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O professor itinerante da Educação Especial e sua relação com o professor

da Educação Infantil
Lívia Maria Ribeiro Leme Anunciação

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, Programa de Pós Graduação


em Educação Especial, São Paulo
Práticas de inclusão escolar na educação básica
Comunicação Oral

Resumo

O presente estudo tem como objetivos (i) apresentar o serviço de ensino itinerante,
(ii) discutir o ensino de crianças com deficiência na educação infantil através da
relação professor itinerante e professor do ensino regular e (iii) destacar os desafios
que esse serviço enfrenta nessa etapa da educação básica. Durante a pesquisa foi
realizado um levantamento teórico sobre o ensino itinerante na Educação Especial.
O estudo destaca o ensino itinerante e a relação do professor da Educação
Especial e do ensino regular para a construção de práticas educacionais para
crianças com deficiência na Educação Infantil. A pesquisa foi realizada em uma
cidade de médio porte do interior do estado de São Paulo na rede municipal de
ensino. Participaram da pesquisa cinco professores que trabalham com o ensino
itinerante. Para atender aos objetivos, o estudo foi delineado com base no estudo
de caso. Os dados foram coletados a partir de uma entrevista semiestruturada com
perguntas relacionadas a relação entre os professores da Educação Especial na
itinerância e o professor da Educação Infantil. Os resultados mostram a presença
do ensino colaborativo nas práticas dos professores. Ao relacionar as falas é
possível verificar a importância desse profissional para práticas educacionais que
visam o apoio educacional especializado. Embora a presença do professor
itinerante seja visível, as práticas ocorrem de acordo com a necessidade de cada
ambiente.

