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UNIVERSIDADE DO ALGARVE

ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO, HOTELARIA E TURISMO

MESTRADO EM FISCALIDADE

DISCIPLINA DE IMPOSTOS ADUANEIROS

2.ª Aula

António João Nunes Patinhas Gião


Universidade do Algarve – Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo
Mestrado em Fiscalidade

5. NOMENCLATURAS

5.1. A Pauta Aduaneira – Introdução e breve história

A Pauta Aduaneira é um instrumento que fornece todas as informações relativas à


tributação das mercadorias importadas de países terceiros.

A Pauta Aduaneira contém medidas de política comercial comum, nomeadamente


restrições quantitativas, direitos aduaneiros, direitos anti-dumping, suspensões e
contingentes pautais, bem como medidas de âmbito nacional, tais como o imposto sobre
o valor acrescentado, os impostos especiais de consumo e informações complementares
sobre as condições de desalfandegamento das mercadorias.

As trocas internacionais de mercadorias de uma maneira geral sempre foram


condicionadas, fora dos limites territoriais de um país, ao pagamento de um
determinado imposto, cobrado pelo Estado, no intuito de arrecadar receitas fiscais ou
obedecendo a outros objectivos de índole económica, pretendendo-se atingir produtos,
industrias ou mesmo mercados.

A necessidade de cobrar direitos aduaneiros ou de exercer diversos controlos obrigou a


que se sistematizasse a classificação das mercadorias, processo que tem naturalmente
evoluído desde as primeiras listas alfabéticas de mercadorias.

As pautas aduaneiras, constituindo-se como uma relação ordenada de mercadorias, para


as quais são indicados os direitos aduaneiros, comportam dois elementos distintos:
nomenclatura e direitos.

São inúmeras as vantagens de dispor de uma nomenclatura aduaneira “tipo”, de onde se


destaca a atribuição a cada mercadoria do lugar mais apropriado e idêntico em todas as
pautas dos países que adoptem essa nomenclatura. Esta classificação tem permitido uma
maior celeridade nas trocas, dado o fácil acesso dos agentes e facilitando também as
negociações dos tratados e acordos comerciais e aduaneiros, bilaterais ou multilaterais,
para além de um adequado tratamento dos dados estatísticos.

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Se a criação de uma nomenclatura estruturada e polivalente, de utilização internacional,


constituiu um objectivo em que se empenharam nas últimas décadas diversos
organismos, especialmente o Conselho de Cooperação Aduaneira (CCA), já no que
respeita aos direitos aduaneiros, os mesmos divergem de país para país, obrigando a
convergências sempre que se cria uma união aduaneira.

Conforme está estipulado no Tratado de Roma1, a criação da Comunidade Económica


Europeia implicou, entre outras medidas, a eliminação dos direitos aduaneiros entre os
Estados-membros e a adopção de uma pauta aduaneira comum em relação ao exterior,
dois elementos fundamentais de qualquer união aduaneira.

5.2. Sistema Harmonizado (SH)

A Comunidade Económica Europeia (CEE) foi desde a sua fundação elemento ativo na
elaboração de uma nomenclatura que acompanhasse as suas necessidades de comércio
internacional.

A Convenção sobre a Nomenclatura para a Classificação de Mercadorias nas pautas


Aduaneiras, assinada em 15 de Dezembro de 1950, da responsabilidade do CCA, foi
posteriormente ratificada por centena e meia de países, tendo representado um esforço
sério, no sentido de criar um denominador comum às nomenclaturas aduaneiras, sendo
designada inicialmente por Nomenclatura de Bruxelas e posteriormente por
Nomenclatura do Conselho de Cooperação Aduaneira (NCCA).

Apesar de ter sido inicialmente revista em 1960, entendeu-se que deveria ser solicitado
a um grupo de trabalho um estudo sobre a necessidade de uma nova nomenclatura, o
qual se iniciou em 1971, tendo-se concluído passados dois anos.

1
Tratado que instituiu a Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1957.

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Um novo sistema era não só realizável, mas igualmente essencial aos interesses das
trocas internacionais, devendo ter em atenção as outras nomenclaturas já existentes de
âmbito aduaneiro ou estatístico.

O Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (SH), mediante


um Comité criado para o efeito, foi elaborado entre 1973 e 1983, tendo os cinco anos
posteriores sido considerados como necessários para que as partes contratantes
aderissem, procedendo-se entretanto às necessárias transposições pautais, o que
possibilitou que a Convenção Internacional sobre o Sistema Harmonizado de
Designação e Codificação de Mercadorias, também designado por “Sistema
Harmonizado”, entrasse em vigor em 1 de Janeiro de 1988.

Tem como objectivos desenvolver a cooperação técnica entre as administrações


aduaneiras dos países participantes e promover a simplificação das normas
internacionais e a sua aplicação harmonizada.

O SH, sistema de classificação pautal com seis dígitos, é utilizado como ponto de
partida para as pautas aduaneiras das partes contratantes e para as estatísticas do
comércio internacional.

O SH é uma nomenclatura de todos os objetos físicos (incluindo a eletricidade, mas


excluindo os serviços) e é constituída pelos seguintes elementos:

 Números de código;

 Designações de mercadorias;

 Regras gerais para interpretação do SH;

 Notas das secções e dos capítulos, incluindo notas de subposição;

 Notas explicativas.

Na nomenclatura em geral e dentro de cada capítulo em particular, as mercadorias


apresentam-se classificadas, sistematicamente, por ordem progressiva da sua
complexidade, tendo sempre em conta o seu grau de acabamento ou a sua situação no

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processo de fabrico, tudo isto em 5019 grupos de mercadorias, identificadas através de


um código de seis algarismos agrupados em 96 capítulos identificados através dos dois
primeiros dígitos, encontrando-se estes últimos articulados em 21 secções.

Exemplos:

1) Posição 6113

Código Pautal 611300 – Vestuário confeccionado com tecidos de malha das posições
5903, 5906 ou 5907

61 13 00
Capítulo Posição (13 do Sub posição não
capítulo 61) dividida

2) Posição 6116

Código Pautal 611610 – Luvas impregnadas, revestidas ou recobertas de plástico ou de


borracha

61 16 10
Capítulo Posição (16 do Primeira sub
capítulo 61) posição

Em conclusão:

1) 611300: o código do SH não precisa de mais desdobramentos para além da posição.

