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Atração Irresistível - Yvis Writer
Atração Irresistível - Yvis Writer
Acordo de sobressalto.
– Vamos, Jack! Vai tomar um banho, vou te levar comigo no
escritório, assim você já conversa com o meu chefe.
Arregalo meus olhos.
– Não! Eu não posso ir a uma entrevista de emprego vestida
assim! – falo apavorada, levanto e vejo que estou só de camiseta. –
Quem colocou isso em mim?
– Eu, sua bebum! – ela diz apressada, vestindo uma calça social,
camisa e blazer.
– Hum, você está tão bonita! – falo para descontrair.
– Eu empresto uma roupa para você, deve servir. Não temos um
corpo tão diferente, só esses peitos e o traseiro, mas vou escolher
algo mais larguinho. – Ela sai em disparada para seu guarda-roupa.
– Vai, Jack, não posso me atrasar! – A ouço berrar.
Finalizo meu banho, enrolo uma toalha no corpo e sigo para o
quarto da Carol.
– Jack, eu tenho essas opções. Veja o que você acha que fica
melhor em você – ela diz me olhando. – Vou preparar um café, acho
que você ainda está bêbada! – Ela revira os olhos.
Olho desanimada para as roupas, uma calça com blazer,
camisas e blusas.
Balanço minha cabeça negativamente, duvido que algo irá me
servir.
Sorrio ao ver uma embalagem de calcinha nova, a Carol é tão
carinhosa.
Coloco a calcinha, pego um top que ela deixou, óbvio que ficou
pequeno, mas vai ter que servir, caso contrário terei que ir com os
peitos soltos, e isso não é uma boa ideia.
– Ok, vamos começar com este vestido.
A vejo entrando no quarto, ela torce o nariz.
– Tá meio indecente, Jack! – Ela balança a cabeça vendo meus
peitos saltando pelo decote.
Tiro ele e jogo sobre a cama.
– Talvez a camisa, ela é larguinha, ganhei de aniversário da
minha mãe, ela nunca acerta a numeração! – Ela me olha de lado.
Coloco a camisa, abotoo, até que serviu, mas os últimos botões
ficaram tipo, estourando!
Me olho no espelho desanimada.
– Ficou bom, Jack. Coloque a calça – ela diz apressada.
Enfio a calça, a fecho e viro de costas para me olhar no espelho,
reviro meus olhos.
– Minha bunda não cabe nessa calça! – falo irritada.
– Cabe sim, só ficou um pouco justa, mas ficou muito legal! – Ela
faz uma cara de malícia. – Você tem um corpão, Jack, só você não
gosta dele. – Ela sorri maliciosa.
Fecho os olhos e respiro, coloco o blazer e o meu sapato alto.
– Tá bom? – Olho para ela insegura.
– Hum, parece uma advogada! – ela diz sorrindo. – Bem
gostosona, é claro!
Bufo de raiva, sentindo-me muito chamativa, mas é isso ou nada.
– Tem certeza que seu chefe poderá me atender hoje, não
podemos fazer isso outro dia?
– Jack, eu pedi pelo amor de Deus para ele entrevistar você!
Nem sei se já escolheram alguém, mas ele gosta muito de mim, e
por isso abriu uma exceção.
– Ele quer te comer, é isso?! – falo com desdém.
– Não, ele sabe que sou lésbica. Ele me ama porque sou foda,
não perco um processo, sou a melhor do escritório, amiga! – ela diz
orgulhosa, se rebolando toda.
Sorrio, porque eu amo essa garota, e torço muito por ela! Sua
vida não foi fácil, ela teve muitos problemas familiares, um dia
desses eu conto para vocês.
– Então, vamos, antes que eu desista, ou essa calça parta ao
meio! – Ela dá um tapa no meu bumbum e sai correndo.
– Te mato, Carol! – Grito irada.
Capítulo 4
JACKELINE BARTOLLI
Durante o caminho até o escritório onde a Carol trabalha, ela
me fala um pouco sobre seu chefe.
– Então o cargo é só temporário?! – pergunto com desânimo.
– Hello, Jack!!! – Ela estala os dedos. – A mulher ficará seis
meses de licença, dá tempo de você se encaixar muito bem em
outro departamento, é só mostrar serviço. – Ela me olha enfezada.
– Eu sei, mas duvido que eles já não tenham alguém em vista,
vai ser só perda de tempo.
– Pessimista, como só você sabe ser! – Ela revira os olhos.
– Ok, mas o que eu vou dizer para ele? Nunca fui secretária!
Estou em pânico, Carolina! – falo brava.
– Amiga, o trabalho é moleza. A secretária dele passava o dia
todo lixando as unhas, ela não fazia nada! – ela fala com desdém. –
É mais para controlar a agenda do Doutor Rui, comprar passagens
aéreas, xerocar documentos, é moleza.
Ela pisca para mim.
– Certo! – A olho sem credibilidade. A Carolina é muito
inteligente, tudo é moleza para ela, agora eu, me acho uma tapada.
Ela entra no estacionamento de uma casa, na verdade um
pequeno prédio de dois andares, mas é uma construção moderna e
imponente.
– É aqui, Jack. Se comporta, tá?! – Ela me olha. – E segura sua
língua, você fala muitas besteiras. – Ela sorri.
– Vai se foder! – falo meio cantado.
Desço insegura, olho para o prédio todo cheio de vidros e uma
placa gigante na frente com o nome do escritório.
A sigo em direção à entrada. Uma garota muito bonita, loira,
cabelos escorridos e olhos claros, está sentada elegantemente
numa recepção sofisticada.
– Bom dia, Doutora Carol! – ela diz com um sorriso encantador.
– Bom dia, Karen! Essa aqui é uma amiga, Jackeline, ela tem um
horário com o Doutor Rui. Ele já chegou?
Ela me olha longamente.
– Ainda não. Quer que eu a leve até a recepção do doutor? – Ela
se levanta mostrando um belo par de pernas, esguias e longas, do
jeito que gostaria que fossem as minhas.
– Acho melhor, estou meio atrasada. – A Carol olha em seu
relógio de pulso, e em seguida para mim. – Jack, vá com a Karen,
depois dou um pulinho para falar com você, tenho uma reunião
agora, e estou atrasada – ela cochicha. – Por sua culpa!
Sorrio.
– Obrigada, amiga! – Mando um beijo com os lábios e a vejo
saindo apressada pelas escadas longas e sinuosas que dão no
andar superior. – Então...? – Olho para a loirinha, que está me
olhando indiscretamente.
Será que ela acha que sou a namoradinha da Carol?
Ela sorri sem jeito.
– Vamos? – Ela sai andando em minha frente parecendo uma
modelo.
Como gostaria de ter um corpo como este! – Suspiro e me
lembro do babaca do Renato, e a raiva volta.
– Pode se sentar aqui, o doutor já deve estar chegando.
– Obrigada! – Me sento em uma das poltronas espalhadas em
uma pequena recepção.
Os minutos passam sem que o chefe da Carol chegue.
Olho pela décima vez no relógio. Estou plantada nesta recepção
há uma hora, e nada desse doutorzinho chegar. Que descaso, poxa!
De repente, um furacão passa por mim, sinto o vento se
movimentar, assim como um cheiro inebriante no ar.
Mal tive tempo de ver o doutorzinho, ele entrou e fechou a porta,
e nem me falou um bom dia!
– Oh, ele deve ser um daqueles advogados insuportáveis!
O seu perfume continua inebriando a recepção, é um misto de
fragrâncias amadeiradas com cítricas e levemente doce. Tento me
lembrar de onde conheço esse perfume, mas então a voz tipo um
trovão chama pelo meu nome.
– Jackeline Bartolli!
Sinto aquele friozinho no estômago, um medo, não aguento mais
fazer entrevistas em minha vida.
Me levanto, ajeito a calça, o terninho, e caminho a passos
inseguros até a sala cuja porta ficou semiaberta.
Empurro a porta vagarosamente, a sala é enorme. Vejo a
esquerda uma mesa de reuniões, a abro mais um pouco e então
vejo sua mesa ao fundo, ele está de cabeça baixa, anotando ou
assinando coisas energicamente.
– Pode entrar – ele diz ainda de cabeça baixa.
Caminho relutante até sua mesa, olho-o de cabeça baixa.
– Sente-se – ele diz sem ao menos me olhar.
Que cara mais mal-educado! – penso.
Olho para a cadeira e me sento, e então ele levanta a cabeça e
meu coração fica gelado.
É o cara do elevador!
Eu não ando numa maré de muita sorte! Qual a chance de uma
coisa como essa acontecer? 0,00000000001, e aconteceu com a
Jackeline.
Oh, mulherzinha azarada! – penso o olhando atônita.
Ficamos nos olhando durante alguns segundos que parecem
eternos.
Será que ele não me reconheceu? Isso seria um alívio!
– Deu tudo certo ontem? Quero dizer, arrumou um táxi, ou uma
carona? – ele diz sério, nenhuma ponta de sarcasmo ou cinismo.
– Sim, deu tudo certo – respondo no automático, minha garganta
está seca, e meu coração disparado.
Ele abaixa seus olhos, mexe nervosamente nos papéis a sua
frente, e volta a me olhar, e parece que estou nua em sua frente.
Esse homem tem um jeito de olhar que deveria ser proibido.
– Me fale um pouco sobre você, sua experiência profissional.
Me arrumo na poltrona, mexo em minhas mãos.
O que vou dizer, meu Deus? Aliás, o que estou fazendo aqui?
Volto a olhar para ele.
– Talvez eu não seja a pessoa certa para esse cargo, estou aqui
por insistência da minha amiga. – O olho aflita.
– A Carolina? – Ele cruza seus braços em seu peito, e que peito,
ele é todo grande, musculoso e sexy.
Sinto um começo de calor.
– Isso, ela mesma – respondo sem graça.
– Você não quer nem mesmo tentar, já está desistindo?! – Ele se
mexe na cadeira, e cruza seus braços em cima da mesa.
Me sinto acuada, ele me encara tanto, que estou ficando
nervosa.
– Sou formada em Psicologia, trabalhava em consultórios como
terapeuta, nunca trabalhei de secretária.
Ele me olha intensamente.
Ai, que nervoso, se eu pudesse sairia correndo agora mesmo.
– Certo. – Ele balança a cabeça. – Não gostaria de tentar?
Abro a boca, e o vejo olhando para meus lábios, e sinto uma
quentura dentro de mim.
Meu Deus, que calor!
Me ajeito novamente na poltrona.
– Claro que quero. Eu perdi meu emprego, não estou em
situação de me negar a trabalhar. – Falo de cabeça baixa, e então
volto a olhar para ele, o vejo olhando novamente para meus peitos e
como reflexo olho para meu colo, e lá está o motivo, os botões se
abriram.
Fecho os olhos, e me amaldiçoo por estar usando uma camisa
dois números menores do que uso de costume.
Corro meus dedos nervosamente pelos botões, acho que estou
vermelha como sangue.
Vejo-o se levantando, ele segue até a janela e volta.
– Quer fazer uma experiência, Jackeline? – Ele me olha a
distância.
O olho nervosa, abro a boca, fecho, será que ele está falando
sério?!
– Quero, claro que quero! – respondo nervosamente.
– Você pode começar hoje se quiser. Minha secretária irá ganhar
bebê, ela não vem mais. – Ele se senta a minha frente, e bebe a
água que está sobre sua mesa.
– Oh! – O olho confusa. – Tudo bem, mas não terá ninguém para
me explicar o serviço?
– Eu, eu irei te explicar o serviço – ele fala com um sorriso de
canto de boca, apoia seu cotovelo no braço da cadeira e fica me
encarando.
Puxo o ar.
Algo me diz que talvez isso não dê muito certo.
Nunca mais eu tinha sentido tanta atração por um homem, esse
cara é pura tentação.
– Claro, você, isso é óbvio! – falo as palavras atrapalhadamente.
– Ok, então, por onde começo?
Oh, por que ele me olha tanto? Isso me deixa tão nervosa.
Ele se levanta.
– Vou te mostrar sua mesa. – Ele segue em minha frente, fico
admirando o conjunto da obra, e balanço minha cabeça.
– O que acho que estou fazendo secando a bunda do meu
chefe?!
Ele abre a porta da sala e me olha, e levanto-me de sobressalto.
– Vamos, Jackeline!
Meu nome fica tão lindo na sua boca.
Oh, céus, o que está acontecendo comigo? Devo estar no meu
período fértil.
Sigo até ele, ora olhando para baixo, ora olhando para ele.
O alcanço na porta, ele faz uma menção com a mão para eu
passar e sigo na frente, sentindo aquele cheiro maravilhoso que
inebria de seu corpo.
– Você ficará aqui – ele diz muito próximo a mim.
O olho de lado, e sinto uma energia irresistível.
– Tudo bem! – Olho para a mesa, depois para ele. – O que devo
fazer? – Olho para ele com cara de retardada.
Cacete, nem sei o que uma secretária faz!
– Bom, por enquanto, nada. – Ele puxa a cadeira para mim. –
Sente-se. – Ele indica a cadeira, estamos muito próximos, acho que
estou começando a sentir uma espécie de claustrofobia, eu preciso
de espaço, preciso que esse homem saia de cima de mim.
Me sento rapidamente.
Ele se inclina sobre mim, me afasto sentindo aquele perfume
delicioso em minhas narinas.
Vejo-o digitando algo no computador, a tela inicializa, ele volta a
se afastar e me olha.
– Talvez eu precise que você faça algumas ligações, cartas,
essas coisas! – Ele coloca suas mãos ao redor de sua cintura. –
Você vai pegando o jeito aos poucos, fique tranquila. As coisas mais
complicadas eu passo diretamente para os advogados, você será
mais uma assistente...
Não sei se é só impressão minha, mas ele parece meio nervoso.
– Bom, eu preciso resolver algumas coisas, depois te chamo
para vermos algumas pendências. Por enquanto, atenda ao
telefone, anote os recados, e se for algo urgente, você pode me
chamar por este botão aqui. – Ele pressiona uma tecla no telefone,
e ouço o telefone de sua sala tocar.
– Ok! – Balanço minha cabeça.
– Bom, por enquanto é isso. – Ele vira de costas e sai como um
furacão.
Solto o ar que estava preso em meu peito.
Jesus, o que aconteceu aqui?
****
– Oh! – Mais uma vez aquela boca linda se curva de um jeito que
imagino milhares de coisas, pornográficas basicamente. – Tudo
bem, mas não terá ninguém para me explicar o serviço?
– Eu, eu irei te explicar o serviço. – Tento conter o sorriso que se
formou dentro de mim, ela não sabe a burrada que estou fazendo
contratando-a.
– Claro, você, isso é óbvio! – ela fala nervosamente, pelo visto a
deixo nervosa, e isso é bom, adoro saber que provoco coisas nela. –
Ok, então, por onde começo?
Me levanto, penso um pouco, nem sei por onde começar com
ela, mal sei o que a antiga secretária fazia.
Foda-se! Sigo em direção à porta, abro-a e me dou conta que ela
continua sentada.
– Vamos, Jackeline!
Fico admirando-a enquanto ela caminha até mim, ela não é uma
mulher tímida, mas eu a deixo sem graça. Hoje ela está bem-
comportada, mas não menos gostosa, a calça marca bem suas
curvas, ela é o tipo de mulher que dá para derrapar e se arrebentar
todo, tem mais curvas do que a estrada Rio-Santos.
– Você ficará aqui – digo muito próximo a ela, sentindo seu
cheiro gostoso, suave.
Ela não é tipo de mulher que se lambuza de perfume, seu cheiro
é suave, frutado, cheiro de mulher, de fêmea.
O meu pau volta a pulsar dentro da minha boxer, que tesão essa
mulher me provoca, isso é insano.
– Tudo bem! O que devo fazer? – Ela me olha intensamente, mal
eu sei o que dizer para ela, quero dizer, eu poderia ir direto ao
assunto, mas não pegaria bem.
– Bom, por enquanto, nada. Sente-se. – Puxo a cadeira para ela.
Inicializo o seu computador, nem eu sei por onde ela deve
começar, mas enfim, depois a gente vê isso.
– Talvez eu precise que você faça algumas ligações, cartas,
essas coisas. Você vai pegando o jeito aos poucos, fique tranquila,
as coisas mais complicadas eu passo diretamente para os
advogados, você será mais uma assistente...
Caralho, que merda que estou falando, e... fazendo?!
– Bom, eu preciso resolver algumas coisas, depois te chamo
para vermos algumas pendências. Por enquanto, atenda ao
telefone, anote os recados, e se for algo urgente, você pode me
chamar por este botão aqui. – Mostro para ela o botão do telefone,
estou me sentindo um idiota.
– Ok! – Ela balança a cabeça em entendimento.
– Bom, por enquanto é isso. – Me viro e volto para minha sala o
mais rápido possível, preciso resolver o problema que criei, eu não
preciso de duas secretárias.
Sento em minha mesa e disco o telefone do responsável pelo
RH.
– Ferreira, é o Rui! – falo depressa.
– Bom dia, Doutor Rui! Como vai?
Interrompo-o, ele fala demais.
– Eu preciso que você cancele a contratação daquela moça que
escolhi para ser minha secretária...
Ele gagueja.
– Mas Doutor Rui, fizemos tantos testes nas candidatas, e você
disse que aquela era a ideal... – ele diz indignado, e eu sei que ele
tem razão, eu estou ficando louco...
– É, eu sei, mas é que arrumei uma outra candidata, muito
melhor, ela é mais preparada para o que preciso. Enfim, dispensa a
outra, e entra em contato com a Jackeline, é esse o nome dela. Ela
já começou hoje, é só ligar na mesa dela, pedir seus documentos,
informá-la sobre salário, benefícios... Bom, você sabe como é o
trâmite.
– Ok, já que o doutor prefere assim... – ele fala desanimado, mas
eu o entendo.
Fiz o coitado selecionar 30 garotas, e agora escolho uma que ele
nem viu na frente, realmente não sou mais o mesmo.
– Isso, eu prefiro assim. Bom dia, Ferreira... e não esquece de
falar com a Jackeline! – Desligo o telefone, e inspiro.
Eu sei que estou fazendo uma merda do tamanho do mundo, e
mal sei por que estou fazendo isso!
Esfrego meu rosto e olho para o teto.
– Quando a Priscila vir a Jackeline, ela vai ter um treco! – Fecho
os olhos e inspiro.
Capítulo 6
JACKELINE BARTOLLI
Meu celular vibra em minha bolsa, o pego rapidamente e vejo a
foto da Carolina.
– Oi, Carol! – cochicho.
– Desce, Jack. Estou te esperando na recepção, vamos almoçar!
– ela diz rapidamente.
– Preciso pedir para o meu chefe, você não acha? – falo
insegura.
– Avisa, Jack. Aproveita e já verifica como será o seu horário de
almoço, essas coisas... – ela diz sem paciência.
– Tá bom, até daqui a pouco! – Desligo a ligação, e coloco o
celular no bolso.
Céus, como tudo é difícil se tratando desse homem! – penso
agoniada.
Tudo bem, ele é seu chefe, Jackeline! – falo para mim mesma. –
É só bater na porta e dizer que irá almoçar, não parece tão difícil
assim. – continuo falando sozinha, já me disseram que psicólogos
são todos meio loucos, e tenho que concordar.
Me levanto vagarosamente, checo os botões da camisa, arrumo
a calça, o blazer, e sigo para a porta de sua sala.
Dois toques na porta e ouço o vozeirão dele, um arrepio passa
pelo meu corpo. Ele tem uma voz linda! Adoro homens com voz
grossa, principalmente na hora do “rala e rola”.
Empurro a porta vagarosamente e o vejo em sua mesa, ele está
usando óculos de grau, o que o deixa ainda mais sexy, aliás, tudo
fica sexy nesse homem.
– Com licença! – falo com cuidado.
Ele me olha sobre seus cílios.
– Pode entrar, Jackeline. Não precisa de tantas formalidades
quando precisar falar comigo! – ele diz secamente.
– Ah, claro, me desculpe! – falo sem graça.
Entro, fecho a porta e caminho até sua mesa. Ele levanta seu
olhar, encosta-se a sua cadeira e fica me encarando.
Sério, esse homem me deixa nervosa.
– Pode falar! – ele diz finalmente.
– Você precisa de alguma coisa? – pergunto insegura.
Ele parece pensar um pouco e então diz:
– Não, agora não. Talvez mais tarde, gostaria de passar algumas
coisas para você fazer... – Ele tira seus óculos, e volta a me olhar.
– Bom, então, posso almoçar? – falo timidamente. – Vou
rapidamente, daqui a pouco estou de volta.
Me sinto patética.
– Ok. – Ele balança sua cabeça. – Você tem uma hora de
almoço, não precisa correr. – Ele se inclina sobre sua mesa. – Senta
um pouco, Jackeline.
Novamente aquele gelado no estômago.
Me sento rapidamente, checo os botões da camisa, e quando o
olho, ele está com um sorriso torto no rosto.
– A camisa não é minha, está um pouco apertada! – falo em
desatino. Aliás, por que estou dando satisfações a ele?
Ele sorri, um sorriso contido, sem mostrar seu piano lindo e
branquinho.
– Está tudo bem? Alguma dúvida? O Ferreira já conversou com
você? – ele diz rapidamente.
– Ferreira, não. Quero dizer, um homem me ligou do
departamento pessoal, e pediu para eu ir ao RH às 15h – respondo.
– Perfeito! – ele se estica em sua cadeira, mostrando seu belo
tórax e bíceps, através da camisa branca que se ajusta
perfeitamente ao seu corpo. – Estou meio enrolado hoje, me
desculpe se não estou conseguindo te dar atenção.
– Imagine, fique tranquilo – falo embaraçada.
– Gostaria que você passasse o período da tarde comigo, assim
vou explicando para você as coisas, enfim, como funciona o
escritório.
Engulo em seco, é muita tentação passar horas ao lado desse
ser pecaminoso.
– Tudo bem, então... – Me levanto. – Estou saindo agora. –
Tento sorrir, mas fico muito sem graça ao lado dele.
– Bom almoço, Jackeline! – Ele sorri levemente, coloca seus
óculos e volta seus olhos ao que estava fazendo.
Suspiro aliviada e sigo para encontrar com a Carolina.
****
Seguimos a pé até um restaurante próximo ao escritório. Olho
demoradamente a fachada do lugar, é muito chique para o meu
gosto.
– Carol, aqui parece um pouco caro para um horário do almoço.
Por que não vamos a um lugar mais simples? – falo incomodada.
– Jack, hoje eu pago, vamos comemorar seu novo emprego! Se
sinta feliz, e pare de orgulho, sua caipira!!! – ela diz desaforada.
Enrugo minha testa.
– Você é bem grossinha, Carolina! Não quero que você gaste
comigo! – falo chateada.
Ela puxa meu rabo de cavalo, e beija meu rosto.
– Pare de ser boba! Seu namorado não costuma te levar a
restaurantes chiques como este? – ela diz enquanto esperamos o
garçom nos atender.
Reviro meus olhos. Acho que a última vez que ele me levou a
um restaurante foi em seu aniversário, com a companhia de sua
ilustre mãe e irmã, as duas insuportáveis da família.
– Não, Carol, ele não me leva em nenhum lugar. Quero dizer,
temos ido à padaria do seu bairro, mas é uma padaria bem chique!
– falo pensativa.
Ela me olha de soslaio.
– Eu não suportaria esse cara por um dia sequer, muito menos
por quatro anos. Mas já que você não tem amor próprio, siga em
frente. Saiba que você só está perdendo tempo, ele nunca vai
assumir um relacionamento com você. – Ela me olha com firmeza.
– Eu sei, não precisa repetir isso o tempo todo – bufo cansada.
