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Às minhas leitoras que me acompanham desde o início de

minhas primeiras publicações, e me incentivaram a tornar este


sonho realidade.
Prólogo
O lho na vitrine da loja a minha frente, uma loja de lingeries
muito chique.
Nem estou podendo gastar tanto dinheiro assim, mas hoje
comemoro aniversário de namoro, quatro anos mais precisamente,
e estou precisando dar uma apimentada em meu relacionamento.
Namoro com o Renato desde meus 23 anos, o conheci na
faculdade, eu cursava Psicologia, ele Contabilidade.
Engatamos nosso namoro desde então. Sou apaixonada por ele,
mas, às vezes, tenho dúvidas que esse sentimento seja recíproco.
De fato, eu nunca tenho certeza se ele irá se lembrar desta data.
Confesso que nos últimos anos ele não tem se lembrado. Aliás, o
Renato vive com a cabeça na lua, não vou me frustrar se ele
esquecer.
– Ok, vamos lá! – falo para mim mesma, criando coragem e
entrando na loja.
Uma vendedora com cara de esnobe me olha com desdém.
Devo ter cara de pobre! – Concluo.
– Olá, querida! Posso ajudá-la? – ela diz com aquela cara
esnobe, como se fosse dona da loja, e não uma vendedorazinha
qualquer.
Quero deixar bem claro aqui, nada contra vendedoras, mas
odeio essas vendedoras que se acham!
– Sim, estou procurando um espartilho preto. – Sorrio, tentando
ser simpática.
– Oh, qual o número que você usa? – Ela me olha de lado, como
se visse uma porpeta enorme a sua frente.
– Bom, aí que está o problema, eu uso 42, mas meus seios são
um pouco grandes, e a bunda também... – Reviro meus olhos, odeio
essa herança familiar, mistura de tudo um pouco, italianos,
portugueses, e sei lá mais o que.
– Certo! – Ela entorta os lábios me analisando, e eu tenho
vontade de esbofetear essa mulher.
– Qual o problema, querida?! Você não tem numeração grande,
é isso?! – falo irritada.
– Desculpe, mas não temos numeração para você. É melhor
procurar uma loja de Plus Size! –Ela me olha como se eu fosse uma
mortadela enorme e gordurosa.
– Eu não tenho nada contra a loja de Plus Size, mas eu não uso
50! Qual o maior número que você tem? – falo quase perdendo
minha paciência.
Ela demonstra que está irritada.
– Vou checar. Só um momento, por favor. – E ela sai para os
fundos da loja, usando um manequim 36, provavelmente por isso
ela acha todo mundo gordo.
Depois de alguns minutos insuportáveis, não sou o tipo que tem
muita paciência, a magrela volta com alguns pacotes nas mãos.
– Achei algumas numerações maiores, vamos ver se os seus
seios cabem aqui dentro! – Ela dá uma olhada para a minha
comissão de frente, um pouco avantajada demais.
Sorrio, pego os pacotes e sigo com eles para o provador.
– Fique à vontade, qualquer coisa me chame.
Fecho a porta, tiro minha camisa, e tento colocar o primeiro
espartilho. Quase sufoco a mim mesma, me mato para fechar os
ganchos, e quando me olho no espelho, vejo que meus mamilos
ficaram para fora da taça do sutiã. Fiquei ridícula!
– Oh, merda! – Tiro nervosamente o espartilho e pego outro,
parece maior, acho que vai servir.
Mais 10 minutos de sofrimento, estou suando em bicas, e
concluo que a colocação dessa maldição deve ter sido inventada
por um homem.
– Por que nós mulheres nos sacrificamos tanto para ficar sexys
para os homens, será que eles merecem mesmo isso?!
Olho-me no espelho, meus peitos estão saltados e enormes na
taça do sutiã, mas ficou bem sexy.
Coloco minhas mãos na cintura, ajeito o espartilho ao meu
corpo.
– Tô gostosa! – Sorrio ao me olhar no espelho.
– Ok, agora falta comprar uma calcinha indecente, uma meia
liga, e o sapato alto, mas vai ser o que tenho mesmo.
Tiro aquela maldição dos infernos, volto a colocar a minha roupa
e olho em meu relógio.
– Cacete, vou me atrasar! Oh, meu Deus! – penso desesperada.
Minha vida profissional não é grande coisa. Desde que me
formei estou tentando engrenar minha profissão de psicóloga, mas o
salário é muito ruim, e esse é o quinto consultório que trabalho nos
últimos seis meses. Sinceramente, não acho que vai dar certo, o
dono do consultório é um psiquiatra pirado, com cara de louco, e
acho que ele não gosta muito de mim.
Chego ao balcão e vejo a balconista de papo furado com a outra
funcionária.
– Olha benzinho, vou levar esse aqui! – Ela me olha admirada.
– Serviu?! – Ela faz cara de surpresa, e eu tenho vontade de
mandá-la se danar.
– Acho que sim, caso contrário eu não estaria levando! –
Balanço minha cabeça de um lado para o outro.
Imbecil!
– Mais alguma coisa? – ela pergunta sem vontade.
– Uma calcinha bem indecente, para fazer conjunto com esse
espartilho e uma meia liga – falo apressada. – Mas tem que ser a
jato, querida, estou atrasada.
Ela me olha assustada, coloca sobre o balcão alguns modelos
de calcinha e a meia liga.
– A calcinha é GG, acho que serve em você! – Ela dá uma
olhadinha de lado para minha bunda.
– M, florzinha! A bunda é grande, mas nem tanto! – Enrugo
minha testa, essa mulherzinha está me dando nos nervos.
– Ok, aqui está. – Ela me mostra as calcinhas e escolho uma.
– Perfeito! Meu namorado vai pirar hoje à noite! – Dou risada.
Ela finge rir.
Entrego meu cartão de crédito para ela.
– Rápido, amorzinho! Não tenho a vida inteira – falo sem
paciência.
Vejo-a revirando os olhos.
– Não foi autorizado – ela diz com um sorriso satisfeito no rosto,
me olhando de lado, e me entregando o cartão.
– Como assim?! – Falo indignada.
– Você não tem outro cartão? – Ela sorri.
– Passa esse. – Entrego meu outro cartão.
Ela passa, e sorri novamente.
– Também não foi autorizado.
– Puta que pariu! – xingo. – Passa no débito.
Agora ferrou de vez! Conta estourada, sem limite de crédito,
cheguei ao fundo do poço.
Capítulo 1
JACKELINE BARTOLLI
Chego esbaforida ao consultório. A recepcionista me olha por
cima dos seus óculos de grau, é uma senhora de uns 90 anos, tudo
nesse consultório é velho e antiquado. Mas eu preciso desse
maldito salário, e por isso sempre trago um bombonzinho para a
velhinha, quem sabe ela não convença o psiquiatra louco que sou
boazinha e que mereço uma chance.
– Boa tarde, Dona Magnólia! – falo sorrindo. – Não esqueci o seu
bombom! – Deposito o bombom em sua mesa, com um sorriso
idiota no rosto.
– Obrigada, Jackeline, mas você não me ouviu dizer que sou
diabética?! – Ela me olha de lado, e faço cara de retardada.
É que essa velha fala tanto que resolvi não prestar muita
atenção no que ela diz, então acho que não ouvi essa parte.
– Oh, Dona Magnólia, me desculpe! Vou trazer da próxima vez
um diet, bem gostoso! – Sorrio novamente.
Ela revira seus olhos e continua com suas anotações.
– Algum paciente, Dona Magnólia? – falo ao abrir a porta do meu
consultório.
Ela olha em sua agenda de 1.950.
– Não, você não tem nenhum horário marcado. Parece que os
pacientes não estão gostando muito de sua terapia, Jackeline! – Ela
diz com toda a franqueza típica de sua idade, me fazendo odiá-la
cada vez mais.
– Eles estão gostando sim, já tenho... – penso longos segundos,
tentando lembrar quantos pacientes tenho, mas por fim, reviro meus
olhos. – Leva algum tempo para conquistar a confiança, é assim
mesmo...
Volto a caminhar para minha sala.
– Querida! – Ela me chama.
– Oi, Dona Magnólia! – falo tentando manter a calma.
– Eu acho que você não leva jeito para a Psicologia, não sei
como você conseguiu concluir seu curso! – Ela me olha com
aqueles olhos azuis esbugalhados.
– Olha aqui, Dona Magnólia... – Puxo o ar e quando iria falar
umas verdades para essa velha enxerida, a porta do consultório
abre e Doutor Hamilton entra com seu charuto a postos, baforando
fumaça para todos os lados.
– Boa tarde, doutor! – falo com uma humildade irritante.
– Boa tarde, Dona Jackeline! – Ele diz do alto de sua arrogância.
– Podemos conversar em minha sala?
Sinto meu coração gelar.
Olho para a velha asquerosa e vejo um sorriso de canto de boca,
ela realmente me odeia.
– Claro! – respondo fingindo uma alegria espontânea, seguindo-
o em direção ao andar superior.
Ele abre a porta de sua sala, e começo a sentir minha rinite
ganhando vida própria, uma coceira insuportável no nariz. Odeio o
cheiro de sua sala, cheira a coisas velhas e mofadas.
– Sente-se. – Ele diz ríspido.
Puxo a cadeira a sua frente, que deve pesar uma tonelada, com
certeza metade das árvores da Amazônia estão nessa sala.
– Pois não, doutor, no que posso ajudá-lo? – Falo falsamente.
Ele me encara e bafora o maldito charuto na minha cara, me
fazendo coçar o nariz, e espirrar três vezes.
– Já faz alguns meses que você está trabalhando neste
consultório, e apesar de minhas tentativas de indicar pacientes para
você, nenhum deles retornou. Isso me faz pensar que você não está
qualificada o bastante para trabalhar como nossa terapeuta.
Abro a boca, tento pensar em algo para dizer que possa me
defender, mas não consigo, minha mente trava, assim como minha
voz.
Sinto meus olhos encherem de lágrimas, não posso chorar, não
quero chorar, mas acabo chorando.
– Eu preciso desse emprego! – falo depois de me esvair em
lágrimas, sem que o velho louco fale uma palavra se quer.
– Sinto muito, Dona Jackeline! A senhora está dispensada. – Ele
me encara com seu olhar distante e vazio.
Levanto de sobressalto e enxugo minhas lágrimas
nervosamente.
– Quer saber, vai se danar, Doutor Hamilton! O senhor é um
louco, e sua secretária, também! – Viro as costas, abro sua porta e
fecho-a com uma pancada que faz o sobrado inteiro estremecer.
Sigo a passos duros até a minha ex-sala, não olho para a velha
louca, passo por ela como um avião.
Recolho tudo o que é meu, coloco em um envelope, abro a porta
e encaro a secretária dos infernos.
– Quer saber, Dona Magnólia, eu acho que a senhora está com
Alzheimer, por isso diz que nunca tem um filho da puta que ligue
para marcar consulta comigo. – Ela me olha atônita. – Nunca te
suportei, velha maluca. – Sigo para a porta diante de seu olhar
assustado, mas antes de sair, desabafo. – Por que você não fica em
casa cuidando dos seus gatos, e assim dá lugar para uma pessoa
mais jovem trabalhar? Velha caquética! – Bato a porta com toda a
força, e saio bufando para a rua.
****
Caminho pela rua sem destino, não posso ir para casa agora,
não tenho coragem de dizer a minha santa mãezinha que fui
demitida pela vigésima vez.
Entro na estação do metrô, me sento em um dos inúmeros
bancos e fico observando o vai e vem de pessoas.
Houve um tempo em que eu acreditava que seria uma boa
terapeuta. Mas hoje, de tanto ouvir que não levo jeito para a coisa,
estou começando a concluir que as pessoas devem estar certas.
O único problema de tudo isso, é que não sei o que fazer. Desde
que me formei estou numa luta frenética tentando construir minha
carreira como terapeuta. Não sei fazer outra coisa além de dar
conselhos para as pessoas, tentar ajudá-las a resolver seus
problemas, encontrar seu caminho...
Oh, que frustração!
Penso em meu falecido pai e choro. Que decepção ele teria
comigo, o pobrezinho gastou o que não tinha para me pagar uma
faculdade, e olha só no que deu.
Penso também em minha mãe, a pobrezinha não se cansa de
dizer que sou seu orgulho. Como posso dizer para ela que meu
chefe disse que não sou qualificada para trabalhar como terapeuta?!
Não sei como dar essa notícia para ela, para minha tia, e para
minha avó!
É isso mesmo, vivo com três mulheres que já cruzaram o cabo
da Boa Esperança, ou seja, já estão na terceira idade, ou melhor
idade, como as pessoas gostam de chamar. Elas não se cansam de
me dizer que estou ficando velha, que engordei, que estou comendo
demais, que preciso me casar, que preciso ter filhos...
Meu pai eterno, que bagagem pesada você me deu!
Lembro-me da minha amiga Carolina, minha melhor amiga
desde que tenho sete anos, crescemos juntas, e estamos
envelhecendo juntas.
– Cruzes, como estou deprê! – falo em pensamentos.
Ok, vou ligar para ela, quem sabe ela me faça sorrir um pouco.
A ligação completa:
– Fala, gostosa!
Tenho que confessar algo, minha melhor amiga é lésbica, mas
juro que não temos nada! Somos simplesmente amigas, ou amigos,
nem sei direito como tratar a relação que temos.
– Carol, menos! Não quero que ninguém ache que você é meu
macho! – falo revirando meus olhos.
– Está azeda?! Já sei, o Renatinho não te comeu direito ontem! –
Ela explode em uma risada insana.
Acho que ela está fumando um baseado, não vejo motivo para
tanta graça.
– Benzinho, eu não moro com o Renatinho. Então, é lógico que
ele não me comeu ontem, mas vai me comer hoje, e como vai! –
Falo com escárnio.
– Ui, que poderosa! – Ela ri feito uma hiena. – Mas me diz aí,
que novidade é essa, você não costuma me ligar do consultório!
Respiro fundo, não tenho por que guardar segredo da Carol, ela
é minha confidente, sabe tudo sobre minha vida.
– Fui dispensada, Carol! – Sinto meus olhos arderem.
– De novo, Jack! – Sua voz mostra decepção.
– Carol, o psiquiatra louco disse que não sou qualificada para ser
uma terapeuta. – Começo a chorar.
– Jack, desculpe, mas preciso concordar com ele.
Arregalo meus olhos, enfurecida.
– Carol, você é uma...
Ela me interrompe.
– Jack, sou sua amiga, não vou mentir para você. Essa não é
sua praia, você é muito confusa! Como alguém confuso pode tentar
ajudar quem está confuso? Só vai dar confusão!
– Vai se ferrar, Carolina! – esbravejo.
– Eu vou arrumar um emprego para você, mas você não pode
reclamar. Vou arrumar algo que você ganhe bem, e não tenha tanto
trabalho!
Reviro meus olhos.
– Duvido, Carolina! O que seria? Garota de programa, por
exemplo?!
Ela ri do outro lado da linha.
– Secretária. O que você acha?
Dou uma risada louca.
– Carol, sou muito desorganizada para ser uma secretária! –
bufo exausta. – E não tenho experiência, não levo jeito para essas
coisas. Acho que vou ser gari, assim perco umas gordurinhas!
– Como você é exagerada! Quem vê, até pensa que é gorda!
– A mulher da loja de lingerie me chamou de gorda, pediu para
eu ir comprar o espartilho que eu procurava na loja de Plus Size!
Ela dá uma risada escandalosa do outro lado da linha.
– Provavelmente você estava vestida com as camisas do seu
pai, pode falar! – ela diz irônica.
– Não me enche! – respondo sem paciência.
– Jack, eu já disse que você precisa aprender a se vestir! Você
se veste muito mal, e essas roupas te deixam gorda.
– Eu gosto das minhas roupas, gosto de me vestir despojada.
Não estou preocupada com a opinião da vendedora, o Renato me
ama como sou...
– Ah, tá! Bom, você quem sabe, eu já te disse, você está
perdendo seu tempo com aquele mosca morta. Ele não te merece,
Jack.
Ok, não vou dar ouvidos à Carolina, ela não gosta do Renato, e
o Renato não gosta dela.
– Tá bom, Carol, só queria conversar um pouco com você.
Preciso dar um tempo, não quero chegar em casa e ver as três
velhotas chorando quando eu der a notícia da minha demissão.
– Eu estava falando sério sobre a vaga de secretária! – ela diz
séria. – É para ser secretária do Doutor Rui. Ele é um gato, mas
está praticamente casado, então, não se empolgue.
Bufo sem paciência.
– Acho que não vai dar certo, Carol. Eu não serei escolhida! –
falo sem ânimo.
– Ok, não custa nada tentar. Vou ver como está o processo de
seleção e nos falamos depois. Um beijo, gostosa! – ela desliga
antes que eu possa xingá-la.
Capítulo 2
JACKELINE BARTOLLI
Chego em casa depois de longas horas plantada na estação do
metrô.
Pego o elevador, e logo estou abrindo a porta do nosso humilde
apartamento.
Moramos no mesmo apartamento há anos, essa foi a única
herança que meu querido pai nos deixou, mas o prédio é velho e
decadente, o elevador quebra todas as semanas e o encanamento
vive dando problemas. Mas, não posso reclamar, se minha mãe
dependesse de mim, viveríamos de aluguel, pois nunca consegui
construir nada com meu salário.
Entro na sala e vejo minhas três idosas assistindo a novela das
seis, elas são viciadas em novelas e programas jornalísticos,
aqueles que só falam sobre desgraças.
– Oi, minhas velhinhas queridas! – falo animada.
Vejo minha tia bufando, ela é uma senhora de aproximadamente
60 anos, solteirona, e que não admite ser chamada de velha. Aliás,
ela ainda espera encontrar seu príncipe encantado nos bailes
dedicados à terceira idade.
– Oi, querida! – Minha mãe se levanta e vem ao meu encontro. –
Você está meio abatida hoje, não comeu direito?! – ela diz
acariciando meu rosto.
– Mãe, nem todos os problemas são gerados por falta de comida
– respondo meio sem paciência. – Se estou gorda, é por culpa sua,
que só pensa em me fazer comer! – digo irritada.
– Ingrata! Você não está gorda, imagine! – Ela sai rebolando seu
traseiro grande, e vejo de onde herdei esses quadris exagerados. –
Vou terminar seu jantar, você está muito pálida.
– Não, mãezinha, não precisa. Vou jantar com o Renato, hoje é
nosso aniversário de namoro! – falo sorrindo.
Sento-me no sofá, abraço e beijo minha vozinha de quase 80
anos (mais ou menos, ninguém tem certeza de sua idade).
– Tudo bem, vovó? – Acaricio seus cabelinhos brancos.
– Tudo, querida! – Ela alisa minhas coxas grossas. – E quando
esse moço vai te pedir em casamento? Está na hora, meu amor!
Minha tia se levanta e me olha com um sorriso debochado.
– Mamãe, essa aí não irá se casar mais. Está ficando velha, já
começou a cair tudo, e não vai ficar para tia, porque nem irmãos ela
tem!
Fecho os olhos e respiro.
– Titia, a senhora que é uma velha encalhada! Só tenho 27 anos,
ainda tenho muito tempo para me casar – falo com desdém, me
levantando e seguindo para meu quarto.
– Amélia, sua filha está muito malcriada, não aceito esse tom
comigo! – ela diz nervosa para minha mãe.
Saio assobiando para meu quarto, já estou acostumada com as
piadinhas sem graça de minha tia, ela é um porre.
Fecho a porta, tiro minha roupa e sigo para meu banheiro, meu
quarto é o único com banheiro privativo. Minha santa mãezinha
cedeu seu antigo quarto para mim, logo que meu pai faleceu, há
cinco anos.
Finalizo meu banho, passo meus cremes para celulite, estrias,
gordura localizada, e sei lá mais o que. Ainda tenho fé que eles
façam efeito, e que eu não vire tudo o que minha querida tia não
cansa de me amaldiçoar.
Seco meu cabelo e passo uma chapinha para deixá-lo mais liso
e sensual.
Meu cabelo castanho escuro é bonito ao natural, levemente
encaracolado até a altura dos ombros, mas gosto do efeito de vê-lo
liso, me sinto diferente.
Termino de arrumá-lo, faço uma maquiagem forte em meus
olhos, que são castanhos, mas ficam muito bonitos quando os
valorizo com máscara para cílios e um delineador preto.
Tenho muitos traços italianos, os olhos levemente puxados, a
boca grande e carnuda. Dizem que os seios grandes também são
herança da parte italiana da família, mas a bunda grande vem dos
portugueses, assim como as coxas grossas.
Me olho no espelho e gosto do resultado.
Não me acho uma mulher linda, mas tenho traços bonitos e
marcantes. Confesso que não gosto muito do meu corpo, adoraria
ter seios pequenos, pernas longas e finas, bunda pequena. Ser uma
mulher carnuda tem muitas desvantagens, como por exemplo,
dificuldades na hora de comprar roupas.
Sigo para meu quarto com uma toalha amarrada ao corpo, abro
meu guarda-roupa e olho com desânimo.
Talvez a Carol tenha razão, preciso comprar roupas mais
femininas. Adoro conforto e despojamento, gosto de camisas soltas,
calças de tecidos leves e que não grudam em minhas pernas. Não
sou o tipo de mulher que gosta de mostrar suas curvas, quero dizer,
eu gosto de mostrar minhas curvas, mas só para o homem que
amo.
Vejo um vestido tipo envelope marfim e o pego no cabide.
– Ok, acho que você ficará bem em mim! – falo para mim
mesma.
Adoro vestidos, eles são muito confortáveis, e esse me deixa
bem sexy, por causa do decote em V na frente.
Tiro da sacola a calcinha e o espartilho, infelizmente não
consegui comprar a cor que queria, o único que serviu foi o
vermelho. Confesso que não sou fã da cor vermelha, mas ela cai
bem em mim, morenas ficam bem de vermelho.
Coloco primeiramente a calcinha indecente. Fiz questão de me
depilar completamente, a calcinha é muito pequena, e não caberia
dentro da mata que se formou no meio das minhas pernas.
– Ok, agora é a hora mais difícil: o maldito espartilho! – falo alto
meus pensamentos.
Eu poderia muito bem pedir ajuda a minha mãe, mas ela ficaria
horrorizada ao ver como irei vestida na casa de meu namorado. Não
que ela não saiba da minha vida sexual, ela não é boba, mas daí me
ver vestida feito uma cortesã, tem uma diferença muito grande.
Depois de muito sacrifício, consigo fechar todos os ganchos,
ajeito meus seios dentro da meia taça e me olho no espelho.
– Só se ele for gay para não gostar de me ver vestida desse jeito
– falo para mim mesma, me sentindo insegura, ultimamente tenho
estado assim.
– Depois de quatro anos de namoro é normal que o casal se
distancie um pouco, são as famosas crises do relacionamento, é só
isso – penso alto.
Quando conheci o Renato, ele era apenas um estudante de
Contabilidade, muito inteligente e capaz. Com o passar do tempo,
ele foi crescendo profissionalmente, e atualmente ele é controller de
uma grande empresa, mora num belo apartamento numa região
nobre, tem um belo carro, e um belo salário.
Somos diferentes em muitas coisas, mas nos apaixonamos, e
temos tentado conviver com nossas diferenças.
Retiro o vestido do cabide e o coloco pelos meus ombros, o
amarro por dentro, e finalmente faço o laço lateral externo, para
prendê-lo ao meu corpo.
Me olho novamente no espelho, ajusto ele ao meu corpo, e como
esperado, meus seios se sobressaíram no decote transpassado, o
sutiã meia taça os deixou ainda maiores, mais sensuais.
Ajeito meu cabelo, checo se está tudo ok, pego minha bolsa e
saio em direção à sala.
– Já estou indo! – digo as tirando da hipnose televisiva.
– Nossa! Como você está bonita, filha! – Minha mãe diz com as
mãos nos lábios.
– Tá é gorda, Amélia! Olha o tamanho dos peitos dessa menina,
parece que está amamentando.
Fuzilo minha tia com os olhos.
– Vai se danar, tia! – Saio pisando duro com meu salto alto.
Às vezes, tenho vontade de colocar minha tia em um asilo, mas
aí eu mataria minha avó de desgosto, então sigo aguentando seus
desaforos.
Minha mãe me acompanha até a porta.
– Não liga para ela, Jack. Sua tia está meio esclerosada. – Ela
gira os dedos ao redor da cabeça.
– Eu não ligo, mãezinha. – Beijo seu rosto. – Talvez eu durma no
apartamento do Renato, não se preocupe comigo.
– Mas e o seu trabalho, você vai trabalhar assim amanhã? – Ela
me olha esquisita.
Reviro meus olhos.
– Não sei, depois vejo isso. – Me despeço dela e sigo para o
elevador.
****
Apesar da minha falta de grana, tomei um táxi, pois não queria
ser estuprada no ônibus. Moro na periferia, e apenas o trajeto até
um ponto de táxi já foi complicado, me chamaram de tudo,
bocetuda, gostosa, peituda, Fafá de Belém, enfim, não vale a pena
falar a lista de obscenidades.
Finalmente o táxi estaciona em frente ao prédio do Renato, aqui
é o paraíso! Eu adoraria morar com ele, mas ele nunca mencionou
nada do tipo.
Respiro fundo e sigo para o portão.
Apesar de sermos namorados há muito tempo, o porteiro ainda
precisa me anunciar, o que me causa certa revolta. Tenho tentado
controlar meu gênio, não sou “flor que se cheire”, mas também não
quero perder o namorado.
O portão é aberto e sigo para os elevadores. O prédio que o
Renato mora é lindíssimo, cheiroso – adoro cheiros –, tudo novo e
requintado.
Em alguns minutos estou em frente à sua porta de entrada, toco
a campainha e aguardo enquanto ele abre a porta.
Um barulho na fechadura, e finalmente o vejo.
– Oi, meu gato! Tudo bem?! – falo melosa, o abraçando e
beijando apaixonada.
– Está empolgada hoje, Chuchu! – ele diz se afastando de mim e
seguindo pelo seu apartamento.
Fecho os olhos e bufo irritada.
Isso é jeito de receber a namorada, poxa! – Penso.
– Estou com saudades, só isso! – O sigo pela sala. – Você sabe
que dia é hoje? – Me sento ao seu lado no sofá.
– Quarta-feira, dia de jogo. Não inventa de sair, Jack, sem
chance, hoje tem um jogo imperdível – ele diz zapeando os canais,
e sinto um nó no estômago.
Talvez a Carol tenha razão, esse cara não me merece.
Puxo o ar, e tento espairecer. Ele é assim mesmo, não posso
querer mudá-lo, me apaixonei por ele sabendo como ele era.
– Hoje completamos quatro anos de namoro, sabia? – O olho
carente.
Ele me olha de lado, dá um sorriso insosso.
– Sério?! – Ele volta a olhar para a televisão. – Passou rápido,
Chuchu, nem percebi!
– Vamos comemorar? – Acaricio seus cabelos, beijo seu
pescoço... E ele se levanta.
Reviro meus olhos, essa situação está se repetindo demais para
o meu gosto.
Que merda de frieza é essa?!
– Então, vou pegar um vinho, para a gente comemorar. Mas
como disse, hoje é dia de jogo, não vamos sair, Jack! – Ele pisca
para mim.
Respiro e inspiro com força, tento contar mentalmente até 10.
Ele retorna com as taças e com um vinho, coloca o líquido nas
taças e me oferece uma.
– A nós! – Ele bate em minha taça.
– Ao nosso amor! – Encosto minha taça a dele, o olhando
intensamente, bebo o vinho e me aproximo dele. – Estou com
saudades, Rê... – Aproximo meu corpo do dele, procuro seus lábios,
o beijo com paixão, mas não sinto o mesmo dele.
Em minutos estou com meu vestido pendurado pelo meu corpo,
e ele sem sua calça de agasalho, velha e surrada.
– Que negócio é esse, Chuchu? – ele diz assim que meu vestido
é tirado completamente.
– Uma surpresa para você! – falo e beijo seu pescoço, sua
orelha, estou em brasas! Sou uma mulher muito fogosa, adoro sexo,
mas meu companheiro não parece dividir do mesmo fogo que eu. –
Gostou? – Subo em seu colo, ávida para sentir seu membro dentro
de mim.
– Legal! – ele diz simplesmente, me sinto decepcionada, mas
tento não pensar muito sobre isso. Em minutos estamos transando
como dois coelhos, foi tudo muito rápido, frio, sem paixão, sem
amor.
Me deito ao seu lado no sofá, acaricio seu peito, e não suporto
mais. Por que ele não se empolgou nem com o espartilho, por que
nada mais o empolga em mim?!
– Você não gostou do espartilho? Pensei que você iria pirar
quando me visse assim! – falo decepcionada.
– Ficou legal, Chuchu, eu já disse! – Ele se levanta, pega sua
calça e a coloca.
– Só isso, legal?! Não estou gostosa, sexy, sensual, só legal?! –
falo mostrando minha decepção.
– Jack, não me leva a mal, mas você não está com corpo para
vestir um negócio desses. Olha só para os seus peitos, mal cabem
nesse negócio! – Abro a boca, tento falar, mas as palavras param
em minha garganta, e meus olhos enchem de lágrimas.
– Você está me chamando de gorda, é isso? – falo ressentida.
– Não, não é isso! – Ele passa suas mãos pelos cabelos. – Mas
seria bom se você começasse a malhar um pouco, ou correr. Tem
um monte de garotas do meu trabalho que estão correndo a noite,
junto com nossa equipe de corrida, é muito legal, você iria gostar, e
te deixaria com um corpo bacana!
– Eu não gosto de correr, e meus peitos são grandes mesmo,
Renato. Não tem muito jeito, a não ser que eu faça uma cirurgia
para reduzi-los! – falo magoada. – Eu sempre achei que você
gostasse do meu corpo como ele é!
Me levanto.
– Eu gosto do seu corpo, ele é legal, só que você está meio... –
Ele enche as bochechas de ar, e tenho uma vontade louca de dar
um chute no meio do saco dele.
Esse filho da puta me comeu durante quatro anos, e agora diz
que estou gorda!
– Você também não está grande coisa, Renato! Aliás, está muito
magro, essas corridas estão te deixando seco, parece que está
passando fome! – Pego meu vestido do chão, raivosa. – Gostava
mais quando você tinha uma barriguinha, bochechas redondas,
você era mais bonito, não suporto homem caveira!
A raiva está me corroendo por dentro.
– Só você que acha isso. As garotas por aí não têm essa
opinião, elas piram no meu corpo! – ele diz com um sorriso idiota.
Tenho vontade de voar em seu pescoço e torcê-lo até ele ficar
sem ar.
Jogo meu vestido pelos meus ombros, tento arrumá-lo, mas
estou muito nervosa para isso.
– Os homens por aí também piram no meu corpo, não me
chamam de gorda, mas sim de gostosa. Só você que não curte
meus peitos grandes, a maioria dos homens adoraria cair de boca
neles. – Pego minha bolsa, coloco meus sapatos nervosamente e
saio andando possessa para a porta.
– Jack, espera, não é nada disso! – Ele anda apressado atrás de
mim.
Olho para trás e mostro o dedo do meio para ele.
– Vai se foder, Renato! Procure uma daquelas magrelas sem
bunda e sem peito para comer! – Bato a porta do seu apartamento
com toda a força e aperto nervosamente o botão do elevador.
Eu deveria ter lido meu horóscopo hoje, provavelmente dizia
para eu não sair de casa e não falar com ninguém, devo estar em
meu inferno astral.
Capítulo 3
JACKELINE BARTOLLI
Oelevador abre rapidamente, vejo um homem parado no fundo
com a cabeça baixa, entro feito um furacão, estou espumando de
raiva! Seleciono o térreo, e olho para frente, mas não vejo nada,
minha visão está vermelha.
Aquele filho da puta vai me pagar! – penso furiosa.
Um tranco no elevador, as luzes se apagam, e em seguida uma
luz de emergência acende.
– O que foi isso?! – pergunto assustada.
– Provavelmente acabou a energia elétrica. – Ouço uma voz
grossa e aveludada, olho para o meu lado e lá está um belo
exemplar da raça masculina. Isso sim é homem e não o traste do
Renato, mas não estou com esse pique todo, estou odiando a raça
masculina.
Meu coração acelera, não sou dada a medos, mas ficar num
elevador parado no meio do caminho não me parece algo muito
acolhedor.
– Talvez devêssemos ligar para o bombeiro? – falo assustada,
pegando meu celular e vendo que o maldito está sem sinal.
– Eles devem estar ligando o gerador, tenha calma! – Olho para
o homem e o vejo olhando indiscretamente para o meu decote.
Suspiro com força.
Mais alguns segundos e nada do elevador voltar. Olho
novamente para o homem, e lá está ele olhando novamente para o
meu decote.
Que filho da puta tarado dos infernos! – penso com raiva.
– O senhor está com algum problema, ou é tarado mesmo?! –
falo enfurecida, estou de péssimo humor.
Ele sorri, o filho da puta tem um sorriso maravilhoso! Aliás, ele é
maravilhoso, mas acho que irei me tornar lésbica, estou de saco
cheio dos homens.
Ele não responde, continua sorrindo.
– Não contei nenhuma piada, e se você não parar de olhar para
o meu decote, vou sentar a mão na sua cara! – falo fora de mim,
acho que estou com o diabo no corpo.
– Desculpe, mas é que a senhora se esqueceu de fechar o
vestido! – Ele sinaliza com a cabeça, e vejo meu vestido
escancarado, mostrando o espartilho, os peitos saltando na meia
taça, um verdadeiro vexame.
Me desespero tentando arrumar o vestido, mas o problema é
que não o prendi por dentro, então terei que abri-lo inteiro para
arrumá-lo.
Oh, merda de vida!
– Feche os seus olhos, eu preciso arrumar meu vestido – falo
nervosa, segurando o decote que está escancarado.
Seu sorriso que era apenas um sorriso de lado, agora está de
ponta a ponta.
– Eu já vi tudo, mas se você prefere assim... – Ele vira seu rosto
de lado, e em seguida se vira de costas para mim.
Fecho meus olhos e respiro fundo, e arrumo o maldito vestido, o
odiando, e o espartilho, e todo o resto que me cerca.
– Pronto, posso me virar?! – Ele pergunta com uma ponta de
cinismo na voz.
– Pode! – falo com uma carranca maior que o elevador.
Ele vira em minha direção, olha por cima dos cílios, e lá está
aquele sorriso de cafajeste no rosto.
Ai que ódio!
Um novo solavanco no elevador, e ele volta a descer.
Suspiro aliviada.
Que vergonha, meu Deus! Não vejo a hora de sair desse
elevador.
Olho de relance para o homem, ele mexe em seu celular, parece
ler uma mensagem. Aproveito que ele está entretido, e resolvo olhá-
lo com mais cuidado, ele é alto, cabelos castanhos, não muito
escuros, cortados perfeitamente, e estão levemente molhados. Seu
rosto é em formato de losango, um rosto másculo, bem feito, sua
barba começa a crescer, dando um ar meio selvagem a ele. Os
lábios são finos, mas bonitos, e o nariz combina perfeitamente com
seu rosto.
Ele é muito bonito, se veste muito bem e exala um perfume
inebriante.
De repente ele levanta seus olhos e me encara, e nos primeiros
minutos é difícil desviar meus olhos dos seus, eles são profundos e
sedutores, lindos em um tom acinzentado, com pontinhos dourados.
Ele é muito bonito.
Desperto com o elevador abrindo, mais do que depressa saio e
caminho a passos barulhentos até a saída do prédio.
Paro ao chegar à rua.
– Para onde eu vou? – Sinto as lágrimas voltarem aos meus
olhos. – Não quero voltar para casa e ouvir as piadinhas idiotas da
minha tia.
Enxugo uma lágrima que escorreu pelo meu rosto, acho que
quero beber, então pego meu celular e ligo para a Carol.
A ligação chama, mas cai na caixa postal, falo meia dúzia de
nomes feios, e então vejo um carro daqueles pretos e elegantes
parar ao meu lado.
Olho confusa, só falta agora acharem que estou fazendo ponto
nesse lugar!
O vidro abre vagarosamente e vejo aquele pedaço de mau
caminho.
– Tudo bem? Precisa de uma carona?
Fico entre a surpresa e a confusão.
Ele levanta suas sobrancelhas diante de minha letargia.
– Eu... – Nem sei o que falar, estou mais dura que pau de tarado,
de repente uma carona viria a calhar, realmente não estou em
situação de pagar um novo táxi.
O celular toca, vejo a foto da Carol, volto a olhar para ele, e
desisto.
– Não, obrigada! – Tento sorrir, mas estou muito constrangida
pela cena do elevador.
Ele balança a cabeça, dá um sorriso contido, e sai
vagarosamente, me deixando meio abobada.
Eu deveria ter aceitado a carona, e transado a noite inteira com
esse cara ele deve ser muito melhor de cama que o inútil do Renato.
Atendo a Carol.
– Carol, você acaba de atrapalhar minha carona, eu iria pegar
carona com um cara magnífico!
Ela dá risada.
– Cachorra! – ela diz maliciosa. – Então, por que você me ligou
se tinha uma carona com um cara magnífico?
– Quero beber até cair! Me leva para beber, Carol, pode ser nos
inferninhos que você frequenta. Talvez eu escolha uma garota para
ficar essa noite, estou de saco cheio de homens.
– Oba, pode ser euzinha?! – ela diz e ri ao mesmo tempo.
– Não, você não vale. Seria blasfêmia, você é como uma irmã! –
Sorrio sozinha.
– Onde você está, em casa? – ela diz rapidamente.
– Não, estou em frente ao apartamento do Renato. Acabei de
brigar com ele, e não quero vê-lo pelo resto do ano – falo nervosa.
– Ok, estou indo até aí. Não demoro muito! – Ouço sua voz
apressada.
– Não demora, Carol, senão vão achar que estou fazendo ponto
neste lugar!
Ela dá uma gargalhada.
– Aproveite, se for um bofe bonitão, cai pra cima, amiga! – ela
diz debochada.
– Vai à merda, Carolina! Estou te esperando! – Desligo a ligação.
****

O lugar escolhido por minha amiga para bebermos é um inferno


GLS, eu não deveria me assustar, ela só frequenta esses lugares.
– E aí, gostou do point?! – ela diz sorrindo, animada.
– Bem alternativo, Caroleta, mas estou me sentindo um bife
suculento! Essas lésbicas não têm vergonha na cara, só faltam me
engolir viva! – falo meio assustada, não tenho nada a ver com esse
lugar, estou me sentindo uma extraterrestre.
– Vem comigo. – Ela passa seu braço pela minha cintura, tipo
minha namorada. – Vamos fingir que somos um casal, assim elas te
deixam em paz.
Entorto meu nariz, meus lábios, não nasci para isso, gosto de
homem, com pau bem grande, não suportaria me atracar com outra
mulher.
Urgh!!!
Chegamos a uma mesa abarrotada de pessoas entre homens e
mulheres, mas aqui é tudo às avessas, os homens são mulheres, e
as mulheres são homens.
Meu Deus, acho que sou muito antiquada para esse mundo
atual, apesar de psicóloga, não consigo ver muito sentido no homo,
o legal é o hétero, os encaixes perfeitos, a delicadeza de um, com a
rudeza do outro, enfim...
Ok, mas não sou preconceituosa, sou amiga da Carolina há
muito tempo, já sei de sua preferência por meninas desde os 18
anos. Tenho convivido com isso com muito respeito, continuamos
amigas, sua preferência sexual não a torna menos amiga que outra
garota.
– Se senta aqui, Jack. – Ela me coloca ao lado de um cara lindo,
mas infelizmente, bichona louca, completamente louca, foi só abrir a
boca para vê-lo desmunhecar inteiro.
Rapidamente sou apresentada a todos, nunca tinha vindo a um
lugar desses com a Carol. Mas até que está sendo divertido, seus
amigos são muito alegres, falantes, adorei, estou apaixonada por
eles.
Depois de beber muito, levanto-me para ir ao banheiro.
– Aonde você vai, Jack? – A Carol fala preocupada.
– Preciso mijar, oras bolas! – falo tonta e completamente
bêbada.
– Quer que eu vá junto? – ela diz.
– Não, Carol! Me deixa, eu não sou criança! – Saio tentando
firmar o salto alto, e andar no meio da confusão de homens e
mulheres que se esfregam, se beijam, e dão risada
enlouquecidamente.
Finalmente vejo a minha frente o que deve ser o banheiro, mas
antes que possa alcançar a porta, sou agarrada pela cintura, olho
assustada e vejo uma mulher lindíssima.
– Oi, gata! – ela diz cheia de intimidade.
– Oi! – Me afasto e tento tirar suas mãos da minha cintura.
– Podemos nos conhecer? Estou te observando há horas, você é
linda, parece a Sofia Loren, sabia? – ela diz toda sedutora.
– Ah, tá, já me disseram isso antes – falo toda sem jeito. – Já
estou acompanhada, minha namorada está logo ali, aquela morena
linda, sou apaixonada por ela, não a troco por nada, não sei se você
me entende?! – Pisco para ela com um ar de cumplicidade.
– Oh, você é namorada da Carol. Eu a conheço, já ficamos
algumas vezes.
Levanto minhas sobrancelhas, agora fodeu, ela conhece a Carol.
– Que coincidência! Mas, estou quase mijando nas calças, dá
licença! – Saio de fininho, deixando a mulher me olhando com
curiosidade.
****

Respiro aliviada ao sair do banheiro, mas o alívio foi


momentâneo. Quando chego a nossa mesa lá está ela, a morena
que me interpelou a pouco, conversando com a Carol.
A Carol me vê, dá um sorriso largo, e suspeito que ela já saiba
do meu encontro com a garota.
– Vem, amor! Estava contando de você para a Lili – ela diz com
seu jeito extrovertido.
Reviro meus olhos, maldita hora que inventei de vir aqui.
Me sento ao seu lado, a Carol abraça minha cintura e beija meus
cabelos.
– Essa aqui é meu amor, Lili. Não chega perto dela, ok?! – ela
diz mudando seu humor de branco para negro.
– Oh, claro! – A garota se levanta, sorri e se afasta.
– Carol, que mico! Me larga! – Me afasto dela, que cai na
gargalhada. – Acho que tá bom por hoje, foi uma bela imersão no
mundo GLS.
– Tá bom, meu tesouro! Então, vamos! – Ela pega em minha
mão, e me puxa.
– Precisa mesmo ficar me pegando o tempo todo? Não curto
cheiro de bacalhau, Carol! – falo mal-humorada.
– Se você quiser ir sozinha, vai, sua tonta, você vai ver o que é
cheiro de bacalhau! – ela diz brava. – Estou querendo te proteger,
você não faz meu tipo. – Ela revira os olhos.
Pego em sua mão, e a deixo me tirar daquele lugar dos infernos.
Respiro aliviada ao pisar na rua e sentir a brisa fria da noite.
– Desculpe, Caroleta, acho que fui meio grossa com você. Te
amo, irmãzinha! – Beijo seu rosto.
– Oh, Jack, você está fedendo a bebida! – Ela faz cara feia. –
Ok, eu nunca te levo muito a sério, principalmente bêbada.
– Que bom. – Estendo meu dedinho para ela. – Vamos fazer as
pazes.
– Oh, amiga, você está tão bêbada! Quer dormir na minha casa?
Sua mãe não vai gostar de te ver desse jeito – ela diz com uma cara
de pesar.
– Tá bom, mas não vamos dormir juntas, você pode querer
abusar de mim – falo dependurada em seu ombro.
Ela bufa, mas não fala nada.
****

Acordo de sobressalto.
– Vamos, Jack! Vai tomar um banho, vou te levar comigo no
escritório, assim você já conversa com o meu chefe.
Arregalo meus olhos.
– Não! Eu não posso ir a uma entrevista de emprego vestida
assim! – falo apavorada, levanto e vejo que estou só de camiseta. –
Quem colocou isso em mim?
– Eu, sua bebum! – ela diz apressada, vestindo uma calça social,
camisa e blazer.
– Hum, você está tão bonita! – falo para descontrair.
– Eu empresto uma roupa para você, deve servir. Não temos um
corpo tão diferente, só esses peitos e o traseiro, mas vou escolher
algo mais larguinho. – Ela sai em disparada para seu guarda-roupa.
– Vai, Jack, não posso me atrasar! – A ouço berrar.
Finalizo meu banho, enrolo uma toalha no corpo e sigo para o
quarto da Carol.
– Jack, eu tenho essas opções. Veja o que você acha que fica
melhor em você – ela diz me olhando. – Vou preparar um café, acho
que você ainda está bêbada! – Ela revira os olhos.
Olho desanimada para as roupas, uma calça com blazer,
camisas e blusas.
Balanço minha cabeça negativamente, duvido que algo irá me
servir.
Sorrio ao ver uma embalagem de calcinha nova, a Carol é tão
carinhosa.
Coloco a calcinha, pego um top que ela deixou, óbvio que ficou
pequeno, mas vai ter que servir, caso contrário terei que ir com os
peitos soltos, e isso não é uma boa ideia.
– Ok, vamos começar com este vestido.
A vejo entrando no quarto, ela torce o nariz.
– Tá meio indecente, Jack! – Ela balança a cabeça vendo meus
peitos saltando pelo decote.
Tiro ele e jogo sobre a cama.
– Talvez a camisa, ela é larguinha, ganhei de aniversário da
minha mãe, ela nunca acerta a numeração! – Ela me olha de lado.
Coloco a camisa, abotoo, até que serviu, mas os últimos botões
ficaram tipo, estourando!
Me olho no espelho desanimada.
– Ficou bom, Jack. Coloque a calça – ela diz apressada.
Enfio a calça, a fecho e viro de costas para me olhar no espelho,
reviro meus olhos.
– Minha bunda não cabe nessa calça! – falo irritada.
– Cabe sim, só ficou um pouco justa, mas ficou muito legal! – Ela
faz uma cara de malícia. – Você tem um corpão, Jack, só você não
gosta dele. – Ela sorri maliciosa.
Fecho os olhos e respiro, coloco o blazer e o meu sapato alto.
– Tá bom? – Olho para ela insegura.
– Hum, parece uma advogada! – ela diz sorrindo. – Bem
gostosona, é claro!
Bufo de raiva, sentindo-me muito chamativa, mas é isso ou nada.
– Tem certeza que seu chefe poderá me atender hoje, não
podemos fazer isso outro dia?
– Jack, eu pedi pelo amor de Deus para ele entrevistar você!
Nem sei se já escolheram alguém, mas ele gosta muito de mim, e
por isso abriu uma exceção.
– Ele quer te comer, é isso?! – falo com desdém.
– Não, ele sabe que sou lésbica. Ele me ama porque sou foda,
não perco um processo, sou a melhor do escritório, amiga! – ela diz
orgulhosa, se rebolando toda.
Sorrio, porque eu amo essa garota, e torço muito por ela! Sua
vida não foi fácil, ela teve muitos problemas familiares, um dia
desses eu conto para vocês.
– Então, vamos, antes que eu desista, ou essa calça parta ao
meio! – Ela dá um tapa no meu bumbum e sai correndo.
– Te mato, Carol! – Grito irada.
Capítulo 4
JACKELINE BARTOLLI
Durante o caminho até o escritório onde a Carol trabalha, ela
me fala um pouco sobre seu chefe.
– Então o cargo é só temporário?! – pergunto com desânimo.
– Hello, Jack!!! – Ela estala os dedos. – A mulher ficará seis
meses de licença, dá tempo de você se encaixar muito bem em
outro departamento, é só mostrar serviço. – Ela me olha enfezada.
– Eu sei, mas duvido que eles já não tenham alguém em vista,
vai ser só perda de tempo.
– Pessimista, como só você sabe ser! – Ela revira os olhos.
– Ok, mas o que eu vou dizer para ele? Nunca fui secretária!
Estou em pânico, Carolina! – falo brava.
– Amiga, o trabalho é moleza. A secretária dele passava o dia
todo lixando as unhas, ela não fazia nada! – ela fala com desdém. –
É mais para controlar a agenda do Doutor Rui, comprar passagens
aéreas, xerocar documentos, é moleza.
Ela pisca para mim.
– Certo! – A olho sem credibilidade. A Carolina é muito
inteligente, tudo é moleza para ela, agora eu, me acho uma tapada.
Ela entra no estacionamento de uma casa, na verdade um
pequeno prédio de dois andares, mas é uma construção moderna e
imponente.
– É aqui, Jack. Se comporta, tá?! – Ela me olha. – E segura sua
língua, você fala muitas besteiras. – Ela sorri.
– Vai se foder! – falo meio cantado.
Desço insegura, olho para o prédio todo cheio de vidros e uma
placa gigante na frente com o nome do escritório.
A sigo em direção à entrada. Uma garota muito bonita, loira,
cabelos escorridos e olhos claros, está sentada elegantemente
numa recepção sofisticada.
– Bom dia, Doutora Carol! – ela diz com um sorriso encantador.
– Bom dia, Karen! Essa aqui é uma amiga, Jackeline, ela tem um
horário com o Doutor Rui. Ele já chegou?
Ela me olha longamente.
– Ainda não. Quer que eu a leve até a recepção do doutor? – Ela
se levanta mostrando um belo par de pernas, esguias e longas, do
jeito que gostaria que fossem as minhas.
– Acho melhor, estou meio atrasada. – A Carol olha em seu
relógio de pulso, e em seguida para mim. – Jack, vá com a Karen,
depois dou um pulinho para falar com você, tenho uma reunião
agora, e estou atrasada – ela cochicha. – Por sua culpa!
Sorrio.
– Obrigada, amiga! – Mando um beijo com os lábios e a vejo
saindo apressada pelas escadas longas e sinuosas que dão no
andar superior. – Então...? – Olho para a loirinha, que está me
olhando indiscretamente.
Será que ela acha que sou a namoradinha da Carol?
Ela sorri sem jeito.
– Vamos? – Ela sai andando em minha frente parecendo uma
modelo.
Como gostaria de ter um corpo como este! – Suspiro e me
lembro do babaca do Renato, e a raiva volta.
– Pode se sentar aqui, o doutor já deve estar chegando.
– Obrigada! – Me sento em uma das poltronas espalhadas em
uma pequena recepção.
Os minutos passam sem que o chefe da Carol chegue.
Olho pela décima vez no relógio. Estou plantada nesta recepção
há uma hora, e nada desse doutorzinho chegar. Que descaso, poxa!
De repente, um furacão passa por mim, sinto o vento se
movimentar, assim como um cheiro inebriante no ar.
Mal tive tempo de ver o doutorzinho, ele entrou e fechou a porta,
e nem me falou um bom dia!
– Oh, ele deve ser um daqueles advogados insuportáveis!
O seu perfume continua inebriando a recepção, é um misto de
fragrâncias amadeiradas com cítricas e levemente doce. Tento me
lembrar de onde conheço esse perfume, mas então a voz tipo um
trovão chama pelo meu nome.
– Jackeline Bartolli!
Sinto aquele friozinho no estômago, um medo, não aguento mais
fazer entrevistas em minha vida.
Me levanto, ajeito a calça, o terninho, e caminho a passos
inseguros até a sala cuja porta ficou semiaberta.
Empurro a porta vagarosamente, a sala é enorme. Vejo a
esquerda uma mesa de reuniões, a abro mais um pouco e então
vejo sua mesa ao fundo, ele está de cabeça baixa, anotando ou
assinando coisas energicamente.
– Pode entrar – ele diz ainda de cabeça baixa.
Caminho relutante até sua mesa, olho-o de cabeça baixa.
– Sente-se – ele diz sem ao menos me olhar.
Que cara mais mal-educado! – penso.
Olho para a cadeira e me sento, e então ele levanta a cabeça e
meu coração fica gelado.
É o cara do elevador!
Eu não ando numa maré de muita sorte! Qual a chance de uma
coisa como essa acontecer? 0,00000000001, e aconteceu com a
Jackeline.
Oh, mulherzinha azarada! – penso o olhando atônita.
Ficamos nos olhando durante alguns segundos que parecem
eternos.
Será que ele não me reconheceu? Isso seria um alívio!
– Deu tudo certo ontem? Quero dizer, arrumou um táxi, ou uma
carona? – ele diz sério, nenhuma ponta de sarcasmo ou cinismo.
– Sim, deu tudo certo – respondo no automático, minha garganta
está seca, e meu coração disparado.
Ele abaixa seus olhos, mexe nervosamente nos papéis a sua
frente, e volta a me olhar, e parece que estou nua em sua frente.
Esse homem tem um jeito de olhar que deveria ser proibido.
– Me fale um pouco sobre você, sua experiência profissional.
Me arrumo na poltrona, mexo em minhas mãos.
O que vou dizer, meu Deus? Aliás, o que estou fazendo aqui?
Volto a olhar para ele.
– Talvez eu não seja a pessoa certa para esse cargo, estou aqui
por insistência da minha amiga. – O olho aflita.
– A Carolina? – Ele cruza seus braços em seu peito, e que peito,
ele é todo grande, musculoso e sexy.
Sinto um começo de calor.
– Isso, ela mesma – respondo sem graça.
– Você não quer nem mesmo tentar, já está desistindo?! – Ele se
mexe na cadeira, e cruza seus braços em cima da mesa.
Me sinto acuada, ele me encara tanto, que estou ficando
nervosa.
– Sou formada em Psicologia, trabalhava em consultórios como
terapeuta, nunca trabalhei de secretária.
Ele me olha intensamente.
Ai, que nervoso, se eu pudesse sairia correndo agora mesmo.
– Certo. – Ele balança a cabeça. – Não gostaria de tentar?
Abro a boca, e o vejo olhando para meus lábios, e sinto uma
quentura dentro de mim.
Meu Deus, que calor!
Me ajeito novamente na poltrona.
– Claro que quero. Eu perdi meu emprego, não estou em
situação de me negar a trabalhar. – Falo de cabeça baixa, e então
volto a olhar para ele, o vejo olhando novamente para meus peitos e
como reflexo olho para meu colo, e lá está o motivo, os botões se
abriram.
Fecho os olhos, e me amaldiçoo por estar usando uma camisa
dois números menores do que uso de costume.
Corro meus dedos nervosamente pelos botões, acho que estou
vermelha como sangue.
Vejo-o se levantando, ele segue até a janela e volta.
– Quer fazer uma experiência, Jackeline? – Ele me olha a
distância.
O olho nervosa, abro a boca, fecho, será que ele está falando
sério?!
– Quero, claro que quero! – respondo nervosamente.
– Você pode começar hoje se quiser. Minha secretária irá ganhar
bebê, ela não vem mais. – Ele se senta a minha frente, e bebe a
água que está sobre sua mesa.
– Oh! – O olho confusa. – Tudo bem, mas não terá ninguém para
me explicar o serviço?
– Eu, eu irei te explicar o serviço – ele fala com um sorriso de
canto de boca, apoia seu cotovelo no braço da cadeira e fica me
encarando.
Puxo o ar.
Algo me diz que talvez isso não dê muito certo.
Nunca mais eu tinha sentido tanta atração por um homem, esse
cara é pura tentação.
– Claro, você, isso é óbvio! – falo as palavras atrapalhadamente.
– Ok, então, por onde começo?
Oh, por que ele me olha tanto? Isso me deixa tão nervosa.
Ele se levanta.
– Vou te mostrar sua mesa. – Ele segue em minha frente, fico
admirando o conjunto da obra, e balanço minha cabeça.
– O que acho que estou fazendo secando a bunda do meu
chefe?!
Ele abre a porta da sala e me olha, e levanto-me de sobressalto.
– Vamos, Jackeline!
Meu nome fica tão lindo na sua boca.
Oh, céus, o que está acontecendo comigo? Devo estar no meu
período fértil.
Sigo até ele, ora olhando para baixo, ora olhando para ele.
O alcanço na porta, ele faz uma menção com a mão para eu
passar e sigo na frente, sentindo aquele cheiro maravilhoso que
inebria de seu corpo.
– Você ficará aqui – ele diz muito próximo a mim.
O olho de lado, e sinto uma energia irresistível.
– Tudo bem! – Olho para a mesa, depois para ele. – O que devo
fazer? – Olho para ele com cara de retardada.
Cacete, nem sei o que uma secretária faz!
– Bom, por enquanto, nada. – Ele puxa a cadeira para mim. –
Sente-se. – Ele indica a cadeira, estamos muito próximos, acho que
estou começando a sentir uma espécie de claustrofobia, eu preciso
de espaço, preciso que esse homem saia de cima de mim.
Me sento rapidamente.
Ele se inclina sobre mim, me afasto sentindo aquele perfume
delicioso em minhas narinas.
Vejo-o digitando algo no computador, a tela inicializa, ele volta a
se afastar e me olha.
– Talvez eu precise que você faça algumas ligações, cartas,
essas coisas! – Ele coloca suas mãos ao redor de sua cintura. –
Você vai pegando o jeito aos poucos, fique tranquila. As coisas mais
complicadas eu passo diretamente para os advogados, você será
mais uma assistente...
Não sei se é só impressão minha, mas ele parece meio nervoso.
– Bom, eu preciso resolver algumas coisas, depois te chamo
para vermos algumas pendências. Por enquanto, atenda ao
telefone, anote os recados, e se for algo urgente, você pode me
chamar por este botão aqui. – Ele pressiona uma tecla no telefone,
e ouço o telefone de sua sala tocar.
– Ok! – Balanço minha cabeça.
– Bom, por enquanto é isso. – Ele vira de costas e sai como um
furacão.
Solto o ar que estava preso em meu peito.
Jesus, o que aconteceu aqui?
****

Estou há uma hora sentada nesta mesa sem absolutamente


nada para fazer.
Ouço a vibração do meu celular na bolsa, o pego discretamente,
e vejo que é a Carolina.
– Oi, Carol! – falo meio cochichando.
– Desculpe, Jack, eu não consegui voltar para falar com você.
Mas e aí, como foi a entrevista? – ela diz com voz de culpada.
– Uma merda! Como você imaginou que seria? – falo com
sarcasmo.
– Jack, você não mentiu como te falei? O que custa contar uma
historinha, poxa?!
– Eu não contei uma historinha, mas consegui o emprego! –
Sorrio discretamente.
– O que?! – ela fala exaltada. – Como assim, mas já?!
– Sei lá, Carol, o homem pediu para eu fazer uma experiência, o
que eu iria dizer? Eu topei, e estou aqui, nem sei por onde começar!
– falo nervosa.
Ela dá uma risada escandalosa.
– Caramba, Jack, não sabia que você era poderosa desse jeito!
– Ela continua rindo. – O que você fez para o insuportável do meu
chefe te contratar assim, do nada? Você mostrou seus peitos para
ele?! – ela ri escandalosamente.
Penso em contar que de alguma forma eu já mostrei meus peitos
para ele, mas desisto, a Carolina é muito escandalosa.
– Carol, por favor, me poupe – falo sem paciência. – Confesso
que estou meio apavorada, não sei se isso vai dar certo!
– Jack, fique sabendo de uma coisa, se ele te contratou é porque
ele gostou de alguma coisa em você, não sei se é essa comissão de
frente que você tem, ou a de trás, ou sua lábia, amiga. Então,
esquece essa parte de “eu acho que não vai dar certo”! – ela fala
com ironia. – Parabéns, e boa sorte, querida! E saiba de uma coisa,
esse homem parece um trator desgovernado.
– Obrigada pelo conforto, isso vai me ajudar muito! – Sorrio
amarelo.
– Vamos almoçar juntas? – ela sorri. – Eu pago, sua dura, eu sei
que você só tem dinheiro para hot-dog! – Ela continua rindo.
– Tudo bem, te espero, tá? Beijos e obrigada.
Capítulo 5
RUI FIGUEIREDO
Flashback on
Termino de me arrumar e sigo para o elevador.
Confesso que hoje é um dia daqueles que eu gostaria de sair
para beber com os amigos, ver mulher bonita e me divertir, a última
coisa da lista seria jantar com a Priscila.
Isso pode parecer meio irônico, estamos há alguns meses para
nos casarmos, eu não poderia me sentir assim, iremos dividir o
mesmo teto, mas o fato é que me sinto desmotivado, cansado e
desgastado de nosso relacionamento.
Tudo poderia ser facilmente resolvido, era só dar um basta nisso,
não sou um cara dado a sentimentalismos ou arrependimentos. Mas
a questão é que seu pai é meu sócio, e se existe uma grande
burrada que fiz na minha vida, foi me envolver com a filha do meu
sócio.
Eu sou um grande idiota.
Construí esse escritório do nada, aí veio a oportunidade de me
unir ao melhor escritório de advocacia da região, pertencente a um
grande ex-juiz, o Doutor Albuquerque, e então tudo começou.
A Priscila é uma jovem advogada, linda e brilhante, no começo
me encantei com ela, começamos a nos relacionar, aí de repente
tudo ficou sério, temos uma diferença grande de idade, ela tem 23
anos e eu tenho 35. Eu não queria nada sério, mas tudo aconteceu
de uma forma que não consegui controlar, ela é jovem, mas muito
astuta, e quando vi, já estava enrolado até o último fio de cabelo.
A sociedade com seu pai de alguma forma me forçou a assumir
este compromisso, e agora estamos de casamento marcado, e eu
mal sei como cheguei a essa situação.
Estou entretido trocando mensagens com uma periguete que
saio de vez em quando, só para desestressar e aliviar a tensão,
quando o elevador para.
Não me dou ao trabalho de olhar quem entrou, mas o perfume
que sinto me chama a atenção, é suave, muito feminino e marcante,
então levanto meus olhos e vejo uma deusa a minha frente.
Pela sua expressão a noite não foi muito boa, e pelo estado de
sua roupa ela saiu às pressas, deixando para mim a bela visão de
seu espartilho, um par de peitos pelo quais eu daria um milhão de
reais para me afogar neles, e todo o resto.
Caralho, que mulher gostosa!
Subitamente o elevador para, as luzes apagam, mas
rapidamente a luz de emergência acende.
– O que foi isso?! – ela diz assustada, saindo um pouco do seu
estado de transe, pelo visto a briga foi feia!
– Provavelmente acabou a energia elétrica – respondo, e ela me
olha, e não consigo deixar de notar o quanto ela é bonita, sensual.
Seus olhos levemente puxados dão a ela um ar exótico, assim
com sua boca grande e carnuda.
Como ela é linda!
– Talvez devêssemos ligar para o bombeiro? – ela diz nervosa,
olhando para seu celular.
É impressionante como as mulheres são desesperadas de
nascença.
– Eles devem estar ligando o gerador, tenha calma! – Olho para
ela, mas não consigo desviar meus olhos dos seus seios, é a visão
do paraíso, caralho!
Ela desvia os olhos de mim, nem percebeu o estado de seu
vestido, mas também não vou avisá-la, não agora, preciso olhar
mais um pouco para ela e imaginar o que seria tê-la na minha cama.
Estou num estado de enfeitiçamento, se ela não estivesse tão
brava eu poderia tentar conhecê-la, quem sabe esticar um pouco a
noite, e que se fodesse a Priscila.
Finalmente, ela volta a olhar para mim, com aquele olhar de gata
selvagem, não deu tempo de disfarçar, ela me pegou secando cada
pedacinho do seu corpo, essa mulher é uma loucura.
– O senhor está com algum problema, ou é tarado mesmo?! –
Tenho vontade de rir do seu jeito, e acabo rindo.
A cena é lamentável, eu e ela sozinhos num elevador quebrado,
ela seminua na minha frente, e eu tendo que fingir ser bom moço.
– Não contei nenhuma piada, e se você não parar de olhar para
o meu decote, vou sentar a mão na sua cara!
Sério, ela é muito brava, me deixe explicar a situação antes que
eu apanhe aqui dentro.
– Desculpe, mas é que a senhora se esqueceu de fechar o
vestido! – falo educadamente, usando meu português perfeito, e
tentando segurar meu riso, mas tá difícil.
– Feche os seus olhos, eu preciso arrumar meu vestido – ela diz
nervosamente, tentando arrumar o vestido, e segurá-lo para que eu
não veja a sua lingerie.
Sorrio mais, eu já vi tudo, o vestido estava completamente
aberto. Vi sua calcinha, a meia liga, suas pernas, tudo o que ela
está tentando esconder de mim.
– Eu já vi tudo, mas se você prefere assim... – Viro de costas,
apenas para não a deixar ainda mais constrangida.
Se ela soubesse o prazer que eu estava em vê-la na minha
frente, ela não se esconderia de mim, e de meu pau que está duro
por sua causa.
– Pronto, posso me virar?! – falo cinicamente.
– Pode! – ela responde ainda nervosa.
Me viro e olho para ela, tento ser discreto, dou apenas um olhar
discreto, mas não consigo deixar de sorrir, ela realmente é uma
mulher encantadora.
Um novo tranco e o elevador volta a funcionar, e é uma pena, de
repente eu poderia tentar conhecê-la.
Sinto uma trepidação no celular, o pego no bolso e vejo que a
Priscila deixou uma mensagem.
Ela é o tipo de mulher pegajosa, carente e ciumenta, apenas
alguns minutos de atraso já geram um estresse desnecessário. Se
ela soubesse o quanto estou de saco cheio dela!
Digito rapidamente uma resposta:
“Priscila, estou preso no elevador do prédio, mas que eu saiba
não temos nenhum compromisso, só iremos jantar, não sei por que
desse estresse todo.”
Dou um enviar e volto a olhar para a gata selvagem e a encontro
me olhando, é como se não conseguíssemos desviar os olhos um
do outro, ela é muito sedutora, impossível não me se sentir atraído
por ela.
O elevador chega ao térreo, a deusa do espartilho vermelho sai
sem nem se despedir de mim, mas pelo menos consegui ter uma
visão de sua parte de trás, ela é realmente um espetáculo de frente,
de lado, e de ré.
Que caralho de mulher gostosa! – falo sozinho no elevador, que
já chegou à garagem, enquanto arrumo meu pau dentro da calça.
Saio do elevador, entro rapidamente em meu carro, e como se o
destino estivesse conspirando ao meu favor, lá está ela, parada
mexendo nervosamente em seu celular.
Quem será o babaca que dispensou essa deusa?
Mesmo contra todos os alertas que me dizem para não fazer
isso, eu faço, paro o carro ao seu lado e pergunto:
– Tudo bem? Precisa de uma carona?
Ela me olha confusa, com aquela boca deliciosa semiaberta.
Caralho, que porra de tesão louco é esse que estou sentindo por
essa mulher?!
– Eu... – Ela começa a falar, mas a merda de seu celular toca.
Mas que merda, que porra de azar!
– Não, obrigada! – Ela curva suavemente seus lábios, eu ainda
não a vi sorrindo, mas ela deve ficar linda sorrindo.
Não há muito que fazer, aliás, não sei o que de fato eu queria
fazer, a porra da Priscila está me esperando faz uma hora...
Sorrio para ela e sigo meu caminho.
****

Acordo assustado, olho no meu celular e percebo que perdi a


hora.
Olho ao meu lado e vejo a Priscila, reviro meus olhos e bufo
exausto.
Ontem, nossa noite foi um inferno, brigamos até não podermos
mais. Por fim, jantamos em seu apartamento mesmo, depois demos
uma trepada sem graça, peguei no sono e acabei ficando por aqui.
Talvez o encontro com aquela mulher tenha me deixado meio
desnorteado, perdi a paciência com a Priscila, brigamos, pedi para
darmos um tempo, ela se desesperou, chorou feito uma louca, e por
fim, tudo acabou em sexo.
Minha vida está uma merda!
Agora a Priscila está dormindo como um anjo, mas quem a
conhece sabe que essa aqui é o demônio em pessoa.
Meu Deus, onde fui me amarrar? Ela é igual a sua mãe, uma
piranha nojenta que chifra seu pai até hoje, provavelmente a Priscila
será igual. Não sei como me livrar dessa mulher sem acabar com
minha sociedade com seu pai.
Ok, preciso me levantar e ir para o escritório, pego minha roupa
no chão e começo a colocá-la rapidamente, ainda quero voltar para
casa, tomar um banho decente e ir para o escritório.
Olho a agenda do celular, preciso ver se tenho algum
compromisso. Estou fodido, a porra da secretária resolveu dar à luz
antes da hora, e a outra secretária não poderá começar essa
semana.
Já arrumei uma secretária, uma profissional experiente,
acostumada com a rotina de um escritório de advocacia. Sou um
cara exigente, preciso de alguém a minha altura para me auxiliar.
Olho para agenda e vejo a merda de uma entrevista.
Bufo irritado e olho para o teto.
– Por que fui marcar essa entrevista? Eu já escolhi uma
secretária, cacete! – falo em pensamento.
Mas, me lembro de que foi a Carolina que me pediu para
entrevistar sua amiga. Ela insistiu tanto, e como é uma das minhas
melhores advogadas, quis fazer um agrado para ela, só para não
deixá-la chateada, mas eu já sabia que não iria dar certo, a
profissional para essa vaga já foi escolhida.
– Ok, foda-se. Vou chegar atrasado, a garota que espere! –
penso alto, pego minhas coisas e saio sem me despedir da Priscila.
Chego rapidamente ao meu apartamento, tomo um banho
rápido, me arrumo e sigo apressado para pegar meu carro.
O elevador desce, e de repente para no andar que aquela
mulher de ontem entrou, um cara entra e me olha.
– Bom dia! – falo educadamente.
Ele responde com um rosnado, parece que está meio chateado
com a briga de ontem. O analiso enquanto estamos no elevador. A
minha deusa do espartilho vermelho é muita areia para esse
caminhãozinho, ele não tem jeito que aguenta o tranco de uma
mulher como aquela, eu conheço mulher, e aquela deve ser um
furacão na cama.
Abaixo a cabeça e sorrio, quem sabe eu a encontre novamente
depois de uma briga com esse pangaré, e aí resolvo o problema
dela, pelo pique desse cara ela deve estar bem mal comida.
Logo estou em meu carro a caminho do escritório, o trânsito está
um caos! Olho repetidamente no meu relógio, tenho um monte de
coisas para fazer, e sem secretária será um inferno.
Após longos minutos, estaciono meu carro em uma das vagas do
escritório. Depois de anos pagando aluguel, hoje tenho minha sede
própria, construída por mim, quero dizer, pelo meu dinheiro.
Me sinto realizado, a sociedade com o Doutor Albuquerque foi
muito vantajosa, trouxe muitos clientes, e algumas facilidades. Ele é
um ex-juiz influente, é sempre bom ter uma parceria com uma
pessoa como ele.
Entro na recepção e logo vejo o sorriso largo e de devassa da
recepcionista.
Linda e vadia! Adora quando a chamo para um almoço, tipo
executivo, é claro!
– Bom dia, Karen!
– Bom dia, Doutor Rui! O senhor tem uma moça para entrevistar
em sua sala, a Carolina que trouxe – ela diz me seguindo até as
escadas.
– Ok, obrigado! – falo apressado, não estou com muito tempo,
pelo visto ela achou que eu marcaria algo para hoje.
Olho novamente no relógio, estou atrasado pra cacete, com um
monte de coisas atrasadas, minha vida está um inferno!
Maldita secretária! Por que foi engravidar, porra?!
Entro na recepção que antecede minha sala, mal vejo a moça
que está sentada, entro com pressa. Antes de qualquer coisa,
preciso liberar algumas coisas pendentes de assinatura, não posso
perder tempo com alguém que não me interessa.
Assino rapidamente alguns documentos, mas é melhor atender
logo essa mulher e dispensá-la, assim acabo com essa agonia.
Olho o papel que a Carolina colocou sobre minha mesa com o
nome da moça, e chamo-a alto.
– Jackeline Bartolli!
Percebo-a entrando pelo barulho da porta, mas não me dou ao
trabalho de parar com o que estou fazendo.
– Pode entrar – digo enquanto assino os documentos.
Vejo pelo canto de olho que ela está parada em frente à minha
mesa, então falo:
– Sente-se! – levanto meu olhar e não acredito no que estou
vendo. É ela, a minha deusa do espartilho vermelho.
Ficamos nos olhando durante alguns segundos, acho que ela
está tão surpresa quanto eu, é lógico, não tinha como sabermos
sobre isso, era impossível.
Ok, não posso fingir que não nos encontramos. Por mais
constrangedor que tenha sido, a gente se conhece, da pior forma
possível, mas a gente se conhece.
Bem, acho melhor agir com profissionalismo, aqui é meu
escritório, eu até posso ter ficado empolgado ontem com ela, mas
uma coisa não tem nada a ver com a outra.
– Deu tudo certo ontem? Quero dizer, arrumou um táxi ou uma
carona? – digo seriamente, tentando colocar um pouco de moral na
minha fala.
– Sim, deu tudo certo – ela responde séria, e talvez um pouco
constrangida.
Ok, essa surpresa me deixou um pouco tonto. Tento recobrar a
minha linha de raciocínio, mexo nos papéis sobre a minha mesa, e
então volto a olhá-la.
– Me fale um pouco sobre você, sua experiência profissional.
Ela se mexe nervosamente na poltrona, mexe em sua mão, ela
está nervosa, é lógico que está. Eu também estou um pouco, não
vou negar.
– Talvez eu não seja a pessoa certa para esse cargo, estou aqui
por insistência da minha amiga. – Ela diz de uma forma meio
apavorada, talvez tenha sido a surpresa de me encontrar.
– A Carolina? – pergunto por perguntar, eu sei que foi a Carolina.
Mas vamos lá, já que ela está aqui, por que não entrevistá-la?
– Isso, ela mesma – ela responde mostrando desconforto.
– Você não quer nem mesmo tentar, já está desistindo?! –
Insisto, não sei muito bem o que quero com isso, eu não posso
contratá-la. Mas a questão é que preciso conhecer essa mulher,
nem se for para passarmos pelo menos uma noite juntos.
Continuo a olhando com firmeza e já percebo seu desconforto,
eu sei que sou assim, consigo deixar as pessoas acuadas apenas
com um olhar, essa é uma das minhas armas da profissão.
– Sou formada em Psicologia, trabalhava em consultórios como
terapeuta, nunca trabalhei de secretária.
Continuo a olhando, estou fascinado por essa mulher, mas ela
não é o tipo que se entrega facilmente, ou que esteja se derretendo
por mim, não dá para dar uma cantada nela e marcar para nos
vermos hoje à noite.
Eu preciso de tempo para conquistá-la...
– Certo. – Tento pensar em algo, mas que porra, o que vou dizer
para ela: “Vamos sair hoje à noite? Eu como você, passa a minha
vontade e aí te deixo em paz”?
– Não gostaria de tentar? – falo do nada.
Tentar o que?! Eu já contratei a porra da secretária...
Caralho, eu sei que parece loucura, e quem está tomando as
rédeas dessa conversa é minha cabeça de baixo, eu não estou
racionando direito com essa mulher a minha frente.
Ela me olha confusa, deve ser confuso mesmo ser contratada
dessa forma, e então abre levemente aqueles lábios carnudos e
vermelhos, e tenho vontade de agarrá-la aqui mesmo.
– Claro que quero. Eu perdi meu emprego, não estou em
situação de me negar a trabalhar. – ela responde de olhos baixos,
então vejo os botões de sua camisa abertos, provavelmente eles
abriram agora, eu não deixaria de perceber isso. Ela nota que estou
olhando e os fecha nervosamente.
Uma maldita ereção cresce no meio das minhas pernas.
Caralho, o que está acontecendo comigo?!
Levanto, sigo para a janela, preciso espairecer, mas a verdade é
que estou louco por essa mulher.
– Quer fazer uma experiência, Jackeline? – falo contra todos os
alertas que dizem que não posso contratá-la, eu já contratei outra
mulher. Mas quer saber, foda-se, eu quero a Jackeline, o pessoal do
RH que se vire com a outra secretária.
– Quero, claro que quero! – ela responde mostrando surpresa.
– Você pode começar hoje se quiser. Minha secretária irá ganhar
bebê, ela não vem mais. – Nem eu acredito que estou fazendo isso,
volto a sentar, olho para ela, e tomo um pouco de água para me
acalmar. Acho que estou fazendo uma grande burrada, mas depois
a gente conserta isso.

