas Corretas

O mundo espiritual nós é oculto. Portanto, nós não podemos entender como sintonizar nossos
instrumentos de percepção corretamente; nós simplesmente não sabemos o que devemos perceber.
Por esta razão os Cabalistas vêm em nosso auxílio e nos aconselham sobre a forma como devemos
posicionar nossos instrumentos de percepção para que possamos perceber a Luz Superior.

Os Cabalistas dizem que a Luz Superior é abstrata. No entanto, isso não significa que qualquer
forma que os seres humanos possam criar lhes permitirá perceber algo da Luz Superior. A
percepção da Luz Superior só é possível quando ajustamos nosso próprio Kli a uma das 125
Formas destinadas exatamente para esse propósito.
Assim, a escada espiritual consiste de 125 degraus. Cada degrau indica uma forma mais avançada
de receber a Luz em nosso Kli. Os Cabalistas descrevem como podemos localizar estas formas,
estudá-las, e aplicá-las à nossa Matéria. Eles também nos ensinam como devemos projetar nosso
desejo de receber de tal maneira que possamos "apresentar-nos" diante da Luz Superior em formas
que são "adequadas" à Luz.

Há um fenômeno semelhante que se manifesta no nível corpóreo. Muitos pesquisadores afirmam


que o ser humano não pode perceber um fenômeno externo enquanto ele não estiver presente de
forma semelhante na mente dessa pessoa.

O filme, What the Bleep Do We Know? (Quem somos nós?), oferece um bom exemplo desse
conceito com uma história sobre os Indígenas da América que viram a armada de Colombo chegar
ao litoral da América. A história conta que os índios que estavam à beira-mar não podiam
realmente ver os navios que ancoravam não muito longe da terra. O xamã, um homem
imaginativo, foi perturbado pelo movimento estranho das ondas, sem qualquer razão aparente. Por
muitas horas ele olhou fixamente para a água tentando descobrir o que causava as ondulações.

Através de seus esforços, ele finalmente conseguiu discernir a forma do corpo que produzia as
ondulações e assim foi capaz de ver as embarcações. Posteriormente, ele descreveu o que tinha
visto aos homens de sua tribo, e como confiavam nele, eles também conseguiram criar a
forma dos navios, até que todos viram os navios de Colombo.

A Cabala afirma que nada existe fora da mente humana. Criando o modelo do navio na mente do
xamã constrói-se a imagem do navio para ele, que o xamã pensava existir fora dele. Na verdade, o
navio não existe fora, em absoluto; somente nós é que estamos condicionados a relacionar a
realidade como existindo de forma independente em uma realidade exterior, na qual fazemos
descobertas diariamente. Os Cabalistas, no entanto, dizem que todas as inovações são apenas
novos modelos dentro das nossas mentes.

Uma vez que nós adquirimos uma visão verdadeira da realidade, sentimos que a visão anterior era
completamente fictícia, como um sonho. Se nós quisermos perceber a verdadeira realidade, temos
de construir modelos reais dentro de nós. Este é o significado da ascensão do mundo fictício para
o mundo real. É realmente por isso que foi dada à humanidade a sabedoria da Cabala, o que evoca
estes modelos dentro de nós.

Padrões De Percepção

Modos De Aprendizagem

Nossas ferramentas de percepção nunca podem perceber a Essência, independente do nosso nível.
Embora o que nós percebemos é de fato a Essência, só podemos percebê-la através da Matéria, e
não podemos sequer imaginar como ela se parece. Além disso, nós não podemos nem mesmo
querer perceber a Essência.
Por exemplo, nenhum de nós sente que um sexto dedo adicional seria bem vindo. No entanto, se
nós pudéssemos imaginar que tínhamos alguma vez um sexto dedo, e que podíamos fazer algo
com ele que não fazemos hoje, então poderíamos falar da necessidade de um sexto dedo. Mas se
nós nunca tivermos um dedo adicional, não poderemos nem mesmo imaginar como ele nos
beneficiaria. É por isso que nunca vamos querer um sexto dedo.

Da mesma forma, uma vez que nós nunca sentimos a Essência, não podemos querer percebê-La. A
realização da Matéria, a manifestação das ações da Essência que está presente na matéria, é
bastante satisfatória.

A discussão acima levanta uma questão importante: Se nós não podemos perceber a Essência,
como é que os Cabalistas sabem que ela existe? Por enquanto, nós deixaremos esta questão sem
resposta, mas nós prometemos voltar a ela mais tarde.

O desejo de receber é a Matéria. Ele é dividido em cinco níveis. Quando o desejo de receber é
integrado à intenção de doar, ele adota diversas Formas, desde a mais oposta ao
Criador até a Forma do próprio Criador. Enquanto nós evoluímos espiritualmente , nós
gradualmente estudamos todas as qualidades que a Matéria pode assumir. Isso é chamado de
"Aprendizagem Formativa".

Nós temos um desejo genuíno de adquirir as Formas de doação que estão revestidas na Matéria.
Um desejo genuíno significa que este é um desejo que decorre de se ter tido essa Forma
anteriormente e não tê-la agora.

A nossa matéria, o desejo de receber, foi criado em uma Forma corrigida, ou seja, na Forma de
doação, que foi depois invertida em recepção. Readquirir a Forma de doação através de nossos
próprios esforços é a essência da nossa correção. Este processo deve ser realizado utilizando-se o
mesmo padrão que foi criado enquanto nós tínhamos a Forma de doação, e ele é inteiramente
baseado na experimentação prática. Portanto, este processo é totalmente confiável.

A Filosofia, no entanto, se ocupa com ideais abstraídos da Matéria. Ela é completamente oposta ao
método da Cabala, porque se baseia no estudo das Formas Abstratas. A Filosofia discute
atributos como verdade, falsidade, raiva e coragem, enquanto estes não estão revestidos na
Matéria, atribuindo títulos às Formas Abstratas, tais como “a verdade é boa, mentir é ruim”. Isso
cria uma preocupação de que as pessoas se identificarão com essas declarações como ideais e irão
se unir a elas fanaticamente.

O Baal HaSulam demonstra isso com uma parábola sobre uma pessoa que tinha um respeito tão
grande pelo atributo da verdade, que quando confrontada com a oportunidade de salvar as pessoas
da morte, ela escolheu não fazê-lo porque isso envolveria mentir.

Esta parábola demonstra o erro de se ocupar com Formas Abstratas, porque nós não possuímos
meios para julgar certo atributo como sendo bom ou ruim se ele não estiver revestida do Matéria.
Somente quando a Forma está revestida na Matéria é que nós podemos determinar se ela é
benéfica para a evolução da Matéria ou prejudicial. O único critério é a evolução da Matéria em
direção à realização do propósito da Criação.
*
Embora nós possamos imaginar erroneamente Formas Abstratas, a Essência é algo
completamente inimaginável para nós. De forma lógica, nós assumimos que por trás da Forma
que reveste a Matéria e a Forma Abstrata, existe uma base que sustenta todas as outras Formas,
que chamamos de “Essência”.

Assim, nós percebemos que a nossa capacidade é limitada, que nós só conseguimos compreender
a Matéria e a Forma que está revestida nela. Todavia, nós não podemos evitar perguntar por que o
Criador não nos criou com a capacidade de perceber a Forma Abstrata e a Essência.

A resposta é simples: se nós pudéssemos alcançar a Forma Abstrata e a Essência, veríamos a


Essência revestida em tudo, operando tudo, desde o primeiro ao ultimo estado. Essa imagem clara
nos tiraria a sensação de livre-arbítrio; ela nos impediria de estudar e criar a imagem do Criador
dentro de nós.

Ao demonstrar que nada existe fora do nosso Kli, nós podemos definir os termos “este mundo” e
“Mundo Superior”, como uma maneira de descrever os tipos de percepção da realidade. “Este
mundo” é a percepção da realidade dentro do Kli quando agimos com o intuito de receber. O
“Mundo Superior” é a percepção da realidade dentro do Kli quando agimos com o intuito de doar,
altruisticamente.

A Imagem Completa

Os Cabalistas somente descrevem o que eles alcançaram com precisão dentro dos seus vasos, isto
é, a Forma na Matéria e a Matéria. A Matéria é o desejo de receber e a Forma na Matéria é a
Forma de doação revestida no desejo de receber. De fato, a criatura sempre alcança a imagem
completa, mas a questão é: como nós podemos ter certeza daquilo que é revelado?

Por exemplo, quando nós observamos certa imagem, como sabemos o que estamos percebendo?
Qual parte da nossa percepção é correta e qual não é? Como as nossas ferramentas são limitadas,
nós não podemos ter certeza. Talvez os óculos que usamos para observar a realidade estejam
mostrando um plano à nossa frente, quando, de fato, existe um abismo bem a frente de nossos pés.
Poderia o nosso próximo passo nos jogar nesse abismo?

Se os exemplos acima parecem improváveis, o próximo esclarecerá a questão: sem um medidor de


radiação, como nós seríamos capazes de detectar a radiação? Nós poderíamos facilmente caminhar
em áreas contaminadas sem perceber.

Nós somos incapazes de construir ferramentas que nos ajudem a determinar o que é confiável e o
não é confiável na espiritualidade. A diferença entre o que nós podemos e não podemos confiar
reside na diferença entre as várias ferramentas que temos a nossa disposição.
Alcançar a Forma Abstrata e a Essência não é considerado uma aquisição segura. Isto porque elas
são percebidas através de “vasos externos”, e não através de “vasos internos”, embora nós
possamos sentir neles algo chamado de “luminescência remota”. Essa luminescência induz a
sensação de que algo existe, mas não é claramente percebido por nossos sentidos. Esta é a resposta
à pergunta de como os Cabalistas sabem sobre a existência da Forma Abstrata e da Essência.

Nós devemos enfatizar que localizar a passagem desse mundo para o mundo espiritual não é uma
ação direta. É como procurar uma saída num círculo fechado. Embora a entrada esteja em algum
lugar, ela só pode ser vista depois de termos procurado por todos os 360 graus.

Para construirmos a Forma do Criador dentro de nós, devemos primeiro conhecer todas as Formas
opostas a Ele. Se o Criador tivesse uma imagem fora de nós, seríamos capazes de adotá-la
imediatamente, e assim terminar o processo. Entretanto, essa imagem não existe fora de nós; nós
devemos construir a imagem do Criador dentro da nossa própria Matéria. Primeiro, nós devemos
aprender sobre as Formas opostas ao Criador, e somente então poderemos construir Formas
similares a Ele. A soma das imagens cria nossa imagem do Criador.

Criando Modelos

Vamos voltar brevemente aos navios de Colombo. O xamã não podia detectar os navios porque
não possuía o modelo de tal “casa flutuante” em sua mente. Em termos Cabalísticos, nós diríamos
que ele não tinha o Kli para detectar essa Forma. Para que o xamã detectasse o navio, sua forma
teria que preexistir em sua mente, a qual ele compararia com a forma sendo observada. Assim, ele
a reconheceria como um navio com base na equivalência de forma entre o modelo preexistente e o
navio que ele viu do lado de fora.

Entretanto, para sermos capazes de sentir a realidade espiritual, nós deveríamos encontrar alguém
que falasse sobre ela. Por essa razão, os Cabalistas escrevem seus livros. Nós podemos usar esses
livros para descrever o que está fora de nós e construir gradualmente as Formas ou padrões
espirituais dentro de nós.

Os padrões que nós construiríamos internamente seriam, sem dúvida, falsos, mas o próprio esforço
e o desejo intenso fariam com que a Luz nos influenciasse. A Luz constrói progressivamente
formas similares à sua própria forma, até que a pessoa começa a ver a Luz verdadeira. Este é o
único modo de avançar, já que somente a Luz pode construir o vaso (Kli) dentro de nós. Na
verdade, nós não podemos imaginar o que está acontecendo a nossa volta, mesmo agora. Nós
estamos cercados por mundos e forças que não podemos sentir por falta de equivalência de Forma.

Um Homem das Cavernas no Mundo de Hoje


Se nós pensássemos um pouco mais sobre os Indígenas e o navio de Colombo, perguntaríamos: se
um homem das cavernas nascesse no mundo de hoje, ele enxergaria os carros e prédios? A
resposta é que ele não enxergaria. Então ele se chocaria com os prédios ou seria atingido por um
carro assim que saísse da calçada?

Antes de respondermos a essas perguntas, nós devemos entender que nós só percebemos tais
Formas que os nossos sentidos são equipados a detectar. Por exemplo, o ar a nossa volta, que
parece vazio, pode na realidade ser mais condensado e sólido que o cimento. Nós estamos
acostumados a ver esse mundo como um lugar por onde podemos nos mover livremente. Porém,
se nós construirmos ferramentas de percepção apropriadas, nós perceberemos que o mundo é na
verdade preenchido com uma enorme energia do Criador, que não permite que façamos nenhum
movimento livre. Se isso acontecesse, nos sentiríamos totalmente controlados pelo Criador, como
se estivéssemos “plantados” no cimento, incapazes de fazer um único gesto livre.

Como o nosso homem das cavernas não teria o sentido que percebe a parede como Matéria ou
como Forma na Matéria, ele seria capaz de atravessar paredes como se elas fossem ar. Os
Cabalistas desejam orientar nossas observações, de modo que possamos perceber o mundo de
forma correta. Se nós nos afastássemos apenas um pouco de nossa habitual percepção do mundo, e
nos colocássemos dentro da percepção real que os Cabalistas descrevem, este mundo pareceria
muito estranho para nós.

Atualmente, muitos físicos quânticos estão descobrindo que o mundo tem uma “estranha”
regularidade de tempo, espaço e movimento. Por exemplo, eles dizem que os objetos podem estar
em mais de um lugar ao mesmo tempo. Esta peculiaridade os leva a pensar que tudo é medido com
respeito ao observador. Isto significa que a existência ou ausência da parede do homem das
cavernas, bem como a capacidade de mover-se através dela, são medidas somente pelo estado dos
vasos (Kli) do observador.

Nós nascemos neste mundo com cinco ferramentas de percepção (os cinco sentidos naturais), que
se desenvolvem de geração a geração. O ambiente cerca cada criança recém-nascida. Como
resultado, quando crescemos nós percebemos as coisas a nossa volta como fatos reais, como
Formas na Matéria percebidas por nossos cinco sentidos.

Todavia, mesmo a nossa percepção com os cinco sentidos reflete o que os nossos próprios
sentidos projetam, e nada mais. Eu sou o criador dos prédios, dos carros, da Terra, do universo, e
toda a minha realidade. Eu os criei em meus vasos, em minhas sensações. Fora de mim, eles são
amorfos.

É muito difícil desvincular-nos de nossas percepções naturais. Parece que uma perspectiva
diferente da realidade só é possível depois de atravessarmos a barreira para o mundo espiritual.
Somente então nós entenderemos que as coisas podem ser diferentes do que pareciam antes.

Por exemplo, nós não podemos atravessar paredes porque somos controlados pelas mesmas regras
que criamos. Mas a Luz Superior é abstrata; somos nós que A limitamos. Existe somente uma lei
na realidade: “a lei da equivalência de Forma”. Quanto mais nós igualamos a nossa própria forma
com a da Luz, mais livres e ilimitados nos tornaremos.
O nosso desejo de receber está dividido em 613 desejos. De acordo com a nossa diferença de
Forma com a Luz, nos erguemos barreiras em torno de cada um desses desejos. A soma de todos
esses limites cria a forma de nossa ferramenta de percepção, e essa ferramenta produz a nossa
representação da realidade.

Será mais fácil para nós entendermos a Lei da equivalência de Forma se considerássemos como
funcionam os receptores de rádio. Um receptor pode captar ondas somente quando cria ondas
idênticas dentro de si. Do mesmo modo, nós “captamos” coisas que aparentemente existem do
lado de fora - mas somente de acordo com o que criamos interiormente.

A Lei da equivalência de Forma é constante e limita toda a realidade. Ela é valida tanto para os
vasos altruístas quanto egoístas. Em outras palavras, nós percebemos a realidade física e a
realidade espiritual exatamente do mesmo modo: através da equivalência de Forma. A única
diferença entre os dois tipos de vaso está na direção deles: um está dirigido para o ego, o outro
para o Criador. Porém, a existência nos vasos egoístas permite que um número bem limitado de
vasos seja sentido.

Os físicos quânticos estão começando a descobrir que além de certo limite da investigação, o
mundo parece “desaparecer”. Os Cabalistas escreveram sobre tais “descobertas” há milhares de
anos. Eles explicaram que além desse limite, a matéria física e seus contornos desaparecem, e
somente forças e formas que estão acima da Matéria permanecem. A continuidade do estudo além
desses limites só será possível depois que os investigadores adquirirem os vasos altruístas
apropriados.

Os Cabalistas descrevem as regras básicas para a correta atitude em relação à realidade com muito
mais profundidade que os cientistas. Somente quando essas regras forem aplicadas, será possível
progredir nas investigações e na percepção da realidade.

A Cabala foi mantida oculta até recentemente porque a humanidade não estava pronta para
entendê-la corretamente. Os avanços da ciência contemporânea nos prepararam para entender a
sabedoria da Cabala. É por isso que a Cabala esta sendo revelada nos dias de hoje.

Vamos retornar por um instante ao homem das cavernas que “caiu” em nosso tempo. Nós temos a
tendência de pensar que os nossos vasos são mais ricos que os dele porque podemos ver Formas
que para ele não existem.

Entretanto, isso é um erro: embora nós tenhamos realmente evoluído e adquirido impressões de
mais Formas do que o homem das cavernas, construindo muito mais vasos, esses vasos nos
limitam muito mais. As Formas na Matéria que nós percebemos, eram Formas Abstratas para o
homem das cavernas; elas não existiam para ele, e, portanto, não o limitavam.

No futuro, nós descobriremos que quanto mais “adquirimos”, mais nos limitamos. Nós
progredimos ao adquirirmos formas e construirmos cada vez mais estruturas, mas no final essas
estruturas nos limitam em cada nível da realidade, mostrando-nos que não somos de modo algum
livres.
À medida que nós nos desenvolvemos, nós absorvemos várias impressões do nosso meio: nossos
pais, professores, amigos, e experiências. Essas impressões nos fazem olhar para a realidade de
acordo com nossa “autoprogramação”. Desse modo, a realidade é somente uma projeção do nosso
software interior; ela não existe fora de nossos vasos internos. A realidade é uma invenção de
nossa imaginação, mas a nossa mente retrata essas imagens como se existissem do lado de fora.

Assim como a realidade física, a realidade espiritual não existe fora de nós, mas é a Luz revestida
no Kli. Fora do Kli existe apenas a Luz abstrata e sem forma, e tudo o que falamos é sobre a
aplicação de Formas no desejo de receber.

Os Cabalistas declaram que na realidade espiritual o desejo de receber pode adotar um número
finito de Formas discretas. Juntando-se todas essas Formas, nós podemos perceber a influência
contínua da Luz, que é a imagem exata do Criador.

