Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1086-1101https://www.scirp.org/
journal/jep
ISSN On-line: 2152-2219
Impressão ISSN: 2152-2197
Palavras-chave
1. Introdução
A Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) tem contribuído progressivamente
para melhor abordar os impactos ambientais que provavelmente serão
causados por projetos de desenvolvimento, como resultado da
consolidação de sistemas de AIA em todo o mundo, do desenvolvimento
de teorias e de abordagens novas/inovadoras.[1] [2] [3].
No que diz respeito à avaliação dos impactos sociais e à sua integração
na tomada de decisões,[4] [5] [6]e[7]alertam para o descompasso entre o
potencial teórico e o que realmente é alcançado pela prática da Avaliação
de Impacto Social (AIS), principalmente pela falta de regulamentação legal
e pela ausência de diretrizes metodológicas consolidadas. De acordo
com[8](p. 34), o conceito atual de AIS pode ser apresentado como “o
processo de análise, monitorização e gestão das consequências sociais
das intervenções planeadas e, por extensão lógica, das dimensões sociais
do desenvolvimento em geral”.
De acordo com[5], a AIS seria uma espécie de “órfão” entre outros
instrumentos de avaliação de impacto, estreitando assim o seu âmbito e
também os objetivos inicialmente estabelecidos para o instrumento.
Basicamente, os impactos sociais foram descritos em termos de
indicadores demográficos e socioeconómicos, sem qualquer efeito
substancial na tomada de decisões. Portanto, as avaliações de impacto
limitaram o acesso a todo o potencial da AIS “para identificar e esclarecer
a(s) causa(s) dos conflitos ambientais e de recursos naturais” e para
“possivelmente permitir alguma prevenção ou mitigação precoce”[9](pág.
293).
Assim, a AIA não beneficiou da capacidade da AIS de antecipar os
efeitos negativos e os conflitos subsequentes que possam surgir entre
diferentes grupos de interesses. Historicamente, as decisões de AIA têm
sido sujeitas a contestações públicas/judiciais e a decisões judiciais que –
no final das contas – podem obstruir o desenvolvimento de novos
projectos, mas, por outro lado, contribuem para melhorias significativas em
todo o processo de AIA.[10] [11] [12].
Assim, o presente artigo analisa a prática da AIA no Brasil a fim de
verificar a relevância que os impactos sociais, culturais e econômicos têm
sido dados na tomada de decisões, considerando a aceitabilidade dos
projetos de desenvolvimento.
2. Antecedentes
Tendo como pano de fundo a aplicação de instrumentos de avaliação de
impacto, onde é habitual colocar em lados antagónicos o crescimento
económico e a qualidade ambiental, o processo de tomada de decisão
caracteriza-se pela emergência de um conflito e em que os aspectos
conceptuais da decisão a tomar tomadas (que definem o “ótimo”) são
muitas vezes ofuscadas pelas pragmáticas (onde prevalece o que é
“possível”).
Nesse sentido, é lembrado por[13]que é “manifestamente ilusório, ou
pior, esperar que os instrumentos de AI produzam transformações radicais
quando o seu enquadramento das questões políticas é fortemente
restringido por factores institucionais”. No entanto, “talvez os teóricos
também precisem de reflectir mais criticamente sobre os pressupostos
subjacentes à AI, pois pode ser que as simplificações teóricas estejam a
produzir resultados irrealistas”.
Fonte:[18].
