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Renovação de Cana-de-Açúcar

com o Cultivo de Amendoim

Estratégias de Planejamento e
Monitoramento das Operações

Luís Ricardo Bérgamo


José Vitor Salvi
LUÍS RICARDO BÉRGAMO
JOSÉ VITOR SALVI

RENOVAÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR COM O


CULTIVO DE AMENDOIM

ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO E MONITORAMENTO


DAS OPERAÇÕES

1ª edição
ISBN: 978-65-00-90013-2
DOI: 10.29327/5339042

Pompéia, SP
Edição dos Autores
2024
Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim
Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
1
RENOVAÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR COM O
CULTIVO DE AMENDOIM

ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO E MONITORAMENTO


DAS OPERAÇÕES

1ª Edição
Janeiro de 2024

Autores:

Luís Ricardo Bérgamo (1)


José Vitor Salvi (2)

(1)
Engenheiro Agrônomo pela ESALQ-USP | MBA em Gestão Empresarial pela FGV | MBA em Gestão
Estratégica de Negócios pela ESALQ-USP | Especialização em Produção de Cana-de-Açúcar pelo IAC |
Aperfeiçoamento em Planejamento e Otimização da Logística da Cana-de-Açúcar pela ESALQ LOG |
MTA em Gestão Industrial Sucroenergética pela UFSCar | Produtor Rural | Sócio da ESA Agritech

(2)
Engenheiro Agrônomo pela ESALQ-USP | Mestre em Mecanização Agrícola pela ESALQ-USP |
Especialização em Investimento e Gestão do Setor Sucroalcooleiro pela ESALQ-USP | Docente do Curso
de Mecanização em Agricultura de Precisão da FATEC Shunji Nishimura (Pompéia-SP) | Produtor Rural
| Sócio da ESA Agritech

Todos os direitos reservados

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
2
Pompeia-SP| Brasil
(14) 99788 6930 | (14) 99613 4315
linkedin.com/esaagritech

Autores:
Luís Ricardo Bérgamo
Engenheiro Agrônomo
bergamo@esaagritech.com
linkedin.com/in/luísricardobérgamo
@luisricardobergamo

José Vitor Salvi


Engenheiro Agrônomo
salvi@esaagritech.com
linkedin.com/esaagritech

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Kamila Veronese – CRB 8/7335

Bérgamo, Luís Ricardo


B493r Renovação de cana-de-açúcar com o cultivo de
amendoim : estratégias de planejamento e monitoramento
das operações / Luís Ricardo Bérgamo, José Vitor Salvi. –
Pompéia : Esa Agritech, 2024.
88 p. : il. color.
ISBN 978-65-00-90013-2

1. Agricultura. 2. Culturas agrícolas. 3. Cana-de-açúcar.


4. Amendoim. 5. Monitoramento – operações. I. Salvi, José
Vitor. II. Título.
CDD: 633

Esta obra é de acesso aberto. É permitida a


reprodução parcial ou total desta obra, desde que
citada a fonte e a autoria e respeitando a Licença
Creative Commons

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
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Sumário

1. Introdução.................................................................................................................................................................5
2. Definição da Melhor Época de Plantio de Cana-de-Açúcar .......................................................................................7
2.1. Tipo de Solo da Região do Estudo de Caso ........................................................................................................7
2.2. Período Ideal para o Plantio da Cana-de-Açúcar no Oeste do Estado de São Paulo – Região da Alta Paulista 11
2.3. Ganhos de Produtividade com o Plantio na Época Ideal da Região do Estudo de Caso ..................................17
2.4. Práticas Agronômicas Utilizadas no Plantio de Cana-de-Açúcar Durante o Mês de Março.............................19
2.5. Quais os Riscos de Realizar o Plantio de Cana-de-Açúcar Fora da Época Recomendada para a Região da Alta
Paulista? .................................................................................................................................................................21
2.6. Cronograma das operações para realizar o plantio na época recomendada ..................................................25
3. Preparo de Solo para o Plantio de Cana-de-Açúcar Utilizando Canterizador ..........................................................26
4. Planejamento das Operações de Cana-de-Açúcar para a Criação de uma Janela para a Rotação de Culturas .......32
5. Renovação do Canavial com Rotação de Culturas ..................................................................................................37
5.1. A Utilização de Plantas de Cobertura e Amendoim para a Renovação do Canavial ........................................37
5.2. Arrendamento (repasse) das Áreas de Reforma de Cana-de-Açúcar aos Produtores de Amendoim..............40
5.2.1. Histórico dos Herbicidas Utilizados na Cana-de-Açúcar ...........................................................................41
5.3. Estratégia de rotação de culturas e Planejamento das Operações Mecanizadas ............................................43
5.3.1. Cultivo Mínimo na Cultura do Amendoim ................................................................................................44
5.3.2. Preparo de Solo Para o Plantio de Cana-de-Açúcar Após a Colheita do Amendoim ................................51
5.4. Receita Obtida com o Arrendamento das Áreas de Reforma Para o Plantio de Amendoim ...........................56
6. O papel do Centro de Operações Agrícolas (COA) no Monitoramento das Operações de Preparo de Solo Para o
Plantio da Cana-de-Açúcar ..........................................................................................................................................59
6.1. Objetivos do Centro de Operações Agrícolas (COA) ........................................................................................59
6.2. Monitoramento das Operações .......................................................................................................................61
6.2.1. Monitoramento Integrado da Velocidade, Rotação do Motor (RPM) e Consumo de Combustível .........62
6.2.2. Monitoramento do Tempo Efetivo...........................................................................................................72
6.2.3. Planejado versus Realizado.......................................................................................................................74
6.2.4. Monitoramentos das Máquinas Utilizadas na Sistematização (Linha Amarela) .......................................77
7. Gestão de Pessoas, Processos e Tecnologias ..........................................................................................................80
8. Referências Bibliográficas .......................................................................................................................................86

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1. Introdução

O presente trabalho teve como objetivo demonstrar a viabilidade técnica e econômica da


utilização da rotação de cultura com amendoim nas áreas de reforma de cana-de-açúcar, por meio de
estudo de caso em que a área de plantio (reforma) da usina foi de 8.001 ha.
Nesta usina, o sistema de reforma, preparo do solo e plantio, encontra-se na figura 1.1 (a), onde
observa-se que há um período de pousio entre a colheita da cana-de-açúcar e o início do preparo do solo.
Neste projeto propõe-se destinar as áreas de reforma para o arrendamento e plantio da cultura do
amendoim (75%) e instalação de plantas de cobertura (25%), figura 1.1 (b).

(a) Sistema de reforma de cana-de-açúcar com área de pousio

(b) Sistema de reforma de cana-de-açúcar com rotação de culturas


Figura 1.1. Sistema de reforma, preparo do solo e plantio de cana-de-açúcar da usina do estudo de caso
(a) e a proposta do estudo de caso para o destino das áreas de pousio (b)
Fonte: autores

O repasse dessas áreas aos produtores de amendoim no período de reforma (setembro do ano 1
até março do ano 2) é uma opção interessante que contribui significativamente na redução de custos de
arrendamentos e nas operações de preparo, além na melhoria química, física e biológica do solo.
Após a colheita do amendoim, o foco está em realizar o plantio da cana-de-açúcar dentro da
melhor janela recomendada, visando a formação de um canavial produtivo e longevo. Para que isso seja

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possível, o monitoramento das operações de preparo torna-se indispensável, trabalhando sempre na
busca pelo aumento da eficiência operacional, atuando nos principais motivos de paradas de máquinas e
equipamentos, gerando planos de ações para minimizar esses eventos improdutivos e,
consequentemente, reduzir custos.
Entender todos os pontos críticos desta operação é fundamental para a evolução das desses
indicadores, utilizando todas essas ferramentas disponíveis no intuito de padronizar as operações e,
consequentemente, melhorar a performance e a qualidade.
As tomadas de decisões assertivas baseiam-se na análise de dados confiáveis e em tempo real.
Dados são transformados em informações pelas plataformas de interface do sistema de monitoramento,
expostas em gráficos de fácil visualização e interpretação pelos gestores. Equipes de monitoramento
capacitadas são essenciais para que essas informações sejam transformadas em ações preventivas e/ou
corretivas em cada processo. Nenhuma tecnologia atual que utiliza ferramentas de gestão consegue ainda
substituir o ser humano por completo, sendo assim, treinamento e capacitação são premissas básicas
para alcançar resultados positivos em qualquer área de uma empresa.
Com isso, os capítulos deste livro mostram para o produtor de cana-de-açúcar que existe uma
opção viável para reduzir os custos de preparo do solo, aumentar a produtividade do canavial e ganhar
receita com o arrendamento das áreas aos produtores de amendoim. Este, por meio desta estratégia,
consegue uma maior disponibilidade de área para arrendamento sem a necessidade de percorrer longas
distâncias de sua sede principal, buscando parcerias com as usinas e/ou fornecedores de cana-de-açúcar
de sua região.

“A tecnologia vai reinventar o negócio, mas as relações humanas continuarão a ser a chave para o
sucesso.”

Stephen Covey

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2. Definição da Melhor Época de Plantio de Cana-de-Açúcar

A época de plantio constitui-se em uma decisão de manejo de alto impacto sobre a produtividade
agrícola das culturas. Isto porque, a escolha da época de plantio visa propiciar a “desejada” coincidência
entre a ocorrência de condições climáticas favoráveis no ambiente de produção e os estádios de
desenvolvimento da cultura, em que tais condições sejam requeridas.

2.1. Tipo de Solo da Região do Estudo de Caso

Os argissolos são solos minerais com nítida diferenciação entre as camadas ou horizontes,
reconhecida em campo especialmente pelo aumento, por vezes abrupto, nos teores de argila em
profundidade. Podem ser arenosos, de textura média ou argilosos no horizonte mais superficial. Os
Argissolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos de textura arenosa/média são encontrados em todo o Oeste
do Estado de São Paulo (figuras 2.1. e 2.2), sendo os Argissolos Vermelho-Amarelos de textura arenosa os
predominantes nas áreas onde foram realizados este estudo (figura 2.2).

Figura 2.1. Mapa pedológico do Estado de São Paulo.


Fonte: Rossi (2017)

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Figura 2.2. Mapa pedológico detalhado do Estado de São Paulo.
Fonte: Rossi (2017)

Figura 2.3. Grupamento textural superficial do componente principal das unidades de


mapeamento de solos do Estado de São Paulo.
Fonte: Rossi (2017)

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Com relação à textura do horizonte superficial (horizonte A) dos argissolos das áreas da usina,
todos estão classificados como arenosa, conforme ilustra a figura 2.3. A relação textural (figura 2.4) entre
horizontes subsuperficial (Bt) e superficial (A) dos argissolos da usina é abrupta (horizonte A com 12% de
argila e horizonte B com 26%), caracterizando uma relação (% de argila no Bt ÷ % de argila no A) de 2,16.

Figura 2.4. Relação textural entre horizontes superficial e subsuperficial dos solos do Estado de
São Paulo.
Fonte: Rossi (2017)

Os Argissolos possuem grande acréscimo de argila em profundidade, responsável pela quebra de


capilaridade entre ambos os horizontes, favorecendo a permanência da água no perfil e são os solos mais
erosivos (figura 2.5). Quando localizados em locais com declive acentuado, deve-se atentar quanto ao
manejo relacionado à conservação do solo, pois estão sujeitos à erosão. Essa susceptibilidade à erosão é
maior quando o horizonte A é arenoso e apresenta um aumento abrupto de argila em profundidade
(horizonte B textural).

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Figura 2.5. Distribuição de argila nos perfis representativos dos Argissolos
Fonte: Hélio do Prado

O relevo da região onde a usina está localizada é classificado como suave ondulado (figura 2.6),
permitindo a mecanização do plantio e colheita em 100% das áreas.
Um ponto de atenção no manejo dos argissolos de textura arenosa no horizonte A e média no
horizonte Bt está na infiltração da água no solo. A diferença textural dificulta a infiltração de água e torna
este solo suscetível à erosão, conforme ilustra a figura 2.7

Figura 2.6. Fases de relevo dos solos do Estado de São Paulo.


Fonte: Rossi (2017)

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Figura 2.7. Argissolo Vermelho-Amarelo
Fonte: Rossi, 2017 e Imagens da Internet.

No horizonte superficial (A) a infiltração da água ocorre de forma rápida em função dos
macroporos do solo arenoso. Já no horizonte subsuperficial (Bt) a infiltração da água é lenta. Quando
ocorre chuvas intensas, a infiltração de água no horizonte A é rápida, mas quando atinge o horizonte Bt a
B
velocidade de infiltração diminui, saturando rapidamente o horizonte A, ficando este solo extremamente
textural
susceptível à erosão.
No período de maior intensidade pluviométrica, os solos arenosos ou arenosos com gradiente
textural devem ser mantidos sob vegetação (plantas de cobertura ou culturas anuais, como soja ou
amendoim), reiniciando o preparo convencional, quando necessário, com a diminuição das chuvas, a
partir de março e abril.
Por outro lado, os Argissolos apresentam maior disponibilidade de água do que os Latossolos
devido à sua grande diferença textural, que é responsável pela quebra de capilaridade entre os horizontes
A com mais baixo porcentagem de argila (ou de microporos) e o horizonte B textural com bem mais
elevada porcentagem de argila (ou de microporos), o que aumenta muito o tempo de permanência da
água no perfil, favorecendo o plantio nos meses de maio e junho.

