Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ARTE
DE
FALAR
Ouvimos falar em eloquência dos olhos, dos gestos. Realmente há olhos eloquentes: os olhos
ternos de quem pede; os olhos duros de quem repreende; os olhos tristes de quem se despede; há também
eloquência nos gestos: numa destra que se agita num adeus; num indicador áspero que aponta a rua; num
punho ameaçador e temível. Há em tudo eloquência, porque em há força comovedora a operar sobre o
nosso ânimo. A eloquência depende dos gestos, dos sorrisos, das lágrimas; entretanto, sendo
principalmente o efeito da palavra, o efeito vivo da inteligência, é necessário, para defini-la bem, dizer-se
que eloquência é “o talento natural de convencer, exaltar ou comover, falando”.
Na Bíblia encontramos alguns homens eloquentes, homens que com suas palavras convenciam e
comoviam seu público. É o caso do rei Herodes Agripa, de quem diziam: “Voz de Deus, não de homem”
(At 12.22). Outro conhecido eloquente foi Apolo (At 18.24-28). Contudo, os púlpitos e as tribunas não
sobrevivem apenas dos eloquentes. É por isso que temos a Retórica. Sem ela os eloquentes vivem a
tropeçar nas palavras e incorrem no perigo de terem que se afastar do púlpito.
A Retórica
Retórica é a arte que regulariza, ordena e aperfeiçoa "a Arte de Falar” e a natural disposição de
quem nasceu eloquente. Por ela a expressão do pensamento se torna mais viva, enérgica e mais
compreensível.
Diz-se que é arte, porque se trata de um método, de um conjunto de regras determinadas, que,
postas em prática, podem dar-nos a habilidade de falar com elegância. O fim principal da retórica é tornar-
nos capazes de persuadir ou de comover o ânimo dos ouvintes. Persuadir é convencer, é obrigar com
provas e argumentos a inteligência a reconhecer uma verdade, um fato. Comover é mudar a disposição da
vontade de um auditório para que ele experimente os mesmos sentimentos e emoções que o orador sente
e tenta comunicar-lhe.
Que o grande orador nunca pense que é um eloquente, e que um eloquente nunca imagine que já
é um grande orador.
O melhor exemplo que temos na Bíblia de um homem que falava bem e ordenadamente é do
apóstolo Paulo. Seus discursos são obras completas de uma boa Retórica. O discurso que fez em Atenas é
uma obra prima de uma peça oratória bem ordenada, tendo em sua essência, as quatro partes do Discurso.
Nossa orientação é que todos os estudantes da Bíblia deveriam se aplicar no estudo da Arte de
Falar, ou, a Retórica, mesmo aqueles que já se consideram grandes oradores. O conselho bíblico vale para
todos, eloquentes ou não: “ensina o sábio e ele se tornará mais sábio; ensina o justo e ele aumentará em
doutrina” (Pv 9.9).
Obs. Quando falamos em convencer e comover não estamos incluindo a salvação dos perdidos.
Cremos que esta é uma obra inteiramente de Deus. Só Deus pode abrir um coração para que o pecador
ouça e se converta. É o caso de Lídia. Apesar do pregador ser Paulo, exímio orador, dentre todas as
mulheres que naquele dia ouviram sua mensagem, apenas essa vendedora de púrpura se converteu. É seu
dever fazer o possível para comover e convencer seus ouvintes, mas a obra final será sempre do Espírito
Santo
CONTROLANDO O MEDO
O primeiro e o maior problema daquele que se dispõe a um curso de Oratória é o medo. Medo de
falar, do que falar, como falar, onde falar e a quem falamos. Os momentos que antecedem nosso discurso
são realmente os mais difíceis. Ficamos inquietos, preocupados, ansiosos e pensando na reação do público.
E não há um momento em que este medo tome uma dimensão maior
do que quando nosso nome é anunciado na plateia. As mãos gelam, os
pés endurecem, o coração dispara e a boca seca. Creia amigo: É sua
grande oportunidade! Com o medo ou sem ele você estará se
revelando. Eles querem te ouvir, e na verdade, você quer falar. Então
fale. Fale principalmente com a energia da verdade do seu coração.
O medo é o maior inimigo do homem. Nasce com o homem e
abraça-o por toda a vida. O medo faz com que o indivíduo não
considere suas qualidades e só pense em suas falhas e os aspectos
negativos das suas apresentações. Inibe-o totalmente. O resultado é
que milhares de homens ou mulheres, mesmo possuindo elevado nível
cultural, pressionado pelo medo, não acreditam nas suas qualidades de
comunicadores, evitando todas as oportunidades para falar em público.
Exemplo do genro do ir. Obara.
Exatamente. Existe em cada orador coexiste dentro dele o orador real e o orador imaginado.
O orador Real é a verdadeira imagem do comunicador, composta dos defeitos naturais do ser
humano, mas também das qualidades visíveis ou potencialmente prontas para serem aproveitadas. É o
orador que aparece aos olhos da plateia, que, mesmo não se empolgando, às vezes, com sua forma de se
expressar, é capaz de ouvi-lo sempre até com relativo interesse.
O orador imaginado é a imagem que o comunicador pensa que transmite aos ouvintes. De nada
adiantará a alguém aprender todas as técnicas da boa Expressão Verbal: voz, vocabulário, postura,
retórica, etc., se continuar pensando que ainda se expressa mal, baseado na convicção de que o orador
imaginado existe realmente. Não se iluda com a criação de qualidades inexistentes, pois isto o levaria a
acreditar num comportamento enganoso e irreal. Ao analisar suas condições, descubra quais são os
aspectos positivos da sua Expressão Verbal.
Moisés é um caso típico dos dois oradores que existem em cada um de nós. Ele pintou-se bem
pior do que realmente era, a ponto de desculpar com Deus, dizendo que não era eloquente e pesado de
língua. (Ex 4:10). Imaginou-se um homem fracassado na Arte de Falar, e só podia lembrar de seus defeitos
naturais de dicção. Seu medo construiu uma imagem destorcida de sua capacidade e possibilidades. Mas
Deus animou-o e seus discursos estão descritos na Bíblia para comprovar que podemos imaginar um
orador bem pior do que realmente somos.
Jamais permita que o medo ou vergonha o impeça de levar uma mensagem. O exemplo do profeta
Amós deve ser um exemplo e ânimo para todos. Sua origem era humilde. Seu vocabulário provavelmente
era pobre e deficiente. Interrogado sobre suas qualificações ele foi logo respondendo: “Não sou profeta
por profissão; nem ganho a vida profetizando. Sou pastor de ovelhas e também cuido de figueiras. Mas o
SENHOR Deus mandou que eu deixasse os meus rebanhos e viesse anunciar a sua mensagem ao povo de
Israel.” A falta dos recursos naturais não o impediu de pregar. Pelo contrário, ele anunciou valentemente
a mensagem que Deus lhe deu, pois sua confiança estava na ordem de Divina: (Am 7.14-15).
