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Veja as principais alterações da Lei 11638/2007

Marcus Vinicius Derito Greco

Mestrando em Gestão Empresarial no módulo internacional (EBAPE)/Fundação Getúlio Vargas; graduado em


Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)e Ciências Contábeis pela
Univercidade do Rio de Janeiro; conduziu projetos de consultoria organizacional e financeira para empresas de
grande porte, foi auditor externo na Price Water House Coopers, foi professor no departamento de Contabilidade da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); foi professor do FGV Business – Curso de Pós-Graduação em
Controladoria e Finanças na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro; foi coordenador do departamento de
treinamento e formação profissional dos auditores da Price Water House Coopers nível nacional. É professor na
COAD nos treinamentos de Contabilidade Geral e Alterações na Lei 6.404/76.

Introdução

A Lei nº 11.638/2007 produziu importantes alterações de aplicação imediata no


exercício de 2008, em linha com os padrões contábeis internacionais, além de
estabelecer para a CVM o poder/dever de emitir normas para as companhias
abertas em consonância com esses padrões internacionais. Em função do disposto
no § 5º do artigo 177 adicionado pela Lei nº 11.638/2007, as normas contábeis
emitidas pela CVM deverão estar obrigatoriamente em consonância com os
padrões contábeis internacionais adotados nos principais mercados de valores
mobiliários, ou seja, de acordo com as normas emitidas pelo International
Accounting Standards Board (IASB), que é hoje considerado como a referência
internacional dos padrões de contabilidade. Cabe dizer que a CVM através da
Deliberação 539/2008 aprovou a Estrutura Conceitual divulgada pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis, absolutamente em linha com o Conceptual
Structural Framework elaborado pelo IASB; orientado por conceitos de
julgamentos profissionais em ambiente Common Law.

A nova lei também faculta às companhias fechadas a adoção das normas


expedidas pela CVM para as companhias abertas, facilitando o processo de
convergência contábil para essas companhias (artigo 177, § 6º).

Neste trabalho estão apresentadas as principais alterações promovidas pela Lei nº


11.638/2007; e basea-se nas considerações e interpretação da CVM em seu
Comunicado ao Mercado de 14 de janeiro de 2008 e, complementarmente,
fundamentação técnica e teórica em Standards Internacionais (IASB).

A leitura dos itens a seguir deve ser efetuada como elemento que possa ajudar a
analisar as bases textuais da Lei. Porém, as orientações de estudo aqui emitidas
não devem ser consideradas como qualquer tipo de “orientação técnica”; não
podemos esquecer que as mudanças promovidas exigem maior arcabouço
normativo e este sim poderá exercer a função de efetiva “orientação técnica”.
Escrituração Mercantil

A Lei cria a possibilidade para a companhia adotar na sua escrituração mercantil,


e não apenas em livros auxiliares, as disposições da lei tributária, desde que, em
seguida, depois de apurado o lucro base para tributação, sejam efetuados os
ajustes necessários para que as demonstrações financeiras estejam em
consonância com a Lei das S.A. e os princípios fundamentais de contabilidade.
Muitos já vêm dando nome a este procedimento de “LALUC-Livro de Apuração do
Lucro Contábil”, mas devemos entender que, evidentemente, ainda não há
nenhuma previsão regulatória, é necessário aguardar. É importante salientar que
as demonstrações deverão ainda ser objeto de auditoria por auditor
independente registrado na CVM (artigo 177, § 2º, II), assegurando a neutralidade
fiscal dos ajustes, exclusivamente para harmonização (artigo 177, § 7º).

Demonstrações Financeiras

Demonstração do Fluxo de Caixa

Buscando ênfase na maximização da apresentação e divulgação da geração de


caixa conceitual, há a substituição da Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) (artigo 176, IV).
No primeiro exercício social, a DFC pode ser divulgada sem indicação dos valores
referentes ao ano anterior, liberalidade que a CVM entende não deva ser adotada
pelas companhias que já vem divulgando a DFC normalmente.

Embora, existam diferenças de evidenciação entre os métodos de apresentação


da DFC, método direto e método indireto, não há qualquer recomendação de
ordem normativa que exija a adoção de um em detrimento do outro.

Para as companhias fechadas, cujo patrimônio líquido na data do balanço seja


inferior a R$ 2.000.000,00, a Lei faculta a sua elaboração (artigo 176, § 6º).

