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Lira vai segurar proposta que limita poderes

do STF pelo menos até fim do recesso


Presidente da Câmara quer ganhar tempo na tentativa de esfriar a polêmica,
mas será pressionado por bancadas do agro e da bala

Vera Rosa

23 nov 2023 - 20h52 (atualizado às 21h36) Exibir comentários

BRASÍLIA - Aprovada pelo Senado, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que


limita os poderes do Supremo Tribunal Federal (STF) ficará parada na Câmara pelo
menos até fevereiro de 2024, quando termina o recesso parlamentar. Em conversas
reservadas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse não haver tempo hábil
para a Casa apreciar a PEC neste ano.

A justificativa oficial é de que a pauta da Câmara está carregada com votações de


projetos da agenda econômica do governo Lula, que incluem a reforma tributária e a Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

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Falta menos de um mês para o recesso no Congresso, que começa em 22 de dezembro. A


PEC que passou pelo crivo do Senado e provocou revolta no Supremo chegará à
Câmara na semana que vem. De 4 a 10 de dezembro Lira estará em Dubai, nos Emirados
Árabes, onde participará da 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-28).

O presidente da Câmara tem dito que a proposta produzida para restringir decisões
individuais de ministros do Supremo não é prioridade e terá um rito de tramitação
normal. Na prática, porém, seus aliados admitem que dificilmente Lira entrará em
confronto com o Supremo.

Em setembro, o ministro Gilmar Mendes, decano do STF, anulou provas obtidas pela
Polícia Federal referentes a compras de kits de robótica com dinheiro público, em
Alagoas.

De acordo com as investigações da PF, que duraram oito meses, as compras envolviam
empresários ligados a Lira, um assessor próximo, operadores e "laranjas". Antes, em
julho, Gilmar já havia descartado todas as acusações que atingiam o presidente da
Câmara nesse caso.

A aprovação da PEC foi vista pelo Supremo como uma "afronta", além de uma
retaliação do bolsonarismo. Ministros da Corte, como o próprio Gilmar, temem que o
sinal dado pelo Senado abra brecha para um retrocesso democrático, que contemplaria
propostas como o impeachment de magistrados e até mesmo a derrubada de decisões do
tribunal.

Gilmar disse que o STF não aceitará "intimidações" de quem quer que seja. "Esta Casa
não é composta por covardes", afirmou o ministro. "Esta Corte não haverá de se
submeter ao tacão autoritário, venha de onde vier, ainda que escamoteado pela pseudo-
representação de maiorias eventuais."

O Estadão apurou que, apesar de ganhar tempo, Lira será pressionado pela Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA) e também pela bancada da bala a levar ao plenário
a PEC que limita poderes do Supremo. A FPA reúne 303 deputados e 50 senadores e há
tempos está em rota de colisão com o Supremo, como ficou evidente na votação do
marco temporal das terras indígenas.
Embora não possa ser reeleito para o comando da Câmara, em 2025, Lira quer emplacar
um sucessor e precisa do apoio de seus pares. A eleição que escolherá a nova cúpula do
Congresso está longe, mas a campanha já começou.

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