Transforme seu medo numa força comovedora
O medo é real. Ele existe dentro de cada um de nós. Seu grande desafio não é fazê-lo desaparecer
para sempre, mas transformá-lo numa grande força que o ajudará na Oratória Eficiente junto aos ouvintes.
Quando sentir certo nervosismo antes de falar ou mesmo quando estiver falando, não se preocupe, isto é
normal e ocorre, com quase todos os oradores (senão todos), até com os mais experientes. Faça deste
sintoma outro fator de apoio na Arte de Falar; canalize o nervosismo dentro da força da sua comunicação;
distribua-o entre a vibração e a emoção das suas palavras e torne a mensagem mais convincente. Não
permita que o medo seja o vencedor.
A frustração: Ocorre quando o objetivo visado não é alcançado. Nasce aí a insatisfação, angustia
e despeito. Ex. O jovem não passou no vestibular e, ao invés de estudar mais, passa a criticar a instituição
que o reprovou. Outros estão insatisfeitos com sua família, seus amigos, seu grupo de trabalho, e no púlpito
passa a descarregar sua frustração. Seja qual for o tema abordado, ele procurará agredir, desprezar ou
rebaixar aqueles que ouvem seu trabalho. Sua carreira de conferencista será muito curta. A sua visão de
vida, distorcida por motivos de ordem particular, impede que pregue como deveria.
A frustração é um dos mais sérios bloqueios emocionais na Arte de Falar. Peça perdão a Deus pelo
seu egoísmo, pelas suas fraquezas e pelo descontentamento. Perdoe aqueles que te magoaram no passado.
Ore a Deus que te ajude a sentir-se em paz para que ela se reflita na Oratória.
A Timidez: Em comunicação oral o principal impedimento ainda é a timidez, esta estranha força
que paralisa a ação, titubeia a palavra, que impede a comunicação e bloqueia a expressão de tanta coisa
que poderia ser útil e proveitosa. Controle seu nervosismo. Comece controlando seus gestos (roer unhas,
cruzar de maneira descontrolada os braços e pernas, agitação do pescoço, etc.), e sua respiração. Também
não pinte a coisa mais feia do que ela é, achando que o auditório é um bicho-papão.
Como preparar-se para enfrentar o púlpito?
A apresentação não começa no púlpito. Antes mesmo de você pronunciar a primeira palavra, o
auditório já estará observando atentamente todas as suas atitudes. Verificará suas reações quando estiver
sentado, identificará seu jeito de andar se é tímido ou seguro, e até mesmo o tipo de roupa que resolveu
usar para a ocasião. Todos querem saber como se comporta aquele que terá a missão de lhes transmitir a
palavra. Antes de falar, fique observando detalhadamente tudo que ocorrer no ambiente. Demonstre nas
suas reações o ar de alguém verdadeiramente interessado, e não o de um exigente astro que inspeciona
tudo. O auditório reconhecerá na sua atenção uma estreita identidade com seus anseios, tornando-se com
isto mais dócil e benevolente para ouvi-lo.
Essas observações preliminares ainda irão proporcionar-lhe a possibilidade de descobrir boas
circunstâncias que poderão ser utilizadas na apresentação, o que a tornará mais interessante, considerando
que possuirá no conteúdo fatos nascidos espontaneamente, diante da assistência. Além disso, conquistará
maior relaxamento das tensões que sempre nos pressionam nessas oportunidades. Agindo assim, não
haverá tempo de se preocupar com as frases preparadas para sua exposição.
O apóstolo Paulo se valeu do ambiente em muitas ocasiões. Em Atenas sua observação aos altares
proporcionou-lhe uma mensagem magnífica aos gregos (At 17:22), e, quando preso em Jerusalém, notou
nos partidos adversários da plateia uma oportunidade de se livrar de um provável linchamento (At 23:6).
Não tente rememorar nada do que estudou. Isso tornará seu semblante preocupado. Quanto mais liberada
e simpática nossa fisionomia, mais próximos estaremos dos ouvintes.
Ao se dirigir à tribuna, faça-o com determinação, demonstrando confiança no andar e convicção
na postura. Mas seja humilde, orando em silêncio para que Deus “fale por você”. A plateia o respeitará na
certeza de que abordará uma boa mensagem. Ao se levantar, tenha calma e cuidado. Dê os últimos retoques
na roupa antes de caminhar. Ao chegar ao púlpito acomode as folhas com anotações, acerte o microfone
e olhe rapidamente para as pessoas que ouvirão suas palavras. Se o assunto permitir, esboce um sorriso
sincero e amigo. Tudo certo. Pode começar a falar. Você está pronto.
Encarando o Público
Deve o orador apresentar-se limpo, cabelos cortados e penteados, barba feita, botões abotoados,
gravata bem alinhada, paletó fechado, nada aparecendo nos bolsos, olhar franco de frente para o auditório.
A postura para os homens deve ser semimilitar, com os pés ligeiramente afastados, em posição de descanso
militar. As senhoras deverão, sempre, ter um dos pés em frente ao outro, como se estivessem equilibrados
num arame esticado. Estas simples recomendações ajudam a afastar o medo inicial.
QUALIDADES ESSENCIAIS DE UM BOM ORADOR
O bom orador é aquele que trabalha seus dotes naturais e desenvolve aqueles que tem dificuldade.
O eloquente tem facilidade em fazer isso, mas seu orgulho e preguiça quase sempre o impede. Já o
aspirante a orador tem mais dificuldade, porém, são justamente estes que melhor desenvolvem as
qualidades essenciais* da Expressão Verbal.
Talento ou Habilidade
O orador tem de ser inteligente (ser habilidoso), quer na disposição dos argumentos, quer na
maneira oral com que os apresenta ao público, ferindo com muita habilidade o ponto fraco da assistência.
Do seu talento depende o menor de seus gestos, o registro da voz, a maneira imediata de aparecer perante
o auditório. Nem o desafiará orgulhosamente, nem o bajulará com servilismo. Seja simpático.
Em suma, a habilidade leva o orador a adaptar o conteúdo de sua mensagem ao interesse da plateia,
fazendo com que seus ouvintes ajam de acordo com sua vontade. Que o diga dois juízes Gideão e Jefté,
O último nunca foi habilidoso com as palavras, e não só causou a morte de muitos irmãos, mas perdeu sua
própria filha. (Jz 11:30-31,34-35; 12:1-4). Já Gideão, com seu talento, abrandou uma situação que parecia
irremediável (Jz 8:1-2).
A Memória
A memória é a faculdade do orador, que pode elevá-lo à culminância da glória ou também
confundi-lo até a humilhação mais profunda. Não se deve confiar inteiramente nela e desprezá-la seria um
grande erro.
