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2. Sasha anuncia o fim do programa anterior e fala nome da radio “E essa foi a
composição “a noite do meu bem”, de Dolores Duran, na voz de Dolores das
Dores. Na sua radio NRP, Nelson Rodrigues Produções, 21.12MH”
PARTE 1
6. Sacha fala a primeira parte de “não se pode amar e ser feliz ao mesmo
tempo”: Você deseja saber quem é Myrna. E fará a si mesma, perguntas como
estas: “É loura? morena?
nasceu no Cairo? em Alexandria? adivinha o futuro? é velha ou moça?” Respondo:
“Myrna sou
eu.” Entretanto, não é Myrna que está em causa. QUEM ESTÁ EM CAUSA É VOCÊ.
Sim, leitora
que nunca vi, bela, feia, juvenil ou passada. Você sofre e basta. E é para você
própria que
devem voltar suas atenções. Examine o seu caso e mais do que isso: examine seu
coração.
Você tem um amor infeliz. Infeliz por quê? De quem é a culpa? Dele ou sua? Ou
será da
própria vida, cega, obtusa, implacável? São perguntas que você faz, a si mesma e
aos outros,
sem lhes achar resposta. Longe do bem-amado você é infeliz; perto, também. Na
ausência,
tem saudades; na presença, sofre por outros motivos. Se ele é fiel, você chora,
considerando a
hipótese da infidelidade.
10. Leslie - Frase: Meu amor é anormal porque é sem vergonha, sem
limite e sem covardia.
Todos: Palmas
11. Thiago entra com “é uma delícia o ciúme sem motivo” (consulente vivi)
Katia Vevel, Rio – A rigor, a sua tragédia não existe: O mais importante, o
fundamental, você tem: ama e é amada. E se quer obter um mínimo de felicidade,
parta, sempre, do seguinte princípio: – O verdadeiro amor não pode ser
integralmente feliz. Você sabe qual é o tremendo erro da maioria absoluta das
mulheres? Achar que o fato de amar implica, obrigatoriamente, a felicidade. Quem
ama, pensa que vai ser felicíssimo; e estranha qualquer espécie de sofrimento.
Quando uma mulher apaixonada se queixa, eu tenho vontade de fazer-lhe esta
pergunta: “Não lhe basta amar”?
Consulente – Claro que não!
“Você quer, ainda por cima, ser feliz”?
Consulente – Sim Myrna, eu quero ser feliz!
Quem ama, não tem sossego, perde-o, para sempre. Você, minha doce amiga,
escreve:
Consulente: “Myrna, Tenho ciúme de tudo e de todos”.
E isso já implica um sofrimento incessante e atroz. Sofrer pela criatura amada –
permita que lhe diga – não é um mal, é quase um bem. Você conhece tristezas mais
lindas, mais inspiradoras, do que tristezas de amor?
Uma pessoa sensata diria “(São tristezas)”
(consulente – Mas são tristezas)
Ao que eu replicaria: “Mas de amor!”.
Consulente – De amor!
Vejamos concretamente, o seu caso. Você, há tempos, teve uma lesão pulmonar. E
mais vale uma lesão pulmonar do que uma lesão de caráter. Mais tarde, quando você
ficou boa, encontrou-se, acidentalmente, com aquele que seria o seu bem-amado.
Mas sucede que havia uma outra se interpondo entre vocês dois. Uma outra que não
fazia o bem-amado feliz; ( Diz essa fala provocando a consulente) Assim, ele
encontrou, em você, toda a ânsia, toda a sede de amar. E você o retribuiu,
apaixonadamente.( Consulente – Apaixonadamente) Então, começou o que você
chama de martírio. Você sofria e isso a espantava. Chega-se a sofrer por hipóteses
as mais remotas, as mais inverossímeis, as mais absurdas. Imaginemos o marido de
uma senhora honestíssima. Ele se põe a pensar:
Marido – “E se ela, um dia, me trair”.
É isto que eu chamo sofrer por hipótese. Você me pergunta se deve contar à criatura
amada o seu ciúme.
Consulente – Myrna, devo contar a criatura amada o meu ciúme?
