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ISSN 1679-1150

Requerimentos Nutricionais do Milho para


Produção de Silagem

221 Introdução

Com o avanço da atividade pecuária de leite e de corte na forma de


criações mais intensivas, a produção de volumosos e sua conservação
tornaram-se pontos críticos para os produtores. Técnicas de conservação
de forragem em silos possibilitam melhor controle do fornecimento de
energia para os animais, com constância e boa qualidade, contribuindo
no atendimento de suas exigências nutricionais ao longo do ano ou
período de criação (UENO et al., 2013). Assim, a silagem produzida com
a planta inteira de milho vem sendo uma alternativa cada vez mais
difundida como alimento volumoso para ruminantes.

O corte das plantas de milho para produção de silagem acarreta


remoção de grandes quantidades de nutrientes das áreas de cultivo,
em montantes muito superiores aos exportados com a colheita
apenas dos grãos. Como praticamente não ficam restos culturais na
Sete Lagoas, MG
lavoura, todo o quantitativo de nutrientes contido na parte aérea das
Dezembro, 2016 plantas deixa de fazer parte dos processos de ciclagem, os quais são
Autores fundamentais para a manutenção da fertilidade e da atividade biológica
Álvaro Vilela de Resende no solo. Se as adubações não forem bem dimensionadas, pode haver
Eng.-Agrôn., D.Sc. em Solos e
Nutrição de Plantas, Pesquisa- impactos negativos ao sistema de produção, como por exemplo a
dor da Embrapa Milho e Sorgo,
Rod. MG 424 km 45, 35701-970 geração de déficits principalmente de K e N (COELHO, 2006; UENO et
Sete Lagoas, MG,
alvaro.resende@embrapa.br al., 2013). No milho silagem, o incremento nas taxas de exportação é
Aarón Martínez Gutiérrez substancialmente acentuado no caso de elementos como K, Ca, Mg e
Eng.-Agrôn., M.Sc., Doutorando
em Fitotecnia na UFV, Viçosa, alguns micronutrientes, que são alocados em baixas proporções na
MG, aaron_0715@hotmail.com
semente, e que por isso não seriam críticos nos programas de reposição
Carine Gregório Machado Silva
Eng.-Agrôn., M.Sc. em Ciências de nutrientes em sistemas voltados somente à produção de grãos.
Agrárias, Sete Lagoas, MG,
carine.greg@gmail.com,
Gabriela Oliveira Almeida As recomendações de adubação específicas para o propósito de
Eng.-Agrôn., M.Sc. em Ciências
Agrárias, Sete Lagoas, MG, silagem (RAIJ; CANTARELLA, 1996; ALVES et al., 1999; MANUAL...,
gabrielaolivalm@gmail.com
Paulo Evaristo de Oliveira
2004) indicam doses mais elevadas de fertilizantes, buscando, de certa
Guimarães forma, compensar esse maior consumo de nutrientes. Contudo, ainda
Eng.-Agr., Ph.D. em
Melhoramento de Plantas, há certo empirismo nas estimativas de demanda do milho silagem e
Pesquisador da Embrapa Milho
e Sorgo, Sete Lagoas, MG, muitos produtores desconhecem as diferenças de exigência em relação
paulo.guimaraes@embrapa.br
ao cultivo com a finalidade de produção de grãos. Usar a adubação para
Silvino Guimarães Moreira
Eng.-Agrôn., D.Sc. em Solos e grãos quando a intenção é o corte para forragem traz sério agravante
Nutrição de Plantas, Professor
da UFSJ, Sete Lagoas, MG, para a sustentabilidade da lavoura, sobretudo quanto ao suprimento de
silvino@ufsj.edu.br
K. Persistindo essa forma de exploração sem os devidos cuidados no
Miguel Marques Gontijo Neto
Eng.-Agrôn., D.Sc. em manejo nutricional, ocorre rápida redução das reservas de nutrientes no
Zootecnia, Pesquisador da
Embrapa Milho e Sorgo, Sete solo, comprometendo a produtividade dos cultivos subsequentes de
Lagoas, MG, miguel.gontijo@
embrapa.br milho ou de outras espécies.
2 Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem

Na produção com maior investimento de nutrientes na cultura do milho, no estádio


tecnológico, visando alta produtividade, fenológico R5, equivalendo ao potencial de
normalmente o solo deve ter passado por exportação de nutrientes à época do corte
uma fase de construção da fertilidade e das plantas para produção de silagem. O
emprega-se alguma forma de diversificação estudo foi conduzido em Latossolo Vermelho
de espécies, como a rotação de culturas, o que distroférrico muito argiloso, representativo
favorece a manutenção de potencial produtivo do cerrado da região Central de Minas Gerais,
mais elevado. Adicionalmente, quando se localizado na Embrapa Milho e Sorgo, em
adota o plantio direto, há melhor proteção Sete Lagoas-MG (coordenadas 19º28’30’’
do solo contra processos erosivos e alguns S, 44º15’08’’ W, e 732 m de altitude). Os
problemas de ordem física são amenizados, tratamentos avaliados consistiram de quatro
como a compactação gerada no momento híbridos transgênicos (AG 8088 PRO X, DKB
da colheita para ensilagem. Os produtores 310 PRO 2, DKB 390 PRO e P 30F53 YH),
que buscam estabelecer um manejo mais cultivados em ambientes com médio ou alto
racional podem planejar a adubação de forma investimento em adubação, utilizando plantio
aprimorada para o sistema de culturas, com direto e irrigação complementar. Detalhes do
base na filosofia de reposição dos nutrientes desenho experimental e das operações de
removidos com as colheitas. É preciso condução do estudo encontram-se descritos
entender que, mesmo quando se constata em Silva (2016).
alta disponibilidade de nutrientes na análise
de solo, as adubações de manutenção devem Cada parcela foi constituída de quatro linhas
ao menos restituir os nutrientes que serão de 6 m de comprimento, espaçadas 0,5 m
exportados. entre si. Na adubação de semeadura, foram
utilizados 340 e 500 kg ha-1 da fórmula NPK
Com esse objetivo, é importante ter melhor 08-28-16 + 0,3 % B nos ambientes de médio
conhecimento do potencial de exportação e alto investimento, respectivamente. Aos
de nutrientes pelo milho, que no caso do 20 dias após semeadura (estádio V4), foi
uso para silagem corresponde ao acúmulo realizada uma adubação de cobertura em
nas partes vegetativas e nos grãos. As todo o experimento, com 200 kg ha-1 de ureia.
quantidades podem variar bastante em No ambiente de alto investimento, foram
função de uma série de fatores como a realizadas mais duas adubações de cobertura:
cultivar utilizada, a disponibilidade de 350 kg ha-1 de NPK 20-00-20 aos 27 dias e
nutrientes no solo, o histórico da área, as 200 kg ha-1 de sulfato de amônio aos 33 dias
condições climáticas, as práticas de manejo após semeadura. Ainda neste ambiente, no
da lavoura e a produtividade obtida (DUARTE estádio V7 foi realizada adubação foliar com
et al., 2003; COELHO, 2006; FERREIRA, 2009; uma mistura dos fertilizantes Biozyme® (2
VON PINHO et al., 2009; UENO et al., 2011). L ha-1), fosfato monoamônico – MAP (2,5
Na presente publicação são fornecidos kg ha-1) e nitrato de cálcio (1,5 kg ha-1). As
indicadores das taxas de exportação de macro condições médias de fertilidade do solo
e micronutrientes por híbridos modernos de nos dois ambientes de investimento em
milho colhidos para silagem, em cultivos com adubação, aos 20 dias após a semeadura do
médio a alto investimento em adubação. milho, são apresentadas na Tabela 1. Podem
ser observadas condições contrastantes em
Base Experimental relação à disponibilidade da maioria dos
nutrientes.
Dados experimentais obtidos na safra verão
2014/2015 permitiram quantificar os conteúdos
Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem 3

Tabela 1. Atributos de fertilidade do solo nos ambientes com médio e alto investimento em
adubação, na profundidade de 0-20 cm, aos 20 dias após a semeadura do milho.

Análise granulométrica: areia = 130 g kg-1; silte = 210 g kg-1; e argila = 660 g kg-1.