É indispensável que o orador possua boa memória para as datas, nomes, textos e circunstâncias
principais de um fato. Ela é de grande auxílio para o vocabulário e para as frases e expressões exigidas no
momento da elocução. Ela se torna perigosa quando o orador se torna escravo deste recurso. Decoram
em casa o discurso, e no momento de falar, por uma perturbação qualquer se desmemoriam, não podendo
recordar-se da palavra que decoraram. Como se há de proceder então? Usando os esquemas. Todos devem
disciplinar a inteligência e a memória por meio de esquemas. Os esquemas põem-nos claro diante dos
olhos o plano que temos de seguir. Mostram-nos, como um mapa, o caminho a percorrer. Mas não escreva
o discurso. Seria erro maior. Os esquemas devem conter só as partes principais do discurso. Evite que se
multipliquem as divisões e as subdivisões, pois podem atrapalhar.
A Imaginação
A imaginação constitui o maior tesouro do orador. É quem lhe vai sugerindo as mais lindas
comparações, as mais formosas e adequadas figuras de pensamentos, e as descrições mais empolgantes.
A imaginação dá vida ao feio esquema da inteligência. O orador sem imaginação é o mesmo que cantor
sem voz. Sem criatividade os melhores pensamentos serão frios e inertes; não terão força de persuadir e
muito menos de comover.
A Inspiração
A inspiração é a forma como o orador cria e produz o seu discurso. É o dom principal dos
improvisadores, daqueles que conseguem transformar em beleza de oratória os assuntos mais comezinhos
da vida social. Ela faz com que o orador quebre alguns tabus e deixe velhas concepções, com o fim de
criar uma peça oratória a partir do olhar de um ouvinte ou da manifestação de um grupo. A inspiração não
se manifesta unicamente nas expressões orais, nas palavras, mas também nos gestos, na aparência toda,
na voz, e nos acentos da declamação. São efeitos da inspiração o ânimo, a admiração e o iluminar da almas
dos ouvintes. Podemos dizer que a inteligência cria os fatos, a imaginação lhes dá vida e a inspiração os
revela.
A inspiração sabe aproveitar-se das circunstâncias, surpreendendo os ouvintes com o brilho e o
inesperado da sua força oratória. No histórico ela desliza simplesmente com a natural dicção de quem
narra. Ao descrever os campos ou romances ele apaixona; No trágico espanto; No extraordinário ele exalta
e arrebata; No belo recreia e no feio aterroriza; Na virtude atrai e no vício repugna; No dificultoso imprime
valor. Tarefa fácil? De forma alguma. É por isso que existe treinamento.
A Sensibilidade
Consiste na facilidade de perceber e de reproduzir os sentimentos, dando-lhes um cunho pessoal,
inconfundível. Quem se apresentar com o comportamento frio, insensível, apático, inalterado, provocará
o desinteresse (ou rejeição) dos ouvintes.
O orador frio, impassível, sobre o qual nada valem as impressões de um júbilo público, de uma
tristeza geral, certamente a sua palavra também não conseguirá nada em tais auditórios porque não dispõe
de vibração alguma. O orador calculista, que também não se emociona, serve para ensinar matemática,
mas nunca arrebatar seus ouvintes. O orador nervoso. Estes são como uma bomba relógio, se não ficam
nervosos no começo ficarão no fim. Causará um esgotamento de nervos em si mesmo e no auditório. O
orador patético é aquele que traz uma mensagem sem vida e sem entusiasmo, e assim será seu auditório
após ouvi-lo. O orador não pode perder certa majestade e imponência a fim de que o ouçam com respeito.
É preciso apresentar a mensagem como se estivesse carregando uma bandeira para o campo de batalha.
Os gestos são sempre denunciadores da sensibilidade humana e por isso é necessário vigiá-los. As
mãos não andem a cata-vento, em luta com sombras e fantasmas. O corpo não entre em contorções
desesperadas. A cabeça se mantenha naturalmente e a voz não deve ser trêmula ou enriquecida de
clarineios, o que fará rir a assistência.
A Síntese.
É dizer tudo o que for preciso, somente o que for preciso, nada mais do que for preciso. É por isso
que Marques Oliveira diz: “O orador tem três problemas: um probleminha que consiste em ir até a frente
e encarar o auditório; um problema que é falar ao público; e um problemão que está em saber parar de
falar. Tenta-se resolvê-lo da seguinte maneira: assim como o rojão tem seu estouro, deve o orador, após
atingir o clímax do discurso, resumir as razões da sua afirmação inicial, reafirmar sua ideia mãe e, se for
o caso, reforçar a ideia mãe apelando para as emoções do auditório.” É uma tarefa difícil e que precisa ser
perseguida com obstinação. Há mensagens que nunca terminam e se tivessem sido acabadas meia hora
antes teriam sido um sucesso. A capacidade de síntese não está ligada exclusivamente ao tempo da fala.
O seu conceito é mais abrangente e está relacionado com a importância dos aspectos desenvolvidos em
cada assunto e com o objetivo a ser atingido. Não adianta parar de falar porque já se ultrapassou um
determinado tempo, se com isto estivermos mutilando importantes informações referentes à matéria.
Aparência agradável
Quem sabe apresentar-se agradavelmente já tem meio caminho andado para captar a simpatia do
auditório. Ao contrário, orador que se apresente causando má impressão aos ouvintes quer pela maneira
petulante ou altiva do olhar, quer pelas vestes em desconcerto, quer pela postura toda do corpo, pelos
cabelos em revolta e o rosto afogueado, ou por qualquer palavra infeliz, ainda que seja bom orador, terá
de lutar bastante para vencer a repulsa do auditório. A apresentação do orador deve ser antes de qualquer
coisa – varonil, modesta, serena, digna de si, do assunto e da assistência. O rosto há de ser indiferente,
porém, sempre nobre.
A VOZ PERFEITA
A Arte de Falar se baseia na voz, como a música no som, como a pintura na cor. Quem não tiver
voz perfeita, precisará aprimorá-la, pois, a voz é o veículo de importância fundamental no transporte da
mensagem. Precisa ser bem cuidada para não prejudicar a comunicação.
A voz determina a própria personalidade de quem fala. Se estamos alegres, tristes, apressados,
seguros etc., uma das primeiras identificações destes comportamentos é transmitida pela voz. E por que
será que a voz reflete com tanta nitidez o que se passa no interior das pessoas? Porque a fala é uma
adaptação do nosso organismo, ou seja, uma consequência da adaptação do nosso aparelho digestivo e
certas partes de nosso aparelho respiratório para produzir o aparelho fonador. Assim, qualquer problema
de ordem física ou emocional será imediatamente revelado através da voz.
A voz deve ser ouvida: “Como crerão naquele que não ouviram?”
1. A voz deve ser entendida: Não basta ser ouvido é preciso ser compreendido. Como disse Paulo
aos que falavam língua estranha: “ninguém o entende” (1Co 14:2).