– Continuarei falando, você é tipo criança, só aprende por
osmose! – Ela sorri.
Logo estamos sentadas em uma mesa, pedimos nossos pratos e
conversamos animadamente. Sempre temos muitos assuntos,
apesar da preferência sexual da Carol, adoramos conversar,
inclusive sobre seus casos, eu acho tudo muito engraçado.
– Como é mesmo o nome dela, Carol? – pergunto novamente,
eu sei que ela disse o nome de seu caso mais recente, mas não
prestei atenção.
– Mirela, Jack, Mirela! Você está com Alzheimer?!
Dou risada, acho o jeito da Carolina muito engraçado, ela é meio
cômica em tudo que fala.
– Mas, e aí, a transa é legal?! – pergunto curiosa.
– Legal? É do caralho, Jack, ela é um furacão!!! – Ela gargalha.
Reviro meus olhos, não sei como mulher com mulher pode ser
um furacão, mas enfim...
– Que ótimo! – falo sem muita empolgação.
– E o sexo com o Renatinho, como anda? – ela diz irônica, entre
uma garfada e outra.
– Sinceramente? – A olho de lado. – Sem graça, sem paixão,
sem pegada! – falo com desânimo.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro.
– Se o sexo ainda fosse bom, eu entenderia, mas nem o sexo é
bom, Jack! – ela diz indignada.
– Acho que ele fez macumba pra mim, não sei o que me prende
a ele – falo aflita.
– Eu já disse, você tem medo. Medo de não encontrar mais
ninguém, de ficar sozinha, e de virar motivo de chacota para suas
velhinhas! – ela diz me encarando com seus olhos castanhos
enormes.
– Talvez – respondo, mas antes que possa continuar nossa
conversa, vejo aquele homem lindo entrando no restaurante, e fico
meio abobada.
– O que foi? – Ela vira seu pescoço e olha na direção que estou
olhando. – Oh, nosso chefe, ele é muito gato! Mas não se empolga,
Jack, ele tem dona, e apesar de jovem, essa aí é cobra venenosa.
Então, me dou conta que ele está acompanhado. Ela é alta,
magra, os cabelos claros, mas à custa de muitas luzes, está vestida
com um tailleur impecável, saia e blazer na cor marfim. Ela é muito
elegante, bonita...
– Não estou me empolgando! – falo sem graça, tentando desviar
meus olhos deles, mas não consigo, quero ver o rosto da garota.
– Certo, mas eu te conheço muito bem, Jack, e você está
babando pelo Rui! – Ela sorri, jogo um pedaço de pão em sua cara,
ela desvia e ri. – Eles estão de casamento marcado, e namoram há
pouco mais de um ano, mas eu sei o motivo, o Doutor Rui se
associou ao pai da arrogante. O Doutor Rui não dá ponto sem nó,
ele é muito ambicioso.
Desvio meu olhar do casal, olho para a Carol um pouco
surpresa.
– Sério? Ele é interesseiro, é isso?! – falo feito uma boba
inocente.
– Não, o escritório sempre foi dele, mas ele se associou ao
Doutor Albuquerque para crescermos, e está dando certo. Ele não
está dando o golpe no baú, mas é um homem objetivo, se casar
com a filha do seu sócio parece bem atraente, ajuda nos negócios.
Olho de canto de olho para eles, o clima não parece muito
romântico, ele está sério, enquanto ela fala sem parar.
Reparo um pouco na garota, ela é bem jovem, deve ter por volta
de 25 anos. Ela tem rosto perfeito, nariz pequeno, boca pequena e
olhos azuis, grandes e lindos.
Seu corpo é o meu sonho de consumo, magra, seios pequenos,
quadris pequenos e pernas longas e esguias.
Me sinto uma baleia perto dela.
– Jack, pare de olhar para eles!!! – Desperto de meu desatino
invejoso, me odeio quando fico invejando outras mulheres. Cada
uma tem sua beleza, é assim que minha santa mãe sempre diz.
– Ela é linda, Carol! Você não acha? – As palavras saem da
minha boca sem que eu tenha controle.
– Você é linda, Jackeline! Prefiro sua beleza a dela, ela é sem
graça, parece uma boneca andrógena. Você não, Jack, você é
exótica, misteriosa! – Ela me olha intensamente.
– Ando me sentindo tão feia, Carol! Acho que estou depressiva,
não gosto de nada em mim. – Sinto as lágrimas virem aos meus
olhos.
– Jackeline Bartolli, quer parar com isso? – ela diz furiosa. –
Sabe quem te deixa assim? – Seu namoradinho, aquele gay
enrustido, e sua tia esclerosada. Jack, se der tudo certo neste
emprego, vá morar sozinha, pelo amor de Deus, e largue aquele
traste.
Olho assustada para ela.
– Gay enrustido?!
– Pra mim, seu namorado queima a rosca de vez em quando.
Que homem não se empolgaria com uma mulher como você ao seu
lado? – Ela me olha com carinho. – Você é linda, gostosa,
inteligente, gentil, companheira, atura aquele mosca morta há quatro
anos...
– Carol, eu não sou tudo isso! Sou chata, mal-humorada, tenho
uma TPM filha da puta, não consigo parar em um emprego! – falo
desanimada. – Só você e minha mãe me acham o máximo, não sou
tudo isso!
Ela revira seus olhos.
– Vamos mudar de assunto, odeio quando você fica nesse baixo
astral. – Ela volta a comer, e volto a olhar para o casalzinho.
Eu realmente não tenho interesse nele, apesar de lindo, gostoso
e sexy, eu sei que não temos nada a ver, é só coisa de mulher,
temos a mania de fantasiar coisas. Toda mulher fantasia um
encontro ardente, principalmente quando encontramos um homem
como este.
Sorrio.
Eu só quero o emprego, e quem sabe fazer tudo que a Carolina
me sugeriu. Seria bom dar uma reviravolta em minha vida, mudar os
ares, as pessoas, de repente isso me faria bem.
****
Procurei terminar nosso almoço sem olhar novamente para a
mesa do Doutor Rui, realmente ando insuportavelmente de baixo
astral.
Caminhamos em um silêncio confortável em direção ao
escritório, então quebro o silêncio.
– Carol, não sei que roupa vestir amanhã! – Olho para ela. –
Você sabe, me visto parecendo uma artista plástica. – Torço meus
lábios. – Não tenho roupas para trabalhar num lugar sofisticado
como este.
Ela me olha longamente.
– E se fossemos hoje à noite fazer umas compras? Pelo menos
para você sobreviver até o seu pagamento.
A olho desanimada.
– Carolzinha, eu estou quebrada, não tenho limite nos meus dois
cartões, estou com as faturas atrasadas, e usando o limite da minha
conta corrente. Estou na lama, não posso gastar mais nada!
A que ponto cheguei! Estou falida, completamente falida!
– Jack, aonde vai seu dinheiro? Sua tia, sua avó e sua mãe são
aposentadas, o que acontece que você vive fodida?! – ela diz
exaltada.
– Carol, não sei se você me entende, mas não posso ficar
pedindo dinheiro para minha avó e para minha tia para pagar as
contas. Só minha mãe me ajuda, e ela ganha uma miséria de
aposentadoria.
– Como assim, elas moram no apartamento que seu pai deixou
para você e para sua mãe, e elas não precisam ajudar você em
nada?
– Oh, Carol, isso é tão complicado, elas são idosas!
– Ok, Jack, não posso me meter na vida de vocês, mas para
mim aquela sua tia não tem nada de esclerosada. Ela é muito
esperta, pega a pensão dela e de sua avó e enfia no bolso, e deixa
vocês duas se ferrando. Odeio aquela velha! – ela diz possessa.
– Vou pedir para minha mãe falar com elas, já pedi outras vezes,
mas parece que nunca dá certo. Estou de saco cheio de tudo, Carol!
– falo sem paciência.
Ela coloca a mão em sua testa.
– Eu vou comprar algumas roupas para você, e você me paga
quando puder. Tudo bem assim? – Ela me olha com carinho.
– Não, não está tudo bem! – Fecho a cara. – Vou me virar com o
que tenho, quando receber renovo meu guarda-roupa, não posso
dever para mais ninguém, Carol! – falo chateada. – Estou devendo
uma grana para o Renato, acho que está de bom tamanho!
– Ele não deveria cobrar nada de você, amiga! – Ela me olha
chateada. – Ele está bem pra cacete, é o controller de uma
empresa, você tem ideia quanto ele ganha?!
– Não, não tenho ideia, ele não fala sobre essas coisas comigo,
mas não somos casados, certo? Não faz sentido o cara pagar
minhas contas.
– Eu já paguei as contas de muitas namoradas. Quando eu amo,
eu faço qualquer coisa pela pessoa, é assim que funciona o amor! –
Ela me olha intensamente.
Às vezes acho a Carol meio esquisita, mas melhor não pensar
sobre isso.
– É, cada pessoa ama de um jeito, Carol. O Renato me ama
daquele jeito meio rústico! – Balanço a cabeça.
– Daquele jeito meio ogro, você quer dizer! – Ela ri.
Dou risada.
– Sim, ele é um ogro!!! – Passo minha mão por sua cintura a
abraçando e seguimos em direção ao escritório, do mesmo jeito que
fazíamos desde os nossos sete anos de idade.
Capítulo 7
RUI FIGUEIREDO
Avejo saindo de minha sala, e aproveito para admirar seu belo
traseiro redondo e arrebitado.
Fico a imaginando sem roupa, deve ser uma loucura! E mais
uma ereção fora de hora, estou me sentindo um garoto de 20 anos,
mas que porra!!!
Tento voltar minha atenção para o processo que estou
analisando, ela me tirou o foco, e estou quase chegando à
conclusão que ela como secretária não dará muito certo.
Advogado precisa de atenção, uma secretária feia e silêncio.
Ok, vou terminar de ler isso e irei almoçar. Se pretendo passar a
tarde com minha deusa do espartilho vermelho ao meu lado, preciso
acabar de ler essa porra, ou estarei arruinado.
Mais alguns minutos, o celular toca e o olho de relance. A foto da
Priscila trepida em minha mesa, e minha paciência também.
– O que ela quer agora, porra?! – penso alto.
Atendo em viva voz.
– Oi, Priscila! Qual o problema?
– Oi, amor! Que tom é esse? Parece que está falando com uma
desconhecida! – ela diz num tom magoado.
Bufo cansado.
– Desculpe, é que estou enrolado analisando um processo,
gostaria de terminar isso antes de sair para o almoço. – Giro meu
pescoço de um lado para o outro, estou tenso pra cacete, preciso de
uma massagem, e a visão da Jackeline de espartilho volta a minha
cabeça.
Estou obcecado por essa mulher, completamente doente.
– Bom, tenho uma notícia, não sei se é boa ou ruim, estou
chegando ao seu escritório, pensei em almoçarmos juntos, faz
tempo que não fazemos isso! – ela diz carente. – Desculpe por
ontem, Rui, ando tão insegura, estressada com nosso casamento,
você sabe...
A interrompo, não estou com paciência para ouvir suas histórias.
– Tudo bem, me deixe terminar a leitura do processo, é o tempo
de você chegar – falo rapidamente, não quero voltar ao assunto de
ontem, já me desgastei demais com este assunto.
– Um beijo, meu amor! – ela diz melosa.
– Outro.
Desligo rapidamente.
Eu estava acabando de ler o documento quando ela chegou.
Um toque na porta, e ela entra.
– Oi, já cheguei! – ela diz com um sorriso.
Tento sorrir.
– Oi! Um minuto, Pri, se senta aí, por favor! – Volto ao que
estava fazendo, logo termino e olho para ela. – Tudo bem?
– Tudo, e você?! – ela diz estranhamente.
– Um pouco cansado. – Me levanto, pego meu paletó e sigo para
a porta. – Vamos? – Olho para ela, que continua sentada.
– Eu sei que dormimos juntos, mas não nos vimos pela manhã.
Normalmente os casais se beijam quando se veem! – ela diz
enquanto caminha em minha direção.
Passo minhas mãos por sua cintura e a beijo rapidamente, mas
ela enlaça meu pescoço com os braços, fazendo com que nosso
beijo seja mais demorado, profundo.
– Me desculpe por ontem! – ela diz novamente, me deixando
ainda mais irritado.
– Eu já disse que está tudo bem! – Volto a caminhar para a
porta, mas ela segura minha mão e me faz olhá-la.
– Não parece, Rui, você está distante! – Tento não me
desesperar e jogá-la pela janela.
– Priscila, isso está começando a ficar chato, eu sou assim, não
sou um cara meloso e romântico. Eu sou prático e objetivo, e se
você não gosta do meu jeito, é bom revermos tudo, não vou mudar
para você! – A encaro profundamente.
Ela me olha calada, então fala:
– Ok, me desculpe. Ando um pouco abalada, é por causa dos
preparativos para o casamento. – Ela dá um sorriso fraco.
– Então, vamos! – Pego em sua mão e seguimos pelas escadas
que dão acesso à rua.
Passamos pela recepcionista que nos olha de canto de olho, ela
odeia a Priscila, quero dizer, todas as mulheres desse escritório
odeiam a Priscila. Ou é por ela ser minha noiva, ou é pelo seu jeito
arrogante e prepotente, ela se acha a dona de tudo, e faz questão
de mostrar isso para todos.
Tento não pensar muito sobre isso, ela nunca poderia trabalhar
comigo, eu não a suportaria aqui. Mas a questão é que seu querido
pai tem sugerido isso com certa frequência, e eu tenho
desconversado descaradamente.
Seguimos calados em direção ao restaurante que costumamos
ir, é um lugar refinado e a comida é ótima. Gosto do lugar porque
poucos funcionários podem frequentá-lo, e assim, caso a gente
brigue, não teremos uma plateia conhecida.
Espero enquanto o garçom escolhe um lugar para nos
sentarmos, o lugar está repleto de pessoas, logo somos colocados
em uma mesa. Sentamos e imediatamente ela começa a falar sobre
um processo que está cuidando para o pai. Tenho que confessar, a
Priscila é muito inteligente e capaz, mas também tem a sorte de ser
filha de um dos melhores juristas do país, aí fica mais fácil.
Ela fala compulsivamente. Sou advogado, adoro o que faço, mas
existem momentos que gostaria de falar sobre qualquer coisa,
menos sobre processos, réus, acusados, e essa porra toda.
É estressante namorar com uma advogada, acabamos só
falando sobre esses assuntos, nunca relaxamos.
Fazemos nossos pedidos e peço um vinho para relaxar. Essa
mulher me estressa, me deixa tonto, ela fala demais.
Olho um pouco para as mesas ao nosso redor, para relaxar, tirar
um pouco o foco do que a Priscila fala, e então eu a vejo. A
Jackeline está acompanhada da Carolina, as duas estão almoçando
sozinhas.
Penso um pouco, será que a Jackeline e a Carolina...?
Será?!
– Porra, que desperdício! Aquela mulher maravilhosa... – penso
desanimado.
– Rui, você ouviu o que eu te disse?! – Ouço a voz estridente da
Priscila, volto a olhá-la rapidamente.
– Claro! – Bebo um gole de vinho.
– Então, do que eu falava? – ela diz com a testa franzida, e uma
expressão brava.
– Sobre o caso... – falo displicente.
– Eu pedi sua opinião, amor, por favor? – Ela me olha com seus
olhos pidões, carentes, insuportáveis.
Por que será que não aguento mais a Priscila, meu Deus?!
– Eu faria... – Dou minha opinião rapidamente, não ouvi o que
ela disse. Mas, falo o que faria apenas para me livrar dela.
– Por isso que eu te amo! Você é o melhor, sabia? – Ela pega
em minha mão por cima da mesa e a acaricia.
– Obrigado! – Sorrio para ela.
Vejo a Jackeline e a Carolina se levantarem e seguirem
animadas para a rua.
Caralho, será que a Jackeline é lésbica também?
– Tudo bem, Rui? O que você está olhando? – Ela vai olhar, mas
puxo seu rosto e beijo-a rapidamente.
– Só um cliente, mas deixa para lá, não vou atrás dele, é
constrangedor.
Ela sorri e acaricia meu rosto.
– Vamos tentar jantar hoje à noite, quero ir a um restaurante bem
romântico, estou sentindo falta disso, estamos distantes – ela me
olha feito uma cadelinha carente e mal-amada.
Talvez seja verdade, ando sem saco para a Priscila, prefiro
qualquer outra mulher, menos ela.
– Vamos sim. Mas desta vez, por favor, espere eu chegar, não
fique me mandando mensagens, ou fazendo ligações, eu odeio isso,
Priscila! – falo tenso.
Ela se arruma na cadeira, parece magoada.
– Eu te amo, Rui! Muito, demais, sabia?! – Ela me encara com
seus olhos grandes e azuis.
É engraçado como podemos mudar a opinião sobre uma pessoa.
Quando vi a Priscila pela primeira vez, a achei a mulher mais linda
do mundo, aqueles cabelos escorridos e loiros, os olhos muito
grandes e muito azuis, seu corpo alto e esguio, mas tudo é uma
questão de ponto de vista. A beleza é relativa, pode ser alterada
com o tempo, já não vejo graça nela, sua beleza externa é apenas
um chamariz.
– Eu também! – Acaricio seu rosto. – Podemos ir? Estou com
muitas coisas para fazer.
– Claro. – Ela sorri fraco.
Peço a conta e em minutos seguimos para o escritório.
– Onde você deixou seu carro? – pergunto quando chegamos ao
prédio.
– Está logo ali, não tinha lugar em sua garagem. – Ela se
esgueira, enlaçando meu pescoço e me beijando. – Posso subir
tomar um café com você?
– Outro dia, eu realmente estou com muitas coisas atrasadas! –
A beijo rapidamente. – Nos vemos à noite! – Mais um beijo rápido.
– Chegue às 19h, pode ser?
– Vou tentar, mas não te prometo. – Me afasto dela, e espero
enquanto ela caminha até seu carro.
Ela acena, giro nos calcanhares e saio apressado para o interior
do escritório.
Passo pela recepcionista sem a olhar, essa aí é mais uma que já
enjoei, preciso arrumar outra para me divertir. Talvez a Jackeline, se
ela me quiser, e se não for lésbica também!
Sacudo minha cabeça, parece que toda mulher que me interesso
é lésbica, porra!!!
Já chega a Carolina que é um mulherão, decidida, competente,
linda, mas lésbica, caralho?!
Subo as escadas rapidamente, chego a minha sala, e lá está a
minha deusa. A observo enquanto ela está entretida com o celular,
provavelmente trocando mensagens com aquele figura que
encontrei no elevador. Ela tem um rosto lindo, e hoje com o cabelo
preso em um rabo de cavalo, dá para ver com perfeição seu rosto.
– Boa tarde, Jackeline! – falo alto.
Ela se assusta, se atrapalha com o celular e me olha com
aqueles olhos grandes e expressivos, ela parece uma gata.
– Boa tarde! – ela diz me olhando com um sorriso contido,
nervoso.
– Venha comigo, preciso que você me ajude com algumas
coisas! – Passo por ela, e a sinto atrás de mim. – Sente-se, eu já
volto. – Sigo para o meu banheiro privativo, primeiramente preciso
escovar os dentes.
Volto rapidamente e a encontro sentada em frente à minha
mesa, com um caderninho em suas mãos.
Ela me olha enquanto me aproximo, ensaia um sorriso, e tenho
vontade de rir, eu a deixo muito nervosa, e isso é engraçado.
– Melhor você se sentar aqui ao meu lado, preciso que você me
ajude a digitar algumas cartas. Você sabe fazer cartas? – A olho
enquanto ela caminha insegura até mim.
– Bom, não sei exatamente o que você quer dizer com cartas,
acho que sei. – Ela diz de um jeito engraçado.
– Ok, sente-se aqui. – Puxo minha cadeira para ela e ela me
olha confusa. – Sente-se, Jackeline! – digo incisivo.
– Tudo bem! – Enquanto ela senta, puxo uma cadeira para ficar
ao seu lado.
Pego alguns documentos.
– Vamos usar o Word. Você conhece este aplicativo, certo?! –
Ela me olha com aqueles olhões lindos, parece assustada com tudo.
– Sim, eu costumava usá-lo para anotar em minhas consultas –
ela diz constrangida.
– Perfeito! – Levanto rapidamente, me inclino sobre ela,
aproveitando para sentir seu cheiro feminino e sensual, e clico sobre
o ícone do aplicativo. – Pronto, vamos começar.
Volto para minha cadeira, a percebo tensa, muito tensa, e sorrio
por dentro.
Eu sei que estou fazendo merda, mas a sensação de ter essa
mulher aqui se sobrepõe aos problemas, ela tem um magnetismo
que me deixa louco.
Ela se ajeita em minha cadeira, coloca seus dedos sobre o
teclado e começo a ditar para ela uma carta que normalmente eu
mesmo faria para não perder tempo, mas como não estou
raciocinando direito, cá estou eu voltando no tempo, como se fosse
um advogado inexperiente, ditando uma carta para a secretária...
Capítulo 8
JACKELINE BARTOLLI
Chego a minha mesa rapidamente, pego minha nécessaire e
sigo para o banheiro feminino, faço minha higiene, um rabo de
cavalo, passo um batom vermelho e volto para minha mesa.
A porta da sala do Doutor Rui está aberta, respiro aliviada, ele
ainda não voltou de seu almoço, talvez estique até um motel.
Reviro meus olhos.
Desde quando cuido da vida de meus chefes? Ele que coma e
se lambuze daquela loirinha insossa.
Falo com desdém, e dor de cotovelo.
Me ajeito em minha cadeira e ouço o celular vibrar em minha
bolsa, o pego e lá está a tão sonhada mensagem do meu
namorado.
Desde ontem o filho da puta não me liga, não manda
mensagens, nada.
Ok, deixe-me ver o que o maldito tem a dizer.
“Oi, Chuchu, espero que não esteja mais brava comigo. Estou
enrolado esses dias, não posso vê-la, estamos em fechamento de
balanço. No final de semana podemos ir jantar na casa da minha
mãe? Ela tem me cobrado, sabe?”
Fecho os olhos e tento controlar a vontade louca de mandá-lo se
foder, o seu balanço e sua mãe também.
Olho para o teclado do celular e não sei o que escrever, ele é
simplesmente patético, um imbecil ao quadrado.
Enfim tomo coragem e escrevo minha resposta.
“Como vai, namorado querido? Ainda estou com raiva de você,
aliás, não sei quando vai passar. E quanto a jantar na casa da sua
mãe, não estou com saco, ela é insuportável, assim como sua irmã
e seu filho bastardo. Prefiro ficar em minha casa, vendo filmes
antigos com minhas três idosas, comendo pipocas, e batendo uma
siririca, acho que sairei ganhando.
E, me procure só quando estiver a fim de fazer um programa
decente, de casal normal, estou cansada de seus programas para
maiores de 60 anos.
Passar bem!”
– Boa tarde, Jackeline! – Dou um pulo na cadeira, quase
deixando o celular cair no chão, olho para cima e vejo aquele ser
angustiante.
– Boa tarde! – Tento sorrir.
Por que estou sempre nervosa quando falo com esse homem?
– Venha comigo, preciso que você me ajude com algumas
coisas! – ele diz daquele jeito decidido, me levanto e o sigo.
– Sente-se, eu já volto. – Ele segue para um banheiro que existe
dentro da sua sala, mas volta rapidamente.
– Melhor você se sentar aqui ao meu lado, preciso que você me
ajude a digitar algumas cartas. Você sabe fazer cartas?
Oh, meu Deus, era só o que me faltava!
– Bom, não sei exatamente o que você quer dizer com cartas,
acho que sei – falo em pânico.