No estádio R5, aos 104 dias após a semeadura, pelas cultivares, sem, contudo, se detectar
quando o milho se apresentava na fase ideal interação entre esses fatores. Em média, o
para a ensilagem (grão farináceo, em grau de rendimento de massa seca foi de 22.964 e
maturação “meia linha de leite”), realizou-se 25.780 kg ha-1 sob médio e alto investimento
amostragem de duas plantas na área útil de em adubação, respectivamente. Os dados
cada parcela. Após o corte na altura de 3 a 5 da Figura 1 permitem verificar a existência
cm acima da superfície do solo, as plantas de diferenças entre cultivares quanto à
foram seccionadas em folha, colmo, palha da capacidade de produção de massa seca e
espiga, sabugo e grãos. Após secagem em de grãos. Varia também a proporção que os
estufa, quantificou-se a massa seca de cada grãos representam na biomassa total de cada
compartimento, sendo os teores de macro e cultivar à época do corte das plantas para
micronutrientes determinados em laboratório produção de silagem (estádio R5). É de se
conforme metodologias descritas em Silva esperar, portanto, que os níveis de exportação
(2009). De posse desses dados, calcularam- de nutrientes sejam distintos em cada caso
se as quantidades de nutrientes contidas (Tabela 2).
nas diferentes partes, e o seu somatório
correspondeu à exportação no milho colhido
para silagem.

Resultados

A produção de massa seca foi


significativamente influenciada pelos
ambientes de investimento em adubação e
4 Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem

Figura 1. Produção de massa seca de parte aérea (MSPA) e de grãos por híbridos de milho,
por ocasião do corte das plantas para produção de silagem (estádio R5). Média de cultivos em
ambientes com médio e alto investimento em adubação. Para cada variável (MSPA e grãos),
médias seguidas de mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5%. Valores entre
parêntesis indicam a participação percentual dos grãos na biomassa total.

Embora os níveis de absorção possam ter menor ou maior investimento em adubação,


alguma relação com a característica genética influencia significativamente o potencial de
de cada híbrido na aquisição de nutrientes, exportação de nutrientes no milho colhido
de modo geral, as quantidades de exportadas para silagem (Tabela 3). A cultura é altamente
são proporcionais à biomassa produzida, responsiva ao fornecimento de nutrientes
conforme se observa no caso do DKB 310 como N e K, apresentando forte incremento de
PRO 2, cujo diferencial de produção de massa absorção sob condições de maior suprimento.
seca e grãos (Figura 1) implicou também Entretanto, nesse caso, é essencial atentar
exportação substancialmente mais elevada de para o fato de que o rendimento de silagem
todos os macro e micronutrientes (Tabela 2). pode não acompanhar o aumento na absorção
de nutrientes. Apesar de estatisticamente
A variação de disponibilidade de nutrientes significativa, a diferença de produção de
no sistema de produção, condicionada por massa seca total entre os ambientes de médio

Tabela 2. Exportação de nutrientes (parte aérea + grãos) por híbridos de milho, por ocasião do
corte das plantas para produção de silagem (estádio R5). Média de cultivos em ambientes com
médio e alto investimento em adubação.

Médias seguidas de mesma letra em cada coluna não diferem pelo teste de Scott-Knott a 5%.
Para converter P2O5 em P e K2O em K, dividir, respectivamente, os valores da tabela por 2,29 e 1,20.
Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem 5

Tabela 3. Exportação de nutrientes pelo milho (parte aérea + grãos), por ocasião do corte das
plantas para produção de silagem (estádio R5), a partir do cultivo em ambientes com médio e alto
investimento em adubação. Média dos híbridos AG 8088 PRO X, DKB 310 PRO 2, DKB 390 PRO, e
P 30F53 YH.

Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem pelo teste F a 5%. Para converter P2O5 em P e K2O
em K, dividir, respectivamente, os valores da tabela por 2,29 e 1,20.

e alto investimento foi relativamente pequena, Na continuidade do presente estudo, Silva


cerca de 2,8 t ha-1, o que reforça a importância (2016) e Gutiérrez (2016) também avaliaram
de um acompanhamento econômico do a remoção de nutrientes que ocorre quando
retorno da aplicação de fertilizantes para o somente os grãos são colhidos após a
milho silagem. maturidade fisiológica. Os resultados
do confronto entre as duas modalidades
A partir de determinada condição de de uso (grãos vs forragem) evidenciam
fertilidade do solo, adubações mais pesadas marcante discrepância, onde, no milho
podem implicar consumo de luxo de silagem, o diferencial de exportação a mais
nutrientes, que serão exportados sem que por hectare é da ordem de 126, 18, 145,
tenha havido ganho compensatório de 57, 32 e 11 kg de N, P2O5, K2O, Ca, Mg e S,
biomassa. Todavia, deve-se ponderar que, e de 63, 1.922, 583 e 257 g de Cu, Fe, Mn e
no caso do N, um conteúdo mais elevado na Zn, respectivamente. O significado prático
planta é desejável quando se trata de uso desses valores é contundente, pois eles
como forragem, tendo em vista a existência indicam que um descuido na reposição do
de relação direta entre a presença desse que é consumido nos cultivos para silagem
elemento nos tecidos e o teor de proteína do pode acarretar brusca depleção das reservas
alimento volumoso que será oferecido aos de determinados nutrientes no solo e gerar
animais. desequilíbrios nutricionais nas culturas
subsequentes.
6 Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem

Ueno et al. (2011) já haviam enfatizado essa conquanto as exportações de Ca, Fe e Mn


questão em revisão de literatura sobre a sejam muito mais elevadas no milho silagem,
dinâmica de nutrientes em áreas destinadas não devem representar maior preocupação
à produção de milho para forragem em no manejo da fertilidade, pela abundância
comparação ao cultivo somente para grãos, desses nutrientes ser normalmente suficiente
apontando valores médios de exportação a para suprir a absorção pela cultura na maioria
mais por hectare equivalentes a 21, 92, 20 e dos solos agrícolas com acidez corrigida (Ca
3,5 kg de N, K2O, Ca e Mg, respectivamente. e Mg em níveis adequados) e textura média
Constata-se que esses números são de a argilosa (mais ricos em óxidos fontes de Fe
magnitude ainda bem inferior aos valores e Mn). Por outro lado, nutrientes como N, S,
ora quantificados. Não ficou claro, naquela Cu, Zn, e especialmente o K, devem inspirar
publicação, se os dados advêm de medições mais critério nas decisões de manejo por parte
realizadas no momento apropriado ao corte dos profissionais de assistência técnica e
para ensilagem (estádio R5) ou trata-se de produtores.
estimativas a partir de avaliações após a
maturação completa do milho destinado à Fica evidente que é preciso dedicar atenção
colheita de grãos, como é comum em diversos ao correto dimensionamento da adubação do
trabalhos. Os próprios autores ponderam milho voltado para produção de silagem, que
sobre diferenças na exportação calculada pode ser considerado uma das culturas mais
quando as amostragens são realizadas numa esgotantes das reservas de nutrientes dos
época ou noutra. No caso do K, sabe-se que ambientes de cultivo. Muitos produtores não
ocorre diminuição significativa do conteúdo têm esse cuidado no manejo de médio/longo
por lavagem das plantas pela água de chuva prazo e, dependendo de eventos climáticos
ou irrigação no período compreendido entre o ou de mercado, redirecionam aleatoriamente
início da fase de maturação e o final do ciclo talhões de milho inicialmente planejados
(SILVA; RITCHEY, 1982; COSTA et al., 2009; visando a produção de grãos para o corte
RESENDE et al., 2014; SILVA, 2016). Por fim, é e ensilagem das plantas, em detrimento da
preciso levar em conta que o presente estudo sustentabilidade futura do sistema. Essa
envolveu avaliações em ambientes com médio situação tem sido verificada com certa
a alto investimento em adubação e cultivares frequência quando ocorre restrição hídrica
modernas, visando alta produtividade de (veranico) que compromete a formação dos
forragem, o que certamente propicia maior grãos, e então o produtor opta pelo uso como
extração de nutrientes. forragem. Além disso, quando por causas
diversas, a oferta de silagem fica abaixo da
Pré-requisito para se dimensionar adubações demanda nas regiões de criação, há elevação
de forma equilibrada, o cálculo do balanço da cotação do volumoso, criando atrativo para
de nutrientes, considerando as entradas que lavouras originalmente destinadas a grãos
via adubação e as saídas com a retirada sejam cortadas para venda como silagem.
das plantas inteiras, constitui uma etapa de Em qualquer desses casos, os nutrientes
certa complexidade no gerenciamento de removidos deverão, necessariamente, ser
sistemas envolvendo milho silagem. Isso restituídos para o bom andamento do cultivo
porque a proporção exportada a mais que na que vier em seguida.
colheita só dos grãos não é uniforme entre os
diversos nutrientes (Figura 2). Na realidade,
o comportamento é peculiar e as implicações
práticas vão depender das especificidades de
cada nutriente na relação solo-planta. Assim,
Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem 7

