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Utilização da farinha de algas calcáreas na alimentação animal

Article in Archivos de Zootecnia · January 2009


DOI: 10.21071/az.v58i224.5076

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2 authors, including:

Thiago Vasconcelos Melo


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

UTILIZAÇÃO DA FARINHA DE ALGAS CALCÁREAS


NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL
USE OF SEAWED FLOUR IN THE ANIMAL FEEDING

Melo, T.V.1 e A. M. A. Moura2

1
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Campus de Jaboticabal. Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias. thiagovmelo@gmail.com
2
Zootecnista. Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães. CPqAM-Fiocruz. Campus da UFPE, Várzea. Av.
Moraes Rego, s/n. Caixa Postal 7472. CEP 50670-420. Recife-PE. Brasil. antoniol@cpqam.fiocruz.br

PALAVRAS CHAVE ADICIONAIS ADDITIONAL KEYWORDS


Fonte de cálcio. Biodisponibilidade. Alga marinha. Source of calcium. Bioavailability. Seaweed.
Lithothamnium calcareum. Lithothamnium calcareum.

RESUMO INTRODUÇÃO
O cálcio é um elemento essencial, tendo função O cálcio é um elemento químico presente
básica na formação dos ossos e dentes, e em nos fluidos e tecidos corporais, sendo
diversos processos fisiológicos. Na alimentação essencial na formação dos ossos, dentes e
animal são utilizadas diversas fontes de cálcio, em diversos processos fisiológicos (Macari
dentre elas o cálcio proveniente das algas marinhas
et al., 2002). As fontes de cálcio podem ser
calcáreas. Sabe-se que as algas calcáreas retém
elevado índice de elementos minerais do meio
de origem inorgânica (rochas) ou orgânica
marinho, além de apreciável quantidade de subs- (farinha de ossos, conchas, e algas).
tancias nutritivas. O Lithothamnium calcareum Geralmente as fontes de cálcio utilizadas na
pertence ao grupo das algas vermelhas ou alimentação animal são oriundas de rochas,
rodofíceas, da família das Coralineacea, é uma como o calcário e o fosfato bicálcico, pois,
alga de aspecto calcário, pois absorve o carbona- são mais abundantes e de menor custo.
to de cálcio e magnésio. A solubilidade das fontes de cálcio é um
fator indicativo na qualidade, já que
SUMMARY apresenta alta correlação com a bio-
Calcium is an essential element, it has basic disponibilidade e absorção intestinal do
function in bones and teeth synthesis, yet in cálcio. As fontes de cálcio de origem
various physiological processes. In the animal orgânica, como a farinha de ostras e farinha
feeding they are used several sources of calcium, de casca de ovos são fontes de maior
including calcium from calcareous seaweed. It is solubilidade em relação as fontes de rochas
well-known that the calcareous algae retain high (Melo et al., 2006).
levels of mineral elements of the marine Porém, as fontes inorgânicas de cálcio,
environment, and considerable amount of
são recursos minerais não-renováveis e sua
nutrients. The Lithothamnium calcareum belongs
to the group of red algae or rhodophytes, the extração promove importante impacto am-
family of Coralineacea are calcareous algae in biental. O fosfato bicálcico por se tratar de
appearance, because it absorbs the calcium uma fonte mista de cálcio e fósforo,
carbonate and magnesium. apresenta custo elevado, ao contrário do

Recibido: 5-12-08. Aceptado: 15-9-09. Arch. Zootec. 58 (R): 99-107. 2009.


