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Pesquisa

COMPÓSITOS REFORÇADOS
POR TECIDOS

Marco Antonio Santos Pinheiro *

INTRODUÇÃO
Por definição, compósitos são materiais formados por duas ou mais fases,
perfeitamente distinguíveis entre si em uma escala macrométrica, tanto pela existência
de uma nítida interface separando suas fases quanto pelo fato de serem elas signi-
ficantemente diferentes uma das outras, em termos de propriedades mecânicas. Por
serem construídos de acordo com as necessidades do projeto em termos de resistência
e desempenho, os materiais compósitos viabilizam a construção de estruturas eficientes,
de alto desempenho e pouco peso, fatores muitas vezes de difícil conciliação quando
são empregados os materiais convencionais. Inicialmente mais caros que os materiais
convencionais, os custos de aplicação dos compósitos têm, entretanto, sido reduzidos
de modo significativo nos dias atuais. Respondem por isso o surgimento de novos
materiais, o desenvolvimento de novas tecnologias de fabricação e o aprimoramento e
adequação dos projetos, resultado marcante das facilidades de comunicação e do
sinergismo entre diferentes campos da ciência, como os da química, da ciência dos
materiais e da mecânica.
Basicamente formados por uma fase contínua, denominada matl1z e responsável
pela forma estrutural e adequação às condições ambientais, e por uma fase descontínua,
conhecida como reforço e responsável pela realização da quase totalidade do trabalho
mecânico, tem crescido ultimamente o número dos compósitos que são reforçados por
tecidos .
O reforço usado na forma de tecido nos compósitos pode atender, com vantagens, a
inúmeros requisitos de projeto, tais como a estabilidade dimensional, uma maior

* Professor Conferencista no IME - marco_pinheiro@uol.com.br

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conformabilidade e o uso em processos de blindagens, de qualquer espécie. Neste tra-


laminação mais severos. Ainda, os tecidos balho serão examinados os princípios bási-
são muito convenientes quando se deseja cos da mecânica destes materiais, sendo que
preencher formas complexas, além de serem o exame ficará restrito aos tecidos que tenham
o reforço mais indicado quando se trata de suas fibras ortogonais entre si, muito embora
absorver a energia dos impactos. A macro- boa parte da discussão que será apresentada
mecânica do compósito de tecido apresenta também se aplique a outros tipos de tecidos.
uma formulação mais complexa do que a dos
compósitos tradicionais , reforçados por
fibras longas, curtas, talões , partículas e COMO SÃO FEITOS OS TECIDOS
outros tipos. Esta complexidade deve-se,
principalmente, à existência de áreas pró- Uma noção do modo como são feitos os
ximas uma das outras com acentuadas dife- tecidos, mesmo que simplificada, faz-se
renças em termos de rigidez e resistência, necessária para uma melhor compreensão da
resultado do entrelaçamento entre os fios sua modelagem.
do tecido. Tecidos são estruturas, normalmente bidi-
O presente artigo apresenta uma visão mensionais , formada pelo entrelaçamento or-
inicial da macromecânica dos compósitos ganizado de fios, obtido em máquina denomi-
reforçados por tecidos, procurando enfatizar nada tear (/oOln). Com exceção de alguns tipos
a importância do seu aprofundamento, especiais, os tecidos são formados por fibras
principalmente por serem os tecidos, pela ortogonais entre si. A figura apresenta um
natureza de sua constituição, os mais indi- esquema simplificado de um tear, com lança-
cados na confecção dos materiai s de deira e dois quadros de liços.

