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Belo Horizonte
2021
Ana Luiza Barros de Araújo
Carolinne Leite Lima Marques
Isabela Larissa Garcia Fonseca
Belo Horizonte
2021
FOLHA DE APROVAÇÃO
Banca examinadora
_____________________________________
Cel PM QOR Alexandre Magno de Oliveira
(Orientador)
_____________________________________
Cel PM QOR Sílvio José de Souza Filho
(Avaliador 1)
______________________________________
Maj PM QOPM Ricardo Luiz Amorim Gontijo Foureaux
(Avaliador 2)
Dedico este trabalho, primeiramente, a Deus,
por ter me iluminado durante essa trajetória. À
minha mãe, aos meus irmãos, aos meus
sobrinhos e a toda minha família, que mesmo
diante da distância e da minha ausência,
sempre me apoiaram. Às Cadetes Carolinne e
Larissa que ombrearam comigo este grande
desafio.
Ana Luíza, Cad PM
Esta pesquisa teve por objetivo analisar a Incorporação do serviço de Patrulha Rural
na Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), tendo como ponto de partida o ano de
2001, a partir da criação do projeto-piloto de policiamento rural, com foco na atuação
preventiva criminal no campo, no município de Ituiutaba/MG. Baseado na filosofia de
Polícia Comunitária, o serviço de Patrulha Rural, em sua gênese, teve como
premissa o enfrentamento aos problemas de criminalidade e desordens que afligiam
a população rural da citada cidade, com a crescente migração da criminalidade da
área urbana para o campo. Surgindo como uma parceria entre a polícia e a
comunidade rural, com vistas a prevenir e reprimir delitos, a empreitada alcançou
resultados consideráveis, estendendo-se a outros municípios do Estado, sendo
regido por normas próprias e incorporando-se ao portfólio de serviços da PMMG.
Com o advento do programa Minas Segura, no ano de 2019, que tem como uma das
premissas o fortalecimento do policiamento ostensivo e o combate à interiorização
do crime, bem como o aumento da sensação de segurança dos moradores das
zonas rurais, o serviço de Patrulha Rural revestiu-se de enfoque institucional. A
pergunta norteadora deste estudo visa verificar se as Patrulhas Rurais estão
desempenhando seu serviço conforme as normas da PMMG. Nesse sentido,
pretende-se descrever a incorporação do serviço nos níveis estratégico, tático e
operacional da instituição. Tratou-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, com
natureza quali-quantitativa, com método de procedimento monográfico, de traço
histórico e estatístico, e método de abordagem dedutivo. A pesquisa foi realizada
nos três níveis, com vistas a traçar um panorama do status quo do serviço de
Patrulha Rural na PMMG, por meio de técnicas de observação direta e indireta. Os
resultados demonstraram que, desde a sua implantação, houve uma consolidação
do serviço. Contudo, há muito que se avançar quanto à temática Patrulha Rural,
serviço essencial em uma Unidade Federativa que tem como um dos principais
aportes, em sua economia, os dividendos advindos das atividades desenvolvidas
nas áreas rurais.
This research had the objective to analyzed the incorporation of the Rural Patrol
service in the Military Police of Minas Gerais (PMMG), and starting point in the year
2001, from the creation of a pilot project for rural policing with a focus on criminal
preventive action in the countryside Ituiutaba/MG. Based on the philosophy of
Community Police, the Rural Patrol service, in the origin, was premised on
confrontation the problems of crime and disorders that fly at the rural population of
Ituiutaba, with the growing migration of criminality from the urban area to the
countryside. Show up as a partnership between the Police and the rural community,
with the objective to preventing and repressing crimes, the enterprise has achieved
considerable results, extending to other cities in the state, being governed by its own
rules and being incorporated into the PMMG service portfolio. With the occurrence of
the program "Minas Segura" in 2019, which one of it's premises the strengthening of
ostensible policing and combating the internalization of crime, as well as increasing
the sense of security of rural residents, the Rural Patrol service it did take an
institutional focus. The guide question of this research has the object to verify if the
Rural Patrols are performing their service in accordance with rules PMMG. Therefore,
it was intended to describe the incorporation of the service at the institution's
strategic, tactical and operational levels. This research was an exploratory and
descriptive, with a quali-quantitative kind, with a monographic procedure method,
with a historical and statistical trace, and a deductive approach method. The research
was made at three levels, with the objective to drawing an overview of the status of
the Rural Patrol service at PMMG, through the technique of direct and indirect
observation. The results showed that, since the implementation, it has been a
consolidation of the service. However, there is a long way to go in terms of the Rural
Patrol theme, an essential service in a Federative Unit whose main contribution to its
economy is the dividends appearance from activities carried out in rural areas.