A materialidade é uma réplica, uma projeção da espiritualidade, como um ramo de uma raiz.
Portanto, o processo que se revela na materialidade é muito parecido com o processo espiritual. O
desejo de receber egoísta pode assumir um número limitado de Formas, e depois a matéria
desaparece – parecido com o que os pesquisadores estão descobrindo atualmente.

Depois que a pessoa constrói um grande número de Formas, essas se tornam uma imagem simples
de “uma” doação ou de “uma” recepção. Essa é uma projeção do estado espiritual chamado Gmar
Tikkun (Fim da Correção). O Gmar Tikkun é o estado espiritual que ocorre depois que o Kli
revestiu-se com todas as Formas de doação da Luz. Nesse estado, a Luz e o Kli se equivalem
completamente.

O único modo pelo qual o vaso pode acelerar a construção das Formas que atualmente lhe faltam é
escolhendo o ambiente apropriado para o progresso espiritual. Esse ambiente o faria “imaginar” as
formas descritas nos livros de Cabala, e assim induzir a ação da Luz sobre a alma. A Luz, em
troca, construiria “sensores” para detectar as Formas de doação.

De fato, essa Luz é a mesma Forma Abstrata onde tudo “desaparece”, como os físicos quânticos
têm descoberto. Essa Forma Abstrata projeta a Forma de doação sobre o desejo de receber, e como
resultado, os “sensores” para percebê-La começam a formular dentro de nós.

Os Cabalistas definem essa Luz como “a Luz que Corrige”, porque ela cria a Forma de doação
dentro de nós, e nos aproxima do nosso estado perfeito.

Hoje, muitos pesquisadores acreditam que no nível mais básico, nós somos todos um só, e que a
conexão entre nós deveria ser de amor. Porém, esses pesquisadores não acharão um jeito de
perceber esse ideal, pois a Força para fazer essa correção deve ser atraída do “outro lado”, do lado
do amor. Isto só pode ser feito através do estudo da Cabala.

Finalmente, os pesquisadores descobrirão que a matéria desaparece totalmente, e que a única coisa
que existe é o pensamento puro, mas eles não serão capazes de progredir além disso. Eles sentirão
que existe outra existência além da nossa, onde a nossa Matéria é oposta a nossa atual Matéria, e
que estamos conectados em perfeita união. Todavia, o modo de se obter essa Forma de existência,
o reino do “outro lado” da lei quântica, só pode ser ensinado por aqueles que já estão “lá” — os
Cabalistas.

É impossível quebrar essa barreira sem atrair a Luz encontrada nos livros de Cabala, pois eles são
os únicos textos que escritos do “outro lado”. O desejo pessoal de “chegar lá”, junto com o estudo
dos textos Cabalísticos corretos, atrai a Luz sobre a pessoa e constrói dentro de sua alma as
Formas com que ela percebe o reino espiritual. Assim como o xamã teve que construir as formas
corretas para ver os navios, nós temos que construir Formas de doação para estar no reino
espiritual.

Recobrando a Consciência

Nós e o Mundo

Desde o nascimento, nós possuímos as ferramentas para perceber a realidade física. Dentro dessas
ferramentas estão “bits de informações” sobre os estados e condições que estamos destinados a
realizar — as Reshimot. Por meio da influência da educação e do ambiente em que vivemos,
nossas ferramentas se desenvolvem até que tenhamos uma percepção “normal” da realidade física.

Porém, este não é o caso no que se refere à percepção da realidade espiritual. Nós não possuímos
nenhum “padrão” pelo qual possamos testar se estamos construindo nossos vasos interiores
corretamente, de forma a revelar o atributo de doação e a descoberta da realidade espiritual.

Nós não sabemos o que fazer com os nossos desejos, como dar forma a eles, e com que intenção
devemos prepará-los. Para nos ajudar nesta tarefa, os Cabalistas nos fornecem as definições
necessárias. Eles nos ensinam como podemos calibrar nossas ferramentas de percepção para
percebermos a realidade espiritual.

Nós percebemos a realidade física de forma predeterminada; nós nascemos e crescemos sem
sermos questionados sobre a nossa opinião a respeito desse assunto. Os padrões de percepção
física que foram formados em nós durante o nosso amadurecimento, nos fazem sentir a Luz do
Mundo de Ein Sof. Essa Luz, na realidade, está oposta a nós o tempo todo: a realidade física
dentro da qual nós e o mundo a nossa volta existem.

Apesar disso, no que diz respeito à realidade espiritual, nada é pré-determinado. Nós temos que
encontrar nossas próprias formas de percepção da espiritualidade, e somente as ferramentas que
nós construirmos fornecerão a cada um de nós o entendimento sobre o Criador, a Força Superior
que tudo constrói e influencia.

Nós deveríamos ter em mente que a realidade é formada dentro de nós. Nossas qualidades
interiores refletem uma “sombra” sobre a Luz abstrata, criando assim nossa imagem do mundo,
tanto espiritual como físico. Assim, a maneira com a qual nós perceberemos o Criador dependerá
somente de nossas próprias qualidades.
*

A sabedoria da Cabala tem mantido sua posição em relação à percepção da realidade por milhares
de anos. Inversamente, a ciência cultivou sua abordagem através de diversos estágios muito
importantes.

A percepção clássica, cujo protagonista foi Isaac Newton, declara que o mundo existe por si
mesmo, sem considerar se estamos ou não lá para percebê-lo. Assim que a ciência biológica se
desenvolveu, ela possibilitou que víssemos o mundo através dos olhos de outras criaturas. Nós
descobrimos que diversos animais percebem o mundo de maneira muito diferente.

Por exemplo, a abelha vê milhares de imagens, que se misturam para criar uma imagem do mundo
a sua volta. O cachorro percebe o mundo, O cachorro percebe o mundo, antes de tudo, como
“borrões de aroma”. Por isso, Einstein descobriu que a mudança da velocidade do observador
produzia uma imagem completamente diferente da realidade.

Essas descobertas revelaram uma segunda abordagem, a qual afirma que a imagem do mundo
depende do observador. Observadores com qualidades e sentidos diferentes percebiam uma
imagem diferente do mundo. Portanto, como na primeira abordagem, o mundo continuava
existindo independente dos seus observadores. A diferença entre a primeira e a segunda
abordagem é que o mundo parece diferente aos olhos de observadores diferentes.

Uma terceira abordagem desenvolvida sugeria que o observador afeta o mundo, e, portanto, afeta a
imagem percebida. De acordo com a terceira escola, a percepção da realidade é como uma média
da imagem entre os atributos do observador e os atributos do objeto observado.

Em outras palavras, o observador percebe algo de certa maneira porque é assim que ele é formado,
comparado à qualidade real do mundo. Essa abordagem afirma que existe uma relação entre o
individuo e o mundo, no sentido que o observador influencia a imagem do mundo que ele percebe.

A diferença entre a segunda e a terceira abordagem é a seguinte: a segunda abordagem declara que
nós não afetamos o mundo, e que a imagem do mundo muda aos nossos olhos porque nós
mudamos. Entretanto, a terceira abordagem declara que nós afetamos o mundo, que a nossa
percepção do mundo é uma combinação das qualidades do individuo e aquelas do mundo.
Atualmente, alguns proclamam que existem infinitas possibilidades, e que o observador “escolhe”
qual delas perceber, de acordo com os seus atributos.

Esta ultima abordagem é a mais próxima da abordagem Cabalística. A diferença fundamental entre
elas está na definição da “existência do mundo”. Afirmar que o mundo possui infinitas formas
possíveis baseia-se na teoria de que se eu agir de um determinado modo o mundo “reagirá”.

A abordagem Cabalística declara que o mundo é totalmente abstrato; ele não assume forma
alguma, seja ela qual for. Não existe nada fora de nós, apenas a Luz abstrata e imutável. Mesmo
quando nós mudamos em relação à Luz e percebemos um pouco Dela, nenhuma mudança é
causada na Luz propriamente dita. Tudo que nós percebemos é nossa medida de congruência
interna com a Luz, nada mais.
De tudo que nós temos dito até agora podemos ver que a nossa vida real é muito diferente daquilo
que percebemos. A imagem da realidade para cada um de nós depende totalmente dos nossos
atributos internos. Esta imagem é formada de projeções dos nossos próprios atributos sobre a Luz
abstrata.

Na verdade, o fato de que nossas vidas são uma conseqüência natural do que acontece dentro de
nós, traz implicações profundas: todos os processos que experimentamos, incluindo a vida e a
morte, são resultados diretos das percepções dos nossos vasos. Além disso, depende de nós a
mudança dessas percepções. A mudança em nossos vasos permitirá com que passemos de mundo
para mundo e de realidade para realidade. Assim, nós poderemos alcançar o nível mais alto de
existência, onde estamos totalmente incorporados na Luz abstrata.

Experimentando Ein Sof (Infinito)

A única diferença entre os vasos que percebem a realidade corpórea daqueles que percebem a
realidade espiritual está na intenção. Os vasos corpóreos são egoístas e os vasos espirituais são
altruístas. A intenção está relacionada à nossa atitude em relação ao uso que fazemos de nossos
desejos.

O único estado que realmente existe é o estado de Ein Sof (Mundo Infinito). Nesse estado, a Luz
está presente dentro do Kli. Todavia, esse estado está oculto e esse ocultamento nos impede
experimentar o estado de Ein Sof. A intenção altruísta remove gradualmente esse ocultamento e
expõe a Luz que preenche de forma permanente o Kli.

Se nós tivermos em mente essa imagem, lembraremos que nunca revelamos qualquer Luz fora do
vaso. Quando os Cabalistas dizem que as Luzes entram e saem dos vasos, eles querem enfatizar
como nós nos aproximamos da realização do estado constante. Em termos Cabalísticos, Ein Sof é
o estado de “repouso absoluto”, isto é, imutável. O nosso trabalho é preparar gradualmente nossas
ferramentas de percepção, de modo a percebermos esse estado. Assim, a única mudança está na
nossa capacidade de perceber.

Quando a Luz “veste" a pessoa, e a pessoa sente como a Luz entra de forma gradual, o estado
constante torna-se gradualmente mais nítido à medida que a pessoa desperta para senti-lo. A Luz,
na verdade, nunca entra ou sai. Ela apenas fica mais evidente e evidente, isto é, mais revelada e
menos oculta.

À medida que a Luz torna-se mais evidente no Kli, ela nos mostra que, na realidade, estamos no
mundo de Ein Sof, no estado constante, e que devemos descobrir que este é o nosso único estado
de existência. Desse modo, a Forma Abstrata não existe. A Luz que criou o Kli, preencheu-o
imediatamente. Não existe intervalo de tempo entre a criação do Kli e seu preenchimento. Quando
os Cabalistas dizem que a Luz emana do Criador, eles querem dizer que já existe o Kli que é
preenchido por Ela.
Não devemos nos esquecer disso, que diferente da nossa linguagem relacionada com o tempo, não
existe tempo na espiritualidade. É por isso que dizemos que o Kli foi primeiro criado e depois
preenchido. Mas na espiritualidade, essas fases são simultâneas: o princípio e o fim ocorrem no
mesmo instante.

Portanto, a Forma Abstrata realmente não existe, visto que a Forma, ou Luz, já está revestida no
vaso. A nossa imaginação pode separar a Luz do Kli. Nós também podemos supor que a Luz
dentro do Kli provavelmente exista fora do Kli, apesar de não termos a percepção do que está fora
do Kli.

Vamos tentar demonstrar esse conceito: suponha que exista um Kli no qual eu percebo toda a
realidade. Suponha também, que exista outro Kli onde eu percebo algo dessa realidade, e mais um
Kli em que eu não possa perceber nada. Corrigir meus vasos refere-se à expansão dos meus vasos,
dos menores aos maiores, e muito mais. Se eu digo que a Luz preenche meu vaso, isso não
significa que Ela não o preencheu anteriormente, mas que agora eu descobri essa realidade de fato.

Nós podemos comparar esse processo a um paciente inconsciente que readquire a consciência
lentamente. Seus parentes e amigos o cercam, esperando que ele acorde. Assim que abre
lentamente os olhos, ele começa a reconhecer sua situação. Da perspectiva do paciente, a realidade
“veio até ele”, e preencheu seus vasos de sensação, pois nós medimos tudo da perspectiva do
receptor.

O termo Ein Sof, não se refere a nada fora das criaturas. Ele se refere ao Pensamento da Criação. A
Forma final das criaturas já está presente no Pensamento da Criação. Todas as criaturas, sem
exceção, já estão nesse estado com todos seus sentimentos. Portanto, o nosso estado atual é
portanto chamado de “estado imaginário”. Nós somos esse paciente inconsciente; pensamos que
existimos de certa maneira, e estamos gradualmente despertando para perceber a realidade atual.
No fim do processo, toda criatura estará totalmente consciente de sua verdadeira condição.

Em sua Introdução ao Livro do Zohar, o Baal HaSulam descreve três estados que as almas
experimentam no seu processo de despertar para o seu verdadeiro estado. O primeiro estado é o
começo da Criação e contém tudo que mais tarde se desenvolverá. O segundo estado é o
nascimento das almas. O terceiro estado é quando as almas obtêm o que já estava presente no
primeiro estado. Em outras palavras, o primeiro estado refere-se à existência potencial das almas;
no segundo, elas estão inconscientes, e no terceiro elas retornam ao seu estado original.

Nós estamos acostumados a um “modus operandi' (modo de ação) no qual primeiro nós decidimos
fazer alguma coisa, depois executamos nossa decisão, e obtemos o resultado planejado no fim da
execução da nossa decisão. Contudo, o Criador é completo. Desta forma, para Ele não existe
diferença entre a decisão e a execução. O conceito de tempo não se aplica ao Criador. É por isso
que nós dizemos que no Pensamento da Criação fazer o bem às Suas criaturas, no começo, no
meio, e no final estão integrados de forma inseparável. Apenas a nossa percepção é que divide
esse Pensamento em três camadas.
O conceito de tempo se aplica às criaturas porque nós não estamos corrigidos. Existem três
estados para nós: (1) corrupção, (2) preparação para a correção e correção, (3) equivalência de
Forma, e preenchimento. Esta seqüência de ações cria a nossa sensação de tempo.

À medida que as Reshimot emergem em nós, elas nos fazem querer e pensar em várias coisas.
Quando as Reshimot mudam, meus pensamentos também mudam. A diferença entre o meu
pensamento de um minuto atrás e o meu pensamento atual cria a sensação de que o tempo está
passando. Quando nossos pensamentos e desejos mudam lentamente, sentimos que o tempo está se
“arrastando”. Inversamente, quando novos pensamentos e novos desejos emergem rapidamente
em nossa mente, sentimos que o tempo esta' “voando”.

Ao adquirirmos o primeiro nível espiritual, nós sentimos que estamos num processo espiritual, isto
é, num tempo espiritual. Nesse estado, nós não sentimos mais o tempo corpóreo e nos
identificamos complemente com o processo espiritual, onde o tempo é medido pelas mudanças e
ações relativas ao nosso contato com o Criador.

A freqüência desse vaivém de “sinais”, de nós (agora Cabalistas) até Ele, cria a sensação de
tempo. Isso não é mais uma questão do número de anos que passamos em nosso corpo físico.
Quando todas as Reshimot emergem, elas são corrigidas e preenchidas com todas as Luzes, a
alternância de estados acaba. Como não existem mais deficiências para se preencher e nós estamos
num estado de perfeição, as sensações de tempo, espaço, e movimento, também acabam.

Para Construir Uma Casa

A compreensão da formação da Criação pode ser simplificada através de um exemplo: uma pessoa
que deseja construir uma casa, primeiro vai imaginá-la na forma final. Depois, ela deve,
cuidadosamente, planejar os estágios e, então, executá-los.

Isso não ocorre com o Criador. No minuto em que o Criador pensou em criar as criaturas, isso foi
feito, e elas surgiram na sua forma corrigida. Desse modo, da perspectiva do Criador, estamos na
nossa forma corrigida. Não faz diferença que descubramos nossa verdadeira condição de forma
gradual.

Por isso, quando nós queremos receber força, nos dirigimos ao estado de Ein Sof (Infinito), que
chamamos de “Criador”. Para receber força e discernimentos, nós nos dirigimos à realidade
corrigida, onde já existimos, e que devemos almejar. Ein Sof é o Pensamento (ou Idéia), e o
mundo de Atsilut é o projeto detalhado: estas são as duas fases que precedem a execução do
Pensamento. Isto se parece com o modo como a pessoa pensa quando constrói uma casa ou
mesmo quando coloca suas idéias no papel sem ter os materiais.

Abaixo do mundo de Atsilut está o Parsa, a separação entre Atsilut e o mundo abaixo dele. As
criaturas começam do Parsa para baixo. No entanto, o Criador não tem que esperar pelas ações
das criaturas. Para Ele, o Pensamento e o Projeto são a totalidade da realidade. Abaixo do Parsa
estão os mundos de Beria, Ietsira, Assia, e abaixo deles está Este Mundo (Figura 14).
Figura 14

A Luz desce do mundo de Atsilut para baixo de acordo com o desejo de cada pessoa de “construir
a casa”. Este desejo, que a pessoa eleva em direção à Luz, é a sua intenção de agradar ao Criador e
assemelhar-se a Ele. Em outras palavras, é a intenção de obter a equivalência com o Criador.

O processo de doar ao Criador consiste de um princípio e um fim. Não só o começo e o fim pré-
existem, mas também cada um dos estágios intermediários. A pessoa sabe antecipadamente os
estágios que deve passar, porque conforme o projeto, a definição prévia de cada estágio origina-se
do Kli ter que se submeter a uma correção gradual.

Existem diversos desejos no Kli, os quais estão todos interconectados. Eles podem ser comparados
aos órgãos de um corpo, onde a cada órgão é solicitado que desenvolva a intenção de doar. A
correção de um desejo influencia todos os outros, que devem se desenvolver em seus devidos
lugares na ordem de correção. Não existe nada na vida de uma pessoa que não seja pré-
determinado pela estrutura do desejo de receber, do mesmo modo que o caminho da correção é
predefinido e dividido em ordens predeterminadas.

Nós estamos sempre num estado perfeito, mesmo agora. À medida que as Reshimot emergem e
nos colocam em situações variadas, tudo que fazemos é perceber cada uma delas. Não podemos
escolher as situações que vamos experimentar, mas podemos ser assistidos pelo ambiente de modo
a perceber os estágios de forma mais efetiva. Dessa maneira, avançaremos de uma situação para a
outra.

Além disso, até a maneira com a qual percebemos os estados em que nos encontramos é
predeterminada. Nada é novo na perspectiva do Criador; isso só está oculto de nós para que
possamos escolher nos desenvolver espiritualmente de forma independente. Depois, quando isso
não afetar mais os nossos esforços, descobriremos que nossos sucessos e fracassos em atingir
esses estados também eram pré-determinados. Quando isso ocorrer, estaremos absolutamente
integrados na orientação perfeita do Criador.