Acho que não. E explicarei por quê – Ouça, Katia: não acredite que o seu bem-
amado a traia. Mesmo que ele quisesse, não o conseguiria. Ninguém gosta de duas
pessoas ao mesmo tempo. Assim como ele é o único homem para você, você é, para
ele, a única mulher na face da terra.
Consulente – Ah, Myrna ( As duas caem para trás)
14. Fala do do locutor lendo carta “A segunda carta desta noite é de:
Euvira, são paulo (ironico)
MYRNA DECLARA:
O amor que acaba, não era amor
Myrna - Elvira está assustadíssima. Por quê? Ela própria explica, com uma
sinceridade tocante:
Consulente – Myrna, eu acho que estou gostando menos do meu marido. E isso
me alarma, porque eu considero o casamento uma coisa realmente sagrada,
indissolúvel;
Myrna – Elvira, Não é a primeira vez que você sente esse declínio de ternura,
não é?
Myrna – E…
Myrna – E…
Consulente - Quinze dias depois, voltou a mesma sensação. E, assim, de dez
em dez dias, ou de quinze em quinze, ou de mês em mês, há momentos em que
meu marido não me agrada, não me encanta, como nos bons instantes.
Myrna – E…
Myrna – Você quer saber, em suma, se isso significa que o seu sentimento está
cansado. Não, absolutamente não. O que acontece com você, Elvira, acontece
com toda a mulher, e com todo o mundo. A propósito, vou fazer uma
comparação, para que você me entenda melhor. Imaginemos uma estrela.
Primeiro, na plenitude do seu esplendor. Depois, entre nuvens, entre neblinas.
Mas a neblina não mudou em nada a estrela: ela continua integra, imutável, tal
como sempre foi, adorável e eterna “eterna” . Passará a nuvem, passará a
neblina. Não a estrela. Assim acontece com os amores. Os fenômenos
psicológicos, como os seus, Elvira, são como as neblinas para os astros. Tornam
o sentimento amoroso, aparentemente, menos vivo, menos intenso, ou, digamos
assim, menos eterno.. “eterno...” Logo você se convencerá de que o marido
continua sendo o mesmo, e que você o ama, com o mesmo ímpeto, o mesmo
arrebatamento. Tal como a estrela, entre as brumas. É preciso que, de vez em
quando, a gente tenha esses sustos, e, em seguida, o júbilo, a euforia de
constatar que estávamos enganadas, e que o sentimento ressurge, renasce,
com uma força maior e uma graça mais deliciosa. Seria horrível que um romance
se conservasse no seu “clímax”. Não haveria sistema nervoso que suportasse
uma tensão contínua. As nuances, as gradações, o ritmo defluxo e refluxo, as
quedas e ascensões tornam o amor um jogo incomparável. E o milagre do amor
parece ser este.: Você e seu marido viverão sempre assim. Sempre que um
verdadeiro amor parece esgotar-se ou estar a caminho da saturação, é porque
se renova e se apura. Acredite, Elvira. O amor é eterno “eterno”. Só acaba
quando não era amor.
16. Discussão João e Thiago com frases de Nelson (adicionar mais duas
frases)
Olguinha, muitas mulheres sofrem porque não têm amor. O drama de Olguinha, é outro.
(Indo p escada)
O: Sim Myrna, eu me sinto tao confusa, tão confusa, ai como sofro. Meu drama é outro, Myrna.
- Umas têm de menos; ela, de mais, o que não deixa de ser patético. E Olguinha revela, no início
de sua carta:
- Ela diz bem, porque não me parece um bem, para mulher nenhuma, gostar tanto. Imaginai, agora
a situação singular da moça que, em vez de um, acha dois homens que merecem ou que, mesmo
não merecendo, têm seu A-M-O-R. À primeira vista, parece que Olguinha devia estar radiante.
Na vida prática, é melhor ter de mais do que de menos. A verdade, porém, me parece outra.
Olguinha não está satisfeita.
O: É eu não tô satisfeita
- O: ai, Gosto dele, por causa dessas virtudes materiais. Ao passo que Leopoldo, não sendo nem
bonito, nem elegante, nem forte,
- Leopoldo diz: nem bonito? Nem forte? Nem elegante?
