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Eletroterapia

Autores: Prof. André Setti Persiane


Prof. Cristiano Schiavinato Baldan
Profa. Juliana Barbosa Corrêa
Colaboradoras: Profa. Roberta Pasqualucci Ronca
Profa. Kelly Cristina Sanches
Professores conteudistas: André Setti Persiane / Cristiano Schiavinato Baldan /
Juliana Barbosa Corrêa
André Setti Persiane Atualmente, é diretor e professor dos cursos de pós-graduação lato sensu do
Instituto Imparare e diretor adjunto do Instituto de Ciências da Saúde, desde 2012.
Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitário São Camilo (2015); com Na UNIP, é coordenador geral do curso de Fisioterapia e coordenador da Clínica
especialização em Fisioterapia Musculoesquelética pela Faculdade de Ciências de Fisioterapia (campus Alphaville), desde 2003, membro fundador do Comitê de
Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSC-SP), em 2016, e Fisioterapia Esportiva Ética no Uso de Animais (Ceua-UNIP) e professor dos cursos de pós‑graduação
pela Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva/Conselho Federal de Fisioterapia lato sensu em Fisioterapia Ortopédica e Esportiva, desde 2002. Também é
e Terapia Ocupacional (Sonafe/Coffito), em 2018; e mestre em pesquisa em cirurgia membro honorário da Associação Nacional de Fisioterapia em Quiropraxia
também pela FCMSC‑SP (2019), cuja dissertação demonstrou associação de recursos (Anafiq), membro do corpo editorial do Journal of the Health Sciences Institute,
de eletroterapia com reabilitação de pé e tornozelo. do International Journal of Sports Medicine e da revista Fisioterapia e Pesquisa e
avaliador da escala PEDro.
Tem experiência com recursos de eletrotermofototerapia, reabilitação
do pé e tornozelo, biomecânica e cinesioterapia. Fisioterapeuta com atuação É fisioterapeuta ortopédico-funcional e esportivo desde 2000. Atuou como
em Fisioterapia ortopédica, traumatológica e esportiva desde 2015. A partir de preceptor de fisioterapia ortopédica e traumatológica no Hospital do Ipiranga
2016, ministrou aulas sobre os recursos de eletrotermofototerapia, cinesioterapia, por 10 anos, assim como foi professor dos cursos de Fisioterapia e supervisor de
reabilitação ortopédica e esportiva e reabilitação do pé e tornozelo em estágios da Unicapital, Unisa, Unicid e Faculdade Mario Schenberg entre 2001
faculdades em São Paulo e pelo Brasil. Foi coordenador técnico-científico na e 2012. Participou de inúmeros eventos científicos nacionais e internacionais,
Clubfisio de 2018 a 2019. ministrou aulas em pós-graduações em todos os estados brasileiros e publicou
inúmeros artigos nacionais e internacionais sobre o assunto.
É professor adjunto do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista
(UNIP) e sócio proprietário/fisioterapeuta em seu consultório particular, onde Juliana Barbosa Corrêa
atua principalmente nas disfunções de pé e tornozelo. Professor convidado em
cursos de pós-graduações voltados para fisioterapia ortopédica, traumatológica Graduada em Fisioterapia pela Universidade Paulista (UNIP), em 2004,
e esportiva da Faculdade Inspirar (São Paulo/SP, Cuiabá/MT, Sinop/MT, Vitória/ES, especialista em Fisioterapia Motora Ambulatorial e Hospitalar Aplicada à
Curitiba/PR e Porto Velho/RO), da Faculdade do Bico do Papagaio/PhysioCursos, Neurologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 2007, e tem
Pontifícia Universidade Católica (PUC), em Goiás, e da Faculdade de Ciências aperfeiçoamento em Cirurgia Plástica pela Unifesp. Mestra em Fisioterapia pela
Médicas da Santa Casa de São Paulo. Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), em 2014, formada no Conceito Bobath
pela Abradimene (Associação Brasileira para o Desenvolvimento e Divulgação do
Cristiano Schiavinato Baldan Conceito Bobath), em 2009, e certificada em Pilates pela Metacorpus Pilates.

Bacharel em Fisioterapia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Professora de estágio na Clínica de Fisioterapia da UNIP desde 2014, é
em 2001, e em Direito pela Universidade Paulista (UNIP), em 2018. Especialista em docente do curso de Fisioterapia na mesma instituição desde 2013 e também nos
Fisioterapia Motora pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São cursos de pós-graduação do Instituto Imparare, Biocursos e Faculdade Inspirar nas
Paulo (ISCMSP), em 2002; mestre, em 2005, e doutor, em 2013, em Ciências áreas de neurologia e agentes eletrofísicos.
(Fisiopatologia Experimental) pela Universidade de São Paulo (USP), teve a
eletrotermofototerapia como mote da sua monografia apresentada no curso de Possui diversos artigos publicados em revistas nacionais e internacionais,
especialização e no doutorado. é revisora de periódicos internacionais na área e membro da International
Association for the Study of Pain (Iasp).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P466e Persiane, André Setti.

Eletroteparia / André Setti Persiane. Cristiano Schiavinato


Baldan. Juliana Barbosa Corrêa. – São Paulo: Editora Sol, 2021.

172 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Corrente. 2. Dor. 3. Fisiologia. I. Persiane, André Setti. II. Baldan,


Cristiano Schiavinato. III. Corrêa, Juliana Barbosa. IV. Título.
CDU 615.84

U510.59 – 21

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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Jacinara Albuquerque
Lucas Ricardi
Sumário
Eletroterapia

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM ELETRICIDADE E SUAS RELAÇÕES COM
A ELETROTERAPIA................................................................................................................................................. 13
1.1 Eletricidade: conceito.......................................................................................................................... 13
1.1.1 Carga elétrica............................................................................................................................................ 13
1.1.2 Íons................................................................................................................................................................ 15
1.1.3 Cátodos e ânodos.................................................................................................................................... 15
1.1.4 Campo elétrico.......................................................................................................................................... 16
1.1.5 Voltagem..................................................................................................................................................... 16
1.1.6 Corrente elétrica...................................................................................................................................... 17
1.1.7 Condutores e isolantes.......................................................................................................................... 18
1.1.8 Resistência e condutância................................................................................................................... 18
2 CLASSIFICAÇÃO DAS CORRENTES ELÉTRICAS TERAPÊUTICAS....................................................... 19
2.1 Tipos de correntes eletroterapêuticas........................................................................................... 19
2.1.1 Corrente contínua................................................................................................................................... 19
2.1.2 Corrente alternada.................................................................................................................................. 20
2.1.3 Corrente pulsada...................................................................................................................................... 20
2.2 Características descritivas das correntes alternadas e pulsadas........................................ 21
2.2.1 Número de fases...................................................................................................................................... 22
2.2.2 Simetria........................................................................................................................................................ 23
2.2.3 Equilíbrio..................................................................................................................................................... 24
2.2.4 Forma............................................................................................................................................................ 25
2.3 Descrição de correntes pulsadas ou alternadas por meio das
características qualitativas....................................................................................................................... 26
2.4 Características descritivas das correntes alternadas e pulsadas........................................ 27
2.4.1 Características de pulsos únicos........................................................................................................ 27
3 CORRENTE GALVÂNCIA OU CORRENTE DIRETA TERAPÊUTICA...................................................... 30
3.1 Efeitos fisiológicos e terapêuticos da corrente galvânica ou corrente direta.............. 31
3.1.1 Estimulação sensorial............................................................................................................................. 31
3.1.2 Hiperemia.................................................................................................................................................... 32
3.1.3 Eletrotônus................................................................................................................................................. 32
3.1.4 Analgesia..................................................................................................................................................... 32
3.1.5 Cicatrização................................................................................................................................................ 32
3.1.6 Destruição de tecidos............................................................................................................................. 33
3.2 Iontoforese............................................................................................................................................... 33
3.2.1 Mecanismo de ação................................................................................................................................ 34
3.2.2 Efeitos colaterais...................................................................................................................................... 36
3.2.3 Cuidados e contraindicação da corrente direta e da iontoforese........................................ 37
3.2.4 Procedimentos de aplicação da corrente direta......................................................................... 38
4 CORRENTES DIADINÂMICAS DE BERNARD........................................................................................... 41
4.1 Conhecendo as correntes diadinâmicas...................................................................................... 41
4.2 Efeitos fisiológicos e terapêuticos das correntes diadinâmicas......................................... 43
4.2.1 Difásica fixa (DF)....................................................................................................................................... 43
4.2.2 Longos períodos (LP).............................................................................................................................. 44
4.2.3 Curtos períodos (CP)............................................................................................................................... 45
4.2.4 Monofásica fixa (MF).............................................................................................................................. 46
4.2.5 Ritmo sincopado (RS)............................................................................................................................. 47
4.3 Dosimetria das correntes diadinâmicas....................................................................................... 47

Unidade II
5 FISIOLOGIA DA DOR........................................................................................................................................ 54
5.1 Introdução................................................................................................................................................ 54
5.2 Epidemiologia da dor........................................................................................................................... 54
5.2.1 Dor aguda................................................................................................................................................... 54
5.2.2 Instrumentos de avaliação da dor.................................................................................................... 57
5.2.3 Dor crônica................................................................................................................................................. 58
5.3 Impactos da dor crônica..................................................................................................................... 61
5.3.1 Dor crônica na função física e atividades diárias....................................................................... 62
5.3.2 Dor crônica na qualidade de vida..................................................................................................... 62
5.3.3 Dor crônica e sono.................................................................................................................................. 63
5.3.4 Dor crônica nas atividades laborais................................................................................................. 63
5.3.5 Dor crônica na vida social e familiar............................................................................................... 63
5.4 Fisiopatologia da dor crônica........................................................................................................... 63
5.5 Sensibilização periférica..................................................................................................................... 64
5.6 Sensibilização central.......................................................................................................................... 64
5.7 Dor aguda versus dor crônica.......................................................................................................... 65
5.8 Educação em neurociência da dor................................................................................................. 66
5.8.1 Educação e compreensão..................................................................................................................... 68
6 ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS)......................................................... 69
6.1 Definição................................................................................................................................................... 70
6.2 Aplicação clínica da TENS.................................................................................................................. 70
6.3 Teorias sobre analgesia por TENS.................................................................................................... 72
6.4 Principais indicações da TENS na prática clínica..................................................................... 74
6.5 Princípios físicos.................................................................................................................................... 75
6.5.1 TENS convencional (de alta frequência)......................................................................................... 76
6.5.2 TENS acupuntura (de baixa frequência)......................................................................................... 76
6.5.3 TENS breve-intensa................................................................................................................................. 76
6.6 Contradições da TENS.......................................................................................................................... 78
6.7 TENS na prática clínica....................................................................................................................... 80
6.8 TENS e dor crônica................................................................................................................................ 80
6.8.1 Dor lombar crônica................................................................................................................................. 81
6.8.2 Dismenorreia primária........................................................................................................................... 82
6.8.3 Osteoartrite do joelho............................................................................................................................ 82
6.8.4 Dor pós-operatória aguda.................................................................................................................... 83
6.9 CORRENTE INTERFERENCIAL............................................................................................................. 84
6.9.1 Definição..................................................................................................................................................... 84
6.9.2 Vantagens da corrente interferencial.............................................................................................. 85
6.9.3 Parâmetros ajustáveis............................................................................................................................ 85
6.9.4 Mecanismo de analgesia...................................................................................................................... 89
6.9.5 Tempo de aplicação................................................................................................................................ 90
6.9.6 Contraindicações..................................................................................................................................... 90

Unidade III
7 CORRENTES ELÉTRICAS.................................................................................................................................. 96
7.1 Parâmetros de eletroestimulação e a sua relação com a fisiologia.................................. 97
7.2 Mecanismo de ação............................................................................................................................107
7.2.1 Fortalecimento em músculos saudáveis.......................................................................................109
7.2.2 Fortalecimento em músculos fracos..............................................................................................109
7.2.3 Facilitação do controle muscular....................................................................................................109
7.2.4 Substituição de órteses....................................................................................................................... 110
7.2.5 Controle da espasticidade.................................................................................................................. 110
7.2.6 Alterações na estrutura e nas propriedades do músculo.......................................................111
7.2.7 Efeitos sobre o metabolismo muscular e fluxo sanguíneo................................................... 112
8 APARELHO GERADOR DE CORRENTE EXCITOMOTORA DE BAIXA FREQUÊNCIA...................112
8.1 Características físicas.........................................................................................................................112
8.2 Eletroestimulação em condições neurológicas.......................................................................116
8.2.1 Subluxação do ombro após acidente vascular cerebral......................................................... 116
8.2.2 Funcionalidade do membro superior............................................................................................. 117
8.2.3 Funcionalidade dos membros inferiores...................................................................................... 118
8.2.4 Controle da espasticidade.................................................................................................................. 118
8.2.5 Tratamento da escoliose.....................................................................................................................119
8.3 Eletroestimulação em condições musculoesqueléticas.......................................................120
8.3.1 Tratamento conservador e pós-operatório de reconstrução do
ligamento cruzado anterior do joelho.....................................................................................................121
8.3.2 Síndrome da dor femoropatelar..................................................................................................... 122
8.3.3 Artrite degenerativa ou osteoartrose de joelho....................................................................... 122
8.3.4 Substituição total da articulação................................................................................................... 123
8.3.5 Músculos intrínsecos do pé.............................................................................................................. 124
8.4 Corrente russa......................................................................................................................................126
8.4.1 Características físicas.......................................................................................................................... 126
8.5 Utilização da corrente russa em condições ortopédicas.....................................................129
8.5.1 Tratamento conservador e pós-operatório de reconstrução do ligamento
cruzado anterior do joelho.......................................................................................................................... 129
8.5.2 Substituição total da articulação................................................................................................... 130
8.6 Utilização da corrente russa em condições cardiorrespiratórias.....................................130
8.6.1 Treino respiratório em pacientes com DPOC............................................................................. 130
8.7 Corrente aussie.....................................................................................................................................131
8.8 Indicações, precauções, contraindicações e prática segura do uso
da eletroestimulação.................................................................................................................................135
8.8.1 Indicações................................................................................................................................................ 135
8.8.2 Contraindicações.................................................................................................................................. 135
8.8.3 Precauções............................................................................................................................................... 138
8.9 Prática segura da eletroestimulação...........................................................................................140
8.10 Técnicas de aplicação......................................................................................................................141
APRESENTAÇÃO

Esta disciplina propõe apresentar os recursos físicos utilizados pela fisioterapia que alteram a
transmissividade elétrica dos neurônios, proporcionando respostas fisiológicas e terapêuticas nos
pacientes, por meio da aplicação de correntes elétricas que sensibilizam receptores em busca de melhora
dos quadros clínicos.

