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A AVALIAÇÃO
DA COMPETÊNCIA
I NA REDAÇÃO DO
ENEM
INTRODUÇÃO
A Competência I, que avalia o domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa,
deve ser analisada essencialmente com base nas estruturas sintáticas empregadas no
texto, conforme já apontado no artigo “Competência I - A língua e o Enem”. No entanto, há
ainda outros dois aspectos a serem observados, uma vez que a Matriz de Referência prevê,
além das questões gramaticais, aspectos relativos às convenções da escrita e à escolha de
registro.
1 Simone Silveira de Alcântara, professora de Língua Portuguesa e Literatura no Colégio Militar de Brasília.
Mestra e Doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília.
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Por essa razão, foi preciso definir como, em situações assim, os textos deveriam ser avaliados,
para que o participante não fosse injustamente penalizado mais de uma vez em virtude
de um mesmo erro. Assim, algumas questões deverão ser avaliadas especificamente na
Competência I; outras, na Competência IV; outras, ainda, em ambas as Competências. Isso
dependerá, basicamente, de quanto os problemas encontrados comprometem a coesão
textual.
Além de diferenciar com clareza o que deve ser considerado na avaliação das Competências
I e IV, é importante que se tenha em mente as características de cada nível da Competência
I apontado na Matriz e o que diferencia um nível de seus adjacentes. Para auxiliar o
entendimento dessas questões, fazemos uma breve explanação a seguir.
Nos níveis 0 e 1, o texto revela muito pouco domínio da modalidade escrita formal da
língua portuguesa. Apresenta tantos erros de sintaxe, de convenção da escrita e/ou de
escolha de registro que a compreensão das ideias fica comprometida. Podemos dizer que
nesses níveis o texto apresenta domínio da língua correspondente ao dos primeiros anos
do Ensino Fundamental, e, muitas vezes, revela que não se completou satisfatoriamente
o processo de alfabetização. Felizmente, há pouquíssimas incidências de textos nesses
níveis, principalmente no nível 0.
Comparando o texto de nível 2 com o texto de nível 1, podemos dizer que o texto de
nível 2 apresenta uma organização sintática que permite a compreensão global das ideias
do texto, ainda que haja um ou outro trecho de compreensão mais dificultada. No texto
de nível 1, a compreensão global é prejudicada mormente pelo fato de a organização
sintática apresentar falhas de estruturação sintática tão graves que impedem ou dificultam
bastante a comunicação das ideias.
Comparando o texto de nível 2 com o texto de nível 3, podemos dizer que, enquanto,
no texto de nível 3, os períodos, de maneira geral, são bem estruturados e as ideias
são transmitidas com clareza, no texto de nível 2 essa estrutura já não é tão boa e a
compreensão do texto já não ocorre da mesma maneira. Consideramos que, no texto de
nível 2, há alguma organização sintática, já que as estruturas sintáticas propriamente ditas
apresentam problemas mais profundos e difíceis de resolver, o que afeta diretamente a
clareza das ideias do texto.
De maneira geral, os problemas de estrutura sintática não são tão facilmente identificáveis,
como os de convenção da escrita. A grafia de uma palavra, em geral, apresenta apenas uma
forma correta: ou se escreve casa com “s” ou se escreve com “z”, por exemplo. O mesmo
não ocorre com relação aos problemas de estruturação sintática, uma vez que há infinitas
possibilidades de combinação das palavras para se transmitir uma mesma ideia, assim
como há inúmeras possibilidades de enunciados (em uma frase nominal, em uma oração
absoluta, em um período composto). Exatamente por isso é que se diz que os problemas
de estrutura sintática são mais profundos e mais difíceis de serem resolvidos, e esses
problemas podem levar o texto a ser avaliado no nível 2.
Para avaliar um texto passível de ser considerado como excelente, deve-se partir,
inicialmente, da análise de sua estrutura sintática — se é completa (sem truncamentos),
se reproduz as ideias do autor com clareza, se promove leitura fluida, se representa um
excelente domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa para este nível de
ensino —, e não apenas da quantificação de desvios de convenção da escrita e de escolha
de registro e de falhas gramaticais.
