Você está na página 1de 4

25/10/2022 14:23 ConJur - Gilmar e Barroso ordenam que Paulo Dantas retorne ao governo de AL

VOLTA POR CIMA

Gilmar e Barroso ordenam que Paulo Dantas volte


ao cargo de governador de AL
24 de outubro de 2022, 20h19

Por Sérgio Rodas

Para preservar a disputa pelo Poder Executivo de Alagoas, os ministros do Supremo


Tribunal Federal Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso revogaram nesta segunda-feira
(24/10) o afastamento do cargo do governador Paulo Dantas (MDB).

Os ministros decidiram em três processos: ADPF


1.017, apresentada pelo Partido Socialista
Brasileiro (PSB) e de relatoria de Gilmar;
Reclamação 56.518 e HC 221.528, ambos
movidos pelo governador e de relatoria de
Barroso.
Dantas foi afastado do cargo de

Dantas foi afastado do cargo no último dia 11, por governador de Alagoas no dia 11 deste mês
decisão da ministra do Superior Tribunal de
Justiça Laurita Vaz, posteriormente confirmada pela Corte Especial. A decisão gerou
críticas ao STJ, tanto por alegada incompetência da corte para analisar o caso quanto por
interferir na eleição alagoana. Dantas, que é apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), disputa a reeleição no segundo
turno contra Rodrigo Cunha (União Brasil), candidato do presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O artigo 236, parágrafo 1º, do Código Eleitoral proíbe a prisão de candidatos no período de


15 dias que antecede a data das eleições, ressalvadas as hipóteses de prisão em flagrante ou
decorrente de sentença condenatória irrecorrível.

Em sua decisão, Gilmar Mendes argumentou que uma interpretação do dispositivo à luz da
Constituição Federal de 1988 também proíbe a decretação de medidas cautelares
alternativas à prisão durante as eleições. Afinal, o artigo visa a proteger o processo
eleitoral, cuja violação atingiria o próprio regime democrático vigente, segundo o ministro.
https://www.conjur.com.br/2022-out-24/gilmar-barroso-ordenam-paulo-dantas-retorne-governo-al?imprimir=1 1/4
25/10/2022 14:23 ConJur - Gilmar e Barroso ordenam que Paulo Dantas retorne ao governo de AL

Ele destacou que o artigo 236 do Código Eleitoral foi elaborado em 1965, mas desde a
Constituição de 1988 foram criadas diversas outras medidas cautelares restritivas da
liberdade. Assim, disse o magistrado, quando o código entrou em vigor, não poderia
englobar tais determinações, uma vez que elas nem existiam.

Ordens judiciais como o afastamento do mandato cuja reeleição se pretende; a proibição de


frequentar determinados lugares, como comícios ou reuniões públicas; ou a imposição de
uso de tornozeleira eletrônica "podem impor desequilíbrios ao processo eleitoral e
constrangimentos aos candidatos que afetam diretamente a livre concorrência", segundo o
ministro, que ressaltou que, no segundo turno, não é possível substituir o candidato.

"Nesses casos, a imposição de tão grave medida cautelar no período de 15 dias antes da
realização das eleições tem o potencial de impactar ou desequilibrar de forma injustificada
a livre manifestação das urnas, o que não deve ser admitido à luz dos princípios e
parâmetros acima descritos de neutralidade, livre concorrência e paridade de armas
eleitorais."

Dessa maneira, o ministro concedeu cautelar para revogar o afastamento de Paulo Dantas
do governo de Alagoas e estabelecer que a imunidade eleitoral prevista no parágrafo 1º do
artigo 236 do Código Eleitoral compreende a proibição da adoção de medidas cautelares
contra candidato a cargo do Executivo desde os 15 dias que antecedem o primeiro turno até
as 48 horas seguintes ao término de eventual segundo turno. Tal imunidade eleitoral
também se aplica aos demais postulantes a cargos eleitorais majoritários.

"A decisão do ministro Gilmar Mendes confere efetividade à garantia constitucional de


liberdade do voto, ao evitar que, às vésperas de pleitos eleitorais, decisões judiciais
interfiram diretamente na formação da vontade popular, criando fatos políticos, negativos
ou positivos, em benefício de determinada candidatura", afirmaram Felipe Santos Correa
e Caio Souza, advogados do PSB no caso.

