Depressão e a noção de temporalidade em psicanálise
Mariana Caroline Cavalari, Josiane Cristina Bocchi.
Campus de Bauru, Faculdade de Ciências, Psicologia, marianacavalari@hotmail.com
Palavras Chave: depressão, temporalidade, sentimento de si.
Introdução
A angústia pela falta de tempo, a impressão de
estreitamento de tempo e a costumeira sensação de
estar sempre atrasado perante as demandas sociais
de eficácia e produtividade são abordados nesta
pesquisa. A temporalidade é uma dimensão
diretamente afetada na depressão, manifestada nos
sintomas cognitivos e motores, com agitação ou
retardo dessas funções; idéias fixas, pensamentos
de morte e falta de reatividade, em contraposição a
um pensar criativo-prospectivo e da capacidade de
envolver-se em novos projetos. Os estados
depressivos se tornaram o modo mais prevalente de
sofrimento psíquico na atualidade (Bocchi, 2015)¹,
acompanhada da medicalização dessa condição no
social. É possível supor uma relação entre o
aumento dos casos de depressão e a urgência que
a vida social imprime à experiência do tempo (Kehl,
2009)².
Objetivos
Propõe-se uma investigação que busque elementos
conceituais psicanalíticos, em Freud e alguns
comentadores contemporâneos, para vincular a
vivência do tempo e seu efeito no cognitivo quando
atravessados pela depressão.
Material e Métodos
Este trabalho segue um referencial de pesquisa
teórico-conceitual em psicanálise. A metodologia
consistiu de uma revisão de textos relativos aos
temas depressão-melancolia e temporalidade
psíquica, em suas implicações para o sentimento de
si. Realizou-se leitura, fichamento, discussão e
análise de textos de psicanalistas contemporâneos.
Resultados e Discussão
- Encontramos uma divergência conceitual dentro
da psicanálise sobre melancolia e depressão.
Alguns autores as definem separadamente, como
Berlinck e Fédida (2000)³. Outros não fazem essa
diferenciação, como Kristeva (1989)⁴, que se refere
à depressão e à melancolia sem distinguir as
XXVIII Congresso de Iniciação Científica
particularidades afetivas de um e de outro. Rocha
(2008) entende a melancolia com uma das formas
5
clínicas da depressão.
- No diagnóstico e na atenção clínica dada à
depressão, os sintomas cognitivo-afetivos recebem
menor destaque em relação aos de humor (tristeza,
choro, desânimo).
- Na literatura psicopatológica geral, há uma
escassez em estudos que abordam a vivência da
depressão e a questão do tempo/temporalidade. Em
psicanálise, encontramos poucos autores que
discutem o tema, como Pierre Fédida e M.R. Kehl.
- Estudos psicanalíticos também dão pouca ênfase
aos sintomas cognitivos. Estes sintomas, como
alteração das funções da imaginação, percepção e
memória são mais explorados pela neuropsiquiatria.
Conclusões
De acordo com o modelo médico da psiquiatria, os
depressivos seriam portadores de um
déficit/disfunção. Segundo Machado e Ferreira
(2014) , o sujeito medicalizado sofre um
6
aniquilamento da sua singularidade em um mundo
em que qualquer vivencia é passível de cura,
poupando o sujeito de se confrontar com suas
questões. Este trabalho abre mão da concepção de
doença e busca a experiência psíquica produtora de
sofrimento, mas que ao mesmo tempo pode
desdobrar outras possibilidades de subjetivação, A
investigação dos sintomas cognitivos e da dinâmica
temporal podem trazer indicativos de como o
estados depressivos respondem à vida.
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¹ Bocchi, J.C.(2015) A psicopatologização da vida contemporânea:
quem faz os diagnósticos? Doxa. Revista Paulista de Psicologia e
Educação, v. 19, n. 1 e 2. (no prelo).
² Kehl, M. R. (2009) O tempo e o cão - A atualidade das depressões.
São Paulo. Boitempo.
³ Berlinck & Fédida.(2000) A clínica da depressão - Questões atuais.
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, III, 2, 9-25.
⁴ Kristeva, J.(1989) Sol negro – Depressão e melancolia. Rocco, Rio de
Janeiro.
5
Rocha, Z. (2008). Para uma abordagem estrutural da depressão:
contribuições freudianas. Psychê, 12 (23).
6
Machado, L. V., & Ferreira, R. R.(2014) A indústria farmacêutica e
psicanálise diante da “epidemia da depressão” - Respostas possíveis.
Psicologia em Estudo, v. 19, n.1, 135-144.