2.2. Período Ideal para o Plantio da Cana-de-Açúcar no Oeste do Estado de São Paulo – Região da
Alta Paulista

A estratégia para a definição deste período foi embasada no conceito de pontualidade das
operações agrícolas, que é definido como a capacidade de efetuar as operações na época em que a
qualidade e/ou quantidade de um produto são otimizadas.

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O levantamento das perdas por prazo de operação é extremamente útil para selecionar o número
e o tamanho do maquinário agrícola necessário, sem que haja o superdimensionamento ou sobrecarga
de trabalho (BALASTREIRE, 1987; WITNEY, 1998).
Baseados nos conceitos acima e na importância de o plantio de cana-de-açúcar ser realizado no
período recomendado para a região Oeste de São Paulo, conforme trabalho de Demattê (2008), toda a
estrutura de preparo de solo e plantio foram dimensionadas para disponibilizar as áreas nos meses de
março, abril, maio e junho, sendo o período de maior produtividade da cana-planta, conforme a figura
2.8.

130 y = -1,467x2 + 15,932x + 71,409


R² = 0,9468
121
120 115 116 115

110 104
98
100 94
89 89
90
81
80
68
70

60 56

50

40

Figura 2.8. Produtividade do canavial no primeiro corte em função da época de plantio para a
região Oeste de São Paulo, em solos argissolos. Valores referentes ao plantio
realizado entre dezembro de 2001 e novembro de 2002.
Fonte: Adaptado de Demattê; Demattê (2008)

A realização do plantio da cana-de-açúcar foi definida entre os meses de março a junho, período
em que ocorre as maiores produtividades para a região, conforme pode ser observada na figura 2.8. A
média de produtividade no primeiro corte neste período é de 116,75 t/ha.
Na figura 2.9 é possível observar que a cana plantada em janeiro apresenta maior número de
perfilhos por metro até o mês de maio, quando comparada àquela plantada em março. A partir deste
período o plantio tardio (de março em diante) tende a apresentar maior número de perfilhos e maior
produção de massa verde por hectare.

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21 21
20 18
15
15 13 13
12 12

10 9
7,8 8

5 4,2
2,9
0
0
Janeiro Março Maio Julho Setembro Novembro Janeiro

Janeiro Março
Figura 2.9. Número de perfilhos por metro no primeiro corte em função da época de plantio para a
região Oeste de São Paulo, em solos argissolos. Valores referentes ao plantio realizado
em janeiro e março de 2002.
Fonte: Adaptado de Demattê; Demattê (2008)

A recomendação de épocas de plantio de cana-de-açúcar nos Argissolos inicia-se em março e se


estende até maio, com restrições nos meses de junho, julho e agosto em função da falta de umidade no
solo para a brotação das gemas (figuras 2.12 e 2.13). O plantio tardio, em função do menor
desenvolvimento vegetativo, expõe a cultura a uma menor perda por evapotranspiração, já que, em
função de seu pequeno porte, não desenvolve colmos ao longo dos meses secos do ano.
Plantios realizados nos meses de janeiro e fevereiro, além de aumentar a probabilidade de
erosões, também apresentam menor produtividade, pois a partir de maio há uma redução significativa
na quantidade e na regularidade das chuvas. Nesse momento, as plantas iniciam a formação de colmos e
com o avanço do déficit hídrico nos meses de junho, julho e agosto, há chances de ocorrer a redução do
tamanho dos intermédios do colmo (figura 2.10). Este fenômeno, além de gerar queda de produtividade
em canaviais comerciais, inviabiliza a destinação do material para o plantio, por produzir gemas com
pouca capacidade de brotação. Com isso, não se deve utilizar a cana-de-açúcar com intermédios curtos
de colmo como muda, isso porque testes de germinação apontam para brotação das gemas em valores
abaixo de 60% (Revista Canavieiros, março/2020). Este estrangulamento do colmo afeta negativamente
o posterior desenvolvimento da planta, por ocasião do retorno da estação das chuvas.
Apenas reforçando sobre a melhor época para a realização do plantio de cana-de-açúcar no
período de março a junho em Argissolos, tem-se uma caraterística importante quanto ao

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desenvolvimento da cana-de-açúcar que é a não formação de colmos durante os primeiros 4 a 6 meses
após o plantio. Isto faz com que a cultura passe todo o período de seca somente com folhas (figura 2.11),
evitando o encurtamento dos entrenós. Os plantios de janeiro e fevereiro, quando bem-sucedidos,
promovem um rápido crescimento da planta em função da umidade do solo e da temperatura elevada,
porém, a planta emite colmos no início da estação de seca, sofrendo com o déficit hídrico durante os
meses de julho a setembro (figura 2.10). Em função disso, o plantio de março a junho favorece o
desenvolvimento do canavial de forma mais lenta, impedindo o desenvolvimento de colmos durante o
período seco.

Figura 2.10. Canavial plantado no final de fevereiro de 2020 em Campo Florido/MG, com
formação excessiva de palha causada pela produção de colmos.
Fonte: Daine Frangiosi

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Figura 2.11. Exemplo de baixeiro de cana plantada no mês de maio (ausência de colmos e de
folhas secas).
Fonte: Daine Frangiosi

Neste projeto, o plantio iniciou-se em março, evitando-se o período de chuvas intensas (janeiro e
fevereiro) para evitar erosões e possíveis perdas de plantio e foi finalizado na metade de junho, evitando
riscos de falta de umidade no solo a partir desse período, conforme a recomendação do Instituto
Agronômico de Campinas (IAC), ilustrada na figura 2.12.

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Figura 2.12. Épocas de plantio de cana-de-açúcar em função do tipo de solo.
Fonte: IAC, 2019.

O plantio do mês de março foi realizado nas áreas com topografia plana e que estavam protegidas
com plantas de cobertura (Crotalaria juncea), com poucos riscos de erosão (figura 2.17).

Figura 2.13. Épocas de plantio da cana-de-açúcar em função dos ambientes de produção, tipos
de solos, drenagem, textura e relevo.
Fonte: Boletim Técnico, 216, IAC, 2016.

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2.3. Ganhos de Produtividade com o Plantio na Época Ideal da Região do Estudo de Caso

Quando o plantio de cana-de-açúcar é realizado no período recomendado há ganhos significativos


em produtividade. Esses ganhos geram redução de custo na aquisição de matéria-prima, já que o aumento
de produção pode significar menor dependência de compra de cana no mercado spot, o qual sofre
variações de preços em função da região de atuação da usina.
Neste projeto foi feito o comparativo da produtividade e da produção de cana quando o plantio
foi realizado no período recomendado (tabela 2.1) e quando foi realizado em função da capacidade
operacional da usina, sem monitorar as operações de preparo e plantio (tabela 2.2).
Quando o plantio foi realizado no período recomendado, a produtividade foi de 117,15 t/ha. Já
quando o plantio seguiu a capacidade operacional da usina, a produtividade foi de 110,85 t/ha. Essa
diferença de 6,30 t/ha resulta em um acréscimo de 50.479 toneladas de cana-de-açúcar nas áreas de 1º
corte (tabela 2.3), o que pode significar uma menor necessidade de compra de cana spot, a qual pode
aumentar os custos em função da disponibilidade de cana na região considerada (tabela 2.4).

Tabela 2.1. Área Plantada, Produtividade e Produção de Cana-de-Açúcar no Período Ideal de Plantio (com
monitoramento online das operações de preparo e plantio).

Mês de Plantio Área Plantada (ha) Produtividade (t/ha) Produção de Cana (t)
Março 1.933 115 222.349
Abril 2.486 121 300.806
Maio 2.286 116 265.176
Junho 1.296 115 149.040
TOTAL 8.001 117,15 937.371
Fonte: autores

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Tabela 2.2. Área Plantada, Produtividade e Produção de Cana-de-Açúcar de Acordo com a Capacidade
Operacional da Usina (sem monitoramento online das operações de preparo e plantio).

Mês de Plantio Área Plantada (ha) Produtividade (t/ha) Produção de Cana (t)
Janeiro 762 94 71.628
Fevereiro 1.217 98 119.266
Março 1.410 115 162.150
Abril 1.348 121 163.108
Maio 1.573 116 182.468
Junho 1.128 115 129.720
Julho 563 104 58.552
TOTAL 8.001 110,85 886.892
Fonte: autores

Tabela 2.3. Ganhos em Produção e Produtividade da Cana-de-Açúcar.

Ganho em Produção (t) Ganho em Produtividade (t/ha)

50.479 6,30
Fonte: autores

Na tabela 2.4 fica evidenciado o acréscimo de custo na compra de cana-de-açúcar no mercado


spot em função da menor produtividade da cana própria, visto que uma parte do plantio foi realizado em
épocas não recomendas para a região Oeste do Estado de São Paulo. Neste caso, o valor negociado foi de
115 kg de ATR por tonelada de cana, livre das operações de colheita, transbordamento e transporte,
modalidade de negociação conhecida como “ATR Fixo”.
Em função da menor produtividade da cana própria causada pelo plantio fora do período
recomendado, a usina desembolsou R$ 7.115.292 para a compra de cana spot com o objetivo de cumprir
a meta de moagem estabelecida no quadro de produção do orçamento da safra.

Tabela 2.4. Redução de Custos em Função da Menor Necessidade de Compra de Cana Spot.
Negociação de Compra Preço do ATR Preço da Necessidade de Valor Total da
de Cana Spot (R$/kg) Cana (R$/t) Compra de Cana (t) Compra de Cana
115 kg de ATR/t R$ 1,2257* R$ 140,96 50.479 R$ 7.115.292
*Preço do ATR referente ao mês de novembro de 2023.
Fonte: CONSECANA-SP

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2.4. Práticas Agronômicas Utilizadas no Plantio de Cana-de-Açúcar Durante o Mês de Março

A maior parte da região Oeste do Estado de São Paulo, onde ocorreram as recentes expansões da
canavicultura, é ocupada pela província geomorfológica Planalto Ocidental, caracterizada por formas de
relevo mais suavizadas (<15 cm/m), e o material de origem predominante é o arenito, evidenciando os
Argissolos Vermelho-Amarelos ou Vermelho, de textura arenosa/média, que são de alta susceptibilidade
à erosão (BOLONHEZI et. al, 2018).
No mês de março ainda ocorrem chuvas de grande intensidade, o que contribui para um aumento
no risco de assoreamento de sulcos e ocorrências de erosões em áreas de plantio de cana-de-açúcar,
principalmente em solos bem-preparados e desprovidos de cobertura vegetal.
Alguns manejos com relação às áreas plantadas em março merecem destaques como o plantio em
áreas com a topografia plana e o plantio direto sobre coberturas vegetais, com destaque às leguminosas
(Figuras 2.14 a 2.15) como as espécies do gênero Crotalaria spp. O preparo de solo localizado, como por
exemplo, a canterização, pode ser realizada diretamente sobre as plantas de cobertura, conforme ilustra
a figura 2.16, onde o canterizador incorporou a Crotalaria juncea antes da operação de sulcação para o
plantio da cana-de-açúcar.

Figura 2.14. Plantio direto de cana sobre Crotalária spectabilis.


Fonte: Agrícola Ouro Verde (Lençóis Paulista/SP) e Usina São Luiz (Ourinhos/SP)

Figura 2.15. Sulcação direta sobre Crotalária juncea.


Fonte: Rafaella Rosseto (APTA-SP) e Maycon Giro.

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Figura 2.16. Canterização sobre Crotalaria juncea.
Fonte: Imagens do Linkedin

A utilização de adubos verdes é uma ferramenta importante no controle da erosão em cana-de-


açúcar, pois normalmente as espécies apresentam crescimento inicial rápido, permitindo eficiente
cobertura do solo. Este benefício é extremamente importante na condição de Argissolos, em razão da
declividade mais acentuada, menor infiltração de água (devido horizonte Bt) e maior susceptibilidade do
horizonte A (textura arenosa).
Nestes solos é comum o assoreamento de sulco, demandando replantio. Os resíduos das culturas
de rotação aumentam a rugosidade na superfície do solo, diminuindo expressivamente a desagregação
das partículas e consequente selamento superficial (BOLONHEZI et. al, 2015).
Os maiores riscos de erosão ocorrem por ocasião da implantação do canavial e as épocas de plantio
associadas aos tipos de solo, as condições climáticas, o relevo e as águas a serem administradas no talhão
tem um papel importante no controle da erosão.
Solos com ambientes mais favoráveis e planos normalmente são bastante utilizados na rotação
com soja devido a elevadas produtividade de grãos e facilidade da mecanização. Nos ambientes mais
restritivos e ou com topografia mais inclinada adubos verdes são mais indicados para a rotação, cuja
finalidade é de proteger e corrigir melhor as propriedades do solo, em especial as químicas. O uso de
leguminosas antes da reforma do canavial é uma prática recomendada para aumentar a sustentabilidade
do sistema de produção da cana. Além de adicionar nitrogênio ao sistema através da fixação biológica de
N, também auxilia no controle principalmente de pragas de solo, dependendo da leguminosa escolhida
(BOLONHEZI et. al, 2018).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
20
2.5. Quais os Riscos de Realizar o Plantio de Cana-de-Açúcar Fora da Época Recomendada para a
Região da Alta Paulista?

