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ANJO DECAÍDO

ILUS

Um
Roteiro
de

Pierpaolo Negri

Copyright by (Pierpaolo Negri) (2023) (Rua Paraíso, 105 - ap. 502. Maringá-PR)
Todos direitos reservados (41 98833 3393) (profpaolonegri@gmail.com)
- ARGUMENTO -

A narrativa do videoclipe musical acompanha um dia comum de uma pessoa autista,


que encontra proteção e aconchego na própria casa. Acorda com tranquilidade,
toma seu banho, se veste, toma seu café da manhã, brinca com seu pet e começa a
ficar ansiosa ao ter que sair de casa. Olha para a porta de saída, demora até
conseguir caminhar até a porta e abri-la para sair.
O mundo externo é assustador e perigoso. Enquanto caminha, encontra desafios e
"perigoso" ou situações de estresse como: ciclistas em alta velocidade, pessoas
pedindo informação, crianças/adolescentes fazendo algazarra, trabalhadores nas
vias públicas, caminhões passando, pedestres atravessando avenidas. Um
retrocesso nas imagens leva a personagem até o início da trama, novamente dentro
de sua casa.
Ao sair, as situações se intensificam. O sol está mais forte e ofuscante, os ciclistas
mais violentos, o pedido de informação mais enfático, as crianças mais agitadas, o
trabalhador mais agressivo, o caminhão passando muito próximo, os pedestres mais
rápidos e agitados. Mais uma vez as imagens retrocedem de volta para dentro da
casa.
A música cessa. Inicia um Interlúdio em que o desenho de som se dá pela captação
dos sons ambientes. Assim como a sobreposição de camadas de sons, que vai
deixando as cenas mais incômodas, as cenas têm recortes com detalhes diversos
que ajudam a poluí-la visualmente. O audiovisual vai se tornando insuportável
sensorialmente. Imagens cada vez mais saturadas, brilhantes, rápidas. Um excesso
que remete à hipersensibilidade sensorial das pessoas autistas.
Pela última vez, as imagens retrocedem para dentro da casa da personagem. Tudo
parece estar calmo novamente. Reiniciando mais um dia comum. Contudo a postura
da personagem mudou. Ela está mais otimista e assertiva. Cumpre sua rotina de
preparação para sair de casa e, ao chegar na porta, ela já se encontra aberta. Como
um convite para explorar o mundo exterior. Ela sai sem exitar.
Caminha com tranquilidade, ao olhar para o sol, coloca óculos de sol e as imagens
se tornam mais suaves. Desvia dos ciclistas e continua seu trajeto. Faz sinal que
não tem informações a ceder à pessoa e continua seu trajeto. Desvia das
crianças/adolescentes.
Olha para os próprios pés e está descalça. Começa a caminha mais rápido e, então,
a correr. Sorri com cabelos ao vento. Chega no alto de um morro ou prédio. Olha
para baixo, vê a altura, a paisagem. Há uma incerteza se vai apenas contemplar ou
se jogar. Corta para cena aérea de liberdade.
- ROTEIRO TÉCNICO -

1.1 INT. QUARTO. PLANO CONJUNTO. CAM. SUBJETIVA.


Pessoa abre os olhos ao acordar. Está no quarto. Demora uns segundos até se
levantar da cama.

1.2 INT. PORTA DO BANHEIRO. CAM. SUBJETIVA.


Abre a porta do banheiro. Detalhe da mão.

1.3 INT. PORTA DO BOX. CAM. SUBJETIVA.


Abre a porta do box do chuveiro. Detalhe da mão.

1.4 INT. REGISTRO DO CHUVEIRO. CAM. SUBJETIVA.


Abre o chuveiro.Detalhe da mão.

1.5 INT. CHUVEIRO. CAM. SUBJETIVA.


Olha para a água caindo do chuveiro. Pode olhar/pegar sabonete, champú.

1.6 INT. QUARTO. CAM. SUBJETIVA.


Calçando sapato para sair.

1.7 INT. COZINHA OU SALA. CAM. SUBJETIVA.


Segurando xícara de café. Aproveita para olhar pela janela.

1.8 INT. COZINHA OU SALA. CAM. SUBJETIVA.


Gato/cachorro passa pelas pernas ou sobe no colo.

1.9 INT. SALA. PORTA DE SAÍDA. CAM. SUBJETIVA.


Vê e caminha em direção à porta de saída. Travelling.

