1) Por que é importante estudar a desigualdade "vista de cima", como propõe
Pedro Ferreira de Souza? Dê exemplos. Analisar a desigualdade em qualquer cenário, passa por entender que numa estrutura social onde muitos tem pouco e poucos têm muito, a pobreza é reflexo da má distribuição de renda que existe nessa sociedade e como a manutenção de privilégios de determinados grupos sociais reproduzem essa desigualdade. Quando o sociólogo Pedro Ferreira de Souza aponta que a desigualdade precisa ser “vista de cima”, ele tenta ressaltar a importância de estudar as classes mais ricas da população, visto que o problema da desigualdade não está presente na pobreza vista no cotidiano, mas nas camadas ricas da sociedade que concentram maior parte da renda produzida no país e consequentemente desequilibra a balança de riquezas drasticamente e contribuindo para a reprodução para um dos maiores níveis de desigualdades do mundo presentes no Brasil. Um bom exemplo disso está na classe trabalhadora, onde o trabalho precarizado não reflete a mão de obra desqualificada das camadas mais pobres do Brasil, mas sim uma lógica de manutenção de poder pela alta burguesia que se aproveita da urgência de trabalho pela a população mais carente do país, acumulando capital através da exploração e ausência de direitos trabalhistas que o trabalho informal proporciona para essa classe mais pobre.
2) Quais são as limitações metodológicas dos estudos convencionais sobre
desigualdade? Os estudos sobre desigualdade ocorrem normalmente por meio de pesquisas realizadas através de análise de cargas tributárias e renda domiciliar , porém tais metodologias apresentam limitações e muitas vezes não representam o real cenário da desigualdade presente na sociedade. A pesquisa domiciliar por exemplo apresenta falhas ao subestimar o poder econômico dos mais ricos, levando em consideração as análises do sociólogo Pedro Ferreira, esse tipo de pesquisa vai contra a ideia de estudar as desigualdades do “topo”, visto que a concentração de maior renda se encontra nas classes mais ricas do país. Outro ponto de limite metodológico está no coeficiente de gini, usado mundialmente como base para pesquisas sobre distribuição de renda, mas que apresenta inconsistências em relação ao topo da pirâmide por não captar as riquezas totais produzidas nessa camada. Thomas Piketty é um grande economista que diante das inconstâncias das análises das desigualdades, ele mensurou as riquezas através dos dados fornecidos pelas as declarações de renda com base em informações tributárias, sendo possível ter uma noção mais estável sobre como a desigualdade no Brasil se perpetuou.
3) Quais são as conexões entre desigualdade, democracia e ditadura? Dê
exemplos. A ditadura militar no Brasil durou entrou os anos de 1964 a 1985, período que ficou marcado pela a entrada do forte capital enstrangeiro no país, dando início ao um momento da história conhecida como “milagre econômico” na qual houve um crescimento do produto interno bruto como nunca visto antes junto do aumento de multinacionais e estatais pelo o país. Porém, houve uma contradição marcante nesse período, ao mesmo tempo desse super desenvolvimentismo, o Brasil apresentava um dos maiores níveis de desigualdade na sua história, demonstrando que toda a riqueza desse período ficou concentrada nas mãos da burguesia que financiou grande parte do golpe militar de 64. Outro ponto que reflete a desigualdade da época, foi o arrocho salarial, na qual os salários não eram mais reajustados a partir do nível da inflação, sendo achatados drasticamente, afetando a classe trabalhadora que diante um governo autoritário não tinha permissão de exercer manifestações para reivindicar a melhoria de salários. Além disso, houve os diversos cortes orçamentários em diversos setores essenciais para a população, como a educação que foi sucateada, tendo as escolas de ensino público desestatizadas e dando abertura para o ensino privado que abrange boa parte da classe média, deixando as escolas públicas destinadas ao mais pobres, esquecidas pelo o governo. Assim se caracterizou a desigualdade na ditadura militar, um desenvolvimentismo à custa dos mais pobres, que teve a imprensa censurada pelos os militares para esconder a corrupção do governo e os trabalhadores impedidos de realizar manifestações por melhorias de salários, problemas que perduram até os dias atuais que caíram sobre as costas da democracia.
4) Discuta, usando o carnaval pernambucano como exemplo, às relações entre
desigualdade e carnaval. O carnaval é um período que marca grandes festas no Brasil, especialmente em Pernambuco que tem como destaque os carnavais de Olinda e Recife, sendo um dos mais prestigiados do mundo, tem como forte marca a diversidade e a garantia de festa para “todos” . Entretanto, mesmo o Carnaval sendo um momento na qual questões de vulnerabilidade socioeconômicas e todas as mazelas sociais que pairam grande parte da população são esquecidas para dar espaço a folia, é impossível não fazer um recorte das desigualdades que se apresentam durante as festividades e que estão presentes durante todo ano, mas que ficam mais evidentes durante o Carnaval. Podendo começar pela a organização por parte da prefeitura de Recife durante os shows que ocorreram pela a cidade, onde muitos artistas locais e que representam a periferia da cidade, foram tratados de forma desigual em relação aos artista de fora, mostrando claramente um prestígio maior por parte da prefeitura a artistas já renomados que tiveram direito a camarim e realização dos seus shows por completo, enquanto artistas locais não tiveram a mesma oportunidade e tiveram o tempo das suas apresentações reduzidos, sendo muito desses artistas essenciais para o prefeito de Recife João Campos se conectar com a periferia de Recife, mas que não tiveram o devido valor pelo o mesmo. Para além disso, podemos pensar a desigualdade nos detalhes do Carnaval, como por exemplo a mobilidade dos foliões, que boa parte ficava dependente do transporte público sucateado e com superlotação, visto que a outra alternativa era os elevados preços dos transportes por aplicativos que poucos poderiam ter o privilégio de pagar. Vale ressaltar também a questão de moradia e o número de pedintes e pessoas em situação de rua que agravam a realidade da desigualdade social, além de inúmeros trabalhadores que não conseguiram ter o luxo de aproveitar o carnaval, visto que precisavam garantir sua sobrevivência, como por exemplo a classe de catadores de latinha que usou do carnaval como meio de garantir uma maior renda.