Demonstração do Valor Adicionado

As companhias abertas terão que incluir a Demonstração do Valor Adicionado


(DVA) no conjunto das demonstrações financeiras elaboradas, divulgadas e que
devem ser aprovadas pela Assembléia Geral Ordinária (AGO) (artigo 176, V).
Também neste caso a lei permite que, no primeiro exercício social, a DVA seja
divulgada sem indicação dos valores referentes ao ano anterior, procedimento
que a CVM desaprova para as companhias que vem divulgando voluntariamente.
Por se tratar de demonstração pouco conhecida e não requerida nos modelos
internacionais, apresento abaixo o modelo sugerido pela FIPECAFI e que está
sendo adotado por boa parte das companhias que voluntariamente estão
divulgando, integralmente ou parcialmente.

Demonstração do Valor Adicionado

Em R$ mil 20X1 20X2

DESCRIÇÃO    

1. RECEITAS    

1.1. Vendas de mercadoria, produtos e serviços    

1.2. Provisão p/devedores duvidosos –    


Reversão/(Constituição)

1.3. Não operacionais    

2. INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui ICMS e    


IPI)

2.1. Matérias-Primas consumidas    

2.2. Custos das mercadorias e serviços vendidos    

2.3. Materiais, energia, serviços de terceiros e    


outros

2.4. Perda/Recuperação de valores ativos    

3. VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2)    

4. RETENÇÕES    

4.1. Depreciação, amortização e exaustão    


5. VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA EN-    
TIDADE (3-4)

6. VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA    

6.1. Resultado de equivalência patrimonial    

6.2. Receitas financeiras    

7. VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5-6)    

8. DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO    

8.1. Pessoal e encargos    

8.2. Impostos, taxas e contribuições    

8.3. Juros e aluguéis    

8.4. Juros s/capital próprio e dividendos    

8.5. Lucros retidos/prejuízo do exercício    

* O total do item 8 deve ser exatamente igual ao    


item 7.

Fonte: FIPECAFI, 2007

Balanço Patrimonial

Modificação nos grupos e subgrupos de Ativos e Patrimônio Líquido.

ATIVO PASSIVO

Ativo Circulante Passivo Circulante


Ativo Realizável a Longo Passivo Exigível a Longo Prazo
Prazo
Resultado de Exercícios
Ativo Permanente dividido Futuros
em:
Participação Minoritária
– Investimentos

– Imobilizado

– Intangível Patrimônio Líquido

– Diferido Capital Social


  Reservas de Capital
  Ajustes de Avaliação
Patrimonial
 
Reserva de Incentivos Fiscais
 
Reservas de Lucro
 
Prejuízos Acumulados
 
(-) Ações em Tesouraria

Total do Ativo Total do Passivo

Primeiramente é importante considerar que a Lei não abarcou a separação de


Grupos em Circulante e Não Circulante como estava regulado pela CVM.

Importante salientar a exclusão da conta de Reservas de Reavaliação, a exclusão


da conta Reserva de Capital “Prêmio na Emissão de Debêntures” e a criação da
conta Ajustes de Valor Patrimonial e Reserva de Incentivos Fiscais.

No quadro acima já não figura mais a nomenclatura “Lucros Acumulados” uma


vez que os lucros obrigatoriamente, precisarão ser destinados integralmente até
o final do exercício, permanecendo a apresentação apenas de Prejuízos
Acumulados.

Nos grupos de ativos o único destaque a ser feito refere-se à obrigatoriedade da


utilização do subgrupo Intangível, já regulamentado pela CVM.
Reconhecimento e Avaliação de Ativos e Passivos

A Lei traz importantes novidades nos critérios de avaliação de ativos e passivos:

Instrumentos Financeiros: Seguindo as normas internacionais (IAS 32 e IAS 39)


foram estabelecidos novos critérios para a classificação e a avaliação das
aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, classificando-os em
três categorias; (a) destinadas à negociação, (b) mantidas até o vencimento e (c)
disponíveis para venda. A sua avaliação pelo custo mais rendimentos ou valor de
mercado será feita em função da sua classificação em uma dessas categorias
(artigo 183, I e § 1º, “d”). O efeito no resultado do exercício ou no patrimônio
líquido também dependerá da classificação que deverá ter como base a definição
dos administradores dos riscos envolvidos, e sua intenção de “carregamento do
ativo”. Certamente, haverá um grau importante de “subjetivismo responsável”
na determinação destes critérios de classificação pelos administradores e na
revisão pelos auditores independentes. Não posso deixar de citar que em caso de
operações de Hedge Accounting, estes derivativos, a princípio; também poderiam
se qualificar em posições passivas, sendo também alcançadas por essas normas,
tanto para a avaliação como também a classificação.