– Ok, sente-se aqui. – Ele puxa sua cadeira para eu me sentar, e
o olho confusa, será que ele quer que eu me sente em sua cadeira?
– Sente-se, Jackeline! – Estremeço com seu vozeirão.
– Tudo bem! – respondo rapidamente, me sento, e o vejo
puxando uma segunda cadeira ao meu lado.
– Vamos usar o Word. Você conhece este aplicativo, certo?! –
Ele me lança aquele seu olhar de advogado inquisidor, que adoro,
mas ao mesmo tempo me enerva.
– Sim, eu costumava usá-lo para anotar em minhas consultas.
Respiro um pouco aliviada, ao menos sei digitar rapidamente,
depois de anos anotando os problemas de meus pacientes, pelo
menos isso eu sei fazer direito.
– Perfeito! – ele diz rapidamente, e de repente vejo aquele
homem enorme em cima de mim, aquele cheiro inebriante, o calor
que exala de seu corpo...
Oh, meu pai eterno, me ajuda, assim não vou aguentar!
– Pronto, vamos começar – ele diz após abrir o aplicativo na tela.
Ele começa a ditar uma carta, ou sei lá o que é isso, e finalmente
termina.
O olho de canto de olho, e o vejo lendo o material na tela.
– Ok, mas precisamos formatar isso! – Ele me olha, e me sinto
uma retardada.
O que ele quer dizer com formatar, meu Jesuzinho?!
– Você pode ser mais claro, o que seria formatar? – digo
completamente envergonhada.
Ele sorri de lado, daquele jeito parecendo um cafajeste, tudo
nele parece de cafajeste. Ele deve ser um cafajeste, e aquela noiva
é só de fachada.
Ele se levanta novamente, se inclina sobre mim, e minha
vontade era agarrar esse homem, tirar sua roupa, e me perder
nesse monte de músculos.
Ok, mas não faço isso, não sou nem louca, então reteso cada
músculo do meu corpo. Como ele pode fazer isso com tanta
naturalidade?
De repente, sua mão cobre a minha sobre o mouse, olho por
entre meus cílios, se sua mão é enorme, fico imaginando o resto.
Mas não consigo não ficar tensa, sinto cada músculo do meu corpo
tensionado.
– Marque todo o texto, Jackeline, deste modo. – Ele move o
mouse de forma a iluminar todo o texto. – E selecione essa
formatação. – Ele seleciona um formato para o texto.
Seguro minha respiração, está sendo um inferno tê-lo desse jeito
em cima de mim, sinto seu hálito de pasta de dente no meu rosto, o
cheiro de creme de barbear, e se eu virar de lado, eu irei beijá-lo, ele
não deixou espaço para eu me mover.
O que ele pensa que está fazendo?! – penso atordoada.
– Ok, eu posso fazer isso! – falo em pânico, preciso de espaço
para respirar. Acho que sou claustrofóbica a homens, quero dizer,
ao Doutor Rui.
Ele levanta seu corpo e volta a sentar.
– Vamos colocar a data lá em cima – ele diz suavemente.
Digito rapidamente a data e olho para ele.
– Mais alguma coisa? – Ele me encara por segundos
intermináveis, olha para os meus lábios, fico sem graça, volto a
olhar para a tela do computador, fecho meus olhos e solto o ar
suavemente, acho que toda vez que ele me encara eu perco o ar.
Que homem é esse, meu Jesus Cristinho?
– Ok, só mais uma coisa. – Ele volta a se levantar, novamente se
inclina sobre mim, rosto contra rosto, pega o mouse e abre um
segundo arquivo, onde vejo sua assinatura digitalizada. – Vamos
colar essa assinatura no final da carta.
Seleciono a imagem, graças aos céus eu sei fazer isso, e coloco
no final da carta.
– Está bom assim? – pergunto relutante, e volto a olhar para ele.
– Está ótimo! Imprima, por favor – ele diz com naturalidade.
Novamente fico insegura.
– Posso pedir para imprimir, é só isso? – Olho para ele, ele fecha
os olhos e sorri.
Ok, sou uma tapada.
– Só isso, Jackeline!
Ouço o barulho da impressora embaixo de sua mesa, em um
suporte. Pego a carta, dou uma olhada rápida e entrego para ele.
– Ok, vamos para a próxima. Salve esse arquivo e abra um novo
– ele diz rapidamente, e faço tudo isso como uma tartaruga de 100
anos, não tenho a menor prática com informática, prefiro escrever,
adoro escrever com as mãos.
Abro o arquivo, ele começa a ditar uma nova carta, e como não
sou tão burra assim, finalizo, formato e coloco sua assinatura.
Mas, não satisfeito com a tortura, ele se posiciona atrás de mim,
se inclina e lê o documento.
– Ok, pode imprimir – ele diz, e respiro aliviada o vendo se
afastar.
Vejo ele andando pela sala e o observo pelo canto do olho. Ele
parece um pouco tenso, sei lá, incomodado.
De repente, ele está ao meu lado novamente, pega um
documento e o lê rapidamente.
– Vamos lá, Jackeline? – Olho para ele, ele está com seu
cotovelo amparado no apoio da cadeira, segura seu queixo e me
olha.
– Ok! – respondo voltando a olhar para a tela.
Ouço sua voz grave e aveludada, ele tem uma voz deliciosa,
sexy e sedutora.
– É isso, formate e imprima, essa é a última – ele diz em minhas
costas.
Pego a impressão, me viro e a entrego.
– Mais alguma coisa? – pergunto incomodada, eu sei que
preciso me acostumar com sua presença, mas não precisa ser tudo
de uma vez, e tudo no mesmo dia.
Ele dá um sorriso, sexy e sedutor.
– Acho que por hoje está bom, já está na hora de você ir até o
RH. – Ele se levanta e devolve a poltrona ao seu lugar. – Obrigado!
Sorrio de leve.
– Por nada! – Me levanto, sigo para a porta, me sento em minha
mesa e respiro aliviada.
– Ok, não foi tão difícil assim, eu me acostumo – falo em
pensamento.
****
A noite está linda, com uma lua enorme, muitas estrelas, aqui de
cima é tudo mais bonito, a cidade, a lua, as estrelas.
Deve ser muito bom namorar num lugar desses.
Sou uma idiota romântica, o dono desse apartamento não me
parece o cara mais romântico do mundo, ele é um belo de um
comedor de mulheres, deve ter visto mais bucetas que um
ginecologista.
Ando pelo ambiente extasiada, nunca estive num lugar como
este. Uma linda mesa de madeira com cadeiras confortáveis enfeita
o ambiente, e do lado esquerdo há uma pequena área de
churrasqueira, tudo feito com muita sofisticação, e uma piscina
acima do nível do piso. Subo os três lances de escada e chego a um
deck, e encontro uma linda piscina, apenas com uma raia, mas
perfeita para dar um mergulho. Olho ao redor e vejo muitos vasos,
grandes e imponentes, circundando o ambiente, tudo é muito bonito,
de bom gosto.
Toda a área externa é circundada por uma proteção de vidro
transparente, me sento em uma espreguiçadeira grande, parece um
sofá, e olho a cidade, aqui é muito lindo.
De repente, sinto um molhadinho em meu rosto, olho assustada
e lá está o mascote tarado do Doutor Rui, ele subiu na
espreguiçadeira e se sentou ao meu lado.
– Você é muito dado, menino! Puxou ao seu pai, é?! – falo
acariciando sua cabeça. – Você me parece uma companhia
deliciosa de se ter. – Ele me olha sorrindo. – Ok, você merece um
beijo, por que realmente me fez esquecer a grosseira do meu
namorado ogro. – Me inclino e beijo sua cabecinha. – Você é lindo!
– Mais um beijo, estou amando esse cachorro.
– Ele vai ficar mal-acostumado, Jack!
Puxo o ar, será que ele ouviu o que eu disse?
Olho de lado e o vejo, e me falta o ar.
Ele está vestindo uma calça jeans bem despojada e uma
camiseta branca justinha ao corpo, mostrando seu tórax e braços
definidos e fortes.
Que homem, meu Deus, queria muito ser a tal Priscila! – penso
enfeitiçada.
– Estamos conversando um pouquinho, é ótimo conversar com
cachorros, eles não respondem, não reclamam, é só amor e
atenção! – falo em tom de brincadeira.
– Acho que ele está meio abusado. – Ele diz se sentando em
uma cadeira confortável próxima a minha. – A noite está boa para
ficar aqui. – Ele me olha.
– Adorei aqui, é muito lindo, nunca estive em uma cobertura e
realmente a visão é privilegiada – falo com sinceridade.
– Confesso que não venho muito aqui fora, preciso fazer isso
mais vezes! – Ele olha para fora do prédio. – Mais uma taça de
vinho, Jack? – ele diz se levantando.
– Preciso checar meu celular! – Me levanto com ele e vejo o
Bóris atrás de mim, e sorrio.
Minha bolsa está sobre o sofá, busco o celular no bolso dianteiro
e o olho ansiosa.
Nenhuma ligação, nenhuma mensagem.
Puxo o ar, eu não acredito que ele me mandou vir até aqui e
simplesmente me esqueceu, ele tinha obrigação de me ligar, me
avisar...
Vejo novamente uma taça de vinho na minha frente, sorrio, mas
de verdade, eu não deveria estar bebendo assim, não aguento
bebida, e de estômago vazio, pior ainda.
– Obrigada! – Pego o vinho. – Deve ter acontecido alguma coisa!
– falo constrangida, sentindo seu olhar sobre mim.
– Talvez a bateria do celular acabou e ele não consegue falar
com você, ou mandar uma mensagem!
– É verdade, talvez eu devesse ir até seu apartamento, ele pode
estar lá! – falo sentindo a ansiedade tomar conta de mim.
– Vamos lá, eu te levo até o apartamento dele, se ele não estiver
lá, eu te levo para sua casa – ele diz sério, com uma leve ruga em
sua testa.
– Oh, você é muito gentil, mas não se preocupe comigo, eu me
viro. – Coloco a taça de vinho pela metade sobre uma mesinha
lateral e pego minha bolsa.
Ele se posiciona ao meu lado e sinto aquele cheiro maravilhoso
me inebriar.
– Eu faço questão! – Ele faz um gesto com a cabeça para que eu
siga na frente, entramos no elevador, e logo ele abre no andar do
Renato.
– Eu vou descer apenas para ter certeza que ele está aí! – ele
diz quando saímos do elevador.
Estou tão confusa que não falo nada, apenas ando relutante até
a porta de seu apartamento e ouço uma música ao fundo.
Meu coração dispara, olho para trás e vejo o Rui um pouco atrás
de mim. Crio coragem e aperto a campainha.
Ouço uma voz masculina se aproximar e de repente a porta abre
e vejo um cara sem camisa.
– Oi, pois não? – ele diz com um sorriso no rosto.
– Quem é você? – Sinto o sangue subir.
– Desculpe, quem é VOCÊ?! – Sua voz sai levemente
efeminada, e não nega sua preferência sexual.
Meu coração está do tamanho de uma ervilha, a Carol tinha
razão!!!
– Eu sou a namorada do Renato! E você, é o que dele? –
pergunto tentando não pirar e quebrar tudo a minha frente.
De repente ouço a voz do Renato ao fundo.
– Léo, o que você está fazendo aí? – E ele aparece com os
cabelos molhados, colocando uma camisa e fica branco e mudo. –
Jack! – ele diz desconcertado, abotoando a camisa rapidamente. –
Esse é meu amigo Leonardo, ele chegou hoje de viagem, ele vai
passar a noite aqui e vai embora amanhã. – Ele me olha
constrangido. – Você se lembra dele, ele fez faculdade comigo...
O ignoro.
– Eu te liguei e te mandei uma mensagem Renato – falo
tentando conter minha fúria. – Tínhamos combinado que eu te
encontraria aqui! – falo entre os dentes e olho para o cara, que
abaixa a cabeça constrangido.
– Oh, desculpe, Jack! Eu me atrasei um pouco, e o porteiro disse
que você tinha ido embora, eu estava indo neste momento até sua
casa. – Ele diz nervoso.
– Você não sabe mais usar o celular, é isso?! – Pergunto irônica.
– Oh, meu celular! – Ele tateia a calça. – Devo ter deixado no
carro. Desculpe, Jack, eu realmente me atrasei, precisei buscar o
Leonardo no aeroporto.
Olho para o Renato, e fico imaginando desde quando ele come
homens e eu não percebi, eu simplesmente tenho relacionamento
com um gay, e não sabia.
Eu sou uma psicóloga, deveria ter notado isso, sua falta de
interesse por mim, o fato dele nunca fazer sexo oral, seu culto pelo
seu corpo, a vaidade exacerbada, sei lá.
Fecho os olhos e respiro.
– Talvez eu devesse ir para um hotel, Renato! – O amigo gay diz.
– Oh, não, não faça isso, eu já estou indo embora! – Viro as
costas e dou de cara com o Rui nos olhando.
O Renato pega em meu braço e me faz olhá-lo.
– Jack, não é nada disso, eu sei o que você deve estar
pensando... – ele diz cochichando. – Eu só quis ser gentil o
deixando ficar aqui em casa, ele veio para um congresso aqui em
São Paulo.
Puxo meu braço e o olho com raiva.
– Você me usou todo esse tempo para encobrir sua falta de
coragem para assumir sua preferência por homens! Você é nojento,
Renato, eu nunca mais quero te ver na minha frente!!! – Viro e saio
a passos apressados, sentindo as lágrimas inundarem meus olhos,
entro no elevador e nem percebo que o Rui entra comigo.
– Jack, vamos até meu apartamento, você se acalma primeiro,
depois eu te levo para sua casa – ele diz quando a porta fecha.
Limpo minhas lágrimas, mas uma nova sequência de lágrimas
começa, não consigo parar de chorar, e então sinto braços ao redor
do meu corpo, e um peito forte contra meu rosto.
Soluço de choro, de raiva, de dor.
Não sei o que é pior, ser trocada por uma mulher, ou por um
homem.
Ouço o barulho da porta do elevador se abrindo, me afasto do
Rui, ele pega em minha mão e me leva para dentro do apartamento.
– Acho melhor você beber isso. – Ele me entrega a taça de vinho
que eu estava bebendo.
Viro de uma vez.
– Talvez eu queira mais uma taça! – O olho em meio à
inundação de lágrimas que está em meus olhos.
Me sento no sofá e fico olhando para o líquido que sobrou dentro
da taça, estou destruída por dentro.
Acho que preferia ser trocada por uma mulher, me sentiria
menos humilhada.
De repente, vejo o bocal da garrafa enchendo minha taça, olho
para cima e vejo os seus olhos me observando.
– Sinto muito, Jack! – ele diz meio sem jeito, parece
envergonhado de ter presenciado a cena surreal do meu namorado
com seu caso gay.
Balanço minha cabeça, estou em choque, só consigo sentir
vontade de chorar, e choro, e quando vejo, estou novamente no
peito do Rui, que se sentou ao meu lado, e me emprestou seu peito
para eu chorar.
– Quer mais uma taça? – ele diz me vendo virar a quarta taça de
vinho.
– Eu vou ficar bêbada! – falo me sentindo meio tonta.
– Bom, é uma forma de relaxar e esquecer o que você viu. – Ele
me olha parecendo sentir dó de mim.
– Ok. – Levanto a taça para ele novamente, e penso como vou
conseguir dizer a minha mãe, minha avó e minha tia, que namorei
durante quatro anos um gay enrustido, que me comia só para não
fazer feio para a família e para a sociedade.
Volto a chorar.
– Calma, Jack, tem coisas piores na vida! – ele diz acariciando
meus cabelos.
– Nesse momento, essa é a pior coisa que poderia ter
acontecido na minha vida! – falo chorando.
– Não, existem coisas piores. – Ele me puxa novamente para
seu peito, fecho os meus olhos e me permito sofrer um pouco por
causa daquele maldito, covarde e traiçoeiro.
De repente, me dou conta que estou alugando o colo e o
apartamento de um cara que mal conheço, e que ele é meu chefe.
Eu estou doida, o que estou pensando?!
Me levanto de súbito e limpo meu rosto.
– Desculpe, Rui! Eu vou embora – falo envergonhada. Pego
minha bolsa, levanto e sinto uma leve tontura. – Agradeço muito
tudo que você fez por mim. – Enxugo novamente meu rosto que
está completamente ensopado.
– Ei, você não pode ir embora assim! – Ele me segura. – Vamos
fazer uma coisa, eu faço algo para a gente comer e depois te levo.
Ele me encara com aquele olhar decidido.
– Eu já te incomodei demais – falo meio tonta, bebi demais, não
poderia ter feito isso.
– Tudo bem, eu te faço trabalhar em dobro, assim você
compensa! – Ele me olha e sorri.
– Ok, eu estou meio tonta, não vou conseguir chegar a lugar
nenhum assim! – Me sento novamente.
– Fique aqui, vou fazer alguma coisa para comermos e já volto.
Relaxo minha cabeça no encosto do sofá, vejo o peludinho do
seu cachorro se sentar ao me lado, e me olhar curioso.
– Os humanos são tão complicados, Bóris! – Encosto minha
cabeça a do cachorro, fecho os olhos e não percebo quando pego
no sono.
Capítulo 14
RUI FIGUEIREDO
Sigo para a cozinha meio atordoado.
Caralho, o que foi aquilo?!
O namorado da Jackeline é gay, e ela estava com ele há quatro
anos!
Porra, que raiva daquele cara, como ele consegue ser gay com
uma namorada como aquela, linda, gostosa, cheirosa.
E não é só isso, ela é uma mulher inteligente, divertida,
espirituosa.
Qualquer homem gostaria de ter uma mulher dessas ao seu
lado, e não um marmanjo peludo!
Porra, que nojo! Não sou homofóbico, mas que me dá nojo, dá!
Mulher é bom demais, como alguém pode preferir um homem?
Isso não entra na minha cabeça.
Mas, enfim, estou me sentindo mal, eu até tinha segundas
intenções com a Jackeline. Eu sei que não presto, sou um canalha,
mas não agora a vendo sofrer desse jeito, não gosto de ver mulher
chorando, sofrendo, esse realmente é meu ponto fraco.
Paro no meio da cozinha e nem sei o que fazer, eu tinha planos
de sair hoje à noite, espairecer um pouco, beber, e “conhecer”
alguma garota, mas aí vi minha deusa na frente do prédio,
completamente desnorteada.
Parece até uma coisa, a gente está sempre se encontrando,
mesmo que eu não queira. Eu a dispensei no meio de um monte de
coisas para fazer, mas ela está sempre no meu caminho, parece
coisa do destino, e olha que não acredito nisso.
Sorrio ao me lembrar do ataque de amor do Bóris com ela,
parece que somos iguais, e ele fez o que eu queria, beijar aquela
boca grande e carnuda, como gosto de sua boca, mas não é só a
boca, gosto de tudo na minha deusa do espartilho.
Bom, eu sei que a história de seu namorado a chateou demais,
mas também tem o lado bom, aquele verme não está mais na vida
dela, vai ficar mais fácil para mim.
Abro a geladeira e procuro algo para fazer, não sou nenhum
mestre cuca, mas eu me viro.
Pego uma tigela com salada lavada, alguns queijos, frios, e
coloco tudo sobre o balcão.
Acho que dá para matar a fome.
Bom, me deixe chamá-la, se pretendo atravessar a cidade para
levá-la em casa, ao menos preciso comer alguma coisa.
Sigo para a sala, olho para o sofá e fico surpreso.
– Porra, Bóris, o que você está fazendo aí? – olho para o
cachorro, ele está dormindo junto com a Jackeline. – Cachorro
safado, já está dormindo com a garota que estou a fim, Bóris!
Cochicho em seu ouvido puxando-o para a lavanderia.
– Parece até que você lê mentes, Bóris. Você nem chega perto
da Priscila, já com a Jackeline, só falta ir embora com ela. – Ele me
olha com aquela cara de bobo, sempre rindo e balançando o rabo.
Eu adoro esse peludo, e parece que a Jackeline também.
– Ela gostou de você, Bóris, mas se comporta, tem que ir com
calma, mulher não gosta de macho carente.
Ele abana o rabo feliz, posso dar bronca, colocar para fora, ele
sempre está feliz.
Volto para a sala e a vejo dormindo encolhida no sofá.
– O que eu faço com você, Jackeline? – falo confuso, ela parece
tão frágil.
Me aproximo dela, penso em acordá-la, mas desisto. Ela bebeu
demais, não está em condições de ir para casa.
Quer saber, foda-se, não vou levá-la, ela passará a noite aqui!
Eu até posso ser um mulherengo dos infernos, mas também
tenho coração, uma irmã e uma mãe, quero cuidar da Jackeline.
A puxo suavemente do sofá, ela está para lá de Bagdá, e então
a coloco em meu colo.
– Ela está desmaiada! – falo sozinho, a vendo completamente
relaxada, não mostrando nenhum sinal de resistência. – Ok,
Jackeline, não sei o que você irá achar disso, mas hoje você dorme
na casa do Rui, ou seja, no covil do lobo. – E dou risada sozinho,
caminhando em direção às escadas.
Por sorte a porta do quarto de hóspedes está aberta, entro com
cuidado para não esbarrar com ela em alguma coisa, e a coloco
sobre a cama.
Arrumo seus cabelos que estão sobre seu rosto, e por mais que
não queira, fico a admirando.
– Ei, Jackeline, você é muita tentação! Estou me controlando
muito para não me aproveitar de você! – Cochicho acariciando seus
cabelos escuros. – Você é muito linda!
Fecho meus olhos, abro e vejo aquela boca linda entreaberta, e
sem que eu tenha noção inclino-me sobre ela, estamos a
centímetros de distância, olho salivando para sua boca, e dou um
pulo ao ouvir um latido.
Franzo minha testa e olho ao meu lado.
– O que você está fazendo aqui? – cochicho bravo para o meu
cachorro, que surtou de uma hora para outra.
Ele abana o rabo.
– Tá feliz por que, seu maníaco?! – O vejo olhando para a
Jackeline. – Que porra é essa, Bóris? Me deixa em paz um minuto
com a garota!
Ele faz menção de subir na cama, me levanto de sobressalto.
– Você não vai dormir com ela, vamos arrumar uma fêmea bem
bonita para você, essa é minha! – falo com o cachorro como se
fosse um maluco. – Se bem que você foi castrado, sinto muito,
Bóris, mas você estava mijando a casa toda, só existe um macho
alfa aqui, e sou eu! – O puxo pela coleira e o faço descer as
escadas.
Volto para o quarto, coloco as mãos na cintura e admiro aquela
bela fêmea.
– Eu e o Bóris temos os mesmos gostos, estamos loucos por
você, Jackeline! – Sussurro a olhando dormindo de lado, as mãos
juntas ao lado do rosto, parece um anjo, mas eu sei que essa
mulher é uma diaba linda e gostosa.
A olho vestida e não sei bem o que faço, ela irá amanhecer toda
amassada.
Ok, não estou muito preocupado com isso, confesso, eu quero
tirar sua roupa, não estou conseguindo me controlar, o maníaco sou
eu, não o Bóris.
– Me desculpe, minha deusa, mas vou te deixar mais
confortável, tenho certeza que você não ficará brava comigo, será
para o seu bem.
Me sento na cama, aproveito que ela está de lado, abro o zíper
de sua saia e a puxo delicadamente por seus quadris, e aos poucos
sua pele levemente morena vai surgindo e uma calcinha branca de
renda muito sensual. Passo sua saia por suas coxas grossas,
torneadas, simplesmente lindas, ela tem pernas lindas demais.
Fecho meus olhos por um momento, estou com muito tesão,
muito mesmo, minha ereção está explodindo dentro da minha calça.
