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INCÊNDIOS EM CORREIA

TRANSPORTADORA. UM DOS
MAIORES DESASTRES NAS
OPERAÇÕES DE MANUSEIO DE
MATERIAIS À GRANEL
Artigo 09 – Publicado no LinkedIn em: 15/06/2019
Autor: Willian de Castro Toledo
Engenheiro Mecânico CREA: MG 158177D

Willian Castro

31 988206238

williancastro86@hotmail.com
SUMÁRIO

INCÊNDIOS EM CORREIA TRANSPORTADORA. UM DOS


MAIORES DESASTRES NAS OPERAÇÕES DE MANUSEIO DE
MATERIAIS À GRANEL................................................... I

INTRODUÇÃO ............................................................. 2

PROCESSO DE GERAÇÃO DO FOGO .............................. 4

COMO EVITAR INCÊNDIOS EM CORREIA


TRANSPORTADORA .................................................... 5

PREVENÇÃO – AÇÕES MITIGADORAS........................... 10

USO DE TECNOLOGIAS .............................................. 11

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INTRODUÇÃO

Incêndios em correias transportadoras são muito perigosos,


especialmente porque as correias podem espalhar um incêndio por
longas distâncias, pois o seu próprio movimento representa uma
forma adicional de transferência do incêndio de um ponto para
outro.

Mais do que oferecer graves riscos aos trabalhadores, acidentes


com chamas podem significar elevados custos e tempo para
restabelecer a operação, pois os danos são praticamente
irreparáveis conforme mostram as figuras 01 e 02.

2
O fogo representa um perigo real em sistemas de correias
transportadoras. A maioria dos materiais utilizados na fabricação
das correias, tais como elastômeros (borracha), lonas têxteis,
termoplásticos, tecidos sintéticos e etc são de fácil combustão,
sendo que o elastômero é o material mais utilizado para fabricação
das coberturas superior e inferior da correia transportadora, região
que possui contato continuo com rolos, tambores, minério
manuseado, raspadores e demais componentes do transportador.
O elastômero pode ser visto na figura 03.

Este material aquece com uso contínuo devido à fricção durante a


operação da correia transportadora, podendo gerar combustão
quando expostos às fontes de calor inesperadas. Em casos raros,
mesmo breves fagulhas ou descargas elétricas podem gerar
acidentes quando, por exemplo, entram em contato com minérios
de alta condutividade elétrica, como prata ou cobre transportados
na correia transportadora.

Outros materiais como o carvão, toras de madeiras, algodão e até


mesmo o papel podem ter combustão espontânea e também
representam riscos de acidentes com incêndios.

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PROCESSO DE GERAÇÃO DO FOGO

O processo de geração do fogo pode ser entendido como uma


reação química de combustão provocada por três elementos
também chamados de “Triângulo do fogo” composto por calor,
oxigênio (comburente) e combustível conforme figura 04.

Trazendo estes elementos para a operação com correia


transportadora, podemos dizer que o combustível é o elastômero
presente nas coberturas das correias, o oxigênio que é o elemento
ativador do fogo está presente com abundância no ar atmosférico
e o elemento calor que geralmente é provocado pelo atrito de
algum componente do transportador (na maioria dos casos rolos e
tambores) com a correia transportadora.

O calor é o elemento que dá início ao fogo na forma de energia e


também é responsável por sua propagação, sendo este o elemento
que deve ser evitado pelos setores de manutenção e operação, pois
quando se inicia a reação de combustão, a energia liberada
sustenta a reação e permite que ela continue até que algum
elemento do triângulo do fogo seja eliminado.

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COMO EVITAR INCÊNDIOS EM CORREIA
TRANSPORTADORA

Para evitar acidentes com incêndio em correia transportadora,


pode-se trabalhar nos elementos combustível e principalmente
no calor, sendo que o oxigênio (comburente) é impossível
eliminar devido ser um elemento que compõe o ar atmosférico. A
seguir é demonstrado um detalhamento sobre os elementos
combustível e calor.