– Oh! – Mais uma vez aquela boca linda se curva de um jeito que
imagino milhares de coisas, pornográficas basicamente. – Tudo
bem, mas não terá ninguém para me explicar o serviço?
– Eu, eu irei te explicar o serviço. – Tento conter o sorriso que se
formou dentro de mim, ela não sabe a burrada que estou fazendo
contratando-a.
– Claro, você, isso é óbvio! – ela fala nervosamente, pelo visto a
deixo nervosa, e isso é bom, adoro saber que provoco coisas nela. –
Ok, então, por onde começo?
Me levanto, penso um pouco, nem sei por onde começar com
ela, mal sei o que a antiga secretária fazia.
Foda-se! Sigo em direção à porta, abro-a e me dou conta que ela
continua sentada.
– Vamos, Jackeline!
Fico admirando-a enquanto ela caminha até mim, ela não é uma
mulher tímida, mas eu a deixo sem graça. Hoje ela está bem-
comportada, mas não menos gostosa, a calça marca bem suas
curvas, ela é o tipo de mulher que dá para derrapar e se arrebentar
todo, tem mais curvas do que a estrada Rio-Santos.
– Você ficará aqui – digo muito próximo a ela, sentindo seu
cheiro gostoso, suave.
Ela não é tipo de mulher que se lambuza de perfume, seu cheiro
é suave, frutado, cheiro de mulher, de fêmea.
O meu pau volta a pulsar dentro da minha boxer, que tesão essa
mulher me provoca, isso é insano.
– Tudo bem! O que devo fazer? – Ela me olha intensamente, mal
eu sei o que dizer para ela, quero dizer, eu poderia ir direto ao
assunto, mas não pegaria bem.
– Bom, por enquanto, nada. Sente-se. – Puxo a cadeira para ela.
Inicializo o seu computador, nem eu sei por onde ela deve
começar, mas enfim, depois a gente vê isso.
– Talvez eu precise que você faça algumas ligações, cartas,
essas coisas. Você vai pegando o jeito aos poucos, fique tranquila,
as coisas mais complicadas eu passo diretamente para os
advogados, você será mais uma assistente...
Caralho, que merda que estou falando, e... fazendo?!
– Bom, eu preciso resolver algumas coisas, depois te chamo
para vermos algumas pendências. Por enquanto, atenda ao
telefone, anote os recados, e se for algo urgente, você pode me
chamar por este botão aqui. – Mostro para ela o botão do telefone,
estou me sentindo um idiota.
– Ok! – Ela balança a cabeça em entendimento.
– Bom, por enquanto é isso. – Me viro e volto para minha sala o
mais rápido possível, preciso resolver o problema que criei, eu não
preciso de duas secretárias.
Sento em minha mesa e disco o telefone do responsável pelo
RH.
– Ferreira, é o Rui! – falo depressa.
– Bom dia, Doutor Rui! Como vai?
Interrompo-o, ele fala demais.
– Eu preciso que você cancele a contratação daquela moça que
escolhi para ser minha secretária...
Ele gagueja.
– Mas Doutor Rui, fizemos tantos testes nas candidatas, e você
disse que aquela era a ideal... – ele diz indignado, e eu sei que ele
tem razão, eu estou ficando louco...
– É, eu sei, mas é que arrumei uma outra candidata, muito
melhor, ela é mais preparada para o que preciso. Enfim, dispensa a
outra, e entra em contato com a Jackeline, é esse o nome dela. Ela
já começou hoje, é só ligar na mesa dela, pedir seus documentos,
informá-la sobre salário, benefícios... Bom, você sabe como é o
trâmite.
– Ok, já que o doutor prefere assim... – ele fala desanimado, mas
eu o entendo.
Fiz o coitado selecionar 30 garotas, e agora escolho uma que ele
nem viu na frente, realmente não sou mais o mesmo.
– Isso, eu prefiro assim. Bom dia, Ferreira... e não esquece de
falar com a Jackeline! – Desligo o telefone, e inspiro.
Eu sei que estou fazendo uma merda do tamanho do mundo, e
mal sei por que estou fazendo isso!
Esfrego meu rosto e olho para o teto.
– Quando a Priscila vir a Jackeline, ela vai ter um treco! – Fecho
os olhos e inspiro.
Capítulo 6
JACKELINE BARTOLLI
Meu celular vibra em minha bolsa, o pego rapidamente e vejo a
foto da Carolina.
– Oi, Carol! – cochicho.
– Desce, Jack. Estou te esperando na recepção, vamos almoçar!
– ela diz rapidamente.
– Preciso pedir para o meu chefe, você não acha? – falo
insegura.
– Avisa, Jack. Aproveita e já verifica como será o seu horário de
almoço, essas coisas... – ela diz sem paciência.
– Tá bom, até daqui a pouco! – Desligo a ligação, e coloco o
celular no bolso.
Céus, como tudo é difícil se tratando desse homem! – penso
agoniada.
Tudo bem, ele é seu chefe, Jackeline! – falo para mim mesma. –
É só bater na porta e dizer que irá almoçar, não parece tão difícil
assim. – continuo falando sozinha, já me disseram que psicólogos
são todos meio loucos, e tenho que concordar.
Me levanto vagarosamente, checo os botões da camisa, arrumo
a calça, o blazer, e sigo para a porta de sua sala.
Dois toques na porta e ouço o vozeirão dele, um arrepio passa
pelo meu corpo. Ele tem uma voz linda! Adoro homens com voz
grossa, principalmente na hora do “rala e rola”.
Empurro a porta vagarosamente e o vejo em sua mesa, ele está
usando óculos de grau, o que o deixa ainda mais sexy, aliás, tudo
fica sexy nesse homem.
– Com licença! – falo com cuidado.
Ele me olha sobre seus cílios.
– Pode entrar, Jackeline. Não precisa de tantas formalidades
quando precisar falar comigo! – ele diz secamente.
– Ah, claro, me desculpe! – falo sem graça.
Entro, fecho a porta e caminho até sua mesa. Ele levanta seu
olhar, encosta-se a sua cadeira e fica me encarando.
Sério, esse homem me deixa nervosa.
– Pode falar! – ele diz finalmente.
– Você precisa de alguma coisa? – pergunto insegura.
Ele parece pensar um pouco e então diz:
– Não, agora não. Talvez mais tarde, gostaria de passar algumas
coisas para você fazer... – Ele tira seus óculos, e volta a me olhar.
– Bom, então, posso almoçar? – falo timidamente. – Vou
rapidamente, daqui a pouco estou de volta.
Me sinto patética.
– Ok. – Ele balança sua cabeça. – Você tem uma hora de
almoço, não precisa correr. – Ele se inclina sobre sua mesa. – Senta
um pouco, Jackeline.
Novamente aquele gelado no estômago.
Me sento rapidamente, checo os botões da camisa, e quando o
olho, ele está com um sorriso torto no rosto.
– A camisa não é minha, está um pouco apertada! – falo em
desatino. Aliás, por que estou dando satisfações a ele?
Ele sorri, um sorriso contido, sem mostrar seu piano lindo e
branquinho.
– Está tudo bem? Alguma dúvida? O Ferreira já conversou com
você? – ele diz rapidamente.
– Ferreira, não. Quero dizer, um homem me ligou do
departamento pessoal, e pediu para eu ir ao RH às 15h – respondo.
– Perfeito! – ele se estica em sua cadeira, mostrando seu belo
tórax e bíceps, através da camisa branca que se ajusta
perfeitamente ao seu corpo. – Estou meio enrolado hoje, me
desculpe se não estou conseguindo te dar atenção.
– Imagine, fique tranquilo – falo embaraçada.
– Gostaria que você passasse o período da tarde comigo, assim
vou explicando para você as coisas, enfim, como funciona o
escritório.
Engulo em seco, é muita tentação passar horas ao lado desse
ser pecaminoso.
– Tudo bem, então... – Me levanto. – Estou saindo agora. –
Tento sorrir, mas fico muito sem graça ao lado dele.
– Bom almoço, Jackeline! – Ele sorri levemente, coloca seus
óculos e volta seus olhos ao que estava fazendo.
Suspiro aliviada e sigo para encontrar com a Carolina.
****
Seguimos a pé até um restaurante próximo ao escritório. Olho
demoradamente a fachada do lugar, é muito chique para o meu
gosto.
– Carol, aqui parece um pouco caro para um horário do almoço.
Por que não vamos a um lugar mais simples? – falo incomodada.
– Jack, hoje eu pago, vamos comemorar seu novo emprego! Se
sinta feliz, e pare de orgulho, sua caipira!!! – ela diz desaforada.
Enrugo minha testa.
– Você é bem grossinha, Carolina! Não quero que você gaste
comigo! – falo chateada.
Ela puxa meu rabo de cavalo, e beija meu rosto.
– Pare de ser boba! Seu namorado não costuma te levar a
restaurantes chiques como este? – ela diz enquanto esperamos o
garçom nos atender.
Reviro meus olhos. Acho que a última vez que ele me levou a
um restaurante foi em seu aniversário, com a companhia de sua
ilustre mãe e irmã, as duas insuportáveis da família.
– Não, Carol, ele não me leva em nenhum lugar. Quero dizer,
temos ido à padaria do seu bairro, mas é uma padaria bem chique!
– falo pensativa.
Ela me olha de soslaio.
– Eu não suportaria esse cara por um dia sequer, muito menos
por quatro anos. Mas já que você não tem amor próprio, siga em
frente. Saiba que você só está perdendo tempo, ele nunca vai
assumir um relacionamento com você. – Ela me olha com firmeza.
– Eu sei, não precisa repetir isso o tempo todo – bufo cansada.
– Continuarei falando, você é tipo criança, só aprende por
osmose! – Ela sorri.
Logo estamos sentadas em uma mesa, pedimos nossos pratos e
conversamos animadamente. Sempre temos muitos assuntos,
apesar da preferência sexual da Carol, adoramos conversar,
inclusive sobre seus casos, eu acho tudo muito engraçado.
– Como é mesmo o nome dela, Carol? – pergunto novamente,
eu sei que ela disse o nome de seu caso mais recente, mas não
prestei atenção.
– Mirela, Jack, Mirela! Você está com Alzheimer?!
Dou risada, acho o jeito da Carolina muito engraçado, ela é meio
cômica em tudo que fala.
– Mas, e aí, a transa é legal?! – pergunto curiosa.
– Legal? É do caralho, Jack, ela é um furacão!!! – Ela gargalha.
Reviro meus olhos, não sei como mulher com mulher pode ser
um furacão, mas enfim...
– Que ótimo! – falo sem muita empolgação.
– E o sexo com o Renatinho, como anda? – ela diz irônica, entre
uma garfada e outra.
– Sinceramente? – A olho de lado. – Sem graça, sem paixão,
sem pegada! – falo com desânimo.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro.
– Se o sexo ainda fosse bom, eu entenderia, mas nem o sexo é
bom, Jack! – ela diz indignada.
– Acho que ele fez macumba pra mim, não sei o que me prende
a ele – falo aflita.
– Eu já disse, você tem medo. Medo de não encontrar mais
ninguém, de ficar sozinha, e de virar motivo de chacota para suas
velhinhas! – ela diz me encarando com seus olhos castanhos
enormes.
– Talvez – respondo, mas antes que possa continuar nossa
conversa, vejo aquele homem lindo entrando no restaurante, e fico
meio abobada.
– O que foi? – Ela vira seu pescoço e olha na direção que estou
olhando. – Oh, nosso chefe, ele é muito gato! Mas não se empolga,
Jack, ele tem dona, e apesar de jovem, essa aí é cobra venenosa.
Então, me dou conta que ele está acompanhado. Ela é alta,
magra, os cabelos claros, mas à custa de muitas luzes, está vestida
com um tailleur impecável, saia e blazer na cor marfim. Ela é muito
elegante, bonita...
– Não estou me empolgando! – falo sem graça, tentando desviar
meus olhos deles, mas não consigo, quero ver o rosto da garota.
– Certo, mas eu te conheço muito bem, Jack, e você está
babando pelo Rui! – Ela sorri, jogo um pedaço de pão em sua cara,
ela desvia e ri. – Eles estão de casamento marcado, e namoram há
pouco mais de um ano, mas eu sei o motivo, o Doutor Rui se
associou ao pai da arrogante. O Doutor Rui não dá ponto sem nó,
ele é muito ambicioso.
Desvio meu olhar do casal, olho para a Carol um pouco
surpresa.
– Sério? Ele é interesseiro, é isso?! – falo feito uma boba
inocente.
– Não, o escritório sempre foi dele, mas ele se associou ao
Doutor Albuquerque para crescermos, e está dando certo. Ele não
está dando o golpe no baú, mas é um homem objetivo, se casar
com a filha do seu sócio parece bem atraente, ajuda nos negócios.
Olho de canto de olho para eles, o clima não parece muito
romântico, ele está sério, enquanto ela fala sem parar.
Reparo um pouco na garota, ela é bem jovem, deve ter por volta
de 25 anos. Ela tem rosto perfeito, nariz pequeno, boca pequena e
olhos azuis, grandes e lindos.
Seu corpo é o meu sonho de consumo, magra, seios pequenos,
quadris pequenos e pernas longas e esguias.
Me sinto uma baleia perto dela.
– Jack, pare de olhar para eles!!! – Desperto de meu desatino
invejoso, me odeio quando fico invejando outras mulheres. Cada
uma tem sua beleza, é assim que minha santa mãe sempre diz.
– Ela é linda, Carol! Você não acha? – As palavras saem da
minha boca sem que eu tenha controle.
– Você é linda, Jackeline! Prefiro sua beleza a dela, ela é sem
graça, parece uma boneca andrógena. Você não, Jack, você é
exótica, misteriosa! – Ela me olha intensamente.
– Ando me sentindo tão feia, Carol! Acho que estou depressiva,
não gosto de nada em mim. – Sinto as lágrimas virem aos meus
olhos.
– Jackeline Bartolli, quer parar com isso? – ela diz furiosa. –
Sabe quem te deixa assim? – Seu namoradinho, aquele gay
enrustido, e sua tia esclerosada. Jack, se der tudo certo neste
emprego, vá morar sozinha, pelo amor de Deus, e largue aquele
traste.
Olho assustada para ela.
– Gay enrustido?!
– Pra mim, seu namorado queima a rosca de vez em quando.
Que homem não se empolgaria com uma mulher como você ao seu
lado? – Ela me olha com carinho. – Você é linda, gostosa,
inteligente, gentil, companheira, atura aquele mosca morta há quatro
anos...
– Carol, eu não sou tudo isso! Sou chata, mal-humorada, tenho
uma TPM filha da puta, não consigo parar em um emprego! – falo
desanimada. – Só você e minha mãe me acham o máximo, não sou
tudo isso!
Ela revira seus olhos.
– Vamos mudar de assunto, odeio quando você fica nesse baixo
astral. – Ela volta a comer, e volto a olhar para o casalzinho.
Eu realmente não tenho interesse nele, apesar de lindo, gostoso
e sexy, eu sei que não temos nada a ver, é só coisa de mulher,
temos a mania de fantasiar coisas. Toda mulher fantasia um
encontro ardente, principalmente quando encontramos um homem
como este.
Sorrio.
Eu só quero o emprego, e quem sabe fazer tudo que a Carolina
me sugeriu. Seria bom dar uma reviravolta em minha vida, mudar os
ares, as pessoas, de repente isso me faria bem.
****
Procurei terminar nosso almoço sem olhar novamente para a
mesa do Doutor Rui, realmente ando insuportavelmente de baixo
astral.
Caminhamos em um silêncio confortável em direção ao
escritório, então quebro o silêncio.
– Carol, não sei que roupa vestir amanhã! – Olho para ela. –
Você sabe, me visto parecendo uma artista plástica. – Torço meus
lábios. – Não tenho roupas para trabalhar num lugar sofisticado
como este.
Ela me olha longamente.
– E se fossemos hoje à noite fazer umas compras? Pelo menos
para você sobreviver até o seu pagamento.
A olho desanimada.
– Carolzinha, eu estou quebrada, não tenho limite nos meus dois
cartões, estou com as faturas atrasadas, e usando o limite da minha
conta corrente. Estou na lama, não posso gastar mais nada!
A que ponto cheguei! Estou falida, completamente falida!
– Jack, aonde vai seu dinheiro? Sua tia, sua avó e sua mãe são
aposentadas, o que acontece que você vive fodida?! – ela diz
exaltada.
– Carol, não sei se você me entende, mas não posso ficar
pedindo dinheiro para minha avó e para minha tia para pagar as
contas. Só minha mãe me ajuda, e ela ganha uma miséria de
aposentadoria.
– Como assim, elas moram no apartamento que seu pai deixou
para você e para sua mãe, e elas não precisam ajudar você em
nada?
– Oh, Carol, isso é tão complicado, elas são idosas!
– Ok, Jack, não posso me meter na vida de vocês, mas para
mim aquela sua tia não tem nada de esclerosada. Ela é muito
esperta, pega a pensão dela e de sua avó e enfia no bolso, e deixa
vocês duas se ferrando. Odeio aquela velha! – ela diz possessa.
– Vou pedir para minha mãe falar com elas, já pedi outras vezes,
mas parece que nunca dá certo. Estou de saco cheio de tudo, Carol!
– falo sem paciência.
Ela coloca a mão em sua testa.
– Eu vou comprar algumas roupas para você, e você me paga
quando puder. Tudo bem assim? – Ela me olha com carinho.
– Não, não está tudo bem! – Fecho a cara. – Vou me virar com o
que tenho, quando receber renovo meu guarda-roupa, não posso
dever para mais ninguém, Carol! – falo chateada. – Estou devendo
uma grana para o Renato, acho que está de bom tamanho!
– Ele não deveria cobrar nada de você, amiga! – Ela me olha
chateada. – Ele está bem pra cacete, é o controller de uma
empresa, você tem ideia quanto ele ganha?!
– Não, não tenho ideia, ele não fala sobre essas coisas comigo,
mas não somos casados, certo? Não faz sentido o cara pagar
minhas contas.
– Eu já paguei as contas de muitas namoradas. Quando eu amo,
eu faço qualquer coisa pela pessoa, é assim que funciona o amor! –
Ela me olha intensamente.
Às vezes acho a Carol meio esquisita, mas melhor não pensar
sobre isso.
– É, cada pessoa ama de um jeito, Carol. O Renato me ama
daquele jeito meio rústico! – Balanço a cabeça.
– Daquele jeito meio ogro, você quer dizer! – Ela ri.
Dou risada.
– Sim, ele é um ogro!!! – Passo minha mão por sua cintura a
abraçando e seguimos em direção ao escritório, do mesmo jeito que
fazíamos desde os nossos sete anos de idade.
Capítulo 7
RUI FIGUEIREDO
Avejo saindo de minha sala, e aproveito para admirar seu belo
traseiro redondo e arrebitado.
Fico a imaginando sem roupa, deve ser uma loucura! E mais
uma ereção fora de hora, estou me sentindo um garoto de 20 anos,
mas que porra!!!
Tento voltar minha atenção para o processo que estou
analisando, ela me tirou o foco, e estou quase chegando à
conclusão que ela como secretária não dará muito certo.
Advogado precisa de atenção, uma secretária feia e silêncio.
Ok, vou terminar de ler isso e irei almoçar. Se pretendo passar a
tarde com minha deusa do espartilho vermelho ao meu lado, preciso
acabar de ler essa porra, ou estarei arruinado.
Mais alguns minutos, o celular toca e o olho de relance. A foto da
Priscila trepida em minha mesa, e minha paciência também.
– O que ela quer agora, porra?! – penso alto.
Atendo em viva voz.
– Oi, Priscila! Qual o problema?
– Oi, amor! Que tom é esse? Parece que está falando com uma
desconhecida! – ela diz num tom magoado.
Bufo cansado.
– Desculpe, é que estou enrolado analisando um processo,
gostaria de terminar isso antes de sair para o almoço. – Giro meu
pescoço de um lado para o outro, estou tenso pra cacete, preciso de
uma massagem, e a visão da Jackeline de espartilho volta a minha
cabeça.
Estou obcecado por essa mulher, completamente doente.
– Bom, tenho uma notícia, não sei se é boa ou ruim, estou
chegando ao seu escritório, pensei em almoçarmos juntos, faz
tempo que não fazemos isso! – ela diz carente. – Desculpe por
ontem, Rui, ando tão insegura, estressada com nosso casamento,
você sabe...
A interrompo, não estou com paciência para ouvir suas histórias.
– Tudo bem, me deixe terminar a leitura do processo, é o tempo
de você chegar – falo rapidamente, não quero voltar ao assunto de
ontem, já me desgastei demais com este assunto.
– Um beijo, meu amor! – ela diz melosa.
– Outro.
Desligo rapidamente.
Eu estava acabando de ler o documento quando ela chegou.
Um toque na porta, e ela entra.
– Oi, já cheguei! – ela diz com um sorriso.
Tento sorrir.
– Oi! Um minuto, Pri, se senta aí, por favor! – Volto ao que
estava fazendo, logo termino e olho para ela. – Tudo bem?
– Tudo, e você?! – ela diz estranhamente.
– Um pouco cansado. – Me levanto, pego meu paletó e sigo para
a porta. – Vamos? – Olho para ela, que continua sentada.
– Eu sei que dormimos juntos, mas não nos vimos pela manhã.
Normalmente os casais se beijam quando se veem! – ela diz
enquanto caminha em minha direção.
Passo minhas mãos por sua cintura e a beijo rapidamente, mas
ela enlaça meu pescoço com os braços, fazendo com que nosso
beijo seja mais demorado, profundo.
– Me desculpe por ontem! – ela diz novamente, me deixando
ainda mais irritado.
– Eu já disse que está tudo bem! – Volto a caminhar para a
porta, mas ela segura minha mão e me faz olhá-la.
– Não parece, Rui, você está distante! – Tento não me
desesperar e jogá-la pela janela.
– Priscila, isso está começando a ficar chato, eu sou assim, não
sou um cara meloso e romântico. Eu sou prático e objetivo, e se
você não gosta do meu jeito, é bom revermos tudo, não vou mudar
para você! – A encaro profundamente.
Ela me olha calada, então fala:
– Ok, me desculpe. Ando um pouco abalada, é por causa dos
preparativos para o casamento. – Ela dá um sorriso fraco.
– Então, vamos! – Pego em sua mão e seguimos pelas escadas
que dão acesso à rua.
Passamos pela recepcionista que nos olha de canto de olho, ela
odeia a Priscila, quero dizer, todas as mulheres desse escritório
odeiam a Priscila. Ou é por ela ser minha noiva, ou é pelo seu jeito
arrogante e prepotente, ela se acha a dona de tudo, e faz questão
de mostrar isso para todos.
Tento não pensar muito sobre isso, ela nunca poderia trabalhar
comigo, eu não a suportaria aqui. Mas a questão é que seu querido
pai tem sugerido isso com certa frequência, e eu tenho
desconversado descaradamente.
Seguimos calados em direção ao restaurante que costumamos
ir, é um lugar refinado e a comida é ótima. Gosto do lugar porque
poucos funcionários podem frequentá-lo, e assim, caso a gente
brigue, não teremos uma plateia conhecida.
Espero enquanto o garçom escolhe um lugar para nos
sentarmos, o lugar está repleto de pessoas, logo somos colocados
em uma mesa. Sentamos e imediatamente ela começa a falar sobre
um processo que está cuidando para o pai. Tenho que confessar, a
Priscila é muito inteligente e capaz, mas também tem a sorte de ser
filha de um dos melhores juristas do país, aí fica mais fácil.
Ela fala compulsivamente. Sou advogado, adoro o que faço, mas
existem momentos que gostaria de falar sobre qualquer coisa,
menos sobre processos, réus, acusados, e essa porra toda.
É estressante namorar com uma advogada, acabamos só
falando sobre esses assuntos, nunca relaxamos.
Fazemos nossos pedidos e peço um vinho para relaxar. Essa
mulher me estressa, me deixa tonto, ela fala demais.
Olho um pouco para as mesas ao nosso redor, para relaxar, tirar
um pouco o foco do que a Priscila fala, e então eu a vejo. A
Jackeline está acompanhada da Carolina, as duas estão almoçando
sozinhas.
Penso um pouco, será que a Jackeline e a Carolina...?
Será?!
– Porra, que desperdício! Aquela mulher maravilhosa... – penso
desanimado.
– Rui, você ouviu o que eu te disse?! – Ouço a voz estridente da
Priscila, volto a olhá-la rapidamente.
– Claro! – Bebo um gole de vinho.
– Então, do que eu falava? – ela diz com a testa franzida, e uma
expressão brava.
– Sobre o caso... – falo displicente.
– Eu pedi sua opinião, amor, por favor? – Ela me olha com seus
olhos pidões, carentes, insuportáveis.
Por que será que não aguento mais a Priscila, meu Deus?!
– Eu faria... – Dou minha opinião rapidamente, não ouvi o que
ela disse. Mas, falo o que faria apenas para me livrar dela.
– Por isso que eu te amo! Você é o melhor, sabia? – Ela pega
em minha mão por cima da mesa e a acaricia.
– Obrigado! – Sorrio para ela.
Vejo a Jackeline e a Carolina se levantarem e seguirem
animadas para a rua.
Caralho, será que a Jackeline é lésbica também?
– Tudo bem, Rui? O que você está olhando? – Ela vai olhar, mas
puxo seu rosto e beijo-a rapidamente.
– Só um cliente, mas deixa para lá, não vou atrás dele, é
constrangedor.
Ela sorri e acaricia meu rosto.
– Vamos tentar jantar hoje à noite, quero ir a um restaurante bem
romântico, estou sentindo falta disso, estamos distantes – ela me
olha feito uma cadelinha carente e mal-amada.
Talvez seja verdade, ando sem saco para a Priscila, prefiro
qualquer outra mulher, menos ela.
– Vamos sim. Mas desta vez, por favor, espere eu chegar, não
fique me mandando mensagens, ou fazendo ligações, eu odeio isso,
Priscila! – falo tenso.
Ela se arruma na cadeira, parece magoada.
– Eu te amo, Rui! Muito, demais, sabia?! – Ela me encara com
seus olhos grandes e azuis.
É engraçado como podemos mudar a opinião sobre uma pessoa.
Quando vi a Priscila pela primeira vez, a achei a mulher mais linda
do mundo, aqueles cabelos escorridos e loiros, os olhos muito
grandes e muito azuis, seu corpo alto e esguio, mas tudo é uma
questão de ponto de vista. A beleza é relativa, pode ser alterada
com o tempo, já não vejo graça nela, sua beleza externa é apenas
um chamariz.
– Eu também! – Acaricio seu rosto. – Podemos ir? Estou com
muitas coisas para fazer.
– Claro. – Ela sorri fraco.
Peço a conta e em minutos seguimos para o escritório.
– Onde você deixou seu carro? – pergunto quando chegamos ao
prédio.
– Está logo ali, não tinha lugar em sua garagem. – Ela se
esgueira, enlaçando meu pescoço e me beijando. – Posso subir
tomar um café com você?
– Outro dia, eu realmente estou com muitas coisas atrasadas! –
A beijo rapidamente. – Nos vemos à noite! – Mais um beijo rápido.
– Chegue às 19h, pode ser?
– Vou tentar, mas não te prometo. – Me afasto dela, e espero
enquanto ela caminha até seu carro.
Ela acena, giro nos calcanhares e saio apressado para o interior
do escritório.
Passo pela recepcionista sem a olhar, essa aí é mais uma que já
enjoei, preciso arrumar outra para me divertir. Talvez a Jackeline, se
ela me quiser, e se não for lésbica também!
Sacudo minha cabeça, parece que toda mulher que me interesso
é lésbica, porra!!!
Já chega a Carolina que é um mulherão, decidida, competente,
linda, mas lésbica, caralho?!
Subo as escadas rapidamente, chego a minha sala, e lá está a
minha deusa. A observo enquanto ela está entretida com o celular,
provavelmente trocando mensagens com aquele figura que
encontrei no elevador. Ela tem um rosto lindo, e hoje com o cabelo
preso em um rabo de cavalo, dá para ver com perfeição seu rosto.
– Boa tarde, Jackeline! – falo alto.
Ela se assusta, se atrapalha com o celular e me olha com
aqueles olhos grandes e expressivos, ela parece uma gata.
– Boa tarde! – ela diz me olhando com um sorriso contido,
nervoso.
– Venha comigo, preciso que você me ajude com algumas
coisas! – Passo por ela, e a sinto atrás de mim. – Sente-se, eu já
volto. – Sigo para o meu banheiro privativo, primeiramente preciso
escovar os dentes.
Volto rapidamente e a encontro sentada em frente à minha
mesa, com um caderninho em suas mãos.
Ela me olha enquanto me aproximo, ensaia um sorriso, e tenho
vontade de rir, eu a deixo muito nervosa, e isso é engraçado.
– Melhor você se sentar aqui ao meu lado, preciso que você me
ajude a digitar algumas cartas. Você sabe fazer cartas? – A olho
enquanto ela caminha insegura até mim.
– Bom, não sei exatamente o que você quer dizer com cartas,
acho que sei. – Ela diz de um jeito engraçado.
– Ok, sente-se aqui. – Puxo minha cadeira para ela e ela me
olha confusa. – Sente-se, Jackeline! – digo incisivo.
– Tudo bem! – Enquanto ela senta, puxo uma cadeira para ficar
ao seu lado.
Pego alguns documentos.
– Vamos usar o Word. Você conhece este aplicativo, certo?! –
Ela me olha com aqueles olhões lindos, parece assustada com tudo.
– Sim, eu costumava usá-lo para anotar em minhas consultas –
ela diz constrangida.
– Perfeito! – Levanto rapidamente, me inclino sobre ela,
aproveitando para sentir seu cheiro feminino e sensual, e clico sobre
o ícone do aplicativo. – Pronto, vamos começar.
Volto para minha cadeira, a percebo tensa, muito tensa, e sorrio
por dentro.
Eu sei que estou fazendo merda, mas a sensação de ter essa
mulher aqui se sobrepõe aos problemas, ela tem um magnetismo
que me deixa louco.
Ela se ajeita em minha cadeira, coloca seus dedos sobre o
teclado e começo a ditar para ela uma carta que normalmente eu
mesmo faria para não perder tempo, mas como não estou
raciocinando direito, cá estou eu voltando no tempo, como se fosse
um advogado inexperiente, ditando uma carta para a secretária...
Capítulo 8
JACKELINE BARTOLLI
Chego a minha mesa rapidamente, pego minha nécessaire e
sigo para o banheiro feminino, faço minha higiene, um rabo de
cavalo, passo um batom vermelho e volto para minha mesa.
A porta da sala do Doutor Rui está aberta, respiro aliviada, ele
ainda não voltou de seu almoço, talvez estique até um motel.
Reviro meus olhos.
Desde quando cuido da vida de meus chefes? Ele que coma e
se lambuze daquela loirinha insossa.
Falo com desdém, e dor de cotovelo.
Me ajeito em minha cadeira e ouço o celular vibrar em minha
bolsa, o pego e lá está a tão sonhada mensagem do meu
namorado.
Desde ontem o filho da puta não me liga, não manda
mensagens, nada.
Ok, deixe-me ver o que o maldito tem a dizer.
“Oi, Chuchu, espero que não esteja mais brava comigo. Estou
enrolado esses dias, não posso vê-la, estamos em fechamento de
balanço. No final de semana podemos ir jantar na casa da minha
mãe? Ela tem me cobrado, sabe?”
Fecho os olhos e tento controlar a vontade louca de mandá-lo se
foder, o seu balanço e sua mãe também.
Olho para o teclado do celular e não sei o que escrever, ele é
simplesmente patético, um imbecil ao quadrado.
Enfim tomo coragem e escrevo minha resposta.
“Como vai, namorado querido? Ainda estou com raiva de você,
aliás, não sei quando vai passar. E quanto a jantar na casa da sua
mãe, não estou com saco, ela é insuportável, assim como sua irmã
e seu filho bastardo. Prefiro ficar em minha casa, vendo filmes
antigos com minhas três idosas, comendo pipocas, e batendo uma
siririca, acho que sairei ganhando.
E, me procure só quando estiver a fim de fazer um programa
decente, de casal normal, estou cansada de seus programas para
maiores de 60 anos.
Passar bem!”
– Boa tarde, Jackeline! – Dou um pulo na cadeira, quase
deixando o celular cair no chão, olho para cima e vejo aquele ser
angustiante.
– Boa tarde! – Tento sorrir.
Por que estou sempre nervosa quando falo com esse homem?
– Venha comigo, preciso que você me ajude com algumas
coisas! – ele diz daquele jeito decidido, me levanto e o sigo.
– Sente-se, eu já volto. – Ele segue para um banheiro que existe
dentro da sua sala, mas volta rapidamente.
– Melhor você se sentar aqui ao meu lado, preciso que você me
ajude a digitar algumas cartas. Você sabe fazer cartas?
Oh, meu Deus, era só o que me faltava!
– Bom, não sei exatamente o que você quer dizer com cartas,
acho que sei – falo em pânico.
– Ok, sente-se aqui. – Ele puxa sua cadeira para eu me sentar, e
o olho confusa, será que ele quer que eu me sente em sua cadeira?
– Sente-se, Jackeline! – Estremeço com seu vozeirão.
– Tudo bem! – respondo rapidamente, me sento, e o vejo
puxando uma segunda cadeira ao meu lado.
– Vamos usar o Word. Você conhece este aplicativo, certo?! –
Ele me lança aquele seu olhar de advogado inquisidor, que adoro,
mas ao mesmo tempo me enerva.
– Sim, eu costumava usá-lo para anotar em minhas consultas.
Respiro um pouco aliviada, ao menos sei digitar rapidamente,
depois de anos anotando os problemas de meus pacientes, pelo
menos isso eu sei fazer direito.
– Perfeito! – ele diz rapidamente, e de repente vejo aquele
homem enorme em cima de mim, aquele cheiro inebriante, o calor
que exala de seu corpo...
Oh, meu pai eterno, me ajuda, assim não vou aguentar!
– Pronto, vamos começar – ele diz após abrir o aplicativo na tela.
Ele começa a ditar uma carta, ou sei lá o que é isso, e finalmente
termina.
O olho de canto de olho, e o vejo lendo o material na tela.
– Ok, mas precisamos formatar isso! – Ele me olha, e me sinto
uma retardada.
O que ele quer dizer com formatar, meu Jesuzinho?!
– Você pode ser mais claro, o que seria formatar? – digo
completamente envergonhada.
Ele sorri de lado, daquele jeito parecendo um cafajeste, tudo
nele parece de cafajeste. Ele deve ser um cafajeste, e aquela noiva
é só de fachada.
Ele se levanta novamente, se inclina sobre mim, e minha
vontade era agarrar esse homem, tirar sua roupa, e me perder
nesse monte de músculos.
Ok, mas não faço isso, não sou nem louca, então reteso cada
músculo do meu corpo. Como ele pode fazer isso com tanta
naturalidade?
De repente, sua mão cobre a minha sobre o mouse, olho por
entre meus cílios, se sua mão é enorme, fico imaginando o resto.
Mas não consigo não ficar tensa, sinto cada músculo do meu corpo
tensionado.
– Marque todo o texto, Jackeline, deste modo. – Ele move o
mouse de forma a iluminar todo o texto. – E selecione essa
formatação. – Ele seleciona um formato para o texto.
Seguro minha respiração, está sendo um inferno tê-lo desse jeito
em cima de mim, sinto seu hálito de pasta de dente no meu rosto, o
cheiro de creme de barbear, e se eu virar de lado, eu irei beijá-lo, ele
não deixou espaço para eu me mover.
O que ele pensa que está fazendo?! – penso atordoada.
– Ok, eu posso fazer isso! – falo em pânico, preciso de espaço
para respirar. Acho que sou claustrofóbica a homens, quero dizer,
ao Doutor Rui.
Ele levanta seu corpo e volta a sentar.
– Vamos colocar a data lá em cima – ele diz suavemente.
Digito rapidamente a data e olho para ele.
– Mais alguma coisa? – Ele me encara por segundos
intermináveis, olha para os meus lábios, fico sem graça, volto a
olhar para a tela do computador, fecho meus olhos e solto o ar
suavemente, acho que toda vez que ele me encara eu perco o ar.
Que homem é esse, meu Jesus Cristinho?
– Ok, só mais uma coisa. – Ele volta a se levantar, novamente se
inclina sobre mim, rosto contra rosto, pega o mouse e abre um
segundo arquivo, onde vejo sua assinatura digitalizada. – Vamos
colar essa assinatura no final da carta.
Seleciono a imagem, graças aos céus eu sei fazer isso, e coloco
no final da carta.
– Está bom assim? – pergunto relutante, e volto a olhar para ele.
– Está ótimo! Imprima, por favor – ele diz com naturalidade.
Novamente fico insegura.
– Posso pedir para imprimir, é só isso? – Olho para ele, ele fecha
os olhos e sorri.
Ok, sou uma tapada.
– Só isso, Jackeline!
Ouço o barulho da impressora embaixo de sua mesa, em um
suporte. Pego a carta, dou uma olhada rápida e entrego para ele.
– Ok, vamos para a próxima. Salve esse arquivo e abra um novo
– ele diz rapidamente, e faço tudo isso como uma tartaruga de 100
anos, não tenho a menor prática com informática, prefiro escrever,
adoro escrever com as mãos.
Abro o arquivo, ele começa a ditar uma nova carta, e como não
sou tão burra assim, finalizo, formato e coloco sua assinatura.
Mas, não satisfeito com a tortura, ele se posiciona atrás de mim,
se inclina e lê o documento.
– Ok, pode imprimir – ele diz, e respiro aliviada o vendo se
afastar.
Vejo ele andando pela sala e o observo pelo canto do olho. Ele
parece um pouco tenso, sei lá, incomodado.
De repente, ele está ao meu lado novamente, pega um
documento e o lê rapidamente.
– Vamos lá, Jackeline? – Olho para ele, ele está com seu
cotovelo amparado no apoio da cadeira, segura seu queixo e me
olha.
– Ok! – respondo voltando a olhar para a tela.
Ouço sua voz grave e aveludada, ele tem uma voz deliciosa,
sexy e sedutora.
– É isso, formate e imprima, essa é a última – ele diz em minhas
costas.
Pego a impressão, me viro e a entrego.
– Mais alguma coisa? – pergunto incomodada, eu sei que
preciso me acostumar com sua presença, mas não precisa ser tudo
de uma vez, e tudo no mesmo dia.
Ele dá um sorriso, sexy e sedutor.
– Acho que por hoje está bom, já está na hora de você ir até o
RH. – Ele se levanta e devolve a poltrona ao seu lugar. – Obrigado!
Sorrio de leve.
– Por nada! – Me levanto, sigo para a porta, me sento em minha
mesa e respiro aliviada.
– Ok, não foi tão difícil assim, eu me acostumo – falo em
pensamento.
****

Sigo pelos corredores do escritório e logo vejo uma placa


indicando o RH. À medida que caminho, vejo algumas pessoas
circulando, elas me olham confusas, algumas sorriem, outras
apenas me medem.
A porta onde fica o RH está aberta, existem algumas pessoas
trabalhando, e ao fundo um homem de meia-idade.
Assim que entro na sala ele levanta seu olhar e diz:
– Jackeline?
– Sim, sou eu mesma. – Dou um sorriso amarelo, nunca me
senti tão deslocada em um emprego, me sinto uma fraude.
– Venha comigo! – Ele segue para fora da sala, abre uma porta e
vejo uma pequena mesa de reuniões, ele fecha a porta e me olha. –
Sente-se, Jackeline.
Sento-me a sua frente, apoiando meus cotovelos na mesa, me
sinto nervosa.
– Preencha essa ficha, por favor! – Ele me entrega um formulário
e uma caneta.
Começo a lê-lo, dados pessoais, feito. Segunda parte, formação
acadêmica, ok, preencho rapidamente. Terceira parte, experiência
profissional.
Paro e penso um pouco, mas não há muito que pensar, começo
a discorrer sobre os consultórios que trabalhei, e foram vários,
minha rotatividade assusta.
Entrego para ele e sorrio.
Ele devolve o sorriso, lê rapidamente o documento, e me olha
com aquela cara de indagação.
– Você nunca trabalhou de secretária?
O olho por segundos eternos, mas o que vou dizer, é isso, nunca
fui secretária.
– Minha experiência profissional é a que você está vendo. –
Talvez eu tenha sido um pouco grossa, mas, também, pra que ele
tem que perguntar o que já é óbvio?
– Oh, me desculpe. É que o Doutor Rui disse que a senhora era
a mais qualificada...
Ele se cala, parece ficar sem graça, e volta a sorrir.
– Está ótimo! Eu preciso de seus documentos, para prepararmos
o contrato de experiência.
– Ok, está aqui. Só minha carteira profissional que não, não vim
preparada. – Entrego meus documentos para ele.
– O Doutor Rui pediu para te passar as informações sobre o
cargo, salário, benefícios, essas coisas. – Ele me entrega um papel,
leio vagarosamente, e me assusto com o salário.
– Está certo esse valor aqui?! – falo admirada, o salário é ótimo,
maravilhoso, não chega perto do que eu ganhava como terapeuta.
– Sim, o cargo de assistente do Doutor Rui é muito importante,
de muita responsabilidade, por isso a remuneração ser a altura – ele
diz com certa entonação na voz, dando mais importância ainda ao
cargo.
– Oh, claro, eu sei disso! – falo sem jeito.
– Você precisa de algo, alguma dúvida? – ele diz.
– Não, acho que não, se eu tiver eu ligo para você. É Ferreira
seu nome, né?
Ele balança sua cabeça.
– Isso mesmo! – Ele estende sua mão para mim. – Muito boa
sorte, Jackeline!
Me levanto rapidamente.
– Obrigada!
Ele sai na minha frente, o sigo, ele se despede e entra em sua
sala novamente.
Ainda estou meio tonta com tudo o que está acontecendo em
minha vida, ganhei na loteria e não posso perder o bilhete.
Eu preciso me tornar a melhor secretária que ele já teve, e de
preferência, hoje! Não posso perder tempo, e nem minha chance.
Sigo em direção a minha sala pisando nas nuvens e com um
sorriso no rosto, isso é bom demais para ser verdade!
– Obrigada, meu Deus! – falo em pensamentos.
****

O resto da tarde seguiu morosa, ainda não me sinto à vontade


para interrompê-lo, mas já atendi algumas ligações, anotei alguns
recados, aos poucos começo a me familiarizar, pouco, mas já é um
começo.
É final de tarde, 18h, estou inquieta, não sei o que fazer. Não sei
se posso ir embora, então tomo coragem e sigo para sua sala.
Bato suavemente e entro. Como ele disse, não posso ficar com
tantas formalidades.
– Com licença! – falo constrangida.
Ele levanta seus olhos dos papéis e me olha através dos óculos,
ele fica lindo de óculos, e não deve ter noção disso.
– Pois não? – ele diz formalmente, me sinto um pouco acuada,
mas vou adiante, adentro sua sala e sigo até sua mesa.
– Gostaria de saber se posso ajudá-lo em mais alguma coisa! –
Ele encosta suas costas em sua cadeira, apoia seu braço no apoio e
me olha longamente.
Se ele soubesse como isso me enerva, ele não faria isso.
– Eu até preciso de sua ajuda! – Ele dá um sorriso de lado, e
isso só me deixa ainda mais nervosa. – Mas, para o primeiro dia
está bom. Amanhã continuamos, irei te passar mais algumas coisas,
enfim... – Ele tira seus óculos e morde a haste, tudo nele é sensual,
provocante.
Tento sorrir, mostrar naturalidade.
– Então, está bom! Você se incomoda se eu for embora? – falo
pisando em ovos.
Novamente aquele sorriso de cafajeste.
– Não, claro que não! Te vejo amanhã, às 8h! – Ele continua
mordendo a haste dos óculos, e me olhando.
– Ok, então, boa noite! – Me viro e saio sob seu olhar sobre mim.
Talvez esse seja o seu jeito mesmo, eu é que estou imaginando
coisas, mas me sinto um bife suculento, porque não é só um olhar,
ele me devora com aqueles olhos lindos.
Capítulo 9
JACKELINE BARTOLLI
Chego em casa rapidamente, a Carol me deu carona e isso foi
maravilhoso, eu nem sabia como voltar para minha casa daquele
bairro.
Ela para o carro e me olha.
– Você se vira amanhã, Jack. Fica difícil para eu vir buscá-la,
você mora muito longe! – ela fala com uma careta.
– Imagine, Carol! Eu me viro, pego o metrô, depois um ônibus,
acho que consigo chegar às 8h, é só me levantar às 5h. – Faço um
bico.
– Oh, Jack, que dózinha de você! Se você quiser passar a
semana na minha casa, tem um quarto vago, eu não ligo, você
sabe! – Ela me olha com aqueles olhos castanhos lindos.
Apesar de toda essa pose de mulher firme e decidida, a Carol é
um doce, gentil e delicada. Ela usa uma máscara de mulher
masculinizada, ela não é assim.
Às vezes, para se ter sucesso na vida profissional, é preciso
bancar a durona, caso contrário todo mundo te atropela. As
mulheres sofrem muito com isso, só eu que sei, ouvi muitas
mulheres reclamando de sua vida profissional.
Não é fácil ser mulher em um mundo controlado por homens.
– Não, Carol. Não quero te incomodar, eu sei que você gosta de
levar suas namoradas... E eu não vou me sentir bem, você me
entende, né? – A olho com carinho.
– Eu não faria isso se você estivesse em minha casa, Jack! – Ela
me olha ofendida. – Eu te respeito...
Dou risada.
– Oh, Carol, deixa de frescura! – Sorrio. – Me deixe ir, estou
sumida desde ontem, minha mãezinha deve estar preocupada com
sua filha encalhada.
Ela balança a cabeça e sorri, beijo seu rosto e saio do carro feliz.
Antes de entrar em nosso prédio, me esgueiro na porta de seu
carro e falo:
– Não agradeci a você pelo emprego... – A olho com carinho. –
Obrigada, minha amiga maravilhosa! Eu não sei como seria minha
vida se não conhecesse você!
Ela sorri encabulada.
– Seria muito sem graça! – Ela acaricia meu rosto. – Eu faço
qualquer coisa por você, não reparou ainda? – E ela me encara, às
vezes isso me deixa sem jeito, mas hoje não.
– Tchau, obrigada de novo! – Me despeço dela e sigo para o
prédio onde moro.
Conto a novidade para minhas velhinhas pela terceira vez, e
parece que elas são surdas.
– Muito estranho isso, filha. Será que ele não está interessado
em seu corpo? Esses homens de negócios são todos uns devassos!
– Minha mãe diz em tom de segredo, enquanto janto sozinha na
cozinha, com ela ao meu lado.
– Oh, mãe, você não viu a noiva dele. É uma mulher linda,
perfeita, parece uma modelo, não sou nenhum pouco interessante
perto dela! – Termino de comer minha sala, e afasto o prato.
Ela olha aquilo e faz cara de indignada.
– O que é isso? Você não comeu nada!
– Estou de regime a partir de hoje. Estou enorme, mãe, preciso
emagrecer. Por favor, me ajude, não faça nada bom ou gostoso e
me obrigue a comer só saladas, estou no meu limite! – Falo feito
uma metralhadora.
Me levanto, vou até a pia e tomo uma água.
– Jackeline, onde você está gorda? Você tem um corpo
maravilhoso, são só curvas, meu anjo! Você puxou a família de seu
pai, as italianas são assim, lindas e carnudas!
Dou risada.
– Gordas, todas umas gordas! Minhas primas são gordas,
minhas tias, todas são gordas e peitudas!
Ela abana a mão.
– Você está dando muita bola para sua tia, ela é uma encalhada
e invejosa! Nunca teve um corpo bom, sempre foi feia! – ela
cochicha.
Sorrio.
– Estou de regime, preciso perder uns 10 quilos. Quero pesar 60
quilos.
– Você parecerá doente!!! – ela ralha furiosa.
Volto para meu quarto, me sento em minha escrivaninha, e
inicializo meu computador que tem quase a minha idade, eu o usava
na época da faculdade.
Espero que ainda funcione, preciso pesquisar um pouco sobre
esse mundo das secretárias.
Navego por um site de busca, digito secretárias, mas aí vem um
mundo de coisas.
– Não, vou tentar cursos para secretárias.
Pressiono a tecla ENTER, e começam a aparecer as opções.
Navego brevemente e acho um curso online, entro no site e até
que o preço não é abusivo.
Penso um pouco, estou fodida completamente, mas agora tenho
um salário incrível, pego meu cartão de débito e me matriculo no
curso.
– Ok, talvez seja um bom começo!
Logo estou navegando pelo site, e me surpreendendo com as
coisas que leio.
Passei mais de duas horas navegando pelo site, e já estou com
meus olhos ardendo, bocejando feito uma leoa. Preciso dormir, caso
contrário amanhã não conseguirei me levantar.
Desligo meu computador, vou me deitar, mas me lembro de
escolher uma roupa para trabalhar amanhã.
Abro o guarda-roupa e o olho desanimada.
Trabalhando como terapeuta nunca tive preocupação em me
vestir bem, elegante. Mas agora como secretária, e naquele
ambiente onde todos se vestem como se fossem a uma festa, não
posso ir de camisa solta e calça legging.
– Merda!!! – Me sento na cama.
Volto para o guarda-roupa e começo a tirar as roupas que tenho,
até que acho uma saia godê numa cor café com leite, até os joelhos.
Eu a comprei para ir a um casamento, nunca fui muito boa em me
vestir, mas essa deve servir. Procuro por uma camisa mais
adequada, encontro uma branca com as mangas ¾, ela foi feita sob
medida, então fica justinha na cintura, e acomoda meu busto sem
maiores problemas. Separo um sapato alto creme e um sutiã
branco, deixo tudo sob uma poltrona, e desmaio em minha cama.
****
O despertador toca ruidosamente, tateio completamente bêbada
de sono, ele cai e ouço o barulho de vidro se espatifando no chão,
me sento na cama e xingo mal-humorada.
– Droga, droga, droga!!! – Esse deve ser o décimo relógio que
quebro, odeio qualquer som me acordando de manhã, não coloco o
celular despertar porque acho que eu o jogaria na parede.
Desço da cama com cuidado, sigo para o banheiro praticamente
dormindo, ligo o chuveiro e me enfio embaixo dele com os olhos
fechados.
Lembro que tenho horário e que não posso me atrasar, então
acelero meu banho. Em minutos saio, me enxugo, passo minha
parafernália de cremes, enrolo a toalha em minha cabeça e sigo
para o quarto.
Coloco a calcinha e o sutiã rendados, adoro lingeries, se
pudesse, gastava todo o meu dinheiro em lingeries lindas, delicadas
e sedutoras. Pena que o panaca do Renato não repara nisso! Aliás,
no que ele repara?
– Talvez em shorts de lycra, camisetas de tecidos especiais para
suar... Babaca!
Coloco minha roupa e me olho no espelho.
Talvez eu não devesse usar saia godê, meus quadris largos não
combinam muito com isso. Viro de costas, e parece que minha
bunda fica ainda maior assim.
Fecho os olhos.
– Por que me deprecio tanto, meu Deus? – Inspiro com força.
Ajeito minha camisa dentro da saia e estico o tecido. Minha sorte
é que não tenho barriga, minha cintura é fina, caso contrário eu
realmente seria uma porpeta completa.
A camisa tem um tecido fino e delicado. Pedi para uma
costureira do prédio fazê-la, ela é linda, mas um pouco transparente,
então pego o terninho da Carol e jogo por cima.
Olho no relógio e me surpreendo com o horário.
Não vai dar para secar o cabelo, me desespero. Sigo apressada
para o banheiro, passo um rímel, e um delineador, o batom
vermelho e borrifo meu perfume predileto, uma nota suave,
delicada, a marca é francesa, mas é um produto fabricado no Brasil,
então cabe no meu bolso.
Não sou muito vaidosa com roupas, mas sou vaidosa com meu
corpo, com minha pele, adoro perfumes, lingeries, cremes,
maquiagens. É estranho isso, acho que pareço com meu falecido
pai, ele também não era muito vaidoso para se vestir, por isso a
Carol diz que visto suas camisas. Isso é um exagero, meu pai era
um homem de um metro e noventa, eu não sou tão alta, tenho uma
altura mediana, um metro e sessenta e sete, ou oito, sei lá.
Penteio meu cabelo, passo um leave-in para não armar durante
o dia, ele é ondulado naturalmente, comportado, eu gosto do meu
cabelo.
Inspiro, pego minha bolsa e saio de fininho, não quero acordar
ninguém, ainda é cedo demais.
O caminho até o metrô é demorado, e de salto alto é uma
tortura. Preciso me lembrar de colocar uma sapatilha da próxima
vez, e o sapato só no escritório.
Pego o metrô aliviada, odeio sair de madrugada, me sinto muito
insegura de andar sozinha nas ruas vazias.
Depois de longas horas de condução, chego ao escritório e me
surpreendo, cheguei adiantada.
Vejo o portão fechado, tudo fechado, e aí me lembro de que
chegar cedo pode ser um problema.
– Ok, não vou me estressar com isso. – Olho ao redor, talvez
tenha um lugar para eu tomar um café.
Ando alguns metros e vejo um boteco, daqueles bem simples.
Não sou uma mulher fresca, nunca fui, então entro e não tem
praticamente ninguém, me sento em uma mesinha e um homem
vem me atender.
– O que seria, princesa? – Ele sorri com meia dúzia de dentes
faltando.
– Um café com leite. O senhor tem pão de queijo? – pergunto um
pouco incomodada com seu olhar de tarado.
– Não, meu bem, mas faço um Bauru de lamber os beiços! – Ele
sorri, e torço meus lábios.
Não vou mentir, adoro comer, e ao pensar em um lanche de
Bauru o meu estômago ronca, aquela salada de ontem a noite não
conseguiu tapar o buraco que tenho no estômago. Graças à minha
santa mãe, que sempre cozinhou maravilhosamente, tenho um
apetite de leão.
– Vou passar! – Balanço a cabeça. – Só o café com leite.
Estou morrendo de fome, mas terei foco. Preciso perder 10
quilos, cinco são só de coxa, mais cinco de bunda, o peito não
diminui nem com reza brava.
Termino meu café da manhã de mendigo, olho no relógio e
resolvo voltar para o escritório.
O portão continua fechado, xingo mais um pouco, levantei tão
cedo para ficar plantada no meio da rua, isso é de matar!
Os minutos passam, meus pés latejam, minhas pernas doem, e
resolvo me sentar em um pequeno degrau.
Me sinto ridícula, mas confortável, já até tirei o salto alto, e estou
com meus pés livres e soltos. Sinto sono, encosto na grade e fecho
os olhos, e estou quase dormindo quando ouço meu nome.
– Jackeline, o que você está fazendo aí? – Abro meus olhos
assustada, e vejo aquele homem enorme, lindo e cheiroso na minha
frente.
Pisco meus olhos algumas vezes, levanto e esqueço que estou
sem sapato, o coloco toda atrapalhada, arrumo minha postura e
sorrio.
– Bom dia, Doutor Rui! Cheguei um pouco cedo! – digo sem
graça.
– Muito cedo! – Ele olha em seu relógio de pulso, que por sinal é
maravilhoso.
Meu pai era louco por relógios, ele adorava frequentar uma feira
de antiguidades, ou simplesmente coisas velhas, ele enlouqueceria
ao ver o relógio do Doutor Rui.
– É, tive medo de não chegar no horário, então sai um pouco
cedo de casa – falo constrangida, segurando minha bolsa com as
duas mãos, torcendo-a nervosamente.
– Certo! – Ele passa seus olhos ao longo do meu corpo, até
chegar aos meus olhos. – Você está muito bonita hoje, aliás, como
sempre.
Enrubesço, não sou de enrubescer, sou uma mulher acostumada
a mandar se foder quem me incomoda. Mas com ele é diferente, me
sinto muito constrangida em sua frente, mas também, acho que
nunca conheci um homem como ele.
Confesso que não sou uma mulher muito vivida, perdi minha
virgindade aos 18 anos com um namorado de escola, e namorei
mais uns dois caras até conhecer o Renato. De lá para cá não me
relacionei com mais ninguém, estamos há quatro anos juntos,
ininterruptos.
– Obrigada! – falo finalmente, sentindo o calor tomar conta do
meu rosto.
Ele sorri levemente.
– Vamos entrar? – Ele faz um gesto com a cabeça e vejo o
portão automático aberto.
– Claro! – Sigo em sua frente, sentindo seus olhos experientes
me analisando.
O espero abrir a porta, ele me dá passagem para entrar. Ele é
um cavalheiro, canalha e cafajeste, mas um cavalheiro.
Ele fecha a porta, e me dou conta que estamos somente nós
dois naquele lugar enorme, subo as escadas e o sinto atrás de mim,
o que não é nada confortável.
Por que ele não fica ao meu lado, cacete?! – penso brava, com
aquela sensação de estar nua na sua frente.
Chegamos em minha sala, ele passa por mim, abre sua sala e
entra. Respiro aliviada, sento em minha mesa, mas logo ouço seu
vozeirão me chamar, tomo um susto, e coloco minha mão no peito.
– Jackeline!
– Esse homem vai me matar do coração! – penso alto.
Sigo para sua sala, ando até sua mesa, ele tira algumas coisas
de sua pasta, coloca seus óculos e me olha.
– Sente-se. – Ele me olha com firmeza, e o vejo passando seu
raio X por meu corpo. – Vamos continuar com o que estávamos
fazendo ontem? – Ele sorri.
– Sim, claro! – Fico confusa. – Você quer que eu use o seu
computador?
– Só um minuto, deixe eu me organizar. – Ele sorri novamente, e
chego à conclusão que estou apaixonada por seu sorriso, é lindo,
atraente e perfeito.
Fico o admirando enquanto ele arruma suas coisas, ele é
metódico, focado e sério. Fala pouco, olha muito, e me analisa o
tempo todo.
– Sente-se ao meu lado, Jackeline. Preciso te explicar algumas
coisas – ele diz entretido com uma montoeira de papéis.
Dou a volta em sua mesa, puxo uma cadeira, me sento ao seu
lado e sinto aquele perfume maravilhoso. Sua sala é toda cheirosa,
mas estar junto dele é melhor, porque seu perfume é simplesmente
delicioso.
– Ok, esses são alguns processos que estou cuidando, cada
uma daquelas cartas diz respeito a um processo desses. Por favor,
pegue as cartas. – Me estiro em sua mesa e pego as cartas que
estão em um dispenser para documentos, e quando volto o encontro
olhando para minha bunda.
Seguro as cartas, o olho feio, ele percebe e disfarça.
– Está vendo aqui? – Ele me mostra o nome no topo do
processo. – Procure a carta que diz respeito a este cliente.
Procuro e entrego a ele, me sinto uma criança aprendendo
coisas básicas.
– Ok, faça isso com as outras, e prenda cada carta a seu
processo, não pode haver confusão! Apesar de parecer algo idiota,
é importante!
Balanço minha cabeça afirmativamente, e faço o que ele me
pediu. Olho pela sua mesa procurando por clipes, e os vejo ao seu
lado.
– Eu preciso de clipes! – Faço cara de idiota.
– Fique à vontade! – Ele afasta seu corpo da mesa.
Olho para ele constrangida, terei que me esgueirar em cima
dele, que merda!
– Com licença! – falo me esgueirando até o lugar onde estão os
clipes, olho de lado e percebo o quão constrangedora é essa cena,
estou com meu corpo praticamente em cima dele, com meu traseiro
apontando para a lua.
Ele fez de propósito, esse cara é um filho da puta.
Volto para minha posição, termino de prender cada carta ao seu
processo e os coloco na sua frente.
– Você colocará cada processo em um envelope com uma
etiqueta para não haver confusão. Ok? – Ele me olha com firmeza.
– Ok! – falo insegura, nunca fiz etiquetas em minha vida.
– Você sabe fazer etiquetas? – Ele me encara, acho que ele é o
psicólogo aqui, não eu.
Fecho levemente meus olhos, não aguento e sorrio.
– Me desculpe, Doutor Rui! Eu não sei, mas aprendo, eu me viro!
Ele me olha e sorri, e sorrio mais, porque me sinto uma débil
mental perto dele.
– Jackeline, eu te contratei sabendo de suas deficiências, não
precisa mentir para mim!
Sorrio novamente, acho que é de nervoso, minha vontade é
gargalhar, me sinto uma idiota completa.
– Claro! Eu não sei fazer, é isso. – O olho feito uma cadelinha
perdida na rua, pedindo ajuda.
Ele me olha de lado, longamente, com um sorriso indecifrável no
rosto.
– Então, vamos lá, minha aprendiz! – Ele se posiciona em frente
ao seu computador, o liga, entra no aplicativo e me olha sorrindo. –
Quase tudo que fizermos será neste aplicativo, você seleciona aqui!
Está vendo? – Ele me olha de lado.
– Sim! – Olho vidrada para seu computador.
– Escolha esse modelo. – Ele clica e aparecem na tela as
etiquetas. – Você digita o nome do cliente e pronto, manda imprimir,
mas antes coloca um formulário de etiqueta, você tem em algum
lugar do seu armário, atrás de você. Você faz isso em sua mesa? –
Ele me olha sério e pensativo.
– Claro, fique tranquilo! – Sorrio sem graça.
– Então, vá para sua mesa, você tem tudo em seus armários,
envelopes, etiquetas, todos os materiais de escritório, arrume isso.
Terei que ir ao Fórum, você irá comigo. – Ele volta sua atenção ao
computador e fico o olhando confusa, mas ele volta a me olhar. –
Pode ir, Jackeline, eu preciso de alguns minutos para resolver
algumas coisas, você tem 30 minutos até sairmos.
Abro levemente minha boca para falar algo, mas não sai nada,
levanto e saio com os processos em minhas mãos.
– O que vou fazer num Fórum com ele?! – penso atordoada.
Capítulo 10
RUI FIGUEIREDO
Aolho saindo da minha sala e sorrio.
– Onde fui me meter? Ela não sabe nada, absolutamente nada,
terei que ensiná-la tudo! – bufo cansado.
Mas aí, me lembro de seu sorriso encantador, e do quanto ela é
linda e gostosa. Está difícil tomar alguma decisão sensata vendo
aquela boca grande, carnuda e vermelha, e aquela bunda magnifica
dançando em minha frente.
Mal percebo quando minha mente começa a imaginar coisas
eróticas com aquela boca, e meu pau se movimentar em minha
boxer.
Tiro meus óculos, esfrego meus olhos, e os fecho.
– Ok, foco, Rui, senão você vai perder todos os processos!
E aí lembro-me de que vou levá-la comigo até o Fórum, para
fazer o que não sei, nunca fiz isso desde que me tornei um
advogado de sucesso, levo outros advogados, os menos
experientes, nunca a secretária.
Atualmente, cuido apenas dos processos grandes e milionários,
os menores e menos complicados ficam para os advogados que me
auxiliam no escritório. Além disso, eu tinha uma secretária que me
ajudava a administrar o escritório, mas agora eu tenho uma
aprendiz, então além de ter que cuidar de tudo sozinho, ainda tenho
que ser professor de uma aluna muito gostosa.
Foi surreal vê-la dormindo na porta do escritório, ela não é uma
mulher comum. A Priscila nunca faria isso, ela é sofisticada demais,
mas também, chata demais.
A Jackeline é linda, mas sem glamour, sofisticação, ela tem uma
beleza rústica, e mesmo se vestindo com simplicidade ela parece
uma deusa.
Ela está linda hoje, apenas com uma saia simples e uma camisa
que mostra seu sutiã rendado, adoro lingeries femininas, adoro ver
mulheres em sua intimidade, e sem querer já sei mais sobre a
Jackeline do que ela sonha.
Passo as mãos pelos meus cabelos, preciso deixá-la um pouco
longe de mim, só assim consigo trabalhar, depois me divirto mais
um pouco. Será divertido levá-la a um Fórum, e prazeroso, estou
precisando relaxar e ela me faz relaxar, seu jeito é simples, leve,
sem as complicações que o dinheiro traz às pessoas.
****
Olho no meu relógio de pulso, viro meu pescoço de um lado para
o outro, já voltei a ficar tenso. Uma ligação da Priscila é o suficiente
para acabar com meu dia.
Me estico em minha cadeira e pressiono o botão para falar com
a Jackeline.
– Pois não! – ela diz, e eu sorrio, tudo nela me faz sorrir.
– Nós já vamos sair, Jackeline. Está tudo pronto? – pergunto.
– Sim, já estou pronta! – ela responde, e a sinto nervosa.
– Ok, me aguarde – desligo, sigo para o banheiro, em seguida
coloco meu terno e sigo para a recepção.
A vejo tomando uma água, me posiciono em frente à sua mesa e
sorrio.
– Podemos ir?
Ela me olha com aqueles olhos de gata assustada.
– Sim! – Ela se levanta nervosamente, pega sua bolsa, os
envelopes, e me segue em silêncio.
Chegamos à recepção, a Karen olha confusa para mim e para a
Jackeline, deve achar que ela é minha mais nova amante.
– Vou ao Fórum, preciso resolver alguns assuntos. A Jackeline
irá comigo, então anote os recados, depois você me informa. – Ela
balança a cabeça surpresa.
Sigo até meu carro, entro e vejo a Jackeline se sentar ao meu
lado.
Em alguns minutos estamos seguindo em direção ao Fórum,
coloco uma das músicas que gosto, adoro músicas tocadas apenas
no piano, são relaxantes, perfeitas para um advogado tenso.
– Linda música! – ela diz com um sorriso contido.
– Adoro músicas tocadas, piano principalmente! – A olho de
lado, seu perfil é muito bonito, o nariz delicado e fino, contrasta com
as maçãs do rosto, ela tem traços fortes, e uma pele linda. – Qual a
sua origem, Jackeline? – pergunto de repente.
Ela me olha surpresa.
– Italiana, mas tem português também! – ela diz séria. – Acho
que tem mais raças, mas não me lembro. – Ela sorri, mas é um
sorriso tímido. Eu a deixo tímida e isso é bem engraçado, não
combina com a mulher que conheci no elevador.
A olho um pouco mais, é verdade, ela tem traços italianos.
– É verdade, eu estava confuso, mas realmente você tem cara
de italiana – falo descontraído, não sou sério o tempo todo, só
quando estou no escritório, minha profissão exige isso.
– Você se acertou com seu namorado? – pergunto do nada.
Ela me olha, parece surpresa.
– Como você sabe que eu tinha ido à casa do meu namorado? –
Ela sorri debochada.
– Não é namorado, é só um “casinho”?! – Dou um sorriso, isso
me anima, quanto menos sério, melhor.
Ela sorri novamente.
– Você acertou, eu estava no apartamento do meu namorado.
Estamos juntos há quatro anos! – Ela muda sua expressão, parece
ficar triste.
Desanimo, quatro anos é tempo pra caralho.
– Vocês tinham brigado, por isso você estava daquele jeito? – A
olho de lado, tento não rir, mas a cena foi engraçada, e acabo
sorrindo.
Ela me olha e segura um sorriso, ela tem senso de humor, eu sei
que tem.
– É, tínhamos brigado, fiquei nervosa, acabei saindo daquele
jeito que você viu. – Ela abaixa sua cabeça, coloca o cabelo que cai
sobre seu rosto atrás da orelha, remexe suas mãos em seu colo, e
me olha novamente. – Esquece aquele dia, tá?
A olho demoradamente, esse pedido é tão difícil, porque se não
fosse aquele dia, ela não estaria aqui hoje, fiquei louco por ela
desde aquele dia.
– Vou tentar, não prometo. Eu realmente gostei do que vi! –
Ficamos nos olhando por segundos eternos...
Ela desvia seus olhos dos meus, e de repente aperta minha
coxa, olho para frente e freio bruscamente, quase me enfiei atrás de
um carro.
– Porra, que merda eu iria fazer! – Esbravejo nervoso, olho para
minha coxa e vejo sua mão ainda apertando-a.
De repente, ela se toca do que está fazendo, e me olha
constrangida.
– Ah, meu Deus, me desculpe! – Ela tira sua mão envergonhada.
– Doeu, Jackeline! – Dou risada. – Você tem uma mão forte.
Ela tenta não sorrir, mas abre um sorriso imenso, ela tem uma
boca enorme e linda.
– Desculpe, desculpe mesmo! – ela diz mexendo as mãos
nervosamente, e aí me lembro de que ela tem origem italiana, e
gesticula muito.
– Perdoada, se não fosse você eu teria batido. Desculpe, não
costumo dirigir mal assim. – Olho para ela novamente, aliás, não
consigo parar de olhar para ela.
– Se você não olhar para frente, acho que vamos bater! – Ela
arregala seus olhos de gata, me fazendo olhar para frente, e dou de
cara com uma lanterna vermelha acesa enorme.
Bufo irritado e piso no freio novamente.
– Ok, acho melhor a gente conversar depois – falo constrangido,
agora quem está com vergonha sou eu, estou me saindo um idiota
perto dela.
Finalmente estaciono em frente ao Fórum.
– É aqui – digo rapidamente e logo estou fora do carro,
colocando meu terno.
Ela segue ao meu lado, a olho novamente, ela é séria, e apesar
de já ter sorrido várias vezes hoje, não é tão fácil quebrar sua
guarda.
– Quer tomar um café? Estamos adiantados – falo novamente,
estou ansioso, confesso.
– Sim, eu aceito. – Ela sorri discretamente.
– Ok, vamos a uma cafeteria logo ali. – Sinalizo para ela.
Seguimos em silêncio.
Entramos na cafeteira, pego em seu braço e a conduzo até uma
mesinha.
Nos sentamos e pergunto:
– O que você quer tomar, um café, chá?
– Um café com leite! – Mais um sorriso contido, eu queria que
ela se soltasse mais comigo, mas está tão difícil.
Não estou acostumado com mulheres tão contidas, normalmente
elas abrem as pernas antes que eu possa perguntar o seu nome.
– Ok, eu estou com fome, não tomei café da manhã hoje, vou
comer alguma coisa. Vou pedir para nós dois, tudo bem? – falo
levantando minha mão para a atendente.
– Obrigada, Doutor Rui, mas eu quero só o café com leite – ela
diz séria.
– Ok! – Sorrio para ela.
Nossos pedidos chegam, a observo tomando seu café com leite
delicadamente, aqueles lábios vermelhos, tudo nela me fascina.
– Você conhece a Carolina há muito tempo, Jackeline? – Eu não
aguentava mais de curiosidade, ela tem namorado, mas é bem
comum elas serem bissexuais.
– Desde pequenas, morávamos no mesmo prédio, estudamos no
mesmo colégio, somos muito amigas! – ela diz com um sorriso
carinhoso, mostrando seu sentimento pela Carolina.
Balanço minha cabeça afirmativamente, confesso que estou com
uma curiosidade monstro, não sou um cara de me segurar. Como
dizem, sou como um trator em tudo.
– Onde você mora, Jackeline? – pergunto.
– É longe, bem longe, acho que você não deve conhecer – ela
diz mostrando-se sem graça.
– Conheço tudo nessa cidade, me fale, deixe eu te surpreender.
– Faço charme.
– Fica na Zona Leste da cidade, é um antigo bairro de italianos –
ela diz tímida.
– Oh, talvez a Mooca?! – falo divertido, fazendo-a sorrir, ela fica
linda sorrindo.
– Isso, bingo! – Ela brinca. – Moro lá desde pequena, meu pai
era italiano, minha mãe portuguesa.
– Ele é falecido? – pergunto interessado. – Você mora com sua
família?
– Faleceu há cinco anos – ela diz séria. – Moro com minha mãe,
uma tia e uma avó. – Ela parece constrangida.
Sorrio surpreso, conheço poucas mulheres que moram com a
família.
– Deve ser engraçado, quatro mulheres juntas! – Sorrio
pensando na confusão que deve ser.
– Nem sempre. Elas são ranzinzas, reclamonas e bisbilhoteiras!
– ela diz com seus olhos lindos e expressivos. Ela sorri com os
olhos, é isso, seus olhos sorriem, bem interessante isso.
– Oh, é verdade, eu tenho um pai e uma mãe já idosos, eles
costumam ser assim, por isso, não moro com eles! – Sorrio ao
lembrar de meus pais, faz tempo que não nos vemos.
– Alguém é advogado? – ela pergunta de um jeito leve.
– Meu pai! Como você adivinhou? – pergunto a olhando
profundamente, queria muito conhecer mais essa mulher, pena que
está na hora de irmos.
– Não adivinhei, foi um palpite – ela diz mexendo em sua xícara,
enquanto devoro um lanche. Costumo comer muito, mas também
malho muito, caso contrário ficarei gordo, e sou muito vaidoso.
– Ele é advogado, mas eles moram no interior, ele ainda
trabalha, puxei a ele, somos dois obcecados. – Não sei por que,
mas me sinto muito à vontade com a Jackeline. Olho em meu
relógio e vejo que precisamos ir. – Temos que ir, já está em nossa
hora! – falo apressado e levanto a mão para a atendente.
– Ok! – Ela se arruma na cadeira.
Pago a conta, levanto-me, dou passagem a ela, gosto de vê-la
de costas, essa visão é privilegiada, não vou mentir, adoro uma
bunda grande.
Chegamos à rua, pego em seu braço e a conduzo em direção ao
Fórum.
– Para uma descendente de italianos você fala pouco, Jackeline!
– falo debochado, ela realmente fala pouco.
– Acho que você não iria gostar de conhecer meu lado italiano.
Eu falo muito, Doutor Rui! – Ela sorri, e parece envergonhada.
– Pode me chamar só de Rui, Jackeline, não gosto muito de
formalidades!
Ela me olha, parece confusa.
Talvez eu esteja exagerando, minha antiga secretária só me
tratava por Doutor Rui, todos no escritório me tratam assim. Mas é
que não gosto de vê-la me chamando de doutor, isso me incomoda.
Ela me olha e dá um sorriso tímido.
– Tudo bem, como você preferir! – Ela abaixa a cabeça, a
levanta, e volta a me olhar. – Ok, se é para ser assim, então pode
me chamar de Jack. É mais fácil, mais rápido e sem formalidades! –
ela diz descontraidamente, do jeito que quero que ela seja comigo.
– Perfeito, Jack! – Sorrio para ela e entramos no elevador.
Ela me olha sorrindo, linda, encantadora.
– Perfeito, Rui! – Ela brinca.
Volto a olhar para frente.
Acho que tem alguma coisa de errado nisso tudo, eu não sou
assim, mas também não estou muito a fim de me preocupar com
isso agora.
Capítulo 11
JACKELINE BARTOLLI
Estamos numa sala reservada, parece que isso é uma
audiência, não entendo nada de Direito.
Me sento em uma cadeira enquanto vejo o Doutor Rui, ops,
talvez só Rui, se sentar à minha frente, em uma mesa com algumas
pessoas chiques e engravatadas. Não me dei ao trabalho de
perguntar quem eram as pessoas, mas parece que tem a ver com
um dos processos que o ajudei a montar.
Reviro meus olhos, não acho que o ajudei de fato, estou mais
para uma estagiária em processo de aprendizado do que uma
secretária.
Olho enquanto ele gesticula e fala energicamente à mesa, e
sorrio. Ele fica bonito até mesmo nervoso.
Não gostaria de ser sua noiva, ela deve ter mais chifres que um
rebanho inteiro de touros. É difícil imaginar um homem como este
fiel, ele é muito bonito, rico e cafajeste. Ele está me cantando
descaradamente, e eu sou sua secretária.
As horas passam, aproveito para admirá-lo, ele parece muito
bom no que faz, mas eu já sabia disso antes de conhecê-lo. A
Carolina é sua fã, não digo apaixonada, porque ela é lésbica, senão
acho que seria.
Percebo que a reunião acabou, vejo as pessoas apertando as
mãos umas das outras e sorrindo.
Acho que o acordo deve ter sido satisfatório.
Ele se levanta e vem em minha direção com um sorriso no rosto.
– Você me deu sorte, Jackeline! – ele diz estendendo sua mão
para mim, me ajudando a levantar.
– Que bom, fico feliz! Chegaram a um veredito? – Sorrio meio
tímida, tenho medo de falar alguma besteira.
– Sim, deu tudo certo, eles aceitaram o acordo! – ele diz
animado, olha em seu relógio e diz: – Vamos almoçar antes de
voltarmos para o escritório? Ou você tem algum compromisso? –
Ele me olha intensamente.
É tudo muito novo para mim, me sinto meio perdida com tudo o
que está acontecendo. Mas quem sou eu para não aceitar um
almoço com o chefe.
– Não tenho nenhum compromisso, agradeço o convite! –
respondo prontamente. Vou me acostumar mal, de bandejão para
restaurantes chiques.
– Então, vamos! – Ele sorri e caminha ao meu lado em direção
aos mesmos elevadores que subimos.
Chegamos à saída rapidamente, ele nos direciona para seu
carro que está estacionado dentro do Fórum.
– Alguma preferência de comida? – Ele me olha de lado,
parecemos até... sei lá, isso não está parecendo um relacionamento
profissional.
– Sem preferências, cavalo dado não se olha os dentes! – falo
debochada.
Ele dá aquele sorriso sexy e liga seu carro.
– Então eu escolho, estou com fome hoje! – Ele me olha de lado,
e tenho vontade de dizer a ele que comecei minha dieta ontem, mas
não o faço, seria bem constrangedor.
O vejo digitar no GPS um endereço, ele entra em uma avenida e
depois de alguns minutos ele estaciona seu carro em frente a uma...
cantina!
Oh, meu Deus!!!
Ele me olha e sorri.
– O que você acha?! Pensei em você, italianos adoram massa! –
ele diz muito simpático, seria uma grosseria eu dizer que estou
fugindo de massas.
– Adorável, obrigada pela atenção... – penso em dizer sobre
minha preferência por saladas, mas ele já desceu do carro, deve
estar com uma fome de leão.
O ascensorista abre a porta para mim, sorrio e saio, e fecho os
olhos.
Será que seria muita falta de educação pedir uma salada?
Ele para ao meu lado, sinto sua mão enorme em minhas costas.
– Vamos, italiana? – ele diz com um sorriso.
– Vamos! – Sorrio, tentando mostrar uma empolgação que não
tenho.
Meia dúzia de pessoas se aproximam dele para cumprimentá-lo,
alguns clientes, outros funcionários, ele parece uma celebridade.
Ele me posiciona em sua frente, e sigo o garçom que nos leva
até uma mesa, nos sentamos e ele me olha sorrindo.
O acordo deve ter sido muito bom, ele está radiante.
– Você parece uma celebridade! – falo discretamente.
– Sou fã de comida italiana, e das italianas também! – ele diz
num tom divertido, sorrio, acho que isso foi só uma brincadeira. –
Venho sempre aqui, mas não dá para vir com a Priscila, ela não
come nada, só mato!
Imagino, com aquele com corpo! – penso, mas não falo.
O olho decidida, preciso acompanhá-lo, caso contrário serei uma
decepção.
– Oh, claro, mulheres adoram fazer regimes! – falo para
descontrair.
O garçom traz os cardápios, olho tudo aquilo salivando, estou
com uma fome de leão. Desde ontem praticamente não como,
então, tenho certeza que esse carboidrato todo cairá como uma
bomba em meu corpo e vai ir direto para a bunda, tenho certeza
disso.
– Já decidiu, Jackeline? – Ele sorri. – Ainda não me acostumei a
chamá-la de Jack.
– Não precisa me chamar de Jack, foi só uma sugestão. – falo
sem jeito.
– Eu gosto de Jack, é só uma questão de tempo! Então, o que
vai ser?
O olho constrangida, mulheres gostam de enganar a si mesmas,
quando saímos com um bofe comemos saladas e bifes grelhados.
Sozinhas, um quilo de macarrão e um frango inteiro.
– O que você sugere? Você deve conhecer o que é bom aqui –
falo timidamente.
– Mas a italiana aqui é você, quero sugestões!
Sorrio encabulada, ele me deixa sem graça assim, nem sou tão
italiana como ele diz.
– Rui, sou uma italiana falsificada, só como espaguete à
bolonhesa, não entendo nada de comida italiana, se fosse
portuguesa acho que me sairia melhor!
Ele gargalha, não achei tanta graça no que eu disse, mas enfim.
– Ok, Jack, então eu escolho! – Ele olha para o cardápio. – Eu
adoro esse daqui, são umas trouxinhas com uma mistura de
amêndoas, queijo brie, e mais um monte de coisas, o molho você
escolhe, pode ser branco ou vermelho.
– Parece muito bom! – A saliva está quase escorrendo pela
minha boca. – Vou te acompanhar, prefiro o molho vermelho. – E
penso que na verdade prefiro o branco, com muito creme de leite e
muito queijo, mas é muita caloria para um almoço só, terei que ficar
um mês sem ver pão na frente.
– Você toma um vinho comigo? – ele diz de um jeito muito
sedutor, parece até que iremos para um motel depois disso, o que
não seria uma má ideia, eu queimaria essa comida toda e tiraria a
larica que estou de sexo. Se depender do Renato, vou viver a base
de vibradores.
– Se meu chefe souber que estou bebendo no horário de
trabalho, posso ser demitida! – falo em tom de segredo e ele sorri.
– Fique tranquila, seu chefe não ficará sabendo, isso é entre nós!
– ele diz sedutor, e me encara por alguns segundos. Disfarço, pego
a taça de água que está sobre a mesa e bebo.
Agradeço a chegada do garçom, o Rui faz nossos pedidos e
volta a me olhar.
Oh, minha santinha, preciso arrumar um assunto para conversar
com ele, isso é muito constrangedor.
– Há quantos anos você tem o escritório? – pergunto
despretensiosa.
– Há dez anos, comecei logo que me formei, era uma sala no
centro da cidade, um muquifo na verdade! – ele diz descontraído. –
Fui crescendo aos poucos, depois aluguei uma casa, e há dois anos
consegui fazer essa construção onde estamos.
– História bonita! É muito difícil começar um negócio, começar
do zero – comento.
– Meu pai me ajudou muito, ele é advogado, mas eu não quis
trabalhar com ele, preferi começar sozinho. Sou meio burro, teria
sido mais fácil, mas quis bater a cabeça sozinho! – Ele diz
remexendo a taça de água.
Sorrio o ouvindo contar sua história, não parece aquele homem
que a Carol dizia, frio, e calculista, parece apenas uma pessoa
lutadora, querendo vencer na vida.
– E você, Jack, por que escolheu Psicologia? – O vinho já foi
colocado sobre nossa mesa, ele beberica, enquanto me olha.
– Sei lá! – digo displicente. – Sempre gostei de ouvir os
problemas dos meus amigos, gostava de dar conselhos, achava que
era boa nisso, entender as pessoas. – Enquanto falo olho para um
ponto cego da mesa, então volto a olhá-lo, e o vejo me olhando
profundamente. – Hoje em dia, sei que me enganei, isso não basta
para ser uma boa profissional.
Ele torce levemente seus lábios.
– Nem sempre é fácil ter sucesso em nossa profissão, isso não
quer dizer que você não tenha talento. – Ele mexe em sua taça. –
Às vezes, tem o fator sorte também.
– Talvez! – Inspiro. – Não sei dizer, só sei que não tive sucesso!
– falo e olho para ele, que me olha muito, e gostaria de ter coragem
de dizer para ele parar de me olhar desse jeito, é muito enervante.
Agradeço ao ver nossos pratos.
– O atendimento aqui é muito rápido! – falo ao ver o garçom se
afastar.
– É que sou cliente vip, Jackeline! – Ele pisca para mim, e eu
quase desmonto na cadeira.
– Sorte a minha! – Pisco para ele, porque também sei fazer esse
jogo.
Ele fica me olhando e sorri, acho que o surpreendi com minha
brincadeira.
Talvez eu nunca tenha comido nada tão gostoso em minha vida,
esse negócio que ele pediu é para comer de joelhos. Mas, como a
etiqueta diz, não limpo o prato, minha vontade é pegar um bom
pedaço de pão italiano e passar no molho que sobrou, e comer até o
último pedaço, mas é por isso que estou desse tamanho. Então,
deixo duas trouxinhas, com dor no coração, e no estômago também.
– Não gostou, Jack?! – ele diz olhando para meu prato.
– Adorei, comi praticamente tudo! – falo falsamente.
– Vieram cinco pedaços, Jack! – ele diz indignado, e tenho
vontade de explicar para ele o problema que tenho com minha
bunda e minhas coxas, mas não o faço, ele não é meu amigo gay,
ele é um homem lindo, que tem uma noiva maravilhosamente
magra.
– Já estou satisfeita, juro! – Faço um sinal com as mãos unidas.
– Mas, te garanto, nunca comi nada igual, é maravilhoso!
Ele sorri e pega uma trouxinha de meu prato, e olho aqui meio
embasbacada, ele é muito comilão.
– Você é bom de prato, Doutor Rui! – falo brincando, pois ele
comeu todos os pães da cesta, seu prato, e está acabando de
comer o que restou do meu.
– Jackeline, se há uma coisa que gosto é de comer! – ele diz
divertido, talvez com uma ponta de cinismo, o que me leva a pensar
que essa frase tenha duplo sentido.
– Que bom que você não engorda, não é mesmo? – falo
admirada, ele tem um corpo magnífico, duvido que ele tenha
problemas para engordar.
– Engordo, claro que engordo, mas eu malho todos os dias na
academia que tenho em casa, tenho um personal trainer que me
ajuda, caso contrário eu estaria bem gordinho. – Ele ri debochado.
– Que ótimo! – falo invejosa.
Ele olha em seu relógio de pulso.
– Você toma um café comigo? – ele diz todo cavalheiro, o que
me faz pensar que namoro com um ogro da idade média.
– Sim, adoro café! – respondo simpática, e preocupada com a
taça de vinho que tomei, parece que tudo está mais leve e solto, não
sei como será minha produtividade na parte da tarde.
Ele levanta o braço e pede os cafés.
Confesso que me surpreendi com a sensação boa que foi ficar
com ele esse período da manhã, pois diferente do que eu pensava,
ele é leve, alegre e divertido, e apesar de suas cantadas discretas,
ele foi um cavalheiro a maior parte do tempo.
Terminamos o café.
– Obrigada pelo almoço, adorei esse lugar, a comida é
maravilhosa, pena que não posso comer como você! – digo e ele dá
um sorriso largo.
– Que bom que você gostou, agora já tenho companhia para vir
aqui! – ele me lança aquele olhar sedutor, mas tento não cair em
sua teia.
– Sim, você arrumou uma companhia, mas não pode ser
sempre, caso contrário, em pouco tempo não passarei naquela
porta! – Ele dá uma risada contagiante.
– Você é linda, Jack, não se preocupe com isso!
O olho desconcertada, talvez enrubescida, e tento me recompor.
– Obrigada pelo elogio, mas continuo preocupada com o
tamanho daquela porta, talvez eu não caiba nela.
Ele sorri novamente, pega em minha mão e a beija.
– Obrigada pela companhia, você é encantadora!
Sorrio sem jeito.
Ele é um verdadeiro Casanova, muito galanteador. Se eu fosse
mais inocente, estaria em sua cama em poucas horas.
Capítulo 12
JACKELINE BARTOLLI
Ocaminho de volta para o escritório foi especialmente
agradável.
Diferente do que eu imaginava, o Doutor Rui é muito falante,
transmite uma energia e uma vivacidade que empolga e anima até
um defunto.
A distância entre o restaurante e seu escritório não é grande e
nem demorada, e eu agradeci, porque ficar com esse homem num
espaço tão pequeno me causa certo nervosismo.
Ele estaciona seu carro e me olha.
– Obrigado novamente pela companhia! – Ele sorri.
– Por nada, eu que agradeço! – falo sem graça, não estou
acostumada com tanta educação e cavalheirismo.
Ele sai do carro e o acompanho até a porta do escritório.
A recepcionista o vê e se levanta rapidamente.
– Boa tarde, Doutor Rui! – Ela sorri largo e só falta se jogar em
cima dele. – Posso ir à sua sala? Tenho alguns assuntos para tratar
com você! – ela diz parecendo uma cachorrinha carente.
A olho com dó, talvez ela esteja com ciúmes, mal sabe ela que
não estou a fim de me tornar a nova amante de seu chefe.
– Trate esses assuntos agora com a Jackeline. – Ele diz sério,
destoando do homem que eu vi agora a pouco, e se dirige a mim. –
Por favor, Jackeline, veja os assuntos e depois fale comigo. – E o
olho enquanto ele caminha até as escadas e sobe rapidamente.
Volto a olhar para a recepcionista e sorrio para amenizar o clima,
ela ficou com uma cara de quem comeu e não gostou.
– Pois não, Karen? – A olho com cara de boazinha.
Ela me olha confusa, segurando alguns papéis na mão.
– Oh... – Ela parece perdida.
– Pode falar, algum problema?! – falo para irritá-la.
– Não! – Ela me olha com firmeza e pega um papel. – Aqui estão
os recados para o Doutor Rui. – Olho para a folha e vejo algumas
ligações, com anotações ao lado.
– Ok. – Olho para ela novamente. – Mais alguma coisa?
Ela me olha, parece sem graça.
– Essas correspondências chegaram hoje também. – Ela me
entrega algumas cartas.
Sério que ela queria subir até a sala dele para passar algumas
ligações e correspondências?
Oh, como ela é carente, deve estar com saudades de sentar no
colo no chefinho! – penso com um sorriso malicioso no rosto.
– Tudo bem, eu passo para ele. – Olho com um sorriso. – Mais
alguma coisa? – De novo, quero deixá-la sem graça.
– Não, é só isso mesmo – ela diz constrangida.
– Então, tudo bem. – Viro para sair, mas volto. – Obrigada por
me ajudar com as ligações.
E saio me rebolando, é gostoso tirar o doce da boca de uma
criança grande e descarada.
****