Se nós nos corrigíssemos além do nosso interesse nos resultados que sentimos em nossos vasos,
não seríamos mais influenciados pelo que acontece no início, meio e fim. Semelhante ao Criador,
o início, meio e fim seriam igualados em nós, tornando-se um só estagio. É por isso que aqueles
que se corrigem transcendem o tempo e o efeito dos estágios temporários. A correção que
devemos realizar consiste essencialmente em nos desligarmos de nosso auto-interesse.

Nós podemos definir a criatura como “algo” que sente a si mesmo separado do Criador, e que está
aparentemente em seu próprio direito. Do ponto de vista da criatura, a casa ainda não está
terminada. A criatura sente que pode contribuir com alguma coisa na construção dela.

Quando a criatura começa a querer descobrir o projeto com o intuito de completar a construção da
casa, considera-se que ela voltou a Ein Sof por si mesma. Esse esforço de buscar conselho e força
para entender o projeto do Criador e percebê-lo, traz à criatura uma familiaridade constante e
profunda com o plano, e à subseqüente inclusão na casa terminada.

Todavia, esse processo se desenvolve exatamente quando a criatura está aparentemente


adicionando cada parafuso, prego, tijolo e cimento na construção. Essa adição, constitui o desejo
da pessoa de estar incorporada na casa, e não a construção real dela. O material bruto, os metais, a
madeira, e os tijolos, são os desejos. A pessoa só precisa querer colocar cada desejo no seu devido
lugar, de acordo com o Plano do Criador. Ao construir uma casa feita de desejos, a pessoa adquire
o Pensamento do Criador. Esta é a recompensa da criatura.

O Pensamento da Criação só pode ser alcançado nesse mundo. Enquanto existe neste mundo, o
Cabalista estuda gradualmente as ações do Criador diretamente d’Ele, e começa a querer fazer o
mesmo. Os Cabalistas chamam esse processo “de suas ações nós o conhecemos”. O resultado
desse processo é a obtenção da Mente do Criador, o Seu Pensamento.

O Pensamento do Criador precede a criação da criatura. Desse modo, ao obter isso, a pessoa não
somente retorna ao local de seu nascimento, como também se eleva ainda mais, transcendendo o
nível de “criatura” e alcançando o nível real do Criador. Nesse ponto podemos dizer que eles são
uma só mente, em adesão, ou equivalência de Forma.

Para ser exato, o projeto surge no primeiro contato com a espiritualidade. Isto porque cada nível
espiritual é uma estrutura completa de dez Sefirot. O material do prédio, sua estrutura, mesmo o
seu construtor, tudo se torna conhecido com o surgimento da primeira imagem.

Depois da admissão no mundo espiritual, a pessoa torna-se muito mais familiarizada com a sua
estrutura, porque a espiritualidade é construída somente com o consentimento dela, em todos os
passos do processo. O consentimento pertence à intenção da pessoa de doar, a intenção altruísta. A
independência e a liberdade escolha da pessoa, o seu “local de trabalho”, está em concordância
com a intenção altruísta. Este é o acréscimo que o Criador nunca acrescentou, nem pode
acrescentá-lo.
O Mundo de Ein Sof é a casa que o Criador dá à criatura com tanto amor, mas a pessoa deve
devolver o mesmo amor a Ele; ao fazer isso, ela aparentemente constrói a mesma casa para o
Criador. Desse modo a criatura devolve as ações do Criador, iguala-se a Ele e, conseqüentemente,
eleva-se ao Pensamento da Criação.

Os Mundos Estão Dentro

Os Mundos Superiores e seus níveis existem somente em relação a nós, não neles mesmos. Os
mundos existem em potencial, esperando que nós os corrijamos e descubramos suas formas
espirituais. Nesse estado, nós seremos imediatamente apresentados com todos os níveis entre nós e
Ein Sof, começando com o próximo nível adjacente.

Uma carga elétrica num campo magnético “sente” a influencia do campo sobre ela e, desse modo,
“sabe” que esse campo existe. Se a carga não estivesse dentro do campo, ela não teria “sentido” o
efeito do campo magnético; de fato, ela nem saberia que o campo existe.

Igualmente, quando deixamos a atmosfera da terra, descobrimos que o espaço distante e' escuro.
Isso pode soar estranho , considerando que os raios solares se espalham através do espaço, mas se
não existe nada que fique no caminho desses raios e os “capte”, não poderemos detectar a
existência dessa luz.

Outro bom exemplo desse principio pode ser observado quando nós assistimos à luz solar entrar
num quarto por uma janela aberta quando existe alguma poeira no ar. Nós só podemos detectar os
raios por seus reflexos na poeira do ar. Em outras palavras, se a criatura não sente nada, ela não
pode dizer existe algo lá fora. Em tal estado, nós dizemos que tudo que existe é o Pensamento da
Criação, que deseja fazer o bem para aquilo que foi criado.

A criatura, que está em Ein Sof, descobre Ein Sof de acordo com sua relativa correção ou
corrupção. O grau de intensidade no qual ela sente a Luz em cada nível espiritual, de Ein Sof até a
criatura, só depende dela mesma. Por essa razão, nós dizemos que todos os mundos estão dentro
de cada criatura, e somente depois de percebermos certas partes do Pensamento da Criação nos
tornamos cientes da existência desse Pensamento. Nós não podemos falar de Criador, realização
ou satisfação, quando isso não vem de dentro do individuo realizado, isto é, se não há Kli, não há
Luz. Em outras palavras, sem a criatura não existe o Criador.

Acelerando o Desenvolvimento

A Luz de Ein Sof preenche toda a realidade e todo desejo de receber que Ela criou. Ela age dentro
dele para fazê-lo igualar sua forma com Ela. A pressão da Luz no desejo de receber é constante,
imutável em quantidade e na qualidade. Como conseqüência, mudanças permanentes se revelam
no desejo de receber, que nós chamamos de “providência geral”. Como essa atitude é permanente
e imutável, ela é chamada de “o Ein Sof que está em repouso absoluto”.
O termo “Ein Sof” enfatiza que o Criador é imutável e que o Seu propósito é também imutável:
levar a criatura ao Gmar Tikun (Fim da Correção). O progresso em direção ao Gmar Tikun é
realizado através da pressão da Luz sobre o Kli, que no final fará com que Kli sinta que está em
contradição com o estado da Luz.

Por causa da pressão que isso causa, os Cabalistas se referem a esse caminho como “o caminho da
dor”. Enquanto nós trilhamos esse caminho, tudo acontece no devido tempo, a pressão constante
da Luz no Kli induz a formação de muitas formas no Kli até que elas são exauridas e o Kli alcança
seu Gmar Tikun.

No final da evolução natural do desejo de receber nos humanos, depois de muitos ciclos de vida, a
pessoa começa a sentir que existe algo superior, um Doador. Nessa fase, ela começa a acumular
discernimentos que não pertencem ao desejo de receber, mas ao desejo de doar que se infiltrou no
desejo de receber na quebra dos vasos.

Em tal estado, a pessoa está entre duas forças: o desejo de doar e o desejo de receber. Tal estado
permite que a pessoa acelere o seu desenvolvimento e progrida mais rápido do que a pressão
natural da Luz sobre o Kli permitiria.

Todavia, a aceleração da evolução em direção aos atributos da doação não pode ser feita de dentro
do ego da pessoa. O único jeito de adquirir o atributo da doação é recebê-lo do Criador. O
trabalho do indivíduo é achar um jeito de receber a Forma da doação “do Alto”, sem experimentar
totalmente os infortúnios no Kli, os quais forçariam o indivíduo a fugir da recepção para a doação
pela dor e o sofrimento.

A escolha desse caminho é chamada de “evolução de baixo para cima”. Nela, nós caminhamos em
direção à pressão da Luz e sistematicamente atraímos sobre nós todos os estados, um por um.
Tomando esse caminho, nós queremos progredir em direção ao Criador, em direção à aquisição da
Forma de doação, e ao fazê-lo, nós escapamos dos outros estados.

O grande benefício desse caminho alternativo, chamado de “caminho da Luz”, é que a pessoa
experimenta os mesmos estados, todo e qualquer desejo, e sua oposição ao Criador, mas não
devido à pressão da Luz por trás, mas devido ao anseio pela Luz. Esse caminho permite que a
pessoa experimente rapidamente o discernimento necessário e de uma maneira mais controlada. O
caminho da Luz é como descobrir que nós estamos doentes, e tomar o remédio adequado antes da
doença piorar. Por isso, o nosso próprio anseio pode nos poupar grandes sofrimentos e problemas.

Se nós formos atraídos pela Luz por nossa própria iniciativa, isto é, pelas Formas de doação acima
do desejo de receber, nós escaparemos de muitas aflições. É por isso que a sabedoria da Cabala foi
dada ao ser humano. Sem ela, a humanidade progrediria de forma natural, passo a passo, cada fase
durando até que sua negatividade fosse totalmente exposta, e fôssemos forçados a entrar no
próximo estado. Ensinar a sabedoria da Cabala, e como usá-la para atrair a Luz, nos ajudará a
evoluir de um jeito muito diferente, de forma agradável e rápida.
Construindo o Criador Interiormente

Como já havíamos explicado antes, todas as mudanças se revelam dentro de nós, apesar delas
parecerem estar ocorrendo fora de nós. Nós devemos entender que sem experimentar que as
mudanças estão ocorrendo fora de nós, nos não seríamos capazes de fazer contato com o Criador
ou mesmo pensar que o Criador existe ou tem qualquer relação conosco. É exatamente essa ilusão
que nos possibilita perceber a Luz como algo que existe fora de nós.

Quando nós relacionamos o que acontece dentro de nós com a existência de um Criador externo,
nós podemos construir uma atitude em relação a isso e entender quem é o Criador e como Ele quer
doar para nós. Se nós não relacionássemos nossas experiências internas ao Criador, não
conseguiríamos perceber nada Dele. Além disso, teríamos sido incapazes de construir a intenção
de doar ao Criador.

À medida que nós nos desenvolvemos, nós construímos gradualmente uma imagem verdadeira do
Criador. No final do processo de construção nós alcançamos a Luz Simples, o Doador, O Bem
Supremo, Aquele que esta num estado de amor eterno e imutável.

A sensação ilusória de que existe uma conexão entre o Criador e a criatura muda de acordo com as
mudanças na criatura. Isto permite que a pessoa imagine o Criador de acordo com o seu próprio
atributo. De fato, ao fazer isso, a pessoa constrói o Criador interiormente; não existe outra forma
de sentir o Criador.

Projetar os atributos da pessoa sobre a Luz abstrata ilumina o nível acima do nível atual da pessoa,
que é o nível que a pessoa imagina como o Criador. Por isso, nós atribuímos o nível logo acima do
nosso, que atingiremos depois, como o Criador. Uma vez que nós alcançamos a equivalência com
os atributos de doação naquele nível, “tomamos” o lugar do Criador. Agora, essa pessoa está no
lugar onde o Criador estava antes (aos nossos olhos).

Assim, à medida que evoluímos, nós sempre imaginamos o próximo nível através de nossas
qualidades corrompidas. Nós construímos a imagem do Criador, à qual aspiramos nos tornar, em
relação às nossas próprias qualidades. Essa é a única maneira de nós percebermos qualquer Forma
do Criador, a única maneira de nos aproximarmos da Luz abstrata.

Esta sensação imaginária nos ajuda a construir o nível atual e também o próximo. Ela facilita o
nosso entendimento para onde devemos nos voltar quando queremos reunir forças. Apesar disso se
revelar interiormente, a imagem do Criador que nós construímos demonstra a diferença entre
nosso estado atual e o próximo. Desse modo, nós percebemos a diferença entre o Criador e nós.
Esta é a única maneira de aprendermos o que está Acima, pois o Criador não tem uma Forma que
possamos perceber. Por essa razão, nós construímos o Criador dentro de nós.
Descrevendo a Realidade

Nós poderíamos comparar o ser humano a uma caixa fechada com sensores: olhos, ouvidos, nariz,
boca e mãos, representando os cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato.

Como nós dissemos anteriormente, o principio fundamental na percepção da realidade é o da


“equivalência de Forma”, o que significa equilíbrio de pressões. Os sentidos funcionam como
sensores, cada um com reações diferentes a essa pressão, dependendo da composição do sensor. O
sentido da visão evoca uma reação à luz, escuridão e cores; o sentido da audição evoca sons; o
olfato evoca odores; o paladar, sabores; e o tato, sensações como macio, duro, quente e frio.

A reação dos sentidos é transferida ao centro de controle do cérebro, onde a informação é


comparada com a informação que já existe na memória, o reservatório das impressões anteriores.
Dessa maneira, nós processamos o que os nossos sentidos acumulam, determinamos a reação mais
vantajosa e analisamos onde estamos e como agimos melhor em nosso ambiente. Quando o
processo é completado, a informação é “projetada” numa “tela”, dentro do cérebro, retratando o
que está ostensivamente à nossa frente (Figura 15).

Figura 15

Nesse processo, a parte circundante desconhecida se torna “conhecida”, e a imagem da realidade


externa é criada. Todavia, a imagem não é a da realidade externa, mas apenas uma imagem
interna, um resultado da estrutura dos sentidos humanos e dos dados preexistentes. Se nós
tivéssemos sentidos diferentes, produziríamos uma imagem totalmente diferente. Provavelmente,
se nós percebêssemos através de sentidos diferentes, que o que parece ser luz parecesse escuridão,
ou mesmo algo tão fundamentalmente diferente que não podemos nem imaginar como isso
pareceria para nós.
A ciência conhece esses fatos há algum tempo. Hoje, nós podemos substituir os sentidos usando
recursos feitos pelo homem, como aparelhos eletrônicos. Apesar da ciência ainda ter que dominar
totalmente essas técnicas, com o tempo ela será capaz de expandir o alcance dos nossos sentidos,
de criar novos órgãos e até mesmo produzir um corpo completamente novo. Apesar disso, mesmo
com um corpo novo, as imagens permanecerão internas. A ciência tem provado há muito tempo,
que as sensações de estar em certos lugares e situações podem ser provocadas por estímulos
elétricos no cérebro, em conjunto com o armazenamento de dados na memória.

Isso nos ensina que tudo o que nós sentimos vem de dentro, independente da realidade à nossa
volta. Nós nem podemos ter certeza que existe uma realidade externa. Como a imagem do mundo
“externo” está dentro de nós, os Cabalistas se referem ao mundo que vemos como “o mundo
imaginário”.

Tudo é composto do desejo de desfrutar. Nos seres humanos, esse desejo geral de desfrutar
perpetuamente, provoca desejos de tirar prazer de certas coisas, que mudam a qualquer momento.
Combinado com as informações armazenadas na memória, esse desejo opera nossos sentidos em
direção ao que desejamos momentaneamente. A evolução do desejo por prazer através das
gerações, finalmente nos leva ao desejo por algo desconhecido, chamado “o ponto no coração”.
Hoje, esse desejo está despertando em muitos de nós.

O problema com esse desejo é que não há dados correspondentes que se relacionem com ele em
nossa memória. Mesmo os nossos sentidos não conseguem localizar uma fonte que satisfaça esse
novo anseio. Quando esse desejo desperta em nós, nós ficamos impotentes, porque não há nada no
mundo à nossa volta que possa satisfazê-lo. Mas quando este desejo desperta, ele torna nossas
vidas anteriores à sua aparição parecerem repulsivas.

O ponto no coração é o início de um sistema sensorial totalmente novo, completamente


desconectado do atual sistema natural. Quando esse sistema novo estiver totalmente desenvolvido,
ele será chamado de “alma”. A alma conterá um cérebro novo, uma nova memória e uma nova
“tela”. Usando-a, a pessoa vê uma imagem completamente nova do mundo, a imagem do mundo
espiritual. Por isso, existem dois sistemas sensoriais separados que operam igualmente: o sistema
natural corpóreo, e o sistema espiritual.

No sistema natural, a imagem do mundo surge no momento do nascimento. Nós não precisamos
fazer nada para criá-la, o que já é uma diferença substancial do sistema espiritual. Nós
experimentamos muitas coisas na vida, experiências que enriquecem e desenvolvem nossa
memória, aumentam nossa capacidade de processar maiores sutilezas e fazer inúmeras conexões e
conotações. Como resultado, a imagem criada em nossa mente torna-se cada vez mais lúcida. Essa
é a diferença entre a percepção de mundo do bebê e a percepção do adulto.

Para que o ponto no coração se desenvolva num sistema de percepção espiritual, a pessoa deve
adquirir um grande desejo por isso. Como o mundo espiritual está oculto, o único jeito de
intensificar o desejo por ele é através do ambiente apropriado. Quando a pessoa quer progredir
espiritualmente, ela é levada a um ambiente apropriado, conforme a medida do desejo de receber.
Este é um processo natural que acontece como resultado da lei de equivalência de Forma, na qual
a pessoa está situada no sistema espiritual de acordo com seu desejo de participar dele.
Esse ambiente compreende três elementos: um guia Cabalista, textos Cabalísticos e uma sociedade
de pessoas com desejos semelhantes. A partir de agora, a evolução da pessoa depende do seu
desejo de utilizar esse ambiente corretamente, ou seja, para aumentar o desejo pela espiritualidade.
Quando, e somente quando, o desejo pela espiritualidade crescer até a intensidade exigida para
criar outro sistema sensorial, é que a imagem do mundo espiritual será criada nela.

Este é o único propósito pelo qual os textos Cabalísticos foram escritos. Ao estudar corretamente
esses textos, a construção da alma é facilitada. O Baal HaSulam (Cabalista Rabbi Yehuda Ashlag)
descreve isso da seguinte maneira:

Portanto nós devemos perguntar: Por que os Cabalistas obrigam cada pessoa a estudar a
sabedoria da Cabala? Certamente existe uma grande importância nisso, digno de ser publicado:
existe um remédio maravilhoso e inestimável para aqueles que se empenham na sabedoria da
Cabala. Apesar deles não entenderem o que estão aprendendo, através do anseio e de um grande
desejo de entender o que estão aprendendo, eles despertam sobre si mesmos a Luz que circunda
suas almas.

...quando a pessoa se ocupa com essa sabedoria, mencionando os nomes das Luzes e dos vasos
relacionados com a sua alma, estes imediatamente brilham sobre ela em certa medida. Porém,
eles brilham para ela sem revestir o interior de sua alma, por falta de vasos capazes de recebê-
los. Apesar disso, a iluminação que a pessoa recebe continuamente durante o empenho atrai
sobre si bênçãos do alto, transmitindo-lhe abundancia de santidade e pureza, que a aproximará
de alcançar a perfeição.

--Baal HaSulam, Introdução ao Estudo das Dez Sefirot, item 155

Uma vez que a primeira imagem da nova realidade surge, o restante da evolução se revela num
processo que os Cabalistas chamam de “a alma da pessoa a ensina”. A imagem do mundo
corpóreo torna-se mais nítida à medida que a pessoa amadurece e acumula impressões. Aqui
também a pessoa acumula sensações e impressões do mundo espiritual que enriquecem a nova
memória e as capacidades analíticas da nova mente. Conseqüentemente, a imagem do mundo
criada dentro do novo sistema sensorial se torna muito mais clara.