– Caralho, por que estou fazendo isso? – Sem que eu consiga
controlar, coloco minha mão delicadamente sobre seu bumbum.
Caralho, que bunda é essa, Jackeline? Foi feita a mão! – Deslizo
suavemente minha mão nos contornos de sua bunda, sua pele
parece de veludo, ela é muito macia.
Me levanto de sobressalto, esfrego meu rosto, aliso meus
cabelos.
– Eu não estou aguentando isso, mas ao mesmo tempo, o que
estou fazendo não é certo, ela está bêbada, Rui! Isso é
praticamente estupro, caralho!
Ando pelo quarto, tentando acalmar minha cabeça de baixo,
estou parecendo um animal.
Porra, nunca estive tão louco por uma mulher!
Inspiro profundamente, olho novamente para ela, agora
completamente relaxada, os braços estendidos atrás de sua cabeça,
exibindo todo o seu corpo.
– Caralho, olha o tamanho dessa buceta!
Aperto meu pau sobre a calça.
– Amigo, não vai ser hoje que você vai se afogar nessa mulher.
Te prometo que vamos fazer isso, mas não poderá ser hoje!
Ok, Rui, falando de novo sozinho, e agora com seu pau, isso não
está indo bem.
Me sento novamente na cama, fico a observando feito um
tarado, e sem o menor pudor, sigo meus dedos até os botões de sua
camisa, e começo a abri-la delicadamente, e aos poucos seus
peitos vão surgindo por detrás do seu sutiã de renda branco.
– Você é linda, Jackeline, e vai ser minha, só minha! – E faço o
que não deveria fazer, me inclino sobre ela e descanso meus lábios
sobre os seus suavemente, e sem que eu espere, ela abre seus
lábios.
Fecho meus olhos com força.
– Eu não posso fazer isso!
Mas, não deu para segurar, porque sua língua começou a roçar
a minha, e aí não aguentei, mergulhei minha língua naquela boca
deliciosa.
Cubro sua mão com a minha e ela corresponde ao meu beijo
com paixão.
E de repente ouço um latido forte e inoportuno. Me levanto com
o coração na boca e vejo o Bóris novamente no quarto.
Me afasto da Jackeline, ela não acordou, deve estar sonhando
com uma trepada, e deve ser comigo, não é possível que seja com
o bicha do seu namorado.
– Bóris! – sussurro enérgico e aponto com o braço para a porta.
– Sai daqui, agora!
Mas o porra do cachorro descobriu o amor e começa a latir, e me
desespero.
Me levanto para mandar esse cachorro para os infernos, mas ele
começa a brincar de pega-pega comigo, sobe na cama e se aninha
ao lado da minha deusa.
– Bóris, acho que te deram alguma coisa, você está muito
esquisito! – falo com as mãos na cintura. – Você estragou tudo,
Bóris, vai ficar de castigo por uma semana, sem passeio e sem
biscoitos.
Mas, ele não está muito preocupado, principalmente depois que
a Jackeline resolveu abraçá-lo.
Bufo, olho para o teto, e xingo o Bóris de tudo o que é nome.
– Ok, você resolveu protegê-la contra seu dono mau, eu até te
entendo! – falo olhando para ele, e a cobrindo com uma colcha. –
Eu só vou tirar a camisa, Bóris, só para ela ficar confortável. Não
precisa me morder, amigão!
Confesso que estou meio temeroso com esse cachorro, ele
realmente acha que a Jackeline é sua fêmea. Acho que vamos ter
que lutar pelo território, esse bicho é meio selvagem, e eu nem
sabia.
Me sento na cama e começo a puxar sua camisa delicadamente por
seus braços. O Bóris me olha desconfiado.
– Ok, Bóris, não vou fazer mais nada. Vou deixá-la para você
essa noite, mas saiba que as coisas não funcionam assim no mundo
dos humanos.
O problema de viver sozinho, é que assimilei essa mania de
conversar com meu cachorro, isso é bem estranho.
Termino de tirar sua camisa, e fico por alguns minutos admirando
seus belos peitos, grandes, redondos, e firmes.
Acaricio mais uma vez seus cabelos, e beijo suavemente seus
lábios, esse beijo me deixou ainda mais louco por ela.
– Boa noite, minha deusa! – Fico a olhando fascinado, e
desperto com um rosnado. É isso mesmo?!
Olho para o Bóris.
– Cara, você não está legal hoje! – Me levanto preocupado. –
Ok, fica aí com sua fêmea, e não faz nada com ela, é só para olhar!
– Cubro seus seios com a colcha. – Se comporta, Bóris, amanhã
converso com seu adestrador, talvez você precise relaxar um pouco,
uma piscina, quem sabe uma namoradinha. – Enquanto falo, vou
andando de costas, vai saber o que esse cachorro maluco está a fim
de fazer comigo.
– Boa noite, amigão! – Deixo a porta semiaberta, dou uma última
olhada e o vejo deitando sua cabeça na barriga da Jackeline.
Balanço minha cabeça de um lado para o outro.
– Os feromônios da Jackeline devem ser poderosos, nunca vi o
Bóris assim! – Sigo para o meu quarto. – Preciso de um banho frio e
de uma punheta, estou com o saco doendo, porra!
Capítulo 15
JACKELINE BARTOLLI
Desperto com uma sensação de cabeça pesada, tento abrir
meus olhos, mas a claridade do quarto me deixa meio cega.
Tateio ao meu lado, estou completamente desnorteada, então
sinto uma coisa peluda e macia.
Forço meus olhos a abrirem, viro de lado e dou de cara com
aquele ser peludo e lindo.
– Bóris, o que eu estou fazendo dormindo com você? – Franzo
minha testa e viro para olhar para o quarto onde estou, e sinto um
nariz gelado no meu rosto e muitas lambidas. – Oh, Bóris, eu dormi
na casa do seu dono e completamente bêbada.
Arqueio minhas sobrancelhas e fecho meus olhos.
– Meu Deus, que vergonha! – penso.
Apoio meus braços ao redor do meu corpo e me sento, e então
me dou conta que estou só de CALCINHA E SUTIÃ.
– Meu Deus!!! – falo com meus olhos arregalados. – Será que
seu dono e eu... – Olho para o Bóris, que me olha como se eu fosse
a melhor coisa que aconteceu em sua vida. – Bóris, me diz que não
fiz isso, por favor!
Ele se aproxima de mim e me dá mais beijos.
– Oh, Bóris! – Coloco minhas mãos sobre meu rosto. – Chega
de beijos, Bóris! Eu preciso ir embora.
Olho ao meu redor, procuro pelas minhas roupas e as vejo no
final da cama.
– Será que tem um banheiro aqui? – Olho ao redor e vejo uma
porta. – Deve ser ali. – Pego minhas roupas e saio quase correndo
até lá, fecho a porta e me olho no espelho. – Céus, estou parecendo
uma bruxa.
– Ok, eu sei que estou com pressa, mas preciso ao menos tomar
um banho. – Olho para frente e vejo uma banheira maravilhosa. –
Seria incrível mergulhar em você, querida, mas acho melhor não,
estou aqui de penetra! – Tiro minha calcinha e meu sutiã, ligo a
torneira do chuveiro e vejo um mundo de água cair sobre mim,
gelada! – Oh, merda! – Fecho rapidamente a torneira. – Estou
bêbada ainda! – Seleciono a torneira correta, e deixo a água
esquentar.
Lavo rapidamente meu corpo, o cabelo molhou levemente, mas
dane-se, não dá para lavá-lo.
– Toalha! – falo alto, em pânico. – Cacete, como não pensei
nisso? – Olho ao redor do banheiro, e não tem uma filha da puta de
uma toalha. – Céus, quantas cagadas juntas! – Fecho os olhos e
tento pensar em alguma coisa, mas não tem nada a se pensar, a
não ser que eu vista a roupa sobre o corpo molhado, não tenho
como me enxugar. – Merda, merda, mil vezes merda! Jackeline, sua
burra!!!
Desligo a torneira, olho mais uma vez ao redor e penso em me
enxugar com o papel higiênico, não isso não vai dar certo.
– Ok, você vai ter que abrir essa porta e achar alguma coisa para
se enxugar, querida! – falo para mim mesma.
Piso no chão frio, molhando tudo a minha frente e esbravejo!
Abro a porta e vejo o Bóris deitado sobre a cama e me olhando
sorrindo, com aquela cara feliz.
– Gostou de me ver nua, seu safado! – falo para ele, e de
repente a porta abre, e meu coração gela, e dou um grito ao ver o
Rui a minha frente, e tento me cobrir com meus braços, mas não dá,
né, tem muita carne para tampar.
Ele fica me olhando. Ele está sem camisa, só de calça social e
sem sapatos.
Oh, meu Deus, que calor que estou sentindo!
– Sai, Rui!!! – grito desesperada, morrendo de vergonha.
– Tá. Desculpe, Jack! – Ele vira de costas, meio atrapalhado. –
Você precisa de alguma coisa? – Ele diz posicionado na porta.
– Uma toalha – falo quase em um grunhido.
– Ok, eu já trago! – Ele sai, quase choro de vergonha, e volto
correndo para o banheiro. – Meu Deus, não sei como vou olhar de
novo para esse cara!
– Jack, a toalha! – Ouço sua voz grossa e sedutora, e um toque
na porta.
Dou um pulo de susto.
– Obrigada. Pode deixar pendurada na porta. – Não quero olhar
para ele, estou com muita vergonha.
Espero um pouco, abro a porta e vejo a toalha pendurada na
maçaneta, a pego desesperada e me enxugo rapidamente.
Pego minha lingerie e coloco, em seguida a camisa, a saia, e
suspiro aliviada passando as mãos pelo tecido, ajeitando o que está
levemente amassado.
Me olho no espelho, ajeito meu cabelo passando os dedos entre
os fios, não tenho maquiagem, aliás, nem sei onde está minha
bolsa.
Estou horrível! – Penso desesperada.
Olho para o teto e respiro, agora terei que olhar para aquele ser
angustiante, e não sei como.
Abro a porta do banheiro vagarosamente, e respiro aliviada ao
ver o quarto vazio, quero dizer, meu novo amor está me esperando.
– Oi, menino! A barra está limpa? – Ele abre sua boca e parece
sorrir para mim. – Estamos íntimos demais, já dormimos juntos e
você me viu sem roupa, isso está indo depressa demais, não
costumo ser assim! – Enquanto falo, procuro por meus sapatos, mas
acho que devem ter ficado lá embaixo, acho que os tirei no meio da
bebedeira, e aí lembro do Renato, mas balanço minha cabeça
energicamente.
– Agora não, seu filho da puta, depois penso em você! – falo
comigo mesma.
Procuro por minha bolsa, gostaria de passar ao menos um
batom, mas não a acho. Então, crio coragem e decido sair do quarto
e chamá-lo.
– Rui! – falo da porta do quarto onde estou, e ele aparece de um
quarto em frente ao meu, lindo, cheiroso, e colocando sua gravata.
Ele sorri, e não deveria fazer isso, por que é muito angustiante
olhar para esse homem, ele é lindo demais.
– Oh, não sei como me desculpar! Funcionário bêbado não é
bem visto, eu sei disso... – falo desconcertada, mas ele não parece
muito preocupado com isso.
– Está tudo bem, Jack! O importante é que você está bem, e me
desculpe ter entrado no quarto sem bater, fiquei preocupado com
você. – Ele me olha intensamente.
– Tudo bem, eu que invadi sua casa – falo sem graça. – Muito
obrigada por tudo, Rui! Mas, acho melhor eu ir para casa, preciso
me trocar e tentar trabalhar, mas pode deixar que ficarei até mais
tarde, compensarei as horas de atraso. – Ele começa a caminhar
em minha direção, novamente aquele gelado no estômago se
apodera de mim.
– Calma, Jackeline. Eu sou seu chefe, não um carrasco nazista!
– Ele sorri, e eu tento sorrir também, mas não consigo com esse
homem lindo na minha frente, ele me deixa muito nervosa.
– Que bom, né? – Sorrio amarelado. – Mas, eu só estou
trabalhando há dois dias, não seria aconselhável fazer tantas
cagadas juntas.
Ele sorri largo e espontâneo, ele é muito charmoso, sexy e
sedutor.
– Vamos fazer o seguinte: eu te levo a uma loja feminina que
temos na vizinhança e você compra alguma coisa para vestir. – Ele
sorri e eu choro, não tenho condições financeiras de comprar nem
uma bala, muito menos uma roupa de uma loja vizinha ao seu
apartamento.
– Oh, seria maravilhoso, mas eu não estou podendo – falo
constrangida. – Mas, eu prometo que não me demoro.
Ele me interrompe.
– Vou fazer melhor. Eu faço um adiantamento para você, verba
para roupas. O que você acha? – Ele sorri novamente e fico olhando
aquela boca, e me vem uma lembrança estranha, acho que sonhei
que beijava o Rui, será que isso é possível?
– Oh, Rui, estou muito constrangida com essa situação. Por
favor, me deixe voltar para minha casa...
Ele me olha sério.
– Vai demorar muito, Jack! Você irá perder seu dia todo, eu
preciso de você no escritório!
– Oh, claro, me desculpe! – falo sem graça. – Eu ficarei com
essa roupa mesmo.
Não termino de falar, ele balança a cabeça negativamente.
– Tá, eu aceito sua verba adiantada! – Desisto, ele não vai me
deixar ir para casa, muito menos trabalhar dois dias com a mesma
roupa.
– Então, podemos ir? – ele diz ajeitando sua gravata e pegando
um paletó em uma cadeira.
– Claro! – Olho para meus pés. – Você sabe dos meus sapatos?
Ele dá uma risada linda e contagiante.
– Devem estar perdidos por aí, a noite foi bem agitada! – Ele sai
andando pelo corredor dos quartos.
Estanco em pânico.
– Rui! – Ele me olha pelo ombro. – Nós não fizemos nada, não é
mesmo?! – O olho envergonhada.
– Não, Jack, você estava bem mal, só tirei sua roupa para você
ficar mais confortável. – Ele dá mais um daqueles sorrisos molha
calcinha. – Vamos, podemos tomar café em algum lugar.
Meu Deus, se a noiva desse cara souber que ando para cima e
para baixo com seu homem, serei esfolada viva.
****
Sigo até a copa do escritório, hoje trouxe meu lanche, não posso
me dar ao luxo de almoçar fora.
Entro delicadamente e vejo a copeira lavando algumas coisas.
– Com licença, será que posso fazer um lanche aqui? – falo um
pouco cuidadosa, não conheço a copeira, aliás, só falo com ela
quando o Doutor Rui pede algum café ou água.
Ela se vira rapidamente.
– Claro, Senhora Jackeline! Fique à vontade. – Ela limpa suas
mãos e vem ao meu encontro. – Me deixe arrumar a mesa para
você.
A copa do escritório é simplesmente um charme, decorada com
motivos retrôs, com uma linda mesinha de vidro e cadeiras feitas em
um acrílico vermelho transparente, tudo nela é lindo e de bom gosto.
– Oh, não precisa se preocupar comigo, eu me ajeito – falo
constrangida, vendo a mulher toda preocupada, colocando um apoio
para pratos, copos e talheres, deixando tudo perfeito, como se eu
estivesse em um restaurante.
Mal sabe ela que eu trouxe um mísero lanchinho de queijo
branco e peito de peru com salada.
Ela não se deixa abalar com o que digo, logo a mesa está
arrumadíssima.
– Oh, muito obrigada, mas só vou comer um lanche – digo sem
jeito.
– Temos suco aqui, o Doutor Rui trata muito bem seus
funcionários – ela diz orgulhosa.
– Eu aceito, esqueci de trazer algo para tomar – digo
constrangida.
De fato, eu não tinha nada para trazer, deveria ter feito um suco
de laranja, mas achei que não daria tempo.
Ela enche um copo com suco para mim, e me olha sorrindo.
– Obrigada! – Sorrio de volta. – A senhora está servida, é só um
lanchinho...
Ela abana suas mãos acanhada.
– Não, obrigada, fique à vontade. – Ela volta para sua pia, coloco
meu celular em cima da mesa e como vagarosamente meu lanche.
Acho que isso é melhor que salada. – Penso.
Enquanto como, aproveito para ler notícias, ou fofocas em meu
celular e não percebo alguém se sentar à minha frente.
– Com licença! – Levanto meus olhos e dou de cara com um
rapaz moreno, bem bonito, todo engravatado, aliás, todos os
homens aqui usam terno e gravata.
– Claro, fique à vontade! – respondo.
Ele estende sua mão para mim.
– Sou o Fernando! Você é a Jackeline, não é mesmo?
O cumprimento.
– Sim, sou a secretária do Doutor Rui – respondo um pouco sem
graça.
O Doutor Rui deveria ter me apresentado para as pessoas, é tão
chato trabalhar num lugar que a gente não conhece ninguém.
– Eu já sabia, a Carolina contou que você estava começando. –
Ele tira algo de uma sacola. – Se você não se incomodar, vou fazer
companhia para você – ele diz discretamente.
– De jeito nenhum, eu já estou acabando – digo apressada.
– Não precisa ficar com pressa, eu não mordo! – Ela dá um
sorriso largo e sedutor.
Todos os homens deste escritório devem fazer curso com o
Doutor Rui.
– Não estou com pressa – digo constrangida. – Eu realmente já
acabei meu lanche.
Termino de tomar meu suco, me levanto e levo meu copo até a
pia.
– Bom almoço! – falo ao passar pelo Fernando.
– Que pena que não pude usufruir de sua companhia! – ele diz
galanteador. – Talvez um dia eu convide a secretária do chefe para
almoçar.
Abro a boca para responder, ele me deixou meio sem graça, mas
aí ouço o vozeirão do meu chefe.
– Tudo bem por aqui, Jack?! – ele me olha meio ameaçador. – O
Doutor Fernando parece que não está se comportando
adequadamente! – ele olha de lado para o rapaz.
O Fernando dá risada.
– Como assim, chefe? – O rapaz diz sem graça. – Só disse que
um dia desses vou convidar sua secretária para um almoço! – Ele
dá de ombros e eu fico ali feito uma panaca, nem sei o que dizer.
Olho para o Doutor Rui, e lá estão aqueles olhos semicerrados, e
não sei muito bem o que ele quer dizer quando me olha assim.
– Eu já almocei, dá licença. – Olho para o rapaz. – Prazer,
Doutor Fernando! – E saio apressada da cozinha.
Esse meu chefe é bem possessivo.
****
Depois que ela foi embora, tentei retomar o que estava fazendo,
mas ela fodeu com minha concentração.
Não consigo tirar da cabeça essa merda de encontro que ela
terá com um filho da puta.
Volto para minha mesa, digito o nome do site de
relacionamentos, insiro seu login e senha, e fuço indiscretamente
sua caixa de mensagens.
Leio a mensagem que ela trocou com o cara e tenho certeza
absoluta que esse encontro é uma roubada. Isso não deveria me
incomodar, eu deveria estar pouco me fodendo para as merdas que
ela queira fazer com sua vida.
Ela acabou de sair de um relacionamento com um viado, agora
vai procurar relacionamento em um site que só tem cara cafajeste
(ok, eu sou cafajeste, mas eu me importo com ela).
Esfrego meu rosto, fecho os olhos e tento pensar com clareza,
mas a clareza não vem, eu preciso ver com quem ela está se
encontrando.
Pego meu terno, minhas coisas, e saio apressado para o
shopping, espero que a encontre a tempo, antes do estupro, ou
coisa pior.
Chego ao meu carro e saio feito um alucinado em direção ao
shopping, deixo o carro com o Valet Parking, ando apressado para
os elevadores, mas sou parado por um porra de um cliente.
– Doutor Rui, que prazer te encontrar aqui! – O homem fala
calmamente, cheio de simpatia.
– Como vai, Arthur? Realmente é um prazer! – Aperto sua mão
apressado.
Ele começa a falar besteiras, amenidades, e eu começo a olhar
para o relógio.
– Desculpe, Doutor Rui, estou aqui falando, nem perguntei se
você tem um compromisso! – ele diz, e eu agradeço.
– Desculpe, Arthur, estou muito atrasado. Quando der, passe no
escritório, podemos tomar um café e conversar com calma. – Não
dou tempo para ele responder, apenas aperto sua mão e saio meio
correndo para o elevador.
A área de alimentação é enorme, passo meu raio X pelo local, às
vezes pareço mais um investigador de polícia do que um advogado,
sou um cara meio neurótico. Como advogado já vi muita coisa ruim
por aí, a Jackeline parece que nasceu no país da Alice, e não no
Brasil.
Finalmente a acho, ela conversa com o cara, e balanço minha
cabeça ao ver o figura.
– Caralho, eu sou bem melhor que ele, entre nós, a Jackeline
está apelando! – Sigo vagarosamente em direção a eles, não quero
que ela me veja, só quero observá-los.
De fato, não sei o que vou fazer, estou me sentindo um idiota.
Me sento em uma mesa em sua lateral, ela está entretida com a
conversa, mas não parece muito empolgada, parece nervosa, ela
mexe muito as mãos, e isso já me fala tudo sobre ela.
Pego meu celular para disfarçar, caso contrário parecerei um
maluco observando o casal.
De repente, vejo a mão do cara embaixo da mesa, ele titubeia,
mas isso foi o suficiente para me fazer levantar, mas não cheguei a
tempo, o filho da puta meteu a mão nas coxas da Jackeline.
Porra, o sangue ferveu, ninguém coloca a mão na Jackeline, não
antes de mim.
Chego até ela em segundos, e a pego assustada.
– Jackeline!
Ela se levanta na mesma hora, parece muito feliz em me ver,
pudera, eu a salvei do maníaco.
– Oi! – Ela me olha com um sorriso largo, e penso, filha da puta
não me ouviu, mas agora está feliz em me ver.
– Então, minha carona para o curso chegou – ela diz para o
cara, pelo visto já estava tentando fugir do encontro fracassado.
– Foi um prazer te conhecer! – ela diz para o esquisito, se vira
para mim apressada. – Podemos ir? – Tenho vontade de deixá-la
aqui, só para aprender, mas aí não vou conseguir dormir de
preocupação, então apenas balanço positivamente minha cabeça.
– Sim, Jackeline, podemos ir. – Pego em seu braço, sem
maiores delicadezas, ela me irritou muito hoje.
– Obrigada, acho que ele era tarado! – ela diz muito feliz, e tenho
vontade de colocá-la no meu colo e bater em seu bumbum gostoso.
Mas, tudo bem, minha hora vai chegar.
Capítulo 21
JACKELINE BARTOLLI
Existem momentos na vida que a gente precisa se redimir.
Eu claramente fiz uma cagada ao marcar aquele encontro, e não
vou ser hipócrita, o Doutor Rui tentou me avisar, ele foi gentil demais
comigo, eu o encheria de beijos, mas não posso, estou me
esforçando muito para não fazer isso, eu realmente adoraria pagar o
que ele fez por mim em beijos, abraços...
Fecho meus olhos rapidamente, não posso andar ao lado dele e
ficar imaginando coisas eróticas, isso é muito esquisito.
Estamos seguindo para o estacionamento, ele continua com
aquela cara enfezada, e isso o deixa ainda mais sexy.
Mas eu preciso agradecer, independente de sua cara feia linda,
eu preciso agradecer.
– Doutor Rui. – O chamo cuidadosa.
– Doutor Rui é o caralho, Jackeline! – Ele rosna feito um leão
preso em uma jaula, com fome e estressado.
Arregalo meus olhos, mas ele não me olha, parece muito furioso
comigo.
– Não me chama mais de Doutor Rui, caso contrário, a chamarei
de Dona Jackeline! – Ele me olha rapidamente, e volta a olhar para
frente.
Enrugo minha testa.
