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1.1.

Análise do Conto «A ÁRVORE QUE TINHA BATUCADA»

A árvore que tinha batucada é o segundo conto contido nas páginas 19 á 28.
a) Quanto à relevância

Tratando-se de um conto, apresenta uma única unidade de acção ou um só


conflito.
b) Quanto à estrutura

 Introdução:

Esta secção vai do 1º parágrafo da trama ao 2º. Isto porque nestes parágrafos
encontramos as informações que correspondem a situação inicial da trama, ou seja,
do tempo e do espaço:

Quanto ao tempo, identificamos que é cronológico devido ao início da trama


que ocorreu no período nocturno.

«…E passava então das onze da noite, vinha assim do cinema.»

Quanto ao espaço, a trama começa numa linha divisória entre espaços


sociais, ou seja, de uma zona mais urbanizada pra outra possivelmente menos
urbanizada.

«…E vinha assim andando e assim andando, noctambulosamente, passos


quase na fronteira luz e escuridão: linha divisória de espaços sociais.»

O conto nos apresenta o narrador como personagem homodiegético, visto


que participa na trama como personagem secundária e também a árvore
(personificada) como personagem principal. As demais personagens são citadas ao
longo da trama.

A trama tem início quando o narrador saía do cinema numa noite. Sozinho,
cansado, sonolento e com medo. Enquanto o narrador caminhava, ele assobiava pra
poder descontrair diante do medo que sentia na calada da noite. Porém, ele ficou
imobilizado quando ouviu vozes que vinham de uma árvore que estava próxima.

«…E imobilizei então de novo o passo. E ouvi então vozes: vozes…E parecia
que as vozes estavam a vir então de uma árvore que estava: próxima.»
E desceram da árvore alguns fantasmas, que se movimentavam às voltas do
narrador, dançavam e lhe deravam pontapés e bofatasdas até cair no desmaio.

«E desceram então da árvore e vieram então cá em baixo se movimentando


as voltas dançando. E não viam ninguém. E de repente comecei então a ser
esbofeteado. E tentei me esquivar, me defender: em vão. E aguentei bofetadas e
pontapés até cair no desmaio.»

 Desenvolvimento:

Sendo o desenvolvimento a sucessão das peripécias ou seja, onde ocorrem


factos imprevistos, incidente ou até mesmo aventura, tem início em:

«Imponente, vertical, alicerçada na força telúrica, resistente as intempéries


do tempo e da natureza.» e termina em «…E Sô Padre falou então que não acreditava
em feitiçarias e blasfemou o Velho, Satanás em pessoa.»

A trama nos apresenta o conflito gerado por uma árvore misteriosa e que
possuia uma energia sagrada que era utilizada para diversos fins, como cura,
equilíbrio e conexão espiritual. E, muitos viajantes, passavam e aproveitavam à
sombra da árvore para descansar, enquanto outros, lhe veneravam, contavam-lhe os
seus segredos, desejos, sentimentos, pediam-lhe conselhos e lhe davam oferendas.

«Imponente, vertical, alicerçada na força telúrica…E outros descreviam no


corpo dela os seus sentimentos e desejos. De muitos caminhos, os caminhantes lhe
veneravam…Guardava então segredos de muitos caminhantes e guardava lamúrias
e desejos e sentimentos e queixumes. E guardava tudo então, porém não revelava
nada.»

Por esta razão, algumas pessoas muniram-se de catanas e machados para


poderem matar a árvore e descobrirem os mistérios que haviam dentro dela e também
para roubar as oferendas que ela recebia dos viajantes que iam ter com ela. Porém,
não obteram sucesso na tentativa de abater a árvore e desistiram, porque toda vez que
investiam machadadas e catanadas à árvore não ficava ferida e nem sequer tinham
sinal algum.

«Um dia vieram então caminhantes armados de catanas e machados para


lhe matar e ver então o que ela tinha lá dentro. Queriam lhe roubar as prendas
valiosas que ela recebia de muitos caminhantes e guardava então no seu corpo.
Desistiram de lhe golpear com as catanas e os machados. E no corpo dela não havia
nenhum sinal e nenhuma marca e nenhum golpe.»

Durante o dia parecia ser normal e inofensiva. Porém, no período nocturno


era um assombro para as pessoas. Pois, às pessoas quando passavam por ela foram
agredidas violentamente. A notícia deste sucedido se espalhou consideravelmente até
o ponto de chamar atenção dos povos das outras comunidades e das autoridades
locais.

