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28 fev, 08:00
Mas o comunicado vai mais longe, advertindo que Vladimir Putin "poderá, na mais
perigosa das hipóteses, declarar a anexação da Transnístria pela Rússia durante o seu
discurso na Assembleia Federal Russa, prevista para o dia 29 de fevereiro",
precisamente o dia seguinte ao referido Congresso dos Deputados.
O think tank norte-americano faz este aviso, para logo a seguir fazer uma ressalva,
admitindo que "parece pouco provável" que Vladimir Putin possa vir a declarar isso
mesmo. "O mais provável é que Putin se congratule com qualquer que seja a decisão
do Congresso de Deputados da Transnístria", refere-se no mesmo comunicado.
"O Instituto para o Estudo da Guerra apresenta esta avaliação como um aviso para um
acontecimento de grande impacto de probabilidade indeterminada", acrescenta-se.
Os analistas têm levantado várias dúvidas sobre este aviso, questionando quais os
fundamentos do think tank para emitir este comunicado, que não apresenta factos que
o sustentem. Tanto que o chefe dos serviços secretos da Ucrânia, Kyrylo Budanov, já
veio a público deixar claro que “ninguém se irá juntar à Federação Russa em 28 de
fevereiro”.
O major-general Agostinho Costa diz mesmo que “seria um suicídio para a Transnístria”
avançar com um referendo sobre a anexação à Federação Russa, “porque daria um
argumento à Moldova para entrar na Transnístria e, se necessário, pedir apoio à
Ucrânia” para o fazer. Ora, “um território que tem uma profundidade de escassos
quilómetros [com uma área de 4.163 quilómetros quadrados - quase o dobro do distrito
de Lisboa] não resistiria um dia se fosse atacado pelos dois lados”, diz o especialista
em estratégia militar, que lembra que a Transnístria tem um contingente militar russo de
cerca de 1.500 soldados - as chamadas forças de “manutenção de paz”, mas que,
segundo o major-general, “estão ali para manter o status quo” do Kremlin.
Neste contexto, o professor Tiago André Lopes, questiona então qual “o interesse” por
detrás deste aviso e “porquê agora”. “A razão é muito simples", responde. "O estudo
bate com a argumentação do espectro de uma guerra contínua e de uma Rússia
transformada quase numa ‘Alemanha nazi’, ou seja, a avançar por países adentro.
Parece estar a tentar dar a ideia de que isso de facto vai acontecer, ou seja, de que há
um grande plano russo para engolir a Moldova”, teoriza, acrescentando: “Não quer
dizer que não aconteça, mas não há indicadores sustentados.”
“Esta informação vem de uma fonte norte-americana para criar alarmismo e disrupção e
para justificar que os Estados europeus continuem a apoiar o esforço de guerra da
Ucrânia”, sintetiza Tiago André Lopes.
Confrontado com este aviso, o governo da Transnístria garante que "não há motivos
para acreditar que a situação na região possa deteriorar-se". "O gabinete de políticas
de reintegração acompanha cuidadosamente a situação na região da Transnístria,
estando em contacto com permanente com a Missão da OSCE [Organização para a
Segurança e Cooperação na Europa] e outros parceiros internacionais. Com base nas
informações de que dispomos, não há motivos para acreditar que a situação na região
possa deteriorar-se", declarou o governo da região separatista, citado pela Rádio
França Internacional (RFI).