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BARBOSA, João Alexandre. As ilusões da modernidade. São Paulo: Perspectiva, 2009.

 “Início, ruptura, tradição, tradução e universalidade: eis os termos de uma


viagem. Com eles, julgo ser possível cobrir um largo espectro das relações entre
poesia e modernidade.” (BARBOSA, 2009, p. 13)

 “Entre o poeta e a linguagem, o leitor do poema deixa de ser o consumidor para


se incluir como latência de uma linguagem possível. Não se escreve mais apenas
para o leitor: este é o Édipo de uma Esfinge cujo nome o poeta-oráculo
esqueceu.” (BARBOSA, 2009, p. 14)

 “O que chamo de poesia moderna é, sobretudo, aquela em que a busca pelo


começo se explicita através da consciência de leitura: a linguagem do poeta é, de
certo modo, a tradução/traição desta consciência.” (BARBOSA, 2009, p. 14)

 “Leitor da história do seu texto, o poeta instaura, mesmo que seja por virtude de
um silêncio prolongado, o momento para a reflexão sobre continuidade.”
(BARBOSA, 2009, p. 14)

 “[...] o tempo do poema é marcado, agora, pelo grau de seu componente


intertextual.” (BARBOSA, 2009, p. 15)

 “[...] o tempo do poema não existe a não ser como espaço de relações: entre o
poeta e a linguagem, o poema acena para a intemporalidade.” (BARBOSA,
2009, p. 16)

 “[...] a linguagem do poema que se erige sobre a consciência da historicidade do


poeta e da poesia, refazendo o nó das circunstâncias pela leitura das intersecções
culturais, é marcadamente crítica. Por isso, as relações entre o poeta e a
sociedade só podem, a meu ver, serem fisgadas pelo desvendamento de seus
respectivos modos de vinculação aos dois tempos descritos: o das circunstâncias
e o das intersecções culturais.” (BARBOSA, 2009, p. 16)

 “[...] aquilo que singulariza o conflito (pois não se há de esquecer a sua enorme
generalidade com referência a toda a história da poesia) é que, entre o indivíduo
e a sociedade, agora se interpõem os mecanismos de uma consciência crítica
operando sobre os fundamentos das relações entre um e outra.” (BARBOSA,
2009, p. 18)

 “Mais uma vez, contudo, é preciso estar alerta para as especificações: tão velha
quanto a poesia, a alegoria não pode ser tomada como instrumento absoluto de
caracterização da modernidade na poesia. O que, sim, pode ser considerado
como traço de definição é a freqüência de utilização do procedimento alegórico,
isto é, aquele que aponta para a reversibilidade da linguagem da poesia,
instaurando o jogo dos elementos intertextuais.” (BARBOSA, 2009, p. 21)

 “Eis, portanto, o paradoxo fundamental de caracterização da modernidade na


poesia: parecendo desprezar o leitor, na medida em que não facilita o
relacionamento através de uma linguagem que fosse sempre o eco de uma
resposta previamente armazenada, o poeta moderno passa a depender da
cumplicidade do leitor na decifração de uma linguagem que, dissipada pela
consciência, já inclui tanto poeta como leitor.” (BARBOSA, 2009, p. 22)

 “[...] um dos traços fundamentais deste relacionamento [entre poeta e leitor] é a


maneira pela qual, fazendo valer as tensões da própria linguagem, o poema
moderno instaura a reversibilidade dos significados pela criação de um espaço
de leitura intertextual.” (BARBOSA, 2009, p. 23)

 “Numa palavra, a expressão da subjetividade é retida (e, por aí, intensificada)


pela experiência de cultura que implica na consciência reflexiva da linguagem.”
(BARBOSA, 2009, p. 26)

 “O poema metalinguístico – aquele que faz da linguagem do poema a linguagem


da poesia – interioriza a alegoria ao problematizar os fundamentos analógicos da
linguagem.” (BARBOSA, 2009, p. 27)

 “[...] a existência do poema metalinguístico não significa, necessariamente, o


desaparecimento dos dados da realidade que informam a presença do poeta no
mundo; o que, de fato, ocorre é que o poema metalinguístico vem apontar para a
precariedade das respostas unívocas oferecidas aos tipos de relação entre poeta e
realidade. A esta univocidade agora se substitui a construção de um texto onde
seja possível apreender, como elemento básico de seu processo de significação,
a própria precariedade referida.” (BARBOSA, 2009, p. 27)

 “O poeta moderno traduz na medida em que o seu texto persegue uma


convergência de textos possíveis: a tradução é a via de acesso mais interior ao
próprio miolo da tradição. Pela tradução, a tradição do novo perde o seu tom
repetitivo: re-novar significa, então, ler o novo no velho.” (BARBOSA, 2009, p.
29)

 “A conversa entre textos de poetas diferentes, ou mesmo entre textos de um


mesmo poeta, acentua a urgência da busca pela linguagem capaz de articular
espaços diversos. Todavia, é preciso assinalar muito claramente, é somente pela
construção de um espaço específico – aquele de um só e único poema – que a
variabilidade das circunstâncias ou das individualidades encontra sua
organização.” (BARBOSA, 2009, p. 33)
 “[...] a linguagem do poema, sendo aquela em que é restabelecido o
desequilíbrio fundamental da arbitrariedade entre os nomes e as coisas.”
(BARBOSA, 2009, p. 34)

 “O poeta moderno sabe que a pacificação é impossível: a sua realidade – a


linguagem – está sempre ameaçada pelo deslizamento constante da
referencialidade desde que o referente do poema não é jamais um dado
tranquilo." (BARBOSA, 2009, p. 35)

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