Imobilizado: A Lei 11.638/2007 modifica a definição do Imobilizado, baseada


fundamentalmente, na “Primazia da Análise de Riscos e Benefícios Sobre a
Propriedade”; com isso a alteração no artigo 179, IV, promove a convergência às
práticas das normas internacionais (IAS 17) qualificando as operações que
transferiram a companhia os benefícios, riscos e controle desses bens como, por
exemplo, as operações de leasing financeiro incluídas, a partir de novo texto, no
ativo imobilizado.

As alterações exigem a revisão e ajuste nos critérios utilizados para estimar a


“vida útil econômica”, base para o cálculo das depreciações, amortizações e
exaustão, inclusive para as operações de leasing financeiro registrados no
imobilizado.

O mesmo artigo também estabelece a obrigatoriedade para as companhias de


efetuarem periodicamente, teste de recuperabilidade (Impairment) nos
subgrupos imobilizado, intangível e diferido. Desta forma, nenhum destes ativos
pode existir por valor que não seja recuperável mediante venda ou utilização por
parte da empresa.

Ativos Intangíveis: Primeiramente, todos os valores referentes a bens não


corpóreos (marcas, patentes, direitos autorias, etc.) registrados no grupo
permanente deverão ser reclassificados para o subgrupo intangíveis onde sofrerão
amortização baseada em sua estimativa de vida útil econômica. Ressalta-se que
as contas de ágios gerados nas aquisições de investimentos permanentes por
conta de expectativas de rentabilidade futura (Goodwil), também serão
reclassificados para este subgrupo e serão objeto de teste de recuperabilidade
(Impairment) periodicamente.
Ativo Diferido: As modificações no artigo 179, V, alcançam o ativo diferido com
significativa importância, definindo que além das despesas pré-operacionais, os
gastos de reestruturação só poderão ser ativados quando forem capazes,
efetivamente de contribuir para o amento do “resultado” de mais de um
exercício social e que não configurem apenas reduções de custos ou melhorias de
eficiência, sendo assim, gastos ativados deverão estar associados a objeto que
venha a produzir receitas a fim de adicionar resultados positivos futuros.

Investimentos Permanentes em Participações Societárias: A avaliação de


coligadas pelo método da equivalência patrimonial passa a ser aplicada a todas as
coligadas em que a investidora tenha influência significativa (dependência
econômica, tecnológica, administrativa, poder eleger administradores, etc.). A
nova lei estabelece ainda que exista presunção de influência significativa quando
a participação for de 20% ou mais do capital votante. A Lei prevê também que o
Método de Equivalência Patrimonial seja aplicado para sociedades que façam
parte de um mesmo grupo ou estejam sobre controle comum (artigo 248), sendo
assim, pode haver o caso de investimento em percentual inferior a 10%, e pode
até ser em ações sem direito a voto, mas se investidora e investida tiverem um
controlador comum, esse investimento será também avaliado pela equivalência
patrimonial, mesmo que esse controlador seja uma pessoa física ou um conjunto
de pessoas físicas agindo como controladores.

Ativos e Passivos a Valor Presente: Uma outra alteração relevante é a introdução


do conceito de Ajuste a Valor Presente para as operações ativas e passivas de
longo prazo e para as relevantes de curto prazo. A CVM entende que a aplicação
desse conceito pelas companhias abertas por ela reguladas depende da emissão
de norma específica ou de expressa referência em alguma outra norma,
delimitando o seu alcance e fixando as premissas necessárias para sua utilização,
o que deverá ser feito sempre em consonância com as normas internacionais
(artigo 183, VIII e artigo 184, III).

É preciso lembrar que os efeitos dos ajustes a valor presente não são,
obrigatoriamente, contra resultado de imediato. O efeito poderá ser considerado
como ajuste de custo de aquisição de ativo imobilizado, inicialmente, ou produzir
efeito como conta redutora da conta que registra o direito ou obrigação para a
apropriação ao resultado pro-rata como, por exemplo, “Juros Pré-fixados a
Apropriar”.