Além disso, são feitas abordagens teóricas e práticas dos princípios da eletroterapia, bem como a
diferenciação entre os diversos recursos elétricos disponíveis, para o estabelecimento de prioridades de
tratamento, diante do diagnóstico dos pacientes. Os objetivos desta disciplina são:

• Mostrar os efeitos benéficos dos equipamentos eletroterapêuticos e introduzir elementos


básicos de eletroterapia que permitam a formação de profissionais diferenciados, atentos às
necessidades de seus pacientes e aptos a realizar diagnóstico e diferenciar, desse modo, qual
recurso da eletroterapia é mais adequado para se obter maior eficácia de tratamento perante o
caso clínico apresentado pelo paciente.

• Rever conceitos da eletrofísica.

• Apontar as alterações fisiológicas promovidas pela submissão corporal a um estímulo elétrico.

• Apresentar equipamentos eletroterapêuticos utilizados pela fisioterapia.

• Discutir os processos de reparação dos tecidos, frente às mais diversas lesões.

• Conhecer os mecanismos de ação, os efeitos fisiológicos, terapêuticos e adversos nas diversas


formas de utilização da eletroterapia.

• Proporcionar aprendizado teórico-prático na utilização dos recursos elétricos.

• Capacitar o aluno para a utilização da eletroterapia perante condições patológicas do paciente.

• Facilitar a formação do fisioterapeuta no emprego da eletroterapia, como recurso promotor de


saúde e bem-estar para o paciente.

INTRODUÇÃO

Neste livro-texto, aprenderemos sobre os recursos da eletroterapia.

Incialmente, vamos aprender sobre as principais propriedades eletrofísicas das correntes elétricas,
pois isso fundamentará toda a compreensão dos efeitos promovidos pela passagem das correntes
elétricas pelo corpo humano.

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Na sequência, passaremos a estudar as principais correntes elétricas utilizadas pela fisioterapia.
As primeiras sobre as quais discutiremos são as correntes polarizadas. Elas estão entre as correntes mais
antigas utilizadas por profissionais da saúde. Assim, veremos a corrente galvânica e as correntes
diadinâmicas de Bernard. Analisaremos suas características físicas, ações principais, mecanismos de
ação, indicações terapêuticas e contraindicações. Ainda, teremos a oportunidade de estudar uma técnica
específica conhecida por iontoforese. Diante disso, passaremos a estudar as correntes elétricas não
polarizadas. Estas são mais recentes, confortáveis, apresentam menores riscos de queimaduras
aos pacientes e, por isso, têm sido amplamente indicadas no dia a dia dos fisioterapeutas em
todo o mundo.

Como parte dessas correntes são utilizadas com o objetivo de promover analgesia, teremos a
oportunidade de revisitar conceitos muito importantes sobre a fisiologia da dor. Diante disso,
passaremos a estudar as características físicas, ações principais, mecanismos de ação, indicações e
contraindicações de:

• estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS);

• corrente interferencial;

• estimulação elétrica funcional;

• estimulação elétrica funciona (FES);

• estimulação elétrica neuromuscular (NMES);

• corrente russa;

• corrente aussie;

• terapia combinada.

Iniciaremos nossos estudos sobre os conceitos básicos em eletricidade, pois eles serão indispensáveis
para a compreensão integral das indicações e efeitos das correntes elétricas no organismo humano.
Além disso, aprenderemos a classificar as correntes eletroterapêuticas, tendo por base suas características
físicas e descritivas, para, então, entender suas designações contemporâneas.

Aprenderemos, ainda, a diferenciar as características quantitativas das qualitativas das correntes elétricas.

Após conhecermos as bases eletroterapêuticas, passaremos a estudar duas correntes elétricas


polarizadas que são utilizadas na fisioterapia: a corrente contínua (também chamada de corrente direta
ou corrente galvânica) e a “família” das correntes diadinâmicas de Bernard.

Em seguida, estudaremos sobre a fisiologia da dor, já que o conhecimento dos mecanismos de dor,
bem como sua fisiologia, tipos de dor e impactos da dor na vida dos pacientes, tornarão o conhecimento
10
a base para o tratamento desse sintoma tão importante. Além disso, será indispensável para o estudo
das correntes analgésicas que ocorrerão a seguir.

Então, estudaremos o tipo de estimulação TENS (estimulação elétrica nervosa transcutânea), que é
uma corrente amplamente utilizada para analgesia e relaxamento muscular, apesar de ser utilizada com
outras finalidades também na atualidade. A TENS é um tipo de estimulação com poucas contraindicações
e que se trata de um tratamento de baixo custo, de fácil utilização, sem efeitos colaterais e que possui
muitas evidências de resultados positivos para o alívio da dor.

Aprenderemos, ainda, sobre a corrente interferencial, que é amplamente utilizada em países da


Europa, com o principal objetivo de gerar analgesia. A corrente interferencial é de média frequência,
o que traz algumas vantagens na sua aplicação, tornando-a mais confortável e capaz de atingir
tecidos mais profundos.

Por fim, iniciaremos nossos estudos sobre as principais correntes de estimulação elétrica neuromuscular.
Aprenderemos a relacionar os principais parâmetros das correntes com a fisiologia neuromuscular, além
de programá-los da maneira correta com base nas alterações fisiológicas do organismo. Além disso,
aprenderemos sobre o manuseio dos aparelhos mais utilizados na prática clínica, desde o controle
dos botões até as formas de aplicação nos pacientes, abordando também os principais parâmetros
baseados na literatura.

Não podemos deixar de falar sobre como associar os exercícios ativos com as correntes de estimulação
neuromuscular, visto serem fortes aliados. Estamos certos de que ao final dessa jornada, você,
estudante, terá um arsenal terapêutico poderoso para auxiliar na reabilitação de seus pacientes.

Bons estudos!

11
ELETROTERAPIA

Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM ELETRICIDADE E SUAS RELAÇÕES COM
A ELETROTERAPIA

Mesmo que estejamos iniciando nossa caminhada pela linda estrada da eletroterapia, o nome que
é dado aos recursos elétricos utilizados como fontes terapêuticas na fisioterapia são sugestivos de
que utilizaremos as correntes elétricas para a solução de condições clínicas indesejadas, não é mesmo?

Naturalmente, para alguns estudantes da área da saúde (e acredite, não são poucos), pensar em
rever conceitos físicos chega a assustar. Mas, neste capítulo, nós teremos a oportunidade de aprender
os conceitos fundamentais em eletricidade de um forma bastante didática e voltada para a prática, para
que você possa compreender essa matéria, em vez de memorizá-la.

Mesmo nos momentos em que se fizerem necessárias apresentações de alguma fórmula (prometo
que serão raríssimas essas ocasiões), serão dados exemplos que facilitarão a sua compreensão e, mais
do que isso, faremos o possível para que você entenda como aquilo funciona na prática e qual a relação de
importância daquele conceito com as aplicações clínicas que você fará do recurso.

1.1 Eletricidade: conceito

1.1.1 Carga elétrica

A carga elétrica, ou simplesmente carga, talvez seja o conceito mais importante que tenhamos que
aprender nesse início de jornada. Mas, infelizmente, ao mesmo tempo é o mais complicado de explicar,
porque ela é o que chamamos de propriedade fundamental ou propriedade básica. E o que é isso?

Propriedades fundamentais são aquelas presentes em corpos, matérias etc. que não podem ser
vistas, mas que podem ter seus efeitos sentidos e/ou comprovados. Talvez fique mais fácil para
você entender o que desejamos dizer se pensar em outros conceitos que também são propriedades
fundamentais, como, por exemplo, a massa e o tempo.

Não conseguimos ver o tempo, mas sabemos que ele existe e que ele promove seus efeitos (isso fica
mais claro quando olhamos para o RG e, em seguida, no espelho... como o tempo passa!).

Talvez fique mais fácil de entender o que é a carga elétrica se tentarmos defini-la de forma
operacional, ou seja, demonstrando como ela age.

É bem possível que você já tenha visto alguém esfregar rapidamente uma régua plástica ou um
pente no cabelo ou na roupa e, imediatamente após fazer isso, aproximar o objeto plástico de pequenos
13
Unidade I

pedaços de papel picados deixados sobre uma mesa, por exemplo. Para quem nunca viu, sugiro que faça
essa experiência.

Sem mesmo ter a necessidade de encostar a régua ou o pente nos pedaços de papel, ao aproximar a régua
ou o pente, os papéis são atraídos, como um ímã, sendo possível ver esses pedacinhos aderirem ao objeto.

Os cientistas descreveram essa propriedade como eletricidade estática, que representa a manifestação
da força de atração eletromagnética exercida pelas partículas “carregadas” presentes no pente ou na régua.

Em resumo, a carga elétrica pode ser definida como a propriedade básica da matéria carregada
por algumas partículas elementares que governa como essas partículas são afetadas por um campo
elétrico ou magnético.

Estudos mais recentes puderam demonstrar que existem dois tipos de carga elétrica na natureza e a
elas foram dados os nomes de carga elétrica positiva e negativa.

Você deve se lembrar que os corpos são compostos por átomos e que esses átomos apresentam duas
regiões: o núcleo e a eletrosfera:
-

Núcleo
Nêutron

0 -
+ +
0 0
+ +
Eletrosfera 0
Próton
-
-
Elétron

Figura 1 – O átomo: no centro, encontra-se o núcleo, formado pela presença de


prótons (partículas positivas) e nêutrons (partículas neutras); na periferia,
as linhas tracejadas demonstram a trajetória dos elétrons (partículas negativas)

No núcleo, encontramos os chamados prótons, que são elementos carregados com cargas elétricas
positivas. Na periferia, temos a eletrosfera. Ela é composta por elétrons que são carregados negativamente.
Esses elétrons movimentam-se em torno do núcleo o tempo todo.

Na figura, pode ser visto um átomo que apresenta quatro prótons e quatro elétrons, portanto, tem
carga elétrica neutra. Contudo, cargas elétricas podem ser transferidas de um corpo para outro, mas elas
não podem ser criadas. Assim, se um átomo perder um elétron para o ambiente ou outra molécula (sem
modificar o número de prótons em seu núcleo), ele passará a ficar menos negativo ou mais positivo,
enquanto o inverso é verdadeiro.

14
ELETROTERAPIA

No exemplo esquemático da figura, se o átomo perder um elétron, deixará de ser eletricamente


neutro e passará a ser positivo.
1.1.2 Íons
Sempre que um átomo apresentar número diferente de prótons e elétrons, ele apresentará uma
carga elétrica, negativa ou positiva, dependendo da prevalência de cargas elétricas dos elementos que
o constituem e, nesse caso, ele é chamado íon.

Os íons positivamente carregados são chamados de cátions e os íons negativamente carregados são
chamados de ânions.

É sabido que, na natureza, os corpos carregados por cargas diferentes sofrem atração, enquanto os
corpos carregados por cargas iguais repelem-se.
1.1.3 Cátodos e ânodos
Substâncias e objetos também podem se tornar eletricamente carregados.

Vamos pensar sobre o que ocorre numa pilha. As reações químicas que acontecem em seu interior
fazem com que um dos lados ganhe elétrons, enquanto o outro perde. Assim, o lado da pilha que
ganhou íons negativos é chamado cátodo e o lado que ganhou íons positivos é chamado ânodo.

O cátodo e o ânodo são chamados de polos, ou seja, sempre que tivermos concentração de
elementos carregados pelo mesmo tipo de carga elétrica (positivo ou negativo), teremos um polo. Mas a
nomenclatura desses elementos, muitas vezes, gera muitas confusões aos estudantes, porque os nomes
são semanticamente parecidos: cátion, cátodo, ânion, ânodo.