2. A voz deve agradar. Ninguém tem a obrigação de ser um Roberto Carlos, mas isso não dá o
direito de não querer melhorar sua sonoridade;
3. A voz deve ser expressiva. Mostre o que tem dentro de sua alma.
4. A voz deve ser eloquente. Quando pregar deve mostrar todo carisma possível.
O Segredo da Respiração
Para que se tenha voz perfeita é necessário também que saiba respirar. O primeiro cuidado que se
deve tomar para que a voz adquira a qualidade desejada é respirar corretamente. Fale de dentro de si
mesmo, como quando choramos ou rimos espontaneamente. Note que quando isso acontece sentimos
nossas entranhas se estremecerem e o som sair alto, mesmo para aqueles de timbre mais baixo.
O Ritmo
O ritmo é a musicalidade da fala, é a colocação mais ou menos prolongada das vogais, a pronúncia
correta das palavras, levando em conta a sua acentuação, a alternância da altura da voz e da velocidade
que imprimimos às frases, ora alta, ora normal, ora baixa; rápida em certos momentos, lenta em outros,
fazendo com que este conjunto melodioso influa no espírito e na vontade da plateia.
É preciso aperfeiçoar o ritmo da fala dentro do estilo de cada um, aproveitando a energia, o timbre
e a sonoridade da voz. Ninguém deverá copiar ninguém, mas é sempre recomendado que ouça grandes
oradores, para que se observem os efeitos do ritmo das suas palavras e se possam associar aos produzidos
pela nossa comunicação. O conjunto harmonioso da pronúncia das palavras pode provocar no auditório
sensações de extremo encantamento. O ritmo e a cadência da fala poderão ser conquistados com simples
exercícios de leitura de poesia, em voz alta.
Expressividade das Palavras
É bom atentar para a expressividade dedicada às palavras dentro da frase. Cada palavra possui uma
ou mais sílabas de maior importância, assim como cada frase possui uma ou mais palavras de maior
importância. Vejamos o exemplo: “Ontem eu fui à escola de automóvel, com meu irmão”.
Primeira hipótese: O dia em que fui à escola era a mensagem principal. Então ontem deveria
receber a pronúncia mais acentuada.
Segunda hipótese: O local aonde eu fui era a mensagem predominante, então, teremos: “Ontem eu
fui à escola...”
Terceira hipótese: A forma, o meio de transporte utilizado, como eu fui à escola, é que tinha maior
valor na mensagem. Então, vamos ter: “Ontem eu fui à escola de automóvel...”
Quarta hipótese: O meu companheiro de viagem era na verdade a figura principal da história:
“Ontem eu fui à escola de automóvel, com meu irmão”.
Intensidade
É preciso também exercitar e vigiar a intensidade da voz. Não poderemos falar aos berros para um
pequeno auditório, nem aos sussurros para uma multidão. Aqueles que falam com voz igual a um trovão,
quando diante de pequeno público, fazem papel ridículo. Já os que têm o timbre baixo, devem procurar
aumentá-lo. É difícil imaginar que exista comunicação quando não se ouve o que é transmitido. O
microfone é uma solução que na maioria das vezes tem se tornado em um grande problema. Mesmo para
os grandes auditórios, quando há microfone, a voz precisa encontrar a altura adequada para não irritar
aqueles que ouvem. Se falarmos com voz defeituosa a mensagem chegará distorcida aos nossos ouvintes.
O Vocabulário Ideal
O vocabulário ideal não é riquíssimo, sofisticado, como se tivesse sido pesquisado nas profundezas
de um dicionário, e muito menos pobre e vulgar. É aquele que se adapta a qualquer auditório. Embora
simples, traduz as ideias claramente, sem divagações. Lembremo-nos sempre, entretanto, que palavras
simples não são palavras sem consistência. O conceito de simples restringe-se à clareza de ideias e à
compreensão dos ouvintes. Quanto mais abundante for o vocabulário, maior será a capacidade de
adaptação aos mais diferentes tipos de auditórios. O orador sábio saberá empregar a palavra certa, na hora
certa, para o ouvinte certo. Certo?
“A grande diferença entre o verdadeiro orador e o simples falador reside no fato de o primeiro
preocupar-se profundamente com o auditório a quem fala, e o segundo não.”
O pregador precisa entender que está lidando com almas, com psicologias individuais, com seres
humanos. O falador contenta-se apenas em falar, mas o orador quer mais: quer influir no comportamento
futuro de seus ouvintes. Mais do que pregar ele quer tocar os corações.
O orador que não leva em conta o seu público se esquece do principal: As pessoas que vão ouvir.
Precisamos analisar amorosamente nosso público. O orador sensato considera o ouvinte – e a ocasião.
O pregador sem percepção só tem a perder, afinal, com o tempo, não terá mais ouvintes, e sem ouvintes,
ele deixará de ser um pregador (na verdade nunca foi). Não deve ser o desejo do orador bater de frente
com seus ouvintes. Não podemos nos orientar por casos isolados como o trecho de Mateus 23 e achar que
aqueles que estão todos os domingos, sentados, prontos a nos ouvir, sejam hipócritas, sepulcros caiados,
e filhos do inferno. Seria um erro. Na maioria das vezes falamos aos filhos de Deus e é assim que devem
ser tratados. São pessoas de carne e osso, imperfeitas, necessitadas e desorientadas, contudo, estão prontas
a nos ouvir.
O bom orador atinge o seu auditório e este a ele – as linhas de comunicação são fortes em ambas
as direções. Seu sucesso foi possível porque ele procurou conhecer as necessidades dos ouvintes e
adaptou-se para alcançar seus corações. A percepção do orador irá fazer com que este entre no coração
que está prestes a quebrantar, a amolecer o coração endurecido, a abrir as mentes fechadas e expandir as
mentes já abertas. Sobretudo falará com amor. As palavras duras e impetuosas só serão usadas como
último recurso, e isto, com moderação, de forma que estas penetrem como agulhas de acupuntura e nunca,
como facas propositadamente lançadas: “Há alguns que falam como que espada penetrante, mas a língua
dos sábios é saúde” (Pv 12:18). O bom orador sabe que os sentimentos, ou moral, podem ser lacerados
por um golpe cruel e desajeitado, e este espírito abatido “quem o pode suportar?” (Pv 18:14). Sabe que
conseguirá, com um pouco de talento oratório, medicar o enfermo, consolar o abatido e exortar o
principiante. “Os lábios do justo apascentam a muitos”, (Pv 10:21)
“O hipócrita com a boca destrói o seu próximo” (Pv 11:9),
O Orador indiferente, que pouco se preocupa com seus ouvintes, geralmente recebe a resposta
merecida. Alguns vão dormir, outros vão estar pensando em suas contas, e outros se irritando com a
demora. J[a o orador cheio de rigor e dureza está pedindo o mesmo tratamento com a sua mensagem.