Jesus, que homem mais esquentado.
– Tá bom, eu esqueço às vezes. Eu passo o dia ouvindo todos te
chamando de Doutor Rui, é difícil chamá-lo só por Rui. Você me
entende? – O olho de lado, ele rosna alguma coisa, reviro meus
olhos e volto a andar com ele.
Afinal, para onde estou indo com ele? Eu só preciso pegar um
ônibus e seguir para o metrô, mas o vendo nervoso deste jeito, fico
temerosa.
– Posso te dizer obrigada? – falo feito uma criança com medo.
Ele me olha de lado.
– Isso é o mínimo que você deve fazer, Jackeline! – ele diz
irritado.
Paro a sua frente, o olhando nos olhos, que possuem uma cor
muito diferente, cinzas com algumas manchinhas amareladas.
– Obrigada por ter ido até lá, por ter se preocupado comigo e por
ter tentado abrir meus olhos. – Ele me encara, daquele jeito irritante.
– Eu não fui até lá por sua causa, eu iria jantar, mas aí eu vi
você. – Ele dá de ombros, fico um pouco decepcionada, mas eu
realmente exagerei ao achar que ele iria até lá por minha causa.
– Oh, claro, é que como ainda é um pouco cedo, não pensei
nisso! Mas todo o resto vale, te agradeço por ter me salvado do
gordo tarado. – Não consigo segurar um sorriso, eu sou uma piada.
Aos poucos vejo o sorriso se formando em seu rosto, mas ele
não quer sorrir, fica segurando seus lábios, ele fica lindo assim.
– Pode rir, meu encontro foi um desastre! – Começo a rir, rir
muito, eu sou muito sem noção.
Limpo as lágrimas que saem dos meus olhos, e o vejo
controlando seu riso, ele se aproxima e segura minha cintura,
diminuindo a distância entre nossos corpos, estou a um tris de roçar
meus seios em seu peito, sinto um gelado no estômago, fico séria e
tento respirar.
– Não faz mais isso, Jack, é perigoso! – Ele me encara, e
mergulho em seu olhar, e sinto meu coração disparar em meu peito.
Coloco a mão em seu peito, e me afasto.
– Nunca mais! Eu aprendi a lição, prefiro ficar solteirona! – Tento
sorrir, mas o clima entre nós está tão tenso que eu sinto a tensão no
ar. – Eu vou pegar um ônibus, olho para a porta, deve ter algum que
vai até o metrô.
– Você não vai a lugar nenhum! – ele diz com seu jeito de
advogado prepotente.
– Vou ficar aqui, no meio do shopping, é isso? – Tento
descontrair, ele está tão sério.
– Você vai jantar comigo, afinal, deixei de jantar por causa de
seu encontro romântico. – Ele coloca a mão em minhas costas e me
faz voltar a caminhar.
Tento pensar sobre o assunto, mas não acho que seria uma boa
ideia dizer que não quero. De fato, eu quero, mas é que acho tudo
isso muito perigoso, ele é muito envolvente, está difícil me controlar.
Entramos em seu carro, ele liga o DVD e começa a tocar aquela
música deliciosa, nunca pensei que iria gostar tanto de músicas
tocadas no piano.
Tento relaxar, o olho algumas vezes, mas ele está compenetrado
no trânsito, parece meio tenso, e acho tudo isso muito estranho.
– Para onde estamos indo? – pergunto mais para relaxar o clima,
não estou muito preocupada para onde iremos.
– Você vai ver, estamos próximos! – ele diz sem olhar para mim,
apenas dirige seu carro maravilhoso, confortável e sofisticado.
Acho que nunca havia entrado em um carro como este, o carro
do Renato é um modelo antigo, ele tem mania de coisas antigas,
parece velho.
De repente ele estaciona, olho para o vidro do passageiro e vejo
um restaurante sofisticado, daqueles que eu nunca entraria se fosse
em outra ocasião. O manobrista abre a porta para mim, saio e logo
o Rui está ao meu lado, com sua mão em minhas costas, já até me
acostumei com isso.
– Esse restaurante parece muito sofisticado – falo um pouco
incomodada, confesso que sou uma pessoa simples.
– Um pouco, mas você irá gostar. – Ele me olha de lado, e dá um
sorriso enigmático.
Disfarço meu olhar e sigo ao seu lado, logo um homem elegante
nos leva até uma mesa, remexe em seu bolso, e acende uma vela.
Sorrio com aquilo, e olho para ele.
– Vamos jantar a luz de velas? – falo irônica.
– Algum problema, te incomoda? – Ele vira seu rosto de lado,
sorri levemente.
– Não, eu acho... (iria dizer romântico, mas não posso) lindo,
adoro velas! – Disfarço, o garçom se aproxima trazendo os
cardápios.
– O que você quer comer? – ele diz sério, e eu gostaria muito de
quebrar essa dureza dele, mas não sei como.
Olho para o cardápio meio perdida.
– Tenho dificuldade de decidir sozinha, me ajuda? – Olho para
ele, um pequeno sorriso surge em seus lábios.
– O que você acha de pedirmos esse? – Ele mostra o prato no
cardápio, vejo o preço ao lado, uma verdadeira fortuna, mas tento
não dar na cara minha cara de espanto.
– Vou te confessar uma coisa... – Ele me olha interessado. –
Acho que não existe nada que eu não goste, tenho tentado ficar nos
pratos mais leves, mas hoje vou abrir uma exceção, estou em dívida
com você! – Sorrio tentando conquistá-lo.
– Deixa o seu regime para outro dia, Jack, é uma ofensa entrar
nesse restaurante e pedir salada! – ele diz charmoso.
– Certo, você está coberto de razão! Aliás, hoje concordarei com
tudo que você disser! – Brinco.
Ele dá um sorriso genuíno, com cara de Rui. Ele balança sua
cabeça e me olha, e parece que consegui acabar com seu mau
humor.
– Você não deveria ter me dito isso, Jack! – Ele me encara, e
acho que estou em uma enroscada. – Usarei sua informação a meu
favor.
– Oh, vamos com calma... – Finjo estar preocupada. – Só estou
tentando ser simpática.
– Você precisa me compensar, hoje você foi muito má, vou
pensar a melhor forma de fazermos isso! – Ele me olha sedutor, e
me deixo levar, a companhia dele é tão fácil, deliciosa. – Vamos
tomar um vinho, estou meio tenso hoje, preciso de um vinho para
desestressar. – Ele levanta seu braço, e lembro do vexame em seu
apartamento.
– Me lembre de que não posso passar de duas taças! – Sorrio
para descontrair.
– Qualquer problema, te levo para minha casa, te coloco na
cama, e o Bóris dorme com você! – ele diz brincalhão.
– Oh, o Bóris, que saudades dele! – falo saudosa. – Ele está
bem? – pergunto para relaxar.
– Com saudades de você. – Ele me olha sobre os cílios.
– Como você sabe, você fala cachorrez? – Brinco.
– Falo, Jack. – Ele sorri debochado. – São cinco anos juntos, o
maior e melhor relacionamento que já tive, e já falo cachorrez! – O
olho demoradamente, e tento processar sua informação, ele nunca
teve relacionamentos longos e duradouros, é uma pena.
– Leva ele um dia no escritório, para passar o dia com você, eu
cuido dele, e assim mato as saudades! – O garçom chega com o
vinho, esperamos ele sair.
– Ou você vai até meu apartamento visitar o Bóris! – Ele bebe o
vinho e me olha sedutor.
Sorrio, ele é cara de pau, mas eu gosto do seu jeito.
– Quem sabe, não é mesmo? – Desconverso.
O garçom volta para anotar nossos pedidos, bebo meu vinho, e
estou começando a ficar acostumada com essa história de vinho.
– Me conte como foi seu encontro – ele diz.
Sorrio constrangida.
– Horrível! – Torço meus lábios. – Ele tinha mau hábito, e ficava
em olhando com cara de tarado! – Ele dá uma gargalhada.
– Culpa sua Jack, você está muito sexy hoje.
O encaro por alguns segundos, e então falo:
– Mas isso não tem nada a ver com o mau hálito! – Disfarço. – E
também, a foto do site não tinha nada a ver com ele atualmente,
pelo visto, foi tirada há 10 anos atrás. – Brinco com minha taça.
– Eu te avisei. – Ele me olha de lado.
– Eu sei, não precisa ficar repetindo isso, é meio irritante, sabia?
– Ele sorri novamente, já voltou a ser o Rui que conheço.
– Você que é irritante, Jack! – ele diz meio sério, me encarando,
me enervando muito.
– Não gosto quando você me olha assim. – O olho e ao mesmo
tempo desvio meu olhar.
– Eu te deixo nervosa?! – ele diz me olhando intensamente.
– Sim, eu já te disse isso – falo desviando meus olhos dos seus.
– Eu gosto de ficar te encarando, faz parte da minha tática, gosto
de deixar as pessoas incomodadas, nervosas. Sou assim, Jack! –
Ele encosta suas costas na cadeira.
Sorrio, respiro e inspiro.
– Então, não vou mais me incomodar com isso – falo com
desdém.
Sua mão vai até a minha e a acaricia, me fazendo sentir aquele
maldito friozinho na barriga, e por fim ele a leva até seus lábios e a
beija.
Ele quer que eu me apaixone por ele, mas eu não quero, e não
devo.
O beijo termina, mas ele não larga minha mão, fica roçando seus
lábios na pele do meu dorso. Isso é muito excitante, assim como
seus olhos me encarando.
– Isso é assédio, sabia? – digo quase em um sussurro, sentindo
meu coração na boca.
– Por quê?! – Ele faz cara de inocente.
– Seduzir a funcionária – digo meio mole.
– Eu não estou te seduzindo, beijo na mão é sinal de respeito,
aprendi isso nos livros de história – ele diz num tom debochado.
– Não acho que isso seja falado nos livros de história – falo em
um tom divertido.
– Eu já li isso, não lembro aonde! – Mais um beijo em meu dorso,
e estou salivando, minha boca queria ser minha mão.
– Numa revista de sacanagem?! – Brinco, e roubo mais uma
risada contagiante dele.
– Não, nas revistas de sacanagem se fala de tudo, menos de
beijo na mão, Jack! – Ele franze a testa.
– Não leio muito esse tipo de revista. – Sorrio.
– Pois deveria, dá para aprender bastante coisa. – E ele me olha
daquele jeito sedutor.
– Sério?! – falo em tom divertido. – Prefiro aprender na prática, é
mais prazeroso!
Mais uma risada linda, porque esse homem tem uma boca linda.
Uma música ambiente começa a tocar, olho em direção ao som
e vejo alguns poucos músicos, um piano, e um violino.
– Essa música combina com você – digo ouvindo a música
melodiosa tocando.
– Não vou mentir, adoro isso – ele diz olhando para o lugar onde
eles estão.
Bebo meu vinho, esse clima todo está começando a me deixar
preocupada.
O olho enquanto ele admira os músicos, ele tem um perfil muito
bonito, seus ossos da face são bem marcantes, muito másculos. Ele
é um homem viril, exala masculinidade, poder, sexualidade.
O sexo com ele deve ser divino.
Seus olhos se voltam para mim e me pegam o admirando como
se ele fosse a estátua de um deus grego.
Tento sorrir, sempre faço isso quando sou pega no flagrante,
mas ele continua me encarando, vejo o garçom e suspiro aliviada.
Olho para o prato a minha frente e só falto babar, o cheiro e a
cara, estão me deixando louca de fome.
– Bom apetite, Jack. – Ele me olha e sorri.
– Para você também. – O olho de relance, e começo a cortar a
carne, macia e suculenta. – Isso é bom demais, Rui – digo
saboreando o sabor inigualável.
– Também acho. – Ele sorri levemente e volta a comer.
O prato de restaurante chique é muito pequeno, e isso veio a
calhar, eu não posso comer muito, mas me fartei, porque a comida
era divina.
– Maravilhoso, nota 10! – falo satisfeita.
– Falei que você iria gostar! – ele diz descontraído, bebericando
seu vinho, a segunda taça, e eu também, mas sinto aquela leveza
típica da bebida alcoólica.
O garçom se aproxima para encher minha taça, mas recuso.
– Jack, eu vou te levar para sua casa, não precisa ficar
preocupada – ele diz de uma forma leve, me fazendo esquecer que
sou sua funcionária.
O vejo chamando o garçom, o maldito enche minha taça e a
dele.
– Vamos beber quantas garrafas? – Brinco.
– Sei lá, quantas aguentarmos! – ele diz divertido.
– Eu não aguento mais uma taça, vou começar a contar piadas,
iguais às que você conta para seus amigos – digo debochada.
– Adoro uma piada de sacanagem, pode contar! – Ele finge estar
interessado, aproxima seu corpo da mesa.
– Não, fico tímida, só conto para minhas amigas! – Dou uma
risada.
Acho que não posso beber mais, estou me soltando demais.
Ele se levanta, o olho confusa, dá a volta na mesa, pega em
minha mão e fala:
– Quero dançar com você – Eu petrifico.
Sorrio sem graça.
– Não sei dançar essas músicas – digo sem graça.
Ele me puxa, me faz ficar em pé, e diz próximo a mim:
– A mulher não precisa saber dançar, porque é o homem que
conduz a dama. – Ele passa seu braço por minha cintura e me
conduz até a pista de dança, que está vazia.
Ele me coloca de frente para ele, olho no olho, passa seus
braços pela minha cintura, aproximando nossos corpos, descanso
minhas mãos sobre o seu peito.
– Me sinto um pouco constrangida. – Torço meu nariz.
– Por quê? – ele diz sorrindo.
– Só nós que estamos dançando...
– Perfeito, gosto de ser o centro das atenções! – ele diz com
ironia. – Relaxa, Jack! – Sua mão sobe em minhas costas, juntando
mais nossos corpos.
Me sinto tensa com esse contato físico tão íntimo, mas ele está
cada vez mais próximo de mim, até que eu já esteja sentindo meus
peitos contra o seu corpo.
Meus braços subiram até seu pescoço sem que eu tivesse
consciência, agora estamos literalmente abraçados, sinto sua
respiração contra minha orelha, seu perfume inebriando meu nariz,
que agora está em contato com a pele de seu pescoço.
Fecho meus olhos, isso é bom demais.
– Está melhor agora, Jack? – ele sussurra em meu ouvido, e
sinto seus lábios roçando minha orelha, e isso me causa um arrepio
por todo o corpo.
– Sim, está! – Sussurro sem olhá-lo, porque não acho que vou
resistir se olhá-lo agora.
– Você gostou de jantar comigo, foi muito ruim? – De novo
aquele sussurro, seguido pelo seu lábio roçando minha orelha.
Oh, meu pai eterno, como se escapa de um homem como esse?!
– Adorei, Rui – respondo com a respiração irregular.
– Então, por que você não quis vir ontem?
Sorrio contra seu ombro, o sinto se mover, olho para cima e lá
estão sem olhos sedutores em mim.
– Por que você está rindo? – Ele me olha sorrindo.
– Porque você é engraçado! – O olho de soslaio, tento manter
minha cabeça onde estava, entre seu pescoço e seu ombro.
– Você quer que eu te leve para sua casa? – ele pergunta e meu
coração dispara, fico tensa, não respondo. – Jack?! – Ele volta a
procurar pelo meu olhar.
– Acho melhor. – Ele me olha, parece decepcionado, mas por fim
sorri.
– Tudo bem, você é quem manda. – Sua mão pega na minha, e
me conduz novamente para a mesa, rapidamente ele pede a conta,
e logo estamos em seu carro.
– Pode me falar seu endereço, vou colocar no GPS para ficar
mais fácil – ele diz sério, talvez decepcionado.
Seria fácil ir para seu apartamento e transar a noite inteira, mas
não sei se seria fácil encará-lo depois no escritório.
Eu realmente não sei lidar com essa situação, tenho três
velhinhas que dependem de mim, eu não quero ser dispensada
porque ele não gostou muito do sexo comigo, mas também, posso
ser dispensada porque não fiz sexo com ele.
Falo rapidamente o nome da avenida, ele digita e começa a
dirigir.
Trocamos algumas palavras durante o caminho, de fato, nenhum
papo fluía muito bem, parece que eu consegui azedá-lo novamente.
Tento me concentrar na música, fecho os olhos por alguns
minutos, e sem querer, cochilo, e acordo com ele me chamando.
– Jack, chegamos. – Ele mexe levemente em meu braço, acordo
um pouco assustada, mas logo me situo.
– Peguei no sono, sou péssima quando bebo – falo sem graça.
– Posso te pedir uma coisa? – Ele me olha com uma expressão
engraçada.
– Claro! – digo, mas fico preocupada, o que será que ele quer de
mim?
– Eu preciso ir ao banheiro, estou apertado pra cacete! – ele diz
divertido.
Penso no nosso humilde apartamento, sofás velhos, tudo é velho
naquele apartamento, só eu me salvo. Mas, o que vou dizer, que ele
não pode subir?
– Tudo bem, então vamos, não quero te ver todo molhado,
parecendo um velho de 90 anos! – Brinco.
– Ok! – Ele sorri e sai do carro.
O sinto atrás de mim enquanto espero o porteiro abrir o portão.
Finalmente entramos e sigo com ele ao meu lado até o elevador.
Confesso que é um pouco claustrofóbico ficar com o Rui num
elevador nanico como é o elevador de nosso prédio.
Tento não pensar muito, porque daqui a pouco vou ficar nervosa
com ele em nosso apartamento.
– Rui! – Ele está de cabeça baixa, levanta e me olha. – Minhas
três velhinhas não são muito comportadas, então me perdoe se te
perguntarem alguma coisa indiscreta.
Ele sorri.
– Fique tranquila, estou preparado. – Ele dá um sorriso
tranquilizador.
– Tá bom. – Tento sorrir.
O elevador abre em nosso andar, são quatro apartamentos por
andar, o hall é um cubículo, pego as chaves na minha bolsa, e
posso senti-lo nas minhas costas, mas não me viro para checar,
apenas sigo com minha chave para a fechadura.
Abro a porta, fecho os olhos e peço a Deus que elas estejam
dormindo, mas logo desanimo.
– Jack, você demorou muito hoje! – Ouço a voz da minha mãe,
minha santa mãezinha controla minha vida como um marido
ciumento.
– Cheguei, mãe! – Olho para trás, ele sorri para mim. – Eu trouxe
um amigo... – Olho para ele, nem sei o que dizer, mas ele pisca para
mim.
A porta de entrada dá na sala de jantar, que está grudada a sala
de estar, as três velhinhas viram simultaneamente para me olhar e
parecem em choque.
Ouço a voz de trovão do meu chefe.
– Boa noite.
Olho para as três, e parecem três retardadas, ninguém fala nada.
– Mãe, ele disse boa noite! – falo sem graça, ela se levanta sem
jeito, arruma sua roupa.
Pobrezinha, não é para menos, nunca entra um homem nesse
apartamento, quero dizer, o zelador vive aqui fazendo consertos.
– Oi, me desculpe, é que não estávamos esperando que a Jack
trouxesse alguém! – ela diz toda envergonhada.
Ele estende sua mão para minha mãe.
– Meu nome é Rui, prazer em conhecê-la.
Olho desconcertada a timidez da minha mãe, o que será que ela
está pensando?
– O prazer é meu! Sou a Amélia, mãe da Jackeline! – ela diz
tímida.
Tento tirar a tensão.
– Aquelas são minha tia Ofélia, e minha avó Maria – falo
apontando para as duas velhinhas que se encontram com os
queixos caídos no pé.
– Quem é este moço, querida? – Minha vovó linda pergunta, é
claro que ela iria perguntar.
– Um amigo, vovó, mas pode continuar com sua novelinha, ele
só vai usar o banheiro, né, Rui?
Ele sorri, parece achar graça em tudo.
– Mãe, eu vou levá-lo ao banheiro do meu quarto, acho que está
mais em ordem – falo em código, porque o banheiro comum dessa
casa é realmente perigoso.
– Claro, Jack! – ela diz nervosa.
– Vamos, Rui, é por aqui. – Ando em sua frente, abro a porta do
meu quarto, que graças a Deus está em ordem.
– Dá licença. – Ele segue para o banheiro, me sento em minha
cama, cubro meu rosto com as mãos, e tento me acalmar.
Jesus, que provação!!!
Um barulho na porta, me recomponho, levanto e aguardo por
ele.
Ele sai cheirando sua mão.
– Esse é seu cheiro, Jack! – ele diz sorrindo.
Ele não parece aquele advogado foda que eu conheço, só um
cara lindo e acessível.
– Já não percebo mais os cheiros, estou acostumada com eles!
– Ele se aproxima de mim, meu coração volta a disparar.
– Então é aqui que você dorme. – Ele olha ao redor.
– Sim, é aqui que durmo e passo a maior parte do meu tempo
livre, não gosto dos programas que minhas companheiras de
apartamento assistem. – Ele sorri, mais um passo em minha
direção, o friozinho na barriga aumenta.
– Eu gosto de conhecer as pessoas por inteiro, onde moram,
seus familiares, essas coisas. – Estamos a um palmo de distância,
controlo minha respiração, ela está presa no meu peito, caso
contrário estarei respirando como se tivesse corrido 10 km.
Não respondo ao que ele disse, estou novamente absorvida pelo
seu olhar, seus olhos novamente vão para meus lábios, as batidas
do meu coração aumentam, sua mão segura meu pescoço e ele me
beija.
Puta que pariu, que beijo é esse?!
Sua língua envolve a minha de um jeito delicioso, excitante, mas
não é só isso, é a forma como ele move os lábios. Em segundos
estou em seus braços, e meus braços em seu pescoço, em seus
cabelos, e um beijo que começou comportado, de repente está
indecente, pornográfico, só falta a gente tirar a roupa.
– Jack?! – O barulho de porta abrindo me assusta, empurro o
Rui para longe de mim, olho para a porta e vejo minha mãe como a
boca semiaberta.
– Fala, mãe! – respondo irritada.
– Não, depois eu falo com você! – Ela encosta a porta e sai.
Olho para ele e vejo um sorriso de cafajeste.
– Foi engraçado, Rui? – pergunto sem graça.
– Foi! – Ele segura o sorriso e me olha. – E foi bom, acima de
tudo, muito bom...
– Eu acho melhor você ir, elas não estão acostumadas com
homens em nosso apartamento – falo constrangida.
– O seu ex não vinha aqui? – ele pergunta sério.
– Não, quase nunca! – Torço meus lábios.
– É verdade, ele é gay! – Ele ri, e eu também, já nem ligo mais
para o Renato, o filho da puta do Rui tomou todos os espaços que
ele ocupou um dia.
– Você quer tomar uma água? Deve ter também um chazinho,
elas adoram chá! – Sorrio sem graça.
– Uma água, se não for incomodar, não quero constrangê-la
mais. – Ele me olha de lado.
– Você não está me constrangendo! – Ele volta a se aproximar
de mim.
– Um último beijo, para eu dormir bem. – Ele volta a segurar meu
rosto, me sinto mole perto dele.
– Tudo bem, vou fazer essa caridade para você. – Me esgueiro
até seus lábios e o beijo, porque realmente essa boca deve ter
alguma droga.
Novamente seus braços me apertam contra seu corpo, sinto
meus seios espremidos contra seu peito e uma ereção enorme
contra minha barriga.
Que vontade de quero maisss!!!
Então sinto sua mão em meu traseiro, me assusto e me afasto,
mas ele gruda sua boca novamente a minha e me beija
desesperadamente.
Me afasto um pouco, mas sua boca volta a grudar na minha.
Será que ele quer transar comigo no meu quarto?!
– Rui! – falo em meio aos seus beijos, a sua língua deliciosa. –
Minha mãe deve estar atrás da porta esperando por nós.