Palavras – Chave: Educação Especial – Educação Infantil – Ensino Itinerante

Introdução
A Educação Infantil no Brasil passa por transformações significativas que
englobam também o ensino de crianças com deficiência. Ao longo do processo
histórico essa etapa, que hoje faz parte da educação básica, passou por períodos
de instabilidade e grande dicotomia entre o cuidar e o educar. Às camadas
populares valorizava-se uma instituição higienista que tinha o cuidar como meta, já
para a crianças com condições econômicas favorecidas prevalecia uma instituição
com princípios educacionais com base no conhecimento pedagógico e psicológico
nos moldes europeus. (OLIVEIRA, 2011). Nesse contexto a Educação de crianças
com deficiência caminhou em paralelo em instituições que abrigavam crianças com
deficiência e classes especiais (JANUZZI, 2006) sem ocorrer um entrelaçamento
entre educação infantil e educação especial.
Atualmente, a Educação Básica engloba a educação infantil e a Educação
Especial, como modalidade de ensino, e deve ser oferecida para crianças
matriculadas nessa etapa do ensino. Com isso, ao analisar a Educação Brasileira,
Leme (2010, p. 19) considera que “há que se considerar que todo processo histórico
da Educação brasileira tem hoje, seu produto, fruto da instabilidade e fragilidade
para efetivação que permeia as políticas educacionais”. Os caminhos educacionais
instáveis levam a Educação Nacional a novos rumos e novos desafios.
Com a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988 (BRASIL, 1988),
sendo a Educação direito de todos constituindo-se da Educação Especial como
modalidade de ensino que perpassa por toda a Educação Básica a Educação no
Brasil começa a escrever uma nova história. Nesse sentido Rodrigues e Maranhe
(2010, p. 37) diz que a “Constituição traça linhas mestras visando a democratização
da educação brasileira”.
Ao oportunizar a Educação Especial, sendo a Educação Infantil
municipalizada, os municípios são responsáveis por organizar o atendimento
educacional especializado (AEE). Nesse caminho, o ensino itinerante apresenta-se
como um serviço para suprir a necessidade de atendimento educacional para
crianças com deficiência. Rocha e Almeida (2008) caracterizam esse serviço como
um atendimento complementar oferecido na sala de aula do ensino regular e aponta
como tendência à crescimento esse tipo de serviço em decorrência da presença de
crianças com deficiência nas escolas. No estudo, as autoras caracterizaram os
profissionais que laboram com a itinerância bem como suas condições de trabalho
e apontam a necessidade de reorganização dos objetivos, políticas públicas e
infraestrutura no serviço oferecido.
A pesquisa das autoras revela uma fragilidade da Educação Especial para
ofertar um ensino de qualidade conquistado como direito da CF (BRASIL, 1988).
Diversos são os desafios da Educação Especial na Educação Infantil, tanto uma
como a outra construíram sua história através de conquistas de movimentos
sociais. Atualmente, no cenário nacional, a Educação Especial possui políticas
públicas (BRASIL, 2001; 2009) para que a criança com deficiência encontre no
ensino regular perspectivas de desenvolvimento e aprendizagem. Nesse viés,
Miranda, Dal’lacqua e Heredero (2010) apontam a dificuldade de se implementar
um sistema escolar capaz de atender à diversidade para, enfim, promover uma
educação de qualidade.
Por conseguinte, os desafios existem e necessitam de propostas que visam
a melhoria do sistema educacional. Assim, Martins et al (2010) apresenta que as
problemáticas existentes surgem da realidade e precisam de atenção.
A fragilidade existente na efetivação das políticas educacionais (LEME,
2010) esbarra em tentativas de práticas pedagógicas que ao mesmo tempo que
favorecem novas oportunidades às crianças com deficiência protagonizam ações
que não beneficiam seu desenvolvimento.
Como proposta, na tentativa de promover um ensino de qualidade, a ação
do professor itinerante na Educação Infantil necessita de estudos aprofundados
para caracterização desse serviço bem como dimensionar a relação existente com
o professor do ensino regular. As problemáticas existem e as soluções surgem a
partir da imersão na realidade, discussões, planejamento e construção de uma
educação que valorize o desenvolvimento, progresso e os potenciais da criança
com deficiência. Leme (2010, p. 47) corrobora ao dizer que “pensar em dificuldade
sem pensar em soluções é como não acreditar que a educação possa ser
transformadora de uma forma realista”. Nesse sentido, a formação do professor,
para mudanças educacionais, se reveste de sentido ao buscar na sua realidade as
reflexões necessárias para as transformações no âmbito educacional. Portanto,
conforme aponta Anunciação (2016, p. 195) “ a força motriz dos processos
inclusivos está na ação pedagógica, nos processos reflexivos da práxis
pedagógica, ação-reflexão-ação”.
O ingresso na Educação Básica com a Educação Infantil como primeira etapa traz
novos desafios e reflexões sobre como proporcionar um ensino de qualidade.
Silveira (2010) destaca que a formação dos professores de Educação Infantil
sobre os processos inclusivos é deficitária bem como o conhecimento sobre
assuntos relativos à infância. Nesse sentido, a autora destaca que falta clareza,
existem dúvidas e medos em relação ao ensino de crianças com deficiência na
Educação Infantil.
A pesquisa de Rios, Morais e Figueiredo (2010) destacam em seu estudo
que a ação do professor itinerante transformou a realidade pesquisada em que os
professores do ensino regular se preocupavam com as descrições das síndromes
e passaram a discutir procedimentos de ensino e como flexibilizar o currículo. A
pesquisa mostra a carência do professor do ensino regular em formação específica
e destaca a importância do professor itinerante especialista para formação do
professor em sala de aula.
Em se tratando de formação, Pelosi e Nunes (2009), mostra em estudo
sobre o professor itinerante que seu papel fundamental é de mediação,
sensibilização e mobilização para assuntos relacionados à inclusão. No mesmo
trabalho “o professor itinerante trabalhava como um elemento facilitador da
inclusão” (p. 143). Embora exista tais práticas, as pesquisadoras ressaltam que seu
papel precisa de redefinições e que “a intervenção do professor itinerante precisa
iniciar na Educação Infantil para que o aluno chegue ao Ensino Fundamental com
mais instrumentos que favoreçam o seu aprendizado” (p. 152). A pesquisa
apresentada mostra a importância de um apoio ao professor do ensino regular, para
não somente mobiliza-lo, como também sensibilizá-lo para um olhar diferenciado
para sua prática pedagógica com crianças com deficiência ao buscar apoio e
formação para uma prática de ensino coerente com as necessidades e carências
encontradas.
Assim, o primeiro passo é reconhecer que o ensino tradicional não atende
a todas as necessidades de aprendizagem “e que as pessoas com deficiências,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades, ainda, se estabelecem
à margem de todo processo educacional” (ANUNCIAÇÃO, 2016, p. 195).
O ensino itinerante encontra espaço na Educação Infantil ao se revestir de
conteúdo específico para a construção de práticas pedagógicas coerentes com a
realidade desde que ocorra uma relação harmoniosa com o professor do ensino
regular. Por fim, transpor barreiras existentes no âmbito do preconceito, estigma e
segregação.
A presente pesquisa traz pontos importantes para a caracterização do
serviço de itinerância na Educação Infantil ao expor a relação direta com o
professor do ensino regular e sua importância já destacada por Pelosi e Nunes
(2009). Portanto, como se dá essa relação e quais são os benefícios desse serviço
para o ensino de crianças com deficiência na Educação Infantil? Com isso, o
questionamento da pesquisa traz à tona a caracterização do ensino itinerante e sua
existência para complementar o ensino escolar em passos curtos, dúvidas,
angústias, medos, sensibilização e mediação pedagógica.