Imprudentemente, ao invés de aproveitar a oportunidade e falar aos seus ouvintes, lhes atira apenas
palavras e indiretas. Ao contrário do orador indiferente ele consegue alcançar o seu público. Alcança e o
machuca. Suas palavras são verdadeiros torpedos a derrubar as naus das inteligências. Sua sensibilidade,
inexistente, nem percebe que “com palavras fere e com palavras serás ferido”.
O orador cheio de rigor e dureza está pedindo o mesmo tratamento com a sua mensagem.
O Orador indiferente, que pouco se preocupa com seus ouvintes, geralmente recebe a resposta merecida.
O DISCURSO E SUAS PARTES
Quando se fala em público, não se pode deixar que as palavras nasçam e vivam a seu bel-prazer;
elas devem ser ordenadas, dispostas dentro do discurso, de tal maneira que, combinadas entre si, ofereçam
um conjunto agradável e convincente.
O orador, o conferencista, o professor, o pregador, e todos os demais profissionais que necessitam
se dirigir a um auditório, tem a necessidade de conhecer este problema. Para que as comunicações orais
sejam feitas dentro de uma certa lógica e envoltas pela coerência das palavras e das ideias, é necessário
ordem. Não a ordem fria da serena beleza da matemática, mas lógica viva das palavras, que comunica,
persuade e convence.
O discurso é, portanto, uma exposição ordinariamente preparada, algumas vezes improvisada, de
pensamentos e raciocínios, segundo as leis da oratória, com o fim de convencer ou de comover os
ouvintes. Para tanto é preciso que tenha integridade, proporção e clareza. Por integridade queremos
dizer que deve ser homogêneo, completo, onde cada parte se interliga com a outra de forma que seja
impossível separá-las sem destruir a peça oratória. É indispensável que umas e outras partes guardem
proporção entre si e com o todo. Não seja o exórdio, por exemplo, maior do que a exposição, etc., e além
da conexão e da proporção, que seja tudo claro, para que os ouvintes, sem esforço, acompanhem o trabalho
do orador.
Não se esqueça. O discurso deve ter integridade, proporção e clareza.
O EXÓRDIO ou INTRODUÇÃO
A primeira parte do discurso, o Exórdio, visando a assistência, deve conquistá-la, tornando-a:
atenta, dócil e benévola. Por atenta, entendemos os ouvintes interessados nas palavras do orador. Por dócil,
o auditório disposto a ser ensinado ou a ouvir as razões do orador. Por benévolos, compreendemos os
ouvintes simpatizando com a pessoa do orador, ou com suas ideias. Portanto, deve o orador ser
interessante, delicado e simpático. De tudo, concluímos: o exórdio deve ser insinuante (captar a simpatia).
A AFIRMAÇÃO
A afirmação, sendo a parte onde o orador transmite sua ideia mãe, deve ter como alvo supremo a
clareza. Nesta parte, não pode os ouvintes ficar em dúvida, tentando adivinhar onde quer chegar o orador.
A ideia mãe é o discurso em miniatura e deve ser perfeitamente estendida por todos os ouvintes. A clareza,
repetimos, é a característica fundamental da afirmação, onde surge a ideia essencial a ser transmitida.
A PROVA
A parte chamada prova tem como objetivo demonstrar a verdade da afirmação feita. Logo, deve
ser convincente, de modo a explicar bem as razões pelas quais pensamos desta ou daquela maneira, ou
pretendemos fazer o auditório assumir esta ou aquela atitude. Geralmente, após demonstrar as razões a
favor de nossa ideia, necessário é refutar as objeções ou dúvidas possíveis. Por isso, dividiram os antigos
a parte da prova em: confirmação e refutação. Na confirmação, demonstramos a verdade de nosso ponto
de vista. Na refutação, prevendo ou rebatendo a ideia contrária, ou as objeções cabíveis, desfazemos as
dúvidas ou as hesitações dos ouvintes. De tudo isto concluímos que a prova deve ser convincente.
A PERORAÇÃO ou CONCLUSÃO
Em oratória não basta aquela frase de que “a primeira impressão é a que fica”. Ela não é a que
fica, mas que fica também, afinal, “A última impressão também ficará”.
De fato: no final de nossas palavras devemos causar nos ouvintes a maior impressão, de modo a
gravar em sua mente quanto queremos transmitir. Isso conseguiremos, recordando, rapidamente, as
diversas razões apresentadas em abono de nossa afirmação e reafirmando, vigorosamente, nossa ideia
mãe. De qualquer forma, procederemos, por todos os meios, de maneira a impressionar vivamente os
ouvintes, pois a característica fundamental da peroração é ser impressiva.
A Primeira Impressão Fica: Em oratória, já sabemos ser a peroração a parte de maior efeito. No
entanto, a impressão deixada pelo exórdio permanece durante todo o discurso, sendo raro poder o orador
salvá-lo, se começou mal. O bom começo é meio caminho andado. Não agradando o exórdio, todo o
discurso está comprometido. A primeira impressão decidirá da boa ou má acolhida de nossas palavras
pelo auditório.
Observe o início de qualquer discurso: a atenção geral concentra-se na pessoa do orador. Esse
interesse pessoal é transferido, pelo exórdio, para o assunto a ser tratado.
Se queremos a atenção de nossos ouvintes devemos conquistá-los logo no início. Percebemos essa
técnica nos discursos de Paulo. Antes de começar a falar sobre o assunto a ser discutido ele procurava
ganhar a confiança da assistência. Às vezes seu exórdio era simples, mas o suficiente para atrair a atenção,
a docilidade e a benevolência dos ouvintes.
Levemos em conta o uso constante de Paulo a esse recurso. Em Antioquia da Pisídia, antes de
afirmar o que iria dizer, fez o seguinte comentário: “E, levantando-se Paulo, e pedindo silencio com a
mão, disse: Homens israelitas, e os que temeis a Deus, ouvi” (At 13:16) Percebemos que o auditório estava
meio que hostil, mas o gesto de suas mãos e a simpatia das palavras iniciais permitiu que ele fizesse a uma
bela mensagem. Em outra feita Paulo estava em Atenas diante de um público culto e curioso. Seu exórdio
nesta ocasião é um verdadeiro tesouro na arte de começar um discurso. Antes de ser colocado no meio do
areópago observara os ídolos e os altares. Poderia começar o discurso dizendo: “Homens atenienses, em
tudo vos vejo um tanto idólatras”. Um começo assim espantaria seu público. Como dariam atenção a
verdade se nem ouvissem a verdade? Que ele fez para atrair a atenção deles? Começou elogiando-os:
“Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto religiosos” (At 17:22). O elogio tornou-os atentos, dóceis
e benévolos. Mesmo numa situação crítica e desfavorável esse apóstolo não desprezava o valor do bom
exórdio. Certa feita, quando duramente acusado pelos judeus diante de Felix, encontrou lugar para elogiar
seu ouvinte em potencial, o próprio Felix. Buscou a simpatia do rei com uma simples frase: “Por saber
que já vai para muitos anos que desta nação és juiz, sinto-me a vontade para responder por mim” (At
24:10). Se o rei estava com o espírito armado para não o ouvir foi desarmado com aquelas palavras bem
postas. Com simplicidade captou a atenção do governador. Numa situação quase idêntica lá estava ele
novamente diante de um rei. Agora seu ouvinte eram um rei e uma rainha – Agripa e Berenice. Quando
lhe foi permitido que se defendesse, antes de falar qualquer coisa, fez o gesto de respeito. Depois usou a
técnica do exórdio: “Tenho-me por feliz, ó rei Agripa, de que perante ti me haja hoje de defender de todas
as coisas de que sou acusado pelos judeus. Mormente sabendo eu que tens conhecimento de todos os
costumes e questões que há entre os judeus; por isso te rogo que me ouças com paciência.” (At 26:2-3)
Paulo diz que se sente honrado em poder se defender diante de Agripa. Reconhece no rei um homem
entendido nas leis e costumes pelos quais estava sendo julgado. Por fim pede paciência ao ouvinte.