«…E depois tinha então mais gente que, passando a noite pela árvore fora
então agredida. Tinha cada vez mais gente. E vinha então a PSP averiguar e não viu
ninuém. E no outro dia a cena se repetiu então. Notícia correndo, gente vindo, E até
o povo da Vila Matilde e Campo de Aviação e Kangambo até, desceu e veio então:
curiosamente.»

Então, Sô Administrador (Autoridade máxima da comunidade) mobilizou


os Cipaios (Soldados na época colonial), liderados pelo Cincuenta e Um para
poderem ir lá e resolverem a situação e devolver a tranquilidade da comunidade.
Porém, Sô administrador viu as suas investidas a falharem várias vezes, e na última
vez ele próprio fora agredido e teve que ir no Banco de Urgência.

«Sô Administrador, irritado, mandou então pôr certo na Kaála: a rusga.


Nada…Assim então ele resolveu comandar pessoalmente as operações. Se muniu
então de armas e cordas e cacetes e mobilizou então cipaios todos e, à noite, pela
calada cercaram a árvore. E com ele estavam também alguns comerciantes.»

Após várias investidas para derrubarem a árvore não houve sucesso


até então. Então, decidiram mandar o Cincuenta e Um, junto os Cipaios para irem a
busca de um velho em Camburi que tinha a fama de feiticeiro. E, quando chegaram
com o velho, todos da comunidade se congregaram na esperança de que a árvore seria
cortada.

«…De boca em boca: a notícia. A árvore ia ser derrubada! Foram buscar


um velho em Camburi que vai derrubar a árvore! E o Sol nem tinha ainda meia
andança e já tinha então gente muita à volta da árvore. E todo mundo veio. Sô
Administrador veio. E Sô Padre falou então que não acreditava em feitiçarias e
blasfemou o Velho, satanás em pessoa.»
 Conclusão:

A conclusão começa em «o velho se ajoelhou» termina em «o velho foi nas


águas».

Logo, o velho se ajoelhou diante da árvore por algum tempo e depois subiu
na árvore para desvendar o mistério da árvore. Então, ouvia-se vozes de pessoas a
conversar em cima da árvore e cairam várias coisas que deixou o povo todo num
silêncio profundo.

«O Velho se ajoelhou diante da árvore e ficou assim algum tempo. E gente


atenta. E depois subiu em cima da árvore e toda a gente começou a ouvir então gente
conversando em cima da árvore: lá. E tempo depois, da árvore começaram a cair
trapos, penas de galinha, ossos. E caíram então cabaças, muitas cabaças. Ninguém
se atreveu a falar. Não dava mesmo para falar. Eh! Eh! Eh!»

Após o velho descer da árvore, ordenou que começassem a cortá-la. E,


enquanto os homens davam as machadadas, a árvore gritava, chorava e sangrava.
Então, pela primeira vez a árvore mostrou-se derrotada.

«O Velho desceu e ordenou então que os homens que comessem a cortar a


árvore…E a cada machadada a árvore gritava ai! ai! a!..E a gente viu: sangue a
árvore jorrava então sangue ai! ai! ai!»

No final, a árvore ainda se encontrava em pé. Sô Administrador e Cincuenta


e Um estavam furiosos porque suspeitavam que o trabalho do velho não surtiu efeito
nenhum. Cincuenta e Um, depois de segurar tanto os nervos acabou por soltá-los,
tendo agredido o velho.

«Seis da tarde a árvore batucante estava ainda de pé. E o Velho estava


então a transpirar no olhar furioso do Sô Administrador. Cincuenta e Um
desconteve: a represa…atiçou a besta e o rio arrastou pedras, cada pedra, pedradas,
pedregulhos e rebentou então: o dique, o Velho foi nas águas.»

c) Quanto à organização

A acção, quanto a organização é por encadeamento porque as sequências


narrativas seguem uma ordem cronológica linear.

d) Quanto à delimitação
A acção é aberta porque ela não foi totalmente solucionada. Visto que no
final, a árvore que representava o problema não foi cortada. E, conseguimos perceber
isso na frustração que algumas pessoas apresentaram devido a resistencia da árvore
e na reação do Cincuenta e Um que acabou por agredir o velho, que era visto como
o possivel solucionador do problema.

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