Objetivos

O presente estudo tem como objetivos (i) apresentar o serviço de ensino


itinerante, (ii) discutir o ensino de crianças com deficiência na educação infantil
através da relação professor itinerante e professor do ensino regular e (iii) destacar
os desafios que esse serviço enfrenta nessa etapa da educação básica

Metodologia

O presente estudo é um recorte da pesquisa realizada durante a


elaboração da tese de doutorado da autora e para responder aos objetivos
propostos o estudo tem caráter qualitativo que se delineou em um estudo de caso
de uma rede municipal de ensino de uma cidade de médio porte do interior do
estado de São Paulo. Participaram da pesquisa cinco professores da Educação
Especial que atuam com alunos com deficiência na Educação Infantil. Os
participantes da pesquisa responderam individualmente a uma entrevista como
perguntas abertas sobre o tema: relação professor itinerante e professor do ensino
regular. As entrevistas tiveram duração de aproximadamente dez minutos que
foram gravadas e depois transcritas na íntegra. Os dados coletados através das
entrevistas foram analisados com teor qualitativo.
O estudo de caso para Duarte (2008) “exige enquadramento teórico
adequado, domínio de instrumentos e disponibilidade de tempo (p.114)”. Segundo
o autor um dos elementos para se constituir um estudo de caso é determinar qual
contexto social. Outro aspecto relevante é se apoiar na pergunta de pesquisa e na
literatura pesquisada. A análise será qualitativa e descritiva das entrevistas bem
como a relação com a literatura da área. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de
ética da Universidade Federal de São Carlos e os dados coletados ocorreram no
período de agosto a setembro de 2015.
Para preservar a identidade dos participantes os nomes para identifica–los
serão fictícios.

Resultados
Primeiramente o ensino itinerante no município pesquisado ocorre na
Educação Infantil no mesmo turno da matrícula da educação básica. As crianças
atendidas possuem entre zero e cinco anos. Todo trabalho de itinerância ocorre
desde o encaminhamento ao atendimento educacional especializado que é
desenvolvido em instituições conveniadas ao município até ao atendimento ao
aluno na escola e diálogo com a família.
O atendimento do ensino itinerante ocorre em mais de uma escola variando
de acordo com a necessidade de cada unidade escolar.
Os professores participantes, durante a semana, atendem até três escolas
e trabalham com diversas deficiências. A seguir serão apresentadas e discutidas
as falas das cinco professoras sobre sua relação com o professor do ensino regular.
Com as entrevistas foi possível identificar as especificidades existentes no
serviço de ensino itinerante. A fala da professora Maria indica a forma como é
conduzido o ensino itinerante. Seu trabalho é desenvolvido dentro da sala de aula
ou, conforme orientações do professor do ensino regular, com apoio individualizado
fora da sala de aula. O último aspecto depende das orientações do professor do
ensino regular.
Maria, expõe que:

[...] O professor itinerante vem, por exemplo, três vezes na


semana naquela escola e ele monta o horário de acordo com as
professoras que tem as crianças com deficiência. Tem
professoras que preferem que o atendimento seja no grupo,
onde a professora itinerante fica junto com o aluno especial,
fazendo as adaptações dando o apoio necessário e há
momentos também que há professores do ensino regular da
educação infantil que preferem que o atendimento seja
individualizado, então a professora elabora um horário que vai
ficar fixo e ela retira a criança do grupo para fazer esse
atendimento pedagógico