A morte do corpo biológico significa que o sistema natural deixou de funcionar. Os sentidos não
transferem as informações para o cérebro, e o cérebro pára de projetar as imagens do mundo
corpóreo na “tela” dentro dele. Como nem os desejos ou satisfações no ponto do coração - a partir
do qual evolui o sistema espiritual - pertencem a esse mundo, esse ponto continua existindo depois
da morte do corpo.

Se a pessoa chega a perceber sua existência no sistema espiritual e se identifica com ele antes da
morte do seu corpo, ela continuará sentindo sua existência espiritual depois da morte do corpo.
Este é o significado de existência na alma.

*
De acordo com os Cabalistas Baal HaSulam e o Santo Ari, para citar apenas dois, tudo que existe
fora de nós é a Luz que preenche toda a realidade, e que está em completo repouso. Apesar de nós
estarmos dentro dessa Luz, nós sentimos como se existíssemos dentro de um corpo situado dentro
de um universo circundante.

Todavia, como declarado anteriormente, as impressões nos preenchem através dos cinco sentidos.
Portanto, se tudo que existe a nossa volta é a Luz imutável, o que é que nos faz perceber mudanças
constantes?

Para responder essa pergunta, nós devemos retornar às Reshimot (recordações). Como nós
dissemos antes, dentro do desejo de receber existe uma cadeia de Reshimot, uma cadeia que evoca
continuamente novas Reshimot. A imagem interna do mundo que nós experimentamos é, na
verdade, uma manifestação da diferença, das contradições entre a atual Reshimo ativa (singular de
Reshimot) e a Luz.

A Luz fora de nós não muda; somente as Reshimot dentro de nós mudam. Nossa percepção de nós
mesmos, e do mundo a nossa volta, resulta da projeção das mudanças internas que se revelam em
nosso desejo sob a Luz constante e em repouso. A renovação das Reshimot e a forma como a
pessoa as percebe cria nossas imagens mutáveis do mundo.
Entendendo O Gene Espiritual
A Reshimo

A percepção que nós temos de nós mesmos e da realidade determina como sentimos a nós
mesmos e a realidade. Esta é a base para toda nossa investigação. Nós precisamos entender o que
é um ser humano, e se nós temos qualquer existência dentro dele. Os físicos quânticos podem
estar certos quando argumentam que o homem, como toda a matéria, é apenas um “emaranhado
de ondas”. Talvez a verdadeira realidade seja muito diferente daquilo que nós vemos no
momento. Portanto, se nós pudermos estabelecer um princípio objetivo e fundamental que não
dependa de nossas sensações subjetivas, um princípio que defina a “nós” e a “realidade”, nós
tenhamos um critério com o qual acessar nossa percepção atual.

Muitos investigadores acreditam que quanto mais nós progredimos em nossa investigação, mais
obscuras e incertas achamos as coisas. Eles sentem que nós estamos tateando no escuro. Nossa
incompreensão de nós mesmos e do mundo está no cerne da atual crise global que estamos
enfrentando. Sem dúvida, a abordagem cientifica de investigar as profundezas da realidade é
muito boa, mas nós que há um limite, um impasse que não conseguimos penetrar.

A natureza humana, a percepção humana e tudo que a ciência tem descoberto não facilitarão um
movimento para frente. Nós perceberemos que depois de certo ponto em diante, tudo se torna
“intangível” e “evapora”. É isso que a física quântica já esta começando a descobrir: que a
matéria é “perdida” inesperadamente, deixando os investigadores num tipo de vácuo.

Uma sensação desse tipo decorre de termos perdido o sentido da realidade atual, antes de termos
percebido a realidade Superior que “se aproxima”. Isso acontece quando a pessoa não possui as
ferramentas para perceber a “outra” realidade. O Baal HaSulam cita (em seu artigo, A Essência
da Sabedoria da Cabala) que o único jeito de obter esse método é aprendendo com um Cabalista
que já o tenha dominado totalmente.

Um Blecaute

Nossa situação nesse mundo está longe de nossa situação real, do padrão que nós mencionamos
acima, chamado Ein Sof, onde todos nós estamos conectados como um único desejo preenchido
com a Luz Superior. A separação, ou “exclusão”, ocorreu para permitir-nos subir do nível do
desejo para um nível mais alto do que o próprio desejo, isto é, o nível da intenção. Isto nos
possibilita fazer livres escolhas e adquirir discernimentos e revelações com os quais poderíamos
transcender o nível da criatura-receptora e alcançar o nível do Criador-doador.

A descida do estado de Ein Sof para o estado desse mundo desenvolve-se ao se dividir o Kli
individual em muitas partículas. Na espiritualidade, “exclusão” significa “diferença em
qualidades”. Aproximando-se do verdadeiro estado de forma independente, nós começamos a
entender o Pensamento da Criação, acima do estado de Ein Sof. Desse modo, nós aprendemos
como retornar ao estado de Ein Sof por nós mesmos.

Mas, para retornar a Ein Sof, nós precisamos primeiro conhecer a essência desse estado. Nós
estamos todos no estado de Ein Sof, o estado de amor e garantia mútua, formando um Kli para a
Luz Superior. Para retornar desse mundo a Ein Sof, nós devemos tratar de construir um estado
semelhante em nossas conexões. Ein Sof é o verdadeiro estado existente, apesar de que ora nós
estamos num estado imaginário com respeito aos nossos sentidos embaçados. Em outras
palavras, nós estamos no estado de Ein Sof mesmo agora, mas nossos sentidos estão “velados”
com poeira, que confunde a nossa percepção. Nós precisamos “limpar” nossos sentidos.
Portanto, o estado de Ein Sof é o padrão que estamos trabalhando para alcançar.

Nós nunca conseguimos entender um estado de forma clara enquanto ainda estamos nele. O
estado atual só se torna mais claro à medida que ascendemos a um estado mais elevado. O
método da Cabala proporciona uma nova imagem e percepção que nos possibilita entender a
nossa realidade anterior. Curiosamente, nós não encontramos muitos obstáculos quando lidamos
com o inanimado, vegetal e animal. Mesmo assim, quando cuidamos da matéria em nosso
próprio nível (o falante) nós falhamos, invariavelmente. A nossa impotência em resolver nossos
problemas familiares e sociais de nossa época é apenas um dos muitos testemunhos desse estado.

O método da Cabala nos ascende a um estado mais elevado do que nosso estado atual. Dessa
nova perspectiva, nós podemos ver nosso estado anterior e analisá-lo. Esta é a diferença
fundamental entre o estilo Cabalístico de investigação e o método cientifico comum. Na
investigação científica, o investigador tenta penetrar a mesma realidade em que ele se encontra,
como uma criança tentando estudar o que significa ser uma criança. Entretanto, na Cabala os
investigadores Cabalísticos ascendem acima do nível atual e estudam o nível anterior e inferior.

Os Cabalistas não se ocupam com o estudo da realidade da maneira cientifica comum. Eles não
tentam expandir suas percepções limitadas para uma perspectiva mais ampla, porque eles não
pensam que isso seja possível. Somente a investigação correta da realidade poderá facilitar o
nosso progresso em direção a conquista dos próximos níveis. Sem a investigação apropriada, nós
simplesmente permaneceremos no nível de estudo da matéria.

A investigação apropriada eleva o investigador ao nível das Forças que agem por trás da matéria.
Quando nós percebemos essas Forças, percebemos também o que acontece na matéria, já que
essas Forças tornam-se nossas. O investigador sente essas Forças como condutoras de sua
própria vida, ao seu dispor, percebidas tangível por meio dos sentidos, em vez de
intelectualmente.

A pessoa não consegue investigar a realidade num grau mais elevado que a natureza percebida
pelos cientistas, usando apenas a percepção racional e sensorial. Para mudar para uma realidade
mais elevada, a pessoa deve mudar seus sentidos. Ferramentas sofisticadas de investigação não
ajudarão aqui.

Ao estudar a natureza, nós podemos imaginar uma realidade superior oposta à nossa, onde tudo
está direcionado à doação em vez da recepção. Nós também podemos assumir que acima de
nossa natureza egoísta, tudo age com o amor e a interconexão, que tudo é realmente um único
Pensamento.
Os cientistas descobriram que todas as partes da realidade estão conectadas harmoniosamente,
que cada parte ajuda as demais partes e é vital para o sistema coletivo. As partes da realidade
“consideram-se” mutuamente, como se fossem células de um único corpo. Essa descoberta levou
os investigadores a teorizar que a lei geral para cada parte da realidade é a lei do amor. O único
problema é que os investigadores não conseguem se elevar até esse nível e existir nessa natureza.

Se os cientistas pudessem mudar sua natureza de acordo com o que eles acreditam estar presente
além do nível físico, eles descobririam que além da “matéria oculta” reside uma realidade muito
real e sólida como uma rocha, tão real quanto aquela que eles conhecem agora. Eles poderiam
perceber as Forças, suas interconexões e sistemas. Mas para que um investigador descubra tudo
isso, deve haver concordância de forma entre ele e o nível dessas Forças.

Nós podemos comparar isso a caminhar dentro de uma sala totalmente escura. Primeiro, nós não
enxergamos os objetos dentro da sala, mas se acendermos a luz, conseguiremos vê-los. É claro
que os objetos já estavam lá, para começar, mas nossa capacidade de percebê-los era insuficiente
para essa tarefa. Desse modo, o que nós devemos fazer é nos combinar com essas Forças que já
existem na realidade; e o meio para combinar com elas é o método da Cabala.

Realidade Virtual

Numerosas teorias proclamam que existem infinitas realidades existindo simultaneamente. A


Cabala declara que existe somente uma. Essa realidade é chamada de Malchut de Ein Sof, isto é,
Malchut do Mundo de Ein Sof. Nada mais existe. O termo, Malchut de Ein Sof, designa a criatura
no seu estado eterno e perfeito. Qualquer coisa além de Malchut de Ein Sof é chamada de
“realidade virtual”.

A realidade virtual consiste de várias imagens que aparecem diante de Malchut de Ein Sof à
medida que ela desce vários níveis de “consciência”. Como conseqüência, Malchut de Ein Sof
sente cada vez menos a si mesma sua satisfação.

O processo de perda de consciência se intensifica até que Malchut de Ein Sof alcança seu estado
mais baixo, mais denso e desprendido, chamado “este mundo”. Nesse estado, Malchut de Ein Sof
toma a forma das almas humanas que se sentem desconectadas umas das outras. É dessa imagem
da realidade que nós devemos almejar retornar ao estado de Malchut de Ein Sof.

Ao dizer que a nossa realidade é virtual, nós nos referimos ao discernimento que fazemos quando
descobrimos que é esta a situação. Perceber tal realidade como virtual não nos impede de
trabalhar com ela; nós só precisamos compreender que esta é uma das fases que devemos
experimentar.

Isto pode ser comparado a uma criança cheia de fantasias. As fantasias não anulam o mundo da
criança, e nós sabemos que essas fantasias são apropriadas para a fase de crescimento da criança.
Igualmente, quando entramos numa realidade superior, nós nos relacionamos com a realidade
anterior como se ela fosse fictícia, mas ela é bem real para aqueles que ainda estão naquele nível.
Existe certa barreira entre a realidade espiritual e a material. Nós não podemos ver as Forças por
trás desse mundo até atravessarmos essa barreira, mas essas Forças descrevem a imagem do
mundo dentro de nós do mesmo modo que vetores elétricos criam imagens na tela da TV ou no
computador. Quando nós olhamos para a tela, nós vemos uma imagem colorida e tridimensional,
mas, na verdade, é somente uma combinação de forças elétricas que podem ser processadas,
transferidas e guardadas. A verdade é que nós, também, existimos numa imagem semelhante,
exceto que a tela está dentro de nós.

Aqueles que se elevam ao nível dessas Forças percebem quão reais elas são, enquanto que a
imagem que eles criam é imaginaria. Essas Forças criam constantemente imagens diferentes,
embora as próprias Forças permaneçam as mesmas.

Contudo, existem 125 degraus de realização. Quanto mais alto nós ascendermos, mais verdadeiro
e corretamente perceberemos como essas forças se conectam. No final da escada, a pessoa
percebe a unificação total dessas Forças, chamada de Ein Sof.

O principio que surge disso é que somente quando alcançamos e percebemos algo é que
conseguimos defini-lo. Por essa razão, todos os Cabalistas aderem a uma lei inabalável
proclamada pelo Baal HaSulam: “Aquilo que nós não alcançamos, nós não definimos por nome
ou palavra”.

Meditação Em Massa

Muitas pessoas tendem a acreditar que a humanidade pode melhorar sua situação quando ela
quiser. Um bom exemplo é a meditação em massa, muitas vezes praticada em todo o mundo com
o intuito de elevar nossa qualidade de vida. Sem dúvida, conectar pessoas num único pensamento
influencia a realidade. O poder da mente é sem dúvida tremendo. Porém, nós devemos entender
que simplesmente pensar nisso não causará nenhum tipo de benefício na realidade, por mais que
quiséssemos isso.

Já que a nossa natureza é egoísta, os nossos melhores pensamentos continuarão sendo


focalizados em receber melhores resultados para nós mesmos. A nossa situação só começará a
melhorar quando percebermos que a nossa natureza fundamentalmente egoísta é má. Se nós
entendermos que somente ao adquirir uma nova natureza altruísta poderemos ser felizes, então
nós teremos êxito e prosperidade. Tal reconhecimento nos forçará a substituir nossa natureza.

Ações como meditação em massa não elevam a humanidade até o Criador, isto é, à natureza
altruísta. Elas se baseiam em sermos capazes de maximizar o uso de nossas forças egoístas;
portanto, nenhum plano da humanidade ajudará a melhorar o nosso mundo. Essas ações nos
levarão, finalmente, a revelar mais rapidamente o mal em nosso egoísmo. De fato, qualquer
vínculo de várias pessoas para alcançar uma meta comum, positiva ou negativa, acelera a
revelação do mal, mas essa não é a forma mais conveniente para o progresso.
A evolução mais desejada ocorre somente quando a pessoa atrai a “Luz do Alto”. A Força
espiritual também expõe as falhas e as corrige, mas para fazer isso, deve haver um método de
correção. Na ausência desse método, a humanidade será forçada a se desenvolver através de
tormentos e aflições. Finalmente, o sofrimento acumulado fará a humanidade perceber que ela
não consegue fazer nada sozinha.

Atrair a Luz do Alto é o resultado do esforço de ser semelhante ao estado de Ein Sof — o único
estado que realmente existe, no qual estamos todos conectados em um diante do Criador. Nós
não precisamos imaginar nada num esforço para se assemelhar ao estado final, pois já estamos
nele. Tudo o que precisamos é querer receber a Força da correção daquele estado, e essa Força
nos levará a estar nele realmente.

Os textos Cabalistas descrevem o estado corrigido. Se nós lermos esses textos e quisermos estar
no estado corrigido, nós “atraímos” a Luz do mesmo jeito que uma pessoa inconsciente recebe
uma infusão. A Luz age no leitor, desperta, e o ajuda a subir.

No entanto, nós vemos que o significado de tais termos como “Luz” e “Alto” é esse: “Luz” é a
Força Superior que corrige e preenche a criatura; “Alto” significa “de um estado mais corrigido,
isto é, um estado de maior doação ao Criador.

O Que é o Criador?

O Criador é o que a pessoa descobre ser o Nível Superior. O termo hebraico Boreh (Criador),
indica um convite para “vir e ver” (Bo significa “venha”,e Reh significa “veja”). A pessoa que
alcança o nível mais elevado está num estado de adesão com o Criador. Antes de alcançar esse
nível mais elevado, uma falha sempre surgirá nessa adesão, apesar de que isso não é realmente
uma falha, mas um novo desejo não corrigido que surgiu na pessoa.

Esses desejos surgem de modo que nós os corrigiremos, e através da correção aumentaremos
nossa adesão com o Criador. Para cada novo desejo que surge, o Criador parece estar mais alto
do que antes. À medida que a pessoa descobre a oposição do Nível Superior e seu nível de
altruísmo, ela deve reunir forças para elevar-se até ele.

Desse modo, antes do estado de Ein Sof, onde todos os fins se reúnem, não existe o Criador
absoluto. A única definição que podemos dar ao termo “Criador” é (até alcançarmos Ein Sof)
“mais elevado do que eu”. O Nível Superior constrói, cria, gera, corrige, e preenche o nível
inferior.

O Criador surge como uma mistura de qualidades mais elevadas do que aquelas que a pessoa
possui atualmente. As Reshimot que despertam fazem a pessoa imaginar um nível mais elevado a
todo instante. Todavia, a descrição do Criador é sempre uma projeção das atuais qualidades da
pessoa na Luz Abstrata. A pressão da Luz Abstrata é constante; as mudanças e movimentos são
somente internos. Embora apenas as Reshimot mudem dentro de nós, nos parece como se o
Criador estivesse mudando.
Entendendo as Reshimot

A pessoa que não é Cabalista percebe o surgimento das Reshimot involuntariamente. Essa pessoa
reage de acordo com a condição onde ela foi colocada: educação, ambiente, forças internas,
saúde, e assim por diante. Dessa maneira, a pessoa é “tomada” por várias emoções e impressões
e finalmente chega ao desejo pela espiritualidade.

Enquanto progride “apesar do eu”, a pessoa acumula impressões das alegrias e tristezas da vida,
recolhendo discernimentos e usando-os ao longo do caminho. Esta é uma fase preparatória, onde
a pessoa acumula inúmeras impressões a respeito do seu desejo de receber, e experimenta a
realização (entendimento) das Reshimot internamente.

Embora nós não tenhamos consciência disso, todas essas impressões permanecem no cérebro, e
quando surge certa Reshimo, as Reshimot necessárias para realizá-la também despertam. Nós não
podemos controlar esse processo; os eventos que nós experimentamos muitos anos atrás surgem
de forma súbita e nós não conseguimos entender o porquê.

Além disso, como as almas estão interconectadas num único sistema, cada impressão “pessoal”
da pessoa, ou de um grupo de pessoas, afeta todas as outras almas. Processos que se desdobram
em determinado lugar na Terra afetam todos os seus habitantes, mesmo que eles não tenham
consciência disso. Atualmente, nós somos incapazes de entender como essa informação é
transmitida, mas isso ficará muito claro quando alcançarmos o estado de Ein Sof. Nós aceleramos
o surgimento das Reshimot porque somos parte de um sistema único.

Todos nós existimos como uma única criatura em relação à Luz Superior; cada um de nós é
composto de todos os outros. Cada um é como um único Kli que o Criador criou como um
holograma, e cada pessoa é constituída do “eu” e sua incorporação, ou existência, em todas as
outras almas. A incorporação de uma pessoa em todas as outras almas é bidirecional, isto é, a
pessoa está dentro das outras almas e as almas estão dentro dessa pessoa. É por isso que o desejo
de receber contém tantos discernimentos e mudanças.