MELO E MOURA

calcário que dentre os ingredientes da ração Suplementos contendo microminerais


é o que apresenta menor custo por quilo- complexados a moléculas orgânicas têm sido
grama. desenvolvidos industrialmente com base
Os alimentos de origem vegetal, normal- na teoria da maior biodisponibilidade que a
mente milho e soja, constituem a base da de fontes inorgânicas (Spears, 1996). Preco-
alimentação de aves e possuem teores de niza-se que minerais orgânicos têm maior
cálcio em níveis insuficientes para suprir as solubilidade, estrutura química estável e
exigências nutricionais. Desta forma, há natureza eletricamente neutra no trato di-
necessidade de fazer uma suplementação gestivo. Logo, estes não participariam de
de cálcio na dieta para atender estas reações que poderiam transformar o íon
exigências dos animais (Muniz et al., 2007). metálico livre em complexos insolúveis
O cálcio, o fósforo e a vitamina D são indesejáveis. Foi observado que a substi-
elementos intimamente associados no me- tuição crescente de fonte inorgânica de
tabolismo animal, muitas vezes combinados minerais por um suplemento contendo
entre si, de modo que a carência de um deles minerais orgânicos aumentou o consumo
na dieta limita o desempenho das aves de matéria seca e a digestibilidade em bovi-
(Macari et.al., 2002). Assim, a biodisponi- nos consumindo dietas de baixo valor nutri-
bilidade das fontes de cálcio influenciam no tivo (Langwinski e Ospina, 2001).
nível de suplementação. As buscas de novas alternativas que
No entanto, o cálcio em excesso pode não sejam derivadas de rochas, de maior
agir como antagonista dificultando a biodisponibilidade, são de extrema
absorção de alguns minerais tais como fe- importância para se maximizar o desempenho
rro, cobre, zinco, magnésio, sódio, potássio, animal e minimizar custos. Segundo Fassani
entre outros (Waldroup, 1996). O Magnésio et al. (2004), a falta de conhecimento das
substitui parte do cálcio, resultando em características fisico-químicas dos calcários
cristais mais densos e menos solúveis, além pode ocasionar variação na atenção das
de ser antagônico ao cálcio, podendo in- exigências nutricionais obtidas em pes-
fluenciar o mecanismo de absorção intesti- quisas científicas, o que leva muitos
nal. nutricionistas à utilização de altos níveis de

Figura 1. Foto ilustrativa da alga calcárea Lithothamnium calcareum (Algarea, 2008). (Photo
illustration of calcareous algae Lithothamnium calcareum (Algarea, 2008)).

Archivos de zootecnia vol. 58(R), p. 100.


UTILIZAÇÃO DA FARINHA DE ALGAS CALCÁREAS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

cálcio em rações comerciais. Uma destas limita basicamente a alguns elementos quí-
novas alternativas é o, fonte de cálcio pro- micos comuns a ambos.
veniente das algas calcáreas. As algas marinhas calcáreas são as plan-
Sabe-se que as algas marinhas calcáreas tas que crescem naturalmente no meio
retêm elevado índice de elementos minerais marinho e em profundidades das mais varia-
do meio marinho, além de apreciável das. A renovação é permanente, contanto
quantidade de substancias nutritivas. O que haja incidência de luz natural, se tor-
Lithothamnium calacareum (figura 1) nando uma fonte de macro e microminerais
pertence ao grupo das algas vermelhas ou renovável. O produto pode ser aplicado no
rodofíceas, da família das coralináceas. É estado natural ou após secagem e moagem.
uma alga de aspecto calcário, pois absorve Contudo, comprovada sua viabilidade
o carbonato de cálcio e magnésio. Não é zootécnica, a opção entre as diferentes
fonte de proteína, vitaminas, carboidratos e fontes é realizada com base no custo por
lipídeos, somente de macro e micro minerais unidade de fósforo biodisponível, e não na
(tabela I) em concentrações variadas, unidade de fósforo total (Couto et al., 2008).
dependendo do local, estação do ano e Esta revisão, aborda a utilização da
profundidade. farinha de algas calcáreas Lithothamnium
A semelhança entre o calcário de origem calcareum na alimentação animal, pois
continental e as algas Lithothamnium se diante deste tema, ainda são incipientes os

Tabela I . Principais nutrientes da farinha de algas marinhas (Lithothamnium calcareum) -


Análise típica*. (Key nutrients of seaweed flour (Lithothamnium calcareum) - Typical analysis*).

Cálcio (Ca) 32,5% Magnésio (Mg) 2,0%


Silício (Si) 0,95% Boro (B) 20 ppm
Cobre (Cu) 2 ppm Enxofre (S) 0,50%
Ferro (Fe) 0,25% Manganês (Mn) 20 ppm
Molibdênio (Mo) 5 ppm Zinco (Zn) 11 ppm
Cromo (Cr) 4 ppm Cobalto (Co) 5 ppm
Cloro (Cl) 0,20% Fósforo (P) 0,03%
Potássio (K) 0,01% Sódio (Na) 0,26%
Vanádio (V) 4 ppm Níquel (Ni) 10 ppm
Iodo (I) 12 ppm Selênio (Se) 1 ppm
Flúor (F) 800 ppm Antimônio (Sb) <1 ppm
Prata (Ag) <1 ppm Alumínio (AL) 0,7%
Bário (Ba) 15 ppm Berílio (Be) <1 ppm
Bismuto (Bi) 8 ppm Cádmio (Cd) <1 ppm
Lantânio (La) 8 ppm Lítio (Li) 5 ppm
Cádmio (Cd) <1 ppm Escândio (Sc) <1 ppm
Titânio (Ti) 0,01% Estanho (Sn) <10 ppm
Tungstênio (W) <10 ppm Ítrio (Y) 5 ppm
Zircônio (Zr) 5 ppm Arsênio (As) 4 ppm
Cério (Ce) 8 ppm Neodímio (Nd) 4 ppm
Samário (SM) 0,5 ppm Európio (Eu) 0,5 ppm
Gadolínio (Gd) 0,05 ppm Disprósio (Dy) 0,3 ppm
Hólmio (Ho) 0,05 ppm Érbio (Er) 0,2 ppm
Itérbio (Yb) 0,2 ppm Lutécio (Lu) 0,05 ppm