2) 611610: o código do SH precisa de ir mais além da posição, tendo no quinto dígito


um algarismo e o sexto é zero.

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Nenhum destes elementos faz sentido isoladamente, o que leva muitas vezes, por
exemplo, a só se compreender o conteúdo exato de determinadas designações com a
ajuda das notas das secções e dos capítulos.

Para além destes elementos obrigatórios do SH, existem também notas explicativas que,
não sendo juridicamente vinculativas, se revelam de grande utilidade para interpretação
da nomenclatura.

A nomenclatura do SH comporta cerca de 5000 grupos de produtos de base,


organizados segundo uma estrutura jurídica e lógica, sendo identificados por um código
de seis dígitos.

A Convenção sobre o SH é gerida pelo Comité do SH o qual tem como um dos


objetivos atualizar a nomenclatura de acordo com desenvolvimento tecnológico. Para
esse efeito, a nomenclatura tem sido sucessivamente submetida a alteração.

Ao comité do SH compete também, analisar os problemas de classificação pautal, para


que todas as partes contratantes classifiquem uniformemente as mercadorias.

A Convenção do SH não tem interferência nas taxas dos direitos de importação. É na


Organização Mundial do Comércio que têm lugar as negociações sobre as alterações
dos direitos aduaneiros.

Contudo, os direitos aduaneiros da pauta aduaneira comum são fixados pelo Conselho,
sob proposta da Comissão, nos termos do disposto no artigo 31.º do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia.

Estrutura da Pauta

Em anexo2 encontra-se a forma como o SH se encontra dividido. Os capítulos do


sistema harmonizado encontram-se agrupados pelas respetivas secções que os
compõem. De realçar que cada secção contem antes de cada capítulo as notas de secção
respetivas.

2
Vide Anexo I (índice de secções e capítulos).

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5.3. Nomenclatura Combinada (NC)

A Nomenclatura Combinada (NC)3 é a nomenclatura pautal e estatística das


mercadorias da EU, que satisfaz as exigências das estatísticas do comércio internacional
(intra e extra comunitário) e da pauta aduaneira, nos termos do artigo 9º do Tratado de
Roma.

A NC baseia-se no SH, retomando-o na íntegra e só o subdividindo quando tal é


necessário para as estatísticas do comércio externo, a regulamentação agrícola ou a
pauta aduaneira.

Para além dos elementos obrigatórios do SH já mencionados, a NC contém:

 Notas complementares dos capítulos (isto é, notas relativas às subdivisões NC das


subposições SH)4;

 Unidades suplementares.

O desenvolvimento da nomenclatura do sistema harmonizado foi manifestamente


superior à anterior nomenclatura do CCA; contudo, reconheceu-se que poderia haver
necessidade de proceder a emendas ou a um alargamento superior partindo, obviamente,
do sistema harmonizado.

Cada país pode desenvolver o sistema harmonizado respeitando as obrigações que lhe
incumbem de aplicar a nomenclatura na base dos seis algarismos do sistema
harmonizado.

No que respeita à UE, a nomenclatura foi desenvolvida através de uma desagregação


sucessivamente alargada:

3
A Nomenclatura Combinada foi criada pelo Regulamento (CEE) n.º 2658/87 do Conselho, de 23 de
Julho de 1987, com base na «Convenção Internacional sobre o Sistema Harmonizado de Designação e
Codificação de Mercadorias» (Sistema Harmonizado) da qual a Comunidade é signatária.
4
Vide anexo II (exemplos de notas de seção, capítulo, notas de subposição, notas complementares e notas
explicativas da NC).

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a) Imediatamente após o código de seis dígitos do sistema harmonizado, dois outros


algarismos foram adicionados para responder às necessidades pautais e estatísticas. O
código de oito algarismos foi designado de nomenclatura combinada, podendo os dois
últimos dígitos estarem sujeitos a alterações anuais aceites geralmente no Comité da
Nomenclatura;

b) Um nono algarismo está reservado aos Estados-membros, permitindo-lhes, em caso


de necessidade, criar subdivisões estatísticas a nível nacional;

c) Foram acrescentados mais dois algarismos, que conjuntamente com a nomenclatura


e as taxas de direitos aplicáveis, constituem a base da TARIC (pauta de serviço da UE),
a qual se utiliza na importação e exportação, bem como no comércio entre os Estados-
membros. A gestão e publicação são da competência da Comissão Europeia;

d) A necessidade da aplicação de taxas diferenciadas leva a que Portugal utilize na


Pauta de Serviço catorze dígitos.

Código pautal:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Sistema harmonizado

Nomenclatura Combinada

TARIC

Pauta de serviço

5.4. Pauta Aduaneira Comum, TARIC e Pauta de Serviço

5.4.1. Pauta Aduaneira Comum

A Pauta Aduaneira Comum é a pauta externa aplicada aos produtos importados na


União Europeia.

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Esta pauta é um dos elementos constitutivos da União Aduaneira, sendo publicada


anualmente por regulamento comunitário que altera o regulamento de base5.

A Pauta Aduaneira Comum compreende, entre outros elementos, os direitos de


importação6 e a NC das mercadorias.

5.4.2. Pauta Integrada das Comunidades Europeias (TARIC)

A TARIC é a Pauta Aduaneira Comum em sentido lato e foi estabelecida através do


Regulamento (CEE) n.º 2658/87 do Conselho, de 23 de Julho de 19877, relativo à
Nomenclatura Pautal e Estatística e à Pauta Aduaneira Comum.

Este regulamento teve por objectivo estabelecer uma Nomenclatura Combinada que
satisfizesse as exigências pautais e estatísticas da união aduaneira e criar uma pauta
integrada das Comunidades Europeias.

A TARIC é utilizada pela Comissão e pelos Estados-Membros para aplicação das


medidas comunitárias relativas às importações ou às exportações, bem como, quando
necessário, ao comércio entre os Estados-Membros, constituindo assim a base da pauta
de serviço e do ficheiro pautal dos Estados-Membros.

