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Correntes diadinâmicas Apostila 8

Correntes Diadinâmicas
Ao final deste capítulo você terá capacidade de:
• Identificar as correntes diretas e suas respectivas representações gráficas;
• Reconhecer as diferenças entre as correntes diretas, explicando as indicações para cada uma.
• Prescrever as correntes diretas mais indicadas para diferentes situações clínicas;

Um pouco sobre a corrente diadinâmica


Além da corrente galvânica é possível encontrar outras correntes diretas para uso clínico. Dentre elas é
possível citar as correntes diadinâmicas de Bernard, Corrente ultra-excitante e a corrente exponencial. Cada
corrente possui características específicas. Estas correntes são utilizadas na prática em diversas áreas. As
investigações de P. Bernard descobriram formas de correntes diretas eram eficazes no tratamento de
numerosas enfermidades do aparelho locomotor. Estas correntes ficaram conhecidas como correntes
diadinâmicas de Bernard - CDB1. Esta modalidade de eletroterapia é composta por cinco correntes de baixa
freqüência, alternadas com uma corrente contínua sobreposta.
As correntes diadinâmicas são:
1. Monofásica Fixa (MF)
2. Difásica Fixa (DF)
3. Curto Período (CP)
4. Longo Período (LP)
5. Ritmo Sincopado (RS)
As três últimas correntes correspondem a variações das duas primeiras.

A representação gráfica
1 – DF: Corrente direta de 100Hz, retificada em onda completa.

Largura de pulso - 10 ms Parâmetros Bioelétricos


• Frequência - 100 Hz
• Larg. Pulsos - 10ms,
• Sem intervalo

2 – MF: monofásica fixa, corrente alternada de 50Hz, retificada em semi onda.

Parâmetros Bioelétricos
Largura de pulso Intervalo de 10 ms
• Freq. – 50 Hz
10 ms
• Larg. Pulso – 10 ms
• Intervalo – 10 ms

3 – CP: Corresponde a combinação da MF com a DF, sendo ora MF ora DF.

DF = 1 seg MF = 1 seg

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4 – LP: Sobre uma corrente MF modula-se outra corrente MF que vai crescendo e decrescendo
gradativamente até completar 5 segundos e depois 10 segundos com MF.
.

5 seg 10 seg.

5 – RS: ritmo sincopado, forma de corrente MF, com intervalos de 1 seg.

1 seg 1 seg

Efeitos Fisiológicos
Vale ressaltar que esta corrente já foi amplamente utilizada, contudo, pouco profissionais ainda à
utilização1,2. Este fato, se deve ao surgimento de novas correntes terapêuticas com efeitos terapêuticos mais
evidentes. Esta diminuição no uso clínico também pode ser registrado pelo baixo número de artigos científicos
que utilizaram esta corrente nos últimos 15 anos. Dentre os efeitos esperados é possível listar:

1 – Dor
As formas de correntes de 50Hz e 100Hz, elegidas por Bernard, são capazes de aumentar o limiar álgico,
tornando o indivíduo mais tolerante à dor. Sendo a corrente DF particularmente mais recomendada quanto à
elevação do limiar de dor, consequentemente o efeito analgésico temporário3,4. Um estudo de 1966 demonstrou
efeitso positivos na radiculite lombar5, contudo, novos estudos são raros sobre esta abordagem e não comprovam
esta efetividade6,7. O uso para dor crônica tem sido amplamente difundida e vários estudos à associam com
outras modalidades terapêuticas como o ultrassom8,9. Trata-se de um recurso que atualmente não está em amplo
uso clínico e as pesquias envolvendo esta corrente terapêutica são escassos e de baixa qualidade metodológica.

2 – Vasodilatação Periférica
Particularmente próximo do pólo negativo de qualquer uma das cinco correntes ocorrerá vasodilatação
e hiperemia como conseqüência da liberação de substâncias tissulares vasoativas (por exemplo: histamina)10–
12.

3 – Contração Muscular
Não haverá uma contração fisiológica, mas vibrações ritmicas na corrente RS. Embora não gere uma
contração potente capaz de gerar hipertrofia, sua recomendação está restrita aos casos iniciais de treinamento
muscular, aos pacientes com perda de força muscular significativa, cujo o objetivo é o despertar trófico da
musculatura. No esporte o uso nas fases iniciais do tratamento já havia sido citada desde 198113.

4 – Relaxamento Muscular
Possível na freqüência de 100Hz, principalmente na DF e LP.

Como escolher a corrente certa?


Todo acadêmico acaba fazendo esta pergunta por que não sabe como prescrever de forma adequada.
A indicação adequada vai depender do quadro clínico do paciente e dos efeitos preconizados por cada uma
delas. Veja a seguir um breve resumo sobre isto.

Corrente Difásica (DF)

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Está indicada para tratamento inicial antes da aplicação de outra forma de corrente, bem como, transtornos
circulatórios funcionais periféricos. Não tem o objetivo de provocar contração muscular, pois a ferquencia de
100Hz gera relaxamento muscular.

Sensação descrita pelo Paciente: Fibrilação e um formigamento, que vai desaparecendo gradativamente
(acomodação). O terapeuta deverá corrigir a intensidade assim que o paciente relatar este efeito.

Corrente Monofásica (MF)


É utilizada para estimulação inespecífica muito utilizada para tratamento de dores não espasmódicas com
aumento da circulação e do retorno venoso. Também não tem o objetivo produzir contração muscular.

Sensação do Paciente: Forte vibração quando aumenta a intensidade pode gerar contrações.

Corrente Curto Período (CP)


A CP aumenta consideravelmente o fluxo sanguíneo, atua em processos álgicos e estados pós-traumáticos
com alterações tróficas, porém não aplicar em dermátomos correspondentes a órgãos vicerais em espasmos
da musculatura lisa.

