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Demonstrações

Financeiras Básicas
Material Teórico
A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Alexandre Saramelli

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin
A Demonstração de Lucros ou
Prejuízos Acumulados (DLPA)

• Introdução;

• Objetivo;

• Reserva Legal;

• Retenção de lucros;

• Demonstraçâo das Mutações do Patrimônio Líquido.

· Nesta Unidade, iremos estudar a DLPA e a DMPL, demonstrações


muito importantes para indicar as decisões da administração da
empresa quanto ao capital e patrimônio líquido.
· Os investidores e usuários da contabilidade têm sempre muito
interesse em entender como a administração está se dando com
o capital. Então, estas duas demonstrações (às vezes uma só,
porque a DLPA está “embutida” na DMPL), que nem sempre
recebem a atenção que merecem, trazem muitas informações.

Nesta Unidade, iremos estudar as Demonstrações que auxiliam os usuários a entenderem as


ações da administração quanto ao capital e ao patrimônio líquido.
Para bem entender a DLPA e a DMPL, a orientação é se colocar no lugar de um investidor
e questionar a empresa.
Conheça o que representa uma DLPA, uma DMPL.

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Unidade: A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

Contextualização

São quase 18h no departamento de RI (Relações com Investidores). A Analista de RI Madalena


Kiwi conversa com a Dona Nair, que representa sozinha 10% das ações da empresa.

Madalena Kiwi
(Um tanto cansada, após uma conversa que já dura cerca de 10 minutos ao telefone).

Isso mesmo, Dona Nair. Por uma decisão da Assembleia Geral Ordinária,
este ano iremos distribuir menos de dividendos do que o tradicional.

Dona Nair
(Ainda preocupada)
Então você me garante que a empresa não está enfrentando dificuldades?

Madalena Kiwi
(Compreensiva)
Claro! Não está em dificuldades; ao contrário, nunca esteve tão forte! Mas é inegável
que está enfrentando uma concorrência ferrenha com a Alemanha e a China.
Se não for construída uma nova fábrica ainda no próximo ano, aí sim, teremos
problemas. Mas fique tranquila, a empresa é sólida e nunca deixou de distribuir
dividendos, apenas este ano vai distribuir um pouco menos.

Dona Nair
(Um pouco mais tranquila, mas ainda afoita e desconfiada).
Tá bom, meu bem, me desculpa, acho que fui meio inconveniente. Mas é
que eu tinha planos para os dividendos que a gente iria receber. Sabe! Desde
a época que meu marido investiu em vocês, vocês nunca, nunca, nunca
deixaram de pagar dividendos muito bons para a gente!

Madalena Kiwi
(Finalizando a conversa, mostrando real confiança. Não estava mentindo, falava a
verdade para a Dona Nair, mas tinha medo que ela entendesse errado).
Eu entendo Dona Nair! Fique tranquila. Olha, vou mandar para a senhora
as últimas demonstrações contábeis e a DMPL. Assim que receber, me ligue,
que eu vou explicar tudo direitinho para a senhora. Vai ver que dá orgulho
investir nesta empresa. E eu tenho orgulho em trabalhar aqui!

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Introdução

Segundo Perosa e David (2014), baseados em CRC RS (2010, p.60), a DLPA (Demonstração
dos Lucros e Prejuízos Acumulados): “é um relatório contábil destinado a evidenciar, num
determinado momento, as mutações ocorridas nos resultados acumulados da organização”.

Essas mutações devem ser apresentadas nos seguintes itens:


a. Lucros ou prejuízos acumulados no início do período contábil;
b. Dividendos ou outras formas de lucro declarados e pagos ou a pagar durante o período;
c. Ajustes nos lucros ou prejuízos acumulados em razão de correção de erros de
períodos anteriores;
d. Ajustes nos lucros ou prejuízos acumulados em razão de mudanças de práticas contábeis;
e. Lucros ou prejuízos acumulados ao fim do período contábil.

A DLPA é obrigatória para todas as entidades, incluindo as Pequenas e Médias Empresas (PME),
sendo que não é obrigatória para as Micro empresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP).