As chuvas no Estado de São Paulo são concentradas no período de verão. O período das águas vai
de outubro a março e o período da seca, de abril a setembro. A ocorrência de chuvas pesadas em curto
espaço de tempo ou a má distribuição das precipitações, na maior parte do Estado, constitui fator de risco
elevado de erosão. O conhecimento da distribuição das chuvas ao longo do ano e dos valores extremos
de quantidade e intensidade de chuvas é especialmente importante para a conservação dos solos (DE
MARIA, et. al, 2016).
Tanto o plantio de cana-de-ano (setembro a novembro) como o de dois verões (dezembro do ano
1 e janeiro do ano 2) não são recomendados para solos com impedimentos e, ou, com baixa infiltração,
como os Neossolos Litólicos e Argissolos, bem como solos pouco estruturados como os Latossolos de
textura mais arenosa e Neossolos Quartzarênicos, pois são facilmente erodidos. Também devem-se evitar
ainda áreas declivosas, principalmente no período das águas estando esses solos descobertos
(BOLONHEZI et. al, 2018).
Para a região Oeste, o plantio é recomendado entre os meses de março a junho. O plantio de junho
deve ser realizado em áreas que possibilitem a utilização de irrigação, seja com água ou vinhaça, evitando
riscos de ocorrência de falhas em função da falta de umidade no solo. Outra prática interessante para o
plantio nos meses de maio e junho é a utilização da torta de filtro no sulco de plantio (quando possível).
Sua umidade, cerca de 70%, garante uma melhor brotação. Também sua decomposição gera calor que
pode auxiliar a brotação das gemas no período de inverno.
O plantio em março deve ser preferencialmente feito em áreas de relevo plano e se possível, com
a presença de plantas de cobertura na rotação de culturas, evitando que o solo fique totalmente exposto
após o plantio da cana-de-açúcar.
A falta de planejamento agronômico e operacional pode causar problemas sérios com relação ao
plantio de cana-de-açúcar, como por exemplo, a figura 2.17, mostrando o estrago causado por chuvas
intensas no mês de fevereiro. É possível observar as falhas na brotação da cana-de-açúcar, necessitando
de um novo plantio na mesma área, o que aumentaria significativamente os custos de formação de
lavoura. Na mesma linha de raciocínio, tem-se a figura 2.18, onde o preparo de solo e o plantio foram
realizados no mês de janeiro, recebendo uma quantidade de chuvas de mais de 300 milímetros em apenas
uma semana, causando estrias e erosões em diversos pontos da área. Semelhante ao que ocorreu na área
plantada em fevereiro, nesta área também foi realizado um novo plantio, impactando novamente no
aumento de custos.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


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21
Figura 2.17. Plantio realizado no mês de FEVEREIRO em Argissolo (perda total da operação de
plantio).
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Figura 2.18. Erosão em área de Argissolo com plantio no mês de JANEIRO.


Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Plantios realizados em no mês de julho também podem enfrentar problemas de déficit hídrico, já
que é um dos meses mais secos do ano na região do Oeste Paulista. A combinação de falta de chuvas e
solos com o horizonte A mais arenosos podem resultar no exemplo da figura 2.19. Neste caso, houve

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


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22
falhas na brotação da cana-de-açúcar em função da falta de umidade no momento do plantio. Exceções
podem existir caso seja possível realizar a irrigação de salvamento, garantindo assim a perfeita brotação
da cana mesmo sendo plantada em julho.

Figura 2.19. Plantios realizados no mês de JULHO em Argissolo.


Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Quando o plantio é realizado dentro do período recomendado, o resultado são lavouras livre de
falhas e com alto vigor vegetativo, garantindo altas produtividades, como o exemplo da figura 2.20.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


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23
Figura 2.20. Plantios realizados no mês de ABRIL em Argissolo.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
24
2.6. Cronograma das operações para realizar o plantio na época recomendada

A figura 2.21 mostra o cronograma das operações para o cenário convencional, com uma janela
de plantio de cana-de-açúcar de 6 meses (janeiro a julho), item “a”, e para o cenário proposto, com a
janela de plantio ajustada para a melhor época para se obter a maior produtividade, item “b”.

(a) Cenário convencional (plantio de 6 meses)

(b) Cenário com o plantio na época recomendada (4 meses)


Figura 2.21. Cronograma das operações para o plantio de cana-de-açúcar no cenário convencional (a)
e para o cenário proposto (b)
Fonte: autores

A redução da janela de plantio de 6 para 4 meses irá demandar uma gestão eficiente da capacidade
de trabalho diária (ha/dia) para que estas operações consigam realizar suas atividades dentro do prazo
estipulado pelo cronograma, tanto da operação de plantio quanto para o preparo do solo, etapa anterior,
que reduziu de 6 para 5 meses. O capítulo 6 irá mostrar estratégias para esta gestão, com o
monitoramento das operações.
Para o preparo do solo, além do monitoramento, tem-se a opção da seleção de quais operações
serão realizadas neste processo, como será visto no capítulo 3.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
25
3. Preparo de Solo para o Plantio de Cana-de-Açúcar Utilizando Canterizador

O preparo do solo para a implantação da cultura de cana-de-açúcar apresenta uma importância


significativa tanto na produtividade e longevidade do canavial quanto nos custos de produção.
Sendo a cana-de-açúcar atualmente uma cultura totalmente mecanizada, desde o plantio até a
colheita, passando pelas fases intermediárias de tratos culturais e demais operações, prevê-se que mais
de trinta operações ocorrem num mesmo talhão ao longo de cinco cortes. Sendo assim, é muito provável
que o solo apresente compactação crescente ao longo das safras, principalmente se não houver cuidado
quanto à condição de umidade do solo no momento do tráfego de máquinas. A compactação pode limitar
o crescimento das raízes, bem como reduzir a infiltração da água das chuvas, permitindo assim o aumento
do processo erosivo. Quanto maior o volume de água infiltrado no solo, menor será o volume de
enxurrada a ser escoado sobre a superfície. Portanto, o preparo do solo deve visar entre outras coisas,
melhorar as condições de infiltração da água no solo e, como consequência, diminuir o escoamento da
enxurrada (DE MARIA, et. al, 2016).
Por ocasião da reforma do canavial, uma série de decisões são tomadas para o planejamento da
implantação da cultura, como preparar ou não o solo, fazer ou não as correções químicas e físicas, o
controle de pragas e plantas daninhas. É um momento de máxima relevância, pois se alguma prática for
feita de forma inadequada, a cultura terá que conviver com o problema ao longo dos ciclos agrícolas
consecutivos. As altas produtividades e longevidade estão relacionadas com o planejamento adequado
dos aspectos anteriores (DE MARIA, et. al, 2016).
Atualmente são utilizados diferentes métodos de preparo de solo com o objetivo de realizar
descompactações mecânicas e que possuem como benefícios imediatos o rompimento da camada
compactada, com aumento da porosidade total e redução da densidade do solo.
No preparo do solo para a cultura da cana-de-açúcar, destacam-se os sistemas intensivos de
preparo com maior número de operações mecanizadas, porém diversos segmentos do setor
sucroenergético estão passando a adotar práticas com menor mobilização do solo, objetivando a
implementação de sistemas conservacionistas aliados à possibilidade de redução dos custos operacionais
(MAZARON, 2019).
Quando há presença de camadas compactadas em profundidades não atingidas por outros
equipamentos, a subsolagem é uma prática recomendada para o rompimento destas. Essa pode ser
considerada uma prática conservacionista em razão da não-inversão de camadas e por possibilitar a
manutenção de restos culturais provenientes de cultivos anteriores (MAZARON, 2019).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
26
Dessa forma, operações agrícolas que realizem o mínimo revolvimento do solo têm sido cada vez
mais utilizadas, por promover diversos benefícios, como melhoria da estrutura, porosidade, retenção e
infiltração da água no solo (DUARTE JÚNIOR e COELHO, 2008).
Segundo DE MARIA, et. al, 2016, atualmente estão sendo utilizadas práticas que permitem realizar
o preparo localizado na linha de plantio, ou seja, o preparo do solo em, praticamente, metade da área.
Entre essas práticas tem-se o sistema de preparo profundo que utiliza equipamentos com hastes
subsoladoras para preparo do solo de até 0,50 a 0,70 m, com incorporação de calcário, gesso, restos
vegetais e de fertilizantes orgânicos, em uma única operação. O preparo do solo localizado pode ser
profundo ou não, em função dos implementos utilizados, e nos espaçamentos convencionais de 1,50 m
ou de sulco duplo. Independentemente da profundidade da mobilização do solo, o uso de piloto
automático é de fundamental importância para a execução dessa prática, visando sempre manter
constante o paralelismo entre as fileiras.
Uma das operações de preparo do solo é a canterização, realizado por um equipamento
denominado canterizador (figura 3.1), o qual possui discos de corte, hastes subsoladoras com regulagem
de profundidade e enxadas rotativas para a formação de canteiro (figura 3.2), deixando assim o solo com
condições para a posterior sulcação e distribuição de mudas para o plantio. Este implemento pode vir
acompanhado com o depósito de fertilizante / corretivo com distribuição por esteira, tanque líquido para
distribuição de defensivos em profundidade e turbina de pressão positiva para uma melhor distribuição
do corretivo no perfil do solo.
O termo “canterização” para a cana-de-açúcar tem por conceito agronômico manter um canteiro
sem impacto de tráfego e consequentemente, sem compactação, mantendo as características físicas do
solo para que a cultura possa utilizar a maior quantidade de nutrientes possível, através de melhor
enraizamento e infiltração de água (LANÇAS, 2015).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
27
Figura 3.1. Implemento Canterizador.
Fonte: Agromatão

Figura 3.2. Elementos que compõem o implemento canterizador.


Fonte: Agromatão

No preparo canterizado, mescla-se a canterização com o preparo do solo em profundidade, o qual


realiza o rompimento de camadas compactadas em volume de solo maior que o convencional.
Interessante salientar que, mantém as entrelinhas intactas, pois, não ocorre a movimentação do solo em
área total (figuras 3.3 e 3.4).
Segundo DIAS NETO (2021), embora seja altamente desejado que as operações agrícolas
promovam o mínimo movimento do solo, sabe-se que o preparo a profundidades entre 0,40 a 0,50 m,

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
28
pode ser muito vantajoso para a cultura de cana-de-açúcar, sendo considerado como uma opção de
canterização do canavial. Neste caso, o cultivo mínimo é realizado através do preparo de solo em canteiro,
ou seja, passando a ser cultivado em faixas. Essa técnica consiste em preparar, corrigir e adubar o terreno
somente nas linhas onde serão implantados os canaviais, mantendo as entrelinhas sem reforma, como
um local para tráfego de máquinas, visando a não permitir a compactação na linha de cana-de-açúcar
causada pela pressão exercida pelos rodados das colhedoras, transbordos e de operações de tratos
culturais (figura 3.3).
A adoção de práticas voltadas a canterização e tráfego controlado objetivando a redução de
compactação somente em áreas controladas destinadas ao tráfego, permite que a cultura de cana-de-
açúcar possa manter sua produtividade em patamares mais elevados e a longevidade do canavial acima
da média de 5 anos. Os benefícios observados foram maior enraizamento, melhor infiltração de água nas
áreas não compactadas, melhor absorção e aproveitamento de nutrientes pelas plantas (DIAS NETO,
2021).
Segundo TENU et al. (2012), citado por DIAS NETO (2021), durante a operação as enxadas rotativas,
devido ao movimento de avanço do equipamento e ao movimento de rotação do rotor, penetram no solo
e cortam fatias com uma forma particular. Sob a ação da força centrífuga, as fatias de solo são jogadas
sobre a superfície interna da carcaça do implemento. Como resultado, consegue-se uma desagregação
suplementar após a ação da enxada rotativa.
Esse sistema de preparo já vem sendo utilizado em área de cultivo de cana-de-açúcar no país, o
qual permitiu uma redução do custo operacional de aproximadamente 30% com preparo do solo, uma
vez que a passagem do canterizador ocorre em uma única vez, comparativamente ao preparo
convencional (grade pesada, grade intermediária, subsolagem e grade niveladora).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
29
Figura 3.3. Operação de canterização, formação do canteiro (área preservada) e controle de
tráfego (área pisoteada).
Fonte: Agromatão e Melo

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


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30
Figura 3.4. Esquema representativo da atuação e configuração do canterizador para
o preparo localizado.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
31
4. Planejamento das Operações de Cana-de-Açúcar para a Criação de uma Janela
para a Rotação de Culturas

Entre a colheita das áreas de reforma e o preparo do solo, a área fica em pousio, ou seja, sem
atividade agrícola por um período que pode variar de 2 a 6 meses, em média. Um ponto de atenção nas
áreas de reforma é que se deve evitar deixá-las em pousio, pois isso pode favorecer o aumento de
infestação por plantas daninhas, principalmente o aumento do banco de sementes no solo, além de
aumentar os custos do preparo de solo, conforme ilustram as figuras 4.1 a 4.7.

Figura 4.1. Área de reforma de cana-de-açúcar em pousio com alta infestação de plantas daninhas.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

As plantas daninhas também podem ser hospedeiras alternativas de fungos, bactérias e


nematoides que provocam doenças em plantas. Dentre os patógenos hospedados pelas plantas daninhas
que são de grande importância agrícola destaca-se o grupo dos nematoides fitoparasitas. Este grupo é
representado pelos nematoides-das-galhas (Meloidogyne), os nematoides-das-lesões (Pratylenchus) e os
nematoides-dos-cistos (Globodera e Heterodera), BELLÉ et al. (2022).
Diversas espécies importantes de nematoides-das-galhas, como Meloidogyne incognita,
Meloidogyne javanica e Meloidogyne paranaenses, reconhecidos por causarem prejuízos em grandes
culturas como soja e cana-de-açúcar, já demonstraram capacidade de parasitar e se reproduzir em plantas
daninhas comuns nas áreas agrícolas, por exemplo, em picão-preto (Bidens sp.), caruru (Amaranthus sp.),
tiririca (Cyperus sp.) e corda-de-viola (Ipomoea sp.). Espécies do gênero Pratylenchus, como Pratylenchus
brachyurus e Pratylenchus zeae, reconhecidas por provocarem danos em culturas como milho e trigo,
também parasitam plantas daninhas como picão-preto (Bidens sp.) e capim-carrapicho (Cenchus
echinatus), BELLÉ et al. (2022).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
32
Além dos problemas citados anteriormente, vale lembrar que estas áreas em pousio possuem um
custo de arrendamento, independentemente se há ou não produção, portanto, não podem, em hipótese
nenhuma, ficarem nesta situação. Isto reflete a falta de planejamento técnico dessas áreas e da integração
com os produtores de amendoim ou soja da região.