Que exórdios maravilhosos! O Resultado? Conseguiu não somente a atenção dos seus ouvintes,
mas no último caso quase converteu o incrédulo Agripa.
Tértulo é um outro exemplo na Bíblia de alguém que usou a técnica do exórdio. Este advogado
fora contratado pelos judeus para fazer as acusações contra Paulo, o que fez com presteza e falsidade. No
entanto seu exórdio é digno de nota. Veja como ele começou seu discurso: “Visto como por ti temos tanta
paz e por tua prudência se fazem a este povo muitos e louváveis serviços. Sempre e em todo o lugar, ó
potentíssimo Félix, com todo o agradecimento o queremos reconhecer.” (At 24:2-3) Não podemos negar
que com essas honras e elogios ele conseguiria captar a atenção de qualquer ouvinte. Pois é isso mesmo
que todo pregador deve fazer antes de começar a pregar: Conquistar a atenção da assistência.
A Voz no Exórdio:
Como regra geral e de raras exceções, a voz deve ter pouco volume no exórdio. Principalmente
nas primeiras sentenças pronunciadas. Quase no final do exórdio, eleva-se gradualmente, até atingir o tom
normal. Começando suavemente, pode prestar mais atenção à própria voz e graduá-la de acordo com a
acústica local. Além disso, a voz, em repouso, irá esquentando-se aos poucos, como motor de automóvel.
O motorista experiente não “arranca” com motor frio.
A principal vantagem de iniciar-se com pouco volume reside na possibilidade de o orador elevar a
voz e retornar ao tom primitivo, de acordo com a necessidade. Começando muito alto, toda vez que abaixar
a voz parecerá inseguro ou cansado. Do ponto de vista do auditório, temos também vantagens. O começo
lento e pouco volumoso obriga os assistentes ao silêncio. Mais ainda: aos ouvintes é sempre simpático
quem inicia hesitando, pois isso demonstra respeito pelos assistentes. O tom de voz normal, seguro e firme
no começo, pode predispor o auditório contra o orador.
Calma e lentamente iniciará o orador suas palavras. Prossegue adquirindo velocidade e elevando
a voz, até atingir o tom necessário à amplitude do auditório ou à magnitude do assunto.
As Pausas. Começar pausadamente incita a curiosidade do auditório, e só por isso serve como
luva ao objetivo do exórdio. Além do que, ajuda a fazer silêncio no auditório.
Finalidades do Exórdio
“Tornar os ouvintes atentos, dóceis e benévolos”. Nestas três coisas concentram-se todas as
alternativas imagináveis para um bom começo.
• Desperte a curiosidade dos ouvintes, interesse-os, ou intrigue-os e eles ficarão atentos;
• Garantir-lhes brevidade é tê-los dóceis. Acalmá-los de alguma outra preocupação, é mantê-los dóceis.
Prometer-lhes satisfação de algum desejo ou necessidade urgente, é fazê-los dóceis. Dar-lhes boas
notícias, é torná-los dóceis.
• Finalmente, elogiá-los, é despertar benevolência. Demonstrar humildade é provocar benevolência.
Confessar nervosismo é criar benevolência. Concordar logo de início com os ouvintes, é assegurar-se
da sua benevolência.
O bom orador compreende que “o pior surdo é aquele que não quer ouvir”, e para que não tenha
surdos na audiência vai fazer de tudo para atraí-los a ouvir a mensagem.
Sabe também que na assistência tem os que já estão convencidos do contrário, ou tem aversão pela
afirmação que foi proposta. Que fazer? A tática para este caso é basicamente a mesma. Prometa falar
exatamente sobre aquilo que o ouvinte acredita, e então, sabiamente rebata suas falsas concepções, como
fez Paulo em Atenas. Eles estavam convencidos do contrário, mas Paulo prometeu-lhes falar sobre “o
Deus desconhecido que eles adoravam”. Lembre-se: Todo pensamento contrário tem sua coluna de apoio.
Faça como Sansão. Primeiro chegue até essa coluna, e depois, derrube-a com seus argumentos.
A Atenção do Auditório
Auditório atento é o interessado nas palavras do orador, curioso por ouvir o discurso, e intrigado
com o prosseguimento. Isso é auditório atento. Já a desatenção quase sempre é provocada pela monotonia.
Aí o desinteresse tem sua origem. Coisas já sabidas e assunto já batidos provocam desatenção.
Para tornar os ouvintes atentos, devemos interessá-los. E como conseguiremos isso? Recorrendo
às novidades. Seria por acaso que evangelho quer dizer “boas novas?” As coisas novas, nunca ouvidas,
extraordinárias, incríveis, sempre despertam interesse quando anunciadas. Por quê? Porque somos
curiosos. O orador pode e deve usar a mesma técnica, iniciando suas palavras contando alguma coisa nova,
diferente ou incomum. É preciso que seu assunto seja “engrandecido” diante dos ouvintes. Basta o
saborzinho de novidade para despertar interesse. Quanto mais próxima a novidade estiver do ouvinte, mais
interessados ficarão. Ex. Os Jornais. Novidade boa é aquela que está no tempo e no espaço dos ouvintes.
A Benevolência da Assistência
Benevolência é o querer bem, é a simpatia preexistente ou despertada pelo orador, a seu favor ou
a favor de sua ideia. O sorriso amigo é o característico mais certo da benevolência.
Benevolentes são os ouvintes identificados com a alma do orador, dispostos a perdoar-lhe os erros
e deslizes, prontos a socorrê-lo com uma ajuda (palavra), caso a memória o traia. Já a impassibilidade é
característica da malevolência. O suspiro de resignação e o desvio dos olhos marcam essa indisposição.
O benevolente está sempre à espera do olhar do orador.
