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A TRILHA PARA A MORTE

Escrito
por
Hudon Silva

Dirigido
por
Anderson " Tuchaua" Peres
1.

PRÓLOGO

BLACK SCREEN

TÍTULO:

"ALGUNS MESES ANTES"

FADE IN:

1 INT. QUARTO DE TOMÉ - NOITE 1

O quarto é apresentado em tons escuros, mesmo sendo dia.

TOMÉ está sentado em sua cama e parece estar com raiva e


confuso. Ele traja roupas simples de dormir e está
descalço. Ele abaixa a cabeça e flashes aparecem de uma
casa de madeira e algumas árvores. Em sua mão há uma arma
que é acariciada por ele. Em um canto podemos ver um quadro
onde está ele e seu irmão mais velho: TADEU.

Os sussurros aumentam, ele coloca as mãos nos ouvidos e


grita.

2 EXT. CASA DE TOMÉ - NOITE 2

A casa de TOMÉ é simples e ele está no quarto de cima.

De lá o som é tranquilo de uma noite normal, exceto pelo


tiro que vem de seu quarto.

TÉRMINO DO PRÓLOGO

FADE TO BLACK.

TÍTULO:

"DIAS ATUAIS"

FADE IN:

3 EXT. TEFÉ - VÁRIOS - DIA 3

Imagens aéreas de Tefé e seus pontos turísticos são vistos.


Um grupo de amigos brinda dentro de um estabelecimento.
2.

4 INT. CASA DE LUCAS - DIA 4

LUCAS recebe uma mensagem em seu celular e manda um áudio


do whatsapp para seu grupo de amigos. Ele traja roupas
caseiras, uma camisa simples e uma bermuda leve.

LUCAS
Tô indo pro porto já já, galera.
Espero vocês lá. Tô levando a caixa
hermética. Não vão esquecer da
cerva, seus “arrombado”.

5 INT. CASA DE RAFA - DIA 5

RAFA é um dos amigos que está combinando a viagem. Ele


veste uma camiseta, uma bermuda e sandália e está arrumando
o cabelo no espelho quando recebe a mensagem e manda outro
áudio de volta.

RAFA
Tô terminando de me arrumar aqui,
galera. Atrás da prefeitura, né?

6 INT. CASA DE GABI - DIA 6

GABI está desarrumado, diferente dos amigos. Ele vê as


mensagens com preguiça enquanto está deitado no sofá, e
responde no whatsapp. Apenas para afundar mais ainda no
sofá.

GABI
Em cinco minutos tô no porto.

7 EXT. PORTO DE CATRAIAS - DIA 7

TADEU está esperando no porto com aparência chateada pelo


atraso. Ele traja um boné, uma camiseta simples sem estampa
de cor escura, bermuda e tênis. Ele responde:

TADEU
Siiiiim Rafa, é atrás da
prefeitura. Bora, galera, toda vez
vocês chegam atrasados. O cara que
eu chamei pra levar a gente tá
aqui. Ele vai já ficar puto com a
gente
3.

8 EXT. PORTO DE CATRAIAS - DIA 8

MAIS TARDE: Os amigos chegam um a um e quando GABI chega no


local é repreendido por TADEU.

TADEU
Colega, a gente quase que te deixa
pra trás ó.

GABI
Foi mal, galera. Tava fazendo
caridade, esse tipo de coisa.

LUCAS
Esse bicho tava era bebendo desde
ontem. Quis nem esperar o rolê de
hoje. Mônica disse que te viu lá no
Tropicana já era meia noite.

MONTAGEM: GABI nem tenta responder. Só coloca a mão na


cabeça apresentando sinais de ressaca enquanto os outros
abanam a cabeça em negativa, além de tirarem sarro do
amigo. Eles embarcam na lancha alugada e colocam suas
mochilas e utensílios. Tiram fotos enquanto a lancha parte
e pega velocidade para a viagem.