quadros
de liços
fiado
urdume

rolo do
urdume lançade ira

rolo do
tecido

Esquema simplificado de um tear de lançadeira com dois quadros de liços

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Da esquerda para a direita, vê-se primeiro ciência como reforço, que são a sua capa-
na figura o rolo do urdume (warp beam), do cidade em tomar formas complexas, princi-
qual saem os fios denominados fios do palmente com duplas curvaturas, e a sua
urdume, ou, simplesmente, urdume (warp), resistência à distorção, ou estabilidade.
que são levantados ou abaixados pelos O tecido básico é o modelo mais sim-
quadros de liços (harness), de modo a ples de tecido , e nele o entrelaçamento é
facilitar a passagem, transversalmente, dos feito de modo que cada fio, de urdume ou
fios da trama (filling yará), que são guiados da trama, passe sobre um fio e depois sob
em seu movimento pela lançadeira (shuttle). o fio seguinte, repetidamente. Nas smjas,
Após atravessarem os fios do urdume, os fios um ou mais fios do urdume passam (ou
da trama são empurrados e apertados em seu "flutuam") sobre pelo menos dois fios
lugar pelo movimento horizontal de uma consecutivos da trama. Além disso, os
armação conhecida como pente (real ou quadros de liços sofrem um deslocamento
batten). Todo o conjunto de fios e tecido é lateral de um em relação ao outro, de modo
tracionado pelo rolo do tecido (cloth beam). que este tipo de tecido apresenta um
Os teares mais modernos procuram substituir desenho característico na diagonal, conhe-
as lançadeiras por meios capazes de condu- cido como "linhas da smja" (twill lines).
zirem os fios da trama de modo mais rápido Nos cetins, um fio do urdume passa sobre
e silencioso. Assim, nos teares modernos os três ou mais fios da trama e depois sob
fios da trama são guiados por jatos de água apenas um fio da trama. As lãs (rovings)
(water-jet 100m), jatos de ar (air-jet 100m), têm como característica maior o fato de que
por projéteis (projectile, nússile ou gripper nela os fios do urdume e da trama são
loom) e outros meios mais. formados por feixes de fibras não torcidas.
Têm s ido largamente empregadas na
construção de embarcações, contêiners de
PRINCIPAIS TIPOS DE carga e outras aplicações, normalmente
TECIDOS onde não é requerido um alto desempenho
da estrutura construída e onde faz-se neces-
Conforme o processo de fabricação usado sário que as paredes sejam espessas. As
nas tecelagens pode-se obter: tecido lãs, por não serem tão usadas em compó-
(weaving), malha (knitting) ou feltros sitos de alto desempenho, não serão tra-
(jelting). Os compósitos, em sua maioria, são tadas neste trabalho. As figuras da página
reforçados por tecidos, razão pela qual seguinte ilustram os três tipos de tecidos
somente este tipo será analisado no presente que são abordados neste artigo.
trabalho. Os quatro tipos principais de Quanto à estabilidade e à capacidade em
tecidos são: o tecido básico (plain weave), tomar formas complexas pode-se dizer que:
as saljas (twills) , os cetins (satins) e as lãs - os tecidos básicos são os de maior
(woven rovings). estabilidade dentre todos os tipos citados.
Por outro lado, os tecidos têm duas carac- Entretanto, têm pouca facilidade em tomarem
terísticas de grande influência na sua efi- formas complexas. De modo geral, formam

(fi' i Q
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flutuação dos fios da trama


no avesso do tecido

Tecido Básico Sarja Cetim

•• 1\
... .. JlII. _ _ 1II
"'~""PilJIIJ" J,j llSliIlI
~JiI,DI 111
~ ~iII



u •. iIII 1!41 :
estruturas menos eficientes que os cetins e as número de reforços, ou fios, por unidade de
salJas; comprimento, tanto na direção do urdume
- as satjas são relativamente estáveis e quanto na direção da trama;
mais eficientes como estruturas do que os - Tecido unidirecional: quando a
tecidos básicos. Conformam-se com relativa quantidade de fios por unidade de área numa
facilidade; das direções, usualmente a do urdume, for
- os cetins estão entre os reforços de muito maior que na outra direção, no mínimo
tecido de maior eficiência, além de toma- 80 a 20 vezes, o tecido é definido como sendo
rem formas complexas com grande unidirecional. Tecidos uni direcionais não
facilidade. devem ser confundidos com compósitos
unidirecionais, os quais são construídos com
fibras paralelas e retas;
PARÂMETROS - Massa por unidade de comprimento:
propriedade expressa em unidades como
Alguns parâmetros são importantes na denier, tex ou kg/m;
caracterização dos tecidos: - fator nfg: significa que cada fio do
- Equilíbrio: o tecido é dito equilibrado urdume interlaça-se com cada "n fg-és imo" fio
(balan ced fabric) quando tem o mesmo da trama;

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- fator nwg: significa que cada fio da similares às dos laminados tendo igual núme-
trama interlaça-se com cada "nwg-ésimo" fio ro de lâminas unidirecionais, orientadas defa-
dourdume; sadas de 90°, uma em relação a outra. Como
- fator ng: usado quando nfg = nwg = ng, exemplo cita-se os do tipo [0/90] e [+45/-45].
como é o caso dos tecidos estudados neste O primeiro tipo recebe o nome especial de
trabalho larninado cruzado (cross ply lanúnate). Um
A figura abaixo ilustra os valores de ng compósito reforçado por tecido similar ao
para os três tipos de tecidos estudados. [0/90] pode ser obtido alinhando-se as fibras
do urdume com uma das
direções naturais do laminado,
a longitudinal ou a transversal.