Entende-se, aqui, que desvios de convenção da escrita são aqueles que envolvem o
uso inadequado de letras, acentos gráficos e hífen. As regras do Novo Acordo Ortográfico,
vigentes desde o início de 2016, devem ser consideradas nessa questão. Caso haja palavras
grafadas no texto em desacordo com essas novas regras, elas deverão ser consideradas
como erro.
- os hifens que ligam verbo e pronome ou que indicam translineação são obrigatórios;
assim, se houver erro, o avaliador deve considerá-los como tal;
- se se tratar de prefixação (e similares), situação que é muito confusa para todos, não se deve
penalizar. Assim, se aparecer em uma redação, por exemplo, a palavra “pré-determinado”
(em lugar de predeterminado), não se deve considerar que houve erro.
Vejamos agora como os desvios devem ser avaliados. Suponha-se que apareça no texto a
palavra “oringinais”. Nesse caso, há erro de convenção da escrita, uma vez que, segundo as
regras da ortografia, essa palavra deve ser grafada originais. Ainda que a palavra apareça
de forma errada mais de uma vez ao longo da redação (e mesmo que o erro apresentado
seja diferente, como em “oringinais”, “orijinais” “oringenais”), considera-se que ali ocorreu
apenas um erro.
Caso haja apenas esse erro em toda a redação, ele não é bastante para subtrair nota do
participante na Competência I: esse erro representa uma excepcionalidade no texto e, se
ocorreu uma única vez, não houve reincidência. Consideramos que não há reincidência
quando, em todo o texto, há, no máximo, dois desvios, sejam eles de convenção da
escrita ou de escolha de registro.
Suponha, agora, que apareçam as palavras “oringinais” e “raíz” no mesmo texto. Nesse caso,
há dois desvios no texto (ambos de convenção da escrita), portanto considera-se que não
houve reincidência do mesmo tipo de erro. Se não há reincidência, não há impedimento de
que o texto receba a nota máxima na Competência I.
Em uma outra situação, imaginemos que na redação haja as expressões “porisso” e “a gente”
(em lugar de nós). Consideramos, nesse caso, que há um desvio de convenção da escrita
(“porisso”) e um desvio de escolha de registro (“a gente”). Assim como no exemplo anterior,
considera-se que não houve reincidência do mesmo tipo de erro, portanto também não há
impedimento de que o texto receba a nota máxima na Competência I.
(1) até dois desvios (dois de convenção da escrita OU dois de escolha de registro OU um
de convenção da escrita e outro de escolha de registro) e
(2) uma falha gramatical (falha de estruturação sintática).
A ocorrência simultânea dessas duas formas de impropriedade (desvios e falha), desde que
limitadas a duas ocorrências de desvios e uma de falha, não constitui razão bastante para
que se subtraia nota na Competência I.
Assim, se uma redação apresenta como desvios somente o não emprego de acento
gráfico em uma palavra como Amazônia (desvio de convenção da escrita) e o emprego
de vírgula entre sujeito e predicado (falha gramatical), por exemplo, ela deve ser avaliada
no nível 5. Da mesma forma, se não apresentar nenhum desvio de escolha de registro,
mas apresentar um desvio de convenção da escrita, uma vírgula em lugar indevido (falha
gramatical) ou o vocábulo “onde” empregado sem referência locativa (falha gramatical),
por exemplo, a redação também deve ser avaliada no nível 5 na Competência I. No
entanto, se, além desses erros, houver um problema de concordância verbal (falha
gramatical), a redação não deve ser avaliada no nível 5 na Competência I, pois considera-
se que, para fins de avaliação da redação do Enem, a ocorrência de duas ou mais falhas
gramaticais não constitui uma excepcionalidade.
É importante destacar que uma falha gramatical deve ser considerada como tal apenas
quando houver respaldo na literatura para tanto. Situações não pacificadas entre os
estudiosos, tais como a regência de certos verbos, não deverão ser apenadas. Não é
possível listar todos os casos que se enquadram nessa situação, visto que as possibilidades
da língua são infinitas.