1.10 INT. PORTA DE SAÍDA. CAM. SUBJETIVA.


Aos 1'13" da música, consegue abrir a porta. Antes, gira a chave, depois segura o
trinco. Segundos até conseguir abrir a porta. A luminosidade externa afeta a visão
do que há fora.

2.1 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


Olha pros próprios pés caminhando por calçada, asfalto, gramado, ciclovia, faixa de
pedestres.

2.2 EXTERNA. CÉU. CAM. SUBJETIVA.


Detalhe de sol forte. Pan pra cima, sol, Pan pra baixo.

2.3 EXTERNA. CICLOVIA. CAM. SUBJETIVA.


Ao atravessar ciclovia, ciclistas passam com velocidade.

2.4 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


Transeunte vem pedir informações. Câmera não fica parada na pessoa, se move,
focando em demais elementos que compõem a cena.

2.5 EXTERNA. SAÍDA ESCOLA. CAM. SUBJETIVA.


Crianças e/ou adolescentes em grupo brincando, conversando, gritando.

2.6 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


Caminhão passando na rua.

2.7 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


Trabalhador arrumando algo ou cortando grama em via pública.

2.8 EXTERNA. RUA. SUBJETIVA.


Pedestres atravessando rua em faixa de pedestres. Cena finaliza com imagens em
RETROCESSO para cena 1.9

3.1 INT. SALA. PORTA DE SAÍDA. CAM. SUBJETIVA.


Vê e caminha em direção à porta de saída. Travelling.
3.2 INT. PORTA DE SAÍDA. CAM. SUBJETIVA.
Gira a chave, depois segura o trinco. Segundos até conseguir abrir a porta. A
luminosidade externa afeta a visão do que há fora.

3.3 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA. MAIOR SATURAÇÃO DE CORES. MAIS


BRILHO. CENAS MAIS RÁPIDAS QUE NA 1a VERSÃO.
Olha pros próprios pés caminhando por calçada, asfalto, gramado, ciclovia, faixa de
pedestres.

3.4 EXTERNA. CÉU. CAM. SUBJETIVA. MAIOR SATURAÇÃO DE CORES. MAIS


BRILHO. CENAS MAIS RÁPIDAS QUE NA 1a VERSÃO.
Detalhe de sol forte. Pan pra cima, sol, Pan pra baixo.

3.5 EXTERNA. CICLOVIA. CAM. SUBJETIVA. MAIOR SATURAÇÃO DE CORES.


MAIS BRILHO. CENAS MAIS RÁPIDAS QUE NA 1a VERSÃO.
Ao atravessar ciclovia, ciclistas passam com velocidade.

3.6 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA. MAIOR SATURAÇÃO DE CORES. MAIS


BRILHO. CENAS MAIS RÁPIDAS QUE NA 1a VERSÃO.
Transeunte vem pedir informações. Câmera não fica parada na pessoa, se move,
focando em demais elementos que compõem a cena.

3.7 EXTERNA. SAÍDA ESCOLA. CAM. SUBJETIVA. MAIOR SATURAÇÃO DE


CORES. MAIS BRILHO. CENAS MAIS RÁPIDAS QUE NA 1a VERSÃO.
Crianças e/ou adolescentes em grupo brincando, conversando, gritando.

3.8 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA. MAIOR SATURAÇÃO DE CORES. MAIS


BRILHO. CENAS MAIS RÁPIDAS QUE NA 1a VERSÃO.
Caminhão passando na rua.

3.9 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA. MAIOR SATURAÇÃO DE CORES. MAIS


BRILHO. CENAS MAIS RÁPIDAS QUE NA 1a VERSÃO.
Trabalhador arrumando algo ou cortando grama em via pública.
3.10 EXTERNA. RUA. SUBJETIVA. MAIOR SATURAÇÃO DE CORES. MAIS
BRILHO. CENAS MAIS RÁPIDAS QUE NA 1a VERSÃO.
Pedestres atravessando rua em faixa de pedestres. Cena finaliza com imagens em
RETROCESSO para cena 3.1

4.1 INT. SALA. PORTA DE SAÍDA. CAM. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Vê e caminha em
direção à porta de saída. Travelling.

4.2 INT. PORTA DE SAÍDA. CAM. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Gira a chave,
depois segura o trinco. Segundos até conseguir abrir a porta. A luminosidade
externa afeta a visão do que há fora.

4.3 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Olha pros próprios
pés caminhando por calçada, asfalto, gramado, ciclovia, faixa de pedestres.