Para facilitar a sua memorização, tente se lembrar do seguinte: cátodo atrai cátion. Já sabemos que
cátion é o íon positivo. Também, sabemos que cátodo é nome dado a um dos polos. Sabemos também
que opostos se atraem. Logo, se cátodo atrai cátion e cátion é o íon positivo, o cátodo é o polo negativo.

O mesmo pensamento pode ser feito para o outro polo. Ânodo atrai ânion, pelos mesmos motivos
expostos anteriormente.

O termo polaridade é utilizado para indicar a carga relativa dos terminais de um circuito elétrico.
A capacidade de atração ou repulsão se dá porque é gerada uma força entre os corpos eletricamente
carregados. Essa força (F) pode ser determinada experimentalmente e é expressa em coulombs.

Ela é proporcional à magnitude e ao sinal das cargas elétricas (q1 e q2) e inversamente proporcional
ao quadrado da distância (r) entre elas, conforme determinado pela Lei de Coulomb:
(q1 . q2)
Fa
r2
Na prática, o que essa equação quer dizer?
15
Unidade I

Primeiramente, que quanto maior for a carga elétrica de cada elemento envolvido, maior a força de
atração e repulsão que existirá.

Além disso, quanto mais próximos estiverem os corpos, mais forte será a atração ou repulsão e
vice‑versa, sendo que, como na fórmula citada a distância está elevada ao quadrado, a sua influência
sobre a magnitude da força é muito grande.

Por exemplo, se avaliarmos a força de atração entre dois corpos que se encontrem em uma
determinada distância, ao afastarmos esse corpo para uma distância cinco vezes maior, a força de
atração será 25 vezes menor, porque 5² é igual a 25.

1.1.4 Campo elétrico

O campo elétrico é o meio pelo qual as forças elétricas das partículas carregadas são transmitidas
entre si e ele está representado a seguir:

-
-
+ -

A) B)

Figura 2 – Representação das linhas do campo elétrico formado pela interação entre corpos
de cargas opostas (A) ou iguais (B), refletindo a atração das partículas carregadas de maneira
oposta e a repulsão entre as partículas carregadas iguais

1.1.5 Voltagem

Voltagem também é chamada de diferença de potencial elétrico ou força eletromotriz. Talvez o


último sinônimo dado para voltagem seja aquele que mais facilmente nos ajude a entender o significado
do termo. Vamos analisar a figura:

- -

Figura 3 – Representação esquemática do efeito da aproximação de dois objetos semelhantemente carregados:


note que o objeto maior (à esquerda do leitor), carregado negativamente, manteve-se estático ao longo de
todo o tempo; a repulsão criada com a aproximação do corpo esférico menor, também carregado
negativamente, fez com que ele se deslocasse a uma distância “d”; à repulsão gerada capaz de
movimentar o corpo esférico menor à distância “d” é dado o nome de voltagem ou força eletromotriz

16
ELETROTERAPIA

Nela, vemos um corpo grande, “A”, com muitas cargas elétricas positivas que interagem com o campo
elétrico do corpo “B”. Considerando que o corpo “A” está fixo, imóvel, e que o corpo “B” tem liberdade
para se movimentar, com base no que já pudemos estudar, esperamos que o corpo “B” afaste‑se do “A”,
uma vez que ambos apresentam cargas elétricas de mesma polaridade. Essa movimentação dar-se-á
porque existe uma força capaz de “empurrar” o corpo “B”, mudando a sua posição inicial. Mas qual é a
distância que o corpo “B” vai percorrer?

Isso vai depender de algumas variáveis, como a massa do corpo “B”, das resistências que o ambiente
vai impor ao movimento e, principalmente, da magnitude da força que o fará se movimentar.

Essa força é a voltagem e, por isso, ela é também chamada de força eletromotriz, ou seja, força
elétrica que gera movimento.

Quando “B” se encontrava em sua posição inicial, a força de repulsão entre os corpos era tanta que
era capaz de vencer as resistências externas e fazer com que houvesse a sua movimentação. Assim,
podemos dizer que havia um grande potencial de gerar trabalho (movimento).

No “ponto final do deslocamento do corpo B”, ainda existe uma força de repulsão entre os corpos,
mas, agora, já não mais suficiente para que “B” continuasse se movimentando, pois o potencial
elétrico para gerar o movimento havia reduzido exponencialmente com o aumento da distância entre
os corpos envolvidos.

A diferença de potencial existente entre os momentos inicial e final também é a voltagem (e essa é
a explicação para que tenhamos mais esse sinônimo).

A unidade de medida de voltagem é o volt (V).

1.1.6 Corrente elétrica

A corrente elétrica, ou simplesmente corrente (representada pela letra “i”), nada mais é do que o
movimento das partículas eletricamente carregadas.

Quando nos referimos à corrente elétrica passando por um fio elétrico, devemos imaginar uma série
de elétrons movimentando-se do polo negativo em direção ao polo positivo.

Quando pensamos na transmissão elétrica que ocorre no corpo humano, devemos lembrar que as
partículas eletricamente carregadas que se movimentam pelos líquidos corporais e que geram uma série
de modificações biológicas que podem promover efeitos terapêuticos desejáveis são os íons.

Naturalmente, para que essas partículas eletricamente carregadas possam se movimentar, é


fundamental que alguma força aja sobre elas, promovendo tal movimento. Essa força é a voltagem,
causada pelos polos, com diferentes polaridades, que estarão em contato com a pele de nosso paciente.

Assim, sempre, os íons corporais (cátions e ânions), quando se encontrarem entre os polos positivo
e negativo de um circuito elétrico formado pela posição de eletrodos no corpo humano, tenderão
17
Unidade I

a mover-se para o cátodo ou para o ânodo, conforme os fundamentos das interações dos campos
elétricos dos entes envolvidos nesse cenário.

Contudo, não podemos nos esquecer que essa movimentação das partículas eletricamente carregadas
dependerá não só da existência de uma voltagem, mas também de variáveis dos tecidos que contêm os
diferentes íons relativos à “permissividade” de movimentação desses íons em seus interiores.

Vamos comentar sobre essas características.

1.1.7 Condutores e isolantes

Os íons livres e dispersos nas soluções dos tecidos biológicos tenderão a movimentar-se se houver
a interação de seus campos elétricos com os de outros corpos eletricamente carregados (outros íons ou
polos de um circuito elétrico formado pela ação voluntária de um fisioterapeuta, quando aplica uma
corrente eletroterapêutica).

Assim, dizemos que são condutores aqueles tecidos ricos em íons e que favorecem, em seu interior,
a movimentação dessas partículas eletricamente carregadas. Que tipos de tecidos você acredita que são
considerados bons condutores? Pense bem, pois você tem condições de responder a essa pergunta.

Um bom exemplo de tecido condutor é o músculo. Ele é rico em íons e líquido. Se você se lembrar
da fisiologia da contração muscular, certamente vai entender o que eu quero dizer.

Outro tecido que é um excelente condutor é o nervoso. Não é para menos, afinal, a função dos
nervos é conduzir potenciais de ação, ou seja, corrente elétrica. Nosso sistema nervoso nada mais é do
que uma lindíssima e apaixonante circuitaria elétrica e, portanto, é de se esperar que ele tenha uma
excelente capacidade de transmitir correntes elétricas.

Por outro lado, tecidos como a pele e, especialmente, a gordura, não são bons condutores. A gordura,
inclusive, por não ter muita água, dificulta bastante da passagem da corrente elétrica e, por isso, pode
ser considerada um tecido isolante.

1.1.8 Resistência e condutância

A magnitude do fluxo de carga é determinada não só pela voltagem, mas também pela facilidade
relativa com a qual as partículas eletricamente carregadas poderão mover-se no material condutor.

Dessa forma, corpos ou tecidos que ofereçam maior resistência ao fluxo das partículas eletricamente
carregadas, impondo-lhes maior objeção à movimentação, são conhecidos como resistores, e apresentam
grande resistência (R). A unidade de medida da resistência é o ohm, ou ômio.

Inversamente, aqueles corpos ou tecidos que ofereçam menor resistência ao fluxo das partículas
eletricamente carregadas, favorecendo suas movimentações, apresentam boa condutância (G). A unidade
de medida da condutância é o mho (no Sistema Internacional de Unidades é o siemens).
18
ELETROTERAPIA

2 CLASSIFICAÇÃO DAS CORRENTES ELÉTRICAS TERAPÊUTICAS

Agora que você já conhece alguns termos importantes sobre as correntes elétricas, já podemos
iniciar nossos estudos sobre uma porção especial delas: as correntes elétricas terapêuticas.

Esse recurso tem sido usado há centenas de anos. Obviamente, com o passar do tempo, novas
correntes foram surgindo e, a partir de então, tornou-se necessário criar um sistema de classificação e
designação delas, para que a comunicação entre os profissionais pudesse ser clara, sem deixar dúvidas
acerca do tipo de corrente sobre a qual se fala.

Assim, na metade dos anos 1980, a Associação Americana de Fisioterapia, por meio de sua seção
sobre eletrofisiologia clínica, apresentou um documento com orientações para descrições qualitativas e
quantitativas das correntes eletroterapêuticas.

2.1 Tipos de correntes eletroterapêuticas

As correntes que são utilizadas para atingir objetivos terapêuticos na atualidade podem ser divididas
em corrente contínua, corrente pulsada e corrente alternada. Naturalmente, somente a classificação por
tipos de correntes não será suficiente para descrever exatamente sobre qual corrente estamos falando,
por isso, mais a frente, vamos apresentar as características qualitativas e quantitativas, que podem nos
ajudar a reconhecer essas correntes.

2.1.1 Corrente contínua

Conforme vimos anteriormente, corrente elétrica é o termo usado para designar o movimento de
cargas eletricamente carregadas (elétrons ou íons) em direção ao polo que apresenta polaridade inversa
à carga das partículas que nos referimos.

Na eletroterapia, os polos normalmente são criados pelos eletrodos. Quando esses eletrodos
apresentam polaridade fixa, ou seja, quando um eletrodo é positivo, permanece assim ao longo de toda
terapia, enquanto que o outro será negativo ao longo de todo o tratamento, os íons positivos serão
atraídos pelo eletrodo de polo negativo (cátodo) e os íons negativos serão atraídos para o polo positivo
(ânodo), conforme podemos observar na figura a seguir.

Eletrodo negativo Eletrodo positivo

— - - +

Figura 4 – Movimentação de partícula negativamente carregada entre dois eletrodos

19
Unidade I

Num sistema como o apresentado na figura, se mantivermos a voltagem (força eletromotriz) fixa
após ligarmos o equipamento, teremos um fluxo contínuo das cargas eletricamente carregadas, sempre
na mesma direção. Não havendo interrupções na voltagem, a corrente elétrica será contínua (por isso
que ela recebe esse nome).

No dia a dia, é comum encontrar autores, clínicos e pesquisadores que chamam essa corrente de
corrente direta ou, ainda, de corrente galvânica. Portanto não se esqueça: corrente contínua, corrente
direta ou corrente galvânica são a mesma corrente. E entre os clínicos brasileiros, o termo mais
comumente utilizado é o de corrente galvânica.

Considerando tudo o que dissemos, podemos definir a corrente contínua como o fluxo unidirecional,
contínuo ou ininterrupto de partículas eletricamente carregadas.

2.1.2 Corrente alternada

Imagine, agora, que após ligar um circuito como aquele demonstrado na figura anterior que
acabamos de estudar, os eletrodos passassem a inverter suas polaridades.

Se considerarmos tudo o que já estudamos, conseguiremos prever que as partículas eletricamente


carregadas inverterão o sentido de seus movimentos, tão logo haja a inversão das polaridades dos eletrodos,
afinal, já sabemos que as partículas com cargas elétricas opostas se atraem. Assim, teremos o surgimento
da chamada corrente alternada. Não fica óbvio que esse é o termo mais adequado para essa corrente?

Se as partículas alternam as direções de movimento no circuito a cada momento em que os eletrodos


invertem suas polaridades, corrente alternada é o nome perfeito que poderia ser dado para uma corrente
com essas características. Por isso, é importante conhecer os conceitos e não somente memorizá-los.
Assim, a construção de nosso conhecimento se torna simples, prazerosa e, com certeza, muito mais
difícil de esquecer quando precisarmos apresentar aquilo que aprendemos.

Assim, corrente alternada é comumente definida como o fluxo bidirecional contínuo ou ininterrupto
de partículas eletricamente carregadas.

2.1.3 Corrente pulsada

Se você analisar os dois tipos de correntes estudados anteriormente, perceberá que eles têm algo
em comum: ambos se referem a fluxos contínuos ou ininterruptos de movimentação das partículas
eletricamente carregadas.

Então surge a pergunta: será que existe alguma corrente elétrica cujo fluxo das partículas seja
interrompido? Sim, existe.

