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As Relíquias sagradas

Relíquia vem do latim: "reliquiae" que significa


“restos”, ou ainda “relinquere” que significa
"deixar". Trata-se em qualquer forma de restos
mortais de santos ou de algum objeto que lhe
pertenceu em vida. Relíquia tem também o
sentido de coisa preciosa, rara. Para nós o valor
das relíquias de um santo está ligado à
intercessão dele junto a Deus por nós.

As sagradas relíquias são uma marca distintiva do catolicismo.


Esperaríamos ver os ossos de algum antigo mártir expostos em uma igreja
evangélica local? Para a maioria dos que não são católicos, as sagradas relíquias
são simplesmente estranhas. Infelizmente, mesmo entre os católicos, a
veneração das sagradas relíquias muitas vezes é considerada uma prática
“antiquada” — uma reminiscência quase supersticiosa da “idade das trevas”.

Porém, as sagradas relíquias são parte de nossa fé desde o início. São


vínculos físicos com o sagrado. Entre elas, estão o corpo e os ossos de
santos, bem como itens que pertenceram a eles ou foram tocados por eles. As
relíquias permitem que nos conectemos àquelas pessoas santas que nos
precederam, e que mergulhemos de forma mais profunda no mistério de suas
vidas, tão semelhantes à de Cristo.

As sagradas relíquias são vínculos físicos com o sagrado e fazem parte


de nossa fé desde o início. Provavelmente, ninguém fez mais para promover
a veneração das relíquias sagradas do que Santa Helena, mãe do Imperador
Constantino. Ele conquistou o Império Romano sob o signo da Cruz e queria
que sua mãe encontrasse a Vera Cruz — a maior relíquia da fé cristã —, a fim de
que ela pudesse ser cultuada e venerada por toda a Igreja. Em sua busca pela
mais preciosa das relíquias, Helena viajou, então, para Jerusalém.
Ela começou perguntando aos moradores de Jerusalém se alguém sabia onde
poderia estar a Cruz, mas ninguém tinha informação precisa sobre isso.
Finalmente um judeu lhe disse que, segundo a crença local, a Cruz
possivelmente estaria debaixo do templo de Vênus. Helena pediu que o templo
fosse destruído (sem nenhum diálogo inter-religioso) e começou uma escavação.
Três cruzes foram descobertas.
Mas qual era de fato a Cruz de Nosso Senhor? O bispo de Jerusalém viu um
cortejo fúnebre nas redondezas e ordenou que o cadáver fosse levado até ele. O
corpo do defunto foi colocado sobre cada uma das cruzes e, quando depositado
sobre a Vera Cruz, o homem ressuscitou. Fôra encontrado o instrumento da
nossa salvação!

O judeu que falou com Helena pela primeira vez sobre o local da Cruz se
converteu ao cristianismo e depois acabou se tornando bispo de Jerusalém.

Tomada de alegria, Helena deu início à missão de construir igrejas nos locais em
que ocorreram os eventos da vida de Nosso Senhor e Nossa Senhora. Ela havia
entendido o quanto aqueles lugares e as sagradas relíquias eram importantes
para a fé, pois eles proclamam duas verdades importantes: primeiro, que o
cristianismo não é um mito; segundo, que o cristianismo é
fundamentalmente “encarnacional”.

O amor da Igreja Católica por essas relíquias e lugares santos nos recorda que
nossa religião teve origem num tempo e local específicos. Não cremos em
deuses que supostamente existiram em outra “dimensão”. Não, nós cremos
num Deus que andou pelas ruas de Nazaré, no Império Romano, no
início do século I. Hoje, podemos percorrer os mesmos locais e pisar a
mesma terra. Uma religião que faz uma declaração tão audaciosa confia naquilo
em que acredita, pois sabe que essa crença pode ser verificada, diferentemente
das alegações da mitologia.