Combustível

Para o combustível que no caso são os elastômeros (borracha


presente nas coberturas da correia transportadora) podem ser
especificados com aditivos químicos para retardar ou auto extinguir
as chamas, porém estes aditivos não tornam o material
incombustível.

No caso de um incêndio real, a ação contínua do fogo sobre o


elastômero pode eliminar a ação desses aditivos. Outra opção é
utilizar elastômeros com resistência para altas temperaturas como,
por exemplo, até 350°C. Estas opções não eliminam as chances de
ocorrer incêndio, apenas reduzem a probabilidade de ocorrência e
pode minimizar os danos.

Calor

De acordo com a Zurich (2012) as investigações provam que, na


maioria dos eventos, a causa do fogo não é o material já em ignição
que está sendo carregado e transportado pelas correias como pode
originalmente imaginar, mas sim, a calor gerado por fricção (atrito)
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principalmente entre (rolos e tambores) que transferem este calor
para a correia. O incêndio é intensificado se o material transportado
também é combustível. Para evitar o calor no processo de operação
com correia transportadora, é necessária atenção maior do setor
operacional nos seguintes pontos:

Bloqueio da correia transportadora: Quando a correia


transportadora tem o movimento interrompido e o tambor continua
girando, o calor gerado pelo atrito pode incendiar a correia.

Bloqueio de tambores: Similar ao bloqueio da correia


transportadora, com exceção de que o tambor permanece
estacionário enquanto a correia continua a se mover, na área
operacional este evento é conhecido como "patinar". O calor gerado
pelo atrito decorrente pode incendiar o elastômero (borracha) da
correia caso esta não possua componentes retardantes às chamas.
Embora este deslizamento seja menos crítico que sua parada
completa, também pode gerar calor suficiente para iniciar a ignição
da correia.

Rolos travados: O calor gerado pelo atrito de rolos travados


também pode dar início a um incêndio em correias transportadoras.
Rolos revestidos de borracha presentes nas regiões de
carregamento são mais propícios para iniciar incêndios.
Geralmente os rolos travam em função do final da vida útil dos seus
rolamentos ou por contaminação de agentes externos (sujeira) que
prejudicam a lubrificação e provocam o travamento. Na figura 05
pode ser visto o aquecimento de um rolo travado em atrito com a
correia transportadora, chegando a temperatura de 117 °C.

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Desalinhamento de correia transportadora: Quando a correia
transportadora opera com desalinhamento, pode provocar forte
atrito com a estrutura do transportador e superaquecimento
proporcionando fonte de calor conforme mostra a figura 06,
chegando à temperatura de 204°C.

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Material manuseado: Alimentação da correia transportadora com
material em ignição ou material com características de combustão
espontânea como pode ser visto na figura 07.

Eletricidade Estática: Cargas estáticas são geradas durante a


movimentação da correia transportadora. Se os componentes com
os quais a correia tem contato não possuírem características
antiestáticas, há a possibilidade de que seja gerada uma carga
estática suficiente para resultar em centelhas.

Atualmente, a maioria das correias de elastômero (borracha)


apresenta compostos químicos que não permitem um acúmulo de
cargas estáticas. Entretanto, outros componentes não metálicos
podem ser fontes geradoras de centelhas.

A produção de centelhas por cargas estáticas normalmente não é


um problema, a menos que o ambiente em que a correia opera ou
a carga transportada sejam passíveis de ignição.

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Trabalho a quente: Serviços de manutenção que requerem uso de
fogo através de solda, corte, esmerilhamento e etc, tais como corte
de chapas de revestimento e parafusos em chutes de alimentação
visto na figura 08.

Vegetação próxima à correia transportadora: A vegetação ao


longo das correias transportadoras, principalmente durante os
períodos de seca, representa exposição desnecessária, tendo em
vista o risco de incêndio iniciado na vegetação e que pode
facilmente se propagar para as correias transportadoras, visto na
figura 09.

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Vandalismo: Incêndios criminosos provocados por seres
humanos.