Devem ser elaboradas conforme estabelecem as Leis 6.404/76 e 11.638/07, artigos 176 e
186, e de acordo com os princípios fundamentais da contabilidade, em especial o da entidade,
que afirma a autonomia patrimonial.

Na realidade, essa é uma das características da convergência contábil às Normas Internacionais


de Contabilidade, o que se torna obrigatório é outra demonstração (que iremos estudar na
próxima Unidade), que é a DMPL, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, mas
essa demonstração tem a DLPA “embutida”.

Perosa e David (2014) nos explicam que Costa (2010, p. 75) diz que a DLPA pode ser
substituída pela Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL), já que a Lei n.º
11.638/2007, quando estabelece os componentes do Patrimônio Líquido, no artigo 178 (item
d), não descreve a existência da conta Lucros Acumulados, somente aparecendo a conta Preju-
ízos Acumulados.

Assim explica Costa (2010, p. 75):


Na verdade, a DLPA é parte da DMPL, pois esta última tem como objetivo evi-
denciar as transformações em todas as contas do Patrimônio Líquido ocorridas
entre dois períodos. Como Lucros ou Prejuízos Acumulados se referem ao Patri-
mônio Líquido, estão incorporados na DMPL. (COSTA, 2010, p.75)

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Unidade: A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

É interessante, então, para o nosso estudo, verificar o que Brasil (2007), Lei 11.638/07 expõe
sobre essas demonstrações:

Seção II
Disposições gerais
Art. 176. Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com
base na escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações
financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da
companhia e as mutações ocorridas no exercício:

I. Balanço Patrimonial;
II.demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados;
III.
demonstração do resultado do exercício;
IV.demonstração dos fluxos de caixa (redação dada pela lei no 11.638,
de 2007);
V. se companhia aberta, demonstração do valor adicionado (incluído
pela lei no 11.638, de 2007).

Seção IV
Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados
Art. 186. A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados discriminará:

I. o saldo do início do período, os ajustes de exercício anteriores e a


correção monetária do saldo inicial;
I. as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício;
I. as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros
incorporada ao capital e o saldo ao fim do período.
§ Parágrafo 1º. Como ajustes de exercícios anteriores serão considerados
apenas os decorrentes de efeitos da mudança de critério contábil, ou da
retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que não
possam ser atribuídos a fatos subsequentes.
§ Parágrafo 2º. A demonstração de lucros ou prejuízos acumulados deverá
indicar o montante do dividendo por ação do capital social e poderá ser
incluída na demonstração das mutações do patrimônio líquido, se elaborada
e publicada pela companhia.

Objetivo

A DLPA torna evidente a movimentação da conta lucros ou prejuízos acumulados ocorrida no


período. Para isso, apresenta os elementos que provocaram modificações para mais ou menos
no saldo da conta lucros ou prejuízos acumulados.

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O saldo inicial da DLPA reflete o saldo dessa conta no início do exercício, que deve ser
exatamente o mesmo saldo que estiver no Balanço Patrimonial e, por meio de ajustes, acréscimos
e subtrações, chega-se ao saldo final, que aparece no Balanço Patrimonial.

A seguir, veremos a estrutura básica da DLPA.

Estrutura da Demonstraçãode Lucros ou Prejuízos Acumulados


(DLPA)
A Estrutura da DLPA, conforme o artigo 186 da Lei das Sociedades Anônimas, é demonstrada
na tabela a seguir.

Tabela. Estrutura da DLPA.


Estrutura da demonstração de lucros e prejuízos acumulados (DLPA)

Valor
Saldo inicial de lucro (prejuízo) acumulado em 31/12/20X6
(+) Ajustes de exercícios anteriores
(=) Saldo ajustado
(+) Reversão de reservas:
• reservas para contingências
• reservas de lucros a realizar
(-) Destinação durante o exercício:
• dividendos intermediários
• capitalização de lucros acumulados
+ Lucro (prejuízo) líquido do exercício
(=) Saldo à disposição da assembleia
(-) Destinações:
• reservas de lucros
• dividendos obrigatórios
(=) Saldo final do período em 31/12/20X7
Dividendos por ações
Fonte: Lei 11.638/07, Art. 186.