Ele se afasta e me olha preocupado.
– Sério?! – ele diz com a testa franzida.
– Não, mas é bem capaz que ela bata na porta! – E como se
fosse magia, um toc toc toc.
– Jack?
Balanço minha cabeça e olho para ele, que está com a mão no
rosto, e rindo.
– Marcação cerrada, Dona Jackeline! – ele diz irônico. – Eu já
vou, não precisa de água. – Ele me olha. – A gente se vê amanhã. –
Ele titubeia. – Obrigado pela companhia, você é encantadora, Jack.
Me derreto como uma manteiga.
– Eu que agradeço pelo jantar, e pelo salvamento! – Ele sorri. –
Eu te acompanho até lá embaixo.
– Não, não precisa, eu não vou me perder. – Ele segura
novamente meu rosto com uma de suas mãos. – Adorei nossa noite,
foi fantástica. – Seus olhos mergulham nos meus, tão profundos,
sedutores.
– Eu também adorei! – Ele se inclina e me beija suavemente,
delicadamente, de um jeito terno, carinhoso, me fazendo sentir
plena.
Fecho meus olhos e me entrego à sequência de beijos, todos
são curtos, suaves, mas delirantes.
Que homem, meu Deus!
– Eu já vou, Jack! – Abro meus olhos, e o encaro, ele me levou
até as nuvens e me resgatou. Como será que é fazer amor com ele?
– Ok! – Sigo para a porta do meu quarto, a abro e como se fosse
mentira, encontro as três velhotas em pé no corredor dos quartos. –
Perderam alguma coisa?! – falo brava.
– Estávamos indo para o quarto, querida! – Minha avó diz
sorrindo. – Até logo, rapaz! Volte para jantar conosco, a Amélia é
uma cozinheira maravilhosa, você precisa provar seu bacalhau.
– Virei sim, é só a Jack me convidar! – Sinto sua mão em minha
cintura, e o maldito gelado no estômago. – Boa noite, senhoras!
Passamos por elas e reviro meus olhos ao constatar que elas
estão paradas no corredor olhando enquanto seguimos para a porta
de entrada.
Abro a porta, ele sai e me olha.
– Até amanhã, Jack – ele diz meigo, aliás, ele está
irreconhecível, esse não é o Doutor Rui, ele foi abduzido por este
homem gentil e carinhoso.
– Até amanhã, obrigada por me trazer nesse fim de mundo! –
digo sem jeito, ele terá uma viagem longa até sua casa.
– Foi um prazer, voltarei aqui para jantar. Fui convidado pela sua
avó, é falta de educação recusar convite de avó! – Ele sorri torto,
tenho vontade de beijá-lo novamente, mas não o faço, preciso me
controlar, senão parecerei uma mulher desesperada.
Ele seleciona o elevador e fico ali o olhando apaixonada, sim, me
sinto apaixonada por ele. Mas logo o elevador abre, ele acena para
mim e entra, e solto o ar.
Jesus, o que foi isso que aconteceu hoje?!
– Jack! – Minha mãe me chama. – Quem é esse homem, de
onde surgiu, e cadê o Renato?!
Ela diz indignada.
– Não namoro mais o Renato. – Sigo para o meu quarto. – Ele é
um amigo! – Não posso dizer que ele é meu chefe, minha mãe não
aprovaria, ela é muito correta.
Sigo para o meu quarto, mas encontro as duas outras
fofoqueiras.
– Que homem é esse, Jackeline? – Minha avó diz com a mão na
boca. – Que pão, minha neta, isso sim é homem, não aquela coisa
seca que você chamava de namorado.
Sorrio.
– Gostou, vó? Ele é muita areia para meu caminhãozinho, mas,
enfim... – falo confusa.
Ela dá um tapa em minha bunda e pulo de susto.
– Pelo menos esse traseiro grande serve para alguma coisa, ele
está louco para comer essa bunda! – Arregalo meus olhos
horrorizada.
– Mãeee!!! Você ouviu isso? – Minha mãe olha brava para minha
avó.
– Sua avó está esclerosando, Jackeline! Vá para seu quarto,
amanhã conversamos.
Sigo para meu quarto, estou em estado de torpor.
Coloco meus dedos sobre meus lábios, fecho meus olhos e sinto
uma excitação louca dentro de mim.
Nosso beijo foi incrível, aliás, há quanto tempo não sou beijada
desse jeito? Sei lá, acho que ninguém nunca me beijou assim.
Nossa noite foi mágica, maravilhosa, ele é incrível, e eu sei que
não posso me empolgar, mas eu quero aproveitar um pouco isso,
nem que seja só um pouco.
Capítulo 22
JACKELINE BARTOLLI
Acordo cedo, antes mesmo do despertador, na verdade, acho
que não dormi de fato, passei a noite sonhando com aquele ser
angustiante.
Ainda não caiu a ficha sobre o que aconteceu ontem, a gente se
beijou, foi tudo muito mágico, não me senti como se beijasse meu
chefe, ele era outra pessoa.
Mas, não posso me animar muito, ele me parece uma pessoa
bem instável em relação a mulheres.
Será muito estranho chegar hoje ao escritório e vê-lo novamente,
não sei como devo agir.
Sou uma mulher tradicional, quero dizer, tradicional em relação à
relacionamentos, acho que nunca “fiquei”, sempre tive
relacionamentos sérios e duradouros.
Fui criada em uma família muito tradicional, que preserva e
respeita as relações amorosas, não há casos de traição em minha
família, todas as minhas primas são casadas, construíram famílias,
possuem vidas invejáveis, pelo menos é o que tentam passar para o
resto da família.
Fecho os olhos e penso preocupada. Não quero ser a secretária
que ele come quando está entediado, não quero isso para mim!
Mas, foi tão bom...
Oh, que confusão que arrumei para minha vida!
Me levanto da cama e sigo para o banheiro, preciso de um
banho para me renovar.
****
Coloco outro vestido, ele é soltinho, com cara de praia, esse não
tem botões na frente, não dá para rasgar.
Me sento na cama e espero o Rui acabar de colocar sua roupa,
ele coloca uma sunga vermelha com duas listras brancas laterais,
ele fica muito gato de sunga, muito gostoso.
– Nossa, que bombeiro lindo! – falo e dou risada de meu
comentário.
Ele me olha com um sorriso torto.
– Bombeiro? – Ele se olha no espelho.
– É, bombeiros usam sungas vermelhas. – O olho de lado. –
Tenho uma tara por bombeiros.
Ele balança a cabeça de um lado por outro, parece indignado
com meu comentário.
– Brincadeirinha, Rui, nunca sai com um bombeiro. – Tento
consertar o que disse.
– Mas tem uma tara por eles? – Ele me olha sério.
– Tenho uma tara por você, de sunga vermelha! – Ele sorri, e já
sei que é muito vaidoso, adora que eu fique levantando sua bola.
Ele coloca uma bermuda e uma camiseta branca.
– Vou comprar uma camiseta vermelha, um short vermelho,
levamos uma mangueira para o quarto, e brincamos de bombeiro –
ele diz divertido.
Gargalho escandalosamente.
– E para que a mangueira? – Arregalo meus olhos. – Estou
contente com a sua mangueira! – Olho para sua área de lazer.
Agora é a vez de ele gargalhar.
– Oh, Jack, você é maluca, vamos tomar café da manhã!
Ele abre a porta do quarto, e me surpreendo ao ver o Bóris
deitado em frente à porta, tão carente!
– Oh, Bóris, você dormiu aqui, bebê? – Me agacho a sua frente,
e ele se desmancha todo, deitando e mostrando a barriguinha para
eu acariciar. – Oh, Rui, coitadinho, ele dormiu aqui, sem tapete, no
chão frio.
Olho para o Rui e ele revira os olhos.
– Bóris, você é um caso perdido. – Ele caminha para as
escadas, me deixando sozinha com o Bóris.
– Você não é um caso perdido. – Me inclino e encho o cachorro
de beijos, estou completamente apaixonada pelo Bóris, e talvez pelo
dono dele também, mas esse é outro problema, e não quero pensar
agora.
****
Não sei quando foi a última vez que passei um dia tão adorável
quanto o de hoje, realmente não me lembro.
Horas esticadas no sol, revezando entre um mergulho e outro,
muitos beijos e muitas guloseimas.
– Você está acabando com minha dieta, Rui! – digo depois de
me deliciar com uma taça de sorvete.
Ele é jeitoso, engraçado, me cobre de mimos, não vou mentir,
ele é incrível, está o tempo todo me oferecendo coisas, me dando
beijos, ele é apaixonante, pena que tenha um lado negro, aquele
que odeia relacionamentos.
– A gente está fazendo bastante sexo, Jack, uma coisa
compensa a outra – ele diz, e ri ao mesmo tempo.
Sorrio do que ele diz, e o beijo lambuzando seus lábios de
sorvete.
E assim seguimos até o final da tarde, deliciosamente, no melhor
final de semana da minha vida.
****
Acordar sentindo beijos por todo o meu corpo, é assim que tem
sido minha rotina.
O Rui pode ser muitas coisas, mas nunca poderei dizer que ele
não é o cara mais carinhoso do mundo, o mais atencioso, às vezes,
o acho romântico também.
Ele é o sonho de qualquer mulher.
Talvez ele ainda vá mostrar seu lado negro para mim, mas por
enquanto, eu só tenho conhecido um lado, e esse lado parece
compensar todos os outros.
Ele é incrível, nunca conheci alguém que me fizesse sentir tão
feliz.
Eu não sei ao certo o que ele sente por mim, mas o que fazemos
tem sentimento, não é só sexo, eu tenho certeza.
– A gente fez muito barulho, Rui? – Cochicho em seu ouvido, ao
mesmo tempo em que dou beijos em seu rosto, orelha.
– Provavelmente! – Ele ri, enquanto acaricia minhas costas e
meus cabelos. – Vamos nos levantar, gostosa, tenho muitas coisas
pra fazer hoje, não posso namorar o dia todo. – Olho para ele
lânguida, apaixonada, ele beija minha testa.
– É uma pena, mas você tem razão. – Me apoio em seu peito. –
Nossa noite foi maravilhosa, adoro quando você dorme aqui, é tão
emocionante! – Sorrio, porque acho que sou uma menina grande e
travessa.
– Você gosta de emoções, Jack? – Ele me olha enigmático. –
Vou ver o que consigo fazer a respeito disso. – Ele bate em meu
bumbum e se levanta.
– Ai, Rui, assim não gosto, quero a massagem! – Faço cara feia,
vendo o vergão vermelho que ele deixou.
– Não posso, minha delícia, eu não vou resistir a você, e aí
vamos começar tudo de novo, e só vamos chegar amanhã no
escritório. – Ele sorri e segue para o meu banheirinho. – Jack, é hoje
o evento, não se esqueça de levar o seu vestido, sapato, essas
coisas, você se arruma em meu apartamento – ele grita do
banheiro.
Olho para o teto insegura, mas espanto minhas inseguranças,
vai ser legal, tenho certeza disso.
Capítulo 44
JACKELINE BARTOLLI
Coloco meu vestido preto em uma sacola, assim como uma
sandália preta alta, com alguns strass em suas tiras.
Escolho algumas lingeries, maquiagens, perfume e acessórios.
Enquanto estou no quarto, o Rui está tomando café da manhã
com minha mãe.
Sorrio, as coisas entre nós estão indo tão bem que dá até medo,
mas sempre me lembro do que aconteceu em sua casa no interior,
seu ataque de nervos quando falamos sobre relacionamento, as
coisas que ele disse, enfim, não posso me esquecer disso.
Sigo para a sala, minha mãe conversa animada com ele, parece
tão à vontade, ele é um doce com ela, perfeito.
Suspiro e adentro a sala.
– Podemos ir? – Paro ao seu lado, ele me olha com um sorriso.
– Temos que ir, Dona Amélia, obrigado pelo café da manhã – ele
diz simpático, se levanta e segura minha mão.
– Imagine, pode vir quando quiser! Aliás, estou devendo a você
um bacalhau! – Minha mãe diz animada e me olha. – Combine com
ele, Jack, talvez no final de semana, o que você acha, Rui? – Ela o
olha ansiosa.
– Pode ser...
O interrompo.
– Eu combino com o Rui, mãe, e depois te falo. – Beijo sua testa.
– A gente precisa ir, bom dia!
Saímos rapidamente, entramos no elevador, ele segura meu
rosto e beija meus lábios carinhosamente.
– Pode combinar com ela, Jack. Eu não me incomodo de vir
almoçar com elas – ele diz carinhosamente.
Meu coração infla, estamos indo tão depressa com tudo, e mal
sei onde iremos parar.
Me sinto-me em queda livre, sem onde me segurar, sem destino,
tempo ou distância, apenas caindo.
– Obrigada, Rui, pelo carinho com elas – falo sentimental, acho
que estou entrando em minha TPM, comecei com aquele
sentimentalismo exacerbado, vontade de chorar por nada, a
segunda parte disso são meus nervos à flor da pele.
Ele beija minha testa, me abraça e o elevador abre.
Seguimos para o seu carro e logo estamos indo em direção ao
escritório.
****
Quero deixar claro que não tenho nada contra loiras, na verdade,
eu as invejo.
Gosto de ser sincera, e aqui não mentirei, acho as loiras
estonteantes.
Houve uma época da minha vida, que achava que poderia ser
loira, então, por volta dos meus 18 anos, encharquei meus cabelos
com descolorante e fiquei parecendo um travesti. Daquele dia em
diante, resolvi me conformar com minha morenice.
Mas, o fato de ver um desfile de loiras estonteantes na minha
sala, provocou em mim certa revolta.
Por que só tem candidata loira?
Essa é a pergunta que lateja em minha mente, e que irei
descobrir daqui a pouco.
Cada uma das quatro loiras se senta a minha frente, pernas
cruzadas, aliás, todas são altas, magras, e de novo, estonteantes.
Que raiva, elas são todas clones da vaca da Karen.
Então é isso, ele gosta de loiras, como sou idiota, a Priscila é
loira, a Karen era loira, e a próxima recepcionista será loira.
Jackeline sua idiota, esse cara é um safado inveterado.
Sorrio para as donzelas, todas em sua tenra idade, não devem
ter mais que 19 anos, ele também gosta de bebês.
– Olá, qual o nome de vocês? Preciso achar aqui o currículo
para o Doutor Rui entrevistá-las. – Tento ser simpática, mas não
consigo.
Cada uma das princesas me diz seu nome, imprimo os currículos
que ele tinha me enviado pelo e-mail, e vejo o histórico profissional
delas.
Que engraçado as lindezas só trabalharam em eventos como
recepcionistas, ou em feiras, tipo a feira do automóvel, todas são
como modelos, nenhuma fez nada da vida, uma das lindezas
frequenta a faculdade de Moda, a outra de Hotelaria, e as duas
outras apenas fizeram cursos “de modelo”.
Sorrio novamente para elas, elas não têm culpa.
Coloco novamente o colar que o Renato me deu.
Quer saber, não levarei o Rui muito a sério, ele é um cretino.
– Aguardem um momento, daqui a pouco o Doutor Rui chamará
por vocês! – Sigo para sua sala.
Abro e entro, e ele olha novamente para o colar.
– Qual o problema, Jackeline? Achei que tinha sido claro com
você! – ele diz nervoso.
Não me dou ao trabalho de responder.
– Qual o pré-requisito para ser a recepcionista de seu
conceituado escritório? – Não o deixo responder. – Talvez loira? – O
encaro cheia de raiva. – Alta? Magra? Estudante de Moda?
Hotelaria também serve?
Ele pisca os olhos nervosamente.
– O gerente de Recursos Humanos que selecionou – ele diz sem
graça.
– Como você é mentiroso! – Ele tenta me interromper, mas não o
deixo. – Você não tem vergonha na cara. – Estou enfurecida. – Qual
o teste que você fará agora? Um boquete, uma sentada no colo, o
que mais?
Sinto meu coração na boca, meus nervos estão à flor da pele.
– Não é nada disso, Jackeline, mas que porra! – Ele se levanta,
vem em minha direção, mas coloco minha mão bem aberta em sua
frente.
– Não chegue perto de mim, não o levarei mais a sério! Você é
um palhaço, Rui Figueiredo! – Saio batendo meu salto alto, mas ele
entra na minha frente, se posiciona na frente da porta, me
impedindo de sair.
– Jackeline, seja uma pessoa razoável, eu preciso de uma
pessoa com boa aparência para recepcionar os clientes, não estou
preocupado com a faculdade que ela faz, e o fato de ser loira foi
coincidência.
Não suporto ser enganada, nem tratada como uma idiota, então
perco a cabeça, e bato pela segunda vez em seu rosto.
Ele me olha enfurecido, mas não se move.
– Não sou idiota nem retardada, talvez você precise de garotas
assim para se relacionar, mas não será comigo. – Sinto minha
cabeça latejar. – Sai da minha frente.
– NÃO!!! – Ele grita, respira feito um touro enfurecido, fecha os
olhos, balança sua cabeça. – Ok, Jackeline, então qual a sua
opinião a respeito do melhor perfil para uma recepcionista de um
escritório de advocacia?
– Qualquer um! Loira, morena, negra, ruiva, velha, nova, gay,
diversidade, meu caro Rui Figueiredo... – bufo com raiva. – Existem
muitas pessoas inteligentes que poderiam ocupar esse cargo, e
engrandecer o atendimento do seu escritório.
Ele coloca suas mãos sobre seu rosto, bufa feito um touro, e
volta a me olhar.
– Ok, Jackeline, você venceu. Dispense as garotas, você irá
escolher “a nova” ou “novo candidato”, talvez um gay, você disse
isso, não é mesmo? – Ele enruga sua testa.
Então, num movimento rápido ele arranca o colar do meu
pescoço, me deixando atônita.
– Você quebrou meu colar! – falo indignada.
– Vou guardar isso para você, tenho um cofre, ele ficará bem lá.
– Ele sai da porta, e caminha a passos largos para sua mesa.
– Você não tem esse direito! – falo possessa.
– Assim como você tem o direito de interferir na contratação dos
meus funcionários, eu tenho o direito de interferir no que você usa. –
Ele se senta em sua mesa, coloca o colar em sua gaveta. – Vai,
Jackeline, dê uma desculpa para as meninas, diga que a secretária
do chefe não gostou delas.
Olho para ele com a boca semiaberta.
Estou incrédula!
– O que eu digo? – pergunto confusa.
– Se vira, Jackeline! E me deixa sozinho, você já me irritou
demais, o correspondente a uma semana inteira.
Saio da sala dele, olho para as garotas sem graça.
– O Doutor Rui está muito ocupado, então, eu irei entrevistá-las.
– Sorrio de novo, eu fiz uma grande cagada. – Vocês me
acompanhem até uma sala, faremos uma entrevista em grupo.
Elas sorriem meio sem graça, apenas uma garota parece
interessada de qualquer modo.
****
Nos sentamos em uma mesa redonda, olho uma por uma, elas
não parecem gostar muito da mudança de planos.
– Então, me fale um pouco sobre você, Larissa, é isso? –
Começo pela mais simpática.
– Bom, tenho 18 anos, ainda não comecei minha faculdade, na
verdade meus pais estão sem grana para pagar – ela diz sem graça.
– E o que você quer prestar? – pergunto com o currículo dela em
minhas mãos.
– Quero fazer Gastronomia, adoro cozinhar, aprendi com minha
avó, mas essa faculdade é bem cara, e o curso é diurno, fica difícil
trabalhar e estudar... – ela diz desanimada. – Talvez eu faça
administração, apenas para ter uma faculdade.
– Você já tentou uma dessas bolsas de estudos do governo? –
Sinto pena da garota.
– Não, preciso primeiro entrar em algum curso, é complicado –
ela diz, parece inteligente, esperta.
– Certo... – Penso um pouco. – Você gosta de lidar com
pessoas, do trabalho de recepcionista?
– Mais ou menos, mas me dou bem nessas feiras, a aparência
ajuda.
Desanimo.
– Você poderia escrever para mim uma redação? O assunto que
você quiser! – Entrego para ela um bloco de papéis.
– Ok. – Ela sorri, e concluo, ela é muito bonita, não serve para
ser a secretária do Rui, irei morrer de ciúmes.
Sigo para a próxima.
– Você é a Patrícia, é isso?
– Sim! – ela responde, não parece muito simpática.
– Me fale um pouco sobre você.
– Meu sonho é trabalhar em um grande hotel, tipo o Gran Hyatt.
Também penso em trabalhar em cruzeiros, adoro viajar...
– Sei, e porque você não tenta um trabalho como este? Por que
está se candidatando a um cargo num escritório de advocacia?
– Oh, não sei, minha mãe disse para eu tentar.
– Entendo... – Olho para essas meninas com pesar, todas estão
perdidas. – Se eu fosse você, tentaria apenas o que você quer de
fato, não faça o que não gosta, só te trará frustração.
Ela sorri timidamente
– Obrigada pelo conselho. Estou dispensada? Não gosto muito
de escrever, aliás, sou péssima.
Olho para ela decepcionada.
– Tudo bem, pode ir.
Termino de entrevistar as outras duas, e não vejo nada muito
diferente, todas perdidas, mal sabem por que estão aqui.
Por fim, apenas duas quiseram fazer a redação, as outras duas
simplesmente desistiram apenas pelo fato de ter de escrever.
Lamentável.
Finalmente termino a entrevista.
Sigo com os currículos para minha sala, mal sei o que fazer com
as anotações que fiz, não quero e não vou escolher a próxima
recepcionista.
Sigo para a sala do Rui, bato na porta, ele me olha por sobre
seus óculos.
Ele não está para conversa, então vou logo ao assunto.
– Não achei justo dispensar as meninas sem ao menos
entrevistá-las, então tomei a liberdade de fazer isso. – Coloco os
currículos sobre sua mesa. – Aqui estão minhas anotações a
respeito de cada uma delas, mas duas delas desistiram quando pedi
para escreverem uma redação.
Ele nem ao menos me olha, então viro em meus calcanhares e
sigo para a porta.
– Escolha você, tire esses papéis daqui! – Ele pega os papéis
em sua mão e os direciona para mim.
– Eu não vou escolher ninguém! – Abro a porta e saio, mas me
surpreendo com a porta abrindo.
Ele sai nervoso, joga os currículos sobre minha mesa.
– Eu já disse, você irá escolher “A” profissional ou “O”
profissional para este cargo. – Ele me encara intensamente. – Não
quero falar mais sobre este assunto, Jackeline, a responsabilidade
agora é sua!
Ele dá as costas para mim, entra e bate a porta de sua sala com
força.
Olho para a cena incrédula.
Oh, que merda que fiz!
Capítulo 56
RUI FIGUEIREDO
Ando freneticamente pela minha sala, eu não estou acreditando
no que aconteceu à pouco.
A Jackeline é louca!
Tudo bem, talvez eu tenha sido um grande idiota, preciso apenas
de uma recepcionista, se será loira, morena ou cinza, tanto faz.
Certo, ainda tenho minhas recaídas, não resisto à mulher bonita,
adoro estar rodeado delas, mas não estava planejando comer a
próxima recepcionista.
Bom... pelo menos por enquanto.
Dou risada.
Não, acho que não, a Jackeline realmente me pegou de jeito.
Aliás, insisto, ela é louca, mas estou apaixonado por ela, essa é
a verdade nua e crua.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto, e tento me acalmar.
– Da próxima vez que ela bater em meu rosto, ela vai levar o
dela, essa é a última vez.
Abro a gaveta e olho o maldito colar.
Será que ela está falando a verdade?
Se a Jackeline estiver me enganando, eu a mato. E ele, aquele
bicha enrustida, eu ainda vou provar para ela que aquele cara
queima a rosca.