Escovo rapidamente meus dentes, repasso meu batom vermelho


e volto para minha mesa.
Já começo a gostar daqui, é tudo tão bonito, com cheiro de coisa
nova, e minha sala é tão confortável e bem decorada!
– Quero muito que esse emprego dê certo! – penso.
Repasso em minha mente tudo que li ontem no curso online para
secretárias.
Número um: ser prestativa.
Ok, me levanto e pego a lista de ligações da Karen, sigo com ela
e as correspondências até a sala do meu chefinho lindo, acho que
vou chamá-lo assim na intimidade.
Dois toques na porta, e a abro.
– Com licença. – Olho em direção a sua mesa, e o vejo com
seus óculos, ele lembra o Clark Kent, em sua figura de jornalista, ele
está lendo alguns documentos.
– Pode entrar, Jackeline! – Ele ainda não se acostumou com
meu apelido, mas quer saber, acho que forcei a barra, não precisava
ter dito aquilo, acho que me empolguei.
Sigo até sua mesa sob seu olhar, ele encosta suas costas na
cadeira e me olha com o rosto de lado.
Eu compreendo a Karen, é difícil não cair no charme desse
homem.
– Aqui estão as ligações, e algumas correspondências – falo
com firmeza, está na hora de eu assumir minha postura segura, não
sou assim tão medrosa, nunca fui.
Ele me olha por alguns segundos, volta a sua posição, olha para
o papel, risca alguns nomes e me devolve.
– Ligue para os que não estão riscados, diga que é minha
secretária. Pergunte no que pode ajudar, e depois você me passa os
assuntos. – Ele retorna ao que estava fazendo.
– Ok! – Olho para o papel e depois para ele, mas ele já está
absorvido por aquele papel a sua frente, giro nos meus calcanhares
e volto para minha mesa.
Me sento, olho para a lista de ligações e tomo coragem.
Ok, eu sei fazer isso. Não é tão difícil, Jackeline.
Ligo para o primeiro número.
Um homem atende, leio seu nome na anotação da recepcionista.
– Boa tarde, Senhor Macedo! Aqui é Jackeline, a secretária do
Doutor Rui Figueiredo! – Sinto meu coração explodindo em meu
peito.
– Boa tarde, Senhora Jackeline! Como vai?
Solto o ar que estava preso em minha garganta.
– Bem, obrigada, e o senhor?
Giro meus olhos, apressada para resolver logo esse assunto.
– Muito bem! – Ele pigarreia. – Bem, estou há alguns dias
precisando falar com seu chefe, é a respeito de um processo que
entreguei à sua firma de advocacia.
– Certo – falo relutante.
– Paguei uma fortuna para esse malandro cuidar disso, e até
agora não tenho uma posição... – Ele começa a ficar nervoso, e eu
em pânico.
Merda, por que ele mesmo não ligou para esse maluco?! –
penso.
– Oh, eu entendo... – Pensa, Jackeline, como saio dessa? –
Então, Senhor Macedo, eu preciso me posicionar quanto ao seu
processo, para saber como está o andamento... – falo relutante.
Ele me interrompe bruscamente.
– Cadê o seu chefe? Eu quero falar com esse filho da puta
agora!!! – Ele esbraveja no telefone.
Meu coração dispara.
– Oh, ele não está, senhor, mas eu o ajudarei com isso... – falo
em pânico, se o filho da puta do meu chefe não quis falar com ele,
deve ter um motivo.
– Eu irei até o escritório de vocês, vou quebrar tudo! Eu quero
falar com esse maldito!!! – ele grita, eu afasto o telefone e xingo
mentalmente o meu chefe.
– Ele viajou, Senhor Macedo, para os Estados Unidos. Existe um
processo muito complicado com a justiça americana, ele anda com
sua cabeça a mil por hora, com certeza ele não se esqueceu do
senhor. Não, com certeza, não, ele tem muito respeito e
consideração por seus clientes... – Abaixo minha cabeça, e seguro
minha testa com a mão.
Jesus, onde me enfiei?!
– Espero que sim, senhora... – Ele gagueja.
– Jackeline! – falo rapidamente.
– Isso, eu quero uma posição sobre o meu processo ainda hoje,
senão colocarei fogo nessa birosca – ele grita de novo, e eu pulo na
cadeira.
– Oh, não será necessário incendiar o escritório, o senhor teria
um processo contra danos ao patrimônio, não seria aconselhável. –
Nem eu sei de onde tirei isso, acho que li em algum jornal.
– Ok, Dona Jackeline, eu espero sua ligação o mais rápido
possível, caso contrário irei visitá-la, e não será nada agradável.
– Claro, eu retornarei para o senhor em breve, e assim que toda
essa confusão passar, o senhor poderá nos visitar e tomar um café.
Tenho certeza que foi só um mal-entendido.
– Espero! – ele diz mais calmo. – Passar bem... – Ele bate o
telefone na minha cara com toda força.
Desligo o telefone, cubro meu rosto e inspiro com força.
Meu Deus, como resolvo isso?
Mas antes que eu possa pensar, ouço palmas discretas. Olho
assustada em direção à porta do escritório do meu chefe filho da
puta e lá está ele, com o corpo apoiado no batente da porta, um
sorriso no rosto, aquele sorriso de cafajeste, e batendo palmas
suavemente.
– Parabéns, Jackeline! – Ele segue até minha mesa. – Você me
surpreendeu! – Ele me olha com um sorriso.
– Isso foi um teste?! – falo atônita.
– Mais ou menos, eu realmente não queria falar com esse cara,
ele anda meio nervoso. – Ele torce os lábios. – Mas você se saiu
melhor do que eu, provavelmente eu teria mandado ele se foder,
você tem muito jogo de cintura! – Ele se inclina sobre minha mesa e
ficamos muito próximos, eu sinto o cheiro de pasta de dente, e vejo
de pertinho aqueles olhos lindos.
– Certo. E o que faço agora? – falo absorvida pelo seu olhar.
– Deixa comigo, vou pedir para um advogado ligar para ele e
passar o status do seu processo. Assim que estiver resolvido, você
liga para ele e marca um café, aqui na empresa, nunca marque
nada com um cliente sem que eu saiba, e de preferência que seja
aqui, dentro do escritório. – Sua expressão muda, ele fica sério e sei
lá, parece possessivo.
Oh, será que o Doutor Rui tem distúrbios de comportamento? É
só o que me faltava!
– Sim, claro, não pretendo tomar café com ninguém, era só para
acalmá-lo! – respondo meio acuada, vendo aquele homem enorme
em cima de mim e sua expressão séria.
– Certo, melhor assim. – Ele se distancia. – Pode fazer as outras
ligações. – Ele volta a seguir para sua sala.
– Doutor Rui! – O chamo assustada. – Algum outro cliente desta
lista está bravo com você?
Ele dá uma gargalhada, e eu tenho vontade de socá-lo.
– Não, os outros estão calmos! – Ele me olha divertido, me sinto
uma marionete na mão deste homem, que parece se divertir com
minha inexperiência. – Pode ligar, te garanto que ninguém vai
querer incendiar nosso prédio.
Ele vira as costas e entra em sua sala, deixando o rastro de seu
perfume viciante.
Reviro meus olhos e volto à minha “Lista de Schindler”.
O próximo cliente é uma mulher.
– Boa tarde! Senhora Maria Helena? – pergunto temerosa.
– Sim, ela mesma! – Uma voz altiva e levemente grave.
– Sou a Jackeline, secretária do Doutor Rui Figueiredo – falo
devagar, esperando pela próxima explosão.
– Oh, como vai? E a Valquíria, não trabalha mais com o Rui? –
ela diz com intimidade.
– Parece que foi ganhar bebê, estou cobrindo ela – falo insegura,
nem sei quem era sua antiga secretária.
Ela dá uma risada.
– Espero que a criança não seja dele! – Ela continua rindo.
Abro levemente meus lábios, entre o choque e a surpresa.
Será que ele só tem cliente esquisito? E que história é essa da
criança ser dele?
Cruzes, que homem complicado!
– Oh, eu realmente não sei! – falo sem graça. – Gostaria de
saber se posso ajudá-la, o Doutor Rui está muito ocupado com
alguns processos grandes e complicados...
Ela me interrompe, e chego à conclusão que ele mentiu, só tem
encrenca nessa lista.
– Me poupe, querida. Eu sei que o Rui não quer me atender, ele
acha que sou alguma idiota, ele não atende meu celular, não retorna
minhas mensagens, e agora está fugindo de mim.
Fecho os olhos, e os cubro com a mão.
– Bem, estou aqui para ajudá-la. – Suspiro. – Quer deixar algum
recado, ou me dizer do que se trata o assunto, eu posso tentar
resolver...
– Meu assunto é pessoal, querida, nada que você possa
resolver. – ela diz num tom meio irritado. – Diga a ele que se ele não
me ligar, irei pessoalmente ao seu escritório.
Oh, todo mundo quer vir ao escritório do Doutor Rui, pelo visto
ele está cheio de visitas inesperadas.
– Certo, darei o recado – falo pausadamente.
– Ele continua namorando aquela criança? – ela diz com um tom
de inveja.
– Criança? – pergunto confusa, será que ela está falando da tal
Priscila?
– Sim, aquela menina idiota que ele arrumou para se divertir.
Reviro meus olhos, ela deve ser um antigo caso, descartado e
magoado.
– Oh, Senhora Maria Helena, eu sou nova aqui, não sei nada
sobre a vida do Doutor Rui. Mas, direi que você ligou, e que precisa
falar com ele com urgência. Está bem assim? – falo simpática.
– Sim... – Ela funga, e percebo que está chorando. – Jackeline,
esse filho da puta me trocou por uma mulher vinte anos mais jovem,
você sabe o que é isso?!
Oh, meu Deus, ele é pior do que pensei, e ainda diz que não tem
mais ninguém bravo na lista.
– Oh, que coisa chata, sinto muito! – falo revirando meus olhos.
– Os homens são assim mesmo, Maria Helena. – Uso um tom
íntimo. – Eu sei muito bem o que é isso, tenho quase 30 anos e meu
namorado não é grande coisa também.
A ouço suspirar.
– Fomos muito apaixonados um pelo outro, mas você sabe, com
o passar do tempo já não temos o mesmo corpo, e aí eles se livram
da gente e pegam uma com a metade da nossa idade.
Jesus, agora serei conselheira amorosa, era só o que me faltava.
– O importante é se valorizar, Maria Helena. Não o procure mais,
mostre que você está em outra, você me parece uma mulher
excepcional, devem ter muitos homens interessantes querendo
conhecê-la, ter um relacionamento, não se rebaixe, é isso que eles
querem. – Assumo minha postura de terapeuta, é isso que me resta.
– Oh, querida, você é um doce de pessoa, bem diferente da
antiga secretária. Provavelmente aquela “zinha” era mais uma de
suas amantes.
Oh, ele realmente tem mais mulheres que um sheik árabe! –
penso.
– Não a conheci, seria feio falar mal dela! – Tento ser política. –
Mas, enfim, adorei conhecê-la, Maria Helena, e desejo sorte, levante
a cabeça, se valorize, nós mulheres temos tendência a nos
depreciar. – Falo cheia de vontade. – E escute uma coisa: uma
mulher de 40 é muito melhor do que uma de 20. Explore sua
experiência, se solte e vivencie com plenitude sua melhor idade,
você não é mais uma gatinha, agora você é uma tigresa!
A ouço rindo espalhafatosamente.
– Nossa, você é muito melhor que minha terapeuta! Que pena
que não se formou em Psicologia, teria sido uma terapeuta
excepcional!
Faço cara de idiota, nunca fui valorizada por isso, e agora como
secretária, ouço que deveria ter sido terapeuta.
Oh, meu Deus, minha vida é realmente bem engraçada.
– Obrigada! Espero que dê tudo certo em sua vida. – Faço voz
de terapeuta e desligo.
Doutor Rui, você é um grande idiota! – penso irritada.
Termino de fazer as outras ligações que me restavam, minha
expectativa era bem ruim, mas até que me surpreendi, os outros
eram realmente clientes querendo falar com ele, nenhuma amante
ou cliente psicopata.
Suspiro aliviada, pego minhas anotações e sigo para sua sala.
A mesma coisa de sempre, dois toques, abro a porta e o vejo
falando no telefone, ele sinaliza com a mão para eu entrar, caminho
até ele, e ele gesticula com os lábios:
– Sente-se!
Ele conversa compenetrado com alguém no telefone, usa muitos
termos técnicos de advogado, gesticula muito, parece até um
italiano, e finalmente quando desliga me olha e sorri.
Tenho vontade de chamá-lo de palhaço, mas não o faço, preciso
do emprego.
– Pois não, terminou as ligações? – Ele descansa seu braço no
apoio da cadeira, segura seu queixo e me olha.
Não aguento, eu tenho que falar sobre a Maria Helena.
– Terminei, e aproveitei e fiz uma sessão de terapia com a Maria
Helena, ela está muito magoada com você, parece que você está
fugindo dela, mas acho que nos livramos desse encosto, não sei até
quando, mas enfim... – Olho para ele e não consigo deixar de sorrir.
Ele dá um sorriso contido, de canto de boca, e me olha daquele
jeito que dá vontade de pular em seu colo, e penso na Karen, e de
novo, me sinto em dívida com ela.
– Se você se livrou dessa mulher, vou te dar um presente, pode
escolher o que você quiser! – Ele me olha com um sorriso, ele tem
uma boca linda, e deve ser uma loucura tê-la...
Oh, meu Deus, o que estou fazendo?! Olhando para meu chefe e
imaginando pornografias com ele.
Olho para ele de lado.
– Promessa é dívida, estou anotando aqui em meu caderninho! –
Finjo escrever. – Pelo tamanho do pacote, talvez um carro, assim
não precisarei mais pegar ônibus. – Brinco, por que me sinto à
vontade com ele, e é estranho isso, só nos conhecemos há dois
dias!
Ele dá risada.
– Oh, saiu cara essa ligação, pensarei duas vezes da próxima
vez! – Ele volta a sua posição, cruza seus braços na mesa e me
olha intensamente. – O que mais?
O olho sem graça, talvez eu tenha exagerado na brincadeira.
Discorro sobre as outras ligações num tom profissional.
– Perfeito, Jack, parabéns! Você está se saindo melhor do que
eu imaginava.
– Oh, obrigada, mas não acho que fiz muitas coisas, ainda
preciso melhorar muito! – Me levanto. – Quer alguma ajuda, precisa
de algo? – falo em um tom profissional.
Ele me olha longamente, sorri, balança a cabeça.
Sério, esse homem me enerva muito.
– Peça para a copeira trazer um café e uma água para mim. –
Ele olha em seu relógio. – Acho que por hoje está bom, abra seu e-
mail, eu enviei algumas coisas para você, dê uma olhada, se tiver
dúvidas, me fale.
– Tudo bem! – Dou um sorriso contido, daqueles que só
movemos os lábios, sem mostrar os dentes. – Com licença.
Me viro e saio depressa de sua sala, e sempre tenho aquela
sensação de estar sendo observada, e isso é bem irritante.
Capítulo 13
JACKELINE BARTOLLI
Conforme ele me pediu, abro pela primeira vez meu e-mail e
vejo as coisas que ele me passou. Me sinto animada, porque aos
poucos começo a me sentir útil e não um vaso de samambaia.
Alguns assuntos eram internos e precisei ligar para alguns
advogados colegas da Carol, me apresentei e fiz o que ele me
pediu. Outros assuntos eram ligações externas, processos para
arquivar, e algumas coisas administrativas, como controle de
material de escritório, pagamento de contas, entre outras coisas.
Anoto tudo com atenção em meu caderno (conforme li em meu
curso online) e vou riscando conforme finalizo um trabalho. Termino
de ligar para as pessoas que ele mencionou e sorrio satisfeita ao ver
que consegui fazer tudo, e que não precisei pedir ajuda ao meu
mestre lindo.
O telefone toca em minha mesa, já é final de tarde, o atendo
prontamente.
– Jackeline, boa tarde!
– Oi, Jackeline, aqui é da administração. – Uma voz engraçada
fala meio abafada, mas logo cai na risada.
– Carol? – pergunto insegura.
– Oh, Jack, você quase caiu na minha pegadinha! – Ela ri feito
uma tonta.
– Ei, Carolina, não temos mais 15 anos! – Reviro meus olhos.
– Mas eu adoro te fazer pegadinhas. Você é bem distraída, cai
em todas... – Ela continua rindo.
– Fala, advogada, no que posso ajudá-la? – pergunto tentando
ser formal.
– Ui, que voz mais sexy, é assim que você fala com nosso
chefe?! – ela diz maliciosa.
– Não!!! – respondo indignada.
– Fiquei sabendo que você passou quase o dia todo fora com
ele. Foram para um motel, foi isso?
Arregalo meus olhos, como assim, ela já sabe disso?!
– Carolina, você me conhece, e sabe que tenho um
relacionamento sério. Quem falou isso para você?! – falo exaltada.
– Calma, minha flor, estou brincando. Mas que todo mundo está
sabendo que o chefe agora te leva a tiracolo, isso é verdade! – Ela
ri.
– Que coisa mais chata! – falo chateada. – Sou nova aqui, Carol,
estou fazendo o que ele me pede.
– Eu sei, bobinha, mas ele é bem espertinho. Ele não tentou
nada? Pode me contar! – ela diz em tom de segredo.
– Não! – falo com veemência. – Eu só o acompanhei a um
Fórum, e... – penso se digo que almoçamos juntos, mas foda-se. –
...e almocei com ele, e isso foi ótimo, pois não tenho dinheiro para
nada!
– Hum, ele nunca fez isso com nenhuma secretária, sabia?! – ela
diz em tom malicioso.
– Talvez, porque as outras eram secretárias de fato. Eu não sei
nada, e esta foi a forma dele me fazer entender o seu trabalho –
bufo irritada. – Sei lá, Carol, não me enche com isso.
– Tá bom, mas só te digo uma coisa: esse homem é perigoso,
tome cuidado com ele! – ela diz séria.
– Ok, obrigada por avisar – reviro meus olhos.
– Bom, só queria saber se está tudo bem? – ela diz carinhosa.
– Está! Aos poucos estou pegando o jeito, mas está sendo muito
legal, interessante! – falo animada.
– Que bom! Estou cheia de trabalho, vamos ver se almoçamos
amanhã? – Ela diz animada.
– Carol, estava pensando em trazer um lanche e comer por aqui.
Tomamos um café, o que você acha?
Ela bufa do outro lado da linha.
– Eu pago, meu Chuchu! – Ela imita o Renato.
– Não, obrigada. Quando eu receber meu salário, estou cheia de
depender dos outros! – falo decidida.
– Você é uma chata, Jack! Depois nos falamos, um beijo.
Desligamos a ligação.
Olho distraída para meu celular sobre a mesa e vejo uma
mensagem piscando.
Abro a mensagem e me surpreendo, é do Renato.
“Oi, Chuchu, tudo bem? Bom, eu sei que te disse que estava
enrolado essa semana, mas pensei em sairmos para comer uma
pizza, enfim, não quero que você fique chateada comigo, eu te amo
muito.”
Oh, pizza?! – penso desanimada.
Parece que tudo me remete a carboidratos, todo mundo quer me
ver gorda, até o Renato, que me chamou de gorda na lata.
Mas eu queria me acertar com ele, sinto sua falta. São quatro
anos juntos, não quatro dias, eu gosto dele, e queria muito que
déssemos certo.
Respondo:
“Não posso comer pizzas, me chamaram de gorda
recentemente. Talvez uma salada, um suco.”
Vejo que ele está digitando uma mensagem:
“Jack, desculpe por aquele dia, você é uma mulher linda.”
Leio a mensagem e me sinto emotiva, a opinião dele sobre mim
é muito importante. Ele é muito mais que meu namorado, somos
grandes amigos antes de tudo.
Respondo:
“Obrigada, mas acho que estou meio gorducha. Então, não
quero comer pizza, mas quero te ver, estou com saudades!
Um novo toque de mensagem chegando, a abro rapidamente.
“Ok, então vamos a um lugar que só faz saladas e grelhados,
conheci com o pessoal da corrida, você vai gostar. Pode ser às 21h,
no meu apartamento?”
Oh, ele sabe que não tenho carro, por que ele faz isso?
Respondo irritada.
“Eu irei direto do trabalho, e você precisará me levar para casa,
não tenho roupa para me trocar e estou em um trabalho novo,
depois te conto.”
Ele responde em seguida.
“Ok, Jack.”
Olho em meu relógio de pulso, já passa das 18h, acho que já
posso ir.
Ok, mas antes preciso ver com meu chefinho lindo e palhaço.
Então, sigo até sua sala, bato na porta e o encontro na mesa de
reunião, com muitos papéis a sua frente.
Ele levanta seu olhar, tira seus óculos de super-homem e me
olha intensamente.
– Quer uma ajuda? – falo solicita, mas de fato, estou preocupada
que agora tenho um compromisso, e mesmo que eu não esteja
muito longe do apartamento do Renato, terei que pegar um ônibus.
Ele me olha e então diz:
– Não, pode ir!
Respiro aliviada.
– Boa noite, e até amanhã! – Sorrio para ele.
– Boa noite, Jack! – ele diz sério, compenetrado, e volta ao que
estava fazendo.
Ele trabalha muito, e lê muito, e isso deve ser muito cansativo.
Sigo até minha mesa, ajeito as coisas, guardo o que preciso na
gaveta, desligo meu computador, e sigo para a saída.
Passo pela Karen, que me olha de lado.
– Até amanhã, Karen! – falo simpática, mas não ouço a resposta.
Sorrio, ela é muito tonta.
****

Chego a um ponto de ônibus, pergunto para algumas pessoas se


conhecem alguma linha que passe na avenida mais próxima ao
apartamento do Renato, e depois de muita confusão e discussão
entre os passageiros, descubro a linha que preciso tomar.
Balanço minha cabeça, e penso:
– Como é duro ser pobre!
Logo vejo o ônibus que me disseram, faço sinal, subo, e depois
de algum tempo consigo me sentar próxima à saída.
O trajeto é rápido, essa é a vantagem do transporte coletivo.
Logo estou caminhando pela avenida, ando alguns metros, chego
ao prédio do Renato e respiro aliviada, pois o salto alto está me
matando.
Aperto o interfone e vejo o porteiro atender.
– Boa noite! Vou ao apartamento 1.501, sou a noiva do Renato.
– Reviro meus olhos, porque tenho que passar por isso sempre que
venho aqui, isso é tão humilhante.
– Um momento, moça! – O rapaz diz, e após alguns segundos
retorna. – Ele não está atendendo, provavelmente não está no
apartamento.
Arregalo meus olhos, não posso ficar plantada aqui, merda!
– Oh, o senhor não pode me deixar entrar? Eu espero na
recepção – falo irritada.
– Qual o seu nome? Deixe-me ver se a senhora está autorizada
pelo Senhor Renato a entrar.
– Jackeline Bartolli! – falo nervosa.
Ele demora alguns minutos e retorna.
– Infelizmente não consta seu nome aqui, me desculpe! – Ele
fecha sua cabine.
Olho para cima e tento segurar as lágrimas.
Será que isso é normal? Na verdade, parece que tudo em nosso
namoro é anormal, esquisito...
Fico em pé ali, feito uma árvore, olhando os carros passarem.
Tento ligar para o babaca, mas a ligação cai direto na caixa postal, e
resolvo mandar uma mensagem.
“Renato, já cheguei a seu apartamento, e como não estou
autorizada a subir, estou plantada feito uma árvore aqui na rua. Por
favor, venha rápido, senão irei embora.”
Checo diversas vezes para ver se ele leu minha mensagem, mas
nada.
Respiro fundo e seguro a vontade de chorar, caminho até o final
da calçada, espero o movimento dos carros para que eu possa
atravessar, e então um carro preto para no meio fio, abre o vidro, e
eu o vejo.
– Tudo bem, Jackeline? – É o Doutor Rui, parece que ele sempre
me encontra em situações constrangedoras.
– Oi, que coincidência o encontrar! – falo sem graça.
– O que você está fazendo aqui? – Ele franze sua testa. – Quero
dizer, por que você está aqui na rua? Imagino que você veio no
apartamento do seu namorado. – Ele me olha de lado.
– É verdade! – Inspiro. – Mas ele não está, e não posso entrar,
não tenho a chave de seu apartamento, então estou indo embora –
falo de uma vez, tentando manter o resto de dignidade que ainda
me resta.
Ele me olha por longos segundos, e então fala:
– Quer esperar por ele em meu apartamento? – Ele me olha
sério.
Minha cabeça pensa, mas não consigo chegar a um veredito,
acho que não é uma boa ideia.
– Acho que não, eu não consigo falar com ele... – Me sinto tão
mal, humilhada.
– Tudo bem, você sobe, espera um pouco, se ele não se
comunicar com você, você vai embora. – Ouço um barulho de
destravamento de portas. – Dê a volta, você entra pela garagem
comigo.
Me sinto muito envergonhada.
– Ok! – Dou a volta em seu carro e entro. – Não quero
incomodá-lo, eu já estava indo embora.
– Não se preocupe, eu não tenho nenhum compromisso, iria ficar
em casa mesmo. – Ele dá de ombros, olha para frente e segue com
seu carro até a entrada do estacionamento.
Em alguns minutos ele estaciona, abre sua porta e o sigo até o
elevador.
Ficamos em um silêncio pesado, estou incomodada, acho que
deveria ter ido embora e pronto.
– Eu moro na cobertura! – ele diz apertando o último andar. –
Não gosto muito de apartamentos, sempre morei em casas, mas
não seria conveniente para um cara sozinho – ele diz
despreocupado. – Mas, a cobertura dá uma liberdade maior, e
menos encheção de saco com vizinhos.
Sorrio para ele, mas não estou no clima de sorrir, estou com
vontade de chorar.
– Também moro em apartamento, e a vizinhança é de matar, é
batucada dia e noite!
Ele sorri, parece entender que não estou muito bem.
O elevador abre e parece ser privativo, estamos dentro do seu
apartamento, que por sinal é uma coisa de louco, maravilhoso.
Apesar de o Renato morar no mesmo prédio, seu apartamento é
muito diferente, o do Rui é enorme e impecável, parece saído de
uma revista.
Ele adentra no apartamento, e de repente, um filhote de urso
vem em minha direção e petrifico. É um cachorro grande e peludo,
com cara de bonzinho, mas vai saber.
– Bóris! – ele diz enérgico, o animalzinho para e sai correndo
atrás dele, pula e lambe o dono inteiro, e vejo pela cara de felicidade
do Doutor Rui, que a felicidade é recíproca. – Esse aqui é meu
mascote – ele diz após o cachorro sossegar. – Ele não faz nada,
mas lambe muito.
Sorrio ao ver aquele bicho lindo e peludo se sacudindo todo a
minha frente.
– Ele é lindo e fofo! – Me agacho à sua frente e recebo um beijo
de língua, não foi recíproco, só ele me beijou. – Oh, você é bem
danadinho! – digo me levantando toda babada.
– Oh, Jackeline, acho melhor você ir até o lavabo! – Ele indica
com a mão o local, com uma cara de riso.
Caminho até o lavabo que é lindo, tudo aqui é lindo, estou
babando feito seu cachorro.
Tiro o batom com o papel higiênico e lavo meu rosto, a língua do
cachorro lambeu minha boca, nariz e testa. Repasso meu batom e
saio, e vejo o Doutor Rui sentado no sofá com o seu mascote do
lado, todo feliz, parece sorrir.
– Ele passa o dia todo sozinho? – pergunto me sentando ao seu
lado.
– Eu pago um rapaz para passear com ele duas vezes por dia,
mesmo assim ele é muito ansioso! – Ele alisa o pelo do cachorro,
parece adorá-lo.
– Lindo, pena que não tem modos, fica beijando uma
desconhecida sem pedir! – falo olhando para o bichinho que sorri
para mim.
– Ele é esperto! – Olho para o Doutor Rui e ele faz aquela cara
de cafajeste.
– Vem aqui, Bóris, mas sem beijos! – Chamo o cachorro que
vem todo se rebolando, para na minha frente e fica me olhando com
aqueles olhos de pidão. – Adorei você!
– Ele também gostou de você. – Olho para o Doutor Rui e ele
está com aquele seu olhar que me incomoda. – Bebe alguma coisa,
Jackeline? – Ele se levanta e o observo caminhando até um local
cheio de bebidas.
– Não, obrigada – falo sem graça, é tão estranho estar em seu
apartamento.
– Me faça companhia – ele diz olhando para mim, e vejo uma
garrafa de vinho em sua mão.
Penso um pouco, acho que preciso relaxar. O que há de errado
em uma taça de vinho?
– Vou aceitar, não estou mais no horário de trabalho, e meu
chefe não está vendo! – Brinco.
Ele abre aquele sorriso sedutor.
– O Bóris não me larga, acho que foi amor à primeira vista – falo
vendo o cachorro se apoiar em minhas pernas, e deitar sua cabeça
em meu colo.
– Desculpe, Jackeline, eu vou colocá-lo para fora! – Ele faz
menção de tirar o cachorro.
– Não, eu amo cachorros, e o seu é lindo demais, dá vontade de
levar para casa – falo o olhando apaixonada. – Nunca tive um,
nosso apartamento não comporta animais, mas sempre me diverti
com os bichos dos outros. – Falo enquanto acaricio o pelo macio do
bichinho.
Vejo a taça a minha frente e a pego.
– Obrigada! – Imediatamente tomo um gole. Estou tentando me
controlar, mas estou uma pilha de nervos.
– Você disse que namora há quatro anos, é isso? – ele pergunta
sentando-se ao meu lado.
– Isso! – falo chateada.
– Todo esse tempo e você não tem a chave do apartamento do
seu noivo? – ele diz enquanto bebe seu vinho.
– Não somos noivos, só namorados, ele não mora há muito
tempo aqui, deve ser por isso... – Desconverso, pego o celular e
olho novamente para o aplicativo de mensagens, e vejo que ele não
leu minha mensagem ainda. – Ele deve ter entrado em alguma
reunião de última hora, ele é o controller de uma grande empresa.
Não sei por que estou falando isso, me sinto patética, nada na
minha vida mudou desde que ele foi promovido, há dois anos, ao
contrário, ele só está cada vez mais estranho comigo.
– Moro aqui há cinco anos, não conheço muitas pessoas, mas
acho que já vi o seu namorado, nos cruzamos no elevador.
O olho constrangida.
– Não quero te atrapalhar, Rui. Fique à vontade, o Bóris me faz
sala! – Olho para ele sem graça.
Ele termina de tomar seu vinho.
– Se você não se incomoda, eu vou tomar um banho. – Seu
olhar é diferente, não sei, talvez carinhoso. – Mas, fique à vontade,
tem uma área externa, pode abrir a porta e ir lá para fora, enfim... –
Ele diz parecendo também sem graça com minha presença.
– Ok, obrigada! – digo novamente, e vejo-o seguir para uma
escada.
– Sério, Bóris, não sei o que vou fazer quando encontrar o
babaca do meu namorado. Talvez cortar o pinto dele fora e dar para
você comer, o que você acha? – Olho para o bichinho que me
encara. – Você parece seu dono, fica me encarando, eu não gosto
disso, sabia?
Oh, acho que estou ficando doida, agora converso com animais!
– penso.
– Vamos, Bóris, me mostre a área externa, você deve gostar de
ir lá fora.
****

A noite está linda, com uma lua enorme, muitas estrelas, aqui de
cima é tudo mais bonito, a cidade, a lua, as estrelas.
Deve ser muito bom namorar num lugar desses.
Sou uma idiota romântica, o dono desse apartamento não me
parece o cara mais romântico do mundo, ele é um belo de um
comedor de mulheres, deve ter visto mais bucetas que um
ginecologista.
Ando pelo ambiente extasiada, nunca estive num lugar como
este. Uma linda mesa de madeira com cadeiras confortáveis enfeita
o ambiente, e do lado esquerdo há uma pequena área de
churrasqueira, tudo feito com muita sofisticação, e uma piscina
acima do nível do piso. Subo os três lances de escada e chego a um
deck, e encontro uma linda piscina, apenas com uma raia, mas
perfeita para dar um mergulho. Olho ao redor e vejo muitos vasos,
grandes e imponentes, circundando o ambiente, tudo é muito bonito,
de bom gosto.
Toda a área externa é circundada por uma proteção de vidro
transparente, me sento em uma espreguiçadeira grande, parece um
sofá, e olho a cidade, aqui é muito lindo.
De repente, sinto um molhadinho em meu rosto, olho assustada
e lá está o mascote tarado do Doutor Rui, ele subiu na
espreguiçadeira e se sentou ao meu lado.
– Você é muito dado, menino! Puxou ao seu pai, é?! – falo
acariciando sua cabeça. – Você me parece uma companhia
deliciosa de se ter. – Ele me olha sorrindo. – Ok, você merece um
beijo, por que realmente me fez esquecer a grosseira do meu
namorado ogro. – Me inclino e beijo sua cabecinha. – Você é lindo!
– Mais um beijo, estou amando esse cachorro.
– Ele vai ficar mal-acostumado, Jack!
Puxo o ar, será que ele ouviu o que eu disse?
Olho de lado e o vejo, e me falta o ar.
Ele está vestindo uma calça jeans bem despojada e uma
camiseta branca justinha ao corpo, mostrando seu tórax e braços
definidos e fortes.
Que homem, meu Deus, queria muito ser a tal Priscila! – penso
enfeitiçada.
– Estamos conversando um pouquinho, é ótimo conversar com
cachorros, eles não respondem, não reclamam, é só amor e
atenção! – falo em tom de brincadeira.
– Acho que ele está meio abusado. – Ele diz se sentando em
uma cadeira confortável próxima a minha. – A noite está boa para
ficar aqui. – Ele me olha.
– Adorei aqui, é muito lindo, nunca estive em uma cobertura e
realmente a visão é privilegiada – falo com sinceridade.
– Confesso que não venho muito aqui fora, preciso fazer isso
mais vezes! – Ele olha para fora do prédio. – Mais uma taça de
vinho, Jack? – ele diz se levantando.
– Preciso checar meu celular! – Me levanto com ele e vejo o
Bóris atrás de mim, e sorrio.
Minha bolsa está sobre o sofá, busco o celular no bolso dianteiro
e o olho ansiosa.
Nenhuma ligação, nenhuma mensagem.
Puxo o ar, eu não acredito que ele me mandou vir até aqui e
simplesmente me esqueceu, ele tinha obrigação de me ligar, me
avisar...
Vejo novamente uma taça de vinho na minha frente, sorrio, mas
de verdade, eu não deveria estar bebendo assim, não aguento
bebida, e de estômago vazio, pior ainda.
– Obrigada! – Pego o vinho. – Deve ter acontecido alguma coisa!
– falo constrangida, sentindo seu olhar sobre mim.
– Talvez a bateria do celular acabou e ele não consegue falar
com você, ou mandar uma mensagem!
– É verdade, talvez eu devesse ir até seu apartamento, ele pode
estar lá! – falo sentindo a ansiedade tomar conta de mim.
– Vamos lá, eu te levo até o apartamento dele, se ele não estiver
lá, eu te levo para sua casa – ele diz sério, com uma leve ruga em
sua testa.
– Oh, você é muito gentil, mas não se preocupe comigo, eu me
viro. – Coloco a taça de vinho pela metade sobre uma mesinha
lateral e pego minha bolsa.
Ele se posiciona ao meu lado e sinto aquele cheiro maravilhoso
me inebriar.
– Eu faço questão! – Ele faz um gesto com a cabeça para que eu
siga na frente, entramos no elevador, e logo ele abre no andar do
Renato.
– Eu vou descer apenas para ter certeza que ele está aí! – ele
diz quando saímos do elevador.
Estou tão confusa que não falo nada, apenas ando relutante até
a porta de seu apartamento e ouço uma música ao fundo.
Meu coração dispara, olho para trás e vejo o Rui um pouco atrás
de mim. Crio coragem e aperto a campainha.
Ouço uma voz masculina se aproximar e de repente a porta abre
e vejo um cara sem camisa.
– Oi, pois não? – ele diz com um sorriso no rosto.
– Quem é você? – Sinto o sangue subir.
– Desculpe, quem é VOCÊ?! – Sua voz sai levemente
efeminada, e não nega sua preferência sexual.
Meu coração está do tamanho de uma ervilha, a Carol tinha
razão!!!
– Eu sou a namorada do Renato! E você, é o que dele? –
pergunto tentando não pirar e quebrar tudo a minha frente.
De repente ouço a voz do Renato ao fundo.
– Léo, o que você está fazendo aí? – E ele aparece com os
cabelos molhados, colocando uma camisa e fica branco e mudo. –
Jack! – ele diz desconcertado, abotoando a camisa rapidamente. –
Esse é meu amigo Leonardo, ele chegou hoje de viagem, ele vai
passar a noite aqui e vai embora amanhã. – Ele me olha
constrangido. – Você se lembra dele, ele fez faculdade comigo...
O ignoro.
– Eu te liguei e te mandei uma mensagem Renato – falo
tentando conter minha fúria. – Tínhamos combinado que eu te
encontraria aqui! – falo entre os dentes e olho para o cara, que
abaixa a cabeça constrangido.
– Oh, desculpe, Jack! Eu me atrasei um pouco, e o porteiro disse
que você tinha ido embora, eu estava indo neste momento até sua
casa. – Ele diz nervoso.
– Você não sabe mais usar o celular, é isso?! – Pergunto irônica.
– Oh, meu celular! – Ele tateia a calça. – Devo ter deixado no
carro. Desculpe, Jack, eu realmente me atrasei, precisei buscar o
Leonardo no aeroporto.
Olho para o Renato, e fico imaginando desde quando ele come
homens e eu não percebi, eu simplesmente tenho relacionamento
com um gay, e não sabia.
Eu sou uma psicóloga, deveria ter notado isso, sua falta de
interesse por mim, o fato dele nunca fazer sexo oral, seu culto pelo
seu corpo, a vaidade exacerbada, sei lá.
Fecho os olhos e respiro.
– Talvez eu devesse ir para um hotel, Renato! – O amigo gay diz.
– Oh, não, não faça isso, eu já estou indo embora! – Viro as
costas e dou de cara com o Rui nos olhando.
O Renato pega em meu braço e me faz olhá-lo.
– Jack, não é nada disso, eu sei o que você deve estar
pensando... – ele diz cochichando. – Eu só quis ser gentil o
deixando ficar aqui em casa, ele veio para um congresso aqui em
São Paulo.
Puxo meu braço e o olho com raiva.
– Você me usou todo esse tempo para encobrir sua falta de
coragem para assumir sua preferência por homens! Você é nojento,
Renato, eu nunca mais quero te ver na minha frente!!! – Viro e saio
a passos apressados, sentindo as lágrimas inundarem meus olhos,
entro no elevador e nem percebo que o Rui entra comigo.
– Jack, vamos até meu apartamento, você se acalma primeiro,
depois eu te levo para sua casa – ele diz quando a porta fecha.
Limpo minhas lágrimas, mas uma nova sequência de lágrimas
começa, não consigo parar de chorar, e então sinto braços ao redor
do meu corpo, e um peito forte contra meu rosto.
Soluço de choro, de raiva, de dor.
Não sei o que é pior, ser trocada por uma mulher, ou por um
homem.
Ouço o barulho da porta do elevador se abrindo, me afasto do
Rui, ele pega em minha mão e me leva para dentro do apartamento.
– Acho melhor você beber isso. – Ele me entrega a taça de vinho
que eu estava bebendo.
Viro de uma vez.
– Talvez eu queira mais uma taça! – O olho em meio à
inundação de lágrimas que está em meus olhos.
Me sento no sofá e fico olhando para o líquido que sobrou dentro
da taça, estou destruída por dentro.
Acho que preferia ser trocada por uma mulher, me sentiria
menos humilhada.
De repente, vejo o bocal da garrafa enchendo minha taça, olho
para cima e vejo os seus olhos me observando.
– Sinto muito, Jack! – ele diz meio sem jeito, parece
envergonhado de ter presenciado a cena surreal do meu namorado
com seu caso gay.
Balanço minha cabeça, estou em choque, só consigo sentir
vontade de chorar, e choro, e quando vejo, estou novamente no
peito do Rui, que se sentou ao meu lado, e me emprestou seu peito
para eu chorar.
– Quer mais uma taça? – ele diz me vendo virar a quarta taça de
vinho.
– Eu vou ficar bêbada! – falo me sentindo meio tonta.
– Bom, é uma forma de relaxar e esquecer o que você viu. – Ele
me olha parecendo sentir dó de mim.
– Ok. – Levanto a taça para ele novamente, e penso como vou
conseguir dizer a minha mãe, minha avó e minha tia, que namorei
durante quatro anos um gay enrustido, que me comia só para não
fazer feio para a família e para a sociedade.
Volto a chorar.
– Calma, Jack, tem coisas piores na vida! – ele diz acariciando
meus cabelos.
– Nesse momento, essa é a pior coisa que poderia ter
acontecido na minha vida! – falo chorando.
– Não, existem coisas piores. – Ele me puxa novamente para
seu peito, fecho os meus olhos e me permito sofrer um pouco por
causa daquele maldito, covarde e traiçoeiro.
De repente, me dou conta que estou alugando o colo e o
apartamento de um cara que mal conheço, e que ele é meu chefe.
Eu estou doida, o que estou pensando?!
Me levanto de súbito e limpo meu rosto.
– Desculpe, Rui! Eu vou embora – falo envergonhada. Pego
minha bolsa, levanto e sinto uma leve tontura. – Agradeço muito
tudo que você fez por mim. – Enxugo novamente meu rosto que
está completamente ensopado.
– Ei, você não pode ir embora assim! – Ele me segura. – Vamos
fazer uma coisa, eu faço algo para a gente comer e depois te levo.
Ele me encara com aquele olhar decidido.
– Eu já te incomodei demais – falo meio tonta, bebi demais, não
poderia ter feito isso.
– Tudo bem, eu te faço trabalhar em dobro, assim você
compensa! – Ele me olha e sorri.
– Ok, eu estou meio tonta, não vou conseguir chegar a lugar
nenhum assim! – Me sento novamente.
– Fique aqui, vou fazer alguma coisa para comermos e já volto.
Relaxo minha cabeça no encosto do sofá, vejo o peludinho do
seu cachorro se sentar ao me lado, e me olhar curioso.
– Os humanos são tão complicados, Bóris! – Encosto minha
cabeça a do cachorro, fecho os olhos e não percebo quando pego
no sono.
Capítulo 14
RUI FIGUEIREDO
Sigo para a cozinha meio atordoado.
Caralho, o que foi aquilo?!
O namorado da Jackeline é gay, e ela estava com ele há quatro
anos!
Porra, que raiva daquele cara, como ele consegue ser gay com
uma namorada como aquela, linda, gostosa, cheirosa.
E não é só isso, ela é uma mulher inteligente, divertida,
espirituosa.
Qualquer homem gostaria de ter uma mulher dessas ao seu
lado, e não um marmanjo peludo!
Porra, que nojo! Não sou homofóbico, mas que me dá nojo, dá!
Mulher é bom demais, como alguém pode preferir um homem?
Isso não entra na minha cabeça.
Mas, enfim, estou me sentindo mal, eu até tinha segundas
intenções com a Jackeline. Eu sei que não presto, sou um canalha,
mas não agora a vendo sofrer desse jeito, não gosto de ver mulher
chorando, sofrendo, esse realmente é meu ponto fraco.
Paro no meio da cozinha e nem sei o que fazer, eu tinha planos
de sair hoje à noite, espairecer um pouco, beber, e “conhecer”
alguma garota, mas aí vi minha deusa na frente do prédio,
completamente desnorteada.
Parece até uma coisa, a gente está sempre se encontrando,
mesmo que eu não queira. Eu a dispensei no meio de um monte de
coisas para fazer, mas ela está sempre no meu caminho, parece
coisa do destino, e olha que não acredito nisso.
Sorrio ao me lembrar do ataque de amor do Bóris com ela,
parece que somos iguais, e ele fez o que eu queria, beijar aquela
boca grande e carnuda, como gosto de sua boca, mas não é só a
boca, gosto de tudo na minha deusa do espartilho.
Bom, eu sei que a história de seu namorado a chateou demais,
mas também tem o lado bom, aquele verme não está mais na vida
dela, vai ficar mais fácil para mim.
Abro a geladeira e procuro algo para fazer, não sou nenhum
mestre cuca, mas eu me viro.
Pego uma tigela com salada lavada, alguns queijos, frios, e
coloco tudo sobre o balcão.
Acho que dá para matar a fome.
Bom, me deixe chamá-la, se pretendo atravessar a cidade para
levá-la em casa, ao menos preciso comer alguma coisa.
Sigo para a sala, olho para o sofá e fico surpreso.
– Porra, Bóris, o que você está fazendo aí? – olho para o
cachorro, ele está dormindo junto com a Jackeline. – Cachorro
safado, já está dormindo com a garota que estou a fim, Bóris!
Cochicho em seu ouvido puxando-o para a lavanderia.
– Parece até que você lê mentes, Bóris. Você nem chega perto
da Priscila, já com a Jackeline, só falta ir embora com ela. – Ele me
olha com aquela cara de bobo, sempre rindo e balançando o rabo.
Eu adoro esse peludo, e parece que a Jackeline também.
– Ela gostou de você, Bóris, mas se comporta, tem que ir com
calma, mulher não gosta de macho carente.
Ele abana o rabo feliz, posso dar bronca, colocar para fora, ele
sempre está feliz.
Volto para a sala e a vejo dormindo encolhida no sofá.
– O que eu faço com você, Jackeline? – falo confuso, ela parece
tão frágil.
Me aproximo dela, penso em acordá-la, mas desisto. Ela bebeu
demais, não está em condições de ir para casa.
Quer saber, foda-se, não vou levá-la, ela passará a noite aqui!
Eu até posso ser um mulherengo dos infernos, mas também
tenho coração, uma irmã e uma mãe, quero cuidar da Jackeline.
A puxo suavemente do sofá, ela está para lá de Bagdá, e então
a coloco em meu colo.
– Ela está desmaiada! – falo sozinho, a vendo completamente
relaxada, não mostrando nenhum sinal de resistência. – Ok,
Jackeline, não sei o que você irá achar disso, mas hoje você dorme
na casa do Rui, ou seja, no covil do lobo. – E dou risada sozinho,
caminhando em direção às escadas.
Por sorte a porta do quarto de hóspedes está aberta, entro com
cuidado para não esbarrar com ela em alguma coisa, e a coloco
sobre a cama.
Arrumo seus cabelos que estão sobre seu rosto, e por mais que
não queira, fico a admirando.
– Ei, Jackeline, você é muita tentação! Estou me controlando
muito para não me aproveitar de você! – Cochicho acariciando seus
cabelos escuros. – Você é muito linda!
Fecho meus olhos, abro e vejo aquela boca linda entreaberta, e
sem que eu tenha noção inclino-me sobre ela, estamos a
centímetros de distância, olho salivando para sua boca, e dou um
pulo ao ouvir um latido.
Franzo minha testa e olho ao meu lado.
– O que você está fazendo aqui? – cochicho bravo para o meu
cachorro, que surtou de uma hora para outra.
Ele abana o rabo.
– Tá feliz por que, seu maníaco?! – O vejo olhando para a
Jackeline. – Que porra é essa, Bóris? Me deixa em paz um minuto
com a garota!
Ele faz menção de subir na cama, me levanto de sobressalto.
– Você não vai dormir com ela, vamos arrumar uma fêmea bem
bonita para você, essa é minha! – falo com o cachorro como se
fosse um maluco. – Se bem que você foi castrado, sinto muito,
Bóris, mas você estava mijando a casa toda, só existe um macho
alfa aqui, e sou eu! – O puxo pela coleira e o faço descer as
escadas.
Volto para o quarto, coloco as mãos na cintura e admiro aquela
bela fêmea.
– Eu e o Bóris temos os mesmos gostos, estamos loucos por
você, Jackeline! – Sussurro a olhando dormindo de lado, as mãos
juntas ao lado do rosto, parece um anjo, mas eu sei que essa
mulher é uma diaba linda e gostosa.
A olho vestida e não sei bem o que faço, ela irá amanhecer toda
amassada.
Ok, não estou muito preocupado com isso, confesso, eu quero
tirar sua roupa, não estou conseguindo me controlar, o maníaco sou
eu, não o Bóris.
– Me desculpe, minha deusa, mas vou te deixar mais
confortável, tenho certeza que você não ficará brava comigo, será
para o seu bem.
Me sento na cama, aproveito que ela está de lado, abro o zíper
de sua saia e a puxo delicadamente por seus quadris, e aos poucos
sua pele levemente morena vai surgindo e uma calcinha branca de
renda muito sensual. Passo sua saia por suas coxas grossas,
torneadas, simplesmente lindas, ela tem pernas lindas demais.
Fecho meus olhos por um momento, estou com muito tesão,
muito mesmo, minha ereção está explodindo dentro da minha calça.
– Caralho, por que estou fazendo isso? – Sem que eu consiga
controlar, coloco minha mão delicadamente sobre seu bumbum.
Caralho, que bunda é essa, Jackeline? Foi feita a mão! – Deslizo
suavemente minha mão nos contornos de sua bunda, sua pele
parece de veludo, ela é muito macia.
Me levanto de sobressalto, esfrego meu rosto, aliso meus
cabelos.
– Eu não estou aguentando isso, mas ao mesmo tempo, o que
estou fazendo não é certo, ela está bêbada, Rui! Isso é
praticamente estupro, caralho!
Ando pelo quarto, tentando acalmar minha cabeça de baixo,
estou parecendo um animal.
Porra, nunca estive tão louco por uma mulher!
Inspiro profundamente, olho novamente para ela, agora
completamente relaxada, os braços estendidos atrás de sua cabeça,
exibindo todo o seu corpo.
– Caralho, olha o tamanho dessa buceta!
Aperto meu pau sobre a calça.
– Amigo, não vai ser hoje que você vai se afogar nessa mulher.
Te prometo que vamos fazer isso, mas não poderá ser hoje!
Ok, Rui, falando de novo sozinho, e agora com seu pau, isso não
está indo bem.
Me sento novamente na cama, fico a observando feito um
tarado, e sem o menor pudor, sigo meus dedos até os botões de sua
camisa, e começo a abri-la delicadamente, e aos poucos seus
peitos vão surgindo por detrás do seu sutiã de renda branco.
– Você é linda, Jackeline, e vai ser minha, só minha! – E faço o
que não deveria fazer, me inclino sobre ela e descanso meus lábios
sobre os seus suavemente, e sem que eu espere, ela abre seus
lábios.
Fecho meus olhos com força.
– Eu não posso fazer isso!
Mas, não deu para segurar, porque sua língua começou a roçar
a minha, e aí não aguentei, mergulhei minha língua naquela boca
deliciosa.
Cubro sua mão com a minha e ela corresponde ao meu beijo
com paixão.
E de repente ouço um latido forte e inoportuno. Me levanto com
o coração na boca e vejo o Bóris novamente no quarto.
Me afasto da Jackeline, ela não acordou, deve estar sonhando
com uma trepada, e deve ser comigo, não é possível que seja com
o bicha do seu namorado.
– Bóris! – sussurro enérgico e aponto com o braço para a porta.
– Sai daqui, agora!
Mas o porra do cachorro descobriu o amor e começa a latir, e me
desespero.
Me levanto para mandar esse cachorro para os infernos, mas ele
começa a brincar de pega-pega comigo, sobe na cama e se aninha
ao lado da minha deusa.
– Bóris, acho que te deram alguma coisa, você está muito
esquisito! – falo com as mãos na cintura. – Você estragou tudo,
Bóris, vai ficar de castigo por uma semana, sem passeio e sem
biscoitos.
Mas, ele não está muito preocupado, principalmente depois que
a Jackeline resolveu abraçá-lo.
Bufo, olho para o teto, e xingo o Bóris de tudo o que é nome.
– Ok, você resolveu protegê-la contra seu dono mau, eu até te
entendo! – falo olhando para ele, e a cobrindo com uma colcha. –
Eu só vou tirar a camisa, Bóris, só para ela ficar confortável. Não
precisa me morder, amigão!
Confesso que estou meio temeroso com esse cachorro, ele
realmente acha que a Jackeline é sua fêmea. Acho que vamos ter
que lutar pelo território, esse bicho é meio selvagem, e eu nem
sabia.
Me sento na cama e começo a puxar sua camisa delicadamente por
seus braços. O Bóris me olha desconfiado.
– Ok, Bóris, não vou fazer mais nada. Vou deixá-la para você
essa noite, mas saiba que as coisas não funcionam assim no mundo
dos humanos.
O problema de viver sozinho, é que assimilei essa mania de
conversar com meu cachorro, isso é bem estranho.
Termino de tirar sua camisa, e fico por alguns minutos admirando
seus belos peitos, grandes, redondos, e firmes.
Acaricio mais uma vez seus cabelos, e beijo suavemente seus
lábios, esse beijo me deixou ainda mais louco por ela.
– Boa noite, minha deusa! – Fico a olhando fascinado, e
desperto com um rosnado. É isso mesmo?!
Olho para o Bóris.
– Cara, você não está legal hoje! – Me levanto preocupado. –
Ok, fica aí com sua fêmea, e não faz nada com ela, é só para olhar!
– Cubro seus seios com a colcha. – Se comporta, Bóris, amanhã
converso com seu adestrador, talvez você precise relaxar um pouco,
uma piscina, quem sabe uma namoradinha. – Enquanto falo, vou
andando de costas, vai saber o que esse cachorro maluco está a fim
de fazer comigo.
– Boa noite, amigão! – Deixo a porta semiaberta, dou uma última
olhada e o vejo deitando sua cabeça na barriga da Jackeline.
Balanço minha cabeça de um lado para o outro.
– Os feromônios da Jackeline devem ser poderosos, nunca vi o
Bóris assim! – Sigo para o meu quarto. – Preciso de um banho frio e
de uma punheta, estou com o saco doendo, porra!
Capítulo 15
JACKELINE BARTOLLI
Desperto com uma sensação de cabeça pesada, tento abrir
meus olhos, mas a claridade do quarto me deixa meio cega.
Tateio ao meu lado, estou completamente desnorteada, então
sinto uma coisa peluda e macia.
Forço meus olhos a abrirem, viro de lado e dou de cara com
aquele ser peludo e lindo.
– Bóris, o que eu estou fazendo dormindo com você? – Franzo
minha testa e viro para olhar para o quarto onde estou, e sinto um
nariz gelado no meu rosto e muitas lambidas. – Oh, Bóris, eu dormi
na casa do seu dono e completamente bêbada.
Arqueio minhas sobrancelhas e fecho meus olhos.
– Meu Deus, que vergonha! – penso.
Apoio meus braços ao redor do meu corpo e me sento, e então
me dou conta que estou só de CALCINHA E SUTIÃ.
– Meu Deus!!! – falo com meus olhos arregalados. – Será que
seu dono e eu... – Olho para o Bóris, que me olha como se eu fosse
a melhor coisa que aconteceu em sua vida. – Bóris, me diz que não
fiz isso, por favor!
Ele se aproxima de mim e me dá mais beijos.
– Oh, Bóris! – Coloco minhas mãos sobre meu rosto. – Chega
de beijos, Bóris! Eu preciso ir embora.
Olho ao meu redor, procuro pelas minhas roupas e as vejo no
final da cama.
– Será que tem um banheiro aqui? – Olho ao redor e vejo uma
porta. – Deve ser ali. – Pego minhas roupas e saio quase correndo
até lá, fecho a porta e me olho no espelho. – Céus, estou parecendo
uma bruxa.
– Ok, eu sei que estou com pressa, mas preciso ao menos tomar
um banho. – Olho para frente e vejo uma banheira maravilhosa. –
Seria incrível mergulhar em você, querida, mas acho melhor não,
estou aqui de penetra! – Tiro minha calcinha e meu sutiã, ligo a
torneira do chuveiro e vejo um mundo de água cair sobre mim,
gelada! – Oh, merda! – Fecho rapidamente a torneira. – Estou
bêbada ainda! – Seleciono a torneira correta, e deixo a água
esquentar.
Lavo rapidamente meu corpo, o cabelo molhou levemente, mas
dane-se, não dá para lavá-lo.
– Toalha! – falo alto, em pânico. – Cacete, como não pensei
nisso? – Olho ao redor do banheiro, e não tem uma filha da puta de
uma toalha. – Céus, quantas cagadas juntas! – Fecho os olhos e
tento pensar em alguma coisa, mas não tem nada a se pensar, a
não ser que eu vista a roupa sobre o corpo molhado, não tenho
como me enxugar. – Merda, merda, mil vezes merda! Jackeline, sua
burra!!!
Desligo a torneira, olho mais uma vez ao redor e penso em me
enxugar com o papel higiênico, não isso não vai dar certo.
– Ok, você vai ter que abrir essa porta e achar alguma coisa para
se enxugar, querida! – falo para mim mesma.
Piso no chão frio, molhando tudo a minha frente e esbravejo!
Abro a porta e vejo o Bóris deitado sobre a cama e me olhando
sorrindo, com aquela cara feliz.
– Gostou de me ver nua, seu safado! – falo para ele, e de
repente a porta abre, e meu coração gela, e dou um grito ao ver o
Rui a minha frente, e tento me cobrir com meus braços, mas não dá,
né, tem muita carne para tampar.
Ele fica me olhando. Ele está sem camisa, só de calça social e
sem sapatos.
Oh, meu Deus, que calor que estou sentindo!
– Sai, Rui!!! – grito desesperada, morrendo de vergonha.
– Tá. Desculpe, Jack! – Ele vira de costas, meio atrapalhado. –
Você precisa de alguma coisa? – Ele diz posicionado na porta.
– Uma toalha – falo quase em um grunhido.
– Ok, eu já trago! – Ele sai, quase choro de vergonha, e volto
correndo para o banheiro. – Meu Deus, não sei como vou olhar de
novo para esse cara!
– Jack, a toalha! – Ouço sua voz grossa e sedutora, e um toque
na porta.
Dou um pulo de susto.
– Obrigada. Pode deixar pendurada na porta. – Não quero olhar
para ele, estou com muita vergonha.
Espero um pouco, abro a porta e vejo a toalha pendurada na
maçaneta, a pego desesperada e me enxugo rapidamente.
Pego minha lingerie e coloco, em seguida a camisa, a saia, e
suspiro aliviada passando as mãos pelo tecido, ajeitando o que está
levemente amassado.
Me olho no espelho, ajeito meu cabelo passando os dedos entre
os fios, não tenho maquiagem, aliás, nem sei onde está minha
bolsa.
Estou horrível! – Penso desesperada.
Olho para o teto e respiro, agora terei que olhar para aquele ser
angustiante, e não sei como.
Abro a porta do banheiro vagarosamente, e respiro aliviada ao
ver o quarto vazio, quero dizer, meu novo amor está me esperando.
– Oi, menino! A barra está limpa? – Ele abre sua boca e parece
sorrir para mim. – Estamos íntimos demais, já dormimos juntos e
você me viu sem roupa, isso está indo depressa demais, não
costumo ser assim! – Enquanto falo, procuro por meus sapatos, mas
acho que devem ter ficado lá embaixo, acho que os tirei no meio da
bebedeira, e aí lembro do Renato, mas balanço minha cabeça
energicamente.
– Agora não, seu filho da puta, depois penso em você! – falo
comigo mesma.
Procuro por minha bolsa, gostaria de passar ao menos um
batom, mas não a acho. Então, crio coragem e decido sair do quarto
e chamá-lo.
– Rui! – falo da porta do quarto onde estou, e ele aparece de um
quarto em frente ao meu, lindo, cheiroso, e colocando sua gravata.
Ele sorri, e não deveria fazer isso, por que é muito angustiante
olhar para esse homem, ele é lindo demais.
– Oh, não sei como me desculpar! Funcionário bêbado não é
bem visto, eu sei disso... – falo desconcertada, mas ele não parece
muito preocupado com isso.
– Está tudo bem, Jack! O importante é que você está bem, e me
desculpe ter entrado no quarto sem bater, fiquei preocupado com
você. – Ele me olha intensamente.
– Tudo bem, eu que invadi sua casa – falo sem graça. – Muito
obrigada por tudo, Rui! Mas, acho melhor eu ir para casa, preciso
me trocar e tentar trabalhar, mas pode deixar que ficarei até mais
tarde, compensarei as horas de atraso. – Ele começa a caminhar
em minha direção, novamente aquele gelado no estômago se
apodera de mim.
– Calma, Jackeline. Eu sou seu chefe, não um carrasco nazista!
– Ele sorri, e eu tento sorrir também, mas não consigo com esse
homem lindo na minha frente, ele me deixa muito nervosa.
– Que bom, né? – Sorrio amarelado. – Mas, eu só estou
trabalhando há dois dias, não seria aconselhável fazer tantas
cagadas juntas.
Ele sorri largo e espontâneo, ele é muito charmoso, sexy e
sedutor.
– Vamos fazer o seguinte: eu te levo a uma loja feminina que
temos na vizinhança e você compra alguma coisa para vestir. – Ele
sorri e eu choro, não tenho condições financeiras de comprar nem
uma bala, muito menos uma roupa de uma loja vizinha ao seu
apartamento.
– Oh, seria maravilhoso, mas eu não estou podendo – falo
constrangida. – Mas, eu prometo que não me demoro.
Ele me interrompe.
– Vou fazer melhor. Eu faço um adiantamento para você, verba
para roupas. O que você acha? – Ele sorri novamente e fico olhando
aquela boca, e me vem uma lembrança estranha, acho que sonhei
que beijava o Rui, será que isso é possível?
– Oh, Rui, estou muito constrangida com essa situação. Por
favor, me deixe voltar para minha casa...
Ele me olha sério.
– Vai demorar muito, Jack! Você irá perder seu dia todo, eu
preciso de você no escritório!
– Oh, claro, me desculpe! – falo sem graça. – Eu ficarei com
essa roupa mesmo.
Não termino de falar, ele balança a cabeça negativamente.
– Tá, eu aceito sua verba adiantada! – Desisto, ele não vai me
deixar ir para casa, muito menos trabalhar dois dias com a mesma
roupa.
– Então, podemos ir? – ele diz ajeitando sua gravata e pegando
um paletó em uma cadeira.
– Claro! – Olho para meus pés. – Você sabe dos meus sapatos?
Ele dá uma risada linda e contagiante.
– Devem estar perdidos por aí, a noite foi bem agitada! – Ele sai
andando pelo corredor dos quartos.
Estanco em pânico.
– Rui! – Ele me olha pelo ombro. – Nós não fizemos nada, não é
mesmo?! – O olho envergonhada.
– Não, Jack, você estava bem mal, só tirei sua roupa para você
ficar mais confortável. – Ele dá mais um daqueles sorrisos molha
calcinha. – Vamos, podemos tomar café em algum lugar.
Meu Deus, se a noiva desse cara souber que ando para cima e
para baixo com seu homem, serei esfolada viva.
****

Dou um beijo na cabecinha do seu cachorro.