Competência duvidosa

Já Luís Roberto Barroso suspendeu as medidas cautelares impostas a Paulo Dantas por
considerar que há dúvida razoável sobre a competência para o afastamento pelo STJ,
responsável por analisar casos sobre governadores, uma vez que as acusações se referem ao
período em que o emedebista era deputado estadual — portanto, com foro especial no
Tribunal de Justiça de Alagoas. 

O STF restringiu, em 2018, o alcance do foro por prerrogativa de função. Parlamentares,


desde então, só têm foro especial se os fatos imputados a eles ocorrerem durante o
mandato, em função do cargo. No caso de delitos praticados anteriormente a isso, o
https://www.conjur.com.br/2022-out-24/gilmar-barroso-ordenam-paulo-dantas-retorne-governo-al?imprimir=1 2/4
25/10/2022 14:23 ConJur - Gilmar e Barroso ordenam que Paulo Dantas retorne ao governo de AL

parlamentar deve ser processado pela primeira instância da Justiça, como qualquer cidadão.
Com o fim do mandato, também acaba o foro privilegiado.

Posteriormente, o STJ decidiu que o foro especial de governadores e conselheiros de


Tribunais de Contas é restrito a fatos ocorridos durante o exercício do cargo e em razão
deste.

O ministro afirmou que o contato do delegado-geral da Polícia Civil alagoana com a


delegada da Polícia Federal responsável pelo caso, com o objetivo de promover oitiva de
testemunha, não é suficiente para justificar a fixação da competência do STJ.

"A suposição de que tal contato representaria tentativa do governador de interferir nas
investigações não foi corroborada por qualquer indício para além da relação hierárquica
entre o delegado e o governador. Por essa lógica, qualquer ilícito praticado por servidor do
Poder Executivo poderia ser automaticamente atribuído ao chefe desse poder. A grave
inferência da prática de interferência em investigação criminal — que poderia configurar o
delito de obstrução de Justiça — não pode ser presumida", argumentou Barroso.

Além disso, o ministro lembrou que o afastamento de Dantas do governo se deu entre o
primeiro e o segundo turno das eleições e sem contraditório.

"Vale dizer: o paciente/reclamante (Dantas) não foi ouvido em momento algum. O


Judiciário deve ter cautela e autocontenção em decisões que interfiram no processo eleitoral
no calor da disputa."

"A decisão é muito importante porque corrige uma situação de injustiça e de interferência
indevida no processo eleitoral do estado de Alagoas por autoridade incompetente", afirmou
o advogado Cristiano Zanin Martins, que representou Dantas nas ações de relatoria de
Barroso.

Histórico do caso

A ministra do STJ Laurita Vaz afastou o governador em 11 de outubro, pelo prazo de 180


dias. Ainda não existe denúncia ou acusação formal contra Dantas, mas o inquérito cogita
de peculato e lavagem de dinheiro em um suposto esquema de "rachadinha" na Assembleia
Legislativa de Alagoas, referente à época em que ele era deputado estadual — de 2019 ao
início deste ano.

A decisão foi referendada pela Corte Especial do STJ. Por entender que não cabe suspensão
de liminar para particular em matéria penal, uma vez que isso criaria diferenciação

https://www.conjur.com.br/2022-out-24/gilmar-barroso-ordenam-paulo-dantas-retorne-governo-al?imprimir=1 3/4
25/10/2022 14:23 ConJur - Gilmar e Barroso ordenam que Paulo Dantas retorne ao governo de AL

inaceitável para ocupantes de cargos públicos, a presidente do STF, ministra Rosa


Weber, manteve o afastamento de Paulo Dantas no último dia 19.

Clique aqui para ler a decisão de Gilmar Mendes

Clique aqui para ler a decisão de Luís Roberto Barroso

ADPF 1.017

Reclamação 56.518

HC 221.528

Sérgio Rodas é correspondente da revista Consultor Jurídico no Rio de Janeiro.

Revista Consultor Jurídico, 24 de outubro de 2022, 20h19

https://www.conjur.com.br/2022-out-24/gilmar-barroso-ordenam-paulo-dantas-retorne-governo-al?imprimir=1 4/4

Você também pode gostar