Normatização específica deverá trazer maior clareza sobre a taxa a ser adotada
no cálculo do desconto a valor presente, mas, em princípio, a taxa deve ser a
usualmente praticada pela empresa em suas operações, como por exemplo, a
taxa que reflete o custo médio ponderado de capital da companhia.

Patrimônio Líquido

Ajuste de Valor Patrimonial: Este subgrupo servirá essencialmente para abrigar a


contrapartida de determinadas avaliações de ativos a preço de mercado, ou
“valor justo” (equivalente a mercado ou valor de uso) especialmente a avaliação
de determinados instrumentos financeiros; os ajustes de conversão em função da
variação cambial de investimentos societários no exterior; efeitos da valorização
em combinação de negócios a valor de mercado ou valor equivalente de seus
ativos e passivos; e outros efeitos patrimoniais gerados na adoção de normas
expedidas pela CVM em consonância com as normas internacionais. Todas estas
possibilidades, quando os seus efeitos não transitarem pela conta de resultado,
mas condicionalmente o farão no futuro.

Reserva de Incentivos Fiscais: A criação dessa reserva visa possibilitar que as


companhias possam, registrar as doações e subvenções para investimento não
mais como reserva de capital e sim no resultado do exercício desde que não
hajam fatos condicionantes para a obtenção dos benefícios, como estabelece a
norma internacional. Para que a companhia não corra o risco de perder o
benefício fiscal da subvenção fica previsto que a parcela do lucro líquido que
contiver esse benefício fiscal possa ser destinada para essa reserva e excluída da
base de cálculo do dividendo obrigatório (artigo 2º).

Exclusão da Reserva de Reavaliação: Ao dar nova redação à letra “d” do § 2º do


artigo 178, ao § 3º do artigo 182 e ao revogar o § 2º do artigo 187, a Lei nº
11.638/2007 eliminou a possibilidade de as sociedades por ações efetuarem
reavaliações espontâneas do seu ativo imobilizado. A nova lei deu a opção às
companhias para manterem os saldos existentes dessa reserva, que deverão ser
realizados de acordo com as regras atuais ou de estornarem esses saldos até o
final do exercício social em que a lei entrou em vigor, ou seja, até o final do
exercício de 2008.

Para as companhias que optarem por não estornar a reavaliação dos ativos,
deverão submetê-los ao teste de recuperabilidade (Impairment) periodicamente
e, em havendo a necessidade de registrar a perda o efeito terá contrapartida na
respectiva reserva de reavaliação.

Embora pareça que a intenção da exclusão desta reserva seja a sua eliminação
como ocorre nas práticas norte americanas, não podemos deixar de considerar
que as normas internacionais (IAS 16) oferecem a possibilidade de reavaliar os
ativos. Por isso, podemos esperar normatização que esclareça a questão.

Exclusão da Reserva de Capital “Prêmio na Emissão de Debêntures”: Eliminação


da Reserva de Capital “Prêmio na Emissão de Debêntures” (artigo 10) – O prêmio
recebido na emissão de debêntures normalmente faz parte das condições da sua
negociação, em função da atratividade desse papel ou da sua precificação, como
por exemplo, a fixação de taxa de juros acima da média do mercado. Nesse caso,
o prêmio recebido, configura uma receita não realizada, que deveria ser
classificada como Resultado de Exercício Futuro, para apropriação ao resultado
em função do prazo das debêntures e do reconhecimento também no resultado
das despesas de juro. (Comunicado CVM – 14-1-2008).

Incorporação, Fusão ou Cisão: Nas operações de incorporação, fusão ou cisão


(combinação de empresas), quando forem realizadas entre partes não
relacionadas e estiverem vinculadas à efetiva transferência de controle, todos os
ativos e passivos da incorporada, cindida ou fusionada deverão ser identificados,
avaliados e contabilizados a valor de mercado (artigo 226, § 3º).

Nossa legislação já permitia a utilização dos valores de mercado na mensuração


de ativos e passivos em combinações de negócios, porém, muitas vezes evitada
por provocar efeitos fiscais indesejados. A novidade da Lei está na possibilidade
da adoção do grupo “Ajustes de Avaliação Patrimonial” para abrigar estes efeitos
podendo ser transferido o saldo para a incorporadora ou fusionadora, utilizando a
neutralidade dos efeitos fiscais prevista na Lei para ajustes de harmonização.

