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COMPÓSITOS REFORÇADOS
POR TECIDOS
INTRODUÇÃO
Por definição, compósitos são materiais formados por duas ou mais fases,
perfeitamente distinguíveis entre si em uma escala macrométrica, tanto pela existência
de uma nítida interface separando suas fases quanto pelo fato de serem elas signi-
ficantemente diferentes uma das outras, em termos de propriedades mecânicas. Por
serem construídos de acordo com as necessidades do projeto em termos de resistência
e desempenho, os materiais compósitos viabilizam a construção de estruturas eficientes,
de alto desempenho e pouco peso, fatores muitas vezes de difícil conciliação quando
são empregados os materiais convencionais. Inicialmente mais caros que os materiais
convencionais, os custos de aplicação dos compósitos têm, entretanto, sido reduzidos
de modo significativo nos dias atuais. Respondem por isso o surgimento de novos
materiais, o desenvolvimento de novas tecnologias de fabricação e o aprimoramento e
adequação dos projetos, resultado marcante das facilidades de comunicação e do
sinergismo entre diferentes campos da ciência, como os da química, da ciência dos
materiais e da mecânica.
Basicamente formados por uma fase contínua, denominada matl1z e responsável
pela forma estrutural e adequação às condições ambientais, e por uma fase descontínua,
conhecida como reforço e responsável pela realização da quase totalidade do trabalho
mecânico, tem crescido ultimamente o número dos compósitos que são reforçados por
tecidos .
O reforço usado na forma de tecido nos compósitos pode atender, com vantagens, a
inúmeros requisitos de projeto, tais como a estabilidade dimensional, uma maior
quadros
de liços
fiado
urdume
rolo do
urdume lançade ira
rolo do
tecido
Da esquerda para a direita, vê-se primeiro ciência como reforço, que são a sua capa-
na figura o rolo do urdume (warp beam), do cidade em tomar formas complexas, princi-
qual saem os fios denominados fios do palmente com duplas curvaturas, e a sua
urdume, ou, simplesmente, urdume (warp), resistência à distorção, ou estabilidade.
que são levantados ou abaixados pelos O tecido básico é o modelo mais sim-
quadros de liços (harness), de modo a ples de tecido , e nele o entrelaçamento é
facilitar a passagem, transversalmente, dos feito de modo que cada fio, de urdume ou
fios da trama (filling yará), que são guiados da trama, passe sobre um fio e depois sob
em seu movimento pela lançadeira (shuttle). o fio seguinte, repetidamente. Nas smjas,
Após atravessarem os fios do urdume, os fios um ou mais fios do urdume passam (ou
da trama são empurrados e apertados em seu "flutuam") sobre pelo menos dois fios
lugar pelo movimento horizontal de uma consecutivos da trama. Além disso, os
armação conhecida como pente (real ou quadros de liços sofrem um deslocamento
batten). Todo o conjunto de fios e tecido é lateral de um em relação ao outro, de modo
tracionado pelo rolo do tecido (cloth beam). que este tipo de tecido apresenta um
Os teares mais modernos procuram substituir desenho característico na diagonal, conhe-
as lançadeiras por meios capazes de condu- cido como "linhas da smja" (twill lines).
zirem os fios da trama de modo mais rápido Nos cetins, um fio do urdume passa sobre
e silencioso. Assim, nos teares modernos os três ou mais fios da trama e depois sob
fios da trama são guiados por jatos de água apenas um fio da trama. As lãs (rovings)
(water-jet 100m), jatos de ar (air-jet 100m), têm como característica maior o fato de que
por projéteis (projectile, nússile ou gripper nela os fios do urdume e da trama são
loom) e outros meios mais. formados por feixes de fibras não torcidas.
Têm s ido largamente empregadas na
construção de embarcações, contêiners de
PRINCIPAIS TIPOS DE carga e outras aplicações, normalmente
TECIDOS onde não é requerido um alto desempenho
da estrutura construída e onde faz-se neces-
Conforme o processo de fabricação usado sário que as paredes sejam espessas. As
nas tecelagens pode-se obter: tecido lãs, por não serem tão usadas em compó-
(weaving), malha (knitting) ou feltros sitos de alto desempenho, não serão tra-
(jelting). Os compósitos, em sua maioria, são tadas neste trabalho. As figuras da página
reforçados por tecidos, razão pela qual seguinte ilustram os três tipos de tecidos
somente este tipo será analisado no presente que são abordados neste artigo.
trabalho. Os quatro tipos principais de Quanto à estabilidade e à capacidade em
tecidos são: o tecido básico (plain weave), tomar formas complexas pode-se dizer que:
as saljas (twills) , os cetins (satins) e as lãs - os tecidos básicos são os de maior
(woven rovings). estabilidade dentre todos os tipos citados.
Por outro lado, os tecidos têm duas carac- Entretanto, têm pouca facilidade em tomarem
terísticas de grande influência na sua efi- formas complexas. De modo geral, formam
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Valo XVII- NQ 1 - 1 Quadrimestre de 2000 11
COMPÓSITOS REFORÇADOS POR TECIDOS
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estruturas menos eficientes que os cetins e as número de reforços, ou fios, por unidade de
salJas; comprimento, tanto na direção do urdume
- as satjas são relativamente estáveis e quanto na direção da trama;
mais eficientes como estruturas do que os - Tecido unidirecional: quando a
tecidos básicos. Conformam-se com relativa quantidade de fios por unidade de área numa
facilidade; das direções, usualmente a do urdume, for
- os cetins estão entre os reforços de muito maior que na outra direção, no mínimo
tecido de maior eficiência, além de toma- 80 a 20 vezes, o tecido é definido como sendo
rem formas complexas com grande unidirecional. Tecidos uni direcionais não
facilidade. devem ser confundidos com compósitos
unidirecionais, os quais são construídos com
fibras paralelas e retas;
PARÂMETROS - Massa por unidade de comprimento:
propriedade expressa em unidades como
Alguns parâmetros são importantes na denier, tex ou kg/m;
caracterização dos tecidos: - fator nfg: significa que cada fio do
- Equilíbrio: o tecido é dito equilibrado urdume interlaça-se com cada "n fg-és imo" fio
(balan ced fabric) quando tem o mesmo da trama;
- fator nwg: significa que cada fio da similares às dos laminados tendo igual núme-
trama interlaça-se com cada "nwg-ésimo" fio ro de lâminas unidirecionais, orientadas defa-
dourdume; sadas de 90°, uma em relação a outra. Como
- fator ng: usado quando nfg = nwg = ng, exemplo cita-se os do tipo [0/90] e [+45/-45].