9 EXT. LAGO DE TEFÉ - DIA 9

Todos os amigos estão comentando sobre o sol e a paisagem,


se divertindo e tomando uns tragos, exceto TADEU, que
demonstra uma postura mais séria e beberica aos poucos sua
cerveja.

10 EXT. FURO - DIA 10

LUCAS
Quero ver é a bagunça hoje. Los
Morenos confirmaram que vão tocar.
RAFA Pô, é mesmo. O Gabi vai voltar
é arrastado.

GABI
Porra. Quero nem mais ver cerveja
na minha frente.

MONTAGEM: Os amigos riem mas o som do motor falhando


encobre as risadas. Todos olham preocupados para o
CONDUTOR, e o motor para de vez.
4.

TADEU
Aconteceu alguma coisa, seu Zé?

CONDUTOR
Parece que afogou o motor. Vou já
dar uma olhada.

RAFA
Puta merda. E ainda falta muito pra
chegar lá?

CONDUTOR
“Inda” falta um bom pedaço. E não
tem nem gente pra ajudar aqui por
perto.

Os amigos olham preocupados, mas GABI avista ao longe uma


casa de madeira.

GABI
Aí, galera, tem sim. Olha alí perto
daquela castanheira.

Todos olham com esperança, mas o CONDUTOR parece


preocupado.

CONDUTOR
Ah, aquilo alí não é lugar pra
parar não. Esse povo daí é muito
estranho. Vamo seguindo caminho que
deve ter gente pescando alí perto
da reserva.

RAFA
Que nada, seu Zé. Deve ter quem
ajude por alí. Tô vendo até umas
canoas daqui.

CONDUTOR
Ah mas alí eu não paro não. Se
vocês forem vão sozinhos. Eu mesmo
não piso alí.

TADEU
Colega, bora fazer o seguinte? Seu
zé tenta conseguir ajuda e busca a
gente aqui, pode ser? A gente fica
alí perto daquela árvore quando for
umas 3h. O senhor acha que dá
tempo?
5.

CONDUTOR
É, de dá, dá, mas eu não recomendo
vocês irem pra alí não. Demorar
some um de vocês, vão botar é culpa
em mim.

TADEU
O senhor pode confiar que não vai
sumir ninguém não, tá? Venha aqui
3h que enquanto isso a gente vai
almoçar e tirar umas fotos. Vou
deixar uma marmita aqui pro senhor
também enquanto o senhor espera o
conserto.

O CONDUTOR aceita de mau grado, com um olhar de


preocupação.

Os amigos desembarcam e antes de o CONDUTOR ir remando ele


dá um último aviso para terem cuidado.

LUCAS
Olha, não sei pra que tanta
preocupação. Essas comunidades são
quase tudo igual.

GABI
Eu vivia indo pra umas mais perto
de Tefé quando era mais novo. Mas
sempre tinham uns velhos mais
preocupados. Eu até entendo. Sumia
moleque às vezes na pesca ou quando
se embrenhar dentro do mato. Mas
sempre era bicho que pegava.
Criança não tem juízo não.

RAFA
Mano. Menino, macaco e canoa só
presta amarrado.

TADEU
Rapaz, não tô vendo ninguém até
agora. Será que...

Uma mulher nesse momento é vista lavando roupa na margem um


pouco mais distante. Ela olha fixamente para eles.

RAFA
Ih eu heim. Tua parente, Tadeu?
6.

TADEU
Sai fora.

Eles começam a ver pessoas dentro de suas casas.

TADEU cumprimenta eles enquanto vai se adentrando na


comunidade. Um homem é visto na varanda de uma casa. Ele
traja uma camisa de botão e calça e aparenta ter por volta
dos 40 anos.

TADEU
Opa, senhor. Tudo bom? Deu problema
na nossa lancha e a gente queria
saber se pode esperar por aqui
enquanto consertam.

COMUNITÁRIO
Tem não, parente. Se achegue. Essa
hora mesmo já tamo fazendo o
almoço.