Sempre existe contato entre a Luz Superior e o indivíduo, mas a conexão dele com esse contato
varia. A Luz Superior brilha sobre os desejos dentro de nós, provocando uma sensação que nós
chamamos de “a imagem do meu mundo”, seja deste mundo ou do mundo espiritual. Essa
sensação muda constantemente sob a influência da Reshimo da pessoa, e também com a
integração da pessoa nas Reshimot das outras almas. A soma dessas mudanças cria a imagem
dinâmica da vida da pessoa.

Escolhendo o Futuro

Nós acreditamos que temos vários futuros a escolher. Mas escolher significa ver o futuro.
Portanto, no que se baseiam essas escolhas? Como a pessoa sabe qual futuro é o melhor? Se nós
pudéssemos ver os resultados de escolher uma opção e o resultado de escolher outra opção, nós
saberíamos qual delas seria melhor. Mas, na verdade, não existe nenhuma opção para escolher.

Certa Reshimo desperta dentro de certo desejo de receber, isto é, dentro de certa pessoa
localizada num determinado ambiente. Posteriormente, essa pessoa realiza a Reshimo,
acumulando assim mais impressões dos eventos da vida.

Se nós percebêssemos que somos somente marionetes, e que ao mesmo tempo podemos mudar
nosso futuro, estaríamos então num ponto de escolha. Em outras palavras, nós poderíamos então
escolher um ambiente que nos influenciasse positivamente e nos assistisse em nosso
desenvolvimento espiritual. Tal ambiente nos ajudaria a realizar essa Reshimo na mesma direção
e na mesma escada preexistente, mas nós faríamos isso de bom grado, em vez de sob pressão.

Em qualquer estado, a Reshimo no desejo de receber despertado e o ambiente são


predeterminados. Mesmo que a pessoa tivesse um impulso para realizar a Reshimo, esse impulso
teria se originado de dentro. E mesmo que a pessoa usasse o ambiente para acelerar a revelação
dessa Reshimo, isto somente encurtaria o período predeterminado de revelação.

Entretanto, os nossos esforços em fazer parte de um ambiente que está interessado na evolução
espiritual, e de ser estimulado por ele a evoluir, nos oferece um novo intelecto - “o intelecto
abrangente”, o qual pertence à intenção do Criador com relação à criatura. Adquirir esse intelecto
significa descobrir essa intenção e a subseqüente ascensão ao nível do Criador. Esse é o grande
prêmio.

Nós precisamos entender que, por nós mesmos, nós podemos querer qualquer coisa, exceto
avançar no caminho certo com a meta certa. Uma pessoa sozinha é como um cego: incapaz de
enxergar corretamente o caminho do progresso. Nós não conseguimos ver a saída deste mundo
para o Mundo Superior, do desejo de receber para o desejo de doar. Nós nem conseguimos ver
que essas coisas existem e que a nossa salvação está aqui.

Conseqüentemente, o ponto de livre escolha é muito, muito sutil. Nós podemos escolher um
ambiente que nos levará a um estado onde a Luz Superior muda nossas qualidades, e através da
ação dessa Luz, nós seremos capazes de entrar no reino espiritual. Mas sozinhos, sem um método
ou ambiente social, nós não poderemos avançar para a espiritualidade.

Termos como “mundos paralelos” e “universos paralelos” estão cada vez mais na moda. Muitos
encontram a possibilidade de escolher seu futuro encantador. Existem meditações que oferecem
a capacidade de escolher logo de manhã os eventos do dia seguinte. Psicologicamente falando,
dessa maneira a pessoa está se “programando” e predeterminando uma maneira especifica de
aceitar a Reshimot que surgirá naquele dia. Todavia, a pergunta que permanece é se nós podemos
ou não criar uma realidade diferente fazendo isso.
Nós não podemos dizer que essa pessoa é excepcional, à medida que todos nós temos nossas
predisposições sobre a vida. Todos nós temos hábitos com os quais começamos nosso dia, sejam
eles exercícios físicos ou a visita a um terapeuta.

Se nós planejamos nosso dia de forma consciente ou inconsciente, a verdade é que a nossa
imagem da realidade é totalmente determinada pela Reshimo dentro de nós. A Reshimo nos situa
nessa imagem e cria nela todas as decisões. Do mesmo modo, os nossos esforços conscientes
para “escolher” o que acontecerá é resultado da revelação da Reshimo, e nada mais.

A Memória

Todas as imagens que compõem a nossa vida estão interconectadas. Portanto, evocar certa
Reshimo muitas vezes nos faz lembrar experiências passadas. Nos não gerimos nossa memória,
nem conseguimos extrair algo delas ou esquecê-las. A Reshimo determina absolutamente tudo.
Nós apenas nos movemos “por cima” das experiências que despertam e agem dentro de nós. Se a
percepção da Reshimo exige isso, as memórias passadas surgirão por si mesmas.

Tudo que nós experimentamos permanece dentro de nós; nada desaparece. Uma Reshimo que
desperta no desejo da pessoa é percebida contrária à Luz e produz um discernimento sobre o que
está acontecendo naquele momento. Posteriormente, outra Reshimo desperta, e como as
Reshimot estão conectadas, essa nova Reshimo usa a Reshimo antiga conforme a sua
necessidade.

Quando muitas outras Reshimot tiverem ido e vindo, a primeira Reshimo é perdida da memória e
a imagem que ela criou desaparece das sensações. Essas sensações devem reaparecer mais tarde
se forem necessárias para a percepção de uma nova Reshimo. Assim, nós discernimos uma
cadeia de experiências na qual as Reshimot tornam-se ativas e passivas, e à medida que essas
Reshimot são percebidas, elas acumulam impressões dentro de nós.

Esse processo se desenvolve “Acima” de nós; por isso nós não podemos abordar nossa memória
e atrair imagens especificas dela. Por exemplo, quando caminhamos numa rua nós podemos
encontrar um cheiro familiar que nos faz lembrar brevemente uma cena da nossa infância. Assim
como a cena aparece, ela desaparece, e nós não conseguimos entender o propósito disso. No
entanto, nada no mundo é por acaso; todas as memórias surgem somente de acordo com sua
necessidade de realização da atual Reshimo.

Todas as almas estão conectadas dentro de um sistema único e abrangente. No entanto, nós
podemos dizer que essa memória também é comum a todas elas. Isto se torna cada vez mais
claro à medida que nos tornamos mais conectados com todas as outras almas. Quanto mais nós
trabalhamos de forma consciente em direção a esse sistema, mais memórias surgirão em nos, e
junto com elas, capacidades e realizações. Se nós subirmos ao nível de conexão com os outros e
trabalharmos com seus vasos como se fossem nossos, certamente utilizaremos tudo dentro deles.
O Poder do Pensamento

O pensamento é uma força muito poderosa. No documentário “What the Bleep Do We Know?”
(Quem somos nós?), o Dr. John Hagelin falou de um experimento de meditação em massa
realizado em Washington. De acordo com o Dr. Hagelin, a meditação em massa reduziu o nível
de criminalidade em Washington, produziu um resultado impressionante e o nível de
criminalidade caiu 25% naquele verão.

Mesmo assim, nesse ato ainda não há liberdade de escolha, visto que é a Reshimo que realiza
todo o processo: a decisão de realizar a meditação em massa e também a posterior diminuição no
nível de criminalidade. Não obstante, agora nós desejamos trabalhar somente com o modus
operandi dos desejos humanos e não com o nível acima dele, que nos “controla”.

Reunir um grupo de pessoas com uma meta única cria uma grande energia. Isto ocorre porque
todos usam, inconscientemente, o sistema que já existe, onde eles já estão conectados. Mesmo
que as pessoas se unam pela pior das metas, elas despertarão energias tremendas.

O pensamento muda a realidade porque ele é a expressão dos desejos. Ao querer que a realidade
seja de um jeito ou de outro, nós aparentemente canalizamos o nosso futuro na direção desejada.

Se os níveis de criminalidade aumentam e milhares de pessoas se unem numa meditação para


diminuí-los, eles diminuirão porque os participantes do experimento colocaram seus desejos
naquela Reshimo. A Reshimo é puro potencial, e a atitude da pessoa em relação a essa Reshimo
pode afetar a forma que ela tomará.

A união de pessoas num pensamento comum cria uma congruência com o estado de Ein Sof,
onde todas as almas já estão conectadas. Nós deveríamos dizer que essa congruência existe
mesmo quando a união não é realizada para se aproximar do Criador, isto é, da doação. Em
outras palavras, a congruência com o sistema funciona apesar de sua conexão com o Criador. A
união atrai força do “Alto”, que muda a maneira como a Reshimo parece se revelar. Mesmo
assim, nós devemos lembrar que as nossas atitudes em relação à Reshimo são também
predeterminadas dentro da Reshimo.

Vamos usar o exemplo da meditação em massa para esclarecer essa questão sutil da liberdade de
escolha. Dois pontos precisam ser salientados:

• Depois do despertar do desejo de usar a força coletiva, a pessoa aplica essa força e
alcança um resultado impressionante.
• A ativação do desejo produz um resultado substancial porque a pessoa utilizou a
Reshimo, o sistema, e a Luz.

Sinceramente, não existe um único ato em tudo isso que seja oriundo do indivíduo, já que a
Reshimo empurrou essa pessoa à ação. Como qualquer outra máquina, a pessoa realizou um ato e
produziu certo resultado. O único envolvimento do indivíduo no processo foi a documentação
das causas e das conseqüências. De fato, como nós adquirimos uma existência independente na
espiritualidade, o nosso conhecimento nada mais é que o registro das causas e conseqüências.
A Cadeia das Reshimot

A nossa percepção da realidade é a nossa sensação da Luz Superior. Os meios de detecção da


Luz são chamados de “este mundo” ou “mundo espiritual”. Este mundo pertence à sensação da
Luz Superior através de uma intenção egoísta, enquanto que a sensação do mundo através de
uma intenção altruísta é chamada de “mundo espiritual”. Estas descrições expressam duas
formas de relação para com a Luz Superior.

A nossa atitude em relação à Luz Superior define o nosso estado; ela determina em qual mundo e
em qual nível estamos situados. Essa atitude é determinada pelas Reshimot que se desenvolvem a
partir do nível zero. Essas Reshimot se desenvolvem por certa ordem, começando com o
inanimado, vegetal, animal e falante (ou humano). O nível falante continua se desenvolvendo
através dos níveis internos do inanimado, vegetal, animal e falante (espiritual). A cadeia das
Reshimot determina tudo, e não existe nada além disso.

As Reshimot provocam em nós desejos cada vez mais fortes, começando com desejos físicos e
existenciais (por sexo, comida e família), até desejos por riqueza, honra, poder, e terminando no
desejo por conhecimento.

Os cientistas trabalham com os desejos mais elevados da espécie humana – desejos (Reshimot)
por conhecimento e erudição. Assim que nós esgotamos todas as Reshimot no desejo egoísta de
receber, somos obrigados a começar nossa correção a fim de avançar.

A Cabala começa onde a nossa capacidade de investigar a realidade termina. Isto acontece
porque a sabedoria da Cabala permite que a pessoa mude uma Reshimo de egoísta para altruísta.
Realizar uma Reshimo altruisticamente permite ao investigador transcender o nível de realização
das Reshimot que despertam nele, o qual nos leva ao nível das Forças que coordenam a obtenção
das Reshimot no mundo espiritual. No mundo espiritual, o investigador explora as Forças que
formam as Raízes da realidade virtual da pessoa, as mesmas Forças que os cientistas buscam tão
desesperadamente.

Os cientistas estão no mais alto nível evolutivo dos desejos deste mundo. Esta é precisamente a
sua situação: eles não conseguem encontrar a raiz de tudo ou aprender o que acontece além da
matéria. Eles são bem sucedidos em assumir que existe um Pensamento para além da matéria, e
que esse Pensamento é provavelmente um pensamento de amor e doação. Eles chegarão até
mesmo a declarar abertamente que deve existir uma forma diferente de investigar a realidade;
aliás, eles não serão capazes de encontrá-la. É impossível mudar a abordagem inata da realização
das Reshimot sem a sabedoria da Cabala.

Sem dúvida, a humanidade teve que realizar todas as Reshimot até o seu estado atual sem ser
consultada sobre o assunto. Mas hoje, a humanidade encontra dentro de si um desejo de saber a
razão de seu estado desesperador; o clamor que emerge do coração da humanidade invoca a
revelação da sabedoria da Cabala. A Cabala ajudará a humanidade a realizar as Reshimot
espirituais de acordo com as quais ela está agora mudando; as Reshimot que induzem a
intensificação da busca espiritual de tantas pessoas.

Se a humanidade esperar até que seus investigadores alcancem a verdade por eles mesmos, sem a
assistência da sabedoria da Cabala, ela poderá se encontrar numa avalanche de crises, fracassos e
desastres sem precedentes. É isso também os que os Cabalistas têm tentado explicar à
humanidade antes que ela caia nessas situações difíceis.
Revelado e Oculto

A diferença entre revelado e oculto nesse mundo e no mundo espiritual é somente em relação a
nós. Tudo o que nós ainda não conhecemos – neste mundo, também - é chamado de “oculto”. Se
o que é desconhecido torna-se conhecido, ele se torna revelado. Desse modo, a qualquer
momento nós estamos tanto no revelado como no oculto. A diferença entre este mundo e o
mundo espiritual está na maneira que adquirimos as formas e padrões da percepção da realidade.

O mundo espiritual é uma realidade onde os padrões para percebê-la não vêm naturalmente, de
dentro de nós ou do ambiente. Como a realidade espiritual age de acordo com leis opostas à
nossa lei natural, onde nós existimos atualmente, o mundo espiritual exige que invertamos nossas
atitudes. Porém, onde poderemos encontrar a energia “oposta” para construir “formas opostas”.
Se nós somos naturalmente formados para construir formas egoístas, como poderemos construir
internamente alguma forma altruísta e perceber a realidade altruísta?

Tal inversão precisa de um processo especial, chamado Segula (mérito). Segula refere-se a um
processo indireto que atravessa o Sistema Superior e depois retorna ao indivíduo. Ao utilizar os
estudos Cabalísticos, a pessoa se aproxima do pensamento altruísta Superior. Esse Pensamento
não age no desejo de receber, ou no ego, mas sim no ponto altruísta: o ponto no coração.

A equivalência de natureza entre o ponto no coração e o Pensamento Superior cria uma conexão
entre eles e eles possuem a mesma natureza. O Pensamento Superior age nesse ponto e o molda
em vários padrões, que nós percebemos como parecendo existir fora de nos, no mundo espiritual.

Na verdade, essas Formas não existem fora de nós, mas dentro de nós. Assim como a ilusão de
que tudo que vemos nesse mundo está fora de nós, o mesmo ocorre no mundo espiritual. Porém,
quando nós adquirimos mais Formas espirituais, nós conseguimos entender e conhecer o
Pensamento que desenvolve e constrói essas Formas dentro de nós.

Durante o processo de conhecimento do Pensamento, nós construímos Formas internas que se


tornam cada vez mais semelhantes ao Pensamento Superior. Ao fazer isso, nós nos igualamos a
esse Pensamento até que ele se torne o “Eu” daquela pessoa, após o qual ela se eleva ao nível
onde esse Pensamento originou-se.

Mundo Invertido

A Força Superior cria uma imagem completa da realidade dentro de nós: nossa natureza,
personalidade, saúde, desejos e pensamentos e até mesmo nossos amigos, o país e o mundo em
que vivemos. Tudo isso é preparado pela Força Superior. Tudo que acontece dentro de nós e à
nossa volta tem a intenção de nos levar a uma única resolução: unir-nos a essa força.

Mas, se é assim que as coisas são, nós deveríamos perguntar: “Como pode essa Forca Superior
supostamente benevolente criar essa realidade dura e amarga que vemos a nossa frente?”. A esse
respeito, os Cabalistas dizem: “Aquele que acusa os outros, acusa com suas próprias falhas”. A
imagem do mundo é totalmente pessoal e afetada pelo nível de correção das qualidades da
pessoa.

No artigo, Ocultação e Revelação da Face, o Baal HaSulam explica o significado da mudança de


perspectiva da pessoa, mudando-se suas ferramentas de percepção. Nesse artigo, o Baal
HaSulam discute que perceber um fenômeno sob a perspectiva da correção é oposto à percepção
de um fenômeno sob a perspectiva da corrupção. Através dos vasos egoístas, parece que os
egoístas triunfaram; através dos vasos altruístas, parece que eles estão sofrendo. Mas será que
essas pessoas realmente mudam? Elas vão da riqueza à pobreza, da benção a angustia? Além do
mais, será que a nossa correção pode mudar o estado daqueles que nós observamos?

Aquele que sente a realidade espiritual e observa a realidade corporal, percebe seus eventos e
incidentes de maneira distinta da pessoa que não sente a espiritualidade. Essa pessoa percebe
apenas como as ações egoístas realizadas em nosso mundo são irreais, nocivas e criam um
afastamento entre a Força Superior e aqueles que praticam a ação.

Quanto mais prazeroso e gratificante um fenômeno parece ser (no vaso egoísta), mais longe ele
está da natureza da Força Superior aos olhos daquele que sente a realidade espiritual. Nesse
estado, a pessoa perceberá isso com mais aflição, já e que isso a distancia da Força Superior e da
qualidade da doação.

Fenômenos Contraditórios

Parece difícil acreditar que os investigadores concordassem com a declaração de que “nós
criamos a imagem do mundo diante de nossos olhos”. Isto porque tal declaração significaria que
não há mais nada para investigar, e os investigadores são geralmente vistos como pessoas que
desejam mudar o mundo. Mas é impossível mudar o mundo usando o método tradicional de
investigação. Até agora, a Cabala proporciona aos investigadores as ferramentas que os
capacitarão a investigar a si mesmos e, desse modo, mudar o mundo.

Em outras palavras, a Cabala ajudará o investigador honesto a alcançar o que ele quer desde o
início: mudar o mundo. Porém, a mudança será interna, não externa. A sabedoria da Cabala
habilitará a ciência e a percepção humana a se desenvolverem à próxima fase, além do tempo,
espaço e movimento. Nesse estagio, todos os fenômenos que hoje parecem contraditórios aos
investigadores, se fundirão.

Agora, nós também podemos entender como os nossos desejos se desenvolvem de forma
gradual. Tendo se desenvolvido dos desejos por riqueza até os desejos por honra e poder, e
finalmente ao desejo por conhecimento, agora chegou a hora do desejo pela espiritualidade, o
desejo que induz a nossa exposição à sabedoria da Cabala.

Um cientista que estuda a sabedoria da Cabala se familiariza com a estrutura da Criação. Esse
cientista ficará surpreso ao descobrir como a matéria está fortemente conectada às regras
descobertas no mundo material. Posteriormente, essa congruência entre as leis espirituais e as
leis materiais ajudará os investigadores a resolver problemas em todo campo da vida
contemporânea.

Na ecologia, psicologia, ciência social e política, em todos os campos da ciência, nós nos
deparamos com a ausência da “fórmula correta”. Antes, as coisas não costumavam ser tão
complexas. No tempo de Newton, por exemplo, a descoberta de poucas fórmulas já era suficiente
para explicar tudo. Mas hoje, nós subimos para um novo nível de investigação na matéria; nesse
nível, falta-nos a fórmula que explica a conduta geral das coisas.