Em síntese, deve ser avaliado como de nível 5 na Competência I o texto que apresentar, no
máximo, até dois desvios de convenção da escrita e/ou de escolha de registro e uma falha
de estruturação sintática (falha gramatical).
Veremos, a seguir, algumas redações que selecionamos do Enem 2022, sobre as quais
tecemos comentários acerca da avaliação feita na Competência I. Antes, porém,
32 daremos alguns esclarecimentos acerca do tema tratado nas redações e da forma como
apresentaremos as redações a serem comentadas.
O tema da redação do Enem 2022 foi "Os desafios para a valorização de comunidades e
povos tradicionais no Brasil". Na avaliação da Competência I, o tema proposto tem com
ela uma relação indireta, diferentemente, por exemplo, do que ocorre na avaliação das
Competências II e III, que, por avaliarem o tema abordado na redação e a forma como ele é
discutido no texto do participante, estão diretamente relacionadas ao tema proposto. No
que diz respeito à Competência I, o tema proposto não determina as estruturas sintáticas
que serão empregadas no texto, mas sim a seleção vocabular do participante.
Isso significa que, no caso do tema proposto em 2022, palavras como tradição, indígenas,
colonização e cultura possivelmente apareceriam com certa frequência. A seleção vocabular,
em comparação com as estruturas sintáticas empregadas no texto (e seus desdobramentos,
tais como a pontuação, a concordância, entre outros aspectos gramaticais), tem papel
secundário na avaliação do domínio da modalidade escrita formal da língua.
Analisaremos as redações, aqui, a partir do nível mais alto até o nível mais baixo.
Consideramos, que, em termos didáticos, essa maneira de apresentar as redações facilita
o entendimento das características de cada nível, uma vez que partimos de textos que
apresentam (idealmente) tudo aquilo que uma boa redação deve apresentar em termos
de domínio da língua escrita formal, os quais são avaliados como de nível 5 e, a partir daí,
vamos “excluindo” algumas dessas características a cada nível, até chegar ao nível 0.
Apresentamos a seguir uma redação de cada nível. Após cada redação, tecemos comentários
sobre os aspectos mais relevantes apresentados no texto para a avaliação da Competência
I.
A redação de nível 0, diferente das que são prototípicas dos demais níveis, revela
desconhecimento da modalidade escrita formal da língua portuguesa, segundo a Matriz
de Referência para a Redação do Enem e, por isso, é um texto mais raro de ser encontrado
no Enem. De maneira geral, as redações de nível 1 e 2, por exemplo, não se configuram
como um “aglomerado de palavras” sem unidade textual.
33
1 “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. A frase do físico Albert Einstein
2 exprime a ideia de que o preconceito já está enraizado nas pessoas, Analisando esse conceito,
3 nota-se que a sociedade brasileira, embora seja um exemplo em inúmeros setores sociais, ainda é pre-
4 cária no que tange à valorização de povos tradicionais do país. Este problema é potencializado
5 não só pela insuficiência legislativa, como também pela negligência governamental.
6 A princípio, vale ressaltar a insuficiência legislativa como impulsionadora do impasse, já
7 que, há alguns anos, o ensino do idioma tupi-guarani (típico do povo indígena) deixou de
8 ser obrigatório nas instituições de ensino. De acordo com Karl Marx, pensador alemão, “os
9 indivíduos devem ser analisados conforme o contexto de suas situações sociais”. Sob
10 essa óptica, entende-se que a padronização de questões como a desvalorização das comu-
11 nidades e povos tradicionais brasileiros tornou-se um fator alarmante para a sociedade,
12 em virtude da incapacidade de exercer um juízo sólido e, também, por promover a natu-
13 realidade do entrave.