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 13
5 METODOLOGIA.................................................................................... 63
7 CONCLUSÃO ............................................................................................. 89
REFERÊNCIAS............................................................................................ 99
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DESTINADO ÀS P3 DAS RPM, P3 DE
BPM/CIA PM IND E COMANDANTES DE CIAS PM QUE POSSUEM
ZONAS RURAIS NAS RESPECTIVAS ÁREAS DE
RESPONSABILIDADE TERRITORIAL ...................................................... 103
1 INTRODUÇÃO
Diante deste cenário, é possível perceber que a Polícia Comunitária surge como
uma forma de diminuir o processo de segregação do modelo de policiamento, dito
tradicional, existente entre as instituições policiais e a sociedade civil, a fim de
possibilitar o aumento da participação da comunidade para identificação, análise e
discussão dos problemas sociais (BRODEUR, 2002).
Direcionada pela mesma política, foi editada a Diretriz nº 3.01.01/2019 – CG, que,
atualmente, norteia a atuação da Polícia Militar de Minas Gerais segundo a filosofia
de Polícia Comunitária e orienta que a instituição deve visar angariar melhores
resultados em diferentes áreas, a fim de proporcionar maior sensação de segurança
à população (MINAS GERAIS, 2019a).
1
Disponível em: www.cidades.ibge.gov.br. Acesso em: 06Set2021.
17
A PMMG não ficou inerte quanto à segurança nas áreas rurais, bem como dos
cidadãos que nelas residem, trabalham e empreendem. Em decorrência disso,
instituiu, como iniciativa estratégica para o alcance da missão organizacional, a
consolidação da segurança no meio rural.
Como o foco estratégico da PMMG está voltado para a sociedade, a fim de contribuir
para a redução do crime violento e melhoria da sensação de segurança, as ações de
polícia ostensiva não podem ser diferentes nas áreas rurais do estado.
Pelo exposto, esta pesquisa tem como objetivo geral descrever a incorporação da
Patrulha Rural, observando o seu desenvolvimento nos níveis estratégico, tático e
operacional, no âmbito da PMMG. Além disso, apresenta como objetivos
específicos:
a) relacionar as características da Polícia Comunitária com a Patrulha Rural
em Minas Gerais;
b) caracterizar a Patrulha Rural na PMMG, bem como estabelecer uma relação
com o disposto na instrução que regula o serviço e no Programa Minas
Segura;
c) inferir a conformidade ou desconformidade das práticas da Patrulha Rural
com as diretrizes da PMMG.
Na relação entre as variáveis, verificou-se, de uma forma geral, que uma variável
(independente) exerce efeito sobre a outra (dependente). Trata-se, pois, de uma
relação assimétrica entre elas.
“X → (?) →Y”
Dessa maneira, a observação das diretrizes pela instituição (variável “X”) ensejará,
em termos de probabilidade, a incorporação e execução efetivas do serviço da
Patrulha Rural em Minas Gerais (variável “Y”).
2 POLÍCIA COMUNITÁRIA
Esta seção abordará o conceito e a origem da Polícia Comunitária, bem como suas
principais características e princípios. Porém, para se falar acerca de tal temática,
cabe, primeiramente, fazer uma importante diferenciação entre as expressões
“Polícia Comunitária” e “policiamento comunitário”.
Para Marcineiro (2009), a expressão Community Policing deve ser traduzida como
Polícia Comunitária ou filosofia de trabalho policial. A Polícia Comunitária é uma
filosofia de trabalho, um conceito mais amplo que abrange todas as atividades
desenvolvidas relacionadas à solução dos problemas que comprometem a qualidade
de vida da comunidade.
Neste viés, para que o entendimento de Polícia Comunitária seja melhor clarificado,
é importante que se faça a abordagem histórica dessa nova modalidade de
policiamento nas instituições de segurança pública.
Dessa forma, para que existisse uma maior eficácia do trabalho policial, seria
necessária uma reavaliação do relacionamento com o público, no sentido de
viabilizar a cooperação dos cidadãos na tarefa de prevenção do crime. Foi neste
período que os conceitos de Polícia Comunitária e policiamento orientado ao
problema se tornaram cada vez mais fortes e latentes e apresentaram-se como
centro de discussão nas altas cúpulas de gestão das polícias.
Bretanha. Não está claro, até o momento, se a opinião que vai prevalecer
será a dos entusiasmados ou a dos desiludidos (SKOLNICK; BAYLEY,
2002, p. 51).
Conforme nos afirma Oliveira (2008, p. 54), “[...] é fato que não existe um programa
único para descrever o policiamento comunitário, ele tem sido tentado em várias
polícias ao redor do mundo”, e assim o é, até os dias atuais, nas polícias do Brasil.