* Sendo um produto natural os teores acima podem variar (Melo, 2006)

Archivos de zootecnia vol. 58(R), p. 101.


MELO E MOURA

resultados sobre a utilização deste suple- Lithothamnium no Brasil se restringia


mento na alimentação animal. somente na agricultura, e nos últimos anos
com o lançamento de produtos a base de
HISTÓRIA E APLICAÇÃO DAS ALGAS Lithothamnium calcareum como suplemen-
CALCÁREAS to em rações para animais, que este vem
despertando o interesse de pesquisas de
De acordo com Cressard (1991), citado instituições públicas e privadas. A alga
por Dias (2000), a utilização de materiais calcária é extraída do seu meio por processos
marinhos para uso agrícola parece muito manuais e mecânicos, e a matéria prima "in
antiga. Pline em sua "Histoire Naturele" diz natura" é lavada, desidratada e moída, e em
que a Bretanha e os gauleses inventaram seguida ensacada.
uma arte de fertilizar o solo por meio de uma
certa terre marga. Candem, em sua obra A UTILIZAÇÃO DA FARINHA DE ALGAS
Britannia no inicio do século XVII escreveu
CALCÁREAS NA PRODUÇÃO ANIMAL
que "o solo do Condado de Devonshire
seria quase estéril se não fosse melhorado Na produção animal, onde a alimentação
por um tipo de areia que se retira do mar e representa cerca de 70% do custo de
que o torna muito fértil, se impregnando de produção, o suprimento de cálcio participa
alguma forma na terra e por esta razão esta com expressiva proporção nas formulações
areia se compra muito caro nos lugares mais comerciais e a utilização de complementos
afastados da costa". alternativos destes minerais, quando
A indústria de utilização do Litho- disponíveis na região, se torna ferramenta
thamnium iniciou-se e desenvolveu-se na importante para maximização do lucro líqui-
França a partir do final da Segunda Guerra do para o produtor.
Mundial. Foi inicialmente utilizada somente Como fonte alternativa de cálcio, pode
como fertilizante, e a empresa pioneira foi a ser utilizado a farinha de algas calcáreas
Timac da França, que em 1956 vendia o (Lithothamnium calcareum). De acordo com
fertilizante NPK diferenciando dos demais Dias (2000), as algas calcárias são compostas
com a adição da farinha de algas calcáreas basicamente por carbonato de cálcio e
Lithothamnium, tornando-se assim, o se- magnésio, além de conter mais de 20
gundo maior fabricante de fertilizantes da oligoelementos, presentes em quantidades
Europa e o primeiro da França. Cabioch variáveis, tais como Fe, Mn, B, Ni, Cu, Zn,
(1970) cita que desde a antigüidade, as algas Mo, Se e Sr. O produto pode ser aplicado no
calcáreas vem sendo utilizadas na Europa estado natural ou após secagem e moagem.
para tratamento de solos ácidos. As principais características que potencia-
Além da França, a Irlanda (Bosence, 1976) lizam a atuação deste produto são atribuídas
e Inglaterra começaram a produzir para con- à maior disponibilidade dos micronutrientes
sumo interno, pequenas quantidades que se encontram adsorvidos nas paredes
voltadas principalmente para a comple- celulares, sendo assim facilmente assimi-
mentação da ração animal, o mesmo láveis pelas plantas e animais e à elevada
acontecendo no Japão. No Brasil, com porosidade das algas (>40%) que propicia
exceção do petróleo, a explotação de recur- maior superfície específica de atuação.
sos minerais marinhos tem sido pontual e
descontínua, restringindo-se à extração de A UTILIZAÇÃO NA ALIMENTAÇÃO DE
areias para regeneração de praias e extração
EQUINOS
localizada de conchas e algas calcárias nos
estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo Os eqüinos são animais considerados
(Gomes, et al., 2000). A utilização do atletas, e segundo Berberian and Lenci (1983)

Archivos de zootecnia vol. 58(R), p. 102.