O: oh meu querido, me agrada muito, mas pela conversa, pela educação, pelo espírito. Ai, eu
desejaria que os dois permanecessem em minha vida. Mas, ai de mim, Myrna! Pode-se ter dois
namorados e um só marido?
Leopoldo: a mim
Fernando: a mim
M: licencinha querida..
(Saio p lateral)
- Fernando…
- Oiii
- Leopoldo...
- Oiii
- Um, porque é bonito; outro, porque é espiritual. Olguinha Está portanto, na maior, na mais
dramática perplexidade. E não sabe como resolver a situação.
-
O: Como resolver?
(Vai p escada)
- O problema parece-lhe insolúvel.
-
- O: INSOLÚVEL!
-
- Olguinha está iludida: ela não tem excesso de amor. Na verdade, não tem amor algum. Esses dois
homens, que acha Agradabilíssimos, não constituem ainda o seu ideal Nem um nem outro. E por
um motivo simples. O homem ideal basta por si só, para encher a vida da mulher. Ela não pensa
em outro nem que queira. E é como se os outros não existissem, Jamais tivessem existido. Não
imposta se os demais homens sejam bonitos, lindos, formidáveis. A mulher não admite a beleza
dos outros homens; não sente essa beleza. E se ela, porventura, se sugestiona com a graça física
de um cavalheiro que não seja o bem-amado é porque não ama.
O: não amo?
- Não ama?
- Nao ama?
- . Não ama Fernando nem Leopoldo. Ou por outra: gosta deles, mas de uma forma unilateral, que
não representa, ainda, o amor na sua plenitude.
O: Não Myrna. De um, por exemplo, admira o físico; em relação ao outro, o espírito.
- Resposta fácil: não gostando, como É evidente, nem de Fernando, nem de Leopoldo, deve desistir
de ambos.
-
- O: Desistir?
-
- Sua vida, com qualquer dos dois, seria uma tragédia, tanto para ela, como para o escolhido.
Olguinha precisa saber do seguinte. A mulher inteligente é aquela que só se casa apaixonada
19. Leslie - Frase: O homem deseja sem amar, a mulher deseja sem
amor.
Entra locutor agradece a Rainha e com a carta de myrna vivi “A próxima carta é de
Celeste. Fã de Grace Kelly, ela nos escreve de Madureira, RJ, terra do famoso
bicheiro Boca de Ouro. Eis o drama de Celeste”.
Começa acordes espanhóis quando Vivi entra.
20. viviane entra com “trinta anos, grande idade para uma mulher”
(consulente Lelecca)
O drama de celeste é comum. Ela padece de um mal que, não raro, faz uma mulher
cometer uma série de loucuras: Myrna eu tenho medo da solidão!
O medo da solidão!
Raras, raríssimas as mulheres de qualquer idade, que enfrentam com ânimo,
desassombro, esta possibilidade. “Ficar solitária”, “ficar solteirona”
“Ficar solitária... ficar solteirona” - eis uma hipótese que assombra noventa e nove
por cento das moças que eu conheço.
E, no entanto, há males piores. Piores? Bem piores! Pior do que a solidão, é estar
mal acompanhada.
Vamos pessoalizar, Celeste. Imagine você casada! Casada? Sim, casada! Sem
amor. Aparentemente, não estaria sozinha. Teria seu marido, seu companheiro, seu
lar. Pergunto: - “Isto basta?”
Não, evidentemente, não. Evidentemente! Se a mulher tem tudo, e não tem amor,
passa a não ter nada. Conheço quantas e quantas namoradas, noivas e esposas,
que só respiram, só desfrutam de um certo conforto, de coração e de espírito, na
ausência dos respectivos namorados, noivos e maridos. Então, para que namorar?
Ou noivar? Ou casar?
Por um motivo muito simples: - Porque são como você, Celeste. Porque têm medo da
solidão. Porque preferem um homem desinteressante a nenhum. Mais tarde, uma
vez consumado o matrimônio, se arrependem. E tarde, tarde demais. Pagam, por
isso, todos os pecados; conhecem o inferno em vida. Ora, o pior de todos os infernos
– se é que existem vários infernos – o pior de todos os infernos é o tédio.