PREVENÇÃO – AÇÕES MITIGADORAS

Operação com correia transportadora requer constantes


monitoramento e manutenção, sendo:

• Sempre realize inspeções periódicas e detalhadas nas


correias transportadoras;
• Dimensionar corretamente o composto de borracha das
coberturas da correia transportadora para o material a ser
manuseado;
• Sempre substitua, o mais rápido possível, os rolos
desgastados ou danificados / travados;
• Sempre investigue o odor de borracha queimada proveniente
das correias transportadoras;
• Sempre elimine fontes potenciais de incêndio tais como
rolamentos superaquecidos e desalinhamento das correias
transportadoras com contato com a estrutura do
transportador;
• Sempre remova pós e outros materiais acumulados nos
componentes das correias transportadoras;
• Instalar sistema de detecção de incêndio através de fumaça /
calor e fazer os intertravamentos entre o sistema de
acionamento dos motores da correia transportadora com os
sistemas de detecção e proteção;

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• Sempre sinalize claramente os locais da rede de hidrantes ao
longo das correias transportadoras e certifique que os
hidrantes estejam operacionais, limpos e que as mangueiras
de incêndio estejam adequadamente enroladas.
• Antes de autorizar a execução dos trabalhos a quente, o
responsável pela atividade deve certificar-se de que as
medidas preventivas necessárias foram aplicadas e que
todas as proteções contra incêndio estão operacionais.
Recomenda-se proteger a correia contra fagulhas e borras
incandescentes.
• Fazer a poda e o desmatamento da vegetação vizinha às
correias transportadoras, a intervalos regulares.
• Para evitar vandalismo, é necessário supervisionar toda a
extensão da correia transportadora, além das operações de
ronda, também se recomenda a instalação de câmeras de
vídeo, ao longo delas.

Importante: Em caso real de incêndio, nunca interrompa o


movimento da correia, o combate ao fogo deve ser realizado com a
correia em movimento sempre quando possível.

USO DE TECNOLOGIAS

Também podem ser utilizadas as tecnologias para ajudarem a


monitorar e prevenir acidentes com incêndios em correia
transportadora. Podemos destacar algumas disponíveis no
mercado:

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• Uso de cabos detectores lineares de calor por fibra ótica que
podem ser instalados nas proximidades de roletes e
tambores. Esses cabos são interligados a um painel de
controle que dispara um alarme e aciona os sistemas de
extinção automática, além de interromper a movimentação da
correia transportadora. Um exemplo de cabo é visto na figura
10.

• Proteção contra o “patinamento” (deslizamento da correia


transportadora nos tambores) com uso de sensores de
detecção de velocidade baixa no tambor motriz para
automaticamente interromper o movimento da correia
transportadora conforme figura 11.

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• Uso de sensores em rolos para detectar vibrações, alta
temperatura e vida útil de modo a fazer um monitoramento
eficiente para evitar travamento deste componente conforme
figura 12.

• Uso de pulverizadores de água para extinção de incêndios


conforme norma NFPA 15 que consiste na descarga de água
pulverizada fazendo o arrefecimento e reduzindo o teor de
oxigênio presente no incêndio, conforme figura 13.

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Para finalizar o tema, um estudo realizado pelo Sr. Rickard Hansen
da Universidade de Queensland em 2018 mostrou as causas mais
comuns de incêndio em sistemas de transportadores de correia em
uma mineradora de carvão na Austrália. São eles:

• Falha em rolamentos devido a ineficiência de lubrificação com


excesso de graxa, isto porque a graxa em excesso pode
provocar perda de resistência e desencadear
superaquecimento - 22 casos.
• Travamento de rolos e tambores - 21 casos.
• Deslizamento da correia transportadora em rolos e tambores
- 5 casos.
• Metal superaquecido em contato com a correia
transportadora – 04 casos;
• Atrito da correia transportadora com material fugitivo (rochas)
- 3 casos.
• Transporte de carvão em ignição - 2 casos.

O gráfico a seguir mostra a distribuição dos eventos por


componente do transportador de correia, com destaque para a
correia transportadora com 14 casos.

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