como é o caso dos tecidos estudados neste O primeiro tipo recebe o nome especial de
trabalho larninado cruzado (cross ply lanúnate). Um
A figura abaixo ilustra os valores de ng compósito reforçado por tecido similar ao
para os três tipos de tecidos estudados. [0/90] pode ser obtido alinhando-se as fibras
do urdume com uma das
direções naturais do laminado,
a longitudinal ou a transversal.
tecido básico
ng _= 2 • sarja
ng = 3 cetim de 4 liças
ng = 4
Girando-se de 45° os fios do
urdume obtém-se uma analogia
com o laminado [+45/-45].
Tecidos não equilibrados são
análogos aos laminados cons-
(- trama
truídos com diferentes números
de fibras longas nas duas
direções ortogonais.
Como no caso dos com-
pósitos unidirecionais de
fibras longas, as propriedades
dos tecidos também dependem
fortemente da fração volumé-
(- região de
cetim de 8 liças entrelaçamento trica do reforço. Como uma
ng = 8 regra, os tecidos não apresen-
tam um "fator de empaco-
tamento" (packing) tão eficiente quanto os
compósitos de fibras unidirecionais e, assim,
MECÂNICA DO REFORÇO tendem a ter uma razão volumétrica de fibras
menor, embora esta regra não seja válida para
o exame aqui realizado é restrito aos todos os compósitos de tecido. Por exemplo,
tecidos com fibras ortogonais entre si e con- compósitos reforçados com cetins de fibra
sidera vários aspectos, tais como as pro- longa têm sido confeccionados com frações
priedades macroscópicas, a eficiência do volumétricas de fibras que ultrapassam 70%.
reforço, as deformações internas, os meca- As fibras retas e contínuas constituem-se
nismos de falhas e a influência da ondulação no mais eficiente tipo de reforço. A maior
das fibras . parte dos tecidos têm suas fibras com curva-
Em escala macroscópica, as propriedades turas sobre pelo menos parte de seu compri-
mecânicas dos tecidos ditos equilibrados são mento. Conseqüentemente, pôr sua própria
compósitos reforçados com tecido de ara- não foram estudados tão detalhadamente
mida (Kevlar 49) (100/0), híbridos com gra- como o foram nos compósitos unidirecionais.
fite e aramida na proporção 50/50, híbridos Entretanto, sabe-se que o entrelaçamento das
com grafite e aramida na proporção 25/75 e fibras nos tecidos, com suas ondulações
reforçados com grafite (0/100). Os compó- (crimp), é fator de muita importância neste
sitos foram feitos na forma de laminado cru- fenômeno e sua influência na falha dos
zado e na forma de tecido. Todos os com- compósitos vem sendo motivo de inúmeros
pósitos têm 65% de razão volumétrica de estudos.
fibras.
Cetim de 8 -/iços
para a totalidade do compósito e para a região esquemática do modelo para uma célula
do entrelaçamento. unitária é mostrado, sendo esta célula compre-
endida por uma região de entrelaçamento e
suas áreas adjacentes.
Modelo da transposição Este modelo é valido apenas para cetins
dos esforços nos quais ng é maior ou igual a 4. As quatro
regiões denominadas de A, B, D e E são for-
madas por fios de trama retos e,
conseqüentemente, podem ser assu-
midas como pedaços de laminados
cruzados de espessura ht. A região C
tem uma estrutura de entrelaçamento,
onde aparece um fio de trama ondu~
lado. Embora a ondulação no fio do
urdume seja ignorada neste modelo,
o efeito é esperado como sendo
pequeno, uma vez que o carregamento
aplicado é assumido como sendo na
direção da trama.
A rigidez no plano da região C
onde ng = 2 é calculada e seu valor
A encontrado é muito menor do que
aquele para um laminado cruzado.
Assim sendo, as regiões B e D supor-
tam um carregamento maior que a
região C e agem como pontes para a
transposição do carregamento da
região A para a E. Também é assu-
Modelo de transposição dos esforços mido que estas regiões B, C e D têm
os mesmos valores médios para as
deformações e curvaturas em seus
o sucesso das análises com os modelos planos médios.
anteriores levou ao desenvolvimento do con-
ceito do método da transposição dos esforços,
para os compósitos reforçados por cetins. Considerações sobre os modelos
Este modelo é recomendado para os cetins
tendo em vista que, neste tipo de tecido, as a) O modelo da ondulação (crimp modei)
regiões de entrelaçamento são bastante sepa- é uma aproximação unidimensional e não leva
radas uma das outras. A forma de repetição em consideração a ondulação das fibras,
no cetim, que é hexagonal no tecido, é modi- sendo particularmente indicado para a
ficada para a forma quadrada, no modelo, previsão das propriedades elásticas dos
para simplicidade de cálculo. Uma visão compósitos de tecido básico;
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