– Adorei te conhecer, Bóris, nos vemos por aí! – falo me
levantando e acariciando sua cabecinha e entro no elevador junto
com o Rui, e o cachorro entra junto. Olho para o Rui e ele está
olhando feio para o cachorro. – Acho que ele quer ir comigo, Rui,
você perdeu seu cachorro. – Brinco.
– Bóris, sai! – ele diz enérgico, mas o Bóris mexe com seu
focinho em minha mão. – Você está ficando chato, Bóris! – Ele pega
na coleira do cachorro e o coloca para fora do elevador, e ele late
bravo.
– Coitadinho, ele fica muito sozinho. – falo o olhando com dó,
mas o elevador fecha, e ouço seu latido forte. – Você passeia com
ele de vez em quando? Ele deve estar carente. – Olho para o Rui e
o vejo revirando seus olhos.
– Ele passeia duas vezes ao dia com o adestrador! Não se
preocupe com o Bóris, ele está precisando namorar um pouco! – ele
diz despreocupado, e me olha de lado.
Volto a olhar para frente, segurando minha bolsa com força.
Oh, minha santinha, esse homem sabe mais sobre mim do que
deveria! Ele sabe que usei um espartilho para seduzir meu
namorado gay, que sou chifruda, já me viu de calcinha e sutiã, e
também nua em pelo.
Puxo o ar esgotada, está difícil manter a dignidade assim.
Depois de alguns minutos, ele estaciona seu carro em frente a
uma loja chiquérrima, e tenho vontade de chorar, deixarei meu
salário todo em uma única peça.
– Vamos, eu te acompanho! – ele diz decidido e sai do seu carro.
Eu nunca pisei numa loja como essa, nem na calçada. Minhas
roupas são de lojas de departamento, então estou muito
constrangida, queria sair correndo daqui.
Logo que entramos uma mulher muito bonita e bem vestida em
um tailleur se aproxima com um sorriso pronto e falso.
– Posso ajudá-los? – ela diz tentando ser simpática, mas eu a
acho um nojo.
O Rui olha para mim.
– O que você gostaria de ver, Jack?
O olho desconcertada.
– Talvez um vestido, tipo tubinho. – Olho para a moça.
Pensei na roupa mais básica possível, e talvez mais barata.
Ela sorri.
– Venha comigo! – A sigo em direção ao interior da loja, que tem
cheiro de coisas novas e uma fragrância deliciosa.
A vejo mexendo nas araras, ela pega alguns vestidos e me
mostra.
– O que você acha?
Olho para os vestidos insegura, minha bunda e meu busto
sempre me atrapalham.
– Talvez seja melhor você experimentar! – ela diz rapidamente. –
Vamos ao provador.
Olho de relance para o Rui e o vejo vasculhando as araras,
provavelmente escolhendo um presente para a noiva.
Tiro minha roupa e vejo a moça olhando para meu busto,
provavelmente prevendo que nada servirá nele.
Coloco o vestido rapidamente, e ele já dá uma encalhada na
bunda, e o busto fica muito apertado.
– Tenho dificuldades com as numerações, por causa do meu
corpo – falo sem graça.
– Ok, talvez duas peças, assim ficará mais fácil. Escolhemos
uma numeração para cada parte do corpo. Só um momento, vou
buscar. – Ela fecha a porta e esbravejo irritada.
A porta abre, e vejo uma montoeira de roupas em suas mãos.
– Oh, querida, estou com um pouco de pressa, estou atrasada
para o meu trabalho.
– Seu namorado pediu para você experimentar essas roupas. –
Ela sorri maliciosa.
– Meu namorado?! – falo sem graça, e ela sorri de novo.
– Aproveita! – Ela pisca, e eu bufo, eu que terei que pagar essa
conta, e nem sei como, com a montoeira de dívidas que tenho.
Ela pega a primeira peça, um vestido de seda florido, muito
chique, lindo, com um decote em V na frente.
O visto rapidamente.
– Fico ótimo no seu corpo, ele realmente sabe escolher roupas
para você! – Mais uma vez aquele sorriso idiota.
Me olho no espelho, ficou realmente muito bonito no corpo, ela
tem razão, poucas roupas caem bem em mim na primeira, sempre
tenho que fazer ajustes.
– Posso ver quanto é? – Olho para a etiqueta, e quase tenho um
treco. – Ok, vamos para o próximo.
Ela coloca a minha frente uma camisa de seda vermelha, e uma
saia clara, tipo lápis, até os joelhos.
– Vamos colocar essas duas peças juntas! – ela diz entregando
a camisa para mim.
– Não gosto muito de vermelho! – digo abotoando a camisa.
– Mas você fica muito bem, foi ele quem escolheu! – ela diz com
um sorriso no rosto. – Seu namorado tem muito bom gosto, veja
isso! – Ela me entrega a saia.
A coloco e vejo minha bunda enorme no espelho.
– Oh, fico muito bunduda com ela! – digo incomodada.
– Se eu tivesse uma bunda dessas, eu nunca me esqueceria de
deixá-la bem a mostra – ela diz com malícia.
Reviro meus olhos.
– O conjunto ficou perfeito, querida! Você está muito elegante,
não tem nada de vulgar em ter uma bunda como a sua, e se ele não
se incomoda, qual o problema? – Ela pisca.
Tenho vontade de dizer que ele não é meu namorado, mas dará
muita conversa, esqueço isso.
– Ok, você não tem alguma coisa mais simples? – falo
preocupada.
– Eu trouxe esse tailleur, veja o que acha! – Ela me entrega um
tailleur azul escuro, bem-comportado, e uma blusinha para colocar
por baixo.
– Faz mais meu estilo – falo feliz.
Coloco a blusinha de alças, que de comportada não tem nada,
quero dizer, o problema são meus seios, eles sempre tornam
qualquer roupa sensual.
Coloco a saia acima das coxas.
– Ok, essa cor disfarça meu volume – falo olhando para meu
traseiro.
Coloco o blazer e ficou ótimo, abotoo os botões, está certo que
os peitos ficam aparecendo no decote, mas foda-se, estou com
pressa.
– Gostei desse! Quanto é? – Olho para a etiqueta e quase
morro, mas fecho os olhos, pois não terá nada barato nessa loja. –
Vou levar esse.
– E as outras peças? – Ela diz recolhendo tudo.
– Hoje não. Talvez outro dia eu volte. – falo bem mentirosa. – Eu
vou vestida nele, tive um problema, e estou vestindo a mesma roupa
de ontem... – Falo constrangida.
Ela sorri.
– Eu sei como é, de vez em quando perco a hora e durmo na
casa do meu namorado, e isso é sempre um problema! – Ela sorri
maliciosa. – Me deixe tirar as etiquetas. – Ela tira delicadamente. –
Ok, podemos ir.
Pego meus sapatos para colocá-los.
– Oh, esqueci, ele pediu para você experimentar esses sapatos.
– Ela segura em sua mão um scarpin preto maravilhoso, de verniz,
com um salto alto e grosso.
– É muito lindo, mas acho melhor não experimentar, vou me
apaixonar.
Antes que eu possa sair correndo, ela se abaixa à minha frente,
e os coloca em meus pés.
Essa mulher é boa no que faz! – penso.
– Veja se está te machucando – ela diz a minha frente.
Ando um pouco e parece que estou pisando em nuvens.
– É muito confortável! – falo com uma dor no coração. – Mas,
não posso levá-lo.
– Ok!
Ela sai na minha frente, coloco meu sapato, pego minha bolsa e
a acompanho, e encontro o Rui com o celular na mão, digitando
algo.
Ele me olha sorrindo.
– Escolhi esse! – falo sem graça, passando a mão pelo tailleur.
Ele me olha de lado.
– Você está muito bonita! – Ele sorri torto e sinto calor, muito
calor. – E as outras peças, o sapato, você não gostou?
– Eu gostei, claro que gostei! Aqui tudo é muito bonito, mas hoje
será só esse conjunto, obrigada! – Cochicho.
– Vou pedir para embrulhar tudo! – Ele sinaliza para a
vendedora, e diz alto: – Vamos levar tudo!
Arregalo meus olhos, apavorada.
– Rui, você está sendo maravilhoso, mas eu não posso gastar
tanto assim, tenho muitas dívidas para pagar com meu salário. – Me
aproximo dele e sussurro, não quero chamar a atenção de todo
mundo para minha pobreza.
– Vou te dar de presente, não se preocupe! – Ele desvia de mim
e segue até o caixa.
O olho atônita e ando depressa até ele.
– Rui! – O cutuco. – Por favor, não me faça sentir mal – falo
baixo, quase suplicando.
Ele me encara profundamente, e leva uma de suas mãos até
meu rosto e o acaricia, e sinto um gelado no estômago.
– Relaxa, Jackeline! Aproveite que estou bonzinho hoje! – ele diz
com um sorriso, e fico ali o olhando feito uma idiota.
Então, a vendedora pede seu cartão, ele entrega, e o olho
completamente confusa.
A moça entrega as sacolas para mim.
– Obrigada, e volte sempre! – Ela sorri, devolvo um sorriso
amarelo, e sinto uma mão grande em minhas costas.
– Vamos, Jack. – Sigo atônita ao seu lado. – Ele pega minhas
sacolas, e coloca no banco de trás. – Tem uma cafeteria aqui perto,
vamos andando, é logo ali na esquina.
Minha vontade é dizer que já vou indo, mas não tenho a menor
ideia de como voltar. Estou numa rua chique da cidade, nem sei se
ônibus circulam aqui, devem ser proibidos.
– Ok! – Sorrio discretamente, e o sigo em mais um desatino da
minha vida, isso tudo parece um sonho, mas não faço questão de
acordar.
Capítulo 16
JACKELINE BARTOLLI
Entramos em uma cafeteira, a mais chique que entrei em toda a
minha vida.
De verdade, estou mais acostumada com botecos e padarias.
– Pode sentar-se, Jack. Eu já volto.
O acompanho com o olhar, ele pega seu celular, o coloca no
ouvido e começa a falar, ou discutir.
– Espero que não seja por minha culpa! – penso.
Uma moça se aproxima.
– Gostaria de fazer seu pedido? – ela diz simpática.
– Não, vou esperar aquele cavalheiro ali. – Aponto discretamente
para meu chefe maravilhoso, que fala e gesticula nervosamente.
Aproveito que ele está distante e ligo para minha mãezinha, ela
deve estar preocupada.
O telefone toca duas vezes e ela atende.
– Mãe, bom dia! – falo temerosa, ela é uma portuguesa muito
brava.
– Jackeline Bartolli, onde você está desde ontem, e sem me dar
notícias?!
Eu falei que ela é brava.
– Mãe, me desculpe, mas é que aconteceram algumas coisas,
não dá para falar por telefone. – Vejo o Rui caminhando em minha
direção. – Só queria avisá-la que estou indo para o meu trabalho, à
noite conversamos.
O Rui se senta à minha frente, parece irritado, ele me olha e
sorrio para ele.
Ela começa a falar, reclamar, xingar...
– Mãe, eu já estou desligando, até depois! – Desligo em sua cara
e vejo o Rui me olhando.
– Estava falando com minha mãe, dando sinal de vida. – Sorrio
sem graça.
– Vamos fazer os pedidos? – Ele levanta seu braço. – O que
você quer comer? Aqui tem uns muffins divinos, quer experimentar
um?
Meu estômago está roncando, e ao pensar em um muffin, ele
grita, mas não, minha meta é perder 10 quilos.
– Obrigada, mas quero só um café com leite e um pão de queijo.
Ele torce seus lábios.
– Bom, por causa da senhora não jantei ontem. Então, preciso
de um lanche, caso contrário vou passar mal – ele diz irônico.
A moça chega, ele faz os pedidos, e o olho envergonhada.
– Rui, estou muito envergonhada por tudo o que aconteceu
desde ontem. Me desculpe pelo vexame com meu ex-namorado,
pela bebedeira, pela cena no quarto... – falo remexendo em algo na
mesa, nem consigo olhá-lo, então sinto seus dedos em meu queixo,
me fazendo olhar para ele.
– Não se sinta envergonhada, Jack! Está tudo bem, eu já disse
isso! – Ele solta meu queixo e dá um sorriso. – Você não teve culpa
em relação àquele cara, sinto muito, você perdeu quatro anos de
sua vida com um... – Ele não termina a frase.
– Gay? – digo constrangida.
– Isso. – Ele me encara. – Beber fazia parte, eu te estimulei,
você precisava relaxar. – Ele sorri novamente. – E te ver nua foi um
prazer. – Ele me encara com aqueles olhos de predador.
Enrubesço e abaixo meus olhos, a moça chega, e agradeço.
– Obrigada! – O olho de relance, pego a xícara e bebo o leite, e
o vejo me encarando. – Rui, você tem o costume de encarar as
pessoas? – Ele vira seu rosto de lado e dá um sorriso engraçado. –
Essa é a forma de intimidar seus oponentes? Isso me deixa meio
nervosa!
Ele me olha surpreso, mas eu precisava dizer isso.
– Te incomoda como eu te olho?! – ele diz sedutor.
– Um pouco, me deixa nervosa! – falo o encarando, porque isso
está me incomodando.
– Por que te deixa nervosa? – Ele me olha de lado, com um
sorriso torto no rosto, e me arrependo de ter dito isso.
– Não sei, só sei que me deixa nervosa. – Dou de ombros.
Ele sorri.
– Você também me deixa meio nervoso! – Sinto um gelado no
estômago, seus olhos mergulham nos meus, ele olha para minha
boca.
Ele mexe demais comigo e ele é meu chefe, não quero perder
meu emprego.
– Então, estamos quites, enervamos um ao outro! – Disfarço,
tomo meu café com leite e ele continua me olhando. – Está vendo,
é isso que eu não gosto! – falo meio rindo e ele sorri.
– Não tenho muito controle sobre isso, sou assim – ele diz
finalmente, de um jeito sincero, com um sorriso de menino.
– Quer experimentar, Jack? – ele diz ao morder seu lanche. –
Esse é muito especial, adoro os lanches daqui.
Sorrio, por que ele tem um jeito espontâneo, e apesar dessa
figura altiva e imponente de advogado de sucesso, seu jeito de ser é
acessível, simples e acolhedor.
– Não, estou de regime! – Fecho meus olhos.
Não era para falar sobre isso, Jackeline!
– Por quê? Você tem um corpo ótimo! – ele diz meio engraçado.
Me sinto constrangida, ele não é meu amigo gay ou minha amiga
Carol para eu reclamar de minha bunda, peito e coxas.
– Coisas de mulher, adoramos fazer regimes! – falo para
descontrair.
Ele balança a cabeça e volta a devorar seu lanche.
Termino meu café com leite e meu pão de queijo, e o espero
terminar seu lanche.
Nunca me imaginei tendo um relacionamento tão íntimo com um
chefe. Sem dúvida, esse é o emprego mais inusitado que arrumei, e
com o chefe mais incrível.
– Rui! – Ele me olha novamente. – Obrigada pela oportunidade
que você está me dando, vou me esforçar muito para não te
decepcionar.
Falei de coração, ele está sendo tão incrível para mim, acho que
nunca conheci alguém que me ajudasse tanto, quero dizer, tem a
Carol, mas somos amigas de infância.
Ele dá um sorriso lindo, e eu me apaixono cada vez mais pelo
seu sorriso e de repente, aquela mão enorme acaricia meu rosto, e
novamente sinto um gelado no estômago.
– Não precisa agradecer, Jackeline. – Seus olhos mergulham
nos meus, e ficamos assim por segundos intermináveis, e
novamente ele olha para os meus lábios, e sinto uma vontade
irresistível de beijá-lo, e o vejo se aproximando...
Não posso fazer isso, então me afasto.
– Preciso ir ao banheiro. – Dou um sorriso nervoso, levanto e
saio em direção aos fundos da cafeteria.
Entro no banheiro, me apoio na pia e fecho meus olhos, sentindo
meu coração disparado no meu peito.
– Oh, senhor, eu não posso me apaixonar pelo meu chefe, isso é
contra as regras de boa convivência! – falo em pensamento,
sentindo meu corpo inteiro tremer, num misto de excitação e desejo.
– Eu não posso, eu preciso desse emprego, e não de um amante
– falo baixo, somente para mim mesma.
Abro a torneira, jogo uma água em meu rosto e me olho no
espelho.
– Estou horrível hoje! – falo ao me ver sem maquiagem. – Ok, foi
só um deslize, está tudo bem! – Puxo o ar, seco meu rosto e volto
para nossa mesa.
Ele me olha e diz:
– Podemos ir, ou você quer comer aquele muffin?! – Ele diz
divertido.
Sorrio, ele sabe como me relaxar.
– Oh, não me pergunte de novo, não sei se conseguirei resistir! –
digo descontraída. – Talvez numa próxima vez, quando eu não
estiver de dieta.
Ele sorri, levanta seu braço e pede a conta.
– Vamos, Senhorita Jackeline, você precisa trabalhar muito hoje!
– ele diz descontraído.
– Tudo bem! Estou preparada, chefe! – Sorrio e o acompanho.
****

O caminho até seu escritório foi silencioso, ele colocou aquela


música agradável que costuma ouvir, e me deixei relaxar e não ficar
pensando muito no que aconteceu na cafeteria.
Ele estaciona seu carro e vejo que a recepcionista já abriu o
escritório.
Não vai pegar bem eu chegando com o chefe, serei o assunto do
dia, da semana, e do mês. – Penso desanimada.
O Rui pega um molho de chaves e me entrega.
– Vou deixar com você, para caso você chegue primeiro. Para
desativar o alarme é só pressionar esse botão.
Ele sai do carro e eu fico olhando para aquela chave em minha
mão.
O percebo me esperando, então saio rapidamente de seu carro,
e sorrio, tenho essa mania, fico sorrindo toda hora, acho que é de
nervoso.
Acho que preciso voltar às minhas sessões de análise, ando
meio desequilibrada! – Penso.
– Vamos! – Ele coloca sua mão enorme em minhas costas e me
faz entrar em sua frente, fecho os olhos e adentro a recepção e vejo
os olhos da Karen pousar indiscretamente sobre nós. – Bom dia,
Karen! – ele diz rapidamente e segue na minha frente.
– Bom dia, Karen! – falo sem graça. – Alguma ligação ou recado
para o Doutor Rui?
Ela me olha com desdém.
– Não, nenhum recado!
– Ok, obrigada. – Sigo para as escadas, mas ela me interrompe.
– Vocês tinham alguma reunião agora de manhã? Não vi nada
na agenda do Doutor Rui. – A olho de lado, e vejo malícia em seu
olhar.
– Não, não tínhamos nenhuma reunião. – Me viro para frente e
sigo pelas escadas, sentindo seu olhar sob mim.
Reviro meus olhos, com certeza serei o assunto do dia.
Me sento à minha mesa, ajeito minhas coisas, ligo meu
computador e me assusto novamente com a voz de trovão do meu
chefe.
Fecho meus olhos, me levanto e sigo para sua sala.
Abro a porta e o vejo em sua mesa, ele levanta seus olhos, e o
vejo de óculos. Já cheguei à conclusão que tenho um fetiche por
esse homem de óculos, ele fica muito sexy. Quero dizer, ele é muito
sexy.
– Pois não? – Caminho até ele e sorrio por dentro ao vê-lo me
encarando durante todo o trajeto.
Preciso me acostumar com isso.
– Vamos ver alguns assuntos... – Ele aponta para a cadeira a
sua frente.
Me sento e ele começa a falar feito uma metralhadora.
– Doutor Rui (ele está muito profissional, acho melhor tratá-lo
assim), posso pegar meu caderno, para não esquecer? – falo sem
graça.
– Ok! Rápido, Jackeline!
Balanço minha cabeça e saio apressada até minha mesa, em
segundos estou de volta.
– Pronto! – O olho e sorrio, e ele descarrega um caminhão em
meu colo.
– O escritório vai fazer 10 anos e farei uma recepção para os
funcionários, para comemorarmos – Ele diz enquanto olha para os
papéis a sua frente. – Então, você cuidará disso para mim. Eu quero
que seja um coquetel, nada muito formal, farei no meu apartamento,
ele comporta bem os trinta funcionários.
O olho atônita.
– Eu nunca organizei um evento. – Olho para ele temerosa.
– Ok, anote o telefone da minha casa, minha empregada a
ajudará com essas coisas, ela já fez isso antes.
Anoto rapidamente o número que ele me passa.
– Você entendeu tudo ou está com alguma dúvida? – Ele me
olha com aqueles olhos lindos.
Abro levemente minha boca, e o vejo a olhando, então desisto
do que iria falar, na verdade esqueci, esse homem me excita e me
desconcerta só com um olhar.
– Não! – Me levanto. – Se eu tiver alguma dúvida, te pergunto
depois. – Começo a andar meio de costas.
– Você ficou muito bonita com esse tailleur, deveria comprar
outros. – O olho surpresa e balanço minha cabeça.
– Claro, depois eu compro outro. – E me lembro que esqueci
todas as sacolas em seu carro. – Eu esqueci minhas coisas em seu
carro. – O vejo pegando a chave e jogá-la em um supetão para mim,
a pego no reflexo.
– Boa de reflexos! – Ele sorri e volta a sua leitura.
– Aham! – Viro de costas, reviro meus olhos e volto para minha
sala.
****

Trabalhei como gente grande durante todo o período da manhã,


então no horário do almoço o vejo abrindo a porta de sua sala.
– Vou sair para o almoço, Jackeline! – ele diz enérgico.
– Ok! – respondo.
– Qualquer coisa, ligue em meu celular. – Ele sai andando.
– Doutor Rui, uma coisinha... – Ele para e me olha com a testa
franzida. – Eu não tenho seu celular.
Ele sorri, volta para trás, olha para minha mesa, pega meu
celular, digita feito um doido, e de repente seu celular toca.
– Agora estamos conectados. – Ele sorri novamente e volta a
caminhar em direção à saída.
O olho meio tonta, ele realmente parece um trator desgovernado.
Termino de fazer algumas coisas que estavam faltando, deixarei
o período da tarde para ver a questão da recepção.
Me assusto com um toque na porta, olho e vejo a Carol, e sorrio.
– Oi, Jackeline! – ela diz irônica.
– Oi, Carolina! – Sorrio para ela.
– Então, posso almoçar com a assistente do Doutor Rui, ou
tenho que marcar hora? – ela diz bem palhaça.
– Boba! – Me levanto e pego minha bolsa. – Um lugar baratinho,
tá? – Faço cara de coitadinha.
– Oh, que roupa é essa?! – Ela me mede.
Reviro meus olhos.
– Podemos conversar no restaurante? – Viro minha cabeça de
lado.
– Claro! – Ele passa seu braço por minha cintura e beija meu
rosto. – Você está linda, sabia? – Ela cochicha em meu ouvido.
– Eu sei, estou muito gostosa hoje! – Dou uma gargalhada, e
descemos animadas as escadas.
Depois de alguns minutos, estamos em um restaurante daqueles
por peso, mas o lugar é muito charmoso.
– Não tem restaurante simplesinho por aqui, Caroleta? – falo
preocupada.
– Jack, estamos numa região muito sofisticada da cidade, a
maioria dos restaurantes são chiques, se acostume!
Suspiro desanimada, não sei como sobreviverei até o
pagamento.
Pego meia dúzias de folhas, um grelhado, nos sentamos em
nossa mesa e a Carol olha para o meu prato.
– Tá de penitência, Jack?
Olho para seu prato e vejo que ela pegou tudo que tinha de
gostoso no buffet.
– Carolina, nem todo mundo nasceu com uma solitária no
estômago! – falo com desdém. – Quero perder 10 quilos.
Ela arregala seus olhos.
– Está doida, Jack? Você vai parecer doente!
– Você e minha mãe fizeram reunião? Vocês gostam de dizer as
mesmas coisas! – Brinco.
Ela revira os olhos.
– Carol, preciso te contar uma coisa. – Ela me olha surpresa. –
Descobri que o Renato é gay.
Ela se engasga, bato em suas costas com força, e desesperada.
– Para, Jack, está doendo! – ela diz se encolhendo. – Ô italiana
forte! – ela esbraveja. – Como assim, você o pegou na cama com
um cara?
– Mais ou menos, foi a maior confusão, Carolina. Mas só para
resumir, ele me deu um cano ontem, fiquei plantada na frente do seu
prédio, aí o Doutor Rui chegou, eles moram no mesmo prédio. – Ela
arregala seus olhos, mas continuo. – Ele me fez subir com ele, para
esperar o desgraçado, aí, como o Renato não retornava minha
ligação fui até seu apartamento e ele estava com um cara. Eu até
me lembro dele da época da faculdade, mas agora o cara está muito
gay, sabe, aquela vozinha irritante. – falo com raiva.
– Oh, Jack! – ela fala com o queixo caído. – Eu sempre soube
que ele queimava a rosca, aquele jeitinho nunca me enganou. – ela
diz brava. – Quer que eu quebre a cara dele? Eu adoraria!
A Carolina sempre foi diferente, então enquanto eu frequentava
as aulas de Jazz, ela praticava Kickboxing. E só para resumir, ela foi
o irmão que eu não tive, quando algum menino me ofendia, ou
incomodava, ela batia neles, ela é o máximo!
– Carol, você não tem mais idade para sair quebrando a cara de
um homem, você é uma advogada. – Dou risada. – Já pensou se
você chegar ao escritório com o olho roxo, o Doutor Rui te mata.
Ela gargalha.
– E aí, como está seu relacionamento com o chefe? – Ela faz
cara de malícia. – A Karen anda falando coisas interessantes de
vocês dois.
– Essa menina é uma víbora, hein? – digo puta. – Carol, eu
dormi na casa dele ontem à noite.
Ela se engasga de novo, mas logo se recompõe.
– Vocês estão transando, mas já?! – ela diz incrédula.
– Não, eu não dormi com ele, eu disse que dormi em seu
apartamento! – falo indignada. – Ele estava comigo quando
encontrei o Renato, ele me levou novamente para seu apartamento,
eu enchi a cara de vinho e dormi!
Ela me encara com seus olhos grandes.
– Nossa, Jack! – Ela bufa. – Caramba, que confusão.
– Nem fala, Carolina. – Inspiro. – A Karen me viu chegando com
ele.
– Ok! – Ela balança a cabeça. – E essa roupa, você não disse
que não tinha dinheiro?
– Ele comprou para mim. – Não olho para ela, são muitas coisas
ao mesmo tempo.
– Como assim?! – Ela me olha desesperada. – Ele está
comprando roupas para você?
– Deixa para lá, Carol – bufo exausta. – Ele é muito gentil, me
deu de presente. – Evito olhá-la.
Ela dá uma gargalhada.
– Tá virando amante do chefe!
A olho ofendida.
– Ele não está me comendo, Carolina! – falo brava.
– Mas, pretende comer... – ela diz.
– Não, eu não quero! – digo decidida.
– Ok! Vamos ver.
Olho para ela, mas ela já desviou seus olhos de mim.
****

Me despeço da Carolina, sigo para minha sala e vejo a sala do


Doutor Rui aberta.
Ok, me deixe ver se a sala do meu chefe está em ordem. Ele
não é do tipo bagunceiro, mas os papéis sobre sua mesa estão em
desordem.
Coloco meus cabelos atrás da orelha e começo a organizar os
papéis, os colocando em alinhamento. Arrumo as canetas e lápis
que estão espalhados, e percebo que seus lápis estão todos sem
ponta, então os aponto com um apontador elétrico que existe em
sua mesa.
Seus óculos de super-homem estão jogados sobre a mesa,
então os coloco dentro de seu porta-óculos.
Sigo para sua mesa de reunião, a arrumo, aponto os lápis,
arrumo as cadeiras, e quando me viro, me surpreendo ao vê-lo em
pé, me olhando.
Fico sem graça.
– Oi, boa tarde! – Sorrio nervosa. – Estava dando uma ajeitada
em sua sala, espero que você não se incomode! – falo insegura.
Ele sorri e segue para sua mesa.
– Eu não me incomodo. – Ele tira seu terno, coloca sobre um
apoio, então me olha e sorri. – Gostei, Jackeline! – Ele olha para
sua mesa.
– Que bom! – Sorrio e começo a caminhar para minha mesa.
– Espere – ele diz. – Sente-se aqui, vamos tomar um café.
Respiro e o vejo pegar o telefone e falar com a copeira.
– Então, como foi sua manhã? Conseguiu fazer as coisas que te
passei? – Ele cruza seus braços atrás de sua cabeça, mostrando
aquele bíceps maravilhoso.
Tento prestar atenção em outras coisas.
– Sim. Deixei apenas a questão do coquetel para ver agora à
tarde. – Sorrio.
– Que bom! – Ele cruza seus braços sobre a mesa, um toque na
porta e a copeira entra.
Olho para ela e sorrio.
Ele espera ela sair, então volta a me olhar, pega sua xícara e
toma seu café.
– Então, como foi seu almoço? – Ele me olha.
Fico confusa com sua pergunta.
– Foi bom, almocei com a Carolina, ela me levou a um lugar
charmoso! – falo sem graça.
– Ah, claro! – Ele me encara. – Você é bissexual, Jack?
Arregalo meus olhos e quase derrubo todo o café sobre minha
roupa.
Devolvo a xícara para a mesa e o olho atônita.
– Nãooo!!! Eu nunca tive nada com a Carolina, nem com
nenhuma outra mulher!
Oh, que cara mais indiscreto!
– Me desculpe, não quis ofendê-la, mas você é minha
funcionária... – ele diz meio sem graça.
– Tá, mas e se eu fosse lésbica, qual o problema?! – falo
indignada.
– Problema nenhum, eu só queria saber! – ele diz ainda com
aquela cara de bobo.
– Ok! – Me levanto. – Acho melhor eu ir trabalhar, tenho que ver
aquela questão – falo atrapalhada.
– Tá! – ele diz sem jeito. – Qualquer dúvida, pode me perguntar,
Jackeline. – Não espero ele terminar de falar, saio andando
constrangida.
Bufo irritada.
– Cacete, como ele é curioso!
Capítulo 17
RUI FIGUEIREDO
Nunca fui um cara romântico, dado a paixões avassaladoras.
Me considero um homem prático, objetivo, e quando preciso, frio em
minha relações.
Confesso que não sei se algum dia amei de verdade, minha
maior paixão é o Direito e minha família. Amo demais meus pais e
minha irmã, alguns anos mais nova do que eu, e que mandei para
os Estados Unidos para estudar na melhor faculdade do mundo,
Harvard.
Quando conheci a Priscila, eu mantinha um relacionamento com
aquela mulher que pedi para a Jackeline falar, a Helena.
Conduzi o divórcio de seu antigo marido, um empresário
milionário, depois de uma traição digna de respeito. Deixei o cara
alguns milhões mais pobre, e minha conta mais gorda.
A Helena é alguns anos mais velha do que eu, mas como
qualquer mulher rica e fútil, ela esconde sua idade por trás de
cremes e cirurgias plásticas. Ela é lindíssima, e se apaixonou por
mim, o que é meio normal, as mulheres se apaixonam por mim com
facilidade.
Confesso que às vezes isso pode ser um saco. Eu quero sexo e
diversão, não relacionamentos, mas elas sempre querem colocar
uma argola em nosso dedo anelar esquerdo.
Enfim, quando conheci o Doutor Albuquerque e resolvemos fazer
uma parceria, o pacote incluía sua linda e ambiciosa filha.
Começamos a sair, transar, a Priscila nunca foi muito dada a
cerimônias, transamos em nosso primeiro encontro. Daí em diante
ela grudou em mim, e não vou mentir, eu deixei, por que sou prático,
e queria muito a associação com seu pai, e isso aconteceu, talvez
por influência dela, tenho que concordar.
Bom, a Helena continua no meu pé, até sai com ela algumas
vezes depois que conheci a Priscila. Logo eu e a Priscila engatamos
um namoro, mas não gosto de me prender a uma única mulher, e
isso parece ser um problema para a Priscila. Ela já percebeu que
não sou muito fiel, e resolveu ter chiliques todas as vezes que sumo,
pode até ser que eu não esteja com outra mulher, mas agora minha
vida virou um inferno, essa mulher está me enlouquecendo.
A noite que aconteceu a tragédia da Jackeline, o telefone não
parou de tocar, é lógico que deixei no silencioso, eu não queria
assustar a minha deusa.
Era para eu ligar para a Priscila pela manhã, mas aí dei de cara
com aquela mulher espetacular completamente nua no quarto ao
lado do meu.
Eu sei que estou acostumado a ver mulher nua, mas a Jackeline
não é igual às outras, ela tem alguma coisa que me deixa louco.
Não sei se são seus peitos gigantes, ou aquela bunda, e aí me
lembro da maciez da sua pele, de suas curvas perigosas, e não
consigo controlar a décima ereção que essa mulher me provoca.
Estou obcecado por ela, e isso está se refletindo em meu
relacionamento com a Priscila.
Eu sempre consegui contornar o ciúme exacerbado da Priscila,
mas agora que a Jackeline apareceu na minha vida, não consigo
mais pensar com clareza, é meu pau que está conduzindo as
coisas, e com isso, só está dando merda.
Quero deixar claro, não sinto nada romântico em relação à
Jackeline, é só sexo.
Ok, a Jackeline tem um jeito de ser encantador, mas não me
importo muito com isso, é na cama que a quero, e eu a terei!
Estou sentado a minha mesa, tivemos uma manhã bem
interessante, aliás, a segunda da semana. Não vou mentir, adoro a
companhia dela, simples, alegre, inteligente e encantadora!
Nunca dei presentes a mulheres que não fossem minhas
amantes, costumo ser generoso com meus casos, mas ela ainda
não é meu caso. Na verdade, eu comprei aquelas roupas por prazer,
porque ela é uma mulher linda e senti vontade de presenteá-la, se
pudesse compraria a loja inteira para ela.
Relaxo minhas costas em minha cadeira e fico a imaginando
nua, com uma bela joia em seu pescoço, no meio de seus seios
generosos, eu gostaria de enchê-la de joias e roupas caras.
Fecho os olhos e balanço minha cabeça.
Eu não estou legal, preciso resolver logo isso, mas está meio
difícil convencê-la do meu charme, ela é mais resistente do que eu
imaginava.
Tudo bem, a gente quase se beijou na cafeteria, foi por muito
pouco, mas eu acho que ela é honesta, talvez o fato de eu ser seu
chefe a incomode.
E eu achando que a contratando seria mais fácil de conquistá-la.
Bufo irritado.
Bom, pelo menos agora sei que ela não tem um caso com a
Carolina, aos poucos as coisas clareiam, eu só preciso ter
paciência, ela não é tão fácil quanto as outras, mas eu sei que ela já
está na minha teia.
Meu celular vibra em cima da mesa, vejo que é a Priscila e bufo
irritado. Já brigamos hoje pela manhã, quando ela me ligou na
cafeteria.
Penso um pouco. Ok, deixa eu me livrar dela.
– Alô! – Atendo irritado.
– Rui, sou eu de novo! – ela diz feito uma cadelinha carente. –
Rui, me desculpe se perdi a paciência de manhã, mas é que você
está muito estranho comigo.
Olho para o teto e bufo exausto.
– Priscila, estou cheio de preocupações aqui no escritório. Por
favor, me dá um tempo, tá?
– Como assim, me dá um tempo?! – ela diz indignada. –
Estamos de casamento marcado, não podemos dar um tempo! – Ela
se exalta, e eu perco a cabeça.
– Eu quero um tempo, Priscila, não me importa se estamos de
casamento marcado, que se foda, eu não estou aguentando isso!
Eu tenho um escritório renomado para cuidar, não posso ficar
lidando com sua infantilidade e insegurança.
– Você não pode fazer isso! – Ela chora.
– Eu posso e já estou fazendo! Eu não vou me casar, você está
transformando minha vida num inferno!
Ela se desespera.
– Rui, por favor, não faça isso, eu vou melhorar, eu já te disse!
Eu só preciso ter certeza que você me ama, mostra para mim! – Ela
soluça. – Eu sei que você é um cara prático e objetivo, mas pessoas
assim também são românticas.
Esfrego meu rosto nervoso.
– Eu não sou – falo enfático. – Eu quero um tempo, Priscila. Por
favor, não me ligue mais. – Ela tenta falar, mas não a deixo. – Eu te
procuro quando estiver tudo bem. – Suspiro. – Eu preciso desligar,
tenho uma reunião daqui a pouco.
Desligo a ligação.
Coloco minha cabeça entre minhas mãos.
Caralho, eu acabei nosso relacionamento por telefone três
meses antes do nosso casamento. Acho que o Doutor Albuquerque
não irá gostar disso.
Ok, ele vai ter que entender. Eu não quero me casar, quero ficar
solteiro até meus 70 anos, e se possível, comendo garotas de 18.
É isso, não quero mulher no meu pé, não quero me casar, não
quero ser fiel, e ponto.
O telefone volta a vibrar, mas não atendo, é ela.
– Priscila, você que cavou isso tudo, não fui eu – falo para mim
mesmo.
Ando pela minha sala, ela me deixou nervoso, e penso na
Jackeline. Adoro quando ela vem a minha sala, aquele perfume
feminino, quero dizer, acho que aquele é seu cheiro, adoro o cheiro
que ela exala.
Sento-me e aperto o botão de seu ramal.
– Jackeline, venha até minha sala. – Relaxo em minha cadeira e
fico a olhando enquanto caminha até a mim.
Ela ficou muito bonita com essa roupa, elegante, mas acima de
tudo, muito gostosa. Olho para suas pernas, que pernas...
Sorrio ao vê-la, essa mulher me faz bem.
– Sente-se. – Ela me olha séria, parece meio brava comigo, acho
que foi a história dela com a Carolina, mas quero que se foda, eu
precisava saber.
– Pois não? – Ela continua séria, a olho de lado, sobre o que vou
falar com ela? Já falei sobre tudo.
– Você conseguiu falar com minha empregada, já começou a
planejar o coquetel?
Ela olha para o seu caderno e acho isso engraçado, ela é toda
organizada, mas isso é muito bom.
– Sim, ela foi muito gentil, me falou tudo que precisamos
comprar, me passou o nome do buffet que foi contratado, inclusive
perguntou se eu queria que ela cuidasse disso...
Interrompo-a, porque quero ela faça isso.
– Não, você que vai cuidar disso. – Ela me olha temerosa, eu sei
que às vezes sou um pouco ríspido demais, mas esse é meu jeito
de ser, não estou bravo com ela.
– Claro, nem pensei nisso, só estou te dizendo – ela diz
insegura.
– Ok, vamos tomar um café? – Eu mesmo não acredito que
estou fazendo isso, tenho trabalho para o resto da minha vida, e
estou batendo papo furado com a secretária gostosa.
– Acho que não vou dormir hoje, não estou acostumada a tomar
tantos cafés. – Ela sorri.
– Ok, se você perder o sono, você me liga. Conto para você
algumas piadas, você vai cansar de tanto rir, aí você dorme!
Ela abre um sorriso enorme e não consigo deixar de olhar para
os seus lábios, e me lembro do nosso beijo ontem à noite, foi
demais, e eu queria muito repetir isso.
Porra, por que ela não abaixa a guarda e se entrega? Eu sei que
ela também quer!
– Você gosta de contar piadas? – ela pergunta meio sorrindo.
– Gosto, mas só para os amigos, porque normalmente são muito
sujas para uma dama. – Sorrio para ela.
– Oh, então não vai adiantar eu te ligar. – Ela finge estar
decepcionada.
Ela pode até não fazer isso de propósito, mas ela é muito
provocante, sedutora.
– Posso falar sobre outras coisas. Que tipo de coisa você gosta
de conversar, ou falar no telefone? Eu sou muito criativo! – Falo
malicioso, porque adoro uma sacanagem, e adoraria ligar para
Jackeline e falar umas baixarias, e faríamos sexo por telefone. Ajeito
meu pau em minha boxer, não preciso dizer que ele já deu sinal de
vida, aliás, a vida do meu amigo está difícil, mas vou compensá-lo.
Percebo que ela enrubesceu, e isso me faz rir, ela não é
puritana, nem tímida.
Quando penso em falar algo mais íntimo, por que nosso papo
começa a me empolgar, e eu acho que também está empolgando-a,
alguém bate na porta.
– Pode entrar. – Sorrio para ela.
É a copeira, ela deixa nossos cafés, volto a olhar para a
Jackeline, e vejo que a deixei nervosa.
– Obrigada, Dona Maria. – Espero a mulher sair.
Ok, a porra da copeira estragou nosso clima, estávamos indo
muito bem, mas tudo bem, tentarei por outro caminho.
– Você está bem? Quero dizer em relação ao seu ex. – Ela me
olha.
– Acho que sim. – Eu percebo relutância, ela não gosta de falar
sobre sua vida íntima.
– Vocês tinham um relacionamento normal na cama?
Ela me olha estranho, será que forcei a amizade?
– Rui, acho meio complicado falar sobre isso com você! – Ela
gagueja um pouco, a peguei desprevenida, adoro fazer isso com as
mulheres.
– Fique à vontade, Jackeline. Me considere um amigo, seu
terapeuta! – Relaxo na cadeira e acabo rindo.
O que penso que estou fazendo?
Ela sorri, acho que ela já percebeu que não é bom me levar
muito a sério, sou meio maluco mesmo.
Ela remexe seu pires e me olha, e eu tenho certeza que agora
saberei tudo sobre ela, mas a merda da porta abre num solavanco,
e quando penso em xingar, vejo a louca da Priscila.
Me levanto de sobressalto, agora tenho certeza que vai dar
merda!
– Oi, Priscila. O que você está fazendo aqui? – falo sério, vejo a
Jackeline se levantar rapidamente, a Priscila vira seu olhar para ela,
e vejo ódio.
Pronto, tenho certeza que ela irá culpar a Jackeline pelo fim do
nosso relacionamento.
Ela não tira seus olhos da Jackeline.
– Quem é ela? – ela diz entre os dentes.
– Minha secretária, seu nome é Jackeline. – Olho para a
Jackeline, que parece constrangida. – Pode ir, Jackeline, depois te
chamo para continuar com o que estávamos fazendo.
– Ok. – A Jackeline se levanta, mas a louca da Priscila entra em
sua frente.
– Por acaso é por ela que você terminou comigo? Ela é sua
amante? – ela diz descontrolada, medindo a Jackeline de cima a
baixo, talvez com um pouco de inveja, tenho certeza que ela
gostaria de ter um corpo como o da minha deusa.
Caminho rapidamente, e antes que a maluca resolva estapear
minha secretária, seguro em seu braço e a faço olhar para mim.
– Não, ela não é minha amante! – falo baixo, mas muito
ameaçador.
– Jack, pode ir – falo raivoso, mas não é com a Jackeline, é com
essa garota descontrolada.
Eu e a Priscila nos encaramos por alguns segundos, a porta
fecha, eu largo seu braço e volto para minha mesa.
– Priscila, vá embora! – A encaro nervoso.
– Eu não vou, não sem saber por que você está terminando
nosso relacionamento! É por causa dessa piranha?! – ela berra.
Fecho meus olhos, minha vontade é colocá-la para fora sem dar
satisfações.
– Eu não vou discutir com você, Priscila, aqui é o meu trabalho.
Eu te pedi um tempo, eu preciso respirar um pouco, você está me
sufocando! – falo nervoso.
– Eu prometo que vou melhorar! – Ela suplica, tenta me abraçar
e me beijar, mas me esquivo.
– Eu preciso de um tempo, pelo amor de Deus! – Exalto minha
voz. – Você está me atrapalhando, atrapalhando meu trabalho.
– Para que você precisa de um tempo, para conhecer outras
mulheres, para se divertir?! – ela diz exasperada.
– Vai embora, Priscila! – falo exaltado, sigo até a porta e a abro.
– Outro dia conversamos, hoje não, e muito menos aqui! – Falo
incisivo.
Ela me olha cheia de raiva, sai e eu bato a porta.
Merda, maldita hora que me envolvi com essa garota.
Capítulo 18
JACKELINE BARTOLLI
Saio da sala do Doutor Rui meio atordoada e sento em minha
mesa.
Confesso, achei que iria apanhar daquela mulher, ela estava
realmente muito brava, e pelo que entendi, é porque eles
terminaram, quero dizer, ele terminou com ela.
Não consigo deixar de sorrir, mas em seguida balanço minha
cabeça negativamente.
O que estou pensando? Que agora poderei namorá-lo? Estou
louca! – Penso.
Mas não deu tempo de me acalmar, logo a porta abre, e vejo a
Priscila saindo da sala de seu ex-noivo, espumando feito um touro.
Não tenho medo dela, mas evito olhá-la, porque não quero
confusão. Eu sei que ela está achando que eu e ele somos
amantes, não que isso não seja uma boa ideia, mas não somos, e
não quero ser, então é melhor evitar maiores problemas.
Olho para o monitor de meu computador, tento disfarçar, mas ela
está a fim de brigar. Quando me dou conta, ela derruba todas as
coisas da minha mesa, e me olha feito uma louca.
– Olha aqui, sua piranha de décima categoria! – ela diz com o
dedo em riste no meu rosto. – Não pense que você irá acabar com
meu relacionamento! O Rui me ama, só estamos em crise – ela diz
nervosa.
Não sou de levar desaforo, então me levanto e encaro aquela
coisa mal-amada.
– Eu não tenho culpa que você está com problemas em seu
relacionamento, eu sou apenas a secretária, não me culpe pelo seu
fracasso – falo séria e com muita raiva, quem ela pensa que é para
me chamar de piranha? – Resolva seus problemas com ele, e pense
bem a próxima vez que me chamar de piranha, talvez eu não tenha
tanta paciência! – A olho com firmeza.
– Cala boca sua... sua... insignificante. Assim que eu e o Rui nos
acertarmos, a primeira coisa que farei é colocá-la na rua! – ela grita
e meu coração acelera, tenho vontade de estapeá-la, mas tento me
controlar, eu realmente preciso desse emprego.
– Fique à vontade! – Volto a minha mesa, olho para o
computador tentando ignorá-la, e a vejo sair batendo seco seu salto
alto.
A olho pelo canto do olho, sentindo muito ódio dessa garota, ela
é esnobe e arrogante, e se acha dona desse lugar. Se eles
realmente reatarem, estarei perdida, e na rua.
****

É final de tarde, checo em meu relógio de pulso o horário, já faz


algum tempo que o Doutor Rui está trancafiado em sua sala com
dois advogados.
Não nos falamos depois da visita ilustre de sua ex-noiva, ou
noiva, não estou muito preocupada com isso, quero essa encrenca
longe de mim.
Mas, aí, me lembro de nossa conversa de louco, antes da
megera chegar, e dou risada.
Que conversa era aquela que estávamos tendo?
É fato que ele estava querendo avançar a linha tênue de
secretária e de chefe, e sinceramente, eu estava quase caindo em
sua teia. Mas aí aquela louca chegou, e de certa forma agradeci,
pois ele é muito envolvente, é difícil não se entregar ao seu charme.
Me estico um pouco na cadeira, já estou com todas as cotações
para o coquetel, só falta mostrar para ele, mas acho melhor fazer
isso depois, talvez amanhã. Está tarde, só quero mesmo que esses
advogados saiam para eu poder ir embora.
É constrangedor entrar em sua sala no meio de uma reunião,
então espero um pouco mais, olho para a caixa de mensagens de
meu celular, e lá está uma mensagem do meu ex-namorado.
Bufo com raiva, mas abro a mensagem.
“Jack, precisamos conversar, já liguei diversas vezes em seu
celular, mas você está me ignorando. Estive ontem em seu
apartamento e você não dormiu lá. Tudo aquilo foi um mal-
entendido, eu não tenho nada com o Léo, somos amigos. Não sou
homossexual, caralho! Eu não tenho preconceito, somos amigos
desde a faculdade, assim como você é da Carolina. Por favor, essa
história não pode vazar, imagine se minha família desconfia de um
negócio desses! Por favor, me liga, vamos jantar, fazer o que você
quiser, eu realmente quero me acertar com você.”
Idiota, ele acha mesmo que me engana, eu é que sou uma
tapada que nunca havia percebido isso antes. Tenho dó do Renato,
ele nunca irá assumir sua preferência homossexual, sua família é
muito tradicional e conservadora, eles nunca o aceitariam, seu pai
principalmente, aquele ser ignorante, sem cultura e grosseiro.
Escrevo uma resposta.
“Renato, fique tranquilo, nunca contarei a ninguém o seu
segredo. Mas, por favor, seja sincero comigo, assuma isso, eu não
mereço ser enganada por uma vida inteira, isso é realmente
monstruoso da sua parte. Eu desejo um dia me casar, ter filhos,
então me deixe em paz, me deixe conhecer um HOMEM que
realmente me queira para ser sua esposa, e não uma namorada de
fachada. Seja homem pelo menos nisso. Me deixe em paz, não
quero vê-lo nunca mais!”
Ele realmente me ligou diversas vezes, aliás, nunca em nossa
vida de namorados recebi tantas ligações dele. Mas, a verdade é
que estou muito magoada, não é justo ser usada assim, eu sempre
o respeitei e amei, não o perdoo por me usar.
Penso com tristeza no tempo que perdi ao lado daquele
enrustido dos infernos, sempre tão mal-amada, suplicando por amor
e carinho. Por que fiz isso, por que não vi que ele não me amava?
Era só um joguinho de aparência, e a Jackeline caiu feito uma idiota!
Eu realmente não levo jeito para a Psicologia, eu deveria ter
percebido isso, não é possível!
De fato, acho que eu sempre forcei a barra com ele, nos
conhecemos um dia por acaso na faculdade, eu estava comprando
um lanche, ele também, então começamos a conversar na fila. Ele
era bonitinho, mas muito tímido, introvertido, e eu sempre fui muito
falante. Comecei a pegar carona com ele até o metrô. O tempo foi
passando, e me enervava o fato dele nunca querer ultrapassar a
linha da amizade, talvez tentar um beijo. Aí, num belo dia eu tomei a
iniciativa, e na hora de me despedir dele, tasquei um beijo, daqueles
de desentupir pia.
Oh, mas ele era tão tímido que me deixava nervosa, ficamos um
tempo só nos beijinhos, até que novamente a Jackeline atacou o
cara, foi dentro do carro dele, na rua onde ele estacionava o carro,
aliás, que perigo o que fizemos. Eu tomei a iniciativa de novo, não
teve jeito, e transamos pela primeira ali no carro mesmo.
Confesso que não foi legal, o cara não tinha o menor jeito,
parecia uma britadeira desgovernada, não gostei, mas com o passar
do tempo foi melhorando... e depois, piorando!
Assumo, eu tive culpa, acho que ele nunca foi a fim de mim.
Olho para a mensagem que mandei, ele não a leu, então largo o
celular ao meu lado, e sigo para meu computador.
Gostaria tanto de conhecer alguém especial, que me fizesse
feliz, que me tirasse do chão, uma paixão avassaladora! Estou
precisando disso, sexo de verdade, que falta estou sentindo disso!
Ok, eu sei que isso parece coisa de mulher encalhada, mas
quando vejo, estou entrando em um site de relacionamentos.
Eu sei, isso é o fim do túnel, mas eu não ligo, tantas pessoas
conhecem o seu grande amor nesses sites, de repente eu sou a
próxima, meu príncipe está dentro dessa telinha, eu só preciso
vasculhar.
Faço meu cadastro rapidamente, preciso de uma foto, olho para
a câmera do meu computador, ok, vou fazer isso.
Tiro algumas fotos, faço algumas caras e bocas, e por fim,
escolho a que fiquei melhor. Tudo bem que eles preferem foto de
corpo inteiro, mas não estou a fim de vender meu corpo, eu sou
muito mais do que uma bunda e um peito.
Me descrevo rapidamente.
“Tenho 27 anos, sou romântica, adoro conversar, jantares a luz
de velas, ganhar flores, ir ao cinema, viajar...”
Tenho vontade de dizer que gosto de sexo, sexo de verdade,
mas resolvo não dizer isso, caso contrário minha caixa postal irá
encher de propostas indecentes para encontros tórridos.
Meu Deus, se eu gosto de tudo isso, por que eu ainda namorava
o Renato?
Oh, mulher burra!!! – Me xingo mentalmente.
Ok, termino minha descrição e olho brevemente alguns perfis de
homens que estão à disposição.
É muito estranho conhecer alguém assim, sem ter aquela
primeira impressão, olho no olho, mas eu realmente não sei como
conhecerei outros homens enfurnada dentro de um apartamento, e
com três senhoras.
É isso ou nada.
Um barulho na porta e de repente os dois advogados saem
animados, eles me olham, sorriem simpáticos, sorrio para eles, e
vejo meu chefe olhando a tela do meu computador. Me desespero,
minimizo, mas já é tarde, ele me encara com um sorriso cínico no
rosto.
– Você costumar procurar por encontros nestes sites, Jackeline?
O olho horrorizada.
– Claro que não! Eu tinha um namorado, eu não saia com outros
homens, não sou o tipo de mulher infiel, Doutor Rui! – falo
indignada.
O vejo se aproximando, ele se posiciona em minhas costas, e
como sempre se inclina sobre mim, e abre a maldição do aplicativo.
Então, ele começa a abrir minhas informações.
Oh, céus, que vergonha!
– Doutor Rui, por favor, isso é pessoal.
– Eu sei, mas então, por que você estava fazendo isso em seu
trabalho? – Ele me olha inclinado sobre mim, me dando a visão
perfeita de seus lindos olhos, de sua boca, de sua pele, e do
perfume que ele exala.
– Me desculpe, eu só estava tentando passar o tempo. Nunca
mais abrirei este tipo de site aqui no escritório – falo constrangida,
tento pegar no mouse para fechar o site, mas ele não deixa.
– Ok, mas me deixe ver o que temos aqui. – Ele dá um sorriso
debochado.
Tudo bem, eu mereço, por ter sido uma idiota e ter entrado em
um site de relacionamento em meu trabalho, agora meu chefe terá
mais um motivo para me constranger.
Me encosto na cadeira, fecho meus olhos e deixo o vexame se
concluir.
– Certo! – Ele fecha o site e se senta em minha mesa, de frente
para mim, me dando uma visão gloriosa de seu corpo.
Esse homem é lindo.
– Você acha mesmo que alguém neste site está interessado em
conhecer alguém para ter um relacionamento, Jack? – Ele me
encara desafiador.
– Acho! – Balanço minha cabeça. – Sei de pessoas que se
conheceram assim.
Evito olhá-lo.
– E quem são essas pessoas? – Ele cruza seus braços, me
encara, olho-o nervosa.
– Sei lá, já ouvi dizer, não me lembro agora – respondo irritada,
quem ele pensa que é, afinal?
– Jack, você não precisa disso. Isso é uma roubada! – Ele se
levanta e segue para sua sala.
Reviro meus olhos.
– Você precisa de mim, quer que eu faça alguma coisa? –
pergunto sem graça.
Ele torce seus lábios e finge pensar.
– Você quer um encontro, Jack? – Ele me olha com um sorriso
enigmático.
– Doutor Rui, esquece isso. Eu só estava querendo passar o
tempo, sei lá! – bufo irritada.
– Ok. – Ele passa suas mãos pelos cabelos, e isso o deixa tão
sexy! – Quer jantar comigo?
Abro levemente a boca, estou realmente surpresa.
– Não acho uma boa ideia – falo confusa.
– Claro que é uma boa ideia, eu sou um cara solteiro, você
também é, não há nada que nos impeça de jantarmos juntos. Qual o
problema de fazermos isso? – ele diz com uma naturalidade
irritante.
– Você é meu chefe, eu sou sua secretária, não quero ser sua
amante se é isso que você pretende – digo sem delongas.
Ele me encara realmente bravo.
– Só quero levá-la para jantar, quem falou que a quero como
minha amante?! – ele diz sério.
Abro novamente a boca, surpresa, sem graça e envergonhada.
Só estou fazendo merdas, eu só queria enfiar minha cabeça em
um buraco e sumir.
– Desculpe, eu não acho nada. – Desvio meus olhos dos seus. –
Eu... eu às vezes falo demais.
Ele se inclina novamente sobre minha mesa e me encara
desafiador.
– Ok, eu te desculpo! – Ele se levanta. – Pode ir embora.
O vejo indo com pressa para sua sala, ele bate a porta e eu
finalmente respiro.
Oh, merda, será que ele ficou chateado comigo?
Deixa pra lá, pelo menos falei o que queria. O que está feito,
está feito!
****

Finalmente chego em casa.