Figura 4.2. Área de reforma de cana-de-açúcar em pousio com alta infestação de plantas daninhas.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Figura 4.3. Área de reforma de cana-de-açúcar em pousio com alta infestação de plantas daninhas.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
33
Figura 4.4. Área de reforma de cana-de-açúcar em pousio com alta infestação de plantas daninhas.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Figura 4.5. Área de reforma de cana-de-açúcar em pousio com alta infestação de plantas daninhas.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Nas figuras 4.6 e 4.7 é possível observar o quão trabalhoso é o preparo de solo nas áreas que foram
deixadas em pousio, aumentando os custos em função do maior número de operações a serem realizadas
nessas áreas.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
34
Figura 4.6. Área de reforma de cana-de-açúcar em pousio com alta infestação de plantas daninhas,
aumentando os custos operacionais do preparo de solo.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Figura 4.7. Área de reforma de cana-de-açúcar em pousio com alta infestação de plantas daninhas,
aumentando os custos operacionais do preparo de solo.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Para a criação de uma janela para rotação de culturas antes do plantio de cana-de-açúcar, será
necessário reorganizar as operações de colheita, sistematização e aplicação de corretivos, conforme
demostrado na figura 4.8.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
35
(a) Cenário com o plantio na época recomendada (4 meses) sem a janela para rotação de culturas

(b) Criação de uma janela para a rotação de culturas


Figura 4.8. Cronograma das operações para o plantio de cana-de-açúcar no cenário convencional (a) e
para o cenário proposto (b)
Fonte: autores

Observa-se na figura 4.8. que a colheita das áreas destinadas para reforma do canavial ocorre
entre setembro e novembro. Porém, para a criação da janela para a rotação de culturas, será necessário
planejar a colheita destas áreas entre maio e setembro, excluindo assim os meses de outubro e novembro
do cronograma de colheita.
Com isso, as operações de sistematização (construção de terraços, carreadores e consertos de
erosões) e de aplicação de corretivos também serão remanejados para o mesmo período de colheita das
áreas de reforma (maio a setembro). Este remanejamento reduzirá a janela de sistematização de 8 para
5 meses e de aplicação de corretivos de 7 para 5 meses.
A redução da época de realização destas operações irá demandar uma gestão eficiente da
capacidade de trabalho diária (ha/dia) para que estas operações consigam realizar suas atividades dentro
do prazo estipulado pelo cronograma. O capítulo 6 irá mostrar estratégias para esta gestão, com o
monitoramento das operações.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
36
5. Renovação do Canavial com Rotação de Culturas

5.1. A Utilização de Plantas de Cobertura e Amendoim para a Renovação do Canavial

Durante a renovação do canavial, é comum o uso de espécies de plantas conhecidas como adubos
verdes, cujo objetivo é obter uma cobertura superficial para manter ou melhorar as propriedades físicas,
químicas e biológicas do solo. O cultivo de espécies de ciclo curto em áreas de renovação de cana-de-
açúcar proporciona uma série de vantagens agronômicas e financeiras, como economia na reforma do
canavial, conservação do solo, devido à manutenção de cobertura vegetal em uma época de alta
concentração de chuvas, controle de plantas daninhas, combate indireto às pragas e potencial aumento
da produtividade da cana-de-açúcar.
Para a reforma do canavial pode-se optar, dentre as leguminosas, pelo plantio das espécies de
crotalárias, soja ou amendoim, sendo que a escolha deve ser feita em função do local a ser utilizado, da
declividade da área, da predisposição a pragas de solo e da disponibilidade de máquinas e implementos
para as operações de cada cultura.
Uma das culturas mais interessantes para esse processo é a do amendoim, por possuir um sistema
radicular bem desenvolvido e boa adaptação a vários tipos de solo e, ainda, contribuir para o aumento da
produtividade dos canaviais durante os intervalos de reforma. Além disso, o plantio do grão tem
proporcionado ganhos econômicos importantes aos produtores.
O amendoim apresenta alta capacidade de fixação biológica de nitrogênio devido ao processo
simbiótico, envolvendo bactérias diazotróficas do gênero Bradyrhizobium sp., tornando-se uma excelente
opção de cultivo em sistemas de sucessão/rotação de culturas (SILVA et al., 2019).
A cultura do amendoim é considerada relativamente tolerante à seca, devido ao seu sistema
radicular profundo que permite explorar volume de solo das camadas mais profundas as quais possuem
maior disponibilidade de água. As necessidades hídricas variam de 450 a 700 mm durante o ciclo. A
máxima exigência hídrica ocorre durante o florescimento e frutificação. A falta de água no início do
desenvolvimento faz com que ocorram problemas como atraso e irregularidades na germinação (CATO et
al., 2008).
A cultura desenvolve-se bem em solos de textura arenosa, geralmente, estes solos possuem boa
drenagem e aeração, favorecendo o desenvolvimento das raízes e frutos, como também o suprimento de
nitrogênio para a fixação simbiótica, por outro lado, a baixa aeração favorece o desenvolvimento de
organismos patogênicos. Como desvantagem, os solos arenosos apresentam baixa capacidade de reter
água podendo ocorrer reduções de produtividade em função de veranicos, menor fertilidade, devido à

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
37
baixa capacidade de troca catiônica, e muitas vezes necessitam da correção da acidez por meio da
aplicação de calcário, assim como frequentes aplicações de fertilizantes (NOGUEIRA & TÁVORA, 2005).
O produto final colhido nos solos arenosos possui qualidade superior, pois nos solos argilosos
grande parte das vagens colhidas apresentam coloração mais escura, devido a partículas de argila que
ficam aderidas ao fruto (NOGUEIRA & TÁVORA, 2005). Já os solos de textura argilosa, em geral, são mais
férteis que os solos arenosos, porém se não estiverem bem estruturados, apresentam problemas de
aeração, drenagem, por consequência da compactação e isto dificulta a penetração dos ginóforos e o
crescimento dos frutos. Outro problema é a maior dificuldade de colheita em solos mal estruturados,
onde podem ocorrer maiores perdas de vagens (NETO et al., 2012).
A região do estudo de caso é uma das maiores produtoras de amendoim do Estado, conforme a
figura 5.1, englobando desde o município de Garça até Panorama, na divisa com o Mato Grosso do Sul. O
destaque maior está nos municípios que abrangem a região de Tupã, uma das maiores produtoras do
Estado de São Paulo.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a produção de amendoim em casca
na safra 2022/2023 em São Paulo foi de 788 mil toneladas, enquanto a produção brasileira atingiu 893
mil toneladas. O Estado segue como principal produtor no País, com 88% do volume total.
Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o cenário
internacional para o amendoim se mantém em alta com o estado de São Paulo como principal produtor
nacional. As três regiões com maior expressão produtiva são Tupã (13,6%), Marília (12,7%) e Jaboticabal
(12,2%).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
38
Figura 5.1. Regiões do Estado de São Paulo com plantio de amendoim (destaque para as regiões de
Tupã, Jaboticabal, Marília, Presidente Prudente e Lins), destacando a região da Alta Paulista
(Marília e Tupã).
Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo e Marcos Elias de Oliveira Júnior (2023)

Os custos de arrendamentos na região Oeste de São Paulo (Alta Paulista, a qual engloba os
municípios de Garça até Panorama, ilustrados na figura 5.1) quase triplicaram nos últimos 4 anos (saindo
de uma média de R$ 830/ha em 2019 para R$ 2.300/ha em 2023), acentuando a concorrência por áreas
para plantio de amendoim, mandioca e cana-de-açúcar.
Neste cenário, os produtores de amendoim da região buscam firmar parcerias com as usinas, as
quais subarrendam por um período (setembro a março) as áreas de reforma de cana-de-açúcar para estes
produtores. Com isso, há uma menor disputa por áreas e, consequentemente, menor inflacionamento de
preços de arrendamentos na região.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
39
5.2. Arrendamento (repasse) das Áreas de Reforma de Cana-de-Açúcar aos Produtores de
Amendoim

A operação de repasse de áreas de reforma de cana-de-açúcar para o cultivo do amendoim


consiste na transferência do controle e utilização da área, arrendada pela usina, a um produtor de
amendoim ou empresa produtora desta oleaginosa. As atividades de produção e comercialização são
exclusivamente de responsabilidade do produtor. Neste período do cultivo do amendoim (setembro a
março), a usina continua responsável pela negociação, contratação e pagamento dos arrendamentos e
parcerias agrícolas. O produtor fica responsável por produzir a oleaginosa na área repassada e realizar o
reembolso do arrendamento pago pela usina durante o período de cultivo do amendoim.
O grande entrave a ser resolvido na questão do repasse de áreas era o jurídico, em saber qual seria
a modalidade contratual que permitisse a cessão do uso ou posse da terra para plantio de cultura de ciclo
curto por terceiros no período entressafra da lavoura de cana-de-açúcar. Isso porque as modalidades
típicas do arrendamento e da parceria rural são rígidas quando a observância do prazo mínimo de três
anos para cultivo de lavoura temporária, sendo que para as usinas que cedem o plantio das lavouras de
reforma há a preocupação com devolução da área tão logo ocorra o término da colheita da leguminosa
(QUERUBINI et al. 2022).
A solução encontrada para viabilizar a cessão da posse temporária para plantio de lavoura de
plantio por terceiro na área de reforma/rotação do canavial, com segurança jurídica, é o contrato agrário
atípico de entressafra agrícola firmado entre as usinas e agricultores especializados na produção de
amendoim (QUERUBINI et al. 2022).
Os contratos agrários são classificados como típicos ou atípicos, também conhecidos como
nominados ou inominados. Enquanto os contratos agrários típicos são o arrendamento rural e a parceria
rural (conforme caput do art. 92 do Estatuto da Terra), os contratos agrários atípicos são aqueles não
positivados, ou seja, que não possuem expressa previsão legal pela legislação agrária, mas podem ser
validamente celebrados para disciplinar relações que envolvam o exercício temporário da atividade
agrária nos imóveis agrários (QUERUBINI et al. 2022).
As partes ao celebrarem os contratos de entressafra agrícola possuem liberdade para definir os
protocolos agronômicos a serem seguidos pelo produtor rural da cultura temporária (a exemplo da
proibição do uso de herbicidas que podem prejudicar a cultura da cana-de-açúcar e dos parâmetros
técnicos de adubação da área da lavoura), fiscalização e auditorias nos processos operacionais da cultura
temporária e dos cuidados ambientais no trato do uso da terra (QUERUBINI et al. 2022).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
40
Para a elaboração do contrato de repasse é necessário que o produtor tenha as documentações
regularizadas de acordo com a lista de documentos exigidas pela usina. O departamento jurídico é
responsável em efetuar a conferência dos documentos e confeccionar o contrato.

5.2.1. Histórico dos Herbicidas Utilizados na Cana-de-Açúcar

Um ponto importante a ser considerado no repasse de áreas de reforma para o plantio do


amendoim está em conhecer o histórico de herbicidas utilizados nos dois últimos estágios da soqueira,
evitando problemas de fitotoxidez do amendoim, principalmente em relação às moléculas que
apresentam alta persistência no solo, com o objetivo de evitar o efeito carryover (certos herbicidas podem
permanecer ativos no solo por um determinado tempo e em uma concentração capaz de causar
fitotoxicidez a cultura subsequente). Carryover é o efeito negativo causado por herbicidas aplicados em
culturas anteriores, assim, a aplicação de um herbicida pré-emergente no primeiro cultivo do ano
agrícola pode gerar um potencial dano à cultura sucessora, caso a molécula utilizada não seja segura nem
seletiva para tal cultura. O planejamento da sucessão de culturas deve ser criterioso para evitar este
problema.
Na figura 5.2. tem-se alguns exemplos de fitotoxidez de herbicidas em amendoim cultivados em
áreas de reforma de cana-de-açúcar, reforçando a importância de se conhecer o histórico de defensivos
utilizados nos últimos estágios da soqueira.

Figura 5.2. Fitotoxidez de herbicida em amendoim cultivado em áreas de reforma de cana-de-açúcar.


