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Sumário
O FENÔMENO RELIGIOSO .................................................................... 0
A Virada Fenomenológica...................................................................... 10
O monoteísmo e o gozo......................................................................... 36
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NOSSA HISTÓRIA
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O FENÔMENO RELIGIOSO
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A Virada Fenomenológica
Num primeiro momento, a FR é uma “análise descritiva e sistemática” dos
fenômenos religiosos. A virada se dá com Husserl, num esforço anti-metafísico,
realista, de “voltar às coisas-mesmas”, no esteio das reflexões de Dilthey sobre
a autonomia das ciências do espírito, quando este afirma a necessidade da
adequação do método para a apreensão do “mundo das produções culturais”.
A Erlebnis não pode ser definida, mas pode ser experimentada e descrita;
a virada se dá na construção não apenas de uma abordagem descritiva, mas
hermeneuticamente orientada (DILTHEY, [1894] 2002); e se apresenta, em sua
mais conhecida expressão, na obra de Van der Leeuw.
1o Há qualquer coisa;
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Não era o Deus dos filósofos, [...]; não era uma idéia, uma noção abstrata,
uma simples alegoria moral.
Nunca se deve parar nas suas cascas internas, mas tem-se de penetrar
através delas para chegar ao seu núcleo, que é a experiência religiosa” (HEILER,
apud GRESCHAT, 2005, p. 139).
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Um dos mais importantes nomes desta escola é Carl Bleeker, para quem
a FR é uma ciência empírico-indutiva, sem objetivos filosóficos. “Para alcançar
esse objetivo final, ela persegue três objetivos: desenvolver a theoria dos
fenômenos, procurar o logos, interrogar-se sobre sua entelechia” (FILORAMO,
PRANDI, 1999, p. 46).
Chegou a viver na Índia entre 1928 e 1932, quando preparou sua tese
sobre yoga. Foi adido cultural em Londres e Lisboa, passando a lecionar na
École des Hautes Études em Paris, a partir de 1945. De 1957 até sua morte,
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Outra importante obra é o seu Tratado de História das Religiões (de 1949),
na qual traça um estudo de morfologia religiosa. Compilador de tradições, talvez
sua obra mais conhecida seja História das Crenças e das Ideias Religiosas,
publicado já na década de 1970.
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2o compreensão,
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Noutra direção, esta identificação a que nos reportamos aqui ainda aponta
para críticas de “aspectos” — muitos deles distintivos — relacionados a autores
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Assim, “contra Söderblom, Otto e Van der Leeuw se objeta que eles
postulam uma categoria específica — a do sagrado ou a do poder — e as
respectivas experiências religiosas para descrever a essência da religião com
base nesse fundamento” (BRANDT, 2006, p. 127); o mesmo valendo para Eliade
quando entende que todas as religiões remetem a um ser em si.
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Pode-se ouvir tanto fiéis e crentes, numa direção (ou sujeitos comuns,
sem vínculo especial com religiosidades particulares), e profissionais, noutra
direção (como sacerdotes e psicólogos), com o intuito de compreender como
lidam com as dimensões do sagrado e do “profano”, do espiritual e do secular.
Isto significa acolher o fenômeno religioso em suas múltiplas manifestações, o
que abre nosso “objeto” de estudo em várias perspectivas.
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Por fim, vale destacar que fazer uma Fenomenologia da religião passa por
um olhar amplo para o fenômeno religioso, incluindo a análise do significado dos
movimentos em religiões — trânsito religioso, migrações, etc. — além da
interpretação de signos e sinais particulares.
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Essa escolha se justifica pelo fato de que Sigmund Freud (1856-1939), além de
ser um dos pensadores mais importantes de todo o século XX, assim como
outros grandes pensadores de sua época, empenhou-se grandemente em
provar que a religião seria suplantada pelo saber científico. Herdeiro do espírito
das luzes, ele ousou afirmar que a religião declinaria inevitavelmente: triunfo do
saber científico sobre o misticismo religioso (Freud, 1927).