Mais alguns passos pela minha sala, olho pela janela para
espairecer, e meu celular toca.
Ando até minha mesa, é uma ligação do Doutor Albuquerque.
Bufo nervoso, não é um bom momento para falar com ele, mas
enfim, preciso voltar meu foco para o trabalho.
– Bom dia, Doutor Rui! – ele diz em tom formal.
– Bom dia, Albuquerque! Como vai?
– Bem, e você? – ele diz num tom meio estranho.
– Tudo certo! – respondo distraído.
– Gostaria de marcar com você aquele almoço ou jantar que
combinamos. Precisamos rever nosso acordo de negócios.
Enrugo minha testa, isso não está me cheirando bem, talvez
agora melou de vez. No fim das contas, acho que o acordo só
existia por causa de meu relacionamento com a Priscila.
Sou um idiota, achava que era pela minha competência.
– Ok, quando você quer fazer isso? Acho melhor um jantar,
estou com muito trabalho, tenho evitado almoços de negócios.
– Estou com um pouco de pressa, o que você acha de hoje à
noite?
Oh, ele está com pressa, pelo visto a merda é grande.
– Certo, como você quiser. – Penso um pouco, não quero que
sua filha vá, mas como posso dizer isso sem ofendê-lo? – O jantar
será apenas eu e você, correto?
– Não, Doutor Rui, minha filha é minha parceira de negócios,
trabalhamos juntos, ela amarrou todo o negócio que fizemos, então,
nada mais natural que ela esteja junto.
Fecho os olhos e bufo exausto.
Que merda que arrumei para a minha cabeça, ele pensa que sou
burro, que irei ceder apenas por causa de alguns processos que ele
manda para mim. Gosto de dinheiro, mas não vendo minha alma ao
diabo.
Ok, eu já vendi no início da minha carreira, mas não vendo mais.
Estou consciente que irei perder essa merda, será ruim, mas
sobrevivo sem eles.
– Tudo bem, escolha o restaurante. Prefiro que seja às 21h, o
que você acha?
– Gosto do All Seasons, é discreto, às 21h, até lá!
– Ok!
A ligação é finalizada.
Perfeito, meu dia começou bem complicado, espero que pare por
aí.
****
Semanas depois.
Entro no consultório da médica especialista em endometriose.
Nos cumprimentamos rapidamente, ela é bastante objetiva, um
tanto quanto seca, mas parece competente.
Falo rapidamente do meu histórico, ela olha todos os exames
que fiz no hospital e então, finalmente fala, e agradeço, já estava
ficando agoniada, essa mulher parece uma múmia.
– Então, Jackeline, não tenho dúvidas sobre seu diagnóstico,
mas pedirei um exame de vídeolaparoscopia para analisarmos
melhor o seu útero, ovários, enfim, é assim que procedo
normalmente. Pela imagem dos exames seus ovários não parecem
muito comprometidos, mas é importante checarmos isso com
cuidado.
– Doutora Mariana, quero muito ser mãe, você acha que será
possível? – falo com cuidado, tenho medo da resposta, mas não
posso evitar esse momento.
– Não sei, Jackeline, isso dependerá do quanto a doença
comprometeu seus ovários! – Respiro fundo. – A endometriose pode
comprometer seriamente os óvulos, os tornando enfraquecidos,
difíceis de serem fecundados. Mas, ainda assim, uma fertilização in
vitro pode ser a solução, seu útero está ok, você pode manter uma
gestação, enfim. Tudo dependerá do que vermos neste exame.
– Certo! – A olho entristecida. – Podemos marcar para logo, não
aguento mais a agonia de esperar para saber se poderei ser mãe ou
não!
Ela dá um sorriso insosso.
– Você é casada? – Ela olha discretamente para minha mãe
esquerda.
– Não! – Me sinto constrangida.
Ela levanta levemente suas sobrancelhas, talvez pensando
porque estou com tanta pressa se nem casada sou!
– Oh, claro, preciso examiná-la, deite-se na maca.
Sigo para um biombo, tiro minha roupa e me deito na maca.
Ela faz o exame de toque, e então fala:
– Sinto seus ovários um pouco endurecidos, possivelmente são
cistos que se formaram em função da doença.
– Mais uma notícia ruim, não é mesmo? – Seguro as lágrimas.
Ela não diz nada, o que me parece um sim, mas uma notícia
ruim.
– Você pretende tentar engravidar de imediato, ou somente para
o futuro? – ela diz cuidadosa.
– Não tenho um macho interessado em me engravidar, então
será para o futuro.
Pela primeira vez, vejo seus dentes, ela sorri, pelo visto gosta de
uma piadinha sarcástica.
– Bom, então vamos seguir com os exames e cuidar de você.
Pode se levantar. Não vejo necessidade de uma cirurgia para
retirada dos excessos, mas precisarei vê-la a cada seis meses, não
vamos descuidar, se você ainda quer ser mãe, e espero
sinceramente que o seja, não podemos deixar a doença avançar em
seu útero.
Sorrio, no final das contas, ela parece ter coração.
– Doutora, só mais uma dúvida. – Ela me olha interessada. –
Esse procedimento in vitro é eficaz, e... eu nunca conseguirei
engravidar da forma convencional?
– Jackeline, cada caso é um caso, existem mulheres que
precisam fazer a inseminação várias vezes, porque muitas vezes o
óvulo não vinga quando é colocado no útero. Quanto à outra
pergunta, as chances são muito pequenas, porque suas trompas
estão comprometidas, o que impede o espermatozoide conseguir
fecundar o óvulo. Será muito difícil, quase impossível, mas...
– Oh, que merda! – Fecho os olhos e respiro. – Qual o custo
desse procedimento, quero dizer da fertilização in vitro?
– Uns dez mil reais por procedimento...
Arregalo meus olhos.
– Oh!!! – falo admirada. – E normalmente quantos procedimentos
são necessários?
– Depende, existem mulheres que fazem até dez inseminações,
ou mais. Mas, também, já vi casos em que apenas três foram
suficientes, enfim, cada caso é um caso.
No mínimo preciso ter trinta mil reais, o que não é pouco.
– Ok! – respondo desanimada.
Enquanto ela faz as prescrições médicas, penso no que ela
disse.
Se houvesse a chance de engravidar pelo método natural, eu
teria coragem de enganar o Rui e engravidar dele, e sumiria, já que
ele não quer ser pai.
Mas, pela primeira vez na minha vida, não preciso me preocupar
com camisinhas e pílulas, porque não irei engravidar.
E penso no custo dessa merda de fertilização in vitro, uma
pequena fortuna, não é qualquer casal que pode fazer isso, as
chances de eu me tornar mãe estão cada vez mais difíceis.
Merda de vida!
****
Chego ao escritório do Rui desanimada.
Tudo bem, vamos ver o que ela verá no próximo exame, talvez
eu não possa ter filhos e pronto, então arrumarei um gato para criar,
já tenho o Bóris que é meu filho adotivo, posso pegar também um
hamster.
Deixo minha bolsa sobre a mesa, bato de leve na porta do Rui e
entro.
Ele tira seus óculos e sorri.
– Oi, Jack, pensei que você iria me abandonar hoje! – ele diz
bem-humorado.
Sigo até ele.
– Senta aqui! – Ele me puxa para o seu colo. – E então, como foi
a consulta? – ele diz carinhoso.
Deito minha cabeça em seu ombro, estou tão desanimada.
– Nada de diferente, vou fazer mais um exame, é invasivo,
precisarei ficar um dia inteiro no hospital. – Ele beija minha cabeça.
– Não fica desanimada, Jack! – Ele puxa meu rosto para olhá-lo.
– Está tudo bem, ou teve alguma coisa nova que a médica disse?
Não esconda nada de mim, eu quero saber tudo!
Ele me encara curioso, mas nem somos um casal querendo
engravidar, por que tenho que ficar dando detalhes?
– Não, ela não disse nada que o outro médico já não tivesse dito.
– Me levanto do seu colo. – Não é nada, Rui, só fico desanimada
com esse problema, com as consequências dele, enfim, coisas
minhas.
– Entendo. – Ele se levanta, vem até mim, segura meu rosto
entre suas mãos e me olha. – Vamos almoçar em minha casa hoje,
tem uma coisa que quero te dar. – Ele sorri, e acabo sorrindo junto.
– O que é? – digo curiosa, no final, sou como todas as mulheres,
não me aguento de curiosidade.
– Surpresa! – Ele me beija demoradamente, e sinto uma coisa
boa, preciso tanto dele do meu lado, ele é uma pessoa tão forte, me
sinto tão bem quando estou com ele.
Então, o abraço forte, retribuo seu beijo, e tento esquecer essa
história de ser mãe, isso anda mexendo com minha sanidade,
preciso esquecer um pouco isso.
Afastamos nossos lábios, mas volto a abraçá-lo forte,
intensamente, e ele faz o mesmo.
– Quer conversar, Jack? – ele diz no meu ouvido.
Eu queria falar para ele todos os meus medos, mas será
estranho, e parecerá que estou de algum modo o forçando a me
assumir, querer ter um filho comigo.
– Não, só quero carinho – falo abraçada a ele.
Respiro fundo, espanto minhas angústias e me afasto dele.
– Estou melhor, estava precisando de um abraço, e um beijo, é
só isso. – Sigo para a porta, e ele fica parado no meio de sua sala. –
Vou trabalhar, chefe, vá trabalhar também. – Aceno para ele e fecho
a porta.
****
Um mês depois.
O tempo tem voado desde que conheci o Rui e que comecei a
trabalhar em seu escritório.
Parece mentira que estamos juntos há mais de três meses.
Hoje farei aquele exame solicitado pela médica, acabei
demorando um pouco, mas é que estava tendo dificuldades com a
agenda da médica, e com a minha.
Mas, enfim, hoje é o grande dia, talvez eu tenha péssimas
notícias, estou tentando me preparar psicologicamente.
Este mês tive novas crises de dor, faltei um dia, no outro fui
trabalhar, mas não suportei de dor, e o Rui acabou me levando para
o hospital.
Está difícil, mas tento não desanimar.
Às vezes, no meio das crises de cólicas, tenho vontade que tirem
meu útero fora e assim nunca mais sentirei dor na minha vida!
Sigo para a sala do Rui, preciso avisá-lo que já estou saindo.
Bato em sua porta e entro.
– Já estou indo, mas o Alexandre está a par das minhas
pendências, ele é muito esperto e está pronto para te auxiliar no que
for preciso – falo preocupada.
Ele me puxa para o meio de suas pernas, me abraça pelos
quadris.
– Fique tranquila, eu me viro com o Alexandre. – Ele beija minha
barriga, e isso me remete a uma gravidez, e me sinto angustiada,
fazendo meus olhos encherem de lágrimas. – O que foi, Jack? – Ele
segura meu rosto.
Puxo o ar.
– Nada, só estou um pouco preocupada com o que a médica
encontrará em meu útero. – Evito olhar para ele.
Ele se levanta e me abraça.
– Fique calma, vai dar tudo certo. – Um beijo em meus cabelos.
– Estarei lá no final do dia. – Mais beijos em meus cabelos, ele é o
homem mais carinhoso que já conheci, só perdendo para o meu
falecido pai.
– Tá bom, o táxi já deve estar lá embaixo. – O beijo rapidamente,
aceno e saio.
****
Olho para meu celular, preciso ligar para a Jack e avisá-la que
hoje não a verei.
Não quero mentir para ela, mas ela não entenderá se eu disser
que preciso jantar com minha ex-namorada.
Ok, apenas uma pequena mentira, somente hoje, Jack.
Seu celular toca pela terceira vez e então ela atende.
– Oi, Rui, eu estava no banho. Tudo bem?
– Oi, minha deusa, está tudo bem, só um pouco cansado! – Faço
manha, e dou risada de mim mesmo.
Tenho que confessar, estou mimado, a Jack está acabando com
minha imagem de advogado frio e calculista.
– Eu faço uma massagem bem relaxante em você. Já está
chegando? – ela diz ansiosa.
Talvez eu tenha acostumado a Jack mal esta semana, quero
dizer, desde que nos conhecemos.
– Jack, não poderei ir te ver hoje, tenho que jantar com um
cliente.
Um silêncio desagradável se instala entre nós.
Merda, ela não gostou ou não está acreditando.
– Sério? – Sua voz muda.
Ok, Rui, assuma sua posição de macho desse casal, e mostre
que você não é um cara dominado.
– Então, Jack, apesar de fazer algum tempo que não faço isso
(mais precisamente desde que a conheci e me tornei
um cordeirinho), eu preciso de vez em quando sair com clientes,
jantar com eles, às vezes acompanhá-los em alguma boate, enfim...
– Sei. – Ela faz uma pausa. – O cliente é homem ou mulher?
Que caralho, por que ela tem que tornar isso ainda mais difícil?
– Homem, Jack! – bufo irritado.
– Qual o nome dele?
Reviro meus olhos.
– Confia em mim, Jack!
Um silêncio pesado e então ela diz:
– Tudo bem! Bom jantar, Rui! A gente se fala amanhã! – Ela
desliga e bufo nervoso.
Volto a ligar para ela.
– Oi! – Sinto a irritação em sua voz.
– Jack, um relacionamento se constrói com confiança. Você
confia em mim?
– Confio... – ela diz titubeante.
– Será apenas um jantar de negócios. Não preciso procurar por
outras mulheres, eu tenho tudo que preciso em você!
Ouço sua respiração forte no telefone.
– Tudo bem, Rui, não estou dizendo nada! Apenas perguntei
quem era.
– É um cliente novo, você não conhece.
– Ok. Bom jantar, Rui – ela diz mais calma.
– Obrigado! Boa noite, minha deusa.
Penso em dizer o quanto gosto dela, mas acabo desistindo, não
gosto de ser meloso.
– Boa noite!
Ela desliga, poderia ter dito que me ama.
Ok, Rui, não seja patético.
****
Não foi fácil convencer meu pai a convidar o Rui para um jantar.
Bufo com raiva.
– Pai, use como argumento a questão da parceria, vamos
pressionar ele cancelando, afinal você só fechou isso por minha
causa!
– Priscila, que confusão você arrumou em minha vida por causa
desse rapaz. Tente focar seus pensamentos agora em seu novo
trabalho, você queria tanto ser promotora, se sinta feliz com isso! –
Meu pai diz aborrecido.
Não aguento mais ouvi-lo me criticar, isso é muito desgastante
para mim.
– Eu queria ter passado no concurso para juíza, mas o senhor
não me ajudou com isso! – digo magoada.
– Não dá para comprar todo mundo, Priscila! Desta vez não deu
certo, tentaremos novamente, quem sabe não temos mais chances
da próxima vez.
– Papai, eu não vivo sem o Rui! Por favor, me ajude! – Imploro. –
Eu preciso do senhor, ele não aceitará um convite meu sem um
motivo.
– Ok. Mas, essa é a última vez. Por favor, me deixe fora dessa
sua história com o Rui, estou cansado disso. Use suas armas para
conquistá-lo, e não me envolva mais nessa confusão. Estamos
combinados?
– Sim, claro – respondo acuada. – Já tenho um plano em mente,
deixe comigo, papai. – Sorrio feliz.
****
Semanas depois.
O procurador Fernandez não é o tipo de homem que me atrai.
Beirando os 40 anos, ele é o tipo de homem que possui um
corpo flácido e desengonçado, resultado de horas debruçado sobre
livros, comendo guloseimas e sanduíches, e nenhuma atividade
física.
Desde que cheguei à promotoria percebi seus olhares
indiscretos sobre mim.
Tenho consciência da minha beleza e inteligência, e do poder de
sedução sobre os homens.
Nunca quis seguir os passos da minha mãe, quero me casar por
amor, e não por dinheiro.
Tudo bem que o Rui é um homem rico, mas eu sou apaixonada
por ele desde que ele era apenas um advogado mediano.
Me sento em frente a mesa do promotor, sorrio sensualmente, e
sem querer faço exatamente o que minha mãe sugeriu, começo
meu plano de seduzi-lo.
– Você tem um minuto, doutor?
Ele para o que está fazendo, e me olha com um sorriso.
– Claro, Priscila! – Ele cruza seus braços na mesa. – E então,
como estão as coisas? Já está mais familiarizada com a rotina do
departamento?
– Sim, aos poucos estou me habituando! – Sorrio para ele. –
Queria te pedir uma coisa!
– Fique à vontade. – Mais um sorriso, ele está louco por mim.
– Gostaria de dar uma olhada em um antigo caso, já arquivado e
tudo mais, é só por curiosidade.
– Não vejo problema. Qual o réu ou os réus?
– Oh... – Fico temerosa de dizer, mas então crio coragem e digo.
– Um advogado, Rui Figueiredo.
– Seu ex-noivo. É dele que estamos falando? – Uma ruga
aparece entre seus olhos.
– Sim, ele mesmo, tenho curiosidade de conhecer este caso, foi
meu pai que o absolveu, então, fiquei interessada.
– Certo. – Ele muda sua expressão. – Eu e seu pai não tínhamos
a mesma opinião sobre esse caso, você sabe disso!
– Sei, claro que sei – respondo acuada. – Mas, eu não estou
aqui para esclarecer essa situação, quero apenas conhecer o
processo que quase colocou aquele filho da puta nas grades! –
Sorrio tentando obter sua confiança.
– Você tem raiva dele, Priscila? – Ele pergunta com certa
satisfação na voz.
– Sim, ele praticamente me largou no altar! – Sorrio fraco.
– Você deve saber que não gosto dele. Já tivemos muitos
embates no tribunal, ele ganhou, não por sua competência, mas
porque é um maldito de um pilantra.
Vejo a raiva em seus olhos.
Apesar de tudo, sei que o Rui é honesto e competente, e o
promotor odeia ele por isso.
– Então, você se incomoda se eu der uma olhada no processo?
– Faço uma expressão angelical.
– Tudo bem, fique à vontade. – Me levanto, mas ele me
interrompe. – Aceita almoçar hoje em minha companhia?
Sorrio.
– Claro, pensei que nunca seria convidada para almoçar com o
chefe!
****
Quando tive a ideia de jantar com o Rui e meu pai, não havia em
minha mente a possibilidade daquela piranha aparecer com o Rui.
Mas, por incrível que pareça, ele teve essa audácia.
Eu também não havia planejado nada com meu pai sobre o que
iríamos falar, com exceção de sua decisão a respeito do fim da
parceria entre eles, o que há tempos meu pai queria, uma vez que a
mesma só aconteceu por minha insistência.
Na época, eu achava ingenuamente que, ao assinar um contrato
com meu pai, ele não teria coragem de me deixar.
Ledo engano.
Acontece que ao ver aquela mulher acompanhando o Rui, e
fazendo o papel que era meu por direito, surtei, e acabei contando
uma história fantasiosa sobre a reabertura do antigo processo de
lavagem de dinheiro que o Rui participou como advogado.
Resumindo, o saldo final do jantar foi desastroso. Além de ver o
Rui se voltar contra mim, acabei levando um banho de vinho e um
tapa na cara daquela desqualificada.
O sangue subiu e só não acabei com a raça daquela piranha,
porque meu pai e o Rui interviram.
Mas, naquele dia decidi que não deixaria as coisas como
estavam. Não vou perder o Rui para uma secretária de quinta
categoria.
Algum tempo depois, tomei coragem e liguei novamente para o
Rui, usei o mesmo discurso sobre a reabertura do processo da
promotoria contra ele, e como um patinho, ele caiu em minha
história.
Marcamos um jantar, tentei seduzi-lo, mas não obtive êxito.
Ele realmente parece enfeitiçado pela piranha.
Uma nova tentativa, agora em meu apartamento.
Como não havia um processo para mostrar, tirei apenas cópia do
antigo processo.
Coloquei uma câmera escondida em meu quarto, e assim o
plano sugerido pela minha mãe entrava em ação.
Mas, mais uma vez fui surpreendida por um surto de homem fiel
vindo justamente do cara mais mulherengo que já conheci.
Eu não estou em meu melhor momento, muito menos com sorte.
Frustração e ódio tomaram conta de mim.
Se o Rui acha que pode me humilhar e sair ileso com isso, ele
está enganado.
Espere para ver do que sou capaz, Rui!
Falo comigo mesma, após acabar com uma garrafa de vinho
sozinha, e espatifar na parede a taça de vinho que ele tomava.
Flashback off
Capítulo 68
JACKELINE BARTOLLI
Olugar que o Rui escolheu para me levar é simplesmente
deslumbrante.
Quando ele me disse que me levaria a uma boate, logo pensei
que seria um daqueles inferninhos que costumava ir com a Carol.
Mas, eu realmente não conheço nada nessa cidade, e a Carol só
frequenta inferninhos!
O lugar é sofisticado, lindo e bem frequentado, dividido em vários
ambientes, separados por gêneros de música, havendo também um
piano, bar e um restaurante.
– Vamos primeiro dar uma passeada para você conhecer a
boate. – O Rui diz animado, enquanto me leva a cada um dos
ambientes.
– Como você conhece aqui? Já veio com alguém? – Minha
pergunta sai meio atravessada, talvez preocupada em saber que ele
frequentava o lugar com a insuportável de sua ex-namorada vaca.
– É de um amigo e cliente, um milionário que não tem onde
enfiar seu dinheiro, então investe em casas noturnas.
Sorrio aliviada.
– É muito bonito, de bom gosto, eu achava que seria... tipo um
inferninho! – falo despreocupada.
– Eu não te levaria a um inferninho! – Ele desvia o olhar, mas
volta a me olhar. – Você costumava ir a esses lugares?
Penso um pouco.
– Já fui com a Carolina, mas não gosto. Fui apenas por falta de
opção! – Sorrio, mas ele não sorri.
– Certo! – ele diz simplesmente e continua a caminhar sob o
barulho de música alta, luzes piscantes, e gente bonita e alegre
circulando pelo local. – Vamos tomar uma bebida antes de jantar? –
Finalmente ele me olha.
– Sim, eu quero. Já acabaram os remédios que eu estava
tomando, estou liberada!
Ele dá um sorriso, mostrando aquela boca linda, não resisto,
seguro seu rosto e o beijo.
Separo nossos lábios e digo o que explode em meu coração.
– Eu te amo, Rui!
Ele para de andar, coloca uma de suas mãos em meu pescoço,
acaricia, me olha profundamente, e diz a centímetros de distância
de meus lábios.
– Eu também, minha deusa! Estou enfeitiçado por você! – Ele
olha para os meus lábios, roça seus lábios nos meus, abro meus
lábios para ele me beijar, mas ele me tortura apenas roçando seus
lábios, me atiçando, me colocando fogo.
Não aguento, estou salivando, então seguro sua nuca, selando
nossos lábios e o faço me beijar na marra.
Ele separa seus lábios dos meus sorrindo.
– Que pressa, Jack! Me deixe fazer o meu joguinho de sedução!
Seguro os cabelos de sua nuca, os puxos e encaro seus olhos
sedutores.
– Não gosto desse joguinho, você já me seduziu, conquistou,
não fique me torturando.
Ele me aperta em seus braços, juntando nossos corpos, roçando
seu membro em mim.
– A noite só está começando, Jack, deixe de ser apressada!
Relaxo, acho que estou tensa com tudo que aconteceu em meu
quarto.
– Tudo bem, Rui Figueiredo. Tome as rédeas de nossa noite! –
Brinco.
– Ok, vamos beber alguma coisa, para dar uma animada! – ele
diz divertido.
Depois da terceira taça de vinho, já me sinto leve e desinibida,
então não foi difícil me soltar nos braços do homem dos meus
sonhos, e dançar e rodopiar até ficar tonta.
– Rui, se você continuar fazendo isso, eu vou vomitar em sua
camisa linda – falo e dou risada.