Imagine que você esteja utilizando um equipamento que tenha a capacidade de, automaticamente,
fazer algumas pausas na voltagem ou força eletromotriz. Quando a voltagem estiver inoperante, não
haverá movimentos dos elétrons ou partículas eletricamente carregadas naquele sistema, ou seja, o
aparelho continua ligado, mas por alguns momentos, não há fluxo de corrente.

20
ELETROTERAPIA

Assim fica fácil de entender que ora teremos corrente e ora não. Então, surge a corrente pulsada.

Dessa forma para que você tenha uma definição mais técnica, podemos dizer que corrente pulsada,
que também é chamada de interrompida ou intermitente, é definida como fluxo uni ou bidirecional
de partículas carregadas que periodicamente param por um período finito. Arrisco-me a dizer que, na
atualidade, esse é o tipo de corrente mais frequentemente utilizado nas clínicas de fisioterapia do mundo.

2.2 Características descritivas das correntes alternadas e pulsadas

Agora que nós já estudamos os tipos de corrente, passaremos a olhar mais detalhadamente para
algumas características daquelas que nos ajudarão a diferenciar uma corrente da outra na prática clínica.
Para isso, é fundamental que tenhamos alguma oportunidade de representar esquematicamente cada
tipo de corrente. Essa representação esquemática é dada a partir de um gráfico.

As coordenadas desse gráfico terão em sua abscissa, ou seja, na sua coordenada horizontal, o tempo;
enquanto em sua ordenada (coordenada vertical), teremos a amplitude da corrente ou a sua voltagem.

A seguir, apresentamos a figura esquemática de uma corrente contínua:


Amplitude de corrente

Corrente contínua, direta ou galvânica

Tempo

Figura 5 – Corrente contínua, direta ou galvânica

Analisando essa figura, você percebe o motivo pelo qual as características descritivas, sobre as quais
estudaremos neste capítulo, serão dirigidas às correntes alternadas e pulsadas.

Como observamos, a corrente contínua, pela definição já estudada, encerra em si todas as


características desse tipo de corrente, ou seja, por se tratar de uma corrente de fluxo unidirecional das
partículas eletricamente carregadas, não há interrupções, nem alterações da direção de movimento
dessas partículas, de forma que o gráfico de uma corrente contínua sempre terá as características
daquele apresentado na figura anterior.

Vamos, então, estudar as características descritivas das formas de onda da corrente pulsada da
corrente alternada.
21
Unidade I

2.2.1 Número de fases

Como já estudamos, as partículas eletricamente carregadas movimentam-se em direção aos polos,


cuja carga seja oposta a que a própria partícula carrega consigo.

Assim, nós chamaremos de fase o número de direções do movimento pelo qual as partículas
eletricamente carregadas movem-se em um circuito elétrico. Para ficar mais claro, se não houver
mudança da polaridade dos eletrodos, sabemos que os elétrons sempre se movimentaram no sentido do
eletrodo negativo para o positivo.

Nesse caso, haverá apenas uma direção de movimento e, portanto, essa corrente será considerada
monofásica (figura “A”, a seguir). Mas, se num determinado circuito ou numa determinada corrente
elétrica houver a alteração da polaridade dos eletrodos, os elétrons ora se movimentarão em uma
direção, ora em outra.

Por termos mudança na direção de movimento dos elétrons, essa corrente passará a ser considerada
uma corrente bifásica. Considerando que o gráfico esquemático sobre as correntes elétricas traz em
sua ordenada a variável amplitude de corrente, para representar a existência de inversão do sentido
do movimento das partículas carregadas, é feita a apresentação de fases acima e abaixo da abscissa
(coordenada do tempo), como pode ser visto na figura “B”, a seguir.

A) Monofásica B) Bifásica
Amplitude de corrente

Amplitude de corrente

Tempo Tempo

Figura 6 – Representação gráfica de correntes elétricas monofásica (A) e bifásica (B)

Importante salientar que, se houver, numa aplicação terapêutica, mais do que um par de eletrodos
dispostos de forma não paralela, esses elétrons poderão se mover em mais de um sentido. Nesse caso,
haverá a possibilidade de ocorrer movimentos em mais de duas direções. Se houver movimentos em três
direções, teremos uma corrente trifásica e, se houver movimento em quatro ou mais direções, teremos
uma corrente polifásica.

22
ELETROTERAPIA

Exemplo de aplicação

Direção × sentido

O termo direção está ligado ao que diz respeito à posição: horizontal, vertical, norte, sul, leste e oeste;
enquanto sentido refere-se à orientação do movimento realizado sobre a linha imaginária da direção.

Por exemplo, imagine que eu te diga que estou trafegando com meu carro em uma avenida que liga
as zonas norte e sul da cidade em que eu moro. A avenida relaciona-se à direção de meu movimento, ou
seja, norte-sul. Mas, ao considerar somente essa informação, você não vai conseguir saber exatamente
para “que lado da cidade” estou indo: norte ou sul. Para que você possa ter a informação completa, em
terei que dizer: “estou na avenida que liga as regiões norte e sul, no sentido da região norte”. Assim, você
tem condições de saber minha direção e meu sentido exatos.

2.2.2 Simetria

O movimento das partículas eletricamente carregadas num circuito elétrico pode ocorrer de
diferentes maneiras, dependendo da oscilação da voltagem utilizada para a formação dessa determinada
fase. Assim, graficamente, os chamados pulsos elétricos ou ondas poderão apresentar-se de diferentes
formas, ou seja, gerar diferentes formatos.

Quando há uma alternância de polaridade entre os eletrodos, as partículas eletricamente carregadas


movimentam-se em sentidos opostos. Então, graficamente, conforme apresentado quando estudamos o
número de fases, poderemos ter representações esquemáticas da corrente elétrica, tanto acima quanto
abaixo da abcissa, ou seja, da coordenada horizontal do gráfico amplitude de corrente versus tempo.

Se a forma da onda gerada nas duas direções de movimento realizadas pelas partículas eletricamente
carregadas for idêntica, dizemos que se trata de uma onda simétrica (figura “A”, a seguir). Mas se os
formatos dessas ondas forem diferentes entre si, teremos ondas assimétricas (figura “B”).

A) Simétrica B) Assimétrica
Amplitude de corrente

Amplitude de corrente

Tempo Tempo

Figura 7 – Representação gráfica de correntes elétricas simétrica (A) e assimétrica (B)

23
Unidade I

Assim, para sabermos que uma onda bifásica é simétrica ou não, olhamos para a forma e as dimensões
das fases representadas graficamente.

2.2.3 Equilíbrio

O equilíbrio entre as ondas bifásicas está relacionado à carga elétrica conduzida por cada uma das
fases da corrente em estudo. Assim, é necessário saber como identificar a carga elétrica no gráfico, o que
é bem simples. Basta olhar para a área da forma que representa a onda ou o pulso elétrico no gráfico.

Quando as cargas elétricas das fases forem iguais, teremos uma corrente equilibrada (figura a
seguir “A”). Mas quando as cargas elétricas das fases forem diferentes, teremos uma corrente elétrica
desequilibrada (figura “B”).

A) Equilibrada B) Desequilibrada
Amplitude de corrente

2 Amplitude de corrente 2
6

Tempo Tempo
6

2 2

Figura 8 – Representação gráfica de correntes elétricas equilibrada (A) e desequilibrada (B); note que em A,
a área da figura geométrica (retângulo) é 12, tanto na primeira fase, quanto na segunda fase do pulso;
em B, a área da primeira fase do pulso é 12, enquanto a área da segunda fase do pulso é 6

Com base nesses conceitos, podemos afirmar que toda corrente elétrica bifásica e simétrica será
equilibrada porque, se essa corrente é bifásica e simétrica, significa dizer que as formas das fases dessa
corrente são idênticas e, portanto, apresentam formas e dimensões iguais, gerando, obrigatoriamente,
áreas idênticas.

Se as áreas são idênticas, as cargas elétricas também são. Assim, correntes bifásicas simétricas serão,
sempre, equilibradas. Mas o inverso não poderá ser afirmado como verdadeiro em todas as ocasiões possíveis.

Vejamos. Em uma determinada corrente elétrica, poderemos ter uma primeira fase no formato
quadrado e, em uma segunda fase, num formato triangular. Nesse exemplo, é óbvio que podemos
afirmar que essa corrente bifásica é assimétrica, afinal, as correntes apresentam formas completamente
diferentes. Mas não se pode afirmar que, pelo fato de as formas serem diferentes, as áreas também o
sejam, pois isso dependerá das dimensões de cada lado das formas envolvidas.

24
ELETROTERAPIA

É possível que um quadrado e um triângulo tenham áreas diferentes, mas também é possível que
eles tenham áreas iguais. Em casos como esses, teremos que ter as dimensões da amplitude da corrente
e da duração do pulso ou, ainda, será necessário conhecer as cargas conduzidas por cada uma das
fases em estudo para poder afirmar se essa corrente analisada se trata de uma corrente equilibrada
ou desequilibrada.

Observação

O cálculo da área do retângulo é obtido por meio da multiplicação da


base pela altura:

2 a = 12

Figura 9 – Área do retângulo é o produto da multiplicação da base pela altura (a= área)

O cálculo da área do triângulo retângulo é a metade da área de um


retângulo com mesmos valores de base e altura:
Altura = 2

a=6

Base = 6

Figura 10 – Área do triângulo retângulo é a metade do produto da multiplicação da base pela altura (a = área)

2.2.4 Forma

Outra maneira muito usada para descrever a caracterização das formas de onda pulsada e de
correntes alternadas é o uso de termos para indicar qual a característica geométrica das fases do pulso
que aparecem no gráfico de corrente versus tempo.

A maioria dos autores trazem designações semelhantes, embora não possamos deixar de dizer que é
comum ocorrer a utilização de um ou outro termo um pouco diferente entre os autores. Mas as formas
de onda dos pulsos das correntes eletroterapêuticas mais utilizadas normalmente são:

25
Unidade I

• quadrada ou retangular (figura “A”, a seguir);

• senoidal ou sinusoidal (figura “B”, a seguir);

• triangular, exponencial ou pontiaguda (figuras “C” e “D”, a seguir).

Alguns autores separam a corrente triangular das chamadas correntes exponenciais ou pontiagudas.
Amplitude

Amplitude
A) Tempo B) Tempo

Amplitude
Amplitude

C) Tempo D) Tempo

Figura 11 – Formas dos pulsos elétricos: A: pulso quadrado ou retangular;


B: pulso senoidal ou sinusoidal; C: pulso triangular; D: pulso pontiagudo ou exponencial

Como os próprios nomes sugerem, o que vai definir a classificação da forma dessas ondas é a figura
geométrica que representa esses pulsos no gráfico de amplitude de corrente versus tempo que utilizamos.

2.3 Descrição de correntes pulsadas ou alternadas por meio das


características qualitativas

Considerando que já estudamos as características qualitativas das correntes pulsadas ou alternadas,


agora poderemos utilizar essas informações e conhecimentos para fazer a descrição dessas correntes.

Para que essa descrição seja feita de uma maneira que permita ao leitor a inteira compreensão da
corrente sobre a qual se tratam as descrições apresentadas, é importante que as diferentes características
qualitativas sejam apresentadas de forma sistemática e na ordem sugerida pela figura.

26
ELETROTERAPIA

Tipo da corrente
(contínua, alternada ou pulsada)

Número de fases
(monofásica, bifásica,
trifásica ou polifásica)

Simetria
(simétrica ou assimétrica)

Equilíbrio
(equilibrada ou desequilibrada)

Forma
(quadrada ou retangular, senoidal ou
sinusoidal, triangular ou exponencial)

Figura 12 – Descrição qualitativa das correntes elétricas

Dessa forma, se usarmos como exemplo a corrente da representação gráfica de correntes elétricas
equilibrada, exposta no item Equilíbrio, a descrição seria a seguinte: corrente alternada, bifásica,
assimétrica, desequilibrada, primeira fase retangular e segunda fase triangular.

Atenção: quando a corrente é assimétrica, alguns autores afirmam que seria suficiente informar
a forma apenas da primeira fase. No entanto, os autores deste livro consideram que a descrição fica
melhor apresentada se houver a discriminação das formas das fases, conforme o exemplo anterior.

2.4 Características descritivas das correntes alternadas e pulsadas

Para que a descrição da corrente elétrica seja ainda mais específica, além dos termos qualitativos
que já foram estudados, é importantíssimo que o estudante e o clínico conheçam as características
quantitativas das correntes elétricas pulsadas e alternadas.

Esse conhecimento é muito importante, porque além de ajudar no reconhecimento exato da corrente
sobre a qual se fala, também, por meio dessas características quantitativas, será possível interpretar e
registrar as doses das correntes eletroterapêuticas utilizadas na prática clínica.

2.4.1 Características de pulsos únicos

As formas de onda de corrente pulsada ou correntes alternadas são classificadas quantitativamente


com base em variáveis relacionadas tanto à amplitude quanto ao tempo.

27
Unidade I

A partir de agora, vamos descrever as principais características quantitativas dos pulsos elétricos.

Amplitude máxima

É a corrente ou voltagem máxima que é alcançada por um pulso monofásico ou para cada uma das
fases de um pulso bifásico.