Tendo em conta as frequentes alterações a que está sujeito o direito comunitário, a


TARIC está introduzida numa base de dados que é permanentemente actualizada, sendo
os Estados-Membros informados por via electrónica das alterações da TARIC, para que
possam efectuar as necessárias adaptações nas respectivas pautas de serviço e ficheiros
pautais.

A TARIC baseia-se na NC, cujas cerca de 10.000 posições (codificadas a oito dígitos)
constituem a nomenclatura de base da pauta aduaneira comum, bem como das

5
Regulamento (CEE) n.º 2658/87 do Conselho, de 23 de julho de 1987, relativo à nomenclatura pautal e
estatística e à pauta aduaneira comum.
6
Vide anexo III (exemplos de taxas de direitos aduaneiros).
7
Alterado pelo Regulamento (CE) n.º 254/2000 do Conselho, de 31 de janeiro de 2000 e pelo
Regulamento (CE) n.º 1832/2002 do Conselho de 1 de Agosto de 2002.

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estatísticas do comércio externo da Comunidade e do comércio entre os Estados-


Membros.

A TARIC compreende cerca de 18.000 subdivisões complementares (codificadas com


dois dígitos suplementares ou com um código adicional) devidas, principalmente, a:

 Suspensões pautais;
 Contingentes pautais;
 Preferências pautais (incluindo contingentes e plafonds pautais);
 Sistema de preferências generalizadas aplicável aos países em vias de
desenvolvimento;
 Direitos anti-dumping e direitos compensadores;
 Taxas compensatórias;
 Elementos agrícolas;
 Valores unitários8;
 Valores forfetários à importação9;
 Preços de referência e preços mínimos;
 Proibições à importação;
 Restrições à importação;
 Vigilância à importação;
 Proibições à exportação;
 Restrições à exportação;
 Vigilância à exportação;
 Restituições à exportação.

8
O procedimento simplificado dos preços unitários consiste num método alternativo de determinação do
valor aduaneiro para certas mercadorias perecíveis (produtos agrícolas).
9
Os valores forfetários de importação são um dos métodos para determinar o preço de entrada ao dispor
dos importadores, para determinados frutos e produtos hortícolas

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A TARIC inclui:

 Subdivisões comunitárias complementares, denominadas «sub posições TARIC»,


necessárias à designação de mercadorias que sejam objecto de medidas comunitárias
específicas;
 Taxas dos direitos aduaneiros e outras imposições aplicáveis;
 Qualquer outro elemento de informação necessário à aplicação ou à gestão das
medidas comunitárias em causa.

5.4.3. Pauta de Serviço

A Pauta de Serviço é elaborada com base nos elementos integrados da TARIC,


acrescidos de informação de carácter nacional, tais como; taxas do IVA, impostos
especiais de consumo (imposto sobre o álcool e bebidas alcoólicas; imposto sobre os
produtos petrolíferos e energéticos; imposto sobre o tabaco manufaturado e imposto
sobre veículos) e informações nacionais sobre condições a respeitar na importação e
exportação de mercadorias – informações complementares10.

10
Vide Anexo IV (exemplos de informações complementares).

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As informações complementares, fundamentais para o desalfandegamento de


determinadas mercadorias, consistem num conjunto de informações, através das quais
se dá a conhecer ao utilizador da Pauta de Serviço as condições a que está subordinado
o desalfandegamento de determinadas mercadorias, designadamente autorizações,
certificados, peritagens, normas técnicas, controlos veterinários e fitossanitários.

As informações complementares estão identificadas por códigos de três algarismos,


podendo ser consultada informação adicional relativa às mesmas na Parte 17 da Pauta
de Serviço.

A Pauta de Serviço apresenta-se sob a forma papel (três volumes), CD-ROM e online.

Em caso de dúvida ou de contestação da informação existente na Pauta de Serviço ou na


respectiva base de dados devem ser consultados os respectivos regulamentos.

Consulta de direitos aduaneiros e outras imposições na Pauta de Serviço:

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Para além da informação acima referida, a Pauta de Serviço possui 21 partes, que
contém a seguinte informação:

Parte 1 – Abreviaturas
Parte 2 - Disposições Preliminares
Parte 3 – Descrição das Linhas da Pauta de Serviço
Parte 4 - Regimes Pautais
Parte 5 - Produtos Agrícolas
Parte 6 - Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)
Parte 7 - Impostos Especiais sobre o Consumo
Parte 8 - Substâncias Farmacêuticas
Parte 9 - Direitos Anti-Dumping e de Compensação
Parte 10 – Licenças
Parte 11 - Preços de Referência dos Produtos da Pesca e da Aquicultura
Parte 12 - Nomenclatura das Restituições à Exportação
Parte 13 – Produtos a que se aplica o Preço de Entrada

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Parte 14 - Contingentes Pautais OMC


Parte 15 - Tratamento Pautal Favorável em função da Natureza das Mercadorias
Parte 16 - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora
Ameaçadas de Extinção (CITES)
Parte 17 - Informações Complementares
Parte 18 - Índice Alfabético de Mercadorias
Parte 19 - Tabelas de Transposição
Parte 20 – Códigos estatísticos TARIC

Parte 21 - Códigos de documentos e outras referências a declarar na casa 44 da


Declaração Aduaneira

5.5. Classificação Pautal

Classificar uma mercadoria consiste em proceder ao seu enquadramento na


nomenclatura, a fim de encontrar o código pautal apropriado. A classificação correcta
de uma mercadoria torna-se por vezes difícil, nomeadamente quando esta não está
expressamente designada na nomenclatura. Para se determinar o código pautal é
necessário o conhecimento exacto da mercadoria (incluindo a sua composição).

5.5.1. Porque é importante uma correcta classificação pautal?

Atendendo a que as medidas pautais estão directamente associadas a códigos, uma


errada classificação pautal pode por exemplo significar:

 Aplicação de uma taxa de direitos de importação que não foi a prevista para o
produto em causa;

 Não sujeição a um direito anti-dumping;

 Benefício ilegal de uma suspensão de direitos;

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 Cabimento indevido num contingente pautal de direito nulo ou reduzido ou num


tecto pautal;

 Aplicar um regime preferencial sem que a isso a mercadoria tenha direito;

 Falsear dados estatísticos;

 Evitar a aplicação de medidas relativas de contingente ou de vigilância;

 Distorcer o preço dos produtos.