A seguir, estudaremos os componentes dessa estrutura.

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Unidade: A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

Saldo inicial do período


Sempre na primeira linha, expõe-se o saldo da conta lucros ou prejuízos acumulados,
constante do Balanço Patrimonial anterior.

Ajustes de exercícios anteriores


Quando as demonstrações financeiras de um exercício social são finalizadas e publicadas
(nas empresas nas quais a publicação ao público for exigida) considerando o princípio contábil
da competência e a convenção da consistência, e de acordo, também, com nossa legislação, o
lucro líquido do exercício não deve ser influenciado por valores oriundos de outros exercícios.
Assim, segundo Brasil (1976), a Lei das Sociedades Anônimas estabelece que: “(...) como
ajustes de exercícios anteriores serão considerados apenas os decorrentes de efeitos da mudança
de critério contábil, ou de retificação de erro imputável a determinado exercício anterior, e que
não possam ser atribuídos a fatos subsequentes”.
Entende-se, então, que existem basicamente duas situações que podem originar ajustes de
exercícios anteriores:
» mudança de critério contábil; e
» retificação de erro de exercício anterior.

Vamos estudar mais detalhes essas duas situações

I. Mudança de critério contábil


» avaliação de estoque: passa de PEPS para MPM;
» regime de contabilidade: passa de regime de caixa para o regime de competência;
» avaliação e investimentos: passa do método de custo para o de equivalência patrimonial.

Observações
PEPS é um controle de estoques no qual os valores das mercadorias são considerados
numa ordem em que “o primeiro que entra, será o primeiro que sai”. Assim, se uma
empresa compra um lote de 5.000 televisores a R$ 1.000,00 a unidade e depois compra o
mesmo modelo de televisor em um lote de 2.000 televisores a R$ 1.200,00, os primeiros
cinco mil televisores a serem vendidos serão avaliados em R$ 1.000,00 e somente depois
em R$ 1.200,00.
Já na MPM (Média ponderada móvel), costuma-se realizar uma média dos valores das
mercadorias. Não é muito comum a mudança de critério, mas pode ocorrer caso os gestores
e o contador decidam que a mudança é benéfica em algum momento.

II. Retificação de erro de exercício anterior


» erro no cálculo do valor da depreciação;
» erro no cálculo do imposto de renda ou falha na interpretação da legislação.

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Observações
Essas situações, nas quais há um erro no cálculo da depreciação e/ou um erro no cálculo do
imposto de renda, devem ser evitadas, até porque geram desconfiança sobre a correção e a lisura
dos processos. Mas são comuns, ocorrem no cotidiano das empresas com certa frequência.

Destinações do lucro do exercício


As destinações compreendem situações nas quais o lucro (se houver) é destinado a deter-
minadas situações, estabelecidas pela legislação, pelo estatuto social da empresa e/ou por uma
decisão dos sócios e/ou acionistas da entidade.
Até o ano de 2007, entendia-se que se uma entidade obteve lucro, esse lucro poderia ser
acumulado de um exercício social para o outro. Com a Lei 11.638/07 e a convergência às
Normas Internacionais de Contabilidade, esse entendimento foi modificado.
Entende-se agora que não se deve acumular lucros; se houver lucro, esse deve ser destinado,
transferido a alguma reserva ou distribuído entre os acionistas ou sócios.
Entende-se que apenas os prejuízos podem ser acumulados de um exercício social para o
outro porque no caso de prejuízos, a intenção é a de que venham a ser recuperados no futuro
com lucros.

Observação
É muito comum, por exemplo, que uma empresa em início de operações apresente prejuízo
e, com o passar dos anos, venha a obter lucros.

Assim, essas destinações são a formação ou reforços das chamadas “reservas de lucros”.
Pode haver transferências de parcelas de lucro para a constituição ou reforço de reservas de
acordo com as disposições estatutárias e com a proposta da administração para a destinação
do lucro, a que deverá ser contabilizada pressupondo a sua aprovação pela Assembleia Geral.
Com essa aprovação, a contabilização das reservas de lucros é efetuada a débito na conta
lucros (ou seja, diminui a conta lucros) e a crédito da conta reserva de lucro, que estará sendo
em constituição.