TADEU
A gente já trouxe marmita também.
Já dá pra fazer essa copera.

COMUNITÁRIO
Não precisa não, parente. Eu que tô
convidando o senhor. MARIA, vai
colocando uma água no feijão.

11 INT/EXT. VARANDA DA CASA DO COMUNITÁRIO - DIA 11

Eles ficam na varanda da casa do COMUNITÁRIO enquanto


apreciam a vista e olham como são as casas.

RAFA percebe nesse momento uma marca pouco visível na casa,


quando é interrompido pela chegada do comunitário.

RAFA
Ei, pô. Olha aqui isso. Será que
isso aqui foi menino?

O COMUNITÁRIO chega na varanda e se senta. Oferece água


para os viajantes e começa a perguntar sobre eles:

COMUNITÁRIO
Vocês são de Tefé mesmo? É difícil
o povo de lá vir pra cá.
7.

TADEU
Sim, senhor. A gente tinha marcado
de viajar nesse fim de semana, já
que vai ter o Divino. O pessoal
daqui vai pra lá?

COMUNITÁRIO
Ah não não. A gente não comemorar
isso aqui mais não. Tá com bem uns
10 anos que ninguém daqui vai pra
essas festas.

RAFA
Eita, que estranho. E quando que
tem festa por aqui mesmo vocês não
vão?

COMUNITÁRIO
Ah não. Aqui o povo é mais
reservado. A gente não faz festa,
não bebe. As vezes que um ou outro
faz um almoço na casa do outro, mas
é só.

Os amigos olham desconfiados uns pros outros e percebem que


realmente na comunidade está calmo demais. Todos em suas
devidas casas, sem música ou crianças brincando.

GABI
O senhor chegou a ver essa marca
aqui na sua casa?

COMUNITÁRIO
Cadê? Ah, isso tá com um tempo aí
já. Deve ter sido um dos meninos
que fez.

Nesse momento chega a mulher que estava lavando roupa. Ela


traja um vestido simples já gasto pelo tempo e pelas
atividades no campo.

ANA
Oi, bom dia. Bom dia, seu Elizeu.
Aconteceu alguma coisa com a lancha
de vocês?

TADEU
Oi bom dia. Sim, sim. Nosso motor
afogou. O seu Zé que dirigia pra
nós foi atrás de quem conserte aqui
perto.
Á
8.

COMUNITÁRIO
Foi sim, minha filha. Aí eu chamei
eles pra almoçarem por aqui até que
ele volte.

ANA
Ah, entendi. Se vocês precisarem de
qualquer coisa, eu tô por aqui,
tudo bem? Só chamar pela Ana, que
eu moro bem alí.

TADEU
Ah muito obrigado. Eu espero não
incomodar vocês por muito tempo
não.

COMUNITÁRIO Ah, mas não é incômodo não. Vocês parecem ser


de bem.

ANA faz um gesto de adeus e pede licença enquanto vai


estender as roupas que tinha acabado de lavar.

COMUNITÁRIO
Vamo almoçar? Acho que já deve ta
pronto.

12 EXT. LOCAL DESCONHECIDO DA MATA - DIA 12

Um HOMEM corre desesperado pela mata murmurando alguma


coisa. Percebe-se que é o CONDUTOR e que ele está
totalmente afoito, sendo perseguido por alguma coisa
invisível.

13 EXT. COZINHA DA CASA DO COMUNITÁRIO - DIA 13

Eles se levantam e o acompanham para a mesa.

RAFA acaba o almoço antes de todos os outros e agradece.


Ele pede licença da mesa para ir lá fora e sai.

Ele sai da casa e vai para uma área atrás dela mais
escondida, puxa uma carteira de cigarros e começa a acender
para fumar. Nesse momento, algo desfocado surge no plano de
fundo. Algo que se aproxima dele.