4.4 EXTERNA. CÉU. CAM. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Detalhe de sol
forte. Pan pra cima, sol, Pan pra baixo.

4.5 EXTERNA. CICLOVIA. CAM. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Ao atravessar
ciclovia, ciclistas passam com velocidade.

4.6 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Transeunte vem
pedir informações. Câmera não fica parada na pessoa, se move, focando em
demais elementos que compõem a cena.

4.7 EXTERNA. SAÍDA ESCOLA. CAM. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Crianças e/ou
adolescentes em grupo brincando, conversando, gritando.
4.8 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.
INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Caminhão
passando na rua.

4.9 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Trabalhador
arrumando algo ou cortando grama em via pública.

4.10 EXTERNA. RUA. SUBJETIVA.


INTERLÚDIO. SEM MÚSICA. CAPTAÇÃO DE SOM AMBIENTE. Pedestres
atravessando rua em faixa de pedestres. FADE OUT para preto.

5.1 INT. QUARTO. PLANO CONJUNTO. CAM. SUBJETIVA.


FADE para pessoa abre os olhos ao acordar. Está no quarto. Não demora até se
levantar da cama.

5.2 INT. PORTA DO BANHEIRO. CAM. SUBJETIVA.


Abre a porta do banheiro. Detalhe da mão.

5.3 INT. PORTA DO BOX. CAM. SUBJETIVA.


Abre a porta do box do chuveiro. Detalhe da mão.

5.4 INT. REGISTRO DO CHUVEIRO. CAM. SUBJETIVA.


Abre o chuveiro.Detalhe da mão.

5.5 INT. CHUVEIRO. CAM. SUBJETIVA.


Olha para a água caindo do chuveiro. Pode olhar/pegar sabonete, champú.

5.6 INT. QUARTO. CAM. SUBJETIVA.


Calçando sapato para sair.

5.7 INT. COZINHA OU SALA. CAM. SUBJETIVA.


Segurando xícara de café. Aproveita para olhar pela janela.
5.8 INT. COZINHA OU SALA. CAM. SUBJETIVA.
Gato/cachorro passa pelas pernas ou sobe no colo.

5.9 INT. SALA. PORTA DE SAÍDA. CAM. SUBJETIVA.


Vê e caminha em direção à porta de saída que já está aberta. Travelling.

6.1 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


Olha pros próprios pés caminhando por calçada, asfalto, gramado, ciclovia, faixa de
pedestres.

6.2 EXTERNA. CÉU. CAM. SUBJETIVA.


Detalhe de sol forte. Pan pra cima, sol. Coloca óculos de Sol. Pan pra baixo.
IMAGEM FICA MAIS SUAVE.

6.3 EXTERNA. CICLOVIA. CAM. SUBJETIVA.


Ao atravessar ciclovia, ciclistas passam com velocidade. Desvia e continua o trajeto.

6.4 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


Transeunte vem pedir informações. Câmera faz movimento lateral de "não".

6.5 EXTERNA. SAÍDA ESCOLA. CAM. SUBJETIVA.


Crianças e/ou adolescentes em grupo brincando, conversando, gritando. Coloca
fones/abafadores.

7.1 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


Olha pros próprios pés DESCALÇOS. Caminhando, começa a correr por calçada,
asfalto, gramado, ciclovia, faixa de pedestres. Fones/abafador caem no chão.
Óculos de sol e retirado e jogado.

8.2 EXTERNA. RUA. CAM. SUBJETIVA.


Enquanto corre, detalhe do sorriso. Detalhe dos cabelos ao vento.

8.3 EXTERNA. MORRO OU ALTO DE PRÉDIO. CAM. SUBJETIVA.


Olha para baixo. Fica a dúvida se vai se jogar ou apenas contemplar.

8.4 EXTERNA. AÉREA. CAM. SUBJETIVA.


Como se fosse o voo de um pássaro. Sentimento de liberdade.

9. CRÉDITOS.
Direção.
Ficha artística.
Ficha técnica.
Agradecimentos.
"Produzido com recursos do Fundo Nacional da Cultura (FNC)
Lei Complementar n° 195/2022
Lei Paulo Gustavo
Ministério da Cultura
Prefeitura do Município de Maringá
Secretaria de Cultura de Maringá"
- STORYBOARD -

Videoclipe: 4'42".
Produção: 1 diária com 1 câmera com estabilizador e tripé. Iluminação principal e de
preenchimento.
Elenco: 4 adultos e 3 crianças/adolescentes.
- BÍBLIA DO AUDIOVISUAL -

Título: Anjo Decaído - Ilus.