A fala da professora destaca a organização da rotina semanal com atuação


de até três vezes por semana em uma das escolas. Ela realiza adaptações
pedagógicas necessárias para o aluno e possui um horário fixo na semana em que
retira o aluno da sala de aula para realizar um atendimento pedagógico. A prática
do professor itinerante na Educação Infantil merece destaque para buscar um
atendimento educacional eficaz e de qualidade para a criança com deficiência. A
propósito, Pelosi e Nunes (2009) corroboram ao dissertar que a itinerância deve ter
seu início na Educação Infantil para que no Ensino Fundamental o aluno consiga
obter/usufruir de mais instrumentos para sua aprendizagem. Assim, é importante
salientar que as práticas educacionais para as crianças com deficiência merecem
um espaço significativo e de qualidade na Educação Infantil.
A professora Ana em sua fala também aponta a existência de um ensino
itinerante que é desenvolvido em sala de aula junto com a professora do ensino
regular e um trabalho com atendimento individualizado. O ensino colaborativo é
mencionado como estratégia para orientação e apoio em relação a criança com
deficiência. Caso exista a necessidade a professora do ensino itinerante realiza o
atendimento da criança individualmente.

[...] Eu procuro fazer um trabalho cooperativo, a gente faz um


trabalho na sala, normalmente a gente fica junto. Eu ajudo
individualmente as crianças que tem maior necessidade, às
vezes eu dou um atendimento individualizado também
dependendo da necessidade do aluno. Então a gente faz uma
parceria, às vezes a professora precisa de alguma orientação,
então eu dou, às vezes precisa de algum apoio mesmo em
relação aquela criança, então eu atendo aquela criança
individualmente.

A professora Júlia também aborda em sua fala o ensino colaborativo e


relata que não está presente na escola todos os dias da semana, entretanto os dias
que está presente na escola ela acompanha o aluno no ambiente escolar. Um fator
importante se destaca no trabalho do professor itinerante com a família da criança,
na elaboração dos registros e documentação do trabalho realizado.

[...] É um trabalho colaborativo, então eu não estou lá todos os


dias. Os dias que eu estou acompanho todo o processo com a
criança desde a sala de aula, o parque, a alimentação, todo o
apoio para orientar o professor, para eu trabalhar diretamente
com a criança e para também ter a relação com a família e fazer
os registros e documentação desse trabalho.

Os desafios e os entraves do ensino itinerante são representados na fala


da professora Lenita:

[...] Hoje, até assim, a gente vive numa situação de conversa,


'mas o aluno não é meu!' Eu venho para fazer um atendimento
especializado, o aluno é dela.

Na realidade da professora Lenita não está bem claro e estabelecido os


papéis exercidos pelos professores. Existe o diálogo, entretanto o aluno em
questão está em um ambiente que ainda não está bem esclarecido sobre os
conceitos e práticas educacionais que atendam à diversidade. As barreiras
invisíveis e visíveis que são apresentadas por Carvalho (2008) ainda existem, vale
ressaltar as de ordem pedagógica e as construídas pela falta de conhecimento que
geram a discriminação e o preconceito. A fala de Lenita mostra que existe uma
confusão não somente por parte da professora do ensino regular, como também
por parte de Lenita sobre a quem pertence o aluno. Do ponto de vista da educação
para diversidade presente na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) todo o
sistema educacional é responsável pelo aluno e as escolas são os ambientes mais
eficazes para se combater práticas discriminatórias.
Embora exista esse conflito Lenita demonstra em sua fala anseio em
estabelecer uma relação dialógica com a professora do ensino regular.
A fala da professora Clara nos leva a outro aspecto importante do trabalho
do professor do ensino itinerante que é a orientação e a adaptação dos materiais
necessários para as práticas pedagógicas do professor bem como o apoio
necessário para as atividades que são desenvolvidas em sala de aula.
[...] Com o professor da sala de aula eu trabalho com um trabalho
colaborativo que é dentro de sala de aula orientando e
adaptando os materiais necessários quando o aluno necessita e
apoiando os alunos nas atividades em sala de aula

