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Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Petrolina

Licenciatura em letras - Português/inglês

Componente curricular: Teoria literária l


Docente: Aparecida Brandão
Discente: Igor Daniel Moreira Gomes

Resenha

A busca dos nordestinos por uma vida melhor e a falta de perspectiva: uma
análise da obra Morte e vida severina

MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina: Auto de Natal
Pernambucano. Editora Turca, 1955.

João Cabral de Melo Neto, nascido em 1920 e com sua morte em 1999, foi um
diplomata e poeta brasileiro, autor de Morte e vida Severina, obra que o consagrou.
É entendível essa consagração por conta dessa obra em específico, nela temos
Severino, personagem principal e que retrata muitos retirantes que deixam suas
terras em busca de outras para a sobrevivência. Apesar de ter sido publicado em
1955, Morte e vida Severina continua muito atual, visto que a vida de Severino pode
ser a de qualquer imigrante em busca de uma vida decente.
Tendo em vista essa temática áspera e de falta de perspectiva, a obra faz uma
clara crítica a vida dura que muitos nordestinos tinham durante a década de 1950,
como o latifúndio e secas temporárias, temas retratados no livro e que foram as
razões da imigração dos nordestinos para outras áreas do país.
Além disso, o livro é um poema narrativo, com foco no lírico e com presença
dramática, dado que o livro nos mostra a narrativa de Severino até a sua quase
morte.
Partindo para a explicação do subtítulo da obra e sua relação que se tem com
ela, temos que a obra é um auto, visto que seu significado é uma composição teatral
com subgênero na literatura dramática. Enquanto natal é uma comemoração cristã,
em que esperança e tempo de renovação faz parte da tradição.
Ademais, esse conceito atrelado à palavra pernambucano (que retoma a cidade
natal do autor), evidencia a esperança que o povo nordestino tem por dias
melhores. Como retratado ao final da obra, quando Severino ao questionar José se
devia ou não cometer suicídio, ele fala sobre o nascimento do seu filho, trazendo
esperança e renovação, uma clara alusão ao nascimento de Jesus no notal.
Ainda, quanto ao título, a obra retrata muitos Severinos, assim dizendo,
nordestinos sem perspectivas, com suas vidas sofridas, com a morte sempre à
espreita. Embora queiram se fazer um, no qual cada um busca sua individualidade,
poucos conseguem e acabam por sucumbir.
Com isso, temos então que Severino não tem uma individualidade, pois, assim
como outros, ele é apenas mais um em busca de sua ascensão. Portanto, Severino
se torna um adjetivo por se tratar de muitos.
Tendo em vista as ideias anteriores, constata-se que Morte e vida severina é uma
obra literária, nela temos introduzidas inúmeras formas da literariedade,
principalmente pelo uso constante das figuras de linguagem, tendo já o próprio título
da obra como exemplo, carregando uma antítese, tendo morte e vida em uma única
frase. Além do mais, o autor se sobrepuja nos seus sentimentos e construção dos
cenários da narrativa, concretizando a função poética.
Por conseguinte, a obra se faz atual por muitos aspectos, principalmente pela
morte (que está sempre presente) e pela negligência e resposta do governo.
Embora a morte pareça ter uma consciência no livro, como se estivesse sempre
em busca de pessoas para levar consigo, ela é apenas uma consequência. No livro,
o autor usar os termos morte morrida e morte matada, significando morte natural e
morte por assassinato respectivamente.
Com isso, podemos fazer uma conexão entre a seca retratada no livro e a
pandemia da covid-19, na qual ambas fizeram centenas de vítimas e que muitas
poderiam ter sido evitadas se não fosse pela negligência governamental.
Portanto, o gênero que mais se destaca na obra é o lírico, pois o livro é escrito em
versos e segue uma forma poética, sendo uma característica do gênero lírico. Além
do mais, o autor se exacerba em suas reflexões sobre a morte e consequentemente
a falta de perspectiva. Há também, dentro da obra, o gênero dramático, pois como
já indica o seu subtítulo, ele é uma auto de natal pernambucana.
Paralelamente a obra Vida e morte Severina, temos então Vidas secas, romance
brasileiro do autor Graciliano Ramos, também retratando a vida de retirantes em
busca de uma vida melhor em consequência da seca, a morte e a opressão por
parte dos donos dos latifúndios.
Por fim, morte e vida Severina é uma obra com uma temática áspera e que
retrata a dor, a luta, a vida, a morte, os severinos, o nordeste e muitas outras coisas
de uma forma dura e cruel, nos trazendo para dentro dessa narrativa e nos fazendo
conhecer mais sobre a vida de muitos Severinos.

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