5.5.2. Elementos auxiliares para a classificação pautal

A) Regras gerais para interpretação da Nomenclatura Combinada (NC);

B) Notas legais de secção, de capítulo e de sub posição da NC;

C) Regulamentos de classificação da Comissão das Comunidades Europeias;

D) Decisões do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias;

E) Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH);

F) Notas Explicativas da NC;

G) Pareceres e Decisões de classificação da Organização Mundial das Alfândegas;

H) Decisões do Conselho Técnico Aduaneiro;

I) Recomendações de classificação da Autoridade Tributária e Aduaneira.

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A) Regras gerais para interpretação da Nomenclatura Combinada (NC)

Em número de seis, permitem assegurar uma interpretação jurídica uniforme


conduzindo a uma classificação correcta da mercadoria, ou seja, enquadrá-la num só
código pautal, depois de serem afastadas as restantes hipóteses de classificação.

De todas, a mais importante é a regra geral interpretativa n.º 1, que diz dever "a
classificação das mercadorias ser legalmente determinada segundo os dizeres das
posições e das notas às secções ou aos capítulos".

No caso porém de os dizeres das posições e das notas às secções ou aos capítulos não
assegurarem uma classificação imediata, há que recorrer à aplicação das regras n.º 2 a 6.

Deste modo, a classificação das mercadorias na NC rege-se pelas seguintes regras:

1. Os títulos das secções, capítulos e sub capítulos têm apenas valor indicativo. Para os
efeitos legais, a classificação é determinada pelos textos das posições e das notas de
secção e de capítulo e, desde que não sejam contrárias aos textos das referidas posições
e notas, pelas regras seguintes.

2. a) Qualquer referência a um artigo em determinada posição abrange esse artigo


mesmo incompleto ou inacabado, desde que apresente, no estado em que se encontra, as
características essenciais do artigo completo ou acabado. Abrange igualmente o artigo
completo ou acabado, ou como tal considerado nos termos das disposições precedentes,
mesmo que se apresente desmontado ou por montar;

2. b) Qualquer referência a uma matéria em determinada posição diz respeito a essa


matéria, quer em estado puro, quer misturada ou associada a outras matérias. Da mesma
forma, qualquer referência a obras de uma matéria determinada abrange as obras
constituídas inteira ou parcialmente por essa matéria. A classificação destes produtos
misturados ou artigos compostos efectua-se conforme os princípios enunciados na regra
n.º 3.

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3. Quando pareça que a mercadoria pode classificar-se em duas ou mais posições por
aplicação da regra 2, alínea b) ou por qualquer outra razão, a classificação deve
efectuar-se da forma seguinte:

3. a) A posição mais específica prevalece sobre as mais genéricas. Todavia, quando


duas ou mais posições se refiram, cada uma delas, a apenas uma parte das matérias
constitutivas de um produto misturado ou de um artigo composto, ou a apenas um dos
componentes de sortidos acondicionados para venda a retalho, tais posições devem
considerar-se, em relação a esses produtos ou artigos, como igualmente específicas,
ainda que uma delas apresente uma descrição mais precisa ou completa da mercadoria;

3. b) Os produtos misturados, as obras compostas de matérias diferentes ou constituídas


pela reunião de artigos diferentes e as mercadorias apresentadas em sortidos
acondicionados para venda a retalho, cuja classificação não se possa efectuar pela
aplicação da regra 3, alínea a), classificam-se pela matéria ou artigo que lhes confira o
carácter essencial, quando for possível realizar esta determinação;

3. c) Nos casos em que a regra 3, alínea a) e alínea b) não permita efectuar a


classificação, a mercadoria classifica-se na posição situada em último lugar na ordem
numérica dentre as susceptíveis de validamente se tomarem em consideração.

4. As mercadorias que não possam ser classificadas por aplicação das regras acima
enunciadas, classificam-se na posição correspondente aos artigos mais semelhantes.

5. Além das disposições precedentes, as mercadorias abaixo mencionadas estão sujeitas


às regras seguintes:

5. a) Os estojos para aparelhos fotográficos, para instrumentos musicais, para armas,


para instrumentos de desenho, para jóias e receptáculos semelhantes, especialmente
fabricados para conterem um artigo determinado ou um sortido, e susceptíveis de um
uso prolongado, quando apresentados com os artigos a que se destinam, classificam-se
com estes últimos, desde que sejam do tipo normalmente vendido com tais artigos. Esta

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regra, todavia, não diz respeito aos receptáculos que confiram ao conjunto o seu carácter
essencial;

5. b) Sem prejuízo do disposto na regra 5, alínea a), as embalagens (1) contendo


mercadorias classificam-se com estas últimas quando sejam do tipo normalmente
utilizado para o seu acondicionamento. Todavia, esta disposição não é obrigatória
quando as embalagens sejam claramente susceptíveis de utilização repetida.

6. A classificação de mercadorias nas sub posições de uma mesma posição é


determinada, para efeitos legais, pelos textos dessas subposições e das notas de
subposição respectivas, assim como, mutatis mutandis, pelas regras precedentes,
entendendo-se que apenas são comparáveis subposições do mesmo nível. Para os fins da
presente regra, as notas de secção e de capítulo são também aplicáveis, salvo
disposições em contrário.

B) Notas legais de secção, de capítulo e de subposição da NC

Dispondo de valor jurídico, determinam de um modo geral qual o alcance das secções,
capítulos ou posições. Para esse efeito indicam, no início das secções ou capítulos, qual
o conteúdo a considerar, quais as exclusões e o seu correcto enquadramento,
mencionando-se por vezes determinadas prevalências em termos de classificação.

A União Europeia (UE) além de adotar integralmente estas notas, às quais se encontra
vinculada, tem também por vezes em adicional, expressas na Pauta Aduaneira Comum,
notas complementares associadas à utilização da nomenclatura combinada e cujo valor
jurídico se limita aos Estados-membros.