Ainda segundo Peres e Murano (2020), observa-se que, a partir da década de 1980,
a Polícia Comunitária no Brasil começou a se fortalecer, promovendo uma gama de
inovações no estilo de se fazer policiamento e na forma de tratar os problemas da
criminalidade. Isso ocorreu em um momento em que as polícias militares estaduais
buscavam a reestruturação de seus processos com base na CRFB/1988.
Sob essa égide, em termos normativos pátrios, a filosofia de Polícia Comunitária tem
por fundamento a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
(CRFB/1988) a qual, em seu já referido artigo 144, assevera o dever do Estado e a
responsabilidade de todos na promoção da segurança pública na sociedade
brasileira. Esta filosofia efetiva o preceito constitucional e inaugura uma parceria
entre polícia e comunidade para resolver os problemas locais de segurança pública
e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
25
A experiência norte-america, descrita por Dias Neto (2013, p. 31), revela conceitos
que auxiliam no clareamento da visão do que seja a Polícia Comunitária e sua
influência direta na mudança da percepção social da polícia, bem como da
percepção da polícia em relação aos problemas que afligem a sociedade:
A doutrina estabelece dez princípios que visam nortear e “[...] devem estar presentes
em todas as políticas, procedimentos e práticas associadas a Polícia Comunitária”
(TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 2003, p. 9).
Essa nova forma também permite que tanto a comunidade, quanto a polícia possam
trabalhar em conjunto para diminuir os problemas sociais que afligem a comunidade,
como o tráfico de drogas, a criminalidade em geral e as desordens físicas e sociais.
(continua)
Questão Modelo Tradicional Polícia Comunitária
(conclusão)
2
Sparrow, M. Implementing Community Policing. Perspectives on Policing. p. 8-9. Washington, DC:
National Institute of Justice and Harvard University, 1988.
31
Pensamento já ultrapassado é aquele que, como diz Dias Neto (2003), faz emergir a
ideia de que dividir com “amadores” decisões relacionadas ao exercício da função
policial era vista como um convite à ineficiência, à arbitrariedade e à corrupção,
afastando, de tal maneira, a participação social nas questões relativas à segurança
pública.
3
Em 20 de agosto de 1956, foi lançado efetivamente o Policamento Ostensivo de forma setorizada e
exercido por uma dupla de policiais na modalidade a pé. A dupla denominada “Cosme e Damião”,
em referência à experiência da Polícia Miltiar do Rio de Janeiro, recebeu outras denominações,
como Castor e Pólux, irmãos de Helena de Tróia, e Sansão e Dalila. Mas o nome definitivo só seria
determinado posteriormente. Em janeiro de 1957, foi aberto um concurso para escolha do nome da
dupla de policiais que iriam realizar o patrulhamento na Capital. No encerramento do Concurso, a
nomenclatura “Cosme e Damião” foi definitivamente efetivada como nome Oficial (MINAS GERAIS,
2020d, p. 17).
35
Segundo Cotta (20144 apud MINAS GERAIS, 2019a, p.13), estes militares, advindos
da Companhia de Policiamento Ostensivo, tinham por missão precípua a prevenção
e a educação, exerciam o policiamento a pé, alocados em subdivisões territoriais
denominadas Distritos Policiais, num total de sete, e estes, por sua vez, em Áreas de
Patrulhamento, numa clara e empírica tentativa de aproximação da polícia com
a sociedade, ainda que a filosofia de Polícia Comunitária não tivesse, sequer,
sido teorizada no âmbito da Instituição (grifo nosso).
4
COTTA, Francis Albert. Breve História da Polícia Militar de Minas Gerais. 2 ed. Belo Horizonte,
MG: Fino Traço, 2014.
37
Ainda que a década de 1990 não tenha apresentado grandes evoluções práticas no
exercício institucional da filosofia de Polícia Comunitária, a partir deste marco
teórico, discussões foram traçadas sobre o tema. Nos anos 2000, com a reafirmação
do paradigma da Polícia Cidadã, crescente consolidação dos direitos de cidadania e
empoderamento da comunidade, a Polícia Comunitária ganhou robustez e
experimentou uma evolução no âmbito institucional da PMMG (FREIRE, 2009).