Amplitude entre picos

A amplitude entre picos é mensurada a partir das amplitudes máximas das duas fases de
um pulso bifásico.

Entre essas duas formas de mensuração da amplitude sugere-se que seja utilizada a
amplitude máxima.

Em algumas situações clínicas, especialmente relacionadas a testes eletrofisiológicos, pode-se


encontrar outras variáveis, como, por exemplo, a RMS ou amplitude eficaz. Mas pensando nas correntes
elétricas aplicadas buscando efeitos terapêuticos, normalmente será encontrada a informação sobre a
amplitude máxima utilizada nos protocolos de estudos e clínicos.

Amplitude máxima e amplitude entre picos são características dependentes da amplitude.


Amplitude de corrente

Amplitude máxima

Amplitude entre
picos

Tempo

Figura 13 – Representação esquemática das variáveis amplitude máxima e amplitude entre picos

Existe também uma variedade de características que dependem do tempo, e elas são usadas para
quantificar os pulsos das correntes.

Duração da fase

É o tempo existente entre o início e o término de uma fase.


28
ELETROTERAPIA

Duração do pulso

É o tempo decorrido entre o início e o término de todas as fases de um pulso único.

É bastante comum encontrar em textos científicos que tratam sobre eletroterapia o uso do termo
largura de pulso para fazer menção à duração do pulso.

Embora essa nomenclatura não seja fisicamente adequada, clinicamente ela é bastante usual e, por
isso, é possível que você se depare com situações em que esse termo seja utilizado.

Considerando que você está iniciando os seus estudos em eletroterapia, sugerimos fortemente que
você evite usar esses jargões que não sejam física ou teoricamente adequados.

Período

Chamamos de período o tempo decorrido de um ponto de referência de uma forma de onda de


pulso ou ciclo de corrente alternada até outro ponto idêntico no próximo curso sucessivo.

Para facilitar a compreensão desse conceito, sugerimos que o ponto de referência que você utilize
seja sempre o ponto inicial de surgimento da primeira fase do pulso.
Amplitude

Período

Duração Tempo
do pulso

Figura 14 – Representação esquemática das variáveis duração de pulso e período

Embora existam outras características de pulsos dependentes do tempo, essas que foram citadas são
consideradas as mais importantes, por serem as mais frequentemente utilizadas.

É importante salientar que, além das características dos pulsos, há também características que
são destinadas à descrição de uma série de pulsos. Entre elas, podemos citar o intervalo interpulso e
a frequência.

Intervalo interpulso

Quando analisamos uma corrente pulsada, encontramos um período de tempo entre um pulso e o
seu subsequente (momento este em que não há passagem de pulsos elétricos).

29
Unidade I

A esse tempo que decorre entre o término de um pulso e o início do próximo, em uma série de
pulsos, dá-se o nome de intervalo interpulso.

Frequência

Nas correntes pulsadas, existem intervalos interpulsos. Assim, é possível contabilizar-se os pulsos
que foram emitidos num determinado período.

Frequência nada mais é do que o número de pulsos emitidos em uma unidade de tempo.

Se a unidade de tempo escolhida for o segundo, o número de pulsos emitidos nesse tempo será
contabilizado em pulsos por segundo ou Hertz.

Fisicamente, a frequência é o inverso do período. Isso significa dizer que quanto maior o período,
menor será a frequência e vice-versa.

3 CORRENTE GALVÂNCIA OU CORRENTE DIRETA TERAPÊUTICA

Corrente galvânica ou corrente direta é o termo utilizado para se referir à corrente que passa
continuamente na mesma direção. É sempre uma corrente monofásica e deve ter uma duração de pulso
superior a um segundo.

Por se tratar de uma corrente monofásica, pelos estudos que já fizemos, é possível compreender que
a polaridade dos eletrodos se mantém fixa ao longo de todo o tratamento. Portanto, teremos um fluxo
unidirecional constante durante a terapia.

Lembrete

As correntes contínuas são aquelas em que há emissão constante da


corrente, sem mudança de sentido no movimento dos elétrons. Por exemplo:
na corrente galvânica, os eletrodos mantêm suas polaridades fixas, gerando
movimentação dos elétrons na mesma direção.

Dessa forma, essa corrente também é considerada polarizada, uma vez que não há alteração das
cargas elétricas dos polos formados pelos eletrodos.

Essa corrente será transmitida para o tecido biológico por meio de compressas úmidas, esponjas ou,
ainda, fazendo estimulações em soluções líquidas apropriadas.

Considerando-se as características físicas envolvidas na produção e na transmissão de correntes


elétricas, serão observados efeitos fisiológicos e bioquímicos distintos sob os diferentes eletrodos.

30
ELETROTERAPIA

Espera-se que haja a formação de ácidos sob o eletrodo positivo (ânodo), assim como são observadas
formações alcalinas sob o eletrodo negativo (cátodo).

Exatamente por essas respostas, podem surgir queimaduras na pele em decorrência da utilização
inadequada dessa corrente, muito provavelmente relacionada a doses ou tempos de utilização superiores
ao adequado, o que poderia promover grandes concentrações de substâncias alcalinas capazes de
promoverem queimaduras químicas sob o eletrodo negativo.

Outra variável ou parâmetro dosimétrico que pode estar relacionado à magnitude dos efeitos da
corrente é a densidade da corrente, que nada mais é do que a distribuição da corrente elétrica por uma
unidade de área, cuja unidade de medida é mA/cm².

Nesse momento introdutório, é importante ressaltar que a corrente galvânica ou direta é uma das
correntes mais antigas utilizadas clinicamente, mas que foi vítima da sua própria história, uma vez que
desde a sua descoberta encorajou aplicabilidades clínicas, muitas vezes exageradas e fantasiosas, fazendo
com que os mais céticos pudessem descartá-la como uma possibilidade terapêutica útil nos dias atuais.

No entanto, ainda é bastante comum encontrar estudos relacionados à sua aplicação como fonte
promotora e facilitadora da introdução de íons medicamentosos através da pele, por meio de uma
técnica conhecida por iontoforese.

3.1 Efeitos fisiológicos e terapêuticos da corrente galvânica ou corrente direta

A corrente galvânica ou corrente direta tem sido utilizada pelos efeitos que causa na pele e, como
dito anteriormente, como fonte promotora geradora de iontoforese.

Normalmente, a terapia tem duração de 10 a 30 minutos e utiliza uma densidade de corrente em


nível baixo, a fim de evitarem-se maiores riscos de queimadura ou desconfortos aos pacientes. São
indicadas densidades entre 0,1 e 0,5 mA/cm².

A partir de agora, você vai conhecer quais são os principais efeitos fisiológicos e terapêuticos da
corrente galvânica.

3.1.1 Estimulação sensorial

A passagem da corrente galvânica pela pele do paciente promoverá leve sensação de formigamento
ou pontada, que, ao longo da terapia, poderá evoluir para leve irritação ou coceira.

Essas sensações são provenientes das alterações bioquímicas sofridas abaixo dos eletrodos e,
especialmente, sob o eletrodo negativo, como o processo de irritação química em decorrência da
formação de substâncias alcalinas.

31
Unidade I

Essas alterações promovem grande vasodilatação local, que, clinicamente, gera um vigoroso eritema
sob os eletrodos, especialmente sob cátodo. O eritema fica restrito à área do eletrodo porque esses
efeitos acontecem, principalmente, nas camadas mais superficiais do tecido biológico.

3.1.2 Hiperemia

O eritema gerado pela ação da corrente direta ou corrente galvânica é resultado da vasodilatação
capilar, que é diferente da vasodilatação gerada, por exemplo, pelo aquecimento tecidual, já que nessa
condição, a dilatação que ocorre é das arteríolas. Isso pode ser afirmado porque nota-se que o eritema
é limitado à área das dimensões do eletrodo.

Esse quadro de hiperemia terá duração de cerca de 20 minutos, podendo em casos excepcionais
apresentar duração um pouco superior. Acredita-se que o eritema seja fruto da estimulação vasomotora
e que o aumento da circulação local possa promover a melhora da nutrição da área e acelerar o processo
inflamatório, embora não haja evidências significativas que sustentem tal afirmação.

3.1.3 Eletrotônus

Embora estímulos nervosos abaixo do limiar não causem potencial de ação, eles podem afetar o
potencial das membranas.

Nós sabemos que o eletrodo negativo produz um potencial despolarizante local, gerando uma
condição facilitatória, enquanto o eletrodo positivo, por gerar hiperpolarização das membranas, dificulta
a geração de potenciais de ação e, portanto, é considerado um eletrodo inibitório.

Assim, tornar a superfície externa da membrana menos positiva reduz o limiar, aumentando a
excitabilidade do nervo, num fenômeno chamado cateletrotônus, enquanto torná-la mais positiva
diminui a excitabilidade neural pelo processo conhecido por aneletrotônus.

3.1.4 Analgesia

Não é incomum encontrar relatos sobre a capacidade da corrente galvânica promover analgesia.
Esse efeito tem sido justificado através da Teoria das Comportas, assim como pela acentuada epidemia
que ocorre sobre os eletrodos, especialmente do cátodo, removerem os fatores que induzem à dor.

3.1.5 Cicatrização

Existe um bom número de estudos demonstrando que diferentes formas de estimulação elétrica
podem favorecer a cicatrização tecidual, tanto ao que se refere à consolidação de fraturas, quanto à
cicatrização de ferimentos em tecidos moles.

Curiosamente, embora seja apoiada por um número significativo de evidências experimentais de


pesquisas clínicas, a aplicação terapêutica de correntes elétricas para cicatrização não tem sido muito utilizada

32
ELETROTERAPIA

em nosso país. Acreditamos que isso se deva ao fato de haver outros recursos frequentemente
utilizados na fisioterapia, como a fotobiomodulação.

No entanto, nem sempre outros recursos estão disponíveis, e por isso entendemos que você deva
conhecer os benefícios que as correntes elétricas, quando bem utilizadas, podem oferecer aos processos
de cicatrização tecidual.

Normalmente, os autores afirmam que a capacidade de promover vasodilatação local, com


consequente aumento de nutrientes e oxigênio para a região em processo de reparação tecidual, assim
como seus efeitos bactericidas, estimuladores de células de defesa e fibroblastos, podem justificar os
efeitos benéficos do uso dessas correntes na aceleração dos processos de reparação tecidual.

3.1.6 Destruição de tecidos

Conforme já foi dito, ocorrem efeitos fisiológicos e bioquímicos diferentes abaixo de cada um dos
eletrodos. Se usada em grande densidade de corrente, a corrente direta gera coagulação de proteínas sob
o eletrodo positivo (ânodo) e liquefação sob o eletrodo negativo (cátodo). Por isso alguns profissionais
da saúde têm utilizado a corrente direta para destruir tecidos, como, por exemplo, quando precisam
fazer retirada de verrugas.

Também é comum encontrar profissionais utilizando-se de um eletrodo do tipo agulha para introduzir
no folículo piloso a fim de liquefazer o tecido, destruindo o epitélio que sustenta o pelo.

3.2 Iontoforese

A partir de agora, você vai estudar uma técnica que faz uso da corrente direta, não pelos efeitos
fisiológicos ou terapêuticos que a corrente proporciona, mas porque ela pode auxiliar no processo
de administração transdérmica de drogas. Essa técnica chama-se iontoforese e refere-se ao uso de
uma corrente elétrica para promover a permeação superficial localizada de um agente terapêutico
através da pele.

Uma das primeiras aplicações da corrente elétrica para terapia foi realizada por Pivati, em 1740, para
tratar a artrite (ANLIKER; KREYDEN, 2002).

Na atualidade, essa técnica tem sido uma das principais utilizações das correntes diretas na rotina
da fisioterapia. Maiores avanços foram feitos durante os anos 1800 por cientistas pioneiros, como
Benjamin Ward Richardson, William James Morton e Frtiz Frankenhäuser – o último, inclusive, propôs
a utilização do termo “iontoforese”, em substituição ao termo “cataforese”, que tinha sido usado mais
frequentemente antes do século XX (RAWAT et al., 2008). Mais recentemente, a iontoforese tem sido
referida como “administração transdérmica de drogas eletricamente assistida” em alguns contextos
clínicos também.

Apesar da nomenclatura, as indicações para iontoforese são numerosas e podem envolver distribuição
local, regional ou sistêmica.
33
Unidade I

A distribuição localizada de agentes terapêuticos inclui anestésicos locais (por exemplo, lidocaína)
e fentanil para analgesia, retinoides e corticosteroides para tratar cicatrizes de acne e antitranspirantes
para hiperidrose palmar e plantar (SLOAN; SOLTANI, 1986; MALONEY, 1992; SCHMIDT et al., 1995;
RAWAT et al., 2008).

As aplicações regionais da iontoforese incluem a administração de agentes anti-inflamatórios no


tecido subcutâneo e espaços articulares para aliviar tendinite, artrite ou dores musculares transitórias
(CHELLY et al., 2004).

Saiba mais

Veja que interessante o ensaio randomizado duplo-cego sobre o uso da


iontoforese para o tratamento da epicondilite lateral:

DA LUZ, D. C. et al. Iontophoresis in lateral epicondylitis: a randomized,


double-blind clinical trial. Journal of Shoulder and Elbow Surgery, v. 28,
n. 9, p. 1.743-1.749, set. 2019.