Se a ciência pretende envolver-se com os humanos e o mundo onde eles vivem, a Cabala declara
que em todos os nossos campos de investigação, nós investigamos, na verdade, a nós mesmos, e
não o mundo à nossa volta. Na física, química, psicologia, ecologia ou qualquer outra ciência,
nós não investigamos o mundo exterior , mas sim nosso mundo interior, nossos vasos internos. A
ciência moderna está descobrindo que a investigação tradicional já se esgotou. Tudo o que se
necessita agora é ver que o mundo inteiro está realmente dentro de nós.

Uma Nova Ciência

A realidade que não podemos perceber hoje, a ignorância dos efeitos do pensamento, a
incapacidade de se adaptar à sociedade e ao ambiente, é tudo conseqüência de uma premissa
errada de que o mundo existe fora de nós. É por isso que não conseguimos formular regras claras
e sustentáveis que forneçam um apoio seguro e confiável. Nós devemos entender que julgamos
tudo desde dentro; se os investigadores concordassem, isso marcaria o começo de uma nova
ciência.

A nova ciência facilitará o entendimento claro do mundo em que vivemos e fará uma conexão
apropriada com a realidade. Para levar o método da correção à humanidade, nós devemos adotar
o ponto de vista de que existimos dentro de nós. Evidentemente, mudar de atitude para com a
percepção da realidade não é um problema fácil, especialmente com tantas mudanças
fundamentais como as que enfrentamos hoje. No passado, quando novos métodos surgiam, eles
sempre levavam tempo para serem aceitos.

O mais difícil de tudo é a transição para a nova percepção, pois de acordo com essa percepção,
não há nada além do observador. Todas as percepções anteriores argumentavam que existe algo
fora de nós com o qual nos conectamos, seja em pensamento ou em ação. É difícil de
compreender o argumento de que o ser humano é a única criação do Criador, e que, além do
observador, existe apenas a Luz Superior.

O entendimento de que tudo o que nós sentimos são fenômenos internos não é uma mudança
psicológica. Pelo contrário, é uma mudança fundamental que nos obriga a investigar
internamente. A pessoa não pode simplesmente concordar com a nova percepção, mas deve
cultivar e melhorar suas qualidades internas para finalmente igualar suas formas com a Luz
Superior do lado de fora. Quando as qualidades da pessoa mudam, e não são mais opostas às
qualidades do Criador, a pessoa começa a descobrir o Criador. Nesse estado, a pessoa torna-se
“transparente” com relação à Luz Superior, e a matéria humana (o desejo de receber) não age
mais como uma divisória diante da Luz.

A Cabala explica que nossas ferramentas de percepção são formadas por cinco partes: três dessas
partes são chamadas de “vasos internos” e as outras duas são chamadas de “vasos externos”.
Com os vasos internos nós sentimos a nós mesmos, e com os vasos externos nós sentimos o
mundo à nossa volta. Os vasos externos criam a sensação de uma realidade externa porque eles
são vasos incompletos, insuficientemente desenvolvidos.

Quando a pessoa corrigir completamente o seu vaso (incluindo os vasos externos), o mundo
externo também será sentido como interno. Assim, o mundo exterior desaparecerá e se tornará
uma simples Luz que preenche toda a realidade. Visto que a pessoa corrigida se igualou à Luz
Superior em todas as qualidades ao anular todas as diferenças entre elas, essa pessoa agora está
numa percepção recíproca com a Luz Superior. Esse estado é chamado de Dvekut (adesão), o
estado onde a pessoa está totalmente integrada na Luz Superior.

A diferença descoberta pelos físicos quânticos entre o comportamento da matéria como partícula
e seu comportamento como onda equivale à diferença entre matéria (o desejo de receber) e Luz.
Através da Cabala, a humanidade conhecerá a finalidade para a qual a matéria é obrigada a
alcançar, ou seja, a equivalência da Forma entre a matéria e a Luz.

Quando esse momento chegar, não haverá diferença, a partir da nossa perspectiva, entre uma
onda e uma partícula, ou entre a Luz e a matéria. Atualmente, nós somos incapazes de comparar
duas coisas contraditórias e deixá-las sob o mesmo teto. Somente quando a pessoa determinar
que a realidade está dentro e que não há nada fora, somente se ela se livrar da percepção do “eu”
e “fora de mim”, é que esses opostos se tornarão um.
Leis da Natureza

Nós vivemos num mundo que conhecemos parcialmente. Existem muitas leis na Natureza,
algumas das quais nós descobrimos facilmente, pois elas são evidentes a partir de nossa própria
existência. A lei da gravidade, por exemplo, é evidente porque quando tentamos voar sem os
instrumentos apropriados nós caímos de volta para a Terra.

Algumas leis se aplicam somente a Terra e algumas se aplicam ao espaço. Algumas dessas leis
são percebidas através dos nossos sentidos e do nosso corpo, mas há outras leis, como a lei da
radiação, cuja ação nós não podemos sentir. Nós só podemos perceber o fenômeno que elas
produzem. Não podemos perceber, ouvir, ou ver ondas, mas reconhecemos os seus efeitos.

Existem outras leis cujos efeitos nós não conhecemos. Às vezes nós sentimos certos fenômenos,
mas não podemos identificar claramente sua origem. De qualquer maneira, nossa experiência
demonstra que se nós conhecêssemos todas as leis que afetam o mundo, nós poderíamos ser
felizes e bem sucedidos.

Algumas regras nós aprendemos por experiência, algumas regras de comportamento as crianças
pegam de seus pais, dos amigos, do ambiente e da sociedade em geral. As regras que nós
aprendemos através da educação não são conhecidas de forma inatas por nós. Não está claro se é
assim que elas realmente existem no mundo, mas nossos educadores nos convencem de várias
formas que é assim, e que esse é um caminho digno de ser percorrido. Se as crianças pudessem
ver por si mesmas que algo estivesse errado, elas não o fariam.

Se a pessoa não entende pessoalmente que é ruim ser cruel e mal com os outros, se ela não
consegue ver que roubar é um fenômeno negativo, a sociedade demonstra isso através de
punições atribuídas a tais ações.

Se nós tivéssemos consciência de que existe uma lei da realidade que determina que, se
roubarmos, a natureza responderá com uma reação negativa, nós não faríamos isso para começar.
Se nós soubéssemos que a penalidade por roubar fosse uma doença ou que algo terrível
aconteceria conosco ou com nossos entes queridos, nós evitaríamos roubar. Portanto, quando a
pessoa não percebe a lei e as conseqüências de suas ações, a sociedade ajuda a determinar as
regras que a pessoa deve obedecer, junto com o sistema de castigo e recompensa.

Certamente, nós gostaríamos de saber como as regras naturais funcionam e, assim, nos
comportar de forma apropriada, mas as regras referentes ao nosso relacionamento com a
sociedade e com a Força Superior parecem estar ocultas. A Cabala declara que essas regras só
podem ser seguidas quando forem alcançadas. Quando a humanidade revelar todo sistema e
entender a conexão com a Força Superior, certamente nós seremos capazes de seguir a lei geral
da realidade: a lei da doação. Mas, até lá, nós não podemos forçar ninguém a tal estado.

Na Cabala, o valor numérico da palavra “Deus” e “Natureza” é o mesmo (86). Afirmar sua
igualdade enfatiza que toda natureza que nos rodeia, este mundo bem como os mundos
superiores e espirituais, é tudo Deus. O sistema dessas forças é a manifestação do Criador diante
de nós.

Nós conhecemos as leis do nível físico, e talvez conheceremos leis complementares em várias
centenas de anos, mas esta não é a fonte do nosso problema. À medida que nós evoluímos, nos
devemos vir a conhecer as leis espirituais, aquelas que pertencem ao nível humano dentro de nós.

Atualmente, não só não conhecemos essas leis, como não estamos nem perto de conhecê-las.
Conseqüentemente, a humanidade entra ainda mais em apuros, geração após geração, e nossa
situação desesperadora cresce ainda mais. Nenhuma das leis que nós descobriremos na física,
química, biologia ou qualquer outro campo da ciência nos ajudará. Usar as descobertas
científicas para beneficiar a humanidade não tornará nossa vida melhor, mais segura ou mais
completa, já que nós não estamos cumprindo as leis espirituais.

O que nós ganhamos aprendendo a plantar mais, se o egoísmo humano nos impede de dividir o
que plantamos em benefício de todos? Os seres humanos usam cada benefício das leis que
descobrem contra si mesmos, pois eles não se corrigiram enquanto humanos. Nós sofremos
porque não sabemos como conduzir o nível falante (humano) dentro de nós. Todos os problemas
da humanidade derivam do simples fato de que nós não sabemos nos comportar corretamente.

As pessoas se matam uma a outra, elas estão frustradas, assustadas e desesperadas. Todos esses
fenômenos são as doenças do nível falante dentro de nós. Nós não nos sentimos mal com nada
que pertença aos níveis inanimado, vegetal e animal dentro de nós.

Nós temos comida, água e abrigo. Para as gerações passadas as condições de vida eram muito
mais difíceis, mas as pessoas eram mais felizes. Nós não somos felizes, e isso vem do
desequilíbrio entre os níveis falante dentro de nós e as forças da natureza. Esse estado não
mudará o menos que nós mudemos, estudemos essas forças, e nos igualemos a elas.

Nós somos como um parafuso numa máquina que trabalha constantemente. Se nós não estamos
na posição correta, se não estamos em sincronia com essa máquina, certamente sentiremos
desconforto. O fato de não estarmos nos apressando para corrigir nossa posição com relação a
essas forças pode, no final, se virar contra nós. Mil ou dois mil anos atrás a humanidade não era
tão oposta à máquina da natureza. Mas hoje nós somos mais desenvolvidos, mais egoístas, mais
cruéis e, portanto, estamos em maior contraste com as leis da natureza. O Baal HaSulam diz que
essa é a razão pela qual nosso sofrimento se intensifica a cada geração.

…a natureza, como um hábil juiz, nos pune de acordo com o nosso desenvolvimento, pois nós
podemos ver que à medida que a humanidade se desenvolve, as dores e os tormentos também
aumentam... e além dos golpes que sofremos hoje, também devemos considerar a espada
desembainhada para o futuro, e a conclusão certa deve ser tirada, de que a natureza certamente
nos derrotará e seremos todos forçados a dar as mãos em seguir os mandamentos com todas as
medidas necessárias.

--Baal HaSulam, A Paz


O sistema de leis age dentro de nós continuamente; ele não pergunta nossa opinião sobre o
assunto. Se nós o conhecermos, nos entenderemos com ele e teremos uma vida feliz. Mas se nós
não estudarmos, sentiremos um desconforto ainda maior, quanto mais continuarmos a evoluir, e
ficaremos para trás em equilibrar-nos a esse sistema.

Para descobrir as leis espirituais, nós devemos começar a mudar a nós mesmos e agir de acordo
com essas leis. É por isso que nos foi dada a sabedoria da Cabala. Assim, as ciências que
conhecemos e desenvolvemos até agora se relacionam à natureza inanimada, aos níveis vegetal e
animal, e a sabedoria da Cabala está surgindo em relação ao nível falante ou humano.
Cabala: a Ciência Moderna

Diferente de qualquer outra ciência, a Cabala nos revela o Mundo Superior. É por isso que ela é,
na maioria das vezes, referida como uma “sabedoria” em vez de uma “ciência”. A abordagem
cientifica e empírica da sabedoria da Cabala baseia-se nos mesmos princípios de investigação
que se aplicam a outros campos de investigação. A Cabala também considera o observador como
um investigador e estuda a realidade como ela é sentida por um ser humano, a partir de uma
perspectiva subjetiva. A singularidade da sabedoria da Cabala em comparação com qualquer
outro campo de estudo humano é que o objeto de sua investigação é a parte superior da realidade.

A sabedoria da Cabala nos capacita a atingir as raízes da realidade, não apenas outro segmento
do todo, mas a realidade em seus níveis mais elevados, jamais alcançados anteriormente.
Alcançar a raiz da realidade dá aos investigadores o controle sobre os eventos antes deles se
vestirem em nosso mundo, e a capacidade de interferir e mudá-los, para dirigir e orientá-los
usando sua abordagem única.

Se nós determinarmos nossos desejos de tal maneira que toda a realidade nos pareça em direção
à doação do Criador, se quisermos viver numa realidade onde os cinco sentidos se dedicam a
uma única meta, satisfazer ao Criador, nesse estado nós determinaremos nossa atitude em relação
à realidade no reino e no nível do “sexto sentido”. Isso significa manter uma atitude altruísta em
relação à realidade, que produz uma característica totalmente diferente em relação à realidade
percebida através dos cinco sentidos. Nós não alcançaremos mais um mero grão da realidade,
mas sim a sua raiz, ascendendo à sala de comando, o quartel general da realidade.

Ao fazer isso nós poderemos nos elevar acima do nível da criatura e alcançar o grau do Criador,
a Fonte de onde as Forças Superiores vêm e se revestem na matéria deste mundo. Se nós
mudarmos nossa atitude em relação às forças enquanto elas ainda estiverem em suas raízes, nós
sentiremos de forma totalmente diferente o modo como elas se vestem em nosso mundo. A
sensação de vazio sucumbirá diante da sensação da Luz Superior.

A realidade avança incessantemente em direção à revelação do Criador às suas criaturas. Tudo


depende da atitude da pessoa para com a realidade. Se a criatura progride em direção à meta por
vontade própria, assemelhando-se ao Criador, ela experimentará a revelação do Criador como
um fluxo crescente de abundância. Por outro lado, se a revelação do Criador for revelada a
contragosto, isto é, quando a criatura não se esforça para se assemelhar ao Criador, a revelação
será percebida como uma ameaça e má, induzida pela disparidade de forma entre a pessoa
egoísta e a generosidade superior, cuja natureza é a doação.

A revelação do Criador num estado de disparidade de forma traz escuridão à vida da pessoa.
Essa escuridão é o “dorso” (parte posterior) da Luz Superior. A Luz Superior já nos preenche,
mas atualmente nós somos incapazes de descobrir isso, e a aparência da escuridão serve como
um sinal que nos convida a mudar nossa atitude em relação à realidade e descobrir a Luz
Superior.

O sexto sentido não é adicionado aos cinco sentidos, mas sim, está acima deles, separadamente.
Assim como o nosso desejo de receber percebe a realidade material com cinco modos de
percepção, que são os nossos cinco sentidos, da mesma forma o nosso sexto sentido também é
constituído por cinco modos de percepção da realidade superior. Com a ajuda do sexto sentido,
outra realidade é sentida nos cinco sentidos, e essa é a transição da escuridão para a luz, do
vazio, do medo e dos tormentos, para a abundancia, segurança, tranqüilidade, eternidade e
perfeição.

A aquisição do sexto sentido expande nosso conhecimento através das impressões positivas da
abundância. Quando nós adquirimos esse sentido, a Luz Superior surge como uma profusão que
preenche os vasos, em vez da escuridão. Esse novo estado mudará o resultado da investigação na
ciência. Físicos, químicos e biólogos receberão novos resultados em suas investigações, como se
tivessem achado o outro lado da moeda. A humanidade deixará de investigar vasos aflitos
desprovidos de Luz; em vez disso, ela prosperará e florescerá em direção à Luz do Criador com
um desejo que é realmente livre.

Tal existência será uma existência da perspectiva da Luz, da perspectiva de um Kli corrigido, já
que com a meta altruísta o Kli torna-se Luz e adquire a forma e os atributos da Luz. A
humanidade desenvolverá a ciência através da utilização do sexto sentido: a intenção altruísta.
Atrair a Luz igualando-se a Ela exporá a humanidade a uma existência diferente da Natureza,
uma existência positiva e não negativa.

Todos os níveis de existência estão contidos dentro do homem; eles sobem e descem junto com
ele. Se a pessoa torna-se um “verdadeiro” ser humano, semelhante ao Criador, toda a natureza
(inanimada, vegetal e animal) recebe um sustento e uma satisfação diferente. Quando a
humanidade se assemelhar ao Criador, este mundo será incorporado nos mundos de Beria,
Ietsira, e Assia, e se elevará junto com eles a Ein Sof. Então, tudo na natureza se elevará e se
ligará com o Criador.

No estado egoísta e corrompido, a pessoa não percebe que a imagem da realidade é vazia e
carece da presença do Criador. O Criador surge como o provedor da realidade, junto com a
aquisição do sexto sentido. Ele surge como aquele que está em cada detalhe da realidade e, como
conseqüência, as sensações da pessoa nos cinco sentidos confirmam esse estado, como se eles
fossem um presente do Criador. Nesse estado, o mundo surge como uma medida do contato da
pessoa com o Criador, a medida de ligação entre ela e o Criador.

Quanto mais a pessoa sente o Criador como vestido na realidade, mais ela descobre que o
Criador está dentro dela e dirige seus sentidos em direção dessa sensação, e mais ela se perde.
Tudo o que resta é um pequeno ponto onde a pessoa se encontra na qualidade de observador,
assistindo a revelação do Criador de dentro e de fora. É por isso que os Cabalistas dizem que o
Criador criou o Kli e também o preencheu com a imagem do mundo.

É precisamente através da sensação da “ausência do eu” que uma oportunidade se abre diante da
pessoa para determinar a si mesma. É exatamente nesse ponto que ela pode determinar sua
atitude independente em relação à realidade.

Ao discernir que o Kli não é seu, que a satisfação (preenchimento) do Kli não é atribuída a si
mesma, a pessoa começa a discernir a própria capacidade de determinar sua atitude frente à
realidade. Nesse ponto ela começa a cultivar o sexto sentido, acima dos cinco sentidos, o sentido
no qual ela estabelece o próprio eu. Da perspectiva do Kli, a pessoa decide como sentir a
satisfação no Kli, determinando sua identidade em relação a essa satisfação. É assim que ela
cresce, e a evolução que irrompe nela é chamada de “sabedoria da Cabala”.

Portanto, nós vemos que a ciência que a humanidade está cultivando via os cincos sentidos é
apenas uma fração da imagem abrangente da realidade. Muitas mudanças se revelarão na ciência
e suas fronteiras de investigação se expandirão muito além do conhecimento e das descobertas
atuais. A fração da realidade que a humanidade já descobriu foi descoberta de dentro dos vasos
vazios, e não da riqueza que surge nos vasos corrigidos. O reconhecimento dos cientistas do
impasse que eles chegaram é, na verdade, o reconhecimento dos vasos vazios. A humanidade
descobriu tudo o que podia descobrir nesses vasos, enquanto a Luz continua ausente no Kli.

A ciência humana e todos os seus ramos são acúmulos de conhecimento a partir de uma posição
de ausência de abundância. A ciência, como todas as outras obrigações humanas, demonstra a
negatividade e a incapacidade de evoluir. Hoje, a ausência de abundância nos vasos está nos
levando a um desespero ainda maior. Os seres humanos reconhecem que todos os prazeres
mundanos (sexo, comida, família, riqueza, honra, poder e conhecimento) não oferecem
satisfação e nos deixam vazios. Esse vazio é a força motriz por trás do desejo de revelar a
Ciência Superior: a sabedoria da Cabala.