1) Alcançar uma compreensão ampla dos contextos locais e regionais a serem afetados
a—Identificar e descrever as partes interessadas e afetadas e outras partes
b—Desenvolver informações básicas das comunidades locais e regionais
2) Concentre-se nos elementos-chave do ambiente humano
a—Identificar os principais aspectos sociais e culturais relacionados à ação ou política a partir dos perfis da
comunidade e das partes interessadas b—Selecionar variáveis sociais e culturais que medem e explicam as
questões identificadas
5) Garantir que qualquer assunto relacionado à justiça ambiental seja totalmente descrito e analisado
a—Garantir que os métodos de pesquisa, dados e análises considerem a população e os atores vulneráveis
sub-representados
b—Considerar a distribuição de todos os impactos (sejam eles sociais, económicos, qualidade do ar, ruído ou efeitos
potenciais para a saúde) em diferentes grupos sociais, incluindo grupos étnicos, raciais e migratórios
6) Realizar avaliação/monitoramento e mitigação
a—Estabelecer mecanismos de avaliação e monitoramento de intervenções, políticas ou programas
b—Quando a mitigação do impacto for necessária, fornecer planejamento e mecanismo para garantir a
eficiência da mitigação. c—Identificação de lacunas nos dados e planejamento para o cumprimento dos
dados necessários
Tabela 3.Princípios para a prática de AIS, de acordo com os Princípios Internacionais para Avaliação de Impacto Social
2003 ([21]).
3) As intervenções planeadas podem ser alteradas para diminuir os impactos negativos e destacar os positivos. 4)
A AIS deve ser parte integrante do processo de planejamento do desenvolvimento, em todas as etapas, desde o
início até os públicos finais.
5) Deve haver um foco no desenvolvimento social sustentável, com a AIS ajudando na determinação das melhores
opções de desenvolvimento – a AIS (e a AIA) têm mais a oferecer do que apenas decidir entre benefícios económicos
e custos sociais.
6) Em todas as intervenções e avaliações devem ser desenvolvidos caminhos para a construção do capital
social e humano das comunidades locais e fortalecimento dos processos democráticos.
7) Todas as intervenções e avaliações, especialmente aquelas onde existem impactos inevitáveis, devem ser
investigadas de forma a transformar as pessoas afectadas em beneficiários.
8) A AIS deve considerar adequadamente as alternativas de qualquer intervenção, principalmente onde existem
impactos inevitáveis.
9) Todas as considerações devem ser feitas para as potenciais medidas de mitigação dos impactos ambientais e
sociais, mesmo quando as comunidades impactadas aprovem a intervenção e onde possam ser beneficiárias.
10) Em qualquer avaliação deve-se incorporar o conhecimento e a experiência local, bem como o reconhecimento
dos diferentes valores culturais locais.
11) Não deve ser utilizado o uso de violência, perseguição, intimidação ou forças injustas relacionadas com a
avaliação ou implementação de intervenção.
12) Não devem ser aceites processos de desenvolvimento que violem os direitos humanos de
rede rodoviária✓ ✓ ✓
arqueológico
patrimônio✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ Comunicações ✓ ✓
contaminado
áreas; perigos✓ ✓ ✓ ✓
cultural
patrimônio✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ Demografia ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
distritos
características✓
econômico
Atividades✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
Educação e
cultura✓ ✓ ✓ ✓ ✓
educacional
sistema✓ ✓ ✓ ✓ ✓ emprego ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
ambiental
qualidade✓
ambiental
estrutura✓
propriedade da terra
conflitos✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
uso da terra e
Contínuo
condições de vida ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
comunidades locais
organização✓ ✓ ✓ ✓
gerenciamento e
regional
desenvolvimento✓ ✓
reassentamentos ✓ ✓ ✓ ✓
acidentes rodoviários ✓
estrada
a infraestrutura✓ ✓ ✓
social
organização✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
social
responsabilidade✓ ✓
estratégico
políticas de territorial
desenvolvi ✓
mento
organização✓
turismo ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
tradicional
comunidades✓ ✓ ✓
transporte
a infraestrutura✓ ✓ ✓ ✓ ✓
estrutura urbana
e serviços✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ zoneamento ✓ ✓ ✓ ✓
Tabela 5.Princípios e diretrizes para a prática de AIS em sete estudos realizados no Brasil.