UTILIZAÇÃO DA FARINHA DE ALGAS CALCÁREAS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

têm-se observado excelentes cavalos que micamente viável.


tiveram uma campanha muito curta por Trabalhando com codornas japonesas
apresentarem alterações graves dos ossos (Coturnix japonica) Perali et al. (2003)
e tendões. referenciaram aumento na produção de ovos
Segundo Berberian and Lenci (1983), a em 4,16 pontos percentuais em relação à
utilização do Lithothamnium calcareum testemunha na adição de 0,25% deste
como suplemento mineral na alimentação de produto. Porém o aumento na produção de
cavalos P.S.I. revelou-se um excelente ovos não foi observado por Melo et al.
corretivo mineral e orgânico, melhorando e (2008a; 2008b), os quais avaliaram a
aumentando a disponibilidade biológica dos utilização da farinha de algas calcáreas
nutrientes existentes na ração. Lithothamnium calcareum no desempenho
Os mesmos autores Lenci and Berberian e qualidade de ovos de codornas japone-
(1984) estudaram cinco casos de fraturas sas, e observaram que o suplemento mostrou
ósseas em cavalos P.S.I. de corrida no Joc- evidencias de melhoria na casca dos ovos e
key Club de São Paulo-Brasil, (onde a um aumento significativo no peso da gema,
recomendação veterinária inicial apontava porém as características de desempenho
a cirurgia como melhor solução), foram adi- não foram influenciadas pela utilização da
cionados 10 gramas duas vezes ao dia da farinha de algas calcáreas.
farinha de algas calcáreas Lithothamnium Em frangos de corte, nos estudos reali-
calcareum na ração, com cada caso zados por Zanini et al. (2000a), utilizando
acompanhado com a utilização do raio X e farinha de algas calcáreas como fonte de
observaram que após trinta dias, as fissuras cálcio na ração de frangos de corte,
consolidaram-se. Depois de sessenta dias concluíram que o uso de farinha de algas
tendo prosseguido a terapia, os animais já pode substituir totalmente o calcário sem
se encontravam em condições de retornarem prejudicar o desempenho dos animais,
gradativamente às pistas. porém devemos nos atentar sobre o custo
final desta substituição. De acordo com
A UTILIZAÇÃO NA ALIMENTAÇÃO DE Airhart et al. (2002), o cálcio proveniente do
AVES E SUÍNOS Lithothamnium calcareum apresentou
Na alimentação de aves e suínos o cálcio maior biodisponibilidade do que aquele pro-
possue um importante papel, principalmen- veniente do calcário, resultando em melhor
te para poedeiras, pois necessitam de gran- conversão alimentar em frangos de corte.
de concentração de cálcio disponível para Efeitos de melhora na conversão alimentar
formação da casca dos ovos e também também foram observados por Pope et al.
frangos de corte, por possuírem uma alta (2002), em frangos de corte suplementados
taxa de crescimento em pouco tempo, com Lithothamnium calcareum, os quais
acarretando problemas na formação dos apresentaram maior ganho de peso e melhor
ossos, principalmente displasia tibial. rendimento de peito, devido a melhora n
Pelícia et al. (2006) estudaram o efeito da conversão alimentar.
combinação de fontes de cálcio sobre o Estes resultados de melhora n conversão
desempenho e qualidade dos ovos de alimentar podem estar relacionadas à
poedeiras comerciais, e concluíram que é maior solubilidade do cálcio proveniente
possível a inclusão de cálcio marinho Lithothamnium calcareum, fato observado
Lithothamnium na dieta de poedeiras em por Melo et al. (2006), onde avaliaram a
até 45% de substituição do calcário calcítico, solubildade in vitro de diversas fontes
sem que ocorram prejuízos ao desempenho de cálcio (tabela II) e observaram que a
e a qualidade dos ovos, desde que econo- farinha de algas calcáreas Lithothamnium