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E) Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH)

As NESH, aprovadas pelo Conselho de Cooperação Aduaneira (CCA), constituem uma


interpretação oficial do SH, do qual são um complemento essencial.

Estas notas são muito importantes na ajuda ao enquadramento das mercadorias devendo
ser sempre lidas num sentido estrito em relação aos dizeres legais do sistema, não
podendo levar a conclusões contrárias às regras gerais interpretativas nem aos dizeres da
posições, notas de secções, capítulos, posições ou subposições.

5.6. INFORMAÇÕES PAUTAIS VINCULATIVAS

5.6.1. INTRODUÇÃO

A aplicação uniforme da pauta aduaneira comum (PAC) é essencial para a Comunidade


Europeia enquanto união económica e aduaneira, uma vez que constitui a dimensão
externa do mercado comum.

Na falta de uma aplicação uniforme da PAC, os Estados-membros aplicariam diferentes


direitos aduaneiros ao mesmo tipo de mercadorias.

Tal conduziria a uma situação em que as mercadorias seriam importadas de países


terceiros através do Estado-Membro que aplicasse a taxa de direito mais baixa ou que
isentasse as mercadorias de direitos aduaneiros que, por seu turno, beneficiariam do
princípio da livre circulação no mercado comum.

O artigo 28.º do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia, que trata da livre
circulação de mercadorias entre os Estados-membros estipula explicitamente a adoção
de “uma pauta aduaneira comum nas suas relações com países terceiros”.

A nomenclatura aduaneira é também utilizada para outros fins para além da cobrança
dos direitos aduaneiros.

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Entre estes estão:

 A recolha de estatísticas do comércio externo;


 A identificação de produtos objeto de restrições à importação e à exportação;
 A identificação de produtos para os quais são concedidos auxílios à produção ou
restituições à exportação;
 A definição de produtos objeto de impostos especiais sobre o consumo ou de taxas
reduzidas do imposto sobre o valor acrescentado;
 A definição das regras de origem, etc..

Deste modo, é óbvio que a classificação e a interpretação e aplicação uniformes das


nomenclaturas aduaneiras desempenham um papel-chave no comércio internacional.

A fim de garantir a certeza jurídica para os operadores económicos quando do cálculo


do montante das transações de importação ou de exportação e facilitar o trabalho dos
serviços aduaneiros, bem como assegurar uma aplicação mais uniforme da pauta
aduaneira comum, foi introduzido o sistema europeu de informações pautais
vinculativas (EBTI).

5.6.2. LEGISLAÇÃO

O sistema comunitário de IPV entrou em vigor em 1991, com a publicação dos


Regulamentos (CEE) n.º 1715/90 do Conselho e 3796/90 da Comissão.

Por força do Regulamento (CEE) n.º 2674/92 da Comissão, as IPV emitidas num
Estado-membro passaram a ser obrigatoriamente aceites em todos os outros.

Desde 1 de Janeiro de 1994, o sistema das IPV é regido pelos artigos 11.º e 12.º do
CAC11 e artigos 5.º a 14.º das DACAC12 (Anexo IV).

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Código Aduaneiro Comunitário, instituído pelo Regulamento (CEE) n.º 2913/92 do Conselho, de 12 de
Outubro.

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5.6.3. OBJECTIVOS

O sistema de IPV foi instituído por decisão do Conselho das Comunidades Europeias,
correspondendo a uma necessidade real dos operadores económicos, bem como da
Comissão e das Administrações Aduaneiras dos Estados-membros, na medida em que
contribui para:

 Assegurar a aplicação uniforme da Pauta Aduaneira Comum no seio da União


Europeia, através da uniformização das classificações pautais estabelecidas nos Estados-
membros;

 Promover a eficácia do Mercado Único, pela aplicação uniforme da nomenclatura


aduaneira;

 Garantir que as normas aduaneiras se tornam num instrumento da estratégia


comercial das empresas e de incitamento ao comércio internacional e não um obstáculo;

 Permitir às empresas otimizarem a matriz da cadeia logística, de que a alfândega faz


parte, garantindo a rapidez da passagem nas alfândegas graças à utilização de IPV.

As IPV não se destinam a substituir o controlo que deve ser exercido sobre a
classificação das mercadorias pelos funcionários aduaneiros. Serve antes para motivar a
procura da classificação pautal por parte dos operadores económicos, antes da
apresentação das mercadorias à alfândega, a fim de acelerar, ou pelo menos, não
retardar o seu desalfandegamento, por causas relacionadas com a interpretação das
regras de aplicação da nomenclatura combinada.

A importância que se atribui à classificação justifica-se porque é através do código da


mercadoria que se aplicam:

1. Os direitos aduaneiros (artigo 20.º do CAC);

2. A taxa do IVA;

3. Os contingentes pautais;

12
Disposições de Aplicação do Código Aduaneiro Comunitário, instituídas pelo Regulamento (CEE) nº
2454/93 da Comissão, de 2 de Julho de 1993.

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4. As suspensões de direitos;

5. Os limites quantitativos;

6. O controlo sanitário ou fitossanitário;

7. O regime de destino especial;

8. As restituições à exportação;

9. As regras de origem, etc..

5.6.4. EFEITOS JURÍDICOS DO SISTEMA DE IPV

As disposições que regem o sistema conferem aos titulares das IPV:

 A garantia de que a informação sobre a classificação, não será posta em causa


quando a mercadoria for objeto de desalfandegamento (n.º 2 do artigo 12.º do CAC), o
que para o operador económico constitui uma condição essencial para estabelecer a
gestão previsional das operações comerciais;

 A garantia da transparência da informação em matéria de regulamentação aduaneira,


que se traduz na igualdade de tratamento entre os operadores dos diversos Estados da
União, no que se refere à aplicação da nomenclatura;

 A garantia de que a IPV é aceite, nas mesmas condições, por todos os Estados-
membros (artigo 11.º das DACAC);

 A garantia de que o sistema permite assegurar o respeito pela confidencialidade dos


dados face a operadores concorrentes (artigo 15.º do CAC);

As IPV só podem ser invocadas pelo seu titular (n.º 1 do artigo 10.º das DACAC).