E a pior forma de tédio ainda é a seguinte – uma companhia definitiva e que não nos
interessa, não nos transmite nada, não nos comunica nenhuma emoção, nenhum
encanto. Suportar um homem que não amamos, por um mês, dois, três, vá lá!
Mas suportá-lo de uma maneira indefinida, fazer com ele as bodas de prata, de ouro,
é demais.
Sabe que representação do inferno faço para mim mesma? Não o vejo cheio de
chamas, de labaredas, não o imagino ardendo em mil fogos eternos. Não, nada.
Concebo o inferno como uma sala, uma sala confortável, tranquila e moderna, e,
dentro dela, sentados, um homem e uma mulher, que não se gostam, e estão
condenados a viver, perpetuamente juntos. Se, depois de morta, eu tiver que pagar
pelos meus pecados, que me sejam reservadas todas as provações e martírios.
Menos um, menos um? menos o de ficar para todo o sempre, ao lado de um esposo
que não me interesse.
Portanto, Celeste, você exagera no seu sofrimento. Dos males que podem advir do
amor, um dos mais suportáveis é o da solidão.
Ninguém quer namorar comigo, ninguém me procura com os desígnios de
amor.
E você leva isso na conta de tragédia. O sonho de um amor já se torna, em sua vida,
mais do que um sonho – uma obsessão. Eu tenho uma imaginação doentia... e eu
já fiz trinta anos. Já fez trinta anos? Pobre pequena! Celeste, aos trinta anos, a
mulher começa a ser, realmente, mulher, a mulher começa a se aproximar da
plenitude dos seus encantos de corpo e espírito.
Espere, Celeste; e não se precipite. Sobretudo, não se precipite! Só se case
apaixonada. Vejo, através das indicações que você me mandou, que seu amor está
para breve – mais breve do que você pensa. Sim Mirna? Por supuesto que si,
Celeste! “Olé!” “Olé!”
(Entra coro para dançar) Agora mais um momento musical com a nossa
querida Consuelo Caliente
às vezes você chega a invejar as que morreram, as que não têm mais
problemas, as que, enfim, repousam no seio da morte. Você faz, então, uma série de
reflexões
triviais e, ao mesmo tempo, terríveis: “As mortas não desejam, não sonham, não
esperam, não
exigem. Nem têm maridos, noivos, namorados. As mortas não têm nada!” Coro:
As mortas não têm nada! (fala para a plateia) Assim pensará você, de
vez em quando, na sua imensa tristeza e solidão. Será certo, porém, este
raciocínio?
Thay: NAO
Eu, Myrna, vou contar, sumariamente, o Meu Caso Coro: tchurururu (seco) ou,
por outra, um dos meus casos Aline: tchurururu (coro repreende). Quando eu
tinha meus 17 anosCoro: tchurururu, fazia uma ideia do amor. Pensava
do amor maravilhas. “Vou ser feliz, muito feliz”Coro: aaaaaaah , era o meu
sonho, o meu desejo profundo. E, depois, quando me enamorei, quando me
apaixonei, descobri a mais estranha das verdades:
não havia entre o meu amor e a felicidade a menor relação. Eu amava e era infeliz.
Descobri, ainda, outra verdade: eu era infeliz, ele era infeliz. E não tínhamos culpa
nenhuma, nenhuma.
Éramos ir- responsáveis, não fazíamos nada para merecer o nosso
infortúnio. Lembro-me que,
na época, uma senhora amiga, de vasta experiência amorosa, dizia assim:
— Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo.
(comentários na coxia colocando cabecinhas para fora)
Depois, realizei uma série de estudos, adquiri e aprofundei-me em conhecimentos
que a maioria das pessoas julga suspeitos ou surpreendentes. Olhar o futuro,
como se ele já fosse passado, como se ele já tivesse acontecido. Eu poderia,
simplesmente, aplicar essa visão ou antevisão em assuntos gerais. Poderia
adivinhar, para os que me consultassem, viagens,
sucessos comerciais, sorte grande etc., etc.