Como conseguir benevolência? Seja humilde. A humildade nos faz conscientes de nossas
limitações e deficiências, mas nos encoraja a vencê-las. No fundo, o que a assistência quer, do orador, é
apenas naturalidade. A naturalidade é sinceridade, e esta desperta simpatia. Ao elogiá-los faça-o
honestamente. Caso não exista nada elogiável nos presentes, não elogie! As plateias tem radar
apuradíssimo para a falsidade e a sinceridade. Não é necessário que o auditório simpatize com a pessoa
do orador. Basta que simpatize com suas ideias. Comunique o ponto comum e ela se tornará benevolente.
A AFIRMAÇÃO
“Uma só matéria”, este é o tema da mensagem do Pe. Vieira. Uma só matéria, um só assunto: Este
deve ser o trabalho pensativo dos oradores que desejam “convencer e comover” seus ouvintes. A partir de
um assunto você deve construir sua árvore, pois, a Bíblia está cheia de assuntos, prontos para serem
desenvolvidos em sua mente, e depois em sua peça oratória.
Clareza
Não basta provar a nossa ideia mãe, para os ouvintes concordarem com ela. A simples
demonstração do nosso ponto de vista pode produzir apenas os efeitos de um cálculo matemático, e o
auditório ficará frio e indiferente. Para o auditório agir e vibrar de acordo com nossa maneira de ver as
coisas, precisamos comove-lo.
Portanto, “supor que uma ideia nua, seca, uma concepção abstrata, sem acompanhamento afetivo,
tenha a menor influência no procedimento humano é um absurdo em oratória”, afinal, só acreditamos no
que queremos. As provas fazem as pessoas pensarem que nossa afirmação seja a melhor, mas o apelo às
emoções faz com que elas queiram a nossa afirmação para suas vidas.
Importante! A finalidade visada pelos métodos é dividir o discurso em partes claras e definidas,
a fim de torná-lo mais agradável para os ouvintes, e mais facilmente memorável pelo orador. É por isso
que dizemos ser difícil saber quem lucra mais quando o discurso segue um método na divisão da ideia
mãe: se o orador, e o ouvinte.
Quem ganha mais? O orador, indiscutivelmente, tem sua vantagem: não se perde, não faz rodeios
nem fica indeciso, sem saber como terminar. Torna-se simples memorizar longos discursos, se o mesmo
estiver dividido em partes distintas, autônomas e logicamente encadeadas. Não queremos dizer decorar
discursos, mas guardar, na exposição do mesmo, aquela ordem preestabelecida por nós durante a
preparação.
O auditório, por sua vez, percebendo haver nas palavras do orador uma lógica, ouve com mais
agrado e, frequentemente, não percebe o tempo correr, tão enlevado fica. Isso acrescenta encanto ao
discurso, causando satisfação o ato de ouvi-lo. Este prazer experimentado pela assistência reflete-se nas
fisionomias, ajudando o orador a expor com mais brilho as suas ideias.
Eis os métodos mais comuns para dividir uma ideia- mãe.
O Método Cronológico
O primeiro método para se dividir a ideia mãe chama-se método cronológico.
Todos os fatos estão localizados no tempo e no espaço. Tudo na vida tem um antes, um durante e
um depois. Assim, podemos dividir qualquer acontecimento em períodos ou fases e dar a todos eles uma
sequência cronológica.
A vida das pessoas presta-se para divisão cronológica, podendo ser dividida em períodos de tempo
marcados por algum acontecimento relevante. Por exemplo: Suponhamos que queremos fazer uma
mensagem sobre a conversão de Saulo, cujo título poderia ser: “A Salvação mais inesperada da história”.
Com o método cronológico diríamos: 1) O fanático fariseu; 2) A batalha no caminho de Damasco; 3) A
rendição que ninguém esperava. É claro que cada um desses pontos seria minuciosamente trabalhado,
porém, o esqueleto da mensagem está feito de forma que ele é visto antes, durante e depois da conversão.
O método cronológico é grande disciplinador de nosso raciocínio. Ensina-nos a pensar com lógica
e a dizer coisa com coisa, sem a confusão e o caos desordenado e incompreensível. Permite-nos descobrir
fatos interessantes, não percebidos antes. Além disso, tem a vantagem de você poder usá-lo em
combinação com outros métodos. A experiência nos mostra: o emprego do método cronológico facilita
muito a clareza de qualquer exposição.
O Método Lógico
É o método da causa e efeito. O raciocínio lógico chega a uma verdade após a admissão de uma
ou mais preexistentes ou antecedentes. No dizer de Paulo: “o que o homem semear, isto também ceifará”.
Podemos observar a lei da causa e efeito na vida de Ló, como o tema: “Ló. Uma vida perdida”. 1) Primeiro
destacamos a oportunidade que teve em servir a Deus ao lado de Abraão; 2) Depois mostramos que “o
amor a este mundo” levou-o junto de homens pecadores; 3) Continuaremos afirmando que junto de
homens pecadores só podemos colher dissabores; 4) Por fim, ressaltaremos que sua vida foi uma perdida
(perdeu a comunhão com Deus. Perdeu sua família, perdeu seus bens, e perdeu a vergonha). Sua escolha
errada (causa) levou-o a uma perdição (efeito).
O Método Topográfico:
O método topográfico presta-se mais a descrição das coisas, dos objetos e dos lugares. Perceba
como o livro de Josué desenvolve boa parte de seu discurso usando este método: A conquista de Canaã,
central; a conquista do sul de Canaã; e a conquista do Norte de Canaã. Podemos falar o mesmo sobre a
história das conquistas de Davi, ou da reconstrução dos muros de Jerusalém por Neemias.
A outra maneira de usar o método topográfico é colocar o objeto de exposição em diversos lugares.
Se quiser falar sobre um personagem este método é muito útil. Por exemplo: Imaginemos que nossa ideia
Mãe é “José na Escola de Deus”. Podemos então falar de como ele cursou a “escola de Deus” nos lugares
em que passou: 1) As lições na casa de seu pai; 2) As lições na casa de Potifar; 3) As lições na prisão; Nos
três casos sempre ressaltando de como ele cresceu no conhecimento e temor a Deus. Podíamos fazer
diferente como José e fazer uma mensagem cujo tema seria: “O Companheiro das Três Prisões”. A partir
do método topográfico perguntamos quem esteve ao lado quando foi jogado na cisterna por seus irmãos;
quem estava ao seu lado na casa de Potifar; e quem esteve ao seu lado na casa do cárcere. Seu companheiro
foi Deus. Perceba que o método topográfico é riquíssimo em oportunidades.
Este método pode ser usado quando o orador resolve dividir seu assunto em dois ou três problemas
especiais. Por exemplo: Imaginemos que Paulo ao chegar no areópago e ver a cidade toda entregue a
idolatria resolva usar esse método para falar dos ídolos. Sua mensagem ficaria mais ou menos assim: Por
que a idolatria é um problema; para onde leva o problema da idolatria; como resolver o problema da
idolatria.
