Você está na página 1de 2

Lira tem o poder e uma desculpa conveniente

para empacar PEC do STF


Carla AraújoColunista do UOL
23/11/2023 04h00 Atualizada em 23/11/2023 04h00

Quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-


MG), avisou aos ministros do Supremo Tribunal Federal que
iria mesmo deixar avançar na Casa matérias que mexem em
ritos e trâmites do Judiciário, houve inicialmente uma
apreensão sobre o impacto das medidas na Corte.
Apesar disso, a política que opera nos bastidores de Brasília Arthur Lira, presidente
logo tratou de deixar, digamos, o ambiente um pouco menos da Câmara dos
tenso. Deputados

Primeiro, porque os temas tratados na PEC, aprovada ontem Imagem: 3.ago.2023 -


Ton Molina/Estadão
no Senado, tratam de regras que hoje já possuem
Conteúdo
balizamentos dentro do Supremo.

PVC
Brasileirão 2023 é o mais equilibrado de todos
Juca Kfouri
Acredito em Ancelotti na CBF e em Abel no Qatar
Reinaldo Azevedo
Decisão desastrada para livrar a cara do Pacheco
Milly Lacombe
Eleição no Corinthians deveria ser adiada

Conforme mostrou a colunista Carolina Brígido, a avaliação interna é que a PEC só


pressiona o STF e não muda muito a regra do "jogo".
A parte mais polêmica — que trataria de mandatos para os ministros do STF, por
exemplo — ficou fora da discussão até o momento.
Mas ministros do STF e integrantes do governo Lula (PT) contrários à ofensiva do
Congresso contra o STF apostam mesmo é no papel decisivo do presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de dar ou não continuidade à pauta.
Publicamente, Lira fez seu papel: afirmou que não haveria veto de sua parte e que
a tramitação seguirá na Casa como qualquer outra matéria. "Vai ter um rito normal.
Eu não mando na vontade [dos demais deputados], não tem veto meu. A minha
vontade pessoal não vai valer sobre a da maioria dos partidos na Casa", disse no
início do mês, em conversa com jornalistas.
Procurado pela coluna, o presidente da Câmara afirmou que não está falando sobre
esse assunto e que só se posicionaria depois de o Senado resolver a votação.
A questão, porém, é de prioridade. E, na avaliação de parlamentares e membros do
Judiciário, o discurso encampado pelo presidente da Câmara deve ser de que o
momento é o de cuidar da agenda econômica. Sua prioridade é concluir a reforma
tributária.

Além disso, a avaliação é que, com 2023 chegando ao fim, não seria muito
inteligente por parte dos deputados gastar energia em uma pauta polêmica, que vai
gerar embates, em vez de priorizar a agenda que pode aumentar a arrecadação das
contas públicas e criar um ambiente melhor para 2024: ano de eleições municipais.
A despeito dos interesses de Lira em evitar embates com o Supremo (vale lembrar
que o ministro Gilmar Mendes engavetou investigações contra aliados dele), ele
tem o discurso conveniente para adiar a proposta dos senadores.
A aposta de quem conhece e convive bem com o presidente da Câmara é que ele
vai dizer que "no momento a prioridade do Brasil é outra".

Você também pode gostar