Por último e mais raramente, a entrega sistêmica de drogas via iontoforese transdérmica inclui
fentanil para analgesia, agentes antienxaqueca (por exemplo, drogas triptanas) para dor de cabeça,
nicotina para parar de fumar, inibidores reversíveis da colinesterase, como tacrina III para doença de
Alzheimer, e até mesmo proteínas ou peptídeos, como insulina (JASKARI et al., 2000; RASTOGI; SINGH,
2002; CHIEN et al., 1989; CHELLY et al., 2004; SIEGEL et al., 2007; PIERCE et al., 2009; ESCOBAR-CHÁVEZ
et al., 2009; CHEN et al., 2009).

Essas últimas indicações não são realizadas com frequência no Brasil, pois em nosso país, a iontoforese
é uma técnica que tem sido mais utilizada pelos fisioterapeutas e, portanto, é difícil encontrar colegas
dessa área valendo-se dela para tratamento de enxaquecas, tabagismo e Alzheimer.

3.2.1 Mecanismo de ação

A iontoforese transdérmica de analgésicos envolve o uso da força eletromotriz (voltagem) através


de um ânodo carregado positivamente e um cátodo carregado negativamente para induzir a infiltração
percutânea de um agente terapêutico via transporte ativo para entrega local, regional ou sistêmica.

Lembrete

Voltagem também é chamada de diferença de potencial elétrico ou


força eletromotriz. Essa força eletromotriz é responsável por modificar o
status do movimento de partículas eletricamente carregadas, cujos campos
elétricos interajam entre si.

34
ELETROTERAPIA

Compressas ou esponjas embebidas


por solução medicamentosa

+
-

+
-

C
 Á
N
+ T
O
-
TECIDOS O
D D
O O
+
-

+
-

Figura 15 – Representação esquemática do mecanismo de ação da iontoforese

Entre os eletrodos (ânodo e cátodo) e a pele, existem compressas ou esponjas embebidas por solução
medicamentosa. O ânodo (eletrodo positivo) repele os positivos, enquanto o cátodo (eletrodo negativo)
repele os íons negativos presentes na compressa ou esponja. Assim, o clínico deverá conhecer qual é
a polaridade do princípio ativo receitado pelo médico do paciente e utilizar, sob a região a ser tratada,
uma compressa ou esponja embebida pela solução do referido medicamento, apenas sob o eletrodo de
mesma polaridade do princípio ativo, de tal forma que o eletrodo facilite a penetração no organismo.

Os medicamentos de interface primária devem passar pelo estrato córneo da pele com
aproximadamente 10 a 100 micrômetros de espessura (RAWAT et al., 2008).

Existem três vias primárias para a absorção através do estrato córneo (RIVIERE; HEIT, 1997;
RAWAT et al., 2008):

• paracelular (entre os queratinócitos);

• transcelular (através dos queratinócitos);

• apendágica (através dos folículos capilares, glândulas sudoríferas, glândulas sebáceas etc.).

Empregando a repulsão de elétrons pela força eletromotriz, a iontoforese envolve a colocação de


medicamentos ionizados positivamente (cátions) abaixo do eletrodo carregado positivamente (ânodo).

Em contraste, os medicamentos ionizados negativamente são repelidos pelo eletrodo carregado


negativamente (cátodo), conforme visto na figura anterior.

35
Unidade I

Devido à repulsão eletrostática, os agentes são afastados de seu(s) eletrodo(s) com carga semelhante
e através da interface tegumentar. De acordo com Sheikh e Dua (2020), numerosos fatores que afetam
o fluxo de medicação e a entrega final foram elucidados:

• propriedades eletroquímicas da solução analgésica (por exemplo, carga, concentração, tamanho


molecular, mecanismo de entrega, tipo de tampão e viscosidade dos constituintes analgésicos e
não analgésicos);

• parâmetros do equipamento iontoforético (amplitude, tipo, frequência e duração da corrente);

• fisiologia do paciente (umidade da pele, fluxo sanguíneo local, temperatura).

3.2.2 Efeitos colaterais

A iontoforese é considerada uma das modalidades de entrega medicamentosa mais seguras. No


entanto, são encontrados relatos de alguns efeitos adversos na literatura.

Devido à penetração pela pele, têm sido reportados efeitos colaterais, como (MEFFERT, 1999; LI et al.,
2005; ROUSTIT; BLAISE; CRACOWSKI, 2014):

• parestesia local;

• coceira;

• irritação;

• eritema;

• edema;

• urticária galvânica.

Mais raramente, entretanto, os pacientes podem sentir uma sensação de queimação e até mesmo
queimaduras superficiais na pele. Contudo, na maioria das vezes, esses sintomas são devido à colocação
inadequada do eletrodo ou formulação do medicamento.

Fatores como corrente mais alta, durações mais longas de administração, colocação de eletrodos
sobre defeitos da pele e uso de metal descoberto ou eletrodos de carbono aumentam o risco de danos
à pele e queimaduras (SHEIKH; DUA, 2020).

Pacientes e profissionais de saúde podem reduzir a probabilidade de lesões cutâneas (WARDEN, 2007;
DIXIT et al., 2007; ROUSTIT; BLAISE; CRACOWSKI, 2014), seguindo as orientações vistas na figura a seguir.

36
ELETROTERAPIA

Manter a compressão uniforme


do eletrodo na superfície cutânea

Usar esponjas adequadamente


umedecidas entre o eletrodo e a pele

Limpar o local da
aplicação com álcool

Evitar áreas de lesões cutâneas

Manter densidade de corrente


abaixo de 0,5 mA/cm2

Figura 16 – Procedimentos fundamentais para aplicação segura da iontoforese

3.2.3 Cuidados e contraindicação da corrente direta e da iontoforese

As contraindicações da iontoforese incluem aquelas relacionadas à estimulação elétrica direta e do


agente terapêutico envolvido.

Pacientes com história de hipersensibilidade ou reações adversas associadas ao medicamento


administrado em questão devem evitar a iontoforese do agente agressor.

Pacientes com histórico médico anterior de arritmias cardíacas ou hipercoagulabilidade não devem
receber o procedimento próximo a marca-passos cardíacos e vasos sanguíneos superficiais.

De acordo com Hölzle (2012), deve ser evitado o procedimento nas proximidades de fios embutidos,
implantes ortopédicos e áreas da pele com lesões e sensibilidade prejudicada.

Não existem ensaios clínicos de iontoforese realizada durante a gravidez e, portanto, não deve ser
usada; caso seja, é necessário ter extrema cautela.

37
Unidade I

3.2.4 Procedimentos de aplicação da corrente direta

Antes do início de qualquer tratamento da eletroterapia, será necessário fazer uma boa avaliação,
a fim de identificar em si possíveis contraindicações para aplicação desse recurso. É sempre importante
questionar se o paciente apresenta algum histórico de arritmia cardíaca ou de hipercoagulabilidade.

Obviamente, ao longo de toda a avaliação já realizada, você, enquanto clínico(a), deverá ter se
atentado ao histórico do paciente, assim como ter realizado um bom exame físico e, por fim, apreciar
os exames complementares que lhes forem apresentados, de forma a saber se há alguma possibilidade
de haver algum implante metálico, algum fio embutido ou ainda se o paciente faz uso de marca-passo.

Durante o exame físico, você já deve ter testado a sensibilidade local, pois isso é fundamental para
a segurança e o sucesso da terapêutica. Antes da aplicação da corrente, é muito importante explicar
ao paciente a natureza do tratamento, assim como todas as sensações que ele poderá referir ou
sentir ao longo dele.

Você deverá informar ao paciente que será normal se, ao longo da aplicação da corrente, ele sentir
formigamento ou coceira. No entanto, você deve deixar claro para o(a) seu(sua) paciente que ele(a)
deve informar imediatamente caso esteja sentindo aquecimento e/ou formigamento em intensidades
desconfortáveis. Caso ocorra alguma situação dessas, o tratamento deverá ser interrompido
imediatamente, a fim de retirarem-se os eletrodos, para observar se esses eles estão sobre áreas com
possíveis lesões de pele ou áreas que podem apresentar impedância da pele aumentada.

Também será muito importante avaliar se, eventualmente, a densidade de corrente ou o tempo de
tratamento não estão demasiados para aquele(a) paciente específico. Caso entenda que a dose possa
estar exagerada, numa próxima sessão, inicie o tratamento com doses menores.

Preparando a região corporal a ser tratada

Considerando que a camada córnea da epiderme provê impedância ao fluxo da corrente, são
indicados alguns procedimentos iniciais prévios à aplicação da corrente direta.

Sugerimos que a área a ser tratada seja higienizada com álcool ou lavada com água corrente morna,
a fim de remover o óleo ou a gordura em excesso que, porventura, esteja na superfície, pois assim será
facilitada a passagem da corrente pela pele.

Antes de posicionar os eletrodos sobre a área a ser tratada, observe se na pele não há nenhuma
solução de continuidade, verrugas, fístulas ou quaisquer outras condições anatômicas ou clínicas
que possam sugerir a existência de um aumento da resistência à passagem da corrente pela pele, o que
poderia, por vezes, causar maiores desconfortos ou até mesmo queimaduras. Normalmente, há uma
região a ser tratada sobre a qual deve-se colocar o eletrodo ativo.

O eletrodo ativo é aquele que apresenta a polaridade necessária para se atingir os efeitos fisiológicos
e terapêuticos desejados, e deve ser colocado, sempre que possível, sobre a área a ser tratada.
38
ELETROTERAPIA

Normalmente, esses eletrodos serão metálicos (embora possam ser de borracha de carbono ou de
folha de metal) e, por isso, não deverão (na maioria das aplicações clínicas) ter contato direto com a
pele. Assim, entre o eletrodo e a pele, deverão ser colocadas compressas ou esponjas embebidas em
água, quando se estiver utilizando a corrente direta, buscando os efeitos fisiológicos e terapêuticos da
própria corrente.

Se, num determinado tratamento, você indicar a utilização da iontoforese, o objetivo será facilitar
a penetração do princípio ativo percutaneamente, a fim de se obter os efeitos do medicamento. Nesses
casos, as soluções medicamentosas deverão conter princípios ativos compostos por íons de polaridades
conhecidas, pois, como descrito anteriormente, por repulsão os íons serão ajudados a atravessar a pele.
Assim, sob o eletrodo ativo, teremos uma compressa ou uma esponja embebida com o medicamento
cuja polaridade seja a mesma da do eletrodo com o qual tem contato.

Na iontoforese, o outro eletrodo, que será chamado dispersivo, deverá ter um tamanho maior
(WADSWORTH; CHANMUGAM, 1983) que o ativo (duas vezes e meia) e sob ele deverá estar uma esponja
ou uma compressa embebida em água, apenas. O eletrodo dispersivo é necessário, apenas, para que o
circuito elétrico seja “fechado”. Assegure-se de que a conexão entre o fio e o eletrodo seja perfeita.

Após definidas as áreas a serem tratadas, escolhidos os tamanhos dos eletrodos, embebidas as
compressas em líquidos e posicionados sobre a área a ser tratada, tanto a compressa quanto o eletrodo
deverão ser mantidos em suas posições, assegurando-se que haja pressão homogênea sobre toda a área
da compressa e, desse modo, garantir que haja densidade de corrente uniforme.

Para estabilizar os eletrodos e as compressas, têm sido utilizadas ataduras de crepe, faixas elásticas ou
fitas adesivas, para garantir que essa pressão seja adequada, assim como garantir que o posicionamento
desses instrumentos seja mantido ao longo de todo o tratamento, com segurança.

Em alguns casos, o clínico poderá fazer uso de uma técnica chamada de banho monopolar. Nessa
técnica, o eletrodo dispersivo será colocado no corpo do paciente (em região relativamente distante
daquela que será tratada), enquanto o membro a ser tratado, normalmente uma extremidade (mãos
ou pés), será colocado dentro de recipiente não metálico contendo água, no qual o eletrodo ativo será
posicionado na sua parede.

A água será utilizada como meio de transporte da corrente elétrica. Nesse caso, o eletrodo ativo não
entrará em contato com a pele do paciente.

Durante um tratamento por meio da técnica banho monopolar, o paciente deverá ser orientado a
não retirar a mão da água, pois, se o fizer, poderá ter a experiência de uma descarga elétrica de maior
magnitude, promovendo uma sensação que poderá ser bastante desagradável (embora não seja perigoso).

Além disso, obviamente, o tratamento será interrompido a partir do momento em que a mão do
paciente perder o contato com a água.

39
Unidade I

Aplicação

Ao aplicar a corrente direta no paciente, deve-se atentar, sempre, de observar se a intensidade


ou amplitude de corrente esteja zerada. É muito comum alguns clínicos, por algum momento de
desconcentração, ligarem um equipamento (após os eletrodos já estarem conectados com o paciente) e
a amplitude de corrente ou intensidade estar demarcada na dose que foi utilizada para o paciente que
foi tratado anteriormente.