Mas eu sou mulher (senta no palco e crua as pernas) e é para as mulheres que
me volto, com toda a minha simpatia humana.
Mirna: “Sou feia...” Com efeito, nada mais raro do que uma autocrítica assim
implacável e devastadora. Sobretudo numa mulher. Sim, pq a maioria absoluta
das mulheres pensa que é bonita. E vive, envelhece, morre nesta ilusão. Há o
espelho, que nos retransmite a imagem com absoluta fidelidade. Mas acontece
o seguinte: somos cegas, abso- lutamente cegas, para esse gênero de defeitos.
(Subindo as escadas) Eu, eu Conheço mulheres inadjetiváveis, que se julgam
lindas, que se julgam irresistíveis. (P Madalena) E é isso que nos salva.
Pergunto: que seria de nós, mulheres, se todas tivéssemos a autocrítica de
Madalena?
Consulente: doença?
Consulente: Daria tudo para ser uma beleza, uma dessas mulheres que o
homem vê uma vez e não esquece jamais.
(P meio)
Mirna: Mas em vez de uma imagem ideal, Madalena constitui uma figura sem
o menor atrativo. Passa meses e meses sem receber, na rua, um galanteio.
(Coro:coitada) Sintoma grave, com efeito. Sim, Porque o homem de rua tem
um mau gosto sinistro e é capaz de render homenagens ao próprio “Fantasma
da Ópera” em pessoa.(assobio)
Mirna: Entre todas as mulheres, Madalena, você me parece ser a única que, no
bonde, no ônibus, nas esquinas, não é objeto de uma impertinência masculina.
Bom, é então, infeliz o amor de Madalena? Nem tanto. Porque o rapaz, apesar
dos pesares, se interessou por ela, conversa com ela e a convida para passear
de automóvel.
27. João entra com “Minha filha está acima do bem e do mal” (consulentes
aissa, vivi , Thiago)
Eu faço um grande esforço para não me espantar. E isto exige um
tremendo autocontrole, Mas, confesso que me assombrei com o caso de Stella.
Stella viu, certa vez, um rapaz nem bonito, nem feio, que ela achou
deslumbrante. Até ai, nada de mais. O mau gosto em amor é necessário e
natural. Parece que o rapaz também se apaixonou, de forma que tudo ficou em
um autêntico mar de rosas. Eis, senão quando, Stella recebe, de sua mãe, um
anel de brilhante. A moça apreciou imenso a joia: e muito mais, o namorado.
Este ficou deslumbrado. Sua primeira providência foi pedir:- “Deixe ver”
Examinou o brilhante, esfregou-o na manga do paletó, e, depois de pigarrear,
pediu: “Meu bem, você quer me emprestar isso?”;. Stella ficou meio sem jeito.
Mas amava. E a mulher que ama não costuma recusar o empréstimo de um
anel. Antes não o fizesse. Antes não o fizesse! Porque, no dia seguinte e nos que
se seguiram, o
namorado falava em todos os assuntos, menos no anel. O pior não foi isso. O
pior foi que a mãe de Stella cismou de pedir notícias do presente. E tantas
fez, tantas fez, que ela, afinal, não teve outro recurso senão confessar o
paradeiro da joia. Exigiu a devolução imediata. Eis o namorado em palpos de
aranha.
Empenhara o anel, E não rinha dinheiro para resgatar a cautela. Resumindo: o
namorado de Stella era ladrão! Aissa: Ladrão! Vivi: Ladrão! Todos: Ladrão! Nada
mais, nada menos. Situação delicada, desagradável Stella escreve e pergunta:
“Que devo fazer? Pode uma mulher gostar de um ladrão?”
Ai de nós, Stella! Uma mulher pode, perfeitamente, gostar de um ladrão. Por um
motivo: porque o coração não enxerga um palmo adiante do nariz. Se ele só se
inclinasse por rapazes direitos, estaria tudo salvo. De onde resultam as tragédias
amorosas? Resultam, precisamente, do fato de que ninguém escolhe certo, mas
escolhe, quase sempre, errado. Vou mais longe: a gente não escolhe nem certo, nem
errado: a gente não escolhe.