Outras Disposições:

A Lei nº 11.638/2007 estendeu às sociedades de grande porte, assim consideradas


aquelas que, individualmente ou sob controle comum, possuam ativo total
superior a R$ 240 milhões ou receita bruta superior a R$ 300 milhões, a
obrigatoriedade de manter escrituração e de elaborar demonstrações financeiras
com observância às disposições da lei societária. Assim, embora não haja menção
expressa à obrigatoriedade de publicação dessas demonstrações financeiras,
qualquer divulgação voluntária ou mesmo para atendimento de solicitações
específicas (credores, fornecedores, clientes, empregados, etc.), as referidas
demonstrações deverão ter o devido grau de transparência e estar totalmente em
linha com a nova lei (artigo 3º).

Os parâmetros de definição de sociedade de grande porte, citados no parágrafo


anterior deverão ser aplicados individualmente ou em grupo, lembrando sempre
que se considerado ativos totais eliminar participações comuns; se considerada
receita bruta eliminar resultados não realizados para fins dos cálculos.

A Lei nº 11.638/2007 também possibilitou à CVM estabelecer regras


diferenciadas, para as companhias abertas e demais emissores de valores
mobiliários, sobre a natureza e a periodicidade das informações que elas devam
prestar, sobre o relatório da administração e sobre as suas demonstrações
financeiras, padrões de contabilidade e relatórios e pareceres de auditoria (artigo
4º).

A nova lei alterou, ainda, a Lei nº 6.385/76 reforçando o entendimento da CVM


de que a regulação contábil no Brasil pode estar formalmente baseada, no todo
ou em parte, nos trabalhos desenvolvidos por um organismo multirepresentativo,
que tenha por objeto o estudo e a divulgação de princípios e padrões contábeis e
de auditoria, e que reflita o pensamento dos diversos interessados nas
informações contábeis das sociedades por ações. Com a introdução na nova lei da
possibilidade de a CVM, do Banco Central do Brasil e dos demais reguladores
firmarem convênios com essa entidade, ficam reforçados o papel e a importância
do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) (artigo 5º) – (Comunicado CVM
14-1-2008).
Vigência da Lei:

O artigo 9º da referida lei estabeleceu a sua entrada em vigor no primeiro dia do


exercício seguinte ao da sua publicação. Dessa forma, considerando que a Lei nº
11.638/2007 foi publicada no Diário Oficial da União de 28-12-2007, ela passou a
vigorar para as demonstrações financeiras do exercício social iniciado a partir de
1º de janeiro de 2008.

Tendo em vista que a lei societária, em seu artigo 176, regula as demonstrações
financeiras que são elaboradas no final do exercício social, a CVM entendeu e
esclareceu ao mercado que as alterações, relativas a demonstrações financeiras
contidas na Lei nº 11.638/2007, deverão produzir os seus efeitos iniciais sobre as
demonstrações elaboradas para atendimento ao referido artigo 176, cujo
exercício se iniciou a partir de 1-1-2008, independentemente da data do seu
encerramento.

Essas novas regras deverão ser aplicadas, portanto, não só às demonstrações


encerradas em 31-12-2008, mas, ainda, nos demais casos de elaboração, em
2008, de outras demonstrações financeiras previstas na lei societária como, por
exemplo, o levantamento de balanço especial eventualmente elaborado para
atendimento aos artigos 45 e 204 da lei societária.

REFERÊNCIAS

Carvalho L. et al, Contabilidade Internacional – Aplicação das IFRS-2005, 1ª ed,


São Paulo: Atlas, 2006.

Comissão de Valores Mobiliários, Comunicado ao Mercado, 14 de Janeiro de 2008.

__________. Deliberação CVM nº 539 de 14 de Março de 2008.

International Accounting Standards Board – www.iasb.org

Iudícibus S. et al, Manual de Contabilidade da Sociedade por Ações, 7ª ed. São


Paulo: Atlas, 2007.

__________. Manual de Contabilidade da Sociedade por Ações, Suplemento, São


Paulo: Atlas, 2008.

Lei nº 6.404 de Dezembro de 1976.

Lei nº 11.638 de Dezembro de 2007.

Oliveira A. et al, Contabilidade Internacional, 1ª ed, São Paulo: Atlas, 2008.


Schmidt P. et al, Contabilidade Internacional Avançada, 2ª ed, São Paulo: Atlas,
2007.

Palavras-chave:normas internacionais convergência 

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