Muitos cientistas e filósofos admitem que eles se relacionam com o mundo como a uma ameaça
real. Do seu ponto de vista, a humanidade perdeu o controle e o entendimento para onde ela está
indo. Faltam somente poucos anos para a humanidade continuar a se desenvolver antes dela
chegar à beira de um abismo que eliminará cada aspecto da vida humana: ecologia, sociedade,
economia, cultura, investigação e educação. Esses cientistas já entenderam que sem descobrir o
Pensamento, a Essência que gera a matéria, a ciência será incapaz de progredir. Eles dão à
humanidade apenas alguns anos para evoluir e dizem que a humanidade está atualmente
encarando uma crise sem precedentes.

A humanidade já conheceu situações difíceis antes, mas elas sempre surgiram num único reino
da vida humana: religião, cultura, indústria ou ciência. Quando um reino caiu, outro se ergueu
em seu lugar; novas ideologias substituíram as antigas, e o mundo seguiu adiante para novas
eras. Hoje, no entanto, todas as obrigações da humanidade alcançaram uma negação total.

A humanidade parece estar se voltando à religião, assim havia feito antes da ciência, da
industrialização e da cultura tomarem seu lugar. Na verdade, desta vez é muito diferente. A
explosão mundial de religiões e ensinamentos místicos de todos os tipos não é devido ao seu
forte apelo às pessoas, mas à falta de escolha.

A humanidade está perdendo a esperança de que a ciência e a tecnologia irão melhorar sua
situação e adoçar suas vidas amargas. A razão para a nova atração pela religião é testar de novo,
aprender de novo, e pela última vez, que nenhuma cura ou alivio para a nossa situação atual
serão encontrados nela.
As religiões desenvolvem teorias e filosofias que discutem que a ciência e a religião podem ser
combinadas e assim melhorar nossas vidas. Mas essa noção também provará ser errônea. O
interesse renovado na religião também é o ultimo. Isso levará ao reconhecimento da
incapacidade da religião em fornecer uma verdadeira resposta aos vasos vazios que surgirão.

Assim, todos os processos desencadeados hoje resumem milênios de evolução humana dentro
dos vasos egoístas. Daqui para frente nós devemos cultivar novos vasos altruístas. Esses vasos
nos mostrarão uma realidade totalmente diferente, de abundancia, perfeição, eternidade e Luz.
Finalmente, a descoberta desta realidade por toda a humanidade é o verdadeiro propósito da
Criação.
Apêndices
Glossário

Em toda a realidade não existe nada além do Criador e da criatura, a Luz e o vaso, Superior e
inferior. Os textos Cabalísticos incorporam muitos nomes e denominações com a intenção de
realçar os diferentes aspectos do relacionamento entre eles. Aqui estão os principais atributos que
podemos atribuir a cada um deles:

Criador Criatura

Força Superior, Luz Superior, Superior, Luz, Kli (Vaso), Criatura, Inferior, A
Criador, Deus, Divindade, O Criador, O Atributo Alma, O Atributo de Recepção, O
de Doação, O Desejo de Doar, O Desejo de Desejo de Receber, A Natureza
Agradar, A Natureza Superior, A Natureza do Inferior, A Natureza do Egoísmo, A
Altruísmo, A Natureza Espiritual, O Atributo de Natureza Corporal, A Natureza
Bina, O Doador, O Líder, O Emanador, Física, O Atributo de Malchut, O
Providência, Guia. Receptor.

Os Cabalistas distinguem vários incidentes, ações e maneiras, tanto da perspectiva do Superior


quanto da perspectiva do inferior, atribuindo a cada um eles um nome especial. Eles fazem isso
para ajudar aqueles que descobrem o Mundo Superior a encontrar o caminho dentro desse
mundo. Este livro foi escrito para aqueles que ainda têm que atingir o Mundo Superior. Por essa
razão, as diferenças entre as várias denominações não são enfatizadas.

Cada termo Cabalístico carrega muitas interpretações dependendo do contexto e da conexão com
outros elementos da realidade. Assim, as definições no glossário têm a intenção de descrever os
termos somente no contexto em que eles são apresentados neste livro.

Termo Definição

A fim de doar Um ato com a intenção de causar prazer adicional à outra pessoa ou ao
Criador.

A fim de receber Um ato com a intenção de causar prazer adicional para si mesmo.

Adam (relativo a homem O desejo de receber que obtém o atributo de doação e se iguala ao
ou a humanidade em Criador, a Luz Superior. O nome Adam vem das palavras hebraicas Ada
geral) me la Elyon (“Eu serei semelhante ao Altíssimo” Isaias 14:14).

Adam ha Rishon A alma geral (ou sistema) que contém todas as almas particulares que
descem e se vestem nos corpos das pessoas neste mundo.
Adesão O resultado da equivalência de forma da criatura com o Criador.

Alma O desejo de doar.

Altruísmo O desejo de receber corrigido com a intenção de satisfazer ao outro e


não receber prazer para si mesmo; o desejo de doar aos outros.

Amor pelo Criador O desejo da criatura de dar prazer ao Criador através de todos os meios
à sua disposição.

Amor pelo homem O desejo de satisfazer todas as necessidades do outro sem qualquer
consideração por si mesmo.

Anseio Acréscimo ao desejo de receber. Ele desperta na criatura como


resultado do seu esforço em obter o que quer.

Aproximar-se do Obter maiores quantidades do Atributo de Doação.


Criador

Atributo do Criador O Atributo da Doação.

Atributo da Criatura O Atributo da Recepção.

Aviut (Espessura) A medida do desejo de receber na criatura.

Barreira O limite entre este mundo e o mundo espiritual.

Benevolente (Bom que A atitude do Criador em relação à criatura.


faz o bem)

Cabalista A criatura que alcança a medida de equivalência de Forma com o


Criador.

Carência A impressão do desejo de receber da satisfação antes de recebê-la.

Criação do mundo A chegada do desejo de receber no último e mais inferior dos níveis em
material sua partida do Criador, da Forma de doação.

Criador O nível que a pessoa deve alcançar no final de todas as correções. A


palavra hebraica Boreh (Criador) vem das palavras Bo Re’eh (venha
ver). Este é o nível que a pessoa deve vir e ver, isto é, alcançar por si
mesma.
Criatura O desejo de receber que descobre sua conexão com o Criador.

Correção Mudar o desejo de receber no desejo de doar.

De Baixo para Cima A Força de Doação que prevalece (triunfa) na criatura.

De Cima para Baixo A criação do desejo de receber e a diminuição da Força de Doação na


criatura.

Desejo de doar A) A natureza da Luz Superior. B) O desejo de receber que foi corrigido
numa pessoa pela intenção de usá-lo para doar a outra pessoa ou ao
Criador.

Desejo de satisfazer A intenção de agradar a um estranho, fora do desejo; o desejo de doar.

Desejo de desfrutar O desejo de receber deleite e prazer.

Desejo de receber Natureza do homem — o desejo de natural de satisfazer-se, criado pela


Luz Superior.

Deus A Força de Doação geral que conduz todas as almas e as leva a se


igualara a Ela. Ela projeta o Atributo da Divindade aos receptores.

Dez Sefirot A dez partes da criatura. As primeiras nove partes são as qualidades da
Luz nele, e a décima parte é o desejo de receber nele.

Divindade, Luz O Atributo de Doação que governa toda a realidade, contém todas as
Superior, Força leis particulares no Mundo Superior,bem como em nosso mundo.
Superior

Divisão da alma de A divisão da alma geral em almas particulares, ou seja, desejos


Adam ha Rishon individuais. Quando todos os desejos em Adam ha Rishon tinham uma
intenção comum de doar ao Criador eles estavam unidos como um.
Quando a intenção nos desejos foi invertida para uma aspiração de
autogratificação, cada desejo sentiu-se separado dos outros, e assim a
alma geral dividiu-se.

Doar ao Criador Recepção de prazer do Criador com a intenção de dar contentamento a


Ele.

Encarnações Estados que as almas experimentam, à medida que elas vestem corpos
neste mundo.
Egoísmo O desejo de receber, a matéria de toda a criação, no qual não há bem
nem mal, e que é conscientemente usado com a intenção de agradar a si
mesmo (para receber). Esta intenção prejudica os outros de forma
direta ou indireta.

Equivalência de Forma Adquirir o Atributo de Doação ao invés do atributo de recepção.

Essência A raiz e a base de todas as formas.

Espiritualidade O Atributo de Doação e tudo que é sentido nele.

Este mundo O menor desejo de receber. Ele não tem a intenção de satisfazer a Luz
Superior ou de ser satisfeito por ela.

Eternidade A integração do desejo de receber no Atributo de Doação que dá ao


desejo de receber a sensação da recepção ilimitada de Luz.

Evolução Espiritual A evolução da intenção de dar contentamento ao Criador, ou seja, a


evolução do Atributo de Doar.

Evolução do desejo de Este termo não se refere ao desejo de receber em si, mas à intenção com
receber a qual ele é usado. Todos os desejos, do menor ao maior, estão presentes
dentro de nós. Estes desejos despertam em nós conforme nós
alcançamos o propósito de doar ao Criador. Em outras palavras, a
evolução está na intenção; é a intenção que nos permite usar desejos
adicionais.

Fazer o bem às Suas O ato do Criador em relação à criatura.


criações

Fim da Correção A última equivalência de forma da criatura com o Criador.

Força Superior, Luz O Atributo de Doar que conduz a realidade, contém todas as leis no
Superior, Divindade Mundo Superior assim como em nosso mundo.

Forma Abstrata A Forma de doação sem a matéria que a veste.

Forma vestida na A Forma de doação que o desejo de receber assume.


matéria

Formas (Padrão) Maneira de recepção ou doação.


Ibur, Katnut, Gadlut Os três estados que a criatura experimenta do nascimento espiritual à
(Ibur, Yenika, Mochin) correção completa.
(lit. Concepção,
Amamentação,
Maturidade)

Imagem do Criador A soma das intenções corrigidas no desejo de receber. Essas intenções
são sentidas nos desejos como a imagem do Criador.

Incorporação Ligação (conexão) dos atributos internos.


(Incorporado)

Intenção (Propósito) Usar o desejo de receber para beneficiar a si mesmo ou para beneficiar
outra pessoa.

Kli (Vaso) O lugar para receber a satisfação.

Kli Espiritual O lugar que recebe a satisfação para doar ao outro; um meio para doar
ao outro.

Lei Geral A Lei de Doação. Esta Lei engloba toda a realidade e obriga todas as
suas partes a igualar sua forma a ela.

Luz A Força de Doação que age e preenche todas as almas.

Luz Interna A revelação da Luz Superior na criatura conforme sua equivalência de


Forma com a Luz.

Luz que Corrige, Luz A Força que corrige a natureza egoísta e a eleva ao Atributo de Doação.
Circundante, Luz de
Correção

Natureza Inferior O desejo de receber.

Malchut de Ein Sof O desejo geral de toda realidade, criado pela Luz Superior.
(Malchut do mundo de
Ein Sof)

Masach (lit. Tela) A intenção de doar ao outro que excede o desejo de receber na criatura.

Matéria O desejo de receber.

Materialidade O desejo de satisfazer a si mesmo.


Mundo Material A realidade sentida através dos cinco sentidos físicos.

Mundo de Ein Sof O estado no qual a alma tem uma capacidade ilimitada de doar ao
Criador.

Mundo Superior, O estado que surge para a pessoa que alcança certa medida de
Mundo Espiritual equivalência de Forma com a Luz Superior.

Mundos Os estados que a pessoa experimenta no processo de igualar seus


atributos com o atributo da Força Superior, o Atributo de Doação.

Nascimento espiritual Adquirir a primeira intenção de doar (Masach) sobre os atributos da


criatura.

Natureza Superior O desejo de doar.

Níveis de Realização Fases na correção da intenção onde o Atributo de Doação é sentido.

Nosso Mundo A realidade que é sentida no desejo de receber.

Padrões (Formas) Maneiras de recepção ou doação.

Parsa O limite entre o Governo e Comando Superior, e as criaturas que ele


conduz. O Parsa está localizado entre o mundo de Atsilut e os mundos de
Beria, Yetzira e Assia.

Partzuf A estrutura feita de dez Sefirot da criatura que age em equivalência de


Forma com a Luz Superior.

Pecado de Adam ha A formação do propósito de desfrutar a Luz dentro da própria criatura.


Rishon (Quebra)

Pensamento da Criação O motivo da Criação, relacionado ao propósito da Criação, ou seja, a


forma final da criatura.

Perfeição Estado quando a criatura está em equivalência de Forma com o


Criador.

Pessoa (neste mundo) O desejo de receber está no estado de ocultação do Criador. Portanto,
este desejo de receber não tem intenção de receber Dele ou de dar a Ele.

Ponto no Coração O despertar para conhecer a Força Superior.


Prazer O resultado de satisfazer o desejo de receber.

Processo da criação O processo sentido no desejo de receber que evolui em equivalência de


Forma com o Criador.

Propósito da Criação Fazer o bem absoluto às Suas Criaturas, ou seja, para a criatura
alcançar o estado do Criador.

Quebra (Pecado de A formação da intenção de desfrutar a Luz dentro da própria criatura.


Adam ha Rishon)

Raiz da alma O local da alma no sistema de Adam ha Rishon.

Realização O último nível de entendimento; perceber cada elemento num estado.

Reconhecimento do mal Perceber a intenção de receber para si mesmo como sendo prejudicial
ao progresso espiritual da criatura.

Reshimot Os desejos antes deles serem percebidos pela intenção. São “células de
(Reminiscências, informação” contém dados sobre estados e formas que a pessoa
Recordações) perceberá no futuro.

Restrição (Tzimtzum) A restrição do desejo de receber da recepção por prazer para si mesmo.

Revelação do Criador A revelação do Atributo de Doação no desejo de receber de acordo com


a medida da Masach (Tela) que é colocada sobre o desejo de receber
prazer.

Sabedoria da Cabala A revelação da relação entre a Luz e o Kli em qualquer nível da


evolução do Kli, do princípio da criação da realidade ao fim da sua
correção.

Satisfazer (Satisfação) A sensação de satisfação tanto no desejo de receber quanto no desejo de


doar.

Sexto sentido A alma, a intenção de doar, a Masach (Tela). Todos esses termos
referem-se ao Kli espiritual que recebe e sente a Força Superior
conforme a sua equivalência de Forma com ela.

Sistema Superior O estado no qual o desejo de receber e a Luz nele estão em doação
recíproca, como determinado no Pensamento da Criação.

Trabalho (Esforço, Os esforços do desejo de receber em aproximar o prazer.


Empenho)

Vasos Internos, Vasos A imagem da realidade é percebida e sentida nos vasos da criatura. Os
Externos vasos internos são vasos suficientemente corrigidos para evocar a
sensação da realidade interna. Os vasos externos são vasos parcialmente
corrigidos, evocando a descrição da realidade externa, remota,
dependendo de sua medida de correção. Quanto mais o Kli está
corrigido, mais próxima a realidade é sentida quando percebida através
dele; e quanto menos o Kli é corrigido, mais longe a realidade é sentida
quando percebida através dele.

Vestir (Revestido) Processo no qual um atributo assume a forma de outro atributo para
realizar certa ação através dele.
Cabalistas Escrevem Sobre A Cabala

Rabino Moshe Chaim Lutzato (O Ramchal) (1707-1747)

Todas as obrigações do homem são guiadas por uma premissa única e intrínseca, e a
internalidade se veste dentro de todas as pessoas. É o que elas denominam “Natureza”, cujo
cálculo numérico é o mesmo de “Elohim” (Deus). E esta é a verdade que o Criador ocultou dos
filósofos.

-- Ramchal, O Livro da Guerra de Moisés, Regra 15

Rabbi Eliahu — O Gaon de Vilna (1138-1204)

Nosso rabino, [O Gaon de Vilna] ocupou-se extensivamente no estudo das qualidades da


natureza e nos estudos da Terra, a fim de atingir a sabedoria da Torá, para santificar o nome de
Deus entre as nações, e aproximar a redenção. Desde a sua juventude, ele manifestou
maravilhas em todos os sete ensinamentos. Ele também pediu e ordenou aos seus discípulos
estudar o máximo possível dos sete ensinamentos terrenos, e isso também era para elevar a
sabedoria de Israel, segundo a sabedoria da Torá, aos olhos das nações, como está escrito,
"pois essa é a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos".

- Rabbi Hillel Shklover em nome do Gaon de Vilna, A Voz da Pomba, p. 11

Sobre o estudo dos sete ensinamentos, o nosso rabino nos disse: "A revelação Messiânica vem
em conjunto com a revelação da sabedoria da Torá, e surge através da revelação dos segredos
da Torá e da abertura dos sete ensinamentos... Este é o significado do Zohar (VaYera, 117) de
que no ano de 1840 os portões da sabedoria serão abertos de cima e as fontes de sabedoria de
baixo, com o início da revelação Messiânica gradual"

- Rabbi Hillel Shklover em nome do Gaon de Vilna, A Voz da Pomba, p. 117

Ele costumava suspirar profundamente e dizer: "Por que diriam as nações: Onde está a
sabedoria de Israel?". Ele costumava sussurrar para nós o que aqueles que percebem a nossa
Torá fazem pela glória do nome de Deus, como os antigos sábios de Israel tinham feito. Muitos
deles glorificaram o nome de Deus através de seu amplo conhecimento na investigação dos
segredos da natureza a partir das maravilhas do Criador. Muitos dentre os justos das nações do
mundo também exaltaram a sabedoria dos sábios da Torá em Israel: os membros do Sinédrio, os
Tanaaim, os Amoraim, etc, e nas gerações posteriores os nossos rabinos Rambam, Baal
HaTosafot, e outros que muito fizeram para santificar o nome de Deus entre as nações, através
do seu estudo na investigação terrena.

- Rabbi Hillel Shklover em nome do Gaon de Vilna, A Voz da Pomba, p. 118

Estudar os sete ensinamentos auxilia na obtenção da sabedoria da Torá em seus segredos, eleva
a sabedoria de Israel e a santificação do nome de Deus aos olhos das nações, e aproxima a
redenção.
- Rabbi Hillel Shklover em nome do Gaon de Vilna, A Voz da Pomba, p. 118

Para entender e atingir a sabedoria da Torá contida na luz superior de sabedoria, é necessário
estudar os sete ensinamentos ocultos na parte inferior do mundo, o mundo da natureza.

- Rabbi Hillel Shklover em nome do Gaon de Vilna, A Voz da Pomba, p. 119

Estes são os sete ensinamentos: a) a sabedoria do cálculo, atributo e medida; b) a sabedoria da


criação e congregação; c) a sabedoria da medicina e do crescimento; d) a sabedoria da
gramática, razão e lei; e) a sabedoria de tocar música e santificar; f) a sabedoria da correção e
integração; g) a sabedoria da ECW (entre a chuva e o vento), e as forças mentais. Nosso rabino
conhecia bem todos esses ensinamentos.