Gostamos e deixamos de gostar, por uma série de fatores estranhos à nossa
vontade. De forma que, em realidade, tudo é uma pura e simples questão de
sorte. A mulher pode amar, segundo sua estrela, um escafandrista, um doma
dor, um trocador de ônibus ou um príncipe. A você, Stella, couta seguinte
sorte
- amar um ladrão. Você não teve culpa de coisa alguma. Os amorosos não têm a
menor responsabilidade nas boas ou más ações que praticam, durante a cr
sentimental. Encurtando: você deixou o Arsenio Lupin. E que sua mãe?
Consolou-a? afagou-a? deu-lhe solidariedade? Nadisto raspou-lhe a cabeça.
Nada mais, nada menos: Raspou- a cabeça!.
Vivi puxa peruca, Aissa e coro colocam as mãos na cabeça. Aissa grita. Vivi
ri. Ladrão sai. Vivi sai..
Ora eu sou franca, minha cara Stella. Ninguém tem a direito de raspar a cabeça
de ninguém. E muito menos quando se trata de uma filha. Que o seu vizinho
fizesse isso, seria uma violência passível de intervenção policial. E se foi sua
mãe, muito pior. Se eu fosse mãe, Coro dá corda nos pintainhos e prepara
para soltar ao fim da cena. faria o seguinte: jamais julgaria ou condenaria minha
filha. Ela só mereceria, de
mim, carinho e proteção. Os outros que a julgassem e condenassem. Eu, nunca.
28. Todos entram com seus pintainhos quando terminar texto do João
com sorriso amarelo
Coro: (estende a mao com o pintainho e deixa ele gastar a corda e sai)
(Thay sai p direita)
31. Leslie - Frase: Todo amor é eterno e, se acaba, não era amor.
Música 4 - La Barca (Roberto Cantoral Garcia - México)
Sacha anuncia com o título: UMA QUE FRACASSOU COMO MÃE, AVÓ E SOGRA
Hoje, tenho em minha mão a carta de uma senhora milionária. (Entra vivi) Queixa-se
de suas atribulações de sogra. (pandeiro) Podre e santa senhora! Compreendo o
seu sofrimento, as angústias do seu coração materno. Tem uma filha, (violão) aliás
única, que se casou, há três anos. A igreja estava um deslumbramento – o vestido de
noiva, com uma cauda imensa, parecia um sonho (sino). E o noivo? (Violão) A sogra
dá um resumo biográfico do rapaz – “bonito, simpático, educado”. Tinha, porém, um
defeito: emprego modestíssimo.(apito) Tanto assim, que o namoro mereceu a mais
formal oposição. Mas a moça resistiu, ferozmente, a todas as ponderações. ‘’ Quero
casar-me” – disse – ‘’ quero casar-me” ... E daí não saiu. Quiseram afastá-la do Rio,
mas a menina apelou para recurso extremo: ¬- “Se me quiserem separar do homem
que amo – eu me mato”(violão). A família ficou impressionadíssima. Houve um
conselho de parentes mais chegados; chegou-se a uma decisão unânime: “Dos
males, o casamento ainda era melhor que o suicídio”(burburinho e violão ). E
houve o casamento, com toda a pompa possível (acordes de casamento). A sogra
(pandeiro), porém, advertiu ao genro:
33. Sacha “Antes da próxima carta, um recado para vocês, meus caros
ouvintes. Dor de amor, mágoas e desditas do coração? Mande você também sua
carta para a redação da rádio NRP 21.12 MH, você manda, Myrna responde!” (Pau
de chuva para entrada de Bia)
34. Sacha pega carta da Myrna Bia: " A autora da próxima carta é
Clélia. Clélia, escreve uma extensa carta e faz uma confissão (Em tom de fofoca.