A seguir, um exemplo:

D – Lucros
C – Reservas de lucros

Iremos estudar, rapidamente, cada uma dessas reservas, que são as seguintes:
1. reserva legal;
2. reservas estatutárias;
3. reservas para contingências;
4. reserva de incentivos fiscais;
5. retenção de lucros;
6. reservas de lucros a realizar.

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Unidade: A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

Reserva Legal
O objetivo da reserva legal é manter a integralidade de capital social e somente pode ser
usada para compensar prejuízos ou aumentar o capital.

Segundo Brasil (1976), a Lei 6.404/76, no Artigo 193 determina:


Do lucro liquido do exercício, 5% (cinco por cento) serão aplicados, antes de
qualquer outra destinação, na constituição da reserva legal, que não excederá
20% (vinte por cento) do capital social.
§ Parágrafo 1º. A companhia poderá deixar de constituir a reserva legal no
exercício em que o saldo dessa reserva acrescido do montante das reservas
de capital de que trata o parágrafo 1º. do art. 182, exceder de 30% (trinta por
cento) do capital social.

Assim, para a constituição da reserva legal temos de prestar atenção a dois limites:
a. limite obrigatório: o saldo da conta reserva legal não deve ultrapassar 20% do capital
social realizado;
b. limite facultativo: a reserva legal poderá deixar de ser constituída no período em que seu
saldo, somado ao das reservas de capital, ultrapassar 30% do valor do capital social realizado.

Reservas estatutárias
As reservas estatutárias são reservas facultativas, porém, uma vez previstas no Estatuto,
obrigam a empresa a constituí-las. O artigo 194 da Lei das Sociedades Anônimas estabelece
que o estatuto poderá criar reservas desde que, para cada uma:

I. indique, de modo preciso e completo, a sua finalidade;


II. fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão destinados
à sua constituição;
III. estabeleça o limite máximo de reserva.

Reservas para contingências


O objetivo das reservas de contingências é o de compensar, num período futuro, a
diminuição de perda provável, cujo valor possa ser estimado, mas não há obrigação em se
constituir essa reserva.

Observação
Imaginemos que uma empresa produz doces e se sabe que, por conta de condições
climáticas, a próxima safra não terá a qualidade necessária para a fabricação da quantidade
planejada de doces. O contador dessa entidade poderá, então, estimar o valor do prejuízo
que será auferido no próximo exercício social e realizar uma reserva para contingências

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A base legal a constituição dessa reserva é o Artigo 195 da Lei das Sociedades Anônimas:

Diálogo com o Autor


A Assembleia Geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, destinar parte do
lucro líquido à formação de reserva com a finalidade de compensar, em exercícios futuros, a
diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado.
§Parágrafo 1º. A proposta dos órgãos da administração deverá indicar a causa da perda prevista e justificar,
com as razões de prudência que a recomendem, a constituição da reserva.
§Parágrafo 2º. A reserva será revertida no exercício em que deixarem de existir as razões que justificarem a
sua constituição ou em que ocorrer a perda.

Observação
Em contabilidade, a palavra contingência significa algo incerto, que gera dúvidas sobre a
maneira de ser tratado adequadamente.

Reserva de incentivos fiscais


Foi instituída, de acordo com Brasil (2007), pela Lei no. 11.638 e tem base legal para sua
constituição no artigo 195-A:

Art. 195 -A. A Assembleia Geral poderá, por proposta dos orgãos de administração,
destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente
de doações ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser
excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório.

Na hipótese de uma entidade receber R$ 5.000.000,00 a título de subversões governamentais


para investimentos , o registro desse fato no livro diário seria:

D – Lucros...................................... 5.000.000,00
C – Reserva de incentivos fiscais..... 5.000.000,00

Retenção de lucros

Também conhecida como “reserva de bens para expansão”, “reserva para investimentos”
ou ainda “reserva orçamentária”, a proposta é destinar parte dos lucros para a expansão das
atividades da entidade.