14 Além disso, vê-se que a negligência governamental também é uma ocorrência atual, dado que
15 o governo não atende às necessidades das comunidades tradicionais do país. De acordo com
16 Zygmunt Bauman: “não são as crises que mudam o mundo, e sim a nossa reação à elas”. Com
17 base nisso, constata-se que, ao presenciar a desvalorização dos povos típicos, o indivíduo, inse-
18 rido em um ambiente que negligencia e não combate à problemática, tende a ser influenciado
19 pelo meio, pois passa a crer que a causa não tem importância — mantendo, assim, um compor-
20 tamento indesejável.
21 Portanto, para que a desvalorização das comunidades e povos tradicionais do Brasil se-
22 ja mitigada, o governo deve promover campanhas informativas nas instituições de ensino, que
23 podem ser realizadas através de palestras e atividades extracurriculares, com o intuito de
24 instruir os estudantes, para que mais pessoas olhem para a causa e sejam motivadas a
25 extingui-las. Dessa forma, o avanço e a prosperidade do país serão observados.
COMENTÁRIOS:
O texto acima demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da
língua portuguesa, em seus diferentes aspectos: pontuação, emprego de pronomes,
paralelismo, estruturação sintática. Podemos observar, como já havíamos comentado, a
34 respeito das redações de nível 5, que vários períodos do texto são extensos, compostos
e bem estruturados.
Ainda assim, encontramos no texto dois desvios de convenção da escrita e uma falha
de estruturação sintática. Os dois desvios de convenção da escrita estão relacionados à
acentuação; nos dois casos, o problema se deve ao emprego indevido de acento grave.
O primeiro desses desvios está na linha 16: “a nossa reação à elas”. O desvio, aqui,
refere-se ao emprego de acento grave antes do pronome elas. O segundo desvio
está na linha 18: “não combate à problemática”. O verbo combater é transitivo direto;
portanto, não requer o uso de preposição para introduzir seu complemento. Se não
ocorre preposição, não há crase, portanto o emprego de acento grave, no contexto,
é indevido. Conforme já mencionamos anteriormente, qualquer contexto de erro
relativo à acentuação será tratado, para fins de avaliação das redações do Enem,
como desvio de convenção da escrita.
A falha gramatical está presente na última linha do texto. Para retomar o nome “causa” (no
singular), na linha 24, emprega-se, indevidamente, o pronome “las” (no plural), de forma
que não são observadas as regras de concordância.
Podemos dizer, portanto, que a redação é avaliada no nível 5 porque apresenta apenas
dois desvios de convenção da escrita e apenas um desvio gramatical. Não há desvios de
escolha de registro. Conforme já vimos, caso o texto apresentasse mais de dois desvios (de
convenção da escrita e/ou de escolha de registro) e duas ou mais falhas gramaticais, seria
avaliado no nível 4.
35
1
2 Semanticamente, a denominação das comunidades tradicio-
3 nais brasileiras derivam de termos socialmente construídos a partir da
4 convivência em sociedade — convivência que está passível à criação
5 progressiva de estigmas, estereótipos e preconceitos sobre estes grupos
6 não-normativos que não se enquadram nos padrões urbanos e
7 industriais.
8 O reconhecimento da população tradicional se vincula à
9 existência do discernimento nos povos não-tradicionais sobre a
10 importância da valorização e defesa da preservação destas comuni-
11 dades nativamente brasileiras.
12 Através desta estrutura que surge a dificuldade do ensino
13 à sociedade da necessidade de valorizar as populações
14 nativas; não há um demonstrativo de valor emotivo sobre estes povos,
15 e não há uma transmissão de conhecimento histórico explícita de que
16 os povos ocupantes pré-colonização já possuíam sua cultura, rela-
17 ções interpessoais e familiares definidas.
18 Consequentemente, essa superficialidade no sistema educa-
19 cional resulta na simples redução destes povos a termos estigmati-
20 zados que escapam de quem eles verdadeiramente são —
21 brasileiros nativos.