Jesus, meus pés doem como a morte, acho que preciso colocá-
los em uma bacia com sal grosso.
Abro a porta, as velhinhas estão animadas assistindo a novela.
– Jack! – Minha mãe grita. – Oh, a Mariana finalmente se
entregou para o Roberto, venha ver.
Reviro meus olhos, me nego a assistir essas novelas, elas estão
nojentas.
– Não, mãe. Vou tomar banho! – Dou um beijo em cada uma
delas.
Minha mãe me olha de lado.
– Que roupa é essa? Já lavei a roupa da Carolina, não fique
pegando roupas emprestadas, isso é muito feio! – ela diz mal-
humorada.
– Eu comprei esse conjunto. O escritório que trabalho é muito
chique, não posso ir mal arrumada.
Ela olha para as sacolas.
– Fez compras, querida? – ela diz sorrindo.
– Só algumas coisas, para poder trabalhar decente! – Sorrio. –
Vou tomar um banho, estou muito cansada.
Entro no meu quarto, desabo sobre a cama e jogo meus sapatos
para a lua.
– Sério, amanhã vou de sapatilhas, não aguento esses saltos.
Me levanto preguiçosa, sigo para o chuveiro, e em alguns
minutos estou comendo minha salada de folhas e um grelhado.
Eu odeio saladas e grelhados, não sei como irei perder dez
quilos.
– Jack, essa salada não vai te alimentar, coma mais alguma
coisa! – Minha mãe diz desesperada.
– Não, não e não!!! Dez quilos, mãezinha, preciso me pesar para
saber se perdi alguma coisa! – Falo animada. – Vou estudar um
pouquinho, estou fazendo um curso pela internet.
– Oh, que ótimo! E o Renatinho? Ontem ele esteve aqui!
– Eu sei, nos desencontramos. – Desconverso. – Me deixa
estudar, mãe.
Ela faz uma cara feia e sai.
– Ok, vamos lá.
Abro o site do curso e começo a lê-lo, duas horas depois estou
morta de sono.
Bocejo alto, me estico na cadeira, e me lembro do site de
relacionamentos.
Não vou negar, estou curiosa para saber se alguém se
interessou por mim.
Entro rapidamente no site com meu ID e senha e pronto, a caixa
de mensagens pisca, então a abro curiosa, com um sorriso no rosto.
– E não é quem tenho mensagens! – falo para mim mesma.
Abro o perfil do cara que me mandou uma mensagem, até que
ele é bonitinho, arrumadinho. Claro que não chega aos pés do
Doutor Rui, mas eu também não chego aos pés de sua noiva, então,
acho que terei que me contentar com homens como esse.
Leio sua mensagem:
“Oi, Jackeline! Meu nome é Luís Alberto, tenho 40 anos e estou
procurando por uma companheira como você, romântica, sonhadora
e linda! (ponto para ele, sorrio) O que você acha de marcarmos um
encontro, para nos conhecermos? Não gosto muito dessa história
de trocar mensagens, prefiro o corpo a corpo (o que ele quer dizer
com isso?).”
Me sinto meio nervosa com essa história de marcar um encontro
com um desconhecido. Mas quem disse que há muita diferença em
conhecer alguém numa boate e marcar um encontro com ele?
Dane-se, começo a digitar uma resposta.
“Olá, Luís Alberto! Podemos marcar sim. Alguma sugestão de
dia e horário?”
Envio.
Ouço um bip no computador, e sua mensagem na tela.
– Apressadinho ele.
Sorrio empolgada.
“Estou louco para te conhecer! O que você acha amanhã, depois
das 18h? Trabalho próximo ao shopping. O que você acha de
marcarmos na entrada, então podemos sair, ir a algum lugar mais
tranquilo?”
Oh, como assim, lugar mais tranquilo?
Não, não e não, vai ter que ser no shopping mesmo.
Respondo:
“Que coincidência! Também trabalho próximo ao shopping, mas
prefiro te encontrar na área de alimentação, em frente a um
restaurante árabe, se você quiser podemos jantar ali mesmo.”
Alguns segundos, e a resposta aparece em minha tela.
“Tudo bem, vamos nos conhecer melhor. Numa próxima
marcamos em outro lugar. Chegarei lá às 18h30,
aproximadamente.”
Respondo.
“Perfeito para mim. Nos encontramos amanhã, boa noite.”
Ele responde com uma carinha feliz e suspiro aliviada.
É isso, eu quero conhecer pessoas novas, interessantes, e
esquecer definitivamente meu fracassado romance com o Renato.
Vida nova, Jackeline!
Desligo meu computador e me aconchego em minha cama, e ao
invés de dormir, fico pensando no Doutor Rui.
Seria tão fácil e delicioso ser sua amante, mas eu sei que as
coisas não funcionam deste jeito, possivelmente assim que ele
enjoasse de mim, eu seria descartada como uma roupa velha. Não
quero mais isso para mim, quero ser amada, respeitada, não
suporto mais ser brinquedo para os homens.
Fecho meus olhos e depois de alguns minutos, durmo
pesadamente. Estou exausta.
Capítulo 19
JACKELINE BARTOLLI
Odespertador toca estridentemente, me causando uma irritação
enorme. O desligo delicadamente, não posso quebrar mais um
relógio, isso já está fora de controle.
Sigo sonolenta para meu banheiro, abro a ducha e deixo a água
quente me acordar.
Logo estou pronta, com meus cremes devidamente passados e
com a toalha ao redor do meu corpo, olhando para meu guarda-
roupa.
– Talvez eu devesse colocar esse conjunto de saia e camisa
vermelha. A vendedora me elogiou tanto! – Falo olhando para a
roupa sobre a poltrona.
– Ok, vou caprichar! Quem sabe o rapaz que irei encontrar não
seja o príncipe que estou esperando!
Coloco uma lingerie bonita, mas não pretendo tirar minha roupa
para ele, é só porque gosto de ficar bem vestida na minha
intimidade. Abotoo a camisa vermelha e me olho no espelho.
– Fico bem de vermelho, é que eu realmente não estou
acostumada a usar muitas cores. O Renato sempre foi estraga
prazer, sempre colocando defeitos quando eu me arrumava muito.
Xô, coisa ruim!
Pego a saia creme e passo-a pelos meus pés, fecho o zíper em
minhas costas e a ajeito ao meu corpo.
– Sério, meus quadris estão enormes! Preciso perder isso, e com
urgência!!! – Torço meus lábios.
Arrumo a camisa dentro da saia, me ajeito em frente ao espelho
e suspiro.
– Estou bem vestida, isso é fato. Mas, me incomoda um pouco
esse excesso de bunda, mas vou fazer o quê?
Sigo para o banheiro, acabo de secar meus cabelos, mas os
deixo ao natural, passo batom, delineador e máscara para cílios, e
pronto!
Coloco uma sapatilha baixa, pego meu sapato novo, lindo e
chiquérrimo e coloco em uma sacola, jogo um casaco preto por cima
dos meus ombros e saio apressada para mais um dia ao lado do
chefe mais lindo do mundo.
****
Não fiquei surpresa ao chegar ao escritório e encontrar tudo
fechado.
Eu acho que posso dormir um pouco mais, não preciso chegar
tão cedo ao meu trabalho.
Pego a chave que o Doutor Rui me deu, abro o portão e em
seguida a porta de entrada.
Está tudo silencioso, o que me causa certa aflição, não estou
acostumada a ficar sozinha, acho que sou um pouco medrosa.
Mas, respiro fundo e sigo para minha sala.
Acendo as luzes e sinto aquele perfume delicioso no ar, é o
cheiro do perfume do Doutor Rui, esse ambiente já está impregnado
com seu cheiro.
Abro sua sala e sorrio, adoro estar aqui, me sinto bem. Sigo até
as janelas e abro as persianas, e um pouco a janela, para entrar ar
fresco.
Vou até sua mesa, ajeito seus papéis, arrumo os lápis, canetas,
a mesa de reunião, enfim, olho ao redor e fico satisfeita, estou me
esforçando para ser uma boa secretária, para fazer jus ao meu
salário.
Volto para minha sala, ligo meu computador, arrumo minhas
coisas, e vejo que ele me enviou um e-mail, o abro curiosa.
“Jackeline, bom dia! Não irei para o escritório agora pela manhã,
estou listando abaixo as coisas que gostaria que você fizesse na
minha ausência. Qualquer dúvida, me ligue!”
Engraçado como sinto um desânimo ao saber que ele não virá
agora pela manhã, já estou acostumada com sua presença, com
seus gritos me chamando, com seu perfume.
Balanço minha cabeça negativamente, não posso me apegar,
não somos amigos, não há porque sentir sua falta.
Imprimo seu e-mail e começo a verificar as coisas que ele me
pediu, e assim minha manhã passa em meio a telefones, cartas,
arquivamentos e e-mails para algumas pessoas.
Sinto-me bem, porque apesar de nunca ter feito isso na minha
vida, acho que levo jeito.
Sorrio feliz.
É engraçado como alguém pode ser sentido apenas pelo cheiro,
e esse é o caso do Doutor Rui. Eu o senti chegar, mas não pelos
seus passos, ou pela sua voz, mas sim pelo seu cheiro.
– Boa tarde! – ele diz, e mesmo antes dele dizer eu já havia
sentido sua presença.
Levanto meus olhos, ele está parado em frente à minha mesa.
Sinto uma batucada no peito, ele está lindo hoje.
– Boa tarde! – digo me ajeitando na cadeira.
– Algum recado? – Ele me olha de lado.
– Alguns, você quer que eu te diga agora, ou... depois? – Falo
sem graça ao vê-lo olhar para o decote da minha camisa, e penso
em checar se o botão se abriu, mas seguro a vontade, e o encaro
decidida.
Ele desvia seus olhos.
– Venha a minha sala – ele diz rapidamente, gira em seus
calcanhares e entra como um furacão em sua sala.
Checo de imediato minha camisa e o botão não está aberto, mas
da posição que ele estava, provavelmente a visão era privilegiada.
Talvez eu devesse colocar alguma coisa para fechar melhor esse
decote.
– Jackeline! – ele grita, me atrapalho toda, pego meu caderno e
saio apressada para sua sala.
A porta ficou aberta, então sigo para sua mesa, e o vejo fuçando
em sua pasta e colocando coisas sobre a mesa.
Assim que ele percebe que entrei, ele me olha, quero dizer, me
escaneia, ele é mestre nisso, em me deixar constrangida.
– A roupa ficou muito bem em você. – Ele me olha intensamente.
– Ficou sim. Obrigada, eu realmente adorei! – Me sento a sua
frente.
Ele sorri de leve, parece meio mal-humorado hoje.
– Você quer que eu peça um café para você? – digo boazinha,
quero me redimir de ter sido um pouco grossa com ele ontem.
Ele sorri.
– Pode pedir. – Ele coloca seus óculos.
Me levanto, pego seu telefone e disco para a copeira, e logo o
percebo olhando novamente para o meu decote.
Ele é realmente perverso! – Penso.
Me ajeito de lado, esperando que a copeira me atenda, mas aí o
vejo olhando para minha bunda. Isso realmente não vai funcionar,
esse homem é muito tarado.
Pigarreio.
– Está gripada, Jack? – Ele dá um sorriso de lado.
– Minha garganta está pegando um pouco! – Dou um daqueles
sorrisos sem mostrar os dentes, e o olho pelos cílios. – Perdeu
alguma coisa? – Olho para trás, e ele dá uma risada realmente
safada.
– Não, não perdi nada! – Ele segura seu riso.
Faço o pedido para a copeira e me sento.
– Então, quais são os recados? – Ele se arruma em sua cadeira,
ajeita seus óculos e me olha.
– Claro. – Abro meu caderno um pouco nervosa, porque esse
olhar dele em mim me enerva, e começo a discorrer sobre as
ligações e recados para ele.
– Tudo bem! – ele diz após eu terminar de falar sobre seus
recados. – Mais alguma coisa? – Ele relaxa em sua cadeira.
– Ficou faltando eu te falar sobre as cotações para o coquetel. –
Ele me interrompe.
– Agora não, vamos conversar no período da tarde. – Ele vira
seu corpo para o computador. – Pode almoçar se quiser – ele diz
sem me olhar, ele tá meio azedo hoje.
– Tudo bem! – Me levanto e sigo para a porta, mas como reflexo
olho para trás e o vejo relaxado em sua cadeira me olhando
enquanto caminho para a porta.
Ah, Doutor Rui, você é muito sem vergonha.
– Bom almoço, Jack! – Ele sorri para mim, inspiro com força.
Filho da puta tarado!
****

Sigo até a copa do escritório, hoje trouxe meu lanche, não posso
me dar ao luxo de almoçar fora.
Entro delicadamente e vejo a copeira lavando algumas coisas.
– Com licença, será que posso fazer um lanche aqui? – falo um
pouco cuidadosa, não conheço a copeira, aliás, só falo com ela
quando o Doutor Rui pede algum café ou água.
Ela se vira rapidamente.
– Claro, Senhora Jackeline! Fique à vontade. – Ela limpa suas
mãos e vem ao meu encontro. – Me deixe arrumar a mesa para
você.
A copa do escritório é simplesmente um charme, decorada com
motivos retrôs, com uma linda mesinha de vidro e cadeiras feitas em
um acrílico vermelho transparente, tudo nela é lindo e de bom gosto.
– Oh, não precisa se preocupar comigo, eu me ajeito – falo
constrangida, vendo a mulher toda preocupada, colocando um apoio
para pratos, copos e talheres, deixando tudo perfeito, como se eu
estivesse em um restaurante.
Mal sabe ela que eu trouxe um mísero lanchinho de queijo
branco e peito de peru com salada.
Ela não se deixa abalar com o que digo, logo a mesa está
arrumadíssima.
– Oh, muito obrigada, mas só vou comer um lanche – digo sem
jeito.
– Temos suco aqui, o Doutor Rui trata muito bem seus
funcionários – ela diz orgulhosa.
– Eu aceito, esqueci de trazer algo para tomar – digo
constrangida.
De fato, eu não tinha nada para trazer, deveria ter feito um suco
de laranja, mas achei que não daria tempo.
Ela enche um copo com suco para mim, e me olha sorrindo.
– Obrigada! – Sorrio de volta. – A senhora está servida, é só um
lanchinho...
Ela abana suas mãos acanhada.
– Não, obrigada, fique à vontade. – Ela volta para sua pia, coloco
meu celular em cima da mesa e como vagarosamente meu lanche.
Acho que isso é melhor que salada. – Penso.
Enquanto como, aproveito para ler notícias, ou fofocas em meu
celular e não percebo alguém se sentar à minha frente.
– Com licença! – Levanto meus olhos e dou de cara com um
rapaz moreno, bem bonito, todo engravatado, aliás, todos os
homens aqui usam terno e gravata.
– Claro, fique à vontade! – respondo.
Ele estende sua mão para mim.
– Sou o Fernando! Você é a Jackeline, não é mesmo?
O cumprimento.
– Sim, sou a secretária do Doutor Rui – respondo um pouco sem
graça.
O Doutor Rui deveria ter me apresentado para as pessoas, é tão
chato trabalhar num lugar que a gente não conhece ninguém.
– Eu já sabia, a Carolina contou que você estava começando. –
Ele tira algo de uma sacola. – Se você não se incomodar, vou fazer
companhia para você – ele diz discretamente.
– De jeito nenhum, eu já estou acabando – digo apressada.
– Não precisa ficar com pressa, eu não mordo! – Ela dá um
sorriso largo e sedutor.
Todos os homens deste escritório devem fazer curso com o
Doutor Rui.
– Não estou com pressa – digo constrangida. – Eu realmente já
acabei meu lanche.
Termino de tomar meu suco, me levanto e levo meu copo até a
pia.
– Bom almoço! – falo ao passar pelo Fernando.
– Que pena que não pude usufruir de sua companhia! – ele diz
galanteador. – Talvez um dia eu convide a secretária do chefe para
almoçar.
Abro a boca para responder, ele me deixou meio sem graça, mas
aí ouço o vozeirão do meu chefe.
– Tudo bem por aqui, Jack?! – ele me olha meio ameaçador. – O
Doutor Fernando parece que não está se comportando
adequadamente! – ele olha de lado para o rapaz.
O Fernando dá risada.
– Como assim, chefe? – O rapaz diz sem graça. – Só disse que
um dia desses vou convidar sua secretária para um almoço! – Ele
dá de ombros e eu fico ali feito uma panaca, nem sei o que dizer.
Olho para o Doutor Rui, e lá estão aqueles olhos semicerrados, e
não sei muito bem o que ele quer dizer quando me olha assim.
– Eu já almocei, dá licença. – Olho para o rapaz. – Prazer,
Doutor Fernando! – E saio apressada da cozinha.
Esse meu chefe é bem possessivo.
****

Escovo rapidamente meus dentes, repasso meu batom, ajeito


meus cabelos e volto para minha mesa.
Vejo a porta fechada, provavelmente o Doutor Rui já voltou, caso
contrário a porta estaria aberta.
Abro meu e-mail, e vejo alguns retornos de alguns assuntos que
ele pediu para eu resolver para ele.
Ele está bem silencioso hoje, normalmente ele me chama umas
quinhentas vezes. Estou surpresa, talvez um pouco decepcionada,
ele é um colírio para os olhos.
Fecho meus olhos e tento não pensar muito sobre isso, é tudo
tão estranho, os sentimentos que ele me causa, admiração, atração,
mas medo também. Como a Carolina disse, ele é um homem muito
perigoso.
Meu ramal toca e vejo que é ele.
– Pois não? – falo séria.
– Venha a minha sala – ele diz em seu tom sério e
compenetrado.
Olho no meu relógio de pulso e me surpreendo ao ver as horas,
são 17h45, está quase no horário que marquei com o cara.
Oh, espero que não seja nada demorado. Bato em sua porta e
entro.
Ele está com seus óculos em sua mesa de reuniões, processos
e mais processos espalhados na mesa.
Me aproximo da mesa e tento não o interromper, mas ele me vê
e se estica na cadeira, deve estar exausto, de repente me vem a
imagem mais absurda do mundo, eu massageando aqueles ombros
magníficos. Tenho vontade de rir, sou hilária!!!
Dou um sorriso forçado.
– Posso te ajudar? – Ele tira os óculos, coça os olhos, parece
muito cansado.
– Sente-se, quero sua ajuda com esses processos – ele diz
sério, parece meio rabugento hoje.
Me sento ao seu lado, coloco meus antebraços sobre a mesa e
fico o olhando.
Ele olha para os papéis a sua frente, parece meio confuso.
– Acho que preciso de um café antes. Por favor, peça para a
copeira trazer café e água para nós – ele diz rapidamente e volta a
colocar seus óculos.
Não falo nada, apenas me levanto e vou até o telefone que fica
em sua mesa, mas não vou dar a chance dele ficar vendo meu
traseiro, me posiciono na frente de sua mesa, pego o telefone e falo
com a copeira.
Ele me olha de canto de olho, ele é muito sem noção.
Sorrio por dentro.
– Ok. – Tento sorrir, quebrar o gelo, ele é sempre tão bem-
humorado.
Ele me entrega alguns papéis, pede para grampeá-los juntos, ok,
um trabalho para uma aprendiz, caiu como uma luva para mim.
Faço isso com uns cinco processos, ficamos em silêncio, um
silêncio pesado, tenho vontade de puxar papo, mas ele não me
parece muito bem hoje.
Olho em meu relógio de pulso, 18h15, daqui a pouco tenho o
maldito encontro.
Ele segue lendo um documento.
– Acabou, posso ir? – Ele me olha sobre seus óculos.
– Está com pressa hoje? – ele diz com seus braços apoiados na
cadeira, pernas cruzadas despojadamente.
– Não! – digo, mais aí me lembro que marquei com o rapaz. –
Quero dizer, eu tenho um compromisso daqui a pouco. – O vejo
franzindo a testa. – Mas, eu posso terminar aqui, fique tranquilo –
falo meio atrapalhada, ele me deixa atrapalhada.
– Qual o compromisso? – Ele tira seus óculos e me encara.
Sempre tão indiscreto e bisbilhoteiro!
Abro a boca, mas desisto, não tenho por que mentir, que se foda.
– Um encontro! – digo constrangida e desvio meus olhos dos
dele.
– Tem a ver com aquele site? – De repente ele está com os dois
braços sobre a mesa, parece até que contei que estou grávida.
– É... tem a ver! – digo corajosa, ele não é meu pai, ou meu
irmão, que tanto que ele cuida da minha vida?
Ele dá uma risada, mas não é uma risada de quem está feliz, é
uma risada estranha.
– Jackeline, você tem noção do que você está fazendo? – Ele
me encara, parece bravo.
– Tenho, vou me encontrar com uma pessoa, qual o problema,
Doutor Rui? – O encaro, porque eu preciso colocar esse homem no
lugar dele.
– Rui! Você se lembra, não gosto que me chame de Doutor Rui!
– Ele se levanta, sai andando pela sala. – O problema, Jackeline, é
que você pode estar indo se encontrar com um marginal, ou um
maníaco, sei lá, o que você sabe sobre esse cara?
Ele se inclina na mesa a minha frente e me encara.
Minha mente ferve, será que é tão perigoso assim?!
– Mas eu vou encontrá-lo na área de alimentação do shopping,
não pode ser tão perigoso assim, e se eu ver que o cara é perigoso,
eu dispenso ele. – Dou um sorriso no final da frase.
– Você acha que está escrito na cara dele essas coisas?! Não dá
para saber, Jackeline, talvez você só vá descobrir isso quando
estiver dentro de um motel, esquartejada, aí não terá jeito! – ele diz
bravo, parece até que sou filha.
Arregalo meus olhos, nossa, que cara exagerado.
– Desculpe, Doutor Rui... – ele me interrompe bruscamente.
– Rui, Jackeline, Rui!!! – ele fala exaltado.
– Tá, Rui, eu não tenho 18 anos, tenho 27, estou mais próxima
dos 30 do que nunca, não sou retardada, eu conheço um maníaco,
ou tarado, ou sei lá o que! – falo nervosa. – Não se preocupe, eu
sou maior e vacinada!
– Então vá para o seu encontro, Jackeline. Espero que o cara
não esteja armado e não te leve para um beco escuro.
– Nossa, você conseguiu me deixar preocupada! Você não tem
uma irmã ou uma prima para cuidar?! – Me levanto brava.
Oh, eu não deveria ter falado assim com ele!
– Tenho uma irmã e eu cuido dela, você não sabe como.
– Tá – falo irritada. – Eu posso ir, ou você precisa de mais
alguma coisa?! – falo em frente a ele, estamos os dois em pé,
parecemos um casal em crise, que coisa mais estranha.
– Pode ir, e boa sorte! – Ele vira de costas para mim e sai
andando para sua mesa.
****
Pego minha bolsa e sigo em direção ao shopping, mas quer
saber, ele conseguiu me deixar preocupada.
Mas que merda!
Depois de alguns minutos de caminhada, entro no shopping, ele
não é muito longe do escritório, mas a pé e de salto foi um pouco
demorado.
De repente, começo a ficar nervosa, já me arrependi de ter
entrado nesse site, e de ter marcado um encontro.
Mas, eu vou, não é o Doutor Rui que vai melar a minha noite,
agora eu vou até o final.
Sigo de elevador até a área de alimentação, o nervosismo
começar aumentar à medida que me aproximo do local do encontro.
Olho para as mesas que ficam em frente ao restaurante que
falei, não há nenhum homem sentado próximo, de repente me vejo
torcendo para que ele não venha.
– Ok, Jackeline, se acalme. O Doutor Rui é que é o maníaco, ele
que não para de olhar para os seus peitos e para sua bunda!
Escolho uma mesa para me sentar, mas antes compro uma
água.
Olho em meu relógio são 18h55, mas tudo bem, eu cheguei
atrasada, ele também poderá chegar.
Tomo minha água distraída, quando de repente, um homem para
a minha frente.
Levanto meu olhar com um sorriso.
Sério, a foto não parece em nada com esse homem, talvez há 10
anos atrás, agora ele tá bem gorducho, cheio de bolsas embaixo
dos seus olhos, cabelo ralo, e a barba está por fazer.
Me puno mentalmente, talvez o Rui estivesse certo, pelo visto
ele conhece bem esses sites.
– Jackeline?! – ele diz com um sorriso completamente amarelo,
mas amarelo mesmo, deve ser fumante.
– Sim, e você é o Luís Alberto? – Tento sorrir.
– Isso! – Ele passa seus olhos pelo meu corpo, e sinto um
arrepio de medo. – Você é bem mais bonita pessoalmente.
Engulo em seco, não posso dizer o mesmo dele, ele mentiu, ele
não tem a aparência da foto.
– Obrigada. – Sorrio. – Vamos nos sentar – falo sem graça.
Ele se senta à minha frente.
– Desculpe o atraso, me enrolei um pouco no escritório – ele diz,
e chego à conclusão que ele tem um bafo de onça.
Oh, meu Deus, que roubada, Doutor Rui!
Tento enrolar um pouco, depois invento algum compromisso.
– Então, o que você faz, quero dizer, você trabalha do que?
– Atualmente, trabalho de courier, era isso ou nada, perdi meu
emprego há um ano e meio atrás – ele diz remexendo suas mãos.
– Courier, não conheço, o que faz? – pergunto interessada.
– Motoboy, é que a empresa que trabalho é meio chique, e eles
dão esse nome aos motoboys! – Ele sorri, e vejo que ele está com
dois dentes faltando.
– Oh, sinto muito, está difícil encontrar emprego. – Tento ser
compreensiva, ele é só mais uma pessoa vítima do desemprego,
quem sou eu para julgar seu emprego.
– E você, princesa, faz o que? – Ele olha novamente para meu
corpo, e me vem à mente o que o Doutor Rui disse.
– Secretária, mas estou em experiência, estava desempregada
também! – Tento ser simpática, não gostei dele, mas não vou
diminuí-lo.
– Você é realmente muito bonita, estou lisonjeado de ter aceitado
se encontrar comigo – ele diz meio babão, o mau hálito está
queimando minhas narinas, disfarço, coloco a mão sobre meus
lábios e nariz, e finjo bocejar.
– Oh, você também é muito... tem... você está ótimo! – Sou
muito ruim para mentir, não consigo dizer que ele é bonito.
– Não precisa mentir, engordei um pouco! – Ele bate em sua
pança gorda. – Mas, vou me cuidar, principalmente se arrumar uma
namorada bonita como você!
Sério, acho que não gosto do jeito que ele me olha, talvez ele
seja maníaco.
– Bom, estamos aqui para nos conhecermos, não é mesmo? Se
não der em nada, pelo menos seremos amigos... – Começo a ficar
nervosa.
– Não estou querendo fazer amizade, quero uma namorada,
alguém para fod... – Ele interrompe a frase, e me pego com os olhos
arregalados.
– Ah, tá... – Olho no meu relógio. – Então, eu marquei com você,
mas não posso demorar, tenho um curso, não posso chegar muito
atrasada.
De repente, sinto sua mão em minha coxa, me afasto da mesa
assustada, mas antes que eu possa fazer ou falar alguma coisa,
ouço aquela voz grossa e deliciosa ao meu lado, e tenho vontade de
me jogar em seus braços.
– Jackeline! – ele diz me encarando, seus olhos continuam com
aquela expressão de bravo, mas ele está aqui, e vai me ajudar a me
livrar desse candidato a tarado.
Me levanto rapidamente.
– Oi! – Sorrio para o Doutor Rui, acho que nunca estive tão feliz
em vê-lo. – Então, minha carona para o curso chegou! – Olho para o
homem, ele está com aquela cara de panaca.
Estendo minha mão para ele.
– Foi um prazer te conhecer! – Viro para o Rui. – Podemos ir? –
Ele balança sua cabeça de um lado para o outro, deve estar rindo
de mim por dentro.
– Sim, Jackeline, podemos ir! – Ele pega no meu braço e sai me
arrastando pela área de alimentação.
Olho para ele sorrindo.
– Obrigada, acho que ele era tarado!
Ele não diz nada, só balança a cabeça.
Capítulo 20
RUI FIGUEIREDO
Flashback on
Bufo irritado em minha mesa, essa Jackeline está se achando.
Não quero ser um cara arrogante, mas não existe mulher que
não queira sair comigo, todas querem, porque sou foda, mamãe
dava banho em mim com mel.
Ela conseguiu me irritar, porque já está na hora dela abrir as
pernas, não deve ser tão difícil assim, a não ser que ela namorasse
o gay de propósito, e tudo fosse uma armação, ela é lésbica e
namorava um gay, tudo perfeito, e eu que sou o idiota.
Olho em meu relógio de pulso, são 19h30, ela já foi embora,
então ligo para o rapaz que cuida da área de TI da empresa.
Ele atende rapidamente.
– Guilherme, é o Rui, sobe aqui na minha sala!
– Seu Rui, eu já estava saindo, você me pegou aqui por acaso. –
Interrompo-o bruscamente.
– Não quero saber, Guilherme! Se precisar, você cobra hora
extra! – Desligo o telefone.
A porta abre e vejo o Guilherme a minha frente.
– Pois não, Seu Rui? – ele diz meio temeroso, e não é por
menos, a Jackeline me deixou bem puto.
Me levanto da minha cadeira e sigo em sua direção.
– Vamos até o computador de minha secretária. – Passo por ele,
sento-me a mesa dela, digito a senha de entrada. – Eu preciso que
você descubra a senha que ela está usando para acessar esse site.
– Digito o nome do site que ela estava procurando por companhia.
Bufo irritado, eu convido ela para sair, e ela procura por um
encontro na internet.
Vai entender uma mulher dessa.
– Oh, ela está querendo arrumar namorado, chefe? – ele diz com
um sorriso de retardado no rosto. – Sua secretária é bem gost... –
Interrompo ele.
– Não termina a frase se não quiser perder seu emprego! – Ele
desfaz o sorriso que estava no rosto, começa a acessar alguma
coisa, em seguida anota algo no papel e me entrega. – Esse é o
login e a senha, chefe.
– Perfeito, pode ir! – digo apressado. – Guilherme, só um aviso,
essa conversa não pode sair daqui, se mais alguém souber sobre
isso, você está na rua, e encrencado. – O olho com firmeza.
– Fica tranquilo, Seu Rui, eu sei como funcionam as coisas no
escritório, o senhor já deixou claro, não quero ter um processo, me
dá licença... – Ele sai de cabeça baixa.
Olho aquele papel, o enfio no bolso e volto para minha mesa.
Flashback off
****

O celular toca, olho ao redor completamente perdido, estou num


motel.
Amparo-me em meus cotovelos, olho ao meu lado, e vejo uma
ruiva.
– Caralho, a noite foi boa, mas eu não me lembro de nada!
Saio da cama com uma puta dor de cabeça, aos poucos as
lembranças da noite passada vêm à minha mente, fui a uma boate,
encontrei alguns amigos, bebemos muito, arrumamos umas garotas,
e cá estou eu.
– Oi! – Ouço uma voz feminina, olho para trás e vejo a garota
acordada.
– Oi, tudo bem? – Ela sorri, até que ela é gostosinha, mas não
vou querer repetir o que fizemos ontem. – Vou tomar um banho,
depois conversamos.
– Quer companhia? – Ela levanta, caminha em minha direção e
coloca os braços em meu pescoço. – A noite foi muito boa, gostaria
de repetir?! – ela diz sedutora.
– Não estou legal, gata! – Caminho até minha calça. – Quanto é
seu programa? Pode ir embora se quiser! – Olho para ela com
minha carteira na mão, seu rosto se transforma.
– Eu não sou uma garota de programa, eu te disse ontem, sou
estudante de Direito! – ela me fuzila com os olhos.
Fecho os olhos, não sei o que dizer.
– Desculpe, qual o seu nome mesmo? – digo confuso.
Ela sai caminhando nervosa até o que devem ser suas roupas.
Coloca seu vestido, sua calcinha, os sapatos, e eu a olho confuso.
– Você é um cretino, Rui, e me faça um favor, vá se foder!!! – Ela
caminha até a porta do quarto, abre e some.
Inspiro aliviado.
– Melhor assim! – Sigo para o banheiro.
****

Já estou pronto, mas ainda continuo no quarto do motel.


Checo minha caixa de mensagens, milhares de mensagens da
chata da Priscila, talvez eu a bloqueie para sempre.
Vejo que existem algumas ligações do seu pai, fecho meus olhos
e tento ter calma, eu preciso falar com esse cretino, só não sei se
consigo hoje.
Olho em meu relógio de pulso, preciso falar com a Jackeline,
mas não quero ouvir sua voz, estou de péssimo humor hoje, então
envio um e-mail para ela, e já aproveito e digo as coisas que preciso
que ela cuide para mim.
Já que ela não quer foder comigo, então vai ter que trabalhar!
Me deito na cama, aperto a tecla de discar e espero a ligação
completar, e já ouço a voz do Doutor Alburquerque.
– Bom dia, Doutor Rui! – ele diz formalmente.
– Bom dia, Doutor Albuquerque! Como vai? – Uso o mesmo tom
dele.
– Não sei dizer, recebi uma notícia de minha filha que me afligiu
muito! – Ele se cala.
– Ela já conversou com o doutor? Eu pedi um tempo, eu e sua
filha não estamos nos dando bem, não vou me casar para ter que
fazer meu divórcio depois de um mês de casado! – falo na lata, não
sou de dar voltas.
– Entendo. – Novamente aquele silêncio nervoso. – Doutor Rui,
eu pensei que tivéssemos uma parceria...
Interrompo-o.
– E temos, o meu relacionamento com sua filha não tem nada a
ver com isso, o nosso acordo não previa um casamento e amor
eterno! – Fecho os olhos, estou pegando pesado, eu sei que isso vai
dar merda.
– Você está um pouco alterado, talvez devêssemos conversar
pessoalmente, não quero tratar um assunto como este por telefone.
Bufo cansado.
– Ok, estou a caminho do seu escritório, podemos conversar
agora?
– Tudo bem, pode vir! – Ele desliga antes que eu possa falar ok.
Saio do motel e sigo para casa, preciso me trocar antes de ir
para o escritório.
Durante o caminho, tento montar uma estratégia para me sair
bem dessa enroscada que me enfiei.
Passo em casa voando, logo estou estacionando o carro em
frente ao escritório do Doutor Albuquerque e espero alguns minutos
de olhos fechados, sempre faço isso antes de uma audiência, me
concentro, não posso perder o foco, não posso esquecer nenhum
detalhe.
Ok, respiro e inspiro, saio do carro e sigo para a recepção.
Logo estou em uma sala, andando em círculos feito uma galinha
doida, hoje não é um bom dia para conversar com o Doutor
Albuquerque.
A porta abre e os dois entram, pai e filha, e tenho vontade de
matar os dois.
Ela me olha intensamente, parece magoada.
– Oi, Rui! – ela diz sem graça.
– Oi Priscila! Como vai? – Ela não responde, se senta e fica me
olhando.
– Como estão as coisas Rui? – Seu pai se aproxima, segura
minha mão com a sua e me abraça calorosamente.
– Está tudo bem! – Olho de um para o outro. – Pensei que
iriamos conversar somente eu e você, Albuquerque.
A Priscila enruga sua testa, mostrando sua falta de controle. Ela
não deveria estar aqui, mas ela quer usar o poder de seu pai.
– Oh, meu caro Rui, vamos nos acertar. Minha filha participou de
cada detalhe desta parceria, nada mais natural que ela esteja aqui
conosco.
Balanço minha cabeça negativamente.
– Não, eu fechei esse acordo com você, não foi com a Priscila. –
Olho para ela. – Desculpe, Priscila, não é nada pessoal, mas isso
não irá funcionar. – Sigo em direção à porta. – Eu voltarei outro dia,
Albuquerque, quando eu possa conversar em particular com você. –
Abro a porta e saio.
Foda-se todo mundo, estou de saco cheio dessa família.
****

Sigo para meu escritório, coloco uma música, preciso me


acalmar, estou muito nervoso hoje.
Depois de alguns minutos, estou estacionando meu carro no
escritório, passo pela recepcionista sem cumprimentá-la.
Subo as escadas e finalmente chego à sala da Jackeline, ela
está de cabeça baixa anotando alguma coisa em seu caderno,
parece não me notar, então falo:
– Boa tarde!
– Boa tarde! – ela responde se remexendo nervosamente na
cadeira.
Qual o problema dela comigo?
– Algum recado? – pergunto, mas já começo a salivar vendo-a
vestindo o conjunto que escolhi para ela, eu sabia que ela ficaria
linda com essa roupa.
– Alguns, você quer que eu te diga agora, ou... depois? – Ela fica
sem graça, dei na cara que estava olhando o vão entre seios, mas
não tive culpa, o decote da camisa que está expondo mais do que
deveria.
Disfarço.
– Venha a minha sala – digo rapidamente, seguindo para minha
sala.
Me sento e vejo que ela ainda não entrou, mas que porra de
mulher teimosa.
– Jackeline! – Berro seu nome.
Ajeito minhas coisas sobre a mesa, a vejo a minha frente, e não
consigo deixar de olhá-la, ela está muito gostosa com essa roupa.
– A roupa ficou muito bem em você – digo admirando-a.
– Ficou sim, obrigada, eu realmente adorei! – ela responde com
um sorriso.
– Você quer que eu peça um café para você? – Ela parece
querer me agradar, minha sala está toda organizada, janelas
abertas, talvez esteja com remorso por ter me dispensado ontem.
Tento sorrir.
– Pode pedir.
A acompanho com o olhar enquanto ela segue até o telefone, se
debruça levemente, expondo para mim seus seios, mas ela logo
percebe, vira de lado, o que foi perfeito, agora vejo sua bunda
maravilhosa.
Caralho, ela está um espetáculo com essa saia, tenho uma
vontade louca de me levantar, e encoxar essa bunda com meu pau,
mas me controlo.
Quando eu pegar essa mulher, ela vai se arrepender de ter se
feito de difícil.
Não consigo tirar meus olhos de sua bunda, ela é redonda,
arrebitada, tenho vontade de meter minha mão, apertar, mas aí a
ouço pigarrear, olho e a vejo me olhando enfezada.
– Está gripada, Jack? – pergunto cínico.
– Minha garganta, está pegando um pouco. – Ela tenta sorrir,
mas eu já a conheço, ela odeia que olhem para seu corpo, a
Jackeline realmente é uma figura. – Perdeu alguma coisa?! – ela diz
me encarando, e não consigo controlar um sorriso, ela é engraçada.
– Não, não perdi nada! – digo irônico.
Ela fala com a copeira e logo volta para sua cadeira.
– Então, quais são os recados? – pergunto enquanto relaxo em
minha cadeira.
Ela passa rapidamente os recados, a Jackeline está me
surpreendendo muito, para quem nunca fez isso, ela está perfeita.
Estou cansado hoje, estou precisando relaxar, e enquanto a vejo
caminhar para porta, fico imaginando a Jackeline no meu colo, isso
seria perfeito hoje.
De repente, ela olha para trás, e me pega a olhando
indiscretamente.
– Bom almoço, Jack! – digo com minha maior cara de pau, ela
faz uma cara feia e sai, e dou mais risada.
Acostume-se comigo, Jackeline!
****
Ligo na mesa da Jackeline, mas ninguém atende. Na verdade,
preciso apenas de um envelope, então como não sou nenhum inútil,
vou até sua sala, e vejo sua bolsa sobre a mesa.
Pelo visto ela não saiu para almoçar.
Ando meio obcecado pela Jackeline, não vou mentir para mim
mesmo, me importo mais com ela do que deveria, então, quando me
dou conta, estou descendo as escadas e seguindo para a copa.
De fato, eu gostaria de convidá-la para almoçar, mas não posso
dar na cara esse meu interesse por ela, pelo menos para as
pessoas do escritório. Meu jogo é entre mim e ela, não quero que
ninguém saiba o que há entre nós.
Antes mesmo de entrar na copa, ouço a voz de um dos nossos
advogados, ele diz empolgado: “– Que pena que não pude usufruir
de sua companhia! Talvez um dia eu convide a secretária do chefe
para almoçar.”
Eu não deveria me incomodar com as cantadas dos advogados
sobre ela, aqui só tem homem filho da puta, mas é que a Jackeline é
minha, eu a contratei para ser minha, e não vou admitir que ela se
relacione com ninguém, ou será comigo, ou com ninguém!
– Tudo bem por aqui, Jack?! – A olho enciumado, é isso, sinto
ciúmes dela, e isso é ridículo. – O Doutor Fernando parece que não
está se comportando adequadamente – falo olhando para o
Fernando, esse galinha dos infernos, mas vou colocá-lo no lugar
dele com a mesma urgência que o colocaria na rua se estivesse
cantando uma mulher minha.
– Como assim, chefe? – ele responde. – Só disse que um dia
desses vou convidar sua secretária para um almoço...
Encaro a Jackeline, se ela sair com alguém desse escritório, no
dia seguinte ela está na rua.
– Eu já almocei, dá licença – ela diz nervosa, dirige-se para o
Fernando e sai. – Prazer, Doutor Fernando!
Desconverso, pergunto sobre um processo que ele está
cuidando para mim, aproveito e tomo um suco, pego uma maçã e
volto para minha sala.
****
O período da tarde foi foda, estou com vários processos grandes
e complicados, e não ando muito focado.
A tarde se arrastou comigo enfurnado dentro de minha sala, não
chamei a minha deusa nenhuma vez para relaxar meu dia, mas já
estou com saudades dela.
Cubro meu rosto com as mãos e dou uma risada.
Nada como uma mulher difícil para atormentar minha cabeça.
Ok, estou no meu limite, preciso de uma dose homeopática de
Jackeline, só para acalmar minha já atormentada mente.
Ligo em seu ramal, ela logo atende:
– Pois não? – Eu gosto muito de sua voz, é doce, melodiosa.
– Venha a minha sala – digo em tom sério.
Ela entra, continuo com o que estou fazendo, não sei no que ela
pode me ajudar, mas sempre tem alguma coisa para fazer.
Peço para ela se sentar, penso um pouco, vou colocá-la para
grampear os processos, peço para ela pedir um café, estou quase
dormindo na mesa.
Continuo lendo os processos, ficamos em silêncio, mas não é
desconfortável, gosto da companhia da Jackeline.
Eu poderia tentar novamente levá-la para jantar, mas meu
raciocínio é interrompido pela sua voz.
– Acabou, posso ir? – ela diz mostrando pressa.
– Está com pressa hoje? – pergunto incomodado.
– Não! Quero dizer, eu tenho um compromisso daqui a pouco.
Mas, eu posso terminar aqui, fique tranquilo. – Essa conversa
começou a me irritar.
– Qual o compromisso? – pergunto indiscretamente, ela é minha
secretária, tenho o direito de saber sobre sua vida.
– Um encontro! – ela diz claramente constrangida.
Eu não estou acreditando que ela marcou um encontro com
alguém daquele site, eu não consigo entender a Jackeline.
– Tem a ver com aquele site? – pergunto já meio alterado.
– É... tem a ver! – ela diz cheia de coragem.
Cara, essa mulher é pirada, e começo a rir, mas não tem graça
essa história, estou começando a ficar puto.
– Jackeline, você tem noção do que você está fazendo? –
pergunto irritado.
– Tenho, vou me encontrar com uma pessoa, qual o problema,
Doutor Rui? – Ela me encara desafiadoramente, e essa história de
Doutor Rui está me irritando, já está na hora dela estar gritando meu
nome no meio de uma trepada fenomenal, estamos andando para
trás e não para frente.
– Rui! Você se lembra, não gosto que me chame de Doutor Rui!
– Saio andando pela sala, ela conseguiu estragar meu humor. – O
problema, Jackeline, é que você pode estar se encontrando com um
marginal, ou um maníaco, sei lá, o que você sabe sobre esse cara?
– Mas eu vou encontrá-lo na área de alimentação do shopping,
não pode ser tão perigoso assim, e se eu ver que o cara é perigoso,
eu dispenso ele. – Ela sorri, parece animada com o encontro, nunca
conheci uma mulher tão irritante, a Priscila é chata, insuportável,
mas a Jackeline é irritante.
– Você acha que está escrito na cara dele essas coisas? Não dá
para saber, Jackeline, talvez você só vá descobrir isso quando
estiver dentro de um motel, esquartejada, aí não terá jeito! – falo
nervoso, essa história mexeu comigo de uma forma que não sei
explicar.
– Desculpe, Doutor Rui... – Ela começa a me chamar de doutor e
perco a paciência.
Talvez um dia eu a deixe me chamar de Doutor Rui, mas talvez
com meu pau em sua boca.
– Rui, Jackeline, Rui!!! – repito exaltado.
– Tá, Rui... – A desgraçada revira os olhos. – Eu não tenho 18
anos, tenho 27, estou mais próxima dos 30 do que nunca, não sou
retardada, eu conheço um maníaco, ou tarado, ou sei lá o que! Não
se preocupe, eu sou maior e vacinada! – ela diz displicente, parece
até que estou falando com minha irmã, elas são um pouco
parecidas, a Juliana é bem folgada, teimosa e, às vezes, burra.
– Então vá para o seu encontro, Jackeline, espero que o cara
não esteja armado e te leve para um beco escuro. – bufo irritado, eu
quero que ela se foda.
– Nossa, você conseguiu me deixar preocupada! Você não tem
uma irmã ou uma prima para cuidar? – Ela se levanta, parece que
consegui tirar sua paz de espírito, e essa é uma boa notícia, quero
que seu encontro seja uma merda.
– Tenho uma irmã e eu cuido dela, você não sabe como –
respondo incomodado.
– Tá! Eu posso ir, ou você precisa de mais alguma coisa?! – Ela
me encara desafiadora, hoje ela está bem folgada, começou a
colocar as asinhas de fora, mas eu vou colocá-la no lugar dela.
– Pode ir, e boa sorte! – Volto para minha mesa, ela me irritou
demais.
****

Depois que ela foi embora, tentei retomar o que estava fazendo,
mas ela fodeu com minha concentração.
Não consigo tirar da cabeça essa merda de encontro que ela
terá com um filho da puta.
Volto para minha mesa, digito o nome do site de
relacionamentos, insiro seu login e senha, e fuço indiscretamente
sua caixa de mensagens.
Leio a mensagem que ela trocou com o cara e tenho certeza
absoluta que esse encontro é uma roubada. Isso não deveria me
incomodar, eu deveria estar pouco me fodendo para as merdas que
ela queira fazer com sua vida.
Ela acabou de sair de um relacionamento com um viado, agora
vai procurar relacionamento em um site que só tem cara cafajeste
(ok, eu sou cafajeste, mas eu me importo com ela).
Esfrego meu rosto, fecho os olhos e tento pensar com clareza,
mas a clareza não vem, eu preciso ver com quem ela está se
encontrando.
Pego meu terno, minhas coisas, e saio apressado para o
shopping, espero que a encontre a tempo, antes do estupro, ou
coisa pior.
Chego ao meu carro e saio feito um alucinado em direção ao
shopping, deixo o carro com o Valet Parking, ando apressado para
os elevadores, mas sou parado por um porra de um cliente.
– Doutor Rui, que prazer te encontrar aqui! – O homem fala
calmamente, cheio de simpatia.
– Como vai, Arthur? Realmente é um prazer! – Aperto sua mão
apressado.
Ele começa a falar besteiras, amenidades, e eu começo a olhar
para o relógio.
– Desculpe, Doutor Rui, estou aqui falando, nem perguntei se
você tem um compromisso! – ele diz, e eu agradeço.
– Desculpe, Arthur, estou muito atrasado. Quando der, passe no
escritório, podemos tomar um café e conversar com calma. – Não
dou tempo para ele responder, apenas aperto sua mão e saio meio
correndo para o elevador.
A área de alimentação é enorme, passo meu raio X pelo local, às
vezes pareço mais um investigador de polícia do que um advogado,
sou um cara meio neurótico. Como advogado já vi muita coisa ruim
por aí, a Jackeline parece que nasceu no país da Alice, e não no
Brasil.
Finalmente a acho, ela conversa com o cara, e balanço minha
cabeça ao ver o figura.
– Caralho, eu sou bem melhor que ele, entre nós, a Jackeline
está apelando! – Sigo vagarosamente em direção a eles, não quero
que ela me veja, só quero observá-los.
De fato, não sei o que vou fazer, estou me sentindo um idiota.
Me sento em uma mesa em sua lateral, ela está entretida com a
conversa, mas não parece muito empolgada, parece nervosa, ela
mexe muito as mãos, e isso já me fala tudo sobre ela.
Pego meu celular para disfarçar, caso contrário parecerei um
maluco observando o casal.
De repente, vejo a mão do cara embaixo da mesa, ele titubeia,
mas isso foi o suficiente para me fazer levantar, mas não cheguei a
tempo, o filho da puta meteu a mão nas coxas da Jackeline.
Porra, o sangue ferveu, ninguém coloca a mão na Jackeline, não
antes de mim.
Chego até ela em segundos, e a pego assustada.
– Jackeline!
Ela se levanta na mesma hora, parece muito feliz em me ver,
pudera, eu a salvei do maníaco.
– Oi! – Ela me olha com um sorriso largo, e penso, filha da puta
não me ouviu, mas agora está feliz em me ver.
– Então, minha carona para o curso chegou – ela diz para o
cara, pelo visto já estava tentando fugir do encontro fracassado.
– Foi um prazer te conhecer! – ela diz para o esquisito, se vira
para mim apressada. – Podemos ir? – Tenho vontade de deixá-la
aqui, só para aprender, mas aí não vou conseguir dormir de
preocupação, então apenas balanço positivamente minha cabeça.
– Sim, Jackeline, podemos ir. – Pego em seu braço, sem
maiores delicadezas, ela me irritou muito hoje.
– Obrigada, acho que ele era tarado! – ela diz muito feliz, e tenho
vontade de colocá-la no meu colo e bater em seu bumbum gostoso.
Mas, tudo bem, minha hora vai chegar.
Capítulo 21
JACKELINE BARTOLLI
Existem momentos na vida que a gente precisa se redimir.
Eu claramente fiz uma cagada ao marcar aquele encontro, e não
vou ser hipócrita, o Doutor Rui tentou me avisar, ele foi gentil demais
comigo, eu o encheria de beijos, mas não posso, estou me
esforçando muito para não fazer isso, eu realmente adoraria pagar o
que ele fez por mim em beijos, abraços...
Fecho meus olhos rapidamente, não posso andar ao lado dele e
ficar imaginando coisas eróticas, isso é muito esquisito.
Estamos seguindo para o estacionamento, ele continua com
aquela cara enfezada, e isso o deixa ainda mais sexy.
Mas eu preciso agradecer, independente de sua cara feia linda,
eu preciso agradecer.
– Doutor Rui. – O chamo cuidadosa.
– Doutor Rui é o caralho, Jackeline! – Ele rosna feito um leão
preso em uma jaula, com fome e estressado.
Arregalo meus olhos, mas ele não me olha, parece muito furioso
comigo.
– Não me chama mais de Doutor Rui, caso contrário, a chamarei
de Dona Jackeline! – Ele me olha rapidamente, e volta a olhar para
frente.
Enrugo minha testa.
Jesus, que homem mais esquentado.
– Tá bom, eu esqueço às vezes. Eu passo o dia ouvindo todos te
chamando de Doutor Rui, é difícil chamá-lo só por Rui. Você me
entende? – O olho de lado, ele rosna alguma coisa, reviro meus
olhos e volto a andar com ele.
Afinal, para onde estou indo com ele? Eu só preciso pegar um
ônibus e seguir para o metrô, mas o vendo nervoso deste jeito, fico
temerosa.
– Posso te dizer obrigada? – falo feito uma criança com medo.
Ele me olha de lado.
– Isso é o mínimo que você deve fazer, Jackeline! – ele diz
irritado.
Paro a sua frente, o olhando nos olhos, que possuem uma cor
muito diferente, cinzas com algumas manchinhas amareladas.
– Obrigada por ter ido até lá, por ter se preocupado comigo e por
ter tentado abrir meus olhos. – Ele me encara, daquele jeito irritante.
– Eu não fui até lá por sua causa, eu iria jantar, mas aí eu vi
você. – Ele dá de ombros, fico um pouco decepcionada, mas eu
realmente exagerei ao achar que ele iria até lá por minha causa.
– Oh, claro, é que como ainda é um pouco cedo, não pensei
nisso! Mas todo o resto vale, te agradeço por ter me salvado do
gordo tarado. – Não consigo segurar um sorriso, eu sou uma piada.
Aos poucos vejo o sorriso se formando em seu rosto, mas ele
não quer sorrir, fica segurando seus lábios, ele fica lindo assim.
– Pode rir, meu encontro foi um desastre! – Começo a rir, rir
muito, eu sou muito sem noção.
Limpo as lágrimas que saem dos meus olhos, e o vejo
controlando seu riso, ele se aproxima e segura minha cintura,
diminuindo a distância entre nossos corpos, estou a um tris de roçar
meus seios em seu peito, sinto um gelado no estômago, fico séria e
tento respirar.
– Não faz mais isso, Jack, é perigoso! – Ele me encara, e
mergulho em seu olhar, e sinto meu coração disparar em meu peito.
Coloco a mão em seu peito, e me afasto.
– Nunca mais! Eu aprendi a lição, prefiro ficar solteirona! – Tento
sorrir, mas o clima entre nós está tão tenso que eu sinto a tensão no
ar. – Eu vou pegar um ônibus, olho para a porta, deve ter algum que
vai até o metrô.
– Você não vai a lugar nenhum! – ele diz com seu jeito de
advogado prepotente.
– Vou ficar aqui, no meio do shopping, é isso? – Tento
descontrair, ele está tão sério.
– Você vai jantar comigo, afinal, deixei de jantar por causa de
seu encontro romântico. – Ele coloca a mão em minhas costas e me
faz voltar a caminhar.
Tento pensar sobre o assunto, mas não acho que seria uma boa
ideia dizer que não quero. De fato, eu quero, mas é que acho tudo
isso muito perigoso, ele é muito envolvente, está difícil me controlar.
Entramos em seu carro, ele liga o DVD e começa a tocar aquela
música deliciosa, nunca pensei que iria gostar tanto de músicas
tocadas no piano.
Tento relaxar, o olho algumas vezes, mas ele está compenetrado
no trânsito, parece meio tenso, e acho tudo isso muito estranho.
– Para onde estamos indo? – pergunto mais para relaxar o clima,
não estou muito preocupada para onde iremos.
– Você vai ver, estamos próximos! – ele diz sem olhar para mim,
apenas dirige seu carro maravilhoso, confortável e sofisticado.
Acho que nunca havia entrado em um carro como este, o carro
do Renato é um modelo antigo, ele tem mania de coisas antigas,
parece velho.
De repente ele estaciona, olho para o vidro do passageiro e vejo
um restaurante sofisticado, daqueles que eu nunca entraria se fosse
em outra ocasião. O manobrista abre a porta para mim, saio e logo
o Rui está ao meu lado, com sua mão em minhas costas, já até me
acostumei com isso.
– Esse restaurante parece muito sofisticado – falo um pouco
incomodada, confesso que sou uma pessoa simples.
– Um pouco, mas você irá gostar. – Ele me olha de lado, e dá um
sorriso enigmático.
Disfarço meu olhar e sigo ao seu lado, logo um homem elegante
nos leva até uma mesa, remexe em seu bolso, e acende uma vela.
Sorrio com aquilo, e olho para ele.
– Vamos jantar a luz de velas? – falo irônica.
– Algum problema, te incomoda? – Ele vira seu rosto de lado,
sorri levemente.
– Não, eu acho... (iria dizer romântico, mas não posso) lindo,
adoro velas! – Disfarço, o garçom se aproxima trazendo os
cardápios.
– O que você quer comer? – ele diz sério, e eu gostaria muito de
quebrar essa dureza dele, mas não sei como.
Olho para o cardápio meio perdida.
– Tenho dificuldade de decidir sozinha, me ajuda? – Olho para
ele, um pequeno sorriso surge em seus lábios.
– O que você acha de pedirmos esse? – Ele mostra o prato no
cardápio, vejo o preço ao lado, uma verdadeira fortuna, mas tento
não dar na cara minha cara de espanto.
– Vou te confessar uma coisa... – Ele me olha interessado. –
Acho que não existe nada que eu não goste, tenho tentado ficar nos
pratos mais leves, mas hoje vou abrir uma exceção, estou em dívida
com você! – Sorrio tentando conquistá-lo.
– Deixa o seu regime para outro dia, Jack, é uma ofensa entrar
nesse restaurante e pedir salada! – ele diz charmoso.
– Certo, você está coberto de razão! Aliás, hoje concordarei com
tudo que você disser! – Brinco.
Ele dá um sorriso genuíno, com cara de Rui. Ele balança sua
cabeça e me olha, e parece que consegui acabar com seu mau
humor.
– Você não deveria ter me dito isso, Jack! – Ele me encara, e
acho que estou em uma enroscada. – Usarei sua informação a meu
favor.
– Oh, vamos com calma... – Finjo estar preocupada. – Só estou
tentando ser simpática.
– Você precisa me compensar, hoje você foi muito má, vou
pensar a melhor forma de fazermos isso! – Ele me olha sedutor, e
me deixo levar, a companhia dele é tão fácil, deliciosa. – Vamos
tomar um vinho, estou meio tenso hoje, preciso de um vinho para
desestressar. – Ele levanta seu braço, e lembro do vexame em seu
apartamento.
– Me lembre de que não posso passar de duas taças! – Sorrio
para descontrair.
– Qualquer problema, te levo para minha casa, te coloco na
cama, e o Bóris dorme com você! – ele diz brincalhão.
– Oh, o Bóris, que saudades dele! – falo saudosa. – Ele está
bem? – pergunto para relaxar.
– Com saudades de você. – Ele me olha sobre os cílios.
– Como você sabe, você fala cachorrez? – Brinco.
– Falo, Jack. – Ele sorri debochado. – São cinco anos juntos, o
maior e melhor relacionamento que já tive, e já falo cachorrez! – O
olho demoradamente, e tento processar sua informação, ele nunca
teve relacionamentos longos e duradouros, é uma pena.
– Leva ele um dia no escritório, para passar o dia com você, eu
cuido dele, e assim mato as saudades! – O garçom chega com o
vinho, esperamos ele sair.
– Ou você vai até meu apartamento visitar o Bóris! – Ele bebe o
vinho e me olha sedutor.
Sorrio, ele é cara de pau, mas eu gosto do seu jeito.
– Quem sabe, não é mesmo? – Desconverso.
O garçom volta para anotar nossos pedidos, bebo meu vinho, e
estou começando a ficar acostumada com essa história de vinho.
– Me conte como foi seu encontro – ele diz.
Sorrio constrangida.
– Horrível! – Torço meus lábios. – Ele tinha mau hábito, e ficava
em olhando com cara de tarado! – Ele dá uma gargalhada.
– Culpa sua Jack, você está muito sexy hoje.
O encaro por alguns segundos, e então falo:
– Mas isso não tem nada a ver com o mau hálito! – Disfarço. – E
também, a foto do site não tinha nada a ver com ele atualmente,
pelo visto, foi tirada há 10 anos atrás. – Brinco com minha taça.
– Eu te avisei. – Ele me olha de lado.
– Eu sei, não precisa ficar repetindo isso, é meio irritante, sabia?
– Ele sorri novamente, já voltou a ser o Rui que conheço.
– Você que é irritante, Jack! – ele diz meio sério, me encarando,
me enervando muito.
– Não gosto quando você me olha assim. – O olho e ao mesmo
tempo desvio meu olhar.
– Eu te deixo nervosa?! – ele diz me olhando intensamente.
– Sim, eu já te disse isso – falo desviando meus olhos dos seus.
– Eu gosto de ficar te encarando, faz parte da minha tática, gosto
de deixar as pessoas incomodadas, nervosas. Sou assim, Jack! –
Ele encosta suas costas na cadeira.
Sorrio, respiro e inspiro.
– Então, não vou mais me incomodar com isso – falo com
desdém.
Sua mão vai até a minha e a acaricia, me fazendo sentir aquele
maldito friozinho na barriga, e por fim ele a leva até seus lábios e a
beija.
Ele quer que eu me apaixone por ele, mas eu não quero, e não
devo.
O beijo termina, mas ele não larga minha mão, fica roçando seus
lábios na pele do meu dorso. Isso é muito excitante, assim como
seus olhos me encarando.
– Isso é assédio, sabia? – digo quase em um sussurro, sentindo
meu coração na boca.
– Por quê?! – Ele faz cara de inocente.
– Seduzir a funcionária – digo meio mole.
– Eu não estou te seduzindo, beijo na mão é sinal de respeito,
aprendi isso nos livros de história – ele diz num tom debochado.
– Não acho que isso seja falado nos livros de história – falo em
um tom divertido.
– Eu já li isso, não lembro aonde! – Mais um beijo em meu dorso,
e estou salivando, minha boca queria ser minha mão.
– Numa revista de sacanagem?! – Brinco, e roubo mais uma
risada contagiante dele.
– Não, nas revistas de sacanagem se fala de tudo, menos de
beijo na mão, Jack! – Ele franze a testa.
– Não leio muito esse tipo de revista. – Sorrio.
– Pois deveria, dá para aprender bastante coisa. – E ele me olha
daquele jeito sedutor.
– Sério?! – falo em tom divertido. – Prefiro aprender na prática, é
mais prazeroso!
Mais uma risada linda, porque esse homem tem uma boca linda.
Uma música ambiente começa a tocar, olho em direção ao som
e vejo alguns poucos músicos, um piano, e um violino.
– Essa música combina com você – digo ouvindo a música
melodiosa tocando.
– Não vou mentir, adoro isso – ele diz olhando para o lugar onde
eles estão.
Bebo meu vinho, esse clima todo está começando a me deixar
preocupada.
O olho enquanto ele admira os músicos, ele tem um perfil muito
bonito, seus ossos da face são bem marcantes, muito másculos. Ele
é um homem viril, exala masculinidade, poder, sexualidade.
O sexo com ele deve ser divino.
Seus olhos se voltam para mim e me pegam o admirando como
se ele fosse a estátua de um deus grego.
Tento sorrir, sempre faço isso quando sou pega no flagrante,
mas ele continua me encarando, vejo o garçom e suspiro aliviada.
Olho para o prato a minha frente e só falto babar, o cheiro e a
cara, estão me deixando louca de fome.
– Bom apetite, Jack. – Ele me olha e sorri.
– Para você também. – O olho de relance, e começo a cortar a
carne, macia e suculenta. – Isso é bom demais, Rui – digo
saboreando o sabor inigualável.
– Também acho. – Ele sorri levemente e volta a comer.
O prato de restaurante chique é muito pequeno, e isso veio a
calhar, eu não posso comer muito, mas me fartei, porque a comida
era divina.
– Maravilhoso, nota 10! – falo satisfeita.
– Falei que você iria gostar! – ele diz descontraído, bebericando
seu vinho, a segunda taça, e eu também, mas sinto aquela leveza
típica da bebida alcoólica.
O garçom se aproxima para encher minha taça, mas recuso.
– Jack, eu vou te levar para sua casa, não precisa ficar
preocupada – ele diz de uma forma leve, me fazendo esquecer que
sou sua funcionária.
O vejo chamando o garçom, o maldito enche minha taça e a
dele.
– Vamos beber quantas garrafas? – Brinco.
– Sei lá, quantas aguentarmos! – ele diz divertido.
– Eu não aguento mais uma taça, vou começar a contar piadas,
iguais às que você conta para seus amigos – digo debochada.
– Adoro uma piada de sacanagem, pode contar! – Ele finge estar
interessado, aproxima seu corpo da mesa.
– Não, fico tímida, só conto para minhas amigas! – Dou uma
risada.
Acho que não posso beber mais, estou me soltando demais.
Ele se levanta, o olho confusa, dá a volta na mesa, pega em
minha mão e fala:
– Quero dançar com você – Eu petrifico.
Sorrio sem graça.
– Não sei dançar essas músicas – digo sem graça.
Ele me puxa, me faz ficar em pé, e diz próximo a mim:
– A mulher não precisa saber dançar, porque é o homem que
conduz a dama. – Ele passa seu braço por minha cintura e me
conduz até a pista de dança, que está vazia.
Ele me coloca de frente para ele, olho no olho, passa seus
braços pela minha cintura, aproximando nossos corpos, descanso
minhas mãos sobre o seu peito.
– Me sinto um pouco constrangida. – Torço meu nariz.
– Por quê? – ele diz sorrindo.
– Só nós que estamos dançando...
– Perfeito, gosto de ser o centro das atenções! – ele diz com
ironia. – Relaxa, Jack! – Sua mão sobe em minhas costas, juntando
mais nossos corpos.
Me sinto tensa com esse contato físico tão íntimo, mas ele está
cada vez mais próximo de mim, até que eu já esteja sentindo meus
peitos contra o seu corpo.
Meus braços subiram até seu pescoço sem que eu tivesse
consciência, agora estamos literalmente abraçados, sinto sua
respiração contra minha orelha, seu perfume inebriando meu nariz,
que agora está em contato com a pele de seu pescoço.
Fecho meus olhos, isso é bom demais.
– Está melhor agora, Jack? – ele sussurra em meu ouvido, e
sinto seus lábios roçando minha orelha, e isso me causa um arrepio
por todo o corpo.
– Sim, está! – Sussurro sem olhá-lo, porque não acho que vou
resistir se olhá-lo agora.
– Você gostou de jantar comigo, foi muito ruim? – De novo
aquele sussurro, seguido pelo seu lábio roçando minha orelha.
Oh, meu pai eterno, como se escapa de um homem como esse?!
– Adorei, Rui – respondo com a respiração irregular.
– Então, por que você não quis vir ontem?
Sorrio contra seu ombro, o sinto se mover, olho para cima e lá
estão sem olhos sedutores em mim.
– Por que você está rindo? – Ele me olha sorrindo.
– Porque você é engraçado! – O olho de soslaio, tento manter
minha cabeça onde estava, entre seu pescoço e seu ombro.
– Você quer que eu te leve para sua casa? – ele pergunta e meu
coração dispara, fico tensa, não respondo. – Jack?! – Ele volta a
procurar pelo meu olhar.
– Acho melhor. – Ele me olha, parece decepcionado, mas por fim
sorri.
– Tudo bem, você é quem manda. – Sua mão pega na minha, e
me conduz novamente para a mesa, rapidamente ele pede a conta,
e logo estamos em seu carro.
– Pode me falar seu endereço, vou colocar no GPS para ficar
mais fácil – ele diz sério, talvez decepcionado.
Seria fácil ir para seu apartamento e transar a noite inteira, mas
não sei se seria fácil encará-lo depois no escritório.
Eu realmente não sei lidar com essa situação, tenho três
velhinhas que dependem de mim, eu não quero ser dispensada
porque ele não gostou muito do sexo comigo, mas também, posso
ser dispensada porque não fiz sexo com ele.
Falo rapidamente o nome da avenida, ele digita e começa a
dirigir.
Trocamos algumas palavras durante o caminho, de fato, nenhum
papo fluía muito bem, parece que eu consegui azedá-lo novamente.
Tento me concentrar na música, fecho os olhos por alguns
minutos, e sem querer, cochilo, e acordo com ele me chamando.
– Jack, chegamos. – Ele mexe levemente em meu braço, acordo
um pouco assustada, mas logo me situo.
– Peguei no sono, sou péssima quando bebo – falo sem graça.
– Posso te pedir uma coisa? – Ele me olha com uma expressão
engraçada.
– Claro! – digo, mas fico preocupada, o que será que ele quer de
mim?
– Eu preciso ir ao banheiro, estou apertado pra cacete! – ele diz
divertido.
Penso no nosso humilde apartamento, sofás velhos, tudo é velho
naquele apartamento, só eu me salvo. Mas, o que vou dizer, que ele
não pode subir?
– Tudo bem, então vamos, não quero te ver todo molhado,
parecendo um velho de 90 anos! – Brinco.
– Ok! – Ele sorri e sai do carro.
O sinto atrás de mim enquanto espero o porteiro abrir o portão.
Finalmente entramos e sigo com ele ao meu lado até o elevador.
Confesso que é um pouco claustrofóbico ficar com o Rui num
elevador nanico como é o elevador de nosso prédio.
Tento não pensar muito, porque daqui a pouco vou ficar nervosa
com ele em nosso apartamento.
– Rui! – Ele está de cabeça baixa, levanta e me olha. – Minhas
três velhinhas não são muito comportadas, então me perdoe se te
perguntarem alguma coisa indiscreta.
Ele sorri.
– Fique tranquila, estou preparado. – Ele dá um sorriso
tranquilizador.
– Tá bom. – Tento sorrir.
O elevador abre em nosso andar, são quatro apartamentos por
andar, o hall é um cubículo, pego as chaves na minha bolsa, e
posso senti-lo nas minhas costas, mas não me viro para checar,
apenas sigo com minha chave para a fechadura.
Abro a porta, fecho os olhos e peço a Deus que elas estejam
dormindo, mas logo desanimo.
– Jack, você demorou muito hoje! – Ouço a voz da minha mãe,
minha santa mãezinha controla minha vida como um marido
ciumento.
– Cheguei, mãe! – Olho para trás, ele sorri para mim. – Eu trouxe
um amigo... – Olho para ele, nem sei o que dizer, mas ele pisca para
mim.
A porta de entrada dá na sala de jantar, que está grudada a sala
de estar, as três velhinhas viram simultaneamente para me olhar e
parecem em choque.
Ouço a voz de trovão do meu chefe.
– Boa noite.
Olho para as três, e parecem três retardadas, ninguém fala nada.
– Mãe, ele disse boa noite! – falo sem graça, ela se levanta sem
jeito, arruma sua roupa.
Pobrezinha, não é para menos, nunca entra um homem nesse
apartamento, quero dizer, o zelador vive aqui fazendo consertos.
– Oi, me desculpe, é que não estávamos esperando que a Jack
trouxesse alguém! – ela diz toda envergonhada.
Ele estende sua mão para minha mãe.
– Meu nome é Rui, prazer em conhecê-la.
Olho desconcertada a timidez da minha mãe, o que será que ela
está pensando?
– O prazer é meu! Sou a Amélia, mãe da Jackeline! – ela diz
tímida.
Tento tirar a tensão.
– Aquelas são minha tia Ofélia, e minha avó Maria – falo
apontando para as duas velhinhas que se encontram com os
queixos caídos no pé.
– Quem é este moço, querida? – Minha vovó linda pergunta, é
claro que ela iria perguntar.
– Um amigo, vovó, mas pode continuar com sua novelinha, ele
só vai usar o banheiro, né, Rui?
Ele sorri, parece achar graça em tudo.
– Mãe, eu vou levá-lo ao banheiro do meu quarto, acho que está
mais em ordem – falo em código, porque o banheiro comum dessa
casa é realmente perigoso.
– Claro, Jack! – ela diz nervosa.
– Vamos, Rui, é por aqui. – Ando em sua frente, abro a porta do
meu quarto, que graças a Deus está em ordem.
– Dá licença. – Ele segue para o banheiro, me sento em minha
cama, cubro meu rosto com as mãos, e tento me acalmar.
Jesus, que provação!!!
Um barulho na porta, me recomponho, levanto e aguardo por
ele.
Ele sai cheirando sua mão.
– Esse é seu cheiro, Jack! – ele diz sorrindo.
Ele não parece aquele advogado foda que eu conheço, só um
cara lindo e acessível.
– Já não percebo mais os cheiros, estou acostumada com eles!
– Ele se aproxima de mim, meu coração volta a disparar.
– Então é aqui que você dorme. – Ele olha ao redor.
– Sim, é aqui que durmo e passo a maior parte do meu tempo
livre, não gosto dos programas que minhas companheiras de
apartamento assistem. – Ele sorri, mais um passo em minha
direção, o friozinho na barriga aumenta.
– Eu gosto de conhecer as pessoas por inteiro, onde moram,
seus familiares, essas coisas. – Estamos a um palmo de distância,
controlo minha respiração, ela está presa no meu peito, caso
contrário estarei respirando como se tivesse corrido 10 km.
Não respondo ao que ele disse, estou novamente absorvida pelo
seu olhar, seus olhos novamente vão para meus lábios, as batidas
do meu coração aumentam, sua mão segura meu pescoço e ele me
beija.
Puta que pariu, que beijo é esse?!
Sua língua envolve a minha de um jeito delicioso, excitante, mas
não é só isso, é a forma como ele move os lábios. Em segundos
estou em seus braços, e meus braços em seu pescoço, em seus
cabelos, e um beijo que começou comportado, de repente está
indecente, pornográfico, só falta a gente tirar a roupa.
– Jack?! – O barulho de porta abrindo me assusta, empurro o
Rui para longe de mim, olho para a porta e vejo minha mãe como a
boca semiaberta.
– Fala, mãe! – respondo irritada.
– Não, depois eu falo com você! – Ela encosta a porta e sai.
Olho para ele e vejo um sorriso de cafajeste.
– Foi engraçado, Rui? – pergunto sem graça.
– Foi! – Ele segura o sorriso e me olha. – E foi bom, acima de
tudo, muito bom...
– Eu acho melhor você ir, elas não estão acostumadas com
homens em nosso apartamento – falo constrangida.
– O seu ex não vinha aqui? – ele pergunta sério.
– Não, quase nunca! – Torço meus lábios.
– É verdade, ele é gay! – Ele ri, e eu também, já nem ligo mais
para o Renato, o filho da puta do Rui tomou todos os espaços que
ele ocupou um dia.
– Você quer tomar uma água? Deve ter também um chazinho,
elas adoram chá! – Sorrio sem graça.
– Uma água, se não for incomodar, não quero constrangê-la
mais. – Ele me olha de lado.
– Você não está me constrangendo! – Ele volta a se aproximar
de mim.
– Um último beijo, para eu dormir bem. – Ele volta a segurar meu
rosto, me sinto mole perto dele.
– Tudo bem, vou fazer essa caridade para você. – Me esgueiro
até seus lábios e o beijo, porque realmente essa boca deve ter
alguma droga.
Novamente seus braços me apertam contra seu corpo, sinto
meus seios espremidos contra seu peito e uma ereção enorme
contra minha barriga.
Que vontade de quero maisss!!!
Então sinto sua mão em meu traseiro, me assusto e me afasto,
mas ele gruda sua boca novamente a minha e me beija
desesperadamente.
Me afasto um pouco, mas sua boca volta a grudar na minha.
Será que ele quer transar comigo no meu quarto?!
– Rui! – falo em meio aos seus beijos, a sua língua deliciosa. –
Minha mãe deve estar atrás da porta esperando por nós.
Ele se afasta e me olha preocupado.
– Sério?! – ele diz com a testa franzida.
– Não, mas é bem capaz que ela bata na porta! – E como se
fosse magia, um toc toc toc.
– Jack?
Balanço minha cabeça e olho para ele, que está com a mão no
rosto, e rindo.
– Marcação cerrada, Dona Jackeline! – ele diz irônico. – Eu já
vou, não precisa de água. – Ele me olha. – A gente se vê amanhã. –
Ele titubeia. – Obrigado pela companhia, você é encantadora, Jack.
Me derreto como uma manteiga.
– Eu que agradeço pelo jantar, e pelo salvamento! – Ele sorri. –
Eu te acompanho até lá embaixo.
– Não, não precisa, eu não vou me perder. – Ele segura
novamente meu rosto com uma de suas mãos. – Adorei nossa noite,
foi fantástica. – Seus olhos mergulham nos meus, tão profundos,
sedutores.
– Eu também adorei! – Ele se inclina e me beija suavemente,
delicadamente, de um jeito terno, carinhoso, me fazendo sentir
plena.
Fecho meus olhos e me entrego à sequência de beijos, todos
são curtos, suaves, mas delirantes.
Que homem, meu Deus!
– Eu já vou, Jack! – Abro meus olhos, e o encaro, ele me levou
até as nuvens e me resgatou. Como será que é fazer amor com ele?
– Ok! – Sigo para a porta do meu quarto, a abro e como se fosse
mentira, encontro as três velhotas em pé no corredor dos quartos. –
Perderam alguma coisa?! – falo brava.
– Estávamos indo para o quarto, querida! – Minha avó diz
sorrindo. – Até logo, rapaz! Volte para jantar conosco, a Amélia é
uma cozinheira maravilhosa, você precisa provar seu bacalhau.
– Virei sim, é só a Jack me convidar! – Sinto sua mão em minha
cintura, e o maldito gelado no estômago. – Boa noite, senhoras!
Passamos por elas e reviro meus olhos ao constatar que elas
estão paradas no corredor olhando enquanto seguimos para a porta
de entrada.
Abro a porta, ele sai e me olha.
– Até amanhã, Jack – ele diz meigo, aliás, ele está
irreconhecível, esse não é o Doutor Rui, ele foi abduzido por este
homem gentil e carinhoso.
– Até amanhã, obrigada por me trazer nesse fim de mundo! –
digo sem jeito, ele terá uma viagem longa até sua casa.
– Foi um prazer, voltarei aqui para jantar. Fui convidado pela sua
avó, é falta de educação recusar convite de avó! – Ele sorri torto,
tenho vontade de beijá-lo novamente, mas não o faço, preciso me
controlar, senão parecerei uma mulher desesperada.
Ele seleciona o elevador e fico ali o olhando apaixonada, sim, me
sinto apaixonada por ele. Mas logo o elevador abre, ele acena para
mim e entra, e solto o ar.
Jesus, o que foi isso que aconteceu hoje?!
– Jack! – Minha mãe me chama. – Quem é esse homem, de
onde surgiu, e cadê o Renato?!
Ela diz indignada.
– Não namoro mais o Renato. – Sigo para o meu quarto. – Ele é
um amigo! – Não posso dizer que ele é meu chefe, minha mãe não
aprovaria, ela é muito correta.
Sigo para o meu quarto, mas encontro as duas outras
fofoqueiras.
– Que homem é esse, Jackeline? – Minha avó diz com a mão na
boca. – Que pão, minha neta, isso sim é homem, não aquela coisa
seca que você chamava de namorado.
Sorrio.
– Gostou, vó? Ele é muita areia para meu caminhãozinho, mas,
enfim... – falo confusa.
Ela dá um tapa em minha bunda e pulo de susto.
– Pelo menos esse traseiro grande serve para alguma coisa, ele
está louco para comer essa bunda! – Arregalo meus olhos
horrorizada.
– Mãeee!!! Você ouviu isso? – Minha mãe olha brava para minha
avó.
– Sua avó está esclerosando, Jackeline! Vá para seu quarto,
amanhã conversamos.
Sigo para meu quarto, estou em estado de torpor.
Coloco meus dedos sobre meus lábios, fecho meus olhos e sinto
uma excitação louca dentro de mim.
Nosso beijo foi incrível, aliás, há quanto tempo não sou beijada
desse jeito? Sei lá, acho que ninguém nunca me beijou assim.
Nossa noite foi mágica, maravilhosa, ele é incrível, e eu sei que
não posso me empolgar, mas eu quero aproveitar um pouco isso,
nem que seja só um pouco.
Capítulo 22
JACKELINE BARTOLLI
Acordo cedo, antes mesmo do despertador, na verdade, acho
que não dormi de fato, passei a noite sonhando com aquele ser
angustiante.
Ainda não caiu a ficha sobre o que aconteceu ontem, a gente se
beijou, foi tudo muito mágico, não me senti como se beijasse meu
chefe, ele era outra pessoa.
Mas, não posso me animar muito, ele me parece uma pessoa
bem instável em relação a mulheres.
Será muito estranho chegar hoje ao escritório e vê-lo novamente,
não sei como devo agir.
Sou uma mulher tradicional, quero dizer, tradicional em relação à
relacionamentos, acho que nunca “fiquei”, sempre tive
relacionamentos sérios e duradouros.
Fui criada em uma família muito tradicional, que preserva e
respeita as relações amorosas, não há casos de traição em minha
família, todas as minhas primas são casadas, construíram famílias,
possuem vidas invejáveis, pelo menos é o que tentam passar para o
resto da família.
Fecho os olhos e penso preocupada. Não quero ser a secretária
que ele come quando está entediado, não quero isso para mim!
Mas, foi tão bom...
Oh, que confusão que arrumei para minha vida!
Me levanto da cama e sigo para o banheiro, preciso de um
banho para me renovar.
****