Fonte: Bruno Modesto Homem e Maria Eugênia (2023)

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
41
O uso de herbicidas pré-emergentes com efeito residual prolongado é um dos fatores que
determinam grande eficiência no controle de plantas daninhas durante o período crítico de competição
na cultura da cana de açúcar. Essa alternativa, torna possível a execução de planos para controle efetivo
de plantas infestantes na lavoura. No entanto, esses herbicidas de longo efeito residual podem trazer
consequências nas culturas plantadas nas áreas de renovação, como é o caso do amendoim. Por isso, da
importância de se conhecer a tolerância das culturas a diferentes herbicidas (FURLAN, 2020).
O conhecimento da meia-vida (T1/2) dos herbicidas no solo é fundamental para evitar
fitointoxicação de cultivos subseqüentes. Embora a maioria das moléculas de herbicidas seja dissipada no
período de uma safra, alguns herbicidas podem permanecer ativos e causar fitointoxicação
para culturas específicas. O potencial de carryover é função do herbicida utilizado, da eficiência da
aplicação, da cultura em sucessão e das condições ambientais após a aplicação da
molécula (OLIVEIRA JR. & TORMENA, 2002; OLIVEIRA JR., 2002).
Existem muitos herbicidas pré-emergentes registrados para a cultura da cana-de-açúcar e, muitos
deles, apresentam um alto efeito residual. O exemplo mais conhecido seja talvez o herbicida tebuthiurom,
com até 24 meses de residual, ou seja, deve haver um espaçamento de 24 meses entre a aplicação do
herbicida e o plantio das culturas suscetíveis. Outro exemplo é do herbicida imazapic, recomendado para
cana e amendoim, apresenta residual de até 300 dias, dependendo das condições climáticas (NEGRISOLI,
2021).
O indaziflan, muito utilizado na cana-de-açúcar, caracteriza-se pelo elevado período residual no
solo, superior a 150 dias, permite uma maior flexibilidade da época de aplicação, diferenciando-o dos
demais herbicidas para aplicação em pré-emergência. Este herbicida apresenta seletividade
principalmente às culturas semiperenes e perenes, sendo pouco seletivo para culturas anuais.
A seguir são apresentadas algumas moléculas utilizadas na cana-de-açúcar e o período de ação
residual (Prof. Pedro Jacob Christofoletti – Manejo de Plantas Daninhas na Cultura da Cana-de-Açúcar):
 Picloran: até 2 anos
 Tebuthiuron: até 2 anos
 Indaziflam: até 2 anos
 Imazapir: até 2 anos
 Amicarbazone: até 1 ano
 Sulfentrazone: em média, 180 dias

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42
5.3. Estratégia de rotação de culturas e Planejamento das Operações Mecanizadas

Ao optar pelo cultivo do amendoim nas áreas de reforma de cana-de-açúcar é fundamental o


planejamento das operações com no mínimo dois anos de antecedência à época de plantio da oleaginosa.
Na figura 5.3 (cronograma das operações) está o exemplo de um cronograma, detalhando cada operação
para que as áreas de reforma sejam disponibilizadas até o mês de agosto, período que é iniciado o preparo
de solo para o plantio do amendoim durante os meses de setembro, outubro e novembro.

Figura 5.3. Cronograma com a sequência das operações agrícolas nas áreas de reforma de cana-de-açúcar.
Fonte: autores

Para que essa parceria seja viável econômica e agronomicamente, faz-se necessário a colheita da
cana e a liberação das áreas de reforma aos produtores de amendoim até o mês de agosto, quando se
inicia o preparo de solo para a semeadura da leguminosa, conforme o cronograma da figura 5.3.
O ciclo da cultura do amendoim varia de 115 a 140 dias, sendo liberada para o plantio da cana-de-
açúcar a partir de 15 de março, quando é iniciada a operação de canterização (preparo do solo). No
entanto, como o preparo de solo deve ser iniciado antes do início da operação de plantio, é necessário
que a usina destine uma parte das áreas de reforma para o plantio de adubos verdes ou plantas de
cobertura, especialmente as do gênero Crotalaria spp.
Neste estudo de caso, foram destinados à semeadura de amendoim 75% das áreas de reforma,
enquanto os outros 25% foram destinados às plantas de cobertura. Estas foram semeadas na primeira
quinzena de outubro, sendo incorporadas na operação de canterização no início de fevereiro, sendo
liberadas para o plantio de cana-de-açúcar no mês de março, tabela 5.1.
A necessidade de liberação de áreas para a canterização no início de fevereiro foi o fator decisivo
para o plantio de 2.000 ha de plantas de cobertura, já que as áreas cultivadas com amendoim só estariam
disponíveis a partir de 15/03. Na tabela 6.1. está especificada a área a ser canterizada em cada mês, sendo
1.091 ha em fevereiro e 879 ha até 15/03, culminando em 1.970 ha, valor este muito próximo aos 2.000
ha planejados.

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43
Os custos com as operações e insumos utilizados para o preparo de solo e plantio das plantas de
cobertura estão detalhados na tabela 5.2.

Tabela 5.1. Definição das áreas que serão destinadas ao plantio de crotalária e amendoim em função da
necessidade do preparo de solo (canterização).

Liberação das Áreas de Rotação (ha)


Necessidade de Área (01/02 a 15/03) - Crotalária 2.000
Potencial de Áreas para Plantio de Amendoim (com início de liberação em 15/03) 6.001
Total de Área de Plantio de Cana-de-Açúcar 8.001
Fonte: autores

Tabela 5.2. Custos do preparo de solo e da semeadura das plantas de cobertura (Crotalaria juncea).

Descrição Quantidade Custo Unitário (R$/ha) Custo Total (R$/ha)


Dessecação 1 R$ 200,00 R$ 200,00
Aplicação de Calcário 1 R$ 110,00 R$ 110,00
Aplicação de Gesso 1 R$ 110,00 R$ 110,00
Gradagem Pesada 1 R$ 271,00 R$ 271,00
Gradagem Intermediária 1 R$ 198,00 R$ 198,00
Gradagem Niveladora 1 R$ 132,00 R$ 132,00
Semente de Crotalária 30 kg/ha R$ 25,00 R$ 750,00
Semeadura de Crotalária (a lanço) 1 R$ 65,00 R$ 65,00
Operação com Rolo Faca 1 R$ 118,00 R$ 118,00
Total R$ 1.954
Fonte: autores

Área de Plantas de Cobertura (ha) Custo Unitário (R$/ha) Custo Total (R$)
2.000 R$ 1.954 R$ 3.908.000
Fonte: autores

5.3.1. Cultivo Mínimo na Cultura do Amendoim

Embora o cultivo de amendoim ainda seja feito com o preparo de solo convencional (grade e arado
de aiveca) no início da estação chuvosa (a partir das primeiras chuvas de setembro), há produtores
buscando melhorar a sustentabilidade da cultura no que diz respeito à conservação de solo, adotando
práticas como a utilização de um implemento denominado Rip Strip (figura 5.4), o qual realiza em uma
única passada o corte dos restos culturais, o preparo da fileira de semeadura e a escarificação do solo,

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44
podendo estar acoplado à semeadora, conforme ilustra a figura 5.4. Este implemento é bastante utilizado
nos Estados Unidos, mas ainda pouco conhecido no Brasil.

Figura 5.4. Implemento Rip Strip acoplado com a semeadora de amendoim (cultivo mínimo).
Fonte: Revista Cultivar (2016)

Seus componentes estão detalhados na figura 5.5, sendo:


1) Disco de Corte

2) Discos Dentados

3) Haste/Ponteira

4) Discos Corrugados

5) Discos Ondulados

6) Rolo Destorroador/Nivelador

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45
Figura 5.5. Implemento Rip Strip para o preparo apenas da fileira do amendoim (cultivo mínimo).
Fonte: Revista Cultivar (2016)

Na figura 5.6 é possível observar o preparo localizado na fileira de semeadura do amendoim, com
pouca mobilização de solo, favorecendo a redução de riscos de erosão, além da presença de uma camada
de palha na entrelinha, contribuindo para a manutenção da umidade no solo por um período maior,
quando comparado ao preparo convencional.
Um ponto de atenção com relação à utilização do Rip Strip é que por ser um implemento que
realiza o preparo localizado na fileira de semeadura, há a necessidade de um estudo prévio das condições
físicas do solo para avaliar se este apresenta alguma limitação, principalmente a presença de camada
compactada, exemplificada pela figura 5.7. Neste caso, é necessário a realização de um preparo em
profundidade, com o objetivo de romper a camada compactada, favorecendo o desenvolvimento
radicular do amendoim.

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46
Figura 5.6. Preparo localizado realizado com o implemento Rip Strip para o plantio de amendoim.
Fonte: Lucas Penariol Agostinho (2023) – Turma do Amendoim

Para que seja possível o plantio do amendoim adotando práticas como o cultivo mínimo faz-se
necessário um cuidado maior das operações durante o ciclo da cana-de-açúcar, principalmente com
relação à colheita, evitando assim a entrada das máquinas em solos com umidade elevada, focando nas
retomadas das operações após as chuvas (retomada da colheita após chuvas acima de 30 mm),
exemplificado pela figura 5.7. Em solos argilosos, este problema de compactação é intensificado,
causando maiores custos no preparo de solo.

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47
Figura 5.7. Presença de camada compacta em subsuperfície causada pelo tráfego de máquinas em solo
úmido.
Fonte: Giovanni César e Luís Ricardo Bérgamo

Alguns produtores estão realizando o plantio direto do amendoim na palhada, conforme ilustram
as figuras 5.8 e 5.9. Evidentemente que a adoção de tal prática demanda um planejamento detalhado e
integrado entre as usinas e os produtores da oleaginosa, já que o perfil do solo não deverá apresentar
nenhuma camada compactada, além de estar quimicamente corrigido nos primeiros 0,40 m de
profundidade, favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular do amendoim.
As aplicações de calcário e gesso nos últimos estágios do canavial favorecem a correção química
do perfil do solo em profundidade, voltando-se a atenção novamente quanto ao tráfego de colhedoras e
transbordos com o solo úmido, principalmente nas retomadas de colheita após as chuvas.

Figura 5.8. Plantio direto de amendoim realizado em Iacri/SP.


Fonte: Denizart Bolonhezi.

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48
Figura 5.9. Plantio direto de amendoim realizado em Iacri/SP.
Fonte: Denizart Bolonhezi.

Embora o sistema de plantio direto e/ou cultivo mínimo seja o ideal do ponto de vista de
conservação do solo e sustentabilidade da cultura, é possível realizar o preparo convencional em áreas
com impedimentos químicos e físicos de forma a favorecer o rápido fechamento da cultura do amendoim,
ilustrado na figura 5.10.
A utilização de sementes de qualidade (certificadas e com alta germinação), semeadura na
profundidade correta, aliadas a um bom manejo nutricional e fitossanitário contribuem
significativamente para a rápida cobertura do solo pela planta, reduzindo os riscos de erosão. A maioria
das cultivares atuais apresentam hábito de crescimento indeterminado e plantas com alto vigor
vegetativo, o que também contribui para um rápido fechamento da entrelinha.

Figura 5.10. Cultura do amendoim em pleno desenvolvimento, apresentando boa cobertura de solo.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo e Socicana.

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49
Quando o plantio do amendoim é realizado no período correto, com todas as etapas de correção
e preparo de solo bem-feitas, o resultado são lavouras de alto potencial produtivo, como ilustram as
figuras 5.11 a 5.13.

Figura 5.11. Área de reforma de cana-de-açúcar com a cultura do amendoim.


Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Figura 5.12. Operação de arranquio para a colheita do amendoim.


Fonte: Lucas Penariol Agostinho e Beatrice Peanuts

Figura 5.13. Operação de colheita do amendoim.


Fonte: Lucas Penariol Agostinho

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50
5.3.2. Preparo de Solo Para o Plantio de Cana-de-Açúcar Após a Colheita do Amendoim

Nas figuras 5.14 e 5.15 é possível observar a qualidade da operação de canterização após a colheita
do amendoim. Observe a ausência de plantas daninhas nas áreas, as quais foram manejadas durante o
ciclo da cultura da oleaginosa. Outro ponto importante diz respeito à redução do consumo de combustível
na operação de canterização de uma área em pousio e de uma área em que foi realizado o cultivo do
amendoim. Na área deixada em pousio há uma grande quantidade de massa vegetal (palha, plantas
daninhas) que necessita ser incorporada pela enxada rotativa do canterizador, o que demanda maior
potência do trator e, consequentemente, maior consumo de combustível. Já na área que foi cultivada
com o amendoim, o consumo de combustível reduziu 15%, visto que a operação de canterização foi
facilitada pelas operações de arranquio e colheita da oleaginosa, as quais promove uma escarificação e
uma distribuição homogênea dos restos culturais na área, respectivamente, conforme ilustra a figura
5.14.
Na figura 5.16 é possível verificar a diferença no consumo de combustível em área de pousio e em
área com o cultivo do amendoim, o que contribuiu ainda mais para a redução de custos no preparo de
solo, conforme demonstrado na tabela 5.3. Nota-se uma redução de R$ 107.894 só no consumo de
combustível em função da área em que foi cultivado o amendoim estar livre de massa vegetal, não
demandando maior potência do trator para a operação de canterização.

Figura 5.14. Área canterizada após a colheita do amendoim.


Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

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51
Figura 5.15. Área canterizada após a colheita do amendoim.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

40 36,21
35 - 15% 30,78
30
25
20
15
10
5,43
5
0
Consumo (L/h) Consumo (L/h) Diferença (L/h)
Área em Pousio Área com Amendoim Redução (L/h)
Figura 5.16. Diferença de consumo de combustível na operação de canterização em área que
estava em pousio e em área que foi cultivada o amendoim.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo e José Vitor Salvi

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52
Tabela 5.3. Redução de custos em função das áreas de cultivo de amendoim estarem isentas de massa
vegetal no momento da canterização.