Percebe-se, então, que a nova parceria entre polícia e comunidade se torna o norte
das ações policiais. Em um primeiro momento, a filosofia de Polícia Comunitária
abrange apenas serviços específicos, atualmente, perpassa todos os serviços
constantes do portfólio da PMMG, mesmo que, em alguns, tal filosofia seja mais
latente, conforme assevera o §2º do art. 1º da Resolução 4.827, de 26 de agosto de
2019, que o aprova, afirmando que:
5
Serviços constantes no Portfólio de Serviços Operacionais da PMMG: Patrulha à pé, Radiopatrulha,
Ciclo Patrulha, Base Comunitária, PPVD (Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica), Patrulha
Escolar, PROERD (Programa Educacional de Resistência às drogas), GEPAR (Grupo Especial de
Policiamento em área de Risco), Patrulha Rural, Tático Móvel, GEPTur (Grupo Especial para
Policiamento Turístico), CROP (Centro de Registros de Ocorrências Policiais), Videomonitoramento,
Teleatendimento 190, Policiamento de Guardas, Policiamento Velado, ROTAM (Rondas Táticas
Metropolitanas), GER (Grupo Especializado em Recobrimento), Policimento de Choque,
Policiamento Montado, ROCCA (Rondas Ostensivas Com Cães), Operações Policiais Especiais,
Radiopatrulhamento Aéreo, Patrulha de Antedimento de Meio Ambiente, GEPAM (Grupo Especial
de Policiamento Ambiental), Patrulha de Trânsito, Grupo Tático de Trânsito, PROT (Posto de
Registro de Ocorrência de Trânsito), Transitolândia, Patrulha Rodoviária, Grupo Tático Rodoviário,
Patrulha de Recolhimento de Animais de Grande Porte.
41
A Patrulha Rural possui como missão geral a efetiva participação dos moradores
residentes nas áreas rurais nas questões relacionadas à segurança pública:
A qualidade do serviço prestado pela PMMG está intimamente ligada ao fato de que
a instituição precisa conciliar, em todos os pontos do estado, a atividade policial às
necessidades da comunidade. Dessa forma, ela possui como objetivo atender às
especificações de cada RPM, para a adequação dos serviços ofertados.
Nesta seção será apresentado um breve histórico da Patrulha Rural na Polícia Militar
de Minas Gerais. Em seguida, serão apresentados os documentos normativos e
doutrinários que disciplinam o serviço em Minas Gerais. Por fim, discorrer-se-á a
respeito da estruturação da Patrulha Rural no Programa Minas Segura 2019-2022.
O meio rural sofreu grandes transformações ao longo dos anos. Houve o surgimento
de atividades diversas à agricultura e à 6 pecuária. A economia se tornou mais
diversificada, emergindo novas espécies de trabalhadores, com atividades
consideradas urbanas, mas sendo realizadas dentro do ambiente rural, segundo
Matos, Sathler e Umbelino (2004, p.1):
6
A pecuária é relativa à criação de espécies animais, dividindos-se em extensiva e intensiva. No
Brasil, as principais criações são a bovina, suína e caprina. Ressalta-se que, além de abastecer o
mercado alimentício, a pecuária brasileira gera também matéria-prima. Disponível em
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/agricultura-pecuária#. Acesso em 09Set21.
7
MARQUES, Maria Inez Medeiros. O conceito de espaço rural em questão. Revista Terra Livre, São
Paulo, ano 18, nº 19, p. 95-112, jul./dez. 2002.
44
Segundo Paula e Diniz (2012), nos últimos anos, o meio rural passou a ser alvo de
infratores, que, aproveitando da pouca vigilância por parte Poder Público e das
características que permeiam a zona rural, aliado ao maior investimento na área
urbana em prevenção e repressão ao crime, enxergaram no campo um ambiente
propício para a prática de ações criminosas.
Paula e Diniz (2012) asseveram que a criminalidade da área urbana passou a migrar
para a zona rural. Isso fez com que o final da década de 1990 ficasse marcado pela
elevação da criminalidade na zona rural, gerando sensação de insegurança na
população local. Embora já existisse patrulhamento nessas áreas, o problema
persistia, uma vez que era realizado somente policiamento repressivo, com
atendimento de chamadas quando o crime já havia ocorrido, para realização de
prisão do infrator e registro do boletim de ocorrência.
Esse projeto tinha como principal objetivo combater a criminalidade na zona rural e
trazer aos moradores sensação de segurança. Naquela época, a Polícia Militar não
dispunha dos recursos necessários e foi preciso para sua implantação o
estabelecimento de uma parceria com o Sindicato dos Produtores Rurais de
Ituiutaba/MG (SIPRI), que disponibilizou viaturas para a realização do
patrulhamento. Com o passar dos anos, o serviço de Patrulha Rural passou a contar
com mais viaturas e se estendeu a outros municípios (CAIXETA, 2009).