MONTAGEM: O grito de RAFA é ouvido por todos que ainda


estão na cozinha. Todos se levantam imediatamente das
cadeiras e correm para a direção do grito, entretanto, os
comunitários ficam para trás durante a corrida.
Á
9.

14 EXT. CASA DO COMUNITÁRIO - DIA 14

TADEU
Cadê ele?! Eu não consigo achar
ele!

LUCAS
Rafa, onde tu tá??

GABI para num lugar específico com a aparência horrorizada


e vomita. Os outros se aproximam de onde ele estava e
conseguem visualizar o cadáver deformado de RAFA inerte no
chão.

TADEU fica horrorizado também, mas demonstra raiva nesse


momento.

TADEU
Quem fez isso??

LUCAS e GABI não conseguem responder ou nem mesmo pensar


nesse momento. Eles ficam caídos no chão sem entender o que
está acontecendo, e TADEU se pergunta de novo gritando:

TADEU
QUEM FEZ ISSO??

MONTAGEM: TADEU sai em disparada para a casa do COMUNITÁRIO


que ainda estava na varanda. Ele começa a gritar com eles
enquanto as pessoas na casa olham para baixo, tristes.

TADEU
Vocês sabem quem fez isso! Eu sei
que sabem! QUEM FEZ ISSO COM O
RAFA??

TADEU segura o COMUNITÁRIO com força pela gola da camisa.


Após fazer ameaças ele puxa um revólver que trouxera
escondido na cintura. A esposa do comunitário se desespera
ao ver isso.

TADEU
Pois o senhor vai falar AGORA MESMO
quem foi que fez isso com ele.

COMUNITÁRIO
Eu não posso... Eu...

TADEU larga ele no chão e vai em busca da mulher, apontando


o revólver para ela enquanto faz ameaças. Nesse momento
LUCAS e GABI se aproximam ainda consternados e percebem a
situação.
10.

TADEU
Fala agora quem fez isso ou eu
atiro.

LUCAS
Mano, tu tá ficando maluco?? De
onde que tu tirou essa arma??

TADEU
Fiquem fora disso! Esses putos tão
escondendo algo da gente!

GABI
Mano, abaixa essa arma!

TADEU
Eu vou atirar se vocês não me
falarem quem é!

COMUNITÁRIO
Não atira por favor! Eu levo
vocês... eu-eu levo vocês lá.

TADEU
Lá onde??

COMUNITÁRIO
Quem fez isso com ele tá lá.

TADEU
Bora. Se mexe!

MONTAGEM: As pessoas olham tristes de suas casas vendo que


o COMUNITÁRIO está sendo coagido, porém não saem de suas
casas para intervir. Os amigos olham a cena da varanda
enquanto vão descendo da casa para irem juntos ainda
confusos pelos vários eventos. E a cena das pessoas na
porta de suas casas e inertes fica em clima assustador.

15 EXT. CAMINHO PARA O CASEBRE DIA 15

TADEU segue apontando a arma para o comunitário enquanto


LUCAS e GABI os acompanham ainda desconfiados atrás,
tentando desencorajá-lo.

LUCAS
Tadeu, mano.. para com isso, por
favor. O Rafa.. a gente não pode
deixar ele daquele jeito..
11.

TADEU
É pelo Rafa mesmo que a gente vai
se vingar!

GABI
Mano.. não vale a pena.. bora sair
daqui.

TADEU
Vocês voltam se quiserem. Eu vou
acabar com isso. Dessa vez pra
sempre.

LUCAS e GABI não entendem o que TADEU está dizendo e ficam


ainda mais confusos...

O COMUNITÁRIO, que já apresentava sinais de cansaço, agora


leva a mão ao peito e para de andar ofegante.

TADEU
O que que tu pensa que tá fazendo??
Continua AGORA!

COMUNITÁRIO
Eu vou... eu... só preciso..