22 Por isso que eu digo que o principal passo a ser tomado em prol da valoriza-
23 ção das comunidades tradicionais é uma reforma gradual na educação e
24 dos materiais de ensino; instituições governamentais devem regularizar e
25 fiscalizar os métodos de ensino da história brasileira, termos desumanos
26 e escravagistas deverão ser abandonados. Corporações regulamentadoras do
27 ensino poderão criar progra-
28 mas, palestras e vídeos educacionais, direcionados a crianças, jovens e
29 adolescentes, com o intuito de transmitir a cultura e essência de nossos
30 povos tradicionais as futuras gerações.
COMENTÁRIOS:
O texto acima revela bom domínio da modalidade escrita formal da língua. Seus períodos
36 constituem-se de orações completas e sintaticamente bem estruturadas, sendo as ideias
transmitidas com clareza.
Na linha 9, a ausência de vírgulas para isolar a locução adverbial “nos povos não-tradicionais”
não constitui erro. As gramáticas não trazem uma orientação específica para o emprego de
vírgulas em termos adverbiais deslocados. Segundo Cunha & Cintra (2008: 660), quando
os adjuntos adverbiais são “de pequeno corpo”, costuma-se dispensar a vírgula. Quando
se pretende realçá-los, no entanto, a vírgula é obrigatória. Já Bechara (2009: 610) afirma
que, “em geral”, separam-se com vírgulas os adjuntos adverbiais que precedem o verbo.
Outros gramáticos dão orientações semelhantes a essas. Como se pode perceber, não há
uma orientação específica e única. E, conforme observamos anteriormente, só é tratada
como falha gramatical na redação do Enem aquilo que é consensual entre as gramáticas.
No entanto, para fins específicos de avaliação das redações do Enem, consideraremos
que há falha gramatical quando o adjunto adverbial deslocado for composto por quatro
palavras ou mais e não vier isolado por vírgula(s). No caso do texto ora analisado, o adjunto
adverbial é constituído por três palavras, apenas; logo, não há falha gramatical.
Há, no texto, dois desvios de convenção da escrita: ausência de acento agudo em “possuiam”,
na linha 16, e ausência de acento grave no “as” em “com o intuito de transmitir a cultura e
essência de nossos povos tradicionais as futuras gerações”, nas linhas 29-30. Por fim, há um
desvio de escolha de registro em razão do emprego de “Por isso que eu digo que”, na linha
22, que denota informalidade.
Esse texto não pode ser avaliado no nível 3 porque, em termos de estruturação sintática,
vai além do que se espera minimamente do texto de um aluno concluinte de Ensino
Médio, e não pode ser avaliado no nível 5 porque, além das duas falhas gramaticais,
apresenta mais de dois desvios: há dois desvios de convenção da escrita e um desvio de
escolha de registro.
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1 No filme “Avatar“, lançado em 2009, conta a história de um povo das matas, de cor azul
2 e originário daquela terra, onde tem se vivênciado diversos ataques de colonizadores em
3 busca de um metal raro que existe. Apesar dessa obra ser sobre alienigenas prote
4 gendo sua nacão contra os seres humanos, se faz alusão à luta dos povos tradicio-
5 nais, por defenderem sua casa, cultura e biodiversidade. No Brasil, é possível ver os
6 desafios das comunidades tradicionais para serem valorizadas e sua aceitação em
7 sociedade.
8 Primeiramente, deve se destacar o início dessa dificuldade valorização destes brasilei-
9 ros. A obra cinematográfica “Mulher Rei”, interpretada pela Viola Davis em 2022, é cita-
10 do a escravidão do Brasil, seja dos povos indígenas, africanos e ciganos, que aconteceu
11 por mais de 300 anos. Ainda no século XXI, encontra-se problemas para valorizar a im-
12 portância dos direitos humanos dessas comunidades. O acesso à saúde, educação e seu direito
13 de voto, não são administrados em locais mais afastados, se tornando precária
14 a situação onde vivem.