Figura 2. Relação proporcional de exportação de nutrientes quando plantas inteiras de milho


são cortadas para silagem (estádio R5), comparativamente à colheita apenas dos grãos após
a maturação fisiológica (estádio R6). Valores entre parêntesis indicam quantas vezes é maior a
remoção de nutrientes no milho silagem.

Como indicação geral do potencial de O suprimento de K é uma questão delicada


exportação no cultivo de milho silagem de para os que lidam com lavouras para silagem.
alta produtividade, são aqui apresentadas as Conforme já comentado, ocorre consumo
quantidades equivalentes de macro (Figura de luxo pelas plantas de milho quando há
3) e micronutrientes (Figura 4) para cada maior disponibilidade do nutriente e, em
tonelada de massa seca produzida (parte geral, sua exportação é muito acentuada.
aérea + grãos). Sem dúvida, o suprimento Sem a devida reposição, com poucos ciclos
de N e K é o ponto mais crítico no manejo de milho silagem, o empobrecimento do solo
nutricional do milho silagem. Os fertilizantes torna-se crítico. É importante salientar que,
nitrogenados e potássicos representam a embora os ganhos em produção de biomassa
maior parcela dos custos com adubação, não acompanhem as taxas de absorção de K,
portanto, com forte influência na rentabilidade este nutriente é fundamental na manutenção
ao produtor. Esse aspecto acaba tornando-se do vigor geral da plantação. Destaca-se o
um fator de desestímulo ao seu fornecimento seu papel na qualidade de colmos, que se
nas dosagens requeridas. Tratando-se reflete em maior resistência ao quebramento/
dos nutrientes demandados em maiores acamamento (MALAVOLTA et al., 1997;
quantidades, aumentam as chances de COELHO, 2005; PADILHA, 2014), com índices
abastecimento insuficiente para a finalidade de perdas mais baixos quando as plantas
de silagem, o que pode comprometer a estão com adequada nutrição potássica.
produtividade atual e futura do sistema de
culturas explorado na fazenda.
8 Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem

Figura 3. Exportação de macronutrientes por tonelada de massa seca de milho colhido para
silagem (parte aérea + grãos no estádio R5). Média dos híbridos AG 8088 PRO X, DKB 310 PRO
2, DKB 390 PRO, e P 30F53 YH, em cultivos com médio a alto investimento em adubação. Para
converter P2O5 em P e K2O em K, dividir, respectivamente, os valores da figura por 2,29 e 1,20.

Figura 4. Exportação de micronutrientes por tonelada de massa seca de milho colhido para
silagem (parte aérea + grãos no estádio R5). Média dos híbridos AG 8088 PRO X, DKB 310 PRO 2,
DKB 390 PRO, e P 30F53 YH, em cultivos com médio a alto investimento em adubação.
Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem 9