Consumo de Combustível (L/h)


Consumo nas Áreas em Pousio Consumo nas Áreas com Amendoim Redução
36,21 30,78 5,43

Área Canterizada (ha) Preço do Óleo Diesel (R$/L) Redução de Custos


6.001 R$ 5,96 R$ 107.894

Com uma velocidade de trabalho de 6,0 km/h e a largura efetiva de trabalho do canterizador de 3
metros (2 linhas de 1,50 m por passada), 1 ha de área canterizada demanda 0,56 horas efetivas. Como
foram canterizados 6.001 há, foram necessárias 3.333,89 horas efetivas de canterização. Em cada hora
houve uma economia de 5,43 litros de combustível, representando um total de 18.103 litros. Com um
preço médio de R$ 5,96, o total economizado foi de R$ 107.894 (tabela 5.3).
Nas duas áreas foram utilizados os mesmos tratores, os quais são da marca John Deere e o modelo
7230J, todos com o mesmo ano de fabricação (2021), conforme a figura 5.17. Todas essas máquinas
possuem piloto automático de fábrica, com a utilização de sinal RTK durante a operação de canterização.

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53
Figura 5.17. Modelo de trator utilizado na operação de canterização com piloto automático.
Fonte: John Deere

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54
Um dos grandes problemas do plantio de cana-de-açúcar nos meses de janeiro e fevereiro, além
da menor produtividade da cana-planta, é que as operações são realizadas com o solo úmido, impactando
negativamente na qualidade daquelas. Na figura 5.18 é possível observar a compactação lateral do sulco
de plantio (“espelhamento” ou “vitrificação”), causado pelo excesso de umidade no momento da
sulcação. Por outro lado, quando a sulcação é realizada com a umidade do solo adequada, é possível obter
um excelente sulco, como ilustra a figura 5.19, onde a sulcação foi realizada no mês de abril.

Figura 5.18. Sulcação realizada no mês de fevereiro com excesso de umidade no solo causando a
compactação lateral do sulco de plantio (“espelhamento”).
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

Figura 5.19. Sulcação realizada no mês de abril com umidade ideal no solo.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

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55
5.4. Receita Obtida com o Arrendamento das Áreas de Reforma Para o Plantio de Amendoim

O repasse de áreas de reforma para o plantio de amendoim é uma relação de ganha-ganha, tanto
para as usinas quanto para os produtores da oleaginosa. As usinas reduzem custos com preparo de solo,
mantém as áreas livres de plantas daninhas e ainda se beneficiam dos corretivos e fertilizantes deixados
pelo amendoim. Os produtores não precisam arrendar áreas distantes e negociam um valor de
arrendamento factível com a região de atuação, diminuindo as disputas por áreas para o plantio da
leguminosa, além de não inflacionar os valores de arrendamentos.
A negociação de valores de arrendamento, os insumos e doses a serem utilizados devem ser
discutidos tecnicamente, com cada um fazendo a sua parte dentro dos prazos estipulados, sempre com
planejamento antecipado, resultando em uma relação justa e transparente, além da formalização
contratual para garantir os direitos e deveres de cada uma das partes.
A seguir temos as principais tratativas feitas neste estudo de caso entre a usina e os produtores
de amendoim:
 Liberação das áreas pela usina para o preparo de solo: Agosto e Setembro;
 Responsabilidade da Sistematização (construção de terraços e carreadores): Usina
entregou as áreas sistematizadas nos meses de Agosto e Setembro;
 Insumos: Calcário e Gesso são de responsabilidade da usina. A aplicação desses produtos
foi de responsabilidade dos produtores (doses recomendadas em conjunto com os times
técnicos da usina e produtor);
 Operações de preparo de solo (gradagem, aração, subsolagem), plantio e tratos culturais
do amendoim são de responsabilidade dos produtores;
 Pagamento dos Valores de Arrendamento pelos Produtores: 30 dias após a colheita do
amendoim (depósito bancário na conta da usina).
Com base no que foi discutido nas tratativas entre a usina e os produtores, na tabela 5.5 tem-se
os valores deste estudo de caso com relação à redução de custos de preparo de solo por parte da usina,
caso estas áreas ficassem em pousio. Nesta situação, estas áreas necessitariam de uma dessecação com
glifosato e herbicidas pré-emergentes com residual para controlar por um período maior as plantas
daninhas, uma gradagem pesada, uma gradagem intermediária, além de uma aplicação de calcário e uma
aplicação de gesso para o plantio da cana-de-açúcar. Com o repasse dessas áreas aos produtores de
amendoim, esse custo de R$ 1.149/ha seria economizado pela usina, conforme demonstrado na tabela
5.4.

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56
Tabela 5.4. Redução de custos operacionais no preparo de solo nas áreas de pousio.

Operações de Preparo de Solo nas


Quantidade Custo Unitário (R$/ha) Custo Total (R$/ha)
Áreas de Pousio
Gradagem Pesada 1 R$ 271,00 R$ 271,00
Gradagem Intermediária 1 R$ 198,00 R$ 198,00
Dessecação 1 R$ 460,00 R$ 460,00
(Flumioxazina + lsoxaflutole + Glifosato + Aplicação)

Aplicação de Calcário 1 R$ 110,00 R$ 110,00


Aplicação de Gesso 1 R$ 110,00 R$ 110,00
Total (R$/ha) R$ 1.149
Fonte: autores

Tabela 5.5. Redução de Custos Operacionais no Preparo de Solo das Áreas de Pousio.
Redução de Custos no Preparo de Solo das Áreas em Pousio
Redução de Custos Operacionais (R$/ha) R$ 1.149
Área Destinada ao Plantio de Amendoim (ha) 6.001
Redução de Custo Total R$ 6.895.149
Fonte: autores

Além de reduzir os custos no preparo de solo, conforme demonstrado nas tabelas 5.4 e 5.5, outro
ponto que viabiliza o repasse de áreas aos produtores de amendoim é o custo de arrendamento das áreas.
Dependendo da região, há situações em que os valores de arrendamentos para amendoim ultrapassam
os R$ 2.680/ha, aumentando significativamente os custos de produção da oleaginosa. Uma parceria entre
as usinas e os produtores de amendoim de cada região é muito bem-vinda para garantir áreas de
produção na entressafra e reduzir os custos de preparo de solo para o próximo plantio de cana-de-açúcar,
assim como os custos com arrendamentos nos meses em que as áreas de reforma estão sendo cultivadas
com a cultura do amendoim, como demonstrado na tabela 5.6.

Tabela 5.6. Receita obtida em função do arrendamento das áreas de reforma (75% do total) para o plantio
de amendoim.

Área Arrendada para o Plantio de Amendoim (ha) - 75% da área de reforma 6.001
Preço do Arrendamento (R$/ha) R$ 2.300
Receita Obtida das Áreas Repassadas R$ 13.802.300
Fonte: autores

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57
Na tabela 5.7 está o resumo do resultado financeiro obtido do repasse das áreas de reforma (6.001
ha). Observe que mesmo com o plantio de 2.000 ha de Crotalária juncea, os resultados são extremamente
favoráveis, garantindo ganhos econômicos e agronômicos para as usinas e produtores de amendoim.

Tabela 5.7. Redução de Custos Operacionais e Receita Obtida com o Repasse das Áreas de Reforma para
o Plantio de Amendoim.

Redução de Custos no Preparo de Solo das Áreas em Pousio R$ 6.895.149


Receita Obtida das Áreas Repassadas R$ 13.802.300
Redução da Necessidade de Compra de Cana Spot R$ 7.115.292
Custo de Produção das Plantas de Cobertura R$ 3.908.000
Redução de Custos no Preparo de Solo das Áreas de Pousio
+
Receita de Arrendamento das Áreas Repassadas
+ R$ 23.904.741
Redução da Necessidade de Compra de Cana Spot

Custo de Produção das Plantas de Cobertura
Fonte: autores

Para o cálculo da redução de custos por área (ha), utiliza-se o valor de R$ 23.904.741, dividindo-o
pela área total de reforma (8.001 ha). Esse valor representa R$ 2.988/ha.
Considerando o custo de plantio de R$ 13.200/ha, essa economia de R$ 23.904.741 equivale ao
plantio de 1.811 ha de cana-de-açúcar, o que representa 22,63% da área de reforma da usina.

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58
6. O papel do Centro de Operações Agrícolas (COA) no Monitoramento das
Operações de Preparo de Solo Para o Plantio da Cana-de-Açúcar

6.1. Objetivos do Centro de Operações Agrícolas (COA)

O COA é o local onde as rotinas das operações de campo são monitoradas, independentemente
da cultura (cana-de-açúcar, soja, milho, algodão, café, citros) ou atividade agrícola, conforme ilustra a
figura 6.1. Os profissionais do COA acompanham, tratam e analisam os dados para convertê-los em
indicadores e ações, oferecendo agilidade na transmissão de informações e maior assertividade na
tomada de decisões, sendo um apoio fundamental aos gestores da operação.
O principal objetivo do COA é garantir a maximização da eficiência dos ativos agrícolas, buscando
aumento de produtividade das máquinas e, consequentemente, redução de custos, além de minimizar a
interferência humana nos processos, garantindo confiabilidade das informações. Em outras palavras,
atuar em tempo real na captura dos ganhos sobre as correções das divergências das atividades de campo.

Figura 6.1. Monitoramento das operações agrícolas em tempo real pelas mesas do COA de uma usina
sucroenergética, acompanhando os indicadores de cada atividade em dashboards nas TV’s.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
59
Os centros de operações agrícolas são os principais receptores das informações, as quais são
disponibilizadas por sistemas operacionais que possibilitam visualizar o equipamento e seu estado
operacional em tempo real de uma forma intuitiva, possibilitando uma visão holística de cada operação e
comunicando a todo momento com os gestores. Seus desempenhos são visualizados por operador, turno,
equipamento ou grupos de equipamentos, assim como frotas inteiras de uma maneira simples e objetiva.
O COA é o que proporciona grande parte da sinergia envolvida nas operações. Sua atuação não
robotizada e com autonomia, torna o ambiente propício ao surgimento de ideias e de ganhos operacionais
a cada minuto. Um item importante é que o monitoramento não é responsável pelos números
apresentados, sejam estes de qualquer processo agrícola. Se algum indicador não está condizente com o
planejado, os responsáveis pelos resultados são os gestores da operação. O COA é um facilitador que deve
auxiliar na identificação dos desvios e tratá-los com o objetivo de alcançar maiores níveis de eficiência e
produtividade.
O objetivo da equipe do COA deve ser bem definido, pelo fato de algumas empresas robotizarem
essa área com o acúmulo de relatórios ou outras atividades que não fazem sentido e que não agregam
absolutamente nada ao processo de monitoramento das operações agrícolas. O primeiro passo é inserir
um conceito de essência na área, tornando-a robusta e com o escopo de atuação bem definido. O COA
não está apenas para ver equipamentos em telas de computadores ou televisores e gerar relatórios sem
foco, mas sim, aumentar a cooperação no campo, diminuir os desvios e aumentar o tempo produtivo dos
equipamentos. As melhores oportunidades estão quando ocorrem as irregularidades e o monitoramento
em tempo real vai diretamente ao encontro desses fatos.
A base de um COA eficiente e cooperativo é influenciado pela equipe e a sua maneira de tratar as
pessoas. O respeito é o pilar fundamental para fortalecer a sinergia entre o campo e o monitoramento. A
coerência está em repassar a informação de forma clara e precisa, evitando ruídos de comunicação entre
as pessoas envolvidas. A atitude é buscar sempre as irregularidades e apoiar os gestores de campo na
resolução delas. O ponto-chave é a cooperação entre as equipes. Sem o engajamento destas, a chance
de iniciar uma “queda de braços” é muito alta, prejudicando todos os processos ligados ao COA. É
necessário ter persistência e não desistir da irregularidade identificada ou de algum suporte de campo
que ainda não realizado. Desta forma, o COA se perpetuará como engrenagem essencial para atender as
operações agrícolas na busca pela disciplina e excelência operacional.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
60
A comunicação do COA com as equipes de campo é ponto principal dentro do processo agrícola.
Além de monitorar e compartilhar informações relevantes aos líderes e gestores de campo, o COA deve
apoiá-los na elaboração de planos de ação para a correção dos desvios identificados em cada parte do
processo. Uma falha não tratada tornar-se-á uma falha recorrente.
Aliado à essa interação e integração dos times, o monitoramento em tempo real foi o divisor de
águas no atingimento das metas estabelecidas. Na figura 6.2 tem-se o fluxo de trabalho dos analistas de
COA, com foco no monitoramento online, onde trabalha-se com a “visão do para-brisa”, ou seja, sempre
atuando na correção dos desvios e evitando que estes possam impactar negativamente nos indicadores
planejados. Quando o trabalho é realizado de forma offline, os dados são trabalhados de forma tardia,
tendo a “visão do retrovisor”, ou seja, de algo que já passou, em outras palavras, “o leite já ferveu e
derramou no fogão”.

Figura 6.2. Gestão dos dados do COA.


Fonte: autores

6.2. Monitoramento das Operações

Independentemente da quantidade de equipamentos que uma empresa agrícola tenha, sempre


se faz necessário monitorar suas atividades, pois haverá oportunidades de melhorias nas operações e
processos, impactando diretamente nos custos.
As padronizações de indicadores operacionais de cada operação podem gerar redução de
consumo de combustível e melhoria da qualidade das atividades, principalmente nas operações de
preparo de solo, semeadura de grãos, plantio de cana-de-açúcar e pulverizações, seja com pulverizador
de arrasto ou autopropelido. Na figura 6.3 tem-se o exemplo da plataforma de monitoramento e gestão

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
61
da operação de preparo de solo (gradagem intermediária) em área de reforma de cana-de-açúcar para a
semeadura do amendoim. Independentemente do fabricante e da plataforma de monitoramento das
máquinas e equipamentos, o foco deve ser no aumento das horas produtivas e dos indicadores de
qualidade das operações. Sempre haverá oportunidades de reduzir paradas desnecessárias e de
padronizar pontos da operação (velocidade, RPM, utilização de tecnologias nativas das máquinas).