Videoclipe: 4'42".

Sinopse
Na vida de uma pessoa autista, sua casa representam segurança e conforto. O
cotidiano tranquilo é interrompido quando a personagem enfrenta desafios
estressantes ao sair de casa, simbolizando a ansiedade e hipersensibilidade
sensorial associadas ao autismo. As cenas externas tornam-se cada vez mais
intensas, refletindo a experiência aversiva da protagonista. Um interlúdio sonoro
destaca a sobrecarga sensorial, culminando em uma representação visual
insuportável. Após retroceder para casa, a personagem enfrenta novamente o
mundo exterior, mas agora com uma postura mais otimista. Ao superar obstáculos,
uma jornada se transforma, culminando em um momento de liberdade e
contemplação, simbolizado pela visão do alto. A incerteza sobre o que a
personagem fará, adiciona uma camada de suspense, cortando para uma cena que
sugere a possibilidade de liberdade.

A cantora e compositora autista: Ilus


Artista camaleônica, Ilus é uma cantora, compositora, atriz, poeta e dramaturga
brasileira do estado do Espírito Santo. Seu último lançamento, o álbum Natureza
Líquida (2023), apresenta um trabalho que bebe da influência do rock dos anos 80 e
da MPB e se mune de elementos lúdicos ao criar uma atmosfera de fantasia para
falar dos sentimentos mais profundos. E, com essa sonoridade forte, provocativa e
cheia de afetos, Ilus propõe um olhar sobre a realidade da população autista e luta
por um mundo mais gentil.
Ilus iniciou sua carreira musical na ópera em 2012, ganhando bastante repercussão
no cenário lírico antes de estrear na música popular com o funk "Revolucionou".
Também lançou Meu Corpo Fêmea (2021), que envolveu o lançamento do seu
primeiro EP, clipes e shows. Nos palcos, Ilus se apresentou em casas de renome,
como o Sesc Glória, o Sônia Cabral e em duas edições da Virada Cultural do
Espírito Santo.
Diagnosticada há dois anos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), a cantora
faz palestras sobre o modo de vida das pessoas autistas e é uma das
administradoras do Adultos no Espectro, plataforma de soluções em saúde mental
que conta com mais de 26 mil seguidores no Instagram.
É pós-graduada em Canto e Expressão e graduanda do Curso de Música com
Ênfase em Composição da UFES. Em 2014 fundou o grupo Opera Prima que já
produziu 3 óperas, um espetáculo de rua e 4 concertos. Tem 2 livros publicados,
Notinhas Poéticas (2017) e Cabelos e Corpos - Uma dramaturgia das Flutuações
(2020), e 2 dramaturgias junto ao grupo Elas Tramam, [Entre] (2018) e Eva Gina
(2019). Circulou com o projeto "Meu Corpo Fêmea" que envolve música autoral,
clipes e shows e lançamento do seu primeiro EP, de 2018 a 2021. Compôs a trilha
sonora da peça infantil "Geladeira Mágica" e foi idealizadora e diretora artística do
espetáculo A Filha do Regimento, que promoveu a primeira ópera regida por uma
orquestra só de mulheres no ES. Em 2023 lançou seu primeiro álbum Natureza
Líquida com 9 músicas autorais e um poema, falando sobre sentimentos
pandêmicos e sua vivência como pessoa autista.

O nascimento da ideia
Desde meu diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista, tenho pesquisado
exaustivamente sobre o tema. Passei a integrar a Associação Nacional para
Inclusão da Pessoa Autista, ministrando palestras em São Paulo-SP, Santos-SP e
Maringá-PR. Além dos acompanhamentos médicos e psicológicos, passei a fazer
parte do grupo de apoio Adultos no Espectro, do qual Ilus é mediadora.
Foi no grupo de reuniões semanais que conheci e passei a ter contato com Ilus.
Conheci seu trabalho artístico e fui impactado pela música, recém lançada, Anjo
Decaído.
Em conversa com a artista, ela se mostrou empolgada em ter produzido um
videoclipe que possa manifestar o que é sua arte e como autistas se expressam na
música, no audiovisual e na vida.
Assim, o argumento foi construído a quatro mãos, o proponente deste projeto e a
compositora e cantora de Anjo Decaído, ambos autistas.
Estrutura
INTERNA 1: Rotina tranquila até 1'13" da música.
EXTERNA 1: Trajeto agitado até 2'11" da música.
RETROCEDE 1: Cenas inversas até 2'20" da música.
INTERNA 2: Travelling até abertura da porta.
EXTERNA 2: Trajeto mais agitado e incômodo até 3'11" da música.
RETROCEDE 2: Cenas inversas até 3'20" da música.
INTERLÚDIO: Sem música, apenas som ambiente. Todas as cenas já vistas, desde
o travelling da porta até as últimas cenas externas. Acrescidas de planos detalhes
intercaladas com os planos de conjunto. Imagens com saturação de cor alta, brilho
alto e cortes mais dinâmicos.
INTERNA 3: cenas acordando, tomando banho, se vestindo, tomando café. Agora a
porta está aberta e o travelling acontece sem interrupções até 3'36" da música.
EXTERNA 3: Mesmo trajeto anterior com atitude mais otimista e proativa. Uso de
óculos de sol e abafadores/fones de ouvido. Corrida descalça para lugar alto (morro
ou prédio) de onde é possível ver o horizonte. Finaliza com voo de liberdade até
4'42" da música.