tecido básico
ng _= 2 • sarja
ng = 3 cetim de 4 liças
ng = 4
Girando-se de 45° os fios do
urdume obtém-se uma analogia
com o laminado [+45/-45].
Tecidos não equilibrados são
análogos aos laminados cons-
(- trama
truídos com diferentes números
de fibras longas nas duas
direções ortogonais.
Como no caso dos com-
pósitos unidirecionais de
fibras longas, as propriedades
dos tecidos também dependem
fortemente da fração volumé-
(- região de
cetim de 8 liças entrelaçamento trica do reforço. Como uma
ng = 8 regra, os tecidos não apresen-
tam um "fator de empaco-
tamento" (packing) tão eficiente quanto os
compósitos de fibras unidirecionais e, assim,
MECÂNICA DO REFORÇO tendem a ter uma razão volumétrica de fibras
menor, embora esta regra não seja válida para
o exame aqui realizado é restrito aos todos os compósitos de tecido. Por exemplo,
tecidos com fibras ortogonais entre si e con- compósitos reforçados com cetins de fibra
sidera vários aspectos, tais como as pro- longa têm sido confeccionados com frações
priedades macroscópicas, a eficiência do volumétricas de fibras que ultrapassam 70%.
reforço, as deformações internas, os meca- As fibras retas e contínuas constituem-se
nismos de falhas e a influência da ondulação no mais eficiente tipo de reforço. A maior
das fibras . parte dos tecidos têm suas fibras com curva-
Em escala macroscópica, as propriedades turas sobre pelo menos parte de seu compri-
mecânicas dos tecidos ditos equilibrados são mento. Conseqüentemente, pôr sua própria

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natureza, os tecidos são menos


eficientes como reforços que as 240
fibras longas. Existem dois tipos Lcetim de 8 - quadros de /iço
til
principais de curvaturas nos te- a.. 220 ---G G G
S2.
cidos. A primeira delas é a tor- -o 200 cetim pé-de-galinha (1 k)
Q)

cedura (twist) das fibras formando '"


-o
'0
"ti 180
um único fio ou reforço. Alguns '" 160
Qj
Q)
tecidos têm seus fios construídos -o
o
::; 140
desta forma pela maior facilidade -o
'o
que assim apresentam na tecela- E
120
gem e, ainda, pelo fato de ficarem
menos suscetíveis aos danos do
2 3 4 5 6 7 8 9 10
que as fibras não torcidas. O espaçamento (fios da trama/em)
segundo tipo de curvatura é o da
dobra (erimp), proveniente da
operação de criação da trama do tecido . As tivamente. O efeito de aumentar o número de
dobras surgem naturalmente, como conse- fios da trama por em é aumentar as curvaturas
qüência do movimento das fibras sobre e sob das fibras. Conseqüentemente, não traz
outras fibras, na montagem da trama do tecido. surpresa observar-se uma tendência para
A eficiência do tecido depende fortemente baixo nos módulos de elasticidade com a
da porcentagem do comprimento da fibra que diminuição do espaçamento entre os fios da
está curvado e da severidade de suas curva- trama. O cetim de "8-quadros de liço" não
turas. Neste aspecto, os cetins de fibras ten- apresentou sensibilidade ao espaçamento, o
dem a ser mais eficientes, porque suas fibras que pode ser explicado pelo fato de que os
são retas ao longo de uma maior porção de reforços, neste tipo de tecido, são retos em
seu comprimento. grande parte de seu comprimento. Nos cetins
A influência do tipo de construção do do tipo pé-de-galinha, nota-se que, para o
tecido sobre a resistência à flexão e módulos mesmo espaçamento, os cetins do tipo lk têm,
de elasticidade foi estudada pôr Shibata, consistentemente, módulos mais altos do que
Nishimura e Norita,3 os quais consideraram os do tipo 3k. Isto porque as curvaturas são
cetins dos tipos "8-quadros de liços" e "pé- mais severas em tecidos feitos com mais
de-galinha" (erowfoot) tendo todos 10 fios reforços (3k).
de urdume por centímetro e fibras da trama A eficiência do compósito reforçado com
com vários espaçamentos. A figura a seguir o cetim equilibrado 8-harness, comparado
mostra a variação do módulo de elasticidade com larninados [0/90] construídos a partir de
de acordo com o espaçamento dos fios da lâminas unidirecionais foi estudado por
trama, para compósitos tanto epoxy como Zweben e Norman. 4 A tabela apresenta os
material da matriz. dados relativos ao módulo de elasticidade e
Os cetins feitos com 3.000 e 1.000 fios às resistências à tração e à compressão, para
de reforço são denominados 3k e lk, respec- quatro tipos de compósitos. Na ordem:

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compósitos reforçados com tecido de ara- não foram estudados tão detalhadamente
mida (Kevlar 49) (100/0), híbridos com gra- como o foram nos compósitos unidirecionais.
fite e aramida na proporção 50/50, híbridos Entretanto, sabe-se que o entrelaçamento das
com grafite e aramida na proporção 25/75 e fibras nos tecidos, com suas ondulações
reforçados com grafite (0/100). Os compó- (crimp), é fator de muita importância neste
sitos foram feitos na forma de laminado cru- fenômeno e sua influência na falha dos
zado e na forma de tecido. Todos os com- compósitos vem sendo motivo de inúmeros
pósitos têm 65% de razão volumétrica de estudos.
fibras.

Módulo de elasticidade Resistência à tração Resistência à tração


(GPa) (GPa) (GPa)
tipos [0/90] tecido Ef. (%) (GPa) tecido Ef. (%) (GPa) tecido Ef. (%)

100/0 36,5 35,8 98 100/0 100/0 100/0 100/0 100/0 100/0


50/50 55,1 48,2 87 50/50 50/50 50/50 50/50 50/50 50/50
25/75 69,6 57,2 82 25/75 25/75 25/75 25/75 25/75 25/75
01100 72,3 59,9 83 0/100 0/100 0/100 0/100 0/1 00 01100
Nota: Ef. (% ) = eficiência do tecido

Tabela: Comparação entre compósitos reforçados por grafite e aramida, e híbridos,


na forma de tecido e na de laminados cruzados

Observa-se que a eficiência parece de- MECÂNICA DO TECIDO


pender fortemente das fibras, uma vez que BIDIMENSIONA L
o compósito reforçado por tecido de ara-
mida tende a ter propriedades mecânicas A base teórica para a anális dos tecidos
próximas às do laminados [0/90], enquanto bidimensionais é a Teoria Clássica das Pla-
a eficiência dos híbridos e a do reforçado cas de Lam inados, segundo as hipóteses de
por grafite é muito menor. Também nota-se Kirchoff Love. A seguir serão descritos os
que para os compósitos híbridos e para os três modelos adotados para representar os
reforçados por fibras de grafite, a eficiên- tecidos, além de considerações a respeito de
cia em termos de módulo de elasticidade é cada um deles. As formulações a eles perti-
significantemente maior do que as referen- nentes, por serem extensas, não serão apre-
tes às resistências._ sentadas no presente trabalho. Os modelos
Quanto aos mecanismos de falha nos usados são: o do mosaico, o da ondulação da
compósitos reforçados por tecidos, eles ainda fibra e o da transposição dos sforços.

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Modelo do mosaico Modelo da ondulação da fibra


A base da idealização do modelo do o modelo com ondulação foi desen-
mosaico pode ser apreciada na figura, onde voI vido de modo a que fosse considerada a
é mostrada uma vista em corte de um cetim ondulação das fibras. Embora a formulação
de 8 liços . A seqüência da impregnação do deste modelo seja válida para todos os
tecido pelo material da matriz e a sua simpli- valores de ng , o modelo é particularmente
ficação para o modelo em mosaico é apre- aceitável para tecidos com baixos valores de
sentada na parte inferior da figura . Este ng. Este modelo também é a base da análise
modelo não considera a ondulação (crimp) desenvolvida para o modelo de transposição
da fibra, que existe num tecido real. dos esforços , a ser apresentado no item
De modo geral, um compósito reforçado seguinte.
por tecido idealizado pelo método do Na figura abaixo está representada a geo-
mosaico pode ser considerado como uma metda do modelo, onde a forma da ondulação
montagem de peças de laminados assimé- é definida pelos parâmetros hl(x), hix) e au'
tricos, do tipo cruzado (cross-ply laminate) .

i..:;:::;;2:I:l~::;;:'4.....1.- Reg ião de


entre laçamento

Cetim de 8 -/iços

Modelo de ondulação da fibra

Os parâmetros ao = (a-a u)/2 e a2 = (a+a u)/2


Vista transversal do tecido antes da
impregnação pela resina são automaticamente definidos após a deter-
minação de alI' o qual é geometricamente
~ .. t... :..•..•..•..••. ;....... :•..,........~ ............: ..•,..••.••.:••.:~j.I . .:.... arbitrário, entre os valores de O e a. Devido
Compósito reforçado por tecido
ao surgimento de uma região puramente
matricial no modelo, os valores da razão
........:..~ ·. I. . ::.......:............: ~ ....... ..,... ...I...: ........ \. .:{. •....: ... :: .. WM
volumétrica de fibra, Vf, podem ser diferentes
Idealização do modelo do mosaico