EUA 2003
Princípios INTERN 2003/SIA
5 ± − − − + + ± 6 + + + ± + − Ø 7 − ± ± − ± + − 8 + + ± ± + ± + + − + + ± 6a − − ± − ± ± Ø 6b − ± ± ± − ± − 6c + ± − −
+ ± 9 + ± − − − − − 1a ± + ± ± + + ± 1b − ± + ± + ± ± 2a ± − − − 1 − ± − − + + − 2 n/a n/a n/a n/a n/a n/a n/a
±±−+±− 3±−−−+++4−±±±++−5−−−−−−−6±−−−±
2b − − ± − ± ± − 3a − − Ø ± ± − Ø 3b − ± − − ± ± − 3c − ± − − 7 ± ± − − − ± − 8 − − − − + + − 9 − ± ± ± − ± − 10 − ±
− − + − ± 3d ± ± ± − + + Ø 4a − ± − ± + ± + 4b − − Ø ± ± ± − ± − − 11 − ± ± + + ± + 12 − − − + + + +
Ø ± 4c ± Ø + Ø ± + ± 4d − ± ± − − − − 5a − ± ± − + ± − 5b
+: ok; Ø: não informado; −: não está bem; n/a: não aplicado; ±: parcialmente.
4. Conclusões
Os resultados apontam para uma deficiência importante nas avaliações de
impacto relacionada com a fraca ligação entre os estudos de diagnóstico e
a avaliação dos impactos. Essa deficiência fica ainda mais evidente
quando se constata que a realização da análise de impactos ao meio
ambiente humano no Brasil não é realizada de forma estruturada, o que
implica em avaliações dispersas e superficiais, baseadas
associada a variáveis socioeconômicas e demográficas. Portanto, é uma
questão significativa - por um lado, a baixa capacidade dos profissionais
responsáveis pela elaboração de estudos de impacto ambiental para
identificar e incorporar a real dimensão dos aspectos sociais e culturais e,
institucionalmente, a baixa capacidade, ao longo das etapas subsequentes
da Avaliação de Impacto Ambiental, para identificar fragilidades dos
estudos sociais e exigir estudos mais consistentes.
Consequentemente, os impactos sociais dos projetos de
desenvolvimento têm sido avaliados de forma parcial e insatisfatória –
contribuindo para o surgimento de conflitos e processos judiciais em torno
da aprovação de projetos.
A situação brasileira é preocupante – EIA com baixa capacidade de
atuação além dos limites dos projetos, com dificuldade para inclusão de
impactos sociais. A prática neste campo, como visto neste artigo, é
fortemente limitada e restrita a análises superficiais.
A trajetória da AIS no Brasil segue o procedimento descrito por[24]e
outros – inclusão no arcabouço formal da AIA, ausência de elementos
efetivos para regulamentação dos aspectos metodológicos e aplicados,
consolidação de uma visão instrumental do instrumento (baseada em
aspectos descritivos e dados demográficos e socioeconômicos) e não
conformidade com conceitos e princípios internacionais/pesquisa
acadêmica.
Ficou evidenciada a necessidade de melhorias na integração da
dimensão social na Avaliação de Impacte Ambiental destinada aos
projectos. O reforço da AIS como elemento de apoio à decisão, apoiado
por princípios e directrizes adequados, pode garantir a sua implementação
e eficácia adequadas.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse em relação à
publicação deste artigo.
Referências
[1] Wood, C. (1995) Avaliação de Impacto Ambiental: Uma Revisão Comparativa.
Homem comprido, Harlow.
[2] Barker, A. e Wood, C. (1999) Uma avaliação do desempenho do sistema de AIA
em oito países da UE. Revisão da Avaliação de Impacto Ambiental, 19,
387-404.https://doi.org/10.1016/S0195-9255(99)00015-3
[3] Morgan, R.K. (2012) Avaliação de Impacto Ambiental: O Estado da Arte.
Avaliação de impacto e avaliação de projetos, 30, 5-14.
https://doi.org/10.1080/14615517.2012.661557
[4] Becker, HA. (1997) Avaliação de Impacto Social. UCL Press, Londres.