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Unidade: A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

De acordo com o artigo 196, da lei societária:

Art. 196. A Assembleia geral poderá, por proposta dos orgãos da administração,
deliberar reter parcela do lucro líquido do exercício prevista em orçamento de
capital por ela previamente aprovado.
§ Parágrafo 1º. O orçamento, submetido pelos orgãos da administração com a
justificação da retenção de lucros proposta, deverá compreender todas as fontes
de recursos e aplicações de capital, fixo ou circulante, e poderá ter a duração de
ate 5 (cinco) exercícios, salvo no caso de execução, por prazo maior, de projeto
de investimento.
Parágrafo 2º. O orçamento poderá ser aprovado pela Assembleia Geral
Ordinária que deliberar sobre o balanço do exercício e revisado anualmente,
quando tiver duração superior a um exercício social.

Observação
O orçamento de capital, citado na lei, prevê o quanto a sociedade irá destinar para aplicação
em imobilização, novos investimentos, expansões etc.
Essa reserva também não pode ser constituída em detrimento da distribuição de dividendos,
e o seu limite não pode ultrapassar o capital social, aplicando-se a ela o disposto nos artigos
198 e 199 da Lei das Sociedades Anônimas.

Reserva de lucro a realizar


É possível que uma parcela de lucro se refira a ganhos ainda não realizados financeiramente,
se levarmos em conta o regime de competência e as vendas a longo prazo,.
Assim, torna-se necessário, nesses casos, a constituição de uma Reserva de lucro a realizar.
O Artigo 197 expressa o fundamento legal para a constituição da reserva de lucros a realizar:

Diálogo com o Autor


Art. 197. No exercício em que o montante do dividendo obrigatório, calculado nos termos
do estatuto ou do art. 202, ultrapassar a parcela realizada do lucro líquido do exercício, a
Assembleia Geral poderá, por proposta dos orgãos de administração, destinar o excesso da constituição de
reservas de lucros a realizar.
§ Parágrafo 1º. Para efeitos deste artigo, considera-se realizada a parcela do lucro líquido do exercício que
exceder da soma dos seguintes valores:
I. o resultado líquido positivo da equivalência patrimonial;
II. o lucro, rendimento ou ganho líquido em operações ou contabilização de ativo e passivo pelo valor
de mercado, cujo prazo de realização financeira ocorre apos o termino do exercício social seguinte.
§ Parágrafo 2º. A reserva de lucros a realizar somente poderá ser utilizada para pagamento do dividendo
obrigatório e, para efeito do inciso III do art. 202, serão considerados como integrantes da reserva os lucros
a realizar de cada exercício que foram os primeiros a serem realizados em dinheiro.

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Além das reservas, uma destinação muito importante e que devemos estudar são os dividen-
dos, que são a razão de muitos investidores manterem ações de uma determinada empresa. Eles
estão interessados nos dividendos.

Dividendos
Os dividendos são a parte dos lucros que se destina aos acionistas da empresa e devem
ser contabilizados no próprio exercício, o que significa um débito na conta lucros ou prejuízos
acumulados (LPA), e um crédito a dividendos propostos, até a aprovação da Assembleia Geral,
quando deverá ser transferido para a conta dividendos a pagar. Dessa forma, teremos os
seguintes lançamentos contábeis:

a. Pelo calculo do dividendo proposto a Assembleia Geral:


D – Lucros ou prejuízos acumulados
C – Dividendos propostos

b. Com a aprovação da Assembleia Geral, o dividendo proposto passa a ser obrigação da empresa.
Nesse caso, o lançamento contábil será:
D – Dividendos propostos
C – Dividendos a pagar

c. Quando do pagamento efetivo do dividendo:


D – Dividendos a pagar
C – Banco conta movimento

Os dividendos são descritos nos artigos 201 e 202 da Lei das Sociedades Anônimas:

Diálogo com o Autor


Seção III
Dividendos
Origem

Art. 201. A companhia somente pode pagar dividendos a conta de lucro líquido do exercício, de lucros
acumulados e de reserva de lucros; e a conta de reserva de capital, no caso das ações preferenciais de que
trata o § 5º. do art. 17. Parágrafo 1º. A distribuição de dividendos com inobservância do disposto neste
artigo implica responsabilidade solidária dos administradores e fiscais, que deverão repor a caixa social a
importância distribuída, sem prejuízos da ação penal que no caso couber.
Parágrafo 2º. Os acionistas não são obrigados a restituir os dividendos que em boa-fé tenham recebido.
Presume-se a má-fé quando os dividendos forem distribuídos sem o levantamento do balanço ou em
desacordo com os resultados deste.