Estilo e referências
O videoclipe será todo em visão subjetiva. Sugerindo que a cantora seja a pessoa
das ações. Espera-se conseguir ilustrar o cotidiano de uma pessoa autista em
tarefas comuns, assim como, possíveis maneiras pelas quais uma pessoa autista se
relaciona com o mundo neurotípico.
Uma obra que é construída de forma referencial para o cotidiano é o videoclipe
"Quando bate aquela saudade" de Rubel. Pode ser acessado pelo link:
https://youtu.be/tMWpm_GOLaA?si=rsK9LGz9ozesZi2r
Outra obra audiovisual importante como referência para construção de Anjo
Decaído será a Animação "Sensibilidade Sensorial - Autismo", que pode ser
acessada pelo link: https://youtu.be/Lw5ZA03ozJc?si=PvCxyNy2K2KsKNRA

As Bíblias do Audiovisual utilizadas como referência para este documento estão


disponíveis no link: https://www.tertulianarrativa.com/biblias
Argumento
A narrativa acompanha um dia comum de uma pessoa autista. Que encontra
proteção e aconchego na própria casa. Acorda com tranquilidade, toma seu banho,
se veste, toma seu café da manhã, brinca com seu pet e começa a ficar ansiosa ao
ter que sair de casa. Olha para a porta de saída, demora até conseguir caminhar até
a porta e abri-la para sair.
O mundo externo é assustador e perigoso. Enquanto caminha, encontra desafios e
"perigoso" ou situações de estresse como: ciclistas em alta velocidade, pessoas
pedindo informação, crianças/adolescentes fazendo algazarra, trabalhadores nas
vias públicas, caminhões passando, pedestres atravessando avenidas. Um
retrocesso nas imagens leva a personagem até o início da trama, novamente dentro
de sua casa.
Ao sair, as situações se intensificam. O sol está mais forte e ofuscante, os ciclistas
mais violentos, o pedido de informação mais enfático, as crianças mais agitadas, o
trabalhador mais agressivo, o caminhão passando muito próximo, os pedestres mais
rápidos e agitados. Mais uma vez as imagens retrocedem de volta para dentro da
casa.
A música cessa. Inicia um Interlúdio em que o desenho de som se dá pela captação
dos sons ambientes. Assim como a sobreposição de camadas de sons, que vai
deixando as cenas mais incômodas, as cenas têm recortes com detalhes diversos
que ajudam a poluí-la visualmente. O audiovisual vai se tornando insuportável
sensorialmente. Imagens cada vez mais saturadas, brilhantes, rápidas. Um excesso
que remete à hipersensibilidade sensorial das pessoas autistas.
Pela última vez, as imagens retrocedem para dentro da casa da personagem. Tudo
parece estar calmo novamente. Reiniciando mais um dia comum. Contudo a postura
da personagem mudou. Ela está mais otimista e assertiva. Cumpre sua rotina de
preparação para sair de casa e, ao chegar na porta, ela já se encontra aberta. Como
um convite para explorar o mundo exterior. Ela sai sem exitar.
Caminha com tranquilidade, ao olhar para o sol, coloca óculos de sol e as imagens
se tornam mais suaves. Desvia dos ciclistas e continua seu trajeto. Faz sinal que
não tem informações a ceder à pessoa e continua seu trajeto. Desvia das
crianças/adolescentes.
Olha para os próprios pés e está descalça. Começa a caminha mais rápido e, então,
a correr. Sorri com cabelos ao vento. Chega no alto de um morro ou prédio. Olha
para baixo, vê a altura, a paisagem. Há uma incerteza se vai apenas contemplar ou
se jogar. Corta para cena aérea de liberdade.