[5] Burdge, RJ. (2002) Por que a Avaliação de Impacto Social é órfã do Processo
de Avaliação? Avaliação de Impacto e Avaliação de Projetos, 20, 3-9.
https://doi.org/10.3152/147154602781766799
[6] Vanclay, F. (2003) Avanços conceituais e metodológicos na avaliação do
impacto social. In: Becker, HA. e Vanclay, F., Eds., Manual Internacional sobre
Avaliação de Impacto Social: Avanços Conceituais e Metodológicos, Edward
Elgar Publishing, Cheltenham.
[7] Barrow, CJ (2004) Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. 2ª
Edição, Routledge, Abingdon.
[8] Esteves, AM, Franks, D. e Vanclay, F. (2012) Avaliação de Impacto Social: O
Estado da Arte. Avaliação de Impacto e Avaliação de Projetos, 30,
34-42.https://doi.org/10.1080/14615517.2012.660356
[9] Barrow, CJ (2010) Como o conflito ambiental é abordado pela SIA? Revisão da
Avaliação de Impacto Ambiental, 30, 293-201.
https://doi.org/10.1016/j.eiar.2010.04.001
[10] Richardson, T. (2005) Avaliação Ambiental e Teoria do Planejamento: Quatro
Histórias Curtas sobre Poder, Racionalidade Múltipla e Ética. Avaliação de Impacto
Ambiental, 25, 341-365.https://doi.org/10.1016/j.eiar.2004.09.006
[11] Doelle, M. e Sinclair, AJ. (2006) Chegou a hora de uma nova abordagem à
participação pública na AA: promovendo a cooperação e o consenso para a
sustentabilidade. Revisão da Avaliação de Impacto Ambiental, 26, 185-205.
https://doi.org/10.1016/j.eiar.2005.07.013
[12] Hanna, P., Vanclay, F., Langdon, E.J. e Arts, J. (2014) Melhorando a Eficácia da
Avaliação de Impacto Pertencente aos Povos Indígenas no Procedimento de
Licenciamento Ambiental Brasileiro. Revisão da Avaliação de Impacto
Ambiental, 46, 58-67.https://doi.org/10.1016/j.eiar.2014.01.005
[13] Cashmore, M., Bond, A. e Sadler, B. (2009) Introdução: A Eficácia dos
Instrumentos de Avaliação de Impacto. Avaliação de Impacto e Avaliação de
Projetos, 27, 91-93.https://doi.org/10.3152/146155109X454285
[14] Therivel, R., Christian, G., Craig, C., Grinham, R., Mackins, D., Smith, S.,
Sneller, T., Turner, R., Walker, D. e Yamane, M. (2009) Avaliação de Impacto
Focada na Sustentabilidade: Experiências Inglesas. Avaliação de Impacto e
Avaliação de Projetos, 27,
155-168.https://doi.org/10.3152/146155109X438733
[15] Vanclay, F. (2002) Conceituando Impactos Sociais. Revisão de Avaliação de
Impacto Ambiental, 22, 183-211.https://doi.org/10.1016/S0195-9255(01)00105-6
[16] Carpinteiro, RA. (1999) Mantenha o foco na AIA. Revisão da Avaliação de
Impacto Ambiental, 19, 111-112.https://doi.org/10.1016/S0195-9255(98)00044-4
[17] Vanclay, F. (2003) Princípios Internacionais para Avaliação de Impacto Social.
Avaliação de Impacto e Avaliação de Projetos, 21, 5-11.
https://doi.org/10.3152/147154603781766491
[18] Comitê Interorganizacional de Diretrizes e Princípios para Avaliação de
Impacto Social (1995) Diretrizes e Princípios para Avaliação de Impacto
Social. Revisão da Avaliação de Impacto Ambiental, 15, 11-43.
https://doi.org/10.1016/0195-9255(94)00026-W
[19] Vanclay, F. (2006) Princípios para Avaliação de Impacto Social: Uma
Comparação Crítica entre os Documentos Internacionais e dos EUA. Revisão
da Avaliação de Impacto Ambiental, 26,
3-14.https://doi.org/10.1016/j.eiar.2005.05.002