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Unidade: A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

Dividendo obrigatório
Art. 202. Os acionistas tem direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela
dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância determinada de acordo com as
seguintes normas (Redação dada pela lei no 10.303, de 2001):
I – metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores (redação dada pela
lei no 10.303, de 2001):
a. importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e (incluída pela Lei no 10.303, de 2001);
b. importância destinada a formação da reserva para contingências (art. 195) e reversão da mesma
reserva formada em exercícios anteriores (incluída pela lei no 10.303, de 2001);
II – o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser limitado ao montante do
lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, desde que a diferença seja registrada como reserva
de lucros a realizar (art. 197) (redação dada pela lei no 10.303, de 2001):
» os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não tiverem sido absorvidos
por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado
após a realização (redação dada pela lei no 10.303, de 2001).
Parágrafo 1º. O estatuto poderá estabelecer o dividendo como porcentagem do lucro ou do capital social, ou
fixar outros critérios para determiná-lo, desde que sejam regulados com precisão e minúcia e não sujeitem
os acionistas minoritários ao arbítrio dos orgãos de administração ou da maioria.
§ Parágrafo 2º. Quando o estatuto for omisso e a Assembleia Geral deliberar alterá-lo para introduzir norma
sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e cinco por cento) do lucro
líquido ajustado nos termos do inciso do deste artigo (Redação dada pela lei no 10.303, de 2001).
§ Parágrafo 3º. A Assembleia Geral pode, desde que não haja oposição de qualquer acionista presente,
deliberar a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório, nos termos deste artigo, ou retenção de todo o
lucro líquido, nas seguintes sociedades (redação dada pela lei no 10.303, de 2001):
I. companhias abertas exclusivamente para a captação de recursos por debêntures não conversíveis em
ações (incluído pela lei no 10.303, de 2001).
Parágrafo 4º. O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no exercício social em que os orgãos da
administração informarem a Assembleia Geral ordinária ser ele incompatível com a situação financeira da
companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, deverá dar parecer sobre essa informação e, na companhia
aberta, seus administradores encaminharão a Comissão de Valores Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da
realização da Assembleia Geral, exposição justificativa da informação transmitida à Assembleia.
§ Parágrafo 5º. Os lucros que deixarem de ser distribuídos nos termos do § 4º. serão registrados como
reserva especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser pagos como
dividendo assim que o permitir a situação financeira da companhia.
§ Parágrafo 6º. Os lucros não destinados nos termos dos arts. 193 a 197 deverão ser distribuídos como
dividendos (incluídos pela lei no 10.303, de 2001).

Observação
Os debêntures recebem todo um cuidado, porque se entende que erros no cálculo e
manobras indevidas comprometem toda a credibilidade do mercado acionário.

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De acordo com o artigo 202, a interpretação a ser dada à palavra lucro deve ser a de “lucro
ajustado”. Dessa forma, deve-se calcular o dividendo sobre o lucro ajustado, que é sempre a
sua base de cálculo.

É necessário observar, principalmente, se o estatuto estabelece o percentual do dividendo.


Em caso afirmativo, esse deverá ser o percentual aplicado sobre o lucro ajustado. Porém, se
não houver percentual do dividendo, isto é, quando o estatuto for omisso, o percentual a ser
aplicado sobre o lucro ajustado e de 50%.

O lucro ajustado pode ser determinado de acordo com a tabela a seguir.

Tabela - Cálculo do lucro ajustado.


(-) Reserva legal
(-) Reserva para contingência
(+) Reversão de reserva para contingência
= Lucro ajustado.
Fonte: Lei 6.404/76.