Com o decorrer dos anos, e o natural aperfeiçoamento das técnicas e manuais para
melhor servir e proteger a população mineira, este policiamento passou por
diferentes interpretações até o conceito atual de Polícia Comunitária, que se observa
atualmente na instituição:
O portfólio de serviços da PMMG, em seu artigo 7º, inciso IX, traz o conceito
operacional da Patrulha Rural)
Dessa forma, a composição de qualquer esforço empregado deverá ser acima desse
número, conforme prevê o Manual Técnico Profissional 3.04.02/2020-CG, o qual
trata sobre a abordagem a pessoas:
Lembra-se que este é apenas um critério operacional a ser observado para a própria
segurança de qualquer equipe policial militar que se encontre neste tipo de situação,
não podendo a Patrulha Rural, jamais, deixar de observar os manuais técnicos.
Isso pode ocorrer, não somente mediante as visitas nas residências e possíveis
estabelecimentos comerciais e agrícolas, mas, também, em reuniões comunitárias,
com a presença dos comandantes dos diversos níveis, para que a interação ocorra
de maneira completa entre Polícia Militar e comunidade rural (MINAS GERAIS,
2013).
Mas tal fato não pode, em hipótese alguma, servir de justificativa para solicitação de
recursos logísticos para realização do policiamento. Entretanto, é possível celebrar
convênios, de forma imparcial e na forma da lei, com entes públicos ou privados,
sempre com a participação da administração da Polícia Militar para dar
transparência ao processo (MINAS GERAIS, 2013).
8
O Centro Integrado de Comunicações Operacionais – CICOp, previsto na Instrução nº 3.03.08/2013-
CG, foi substituído, em nomenclatura, pela Unidade COPOM, subordinada diretamente à Diretoria
de Operações da PMMG.
55
O estado de Minas Gerais está localizado na Região Sudeste do Brasil e possui uma
superfície de 586.852,35 km2 e uma população de 19.597.330 habitantes (MINAS
GERAIS, s.d). É dividido em 853 municípios e faz divisa com os estados do Rio de
Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Distrito
Federal. Segundo articulação da Policia Militar de Minas Gerais, o estado é
estruturado em 19 Regiões de Polícia Militar, alcançando todo território mineiro e
garantindo a presença da instituição em todos os seus municípios (cf. mapa contido
no anexo A).
Tabela 1 – Dados totais Patrulha Rural – Polícia Militar de Minas Gerais – 2021
56
57
Dado que merece relevo é aquele que diz da quantidade de policiais militares
possuidores de curso específico para patrulamento rural, que perfaz um total de 14,
em um universo de 330, ou seja, o percentual de policiais militares que possuem o
curso de Patrulha Rural é de 4,24%.
Por fim, dado expressivo diz respeito às Redes de Propriedades Rurais Protegidas,
que atingem a quantia de 1.628 redes, demonstrando a atuação destacada da
Patrulha Rural junto aos moradores do campo e manifestando o exercício e
aplicação da filosofia de Polícia Comunitária no meio rural.
Valor (R$)
Discriminação Quantidade
Unitário Total
Veículo Hilux cabine 4x4 + 170 190.000,00 32.300.000,00
Rádio VP
GPS – Garmim 170 2.500,00 425.000,00
HT – Portátil 170 6.200,00 1.054.000,00
Colete Antibalístico 680 2.500,000 1.700.000,00
Total 35.479.0000,00
Fonte: MINAS GERAIS, 2019d.
Para criação das redes de proteção rural, o fluxo seguirá o mesmo estabelecido para
criação das demais redes de proteção, seguindo a Instrução nº 3.03.11/2016, qual
seja:
a) reunião de criação da rede – ações de mobilização social são essenciais
para sensibilizar as pessoas a participarem da reunião de criação;
b) cadastro dos participantes das reuniões;
c) placas indicativas das redes de proteção preventiva;
d) solenidade de implantação;
e) manutenção da rede de proteção preventiva;
f) adequações no policiamento local (MINAS GERAIS, 2019d, p.58).
O projeto de criação de Redes de Segurança Rural, a priori, não terá custo, tendo
em vista que serão utilizados recursos logísticos e humanos da instituição, sendo
necessário apenas o aprimoramento dos profissionais mediante cursos e a adoção
das medidas de criação, implantação e manutenção das redes de proteção rural, o
que ocorrerá na própria rotina operacional (MINAS GERAIS, 2019d).
5 METODOLOGIA
A pesquisa do tipo levantamento foi feita, por meio de interrogação direta das
pessoas (no caso, profissionais da PMMG: Cel PM Diretor de Operações, Ten-Cel
PM Assessor Estratégico de Operações e Ten-Cel PM Oficial do projeto-piloto da
Patrulha Rural) cujo comportamento se deseja conhecer, por meio, em regra, da
solicitação de informações a um grupo significativo de indívduosacerca do problema
estudado e realização, em consequência, de uma análise quantitativa, tendo, por
64
A observação direta intensiva foi realizada por meio de entrevista junto às duas
autoridades do nível tático e uma do nível estratégico da PMMG, consoante
descrição na delimitação do universo, e tiveram o formato de semiestruturadas,
possibilitando a interrelação entre os questionamentos, a teoria de base e o objeto
da pesquisa.