Pelosi e Nunes (2009, p. 143), em seu estudo aponta essa característica


do professor itinerante representada também na fala da professora Clara ao dizer
que “na prática, esses professores desempenham uma multiplicidade de atividades
orientando ou auxiliando a professora da turma, adaptando o material escolar ou
confeccionando recursos adaptados”.
Conforme exposto na fala das professoras participantes os desafios e as
características do ensino itinerante se configuram em uma educação que ocorre no
mesmo turno em que a criança está matriculada no ensino regular. Esse apoio
acontece ora dentro da sala de aula, ora com um apoio individualizado e não existe
uma regra para que isso aconteça. Fica evidenciado na fala de Maria, que esse
ensino é orientado pela professora do ensino regular, já nas falas de Ana, Júlia e
Clara o ensino ocorre em sala de aula.
A relação professor itinerante da Educação Especial e professor do Ensino
regular se apresenta de forma heterogênea, nesse viés Pelosi e Nunes (2009, p.
152) apontam, sobre os professores itinerantes, que “os profissionais necessitam
construir um perfil mais homogêneo” e seu papel precisa ser redefinido para que
sua ação favoreça o desenvolvimento do aluno. Já o estudo de Amorim (2015)
sobre o ensino itinerante aponta que a organização da Educação Especial no
mesmo turno possui lacunas para que ocorram articulações entre os professores.
O trabalho colaborativo está presente no serviço oferecido, entretanto na
fala da professora Lenita existem conflitos sobre a presença da criança com
deficiência na sala de aula. Em relação ao ensino colaborativo Dall’Acqua (2007)
em um estudo sobre o ensino itinerante na Educação Infantil, destaca o auxílio que
o professor itinerante oferece ao professor do ensino regular ao planejar estratégias
de uma forma colaborativa.

Conclusões
No presente estudo o serviço itinerante na Educação especial foi
apresentado. A discussão de como esse ensino é oferecido para crianças com
deficiência foi apresentado através das falas dos professores. As práticas e os
desafios dos professores foram destacados e como ocorre a relação com o
professor do ensino regular. Um dos desafios encontrados é a falta de diálogo entre
professor itinerante e professor do ensino regular que ocasiona a falta de
atendimento e planejamento de ensino para a criança atendida.
A relação professor da Educação Especial e professor do ensino regular
ainda é frágil e instável. Ao relacionar as falas é possível verificar a importância
desse profissional para práticas educacionais que visam o apoio educacional
especializado no ensino regular. Embora a presença do professor itinerante seja
visível, as práticas ocorrem de acordo com a necessidade de cada ambiente e não
existe uma organização pré-estabelecida e cada realidade é estruturada de acordo
com suas necessidades.
A presença desse profissional no ensino regular se configura como
essencial para que as adaptações pedagógicas valorizem as necessidades de
aprendizagem de cada aluno suprindo as carências do professor do ensino regular
sobre as dificuldades existentes. Não somente em relação à informação sobre a
deficiência como também a elaboração de práticas de ensino coerentes com as
necessidades de cada criança.
Corrobora-se com esse estudo a necessidade da presença do professor de
Educação Especial através do ensino itinerante na Educação Infantil, entretanto a
quantidade de escolas atendidas precisa ser repensada. Atender até três escolas
por semana cria espaços vazios e gera descontinuidade nas práticas escolares.
Adaptar, sensibilizar, dialogar, refletir, discutir, planejar, mobilizar e orientar
são verbos constantes nas práticas desses professores que diariamente
desenvolvem um trabalho que visa um ensino de qualidade para as crianças com
deficiência, entretanto seu trabalho está condicionado a quantidade de escolas
atendidas, aceitação do professor do ensino regular, organização da rotina escolar,
número de alunos atendidos e também uma articulação eficaz com o professor do
ensino regular. Caminhos possíveis, para essas práticas, são construídas no
coletivo e para o coletivo através das necessidades do aluno, da vontade do
professor e do constante diálogo. O atendimento individualizado ou no grupo é a
rotina e o próprio aluno que responde a essa necessidade. Portanto o melhor
caminho possível para o planejamento de ensino para esse aluno é o diálogo
salutar entre professor itinerante e professor do ensino regular. De acordo com os
dados de pesquisa há indícios para o ensino colaborativo, entretanto esse serviço
necessita de reciprocidade para que o trabalho se efetive.
Outro aspecto importante é se o atendimento à criança deve ou não ocorrer
em sala de aula junto com a professora do ensino regular ou um atendimento
individual. Sobre esse dado de pesquisa não existe uma regra a seguir, pois cada
professor estabelece a melhor forma de trabalho de acordo com a realidade
escolar.
As falas dos professores itinerantes indicam a necessidade de uma
formação específica para os professores do ensino regular sobre as deficiências e
como eles devem trabalhar no ambiente escolar com seus alunos. Os caminhos
das práticas educacionais para crianças com deficiência merecem destaque nas
futuras pesquisas. Já as pesquisas existentes precisam ser amplamente divulgadas
e ofertadas para os ambientes escolares visando uma educação plena que valorize
a diversidade humana.
A literatura na área necessita de aprofundamento para que se tenha um
parâmetro de como esse serviço é oferecido no âmbito nacional, quais são suas
características e quais são os desafios encontrados.

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