Nessa situação, quando o clínico liga o aparelho, a corrente passa a ser emitida com aquela
intensidade pré-definida. Se isso ocorrer, o paciente poderá ter uma sensação bastante desagradável ou
levar um grande susto, que poderá criar resistência para a continuação desse tratamento. Assim, antes
de iniciar qualquer tratamento com eletroterapia, deve-se certificar de que a intensidade esteja zerada,
ligar o equipamento e ir aumentando a intensidade ou amplitude de corrente lentamente, até que o
paciente refira uma mínima sensação de formigamento.

Caso atinja a máxima densidade de corrente prevista (com base na dosimetria, sobre a qual
conversaremos um pouco mais adiante) e o paciente refira não haver qualquer sensação da passagem
da corrente, o tratamento deverá continuar com estimulação sublimiar, ou seja, o paciente não sentirá
a passagem da corrente ao longo da terapia.

Não se deve aumentar a intensidade da corrente nesses casos, respeitando a máxima densidade de
corrente, que foi estabelecida quando você planejou a dosimetria para aquele caso concreto.

Se você estiver trabalhando com iontoforese, como já visto anteriormente, a polaridade do íon do
princípio ativo presente na esponja ou na compressa deverá ser a mesma do eletrodo, ou seja, se o
medicamento é positivo, deverá ser colocado embaixo do eletrodo positivo e vice-versa.

Dosimetria

A dosimetria para aplicação da corrente direta e da iontoforese levará em consideração duas


principais variáveis: a densidade de corrente e a dosagem.

A densidade de corrente é a relação existente entre a amplitude máxima e a área do eletrodo.


Alguns autores (LOW; REED, 2001) referem que a densidade de corrente será considerada confortável
aos pacientes quando for de 0,1 a 0,2 mA/cm². No entanto, em nossa experiência pessoal, a densidade
poderá atingir até 0,5 mA/cm² para garantir a segurança da aplicação.

A dosagem é o produto da amplitude máxima da corrente pelo do tempo de tratamento. Alguns


autores (LOW; REED, 2001) propõem que a dosagem deve estar entre 100 e 200 mA.min.

40
ELETROTERAPIA

Vale ressaltar que a terapia deve ter uma duração entre 10 e 30 minutos (WADSWORTH; CHANMUGAM,
1983). Para alguns tratamentos por iontoforese, como, por exemplo, aqueles utilizados para o tratamento
de hiperidrose palmar, sugere-se a aplicação de uma densidade de corrente relativamente baixa, em
torno de 0,05 mA/cm², podendo, assim, elevarem-se os tempos de tratamento para 20 ou 30 minutos.

4 CORRENTES DIADINÂMICAS DE BERNARD

Em 1945, o dentista Pierre Bernard anunciou o efeito analgésico de um grupo de correntes elétricas,
caracterizado por apresentar uma modulação em intensidade e/ou a frequência (BERNARD, 1950, 1968;
THOM, 1974; RODRÍGUEZ et al., 2003; BARROCA, 2010). Ele nomeou esse grupo de correntes diadinâmicas.

Elas foram introduzidas como recursos terapêuticos por apresentarem efeitos analgésico, trófico
e espasmolítico. Muitos estudiosos e clínicos mencionam que essas correntes não deveriam mais ser
utilizadas, mas ainda existem profissionais que enxergam muitas utilidades no seu uso.

Os autores que se mostram partidários da evitação ao uso das correntes diadinâmicas de Bernard
argumentam que no mercado já existem opções de correntes elétricas com características que podem
ser mais seguras ou confortáveis, uma vez que se tratam de correntes bifásicas simétricas ou por
serem assimétricas compensadas, de forma a não apresentarem os riscos da aplicação de uma corrente
monofásica (ANTÓN; VEGA, 2000).

No entanto, entendemos que eles constituem uma ferramenta analgésica importante que, se
empregada de forma correta, poderá complementar o tratamento de fisioterapia, favorecendo a
resolução da lesão (LEÓN; SOLANA; GARCÍA, 1998; URRUTIA; SOLANO; RODRÍGUEZ, 1998).

4.1 Conhecendo as correntes diadinâmicas

Essas correntes são produzidas a partir da retificação de uma corrente alternada sinusoidal,
bifásica, simétrica.

Dependendo da retificação empregada, se parcial ou completa, formam-se variantes de correntes


diadinâmicas. Estas são conhecidas como monofásica fixa (MF) ou difásica fixa (DF), cujas frequências
de emissão são de 50 Hz e 100 Hz, respectivamente. A partir da combinação dessas duas correntes,
aparecem três variações e, por consequência, novas correntes.

As correntes dinâmicas compreendem um grupo de cinco correntes monofásicas, formadas por


pulsos sinusoidais de 10 ms de duração, com ou sem interrupção da emissão, como sem modulação da
frequência ou intensidade, apresentando frequências de 50 Hz e 100 Hz.

41
Unidade I

DF

MF

LP
6s 6s

CP
1s 1s 1s 1s

RS
1s 1s

Figura 17 – Representação gráfica das formas das correntes diadinâmicas: CP: curtos períodos;
DF: difásica fixa; LP: longos períodos; MF: monofásica fixa; RS: ritmo sincopado

Pelas variações citadas, foi possível criar o conjunto de correntes diadinâmicas: difásica fixa (DF),
longos períodos (LP), curtos períodos (CP), ritmo sincopado (RS) e monofásica fixa (MF). As quatro
primeiras citadas apresentam um efeito analgésico bastante marcante (BARROCA, 2010).

Considerando que essas correntes são formadas por pulsos de 10 ms de duração, elas conseguem
promover a despolarização seletiva das fibras neurais grossas e, por isso, foram utilizadas por muitos
clínicos na segunda metade do século XX (ANTÓN; VEGA, 2000).

Existe certa controvérsia sobre a teoria o mecanismo de ação principal pelas quais essas correntes
geram esse efeito analgésico. Sugere-se que a analgesia:

• seja um efeito relacionado às características polares da corrente, assim como acontece na


corrente galvânica;

• seja conseguida por Teoria das Comportas, a qual refere que estímulos concorrentes com o
estímulo doloroso são capazes de modular a sensação dolorosa;

• seja fruto de ações de centros nervosos cerebrais, pela via de controle de dor descendente,
com implicação de nível supraespinhal, de acordo com a Teoria de Liberação de Endorfinas, de
Sjölund e Eriksson.

42
ELETROTERAPIA

4.2 Efeitos fisiológicos e terapêuticos das correntes diadinâmicas

A partir de agora, vamos descrever cada uma das formas das correntes dinâmicas e as sensações que
a sua aplicação poderá gerar nos pacientes.

Em geral, os efeitos galvânicos derivados de uma forma de corrente monofásica acontecem em


qualquer tipo de corrente diadinâmica. Correntes monofásicas provocam um prurido que, para a maioria
das pessoas, é interpretado como uma sensação desagradável.

Alguns autores (BARROCA, 2010) têm quantificado o aumento da temperatura na pele exposta às
correntes dinâmicas e demonstrado que essa variação pode se dar entre 1 °C e 3 °C. Tal aumento de
temperatura pode estar relacionado ao efeito dessas correntes sobre a circulação sanguínea e as reações
eletrolíticas em líquidos orgânicos. Essa atividade vasomotora é muito importante para a reabsorção de
edemas na prática clínica.

4.2.1 Difásica fixa (DF)

É uma corrente contínua, monofásica, em estado variável, com forma de pulsos hemissinusoidais,
interrompidos, com 10 ms de duração, configurando uma frequência de emissão de 100 Hz.

Sensação

O paciente experimenta a sensação de coceira, associada a um formigamento rápido e fraco


ou fibrilação que se reduz ou mesmo, se o valor de intensidade for mantido fixo, desaparece
devido à acomodação.

Efeitos

A DF promove importante efeito analgésico, espasmolítico e sedativo sobre o sistema simpático.


Esses efeitos têm aparição rápida, mas, na mesma medida, têm uma manutenção por curto espaço de
tempo, devido à ausência da modulação da corrente.

Com valores elevados de intensidade é possível provocar uma fibrilação muscular débil e
eritema cutâneo.

Indicações

Por se tratar da corrente diadinâmica, que promove a sensação mais suave, é indicada para as
patologias agudas.

Algumas doenças relacionadas a disfunções neurovegetativas podem também ser beneficiadas


pela DF. Nesses casos, podemos indicar a aplicação sobre os gânglios vegetativos simpáticos estrelado
e cervical, assim como sobre regiões que apresentem alterações circulatórias espasmódicas de
origem simpática.
43
Unidade I

Por fim, é bastante indicada a utilização dessa corrente no início do tratamento (anterior à aplicação
das demais modalidades de correntes diadinâmicas), com o objetivo de provocar uma elevação do limiar
de sensibilidade e dor antes do emprego de correntes que promovem sensações mais intensas.

4.2.2 Longos períodos (LP)

Trata-se de uma corrente modulada em longos períodos de seis segundos de duração. Durante esse
período, será emitida a corrente monofásica fixa.

Nos próximos seis segundos teremos a seguinte situação: continuará sendo emitida corrente
monofásica fixa, mas nos intervalos entre os pulsos dessa corrente, são emitidos novos pulsos
sinusoidais monofásicos, como se fosse uma nova corrente monofásica. Ocorre que, esses pulsos têm
suas amplitudes moduladas.

Dessa forma, nos primeiros seis segundos teremos uma corrente monofásica com frequência
de 50 Hz, enquanto nos próximos seis segundos teremos uma corrente, também monofásica, mas
com frequência de 100 Hz, tendo em vista que todos os pulsos que formam essa corrente LP têm
duração de 10 ms (vide figura anterior).

Sensação

Ainda que alguns pacientes consigam perceber claramente a mudança da forma da corrente a cada seis
segundos, pode haver alguma dificuldade para identificar o tempo exato em que se produz a sucessão
de impulsos de corrente monofásica fixa de corrente difásica.

Isso se deve pela transformação progressiva crescente decrescente que sofre a intensidade quando
existe o ciclo da difásica. Mesmo que não seja de forma tão abrupta como ocorre na CP, o paciente pode
distinguir claramente a mudança da vibração mais intensa (característica da MF), e a fibrilação mais
leve própria da DF.

Devido ao maior efeito estimulante da corrente monofásica, durante a fase de seis segundos em que
ela estiver sendo emitida, será possível perceber alguma contração muscular.

Efeitos

Essa corrente é importante quando se necessita produzir efeitos analgésico e espasmolítico, tendo
um efeito de maior duração do que o provocado pela DF.

Tem-se justificado esses efeitos pela modulação da corrente, tanto em frequência quanto em
intensidade. Devido à modulação progressiva da intensidade frequência, essa corrente tem sido utilizada
no tratamento de condições não estabilizadas, como aquelas que ocorrem na transição entre a fase
aguda e a fase crônica.

44
ELETROTERAPIA

Indicações

As indicações da LP são muito similares àquelas que veremos na CP.

Como ela promove uma sensação mais confortável ao paciente, essa corrente tem sido indicada
sempre que se faz necessária a estimulação de troncos nervosos ou, ainda, quando é necessário tratamento
de uma doença que se encontre numa fase subaguda ou na transição do estado agudo para o crônico.

4.2.3 Curtos períodos (CP)

Nessa corrente, temos uma modulação em períodos de cerca de um segundo, entre os quais
alternam‑se, sem pausas, a emissão de correntes monofásica fixa e difásica fixa. Dessa forma, temos
uma corrente modulada em frequência, ou seja, 50 Hz num segundo e 100 Hz no próximo.

Sensação

O paciente percebe claramente a variação das correntes em cada segundo. Ele consegue identificar a
troca da frequência de emissão de pulsos e a sensação que é provocada pelas trocas das correntes DF e MF.

Devido às diferenças de efeitos estimulantes dessas formas de corrente, o paciente percebe muito
claramente uma sensação de compressão e descompressão alternada, que coincide com a troca da MF
e DF, respectivamente.

Com intensidades elevadas, a MF pode provocar uma ligeira contração, que precede o relaxamento
muscular associado à emissão da DF.

Efeitos

Essa corrente tem notável efeito analgésico, de maior duração do que aquele provocado pela
LP, justificado pela modulação da corrente em frequência e pela perceptível mudança da sensação
provocada pelas trocas entre as correntes MF e DF, a cada um segundo.

Essa nítida sensação da troca entre as correntes MF e DF fazem com que essa corrente tenha grande
efeito estimulador sobre a circulação sanguínea e, portanto, do metabolismo tecidual.

Da mesma forma, tem sido relatado que tal corrente é capaz de gerar efeito de bombeamento,
favorecendo a mobilização de líquidos intramusculares, sendo muito útil quando se busca a reabsorção
de edemas e hematomas.

Indicações

Essa corrente tem sido indicada para o tratamento de qualquer doença que acometa músculos e
ligamentos ou, ainda, em pacientes que apresentem dores crônicas.

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Unidade I

Ela também tem sido indicada para os casos em que os pacientes apresentem alterações circulatórias
e doenças pós-traumáticas, justamente por apresentarem capacidade de aumentar a reabsorção de
edemas ou hematomas.