Bia bisbilhota para saber sobre o que se trata e pega a carta com ele,
parceiros da fofoca)”
35. entra bia com “fuja do homem bonito” (consulente aissa)
Clélia escreve-me uma extensa carta e faz uma confissão: “Sempre gostei de
homem bonito. Todos os meus namorados eram bonitos. Todos, menos o
ultimo...Desse eu gostei mais”. E ela me consulta porque não entende o próprio
gosto, ou a falta de gosto. Acha inexplicável que, entre tantos homens bonitos,
apenas o feio a impressionasse de forma profunda e definitiva. Bem, Clélia,
conversemos nos duas com o máximo de intimidade. Trata-se, em primeiro lugar,
de saber o seguinte: “o que vem a ser um homem bonito”. Eu penso logo nas
estátuas gregas, nos rapazes de praia, nos artistas de cinema. Os gregos eram
perfeitos, perfeitos demais, talvez. Belos. Mas isso basta? A beleza não esconde
uma tremenda vacuidade, uma ausência total de espírito? Como amar, por mais de
uma semana, um lindo e deslumbrante débil mental? Conheço vários homens
bonitos, e nenhum deles, que eu saiba, já inspirou um amor imortal. Encantam no
namoro, na lua-de-mel, depois inspiram um tédio absoluto. A mulher tem enjoo
físico, só de vê-los. “mas Myrna e os feios?” E quantos homens chamados feios,
nada gregos, nada clássicos, são amados com verdadeiro fanatismo? Porque eles
possuem
qualidades que suprem a falta de beleza física, qualidades que os transfiguram.
Não se esqueça, Clélia, existe uma beleza das pessoas feias. E pior do que
Quasímodo, pior que o fantasma da ópera... é o bonito oco, que não liga duas
ideias, que jamais leu um verso, que é sensível e inteligente como um
paralelepípedo. Se você amou um feio, e amou um feio mais do que os outros, não
se admire. Ele valia muito mais, possuía uma personalidade que faltava aos
demais. “E o homem feio, só é feio em certo sentido”. E parece que chegamos,
agora, ao ponto
crucial da questão. Bonito é o homem de quem a gente gosta. Terá o nariz torto,
será vesgo. Não importa que, para os outros, seja horroroso. O amor é isso mesmo:
essa capacidade de ver o que os outros não veem, de ver o que não existe. Ora, o
homem bonito não permite semelhante delírio. Pra que embelezar o que já é belo?
E o fato de ver o que todo mundo vê destrói a mágica, delírio, imaginação... Quem é
que você vê, em carne e osso, ou no cinema, nas imagens de sombra e luz? Quem
é o mais belo entre tantos homens, vistos ou sonhados? – “o homem amado” o
homem amado!
Sacha: Creio que, das cartas que tenho recebido, a de Jandira é uma das mais
interessantes. (Myrna entra com sininho)
Myrna: Jarbaaaaaas! “ pois não minha diva” “ pois sim”
Hmm a carta de Jandira,
Interessantíssima. Jandira, explica a natureza do seu drama!
(entra coro - vivi,Thay,lelecca,Aline,aissa )
JANDIRA - "Acontece comigo uma coisa interessante. Brigo muito com Adalberto. E
só acho, verdadeiramente; graça nele na sua ausência". (coro: ixiii)
Se a presença do meu amado não me empolga, nem nada, apelo para a sua
ausência. Recurso infalível! Sob a sua presença, eu o vejo como ele é, na realidade.
Quero dizer, limitado, sem espírito, sem inteligência e, às vezes, feíssimo. Já na
ausência, tudo muda. Vejo-o não como ele é, mas como eu o quero, pois o que
funciona é a minha livre e criadora imaginação. Eis por quê, na maioria dos casos, os
homens ganham tanto com a ausência. O caso de Jandira pode se enquadrar
perfeitamente nesses termos.
Já que ela não deseja acabar com o romance, deve ver menos possível o seu
namorado e procurar valorizá-lo, durante a ausência. É a única solução para o caso.
(Coro avança balança a cabeça 5x em reprovação, saem falando)
39. Sacha preenche, começa vinheta da rádio NRP RIO (Thay, Aissa e Vivi)
40. Apenas final da vinheta Myrna bia e coro ( “Myrna responde as perguntas do
seu coração”)
44. Frases com o elenco todo (entram de 1 em 1 quem está fora do palco)