O COMUNITÁRIO cai ao chão segurando as duas mãos no peito


agora. Ele se comprime de dor mas TADEU mesmo assim ainda
aponta a arma para ele, dessa vez em silêncio.

LUCAS e GABI se aproximam preocupados.

LUCAS
Tadeu... ele... ele não aguenta
mais.

GABI
Ele parece que tá tendo um infarto!

LUCAS
GABI, corre agora e chama ajuda! Eu
vou tentar reanimar ele com o
TADEU.

TADEU
O que?? E pra que que eu vou tentar
ajudar ele?

LUCAS olha para TADEU sem reconhecê-lo.

TADEU se acalma e parece determinado a continuar.


12.

GABI
Eu não sei o que aconteceu com
você, Tadeu. Nem sei se dá pra te
salvar, mas pelo menos ele eu vou!

GABI corre em direção ao vilarejo para chamar por ajuda


enquanto TADEU o observa.

LUCAS olha de maneira decepcionada e depois triste para


TADEU.

LUCAS
Mano... para com isso... Eu tô com
um mal pressentimento...

TADEU
Fica aqui. Eu resolvo isso sozinho.

TADEU se vira e vai andando mata a dentro sozinho enquanto


LUCAS o observa com o COMUNITÁRIO nos braços consternado.

TADEU segue até encontrar uma trilha onde a vegetação


parece mais seca e a mata fica mais escura.

16 EXT. TRILHA PARA O CASEBRE - DIA 16

TADEU enxerga uma trilha e começa a lembrar de alguns de


seus sonhos... A mesma trilha aparece, ora real, ora
lembrança de seu sonho.

Em lembrança de seu sonho, é possível ver um vislumbre de


um casebre. Ao olhar para frente consegue ver uma pessoa.
Logo percebe que não é uma pessoa completa, mas sim alguns
de seus membros repartidos. Ao olhar para o seu rosto, fica
horrorizado.

Reconhece que é seu falecido irmão, já morto e consumido


pela terra. Começa a chorar enquanto a cabeça morta olha
fixamente para ele.

TADEU se ajoelha no chão enquanto chora olhando para a


frente.

TADEU
Tomé...?

17 EXT. CAMINHO PARA O CASEBRE - DIA 17

GABI chega correndo de volta à casa do comunitário e grita


por ajuda.
13.

Ele sobe as escadas e vê a mulher do comunitário chorando.

GABI
Senhora… o seu marido.. ele..

MARIA olha triste, mas seus movimentos e sua fala são


secos, tentando superar uma dor que sabia ser inevitável.

MARIA
Não precisa terminar.. Quando ele
saiu dessa casa eu sabia que ele
não ia voltar mais.

GABI
Ele ainda pode viver! Ele tá tendo
um infarto mas se tiver ajuda,
vocês-

MARIA
Vocês condenaram ele. Quem sai
daqui não volta mais.

GABI olha para ela e olha para as outras casas. Todos na


comunidade estão nas portas de suas casas mas não ousam dar
um passo sequer para fora do batente. Em seus rostos, é
visível que estão tristes, mas aceitam o fato de que não
podem mudar o que está prestes a acontecer.

GABI olha assustado a tudo aquilo e pensa em LUCAS e TADEU


e uma atmosfera sinistra o acomete.

GABI

Lucas…

GABI corre desesperado para tentar voltar ao encontro de


LUCAS enquanto a comunidade é vista por cima em silêncio.

18 EXT. CAMINHO PARA O CASEBRE - DIA 18

LUCAS está com o comunitário ainda nos braços e poucas


coisas audíveis saem da boca dele.

Ele o repousa no chão tentando o acalmar.

COMUNITÁRIO
Des…desculp...desc...des...
14.

LUCAS
Senhor... Se acalme, tudo bem? Vai
dar tudo certo.. Logo logo a ajuda
tá chegando.. Por favor aguenta
firme. Eu tô aqui com o senhor...

O COMUNITÁRIO para de respirar e olha fixamente para o


além. Morto.