As IPV apenas vinculam as autoridades aduaneiras perante o titular relativamente à


classificação pautal das mercadorias e somente em relação àquelas cujas formalidades
aduaneiras são cumpridas depois da sua emissão (n.º 2 do artigo 12.º do CAC).

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O titular deve provar que existe uma perfeita correspondência entre a mercadoria
declarada e a descrita na IPV (n.º 3 do artigo 12.º do CAC).

As autoridades aduaneiras podem, no momento do desalfandegamento, exigir ao


declarante que indique se possui uma IPV relativa à mercadoria que é objeto de
desalfandegamento e exigir que a apresente traduzida em português (alínea a) do n.º 2 e
n.º 4 do artigo 10.º das DACAC).

De acordo com o disposto no n.º 4 do artigo 12.º do CAC, as IPV são válidas por seis
anos a contar da data de emissão e são vinculativas para as autoridades aduaneiras
apenas no que respeita às mercadorias em relação às quais as formalidades aduaneiras
são cumpridas após a data de emissão.

Por conseguinte, as IPV não podem ser emitidas a posteriori, ou seja, com o início do
prazo de validade anterior à data de emissão.

Presentemente, as IPV só são vinculativas para as autoridades aduaneiras.

No entanto, se o titular de uma IPV não puser em causa a classificação e efetuar uma
declaração para as mesmas mercadorias especificadas na IPV ao abrigo de um outro
código da nomenclatura aduaneira que não o indicado na IPV, esse comportamento
pode ser punido nos termos da legislação nacional (alínea d) do artigo. 92.º e artigo.
108.º do Regime Geral das Infrações Tributárias – RGIT, aprovado pela Lei n.º 15/2001
de 5 de Junho).

5.6.5. INFORMATIZAÇÃO DO SISTEMA IPV

A fim de assegurar a gestão eficaz do sistema de IPV, foi constituída na DG XXI


(Direcção-Geral Alfândega e Fiscalidade Indireta, atualmente denominada Direcção-
Geral da Fiscalidade e União Aduaneira - TAXUD) uma base de dados, para onde são
transmitidas, por via telemática (n.º 1 do artigo 8.º das DACAC), todas as IPV emitidas
nos Estados-membros e, a partir de 1.01.2001, todos os pedidos de IPV.

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A base de dados oferece as seguintes possibilidades:

 Permite às autoridades aduaneiras, quando tenham de classificar determinada


mercadoria, verificar se noutro Estado-membro já foi emitida uma IPV sobre
mercadoria idêntica;

 Facilita a classificação pautal, uma vez que permite pesquisar se existem


classificações sobre mercadorias com designações semelhantes;

 Permite aos serviços da Comissão garantir a coerência das classificações dadas nos
diversos Estados-membros, através da deteção e resolução de casos de classificações
divergentes (artigo 9.º das DACAC) ou erradas.

 Permite visualizar as imagens das mercadorias objeto de IPV.

5.6.6. CONFIDENCIALIDADE

Para obter uma IPV, o requerente deve fornecer à autoridade aduaneira um certo
número de elementos, que serão mantidos confidenciais (artigo 15.º do CAC).

O respeito pela confidencialidade é assim garantido, a fim de preservar a vantagem


comercial do titular da IPV sobre os seus concorrentes nacionais ou comunitários.
Compete, pois, ao requerente, definir quais os dados que considera confidenciais.

A confidencialidade aplica-se igualmente à imagem digitalizada, pelo que deve sugerir-


se ao operador que declare expressamente se aceita a integração da imagem do produto
na base de dados.

5.6.7. ALGUNS ESTÁDIOS PARA A EMISSÃO DE IPV NO ÂMBITO DO


SISTEMA EBTI:

• Fase anterior ao pedido;

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António João Nunes Patinhas Gião

• Pedido de uma IPV;

• Emissão de uma IPV;

• Anulação de uma IPV;

• Invalidação e revogação de uma IPV; e,

• Período de graça “prazo de prorrogação de utilização”.

5.6.7.1. FASE ANTERIOR AO PEDIDO

O artigo 11.º do CAC obriga as autoridades aduaneiras a prestarem informações sobre a


legislação aduaneira, designadamente sobre a classificação de mercadorias, oralmente
ou por escrito.

Nos termos da legislação comunitária, essas informações só são juridicamente


vinculativas se forem emitidas por escrito no âmbito do sistema EBTI.

De acordo com a legislação em vigor, não está explicitamente previsto o fornecimento


de informações sob a forma eletrónica. Todavia, os artigos 4.º A a 4.º C das DACAC
habilitam os Estados-membros a substituir as formalidades escritas por formalidades
eletrónicas.

Quando forem prestadas informações informais fora do âmbito do sistema EBTI, as


mesmas não possuem carácter vinculativo.

As informações vinculativas só podem ser obtidas através do sistema EBTI.

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5.6.7.2. PEDIDO DE UMA IPV

Os pedidos de IPV devem ser apresentados no formulário de pedido único que deve ser
corretamente preenchido de acordo com as disposições legais pertinentes (artigo 6.º das
DACAC e Anexo I B das DACAC).

Compete ao requerente fornecer todas as informações necessárias à classificação das


mercadorias.

Ao dirigir às autoridades aduaneiras um pedido para emissão de IPV, intervindo no


pedido como requerente e na qualidade de representante indireto13, deverá juntar ao
pedido de IPV, um documento escrito devidamente assinado que expressamente o
habilite a representar essa entidade como titular da IPV, ou seja, como entidade em
nome da qual a IPV irá ser emitida.

Assim, sempre que no pedido de IPV a figura do requerente e do titular (casa 2) sejam
entidades distintas, o pedido deverá estar assinado pelo requerente e vir acompanhado
do documento de habilitação devidamente assinado pela entidade que figura como
titular do pedido de IPV, conferindo ao requerente legitimidade para a prática do ato.