Ele sorri, encaixa novamente meu corpo ao seu, e me beija, e
acaricia minhas costas.
– O que você acha de jantarmos agora? – ele diz em meu
ouvido, beijando e mordendo minha aréola.
– Simmm... – Gemo, com os pelos do corpo todos eriçados, e
uma excitação no meio das pernas que me enlouquece. – Vamos!
Abro meus olhos e o encontro me encarando.
– Você é a mulher mais linda que já conheci, Jack! – Ele beija
meu pescoço. – E a mais gostosa... – Mais um beijo molhado,
seguido de uma leve mordida.
Um gemido escapa de meus lábios.
– Ohhh, Rui, pare com isso, eu não estou aguentando mais. –
Mais uma onda de arrepios pelo corpo, um gelado no estômago, e
uma umidade incontrolável no meio das pernas.
– Amo você, Jack! – Abro novamente meus olhos, e encontro os
seus, e esse momento é mágico.
Se um dia reclamei que ele não falava sobre seus sentimentos,
parece que agora ele descambou a falar, talvez seja o efeito do
vinho, só sei que ele está especialmente romântico hoje.
– Eu adoro quando você fala que me ama. – Envolvo mais seu
pescoço com meus braços, trago sua cabeça para junto da minha e
o beijo com vontade, sem inibições, apenas paixão, amor, e uma
sensação maravilhosa de felicidade, algo que nunca experimentei
antes.
– Vamos jantar, então podemos ir embora, e nos amar o resto da
noite – ele diz com seus olhos em chamas, intensos, urgentes.
– Vamos! – falo com meu coração acelerado, uma moleza nas
pernas, e uma vontade insuportável de tê-lo em mim.
Enquanto ele janta, belisco um petisco delicioso feito com nada
menos do que jiló assado em tirinhas finas e crocantes, tomo vinho,
e falo besteiras para ele rir.
Já disse que adoro ver ele rir, porque seu sorriso é lindo, do tipo
que ilumina, enche meu coração de amor, e me faz gostar dele cada
vez mais.
Ele segura sua barriga, rindo descontroladamente.
– Chega, Jack! Eu não aguento mais rir, vou ter uma indigestão!
– ele diz com os olhos cheios de lágrimas.
Eu adoro contar para o Rui minhas histórias de quando era
terapeuta, porque ele simplesmente ri de tudo, acha tudo
engraçado, eu nem acho tão engraçado, mas ele acha.
É fato, ele tem um excelente senso de humor.
Então, como estava dizendo, eu apenas contei o caso de um
paciente com problemas de relacionamento com mulheres,
basicamente.
Está certo que o cara era hilário, tinha um tique nervoso
enervante, daqueles que pisca e puxa a cabeça, gaguejava, e tinha
uma mania de limpar os ouvidos e depois cheirar os dedos.
Oh, isso era nojento, o cara era nojento, parecia meio seboso, do
tipo que não toma banho frequentemente. Foi constrangedor dizer
para ele que a primeira coisa a se fazer era tomar banho e ficar
cheirosinho. Não dá para pegar mulher cheirando a cecê e a sebo
sujo.
Enfim, esse era apenas um dos pacientes muito estranhos que
“tentei” ajudar, se eu quisesse daria para escrever um livro.
– Ok, a sessão piadas está encerrada por hoje! – falo com ironia.
– Você é uma ótima companhia, sabia? – Ele me olha com um
olhar diferente.
– Você também é, adoro ficar com você! Costumo enjoar das
pessoas, sou um pouco chata, mas não de você, nunca enjoo de
você! – falo apaixonada.
Me esqueci de dizer, também sou do tipo que não aguenta ficar
por muito tempo com uma mesma pessoa, me canso fácil, talvez por
isso não tenho tantas amigas, não gosto de grude, de “nhenhenhe”.
Oh, eu tenho consciência, sou bem chata e esquisita, talvez por
isso tenha seguido para a Psicologia, todo psicólogo tem um pouco
de louco.
– Confesso que já percebi que, às vezes, você é chata. – Ele dá
risada, e leva um guardanapo na cara, e ele continua. – ...irritante,
mal-humorada...
Faço uma cara feia.
– Ah, é? Você acha tudo isso de mim?– Finjo estar magoada, de
fato, sou tudo isso mesmo.
– É, mas você tem sorte, sou louco por você de qualquer jeito!
Não consigo não sorrir, e me sentir plena, esse é o tipo de
relacionamento que sonhei em minha vida, amor, admiração e
“farpas” (isso soou estranho).
– Eu também sou louca por você! Talvez um pouco mais louca
do que deveria, mas eu sou!
Ele sorri novamente, segura minha mão e a beija
demoradamente, fazendo as borboletinhas voarem freneticamente
em meu estômago.
– Vamos embora derrubar aquele prédio? – ele diz com seu
olhar de predador de mulheres.
– Oh, a noite promete, Doutor Rui! Hoje você terá que trabalhar
muito! – Brinco com ele.
Ele pega novamente em minha mão e me levanta, me coloca na
frente do seu corpo e saímos do restaurante.
****
****
Faz algum tempo que não falo com meu grupo de amigos, eu até
troco mensagens com eles, mas agora tenho sido mais cuidadoso
com o conteúdo.
Então, quando vejo o celular vibrar em minha mesa, e o nome do
Carlão no visor, já meio que sei qual será sua conversa.
Atendo de pronto.
– Fala, Carlão! – falo animado.
– E aí, Rui? O que tá acontecendo com você cara, sumiu?
Tenho que concordar que realmente sumi, talvez precise dar
uma passada no encontro dos caras, apenas para mostrar que não
estou completamente dominado.
– É verdade, ando na correria, muito trabalho, a Jackeline,
enfim... – falo despreocupado, girando um lápis entre meus dedos.
– Ainda tá saindo com a secretária? Pelo visto a foda com ela é
boa, cara! – ele diz malicioso.
– Estamos morando juntos – falo e me preparo para ouvi-lo.
– O que?! – Sua voz sai alta. – Você está morando com a
garota? Sério, Rui, eu não estou acreditando! – Ele parece
indignado.
– É sério, cara, já faz algumas semanas, mas o namoro já estava
sério, então nada mais natural do que morarmos juntos!
Engraçado como esse assunto já está totalmente resolvido em
minha cabeça.
– Eu estou bem surpreso, não achava que a coisa era muito
séria, achei que era só diversão.
– É bem sério, e a Jackeline é bem brava! Então, não posso sair
da linha! – Dou risada sozinho.
– Bom, então, vou te desejar boa sorte – ele diz meio
desanimado.
– E você, está com alguém? – pergunto por perguntar, não tenho
muito interesse em saber da vida do Carlão, somos amigos, mas
cada um tem sua vida.
– Nada sério, saindo com algumas garotas, só curtição, eu
realmente ainda não estou preparado para dar esse passo que você
deu.
– O que você acha de marcarmos um jantar? Eu levo a
Jackeline, assim você conhece melhor ela, e você... – Penso um
pouco, se o Carlão levar uma periguete a Jack vai surtar. – Escolhe
uma garota decente para levar com você, não pode ser puta, nem
periguete, arruma uma que dê para apresentar, tipo para a família!
Ele gargalha do outro da linha.
– Tudo bem, quando podemos fazer isso? – ele diz animado.
– Pode ser amanhã, ou hoje, você quem sabe, não temos
nenhum compromisso.
– Tudo bem, amanhã. Vou pensar numa mulher para levar.
– Podemos fazer lá em casa, o que você acha? – Sugiro.
– Perfeito, Rui. Às 20h estarei lá!
****
Dias depois...
Passado o fatídico jantar com o amigo do Rui, resolvo ir jantar
com minha mãe, mas, dessa vez, tem que ser sozinha, por que
preciso arrumar um jeito de fazer um teste de gravidez, e tem que
ser num lugar tranquilo. Não pode ser no trabalho, porque se der
positivo, eu posso ter um ataque de nervos. Em casa também não
irá dar certo, pois o Rui pode aparecer, então o único lugar que
sobrou é a casa da minha mãe.
Sigo para a sala do Rui, já o avisei que irei na casa de minha
mãe, só preciso avisar que estou saindo.
Abro a porta, ele tira seus óculos e me olha.
– Já está saindo, Jack? – Ele pergunta.
– Já, Rui! – Sigo até sua mesa, dou a volta, sento em seu colo,
encho seus lábios de beijos, e não tenho vontade de largar dele.
Acho que estou ficando pegajosa, preciso cuidar disso.
– Se você quiser, eu vou com você! – ele diz carinhoso.
Mal sabe ele o que pretendo fazer.
– Pode sair um pouco, de repente marca com o esquisito do
Carlão! – Ele dá risada.
– Hoje é quinta, vou ao bar que os meus amigos costumam ir,
fico um pouco, depois vou para casa!
Sinto um incômodo.
– Tudo bem! – Me levanto do seu colo. – Comporte-se, Doutor
Rui Figueiredo, você está em minha mira. – Olho pelo meu ombro.
– Eu me comportarei, Jackeline Bartolli – ele diz irônico.
– Então, já estou indo. Até mais tarde! – Faça um movimento
com os dedos e mando um beijo para ele. – Te amo!
– Eu também, te aguardo em casa.
– Combinado!
Finalmente saio, pego minha bolsa e sigo para meu carro.
Alguns metros antes do apartamento de minha mãe, paro em
uma farmácia, vejo alguns testes de gravidez e então escolho um,
levo até o caixa e depois de alguns minutos, estou chegando ao
endereço de minha mãe.
Pela primeira vez venho sozinha, o Rui sempre está comigo, não
tenho do que desconfiar dele, eu que disse que iria sozinha, e que
ele poderia sair com seus amigos.
De certa forma, acho que estou evoluindo.
Quero confiar nele.
A chegada à casa da minha mãe é sempre cercada por uma
emoção meio descontrolada.
Sempre choro, sempre me descontrolo, e acabo descontrolando
todo mundo.
Beijo e abraço minha mãe como se não nos víssemos há um
ano, sendo que todas as semanas nos vemos, às vezes de duas a
três vezes, depende do meu estado emocional.
– Ok, Jack, se controle! – ela diz me empurrando. – Pare de
chorar, que coisa! – diz sem paciência.
Enxugo minhas lágrimas, e falo magoada.
– Parece que só eu sinto sua falta, você nunca está com
saudades de mim.
– Oh, filha, como você é dramática! – ela diz rindo, limpa meu
rosto, e me olha. – Está tudo bem com você? Por que esse choro
todo? Existe algo de errado com você? Você e o Rui não estão se
dando bem? – ela diz preocupada.
– Não, não é isso. Estamos muito felizes, de verdade! – Sigo até
minha vovó. – Você está bem, vó?
– Sim, meu anjo, estamos felizes por você. – Então ela olha para
minha barriga e a acaricia. – Pode contar para sua avó, tem bebê
aqui dentro? – ela diz em tom de segredo.
Arregalo meus olhos.
– Não, vovó, não é isso! – respondo indignada, e preocupada.
– Eu quando estava grávida de sua mãe chorava como se fosse
uma manteiga derretida, somos muito parecidas, Jack. Eu sonhei
com isso, sabia?
Meu coração dispara, sinto uma moleza nas pernas.
– Vovó, eu não quero ter filhos agora. Ainda é muito cedo,
sabe?
– Oh, minha filha, então não deveria ficar agarrando seu homem
daquele jeito, assim virá um filho atrás do outro, vocês dois são bem
fogosos. – Ela dá risada.
Reviro meus olhos.
– Ok, me deixe ir até o banheiro! – Dou um beijo em minha tia,
pego minha bolsa e sigo para meu antigo quarto. – Mãe, vou usar o
banheiro do meu ex-quarto, tudo bem?
– Claro, Jack! O quarto está do jeitinho que você deixou – ela diz
carinhosa.
Sigo apressada, fecho a porta do quarto, abro o banheiro, tomo
coragem e abro a embalagem do teste de gravidez.
– Ok, Jack, agora é a hora! – falo para mim mesma.
Coleto meu xixi, e fico com o bastonete em minha mão, sem
coragem de enfiá-lo dentro do recipiente.
De repente, a porta abre, me assusto com a chegada da minha
mãe e derrubo todo o líquido do recipiente, e deixo o teste cair no
chão, piso nele com o sapato, para escondê-lo, e olho para minha
mãe.
– O que foi mãe? Você me assustou? – Tento disfarçar.
– Achei que não tinha papel higiênico em seu banheiro, me deixe
colocar no armarinho. – Ela dispensa os rolos embaixo da pia. –
Pode ficar à vontade.
Ela sorri e sai, e solto o ar que estava guardando nos pulmões.
– Merda, merda, merda!!! – bufo irritada, esmurrando a pia. –
Perdi a porra do teste! – Me agacho e limpo a sujeira que fiz, pego o
teste, e o jogo no vaso sanitário. – Não será hoje que descobrirei se
estou grávida.
Capítulo 77
RUI FIGUEIREDO
Depois do desastroso jantar com o Carlão, não nos falamos
mais, quero dizer, eu mandei uma mensagem para ele, e o
amaldiçoei por toda a eternidade.
Caralho, desde quando a Helen tem cara de mulher que se
apresenta para a família?
Bem, pelo menos eu não a apresentaria para minha família,
talvez porque a conheço bem demais, e sei que ela não presta.
Quero dizer, para foder ela presta, mas não para ter um
relacionamento.
Mas é muita falta de sorte.
Então, de repente, me lembro que o Carlão passou a atender a
empresa onde ela trabalha, e eu fui o imbecil que o indiquei.
É que na época o Carlão estava meio fodido, tinha se separado
recentemente, a mulher o deixou só com as calças. Então, para
ajudá-lo, cedi alguns clientes meus para ele.
Sério, eu não lembrava mais disso, mas também não sabia que
a Helen já tinha aberto as pernas para o Carlão.
Foi isso, fiz uma boa ação com o amigo, e quase me fodi.
Mas que raiva daquela garota, mesmo acompanhada com o
Carlão ela ficou se insinuando para mim!
Tudo bem, sei que sou gostoso, tenho um pau irresistível, mas
agora tenho uma dona.
Dou risada sozinho.
Brincadeiras à parte, eu sei qual era a intenção da Helen, era me
foder com a Jackeline.
Ela não se conformou de me ver em um relacionamento sério,
ela se acha irresistível, a mais gostosa, a melhor na cama, mas ela
não chega aos pés da minha deusa.
Então, depois que a Jack viu aquelas mensagens, eu a bloqueei
totalmente em meu celular.
Mulher magoada e rejeitada é o demônio em forma de gente.
Então me lembro da Priscila, e me benzo, que Deus me livre
daquele encosto.
Dou risada sozinho, pareço a Jack falando, porra!
E então a Jack entra na minha sala, hoje ela está meio tristinha,
não sei o que está acontecendo com ela.
Será que o problema é comigo? Nunca morei com ninguém,
pode ser que, às vezes, eu seja meio grosseiro com ela.
Tento não pensar sobre isso, agora quem não quer desistir
dessa merda sou eu.
Demorei pra caralho para tomar a decisão, mas agora que achei
a mulher ideal, a que combina comigo, não desisto dessa porra nem
fodendo.
Que a Jackeline não me ouça, mas agora quem não vive sem
ela é o idiota do Rui!
– Já está saindo, Jack? – pergunto a vendo se aproximar de
minha mesa.
– Já, Rui!
Ela se senta em meu colo, e me enche de beijos.
Adoro esse jeito carinhoso, espalhafatoso, e exagerado dela.
Mas, ainda assim, a sinto estranha, não sei dizer, tem alguma
coisa de errado com a Jackeline.
– Se você quiser, eu vou com você! – Insisto, mas dessa vez ela
não quer minha companhia, parece que está enjoada de mim.
– Pode sair um pouco, de repente marque com o esquisito do
Carlão! – ela diz e dou risada.
Acho que a Jack não foi muito com a cara do Carlão, e a
presença da Helen só complicou mais a situação.
– Hoje é quinta, vou ao bar que os meus amigos costumam ir,
fico um pouco, depois vou para casa. – Abro o jogo, não vou mentir,
estou me esforçando para ser o cara que prometi a ela.
Ok, eu sei que menti em relação à Helen, mas é que a Jack não
entenderia. Ela é muito ciumenta, brigaria comigo o resto do mês.
– Tudo bem! Comporte-se, Doutor Rui Figueiredo, você está em
minha mira – ela diz possessiva. Aliás somos os dois, formamos um
casal bem complicado.
– Eu me comportarei, Jackeline Bartolli – digo com ironia, para
relaxá-la.
– Então, já estou indo. Até mais tarde! Te amo! – Ela se
despede.
– Eu também. Te aguardo em casa – respondo pensativo, ela
está estranha.
– Combinado! – ela diz antes de fechar a porta.
****
Dias depois.
A pressão do meu pai pelo encontro das famílias está enchendo
meu saco.
Eu já percebi que a Jack está tentando fugir desse momento, eu
até a entendo, ela tem medo das suas velhinhas, e entre nós, ela
tem razão.
Aquelas três juntas são de matar.
Ok, mas minhas desculpas chegaram ao fim, preciso marcar a
porra da data, caso contrário, vou matar meu pai de ansiedade.
O velho pirou agora que sabe que eu e a Jack estamos... bem...
casados?
Não posso fugir disso, tenho um medo da porra dessa palavra,
mas caralho, casamento é isso, seu idiota! – Esbravejo comigo
mesmo.
A chamo pelo ramal.
– Vem até aqui, Jack!
– Tá bom, chefinho! – Ela brinca.
Já até me acostumei com o jeito que ela me chama, adoro
quando ela me chama de chefinho.
Ela entra na minha sala, caminha até a mim, abraço seu corpo
junto ao meu e falo:
– Jack, preciso de uma data para a porra do encontro entre
nossas famílias!
Ela afasta seu corpo do meu, vira de costas, mexe nervosa nos
cabelos.
– Rui, não vai dar certo! – ela diz nervosa. – Oh, Rui, sua mãe...
– Ela fecha seus olhos.
Sigo até ela, seguro seu rosto a fazendo me olhar.
– Eu entendo sua preocupação, mas faz parte, moramos juntos,
temos um relacionamento sério. Estamos tipo... casados, Jack! As
famílias precisam se conhecer.
Ela sorri.
– Estamos tipo casados! – ela repete rindo.
– É, minha deusa... – Puxo sua cintura, unindo seu corpo ao
meu, sinto uma fome louca por essa mulher, vontade de pegar ela
de tudo o que é jeito. – Faz isso pelo seu maridinho! – Faço voz de
boiola, enfio meu rosto no meio dos seus cabelos, beijo seu pescoço
cheiroso. – Caralho, Jack, estou com um tesão de te pegar em cima
dessa mesa! – Subo sua saia, apalpo seu bumbum grande e
gostoso – Oh, minha delícia, vamos rapidinho.
– Oh, Rui, vamos esperar chegar em casa. – Ela sussurra, mas
já não impõe resistência.
Então, sigo até a porta, tranco-a, e volto apressado.
– Vira, minha gostosa! – A faço deitar seu corpo sobre a mesa,
levanto sua saia, demoro-me um pouco acariciando seu bumbum
perfeito, me inclino um pouco, beijo, passo minha língua. – Você é
uma delícia, Jack.
Ouço seus gemidos.
– Fode logo, Rui! – ela diz apressada.
Abro com desespero minha braguilha, tiro meu pau para fora, o
acaricio um pouco, apenas para admirar um pouco a visão do
paraíso.
– Que bunda você tem, Jack! – Enterro meu pau dentro dela, ela
geme. – Você gosta assim? – Bato de leve em seu traseiro.
– Gosto! – Ela sussurra.
– Então, vou continuar. – Bato de novo, enterro meu pau até o
final, ela geme alto. – Fala que quer mais, Jack!
Estou insano de desejo.
– Hummm, mais, Rui! Desse jeito... Ohhh. – Ela geme alto, e
isso me excita demais.
– Assim, gostosa? – Fodo forte, sem dó, gosto quando ela grita
desesperada.
– É, Ruiii! – Sorrio com seu desespero.
Faço de novo, ela geme, se esfrega no meu pau.
– Mais, Rui, ahhhh, isso, eu vou gozar. – E seus sons de prazer
enlouquecem meus ouvidos.
Enterro meu pau em sua buceta úmida, quente, e o prazer
aumenta, e finalmente gozo, e tenho vontade de gritar, mas me
controlo.
Seguro suas mãos, e relaxo meu corpo sobre o seu.
– Foi gostoso, Jack? – pergunto em seu ouvido.
– Foi, amor! – ela diz lânguida.
Me afasto um pouco, a gente se recompõe.
– Agora... – Fecho meu zíper. – A data, Jack.
Ela sorri.
– Pensei que dando uma rapidinha com você, eu conseguiria te
enrolar! – ela diz com cara de safada, se pendura em meu pescoço
e diz: – Você quem sabe, neste final de semana, o que você acha?
– Perfeito! – Beijo seus lábios e sorrio. – Vou ligar para o meu
velho. – Sigo para minha mesa. – Ele está ansioso, Jack, você não
tem ideia o quanto – falo feliz.
– Eu gosto do seu pai, Rui, aliás você é muito parecido com ele –
ela diz enquanto segue para meu banheiro privativo. – O problema é
sua mãe!
– Não se preocupe com ela, deusa. Só dá uns toques para suas
velhinhas, vê se consegue que elas sejam um pouco discretas, tá
bom? – Olho para a Jack, ela sorri.
– Tarefa difícil, mas vou tentar!
****
Eu não deveria estar surpreso, ou nervoso, mas a ideia de juntar
minha família e a da Jackeline está causando um tsunami na minha
vida.
A Jackeline está insuportável!!!
Só com muito amor para se aguentar uma mulher dia e noite!
Sou um herói, eu sei disso!
– Não fala comigo, Rui, eu estou muito nervosa! – ela diz quase
arrancando seus cabelos.
– Caralho, mas eu vou falar com quem? Com a vizinha,
Jackeline? – falo nervoso. – Vamos logo buscar sua família, porra! –
repito pela quinta vez.
– Espera, eu ainda não terminei com a Jô! – Ela me empurra,
saindo do quarto, me largando com cara de idiota.
Fecho os olhos, bufo, xingo meia dúzia de nomes feios, e por fim
pego minha carteira e celular e desço as escadas.
– Jack, eu vou sozinho, pode ficar aí e... Josalice!!! – Berro o
nome da empregada, que aparece enxugando as mãos
nervosamente. – Faz um chá para a Jackeline, e cuide para que ela
não tenha um troço.
Ela balança sua cabeça positivamente.
– Pode deixar, Doutor Rui!
Caminho em direção à porta de entrada, e de repente, a Jack
entra na minha frente.
– Desculpe, Rui! Estou tão nervosa... – ela diz e começa a
chorar.
Ok, o que posso fazer além de abraçá-la e tentar acalmá-la?
Aliás, estou tentando fazer isso desde ontem.
– Calma, Jack, dará tudo certo! – Beijo sua testa e a faço olhar
para mim. – Irei buscá-las, fique aqui, tome um chá ou um uísque, o
que você achar melhor! – Ela sorri.
– Você conversa com elas, reza a missa? – ela diz preocupada.
– Pode deixar, prometo levá-las para passear, alguns presentes,
já sei como lidar com aquelas moças! – Ela dá risada e fica linda,
toda vermelha de choro, mas linda. – Tome um banho de banheira,
vai te fazer bem.
– Parece uma boa ideia!
Me despeço e saio.
O que não faço por você, Jackeline? – Penso em voz alta,
concluindo no que se tornou minha vida desde que a conheci.
****
ATRAÇÃO IRRESISTÍVEL
VOLUME 2
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