Figura 6.3. Plataforma de monitoramento online da John Deere.


Fonte: John Deere – Operations Center

6.2.1. Monitoramento Integrado da Velocidade, Rotação do Motor (RPM) e Consumo de Combustível

A figura 6.4 mostra o mapa de velocidade da operação de canterização antes da padronização da


faixa de velocidade de trabalho, que neste caso foi de 4,0 a 6,0 km/h. É possível observar que apenas
21,10% da área foi realizada nesta faixa de velocidade. Abaixo de 4,0 km/h, a operação de canterização
realizou 4,06% da área. Acima de 6,0 km/h foi realizado 74,82% da área, impactando negativamente na
qualidade do preparo de solo. Aproximadamente 79% da área foi canterizada fora da faixa ideal de
velocidade.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
62
Figura 6.4. Mapa de velocidade da operação de canterização antes da padronização da faixa de
velocidade de trabalho.
Fonte: SGPA Solinftec

Outro ponto de atenção no monitoramento das operações de preparo de solo é a rotação máxima
do motor (RPM), a qual deve ser padronizada em função da potência do trator utilizado na operação,
profundidade do preparo e incorporação de restos de culturas (palhada), principalmente se o preparo for
realizado em áreas de pousio, as quais apresentam maior massa vegetal em superfície, diferentemente
das áreas cultivadas com amendoim, que ficam totalmente livre de plantas daninhas e de restos vegetais.
Na figura 6.5 é possível observar que 34,21% da área foi preparada com o RPM acima de 1.950,
quando o recomendado para esta condição específica está situado na faixa de 1.800 a 1.950 rpm. Nesta

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
63
situação, houve um aumento desnecessário do consumo de combustível, acarretando um aumento de
custos operacionais.

Figura 6.5. Mapa de RPM da operação de canterização antes da padronização e utilização do Field
Cruiser.
Fonte: SGPA Solinftec

Quando o Centro de Operações Agrícolas (COA) inicia o monitoramento em tempo real da


operação de canterização, alinhando as metas e indicadores com o time de gestão operacional, há um
ganho significativo de qualidade, conforme ilustra as figuras 6.6 e 6.7. É possível verificar que 76% da área
foi canterizada dentro da faixa ideal de velocidade (4,0 a 6,0 km/h). Fora da faixa ideal tem -se 13,62%
(abaixo de 4,0 km/h) e 10,19% (acima de 6,0 km/h).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
64
Figura 6.6. Mapa de velocidade da operação de canterização após a padronização da faixa de
velocidade de trabalho.
Fonte: SGPA Solinftec

Figura 6.7. Comparativo de RPM antes da padronização (a) e após a padronização (b).
Fonte: SGPA Solinftec

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
65
A padronização da rotação do motor (RPM) só foi possível em função de uma tecnologia do trator
John Deere chamada de FieldCruise™, o qual é um sistema de controle da rotação máxima do motor. Este
sistema permite a inserção de um limite de rotação máxima do motor, com o objetivo de gerar economia
de combustível em tarefas de cargas baixas e médias, onde a potência total do motor não é necessária.
Nesta situação é possível definir um limite para o valor da rotação desejada e bloquear o acesso do
operador, para que essa configuração não seja alterada (figura 6.8).

Figura 6.8. Tela de acesso à configuração da rotação máxima do motor do trator.


Fonte: John Deere

Nas figuras 6.9 e 6.10 observa-se que 85,47% da área foi canterizada dentro da faixa ideal de RPM
do motor devido à utilização do FieldCruise™ e do monitoramento em tempo real do COA na operação
de canterização.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
66
Figura 6.9. Mapa de RPM da operação de canterização após a padronização e utilização do Field
Cruiser.
Fonte: Solinftec

Figura 6.10. Comparativo de RPM antes da padronização (a) e após a padronização (b).
Fonte: SGPA Solinftec

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
67
A utilização da tecnologia FieldCruise™ aliada ao monitoramento em tempo real permitiu a
padronização da velocidade de trabalho (figura 6.10) e do RPM na operação de canterização, garantindo
a qualidade e a redução do consumo de combustível, conforme ilustra a figura 6.11.

Figura 6.11. Percentual da velocidade de canterização na faixa ideal de trabalho sem e com o
monitoramento online.
Fonte: autores

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
68
Figura 6.12. Percentual de RPM da operação de canterização na faixa ideal de trabalho sem e com
o monitoramento online.
Fonte: autores

A figura 6.12 apresenta o resumo dos indicadores operacionais em forma de BI, evidenciando o
consumo de combustível da operação de canterização, assim como as faixas de velocidade de trabalho e
RPM do motor.

Figura 6.12. Relatórios de valores de velocidade da operação de canterização, RPM e consumo de


combustível.
Fonte: SGPA Solinftec

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
69
O monitoramento do RPM também auxilia no acompanhamento do consumo de combustível,
indicador de relevância para as operações mecanizadas, devido ao aumento do custo de aquisição e de
sua participação no custo da operação, figura 6.13.
A partir do ano de 2020, o valor do preço do diesel mudou de patamar, saindo da média anual de
R$ 3,42 por litro em 2020 para uma média anual de R$ 6,58 por litro no ano de 2022 (figura 6.13a),
causando impacto no custo das operações mecanizadas, já que a participação no custo horário pode variar
de 20 a 40% (Figura 6.13b).

(b) Participação dos componentes do custo


(a) Evolução do preço do diesel (2013-2022)
horário de um trator e subsolador
Figura 6.13. Evolução do preço do diesel no Brasil (a); Participação dos componentes do custo horário
de trator e subsolador (b)
Fonte: ANP (2023) (a); ASABE (2011) (b)

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
70
Existe uma correlação positiva entre o RPM do motor e o consumo de combustível (L/h), em que
quanto maior o RPM, maior o consumo de combustível. A Figura 6.14 mostra esta relação para um
conjunto trator e subsolador. Para este exemplo, considerando uma faixa de RPM para esta operação
entre 1800 e 2000 RPM, o consumo pode oscilar ente 27,4 a 32,9 L/h. Caso a operação seja realizada a
2.100 RPM, ou seja, 100 RPM (ou 5%) a mais que o limite superior, o consumo aumenta em 2,7 L/h (ou
8,4%), chegando a 35,7 L/h). Nas plataformas de monitoramento é possível colocar alarmes com os limites
de RPM para a operação, sendo acionados quando a operação é realizada fora dos limites padronizados,
para o posterior ajuste do operador.

45,0
Consumo de Combustível (trabalhando) (L/h)

40,0
35,78 L/h
35,0 32,99 L/h

30,0 27,41 L/h

25,0

20,0

15,0

10,0
y = 0,0279x - 22,81
5,0 R² = 0,6519
1800 RPM 2100 RPM
0,0
0,0 500,0 1.000,0 1.500,0 2.000,0 2.500,0
RPM Motor (trabalhando)

Figura 6.14. Relação entre RPM do motor de um trator de 220 cv com o consumo de combustível (L/h)
no estado operacional de trabalho.
Fonte: autores

A evolução dos resultados de padronização de velocidade e RPM da operação de canterização só


foi possível com o alinhamento entre os times do COA (analistas, líderes e coordenador) e do preparo de
solo (operadores, líderes e coordenador), estabelecendo de forma conjunta as metas e os indicadores
planejados (velocidade de trabalho, rotação máxima do motor, horas efetivas, disponibilidade mecânica,
utilização de piloto automático).

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
71
6.2.2. Monitoramento do Tempo Efetivo

Para o projeto do estudo de caso deste livro, a canterização foi realizada entre fevereiro e março
nas áreas com plantas de cobertura e entre março a junho nas áreas que estavam com amendoim, figura
6.15, totalizando 8.043 hectares em 133 dias. Para tal, são destinados 6 conjuntos trator e canterizador e
um tempo efetivo de 7,5 horas por dia. O monitoramento online do tempo efetivo é crucial para cumprir
estes objetivos e não atrasar a operação subsequente, que é o plantio da cana-de-açúcar.

Figura 6.15. Cronograma das operações com destaque para a canterização


Fonte: autores

Por meio de uma simulação, observa-se na Figura 6.16a que é possível realizar a canterização em
sua totalidade com o número de máquinas existentes e o tempo efetivo planejado. Porém, caso o tempo
efetivo seja reduzido para 6,0 horas (20% a menos que o planejado), a área total realizada no período é
reduzida para 6.435 ha, faltando 1.608 ha para a canterização (25% a menos do total planejado). Nestas
condições, para cumprir a totalidade da área do projeto, serão necessários 24,8 dias a mais para realizar
a operação, atrasando o plantio.

(b) Impacto do atraso em dias com a redução do


(a) Área realizada pelo tempo efetivo
tempo efetivo
Figura 6.16. Área realizada de canterização pelo tempo efetivo (a) e impacto do atraso em dias com a
redução do tempo efetivo (b)
Fonte: autores

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
72
Considerando a manutenção do prazo de 133 dias, de fevereiro a junho para realizar a
canterização, e se o tempo efetivo é reduzido de 7,5 para 6,0 horas (redução de 20%), serão necessários
2,0 conjuntos a mais de trator e canterizador para atender este objetivo, conforme a figura 6.16ª. Este
aumento de máquinas acarreta um acréscimo do custo operacional em 25%, evidenciado na figura 6.17b.

(a) Impacto no número de máquinas (unidades) (b) Impacto no custo operacional (R$/ha)

Figura 6.17. Impacto no número de máquinas com a variação do tempo efetivo (a) e impacto do custo
operacional com a variação do tempo efetivo (b)
Fonte: autores

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
73
6.2.3. Planejado versus Realizado

Como observado no item anterior, é de suma importância monitorar em tempo real as operações
para atingir os objetivos do planejamento. Para tal, é possível contruir telas com os indicadores para o
acompanhamento diário do desempenho da operação, conforme ilustrado na figura 6.18

Figura 6.18. Tela de monitoramento diário do desempenho da operação de canterização


Fonte: autores

Por meio dos dados do monitoramento, foram elaborados as Tabelas 6.1. e 6.2. que mostram o
planejado e o realizado da operação.

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
74
Tabela 6.1. Planejamento operacional do preparo de solo, atendendo o melhor período para o plantio da
cana-de-açúcar com foco em produtividade.

PREPARO DE SOLO - CANTERIZAÇÃO


Mês Fevereiro Março Abril Maio Junho Total
Dias Corridos 28 31 30 31 13 133
Aproveitamento de Tempo 48% 70% 80% 90% 90% 74%
Dias Efetivos 13,47 21,70 24,00 27,90 11,70 98,77
Horas Efetivas de Preparo (h/dia) 7,50 7,50 7,50 7,50 7,50 7,50
Velocidade de Canterização (km/h) 6,00 6,00 6,00 6,00 6,00 6,00
Número de Fileiras por Passada 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00
Área Preparada por Canterizador
13,50 13,50 13,50 13,50 13,50 13,50
(ha/dia)
Área Preparada Total (ha/dia) 81,00 81,00 81,00 81,00 81,00 81,00
Quantidade de Canterizadores 6 6 6 6 6 6
Capacidade de Canterização (ha) 1.091 1.758 1.944 2.260 948 8.000
Fonte: autores

Tabela 6.2. Áreas Planejadas x Áreas Realizadas

Área Planejada Área Acumulada Área Realizada Área Acumulada


Mês Diferença (ha)
(ha) Planejada (ha) (ha) Realizada (ha)
Fevereiro 1.091 1.091 950 950 -141
Março 1.758 2.849 1.623 2.573 -276
Abril 1.944 4.793 1.967 4.540 -253
Maio 2.260 7.053 2.518 7.058 5
Junho 948 8.001 943 8.001 0
Fonte: autores

Neste projeto, o acompanhamento diário da área a ser canterizada foi realizado pela “curva S” da
operação, a qual mostra o resultado acumulado do início ao fim das atividades de um projeto. É utilizada
para avaliar se as atividades estão indo conforme o planejamento, mostrando de forma visual se a curva
da situação real está acima, abaixo ou sobreposta a situação planejada, conforme ilustra o gráfico da
figura 6.19.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
75
2.600 8.500
2.518
2.500
8.001 8.000

2.400
7.500
8.001
2.300 2.260
7.058 7.000
2.200

2.100 7.053 6.500

2.000 1.967
1.944 6.000

1.900
5.500
1.800 1.758
5.000
1.700
1.623
4.540 4.500
1.600
4.793
1.500 4.000

1.400
3.500
1.300
3.000
1.200

1.091 2.573
2.500
1.100
2.849
1.000 950 2.000
948 943

900
1.500

800
950 1.000
700
1.091
500
600

500 0
Fevereiro Março Abril Maio Junho

Área Planejada (ha) Área Realizada (ha) Área Acumulada Planejada (ha) Área Acumulada Realizada (ha)

Figura 6.19. Gráfico de comparativo da área planejada com a área realizada acompanhado da
“curva S”
Fonte: autores

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
76
6.2.4. Monitoramentos das Máquinas Utilizadas na Sistematização (Linha Amarela)

No mesmo conceito de trabalho da operação de canterização, o monitoramento online das


máquinas utilizadas na sistematização (motoniveladora e pá-carregadora – figura 6.20) foi essencial para
que a sistematização das áreas de reforma fosse realizada dentro do cronograma estabelecido no
planejamento da rotação de culturas. O acompanhamento em tempo real (figura 6.21 e 6.22) garantiu
um aumento do tempo produtivo dessas máquinas, conforme ilustram as figuras 6.23 e 6.24.