Quanto à entrevista, foi agendada com as autoridades para o mês de agosto, após a
entrega e tabulação dos dados advindos dos questionários.
n= Z² . P. Q . N
(N-1). e² + P . Q . Z²
Nesse contexto, optou-se por atribuir um nível de confiança (“Z”) de 95% e um erro
amostral “e”) de 5%. Não se conhecia a proporção de ocorrência ou não do
fenômeno (“P”e“Q”). Daí, N = 209 ; P = 0,5; Q = 0,5; Z =1,96; e = 0,059, logo:
9
“Da equação, tem-se que: “n” é a amostra; Z: nível de confiança, valor tabelado, sendo mais
recomendados 90% (1,645) e 95%. (1,96); P: proporção em que o fenômeno ocorre (se não se
69
n= (1,96) ² .0,5.0,5.209 .
. . n = 136
(209-1). (0,05) ² + [(0,5.0,5. (1,96)] ²
conhece, utiliza-se 0,50); Q: Proporção em que o fenômeno não ocorre (se não se conhece,
utiliza-se 0,50); “N”: população delimitada; “e” é o erro amostral, sendo definido pelo pesquisador,
conforme sua intenção de precisão: se o erro for elevado, amostra pequena, perde precisão (ex.:
10%); erro pequeno, amostra grande, ganha precisão e menor falibilidade (1,5% a 3%) e o
prático/recomendável (3% a 5%).” (MARQUES, 2015).
70
Como preâmbulo nessa inferência, cabe destacar, pelo nível estratégico da PMMG,
o entrevistado PM3 apresenta o viés evolutivo do serviço da Patrulha Rural, que
perpassa um projeto institucional e torna-se um programa, verdadeiramente, de
Estado.
6,7%
Nota: Unidades Policiais, neste gráfico, se referem à RPM, BPM, Cia PM Ind e Cia PM.
----2 (18,1%)
----8 (63,6%)
----1 (9%)
Nota: Unidades Policiais, neste gráfico, se referem à RPM, BPM, Cia PM Ind e Cia PM.
Foram indagados aos 11 respondentes, que não possuem serviço de Patrulha Rural,
os motivos pelos quais o serviço não se encontra ativo em sua respectiva fração,
podendo coexistir mais de uma causa. Dos motivos apresentados no Gráfico 2, a
falta de recursos humanos foi reportada dez vezes; a falta de recursos logísticos
duas vezes; a falta de militar com curso uma vez; e o patrulhamento rural a ser
realizado pelas frações e Cia Tático Móvel uma vez. A inexistência de demandas
74
operacionais que justifiquem o emprego da Patrulha Rural não foi citada como
motivo pela inativação do serviço.
3,7%
Fica evidenciado que, das Unidades Policiais que possuem serviço ativo da Patrulha
Rural, 40,2% dos respondentes lançam o serviço de Patrulha Rural 7 (sete) dias por
semana, outros 13,4% respondentes empregam 5 (cinco) ou 6 (seis) dias por
semana e, em 3 (três) ou 4 (quatro) dias, foi contabilizado em 42,7% respondentes.
Isso importa que 96,3% das Unidades e Companhias tem lançado, de modo rotineiro
e, de certa maneira, contínuo, o serviço de Patrulha Rural durante os dias da
semana.
1,2%
Mas aqui, cabe ressaltar novamente que a Patrulha Rural trabalha, geralmente, em
áreas que possuem vegetação típica de cerrado muito densas e, possivelmente,
com informações de pessoas armadas ou potencialmente perigosas, o que implica
na exigência de supremacia de força em relação ao efetivo empregado.
Dessa forma, a composição de qualquer esforço empregado deverá ser acima desse
número, conforme prevê o Manual Técnico Profissional 3.04.02/2020-CG, o qual
trata sobre a abordagem a pessoas.
76
6,1%
Nota: A grade curricular do Curso de Patrulha Rural referenciado está estatuída no Catálogo de
Cursos da PMMG já referenciado neste trabalho.
Observados os 50% respondentes, esses atestam que menos de 20% do efetivo que
atua no respectivo serviço possui o Curso de Patrulha Rural; em complemento,
12,8% responderam que entre 20% a 39% do efetivo possuem o curso. Isso implica
que, em cerca de 62,8% das unidades e companhias, mais de 60% do efetivo
empregado no serviço de Patrulha Rural não possui o curso da respectiva temática.