O pedido de IPV contém 13 casas (obrigatórias e facultativas) que devem ser


preenchidas pelo requerente e onde, para além do seu nome e endereço, este deve:

1. Indicar em que nomenclatura deve ser classificada a mercadoria:

Sistema Harmonizado (SH), Nomenclatura Combinada (NC), TARIC, Nomenclatura


das Restituições, Outra (especificar);

2. Apresentar uma descrição pormenorizada das mercadorias, incluindo a sua


composição. Esta descrição deve:

13
O representante indireto age em nome próprio mas por conta de outrem, nos termos do disposto no n.º 2
do artigo. 5.º do Regulamento (CEE) n.º 2913/92 do Conselho de 12 de Outubro que estabelece o Código
Aduaneiro Comunitário e do artigo. 433.º da Reforma Aduaneira, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 46 311
de 27/04/65, com as alterações decorrentes dos diplomas legais subsequentes.

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• Ser suficientemente pormenorizada para permitir o reconhecimento indubitável das


mercadorias;

• Incluir dados para além das citações dos descritivos das nomenclaturas aduaneiras que
conduzam à correta classificação;

Para ser completa e pertinente, é desejável que a descrição das mercadorias constante do
pedido de IPV seja estruturada de acordo com os seguintes critérios:

• Denominação das mercadorias correspondendo à realidade comercial

(As mercadorias são importadas como produtos de que tipo? / por exemplo: a granel);

• Descrição física das mercadorias correspondendo às características especiais do


produto (Como identificar as mercadorias?);

• Função (O que faz o produto?) ou utilização (Para que é feito o produto?) das
mercadorias correspondendo ao seu objetivo final (exemplos: preparações utilizadas
como aditivo alimentar, ventilador para um radiador de um veículo automóvel,
equipamento de irrigação agrícola, espuma de banho num molde de plástico utilizado
como brinquedo);

• Composição das mercadorias (por exemplo: combinação de alta fidelidade composta


por um sintetizador, amplificador, leitor de CD, leitor de cassetes e gravador;
preparação alimentar à base de carne de suíno, especiarias e água) (Quais são as
componentes do produto?); e,

• Características das componentes das mercadorias (embalagem, dimensões, cor, etc., se


for caso disso).

3. Fornecer amostras, fotografias, planos, catálogos, etc. que possam ajudar na


classificação;

4. Indicar a classificação prevista;

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5. Aceitar fornecer uma tradução da documentação eventualmente junta que esteja


redigida numa língua diferente do Português;

6. Indicar se há elementos que devem ser tratados como confidenciais (por exemplo:
composição da mercadoria, marca comercial, brochuras, fotografias, outros);

7. Indicar que aceita que as informações prestadas sejam armazenadas na base de dados
EBTI e que as informações não confidenciais possam ser divulgadas pela Internet, no
sítio http://pauta.dgaiec.minfinancaspt/ipvs

8. O requerente deve declarar se é titular de IPV emitidas para o mesmo produto ou para
produtos semelhantes ou se delas tem conhecimento.

No caso das empresas multinacionais, em particular, é de esperar que tenham


conhecimento das IPV emitidas a empresas coligadas.

Após a receção do pedido de IPV é comunicado ao requerente a sua introdução na Base


de Dados Comunitária das IPV e o número que lhe foi atribuído, através do qual poderá
em futuros contactos com a DGAIEC, saber a situação em que o pedido se encontra.

A DGAIEC reserva ainda a possibilidade de solicitar ao requerente o fornecimento de


elementos essenciais para a emissão da IPV ou o envio de uma amostra das mercadorias
para análise laboratorial.

Se as autoridades aduaneiras não dispuserem de dados suficientes para dar seguimento


ao pedido de IPV, devem contactar o requerente, por escrito (ofício, fax, e-mail), para
obter as informações em falta. O requerente deverá prestar as informações
suplementares necessárias no prazo de 10 dias (contados nos termos do artigo 279.º do
Código Civil) de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 57.º da Lei Geral Tributária
(Decreto-Lei n.º 398/98, de 17 de Dezembro).

Quando o requerente não puder ou não quiser apresentar as informações necessárias, ou


não desejar pagar o montante cobrado para efetivação das respetivas análises, não se
pode dar seguimento ao pedido e a IPV não é emitida.

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Sendo este procedimento da iniciativa do operador será arquivado se ficar parado mais
de 90 dias por motivo a este imputável. A administração deve, até 15 dias antes do
termo do prazo comunicar ao operador a sua intenção de arquivamento.

Por vezes, o requerente pode não ter conhecimento das especificações exigidas - como o
teor de gordura, o teor de carne, etc. – mas, não obstante, continua a ser da sua
responsabilidade obter e fornecer essas informações.

Nalguns casos, as informações só podem ser obtidas através de análises efetuadas por
um laboratório particular ou aduaneiro.

A autoridade aduaneira a quem é apresentado o pedido não é obrigada a efetuar essas


análises em nome do requerente, embora possa decidir fazê-lo. Nesse caso, o requerente
terá de suportar as despesas das análises efetuadas de acordo com as disposições
jurídicas que regem a IPV, de cujo montante será informado.

Quando o pedido contém todos os elementos necessários que permitem à Administração


classificar a mercadoria, o prazo para a emissão da IPV começa a contar-se a partir da
data da inserção do pedido na base de dados EBTI.

Quando o pedido não apresenta todos os elementos necessários para a classificação da


mercadoria, o prazo para a emissão da IPV começa a contar a partir do dia em que a
administração dispõe de todos os elementos necessários à classificação, sendo o
requerente informado em conformidade.

Recomenda-se que sejam fornecidas imagens com o pedido de IPV, diminuindo deste
modo o risco de emissão inadvertida de IPV divergentes.

No entanto, juntar uma imagem a um pedido de IPV não significa que a imagem não
tenha de ser junta à própria IPV, embora possa permanecer confidencial.

Por norma, prevê-se que os requerentes /titulares apresentem um pedido de IPV no


Estado-Membro em que estão estabelecidos. Por vezes, as empresas (multinacionais)
podem optar por centralizar as suas transações de importação/exportação num único

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local que pode estar situado num Estado-Membro diferente daquele em que estão
estabelecidas.