Tiro a terceira roupa e chego à conclusão que só tenho lixo em


meu armário.
Por fim, escolho o conjunto de saia e blazer que ganhei, coloco
uma blusinha por baixo, ela é justa, tem um decote reto, cor
champanhe, combina com a saia azul escuro.
Coloco uma sapatilha e guardo o sapato alto em uma sacola.
Penteio meu cabelo, estou cheia de me ver com cabelo solto, e
apesar de curto, o prendo em um rabo de cavalo, coloco um par de
brincos grandes, faço uma maquiagem e sigo apressada para a
estação de metrô.
Fico feliz ao chegar ao escritório e verificar que ninguém chegou
ainda, logo estou em minha mesa, e só para não perder o costume,
sigo para a sala do meu chefe, e agora peguete, e sorrio com isso.
Ele largou tudo bem bagunçadinho ontem, a mesa de reuniões
está uma zona, mal sei como organizar isso.
Olho com cuidado cada papel para não os misturar, junto em
montinhos, guardo os lápis e canetas espalhados. Pego seus óculos
e levo para a caixinha onde fica guardado.
Confesso, eu adoro arrumar sua sala, é uma imersão em sua
intimidade, mesmo que seja intimidade profissional.
Me sinto mais íntima dele.
Estou organizando sua mesa, já apontei os lápis, ajeitei os
papéis e agora estou os colocando em uma gaveta e me assusto ao
ouvir sua voz, ele parece um gato, não faz barulho.
Estou inclinada sobre a mesa, então ajeito minha postura, olho
para ele e sorrio.
Cada dia ele usa um terno, um mais lindo e elegante que o outro.
Ele sabe se vestir, tem estilo, elegância.
– Bom dia, Jack! – Ele fecha a porta, e isso não deveria me
incomodar, mas uma batucada começa a dar sinal de vida no meu
peito.
– Bom dia! – Tento agir com naturalidade, mantenho um sorriso
comportado no rosto, e o vejo se aproximar, e se aproximar, até que
estamos frente a frente.
– Passou bem à noite? – Ele coloca sua pasta sobre a mesa, e
me olha de lado, com um sorriso contido.
– Passei bem! E você, chegou bem ontem? – Minha respiração
já está acelerada, tive dificuldades de falar com naturalidade, faltava
ar enquanto eu falava.
Mais um passo em minha direção, já sinto o calor do seu corpo,
o seu cheiro me embriagando.
– Deu tudo certo – ele diz pausadamente, me olha muito
próximo, estou salivando para beijá-lo, e então sua mão vai até meu
pescoço, ele o acaricia delicadamente, tenho vontade de fechar os
olhos, mas os mantenho firmes. – Saudades minhas, Jack?! – Ele
sussurra, sedutor, envolvente, me sinto enfeitiçada por ele.
Olho para seus lábios, que vontade de beijá-lo!
– Um pouco. – Minha voz sai quase inaudível, volto a olhar para
ele e ele olha para os meus lábios.
– Essa sua boca é uma tentação, sabia? – ele diz passando o
polegar pelos meus lábios.
Meu pai eterno, fala para ele me beijar logo!!!
– A sua também – digo, quero dizer, gemo.
Se ele me deixa assim só por um beijo, imagine quando a gente
se atracar em uma cama, acho que vou morrer.
– Eu senti falta de você, Jack! – Ele beija meu rosto, próximo dos
meus lábios.
Maldito, ele quer que eu implore por um beijo.
– Ah, é? – Mal sei o que estou dizendo, estou entregue aos
beijos que ele deposita em meu rosto, isso parece inocente, mas é
erótico demais.
– A gente pode ir hoje à noite para o meu apartamento? – Ele
sussurra em meu ouvido, passando a língua pela minha orelha,
todos os pelos do meu corpo estão eriçados. – O Bóris pediu para
você ir visitá-lo, ele está com muitas saudades de você.
Dou risada, ele tem senso de humor.
– Hum, se é o Bóris que está pedindo... – Ele morde minha
orelha, solto um gemido. – Ahhh!
Cacete de homem.
– Eu não vejo a hora de ouvir você gemendo assim em cima do
meu pau! – ele diz no meu ouvido, e acho que não vou aguentar a
essa tortura.
– Assim não vale, Rui – digo embriagada, sentindo seus lábios
descendo pelo meu pescoço, roçando minha pele.
Seguro seu braço com firmeza, ele é um filho da puta sedutor.
Tento me afastar dele, mas ele segura minha cintura, me puxa
para junto dele, e enfia aquela língua indecente na minha boca.
Oh, meu Deus, esse homem vai me enlouquecer.
Ele colocou fogo em mim, enfio meus dedos entre seus cabelos
e o beijo desesperada.
Seus lábios se afastam de mim e ele me encara, parece louco de
tesão.
– A gente pode fazer isso aqui, se você quiser, eu realmente não
estou aguentando mais esperar!
O olho confusa.
– Não tem ninguém no escritório, não se preocupe, ainda é cedo.
– Ele volta a beijar meu pescoço, sua mão vai para o zíper da minha
saia.
Minha mente está em confusão, eu quero, mas tenho medo e
receio, e de repente sinto minha saia em meus pés, ele já decidiu
por mim.
Sua mão acaricia meu bumbum sensualmente, cada pelo do
meu corpo está em pé. O vai e vem de sua mão em minha pele está
me excitando enlouquecidamente.
Ele tira seu paletó desesperado, pega em minha cintura e me
coloca em cima de sua mesa, e antes mesmo que eu possa pensar,
minha calcinha está no chão, e ele está com seu rosto, mais
precisamente sua boca, mergulhada entre minhas pernas.
Isso é bom, bom demais, eu nunca mais tinha sentindo a
sensação maravilhosa de ter a língua de um homem em meu sexo,
e ele é expert nisso.
Estou tentando heroicamente não gemer feito uma cachorra,
mas isso está me deixando alucinada. Fecho meus olhos e me
deixo mergulhar nessa sensação, mas de repente ele para.
– Tira sua blusa, Jack!
Oh, que decepção, eu estava quase lá.
O olho confusa, mas faço o que ele me manda. Fico apenas de
sutiã.
– Tira tudo, Jack! – ele diz em desespero.
Oh, meu pai, estou nua, em cima da mesa do meu chefe, isso é
loucura.
Ok, mas se é para mergulhar, então que seja de cabeça, tiro
meu sutiã e seus olhos mergulham em meus seios.
– Jack, você é a mulher mais gostosa que já conheci – ele diz
com aquele olhar faminto, e mergulha sua boca em meus seios, e
os chupa enlouquecido, e subitamente seus dedos entram em mim,
e começam a me estimular.
Cacete, eu não vou aguentar, e não aguento, gemo alto e
desesperada. Acho que nunca senti tanto prazer, foi incrível.
Enquanto estou tentando voltar da outra galáxia, ele volta a me
beijar, ouço barulho de cinto e zíper, e antes que eu possa pensar,
sinto seu membro me preencher.
Ele não me deixou vê-lo, mas deve ser enorme e grosso, nada
comparável com o Renato.
Enrosco minhas pernas em sua cintura, e o deixo nos levar em
meio à paixão. Depois de estocadas firmes e profundas, ele goza
feito um urso.
– Oh, Jack! – ele diz ainda se movimentando dentro de mim e
me beijando. – Você é deliciosa, Jack!!! – ele diz de olhos fechados,
me beijando e gemendo.
Senhor, isso sim é sexo, era disso que eu falava!
Ele se acalma, a gente se olha, e sorri.
– Valeu a pena esperar, foi incrível, mas eu quero mais... – O
olho preocupada, será que ele pretende passar o dia trancado em
sua sala, transando??? – Mas pode ser à noite, eu aguento esperar!
– ele diz com um sorriso cafajeste.
Ele me dá mais um beijo, se afasta, arruma seu amigo dentro da
calça, pega minhas roupas que estão espalhadas, e me olha.
– Tudo bem, Jack? – Sua testa franze.
Me dou conta que fiquei calada, ele disse um monte de coisas,
mas estou em um estado de torpor.
– Claro que está. – Sorrio, coloco minha calcinha, levanto meus
olhos e o vejo olhando para o meu corpo, e isso é bem estranho.
Foi bom demais, mas estou me sentindo estranha, com um
sentimento ruim.
Coloco rapidamente meu sutiã, a saia e por fim a blusa.
Ele segura meu rosto e me faz olhar para ele.
– Tá tudo bem mesmo? Você ficou estranha, eu fiz alguma coisa
de errado? – Ele me encara, parece preocupado.
O olho angustiada.
– Rui... – Mordo meu lábio. – Eu não sei se quero isso para mim,
foi incrível, mas não quero ser a secretária que o chefe fica
comendo quando está entediado.
Oh, meu Deus, o que estou falando?
– Eu não vou ficar te comendo aqui se é essa a sua
preocupação... – Ele me olha sério. – Tudo bem, a gente não faz
mais isso no escritório, não quero que você se sinta mal ou usada.
Ele se afasta e me olha com a testa franzida.
Começamos muito mal isso, quero dizer, eu comecei muito mal.
– Me desculpe pela sinceridade, acho que já fui usada por muito
tempo, por um cara que não me amava. – O olho aflita. – Eu não
sou esse tipo de mulher que gosta de sexo sem compromisso.
Oh, meu Deus, quanto mais falo, mais merda sai da minha boca.
– Jack! – Ele fecha os olhos. – Se acalma, você está muito
preocupada com tudo! Somos dois adultos, deixe acontecer, sem
moralismos, eu sei que você mora com três idosas, isso pode te
influenciar um pouco... – Ele sorri. – Vamos nos conhecer.
Ele volta a se aproximar de mim, envolve meu rosto com suas
mãos grandes e macias.
– Relaxa, Jack, você está muito tensa. – Um beijo suave e
delicado em meus lábios. – Você é tão gostosa, Jack, eu precisaria
de um mês trancado com você para passar minha vontade. – Mais
um beijo, seguido por uma mordida em meu lábio inferior. – Eu
adoro essa boca. – Mais uma mordida. – A próxima vez eu quero
vê-la chupando meu pau, Jackeline! – Estou pingando de excitação.
Um toque na porta, e me afasto desesperada.
– Fica calma, Jack! Acho melhor você ir para o banheiro.
– Ok! – Saio apressada em direção ao seu banheiro, fecho a
porta e relaxo.
Puta que pariu, eu realmente não levo jeito para amante.
****

Ajeito meu cabelo, minha roupa, e lavo minhas mãos.


Ouço um toque na porta.
Me sinto um pouco ridícula trancada no banheiro do meu chefe,
mas eu não estava preparada para encarar ninguém depois do que
fizemos.
Abro a porta, ele me olha com um sorriso.
– Mais calma?
– Sim! – falo sem muita convicção.
Oh, como sou patética!
Saio do banheiro e passo por ele.
– Quer alguma ajuda com aqueles processos de ontem? – Tento
reassumir minha postura profissional.
Ele entorta sua cabeça e me lança um olhar malicioso.
– Jack, acho melhor você ficar em sua mesa, preciso de
concentração, e você me desconcentra muito!
Sorrio, não há dúvidas que ele me faz sentir a mulher mais
desejada do mundo. E isso é muito bom, eu não sabia mais o que
era isso.
– Então, vou terminar algumas coisas que meu chefe pediu! –
Brinco com ele.
Continuo andando em direção à porta, viro para trás, e lá está
ele admirando meu traseiro. Mas isso já não me incomoda mais,
pisco para ele, roubando um sorriso digno de propaganda de creme
dental.
Fecho a porta de sua sala e me sento em minha mesa, tento me
concentrar em minhas atividades, mas a cena de nós dois juntos
não sai da minha cabeça.
Foi bom demais, e eu gostaria muito de repetir.
****

O período da manhã passou voando, meu chefe não saiu de sua


sala, entre reuniões com seus advogados e imersões em seus
processos, então o horário do almoço chegou.
A porta de sua sala abre, o olho rapidamente, ele se aproxima de
mim, senta em minha mesa, e diz:
– Vou sair para almoçar, mas eu volto logo, preciso terminar
ainda hoje a análise daqueles processos. – O olho fascinada,
porque ele tem uma figura que transmite poder, segurança e
masculinidade.
– Tudo bem! – respondo meio abobada, esse homem me deixa
assim.
– No período da tarde fechamos a questão do coquetel dos 10
anos do escritório, deixe tudo preparado! – Balanço a cabeça
positivamente.
Então sem que eu espere, ele se inclina sobre mim e beija meus
lábios, foi rápido, mas intenso, e me fez ver estrelinhas e sentir um
frio no estômago.
Ele se afasta, mas mantém seus olhos em mim.
– Não vejo a hora que essa porra de dia acabe! – ele diz em um
rosnado, e não sei se foi para mim, ou para ele mesmo. – Vá
almoçar, Jack! – ele diz sem olhar para trás, me deixando meio
zonza.
Logo depois que o Rui sai, meu celular trepida em minha bolsa,
o pego e vejo que é a Carolina.
Atendo rapidamente.
– Oi, Jackeline Bartolli! – ela diz cínica.
Dou risada.
– Oi, Carolina Gonçalvez. – Ela ri.
– Então, posso ter a honra de almoçar com você hoje? – ela diz
cheia de formalidades.
– Carol, só quando eu receber, não posso me dar ao luxo de
gastar dinheiro, porque eu não o tenho! – falo sem graça.
– Eu pago, sua mocréia! Deixa de ser estraga prazer, sou uma
advogada bem-sucedida, e adoro pagar almoços para mulheres
bonitas!
Reviro meus olhos, odeio quando ela fala como um homem.
– Oh, Carol, isso soa tão feio, não fala assim comigo! – falo mal-
humorada.
– Ok, mocréia, então me deixe pagar uma merda de um almoço
para você. Como você é chata! – ela esbraveja.
– É que eu trouxe um lanchinho – falo envergonhada.
– Guarde na geladeira da copa, amanhã você faz seu regime de
pobre – ela diz desaforada.
– Ok, não posso demorar, meu chefe disse que não demorará. –
Ela me interrompe.
– Desce agora, não estou com muita paciência com você hoje! –
ela diz autoritária, mas em seguida ri.
– Ok, Carolina, hoje você está nos seus dias! – Desligo meu
celular, pego minha bolsa e sigo para encontrá-la.
Vejo a Carolina num sofá da recepção, entretida com seu celular.
Olho para a recepcionista e sorrio, mas ela desvia seu olhar de
mim, parece meio chateada comigo.
– Carol! – A chamo.
Ela dá um pulo no sofá e continua digitando.
– Vamos. – Ela sai andando apressada. – Só preciso resolver
uma coisinha, já conversamos – ela diz no caminho.
A sigo em direção ao restaurante que fomos em nosso último
almoço. Ela faz algumas ligações, e por fim, chegamos ao
restaurante.
Ela guarda seu celular e me olha.
– Hoje o dia está um inferno! – ela bufa.
– Muito trabalho? – pergunto na fila do buffet.
– Sim, muitos processos, estou sobrecarregada. Depois que o
Doutor Rui fechou a parceria com o escritório do Doutor
Albuquerque as coisas ficaram um pouco fora do controle.
– Você já falou com ele sobre isso? – pergunto despretensiosa.
– Oh, o Doutor Rui anda bem inacessível. – Ela me olha de lado.
– Fiquei sabendo que ele terminou seu relacionamento com a loira
insuportável, você sabe me dizer o porquê?
A olho de soslaio.
– Eles brigaram um dia em que eu estava na sala dele, mas eu
não sei o porquê, não sou a confidente do Doutor Rui.
Enquanto falo, minha mente trabalha freneticamente, me sinto
constrangida com essa história entre mim e ele, e apesar da Carol
ser minha amiga/irmã, não sei se contarei.
Ela me olha intensamente.
– Você e ele? – Ela balança sua cabeça de um lado para o outro.
– Não entendi – Desconverso.
– Nada, deixa para lá! – ela bufa. – Então, como está o trabalho,
está gostando? – Ela sorri.
– Estou gostando muito! – falo animada. – Aos poucos estou
pegando o jeito, até que levo jeito para secretária! – Ela me olha de
lado, e não consigo deixar de rir. – Me inscrevi em um curso de
secretária pela internet, está me ajudando um pouco!
Ela dá uma risada.
– Caramba, que empolgação! – Ela me olha com firmeza. – O
Doutor Rui está se comportando?
– Mais ou menos! – Não a olho, a Carolina sempre sabe tudo
sobre mim.
– Já rolou? Pode dizer, somos amigas, não vou fazer sermão –
ela diz timidamente.
– Carol, eu sei que você dirá que estou me metendo numa
confusão, mas não consegui resistir a ele, é muito difícil! – Sigo para
uma mesa.
– Ok, Jack, você é maior e vacinada, só não se apaixone por ele,
porque ele não se apaixona por ninguém. Já vi muitas garotas aqui
do escritório sentarem em seu colo e o fim de todas foi a rua, não
será diferente com você. – Olho para ela. – Divirta-se, tire uma
casquinha, mas não se apaixone.
– Tá bom – respondo desanimada, a gente não manda em nosso
coração, não é tão fácil dizer a ele para não se apaixonar. – E você,
me conte um pouco sobre você! – digo com um sorriso.
– Bom... – Ela estufa seu peito e começar a contar sobre sua
vida, sempre muito movimentada.
Eu sempre invejei a Carol, mas uma inveja boa, porque eu
admiro a forma como ela vive, ela é decidida, resolvida, e vive
intensamente.
De alguma forma eu gostaria de ser como ela, livre, sem
preocupações, mas o fato de ter pessoas dependendo de mim
sempre me forçou a ser mais preocupada, ou não, eu que sou assim
mesmo e não tenho coragem de admitir.
Capítulo 23
JACKELINE BARTOLLI
Almoçar com a Carol sempre me deixa mais relaxada, ela é
muito divertida, alto astral. Eu a admiro demais, torço por ela e
quero muito vê-la feliz. Mas não preciso me preocupar muito com a
Carol, porque ela é muito forte, acho que sua maior preocupação
sou eu, e isso é muito engraçado, porque ela assume a postura de
uma irmã mais velha.
Chegamos ao escritório, estou com as bochechas doendo de
tanto rir, adoro ouvir as histórias que ela me conta, principalmente
sobre seus amigos gays, é tudo muito divertido.
– Obrigada pelo almoço, quando eu receber, te convido para
almoçar – digo baixinho, para que a recepcionista não ouça nossa
conversa.
– Pode deixar, eu vou cobrar! – ela diz divertida. – Vamos
combinar alguma coisa um dia desses, um cineminha, um
chopinho... – Ela faz um bico.
– Vamos, mas me deixe receber, please! – Juntos minhas mãos
em sinal de súplica.
Ela revira seus olhos.
– Chatinha! – Ela beija meu rosto e sai apressada para a sala
dos advogados.
Sorrio e caminho para as escadas.
– Jackeline! – A recepcionista me chama.
Olho para trás.
– Pois não? – falo formalmente, afinal, essa menina mal olha na
minha cara, não tenho motivo para ser simpática com ela.
– Tenho alguns recados para o Doutor Rui, ele pediu para passar
para você. – Ela me entrega um papel. – Está gostando do trabalho,
Jackeline? – Ela vira seu rosto de lado, e vejo malícia em sua
pergunta.
– Estou. – Desconverso. – Obrigada, Karen. – Viro em direção
às escadas e subo sem olhar para trás, mas sinto seu olhar maligno
sobre mim.
Possivelmente ela é apaixonada por ele, como a Carolina disse,
e está me culpando por ele não a querer mais.
É estranho o que sinto, mas não me sinto feliz, ou satisfeita em
ter eliminado supostamente duas adversárias, porque não acho que
de fato eliminei ninguém.
Ok, mas não vou pensar muito sobre isso, caso contrário, irei
enlouquecer.
Chego a minha mesa e vejo um bilhete com a letra dele.
“Quando voltar do almoço, venha a minha sala para discutirmos
sobre as cotações para o coquetel.”
Tudo bem, chefinho, mas antes preciso escovar meus dentes –
falo em pensamento.
Sigo apressada para o banheiro, escovo meus dentes, penteio
meus cabelos, pois o rabo de cavalo já havia desmanchado, e os
deixo soltos. Passo meu batom vermelho, adoro batom vermelho,
sempre uso o mesmo.
Volto rapidamente para minha mesa, pego em minha gaveta uma
pasta onde coloquei todas as cotações sobre o coquetel, bato na
porta de sua sala e entro.
Ele está na mesa de reuniões, usando seus óculos de super-
homem, relaxado em uma cadeira, com um calhamaço de papéis,
possivelmente processos.
– Oi, você pediu para eu vir assim que chegasse – falo insegura.
– Isso mesmo. – Ele coloca o processo sobre a mesa. – Sente-
se aqui ao meu lado.
Sigo até ele, a cadeira já foi puxada para mim, e ele me olha
com um sorriso.
– Almoçou com quem hoje? – ele diz subitamente, o olho
confusa, ele às vezes é tão enxerido.
– Com a Carolina – falo sem olhar para ele, apenas arrumando
os papéis sobre a mesa.
– Não quero que você almoce com nenhum dos advogados, os
homens... – Ele gesticula com as mãos, parece meio embaraçado
com sua própria sandice. – Certo?! – Ele curva seus lábios em um
sorriso, mas meio forçado.
Enrugo minha testa, tenho vontade de mandá-lo se danar, mas
aí lembro que ele é meu chefe, mesmo assim não consigo me calar.
– Qual a razão? – O olho de lado.
– Sigilo, eles vão querer almoçar com você para saber sobre
processos, essas coisas. Você é minha assistente pessoal, sabe
muito mais sobre minha vida do que qualquer outra pessoa aqui, por
isso, não quero que você almoce com nenhum deles. – Olho para
ele, mas ele disfarça seu olhar vasculhando os papéis que coloquei
a sua frente.
– Com as advogadas eu posso? – falo para irritá-lo, ele é muito
folgado.
Ele me olha sobre os óculos.
– Pode. – Ele volta a olhar para os papéis.
– Mas elas também podem querer saber sobre sua vida. – Ele
me interrompe.
– Não quero mais falar sobre esse assunto, Jackeline! – Ele me
olha com firmeza. – O recado já está dado.
Me ajeito na cadeira, meio tonta, confesso.
O Doutor Rui consegue ser bem esquisito, não consigo entendê-
lo muito bem.
– Então, me explique isso... – Ele parece meio irritado, aliás, já
percebi que ele se irrita facilmente.
– Então, essa cotação aqui... – Começo a discorrer sobre cada
uma das cotações.
– Ok. – Ele vasculha os papéis. – Vamos fechar com esse aqui.
– Ele me entrega os papéis. – Organize tudo, então faremos um
comunicado para os funcionários avisando sobre o dia do coquetel.
– Ele se levanta, parece inquieto e segue para sua mesa.
– Quer que eu peça um café para você? – pergunto boazinha,
aliás, me sinto patética, por que faço isso todas as vezes que ele
fica irritado?
Pego minhas coisas, me levanto e o vejo olhando para mim.
– Você adora me ver tomando café, não é mesmo, Jackeline? –
ele diz com um sorriso.
Sorrio, até ele já percebeu meu desatino.
– Você prefere chá? – falo debochada.
– Não, eu prefiro você, mas não dá para fazer o que quero
agora! – Ele sorri torto, e sinto aquele maldito gelado no estômago.
– Você faria uma massagem em mim? Estou tenso, Jack!
Balanço minha cabeça, nós dois juntos trabalhando, não acho
que isso irá funcionar.
– Ok, cinco minutos de massagem, apenas massagem! – Ele dá
risada.
– Tudo bem, já percebi que você gosta de ditar as regras. – Ele
se senta em sua cadeira. – Já ouvi dizer que as italianas são bem
mandonas e bravas.
Dou risada, sigo até ele, dou a volta em sua cadeira, coloco
minhas mãos em seus ombros e começo a massageá-los.
– Está bom assim? – pergunto.
– Isso, Jack! – Ele diz manhoso.
Continuo e realmente percebo os músculos de suas costas
duros, tensos, desço um pouco meus dedos para a parte de trás de
suas costas.
– Tudo bem? – pergunto preocupada com seu silêncio.
– Aham! – Ele resmunga.
Eu sei que está delicioso para ele, mas para mim também, e a
vontade que tenho é de beijar seus cabelos, seu pescoço, ele é tão
cheiroso!!!
– Jack, vou me inclinar na mesa, assim você desce um pouco! –
E assim ele faz, com os braços cruzados na mesa, ele descansa
sua cabeça sobre os braços, e eu dou risada.
O que ele pensa que sou, sua massagista?
Ok, mas não reclamo, continuo descendo suavemente meus
dedos pelos seus músculos das costas, em sua coluna vertebral,
aproveitando para desfrutar um pouco desse homem delicioso.
– Oh, Jack, você é demais! – Ele sussurra, parece um gato
preguiçoso. – Vou te contratar como minha fisioterapeuta – ele diz
rindo.
Não digo nada, apenas continuo desfrutando desse momento, eu
adoro ficar com ele, ao lado dele, é estranho isso, tudo que envolve
ele é estranho, porque sinto uma atração tão irresistível, ele é como
um imã.
– Acho que está bom, Jack! Caso contrário eu irei dormir. – Ele
se arruma na cadeira, vira de lado e me olha. – Obrigado, você tem
mãos de fada. – Seus olhos mergulham nos meus, tão intensos,
urgentes, como eu queria saber o que se passa dentro da sua
cabeça.
– Estou dispensada? – pergunto para descontrair.
– Por enquanto! – ele diz voltando a sua posição. – Pede o café,
agora fiquei com sono. – Ele sorri.
– Tudo bem, vou pedir da minha mesa – falo rapidamente
seguindo para a porta.
Quanto menos tempo ficar nessa sala melhor.
****

A tarde seguiu tranquila entre gritos chamando por mim, olhares


intensos e urgentes, e finalmente chegamos ao final da tarde.
Confesso que à medida que as horas passam, um nervoso
começou a se instalar dentro de mim.
Eu sei que transamos em sua sala hoje pela manhã, e cá entre
nós, foi incrível, mas eu sei que isso foi só degustação, a cereja do
bolo será em sua casa, e isso está me deixando bem nervosa.
Olho em meu relógio de pulso são 18h, e mal sei o que fazer,
mas logo meu ramal toca, parece que estávamos conversando por
telepatia.
– Oi, Jack! Venha até minha sala – ele diz rapidamente.
– Ok. – Sigo para sua sala com a respiração acelerada.
Ele está relaxado em sua cadeira, os óculos em sua mão, em
seu costume de morder as hastes.
– Vem aqui. – Ele me chama com a mão, faço a volta em sua
mesa, e me coloco ao seu lado. – Você já terminou as suas coisas?
– Ele gira sua cadeira e fica de frente para mim.
– Sim, já está tudo certo, vou te passar as datas disponíveis para
o coquetel... – Ele se aproxima mais de mim, ainda sentado em sua
cadeira, e me puxa pela cintura, me fazendo ficar ainda mais
próxima dele.
Meu coração dispara.
– Podemos ir? – Ele me olha, tão sedutor, não consigo deixar de
me derreter diante dele.
– Podemos – respondo enfeitiçada.
– Vamos fazer assim... – Ele me olha sério. – Eu não quero que
as pessoas saibam sobre nós, não é por nada, Jack, é apenas
porque não quero que confundam as coisas.
Balanço minha cabeça afirmativamente.
– Eu vou sair primeiro, te espero na próxima rua, do lado direito,
mas não demore, só não quero que alguém nos veja saindo juntos.
– Ok – respondo feito uma retardada, se ele me disser para me
jogar da próxima ponte, acho que me jogo.
Ele se levanta e me beija, e me sinto completamente mole. Que
poder é esse que ele tem sobre mim? Estou perdida!
Separamos nossos lábios, limpo seus lábios que sujaram de
batom, ele pega seu terno e sua pasta.
– Em cinco minutos, Jack! – Mais um beijo, mas foi rápido, e o
olho saindo apressado, e mal acredito que essa pressa toda tem a
ver comigo.
****

Passo pela recepcionista.


– Até amanhã, Karen! – falo rapidamente, mal olhei para ela.
Chego à rua, sigo para o lado direito, conforme ele pediu, após
100 metros entro na pequena viela, e vejo seu carro estacionado.
Respiro fundo e sigo até ele.
Bato gentilmente no vidro, ele se inclina e abre a porta.
– Acho que você demorou 10 minutos! – ele diz com um sorriso.
– Me esqueci de cronometrar! – falo em tom de brincadeira.
Ele liga seu carro e começa a dirigir.
– Pensei em irmos para meu apartamento, eu preparo alguma
coisa para a gente comer. – Ele me olha de lado.
Acho engraçado tudo isso, eu já sei o que iremos fazer, por que
ele quer disfarçar?
– Ok, para mim está ótimo – falo com um sorriso contido.
– Se você quiser podemos jantar em algum lugar. – Ele me olha
de soslaio, não aguento e sorrio.
– Bom, eu queria ver o Bóris, então... – Ele me olha e abre um
sorriso enorme, genuíno, estilo Rui.
– Oh claro, o Bóris, eu tinha me esquecido – ele diz divertido,
pega em minha mão, e a leva até seus lábios, a beijando e me
olhando.
– O farol, Rui! – digo preocupada, vendo de soslaio o farol
fechando, as lanternas dos carros ficando vermelhas, e o Rui me
olhando.
– Eu falei que você tira minha concentração! – Ele deixa minha
mão sobre sua coxa, e volta a prestar a atenção no trânsito.
Ele mora muito próximo ao seu escritório, quero dizer, de carro é
muito rápido, quando fui de ônibus demorou muito.
Quando ele entra no estacionamento, sinto um arrepio percorrer
minha coluna.
O Renato mora aqui e eu posso cruzar com ele, e isso seria
muito desagradável.
– Rui, só existe um elevador? – pergunto sem graça.
Ele me olha com a testa franzida.
– Eu não queria cruzar com o Renato, isso pode acontecer. – Ele
balança a cabeça.
– Ok, subimos pelo elevador de serviço! – Ele enruga sua testa.
– Mas, você terminou com ele, certo? Ele não tem nada a ver com
sua vida. – Ele me olha, parece irritado.
– Eu sei que não devo satisfações da minha vida a ele, mas é
que ele tem me ligado com certa frequência, ele quer conversar
comigo, me manda mensagens, e eu estou o evitando. – Olho para
ele. – Seria desagradável encontrá-lo.
– Desagradável para ele, não para você! – ele diz mostrando
tensão em seu maxilar.
– Para mim e para ele, Rui! – digo incomodada.
– Porra, o cara é gay, o que ele quer com você? – ele diz
enquanto dirige em direção a sua vaga.
Franzo minha testa, apesar dos pesares, não quero que ninguém
fale mal do Renato.
– Ele disse que tudo foi um mal-entendido, que o Leonardo é um
amigo, que ele não é preconceituoso, enfim... – Mexo em minhas
mãos nervosamente.
– É mentira, Jack! – ele diz alterado. – Você não está
acreditando nele, não é mesmo?! – Ele franze sua testa.
– Não, não estou acreditando nele, mas é que sempre fomos
muito amigos, me sinto tão mal de estar o tratando dessa forma –
falo meio sem pensar, na verdade, ando tão incomodada com o que
aconteceu entre mim e o Renato.
Existem sentimentos que extrapolam o amor sexual, eu sinto por
ele um sentimento de carinho e afeto, até penso que fiquei com ele
por tanto tempo por causa disso, nos tornamos mais amigos do que
namorados.
Ele é uma pessoa cheia de problemas pessoais, inseguranças,
traumas de infância, sua família é tão complicada, acho que sempre
fui uma espécie de porto seguro para ele.
Oh, minha maldita mania de querer ser terapeuta, me sinto como
se largasse um paciente em meio a uma crise de existência.
Estou imersa em meus pensamentos quando me dou conta que
ele está me encarando, o carro já foi estacionado e estou ali,
submersa em minhas dúvidas.
– Você ama esse cara? – ele diz com uma expressão
indecifrável.
– Como um amigo – respondo confusa.
Ele bufa irritado.
– Não tem como um homem e uma mulher sentir amor que não
seja amor de homem e mulher! – ele diz irritado.
– Eu consigo, eu o amo como um amigo, quero bem a ele, sei lá
– respondo.
Ele balança a cabeça, parece indignado, sai do carro e fica
parado me esperando.
Seguimos em silêncio, ele entra em um elevador, daqueles de
carga.
– Jack, eu entendo sua consideração pelo seu amigo gay, mas
essa vai ser a primeira e a última vez que uso esse elevador por
causa desse cara! – ele diz irritado. – Não esqueça, Jack, ele estava
te traindo, que seja com um homem, mas é traição, não queira
colocar panos quentes, perdoá-lo, sei lá...
Olho para ele, e tenho uma vontade tão grande de abraçá-lo, me
aninhar em seu peito, como fiz no dia que descobri tudo.
Mas inspiro e fecho os olhos, não há nada entre nós além de
sexo.
Engraçado isso, mas eu e o Renato passávamos mais tempo
abraçados como amigos do que como namorados, e quando eu
queira avançar para a parte homem e mulher ele se esquivava.
Mas, ele gostava da parte do carinho, da atenção e do cuidado.
Ele é um homem muito carente, mas carente de afeto no sentindo
literal da palavra, sua família é muito fria, eles são alemães,
parecem descendentes diretos de Hitler.
Sério, aquela família me causava arrepios.
O elevador abre, vejo uma porta branca a nossa frente, ele pega
uma chave e a abre, e entramos em sua cozinha.
– Sua cozinha é muito linda, você sabe fazer alguma coisa? –
pergunto para descontrair, ele ficou incomodado com o assunto do
Renato.
– Algumas coisas – ele diz sério.
– Cadê o Bóris? – pergunto animada, tentando melhorar o clima
entre nós.
Ele dá um assobio, ouço barulho de patas no piso, e de repente
aquele ser peludo e lindo aparece.
– Oi, Bóris! – falo animada, e ele vem enlouquecido até mim,
pula e quase me derruba. – Calma, menino, assim você me assusta
– falo com ele, que me lambe, mas logo seu dono o puxa.
– Não, Bóris! – ele diz enérgico.
Me agacho.
– Deixe ele, Rui. A gente está com saudades, né Bóris? – falo
com ele, que sai das mãos de seu pai em desatino, e volta a me
lamber.
Seguro sua cabeça, e o encho de beijos, ele é a coisa mais
peluda e linda que já conheci.
– Eu também estava com saudades – falo com ele, que sorri
para mim. – Eu pedi para seu dono te levar para o trabalho,
poderíamos nos ver mais vezes.
Olho para o Rui, que sorri.
– Você pode vir mais vezes visitar o Bóris, aqui é a casa dele. –
Ele sai andando, me levanto e o acompanho.
– Vou lavar meu rosto, está todo babado! – O Bóris me segue
enquanto caminho atrás de seu dono.
– Vamos subir, Jack, você toma um banho comigo – ele diz me
olhando de lado, e seguindo para as escadas.
Eu sei que estou sendo repetitiva, mas é tudo tão difícil para
mim, durante quatro anos me relacionei apenas com um homem, e
em uma semana conheci, beijei e transei com o Rui, e agora vamos
tomar banho juntos.
Oh, como sou confusa, acho que preciso de análise, sou muito
complicada.
– Ok! – O sigo como um autômato, e vejo o Bóris me seguindo,
mas não me importo.
Entro em seu quarto, e que quarto, o que me faz sentir muito
mal, meu quarto, assim como meu apartamento inteiro, é uma favela
perto do seu apartamento.
Ele tira seu terno e coloca sobre um mancebo, ele me olha e
olha o Bóris ao meu lado.
– Você não, Bóris, eu já disse que nos quartos, não! – Ele sai
puxando o cachorro pela coleira, em segundos ele volta e fecha a
porta. – Ele fica muito mal-educado quando te vê, Jack, você tem
uma influência muito negativa sobre ele – ele diz divertido.
– Eu fiz apenas duas visitas, eu não consigo influenciar um
cachorro apenas com isso. Acho que ele sempre foi assim, você que
não percebeu! – falo com um sorriso.
– Fica à vontade, Jack. – Ele olha para minha bolsa, eu continuo
a segurando em minha mão.
Olho ao redor e a coloco sobre um móvel.
Volto a olhá-lo, estou me sentindo constrangida, me sinto uma
garota de 18 anos. Ele se aproxima, tira meu blazer, e o joga sobre
uma cadeira.
– Me ajuda a tirar a roupa. – Ele me olha sedutor.
Um arrepio percorre minhas veias, sigo com meus dedos para
sua camisa e começo a desabotoar os botões.
De repente suas mãos estão em minha cintura e vão para o
zíper da minha saia, em segundos ela cai aos meus pés.
Ele começa a acariciar a pele do meu bumbum e ao mesmo
tempo ele aperta, e isso é muito excitante. Seus dedos roçam as
laterais da minha calcinha, e eu ainda estou nos botões, porque a
cada movimento que ele faz, eu paro o que estou fazendo.
Ele vai descendo lentamente minha calcinha, e de repente seus
lábios estão no meu pescoço, e sua mão acariciando meu sexo.
– Acho que não vou conseguir tirar sua roupa! – falo ofegante.
Ele sorri.
– Eu te ajudo – ele diz com um sorriso torto, em segundos ele
abre o zíper e o botão, tira a calça, a meia e o sapato.
Ele começa a me beijar, sinto suas mãos abrindo os botões da
camisa junto comigo, de repente não há mais camisa, ele já a tirou,
e eu continuo beijando ele, e minhas mãos exploram cada
pedacinho de seu corpo, que é cheio de músculos, ele é forte, ele é
lindo!!!
Ele afasta seus lábios dos meus e tira minha blusa, e antes que
eu possa pensar ele já abriu o sutiã, estou completamente nua.
Sem maiores cerimônias ele tira sua boxer, e vejo a
generosidade de Deus com ele, parece que ele passou na fila várias
vezes, seu amigo é proporcional a ele, ou seja, enorme.
– Eu pensei em tomarmos um banho, mas talvez possamos
fazer isso depois – enquanto ele diz, ele vai explorando meu corpo
com sua mão grande e macia. – Eu estou louco para te foder, Jack –
ele fala no meu ouvido.
Ele me ergue do chão em seus braços, me deita em sua cama e
esquece que eu estava toda babada de cachorro, e de todo o resto.
Seu corpo enorme cobre o meu, seus lábios começam a descer
pelo meu pescoço, sinto sua língua rodeando as alreolas dos meus
seios, ora chupando-os, ora mordendo-os, ou simplesmente
lambendo-os.
A sensação de prazer e excitação me enlouquece, eu quero
mais, eu o quero dentro de mim.
– O que você quer que eu faça, Jack? – Ele sussurra em meu
ouvido.
– Me fode, Rui! – Gemo erguendo meus quadris contra seu
membro, me esfregando descaradamente nele.
Ele me penetra de uma vez, grito de excitação, de surpresa, de
desejo.
– Assim, Jack? – ele fala com sua voz meio gutural, ele está
muito excitado.
– É, assim! – falo ofegante.
– Fala como você gosta. – Ele continua me enlouquecendo com
seus lábios em minha orelha, me arrepiando só com sua voz.
– Oh, eu quero que você me foda com força! – falo embriagada
de desejo, e grito na primeira estocada que ele dá, fui até as
nuvens.
– Assim, Jack? – ele diz de novo, e tenho vontade de gritar a
cada nova estocada.
– É! – Grito.
Ele é muito bom nisso.
– De bruços, Jack... – Ele sai de mim, me vira de bruços com
uma rapidez que me deixou tonta, me penetra novamente,
segurando meus quadris com firmeza, e recomeça com a tortura. –
Você tem uma bunda muito gostosa. – E ele massageia minha
bunda com suas mãos, e se movimenta deliciosamente dentro de
mim, e de repente sinto um tapa em minha bunda, grito, mas foi
excitante, porque ele bateu e friccionou ao mesmo tempo, e de
novo, e de novo...
E à medida que ele faz isso, minha excitação fica insuportável,
grito, gemo e chego ao orgasmo mais alucinante da minha vida, e
logo ouço seus urros de prazer.
Misericórdia, que sexo foi esse?!
Ele desaba ao meu lado, e me sinto exausta, porque foi muito
intenso, nunca fiz um sexo assim, foi alucinante.
– Foi bom, Jack? – Ele pergunta.
Estou de bruços, então o olho de lado, meus cabelos cobrem
meus olhos, mas ele os retira gentilmente.
– Foi incrível! – respondo olhando-o.
– Para mim, também. – Ele vira de lado, aproxima seu rosto do
meu e me beija.
Adoro ser beijada depois do sexo, acho que toda mulher gosta,
então tenho a impressão que ele leu algum diário feminino, porque
parece que tudo que ele faz tem a ver com o que uma mulher
espera de um homem, assim fica mais fácil fazer as mulheres se
rastejarem aos seus pés.
– Vamos tomar banho, você está com cheiro de Bóris. – Enrugo
minha testa, mas antes que eu responda, ele se levanta em um
salto e sai glorioso para seu banheiro.
Apoio meus cotovelos na cama, e olho enquanto ele caminha.
Agora sei que realmente existiram deuses gregos, e o Rui deve
ser descendente de algum deles, ele tem um corpo magnífico.
Ele olha pelo seu ombro, sorrio sem graça.
– Ok, pode olhar, não sou tímido. – Ele dá aquele sorriso
cafajeste.
Me sento, ajeito meus cabelos e saio da cama, e caminho em
sua direção.
Entro no banheiro, olho ao redor, e fico encantada. O box é
enorme, ao lado uma banheira grande e estilosa, e uma pequena
porta onde está escrito sauna.
Ele abre a torneira da banheira.
– O que você acha de tomarmos um banho aqui? – ele diz com
seu olhar intenso.
– Eu vou adorar. – Caminho vagarosamente em sua direção, e
me angustio com a forma que ele me olha, acho que faz quatro anos
que não sinto alguém me desejando tanto, isso é bom, mas me
assusta.
– Vem, minha deusa! – Ele estende a mão para mim.
Oiii???
Ele me chamou do que?
Deusa?!
Acho que estou sonhando.
Abro um sorriso imenso, escancarado, porque isso é bom
demais.
Ele está dentro da banheira, entro junto com ele e logo sou
abraçada e beijada, de uma forma que não me lembro de ter sido
nos últimos quatro anos.
– Vem, Jack. – Ele se senta na banheira, abre suas pernas, e me
encaixo no meio delas, de costas para ele, mas logo sinto seus
braços ao redor da minha cintura, beijos em meu pescoço.
Esse homem é bom demais!!!
– Você fala pouco, Jack! – ele diz em meu ouvido, mordendo e
lambendo minha orelha.
– Eu já disse que sou uma italiana falsificada! – respondo de
olhos fechados.
– Eu não acho que você seja falsificada, mas se for, eu adorei a
falsificação, é perfeita! – Ele sorri contra meu ouvido. – Acho que
estou acostumado com mulheres que falam demais.
Olho de lado para ele.
– Sobre o que você quer que eu fale? – Ele coloca meus cabelos
molhados atrás da orelha.
– Sobre você, sua família, quero te conhecer – ele diz com
aquele jeito que o diferencia do advogado, o deixando mais parecido
com um ser comum, e acessível.
– Oh, você quer saber desde o momento da minha concepção?
– Brinco.
– Tudo bem, mas pule a parte do coito, essas coisas! – ele diz
divertido.
Me viro de lado, porque gosto de olhar para ele, para esses
olhos cinza.
– Tudo começou... – E começo a contar a história da minha
família de forma divertida, porque gosto de fazer isso, afinal meus
pais tiveram um romance escondido da família. Um dia os dois se
encontraram numa sorveteira, se apaixonaram, e então nove meses
depois eu nasci.
– Sua mãe se casou grávida? – ele pergunta horrorizado.
– Oh, não faça essa cara, eles se apaixonaram, tiveram uma
tórrida tarde de amor, e nove meses depois, euzinha nasci. Gloriosa
minha história, não? – falo divertida.
– Seus pais eram bem saidinhos para aquela época! – ele diz
rindo. – Meus pais demoraram um pouco mais para consumar o
casório, só nasci depois de um ano.
– Oh, que perda de tempo! – falo rindo.
– Perda de tempo somos nós dois conversando! – Ele me olha
com aqueles olhos de predador.
– Você é bipolar?! Nosso papo estava tão divertido! – Faço um
bico.
– Não sou bipolar, mas ficar numa banheira com uma mulher
como você mexe com meu juízo, estou tentando ser simpático, mas
meu amigo já está pronto para a segunda rodada faz tempo.
Me viro de frente para ele, passando minhas pernas entre as
suas.
– Ok, estou pronta para o segundo round, depois a gente
conversa – falo decidida, porque se há uma coisa que não nego, é
fogo, e depois de anos de secura, esse homem veio bem a calhar,
vou matar toda a minha sede nele, e quando ele se cansar de mim,
pelo menos terei aproveitado ao máximo desse corpinho
maravilhoso.
Ele sorri, segura meu rosto entre suas mãos e enfia aquela
língua gulosa em minha boca.
Lembro que estou devendo a ele um sexo oral, afinal ele disse
que queria ver minha boca em seu pau.
Então, vamos ao que interessa.
Saio de seus beijos, desço meus lábios por seu pescoço, o
beijando.
– Hum, Jack, essa boca é uma delicia! – Ele diz de olhos
fechados, ronronando feito um gato.
Continuo com minha tortura, beijo e mordo seu tórax, e aproveito
para passear minhas mãos em seus pelos macios, ele é muito
másculo.
Tudo bem que quero torturá-lo, mas a tortura é dupla, porque o
cheiro dele me deixa louca, não vejo a hora de chegar a sua área de
lazer.
– Jack, vamos logo com isso, você está me matando – ele diz
segurando meus cabelos, os puxando de leve, levanto minha
cabeça e sorrio para ele.
Finalmente cheguei onde queria, seguro seu membro entre
minhas mãos e começo a massageá-lo e lambe-lo, e isso é uma
delícia, ele é uma delícia de homem.
Abocanho aquela coisa grande e gostosa, e me farto, ele é bom
demais, mas ele não me deixa levá-lo ao orgasmo, logo sinto seus
dedos em meus cabelos os puxando.
– Sobe nele, Jack, eu quero te ver engolindo meu pau! – ele diz
com uma cara de desejo que me enlouquece.
– Você que manda, chefinho! – Brinco com ele, me encaixo em
sua ereção, e quase grito de prazer, ele é muito gostoso.
Novamente sua mão grande segura meus cabelos e traz meu
rosto para junto do seu, então aqueles olhos lindos me encaram, e
ele diz:
– Aqui não sou seu chefe, somos só Rui e Jackeline! – ele diz
sério.
– Desculpe, era só uma brincadeira – falo constrangida, eu tenho
essa mania de falar merdas, não sei por que não paro com isso.
– Não precisa pedir desculpas, só vamos deixar as coisas claras,
está bem? – Ele morde meus lábios de uma forma muito excitante.
– Tudo bem, não vou mais te chamar assim – digo de olhos
fechados, me mexendo vagarosamente em sua ereção.
– Pode me chamar de chefinho no escritório... – Ele me olha e
sorri, e volta a beijar meu pescoço, e vai descendo sua boca
deliciosa para meus seios, e os abocanha guloso. – Seus peitos são
maravilhosos, Jack. – Ele os suga e eu ofego de prazer. – Você é
toda gostosa. – Ele suga meus seios, aperta meu bumbum entre
suas mãos aumentando nossos movimentos.
Sinto aquele formigamento, aquela sensação deliciosa se
aproximando, e à medida que aumenta, gemo alto.
– Rui, ah, oh, continua! Ahhh, huuummm, eu vou gozar, Ruiii!!!
– Goza pra mim, gostosa! Isso, grita, Jack, adoro te ouvir
gritando – ele diz enquanto me contorço de prazer.
– Cacete, Rui, você é bom nisso!!! – digo com a respiração
descompassada, abraçada a esse homem que é bom demais.
– Vamos mudar a posição, Jack! – ele diz ao mesmo tempo em
que me levanta, me colocando de joelhos na banheira, e me
penetrando por trás.
– Ahhh! – Grito ao senti-lo me preencher com seu negócio
enorme.
Seu corpo bate ruidosamente contra meu traseiro, me levando
até as nuvens.
Pai do céu, esse homem é muito viril, quente, e eu gostaria de
nunca mais sair do seu quarto.
Em segundos meu parceiro está gemendo e urrando de prazer.
– Caralho, Jack, você é muito gostosa! – Ele me aperta em seus
braços, me fazendo sentir uma sensação de plenitude, que vai além
do clímax.
– Quer conversar agora? – Olho para ele que gargalha.
– Acho que agora não – ele diz sem fôlego. – A gente termina o
banho, se veste e desce, e enquanto eu preparo algo para a gente
comer, você continua com suas histórias. – Ele se levanta, estende
sua mão para mim, e nos tira da banheira.
– Fizemos uma bagunçinha mais ou menos aqui! – falo olhando
para o banheiro boiando em água.
– Foi você, Jack! – ele diz com um sorriso divertido.
Entramos embaixo da ducha.
– Teremos algumas horas de intervalo, depois voltamos para
terceiro round – ele diz ensaboando meus cabelos.
– Sério, está tudo cronometrado? – Brinco. – Assim você me
assusta!
Ele me olha e sorri.
– Tô brincando, Jack! – Ele me coloca embaixo da ducha, e é tão
adorável seu jeito. – Mas, é mais ou menos isso mesmo!
Abro os olhos e o vejo rindo.
Capítulo 24
JACKELINE BARTOLLI
Desço as escadas acompanhadas do Rui, eu vestida em uma
camisa dele que me cobre como um vestido longo, ele com seu
tórax estupidamente lindo a amostra, e uma bermuda, ele está
completamente relaxado.
Seu mascote corre enlouquecido em nossa direção.
– Oi, Bóris! Sem beijos, tá? – Aliso o pelo macio de sua cabeça.
– Vem, Jack, você fica sentadinha enquanto banco o mestre
cuca – ele diz pegando em minha mão e me puxando para a
cozinha com ele.
Me sento em uma cadeira.
– Eu posso te ajudar, posso lavar, cortar, o que você acha? –
digo me aproximando dele.
– Por enquanto, não precisa. Fica quietinha, e dá atenção para o
Bóris, ele precisa de muita atenção, esse bicho anda muito esquisito
depois que te conheceu! – Ele me olha e sorri, e fico o observando
abrindo armários, pegando coisas.
– O que vamos comer? – pergunto apenas para curiosidade.
Enquanto converso com ele, aliso o pelo do meu novo amigo, ele
realmente gosta de mim.
– Surpresa, mas você disse que gosta de qualquer coisa, então
jiló com nabo, deve ser gostoso para você! – Ele me olha e sorri.
– Urgh, eu gosto de muitas coisas, mas jiló e nabo é comida de
passarinho e coelho. Aceito uma saladinha. – O Bóris coloca as
duas patas no meu colo e fica me olhando, sorrindo. – Ele está
muito carente, Rui, você não dá atenção para ele.
– Oh, Jack, você não conhece esse cara, ele é um puto de um
safado, só está fazendo isso porque você dá bola pra ele, ele não é
assim, só quando você está aqui. – O Rui olha para o cachorro
sério. – Ele estava de castigo, o tirei recentemente, mas vai voltar,
até que melhore seus modos.
Enquanto ele fala, ele olha para o Bóris, que faz cara de
coitadinho, parece que ele entende tudo que o dono fala.
– Não liga para ele, Bóris, eu te entendo. É duro passar o dia
sozinho, né? – Faço cara de boazinha, segurando seu focinho para
ele não me lamber.
– Então, Jack, como você conheceu o... – Ele me olha de lado.
– O Renato? – Ele balança a cabeça afirmativamente.
– Na faculdade, ele cursava Contabilidade e eu Psicologia. –
Dou uma pausa, repenso nossa história. – Nos víamos sempre na
lanchonete, mas ele era muito tímido, até que um dia eu puxei papo
com ele e assim nos conhecemos. – Olho de canto de olho para o
Rui, mas ele não diz nada, aliás, já percebi que ele não gosta que
eu fale do Renato, mas então, porque a pergunta?!
– Você nunca desconfiou da sexualidade do cara? – Novamente
aquele olhar de canto de olho, ele fica bravo quando falamos desse
assunto.
– Acho que sou um pouco desligada, ele é um cara tímido,
sempre foi, talvez isso me deixasse um pouco confusa – falo
absorta em meus pensamentos.
– Você sabe que é muito comum homens se casarem com
mulheres, e ainda assim manterem relações homossexuais? Eu
conheci um juiz que tinha uma família, filhos, mas ele dava em cima
de mim descaradamente! – Ele me olha, arregalo meus olhos
assustada.
– Nossa, que absurdo! – falo assustada.
– Talvez esse fosse o plano do seu amiguinho, ele iria te levar
em banho-maria, uma trepada por mês, fariam um ou dois filhos,
mas ele continuaria comendo uns caras por aí – ele diz ríspido.
– Rui, não precisa falar assim, eu já entendi, parece que você
quer que eu tenha ódio dele! – falo incomodada.
Ele vira de frente para mim e me encara sério.
– Eu quero que você enxergue, Jack, esse tipo de cara é filho da
puta. Ele até pode construir uma família com uma mulher, mas
continuará tendo relacionamentos homossexuais fora do
casamento.
– Eu sei, eu já ouvi muitas histórias. – Ele me olha de lado.
– Então não dê chance para ele se reaproximar de você, pois ele
tentará se aproveitar do seu lado emocional. – Ficamos nos
olhando, inspiro com força, viro minha cabeça de lado e pergunto:
– Porque você está tão preocupado com isso? – Ele me olha
surpreso, volta sua atenção para o que está fazendo.
– Porque gosto de você, quero seu bem, é isso. – Ele dá de
ombros.
Levanto e me aproximo dele, passo minha cabeça por baixo do
seu braço, me encaixo entre ele e a pia, e o encaro.
– Obrigada por se preocupar comigo! – Seguro seu rosto entre
minhas mãos e o beijo suavemente, sem pressa, nem desespero,
porque é bom demais beijar ele.
Logo seus braços me envolvem e me apertam contra seu corpo,
contra sua ereção.
– Não consigo me saciar de você, Jack – ele diz em meio ao
nosso beijo, que era calmo e gentil, mas que se tornou urgente e
desesperado.
Ele pega em meu bumbum e me levanta em seu colo, sinto algo
gelado contra a pele do meu traseiro, ele me colocou sobre a pia.
Sua boca me engole, suas mãos entram por debaixo da minha
camisa, acariciam meus seios, descem pela minha cintura,
acariciam minhas costas, meu bumbum, depois minhas coxas, ele
afasta minha calcinha e me penetra gentilmente, lentamente e
deliciosamente. Gemo de prazer, ele morde meus lábios, eu enfio as
unhas em suas costas e chego ao quarto orgasmo do dia, seguida
por ele.
– Caralho, Jack, isso foi bom demais! – ele diz sem fôlego. – Acho
que vou ter que te deixar na sala. Aqui, junto comigo, não vou
conseguir fazer nada! – ele diz sorrindo.
Encaro seus olhos, é tão bom ficar com ele, e tenho medo disso.
Então, apenas sorrio, dou um beijo rápido em seus lábios e desço
da pia.
– Então tá, eu vou me sentar lá fora, ver se hoje a lua está como
naquele dia. – Faço um tchauzinho com os dedos.
Vou até o banheiro, depois sigo para sua área externa, e sou
presenteada com a lua mais linda que já vi.
– Aqui é mágico! – Olho para o céu, lotado de estrelas, com uma
lua redonda e iluminada.
Me sento em uma espreguiçadeira e me delicio com a sensação
maravilhosa que o Rui causa em mim.
Eu o conheço há alguns dias, mas foram o suficiente para me
proporcionar os melhores momentos que já vivi nos últimos tempos.
****

Estou com as pernas dobras contra meu peito, cobrindo minhas


pernas com sua camisa, a noite está bonita, mas um ventinho frio
sopra me deixando toda arrepiada.
Estou há alguns minutos aqui, eu e o Bóris. O abraço junto a
mim.
– É bom aqui, não é, Bóris? – Olho de lado para ele, que me
olha com aquela cara linda.
Sinto um beijo em meu pescoço, desperto de meu
enfeitiçamento.
– Nosso jantar está pronto! – O Rui me olha em pé a minha
frente.
Sorrio para ele, afasto meus braços do Bóris e desço da
espreguiçadeira.
Fico em pé, o Rui passa seus braços pela minha cintura e me
olha, seus olhares são quase sempre enigmáticos, ainda o conheço
muito pouco.
– Você estava pensando em que? – ele diz com aquele olhar
incisivo.
Passo meus braços por seu pescoço, e o olho de lado.
– Alguém já te disse que você é bem enxerido?!
Ele dá uma risada deliciosa.
– Não, acho que não. Não que eu saiba. – Ele controla seu riso.
– Mas, por que sou enxerido? – Ele faz uma careta.
– Porque você está sempre querendo saber tudo, eu tenho meus
segredos, não posso te contar tudo, mal nos conhecemos! – falo
intrigada.
– Então você vai pra cama com um desconhecido?! – Ele diz
irônico.
– É, de certa forma sim, mas nos conhecemos há uma semana,
já sei que você não é nenhum maníaco, ex-presidiário... – falo em
tom de brincadeira.
– Entendi. – Ele balança a cabeça. – Tá bom, Jack, vamos
jantar. – Ele tira suas mãos de minha cintura, pega em minha mão e
me encaminha para dentro do apartamento.
Olho para a mesa de jantar e me surpreendo. Às vezes, parece
que o Rui lê mentes, ou minha descrição no site de
relacionamentos. A mesa está posta com um castiçal no meio, os
pratos foram colocados em cima de descansos de mesa, os talheres
estão postos como num restaurante, assim como taças de vinho, ele
é muito perfeito em tudo.
– Você é romântico, Rui? – falo me sentando na cadeira que ele
puxa para mim.
Ele me olha com os olhos semicerrados.
– Não muito, Jack – ele diz com uma expressão engraçada.
– Acho românticos castiçais e velas, quero dizer, jantar à luz de
velas é muito romântico.
– Eu leio pensamentos, e sei que você gosta disso, toda mulher
gosta. – Ele segue até a cozinha.
Eu preferia ouvir que ele fez isso especialmente para mim, mas
vou me contentar com o fato dele pensar nisso, e tornar nosso jantar
mais interessante.
– Quer que eu te ajude? – pergunto sentada, olhando para a
cozinha.
– Não precisa – ele diz em voz alta.
Em alguns minutos ele retorna com dois pratos em suas mãos, a
comida já está posta no prato, como num restaurante, tudo
bonitinho, sorrio encantada com seu capricho.
– Oh, que prato mais bonito, isso dá mais fome, sabia? – digo
sorrindo para ele.
– Tenho que confessar que estou tentando te impressionar, não
costumo fazer isso! – ele diz sorrindo.
– Então, tenho que agradecer. – Me levanto da cadeira, dou a
volta na mesa sob seu olhar atento, me sento em seu colo e o beijo
delicadamente. – Obrigada pelo capricho, por tudo, estou
encantada! – falo encarando aqueles olhos sedutores.
Ele não diz nada, mas me beija de novo, daquele jeito delicioso,
mordendo meus lábios, acariciando minhas coxas.
Oh, meu Deus, assim eu não vou aguentar. – Penso excitada.
– Rui, a gente não deveria jantar primeiro? – Sussurro sentindo
seus beijos em meu pescoço, e suas mãos acariciando meus seios.
Ele volta a me olhar, seus olhos estão em chamas.
– Deveríamos! – Ele arruma meu cabelo atrás de minha orelha. –
Então, volta para sua cadeira, você que veio me provocar – ele diz.
– Tá! – Me levanto vagarosamente. – Depois a gente continua. –
Mordo meus lábios, e ele tenta me puxar de novo para seu colo,
mas fujo dele. – Depois... – falo rindo.
– Você é uma menina muito má, Jack! – ele diz com seu jeito de
predador.
– Não sou, não, sou bem boazinha! – Faço charme. – Ok,
preciso dar minha nota para esse prato. – Coloco uma garfada em
minha boca, fecho olhos e me delicio. – Hummm, Rui, que delícia! –
Olho para ele, que está rindo.
– Esse prato é congelado, Jack, a empregada que faz e deixa
pronto para mim, eu não fiz nada, só esquentei, e arrumei no prato.
Relaxo meus ombros.
– Ai, que decepção! – Faço uma careta.
– Oh, mas eu arrumei direitinho, não arrumei? – Ele faz carinha
de coitadinho.
– Sim, ficou muito bonitinho! – Olho de lado. – Eu iria até aí te
dar mais um beijinho, mas não posso... – De novo faço charme.
Ele sorri torto.
– Quer que eu vá até você? – Ele finge afastar a cadeira.
– Depois... – Faço charme de novo. – Ok, então me deixe provar
a comida da sua empregada. – Faço cara de decepcionada.
– Um dia desses eu faço uma comida para nós dois, hoje eu
estava com preguiça, trabalhei demais agora a noite, sabe? – Ele
me olha sobre os cílios, entre uma garfada e outra.
– Sei, você trabalhou demais... – Brinco.
Terminamos de jantar num clima delicioso, clima de paquera, eu
fazendo charme para ele, e ele para mim.
Fazia tempo que eu não usava minhas armas de sedução, quero
dizer, eu até usava, mas não surtia efeito.
Finalizo minha taça de vinho.
– A comida estava ótima, diga a sua empregada que ela está
aprovada. – Pego meu prato e sigo para a cozinha, mas ele me
agarra pela cintura e tira o prato da minha mão.
– Eu faço as honras da casa, a única coisa que você irá fazer
aqui hoje é sexo comigo!
Caramba, ele é bem diretinho.
O acompanho com o olhar, ele deposita os pratos na pia, volta
em minha direção.
– Vamos subir? – ele diz.
Balanço a cabeça afirmativamente, naquele estado letárgico que
fico perto dele.
Subimos as escadas, entramos em seu quarto e ele não perde
muito tempo, me agarra pela cintura e começa uma nova sessão de
beijos.
– Rui, você já ouviu dizer que sexo depois de comer pode dar
indigestão? – falo meio gemendo e meio sussurrando, porque
aquelas mãos dele me enlouquecem, assim como sua boca que não
para de me beijar.
– Nunca soube de ninguém que morreu desse jeito. – Ele me
leva para cama.
– Ahhh! – Gemo sentindo um dedo dele me penetrar. – Eu
também não, Ruiii!!! – Ele enfia um segundo dedo.
– Está com medo de morrer, Jack? – ele fala e me beija junto.
– Não, mas eu não quero que você morra.
Oh, meu Deus, por que eu falei isso?
Ele para de me beijar e me olha, sorrio para disfarçar.
– Me beija, Rui. – Puxo seus cabelos, fazendo com que sua boca
tome novamente a minha.
– Eu não vou morrer numa trepada, minha deusa. – Ele morde
minha orelha.
– Oh, que bom! – Sussurro embriagada por suas carícias. – Eu
estava gostando dos seus dedinhos, Rui... – Mordo a orelha dele.
Acho que o assustei, e ele me esqueceu, então achei melhor
avisá-lo, porque estava bom demais aquilo.
Ele me olha e sorri.
– Tudo bem. – Ele enfia dois dedos dentro de mim e ofego de
prazer. – Goza para mim, minha deusa.
E ele me faz gozar daquele jeito, me beijando e me excitando
apenas com seus dedos.
Esse homem entende tudo de sexo, ele é um professor.
– Assim, Rui!!! – Fecho os olhos e me entrego à sensação de
prazer que ele me causa. – Oh, Rui. – Ofego de prazer. – Oh, que
delícia.
– Você que é uma delícia, Jack! – E antes que eu possa me
recompor do meu orgasmo, ele me penetra, e me enlouquece de
novo.
Seu corpo se choca contra o meu ruidosamente, gememos de
prazer e ele chega ao orgasmo, e grita meu nome ensandecido.
– Oh, Jack!!! Hum, minha delícia.
Ele dá as últimas estocadas e desaba sobre mim, segurando
minhas mãos acima de minha cabeça, bem estilo dominador.
– Foi demais, Jack... e eu não morri! – Ele se apoia em seus
cotovelos, me olha e sorri.
– Que bom, né? – falo em tom de gozação.
Acaricio seu rosto, seus cabelos, eu adoro ficar olhando para ele.
– Você é demais, sabia? – falo e me arrependo, estou
levantando muito a bola desse cara.
– A mulherada não reclama – ele diz com cara de cafajeste.
– Oh, eu sabia que você diria algo do tipo, mas na verdade, eu
só queria te agradar, não é que você seja aquela BRASTEMP! –
Uso uma entonação diferente, mais engraçada.
– Não adianta disfarçar, Jack! – Ele vira de lado. – Agora o elogio
já foi feito! – Ele acaricia meus cabelos. – Você não gosta de
cabelos longos? A maioria das mulheres gosta – ele diz passeando
seus dedos pelos fios.
– Dá muito trabalho, sou uma mulher prática. – Faço uma careta.
– Eu gosto do seu estilo, simples, mas linda!
Sorrio, talvez eu tenha ficado vermelha, senti as bochechas
esquentarem.
– Obrigada! – Levo minha mão até seu peito, é tão gostoso ficar
acariciando seus pelos macios, ele tem um tórax delicioso, daqueles
que dá vontade de passar o dia deitada.
– Estou cansado, Jack. – Ele boceja. – Agora é de verdade! –
Ele se ajeita no travesseiro. – Vem cá. – Ele me puxa para junto do
seu peito, e eu faço o que eu mais queria, enfiar meu nariz em meio
aos seus pelos, ele é tão cheiroso.
– Boa noite, Rui. Adorei nossa noite juntos.
Ele leva minha mão até seus lábios e a beija.
– Eu também. Boa noite.
Fecho meus olhos e desmaio, esse homem acabou comigo.
Capítulo 25
JACKELINE BARTOLLI
Osom de um alarme abafado me desperta e me dou conta que
é o som do meu celular.
Abro os olhos, estou tonta de sono.
Estou dormindo encolhida nos braços desse homem incrível, foi
bom demais passar a noite com ele, na verdade tudo que envolve
ele é bom, dormir junto foi só o aperitivo.
Me levanto sonolenta, sigo até minha bolsa que ficou sobre um
móvel e desligo o alarme. Não sei a que horas ele acorda, mas vou
relaxar, estou com meu chefe, não poderia ser melhor.
Entro em seu banheiro, fizemos a maior bagunça, gostaria de
arrumar isso, mas não sei onde fica nada em sua casa.
Fecho os olhos, faço meu xixi, e volto para a cama, quero
aproveitar mais desse corpo quente e gostoso.
Me encaixo novamente em seu peito, beijo delicadamente seus
lábios, e sinto aquele friozinho no estômago.
Eu não quero me apaixonar por ele, mas vai ser difícil.
Ele dorme tranquilo, não percebeu meu beijo, então me aninho
em seu peito, deposito beijos em seu tórax, e fico ali até o sono
voltar.
Não sei quanto tempo dormi, mas novamente ouço um barulho
de alarme de celular. Sinto um corpo quente em minhas costas,
seus braços fortes estão me envolvendo, e isso é gostoso demais.
Ignoro o alarme, é o dele, então ele que tem que acordar.
Ele se mexe, tira seus braços do meu corpo, desliga o alarme e
volta a me abraçar.
– Mais 15 minutos, Jack. – Ele beija meu pescoço, e aperta seus
braços ao redor do meu corpo.
Eu adoro isso, dormir aninhada ao homem que a gente...
Ops, não posso dizer isso, eu ainda não o amo, só estou
encantada, enfeitiçada.
Ficamos mais alguns minutos, 15, como ele disse, e o barulho de
alarme volta.
– Odeio alarme, Rui. – Reclamo.
– Eu também, Jack. – Ele me aninha mais ao seu corpo, sua
ereção roça meu bumbum, acho que é de propósito, ele fica
mexendo com seu membro, sorrio, ele parece aqueles garotões
bobos.
– Rui, pare com isso. – Resmungo.
– Eu não tenho culpa, Jack. – Ele ri contra meus cabelos. – Sou
assim de manhã.
– Você é assim o dia inteiro! – Sorrio, mas confesso, sou mal-
humorada de manhã. – Rui, sou mal-humorada de manhã.
– Eu sei como acabar com seu mau humor, Jackeline. – Ele me
puxa para olhá-lo, e invade minha boca sem maiores cerimonias.
– Eu também não gosto muito de beijar antes de escovar os
dentes. – Desvio meus lábios dos seus.
– Você é bem mal-humorada, Jack! – Ele começa a descer seus
beijos pelo meu pescoço, acaricia meus seios com suas mãos, de
repente sua língua passeia pelas minhas alreolas. – Tá melhorando,
Jack? – ele diz roçando seu pau no meio das minhas pernas.
– Um pouco. Você precisa se esforçar mais, Rui. – Me esfrego
em sua ereção. – Talvez se ele estivesse dentro de mim eu
melhorasse rapidamente. – Sorrio.
– Você é bem safada, Jack! – Ele me olha e me penetra. – Assim
que você quer?
Fecho meus olhos, porque eu adoro quando esse homem me
penetra.
– Oh, Rui, é, é assim mesmo! – Ele se movimenta
vagarosamente, ao mesmo tempo em que suga meus seios, numa
tortura deliciosa.
– Passou o mau humor, Jack? – Ele morde minha orelha, passa
sua língua pela aureolo.
– Acho que sim, preciso gozar primeiro.
Oh, meu Deus, por que estou falando assim?!
Ele dá risada, numa cena muito engraçada, como ele consegue
transar e rir ao mesmo tempo?
– O que está faltando para você gozar, minha gostosa? – Ele
beija meu pescoço, me morde, me suga.
– Eu gosto quando você faz bem forte, Rui! – falo em seu ouvido.
– Então eu vou fazer como você gosta! – Ele dá uma estocada
forte, me fazendo gritar. – Assim, minha gostosa? – Ele morde meus
lábios.
– Isso... continua! – Agarro em seus cabelos e o beijo-o
desesperada, e à medida que ele aumenta seus movimentos, gemo
de prazer, até finalmente chegar ao clímax. – Eu estou gozando,
Rui... Hum, ahhh, ohhh, Rui...
– Agora sou eu, minha deusa, eu vou gozar bem gostoso em
você... – Ele para. – Ahhh, Jack... Oh, caralho... Porra, que delícia!
Ele abre os olhos, nos encaramos alguns segundos, puxo seu
rosto para o meu e o beijo.
Fazer sexo com esse homem é incrível, estou viciada nele.
– Foi delicioso, Rui, fazer sexo com você é delicioso!
– Com você também. – Ele me dá um selinho. – Que pena que
não podemos passar o dia transando, seria muito bom, você não
acha? – ele diz com seu jeito de cafajeste.
– Oh, seria incrível, mas eu tenho um trabalho, não sei se meu
chefe entenderia se eu dissesse que faltei para transar com um cara
muito gostoso e durante o dia todo.
Ele dá risada.
– Ele iria entender, tenho certeza que sim! Vamos tomar banho,
está muito bom aqui, mas tenho um calhamaço de processos para
analisar. Essa minha profissão é uma merda, Jack! – Ele se levanta,
estende sua mão para mim, me levanto com ele. – Você usa pílulas,
né, Jack?
Ele me olha de lado.
– Oh, não, precisamos disso? Pensei que você tivesse feito
vasectomia – falo com ironia.
Ele sorri.
– Eu deveria ter perguntado isso antes, eu sei disso, mas você
tinha um relacionamento antes, então... – Ele me olha sério.
– Eu uso pílulas, Rui, mas se você quiser usar camisinha, tudo
bem! – Abaixo meus olhos, e me vem um pensamento. – Você
costuma sair com mais de uma garota, quero dizer, você está saindo
com outra pessoa, além de mim?
– Não! – Ele disfarça, entra embaixo da ducha.
– Se você tem o costume de fazer isso, seria bom que você
usasse camisinha, eu não gostaria de pegar doença de outra
mulher.
Ele franze sua testa.
– E você, tem a intenção de sair com outros caras? Talvez eu
também precise me preocupar.
Oh, esse papo está azedando o clima, eu sou mestre em fazer
isso, tenho uma boca maldita.
– Eu não gosto disso, não sei se você se lembra, mas eu disse
que não gosto de sexo sem relacionamento, eu sei que não temos
um relacionamento, e provavelmente você sairá com outras garotas,
então...
– Porque você tem tanta certeza que sairei com outras garotas?
O que você sabe de fato sobre mim, Jack?! – Ele me olha bravo.
– Não sei nada, só o que falam de você, e você tem uma
péssima reputação entre as mulheres.
Ele ergue suas sobrancelhas e balança a cabeça, parece
indignado.
Aproximo meu corpo do dele, pego o sabonete líquido e começo
a passar pelo seu corpo.
– Rui, me desculpa, eu sou muito sincera, sempre falo o que
penso.
Ele me olha sisudo, o vão entre olhos franzidos.
– Eu já percebi.
– Me desculpa se falei alguma bobagem, tá? – Busco seus
olhos.
Ele me olha de lado.
– Tá!
– Quer que eu ensaboe você? – pergunto espalhando espuma
pelo seu peito, descendo para sua barriga.
– Você já está fazendo isso! – Ele tenta segurar um sorriso.
– Estou, mas sem sua permissão. – Olho lânguida para ele, não
quero aborrecê-lo, eu sei que ele terá outras garotas, não vou me
fingir de tonta, e não quero que ele me engane.
– Ok, permissão dada, Senhorita Jackeline Franca da Silva. –
Ele sorri debochado.
– Melhor assim, gosto de ver seu sorriso, ele é tão bonito, sabia?
– Olho abobada para ele, não me importo de enchê-lo de elogios.
Tenho como meta de vida ser feliz, falar e fazer o que se passa
em minha cabeça, não quero ter travas, inibições.
É claro que não sou perfeita, mas prefiro fazer e falar o que
penso e o que tenho vontade, do que me arrepender.
Um dia tudo isso vai passar, voltaremos a ser estranhos, assim
como aconteceu com o Renato, mas enquanto houver essa magia,
eu quero aproveitar, falar tudo que sinto, penso, sem fingimentos ou
falsidades, sou muito verdadeira, sempre fui, acima de tudo.
Passo o sabonete por sua pele, vez ou outra olho para ele, e já
percebi o quanto ele é transparente.
– Desculpa, Rui, não queria te deixar zangado. – Ensaboo seu
pescoço, seus ombros.
– Eu não estou saindo com ninguém além de você, Jack. – Ele
me olha seriamente.
– Ok! – Dou a volta em seu corpo, passo minhas mãos pela pele
de suas costas, elas são tão largar e fortes. – Você me avisa se isso
acontecer?
Fecho os olhos e seguro o ar.
– Aviso – ele responde.
Desço minhas mãos pela lombar, passo suavemente minhas
mãos por suas nádegas.
Oh, ele é tão perfeito!!!
Ele ri.
– Tudo bem eu ensaboar seu bumbum? – Me esgueiro e apoio
meu queixo em seu ombro.
– Você não existe, Jackeline! – Ele ri.
– Ruiii! – O chamo novamente.
– Oh, Jack, tenho calafrios quando você me chama assim!
Volto a ficar em frente a ele, ensaboo seu rosto, fazendo uma
barba com a espuma, e sorrio com minha brincadeira.
– Quando você se cansar de mim você vai me dispensar?
Ele fecha os olhos e olha para cima.
– Jack, dá um tempo, que monte de merdas que você está
falando! – Ele bufa.
– Eu só falo o que penso! – falo emburrada. – Eu não trabalho
por hobby, desde que te conheci quis ficar com você, e só não fiz
isso porque você era meu chefe, mas, enfim, estamos aqui, eu
posso procurar outro trabalho se você achar melhor.
– Jack, por favor, vamos parar com essa conversa! Caralho,
você é bem complicada.
Me afasto dele.
– Ok, nunca mais falarei sobre meus medos e preocupações,
serei falsa e dissimulada com você, fingirei que não sei como
funcionam as coisas e agirei por suas costas.
Ele fecha os olhos de novo.
– Eu entendo seus medos, de verdade, mas não precisa ficar
pensando nisso, eu não vou te demitir, quero dizer, se você fizer
uma grande merda eu vou te demitir, mas não assim, do nada.
– Rui, eu não sou uma mulher chata, sou só sincera, nunca mais
falarei sobre essas coisas com você!
Ele segura meu rosto entre suas mãos e me beija suavemente.
– Você assusta o cara que você conhece dizendo essas coisas,
Jack. Não pode falar tudo de uma vez, fala aos poucos! – ele diz e
ri.
– Doutor Rui, você nunca poderá me chamar de falsa,
dissimulada ou traidora, sou um livro aberto, para o bem e para o
mal. – Sorrio.
– Eu gosto do seu jeito! – Ele beija suavemente meus lábios. –
Você me enerva um pouco! – Ele beija os cantinhos da minha boca.
Sinto seu membro rijo contra minha barriga, seguro entre minhas
mãos e o fricciono delicadamente.
– Hum, Jack, você me deixa louco! – ele diz engolindo minha
boca.
– Eu quero te dar prazer, Rui! – Me separo de seus lábios, ele
me olha profundamente, me agacho a sua frente e o levo ao
orgasmo.
Ele me traz para junto dele novamente.
– Eu vou fazer em você também – ele diz me beijando, em
seguida se agacha, e me leva a loucura com sua língua bendita.
Ele volta a me abraçar, beijar, acariciar, e isso é bom demais.
– A gente precisa ir, Jack. – Ele me beija de novo.
– Eu sei, posso terminar de tomar banho? – falo rindo, porque
ele me prensou em seus braços longos e fortes, não consigo fazer
nada se ele não me soltar.
– Eu devo te soltar, é isso? – ele diz rindo.
– Sim, talvez fosse bom, eu poderia me ensaboar, lavar meus
cabelos – falo irônica.
– Então, eu vou fazer isso, confesso que gostaria de passar o dia
aqui com você. – Ele se afasta de mim. – A gente pode fazer isso
um dia desses, vamos trabalhar em casa, assim quando a gente
cansar, a gente transa, vai ser bem divertido – ele diz com sua cara
de safado.
– Sei, sei... – Brinco ensaboando meus cabelos, e os dele em
seguida.
Mais alguns minutos e terminamos o banho.
Ele segue para seu closet, pego minha roupa de ontem e a visto.
Não gosto de usar dois dias seguidos a mesma roupa, mas não
posso nem cogitar ir para casa, ele não irá gostar.
Ele sai do seu closet vestido, lindo demais.
– Eu andei analisando seu guarda-roupa, e estou curiosa, você
tem um terno para cada dia da semana, ou para o mês todo? –
pergunto divertida.
Ele entorta seus lábios.
– Tenho muitos ternos, Jack. Nunca contei, mas é difícil eu
repetir o mesmo terno. – Ele sorri.
– São todos lindos, você tem muito bom gosto! – digo sincera.
Ele me olha de lado.
– Obrigado, você me acostuma mal, sabia? – Ele ajeita seu
terno. – Você está sempre me elogiando.
– Sou sincera, lembra? – Arrumo a gola que está virada, e o
admiro. – Você está muito gato.
Ele dá risada.
– Você também! – Ele segura meu rosto e me beija. – Vamos até
aquela loja que te levei aquele dia, para comprar uma roupa nova
para você. – Ele sai andando para a porta.
– Rui, por favor, não! – Imploro.
Ele olha para mim.
– Vamos, Jack, a gente vai tomar café da manhã antes de sair.
****