Sensação do Paciente: Troca entre o período monofásico e difásico.

Corrente Longo Período (LP)


Caracteriza-se por seu efeito analgésico particularmente favorável e persistente. Presta-se a todo o
tratamento de mialgias e de diferentes formas de neuralgia .

Sensação no Paciente: Percebe-se uma troca lenta das sensações entre o período monofásico que cresce e
decresce e o monofásico simples.
Sensação vibratória no Monofásico simples;
Sensação de fibrilação e formigamento crescente/decrescente no outro período.

Corrente Ritmo Sincopado (RS)


Esta forma de corrente está indicada para realizar eletroginástica (efeito dinamógeno). Está indicado para
exercícios musculares localizados através da estimulação elétrica e para estimulação de músculos plégicos
ou paréticos não espástico.

Sensação no Paciente: Contração muscular ritmica

Intensidade de Corrente
Os efeitos fisiológicos e terapêuticos das correntes diadinâmicas de Bernard não somente dependem da
qualidade da corrente, como também da sua intensidade, pois deveremos sempre atingir tanto o limiar de
excitação sensitivo-motor.

Tempo de Aplicação
Pequena duração, pois aplicações longas podem reduzir ou
suprimir os efeitos terapêuticos. Aconselha-se usar no máximo 4 Nota: os efeitos eletrolíticos sobre a pele,
minutos para cada forma de corrente, e quando for necessário, mais devido à polaridade podem levar a
queimaduras, caso o tratamento seja
que uma forma, nunca ultrapassar 12 minutos no total. (Exemplo:
mais prolongado.
3min DF, 3min MF e 3 min CP perfazendo 9 min de aplicação).

Número de Sessões

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Dica 1: Após duas ou três sessões geralmente nota-se uma


diminuição significativa da dor e dos sinais inflamatórios; mesmo Nota: Estas sugestões estão embasadas
assim, aplicam-se mais três ou quatro sessões para estabilizar na prática clínica e na fundamentação
o quadro álgico. teórica, contudo, artigos científicos que
Dica 2: É aconselhável que a pausa entre uma sessão e outra validem estas afirmações ainda são
escassos.
não ultrapasse 48 horas. Nos quadros agudos, tem se
preconizado aplicações diárias e, se necessário, até duas
aplicações nas primeiras 24 horas.
Dica 3: Ao realizar uma série de sessões superior a sete aplicações consecutivas, deveremos interromper
esta série por pelo menos seis dias, para evitar o efeito de adaptação e restaurar o tecido cutâneo que
normalmente torna-se ressecado.

A Polarização da Corrente Diadinâmica


Pólo negativo:
• Liquefação (acúmulo de líquidos nesta região), com
aumento dos líquidos extras celulares e aumento da NÃO SE ESQUEÇAM!
permeabilidade das membranas lipoprotéicas,
Deveremos colocar sempre o pólo
• Aumento da excitabilidade tecidual acelerando o
positivo sobre a região com quadro
metabolismo de forma inespecífica.
Pólo positivo: inflamatório agudo e quando o processo
• Coagulação com derivação dos fluidos desta região, se reequilibrar e os sinais inflamatórios
• Diminuição da permeabilidade das membranas não estiverem mais evidentes,
lipoprotéicas, trocaremos a polaridade para favorecer
• Diminuição da excitabilidade tecidual, diminuindo a taxa a cicatrização da lesão.
metabólica do tecido e reduzindo a dor (efeito analgésico
por elevação do limiar da dor).

A escolha do tipo de eletrodo a ser utilizado vai depender do quadro clínico de paciente:

Técnica Bipolar
Indicado para sedação e analgesia em processos patológicos. Para esta técnica o eletrodo (+) e (-) são do mesmo
tamanho e quanto menor a área a ser tratada, menores deverão ser os eletrodos. Os eletrodos mais utilizados
nas correntes diadinâmicas são: esponjas com placas de silicone condutor, além dos eletrodos de copo e de
sucção; todos possuem vários tamanhos e formas1.

Técnica Unipolar
Indicado para atuar em regiões focais com efeitos mais tróficos e estimulantes. Neste caso os eletrodos (+) e (-)
terão tamanhos diferentes, sendo o menor denominado de eletrodo ativo e o maior denominado eletrodo
dispersivo. A depender do objetivo terapêutico, tanto o (+) quanto o (-) poderão ser o eletrodo ativo. Este deverá
ser colocado sobre o foco do tratamento e o dispersivo num campo próximo para fechar o circuito1.

São recomendados os seguintes locais de aplicação:


1 – Aplicação no Ponto Doloroso

2 – Aplicação no Tronco Nervoso

3 – Aplicação Paravertebral

4 – Aplicação Gangliotrópica Específica Aplica-se eletrodos pequenos a uma curta distancia de


separação (2 a 5 cm) com o pólo negativo sobre o gânglio vegetativo (por exemplo: gânglio estrelado).

5 – Aplicação Vasotrópica Os eletrodos são aplicados seguindo o trajeto da corrente vascular,


nos transtornos circulatórios periféricos.

6 – Aplicação Mioenergética - Os eletrodos são aplicados sobre ambas as extremidades do


músculo, de forma que a corrente atravesse o músculo em toda sua extensão.

7 – Aplicação Transregiona - Nesta aplicação, utilizam-se eletrodos do mesmo tamanho,


posicionados de forma que a corrente atravesse a área de interesse (por exemplo: aplicação através de

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4 Prof. MSc. Cleber Luz | E-mail: cleberluz@ufba.br
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uma articulação); aplicam-se eletrodos de cada lado da articulação, de forma que os eletrodos tenham
tamanho proporcional ao da articulação evitando que se toquem.

Referências bibliográficas

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