LUCAS não aceita e começa a se desesperar mais ainda,


tentando fazer uma massagem cardíaca.

LUCAS
Não! Não, o senhor não vai morrer!
Acorda! Acorda, por favor! Acorda!!

O COMUNITÁRIO não reage mais.

LUCAS finalmente desiste e reconhece que ele morreu de vez


enquanto sente culpa por terem feito com que ele saísse de
casa....

GABI chega correndo e percebe que o comunitário está morto.

GABI
A gente tem que buscar o TADEU..
Tem que sair daqui...

LUCAS se levanta triste enquanto limpa as lágrimas e os


dois seguem para o mesmo caminho que TADEU havia tomado.

19 EXT. MATA FECHADA - DIA 19

LUCAS e GABI vão avançando de maneira rápida preocupados


com TADEU.

Eles avistam ao longe um casebre com a porta aberta.

Quando param para discutir se esse é o local correto,


escutam um ranger de corda e sangue escorre em LUCAS.

Quando eles olham para cima, percebem que o CONDUTOR jaz


morto, enforcado.

Eles gritam de medo, caem no chão e correm para o casebre.

GABI
A gente não vai conseguir voltar,
não é? Se eu entrar alí, eu sinto
que não vou sair...
15.

LUCAS
A gente tem que tentar... Talvez o
Tadeu ainda esteja vivo...

Eles chegam na entrada do casebre, e demonstram


determinação para entrar naquele lugar.

FADE OUT.

TÍTULO:

"12 ANOS ATRÁS"

FADE UP:

20 INT. SALA DA CASA DE ANA - DIA 20

ANA é uma criança pobre, moradora da comunidade. Ela traja


um vestido simples, rasgado em algumas partes do corpo. Ela
está sentada na sala, e parece estar nervosa.

Sob o seu olhar, vislumbra apenas a metade de baixo do


corpo de seu pai, que traja um chapéu e roupas de
agricultor e está colocando o cinto na calça.

PAI DE ANA
Agora que a gente já brincou, vá lá
ajudar sua tia a lavar vasilha…

ANA recusa se mexer e olha para o chão, num misto de raiva


e tristeza.

O pai dela para de andar pela casa ao perceber que ela


recusa ouví-lo e fala novamente. Dessa vez seu rosto é
mostrado.

PAI DE ANA
VÁ ajudar a sua tia a lavar
vasilha… AGORA

ANA se levanta, mas dessa vez mostra seu rosto enraivecido


para seu pai.

Ela sai de casa correndo e ao invés de ir para a beira,


corre para dentro do mato, enquanto seu pai apenas observa
da porta, sem falar mais nada.
16.

MONTAGEM: ANA corre mata a dentro chorando e furiosa com o


seu pai e sem ligar para aonde está indo. Ela passa pela
mata fechada e pelas árvores que lembram o caminho do
casebre, até que finalmente consegue vê-lo.

21 INT. CASEBRE - DIA 21

ANA abre devagar a porta e agora é mostrado o cenário do


casebre de maneira clara.

Ela vê vários rabiscos na parede, de símbolos que são


estranhos para ela e apesar de agora demonstrar medo, se
aproxima do que parece um pequeno altar com pedras e ossos.

Há também um cálice no meio e algumas velas há muito


apagadas.

Encontra uns papéis espalhados com mais símbolos e seu


rosto que estava tomado pelo medo começa a demonstrar raiva
mais uma vez.

22 EXT. CAMINHO PARA A ROÇA - DIA 22

O PAI de ANA está com mochila nas costas agora, um terçado


e mais alguns utensílios que usa em sua roça. Ele anda por
bastante tempo, então já está suado.

Ele ouve um barulho incomum de pássaros, para e olha para


cima, tentando entender o que assustou os pássaros...