A mesa de jantar está arrumada, alguns pães, geleias, frios,


recipientes com leite e café.
– Se senta aqui, Jack! Vou pegar mais uma xícara, a Dona Jô
não sabe que tenho visita. – Ele pisca para mim.
Logo ele volta junto com uma mulher com a pele morena jambo,
ela é muito bonita, veste um vestido preto com faixas brancas, é alta
e magra, parece uma modelo.
– Bom dia! – A cumprimento.
– Olá, bom dia! – ela diz simpática, e começa a servir o leite para
mim. – Com café?
– Sim, obrigada.
– Jô, essa é a Jackeline, ela trabalha comigo, você conversou
com ela por telefone – ele diz se servindo.
– Ah, é verdade, obrigada pela ajuda! – falo meio constrangida,
agora ela vai saber que o chefe come a secretária.
– Deu tudo certo? – ela diz solícita.
– Sim, logo, logo, ligo para você para acertarmos os detalhes –
falo rapidamente.
– Então está bom. – Ela olha para o Rui. – Doutor Rui, se o
senhor precisar de mim, estarei na cozinha.
– Ok, obrigado – ele diz educado.
Tomo o café com leite, como um pãozinho maravilhoso, parece
feito com cenoura, ou mandioquinha. Se fosse por minha
espontânea vontade eu comeria a cesta toda, isso é bom demais,
mas aí me lembro da meta dos 10 quilos, e pego um só.
Vejo o lanchinho generoso que o Rui prepara para ele e fico com
inveja, nada como ser homem, não ter celulite, estrias e gordura
localizada.
Deus tinha algo contra as mulheres, tudo de ruim ficou para nós,
não é justo isso. Bom, tem a história da Eva, talvez ela seja a
culpada por tudo. Que raiva que eu tenho dessa tal Eva!
– Não vai comer mais nada, Jack? – ele pergunta.
– Não, obrigada! – Sorrio.
– Tá dieta? – ele diz rindo.
Me arrumo na cadeira, agora somos íntimos, vou falar.
– Quero perder 10 quilos, eu sei que é uma meta agressiva,
então preciso passar fome.
Ele enruga a testa.
– Por que você quer perder 10 quilos? – ele diz parecendo
indignado, só eu sei meus problemas.
– Porque eu preciso, relaxei e engordei, e preciso perder, tenho
uma predisposição a engordar sempre minha bunda e coxas, e isso
me incomoda muito.
– Eu te acho linda, Jack! – Me derreto. – Seu corpo é assim,
Jack, você precisa se cuidar, mas não precisa ficar fazendo dietas
malucas.
Eu sei que não somos amigos do peito, mas me sinto tão bem
com ele, que acabo me abrindo.
– Sabe, Rui, ser mulher é muito difícil. – Ele ri. – Tudo bem,
talvez os homens gostem de bunda grande, peitos fartos, mas eu
não gosto, dá muito trabalho, sabe, numeração, chama muita
atenção, eu queria ser bem magrinha, estilo sua ex ou atual, não
sei.
– Ex, Jack! Terminei com ela – ele fala sério. – Bom, não sei se
isso pode te ajudar a lidar melhor com suas curvas, mas eu adoro
seu corpo como ele é, se você fosse magrinha, talvez eu não
tivesse tanto tesão por você.
O olho por alguns minutos, e é fato, eu já percebi o tesão que
provoco nele, e isso é realmente incrível, e o ouvir falar isso é ainda
mais incrível.
– O Renato me chamou de gorda naquele dia que você me
encontrou praticamente nua no elevador. – Suspiro. – Ele também
não gostou do espartilho, falou que eu não tinha corpo para vestir
aquilo. – Meus olhos enchem de lágrimas.
– Ele não gosta de mulher, Jack! Veste para mim aquele
espartilho e você vai ver o que acontece, vou te virar do avesso. –
Dou risada. – Você estava linda naquele dia, e foi uma pena você
não dar bola para mim, teríamos nos divertido muito.
Espanto as lágrimas dos meus olhos, e sorrio.
– Obrigada pelos elogios, você é o máximo! – Ele pega minha
mão e a beija.
– Agora é sério, quero transar com você daquele jeito, talvez a
gente compre um sapato vermelho.– Ele me olha com aquele olhar
de predador. – Até hoje sonho com você naquele espartilho, Jack,
você não sabe o tesão que você me deixou aquele dia.
Dou risada.
– Seu pedido é uma ordem, Rui. Preciso tirar esse trauma,
preciso vestir de novo aquela maldição dos infernos.
Ele gargalha.
– Você não gosta muito de espartilho? – Ele me olha divertido.
– Aperta muito, Rui, você não sabe como aquilo incomoda.
Ele gargalha mais.
– Ok, mas por mim você faz esse sacrifício, não faz?! – Ele me
olha com seu jeito de cafajeste.
– Faço, com muito prazer!!! – Pisco para ele.
Capítulo 26
JACKELINE BARTOLLI
ORui estaciona seu carro em frente à loja de roupas chiques.
Ele olha para mim e sorri.
– Pode escolher o que você quiser, Jack, estou bonzinho de
novo, aproveite!
Ele é muito fofo, mas não sou esse tipo de mulher, não quero um
cara para me bancar, posso dizer que sou um pouco
preconceituosa, não estou vendendo meu corpo em troca de favores
materiais.
Me esgueiro pelo banco e acaricio seu rosto.
– Eu não quero nada, Rui! Obrigada por ser tão generoso
comigo, mas eu realmente não gosto disso, deixe para presentear
suas outras namoradas.
Ele me olha feio e se esquiva de mim.
– Jack, eu quero te dar um presente, ou vários, não quero fazer
isso com outras garotas, é com você, e não tenho outras
namoradas, você está fantasiando muito com essa história!
Oh, o que faço com esse homem?
– Eu não quero que você fique comprando coisas para mim,
você já me paga um salário maravilhoso para eu trabalhar para
você, você me deu uma oportunidade, por favor, não me faça sentir
mal, essas coisas não funcionam comigo.
– Chata, Jackeline, você é mal-humorada e chata! – Ele estreita
os olhos, seguro seu rosto e o beijo.
– Prefiro beijos a presentes. – Aprofundo nosso beijo, ele segura
minha cintura, e aperta meu corpo contra o seu.
Ele se afasta de mim e me encara com seus olhos lindos.
– Mas eu gosto de presentear quem eu gosto, esse é meu jeito,
Jack – ele fala bem mimoso, ele é tão lindo, mas não é só beleza
exterior, ele é uma pessoa linda.
O olho por alguns segundos.
– Então será a última vez – digo e ele sorri.
– Tudo bem, vamos comprar a loja inteira. – Ele ri e sai do carro,
parece uma criança que irá fazer arte.
Caminho com ele para o interior da loja e penso o quanto uma
pessoa pode ser diferente quando se conhece ela na intimidade.
A vendedora nos vê e abre um sorriso grande.
– Sejam bem-vindos, que bom que voltaram! – ela diz animada.
– Obrigada – respondo um pouco insossa, odeio bajulação.
– Em que posso ajudá-los? – ela diz solícita.
– Ela quer ver tailleurs! – O Rui responde, olho para ele, ele
pisca para mim e sai andando pela loja.
– Ok, então vou escolher algumas coisas para você! Você gostou
desse modelo que está vestindo, posso trazer alguns como esse?
– Tudo bem, talvez umas duas camisas também – falo insegura.
Entro no provador, tiro minha roupa, e logo a mulher volta com
aquela montoeira de roupas.
– Não posso demorar, amiga – falo incomodada, olhando para o
relógio.
Ela sorri para mim, está pouco preocupada com meu horário, e
entrega um conjunto de saia e blazer, e mais um, e mais um.
Depois de experimentar vários conjuntos entre saias e calças,
camisas, regatas, estou farta.
– Eu já decidi, vou levar esse aqui! – Pego um conjunto de calça
e blazer azul escuro, e uma camisa creme.
– Só isso, não gostou dos outros? Tudo ficou ótimo em você,
nossa confecção cai muito bem em seu corpo! – ela diz animada.
– Gostei de tudo, mas hoje, é só este – falo taxativa.
– Ok! – Ela sai com as roupas em seu braço, mas a porta abre
novamente, é o Rui.
– Oi, o que você está fazendo aqui? – Ele olha para meu corpo,
estou só de lingerie.
Ele me entrega um par de lingeries.
– Hum, que lindas! – digo animada.
– Comprei algumas lingeries para você! – ele diz seriamente.
– Ah, é?! – pergunto admirada. – E você sabe minha
numeração?
– Por isso que eu trouxe esse conjunto, para você ver se acertei
a numeração, experimente! – Vejo um vestido em sua mão. – E
esse vestido, quero que você experimente também. – Ele entrega o
vestido para mim.
Sorrio.
– Ok, então me dá licença? – Olho para ele sorrindo.
Ele dá um sorriso torto, safado como só ele consegue ser.
– Vou ficar aqui. – Ele cruza seus braços.
Puxo o ar.
– Ok. – Abro o feixe do sutiã, e o coloco pendurado, olho para o
Rui, e ele está admirando meus seios, já começo a sentir a
excitação de estar nua na frente dele.
– A calcinha também, Jack... – Ele me olha parecendo um
voyeur.
Tudo bem, se é para fazer esse jogo, então vou provocá-lo, do
jeito que ele merece.
Viro de costas, tiro minha calcinha sensualmente, empinando
meu bumbum, e deixando minha calcinha cair no chão.
– Gostou, Rui? – Olho pelo meu ombro.
– Adorei, Jackeline! – Ele morde seu lábio, me deixando
enlouquecida de desejo.
Viro de frente, agora estou completamente nua num provador de
loja, com um homem que é pura tentação.
– Você quer me provocar? – ele diz com aquele olhar de luxúria.
– Não! – Falo bem cínica, me aproximo dele, enlaço seu pescoço
e beijo seus lábios suavemente. – Hum, Rui, isso está me deixando
excitada. – Sussurro em seu ouvido, vou até seu membro, que está
duro e ereto, e o aperto por cima da calça. – Você também, Rui? –
Mordo sua orelha.
– Jackeline, você é bem safada, do jeito que eu gosto! – Ele
aperta minha bunda com suas mãos, invade minha boca com sua
língua maravilhosa e me beija guloso, e logo suas mãos estão em
meus seios, apalpando-os, brincando com meus mamilos. – Minha
gostosa, eu quero te foder aqui! – Abro meus olhos assustada.
– Não, Rui, era só uma brincadeirinha! – Mas já o vejo abrindo o
zíper de sua calça, e em segundos seu membro está para fora,
enorme e glorioso.
– Você me provocou, gostosa, agora não foge de mim. – Ele
sorri safado, me empurra contra a parede, levanta minha coxa, e me
penetra, e se eu disser que não estou querendo, vou mentir, agarro
seus cabelos e o beijo cheia de paixão, ele se movimenta com força
e rapidamente. – Eu vou gozar, Jack... – Ele fala contra meus lábios,
geme baixo e morde meus lábios, e goza gloriosamente.
Meu coração bate freneticamente, continuo o beijando, eu não
queria que ele parasse, mas a vendedora chama, e arregalo meus
olhos.
– Jackeline, você precisa de alguma coisa? – A vendedora diz.
– Estou experimentando a lingerie, eu te chamo se precisar –
falo sem fôlego.
Ele guarda seu amigo e me olha com aquele sorriso delicioso.
– Coloca a lingerie, Jack, quero ver se acertei o tamanho.
Tento retomar minha consciência, esse homem me deixa louca.
Coloco a calcinha, que por sinal é maravilhosa, bem pequena,
praticamente não cobre meu traseiro, mas é bem sexy.
– Gostei, Jack. – Ele olha para o meu bumbum pelo espelho.
Coloco o sutiã e me surpreendo, ele sabe tudo sobre meu corpo,
acertou em tudo.
– Ficou bom, Rui? – Desfilo para ele.
– Ficou ótimo, Jack. – Ele se aproxima e me beija, e toda a
excitação volta.
– Rui, por favor. – O empurro, porque esse cara não tem muito
juízo.
Ele faz cara de magoado.
– Fica com ele, Jack. – Ele pisca – Experimenta o vestido. – Ele
aponta para um vestido preto que ele trouxe.
Sorrio abobada, para quem reclamava de falta de sexo, acho
que estou agora no excesso, esse homem tem um fogo fora do
normal, mas ele combina comigo.
Coloco o vestido, o ajeito no corpo, ele é lindo, transpassado
acima dos joelhos, com um decote enorme na frente, o que me faz
pensar que não poderei usá-lo com sutiã.
– É lindo, Rui, mas esse decote na frente... – Faço uma careta e
olho para ele.
– Tira o sutiã, para a gente ver melhor. – Ele volta a cruzar os
braços.
Tiro o vestido, o sutiã, e volto a colocá-lo.
Me olho no espelho, ficou muito sensual, mas não sei se tenho
coragem de usá-lo, se ao menos não tivesse tanto peito, tudo bem,
mas assim...
– O que você achou? – pergunto para ele.
– Você ficou linda! – Ele me olha babando.
Confesso, nunca nenhum homem me elogiou tanto, ele é um
gentleman, e me faz sentir a mulher mais linda do mundo.
– Não sei se tenho coragem de usar, esse decote deixa meus
seios muito à mostra. – Me olho no espelho.
O decote é bem aberto, ultrapassa o limite dos seios, não tenho
problemas com flacidez, meus seios são firmes e empinados, mas é
que dá para ver todo o contorno dos peitos, o que faz com que eu
me sinta quase nua!
– Você vai vestir ele comigo, não precisa se preocupar! – Ele me
olha de lado.
– Não estou muito vaca? – Faço uma careta.
– Não, você está linda, sensual, gostosa... – Ele me olha com
luxúria.
– Ok, só vou levar se você quiser, eu não tenho coragem de usar
uma roupa como essa sozinha.
Ele me abraça, me beija, fecho meus olhos e me deixo levar,
acho que estou apaixonada pelo Rui. Só penso em ficar em seus
braços, esse homem é realmente perigoso, ele faz a gente se
apaixonar em segundos, e eu estou fodida! – Rui, a gente precisa
sair desse provador. – Sussurro contra seus lábios.
Ele se afasta de mim e sorri.
– Ok, vou te esperar aqui fora. – Ele abre a tranca.
– Tá bom, eu vou me trocar, escolhi esse conjunto aqui! – Mostro
para ele.
– Perfeito. Você gostou das outras roupas? Você te dar de
presente tudo o que você gostou, não se preocupe com nada, Jack,
preciso que minha assistente esteja bem vestida.
Reviro meus olhos.
– Claro, chefinho! – Sorrio.
Ele sai, e respiro fundo.
– Tudo bem, não vou me importar com essas coisas, se ele quer
me presentear, que me presentei, que se foda minha opinião!
****
Estamos próximos ao seu escritório, o horário de entrada dos
funcionários já está avançado, possivelmente todos já chegaram, só
falta a secretária e o seu chefe.
– Rui, me deixa alguns metros antes do escritório, acho melhor
você chegar sozinho. – Ele me olha de lado.
– Tudo bem, Jack. Ninguém sabe minha agenda, faz de conta
que estávamos no Fórum. – Ele segura minha mão e a beija.
– Não acho que alguém engolirá isso. O que uma secretária faz
com o chefe no Fórum, sexo? – Ele dá risada.
– Talvez, no banheiro, podemos tentar isso da próxima vez! – Ele
dá aquele sorriso torto lindo.
– Não quero que ninguém fique fazendo suposições a nosso
respeito – falo incomodada.
– Ninguém fará, o escritório é meu, eu sou o chefe, eu que
mando! – Ele estaciona o carro. – Desce primeiro, vou fazer uma
ligação para um cliente, vou em seguida, assim você fica mais
tranquila.
– Ok. – Saio do seu carro, e sigo para a recepção.
A recepcionista me olha.
– Bom dia! Algum recado para o Doutor Rui?
– Estão aqui! – Ela me entrega um papel. – O Doutor Rui não
vem hoje para o escritório? – Ela pergunta maliciosa.
– Vem sim, daqui a pouco ele chega. – Sigo para as escadas e
reviro meus olhos.
Essa situação é bem desconfortável.
Sigo para sua sala, e como sempre a arrumo rapidamente, abro
as persianas, janelas, e ele entra, fecha a porta e sorri.
– Preciso acabar de analisar aqueles processos, não deixe que
ninguém me interrompa. – Ele deposita sua pasta sobre a mesa.
– Tudo bem, vou terminar de fechar os detalhes do coquetel. –
Sigo para a porta, e começo meu dia.
Estou com um pouco de medo dessa nova relação minha e do
Rui, não sei como será trabalhar com ele agora que somos de fato
“amantes”, mas farei o possível para separar bem as coisas, só
espero que ele também o faça.
****
O período da manhã passou rapidamente, já é horário do
almoço, nem sei o que vou comer, mas meus pensamentos são
interrompidos pelo telefone, olho e vejo que é o Rui.
– Pois não? – Atendo profissionalmente.
– Vem aqui um momento, Jack – ele diz rapidamente.
Me levanto e sigo para sua sala.
Ele está em sua mesa de reuniões, relaxado na cadeira, usando
seus óculos de super-homem, e analisando aquela montoeira de
papéis.
– Oi, posso te ajudar? – Sigo até ele, me posiciono próxima, mas
não muito, tenho que colocar meu plano de separar as coisas em
ação, então, quanto mais longe, melhor.
– Vem até aqui, Jack. – Ele enruga sua testa.
Me aproximo mais, ao lado de sua cadeira, ele se arruma, coloca
seus óculos sobre a mesa, e me olha daquele jeito, não sei explicar,
mas ele tem um jeito de olhar que dá vontade de tirar a roupa e se
jogar em seus braços.
– Quer almoçar comigo? – ele diz muito charmoso, e eu faria
qualquer coisa que ele me pedisse desse jeito.
– Sim – falo meio sem jeito.
– Mas vamos almoçar aqui na minha sala, não posso perder
tempo hoje, você anda tirando muito a minha concentração, Jack,
estou seriamente atrasado em meus processos. – Ele sorri, se
aproxima e passa seus braços pelos meus quadris, me segurando
pelo bumbum, então esfrega seu rosto em minha barriga,
depositando beijos.
Acaricio seus cabelos, e fecho os olhos. Acho que meus planos
de separar as coisas estão gravemente em perigo.
– Você quer que eu peça para algum restaurante? – falo
embriagada por suas carícias.
Ele se afasta um pouco.
– Tem um restaurante que entrega a comida aqui no escritório, é
ótimo, me deixe pegar o telefone. – Ele se levanta e segue para sua
mesa, abre a gaveta e tira um desses encartes de restaurante. –
Ligue para lá e peça dois pratos, eu prefiro carne ou massa, pode
escolher para mim. – Ele me entrega o cartão, se aproxima e me
beija. – Quando chegar você traz tudo aqui para minha sala, nós
almoçamos aqui mesmo.
Me separo dele com o coração acelerado.
– Tudo bem! – Me afasto e sigo para minha sala, mas sinto seu
olhar em mim, acho que ele nunca vai perder essa mania.
****

Almoçamos juntos em sua sala, num clima gostoso, apenas


conversando sobre amenidades, sobre os processos que ele está
cuidando, sobre coisas do escritório. Comigo ele não é o cara que
eu imaginava, ele é muito melhor.
Sua postura com os funcionários do escritório é muito diferente,
ele tem uma postura fria, distante, pode até ser confundida com uma
postura arrogante, mas comigo ele é adorável, acessível, paciente e
compreensivo com minha falta de experiência.
Não sei o que esse cara viu em mim, ele é muito gentil,
carinhoso, cavalheiro, tudo que eu sempre quis em um homem, mas
a verdade é que ele é muita areia para o meu caminhãozinho.
A tarde passou depressa, aos poucos ele tem passado coisas
novas para eu fazer, tenho me esforçado muito para não o
decepcionar e acho que estou conseguido. Poucas vezes ele pede
para eu refazer algum trabalho, já consigo cuidar das coisas
administrativas que ele me passou, enfim, pouco a pouco sinto que
estou conseguindo dar conta do trabalho de secretária, não devo ser
boa como sua outra funcionária, mas estou me esforçando muito
para me superar.
É final de tarde, já estou no meu horário de saída, confesso que
não tenho vontade de ir embora, mas moro longe e não pretendo
chegar em casa às 22h, então acho melhor avisá-lo que já estou
indo.
Saio da minha mesa, sigo até sua porta, bato de leve e entro. Ele
me olha através de seus óculos.
– Tudo bem por aí? – falo descontraída.
– Tudo bem! – Ele se estica em sua cadeira, e fica me
acompanhando com o olhar enquanto caminho em sua direção.
– Você precisa que eu faça alguma coisa, ou posso ir embora? –
Me sento a sua frente.
Ele tira seus óculos, relaxa seu cotovelo no apoio da cadeira e
morde a haste dos óculos, adoro quando ele faz isso.
– Quer repetir o que fizemos ontem? – ele diz sedutor, me
fazendo sentir um friozinho na barriga, aliás, essa sensação já se
tornou algo comum quando estou com ele, ele me provoca isso com
muito mais frequência do que eu gostaria que ocorresse.
Na verdade, com o Rui sinto sensações novas e misteriosas, ele
mexe com todos os meus sentidos.
– Preciso voltar para minha casa, ver se minhas três idosas
estão vivas e respirando – falo em um tom divertido, mas a verdade
é que eu gostaria demais de repetir o que fizemos ontem, mas não
posso, minha mãe não me perdoaria se eu sumisse por dois dias
seguidos, ela é muito antiquada.
– Que pena, Jack! – Ele se aproxima da mesa, me encara
intensamente, me fazendo sentir completamente dominada. – Tem
certeza? Diga que você está fazendo um curso, que vai sumir por
uns dias.
Dou risada.
– Não dá, Rui, mas o convite é tentador, sabia? – Faço charme.
– Quem sabe outro dia!
Ele fica me olhando, parece pensar, e então suspira.
– Tudo bem, pode ir, não tenho nada urgente. – Ele dá de
ombros.
– Então, está bom! – Me levanto, fico confusa com relação ao
que eu devo fazer, não é fácil ser caso do chefe. – Até amanhã, Rui.
– Faço menção em caminhar para a porta, mas ele me interrompe.
– Ei, Jack, não mereço nem um beijo de despedida? – Ele faz
cara de coitadinho.
Sorrio, dou a volta em sua mesa, me posiciono no meio de suas
pernas, seguro seu rosto, e me sinto enfeitiçada, fecho meus olhos
e cubro seus lábios com os meus. Sinto suas mãos ao redor do meu
corpo, elas acariciam meu bumbum, minhas coxas, e se eu disser
que não estou excitada, mentirei, ele me coloca em brasas.
Minha intenção era apenas dar um beijo rápido, mas, meu Deus,
esse homem não sabe dar beijo calmo, todos os seus beijos são de
paixão, ele é quente, sensual e erótico.
Ele me puxa para seu colo, me fazendo sentar, e nos beijamos
como se fôssemos transar, e é isso que fazemos.
Ele começa a desabotoar minha camisa, enfia sua boca em meio
aos meus seios, me suga, me chupa e me deixa enlouquecida de
desejo.
– Oh, Rui!!! – Gemo louca de desejo.
– Eu vou fechar a porta, Jack! – Ele me levanta, segue
apressado até a porta, a tranca e volta até mim, volta a devorar
minha boca, tira minha camisa, desabotoa minha calça e em
segundos estou nua em sua sala.
Novamente estou sobre sua mesa, repetindo a cena do dia
anterior, em minutos ele me leva a mais um orgasmo incrível, me
penetra e chega ao seu orgasmo.
Foi rápido, selvagem, mas com muita paixão, porque ele me
beija muito, me aperta em seus braços, me morde, me chupa, ele é
uma amante excepcional, estou viciada nele.
– Oh, Jack! – Ele respira ruidosamente contra minha face. –
Você não quer ir mesmo para o meu apartamento? Eu te levo para
casa depois! – Ele volta a beijar meu pescoço, minha orelha.
– Eu gostaria muito, Rui, mas eu preciso ir para casa. –
Sussurro, entregue novamente aos seus lábios.
– Quer viajar comigo no final de semana? – ele diz no meu
ouvido, abro meus olhos confusa, será que ouvi direito?! – Jack? –
Ele me olha. – Você me ouviu?
– Ouvi... – O olho surpresa. – Para onde? – pergunto confusa.
– Eu tenho uma casa no interior, na verdade na cidade que
nasci, preciso ir até lá para ver como estão as coisas, faz tempo que
não faço isso. – Ele beija meus lábios suavemente, de um jeito tão
sensual. – Me faça companhia, é chato ir sozinho.
Estou muito surpresa com seu convite, aliás, ando surpresa com
tudo que está acontecendo entre nós, está tudo tão intenso.
– Acho que sim. – Viro meu rosto de lado e sorrio.
– Acha ou tem certeza? – ele diz com um sorriso.
– Tenho certeza! – Seguro meu sorriso, não quero demonstrar a
felicidade que esse convite me causa, já perdi a conta de há quanto
tempo não saio da cidade, aliás, eu nem saia com o Renato,
ficávamos apenas em seu apartamento vendo filmes, jogos e
comendo pizza.
– Então está combinado, só que precisamos ir amanhã à noite, é
um pouco longe... – Ele começa a arrumar sua roupa, a camisa já
está toda para fora, e... merda, sujei sua camisa de batom.
– Eu sujei sua camisa. – Passo a mão no local e torço meus
lábios, ele deveria ter tirado, mas esse homem quando pega fogo é
difícil até para tirar sua roupa.
– Tudo bem, eu coloco o terno! Você traz amanhã uma malinha
com algumas roupas – ele diz enquanto me visto.
– Ok, mas o que eu devo levar? – pergunto preocupada.
– Roupas para piscina, alguma coisa para sairmos à noite... –
Ele dá de ombros. – Não precisa se preocupar muito com roupas, a
gente vai se divertir na represa que a casa tem acesso, mas traga
um ou dois vestidos para vestir a noite.
Suspiro preocupada, já não vou a uma praia ou piscina há anos,
acho que não tenho mais biquínis decentes, todos devem estar em
péssimo estado.
– Tudo bem! – Termino de me arrumar. – Posso ir agora,
chefinho? – Me dependuro em seu pescoço.
– Pode. – Ele me olha com um sorriso enigmático, me dá um
último beijo. – A gente se vê amanhã.
– Então, até amanhã. – Sigo em direção à porta, com muita
vontade de ficar, mas não posso ir com tanta sede ao pote, tenho
medo de me esborrachar.
Chego à porta, a abro e olho para trás, e lá está ele olhando para
minha bunda, ele é muito safado.
– Ficar olhando para a bunda da funcionária dá processo por
assédio, sabia? – falo segurando a porta.
– Eu tenho um bom advogado, ele dá um jeito nisso! – ele diz
com um sorriso lindo. – Tchau, minha deusa.
Sorrio sentindo o friozinho no estômago voltar, sinalizo com os
dedos e saio.
Ok, Jackeline, vamos voltar a sua realidade nua e crua, pego
minhas sacolas, minha bolsa e sigo para a saída do escritório.
– Será um inferno pegar um ônibus com essa montoeira de
sacolas – falo sozinha.
Capítulo 27
JACKELINE BARTOLLI
Depois de duas horas, finalmente consigo chegar a minha casa.
Me preparo emocionalmente para o sermão de minha mãe, eu
sei que não tenho 17 anos, mas ela tem problemas, e acha que
ainda estou sob suas rédeas.
As famílias portuguesas são muito antiquadas, protetoras, e
resistentes a mudanças.
Abro o nosso apartamento, sinto o cheiro da comidinha de minha
mãe, mas lembro de minha meta. Tudo bem, o Rui não anda me
ajudando muito com isso, mas minha santa mãezinha irá me ajudar
com uma bela salada.
– Oi, boa noite! – falo animada.
– Oi, Senhorita Jackeline! – Minha mãezinha diz brava. – Agora
virou mulher fácil, que fica dormindo na casa de um e de outro?
Franzo minha testa.
– Ei mãe, tenho 27 anos, e não durmo na casa de um e de outro.
– Volto a caminhar em direção ao meu quarto, pelo visto todas
esperavam minha chegada, a cara de minha avó e tia é de total
reprovação.
Eu estou muito ferrada com essas três na minha vida.
Abro meu quarto e vejo um buque de flores em cima da
penteadeira, sorrio, e penso no Renato.
– Ele é muito ridículo, agora que não estamos mais juntos ele
resolveu me agradar com flores. – Reviro meus olhos.
– Eu li o cartão, não são do Renato – minha mãe diz atrás de
mim.
– Desde quando a senhora lê meus cartões, mãe? A senhora
está ficando igual a essas duas bisbilhoteiras, você não era assim! –
falo irritada.
Sigo até as flores, rosas vermelhas, mas não é um arranjo
qualquer, é um arranjo sofisticado, e me vem à mente o Rui. Mas ele
não faria isso!
Pego o cartão que está ao lado do vaso, e me surpreendo ao ver
que foi ele mesmo que enviou o arranjo.
Sorrio boba.
“Obrigado pela noite maravilhosa! Você é mulher encantadora,
Jackeline. Ass: Rui.”
Ele sabe como conquistar uma mulher, flores, jantares a luz de
velas, presentes, o que será sua próxima arma de conquista?
Confesso, já estou conquistada, apenas uma noite de amor com
esse homem é o suficiente para se cair em sua armadilha de
sedução.
– Este Rui é aquele homem que você trouxe aquele dia, não é,
Jackeline? – minha mãe diz incisiva.
– Sim, é ele mesmo. – Sorrio encantada. – Ele é muito sedutor,
mãe, e sabe como conquistar uma mulher.
– Mas e o Renato, Jack, o que aconteceu? De repente você se
apaixonou por esse homem, de onde você o conhece?
Respiro fundo e resolvo abrir o jogo com ela, não tenho por que
esconder alguma coisa de minha mãe.
– Eu descobri que o Renato estava me traindo, então acabou,
mãe, e não acho que eu o amasse de verdade, acho que estava
acostumada com ele. – Ela me olha incrédula. – E o Rui, então, ele
é meu chefe. – A olho disfarçadamente, e vejo seu olhar de
reprovação.
– Você é amante de seu chefe, é isso? – Ela me olha
intensamente.
– Amante é para homens casados, ele não é casado, estou
saindo com ele. – Dou de ombros. – Ele é incrível mãe, você não
tem ideia.
Ela vira de costas, parece constrangida com o rumo das coisas.
– Oh, Jackeline, será que isso vai dar certo? Esses homens ricos
e poderosos não levam ninguém a sério, muito menos uma
secretária. – Ela me olha com pesar. – Ele irá usá-la, quando não
quiser mais, você será demitida.
A olho com tristeza, parece tão óbvio meu futuro com ele, todos
pensam assim, até eu mesma.
– Vou aproveitar enquanto isso não acontece, nunca conheci um
homem como ele. – Olho para as flores. – Quantas vezes recebi
flores de algum homem, mãe?
Seu olhar fica distante.
– Você merece ser coberta de flores e presentes, mas de um
homem que realmente a queira para esposa. – Ela puxa o ar. – Ele
só está fazendo isso em troca de favores sexuais. – Ela olha para as
sacolas. – Foi ele quem te deu esses presentes e aqueles outros?
– Mãe, não vivemos mais em 1.950 – falo incrédula. – Eu não
sou uma prostituta, não faço favores sexuais para ele, é uma troca,
eu gosto de sexo, mãe, e ele me dá o que eu quero, e eu retribuo,
não sou virgem há muitos anos, não sou santa, e nem puritana. Ele
é um homem rico, essas coisas pouco custam para ele, eu não
ganhei um carro, um apartamento, não sou sua puta de luxo,
apenas nos relacionamos sexualmente, não há relações afetivas
nisso, ele não me ama, e eu também não o amo. – A olho com
firmeza, um pouco magoada com a forma como ela encara as
coisas.
– Não criei minha filha para andar de mão em mão. – Ela parece
magoada comigo. – Seu pai não aprovaria um relacionamento como
este, é tão promíscuo, filha.
Meus olhos enchem de lágrimas.
– Eu não tive sorte de conhecer um cara que me levasse a sério,
e me levasse para o altar aos 23 anos, mãe! Eu sei que era isso que
você queria, que eu me casasse com sua idade, enchesse sua casa
de netos... – A olho profundamente. – Talvez eu nunca case, vou
viver de relacionamentos esporádicos, irei curtir enquanto sou
jovem, não quero mais me preocupar com relacionamentos, parece
que todos são fadados ao fracasso. Não acredito mais em histórias
de amor.
Ela começa a chorar, acho que falei demais, eu não precisava
jogar em sua cara toda a minha amargura. Ela não tem culpa se não
acredito mais no amor, acho que isso acabou com meu
relacionamento com o Renato.
Eu não sei se algum dia ele me amou, ou só me tolerou como
uma amiga boa e compreensiva.
– Não chora, mãe! – A abraço. – Não se preocupe comigo, me
deixe viver minha vida.
Ela limpa seus olhos e sai cabisbaixa do meu quarto.
Nem eu mesma me entendo, acho que escondo de mim mesma
minha amargura em relação ao amor, porque de fato, nunca fui
amada como eu gostaria.
Gostaria de viver um romance avassalador, daqueles que tira a
gente do chão!
Olho para as flores, penso no Rui, e sinto um friozinho na
barriga.
– Não, não será com ele que viverei isso, ele não é um homem
que procura um grande amor, ele vive de vários. Assim como ele
mandou flores para mim, ele mandou para mais umas duas ou três
mulheres que ele está interessado.
Ele nunca irá me enganar, é bom demais estar com ele, mas eu
já sei o fim, e ainda estamos no começo.
****

O clima entre minha mãe e eu desandou depois de nossa


conversa. Eu sei que a decepcionei ao dizer que não irei me casar,
ter filhos, mas é que não quero que ela tenha falsas esperanças em
relação ao Rui.
Ele é maravilhoso, mas não para casar e ter filhos.
Tomo um banho e coloco um conjunto de short e camiseta para
dormir.
Me sento em meu computador, e volta a ler o material do site,
estou quase acabando o curso online.
Confesso que estou aprendendo mais com o Rui do que com o
curso, mas não vou abandonar agora, vou até o fim.
Enquanto tomo um chá, olho para a tela do computador, mas me
sinto em dívida com o Rui, preciso enviar uma mensagem de
agradecimento para ele.
Me sento em uma poltrona com as pernas sobre o assento, e
digito uma mensagem.
“Quando cheguei em casa hoje, me deparei com um arranjo de
flores lindas. Não vou mentir, fiquei emocionada, porque adoro
flores, principalmente rosas vermelhas. Elas são lindas, Rui.
Obrigada, você é maravilhoso!”
Deixo o celular sobre a mesinha ao lado da poltrona e volto ao
meu computador, mas me surpreendo ao ouvir o toque do celular.
Me levanto rapidamente, olho para a tela e vejo seu nome.
Sorrio e sinto meu coração acelerar, aperto a teclar de atender e
me arrepio ao ouvir sua voz.
– Oi, Jack! Pensei que não tivesse gostado das flores!
Fecho meus olhos e respondo.
– Oi, Rui...
Capítulo 28
RUI FIGUEIREDO
Depois de passar em meu apartamento para me trocar, peguei
meu carro e segui para um bar onde meus antigos amigos de
faculdade se reúnem para beber e falar besteiras, uma vez por
semana.
É uma turma grande, alguns já estão casados, outros
divorciados, e outros como eu, se negam a assumir um
relacionamento sério.
Depois que assumi o relacionamento com a Priscila meus
encontros com esses amigos ficaram um pouco abalados, pois
como já disse, a Priscila é um porre, e pegava no meu pé por tudo.
Eu realmente não sei como consegui ficar com ela tanto tempo,
quero dizer, eu sei como consegui, eu saia com umas três mulheres
ao mesmo tempo, só assim para não me estressar com seu jeito
ciumento, controlador e possessivo.
O fim do meu relacionamento com ela me trouxe uma
tranquilidade que eu já não sabia o que significava.
Eu sei que a pressão de seu pai não cessará com tanta
facilidade, não voltamos a nos encontrar, mas já senti os efeitos do
fim do meu relacionamento com a Priscila. Nenhum processo novo
vindo do escritório do Albuquerque, nenhuma indicação, nada.
Ele quer me comer pelas bordas, me ferrando nos negócios ele
acha que irei reatar meu relacionamento com sua filha. Eu ainda
não sei como convencê-lo que as coisas serão melhores sem
relações afetivas em jogo, eu e a Priscila somos incompatíveis,
nunca daríamos certo.
Penso na Jackeline, e chego à conclusão que compatibilidade é
o que não falta entre nós, o sexo é incrível, o tesão que sinto por
aquela mulher é louco, eu nunca senti isso antes, tenho vontade de
foder com ela o dia todo, e é uma pena que ela não quis ir para o
meu apartamento hoje.
Confesso que fiquei frustrado, tenho tentado agradá-la de todas
as formas possíveis, mas ela não é um tipo fácil. Eu poderia
procurar uma das outras mulheres que tenho relacionamentos
esporádicos, mas...
Balanço minha cabeça energicamente.
– Aquela diaba me castrou, só consigo pensar nela, querer ela...
– Penso irritado.
Logo chego ao bar, encontro a mesa repleta de amigos, a
maioria são advogados, mas existem juízes, procuradores, só tenho
amigos fera, mas não tenho inveja, sou um cara bem sucedido,
nunca quis seguir a carreira de magistrado, odeio essas porras!
Peço uma bebida, converso um pouco com um dos amigos,
conto rapidamente sobre o fim do meu relacionamento.
– Mas, o que aconteceu, quer dizer, você já estava de saco cheio
dela fazia tempo, mas o que aconteceu de diferente que te fez
acabar com tudo, alguma mulher em especial? – ele diz com ironia.
Penso um pouco, eu realmente não fiz nada de caso pensado,
talvez minha obsessão pela Jackeline tenha me dado coragem de
terminar com a Priscila, eu queria a Jackeline, e a Priscila ficava me
perseguindo, aquilo me deixou insano.
– Sei lá, eu conheci uma deusa, mas não acho que foi por causa
dela – falo displicente.
– Até que enfim você abriu o jogo, me fala sobre ela. – Ele me
olha com interesse. – Alguma advogada?
– Não, ela é psicóloga. – Ele ri. – A história é meio longa, mas
para resumir, eu a contratei para ser minha secretária.
Mas uma risada de deboche do meu amigo.
– Então você está comendo a secretária? – ele diz rindo.
– Ela é um espetáculo, cara, uma delícia de mulher – falo e já
sinto uma ereção crescendo em minha boxer.
Maldição de mulher, estou falando que ela deve ter feito algum
trabalho para me amarrar.
– Quando eu vou conhecer? – ele diz interessado, temos esse
costume, gostamos de mostrar nossas conquistas uns para os
outros, pedimos nota, coisa de homem. Mas a questão é que não
quero dividir a Jack com ninguém, ela é só minha.
– Talvez um dia desses, quando eu enjoar dela. – Damos risada.
– E você, alguma mulher interessante? – pergunto despretensioso.
Olho disfarçadamente para meu celular, nenhuma mensagem ou
ligação.
Você é uma ingrata, Jack! – Penso irritado, ao me lembrar da
correria que fiz para enviar flores para o apartamento onde a
Jackeline mora, queria fazer uma surpresa para ela. Eu já recebi a
notificação de entrega, mas a filha da puta não se deu o trabalho de
agradecer, ela é realmente uma mulher difícil.
Volto a prestar atenção em meu amigo, em suas histórias de
conquista. Tento mostrar interesse, mas essa história está me
deixando ansioso, qualquer mulher já teria me ligado. Por que ela
faz esse joguinho de mulher difícil? Eu sei que ela está caidinha por
mim, porra!
As horas passam, algumas mulheres chegam à mesa, é
impossível não notar, elas se vestem sensualmente, prontas para
caçar. Um amigo apresenta as garotas para nós, elas se sentam e
começam a conversar com a turma.
Rapidamente percebo o interesse nítido de uma das mulheres
em mim, ela é descarada, não está muito preocupada em disfarçar,
mas o som de chegada de mensagem me chama a atenção.
Abro o aplicativo e vejo uma mensagem da Jackeline.
Até que enfim, Jack! – Falo comigo mesmo.
Abro a mensagem e leio.
“Quando cheguei em casa hoje, me deparei com um arranjo de
flores lindas. Não vou mentir, fiquei emocionada, porque adoro
flores, principalmente rosas vermelhas. Elas são lindas, Rui.
Obrigada, você é maravilhoso!”
Um sorriso de satisfação se instala em meu rosto.
Eu preferia que ela tivesse me ligado, não curto muito esse
negócio de mensagens, estou ficando velho, confesso, sou
antiquado, prefiro o olho no olho, ou somente a voz quando não dá
para olhar no olho.
Ok, Jackeline, eu quero falar com você, não quero esse negócio
de mensagens.
Seleciono o número, um som de chamada e ela atende.
– Oi, Jack! Pensei que não tivesse gostado das flores!
– Oi, Rui, me desculpe, demorei um pouco, é que estou fazendo
um curso de secretária pela internet – ela diz timidamente.
Dou risada, a Jackeline sempre me surpreende.
– Sério, Jack? Eu não te disse, mas você está se superando a
cada dia, não sei se é o curso, ou seu professor particular!
Ouço sua risada e penso naquela boca vermelha carnuda.
Por que ando tão louco por essa mulher, meu Deus?!
– Acho que é o professor, ele é realmente muito comprometido
com sua aluna – ela diz debochada, e eu adoro seu jeito, ela é
sacana, safada, irônica.
– Gostou das flores, Jack? – falo ansioso, aliás, por que estou
tão ansioso com essa porra?
– Adorei, adoro ganhar flores, sabia? É romântico, Rui, eu sei
que você não é romântico, e só está tentando me impressionar,
mas, enfim, elas são muito lindas, e estão enfeitando o meu quarto.
Ela é uma mulher sonhadora e romântica. Não quero ser sacana
com a Jack, eu gosto dela, de vê-la sorrindo, de presenteá-la, estou
encantado com essa mulher, não vou mentir para mim mesmo.
– Não estou tentando te impressionar – falo indignado. – só
quero te ver feliz!
– Então, você conseguiu! – ela diz manhosa. – Você está numa
festa? Está barulhento aí.
Oh, era só que me faltava, a Jack ciumenta não vai funcionar.
– Eu estou num bar, costumo vir aqui com alguns amigos de
faculdade – falo sério, tenho que tomar cuidado, não quero sair de
um relacionamento para entrar em outro, só quero curtir a Jackeline,
não quero relacionamento sério com ela.
– Oh, isso é muito legal, eu tinha uma turma, mas acabei me
afastando deles quando comecei a namorar, enfim... – Ela corta o
assunto. – Preciso revê-los, talvez eu faça isso.
Acabei de dizer que não quero uma Jackeline ciumenta, mas
sem que eu tenha controle, sinto um incômodo no meu peito.
Solto o ar e deixo esse sentimento ruim de posse que tenho
sobre a Jackeline passar. Ela não é minha, quero dizer, ela é minha,
mas não quero ter um relacionamento sério com ela.
Egoísta, sei lá, acho que sou, ela me faz bem, gosto de ficar com
ela, do seu cheiro de frutas, da sua pele macia, das suas curvas
estonteantes, do jeito que ela geme.
Oh, caralho, eu estou pirando, não vou me apegar, tenho que
atingir minha meta, até os 70 anos, solteiro, comendo todas, de
preferência com um terço da minha idade.
Espaireço.
– Já arrumou suas malas, Jack? – Tento mudar de assunto.
– Sim, vou precisar comprar um biquíni, os meus não estão em
condições, sabe? – Ela é sempre muito simples e sincera em
relação a tudo, isso às vezes incomoda, mas também é uma virtude.
– Ok, Jack, nós compramos juntos. Posso escolher? – falo com
malícia e me lembro do sexo que fizemos no provador da loja, foi
excitante demais, essa mulher é muito excitante, e eu queria vê-la
hoje à noite, não estou aguentando com minhas bolas. – Tá com
saudades, Jack?
Oh, merda, estou parecendo um boiola, não estou me
reconhecendo...
Ela ri.
– Posso dizer que sim, adoro meu chefinho! – Ele dá risada dela
mesma. – Deve ser bom ter funcionárias que te adoram, não?
– É bom ser querido! – Sorrio, gosto desse jeito que ela trata as
coisas, de uma forma leve, sem cobranças.
– Então, estou quase indo dormir, esse negócio de ficar lendo dá
um sono. – Ela boceja.
Penso nela e salivo, que porra de obsessão por essa mulher.
Olho para a garota que estava a pouco me dando boba, ela deve
ter uns 20 anos, é muito bonita, mas quer saber, eu prefiro minha
italiana.
– Posso ir até sua casa, Jack? – Coloco minhas mãos sobre meu
rosto, o que penso que estou fazendo? O que vou fazer em sua
casa?
– Oi, não entendi, vir aqui?! – Ela mostra surpresa.
– É, quero te ver, talvez passar a noite com você. Será que sua
mãe se incomoda?
Solto o ar, estou parecendo um cara de 20 anos, grudento e
carente.
Mas, eu sou assim, daqui a um mês eu não sentirei mais nada
por ela, é tesão, muito tesão, e preciso aliviar isso.
Um silêncio desagradável, se ela disser que eu não posso, vou
comer aquela garota que está me secando, e que se foda o que
disse a ela sobre não estar saindo com ninguém.
– Pode vir, Rui. – Sinto insegurança em sua voz. – Você não vai
reparar, meu quartinho é bem simples, nada comparável ao seu...
Sorrio.
– Não ligo para essas coisas, Jack, eu só quero você! – Apalpo
meu amigo, ele está pulsando, louco para me afogar naquela buceta
quente e macia. – Chego aí em 20 minutos, essa hora não tem
trânsito.
Me levanto apressado, pego uma nota em minha carteira, coloco
sobre a mesa e meu amigo me olha confuso.
– Tudo bem, estou te esperando. – Ela sussurra.
Desligo.
– Estou indo, irmão, vou ver minha gostosa! – falo rindo.
Ele me olha de lado.
– Está apaixonado, Rui? – ele diz debochado.
– Só se for pela buceta dela. – Bato em suas costas e saio
apressado.
Capítulo 29
JACKELINE BARTOLLI
Olho para o celular enquanto a ligação é encerrada.
Confesso que não esperava por isso, ele virá dormir comigo,
aqui no meu muquifo?! Bom, dormir é o jeito de falar, acho que não
iremos dormir muito, pois euzinha quero me afogar naquele monte
de músculos.
Oh, meu Deus, esse homem é uma loucura em todos os
sentidos.
Desgraçado, ele faz tudo que gosto, tudo que gostaria que um
namorado fizesse por mim!
Fecho meus olhos e respiro.
Existem homens que são mestres nisso, em encantar, seduzir, e
depois, em largar a gente.
Mas não consigo resistir a ele, é bom demais estar em seus
braços, sentir aquele cheiro que ele exala, aquela boca, aquela
língua, aquele pau enorme e lindo.
Oh, céus, como ele me excita, só de pensar nele, já estou toda
molhada.
Balanço minha cabeça energicamente e olho para minha cama.
– Ok, pelo menos preciso trocar a roupa de cama, é o mínimo e
o máximo que posso fazer.
Tiro os lençóis, as fronhas, pego roupas de cama limpas e forro
minha cama. Sigo para o banheiro, enfio tudo dentro do cesto de
roupas sujas, tiro a toalha de banho usada e coloco novas e limpas.
Paro no meio do meu quarto e suspiro.
– Agora é a parte mais complicada, avisar minha mãe que
aquele cara gostoso que estou transando irá dormir comigo em meu
quarto.
O Rui é bem maluquinho, e isso é muito excitante.
Sigo para o corredor dos quartos, abro a porta do quarto da
minha mãe, ela está dormindo. Me sento suavemente na beira da
cama e a chamo em um sussurro.
– Mãe! – Nada. – Mãe! – Oh, ela não acorda, aumento o tom de
minha voz. – MÃE!
Ela pula na cama de sobressalto e me olha assustada.
– Desculpe, mãe, é que preciso te dizer uma coisa.– A olho sem
graça.
– Jackeline do céu, assim você me mata de susto. – Ela se senta
na cama, passa as mãos pelos cabelos curtos e bagunçados. – O
que aconteceu? – ela diz esbaforida.
– O Rui vem dormir comigo, ele já está a caminho! – Ela me olha
assustada.
– Como assim, dormir com você?! – Ela se levanta, parece
furiosa.
– Mãe, faz de conta que somos namorados, ele me ligou,
perguntou se poderia vir me ver, e eu disse que sim – falo com
cautela.
– Oh, mas ele não é seu chefe, vocês não se viram o dia inteiro?
– Ela parece indignada.
– Sim, mas é que lá somos funcionária e chefe. – Minto,
transamos hoje em seu escritório. – Então, acho que ele está
querendo namorar um pouco comigo – falo debochada.
– Oh, não gosto disso, isso não é coisa de mulher séria! – Ela
franze sua testa.
– Mamãe, é o seguinte, a senhora gostando ou não, ele irá
dormir comigo hoje, e eu estou adorando isso. Então, por favor, seja
discreta, não apareça no meu quarto, não bata na porta, não me
chame, só em caso de incêndio, ou morte súbita de alguém! – Me
levanto, giro em meus calcanhares e sigo para a porta.
– Jackeline, você está muito mudada, você não era assim – ela
diz com uma expressão dura.
Tudo bem, nunca fui de trazer homens em minha casa, nem
mesmo o palermo do Renato dormiu aqui comigo, mas não porque
eu não queria, ele que era um... ah, deixa quieto.
– Mãe, não estou fazendo nada demais, tenho 27 anos, sou uma
mulher madura e independente, quero dizer, mais ou menos
independente! – Olho através de meu ombro e mando um beijo com
a ponta dos dedos para ela.
****
Estou sentada em minha cama lendo um livro, adoro romances
espíritas, essa coisa de além da vida, gosto de pensar que não
deixamos de existir para sempre, que essa energia de vida não
acaba com a morte.
Me assusto com o celular tocando, olho e vejo o nome do Rui.
Meu coração acelera, controlo a respiração para não parecer
nervosa.
– Alô!
– Oi, Jack, já cheguei, posso subir? – ele diz com a voz agitada,
parece andar enquanto fala.
– Eu já autorizei sua entrada, estou no terceiro andar, vou te
esperar na porta! – falo rapidamente.
– Ok, estou chegando, minha deusa! – ele diz debochado, e
sorrio, adoro quando ele me chama de deusa, faz muito bem para
minha autoestima.
Desligo o celular e me olho no espelho.
Advinha se eu não me arrumei para receber ele?
É lógico, né!
Coloquei uma camisola curta de cetim preto, é muito sensual,
comprei para dormir com o viado do Renato, e lógico que não
funcionou.
Realmente eu sou uma lerda, qualquer mulher teria desconfiado,
menos a terapeuta para homossexuais Jackeline Bartolli.
Reviro meus olhos.
– Esquece isso, Jackeline! – falo para mim mesma.
Abro a porta do meu quarto e sigo descalça até a porta da
entrada, a abro e fico com metade do meu corpo para fora, espero
que nenhum vizinho me veja nesse estado.
Ouço o barulho do elevador chegando, minha vontade é ir até
em frente ao elevador, mas não posso, pode haver alguém além do
Rui dentro dele.
Finalmente o elevador chega, abre, e meu deus grego sai da
cabine, lindo em uma camisa esporte e calça jeans, ele me olha e
sorri.
– Demorei? – ele diz com aquele jeito sedutor, me olhando com
volúpia, com desejo.
– Não, inclusive, acho que você deve ter tomado algumas
multas, você chegou muito rápido! – Abro a porta, ele coloca suas
mãos em minha cintura, se aproxima e me beija.
Abraço seu pescoço com força, juntando nossos corpos e
aprofundando nosso beijo.
Ele apalpa meu bumbum, me aperta contra seu corpo me
fazendo sentir sua ereção enorme contra minha barriga, ofego de
paixão, estou louca por ele.
– Vem, Rui! – Pego em sua mão e o levo para meu quarto.
Entramos em meu quarto, fecho a porta e grudo novamente em
seus lábios.
Talvez eu pareça meio desesperada, mas que se foda, estou
louca por ele.
Suas mãos começam a trilhar um caminho de fogo por baixo de
minha camisola, me acariciando sensualmente, me fazendo gemer
contra seus lábios.
– Jack, eu não aguento esses gemidos, isso me deixa louco! –
Ele arranca minha camisola, olha para os meus seios, mergulha
seus lábios gulosos, me suga, me lambe. – Você é gostosa demais,
Jack.
Começo a desabotoar sua camisa, vagarosamente, ora
gemendo, ora ofegando, até que ele para com a tortura e termina de
tirar sua camisa. Abre o cinto, o zíper, tira rapidamente seus sapatos
e finalmente está nu na minha frente.
Acaricio seu peito, sua barriga, e finalmente preencho minha
mão com seu membro grosso e grande. Ele geme, morde meu
pescoço, continuo com a carícia, ele me empurra contra minha
cama, me deito, ele abre minhas pernas e mergulha sua língua
maravilhosa em meu sexo.
– Oh, Ruiii! – Gemo alto. – Isso é bom demais, Rui! –
Choramingo. – Mais, Rui. – Ele enfia um dedo. – Ofego de prazer. –
Oh, Rui não para. – Gemo, ele enfia o segundo dedo. – Ahhh, Rui...
– Ele aumenta os movimentos de entra e sai, desliza sua língua
deliciosamente em meu ponto de prazer e finalmente gozo. – Oh,
Rui, você é demais, uhhh, ohhh, Ruiii!!!
Ainda estou sob o torpor de um orgasmo fantástico, quando sua
boca lambuzada cobre a minha em um beijo cheio de fome, e
paixão.
– Fica de quatro para mim, minha deusa! – Ele diz me encarando
com aqueles olhos sedutores.
– Eu faço o que você quiser, Rui! – Grudo meus dedos em seus
cabelos, e o beijo com paixão.
Separo meus lábios dos seus, eu não queria parar de beijá-lo,
mas o roçar de seu membro em minha intimidade está me deixando
louca para tê-lo dentro de mim.
Me viro de bruços, ele segura meus quadris com força, me
encaixa em sua ereção e começa a se movimentar vagarosamente,
beijando e mordendo meus ombros, minha nuca, meu pescoço.
– Rui, eu adoro isso – falo num sussurro, extasiada com suas
carícias.
– O que você adora, minha gostosa? – Uma de suas mãos
acaricia meus seios, gemo mais alto. – Gostosa, acho melhor não
fazer muito barulho, a gente não quer acordar aquelas senhoras
simpáticas.
Dou risada e ao mesmo tempo me contorço, sentindo seus
lábios roçando minha orelha.
– Oh, Rui, me fode bem forte! – falo fora de mim, não estou nem
aí com as senhoras que habitam esse apartamento.
Uma estocada forte e profunda, gemo alto.
– Assim, gostosa? – ele diz e bate em meu bumbum, me assusto
como da primeira vez, mas isso é muito excitante, pois ele bate e
assopra.
– É, Rui, mas bate devagar! – Sussurro, ele ri, mais uma
estocada, um novo tapa, ele acaricia o local.
– Assim, Jack? – Ele sussurra no meu ouvido, me arrepiando até
o último fio de cabelo.
– Hummm, é... – Gemo.
E seus movimentos aumentam, os tapas em meu bumbum, as
carícias, isso é uma loucura.
Tento segurar os sons que saem da minha garganta, mordo meu
travesseiro, meus lábios, e chego a mais um orgasmo sensacional,
nunca senti nada igual.
– Ohhh, uhhh, estou gozando, Rui!!! – falo gemendo.
– Oh, Jack, você me deixa louco. – Seus movimentos ganham
intensidade, ele enfia seus dedos na pele dos meus quadris, para e
geme abafado, controlando seus uivos de prazer, apertando seus
dedos contra minha pele. – Oh, Jack, que gozada fora de série.
Meu coração bate freneticamente em meu peito, espero
enquanto ele retoma a consciência, ele continua se movendo
lentamente dentro de mim, gemendo fraco e baixo. Meus braços
tremem, ele é um homem forte e vigoroso, manter uma relação
sexual com ele exige força de meus braços, minhas pernas, e estou
chegando ao meu limite.
– Oh, Rui, preciso me deitar. – Desabo em meu colchão, com
minha respiração ofegante. – Jesus, Rui, acho que preciso fazer
musculação, meus braços não aguentam uma sessão de sexo com
você – falo e dou risada.
Ele se deita ao meu lado com uma expressão relaxada, de puro
prazer.
– Foi bom, minha deusa? – ele diz com seu olhar sedutor,
acariciando meus cabelos, os tirando do meu rosto.
Cruzo meus braços a minha frente e apoio meu rosto neles.
– Deu para o gasto. – Dou uma risada relaxada. – Foi bom
demais, Rui! – O olho profundamente, tenho vontade de falar muitas
coisas, que adoro ficar com ele, que adoro seu cheiro, a forma que
ele faz amor, ops, sexo, mas não o faço, o Rui não está muito
interessado nessa parte, ele é um cara prático e objetivo.
Ele apoia seu corpo em seus cotovelos, me olha, me analisa.
– O que foi, Jack? Por que você está me olhando assim? – Ele
me olha de lado.
– Nada. Gosto de olhar para você, não sei com quem aprendi
isso! – falo com deboche. – Acho que foi com um cara que conheci
no elevador.
Ele sorri.
– Onde está aquele espartilho? Eu quero que você o leve em
nossa viagem! – Ele me olha seriamente.
O olho admirada, ele está levando isso a sério.
Me debruço sobre seu peito, acariciando os pelos de seu tórax.
– Eu coloco na minha mala – falo e acaricio seu rosto, beijo seus
lábios suavemente, ele segura os cabelos de minha nuca
delicadamente e pressiona meus lábios contra os seus.
Sinto uma sede dele tão grande, como se não conseguisse me
saciar, nosso beijo ganha intensidade, fica profundo, cheio de
sensualidade, ele puxa meu corpo para que eu fique em cima dele,
e eu mal acredito que ele está excitado novamente.
– Sobe nele, Jack! – ele diz com seus olhos em chamas, adoro
vê-lo desse jeito, ele se senta na cama, passo minhas pernas ao
redor de seus quadris, me encaixo em sua ereção, e começo a me
movimentar deliciosamente em seu pau.
Suas mãos acariciam meu bumbum, apertando e pressionando
meu corpo contra o seu. Aperto meus braços contra seu pescoço e
o beijo apaixonadamente.
Mais alguns minutos de beijos e carícias, e chegamos ao
orgasmo, delicioso, insano. Descobri um novo vicio, transar com o
Rui, estou viciada nesse homem, e estou perdida.
Gemo contra seus lábios, de olhos fechados, e em seguida sinto
seu jato quente dentro de mim, ele geme e me morde. Acho que um
dia desses vou aparecer com uma marca de dentes em meus
ombros.
– Oh, Rui, eu adoro isso! – Sussurro esfregando meu nariz em
seus cabelos, inerte, e entregue aos sentimentos confusos que sinto
quando estou com ele.
Ele beija meu ombro, me aperta em seus braços, beija meus
cabelos, e eu gostaria que este momento não terminasse nunca,
que congelasse, é bom demais estar com ele.
Aos poucos voltamos ao normal, o encaro novamente.
– Quer tomar um banho? – pergunto ainda em seu colo, sentindo
seu membro duro dentro de mim, o que me causa certo desejo de
recomeçar com nossa loucura, mas me controlo, ele vai me achar
uma ninfomaníaca.
– Quero, estou suado! – ele diz com um sorriso.
Me levanto de seu colo, estendo minha mão para ele e o
encaminho para o banheiro.
Entramos na ducha, lavo seus cabelos, passo sabonete por sua
pele, adoro deslizar minhas mãos por seu corpo forte, nunca estive
com um homem tão másculo, ele é pura tentação.
Ele está relaxado, com seus olhos fechados, numa cena pouco
comum, é difícil vê-lo completamente relaxado, o Rui é um cara
tenso, alerta, parece sempre preocupado, com muitos problemas na
cabeça.
– Está gostoso, Rui? – pergunto deslizando minhas mãos por
suas costas, apertando seus músculos.
– Muito, Jack! Por mim, durmo aqui mesmo, embaixo do
chuveiro! – Sorrio e penso que por mim eu nunca mais o deixaria ir
embora, eu o prenderia com algemas em minha cama, ele seria
meu prisioneiro sexual.
Sorrio de meus pensamentos eróticos, ele abre os olhos e me
olha com um sorriso.
– Por que você está rindo? – ele diz curioso.
– Oh, não posso contar! – falo divertida, aperto os músculos de
sua nuca.
– Por que você não pode contar, tem a ver comigo? – Ele me
olha de lado.
– Tem! – Dou risada.
– Então, eu quero saber. – Ele me aperta contra seu corpo. – Eu
posso fazer cócegas em você. – Ele aperta minha cintura com os
dedos, dou um grito.
– Não, caso contrário todo mundo vai acordar, eu grito muito com
cócegas, sou muito escandalosa – falo desesperada tirando sua
mão de minha cintura, ele me aperta de novo, me contorço.
– Então, fala. – Ele me olha com um sorriso.
– Tá bom! – Seguro meu riso. – Imaginei prendê-lo em minha
cama com algemas, e te manter como meu prisioneiro sexual. – Dou
risada.
– Não é uma má ideia! – Ele torce seus lábios. – Você gosta
dessas coisas, Jack?! – Ele me olha malicioso.
– Nunca algemei ninguém, mas parece excitante. – Nos
encaramos.
– Então vou comprar umas algemas, mas vamos tirar na sorte
quem ficará algemado – ele diz debochado.
– Oh, não, o desejo é meu, meu fetiche, você algemado só para
mim, durante sete dias!
Ele gargalha.
– Caralho, vou sair morto da cama, e desnutrido.
Abraço seu pescoço.
– Mas, eu irei cuidar de você, dar comidinha na boca, tirar seu
xixi... – Dou risada da minha insanidade.
– Oh, Jack, você me coloca fogo sabia?! – ele diz e novamente
vejo aqueles olhos sedutores me olhando.
– Rui, você parece que tem 20 anos. – Seguro seu membro
entre minhas mãos, nunca vi nada igual, esse homem é uma
máquina de sexo.
– Você não viu nada, Jack! – ele diz com malícia, me vira contra
o azulejo, pressiona seu corpo contra o meu e roça seu membro
contra minha bunda. – Vamos transar a noite inteira, gostosa. – Ele
sussurra em meu ouvido, e não duvido disso, esse homem é
demais.
****

O alarme do celular toca, mas não estou em condições de me


levantar, esse cara acabou comigo.
Estou babando contra meu travesseiro, o Rui me abraça mais
junto ao seu corpo, e isso é demais para mim, me enrosco nele e
durmo novamente.
Acho que ouvi o despertador tocar mais umas três vezes, mas
não consigo me levantar.
Jesus, fizemos sexo até ficarmos esgotados, isso não é muito
normal, quero dizer, para meu padrão, nunca estive com alguém
com tanto vigor sexual, ele não cansa, não brocha, é tudo que uma
mulher quer.
O abraço mais um pouco, cheiro sua pele, beijo seu pescoço e
me aninho a ele.
Daqui a pouco levanto. – Penso completamente tonta de sono.
Adormeço novamente e acordo com o som de alguém me
chamando. Eu sei que deveria ter passado a chave, mas quem falou
que meu quarto tem chave.
Estou tonta, mal sei onde estou, mas a voz que vem aos meus
ouvidos me faz voltar aos poucos de meu estado de desmaio, abro
os olhos com dificuldades, me afasto um pouco dele, olho para a
porta e vejo minha avó parada nos olhando.
Me sento de sobressalto, tento achar o lençol, mas que merda,
não acho.
– Vó, por favor, dá licença! – falo apavorada, procurando o lençol
nas laterais da cama.
– Menina, vocês não me deixaram dormir a noite inteira – ela diz
com uma naturalidade de quem fala bom dia. – Você está atrasada,
seu despertador está tocando há horas! Vamos Jackeline, saia
dessa cama, e leve esse homem com você! – E ela vira seu rosto de
lado e olha meu deus grego, ele está completamente nu,
descoberto, e não acorda por nada desse mundo, parece que está
morto.
– Jackeline, que homem! – Ela coloca sua mão sobre os lábios.
Me levanto nua, não estou nem aí.
– Vó, sai do meu quarto, vá cuidar da sua vida! – A empurro para
fora, fecho a porta e respiro.
Meu Deus, que mico, ela disse que não a deixamos dormir a
noite inteira.
Oh, que vergonha.
Olho para minha cama, agora o Rui está de lado, dormindo
profundamente.
Subo novamente na cama e acaricio seus cabelos.
– Rui, acorda!
Ele resmunga.
Puxo seu corpo, ele parece morto, dou risada.
– Rui, a gente precisa trabalhar! – Estou inclinada sobre ele, ele
não se mexe, beijo seus lábios diversas vezes. – Acorda, Rui!
– Oh, Jackeline, você acabou comigo! – Ele reclama de olhos
fechados, e vira seu corpo de lado.
– Abusei de você? – Faço voz de boazinha. – Coitadinho do Rui,
ele é tão inocente, eu me aproveitei dele! – Brinco, tento fazer
cócegas nele. – Acorda, Rui, você é um advogado, tem um
escritório renomado para zelar, muitos processos e clientes
nervosos te aguardando.
Ele sorri de olhos fechados.
– Estou morto, Jack! – Ele não abre os olhos. – Vou reclamar
para sua mãe, você é uma ninfomaníaca.
Gargalho.
– Oh, Rui, nem fala nisso, minha avó viu seu bilau! – Ele vira de
sobressalto, e arregala seus olhos.
– Como assim? – Ele apoia seu corpo em seus cotovelos.
– Ela entrou no quarto e disse que não a deixamos dormir! – O
olho admirada. – Será que fizemos tanto barulho assim?
Ele ri.
– Um pouco, né, Jack?! – ele diz com sarcasmo. – Sua cama faz
muito barulho, vou te dar uma cama nova! – Ele se levanta e pega
seu celular que está em uma mesinha. – A gente precisa ir, Jack,
vamos chegar atrasados. Vem, faça as honras da casa e dê banho
em mim.
O olho divertida, pulo da cama e o sigo até o banheiro.
****

Terminamos nosso banho, e eu realmente dei banho no Rui, ele


está com muita preguiça. Aliás, ele está tão fofo, queria ele para
mim, só para mim, será que isso é possível?
Coloco uma de minhas roupas novas, ele já está vestido me
olhando.
– Gostou, Rui? – Coloco minhas mãos na cintura, e faço pose
para ele.
– Está linda! – ele diz preguiçoso. – Cadê o espartilho, Jack? –
ele diz com seu olhar intenso.
Sorrio, vou até meu guarda-roupa, o tiro da gaveta, a calcinha e
a meia liga, me agacho e coloco em minha mala.
– Pronto, chefinho! – Brinco.
– Não é para me chamar de chefinho fora do escritório! – ele diz
me segurando pela cintura, me prensando contra seu corpo.
– Oh, mas eu gosto de te chamar de chefinho! É só uma
brincadeirinha, igual a das algemas! – Ele gargalha.
– Não podemos nos esquecer de comprar as algemas. Estou
louco para te prender na cama, Jackeline! – Ele me solta. –
Podemos comprar mais alguns acessórios, ele me olha de lado,
malicioso.
– Tipo o que, chicotes? – Torço meus lábios.
– Você curte umas chicotadas, Jack? – Ele ri.
– Não, não sou masoquista, talvez uns tapinhas no traseiro, isso
é excitante! – Ele abre um sorriso largo, ele tem uma boca linda e
deliciosa.
– Ok, sem chicotes, só uns tapinhas!
O empurro para a porta.
– Estamos atrasados, meu chefe vai me matar! – falo irônica.
Ele pega minha mala e me segue.
****

O cheiro na sala é anormal para o horário, aroma de café e bolo.