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para a totalidade do compósito e para a região esquemática do modelo para uma célula
do entrelaçamento. unitária é mostrado, sendo esta célula compre-
endida por uma região de entrelaçamento e
suas áreas adjacentes.
Modelo da transposição Este modelo é valido apenas para cetins
dos esforços nos quais ng é maior ou igual a 4. As quatro
regiões denominadas de A, B, D e E são for-
madas por fios de trama retos e,
conseqüentemente, podem ser assu-
midas como pedaços de laminados
cruzados de espessura ht. A região C
tem uma estrutura de entrelaçamento,
onde aparece um fio de trama ondu~
lado. Embora a ondulação no fio do
urdume seja ignorada neste modelo,
o efeito é esperado como sendo
pequeno, uma vez que o carregamento
aplicado é assumido como sendo na
direção da trama.
A rigidez no plano da região C
onde ng = 2 é calculada e seu valor
A encontrado é muito menor do que
aquele para um laminado cruzado.
Assim sendo, as regiões B e D supor-
tam um carregamento maior que a
região C e agem como pontes para a
transposição do carregamento da
região A para a E. Também é assu-
Modelo de transposição dos esforços mido que estas regiões B, C e D têm
os mesmos valores médios para as
deformações e curvaturas em seus
o sucesso das análises com os modelos planos médios.
anteriores levou ao desenvolvimento do con-
ceito do método da transposição dos esforços,
para os compósitos reforçados por cetins. Considerações sobre os modelos
Este modelo é recomendado para os cetins
tendo em vista que, neste tipo de tecido, as a) O modelo da ondulação (crimp modei)
regiões de entrelaçamento são bastante sepa- é uma aproximação unidimensional e não leva
radas uma das outras. A forma de repetição em consideração a ondulação das fibras,
no cetim, que é hexagonal no tecido, é modi- sendo particularmente indicado para a
ficada para a forma quadrada, no modelo, previsão das propriedades elásticas dos
para simplicidade de cálculo. Uma visão compósitos de tecido básico;

(3111 I Vel. XVII - NQ 1 - 1QQuadrimestre de 2000 17


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b) Os resultados analíticos baseados no um cetim são separadas entre si por di versas


modelo da ondulação demonstram que as regiões sem entrelaçamentos. Desde que as
ondulações da fibra causam uma perda de regiões com reforços retos ao redor das
rigidez no plano do laminado, se compa- regiões de entrelaçamento têm maior rigidez
rado aos resultados do modelo do mosaico. no plano do laminado que as regiões com
Os resultados para as constantes de flexi- ondulações, elas ficam com o maior carrega-
bilidade, tanto para o modelo de ondulação mento e atuam como pontes para a transfe-
quanto para o do mosaico, apresentam boa rência dos carregamentos;
concordância com os resultados obtidos por g) A rigidez elástica inicial para os com-
análises feitas com uso do método dos pósitos de cetim pode ser estimada pelo
elementos finitos; 5 método da transposição. A análise feita para
c) O modelo da ondulação tem sido usado um compósito reforçado por cetim de 8-liços,
para analisar o fenômeno da mudança de construído de grafite/epoxy, demonstrou uma
comportamento dos compósitos de tecido boa concordância com dados experimentais
básico após a falha inicial das fibras; para tecido e para laminado cruzado;
d) O modelo do mosaico é útil para uma h) Os mecanismos de falha do compósito
estimativa grosseira das propriedades de por falhas sucessivas nos fios da urdidura e
rigidez do compósito de tecido; a conseqüente criação de "pontes" de trans-
e) O modelo da ondulação oferece me- ferência do carregamento têm sido analisados
lhores resultados que o modelo do mosaico com uso dos modelos acima. Os resultados
para os módulos relacionados à flexão e aos teóricos obtidos para um cetim de 8-liços
esforços no plano do laminado. Entretanto, o com fibra de vidro e polimida concordam
modelo da ondulação não se presta para a bem com a curva expetimental e mostram que
avaliação das propriedades elásticas para os as regiões de transferência do carrega-
cetins com valores altos de ng; mento, ou seja, as regiões de "pontes", res-
f) O modelo de transposição foi desen- pondem pelas maiores rigidez e tensão na
volvido para examinar a rigidez e resistência região de mudança de comportamento nos
dos compósitos reforçados por cetins, de compósitos de cetim do que naqueles de
modo geral. As regiões de entrelaçamento em tecido básico. rnJ

REFERÊNCIAS
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