15 Ademais, a degradação das florestas e animais nacionais, afeta diversas familias indígenas
16 e quilombolas. A concentração dessa população é centrada na Amazônia, segundo o Ministério
17 Público Federal, onde desde 2017 vem sofrendo o aumento da desmatação na Floresta Amazôni-
18 ca, pelos estudos do Green Peace. Os residentes desse local tentam direcionar a atenção da
19 sociedade num geral, para o que acontece em sua terra natal e que tem afetado diretamen-
20 te a cultura, residências e agronômia consciênte dos povos tradicionais.
21 Portanto, através do ministério de Defesa dos Direitos Humanos e parceiros com orgãos
22 destinados aos brasileiros tradicionais, é necessário a encrementação de novos objetivos vias
23 de acesso aos direitos básicos da vida humana em cada comunidade isolada, organizando
24 um orçamento para o mesmo seja feito. O Ministério do Meio Ambiente deve fiscalizar
25 e agir rigidamente as reservas dedicadas à indigenas e quilombolas, que vem sido agre-
26 didas ilegalmente para fins lucrativos de grandes negócios. Se o governo não tratar
27 os povos originários brasileiros devidamente como pessoas, o reflexo será dos demais
28 não valorizando essas comunidades.
COMENTÁRIOS:
O texto apresenta domínio mediano da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
Como podemos observar, há alguns problemas em sua estruturação sintática, o que acaba
por afetar a clareza das ideias em certas passagens do texto.
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Esse texto não deve ser avaliado como de nível 4 porque apresenta problemas na
estruturação de certos períodos. Para ser avaliado no nível 4, os períodos do texto
devem apresentar, majoritariamente, orações completas e bem estruturadas. Também
não deve ser avaliado como de nível 2 devido à sua organização sintática, pois as
inadequações apontadas não comprometem a compreensão global das ideias.
Podemos dizer, ainda, que, no texto de nível 2, há pouca organização sintática, o que
não se verifica na redação analisada.
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1
2 Brasil e suas diversidades
3
4 Para ter um país que valoriza suas comunida-
5 des diversificada, cada um tem que saber respeitar
6 e saber sua importancia, porque cada um
7 tem o seu papel, para fazer o país gerar e estão
8 entre ligados, por exemplo a comunidade de
9 pescador, sem eles não teriamos opções de bons
10 peixes em nossos supermecados, para comprarmos.
11 Quando falamos de um país que valoriza
12 sua comunidade, estamos dizendo de condições basi-
13 cas a qualquer ser humano, que contribui e
14 respeite o proximo, a onde todos sai-
15 ba viver em uma grande comunida-
16 de.
17 É preciso inclusão as nossas comunidades
18 pois são elas que faz com que o
19 nossos amado Brasil seja unico e
20 cheio de diversidades maravilhosas.
COMENTÁRIOS:
O texto foi avaliado no nível 2 por demonstrar domínio insuficiente da modalidade escrita
formal da língua portuguesa. Apesar das poucas linhas escritas, o texto apresenta várias
falhas gramaticais, as quais estão relacionadas principalmente à estruturação sintática
ruim, que prejudica a transmissão clara das ideias.
Há muitos desvios de convenção da escrita: “importancia” (linha 6), “teriamos” (linha 9),
“supermecados” (linha 10), “basica” (linhas 12-13), “a onde” (linha 14). Há, ainda, um desvio
de escolha de registro: “entre ligados” (linha 8), dada a escolha inadequada de vocábulos
para a expressão das ideias.
41
COMENTÁRIOS:
O texto demonstra domínio insuficiente da modalidade escrita formal da língua portuguesa,
de forma sistemática, com frequentes falhas gramaticais e desvios de escolha de registro e
de convenção da escrita, o que prejudica bastante a compreensão das ideias. Notamos que
a estruturação sintática apresentada é bastante incipiente, com muitas falhas.
42
NÍVEL
Demonstra desconhecimento da modalidade escrita formal da língua portuguesa.