4.2.4 Monofásica fixa (MF)

É uma corrente monofásica, formada por pulsos sinusoidais interrompidos, com duração de pulso de
10 ms, com intervalos interpulsos de 10 ms e frequência de 50 Hz.

Sensação

O paciente apresenta uma sensação de coceira, não tão importante como a que ocorre na DF,
associada a uma vibração intensa, penetrante, claramente percebida.

Efeitos

Essa corrente apresenta efeito analgésico e estimulante da circulação e por isso tem sido indicada
para o tratamento de zonas hipovascularizadas. Aplicada com intensidades elevadas, pode provocar a
contração muscular, podendo ter um efeito tonificante sobre a musculatura.

Considerando-se que essa corrente promove os efeitos de correntes polarizadas, não tem sido
indicada a utilização da MF para a tonificação muscular, tendo em vista que, na atualidade, já existem
inúmeras correntes alternadas que não geram tantos riscos e desconforto ao paciente, e que apresentam
grande capacidade de estimular a musculatura.

Indicações

Essa corrente tem sido indicada quando se objetiva uma ação analgésica sobre qualquer tipo de
afecção espasmódica.

Como citado anteriormente, pode ser indicada também para melhorar o tônus muscular. No
entanto, para esse tipo de aplicação, sugere-se que sejam utilizadas as correntes mais recentes que não
apresentem efeitos das correntes polarizadas e que sejam mais confortáveis ao paciente.

Ainda assim, considerando que essa corrente tem a capacidade de gerar algum estímulo muscular,
ela pode ser indicada ao se desejar estimular a produção e melhorar a organização do tecido conjuntivo
depositado ao longo dos processos de reparação tecidual.

Vale a pena ressaltar que também tem sido indicada para o tratamento de processos inflamatórios,
assim como é usada sobre zonas com marcada hipersensibilidade ou hipovascularizadas, como, por
exemplo, pontos gatilhos.

46
ELETROTERAPIA

4.2.5 Ritmo sincopado (RS)

É uma corrente que a cada um segundo há alternância entre a emissão de uma corrente MF
e uma pausa.

Sensação

O paciente vai referir a sensação de coceira e da corrente MF e, claramente, vai perceber o momento
em que houver a pausa da emissão dessa corrente.

Efeitos

Essa corrente apresenta efeito trófico estimulante, tanto sobre o sistema circulatório quanto sobre
o sistema muscular. Também tem capacidade analgésica.

Indicações

Essa corrente tem sido muito pouco empregada, mas ainda encontramos algumas indicações para o
tratamento dos casos de atrofia por imobilização.

Saiba mais

Para saber mais como as correntes diadinâmicas podem promover


analgesia em pacientes com síndrome do impacto, leia:

GOMES, C. A. F. et al. Combined use of diadynamic currents and manual


therapy on myofascial trigger points in patients with shoulder impingement
syndrome: a randomized controlled trial. Journal of Manipulative and
Physiological Therapeutics, v. 41, n. 6, p. 475-482, 2018.

4.3 Dosimetria das correntes diadinâmicas

Para se definir a dosimetria, é importante levar em consideração que a duração do efeito analgésico
derivada da ação das correntes diadinâmicas vai depender de uma série de variáveis. Entre elas, a fase
em que se encontra a doença, o tipo de lesão, a forma de onda empregada e a correta eleição dos valores
de intensidade e tempo de tratamento.

Observação

A colocação e o tamanho dos eletrodos também são muito importantes.


Eletrodos muito pequenos aumentam a densidade de corrente e,
consequentemente, o risco de queimaduras.

47
Unidade I

A escolha dos tipos de onda é fundamental e dependerá, especialmente, do tipo de doença que está
sendo tratada, do tecido afetado, da fase da evolução da doença e da sensibilidade do paciente.

Considerando-se que as correntes dinâmicas são formadas por cinco tipos de correntes diferentes,
a indicação terapêutica deve se adaptar à situação dinâmica que caracteriza a evolução de qualquer
processo patológico.

A intensidade é uma das variáveis mais importantes para atingir os efeitos terapêuticos desejados
e, por isso, é fundamental que o clínico entenda em qual limiar de excitação deverá centrar-se seu
tratamento: subliminar, sensorial, motor ou doloroso. Por isso, não se aconselha a utilização de
intensidades pré-definidas.

Sempre deverá ser respeitada a percepção relatada pelo paciente e, naturalmente, essa percepção
deve ser consoante com o tipo de indicação prevista para a doença que acomete o paciente, a fase de
evolução dessa patologia, o tipo de tecido, a sensibilidade do cliente (CAMACHO, 1998; LEMIÑA, 2002)
e o tamanho e a posição dos eletrodos.

O estabelecimento da intensidade final do tratamento deve ser feito de forma bastante lenta e
progressiva, com cautela, para que os pacientes possam perceber a mudança gradual dos distintos
limiares de excitação provocados pela corrente elétrica.

Antes de iniciar o tratamento com a corrente diadinâmica, você, enquanto fisioterapeuta, deve
explicar ao paciente quais são as sensações que ele deve perceber ao longo da terapia.

Feitos os devidos esclarecimentos e orientações, você poderá iniciar a oferta de corrente elétrica,
aumentando vagarosamente amplitude da corrente, a fim de dar a oportunidade ao paciente de perceber
as mudanças sensoriais que são provocadas conforme sejam aumentadas as quantidades de cargas
elétricas oferecidas ao tecido.

O objetivo, nesse momento da terapia, é garantir que o paciente experimente a sensação ou as


reações fisiológicas que você previu e orientou previamente. Isso é muito importante para garantir os
efeitos benéficos do recurso proposto. A metodologia de trabalho com as correntes dinâmicas permite
a combinação de várias formas de correntes numa mesma sessão de fisioterapia.

Conforme vimos anteriormente, as correntes LP e CP, dados os seus efeitos fisiológicos e indicações,
serão frequentemente as mais indicadas (não necessariamente na mesma sessão). No entanto, é possível
incluir outras formas de correntes.

É comum que se indique a aplicação da corrente DF previamente a terapia com CP e LP, pois, como
estudamos anteriormente, essa corrente pode ser utilizada para aumentar o limiar sensorial do paciente.

De qualquer forma, essa opção não tem sido aconselhada por alguns autores (CABRERA; PÉREZ;
ACOSTA, 2009), tendo em vista que a duração da estimulação elétrica não deve ultrapassar 10 minutos,

48
ELETROTERAPIA

e, por isso, é importante utilizar o tempo da terapia para aplicação daquelas modalidades de corrente
que efetivamente poderão ser úteis para o processo de recuperação dos pacientes.

Vale ressaltar que a maior parte dos autores que indicam a utilização das correntes dinâmicas sugerem
que sejam feitos trabalhos conjuntos entre DF e LP ou DF e CP (THOM, 1974; ZAUNER GUTMANN,
1980; CAMACHO, 1998).

Além dos cuidados com o tempo de tratamento, tem a intensidade; entendemos ser fundamental
que o fisioterapeuta procure respeitar a densidade de corrente, usando como referência a densidade de
0,2 mA/cm². Esse valor delimita as intensidades máximas que devem ser empregadas em cada um dos
tamanhos padrões dos eletrodos que existem no mercado.

De qualquer forma, se você fez uma boa avaliação sensorial do paciente e tem a garantia de que
não haja qualquer comprometimento da sensibilidade das áreas onde serão aplicadas as correntes
diadinâmicas, se ao atingir a densidade de corrente proposta no parágrafo anterior o seu paciente
não referir qualquer sensação de corrente, será possível, cuidadosamente, aumentar gradativamente a
intensidade, até atingir o limiar sensorial desejado (MARTÍN, 1999).

Embora tenhamos informado que a terapia deve ter duração de 10 minutos, deve-se levar em
consideração que, se ao longo do tratamento o paciente referir que não tem mais nenhuma sensação
da passagem de corrente, você poderá finalizar a terapia nesse momento (CAMACHO, 1998).

Com relação às técnicas de aplicação dos eletrodos, será muito importante considerar a polaridade
de cada um e o seu tamanho. Há de se lembrar que o estímulo mais intenso normalmente ocorre sob o
cátodo (eletrodo negativo).

Figura 18 – Exemplo de posicionamento de eletrodos para o tratamento de entorse aguda de tornozelo

Conforme estudado anteriormente, sabemos que o eletrodo negativo sempre promove efeitos mais
estimulantes (aumento da vascularização, tonificação, processos inflamatórios crônicos etc.), enquanto
o eletrodo positivo é indicado para ser posicionado sobre a área onde se deseja inibir processos e reduzir
edema (dor e inflamação aguda).

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Unidade I

Resumo

Nesta unidade, tivemos a oportunidade de rever os conceitos físicos


relacionados à eletricidade, assim como de relacionar os eventos elétricos
às possíveis respostas fisiológicas de terapêuticas que esse recurso pode
promover em nossos pacientes.

Estudamos as características qualitativas e quantitativas dos pulsos


elétricos e aprendemos como denominar os diferentes tipos de correntes.

Apresentamos a corrente galvânica, uma das mais antigas utilizadas na


clínica fisioterapêutica, mas que continua sendo útil até hoje. Desvendamos
seus benefícios, seus riscos, sua forma de utilização e suas contraindicações.

Discorremos sobre uma técnica muito importante e poderosa para a


clínica fisioterapêutica: a iontoforese. Descobrimos que essa técnica facilita
a penetração de medicamentos cujos princípios ativos sejam ionizados
e demonstramos suas vantagens e desvantagens, assim como demos
exemplos de utilizações clínicas relevantes.

Por fim, estudamos as correntes dinâmicas, que também são correntes


polarizadas. Descobrimos que elas são compostas de cinco tipos de correntes
e que são usadas especialmente para a promoção de analgesia, controle do
processo inflamatório e melhora da circulação.

Vimos que, antigamente, elas eram indicadas para a tonificação


muscular, mas que, atualmente, com o surgimento de correntes elétricas
alternadas e equilibradas, esse trabalho pode ser feito com maior segurança
e conforto para os pacientes, com essas correntes mais contemporâneas.

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ELETROTERAPIA

Exercícios

Questão 1. A utilização de correntes polarizadas para o tratamento de diferentes patologias é descrita


desde a descoberta da eletricidade. Inúmeros benefícios fisiológicos são obtidos, como hidratação,
aumento do fluxo sanguíneo e analgesia.

Em relação às propriedades da corrente galvânica, avalie as afirmativas a seguir.

I – A corrente galvânica, ou contínua, é caracterizada por ser monofásica e unidirecional e é mantida


constante durante sua aplicação terapêutica.

II – Uma das principais respostas fisiológicas observadas com a utilização da corrente galvânica é o
eritema no local de aplicação dos eletrodos, resultado de alterações químicas ocorridas no eletrodo positivo.

III – A corrente galvânica pode levar à sensação de formigamento, irritação e coceira como efeito da
estimulação sensorial da corrente.

É correto o que se afirma em:

A) I apenas.

B) II apenas.

C) II e III apenas.

D) I e III apenas.

E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: as características físicas da corrente galvânica, também denominada contínua, incluem


ser monofásica e unidirecional. Trata-se de corrente constante que será mantida durante todo o período
de sua aplicação.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: as alterações químicas descritas na afirmativa, observadas com a utilização da corrente


galvânica, são devidas à polaridade negativa.
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Unidade I

III – Afirmativa correta.

Justificativa: o formigamento, que pode se apresentar como coceira e até irritação da pele no local do
posicionamento dos eletrodos, é uma resposta imediata observada pela aplicação de corrente galvânica.

Questão 2. Leia o texto a seguir.

“A iontoforese é uma técnica que utiliza eletricidade em uma corrente contínua e de baixa intensidade
para aumentar a permeabilidade da pele e outros tecidos à penetração de fármacos.”

SILVA, E. G. V; HEBLING, L. M. G. F. Iontoforese: uma técnica subutilizada. Ensaios Cienc., v. 22, n. 2, p. 124-127, 2018.

Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas que seguem.

I – Um dos benefícios oferecidos pela técnica da iontoforese é a redução de efeitos colaterais de


medicamentos sistêmicos. Há risco do processo de infusão intravenosa.

II – Pela sua propriedade de ruptura da barreira protetora oferecida pela pele, a iontoforese
permite a penetração de qualquer medicamento, independentemente da estrutura molecular ou
elétrica do medicamento.

III – Tumores malignos, presença de marcapasso, implantes eletrônicos e gestação são considerados
contraindicações ao uso da iontoforese.

É correto o que se afirma em:

A) I apenas.

B) II apenas.

C) I e III apenas.

D) II e III apenas.

E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: entre os diferentes benefícios oferecidos pela iontoforese, temos a diminuição dos
efeitos colaterais advindos do uso de medicamentos sistêmicos. Existe chance de infusão intravenosa.
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ELETROTERAPIA

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: as características estruturais da molécula influenciam na capacidade de o medicamento


ser absorvido pela pele com o auxílio da iontoforese.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: em algumas condições, não está indicada a utilização da iontoforese, como em


gestantes ou em pessoas com implantes eletrônicos e marcapasso.

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