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Para Freud (1927), está claro que, convocada para responder às questões
fundamentais da existência humana, a religião nunca fez mais do que envolvê-
las em uma aura de mistério. Além disso, do ponto de vista da organização
social, as doutrinas religiosas nunca foram capazes de fazer com que o homem
abandonasse definitivamente seus impulsos destrutivos em prol da plena
aceitação dos preceitos morais propostos por elas. Sendo assim, as religiões
parecem ter falhado duplamente: em primeiro lugar, por nunca haverem
proporcionado alguma ajuda efetiva na elucidação e no entendimento mais
completo do homem; em segundo lugar, por terem sido incapazes de estabelecer
um modo de organização social totalmente moral, como prova incontestável de
seu domínio sobre impulsos instintuais e as tendências destrutivas.
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homem frente à natureza e a seu destino incerto, esse algo definitivamente não
é a religião, mas certamente a ciência.
Desse debate resulta ainda uma outra questão que nos permitiremos
deixar apenas apontada: negando qualquer dignidade à religião, e ao mesmo
tempo empenhando-se em legitimar sua substituição pela ciência, Freud dá uma
passo importante em direção à consumação da queda dos valores absolutos
enunciada pela filosofia nietzschiana, sua predecessora.
Entretanto, o passo seguinte dado por ele (Freud, 1927) pode levar o
leitor, desconhecedor do restante de sua obra, a cometer um grave erro: supor
que, para ele, trata-se apenas de substituir Deus pela ciência, mantendo
intocada a dependência primordial de uma verdade última.
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Freud também parece ter se deixado iludir por seu desejo ao decretar o
fim da religião. Apesar disso, oitenta anos depois da publicação do Futuro de
uma ilusão, estão cada vez mais na pauta do dia: a escalada contínua dos
fundamentalismos juntamente com a proliferação desenfreada de seitas e
doutrinas religiosas. Ao contrário do que previu Freud, o discurso encampado
pela ciência não promoveu a extinção dos laços entre a humanidade e o sagrado,
mas parece ter fornecido razões ainda mais fortes para garantir a permanência
das religiões.
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Um outro Freud
Ao longo da obra freudiana encontraremos vários pontos que
fundamentam uma postura completamente diversa daquela anteriormente
enunciada em relação à ciência.
Desde muito cedo foi necessário que Freud rompesse com os preceitos
norteadores do programa científico de seu tempo.
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Nesses termos, o fim de uma análise não passa de uma ficção necessária.
Após a descoberta da prevalência da pulsão de morte, a teoria freudiana afirma
a violência de uma realidade irreversivelmente irracional (Coli, 1996).
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Por essa razão, Lacan (2005) dirá que a religião está destinada a triunfar
em nossa época: a religião triunfará sobre a ciência e também sobre a
psicanálise porque a existência de Deus comporta a ilusão das garantias.
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O monoteísmo e o gozo
Até o presente momento argumentamos que os artifícios religiosos têm
servido de suporte à humanidade atormentada pela crise: recorrendo à ilusão do
Um ela se defende de sua condição fragmentária.
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É sempre possível — e provável — que nada mais sejam que fósseis sem
vida de uma experiência outrora rica, mas agora morta. Realidades sociais? Sim.
Religião? Duvidoso" Aliás, abordando o assunto da distinção entre fenômeno
religioso e ciências físicas, é ilustrativo recordar o pensamento de certos
cientistas que vêem a fenomenologia com certa desconfiança, já que, para eles,
só é real o que se pode comprovar e verificar empiricamente, e fenômeno é o
que aparece exteriormente.
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O QUE É RELIGIÃO
Nosso objetivo é o estudo do fenômeno religioso aprofundando-o em vista
de melhor equacioná-lo com a vida humana. Não é preciso, pois, propor uma
definição da religião.
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Mas sucede também aqui que essa tendência superior da vontade não se
acalma e não se satisfaz completamente senão ao atingir o todo e perfeito Bem:
Deus".
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Se, pois, uma religião, qualquer que seja, pode ser detinida como um
conjunto de reconhecimentos, açôes e estruturas com que o homem exprime
dependência e veneração em relação ao Sagrado, essas manifestações
exteriores, explica J. P. Barruel de Lagenest, "revelam atitudes interiores e por
ações e gestos cujo sentido os transcende.
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Referências Bibliográficas
CIORAN, E.M. Genealogia do fanatismo. In: CIORAN, E.M. Breviário de
decomposição. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
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