0
1 NOS A FORETA AZONICA NOSSA NATUZARA É
2 COTIMA BEM MAIS VALISOS BE REGONALIBEM
3 AVILIADOCOAS LOCAIS BE SETREGIAS NA PRATINDE
4 DOS LOCAIS RELATIVOS RELIVANS NAS NATUREZA
5 MAIS RELENATA COTNE MENTE NOSSO LOCAIS VIVER
6 ANO DE QUE VER NOREFERNTE AS PESSOAS SÃO
7 BEM NA MINHA PINÃO É MAIS ELEVADA A PORTEGE
8 A NOSSA NATURUZA PRODOTIVA NOSSO POVOS MAIS
9 NATIGO. NASA REGISÃO NO TERTE. OS PRIMEIROS
10 POVOS PISA NESA TERRA FORO INGINA SÃO
11 DORASÃO AS DEUS DA NATUREZA COMOS SE
12 NIMAIS SÃO BEM MAIS NATURAS COM NETA
13 AS FAMILHAS QUE VEM NES LOCAISDATERRA
14 COTOMES COMTINA NO DO DIADIA O ELES FASS.
15 AS SUA COMIDA COMOS BINOMA MAISALIANDOI
16 BEM ANIZADO COMTIMEIO SEU SITEMA MAIS BEM
17 VALIHOS I E MOITOS BEM PROTEGIDO DAS ELILOS
18 LOCAIS MACADAS COMA ILHABEMTERRA DAS
19 COMAS MACASÃO DE TERRA DE NITRITOS
20 ITIGINAS BEM MAIS PORTEGIDOTERRABEM
21 MAIS COLMISADO NO LOCAIS DE LOCAIS DE OHOJE DIA E
22 PESSOS AS DEPENDE DESASTERRAMAIS QUE
23 AS OUTRA PESSOSAS NO DIADIA MAIS QUE
24 COMANDADA NOSSA NAIULA É COIS A MAIS
25 BELAS DETODAS AS NATUZA ELA MAIS
26 BELAS NATUZA COMDASSIPESSOAS SÃO
27 COM SUA OUMANDA DA NATUZA ISOSO
28 NÃO SIFASIS OCOMO NOSA NATUZALOCIAL
29 COMSA QEMANDA NOS AVETUDESER ORMANHNO
30 OQERE ROMANHNO É MAIS OQRIANDO NESA TERA
COMENTÁRIOS:
A linguagem empregada revela desconhecimento da modalidade escrita formal da língua
portuguesa. Há graves e frequentes desvios gramaticais e de convenções da escrita: 43
ausência de pontuação para delimitar as orações e os períodos, truncamentos sintáticos,
Em textos desse nível (e também nos de nível 1), são, ainda, recorrentes os casos de
hipossegmentação e hipersegmentação, como, por exemplo, observamos nas linhas 6 e
14 (“noreferente” e “diadia”), em que há hipossegmentação, além de transcrição da fala.
Nos textos de nível 0, o que encontramos, muitas vezes, é um “aglomerado de palavras”, que
não constitui uma unidade textual coesa nem mesmo clara. Conforme já mencionamos,
em um texto de nível 0, parece claro que o processo de alfabetização de quem o escreveu
não foi concluído.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para auxiliar o trabalho de correção dos avaliadores do Enem, neste artigo, tecemos
comentários gerais acerca da Competência I e de seus diferentes níveis de avaliação. Depois
disso, apresentamos como são avaliadas as redações do Enem a partir do que a Matriz de
Referência descreve relativamente à avaliação do domínio da modalidade escrita formal da
língua portuguesa. Apresentamos uma redação de cada um dos níveis da Competência I e
fazemos comentários acerca da avaliação feita, do nível 5 ao nível 0. Dessa maneira, vimos
que a avaliação da redação, no que diz respeito à Competência I, é feita com base nas
estruturas gramaticais apresentadas no texto, o que tem reflexos diretos na estruturação
dos períodos e na clareza das ideias veiculadas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de R. “A avaliação do domínio da língua portuguesa no ENEM e a diversidade do português
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Lucília Helena do Carmo Garcez, Vilma Reche Corrêa, organizadoras. Brasília: Cebraspe, 2016a.
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POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras;
Associação de Leitura do Brasil, 2000.
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