As relíquias e os lugares sagrados também nos recordam que o catolicismo


é encarnacional. Deus se fez carne, algo que eleva a matéria a um novo
patamar. Além disso, cada um de nós é composto de alma e corpo. Este não é
um simples reservatório para a alma, mas uma parte verdadeira de nossa
natureza humana, isto é, daquilo que somos. Portanto, as relíquias dos
santos apontam para o verdadeiro santo, não apenas para alguma
memória. Elas nos põem em contato de um modo muito real com aquele santo
e sua santidade. Também nos ensinam que devemos tratar nossos corpos de
modo santo, e que devemos usá-los para nos aproximar de Cristo e nos tornar
santos nós mesmos.

Santa Helena teve um profundo desejo de apresentar os aspectos físicos de


nossa fé por meio da veneração das relíquias e dos lugares santos. Talvez não
sejamos capazes de fazer uma peregrinação até a Terra Santa, mas sabemos que
a existência desses lugares e dessas relíquias dão testemunho da realidade
encarnacional de nossa fé.
 Diferentes Graus?

De fato, existem relíquias de diferentes graus:

 de 1º grau: partes do corpo (ossos, cabelo, sangue etc.);


 de 2º grau: objetos de uso pessoal do santo (roupas, terços,
crucifixos etc.);
 de 3º grau: objetos que apenas eventualmente tocaram o corpo
do santo (lenços, pedaços de tecido etc.).

Deus realizava milagres extraordinários pelas


mãos de Paulo, a tal ponto que pegavam em lenços
e aventais usados por Paulo para os colocar
sobre os doentes, e estes eram libertados das
suas doenças e os espíritos maus eram afastados
(At 19, 11s).

Eis o fundamento das chamadas relíquias de segunda classe. As


de primeira classe são os restos mortais propriamente ditos, ao passo que
os objetos que estiveram em contato com o santo são as de segunda classe. Há
quem fale de relíquias de terceira classe. Contudo, essas poderiam ser
chamadas, mais adequadamente, de “lembranças”, por tratar-se de objetos que
tocaram o túmulo do santo. Seja como for, não há dúvida de que Deus pode
servir-se de qualquer coisa para operar milagres. É evidente, por outro lado, que
não é o corpo do santo, em si mesmo, que realiza o milagre — afirmá-lo seria um
absurdo teológico e, quiçá, uma forma de “pensamento mágico” —, senão que é
algo por ocasião do qual Deus pode e quer realizar prodígios.

A Igreja Católica, não obstante as acusações em contrário, sempre valorizou o


corpo humano. A adoração do santíssimo corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo e
o sacramento do sagrado Matrimônio, entre outros exemplos, mostram que ela
sempre defendeu o valor do corpo. No Concílio de Trento, os padres conciliares
aprovaram um decreto sobre a invocação, a veneração e as relíquias dos santos e
sobre as imagens sagradas, de 3 de dezembro de 1563. Nele, lê-se o seguinte:

Devem ser venerados pelos fiéis os santos corpos dos santos


mártires e dos outros que vivem com Cristo, corpos
que foram membros vivos do mesmo Cristo e templo do
Espírito Santo, que por ele devem ser ressuscitados para a
vida eterna e glorificados e pelos quais Deus concede aos
homens muitos benefícios. Por isso, os que afirmam que às
relíquias dos santos não se deve veneração nem honra, ou
que inutilmente os fiéis as honram como também a outros
monumentos sagrados, e que em vão frequentam as
memórias dos santos para obter o seu auxílio, todos devem
ser absolutamente condenados como já outrora a Igreja os
condenou e também agora os condena (DH 1822).

Os corpos ressuscitarão, e é justamente porque serão divinizados que, hoje, os


corpos dos santos podem servir de instrumentos de Deus na distribuição aos
homens de suas graças e favores. Além disso, os corpos dos santos que serviram
a Nosso Senhor são para Deus como que lembranças belíssimas do amor em
que eles se consumiram, em penitências e boas obras: são corpos de pessoas que
se doaram e gastaram por caridade. Enquanto o mundo idolatra corpos nus, de
formas perfeitas e vulgares, os católicos veneramos corpos que se vestiram de
virtudes e se enobreceram vertendo o próprio sangue, seja no martírio, seja na
renúncia às paixões.

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