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Análise: Aprovação da PEC que restringe decisões

monocráticas no STF fortalece Lira


Proposta aprovada no Senado segue para a Câmara e só avançará se o presidente da Casa
decidir pautá-la

Por Maria Cristina Fernandes, Valor — São Paulo


23/11/2023 14h43 Atualizado há 6 horas

A aprovação no plenário do Senado da proposta de emenda constitucional que limitou as


prerrogativas monocráticas dos ministros do Supremo Tribunal Federal fortaleceu ainda mais
o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em embates futuros com o STF.

A PEC seguiu para a Câmara e só avançará por obra e graça da decisão de Lira de pautá-la. O
presidente da Cämara tem motivos para fazê-la avançar. Decisões monocráticas do Supremo
têm obstruído inúmeras decisões do Congresso.

Para ficar em algumas. Foi uma decisão monocrática do ministro Alexandre de Moraes que
suspendeu trechos da nova Lei (mitigada) de Improbidade votada na gestão Lira. Foi
igualmente por uma decisão liminar do ministro Luís Roberto Barroso que o piso da
enfermagem, votado no Congresso, ficou, por meses, suspenso. E, finalmente, o ministro Luiz
Fux, sentou em cima, por dois anos, na implantação do juiz de garantias que havia sido criado
pela reforma do código penal feita pelo Congresso.
O poder de um presidente de Casa Legislativa vem, em grande parte, de seu poder de pautar,
nomear presidentes de comissões e relatores, decisões que acabam influenciando, em grande
parte, o desfecho de uma tramitação. Quando o Supremo atravessa o Legislativo e suspende
uma decisão que foi tomada em plenário é obvio que isso afeta o poder de quem comanda a
Casa.

A insatisfação de Lira com essa intromissão do Supremo é tamanha que ele já verbalizou o
interesse em restringir o acesso de partidos nanicos a Ações Diretas de
Inconstitucionalidade com a criação de uma cláusula de 20% de apoio no Congresso para a
apresentação de uma ADI. Ele tem motivos para isso. Foi uma ADI, por exemplo, que deu início
ao processo de questionamento do Orçamento Secreto no STF.

E por que Lira não vai pautar de imediato? Porque se o presidente da Câmara tem interesse em
fazer a PEC avançar, também tem motivos ainda mais fortes para paralisar esta tramitação. A
Lira interessa ter em mãos recursos de barganha na sua relação com o STF. Não faltam
exemplos. Foi uma decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes que paralisou a
investigação da operação Hefesto da Policia Federal.

Essa operação havia detectado desvios que podiam chegar a R$ 8 milhões de recursos do
FNDE destinados a compra de kits robótica para as prefeituras. A operação identificou
assessores de Lira numa suposta transação suspeita de superfaturamento desses kits junto as
prefeituras. E Lira havia destinado quase R$ 40 milhoes em emendas para esses kits. Pois o
ministro Gilmar Mendes colocou uma pedra nessa operação. Só lembrando que a suspensão
aprovada pelo Senado é de controle de constitucionalidade. Não afeta uma liminar de habeas
corpus.

Então não faltam motivos para Lira querer uma pauta como esta em suas mãos. De maneira
que, face a uma decisão que o desagrade do Supremo, ele use os processos da tramitação,
desde as comissões até a votação em plenário, para evitar desfechos que o desagradem.

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