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Tabela II. Taxa de solubilidade in vitro de uma grande quantidade de cálcio para a
calcio de diversas fontes. (Rate of in vitro formação e crescimento da concha, e o
solubility of calcium from various sources). Lithothamnium calcareum foi capaz de
suprir estas necessidades significativa-
Fontes de cálcio Solubilidade% mente superior as demais fontes, sendo
provável pela sua maior solubilidade em
Lithothamnium calcareum 28,750a relação as demais
Farinha de casca de ovos 27,500ab Em pesquisa com ratos, Assoumani
Farinha de ostras 26,000bc
(1997) relatou que a farinha de algas calcáreas
Fosfato bicálcico 24,500c
Calcário 19,375d
apresentou vantagens em relação ao calcário
no crescimento do osso fêmur e na
CV = 3,89% biodisponibilidade de cálcio, sugerindo
que provavelmente a concentração de
Medias seguidas por letras diferentes na coluna magnésio e a porosidade da alga seriam os
diferem entre si pelo teste Tukey (p<0,05). Adap- responsáveis por estas diferenças, já que a
tado de Melo et al. (2006). farinha de algas apresenta porosidade
(>40%) que propicia maior superfície espe-
cífica de atuação.
calcareum apresentou valores maiores de
solubilidade do que as demais fontes A UTILIZAÇÃO NA ALIMENTAÇÃO DE
estudadas. RUMINANTES
Sobre características de carcaça de
frangos, não foram verificados efeito signi- Utilizando a farinha de algas marinhas
ficativo do uso de farinha de algas calcáreas como suplemento para vacas leiteiras, Melo
sobre a composição da carcaça de frangos et al. (2004a) estudaram o efeito de diferen-
de corte (Zanini et al., 2002). Anteriormen- tes doses e concluíram que 50 g/animal/dia
te, Zanini et al. (2000b) observou que a promoveram aumento da produção e do teor
utilização de farinha de algas calcáreas de gordura no leite, assim como o teor de
também não influenciou a deposição de cálcio e magnésio no sangue dos animais.
gordura abdominal na carcaça de aves. Se desconhece a relação da farinha de algas
Fialho et al. (1992), avaliando algumas com o aumento na produção e do teor de
fontes de suplementação de cálcio para gordura no leite, porém o aumento do teor
suínos, relataram que as dietas tanto para de cálcio e magnésio no sangue dos animais
crescimento como para terminação, podem pode estar relacionado à maior biodis-
ser suplementadas com cálcio provenientes ponibilidade destes nutrientes.
do calcário calcítico, farinha de ostras, gesso Melo et al. (2004b), relataram que para
ou Lithothamnium calcareum. bovinos de corte, a utilização de 10% de
farinha de algas calcáreas em substituição à
A UTILIZAÇÃO NA ALIMENTAÇÃO DE mistura mineral comercial, promoveu au-
mento de 26% no ganho de peso dos animais,
OUTRAS ESPÉCIES
fato também observado por Souza (2002),
De acordo com Dutra et al. (1989), a que avaliou o uso de farinha de algas
utilização da alga calcária em rações de calcáreas na suplementação mineral de
escargot Helix aspersa, pode ser utilizada bovinos de corte e observou um ganho de
como fonte de cálcio com efeitos significa- peso 23% superior em relação aos animais
tivos no crescimento do mesmo, quando que não receberam o suplemento, con-
comparado com calcário e farinha de ostras. cluindo que o ganho de peso de um único
Esses animais em crescimento demandam dia é mais do que suficiente para pagar o

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UTILIZAÇÃO DA FARINHA DE ALGAS CALCÁREAS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

suplemento usado durante o mês. Estes como tamponante em dietas com 70% de
resultados de melhora no ganho de peso concentrado, aumentou o pH ruminal e
podem estar relacionados com o aumento aumentou o desenvolvimento de protozoários
da digestibilidade aparente da proteína bru- ruminais e não prejudicou a digestibildade
ta de forragens, fato também observado por in situ da matéria seca e do FDN.
Orsine et al. (1989) e Melo et al. (2002) os
quais relataram que a adição da farinha de CONSIDERAÇÕES FINAIS
algas calcáreas na dieta de bovinos melhorou
a qualidade e a produção de leite, promoveu A utilização da farinha de algas calcáreas
aumento no ganho de peso e melhorou a (Lithothamnium calcareum) na alimentação
digestibilidade aparente da proteína bruta animal pode não ser recente, porém ainda
de forragens de baixa qualidade. necessita de diversas pesquisas para
Em dietas com altos niveis de concentra- avaliarem os seus verdadeiros potenciais e
do TMR (Total Mixed Rations) Cruywagen níveis de utilização deste suplemento, pois
et al. (2004), observaram que a inclusão de ainda é muito incipiente de resultados sobre
Lithothamnium calcareum na dieta como os efeitos desta suplementação em ambas
tamponante aumentou o pH ruminal, e que as espécies. Sabemos que a farinha de algas
a melhor dose para otimizar a produção de calcáreas apresentam diversas característi-
leite foi de 80 gramas por dia do tamponante cas que podem ser interessantes e impor-
na dieta. tantes à nível de nutrição animal, e o incen-
Corroborando com estes resultados, tivo de mais pesquisas relacionadas a este
Montañez-Valdez et al. (2007), relataram assunto são essenciais para o desenvol-
que a inclusão de Lithothamnium calcareum vimento e conhecimento deste assunto.

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