64,6% 53,6%
53,6%
35,9%
35,9%
19.5%
12,1% 19,5%
7,9%
12,1%
3,0% 7,9%
0,6% 1,21% 1,21%
Em síntese, não se pode afirmar que a utilização das viaturas com tração 4x2 estão
em dissonância com a Instrução nº 3.03.08/2013-CG, já que esse documento
institucional prevê que tal veículo deve estar adequado ao tráfego das estradas
vicinais, notadamente automóveis traçados 4x4 (cf. seção 4.2). Dessa forma, pelo
texto utilizado, não existe exigência (dimensão social da coerção), mas uma
recomendação (dimensão social do ideal).
arquivo digital, como programas word e excel, para o controle dos dados; o
armazenamento das informações via aplicativo de celular (smartphone) é realizado
por 32,9%dos respondentes; já o Sistema REDS (via preenchimento de BOS e/ou
RAT) representa 26,2% das respostas; por fim, o arquivo físico, como formulário de
papel ou caderno, representara 23,7% das respostas.
----99 (60,3%)
----43 (26,2%)
----54 (32,9%)
----98 (59,75%)
----39 (23,7%)
Desse modo, mesmo que em meio físico, o que não seria o ideal, em face da pouca
versatilidade no tratamento da informação, há uma conformação com o preconizado
na Instrução 3.03.08/2013-CG, que orienta que deverá existir um banco de dados
com informações sobre moradores da respectiva comunidade rural.
33,6 %
23,5%
1,7% 20,2%
11,8%
9.2%
Desse modo, o mapeamento manual, apesar de representar 1,7% dos casos, ainda
subsiste em detrimento de 89,1% do mapeamento digital. Todavia, um dado que se
destaca é o fato de que, em 9,2% das unidades/companhias, o mapeamento das
propriedades rurais não é realizado.
83
Nos últimos anos o estado de Minas Gerais, assim como boa parte de todo
o país, vivenciou um fenômeno chamado de interiorização do crime, pelo
qual quadrilhas especializadas, fugindo dos robustos aparatos
policiais das grandes cidades e se aproveitando da suposta fragilidade
dessas estruturas nas cidades menores, passaram a atuar
incisivamente nessas localidades levando violência e medo para a
população interiorana. Estas ações criminosas podem levar ao meio rural
a sensação de insegurança em razão do conflito com as comunidades
rurais, gerando um ambiente hostil com a presença de armas de fogo e
ameaças, além de causar danos ao meio ambiente [...] Ausência de
georreferenciamento das áreas rurais (ENTREVISTADO PM3, grifo
nosso).
----133 (81,1%)
----78 (47,6%)
----108 (65,9%)
----66 (40,2%)
----52 (31,7%)
----72 (43,9%)
---3 (1,8%)
Por outro lado, a comunidade, exercendo o poder que lhe é conferido de, por si
mesma, identificar os problemas de segurança pública e desordens que a afligem e,
em parceria com a polícia, combatê-los, é empoderada a cada vez mais atuar em
prol da sua qualidade de vida.
86
Desde 2001, o serviço vem sendo ampliado aos demais municípios e com
investimentos dos governos Federal e Estadual, devido ao grande
crescimento econômico no agronegócio representando, aproximadamente,
36% do Produto Interno Bruto (PIB) Estadual no ano de 2019, conforme
apurou o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).
Conforme dados levantados pela Seção de Polícia Comunitária em 2021,
existem atualmente 657 municípios classificados como rurais ou
intermediários no Estado, conforme apurado pela EMBRAPA/ IBGE. Na
atualidade, a Polícia Militar possui o serviço de Patrulha Rural em 361
municípios e 2006 distritos, com efetivo de 740 militares capacitados e a
instalação de 1628 Redes de Proteção Preventivas em áreas rurais. A
ampliação para as demais localidades depende de um Estudo de Situação
que comprove a necessidade, viabilidade e exequibilidade para implantação
da Patrulha Rural, sendo atendidos os critérios acima e aprovação do
Comando da Instituição, deverá ser providenciado meios para o
atendimento do município (ENTREVISTADO DOP).
Fazer a Patrulha Rural ser efetiva não é mais uma atuação local ou experimental.
Trata-se de um serviço consolidado em portfólio, em consonância com o Plano
Estratégico da PMMG, para todo o estado.
A confiança nas ações policiais pela Patrulha Rural permite a agregação de créditos
de sustentabilidade, fomentando a construção de um legado bilateral entre polícia e
sociedade, com vistas a melhoria contínua de qualidade.
7 CONCLUSÃO
O segundo objetivo específico foi caracterizar a Patrulha Rural na PMMG, bem como
estabelecer uma relação com o disposto na instrução que regula o serviço e no
programa Minas Segura. O presente objetivo foi alcançado na seção 4.