Figura 6.20 Máquinas trabalhando na sistematização das áreas para o plantio de amendoim.
Fonte: Luís Ricardo Bérgamo e PerFor Máquinas.

Figura 6.21. Monitoramento online dos equipamentos de linha amarela (motoniveladora, pá-
carregadora, retroescavadora).
Fonte: SGPA Solinftec

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
77
Figura 6.22. Mapas analíticos das operações de construção de terraços e construção de carreadores.
Fonte: SGPA Solinftec

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
78
Figura 6.23. Tempos produtivos e improdutivos da motoniveladora 620G da John Deere, utilizada na
terraplanagem.
Fonte: Solinftec

Na operação de conservação de carreadores é possível observar que a motoniveladora trabalhou


14,92 horas, de um total de 24 horas do dia. Já a pá-carregadora trabalhou na operação de sistematização
(construção de terraços) um total de 16,30 horas, de um total de 24 horas do dia. Esses tempos produtivos
só foram possíveis de serem atingidos com um trabalho efetivo de monitoramento em tempo real pelo
COA, com metas claras e alinhamento dos times da operação.

Figura 6.24. Tempos produtivos e improdutivos da pá-carregadora 524K-II da John Deere.


Fonte: Solinftec (2022)

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
79
7. Gestão de Pessoas, Processos e Tecnologias
Pessoas, Processos e Tecnologias (PPT) formam os componentes que asseguram o bom
funcionamento e o sucesso do Centro de Operações Agrícolas, garantindo performance operacional e o
atingimento das metas e objetivos estabelecidos pela empresa (figura 7.1). As pessoas são o mais
importante e merecem toda a atenção. Não é possível esperar que uma empresa funcione sem primeiro
treinar e capacitar as pessoas. A diferença entre uma empresa bem-sucedida e uma em dificuldades é a
presença das pessoas certas, com a mentalidade certa e trabalhando de forma conjunta e integradas
(VIMAN, 2022). É preciso treinar e capacitar as pessoas para que se integrem e compreendam
plenamente os processos, buscando sua melhoria contínua e fazendo uso das tecnologias disponíveis da
maneira mais inteligente possível. E tudo isso só é possível quando a liderança da empresa entende que
sem o time da base engajado e motivado não é possível entregar resultados, por isso, treiná-los e capacitá-
los é uma das atitudes mais inteligentes de um líder. Este está para servir ao time, apoiando e contribuindo
para a construção de um ambiente de trabalho saudável, com boa convivência e harmonia entre os
profissionais, sendo reconhecido em liderar pelo exemplo, não ficando apenas no discurso com palavras
bonitas e vazias.
Quando um líder não demonstra carisma, empatia e competência (técnica e gerencial) para
assumir uma posição de gestor, apresentando comportamentos e atitudes inadequadas ao cargo que
ocupa, todos perdem. A empresa, por não ter uma equipe dedicada e motivada e os próprios
colaboradores que tendem a não se sentirem encorajados para fazer o seu melhor, o que contribui para
um ambiente de baixa produtividade e de pouca cooperação entre os times. Um gestor inteligente e
eficaz buscará atingir seus objetivos muito mais pelo papel de líder do que por uma gestão baseada no
medo (MENDES, 2021). É fundamental o líder criar a segurança psicológica no time, que corresponde à
construção de um ambiente de trabalho colaborativo e receptivo que estimula as pessoas a serem elas
mesmas. Isso promove o compartilhamento de ideias, dúvidas e perspectivas sem que haja o medo de
sofrer alguma forma de exposição ou julgamento, extinguindo o sentimento de medo (OSÓRIO, 2023). Os
colaboradores devem sentir-se seguros para expressarem suas opiniões, independentemente se é a
mesma de seus superiores. Só assim será possível criar um ambiente saudável para o crescimento da
empresa, onde as pessoas sintam-se parte dos resultados e não apenas elementos que foram utilizados
para gerarem os resultados. É o conhecido sentimento de pertencimento, onde os profissionais sentem-
se parte da empresa e busquem sempre fazer o seu melhor.
Para o sucesso de uma empresa não é permitido gerir as pessoas como no século passado, sendo
necessário direcionar tempo e energia para rever políticas que não combinam com essa nova dinâmica,

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
80
onde a tecnologia está cada vez mais presente nas atividades empresariais. O líder de hoje não fica com
o mesmo time por muito tempo. Ele favorece os movimentos internos, apoiando o crescimento de seus
colaboradores dentro da empresa. A capacidade de lidar com a diversidade de interesses das pessoas e
não impor seu modelo ou definir o que é melhor para os outros é uma das dimensões do líder
contemporâneo (VALOR ECONÔMICO, 2023).
Um ambiente que cria condições que desafiam as pessoas de maneira saudável estimula o trabalho
em equipe, gera envolvimento e aumenta ainda mais o empenho do time em fazer suas atividades de
maneira cada vez melhor. Saber dar destaque às pessoas leva a empresa a resultados efetivos e cria
fidelidade aos que participam do processo.
Segundo BRANDÃO (2017), as pessoas precisam conhecer os processos, tanto para desempenhá-
los adequadamente e executá-los, quanto para poder melhorá-los continuamente. Da mesma forma,
precisam escolher as tecnologias adequadas para dar suporte a isso. Pessoas são responsáveis por
tornarem o planejamento uma realidade. Não existe estratégia que não dependa de pessoas capacitadas
e motivadas. Quando os processos e as tecnologias falham, pessoas ainda são capazes de contornar
adversidades e garantir que tudo será realizado de acordo com o que foi planejado. É mais fácil investir
no treinamento de um colaborador com uma boa atitude, do que ensinar atitude para um profissional
já capacitado. A atitude dos colaboradores é a base para que o COA seja ativo e funcional. Sem essa
característica, haverá grandes chances de se ter uma central de relatórios, onde a gestão ficará discutindo
o que já passou, o que já aconteceu, quando na verdade, o que realmente importa e faz toda a diferença,
é a gestão online, em tempo real, discutindo e melhorando o que está acontecendo agora.
Sem pessoas qualificadas e com metas claras, fica extremamente complicado obter resultados
positivos e melhoria na eficiência dos processos operacionais. A implementação de metodologias de
análises na rotina do COA são fundamentais para o pleno funcionamento e entregas dos resultados.
Resumindo, o COA precisa de infraestrutura adequada, soluções bem implementadas e conhecidas pelos
seus integrantes, pessoas treinadas e capacitadas e com metodologias de análises de rotina e planos de
ação de melhorias. Esses pilares são fundamentais para que o COA possa maximizar os resultados e
reduzir os custos operacionais.
Só é possível integrar processos e operações agrícolas com tecnologias se as pessoas estiveram
envolvidas, motivadas, com conhecimento e capacitadas para desenvolver suas atividades. Caso
contrário, teremos máquinas e equipamentos com muitos recursos tecnológicos subutilizados,
impactando nos custos operacionais pela baixa utilização, tornando-se um problema ao invés de ser uma
solução.

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
81
Figura 7.1. Tripé de sucesso do COA.
Fonte: autores

Na figura 7.2 é possível perceber que um aspecto não consegue ser útil sem o outro, e por isso, as
empresas devem continuamente trabalhar para manter esses pilares em harmonia. Pode-se ter o
processo mais bem desenhado e o apoio da melhor tecnologia, porém, sem as pessoas certas teremos
uma alienação do sistema, acarretando subutilização e consequentemente, a rotatividade de mão-de-
obra. Quando há pessoas certas e tecnologia, mas não tem o processo bem definido, cria-se o caos
automatizado, acarretando baixa qualidade das atividades. Por último, pode-se ter pessoas certas e
processos bem definidos, mas se não há tecnologia, pode-se gerar um sentimento de ineficiência, gerando
desmotivação nas pessoas e, consequentemente, aumentando o custo operacional. Uma tecnologia é tão
boa quanto os processos que orientam a sua utilização. Sem um processo definido, a melhor tecnologia
disponível terá seu potencial reduzido, o que pode implicar em custos desnecessários à empresa.
Um ponto importante é deixar claro às pessoas como as ferramentas e as tecnologias que estão
utilizando podem afetar seu trabalho. A tendência é que a tecnologia torne as coisas mais fáceis e rápidas,
mas para que isso aconteça é indispensável que o conhecimento em cada tecnologia utilizada, assim como
o que cada uma delas pode entregar em cada parte do processo em questão. Não adianta só olhar para a
tecnologia sem olhar para as pessoas. A transformação tecnológica não vai acontecer sem a participação
das pessoas.
O foco de qualquer empresa é buscar o ponto ótimo, onde há um equilíbrio entre pessoas,
processos e tecnologias, criando um ambiente de favorável e com foco em resultados consistentes e

Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
82
sustentáveis, onde o crescimento e a melhoria contínua fazem parte da rotina de cada colaborador,
garantindo assim um aumento da eficiência e da qualidade das operações e, consequentemente, redução
de custos.

Figura 7.2. Integração de Pessoas, Processos e Tecnologias.


Fonte: Minuto da Segurança da Informação.

Como discutido ao longo deste capítulo, as pessoas sempre serão o ponto central de uma empresa.
Processos e tecnologias não substituirão as relações humanas, as quais devem ser o ponto de atenção de
todo líder. Uma boa equipe é o resultado de uma boa liderança. O dever do líder é supervisionar,
subsidiar, apoiar, empoderar e incentivar a sua equipe, além de ser o responsável por formar seu sucessor.
Para a realidade do COA, algumas considerações são muito importantes quanto à missão do líder
nessa área tão estratégica para as organizações: planejar, treinar, controlar, atuar e resultados esperados:

1) PLANEJAR:
O líder deve estar alinhado com seus superiores sobre quais são as metas definidas para o dia,
semana, mês e safra de cada processo e operação agrícola. Todas essas informações devem ser
compartilhadas com o time do COA.

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Com isso, deve atuar nos seguintes itens:
 Verificar a disponibilidade de mão-de-obra, ferramentas e equipamentos necessários para
realizar as atividades planejadas;
 Planejar as atividades diárias de cada mesa de trabalho, distribuindo as atividades e tarefas
e apoiando o time nas dúvidas que surgirem;
 Planejar melhorias: Verificar e discutir com o time o que pode ser feito para melhorar a
eficiência, qualidade e segurança das operações, eliminando as atividades que não
agregam valor à empresa;
 Organizar o setor: Layout, equipamentos, limpeza e organização do local de trabalho;
 Planejar treinamentos: Verificar a necessidade de treinamentos para que os colaboradores
possam melhorar o seu desempenho, buscando conhecimento e agregando valor nas
atividades realizadas pelo time.

2) TREINAR:
 Treinar o time sobre as normas e procedimentos da empresa;
 Orientar o time sobre a melhor forma de realizar as atividades, ouvindo ativamente a
sugestão de seus liderados, construindo uma rotina com a participação e envolvimento de
todos;
 Manter a disciplina e o respeito no ambiente de trabalho;
 Zelar pela segurança de todos, através de DDS e da conscientização dos riscos e perigos de
cada atividade e como preveni-los de maneira a evitar qualquer tipo de acidente na
empresa.

3) CONTROLAR:
 Verificar se as metas planejadas estão sendo atingidas e atuar nos desvios (caso esses
estejam acontecendo);
 Verificar se os procedimentos técnicos e de segurança estão sendo cumpridos pelas
equipes;
 Verificar se os custos do setor (salários, materiais de consumo, horas extras) estão
ocorrendo dentro do planejado.

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4) ATUAR:
 Atuar nos desvios e problemas que estão atrapalhando atingir as metas planejadas,
identificando os pontos e as oportunidades de melhoria;
 Interagir com outros setores da empresa, buscando ou dando apoio, colaborando para que
as metas sejam cumpridas;
 Incentivar o time a sugerir e promover melhorias das condições de trabalho, visando
aumentar a produtividade.

5) RESULTADOS ESPERADOS:
 Metas atingidas de forma consistente e sustentável;
 Time sempre atualizado e motivado;
 Custos realizados iguais ou menores que o planejado (orçamento);
 Ambiente de trabalho limpo, organizado e com um clima saudável.

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Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
85
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Renovação de Cana-de-Açúcar com o Cultivo de Amendoim


Estratégias de Planejamento e Monitoramento das Operações
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Na cultura de cana-de-açúcar, após o último corte, ainda é comum encontrar áreas em pousio
(sem cultivo agrícola) por algum período, antes de realizar o preparo do solo e o plantio.
Com esta prática, geralmente utiliza-se uma janela de plantio longa (de janeiro a julho), o
que resulta em uma menor produtividade para a região Oeste do Estado de São Paulo,
especificamente para a região da Alta Paulista.
Este livro mostra a estratégia de utilizar a área de pousio para o cultivo do amendoim, e os
capítulos mostram que é possível obter um menor custo de preparo do solo e a área livre de
plantas daninhas, além de adicionar os ganhos com a receita do arrendamento dessas áreas.
Os capítulos finais mostram que, mesmo com a janela de plantio de cana inferior em
comparação às áreas de pousio, consegue-se realizar as operações necessárias com
eficiência, qualidade e custo reduzido utilizando as técnicas de planejamento e
monitoramento online proposta neste livro.
Com isso, a proposta do livro é fazer com que o leitor reflita sobre a importância de
considerar a rotação de cultura e o monitoramento das operações durante o planejamento do
preparo e do plantio de cana-de-açúcar e que o monitoramento seja realizado com o objetivo
de atender as demandas operacionais.

ESA Agritech | Pompeia-SP


Luís Ricardo Bérgamo
José Vitor Salvi
linkedin.com/esaagritech

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