Um aspecto relevante diz respeito ao impacto na exportação do nutriente, para


direcionamento preferencial do K absorvido mais ou para menos. Jaremtchuk et al. (2006)
para os colmos do milho (Figura 5), com demonstraram que a mudança da altura de
grande acúmulo no terço inferior da planta corte de 20 para 40 cm acima do solo resultou
(RESENDE et al., 2014). Estudando o conteúdo em exportação de K 19,1% menor e elevação
médio presente em quatro híbridos, sob alto do teor de matéria seca de 31,7 para 33,9%.
investimento em adubação, esses autores A média de produção de matéria seca por
verificaram uma extração total equivalente hectare foi de 11,2 e 9,7 toneladas, na menor
a cerca de 171 kg ha-1 de K2O no estádio R3 e maior altura de corte, respectivamente,
(início do enchimento de grãos), dos quais, reduzindo a estimativa de produção de leite
ao final do ciclo, 62 kg permaneceram nos por hectare. Embora as implicações quanto
colmos, sendo 44 kg no seu terço inferior. ao rendimento de silagem e ao desempenho
Portanto, a parte basal do colmo concentra animal não possam ser desconsideradas, o
expressiva proporção do K contido na planta corte de plantas a uma maior altura é prática
de milho, que nesse caso correspondeu desejável sob o ponto de vista de manutenção
a cerca de 73 kg de fertilizante cloreto de da fertilidade do solo. Ao se preservar a
potássio. base do colmo na área de cultivo, evita-se a
exportação de quantidade significativa de K,
Essa alocação do K na base do colmo deve amenizando o risco de empobrecimento do
ser levada em conta no manejo do milho solo, além de contribuir com alguma palhada
para silagem, pois, com alguma variação da para o sistema de produção.
altura de colheita das plantas, haverá forte

Figura 5. Compartimentalização de potássio (% do total acumulado na parte aérea) em plantas de


milho, no enchimento de grãos (R3) e após a maturação fisiológica (R6), em ambientes com alto e
médio investimento em adubação. Fonte: Resende et al. (2014).
10 Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem

Conclusões e Recomendações haverá redução das reservas do solo e


ocorrência de desequilíbrios nutricionais,
Em média, os quatro híbridos cultivados na com prejuízo à produtividade das culturas
safra de verão, em ambientes de médio a alto subsequentes.
investimento em adubação e com irrigação
complementar, produziram cerca de 15,7 t ha-1 O K é acumulado em grande proporção na
de massa seca de parte aérea (com variação parte inferior do colmo do milho, razão pela
de 13,4 a 20,1 t ha-1 entre híbridos) mais qual o corte das plantas a uma maior altura
8,7 t ha-1 grãos (com variação de 7,6 a 10,1 é recomendável para que, ao preservar
t ha-1 entre híbridos), à época do corte para a base na área de cultivo, haja maior
ensilagem (estádio R5, grão farináceo, em conservação do nutriente para integrar os
grau de maturação “meia linha de leite”). processos de ciclagem e manter seu balanço
positivo no sistema, amenizando o risco de
A demanda nutricional média identificada empobrecimento do solo.
nessas condições corresponde aos seguintes
indicadores, para cada tonelada de massa Os dados de exportação ora apresentados
seca produzida (parte aérea + grãos): servem como uma referência geral para alta
produtividade de milho silagem, mas, tendo
Exportação equivalente de macronutrientes: em vista que diversos fatores interferem nas
11,5; 2,6; 7,5; 2,3; 1,7; e 0,8 kg de N, P2O5, K2O, quantidades de nutrientes absorvidas, ganha
Ca, Mg e S, respectivamente. importância a obtenção de informações mais
próximas possível da realidade de cada área
Exportação equivalente de micronutrientes: de produção. Nesse sentido, a análise de
3, 84, 25, e 18 g de Cu, Fe, Mn e Zn, tecidos de material colhido na propriedade
respectivamente. (plantas inteiras ou fracionadas nos diferentes
órgãos para avaliação mais refinada), no
O potencial de exportação de nutrientes pelo mesmo processo laboratorial utilizado para
milho silagem aumenta em situações que análise foliar, fornece indicadores mais
combinam a utilização de cultivares com precisos para o dimensionamento das
elevada capacidade de produção de biomassa adubações de manutenção.
em ambientes com maior oferta de nutrientes.
Referências
Comparativamente à colheita somente dos
grãos, no milho silagem o diferencial de ALVES, V. M. C.; VASCONCELLOS, C. A.;
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Requerimentos Nutricionais do Milho para Produção de Silagem 11

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Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Presidente: Sidney Netto Parentoni.
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CGPE - 13598

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