Demonstraçâo das Mutações do Patrimônio Líquido

Martins, Miranda e Diniz (2014, p.48) comentam que a DMPL é uma demonstração “bastante útil,
pois possibilita ao analista, ou usuário das demonstrações contábeis, conhecer toda a movimentação
ocorrida nas diversas contas do Patrimônio Líquido durante o exercício”. Eles completam, comentando
que “trata-se portanto, de informações que complementam as demais demonstrações, notadamente
o Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício.

Indo ao encontro de Perosa e David (2014), que comentaram que a demonstração de


lucros ou prejuízos acumulados poderá ser substituída pela demonstração das mutações do
patrimônio líquido, Martins, Miranda e Diniz (2014, p.48) dizem o mesmo, sendo que esses
autores complementam citando o CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis.

A DMPL é mais completa, traz mais informações sobre a movimentação do Patrimônio


Líquido, por isso, foi escolhida como obrigatória para apresentação.

Operações que movimentam as contas patrimoniais


Martins, Miranda e Diniz (2014, p.49) explicam quais as operações que movimentam as contas
patrimoniais, baseando-se no trabalho de Assaf Neto (2010), que classificou as movimentações
que afetam o Patrimônio Líquido em três grupos, conforme tabela a seguir:

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Unidade: A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

Tabela. Movimentações que afetam o Patrimônio Líquido.


a) Movimentações que elevam o Patrimônio Líquido:
Lucro líquido do exercício; aumento de capital por subscrição e integralização de novas ações; ágio
cobrado na subscrição de ações e prêmios para debêntures etc.

b) Movimentações que diminuem o Patrimônio Líquido:


Prejuízo líquido do exercício; aquisição de ações da própria sociedade (ações em tesouraria);
dividendos etc.

c) Movimentações que não afetam o Patrimônio Líquido:


Aumento de capital por incorporação de reservas; apropriação do lucro líquido da conta de
lucros ou prejuízos acumulados para outras reservas; compensação de prejuízos através de
reservas, etc.
Fonte: Assaf Neto (2010).

Uma característica do Patrimônio Líquido é o de não ter suas contas movimentadas com
frequência. A conta Capital Social, por exemplo, raramente é movimentada e quando o é,
depende de alterações nos contratos sociais. Bem diferente do Ativo Circulante ou mesmo do
Passivo Circulante, que tem uma movimentação frenética.
O CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, traz as seguintes orientações sobre
como a DMPL deve ser elaborada:

Diálogo com o Autor


106A. Para cada componente do patrimônio líquido, a entidade deve apresentar, ou na
demonstração das mutações do patrimônio líquido ou nas notas explicativas, uma análise dos
outros resultados abrangentes por item (ver item 106 (d)(ii)).
106B. O patrimônio líquido deve apresentar o capital social, as reservas de capital, os ajustes de avaliação
patrimonial, as reservas de lucros, as ações ou quotas em tesouraria, os prejuízos acumulados, se legalmente
admitidos os lucros acumulados e as demais contas exigidas pelos Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo CPC.
107. A entidade deve apresentar, na demonstração das mutações do patrimônio líquido ou nas notas
explicativas, o montante de dividendos reconhecidos como distribuição aos proprietários durante o período
e o respectivo montante dos dividendos por ação.
108. Os componentes do patrimônio líquido referidos no item 106 incluem, por exemplo, cada classe de
capital integralizado, o saldo acumulado de cada classe do resultado abrangente e a reserva de lucros retidos.
109. As alterações no patrimônio líquido da entidade entre duas datas de balanço devem refletir o aumento
ou a redução nos seus ativos líquidos durante o período. Com a exceção das alterações resultantes de
transações com os proprietários agindo na sua capacidade de detentores de capital próprio (tais como
integralizações de capital, reaquisições de instrumentos de capital próprio da entidade e distribuição de
dividendos) e dos custos de transação diretamente relacionados com tais transações, a alteração global no
patrimônio líquido durante um período representa o montante total líquido de receitas e despesas, incluindo
ganhos e perdas, gerado pelas atividades da entidade durante esse período

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Forma e Modelo de Apresentaçãode DMPL
A preparação da demonstração das mutações do patrimônio líquido não traz maiores dificuldades
porque se trata da simples transcrição, de forma ordenada, do movimento das contas.
A apresentação, normalmente, é feita em quadro demonstrativo de dupla entrada,
representando as contas nas colunas e as transações nas linhas.
O CPC 26 traz um modelo completo de DMPL, que é exposto a seguir.
Esse modelo traz, inclusive, uma evidenciação dos outros resultados abrangentes e da
demonstração do resultado abrangente, que serão estudadas em outras disciplinas.