Nesse momento, alguns sussurros passam a perturbá-lo. Ele


começa a demonstrar sinais de medo, apressa o passo até
correr. Ele tropeça, cai, e quando volta a olhar para
frente, o desespero toma conta do seu rosto. Ao longe, seu
grito é ouvido.

23 EXT. CASA DE ANA - DIA 23

ANA está saindo da mata e voltando para sua casa, quando


percebe uma comoção em frente à sua casa. Nenhum dos
moradores a vê, mas ela consegue ver sua MÃE em prantos e
alguns moradores preocupados, formando um círculo em volta
de um corpo.

O corpo é de seu pai falecido.

Ana observa a cena por um tempo inerte até que em seu rosto
começa a brotar um sorriso malicioso.

LONG DISSOLVE PARA:


17.

24 INT. CASEBRE - DIA 24

O mesmo sorriso agora é demonstrado pela ANA mais velha.

TÍTULO SUPERIMPOSTO:

"DIAS ATUAIS"

LUCAS e GABI entram abruptamente na casa e enxergam TADEU


parado na frente dela, de joelhos e com os braços
estendidos enquanto agoniza de dor e sua arma caida ao
lado.

Logo que ANA percebe que eles chegaram, seu sorriso fica
mais acentuado. A sombra de uma criatura pode ser vista em
alguns momentos perto atrás dela.

Ela olha para eles e fala:

ANA
Ah! Que bom que mais dois
convidados chegaram. Eu vou receber
vocês como se deve.

ANA pega o cálice que está em cima do altar, levanta-o para


cima e despeja em sua boca. O líquido escorre dentro e fora
da boca de ANA e podemos perceber que se trata de sangue.
Ela termina de beber, olha para eles e sua feição agora
está ainda mais feliz e maliciosa.

Sussurros, o clima, o vento, a luz agora mudam


drasticamente e os amigos, assim como TADEU, se ajoelham.

ANA regozija o momento, olha para todos e depois para


TADEU.

ANA
E agora com quem que eu vou
começar? Acho que eu vou te deixar
por último. Trazer teus amigos aqui
depois do que eu fiz pro teu irmão…
Ah, tu sim merece um prêmio!

TADEU chora nesse momento como se todo o seu plano tivesse


falhado.

TADEU
Gente.. Me desculpem.. É tudo culpa
minha..

Um BRAÇO de uma pessoa morta surge em volta de GABI e se


agarra ao seu pescoço virando sua cabeça de maneira
devagar, até torcer.
18.

Após isso, GABI cai no chão, morto.

TADEU e LUCAS se desesperam ao ver isso mas continuam


presos.

LUCAS
NÃO! PARA COM ISSO, POR FAVOR!!!!
TADEU NÃO, POR FAVOR, NÃO!

ANA olha para eles e se diverte. Logo após, olha fixamente


para LUCAS e TADEU que já percebe o que vai acontecer.

TADEU
DEIXA ELE EM PAZ, POR FAVOR! DEIXA
ELE EM PAZ
(pausa)
E PODE FICAR COMIGO!

ANA
E por que eu faria isso? Se eu
tenho os dois aqui, eu fico com os
dois! Haha

TADEU
Então eu falo agora com esse que te
comanda! Deixa ele em paz... e eu
te dou minha alma!

ANA olha para a situação, rindo, e agora estende o braço


para LUCAS, porém, nada acontece.

Quando eles percebem que LUCAS não morreu, o sorriso de ANA


desaparece e TADEU levanta devagar. Pega a arma que está no
chão, olha para LUCAS, que percebe agora que não é mais
TADEU quem está falando, mas que o seu amigo ainda está lá
em algum lugar.

ANA não consegue acreditar no que está acontecendo.

TADEU
Agora vai embora.

LUCAS é arrastado por algo que não consegue ver para fora
do casebre enquanto esperneia e a porta se fecha.

25 EXT. CASEBRE - DIA 25

Lá fora ele escuta dois tiros em sequência e após isso,


apenas o silêncio. LUCAS começa a chorar mais uma vez.

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