Para tanto, na seção 4, foi apresentado o histórico do serviço de Patrulha Rural, bem
como os documentos institucionais, normativos e doutrinários que o disciplinam.
Discorreu-se, ainda, sobre a sua estruturação no âmbito do Programa Minas Segura
2019-2022 e mostrou-se, de maneira latente, a relevância investida ao tema, assim
como o trato a ele concedido nos vários níveis de direção da PMMG, tendo, por
consequência, sua inclusão no Portfólio de Serviços da Corporação.
Outra situação de conformidade relativa está no uso de viaturas com tração 4x4. Em
80,2% dos casos, as Unidades/Companhias empregam, em média, um ou mais
veículo de categoria traçado 4x4 na atividade. No entanto, em 46,22% dos casos, é
lançada, em média, pelos menos uma viatura tração 4x2 por dia na atividade. A
Instrução nº 3.03.08/2013-CG não exige, taxativamente, a utilização de viatura 4x4,
mas recomenda tal utilização.
Não há a menção de qual seria a categoria desse veículo, mas infere-se tratar de
viatura traçada 4x4, observada a recomendação contida na Instrução nº
3.03.08/2013-CG. Apesar de não haver exigência, a tipologia de terreno e das vias
e as intempéries na zona rural, o uso de viatura 4x4 mostra-se a desejável e de
categoria 4x2 uma solução paliativa tão somente.
A mais evidente refere-se ao fato de que, em 50% dos casos, apenas 20% dos
militares possuem o Curso de Patrulha Rural, previsto na Instrução nº
03.03.08/2013, o que é uma exigência não somente normativa, mas filósofica,
quando se pensa no ideário da Polícia Comunitária e a necessidade de capacitação
de recursos humanos.
Outra consideração primaz a ser feita é o alcance das metas propostas pelo
Programa Minas Segura para o policiamento rural que, caso cumpridas as etapas,
redundará em avanços significativos a este serviço que já se demonstra essencial
para a população rural.
Por fim, não há pretensão de esgotamento do tema com o trabalho aqui encerrado,
muito ao contrário, pois a crescente relevância conferida à temática Patrulha Rural
requer estudos cada vez mais aprofundados. Nessa seara, apresentam-se as
seguintes sugestões:
a) Estudo mais aprofundados sobre a Patrulha Rural;
Tal sugestão justifica-se no fato de que, desde a origem da Polícia Militar de Minas
Gerais, nos idos de 1775, a característica principal do Estado é ser ruralista, o que
demonstra ser o ano de 2001 um marco recente para o nascimento do serviço de
Patrulha Rural na PMMG. Através de um estudo mais aprofundado, descobrir-se-á,
verdadeiramente, quando o campo, assim como entendido hoje, tornou-se fonte de
atenção institucional mais detida.
97
10
“O Sistema Hélios é um software que captura, via câmeras de segurança, os caracteres das placas
de veículos e os envia à central de monitoramento. A partir do momento em que o veículo suspeito
passa pelos locais com videomonitoramento um sinal de alerta é emitido e indica a localização
geográfica e o sentido do deslocamento, o que auxilia no cerco e bloqueio do suspeito.” Disponível
em: https://www.aopmbm.org.br/sistema-desenvolvido-pela-pmmg-ajuda-na-identificacao-de-veiculo-
usado-em-crime-contra-casal-de-policiais/. Acesso em: 6 Set. 2021.
98
REFERÊNCIAS
GIL, Antônio Carlos.Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
.
100
PAULA, Carlos Eurico Lopes de; DINIZ, Gilmar José. Análise da Atuação das
Patrulhas Rurais em Ituiutaba - MG no ano de 2011. 2012. Monografia (Curso de
Formação de Oficiais), Escola de Formação de Oficiais, Academia de Polícia Militar,
Belo Horizonte, 2012.
SKOLNICK, Jerome; BAYLEY, David. Nova Polícia: inovações nas polícias de seis
cidades norte-americanas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2001.
10) A sua Unidade Policial utiliza qual metodologia para mapear as propriedades
rurais?
( ) Concordo totalmente.
( ) Concordo.
( ) Indiferente.
( ) Discordo.
( ) Discordo totalmente
13) Qual(is) o(s) motivo(s) que a Patrulha Rural não se encontra ativa em sua
Unidade Policial?
1) DADOS PESSOAIS
a. Nome:
b. FormaçãoAcadêmica:
c. OcupaçãoProfissional:
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ANEXO B – MAPA DOS MUNICÍPIOS ATENDIDOS PELA PATRULHA RURAL EM MINAS GERAIS - 2021
Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais/Centro Integrado de Informações de Defesa Social (CINDS), 2021.
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