Futuro
Com o clipe, espera-se levar à reflexão do quão desafiadora é para pessoas
autistas, sua relação com o mundo neurotípico. Pessoas autistas e neurotípicas têm
diferentes formas de perceber e interpretar o mundo. Isso pode levar a
mal-entendidos e conflitos.
Com a obra, pretende-se evidenciar como autistas podem ter dificuldade em
compreender as sutilezas da comunicação social. Podem ter dificuldade em
entender expressões faciais, linguagem corporal e humor. Isso pode dificultar a
interação com pessoas neurotípicas.
Pessoas neurotípicas, por sua vez, podem não compreender as necessidades e
os comportamentos de pessoas autistas. Elas podem interpretar os
comportamentos de pessoas autistas como rudes, insensíveis ou problemáticos.
Apesar dos desafios, é possível construir pontes entre pessoas autistas e
neurotípicas. É importante que as duas partes se esforcem para entender as
diferenças umas das outras.

Storyboard e Leica Reel


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ce=editor

Pesquisa
A prevalência do autismo é uma medida que indica a proporção de pessoas com
autismo em uma população específica. A prevalência do autismo é estimada em 1
em 36 crianças, o que significa que aproximadamente 2,8% das crianças são
autistas. A temática tem ganhado mais relevância nos últimos anos por fatores
como: desestigmatização do transtorno, maior acesso ao diagnóstico e informações
e descoberta do transtorno por pessoas adultas, dentre outros.
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza por
déficits na comunicação social e na interação social, e por padrões restritos e
repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. O autismo é um espectro, o
que significa que cada pessoa autista tem suas próprias características e
necessidades únicas.
A inclusão de pessoas autistas é um tema importante na sociedade atual. A
inclusão significa que pessoas com deficiência devem ter as mesmas oportunidades
que pessoas sem deficiência, incluindo o direito à educação, ao trabalho, à saúde e
ao lazer.
A inclusão pode ajudar as pessoas autistas a desenvolver suas habilidades e a
se tornarem mais independentes. Também pode ajudar a reduzir o isolamento e o
estigma que as pessoas autistas muitas vezes enfrentam, como o de não terem
interesse em socializar, o que é uma inverdade.
Além disso, a inclusão é benéfica para a sociedade como um todo. A inclusão
pode ajudar a criar uma sociedade mais justa e empática. Promovendo a
compreensão e a aceitação das diferenças não só de pessoas neurodivergentes
mas, também, de pessoas com deficiência, de corpos dissidentes, de pessoas
racializadas.
No entanto, a inclusão de pessoas autistas também apresenta alguns desafios.
Um desafio é a falta de compreensão sobre o autismo. Muitas pessoas não
entendem o que é o autismo e como as pessoas autistas percebem o mundo.
Outro desafio é a falta de recursos e apoios adequados. Para que as pessoas
autistas possam participar da sociedade de forma plena, é necessário que haja
recursos e apoios adequados, como educação inclusiva, serviços de saúde mental,
emprego apoiado e representatividade midiática.
A relação entre pessoas autistas e o mundo neurotípico pode ser desafiadora.
Pessoas autistas e neurotípicas têm diferentes formas de perceber e interpretar o
mundo. Isso pode levar a mal-entendidos e conflitos.
Autistas podem ter dificuldade em compreender as sutilezas da comunicação
social. Elas podem ter dificuldade em entender expressões faciais, linguagem
corporal e humor. Isso pode dificultar a interação com pessoas neurotípicas.
Pessoas neurotípicas, por sua vez, podem não compreender as necessidades e
os comportamentos de pessoas autistas. Elas podem interpretar os
comportamentos de pessoas autistas como rudes, insensíveis ou problemáticos.
Apesar dos desafios, é possível construir pontes entre pessoas autistas e
neurotípicas. É importante que as duas partes se esforcem para entender as
diferenças umas das outras.
Para a construção do videoclipe toda a produção será realizada considerando o
bem estar de pessoas no espectro autista. Paula (2023) destaca características
intrínsecas ao TEA, como alterações sensório-perceptuais que podem acometer até
90% dos autistas, com prevalência para as hipersensibilidades auditivas, visuais e
táteis.
O Guia ASPECTSS TM recomenda prudência no emprego de tons vibrantes,
saturados e primários. Embora devam ser evitadas, tais cores podem ser utilizadas
nos casos onde a intenção for justamente a de sinalizar algo que demande maior
atenção. Isto se deve à característica comum no TEA da sensibilidade a transições
drásticas entre um tipo de estímulo e seu oposto. (Paula, 2023)
A adaptação audiovisual para contemplar pessoas autistas deve considerar que
o “uso de cores e luzes fortes ou intermitentes pode ser insuportável para alguns
indivíduos no Espectro cuja reatividade seja maior para os estímulos visuais.” (ibid.,
p. 43). Assim, haverá atenção especial ao uso de cores e luzes. Além da
hiperssensorialidade visual, autistas podem apresentar dificuldades com estímulos
auditivos. Apesar de cada pessoa autista apresentar dificuldades com diferentes
tipos de estímulos sonoros, podemos considerar o cuidado com sons muito agudos,
muito altos, com mudanças bruscas ou repetitivos.
Portanto, não só pelo diagnóstico de autismo do proponente e da artista, mas
como fundamento, a inclusão de pessoas com deficiência, racializadas e
comunidade LGBTQIAPN+ é prioridade na produção e exibições da obra.