Quadro. Modelo de DMPL.

Fonte: CPC 26.

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Unidade: A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)

Material Complementar

Como material que irá ajudar no aprofundamento dos estudos, indicamos a leitura do artigo abaixo.
Destinação Dos Lucros Após Lei 11.638/07: um estudo multicaso das empresas do setor de
Tecnologia de Informação, sub-setor Computadores e Equipamentos.

Resumo
A Lei 11.638 promulgada em 28 de Dezembro de 2007 trouxe alterações significativas para
a Contabilidade. Entre elas, destaca-se a destinação integral do lucro do exercício, a qual torna a
conta lucros acumulados uma conta transitória usada para a transferência do lucro apurado do
exercício. Neste contexto, o estudo busca responder: Após a reforma societária, Lei 11.638/07,
de que forma as empresas do setor de Tecnologia de Informação, sub-setor Computadores e
Equipamentos, estão alocando seus resultados positivos? Este estudo tem como objetivo verificar
de que forma estas empresas estão destinando seus resultados positivos, após Lei 11.638/07, a qual
torna obrigatória a destinação total dos Lucros. O estudo, considerando as suas particularidades,
é exploratório quanto aos objetivos de pesquisa, com abordagem exploratória. Foi realizado
um estudo multi caso com base nas demonstrações disponíveis no site da BOVESPA, o que
caracteriza uma coleta documental quanto à técnica para a coleta de dados. Após a análise
e interpretação dos dados, obteve-se como resultado que todas as empresas analisadas neste
estudo estão destinando seus resultados positivos após a referida Lei, mas que as mesmas não
conseguem esclarecer de forma objetiva e clara onde alocaram seus saldos positivos da conta
Lucro ou Prejuízos Acumulados. Conclui-se que as Notas Explicativas têm-se uma linguagem
excessivamente técnica e não esclarecem de forma objetiva as informações adicionais para a
interpretação das demonstrações contábeis das empresas conforme solicita a lei contábil.
Palavras - chave: Lucros Acumulados; Reservas de Lucros; Dividendos.
Arquivo disponível em: https://bit.ly/3n11Ftb

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Referências

BRASIL. Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal relativa ao
parcelamento ordinário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que específica.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11941.htm>.
Acesso em: 1 jul. 2014

______. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei nº


6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende
às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstra-
ções financeiras. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/
lei/l11638.htm>. Acesso em: 1 jul. 2014

______. Lei nº 6.404/76, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 1 jul. 2014

Comitê de pronunciamentos contábeis (Brasília) (org.). Pronunciamento conceitual básico


(r1) estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. 2011.
Disponível em: <http://www.cpc.org.br/Arquivos/Documentos/147_CPC00_R1.pdf>. Acesso
em: 1 jul. 2014 Comitê de pronunciamentos contábeis (Brasília) (org.). Pronunciamento 26
(R1) Apresentação das demonstrações contábeis. 2011. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/
Arquivos/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2003.pdf>. Acesso em: 01 jul. 2014

MARTINS, E.; MIRANDA, G. J.; DINIZ, J. A. Análise didática das demonstrações contá-
beis. São Paulo: Atlas, 2013. 252 p.

PEROSA, Cristiane; DAVID, Carine. A influência da análise das demonstrações contábeis no


processo gerencial. Revista científica fazer, Erechim - Rs, v. 1, n. 3, p.23-40, 30 jun. 2014.
Semestral. Disponível em: <http://www.faers.com.br/uploads/revista_fazer/e2aad3fbe3b7582d
20c4e5def1cfc180.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2014

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