Este método consiste em analisar a ideia mãe de diversas formas, conforme a intenção do orador
ou o interesse da assistência. Vejamos por exemplo: a faca e suas utilidades. Para o caçador é arma
necessária à subsistência; para o assassino é instrumento do crime; O escultor e o médico a vê como
ferramenta; a dona de casa como utensílio doméstico; o jovem esportista achá-la-á excelente como
arremesso ao alvo. Por qualquer ângulo, será faca ainda, mais vista de ângulos diferentes.
Certa vez eu observei a vida de Joabe sobre diversos ângulos. A observação fez nascer uma
mensagem chamada “Amigo da Onça”. Comentei que ele foi o chefe do exército de Davi por toda a sua
vida. Mostrei que ele nunca perdera uma batalha e sempre lutou valentemente as guerras do rei. Mas no
fim, revelei que ele nunca fez sua tarefa porque amava o rei, e sim, por que amava a si mesmo.
Como Dividir?
O importante a notar quanto à divisão da ideia mãe, é o seguinte: não subdivida muito seu discurso.
Além de ficar mais difícil para você memorizá-lo, cansará os ouvintes e certamente irá assustá-los logo
de início, quando você anunciar as trinta e cinco coisas que irá abordar... Quanto ao número de divisões o
número ideal é três e o máximo recomendável é cinco. Mais que isso é imprudência e, se for absolutamente
necessário, convém não enumerar as partes logo de início, para não assustar os ouvintes.
Lembre-se
A parte chamada prova tem como objetivo demonstrar a verdade da afirmação feita. Deve ser
convincente, clara, de forma que o auditório seja convencido e comovido pelo método que você usará.
Confirme a verdade de sua ideia mãe com provas evidentes e capazes de mudar o ânimo de seus ouvintes.
A PERORAÇÃO
Como fazer a peroração impressiva?
Quem ainda não viu, em comemorações, soltarem rojões? O fogueteiro acende um fósforo e chega-o ao
pavio. Chispas e faíscas antecedem ao nervoso chiado do foguete prestes a largar. Neste momento diversas
pessoas acorrem, para assistir à fita luminosa subindo ao céu, contra o fundo escuro da noite. A reta inicial
curva-se ao atingir o clímax de altura e velocidade. Nesse instante, todos, olhos fitos no risco de luz,
esperam o inevitável, aguardam o previsto e infalível em todo rojão que se preza de bom: o estouro! Ei-
lo: primeiro, a explosão luminosa; depois, o estampido sonoro.
Assim é a peroração, na mensagem. O discurso bom deve imitar, no final, o estouro do rojão. É o
que o ouvinte espera, o assistente aguarda e o espectador deseja.
A peroração tem também duas partes bem distintas: o resumo e o patético. Instantâneo e breve,
resumindo em si toda a matéria da comunicação, o resumo deve impressionar pelo impacto e ser eficaz
pela brevidade. O patético, como estouro final, embora esperado, deve pressionar e impressionar os
ouvintes, de súbito tantalizado pelo seu vigor.
O Resumo...resumido!
Nunca é demais insistir neste ponto: o resumo deve ser resumido. Muitos comunicadores, após
completarem seus raciocínios, parecem voltar atrás, passando a repetir todas as considerações já feitas.
Desta forma, ofendem, sem querer, a memória dos ouvintes e causam má impressão, aborrecendo a
assistência.
Existe a arte de resumir, a técnica de relembrar sem cansar. Pode o comunicador falar como se não
tivesse bem certo de haver tocado todos os pontos, recordando-os em voz alta, a ver se não faltou alguma
coisa a dizer. Ao terminar, pode ainda falar a hipotético adversário as suas ideias, desafiando-o a responder
aos diversos pontos abordados, enumerando-os.
Sempre a imagem do rojão nos é útil. O clarão final ocupa pequena extensão, mas impressiona
mais que toda a linha cintilante descrita pelo foguete, por concentrar toda a luz num ponto só. Assim deve
ser o resumo: resumido! Feliz do comunicador quando puder fazer seu resumo no espaço de tempo entre
acender um palito de fósforo e vê-lo consumir.
O Patético:
Não admitiam os gregos, especialmente da Ática, o apelo às paixões. Consideravam isto recurso
dos desprovidos de razão e argumentos. No entanto, a Arte Retórica, de Aristóteles, contém, em muitas
partes, preciosas indicações de ordem psicológica para o manejo das paixões humanas em proveito do
comunicador ou de suas ideias.
O patético é o apelo às emoções e tem como finalidade impressionar os ouvintes a favor de nossa causa.
Não concordamos com o modo de pensar dos áticos, pois consideramos legítimo o emprego deste recurso,
quando se trata de convencer o auditório a adotar nosso ponto de vista honesto e verdadeiro.
É triste perceber que muitas vezes os ignorantes e os aproveitadores conseguem influir na multidão
pela eloquência desordenada. Até os incultos, quando sinceros, levam a multidão para onde queiram. Não
é a inteligência a guia dos povos, mas a força das paixões. Eis porque o pregador fiel e honesto deve cuidar
com especial carinho do patético, ou seja, do apelo às emoções.
A palavra patético é formada de duas outras de origem grega: pathos (paixão) e ethos (costume).
Sua união simboliza o campo todo das emoções – ou inclinações (Amor, alegria, esperança, desejo e
audácia; Ódio, tristeza, aversão, desespero e temor.
No final da mensagem o pregador deve falar com sentimento e emoção. Deve ele próprio sentir e
se comover pela sua oratória, para então, entrar no coração dos seus ouvintes e arrebatá-los.
Sou proponente de que somente Deus pode abrir o coração do pecador. Creio ainda que muitos podem
fazer decisões precipitadas por que foram manipuladas na hora do apelo. Mas acredito que o pregador
precise impressionar seus ouvintes no final de sua mensagem. Vejamos o exemplo de Paulo em Atenas.
Ele gasta um versículo com o exórdio. Na peroração ele gasta dois (At 17:30-31).
“Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em
todo o lugar, que se arrependam. Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o
mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”
Não vemos aqui nada apelativo apenas um apelo sincero. Também encontramos um apelo quando
pregou para o rei Agripa. Foi mais forte que o primeiro, a ponto de causar enorme impressão seu ouvinte
no final da prédica:
“Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos
hoje me estão ouvindo, se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias.” (At 26:29)
Defeitos da Peroração
Lembre-se da proporção
Em tudo é preciso guardar a proporção. Discurso mais longo exige peroração mais elaborada.
Poucas palavras de saudação por exemplo, pedem peroração mais singela. Um sermão de quarenta
minutos, exige uma peroração de no máximo quatro. É comum, no entanto, ouvirmos discursos que não
passam de grandes perorações pomposas para uma afirmação medíocre e prova deficiente.