Temática
A temática está na convergência da neurodivergência do proponente, da cantora e
da própria proposta da música na sua construção melódica, rítmica e verbal. A
seguir, transcrição da letra da música:

E de repente eu conquistei o céu


E me soltaram em pleno ar
Eu não sabia do que eram feitas as minhas asas de cera
Eu caí em pleno asfalto e sobrevivi
Eu sou um anjo decaído
Eu me olhei e minha pele estava pelo avesso
Meu coração infinito

Minha cabeça sempre a girar


Eu me perdi, já não sei quem sou
Eu sou um anjo sem as asas
Andando nua pelas ruas

Eu caí em pleno asfalto e sobrevivi


Eu sou um anjo decaído
Eu me olhei e minha pele estava pelo avesso
O coração infinito

E eu senti o meu prazer se intensificar


A sua dor virou navalha a me cortar
Eu ando nua na avenida
Eu ando sóbria em carne viva

Eu sou gigante pra te defender


E eu recrio as minhas asas
Eu me protejo andando pelas sombras
Nas suas ruas sem casas

Eu caí em pleno asfalto e sobrevivi


Eu sou um anjo decaído
Eu me olhei e minha pele estava pelo avesso
Um coração infinito

Eu caí em pleno asfalto e sobrevivi


Eu sou um anjo decaído
Eu me olhei e minha pele estava pelo avesso
O coração infinito
Eu não queria mais me defender
É meu amor que me lança ao sol
Mas minhas asas são de cera
Sua dor navalha em carne viva

Gênero
Videoclipe musical de 4'42".

Enredo
Na vida de uma pessoa autista, sua casa representa segurança e conforto. O
cotidiano tranquilo é interrompido quando a personagem enfrenta desafios
estressantes ao sair de casa, simbolizando a ansiedade e hipersensibilidade
sensorial associadas ao autismo. As cenas externas tornam-se cada vez mais
intensas, refletindo a experiência aversiva da protagonista. Um interlúdio sonoro
destaca a sobrecarga sensorial, culminando em uma representação visual
insuportável. Após retroceder para casa, a personagem enfrenta novamente o
mundo exterior, mas agora com uma postura mais otimista. Ao superar obstáculos,
uma jornada se transforma, culminando em um momento de liberdade e
contemplação, simbolizado pela visão do alto. A incerteza sobre o que a
personagem fará, adiciona uma camada de suspense, cortando para uma cena que
sugere a possibilidade de liberdade.

A construção das personagens


Todas as personagens, com exceção da protagonista (que nunca será vista), têm
um fator em comum: são pessoas neurotípicas em plena harmonia com o mundo,
ambientes e demais pessoas.
Há uma crescente na atuação das personagens ao longo do clipe. As ações
rotineiras vão se tornando mais e mais agressivas e ágeis a cada cena.
Elenco infantil: 3 crianças e/ou adolescentes. Importante que, pelo menos uma seja
do gênero feminino e, pelo menos, uma seja negra.
Elenco ciclistas: 2 pessoas adultas. Importante que, pelo menos uma seja do gênero
feminino e, pelo menos, uma seja negra.
Elenco adulto: 2 pessoas adultas do gênero masculino, ambas brancas. Uma
pessoa será trabalhadora braçal de vias públicas, outra pedirá informações à
protagonista.
Protagonista: 1 pessoa adulta, entre 30 e 50 anos do gênero feminino. Os cabelos
precisam cobrir as orelhas ou ser mais longo.
As personagens podem ser consideradas redonda ou esférica, já que sua
complexidade e imprevisibilidade são trazidas pela própria construção da narrativa
não óbvia.