- Rabbi Hillel Shklover em nome do Gaon de Vilna, A Voz da Pomba, p. 120

Rabbi Abraham Yitzhak HaCohen Kook (1865-1935)

A racionalidade evolui apenas porque para além do limiar de sua consciência, o oculto faz o seu
trabalho científico e moral. A suposição predominante de que o oculto obscurece a ciência clara
e a crítica precisa, é falsa. É exatamente através do oculto, com o poder de seu canto e a
profundidade da sua razão, que a base sólida da ciência é erigida, inovadora e com a crítica
precisa e pungente. Combinando estas duas opulências com sua grande riqueza (o oculto e a
crítica) constrói-se a base sólida para a luz Divina superior que está acima de qualquer palavra
e reconhecimento.

--Rabbi Kook, Orot (Luzes), p. 92

Quanto mais os segredos imanentes da Torá - seja da perspectiva da ciência, da perspectiva da


emoção ou da perspectiva da imaginação - surgirem, se propagarem e se tornarem qualificados
para um estudo regular e constante, mais alto a alma da pessoa e a alma do mundo se elevarão.

--Rabbi Kook, Orot (Luzes), p. 90

Os eventos do tempo, o crescimento das relações sociais e a expansão das ciências refinam
muito o espírito humano.

--Rabbi Kook, Orot Emuna (Luzes da Fé), p. 67

O futuro do homem chegará de fato, no qual ele evoluirá a um estado espiritual tão sólido, que
não só cada profissão não ocultará a outra, mas cada ciência e sentimento refletirão todo o mar
científico e toda a profundidade emocional, como esta matéria realmente é na realidade.

--Rabbi Kook, Orot Kodesh A (Luzes Sagradas A), p. 22


Há uma certa virtude sublime, pela qual quanto mais forte se torna o aparente conhecimento,
maior é a força do saber oculto.
--Rabbi Kook, Orot Kodesh A (Luzes Sagradas A), p. 65

A pessoa deve sempre preencher sua medida intelectual da mente natural em todas as suas
qualidades, de modo que o conteúdo de "uma alma sadia num corpo sadio" será mantido em sua
medida espiritual.
--Rabbi Kook, Orot Kodesh A (Luzes Sagradas A), p. 66

Assim como o homem deve estar acostumado com a natureza material e suas forças, estuda suas
formas e ações com as mesmas regras que governa o mundo, do qual ele faz parte, e que
controla dentro si como controla fora, por isso, e mais ainda por isso, ele deveria (e deve) estar
acostumado com as regras da natureza espiritual, que regem toda a realidade, da qual ele faz
parte.
--Rabbi Kook, 1985, dos cadernos nos manuscritos, Tesouros do Raayah (Rav Kook), 4, p. 23

O grande valor do poder do desejo humano, o seu grau na realidade e sua crucialidade ainda
estão para surgir através dos segredos da Torá. Esta revelação será a coroa de toda a ciência.
--Rabbi Kook, Orot Kodesh C (Luzes Sagradas C), p. 66

As ciências se encarregarão de levar todos os detalhes do potencial para o real, pelos quais as
inclinações boas e honestas que governam o mundo aspiram, e eles são todas as necessidades de
uma vida material e espiritual digna.
--Rabbi Kook, Orot Teshuva (Luzes do Arependimento), p. 50

Por volta do ano de 1923, o Professor Einstein visitou a Terra de Israel. Uma reunião foi
organizada entre ele e o nosso rabino, o Raayah Kook. ...O Rav identificou-se com a
abrangência do método do professor e comentou que é visão comum em antigos tesouros
judaicos que alguma revelação maravilhosa que surpreenda toda a humanidade se encontra em
algum canto escondido da nossa literatura antiga, especialmente a oculta, cujos relâmpagos
sobem à altura do mundo conceitual, transcendendo todos os graus de evolução histórica no
mundo dos conceitos. O mesmo ocorreu com a revelação maravilhosa que surpreende o
pensador com seu novo método relativo, cuja origem já está presente nos livros ocultos e de
Cabala, e nos comentários escritos sobre eles.

... e esse Professor Einstein, através do poder de sua enorme mente, uniu esse grande mar e
encontrou nele um caminho para as idéias e conceitos de onde se obtém todas as ciências.
Naturalmente, o professor ouviu as palavras muito atentamente e com interesse. Ele comentou
sobre o lado filosófico do comentário do Rav quanto à compreensão de seu método, que no final
encontra-se na percepção técnica da construção do mundo inteiro.

--2002, Descrição do Rabbi Shmuel Shulman do encontro entre o Rav Kook e Albert Einstein,
Tesouros do Raayah (Rav Kook), 1, p. 87

Rabbi Yehuda Leib HaLevi Ashlag (Baal HaSulam) (1884-1954)

...Eles não têm nenhuma solução científica de como é possível um objeto espiritual ter qualquer
tipo de contato com átomos físicos e levá-los a qualquer tipo de movimento. ... Nós só
precisamos da sabedoria da Cabala para avançar aqui de uma maneira científica, pois todos os
ensinamentos dos mundos estão incluídos na sabedoria da Cabala.

--Baal HaSulam, A Liberdade

...A reencarnação ocorre em todos os objetos da realidade tangível, e cada objeto, à sua
maneira, vive uma vida eterna. E embora nossos sentidos nos digam que tudo é transitório, é
somente como lhe parece. Mas, na verdade, só existem encarnações aqui, já que cada item não
descansa por um momento, mas encarna na roda da transformação da forma sem perder nada
da sua essência no seu caminho, como os físicos têm demonstrado.

--Baal HaSulam, A Paz

...Você pode deduzir sobre a sabedoria da verdade, que contém todos os ensinamentos seculares
dentro dela, que são suas sete filhas pequenas.
--Baal HaSulam, Introdução ao Livro A Árvore da Vida, item 4

Do mesmo modo que uma pessoa não pode sustentar o seu corpo sem algum conhecimento das
disposições corporais da natureza... a alma não tem viabilidade no mundo vindouro, exceto
através da aquisição de algum conhecimento das disposições da natureza dos sistemas dos
mundos espirituais. ...A pessoa reencarna até que lhe é concedida a conquista da sabedoria da
verdade por completo.

--Baal HaSulam, Da Minha Carne Eu Verei Deus

A ciência é geralmente dividida em duas partes. Uma é chamada de "Conhecimento Material"; a


outra é chamada de "Conhecimento Formativo".

...Essa parte da ciência que se dedica à qualidade dos materiais da realidade em ambas as
substâncias puras (sem sua forma) e nas substâncias e suas formas em conjunto, é chamada de
"Conhecimento Formativo". Esse conhecimento é fundamentado em bases empíricas, ou seja, em
evidências e inferências tiradas de experiências práticas, e essas experiências práticas são
tomadas como base sólida para deduções verdadeiras.
A segunda parte da ciência se dedica exclusivamente às formas abstraídas das substâncias, sem
qualquer contato com as substâncias em si. ...Portanto, qualquer aprendizagem científica deste
tipo é necessariamente baseada apenas numa base teórica. Isto significa que ela não é tirada da
experiência prática, mas somente de uma investigação teórica em negociação. Toda a sublime
filosofia pertence a esta espécie. Portanto, muitos estudiosos contemporâneos a abandonaram,
uma vez que estão descontentes com qualquer negociação construída sob base teórica. Eles
pensam que é incerto para eles considerar apenas a base empírica para ter certeza.

Observe que a sabedoria da Cabala também é dividida em duas partes mencionadas


anteriormente: o Conhecimento Material e o Conhecimento Formativo. No entanto, há grande
mérito aqui sobre a ciência secular. Isto ocorre porque aqui, até mesmo parte do Conhecimento
Formativo é totalmente construído sobre a crítica da razão prática, ou seja, em bases empíricas
e práticas.

--Baal HaSulam, Matéria e Forma na Sabedoria da Cabala

A sabedoria da verdade, ou seja, a sabedoria da revelação Divina, em Seus caminhos até as


criaturas, assim como com os ensinamentos seculares, deverá ser entregue de geração a
geração, e cada geração acrescenta outro elo ao seu antecessor. Assim, a sabedoria evolui e, ao
mesmo tempo, torna-se adaptada para uma maior expansão entre as massas.

--Baal HaSulam, A Sabedoria da Cabala e Sua Essência

Assim como o surgimento dos animais neste mundo e o comportamento de sobrevivência são
uma sabedoria maravilhosa, o surgimento da abundância Divina no mundo, tanto a existência
dos níveis e seus modos de operação, se unem para criar uma sabedoria maravilhosa, muito
mais maravilhosa do que a ciência da física. Isso ocorre porque a ciência da física é apenas o
conhecimento do comportamento de determinada espécie, encontrado num mundo particular e
único de seu portador, e nenhum outro ensinamento está incluído nele.

O mesmo não ocorre na sabedoria da verdade, visto que ela é o conhecimento geral de todo
inanimado, vegetal, animal e falante, presente em todos os mundos, em todos os seus eventos e
comportamentos, como se estivessem integrados no pensamento do Criador, isto é, nos
portadores propositais. Assim, todos os ensinamentos do mundo, desde o menor deles até o
maior, são maravilhas contidas nele. Ele equaliza todos os ensinamentos: os mais diferentes e
longínquos entre si, como o leste do oeste. Ele os iguala numa ordem que é a mesma para todos,
ou seja, até que os comportamentos de cada ensinamento surja por seus próprios caminhos.
Por exemplo, a ciência da física é organizada precisamente de acordo com a ordem dos mundos
e das Sefirot. Da mesma forma, a ciência da astronomia é organizada pela mesma ordem, e o
mesmo ocorre com a música, etc. Assim, nós vemos que todos os ensinamentos são dispostos e
seguem uma única conexão e relação: todos eles são semelhantes a ela como a criança se
assemelha a quem a gerou. É por isso que eles estão subordinados uns aos outros, ou seja, que a
sabedoria da verdade está associada a todos os ensinamentos, e todos os ensinamentos estão
associados a ela. É também por isso que nós não encontramos um único Cabalista verdadeiro
sem o conhecimento abrangente em todos os ensinamentos do mundo, visto que ele o adquiriu da
própria sabedoria da verdade, pois eles estão contidos nele.
--Baal HaSulam, A Sabedoria da Cabala e Sua Essência
Destacados Eruditos Escrevem sobre a Cabala
Johannes Reuchlin (1455-1522)

Reuchlin, humanista alemão, conselheiro político do Chanceler, estudioso clássico e especialista


em línguas antigas e tradições (Latim, Grego e Hebraico), estava associado aos líderes da
Academia Platônica (della Mirandola e outros).

Meu professor Pitágoras, que é o pai da filosofia, todavia não recebeu esse ensinamento dos
Gregos, mas sim dos Judeus. Por isso ele deve ser chamado de Cabalista, […] e ele mesmo foi o
primeiro a converter o nome Cabala, desconhecido dos Gregos, para o nome Grego filosofia.

A filosofia de Pitágoras emanou do mar infinito da Cabala.

Esta é a Cabala, que não nos deixa passar nossas vidas no chão, senão que eleva nosso intelecto
à meta mais elevada do entendimento.

--Reuchlin, De Arte Cabbalistica

Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494)

Erudito italiano e filósofo platônico cujo De Hominis Dignitate Oratio (Discurso sobre a
Dignidade do Homem), escrito em 1486, foi um trabalho característico da Renascença. Ele
refletiu seu método sincretista de tirar os melhores elementos de outras filosofias e combiná-las
em seu próprio trabalho. Além disso, della Mirandola pesquisou a Cabala, a Bíblia e o Corão
após lê-los em suas línguas originais.

Esta verdadeira interpretação da lei (vera illius legis interpretatio), que foi revelada a Moisés
numa tradição divina, é chamada de Cabala (dicta Cabala est), que para os Hebreus é o mesmo
que para nós é recepção (receptio).

Ao todo (existem) duas ciências – também com um nome que as honraram: uma é chamada ars
combinandi e é a medida do progresso nas ciências (…). A outra trata das forças das coisas
superiors, que estão acima da lua, que é a parte mais elevada da magia naturalis. Os Hebreus
também chamaram ambas de Cabala (…)

--Pico della Mirandola, Conclusões


Paulus Ricius (~1470-1541)

Ricius, médico e professor de filosofia na Universidade de Pavia, Áustria, serviu como médico e
consultor para Maximilian I, Arquiduque da Áustria, Sacro Imperador Romano-Germânico, e à
Ferdinando I – Rei da Boêmia e Hungria.

A capacidade de interpreter os segredos divino e humano por um tipo de lei Mosaica com
sentido alegórico é chamada de Cabala.

O significado literal (de uma Escritura) submete-se às condições de tempo e espaço. O


significado alegórico e cabalístico – permanece por séculos, sem limite de tempo e espaço.

--Paulus Ricius, Introductoria Theoramata Cabalae

Philippus Aureolus Paracelsus (1493-1541)

Médico e alquimista suíço-alemão, Paracelsus estabeleceu o papel da química na medicina. Ele é


considerado um dos fundadores da medicina moderna.

Aprenda artem cabbalisticam, ela explica tudo!

-- Paracelsus, Das Buch Paragranum

Christian Konrad Sprengel (1750–1816)

Botânico e professor alemão cujos estudos da reprodução em plantas o levou a uma teoria geral
da fertilização que ainda é aceita nos dias de hoje.

Adão, o primeiro homem, era bem familiarizado com a Cabala. Ele conhecia as assinaturas de
todas as coisas e, portanto, deu a todos os animais os nomes mais apropriados. Por isso, a
língua hebraica também contém os melhores nomes para todos os animais, que indicam sua
natureza.

--Kurt Sprengel, Versuch einer Pragmatischen Geschichte der Arzeikunde

Raymundus Lullus (1235-1315)


Lullus, filósofo e escritor espanhol, nasceu numa família abastada em Palma de Maiorca, era
culto e tornou-se tutor do Rei Jaime II de Aragão. Ele escrevia em Árabe, Latim e Catalão.
Escreveu tratados sobre alquimia e aotânica, Ars Magna e Llibre de meravelles.
A Criação, ou linguagem, é um tema adequado da ciência da Cabala. É por isso que está
ficando claro que essa sabedoria governa o resto das ciências.

Ciências como a teologia, a filosofia e a matemática recebem seus princípios e raízes dela.
Portanto, essas ciências (scientiae) estão subordinadas a essa sabedoria (sapientia); e os
princípios e regras delas (das ciências) estão subordinados aos seus (da Cabala) princípios e
regras; portanto, seu (das ciências) modo de argumentação é insuficiente sem ela (a Cabala).

--Raymundus Lullus, Raymundi Lulli Opera

Giordano Bruno (1548-1600)

Esse filósofo, astrônomo, matemático e ocultista italiano, estava à frente de seu tempo. Suas
teorias anteciparam a ciência moderna. A mais notável delas foi sua teoria do universo infinito e
da multiplicidade dos mundos, onde ele rejeitou a tradicional astronomia geocêntrica
(centralizada na Terra) e, intuitivamente, ultrapassou a teoria heliocêntrica (centralizada no Sol)
de Copérnico, que ainda mantinha um universo finito com uma esfera de estrelas fixas. Bruno
talvez seja principalmente lembrado por ter sofrido uma morte trágica na fogueira. Vítima de sua
própria crença, ele manteve suas idéias não-ortodoxas quando ambas as igrejas Católica Romana
e Reformada estavam reafirmando rígidos princípios Aristotélicos e Escolásticos.

Primeiro, essa Cabala dá um nome inexprimível ao principio supremo; dele ela permite quatro
princípios emanarem numa emanação de segundo grau, do qual cada um se ramifica novamente
em doze (....) uma vez que existem inúmeros tipos e subespécies. De tal forma que eles designam
com um nome especial, dependendo da sua linguagem, um Deus, um anjo, uma razão, um poder,
que rege sobre cada espécie. Dessa forma, é finalmente revelado que toda divindade pode estar
associada à Fonte original, bem como toda a luz que brilha de forma original e independente, e
as imagens, que se quebram em vários espelhos diferentes, como em tantos objetos individuais
que podem ser reconduzidos a um principio formal e ideal, a fonte dessas imagens.

--Giordano Bruno, Le Opere Italiane

Gottfried Wilhelm Leibnitz (1646-1716)

Leibnitz era um filósofo, matemático e conselheiro político alemão, importante tanto como
metafísico quanto lógico, e famoso também por suas invenções independentes do cálculo integral
e diferencial. Em 1661, ele entrou para a Universidade de Leipzig como estudante de Direito; lá
ele encontrou as idéias de homens que revolucionaram a Ciência e a Filosofia, como Galileu,
Francis Bacon, Thomas Hobbes e René Descartes. Em 1666, ele escreveu De Arte Combinatoria
(Na Arte da Combinação), onde ele formulou um modelo que é o ancestral teórico dos
computadores de hoje.

Como as pessoas não possuíam a chave certa do segredo, a sede de conhecimento levou à
vaidades e superstições de todos os tipos, das quais, em última análise, desenvolveu-se certo tipo
de Cabala Vulgar que está muito longe da verdadeira, bem com diversas teorias fantásticas sob
o falso nome de magia; os livros estão repletos disso.
--Leibnitz, Hauptschriften zur Grundlegung der Philosophie

Friedrich von Schlegel (1772-1829)

Escritor, crítico e filósofo alemão, contemporâneo de Goethe, Schiller e Novalis. Pioneiro na


linguística Indo-Europeia e filologia comparativa, Schlegel influenciou profundamente o começo
do Romantismo Alemão. Ele é geralmente conhecido por ter sido a primeira pessoa a estabelecer
o termo romantisch no contesto literário.

A verdadeira estética é a Cabala (extrato de Dezembro de 1802).

--Schlegel, Kritische F. Schlegel-Ausgabe, publisher: Ernst Behler 35 Bde., Paderborn

Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832)

Johann Wolfgan Von Goethe é amplamente reconhecido como o maior escritor da tradição
alemã. O período Romântico na Alemanha (final do século XVIII e começo do século XIX) é
conhecido como a Idade de Goethe, e Goethe incorpora as preocupações da geração definida
pelos legados de Jean-Jacques Rousseau, Immanuel Kant e a Revolução Francesa. Sua
importância vem não somente das suas conquistas literárias como poeta lírico, novelista e
dramaturgo, mas também por sua significante contribuição como cientista (geologista, botânico,
anatomista, físico, e historiador da ciência) e como crítico e teórico da literatura e arte. Nos
últimos trinta anos de sua vida ele foi o maior ícone cultural da Alemanha, servindo como objeto
de peregrinação de todos a partes da Europa e Estados Unidos.

O tratamento Cabalístico da Bíblia é uma hermenêutica, que sustenta de um jeito convincente e


independente, a originalidade maravilhosa, a versatilidade, a totalidade, eu até diria a
incomensurabilidade dos seus conteúdos.

--Goethe, Materialien zur Geschichte der Farbenlehre

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