Porém, o mesmo operador não pode solicitar uma IPV a vários Estados-Membros e para
as mesmas mercadorias, a fim de obter classificações potencialmente diferentes e
beneficiar eventualmente de forma indevida do tratamento mais favorável.

Importa salientar que o pedido não pode ser retirado, mesmo quando estiver incompleto.
No entanto, a IPV não tem necessariamente de ser emitida.

5.6.7.3. EMISSÃO DE UMA IPV

Prazos de emissão

Presentemente, a legislação não prevê prazos precisos para a emissão de IPV. Em


conformidade com o disposto no artigo 7.º das DACAC, a IPV será emitida por escrito
no mais curto prazo.

Caso não seja possível emitir uma IPV no prazo de três meses, o requerente deve ser
informado sobre os motivos do atraso e deve ser-lhe comunicada a data prevista para a
sua emissão pela autoridade aduaneira.

No caso de serem necessárias análises de laboratório para apoiar o pedido, este só pode
ser considerado completo quando se conhecerem os resultados e o prazo para a emissão
da IPV só começa a correr a partir desse momento.

No entanto, a situação é diferente quando são necessárias análises de laboratório para


confirmar as informações prestadas, uma vez que neste caso o pedido já está completo.

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Elaboração de uma IPV

A IPV é uma decisão adotada pelas autoridades competentes de um Estado-Membro e


vinculativa para as autoridades aduaneiras de todos os outros Estados-Membros em
relação ao titular e à mercadoria descrita.

5.6.7.4. ANULAÇÃO DE UMA IPV (EX TUNC)

Uma IPV pode ser anulada nos termos do artigo 8.º e do n.º 4 do artigo 12.º do CAC, se
basear em informações incorretas/incompletas prestadas pelo requerente, por exemplo,
uma descrição de mercadorias incorreta/incompleta.

A anulação produz efeitos a partir da data em que é tomada a decisão de anulação.

Além disso, se a IPV emitida é contrária à legislação comunitária em vigor, é nula e não
é concedido nenhum “período de graça”.

5.6.7.5. INVALIDAÇÃO DE UMA IPV (EX NUNC)

A IPV perde a validade:

• Pela aprovação de um Regulamento ou de outra fonte de direito derivado.

• Quando deixar de ser compatível com a interpretação de uma das nomenclaturas


aduaneiras, designadamente, após alterações introduzidas nas notas explicativas da NC,
na sequência de um acórdão do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias ou, a
nível internacional, um parecer sobre a classificação no SH ou alterações às notas
explicativas do SH.

• Quando é revogada ou alterada em conformidade com o artigo 9.º das DACAC.

• A revogação pode ser necessária:

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- Após uma decisão da Comissão que imponha a um dado Estado-Membro revogar


determinadas IPV;

- Após uma declaração do Comité do Código Aduaneiro ou após discussões bilaterais


entre os Estados-Membros que conduzam a um acordo sobre a classificação;

- Após uma revisão administrativa; no caso de um erro administrativo.

• A alteração: Se for necessária uma alteração, deve ser fixado o termo do prazo de
validade e emitida uma nova IPV.

O titular deve ser informado da decisão por escrito (por carta ou mensagem eletrónica).

Pode ser concedido um período de graça em conformidade com o n.º 6 do artigo 12.º do
CAC e com o artigo 14.º das DACAC.

5.6.7.6. “PERÍODO DE GRAÇA” (PRAZO DE PRORROGAÇÃO DA


UTILIZAÇÃO)

Se uma IPV for revogada ou perder a validade, a autoridade aduaneira deve informar o
titular de que pode continuar a utilizá-la durante um dado período, em conformidade
com o n.º 6 do artigo 12.º do CAC, desde que tenha concluído contratos vinculativos
para a compra ou venda de mercadorias com base na IPV em causa (artigo 14.º das
DACAC).

Em Portugal, a Divisão de Nomenclatura e Gestão Pautal é o Serviço competente para a


concessão da prorrogação dos prazos das IPV.

Estas prorrogações devem ser solicitadas à Direção de Serviços de Tributação


Aduaneira, anexando os contratos firmados anteriormente à aprovação da medida em
questão, onde deverão constar as quantidades a importar bem como, as Alfândegas onde
serão desalfandegadas essas mercadorias.

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Legislação

 Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio, 1947 (GATT 47);

 Atos relativos à adesão do Reino de Espanha e da República Portuguesa às


Comunidades, Jornal Oficial da União Europeia, C 83, 30 de Março de 2010;

 Código Aduaneiro Comunitário (CAC), aprovado pelo Regulamento (CEE) n.º


2913/92 do Conselho de 12 de Outubro;

 Disposições de Aplicação do código Aduaneiro Comunitário (DACAC),


aprovadas pelo Regulamento (CEE) n.º 2454/93 da Comissão de 2 de julho de
1993;

 Regulamento (CEE) n.º 2658/87 do Conselho, de 23 de julho de 1987, relativo à


nomenclatura pautal e estatística e à pauta aduaneira comum;

 Regulamento (CEE) n.º 1715/90 do Conselho, de 20 de junho de 1990, relativo


às informações prestadas pelas autoridades aduaneiras dos Estados-membros em
matéria de classificação das mercadorias na nomenclatura aduaneira;

 Regulamento (CEE) n.º 3796/90 da Comissão, de 21 de dezembro de 1990, que


estabelece as normas de execução do Regulamento (CEE) n.º 1715/90;

 Regulamento (CEE) n.º 2674/92 da Comissão, de 15 de setembro de 1992, que


completa as disposições de aplicação do Regulamento (CEE) n.º 1715/90;

 Regulamento (CE) n.º 254/2000 do Conselho, de 31 de janeiro de 2000, que


altera o Regulamento (CEE) n.º 2658/87;

 Regulamento (CE) n.º 1832/2002 do Conselho, de 1 de Agosto de 2002, que


altera o anexo I do Regulamento (CEE) n.º 2658/87;

 Tratado da União Europeia e Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia


(versões consolidadas), Jornal Oficial da União Europeia, C83 de 30 de março
de 2010;

 Tratado que institui a Comunidade Económica Europeia (TCE).

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Site:

 www.e-financas.gov.pt

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