Proposição de cenários, locações e ambiências


As locações variam de espaços internos de residência, externos de rua, parque,
ciclovia de Maringá-PR.
1. Casa. Quarto, banheiro, cozinha, sala. Porta de saída.
2. Externa na rua. Calçada, gramado, asfalto, ciclovia, faixa de pedestres. Céu e sol.
3. Externa. Morro ou alto de um prédio.
4. Externa aérea de cidade ou natureza simulada ou cena cedida.

Arco dramático
Arco ascendente ou “arco da superação”. É um arco otimista, já que a protagonista
começa a narrativa numa situação de dificuldade de relação com o mundo, mas ao
longo do processo, se desenvolve, passando por problemas mais intensos ou
ganhando domínio da rotina. O ápice se dá com a ambivalência entre desistir de
lutar e conseguir superar e se sentir livre das pressões.

Estilo de direção
Conforme apresentado no item "Estilo e referências", para nortear a direção, serão
consideradas as obras "Quando bate aquela saudade" de Rubel
(https://youtu.be/tMWpm_GOLaA?si=rsK9LGz9ozesZi2r) e a Animação
"Sensibilidade Sensorial - Autismo"
(https://youtu.be/Lw5ZA03ozJc?si=PvCxyNy2K2KsKNRA). Os audiovisuais
conseguem representar a vida cotidiana de forma natural e, também, sensações
exacerbadas que perpassam o que seria meramente visual ou audível para o tato, o
olfato, o paladar, o proprioceptivo e o vestibular.
O diretor comanda e contribui para a cinematografia, o som e a edição das cenas.
Ele modela os movimentos do elenco e da câmera, juntamente com a
representação de seus personagens. A ênfase nos movimentos, sejam eles mais
naturais/suaves nas primeiras cenas, sejam eles mais intensos nas cenas
subsequentes, reforçados, pela movimentação da câmera.

Estilo de fotografia
Como já foi referenciado no tópico anterior, algumas obras audiovisuais inspiram a
direção de fotografia. A movimentação de câmera e enquadramento seguirão o
ponto de vista subjetivo, com predominância de planos conjunto intercalados com
planos detalhe.
Para a melhor visualização dos planos e enquadramento, as principais cenas do
vídeo são apresentadas em um storyboard e cenas iniciais de um leica reel
disponíveis no link:
https://www.canva.com/design/DAFz3TELkqM/Y_z2jpgtkR8uWessxlirug/watch?utm_
content=DAFz3TELkqM&utm_campaign=designshare&utm_medium=link&utm_sour
ce=editor
A Iluminação será construída tanto com luz natural, quanto com rebatedores,
lâmpadas e filtros para influenciar na tonalidade da trama que pode começar mais
suave e ter momentos de saturação e brilhos exagerados para colaborar com a
construção da narrativa.

Estilo de edição e montagem


Para edição e montagem deve predominar o fade out e fade in, uma transição que
faz com que a imagem gradualmente apareça ou suma de uma única cor, no
videoclipe, o preto. O processo de fazer a cena surgir de uma tela vazia é chamado
de fade-in. Já o efeito que esmaece a imagem até a cor pura é conhecido como
fade-out.
Como os fades para e do preto serão rápidos (até 1 segundo), antes de voltar a
aparecer no próximo take, o efeito pode ser chamado de mergulho.
O fade-in e fade-out são muito populares no cinema e na televisão. Eles costumam
aparecer para indicar o início ou fim de uma cena. O tempo de duração do efeito
tem um significado próprio. No caso do videoclipe, será um misto do piscar dos
olhos da protagonista e a passagem de tempo. Ao piscar os olhos, já está numa
nova situação. Já que uma transição rápida traz a sensação dinâmica de atenção à
próxima cena e colaborará para a construção de conflitos da personagem com o
mundo.

Referências

GRANDIN, T; PANEK, R. O cérebro autista: pensando através do espectro. Rio de


Janeiro : Ed. Record, 2022.

PAULA, Isabela Alves de. Urbanidades acessíveis: diretrizes para a produção de


espaços amigáveis para autistas. Dissertação de mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maringá,
Maringá-PR, 2023.

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