Estranho isso, mas logo descubro, nossa pequena mesa
redonda de madeira está posta, tudo bonitinho, com capricho,
usando as louças portuguesas da minha avó.
Olho para o Rui, ele franze sua testa, e minha mãe aparece com
um bolo de laranja, sua especialidade.
Oh, adoro bolo, quentinho principalmente.
– Bom dia, Dona Amélia! – o Rui diz, minha mãe olha para nós
dois.
– Bom dia, Senhor Rui, passou bem a noite? – Abaixo minha
cabeça e dou risada.
Ele sorri.
– Passei bem, obrigado. – Ele aperta minha mão.
– Bom dia, mãe! Não precisava ter se preocupado, nós estamos
um pouco atrasados! – Olho para o Rui.
– Jackeline, seria uma desfeita com sua mãe, não são 10
minutos que irão atrapalhar a gente – ele diz com um sorriso para a
Dona Amélia, e a vejo se desmanchando.
Oh, Rui, você está fazendo tudo errado, ela quer te conquistar, e
fazer você se casar com sua filha encalhada! – Penso com ironia.
– Ok. – Sorrio, e o puxo para a mesa. – Obrigada, mãe! – A olho
com carinho.
– Se sente com a gente, dona Amélia – ele diz simpático.
– Deixe que eu sirvo vocês – ela diz enchendo nossas xícaras
com café e leite.
Corto um pedaço de bolo, coloco em um pratinho para ele,
depois para mim, e salivo de vontade de devorar esse bolo inteiro.
Jesus, tanto sexo me deixou esfomeada.
Tomamos café da manhã em um silêncio meio esquisito,
confesso que estou com vergonha, será que todo mundo ouviu a
gente? Oh, meu Deus, eu deveria ter seguido o conselho do Rui, e
me controlado.
Ele termina seu café e segura minha mão por debaixo da mesa.
– Obrigado, dona Amélia, adorei o bolo – ele sorri para ela.
– Oh, imagine, fiz correndo, apenas para vocês tomarem café da
manhã – ela diz timidamente.
– A senhora tem um sotaque português forte – ele diz
despreocupado.
Termino meu café com leite.
– Terminei. – Sorrio para ele.
– Sim, meus pais eram portugueses, vim mocinha para o Brasil,
e conheci meu marido aqui, ele era italiano, a Jack parece muito
com ele. – Ela me olha com aquele olhar de amor, admiração.
Sorrio para ela, eu sei que ela sente falta dele, eles eram tão
unidos, se amavam tanto.
O Rui me olha, sorrio sem graça para ele.
– Sua filha é encantadora, dona Amélia, parabéns!
Acho que estou roxa de vergonha, ele que é um encantador de
mulheres.
Vejo o sorriso satisfeito da minha mãe, com certeza ela achará
um monte de coisas, que inclusive ele será meu prometido. Mal
sabe ela que o Rui é um colecionador de mulheres.
Ele aperta minha coxa, tipo me avisando que temos que ir, faço
menção de me levantar, mas ouço um barulho no piso, e minha
vovozinha aparece na sala de jantar.
– Bom dia, meus queridos! – ela diz com seu sotaque carregado
de um português original da cidade do Porto.
– Bom dia, vovó! – falo preocupada, minha avó é muito pentelha.
– Bom dia! – O Rui diz, parece meio constrangido, afinal ele já
sabe que ela viu seu bilau, aliás, ela o viu nu em pelo.
– Já estamos de saída, vovó. – Me levanto. – Senta aqui,
mamãe fez o bolo que a senhora adora.
O Rui se levanta, ela o olha demoradamente.
– Querida, da próxima vez que trouxer seu namorado para
dormir com você, me avise que tomarei um calmante. Não consegui
dormir a noite inteira, você é muito escandalosa!
Fecho meus olhos e rezo para Nossa Senhora de Fátima me dar
paciência.
Só passo vergonha com minha avó.
Olho para o Rui, e ele está tentando segurar seu riso.
– Então, bom dia senhoras! – ele diz mais do que depressa.
– Tchau, mãezinha, tchau, vovó! – Beijo rapidamente o rosto das
duas, e sigo apressada em direção da porta.
– Jackeline, que mala é essa? – Minha mãe diz com a testa
franzida.
Poxa, me esqueci desse detalhe, não avisei ela que irei passar o
final de semana fora.
Quando vou responder o Rui se antecipa.
– Dona Amélia, a Jackeline vai me acompanhar em uma viagem
nesse final de semana, tenho que resolver algumas coisas na
cidade que nasci, mas fique tranquila, eu cuidarei bem dela! – E ele
sorri para minha mãezinha, de novo aquele sorriso sedutor, ele
seduz até as velhinhas, meu Deus!
– Oh, claro, imagine, só fiquei surpresa, ela não me disse nada!
– Dona Amélia diz constrangida, talvez por ser tão controladora com
sua filha quase trintona.
– Desculpe, mãe, acabei me esquecendo. – Tento sorrir. – Nós já
vamos. – Sigo apressada para a porta.
Preciso sair dessa casa logo, antes que minha tia acorde e aí o
circo estará montado definitivamente.
Capítulo 30
RUI FIGUEIREDO
Olho para o meu lado direito, a Jack disfarça.
Estamos dentro do elevador do prédio onde ela mora, acabamos
de tomar café da manhã com sua simpática mãe, mas tivemos a
felicidade de encontrar sua avó, uma velhinha também muito
simpática, e sem papas na língua.
A Jackeline vem de uma família simples, mas parece que são
cheios de valores familiares, eu gosto disso, gosto de tradições,
dessa cultura europeia, do cuidado de sua mãe com ela.
Tenho uma família menos calorosa, meu pai sempre foi um
homem duro, objetivo, um advogado perfeito. Minha mãe não é
muito carinhosa, mas sempre foi cuidadosa com nossa educação,
ela é uma mulher austera, pertencente a uma das famílias mais
tradicionais de Taubaté, onde nasci.
Meu pai teve que trabalhar duro para ser aceito por sua família,
ele era pobre, ela rica, mas ele não se deixou abater pelas
diferenças, se tornou o melhor advogado de sua cidade, conquistou
o respeito de sua família, e finalmente se casou com ela.
Eles possuem uma história de amor interessante, muito
romântica para meu gosto, mas enfim, apesar de ser um cara frio e
egoísta, não nasci de chocadeira, tive mãe e pai.
Não consigo segurar um sorriso, balanço minha cabeça.
– Eu disse, Jack, talvez um pouco menos de barulho, gemidos,
eu adoro, mas as senhoras simpáticas poderiam acordar.
Ela me olha enfezada.
– Oh, que vergonha, Rui! – ela diz constrangida.
– Vamos pensar que colocamos um pouco de diversão na vida
pacata de sua avó e sua mãe! – Sorrio para ela.
Ela dá risada.
Porra, tivemos uma noite incrível, a Jackeline é incrível, essa
mulher tem um fogo da porra.
Caralho, trabalhei duro essa noite para satisfazer essa mulher,
eu bem disse quando a vi pela primeira vez, ela é um furacão, e
haja pica para acalmar essa buceta.
– Gostou da nossa noite, Jack?! – A provoco, adoro fazer isso,
ela bem que tenta ser comportada, mas ela é uma devassa, uma
safada muito gostosa.
– Um pouquinho! – Ela ri. – Eu disse, deu para o gasto! – Ela me
provoca.
– Quer terminar aqui no elevador? – A encurralo no cubículo
estreito, encaro seus olhos castanhos grandes, eles são muito
expressivos.
Qualquer conversa com a Jackeline acaba em uma ereção, ela
tem um poder sobre meu pau que eu desconhecia, não posso ficar
perto dela que tenho vontade de foder, ando meio sem controle.
– Para, Rui! – Ela sorri. – Seria bem excitante, mas não daria
tempo, são só três andares.
Beijo seu pescoço, esfrego meus lábios em sua orelha e passo
minhas mãos pelo seu bumbum gostoso.
– A gente pode terminar isso no escritório, o que você acha? –
Esfrego minha ereção em sua barriga.
– Não, Rui! – ela diz manhosa, adoro esse jeito que ela fala,
parece uma gata.
– Ok, terei alguns dias para conseguir satisfazê-la! – O elevador
abre, pego em sua mão e saímos rapidamente.
Seguimos para meu carro.
– Não vou conseguir passar em casa, Jack. – Olho para ela. – A
gente passa no final da tarde e aproveitamos para pegar o Bóris, ele
vai com a gente. – Ela sorri, aliás, ela fica mais feliz quando vê o
Bóris do que quando me vê.
– Oh, vou passar um final de semana com o Bóris? – ela diz
animada.
– Não, você vai passar um final de semana comigo! – Levanto
minhas sobrancelhas, não é possível que eu tenha que dividir a
Jack com aquele pulguento.
– Você tem ciúmes do Bóris? – Ela ri.
– Claro que não! – Disfarço, pareço meio bobo quando estou
com a Jackeline, preciso endurecer um pouco, esse cara molenga
não sou eu.
– Vai fazer bem para ele ficar um pouco com você, ele deve
sentir sua falta – ela diz como se fosse terapeuta de cães.
– Quer fazer uma sessão de análise com ele, Jack? – Brinco.
– Ok, Rui, não vou mais falar do Bóris. Você tem ciúmes de mim
com o Bóris, isso é nítido para mim. – Ela balança sua cabeça.
Reviro meus olhos, era só o que me faltava, eu com ciúmes de
um cachorro.
****

Chegamos ao escritório, e novamente aquela situação


constrangedora, não podemos chegar juntos, mas também não
gosto dessa história de deixá-la na esquina, isso é ridículo, não
somos amantes, ninguém aqui é casado.
– Vamos, Jack! – Saio do carro, ela me olha confusa. – Eu não
devo nada para ninguém.
Saio andando em sua frente, também não precisamos chegar de
mãos dadas, isso também é exagero.
– Bom dia, Karen! – falo rapidamente, seguindo para as
escadas.
– Doutor Rui... – Ela me segue, acho que não percebeu que
cheguei com a Jackeline. – Eu tenho um assunto particular para
falar com você, posso subir até sua sala?
A olho meio confuso, mas que porra de assunto particular?!
– Tá bom, vamos subir – falo rapidamente, subindo as escadas.
Entramos na minha sala, ela fecha a porta antes que eu possa
falar alguma coisa.
– Pode falar, Karen. Qual o problema? – Me sento em minha
cadeira e ligo meu computador.
Ela se senta à minha frente.
– Bom, eu estou prestando vestibular, pretendo fazer o curso de
Direito.
– Que ótimo, Karen! – falo distraído.
– Então, eu queria saber se você pode me dar uma bolsa de
estudo, meu salário não é suficiente para eu pagar o curso! – Ela
me olha carente.
– Ok, quando você tiver o resultado do vestibular me procure
para ver o que podemos fazer. – A olho com firmeza, quero
dispensá-la logo, não posso perder tempo com esse tipo de
assunto.
Ela dá a volta na mesa, e logo me vem à mente suas intenções.
Transei muitas vezes com essa garota aqui nessa mesa, assim
como transei com a Jackeline. Mas, hoje não estou a fim, estou
cansado da minha noite quente com a Jackeline, talvez outro dia.
– Faz tempo que a gente não transa, Doutor Rui! – Ela se
insinua. – Estou com saudades.
A Karen é uma garota de 19 anos muito bonita, sempre gostei de
loiras, ela tem o estilo da Priscila, loira, magra e alta.
Se eu fosse a comparar com a Jackeline, não haveriam
comparações, elas são muito diferentes. Primeiro, porque a
Jackeline é uma mulher, não tem nada de menina, ela é experiente,
sabe o que quer, e seu corpo, vamos dizer que não há comparações
também, a Jackeline é muito mais gostosa.
– Talvez outro dia, Karen, estou atrasado hoje, tenho muitas
coisas para fazer. – Ela me olha decepcionada, dá um sorriso sem
graça, e sai rapidamente.
Enquanto ela caminha até a porta, admiro seu corpo.
Tudo bem, ela é gostosinha, mas a bunda da Jackeline me deixa
louco, é muita gostosura, tenho vontade de morder aquela mulher
inteirinha.
Sempre me envolvi com mulheres tipo modelos, a Jackeline não
está dentro desse padrão de beleza, mas ela é linda demais,
gostosa, e acho que preciso parar de pensar nela. Estou precisando
trabalhar, hoje ela não pode entrar muito nessa sala, caso contrário
não irei conseguir fazer nada.
Capítulo 31
JACKELINE BARTOLLI
Olho curiosa enquanto a Karen sobe com o Rui para sua sala.
Já percebi há dias que a Karen anda rondando o Rui, está
sempre procurando um motivo para ir até sua sala, mas agora que
trabalho com ele, ficou mais difícil para ela.
Um sentimento de ciúmes toma conta de mim quando chego à
minha mesa e vejo a porta fechada.
Confesso, não será tão fácil assim dividi-lo com outras mulheres,
nunca estive em um relacionamento aberto, onde cada um sai com
quem quiser, sou possessiva, ciumenta, quero dizer, não sou
nenhuma ciumenta neurótica, mas não acho que reagirei bem se
souber que ele está transando com outra mulher.
Prefiro não saber.
Arrumo minhas coisas, ligo meu computador e tento espairecer.
A porta abre, olho pelo reflexo e vejo a Karen saindo com cara de
poucas amigas.
– Bom dia, Karen! – falo em um tom neutro, profissional, não
posso arrumar inimizades aqui, este é meu trabalho.
– Oi! – Ela passa por mim, mas antes de ir embora me direciona
um olhar maligno, ela não disfarça a raiva que sente por mim, e isso
é muito desagradável.
Reviro meus olhos, era só o que me faltava, uma inimiga em
meu trabalho.
Ok, mas quero que ela se dane, tenho quase 30 anos, não vou
me preocupar com uma menina boba de 20 anos.
Verifico meus e-mails, aos poucos começo a me familiarizar com
a rotina do escritório, os assuntos do Rui começam a passar por
mim naturalmente, também começo a conhecer as pessoas, nem
que seja só por e-mail, ou telefone.
Logo que tenho um tempinho vou até sua sala, não quero
atrapalhá-lo, mas também não posso ignorar que preciso saber se
ele precisa de alguma coisa.
Abro sua porta, ele está entretido com seus processos e me olha
sobre os cílios através de seus óculos.
– Oi, só queria saber se posso te ajudar em alguma coisa! – digo
rapidamente.
– Obrigado, Jack, está tudo sob controle, só preciso que você
peça meu almoço aqui, não quero perder tempo! – ele diz
seriamente, parece absorvido pelos papéis que está lendo.
– Tudo bem, o que você quer comer? – pergunto parada em
frente a ele, e vejo um sorriso malicioso em seu rosto.
Será que esse homem só pensa em sexo?
Tento não sorrir, mas não consigo, eu já o conheço, e conheço
todos seus pensamentos pecaminosos.
Ele dá um sorriso torto.
– Uma carne, estou precisando repor minhas energias! – Ele
sorri debochado.
– Tudo bem, eu vou pedir para às 13h! – Giro nos meus
calcanhares, não posso ficar muito tempo com esse homem que já
começo a sentir ondas de calor subindo pelo meu corpo.
Depois de arrumar a mesa de reuniões para o Rui almoçar,
aproveito para almoçar rapidamente numa lanchonete perto do
escritório.
Faz dias que não falo com a Carol, mas é sempre assim, ela é
ocupada, e não quero ficar grudada, ela tem seus almoços com o
pessoal do escritório, enfim...
O período da tarde passou em meio a muitas coisas, termino de
fazer os pedidos para o coquetel do escritório, envio um e-mail para
o Rui, e ligo para sua empregada.
Ela atende.
– Oi, Dona Jô, é a secretária do Doutor Rui, a Jackeline – falo
simpática.
– Olá, Jackeline! No que posso ajudá-la?
– Bom, só queria te passar a data do coquetel, precisarei de sua
ajuda para receber o pessoal do buffet, mas tentarei chegar cedo
para te ajudar com isso.
– Ok, fique tranquila, o Doutor Rui gosta muito de fazer jantares,
coquetéis, estou acostumada com isso – ela diz com segurança,
parece uma empregada de alto nível, ela não é uma Maria ninguém.
– Então, está ótimo. Acho que estou mais perdida do que você,
mas nos falamos semana que vem. Obrigada, Dona Jô.
Ela se despede e respiro aliviada, menos um problema para
resolver.
Termino de fazer algumas cartas que ele me pediu, ele está
muito sério hoje, aliás, eu conheço dois Rui´s, o Rui advogado, e o
Rui amante. Um não tem nada a ver com o outro, o advogado é bem
frio, distante, o amante é acessível, quente e próximo, muito
próximo.
Olho de soslaio para o relógio do computador, já são 18h30, não
sei a que horas sairemos, mas hoje tanto faz.
Penso no que faremos hoje, quero dizer, no final de semana, e
sinto uma ansiedade, ele é intenso, isso ninguém pode negar. Não
tenho ideia como será nosso final de semana, mas estou
empolgada, porque adoro sua companhia, principalmente quando
estamos fora desse escritório. Não que ele me trate mal aqui, mas
eu me sinto melhor quando estamos fora do ambiente profissional,
me sinto mais livre para ser eu mesma.
Meu ramal toca, olho e vejo que é ele.
– Pois não? – Atendo formalmente.
– Vamos, Jack? – ele diz seriamente.
– Quando você quiser – respondo.
– Ok, arrume suas coisas, já estamos indo – ele diz de um modo
objetivo, às vezes ele é assim.
Desligo meu computador, guardo minhas coisas na gaveta, faço
algumas últimas anotações em meu caderno, para que eu não me
esqueça de fazê-las na segunda-feira.
A porta abre e com ela seu perfume invade minha sala.
– Já estou pronta – digo rapidamente, pego minha bolsa, dou a
volta em minha mesa e o sigo em direção às escadas.
Temos tido sorte de não encontrar os funcionários nesses
nossos passeios pelo escritório, mas daqui a pouco todos saberão
do nosso “caso”, eu tenho certeza disso.
Respiro aliviada ao ver que a recepcionista já foi embora.
O sigo até o carro, em instantes já estamos a caminho de seu
apartamento.
O olho disfarçadamente, ele está diferente, parece tenso, decido
não falar nada, mas me bate uma insegurança, sua mudança de
humor foi drástica, e isso me deixou incomodada.
– Algum problema, Rui? – Me xingo em pensamento, tenho uma
língua maldita, que tem vida própria e fala demais.
– Não, Jack. – Ele me olha de lado, rapidamente. – Estou com
alguns processos meio complicados, é só isso. – Ele sorri fraco.
– Ok. – Volto minha atenção ao trânsito, mas estou com uma
agonia, esse não é o Rui que eu conheço.
Ele estaciona seu carro na garagem do prédio, e aí me lembro
do Renato.
Caramba, já pensou se encontro ele, vai ser uma situação muito
desagradável! Mas, não vou pedir para entrar pelo elevador de
serviço, hoje o Rui não está de bom humor, infelizmente.
O sigo em direção ao elevador, nem percebi que ele pegou
minha mala.
– Você está sério, Rui.
Ok, eu sou assim, não consigo ficar com alguém do meu lado e
ficar feito uma múmia.
– Não é nada, Jack. Preciso de um banho para relaxar, talvez
uma massagem. – Ele me dá aquele sorri lindo, que adoro.
– Ok, eu providencio a massagem! – Brinco com ele.
Chegamos ao seu apartamento, ele abre a porta, assobia e seu
mascote vem feliz recebê-lo, e a mim também, estamos ficando
cada vez mais íntimos.
Me agacho para recebê-lo, seguro sua cabeça e dou beijos em
suas orelhas, em sua cabecinha.
– Oi, menino lindo! – Seguro seu focinho para ele não me babar
toda. – Você vai passear com seu pai, sabia? – digo olhando para o
Rui.
– Eu não sou pai desse bicho, no máximo somos amigos – ele
diz debochado.
– Ok! – Reviro meus olhos e balanço minha cabeça com
desdém.
– Vamos, Jack, quero tomar um banho de banheira com você. –
Ele pisca para mim, e chego a pensar que não vamos viajar para
lugar nenhum.
Ele deixa minha mala sobre sua cama e segue para o banheiro,
ouço barulho de água caindo, e um perfume gostoso invade o
quarto.
– Tira sua roupa – ele diz voltando para o quarto, ele já está sem
roupa, completamente nu.
O olho admirada.
– Tá! – respondo.
Tiro meu blazer, coloco sobre sua cama, a camisa, os sapatos
altos e a saia, tiro minha lingerie, e sigo para o banheiro.
Ele está dentro da banheira, a água já está no meio da sua
cintura, ele estende sua mão para mim.
– Vem!
Passo minhas pernas pela banheira e encaixo-me no meio de
suas pernas.
– Oh, que água deliciosa! – digo extasiada com a sensação boa
de estar dentro de uma banheira.
– Você gosta de espuma? – ele pergunta com um vidrinho na
mão.
– Gosto! – O olho de lado e sorrio.
Ele despeja o líquido dentro da água, e em instantes a banheira
começa a ficar repleta de espuma.
– Tá cansado, Rui? – Acaricio seus braços que estão ao redor
do meu corpo.
– Um pouco, acho que dormimos pouco essa noite. – Ele beija
meus cabelos, ele é muito carinhoso.
– Podemos nos levantar bem cedo, é melhor que viajar à noite,
você não acha? – Ele olha para os meus lábios.
– Talvez. – Ele se inclina um pouco e me beija, vagarosamente,
ternamente, de um jeito gostoso, mas não menos excitante. – Fica
de frente para mim, Jack.
Me ajeito em seu colo, passando minhas pernas por seus
quadris, o encaro, mas logo ele envolve meu rosto com suas mãos e
me traz para um beijo intenso, cheio de sensualidade, mas com um
toque diferente, que não sei dizer o que é.
Sua ereção começa a crescer em meio as minhas pernas.
– Senta nele, Jack! – ele diz em meio ao nosso beijo.
Levanto meus quadris, e me encaixo em sua ereção, ofego de
prazer ao senti-lo dentro de mim. Suas mãos conduzem os
movimentos de meus quadris contra seu corpo, ele está calmo, mas
intenso, seu beijo que estava calmo começa a ficar mais profundo.
Sinto um começo de amortecimento, ofego e seguro seus
cabelos, os puxando com paixão.
– Rui, eu vou gozar! – Sussurro contra seus lábios, ele aumenta
a pressão contra meu corpo.
– Eu também, Jack! – Ele enterra seus dedos contra a pele de
meu bumbum, ofega, geme, morde meus lábios. – Oh, Jack!!! Uhhh,
você é uma delícia, Jack! – ele diz com sua testa descansando na
minha.
O olho enquanto nossas respirações voltam ao normal.
Engraçado como pela primeira vez fizemos um amor ou sexo
calmo, mas foi maravilhoso.
Desço meus lábios em direção aos seus, o beijo
carinhosamente.
– Foi delicioso, Rui! – Sussurro o olhando a centímetros de
distância.
Ele sorri, e percebo como é bom quando ele sorri, odeio quando
ele fica sério.
Descanso minha cabeça no vão do seu pescoço.
– Se a gente ficar aqui, vamos dormir – ele diz num tom leve. –
Acho melhor a gente tomar um banho, e saímos, já estou
recuperado – ele fala malicioso.
– Ok, você quem sabe. – Me levanto de seu colo. – Eu sei dirigir,
mas não vou me oferecer para dirigir seu carro, só sei dirigir carros
básicos. – Estendo minha mão para ajudá-lo.
– Certo, se eu precisar você terá que dirigir meu carro. Mas não
vamos com o carro que costumo usar, vamos usar um modelo SUV,
é melhor para levar o Bóris.
Ele segue para o chuveiro e tomamos banho juntinhos, e só para
não perder o costume ensaboo seus cabelos, o seu corpo, e não sei
explicar, mas desenvolvemos em alguns dias uma intimidade que
não consegui ter com o Renato em anos de convivência.
Isso é tão estranho.
****

Seguimos em direção ao seu carro, eu segurando a coleira do


Bóris, que caminha muito feliz em companhia de mim e de seu
dono, e o Rui carrega nossas malas.
Paramos em frente a um carro enorme, alto e robusto.
– Grande esse carro! – falo admirada. – Não sou capaz de dirigir
esse pequeno caminhão.
Ele me olha e sorri.
– No final das contas, todos são iguais, Jack. É só uma questão
de costume. – Ele abre a porta de trás do carro, os bancos são de
couro cor caramelo, esse carro é tão ou mais bonito que o outro. –
Entra, Bóris.
Solto a coleira do Bóris que entra com muita naturalidade,
parece muito acostumado a passear nesse carro.
Acompanho enquanto o Rui coloca uma espécie de cinto de
segurança para cães no Bóris, e acho isso muito engraçado.
– Ok, Jack, já podemos ir. – Ele dá a volta no carro, abro a porta
do passageiro e entro, e olho para trás.
– Está bom aí, Bóris? Você é muito chique, até usa cinto de
segurança!
Seguimos para a avenida e em pouco tempo pegamos uma
estrada.
– Quanto tempo leva a viagem? – pergunto vendo-o dirigir
compenetrado.
– Mais ou menos 2h30! – Ele me olha rapidamente.
– Ok. – Relaxo minha cabeça no assento do carro, e tento não
dormir, gostaria de conversar com ele, mas ainda temos uma
barreira entre nós, uma barreira de intimidade, nossa intimidade é
sexual, não temos uma intimidade como pessoas, sei pouco sobre
ele, e também não me sinto muito à vontade para perguntar.
– Conversa comigo, Jack. – Ele me olha com um sorriso.
Parece até que ele lê meus pensamentos.
– Não sei sobre o que conversar, hoje você está sério. – Ele me
olha de lado e respira forte.
– Tive um problema com um processo grande que estava em
nosso escritório, o cliente retirou ele. – Percebo sua testa franzir. –
Era um processo milionário, e eu iria ganhá-lo, perdi noites
pensando sobre isso, tentando arrumar a melhor saída para
ganharmos.
Percebo pela sua feição o quanto isso está deixando-o nervoso.
– E qual foi o problema? – pergunto com cuidado.
– Esse processo foi uma parceria entre meu escritório e do
Doutor Albuquerque, o pai da Priscila. O cliente avisou hoje que o
processo será tocado pelo escritório dele, e eu sei que não foi uma
decisão do cliente, mas sim daquele filho da puta.
Olho para seu perfil, cada linha do seu rosto tencionou, a
mandíbula está travada.
– Mas deixe isso para lá, resolvo essa questão na semana que
vem, não adianta ficar puto, estragar meu final de semana. – Ele
segura minha mão e a beija. – Desculpe se estou um pouco bravo,
você ficou me devendo a massagem. – Ele sorri.
– É verdade, mas não deu tempo. – Aproximo meu corpo do
dele, beijo seu rosto carinhosamente, passo meu nariz pelos seus
cabelos, e cochicho em seu ouvido. – Depois eu faço se você
quiser.
Ele me olha de lado com um sorriso.
– Eu quero! – Ele coloca minha mão sobre seu membro, rijo e
ereto.
Esse homem é extremamente sexual, ou eu que o provoco sem
perceber, eu só dei um beijo em seu rosto, cheirei seus cabelos, não
é possível que isso seja o suficiente para excitá-lo, ou será?
Depois que ele me contou sobre seu problema, ele relaxou um
pouco, comentou algumas coisas sobre o escritório, aos poucos ele
começa a confiar mais em mim, me confia coisas particulares, e me
sinto muito bem com isso.
Paramos rapidamente em um desses postos de conveniência no
caminho, o Rui tomou um café, o Bóris fez xixi, tomou água e depois
de alguns minutos voltamos para a estrada.
Confesso que estou começando a ficar com sono, mas estou me
esforçando para não o deixar sozinho. Tento contar coisas sobre
minha carreira pouco convencional de psicóloga, sobre os casos
engraçados que precisei lidar, sobre meu último emprego com o
psiquiatra maluco e sua secretária de 90 anos. E foi bom, porque eu
o fiz rir um pouco, parece que tenho o dom de fazê-lo rir, ele acha
tudo que conto engraçado.
– Você é cômica, Jack, deveria fazer aqueles shows de “Stand
up Comedy”! – Ele ri.
– Oh, que exagero, jamais conseguiria ficar 60 minutos fazendo
as pessoas rirem, não sou tão criativa.
– Eu acho que você leva jeito, você é engraçada! – Ele me olha
de lado, segura um riso.
– Você que tem um senso de humor acima da média, ri de tudo!
– Ok, você não quer admitir seu lado cômico, não estou te
chamando de palhaça, é sério, você faz qualquer desgraça ficar
engraçada!
Sorrio com sua constatação, acho que sou assim, tento tirar
barato de tudo, é um jeito de ver as coisas de uma forma mais leve.
– Estamos chegando, Rui? – Olho para o Bóris, deitado no
banco, exausto. – Eu e o Bóris estamos de saco cheio.
Ele me olha e faz uma cara feia.
– Eu que deveria estar de saco cheio, estou dirigindo, tenso,
você dois estão só curtindo. Na volta você dirige, Jack!
– Não, a viagem está ótima, se precisar esticar até Belo
Horizonte, fique tranquilo, estou adorando ficar nesse carro, ele é
muito confortável. – Olho para o Bóris. – Não é, Bóris? Dá um latido
para dizer que concorda! – O Bóris abana o rabo.
O Rui balança sua cabeça e sorri.
– Já estamos chegando, reclamona.
– Oh, que alívio. – Me estico no banco e sigo com minha mão
até a nuca do Rui. – Tá tenso Rui? Vou adiantar uma massagem
para você! – Massageio delicadamente os músculos do seu
pescoço.
– Hummm, assim está melhor! – ele diz manhoso.
Depois de mais meia hora chegamos a sua cidade, ele dirige
entre as ruas, e é interessante como cidades do interior são
charmosas.
Entramos em um condomínio, vejo apenas casas de alto padrão,
e de repente ele para em frente a uma casa muito bonita, uma
construção moderna, com um pé direito alto, ele pega um controle
remoto no porta luvas e abre o portão.
– Chegamos! – ele diz.
– Linda essa casa! – digo admirada. – É da sua família ou sua? –
pergunto confusa, por que ele teria uma casa tão grande e bonita no
interior?
– Essa é minha, meus pais ainda moram aqui, mas em outro
condomínio.
Ok, não digo nada, o Rui é um cara bem-sucedido, não custa
nada para ele manter duas casas.
Ele estaciona o carro, desliga e me olha.
– Vamos, Jack! – Saímos do carro, ele solta o Bóris que sai
correndo para a parte de trás da casa. – Quero te mostrar a represa,
o Bóris adora nadar nela.
Ele parece outro, renovado, parece adorar esse lugar.
Caminhamos de mãos dadas em meio a um gramado, muitas
plantas ornamentais, o lugar é lindo, bem cuidado, ele deve ter um
caseiro.
Finalmente chegamos à parte de trás da casa e fico admirada
com a vista, uma linda represa toma conta de todo o horizonte, está
muito escuro, mas a iluminação das casas em torno da represa
possibilita uma visão limitada, mas bonita do local.
– Que lindo é aqui, Rui! – digo encantada.
Um grande gramado enfeita a parte posterior de sua casa, uma
linda piscina está toda iluminada, vejo um deck e uma parte coberta,
o lugar é incrível.
– Esse é meu lugar preferido no mundo – ele diz com seu olhar
perdido na imensidão escura da represa. – Adoro esse lugar.
– Não é para menos, durante o dia deve ser ainda mais lindo. –
Ele me puxa para próximo da represa, caminhamos por um deck
alto, que avança em direção à represa. Paramos, ele me abraça
pelas costas, me aninho em seus braços, o vento está frio, mas é
bom estar assim com ele.
– Gosto de ficar aqui pensando na vida – ele diz de uma forma
íntima, parece que está dividindo comigo um segredo.
– Parece ótimo mesmo. – Viro meu corpo de frente para ele e
olho em seus olhos. – Aqui parece perfeito para namorar. – Sorrio, e
o faço sorrir também.
– Sim, é perfeito, podemos fazer isso se você quiser. – Ele
aproxima seus lábios dos meus e me beija carinhosamente, acaricio
seus cabelos, suas costas, ele se afasta um pouco. – Me deixa te
mostrar a casa. – Voltamos a caminhar em direção a casa. – Eu
tenho uma pessoa que cuida da casa para mim, e pedi para sua
esposa preparar alguma coisa para comermos. – Ele me olha de
lado.
– Perfeito, Rui. – Sorrio e o acompanho.
A porta que dá acesso ao jardim é de vidro, então através dela
posso ver uma sala maravilhosa, sofás confortáveis num estilo
rústico enfeitam o ambiente, a decoração é um misto de rústico com
moderno, num equilíbrio que só pode ter sido conseguido com a
ajuda de um arquiteto.
– Adorei aqui, é lindo! – digo admirada.
– Vamos subir, quero te mostrar os quartos – ele diz seguindo
para as escadas que dão num mezanino.
Entramos em um quarto, grande, arejado, com portas balcão que
dão acesso a uma varanda enorme, com vista para a represa. Os
pisos são todos de madeira, num estilo rústico, mas de muito bom
gosto. O quarto é decorado com móveis de madeira, parecem feitos
especialmente para esse ambiente, tudo combina. Uma cama
enorme está no meio do quarto, uma colcha de matelassê branca
cobre a cama, tudo é refinado, com um toque de revista de
decoração.
– Gostou, Jack? – Ele me abraça pela cintura.
– Adorei, sua casa é linda! Você contratou um arquiteto para
decorar? É tudo tão perfeito! – digo admirada.
– Contratei, eu não levo jeito para essas coisas! – Sigo até a
varanda, me encosto ao parapeito e olho para a represa. – Vamos
descer e comer alguma coisa, meu estômago está roncando – ele
diz abraçado as minhas costas, passando seu nariz pelos meus
cabelos.
Fecho meus olhos, eu adoro quando ele faz isso.
– Vamos! – respondo extasiada.
****

Entramos em uma cozinha, e como tudo na casa, os armários


são em madeira, cobertos com uma pintura estilo patina. Vejo uma
linda mesa de madeira e mármore, as cadeiras são lindas, feitas em
madeira com entalhes de tartarugas no encosto.
A empregada deixou tudo arrumado, os pratos e os talheres
sobrepostos em sousplat de madeira, que enfeitam a mesa.
Um grande vaso repleto de orquídeas foi posto no centro da
mesa, tornando o ambiente encantador, delicado.
– Vou pedir para ela nos servir. – Ele segue até um telefone.
– Não precisa, Rui. Eu posso fazer isso! – falo rapidamente,
seguindo até ele.
Ele franze sua testa.
– Relaxa, Rui. Não sou dondoca, sei fazer essas coisas! – falo
com simplicidade.
Ele dá de ombros.
– Se você não se incomoda.
– Não, não me incomodo! – Sigo até a copa, vejo uma travessa
dentro do forno, a retiro e coloco sobre um balcão.
Sinto a presença do Rui atrás de mim, olho e o vejo encostado
no balcão.
– Ok, estou achando as coisas. – Sorrio para ele.
Em alguns minutos já descobri o que iremos comer, galetos no
forno, um arroz com brócolis, e batatas souté.
Levo as coisas para a mesa de jantar e nos servimos sozinhos.
Foi fácil, a pessoa deixou tudo pronto, era só comer.
Terminamos de comer.
– Vamos tomar um vinho na varanda, Jack. – Ele pega a garrafa
que estávamos bebendo, pego as taças e o sigo.
Ele relaxa em um sofá grande e confortável que está colocado
estrategicamente em uma área coberta, mas ao ar livre.
– Aqui é maravilhoso! – falo ao me sentar ao seu lado, ele passa
seu braço pelos meus ombros me aninhando mais junto a ele.
E assim conversamos e bebemos, e é engraçado dizer isso, mas
parece que nos conhecemos tão bem. Eu não sou muito de falar,
apesar de descendente de italianos, mas acho divertido contar para
ele histórias engraçadas sobre minha família, sobre meus antigos
pacientes, gosto de ver ele relaxado, sorrindo.
– Vou fechar uma casa para você fazer um show, Jack! – Ele me
olha e ri. – Você ficará rica.
Acho que ele está meio altinho.
Esgueiro-me e sento em seu colo, abraçando seu pescoço,
beijando seu rosto.
– Adoro ficar com você, Rui! – digo olhando em seus olhos.
Que se foda, eu quero dizer isso, não gosto de ficar me
controlando o tempo todo.
– Eu também, Jack! – Ele enfia seus dedos entre meus cabelos,
traz meu rosto para junto do seu e me beija sensualmente, e isso é
bom demais, seus beijos são bons demais, essa língua dele é
gostosa, macia, quente.
Sinto minha excitação crescendo à medida que nosso beijo vai
ganhando intensidade, suas mãos começam a acariciar meu corpo,
me apertar junto a ele.
– Acho melhor a gente subir, Jack! – ele diz de olhos fechados,
me beijando.
Me assusto quando ele me pega e sai andando comigo no colo.
Eu sei que não sou magrinha, e não peso pouco, mas me sinto
uma pluma, ele é forte, e não tem dificuldades de subir comigo para
seu quarto.
****

A sensação de ser carregada no colo é muito boa, me sinto uma


princesa.
Ele me deita delicadamente sobre sua cama, nossos lábios não
desgrudam um do outro. O Rui se deita sobre mim, e ficamos ali
namorando literalmente, muitos beijos, mãos deslizando sobre
minhas pernas, entrando por baixo do vestido que coloquei em seu
apartamento, e finalmente adentrando minha calcinha, e me
penetrando com seus dedos.
Ofego de prazer, e me movimento contra sua mão, estou louca
de desejo, e em instantes estou gemendo, chegando ao orgasmo
apenas com um toque de suas mãos.
– Eu adoro seus gemidos, Jack. – Ele me beija, e fala ao mesmo
tempo.
Meu coração bate rápido, minha respiração está ofegante, e
acordo do meu torpor ao sentir seu pênis me penetrar, duro, ereto, e
terrivelmente delicioso.
O Rui puxa minha perna, e me encaixa melhor em seu corpo,
sinto suas mãos no decote do meu vestido, um puxão e todos os
botões se rompem, me deixando com o vestido dependurado em
meu corpo.
Ele se move deliciosamente dentro de mim, ao mesmo tempo
que beija meu pescoço, e os beijos descem pelo meu colo, ele tenta
tirar meu sutiã, mas o resto do vestido o impede, então ele o puxa
com força, rompendo o cetim delicado que unia os bojos.
Abro meus olhos assustada, mas logo fecho, ele abocanha
ferozmente meus mamilos, os suga passa sua língua macia, e me
leva a loucura.
– Oh, Ruiii... – Ofego de prazer.
Ele segura meus cabelos da nuca, os puxa, me inclino mais em
sua direção, ele volta a me beijar.
– Jackeline, você me deixa louco! – ele diz com seus olhos em
chamas, e desce novamente seus lábios em direção aos meus
seios, e volta a me torturar.
– Oh, Rui, me fode mais forte!!! – peço desesperada.
Ele coloca minhas pernas sobre seus ombros, e fode com força,
com vontade, grito, gemo, e chego ao orgasmo.
Jesus, que homem maravilhoso! – Penso atordoada.
– Agora é minha vez, Jack, vou gozar, gostosa, ohhh, hummm,
hammm!!! – E ele faz muito barulho, parece um urso enfurecido. –
Caralho, Jack, acho que vou morrer! – Ele desaba ao meu lado,
respirando ruidosamente.
Me viro de lado e o olho sorrindo, seu peito sobe e desce
desesperadamente.
– Deus que me livre te matar, e quem vai me satisfazer? – falo
com um sorriso cínico, ele me olha e ri.
Me aproximo dele, porque depois que faço amor, sexo, sei lá,
quero ficar perto, quero acariciar, beijar, sou assim.
Passo meus braços pelo seu tórax, ele passa seus braços ao
redor do meu corpo e me puxa para junto dele, sorrio feliz. Beijo seu
peito, aspiro seu cheiro de homem, e me vem uma vontade louca de
dizer que o adoro, mas fecho meus olhos e me seguro.
Não tem nada a ver dizer isso!
Fico ali, abraçada a ele, aspirando seu cheiro delicioso, e nem
percebo quando pego no sono e durmo profundamente.
Capítulo 32
JACKELINE BARTOLLI
Acordo sentindo beijos pelo meu corpo, e essa é a melhor
sensação do mundo, até mesmo para alguém mal-humorada ao
acordar como eu.
Sorrio, sentindo cócegas em meu bumbum, ele passa sua língua
no vão entre minhas nádegas, e isso me arrepia toda, me causa um
tesão desesperador.
A tortura de beijos e línguas está muito boa, não consigo segurar
pequenos gritos de prazer.
O peso de seu corpo cobrindo minhas costas me causa uma
excitação enorme, sinto-me molhada, ele me excita apenas com seu
cheiro.
– Bom dia, minha deusa! – Fecho meus olhos e inspiro, esse
homem me enlouquece apenas com um bom dia rouco e sonolento.
– Bom dia, Rui! – Sussurro, sentindo seus beijos em meu
pescoço, e o roçar de seu membro no meio das minhas pernas.
Que jeito de acordar mais maravilhoso.
– Eu já escovei os dentes, Jack! – Ele sussurra em meu ouvido,
me arrepiando toda. – A gente pode se beijar agora? – Ele procura
meus lábios, apoio meus braços levantando levemente meu corpo,
me viro de lado e o deixo me beijar.
Na verdade, o que me incomoda é o fato de eu não ter escovado
os meus dentes, mas ele falou de um jeito tão delicioso que esqueci
essa minha necessidade de higiene matinal.
Ele me beija faminto, puxa meus cabelos, me fazendo inclinar
mais meu corpo, me penetra, e começamos nossa primeira transa
do dia.
Acho que nunca transei tanto em minha vida, nem com o Renato
que fiquei quatro anos, ele não tinha vontade de fazer sexo comigo,
e agora eu sei o porquê.
Aliás, namorei quatro anos com ele, me sentindo pouco atraente,
achava que era porque eu estava fora do peso. Acho que comecei a
desenvolver meus complexos em relação ao meu corpo desde que
o conheci, não se sentir desejada pelo homem que se está
apaixonada pode fazer com que nos sintamos pouco atraente, feias,
gordas, enfim, um homem pode acabar com a autoestima de uma
mulher.
Muitos gemidos, urros de prazer e finalmente chegamos ao
orgasmo.
Ele se deita ao meu lado e sorri para mim, e se eu disser que
esse sorriso consegue levar para bem longe meu mau humor
matinal, não mentirei.
– Dormiu bem, Rui? – Acaricio seu rosto, mas ele leva minha
mão até seus lábios e a beija.
Me derreto com seus gestos, ele é um gentleman até quando faz
sexo.
– Dormi, aliás acho que morri durante oito horas, não me lembro
de nada, quero dizer, lembro que desabei ao seu lado, depois de
fazermos sexo deliciosamente. – Ele me olha malicioso.
– Ufa, achei que você não iria se lembrar do que fizemos! –
Brinco, mais beijos em minha mão me fazendo sentir muito especial.
– O que faremos hoje? – pergunto casualmente.
– Iremos levantar, tomar banho – ele fala preguiçosamente. – Aí
tomaremos café da manhã no jardim, ouvindo os passarinhos. – Ele
me olha com um sorriso muito meigo. – Vamos dar uma volta de
barco na represa. – Ele olha para o teto. – Tomaremos um banho de
piscina, depois tem o almoço... – Sorrio do seu jeito.
– No meio disso tudo faremos sexo, muito sexo! – Ele me olha, e
sinto um friozinho no estômago, ele é muito sedutor.
– Por mim está ótimo, adorei a programação. – Sorrio para ele.
Ele se levanta e pega em minha mão.
– Então, vamos começar com o banho. – Me levanto preguiçosa
e vejo meu vestido pendurado em meu corpo, assim como meu
sutiã.
– Eu gostava desse vestido, Rui, não era para destruir ele – digo
fazendo charme.
Ele me puxa para junto dele, tira os restos mortais do meu
vestido e do meu sutiã.
– Vamos comprar outro, assim como seu biquíni.
– Oh, eu tinha esquecido isso, não tenho biquíni. – Torço meus
lábios, ele se aproxima de mim, e morde meu lábio inferior.
– Nós vamos comprar um. – Ele pega em minha mão e me leva
para o banheiro.
****

Coloco outro vestido, ele é soltinho, com cara de praia, esse não
tem botões na frente, não dá para rasgar.
Me sento na cama e espero o Rui acabar de colocar sua roupa,
ele coloca uma sunga vermelha com duas listras brancas laterais,
ele fica muito gato de sunga, muito gostoso.
– Nossa, que bombeiro lindo! – falo e dou risada de meu
comentário.
Ele me olha com um sorriso torto.
– Bombeiro? – Ele se olha no espelho.
– É, bombeiros usam sungas vermelhas. – O olho de lado. –
Tenho uma tara por bombeiros.
Ele balança a cabeça de um lado por outro, parece indignado
com meu comentário.
– Brincadeirinha, Rui, nunca sai com um bombeiro. – Tento
consertar o que disse.
– Mas tem uma tara por eles? – Ele me olha sério.
– Tenho uma tara por você, de sunga vermelha! – Ele sorri, e já
sei que é muito vaidoso, adora que eu fique levantando sua bola.
Ele coloca uma bermuda e uma camiseta branca.
– Vou comprar uma camiseta vermelha, um short vermelho,
levamos uma mangueira para o quarto, e brincamos de bombeiro –
ele diz divertido.
Gargalho escandalosamente.
– E para que a mangueira? – Arregalo meus olhos. – Estou
contente com a sua mangueira! – Olho para sua área de lazer.
Agora é a vez de ele gargalhar.
– Oh, Jack, você é maluca, vamos tomar café da manhã!
Ele abre a porta do quarto, e me surpreendo ao ver o Bóris
deitado em frente à porta, tão carente!
– Oh, Bóris, você dormiu aqui, bebê? – Me agacho a sua frente,
e ele se desmancha todo, deitando e mostrando a barriguinha para
eu acariciar. – Oh, Rui, coitadinho, ele dormiu aqui, sem tapete, no
chão frio.
Olho para o Rui e ele revira os olhos.
– Bóris, você é um caso perdido. – Ele caminha para as
escadas, me deixando sozinha com o Bóris.
– Você não é um caso perdido. – Me inclino e encho o cachorro
de beijos, estou completamente apaixonada pelo Bóris, e talvez pelo
dono dele também, mas esse é outro problema, e não quero pensar
agora.
****

A mesa preparada para nosso café da manhã é digna de um


hotel.
– Quantas pessoas tomarão café com a gente? – digo divertida.
– Não gostou, minha deusa? Tudo isso é para você! – ele diz
ironicamente.
– Eu adorei! – Me sento em seu colo. – Mas é um pouco de
exagero, não é?
Ele sorri e me dá um selinho.
– Senta aqui, Jack! – Ele puxa a cadeira ao seu lado para mim.
Começamos a tomar o café da manhã e me controlo para não
devorar aqueles pãezinhos maravilhosos. Que inferno de dieta, vou
emagrecer de tanta vontade que passo.
Terminamos o café, o Rui limpa seus lábios com o guardanapo e
me olha.
– Existe um centro comercial aqui perto, vamos até lá para você
comprar seu biquíni, o sutiã e o vestido. – Ele ri.
– Eu brinquei quanto ao vestido, só preciso do biquíni. – Me
levanto e o sigo em direção ao carro.
Vejo o Bóris nos seguindo, eu abro a porta ele passa por mim,
passa pelo meu banco e se senta no banco de trás.
– Ele pode ir com a gente? – pergunto para o Rui.
Ele olha para o Bóris, que está com aquela cara feliz.
O Rui revira seus olhos.
– Vamos deixá-lo ir, acho que ele está precisando passear um
pouco.
Logo estamos no tal centro comercial, olho para a calçada e vejo
muitas lojas abertas, mas não são lojinhas simples, é uma avenida
repleta de lojas chiques, o lugar deve ser frequentado pelas pessoas
ricas da região.
Ele para o carro, e olha para mim.
– Ok, Jack, você dá uma olhada em algumas lojas, e vê se gosta
de alguma coisa. – Balanço positivamente minha cabeça e o
acompanho em direção as lojas, eu, ele e o Bóris, agora sem
coleira.
Olho algumas vitrines, e finalmente acho uma loja onde vendem
biquínis.
– Vamos ver aqui, Rui? – Paro em frente à loja.
– Tudo bem! – ele diz.
Entramos na loja e a mulher fica olhando para o cachorro.
– Se não puder entrar com cachorro, nós vamos embora. – O
Rui diz incisivo, pegando a mulher de surpresa.
– Não, claro que pode, ele é lindo, talvez precise tomar água, eu
posso arrumar um pote para ele! – Dou risada, ela só falta ir buscar
ração para o Bóris.
– Não, não precisa! – o Rui diz displicente.
– Eu quero ver biquínis – falo para a vendedora para disfarçar a
situação.
– Bom, deixe eu te mostrar. – Ela olha para os meus seios. –
Acho que tenho alguma coisa. – Ela não termina a frase.
Reviro meus olhos.
Em segundos ela traz várias opções, coloca sobre o balcão e
começa a mostrar para mim.
– Acho melhor eu experimentar, ficará difícil escolher sem ver no
corpo – falo para ela.
– Ok, vamos até o provador. – Ela me ajuda a levar os biquínis.
Entro no provador, fecho e ouço a voz do Rui.
– Pode deixar, eu vou ajudá-la a escolher o biquíni. – Sorrio, mas
desta vez não dá para transar no provador, esse aqui é muito
pequeno.
Tiro minha roupa e coloco o primeiro biquíni, ficou bem
escandaloso.
– Rui, dá uma olhada.
Ele abre a cortina do provador, dá uma boa escaneada, e sorri.
– Gostei – ele diz simplesmente.
– Achei que meus peitos não cabem direito, ficou muito pequeno.
– Tento ajeitar a parte de cima do biquíni, mas não dá mesmo,
metade dos meus peitos estão para fora.
– Eu gosto assim. – Ele olha para meus peitos, parece salivar.
– Está escandaloso, não está? Seja sincero, sem taradice!
Ele ri ruidosamente.
– Me deixa ver sua bunda – ele diz descaradamente, me fazendo
rir.
Me viro.
– Está gostosa pra caralho, Jack. Leva esse – ele diz incisivo.
Reviro meus olhos.
– Vou experimentar mais um, tchau. – Fecho a cortina e o ouço
rindo.
Coloco o próximo, e ficou ainda pior que o primeiro.
– Merda! – Xingo baixinho.
Troco, coloco mais um e me olho no espelho, esse é mais
decente, cobriu melhor meus peitos, me viro para olhar o bumbum,
a calcinha também é maior.
– Gostei! Rui, dá uma olhada nesse. – O chamo.
Ele abre a cortina, me olha e enruga a testa.
– Está muito grande, Jack – ele diz e me olha com cara feia.
– Eu não acho, é assim que eu gosto. – Ajeito a parte de cima e
a de baixo.
– Mas, eu não gosto... – Ele entra dentro do provador, fecha a
cortina e me agarra. – Leva o primeiro, quero que você fique bem
gostosa para mim, só para mim. – Ele me encara com seus olhos
sedutores, hoje eles estão num tom tão bonito, parecem azuis.
– Pareço uma biscate com aquele biquíni! – falo o empurrando
com as mãos em seu peito.
Ele ri.
– Somos só nós dois, Jack. Fica gostosa para mim, vai? – ele diz
daquele jeito que me desmancho. – Leva os dois, assim você fica
mais feliz!
Sorrio.
– Tá bom, o indecente eu visto só quando estiver com você, se
formos a algum lugar que existam mais pessoas, eu uso o outro, tá?
– digo esmagada em seus braços.
– Ok. – Ele me beija. – Você ficou bem com esse também. – Ele
apalpa minha bunda, dá um tapa e sai.
– Filho da puta! – Xingo baixo.
Ouço a voz da vendedora.
– Querida, seu namorado pediu para você experimentar esses
vestidinhos. – Ela coloca sua mão pela cortina e me entrega dois
vestidos.
Os olho demoradamente, são lindos, ele tem muito bom gosto,
adoro tudo que ele escolhe para mim.
Os coloco sobre o biquíni, são curtos, mostram completamente
minhas pernas, mas ficaram ótimos em mim. Eu gosto de vestir
roupas curtas, só não gosto quando estou avulsa, e pareço querer
chamar a atenção, mas estando com o Rui eu não me importo de
usar.
Abro a cortina e entrego tudo para a vendedora.
– Ficaram ótimos! – Já estou vestida, então saio à procura do
Rui e o encontro mexendo em seu celular.
Disfarço, se fosse sua namorada pegaria esse celular e
debulharia cada mensagem recebida, mas como não sou, me
contento em ficar me remoendo de curiosidade.
– Oi! – falo ao chegar, ele me olha sorri, e guarda o celular.
– Gostou dos vestidos? – ele diz muito fofo.
– Gostei, ficaram bem curtos, mas acho que você gosta assim,
bem devassa! – faço uma careta.
Ele ri divertido.
Finalmente voltamos para sua casa, subo para o quarto, coloco o
biquíni indecente e um dos vestidos por cima.
Em segundos estou descendo para encontrá-lo, e novamente o
pego no celular, ele parece escrever uma mensagem.
Eu sei que não temos nada, é só sexo, mas me incomoda essa
troca de mensagens, então só para irritá-lo pego meu celular no
bolso do vestido, me sento em uma cadeira confortável e começo a
escrever uma mensagem para a Carolina.
Faço barulho com os pés, apenas para ele me ver.
Ele disfarça, guarda seu celular e se aproxima de mim.
– Vamos, Jack? – Ele olha para o meu celular.
– Só um minuto, preciso responder uma mensagem. – Nem olho
para ele, apenas escrevo besteiras para a Carol, e sorrio, tudo faz
parte de minha vingança.
Guardo o celular no bolso, olho para ele e sorrio.
– Pronto!
– Alguma coisa urgente? – Ele me olha sério, parece
incomodado.
– Não. – Saio andando na sua frente.
Vejo uma lancha incrível estacionada no píer em frente à casa.
– É esse aqui? – Olho para trás e o vejo andando
vagarosamente, com aquele olhar enigmático que só ele consegue
ter.
– É, é esse – ele diz sério. – Quem era, Jack?
Tenho vontade de rir, mas não o faço.
– Só conto se você me contar com quem você tanto se comunica
no celular. – O olho com firmeza, ele desmonta, disfarça.
– São assuntos do trabalho. – Ele me olha.
– Os meus são familiares. – Sorrio provocativa.
Ele passa por mim, entra no barco e me estende a mão.
Olho ao redor da embarcação, e não consigo deixar de ficar
admirada, luxo pouco é bobagem, eu moraria em seu barco, é muito
melhor que meu apartamento.
– Gostou, Jack? – ele diz com um sorriso, parece orgulhoso de
seu barco.
– É lindo, quero um desses para morar! – Brinco.
– Tem até cama, sabia? – Ele aponta com a cabeça em direção
a uma portinha. – Depois te mostro, podemos estrear se você
quiser! – ele diz malicioso.
Tiro meu vestido, coloco sobre um banco almofadado, viro para
olhá-lo, e lá está o devorador de mulheres me secando.
Desfilo para ele, porque sou bem provocativa, e já que ele gosta
de meu corpo, me deixe aproveitar disso.
– Gostou do meu biquíni novo? – O provoco.
Ele mexe sua cabeça positivamente.
– Vou tomar um solzinho. – Sigo para uma parte onde existem
colchonetes grandes, o barco é enorme.
Ele liga o barco, e começa a navegar vagarosamente, me sento
para admirar o lugar, é incrível, não é à toa que ele disse que gosta
daqui.
– Aqui é lindo, Rui! – digo para ele, que parece absorvido pela
paisagem.
O olho mais um pouco, apenas para aproveitar seu momento de
relaxamento, ele é um homem tão bonito, não me admira ter tantas
mulheres em seu pé.
Ele está usando um óculos escuro tipo aviador, seus cabelos
contra o sol ficam mais claros, e ele está sem camisa, mostrando
toda sua masculinidade.
Que homem, Senhor, obrigada pelo presentinho, vou aproveitar
enquanto durar! – digo em pensamento.
Sigo até ele, porque ele tem algum imã que não me deixa ficar
longe, me sinto tão atraída por ele que não consigo passar muito
tempo ao seu lado sem querer tocar, sentir...
– No que você está pensando? – Paro ao seu lado, ele me faz
sentar em seu colo.
– Nada em especial, apenas refletindo sobre a vida. – Ele me
olha e sorri.
– Profundo isso – falo brincando.
Ficamos um pouco em silêncio, eu o admirando, e ele absorvido
em seus pensamentos. Deito minha cabeça no vão de seu pescoço,
beijo sua pele, acaricio seus cabelos.
– Eu vou ancorar, assim podemos curtir um pouco o lugar. – Ele
segura em minha cintura, me colocando em pé, e aciona alguma
coisa que começa a fazer barulho. – Me deixe ver se a âncora está
descendo.
O acompanho com o olhar, ele checa algo na lateral do barco, o
barulho cessa, ele volta para onde estávamos, desliga o motor do
barco, me olha e sorri.
– Agora sou todo seu, Jack!
– Quero conhecer lá dentro. – Ok, eu não deveria ser tão
ninfomaníaca, mas também estou curiosa para saber o que tem
dentro dessa portinha.
Ele sorri, pega em minha mão e me leva para dentro da cabine.
****
O ambiente é maior do que eu imaginava, uma cama de casal
embutida, armários, uma pequena cozinha e uma saleta. O lugar é
perfeito, dá para fazer uma viagem longa e morar aqui, deve ser
incrível.
– Quer estrear, Jack? – ele diz me abraçando pelas costas,
esfregando sua ereção na minha bunda. – Nunca transei com
ninguém nesse barco.
Oh, será que isso é um elogio.
– Então eu quero, se já tivessem vindo muitas mulheres aqui, eu
não iria querer! – falo com ironia.
Ele ri, esfregando seus lábios em meu pescoço, me beijando, e
mordiscando.
– Deita, Jack. – Ele me leva para a cama, tira sua roupa, cobre
meu corpo com o seu, e recomeçamos nossa orgia viciante.
Ofego de prazer e gozo ruidosamente, confesso que nunca tinha
tido tantos orgasmos em minha vida, o Renato não fazia sexo oral
em mim, não me estimulava, os únicos orgasmos que tive com ele
foram proporcionados por mim mesma.
Meus gemidos de prazer são seguidos pelos seus, altos,
barulhentos e sensuais, os sons que saem de sua garganta são
deliciosos, me deixam novamente excitada.
– Você é demais, Jack! – ele diz ofegante, desaba sobre meu
corpo, o abraço e me deixo levar pelo momento.
– Você também, Rui. – Sussurro em seu ouvido.
– Não pode dormir – ele me diz com um sorriso. – Vamos subir,
eu coloquei um vinho branco na geladeira do barco, vamos beber lá
fora.
– Tudo bem! – digo preguiçosa.
****

Navegamos por mais algum tempo, bebemos o vinho que ele


trouxe, conversamos um pouco, namoramos, e por fim voltamos
para sua casa.
– Vou deixar o barco aqui, se você quiser podemos dar uma
volta novamente mais tarde – ele diz enquanto ancora o barco no
píer de sua casa.
Coloco novamente meu vestido, e com sua ajuda desço do
barco.
– Jack, pode ficar à vontade, não tem ninguém na casa, somos
só nós dois e o Bóris.
– Tudo bem, quando chegarmos à piscina eu tiro o vestido. –
Caminhamos até sua casa, a água da piscina parece ótima, adoro
nadar.
– Vou dar um mergulho – ele diz tirando sua roupa.
– Daqui a pouco eu vou. – Tiro meu vestido, coloco sobre a
espreguiçadeira, me estiro na cadeira e tomo um pouco de sol.
Desperto com pingos de água sobre meu corpo, olho e vejo meu
deus grego todo molhado sobre mim.
– Vai ficar aí feito um jacaré? – ele diz divertido.
– Acho que vou, deu uma preguiça – falo me espreguiçando.
– Vem, Jack, vamos tirar essa preguiça. – Ele pega em minha
mão e me levanta da espreguiçadeira. – A água não está fria.
– Ok. – Crio coragem, sigo com ele até a piscina, desço pelas
escadas, e me surpreendo com a temperatura agradável da água. –
Está ótima, vou nadar um pouquinho – digo o vendo sentado na
beira da piscina.
Nado um pouco, mas como estou fora de forma logo estou
cansada, paro em meio as suas pernas, me apoiando nelas.
– E aí minha sereia, já cansou? – ele diz com um sorriso de lado.
– Cansei, estou fora de forma – digo com uma careta.
Ele se segura em seus bíceps e desce para a piscina.
Como sempre, e para não perdemos o costume, começamos a
nos beijar, porque isso é meio compulsivo, Rui e Jackeline juntos, o
único resultado é sexo.
Estou prensada contra a parede da piscina, seus beijos são
famintos, urgentes, até parece que não transamos há uma semana,
e não há algumas horas. Sinto sua ereção enorme roçando minha
barriga, me excitando.
– Rui, acho melhor a gente parar – falo contra seus lábios, sem
ar.
– Estamos sozinhos, minha deusa – ele diz rouco, excitado e
louco de desejo.
Ele me puxa para seus braços, me encaixando contra sua
ereção, sinto sua ereção roçando minha calcinha do biquíni, ele o
afasta e me penetra.
Se eu disser que tudo isso não me excita, estarei mentindo. É
excitante fazer amor a céu aberto, em uma piscina, com o homem
mais incrível que já conheci.
– Tá gostoso, Jack? – ele diz no meu ouvido, me mordiscando,
beijando.
– Tá, Rui, continua! – Gemo de prazer.
Seus movimentos aumentam, meu coração acelera, a gente se
beija, ele me aperta contra seu corpo, gemo alto, ele aumenta seus
movimentos e goza.
– Oh, Rui! – Fecho os olhos e beijo-o loucamente.
Ele continua seus movimentos, só que agora vagarosamente,
gemendo baixinho.
– Rui? – Ouço uma voz grave o chamando.
Meu coração gela, olho para o Rui, mas ele não parece ter
percebido, ele continua de olhos fechados, se movimentando dentro
de mim, parece querer dar duas sem sair de dentro.
– Ei, Rui? – A pessoa chama de novo e me desespero.
– Rui, tem alguém aqui! – Ele abre os olhos e me olha.
– Quem? – Ele me olha confuso.
– Não sei! – Desço de seu colo, arrumo meu biquíni, e então vejo
um homem vindo em nossa direção, ele é um senhor, e pelo que
posso ver, parece com o Rui, numa versão mais velha. – Rui, acho
que é seu pai! – falo apavorada.
– Jack, não posso sair daqui, minha ereção está enorme! – Ele
me puxa para sua frente, me abraça e fala. – Oi, pai, como o senhor
sabia que eu estava na cidade? – ele diz amistoso, como se nada
estivesse acontecendo.
Sorrio constrangida vendo o homem se aproximar da piscina, e
atrás dele uma senhora, tão distinta quanto o homem, os dois estão
vestidos elegantemente, parece que vão a um casamento.
– Encontrei seu caseiro agora a pouco, e ele me disse que você
chegou ontem – ele diz nos olhando na piscina. – Você vai sair
dessa piscina, ou vamos ter que ficar conversando desse jeito?! – o
homem diz meio irritado.
Ele me afasta de seu corpo.
– Vamos sair, Jack – ele sussurra para mim.
– Rui, eu não posso sair da piscina vestida desse jeito! – digo
entre meus dentes.
– Jack, vai por mim, é melhor você sair, será pior se você ficar
aqui na piscina. – Ele pega em minha mão e me leva para as
escadas.
Fecho meus olhos e me amaldiçoo por estar vestida nesse
biquíni, eles vão me achar uma piranha oferecida.
Os dois estão parados em frente à piscina, o Rui sai primeiro, me
dá sua mão e me ajuda a sair. Nunca me senti tão constrangida,
estou me sentindo nua no meio de um monte de pessoas, e essas
pessoas me olham como se eu estivesse nua.
– Pai, mãe, essa aqui é a Jackeline. – O Ruiz diz meio sem
graça, é, ele está sem graça.
– Olá, prazer! – digo, quero dizer, gemo, queria
desesperadamente pegar meu vestido, mas ele está a metros de
mim.
A mulher me olha com desprezo, deve achar que o Rui me
pegou na última boate de putas que ele passou, o homem disfarça,
simplesmente me ignora.
Oh, Rui, como te odeio! Por que você não me avisou que seus
pais poderiam vir até aqui? – falo em pensamentos.
Sorrio para os dois, olho para chão, e por fim, peço licença e vou
pegar meu vestido e o coloco sobre o corpo molhado, o que não me
ajudou muito, continuei parecendo uma atriz de filme pornô, agora
bem sensual, com o vestido colado aos meus peitos e a minha
bunda.
Volto a me aproximar deles, o homem me dá uma olhada
discreta, a mulher me olha descaradamente, parece que não foi
muito com minha cara.
Mas o Rui é um gentleman, ele me puxa para junto dele, me
abraça pelas costas, me molhando ainda mais, e me mantém junto
a ele.
– Bom, não sabíamos que você estava acompanhado, vamos
fazer um churrasco em casa, queríamos que você fosse.
Rezo em silêncio, pedindo pelo amor de Deus que o Rui arrume
uma desculpa, não quero ir.
– Bom, então... – O Rui se atrapalha.
– Você nunca vem para cá, filho, e quando vem não vai nos
visitar, que história é essa? – A mulher diz autoritária.
– Tá, nós vamos. – o Rui diz e eu gostaria de poder dizer que
ficarei aqui, mas é lógico que não posso.
– Vá se secar, Rui, vamos conversar um pouco, o caseiro está
cuidando do nosso churrasco, vamos juntos! – Seu pai diz, parece
indiscreto, fica olhando para meu vestido, parece se divertir com
minha pose de biscate.
Ok, agora sei a quem o filho puxou, o pai é tarado e o filho
também.
– Tudo bem. Vem, Jack. – Ele pega em minha mão e me
encaminha com ele para a casa, deixando os dois velhos nos
observando.
Entramos na casa e olho para o Rui.
– Rui, eles devem estar achando que sou atriz de filme pornô –
digo irritada.
Ele ri ruidosamente, me levando apressado pelas escadas.
– Relaxa, Jack, não estou muito preocupado com a opinião deles
– ele diz relaxado, não parece se importar muito.
– Você poderia ter me avisado que havia a possibilidade deles
virem aqui – digo chateada.
Ele abre a porta do banheiro, liga a torneira e me enfia sem
maiores cerimônias dentro do chuveiro.
– Rui, eu disse para você... – Ele me interrompe.
– Qual a diferença, Jack? Tanto faz, isso só iria te deixar
preocupada. – Ele tira meu biquíni, pareço uma boneca na sua mão.
Paro de falar, e o observo lavando meus cabelos, depois os
deles, parece um robô apressado. Em instantes terminamos nosso
banho, ele pega as toalhas, me enxuga apressado, e eu só fico o
olhando.
– Rui, eu posso me secar! – digo em meio ao seu desatino.
Ele me olha.
– Tá, vamos logo, meu pai é meio impaciente – ele diz
apressado, se secando apressadamente e saindo do banheiro.
– Devo me vestir como? – pergunto confusa. – Seus pais
parecem que vão a um casamento!
Ele ri.
– Fica à vontade, Jack, não precisa se preocupar com isso! – ele
diz pegando uma roupa em sua mala.
– Ok. – Pego o segundo vestido que ele comprou, coloco um
sutiã, a calcinha rendada, e o vestido! – Me olho no espelho. – Está
bom assim? – Olho para ele insegura.
– Você está linda, Jack! – Ele se aproxima beija meus lábios
suavemente, segurando meu rosto. – Vamos descer... – Ele pega
em minha mão e descemos apressados para o jardim.
Respiro fundo e tento pensar coisas positivas, eu não esperava
encontrar ninguém, muito menos seus familiares, mas, agora que
deu tudo errado, a única coisa que tenho a fazer é ser simpática e
sorrir.
Capítulo 33
JACKELINE BARTOLLI
Vejo seus pais sentados numa mesa de madeira grande que
existe no jardim, os dois conversam discretamente, falando baixo,
mas quando nos avistam, disfarçam e param de falar.
Começo colocar em prática o meu plano, abro um sorriso no
rosto enquanto nos aproximamos da mesa.
Sua mãe vira o rosto em nossa direção, sua expressão é dura,
ela é antipática, meio arrogante, mas tento não pensar muito sobre
isso, ela não é minha sogra, não precisa gostar de mim, e nem eu
dela.
Ela olha para o Rui e fala na lata, sem rodeios.
– Onde está a Priscila?
O sorriso que estava em meu rosto se desfaz, abaixo minha
cabeça instantaneamente, o Rui puxa duas cadeiras para nós dois
sentarmos.
– Não sei, não a tenho visto – ele diz calmamente. – Vocês
bebem alguma coisa? Tenho um vinho branco na geladeira – Ele
segura em minha mão, me causando uma sensação boa, ele é um
cavalheiro, obviamente não quer que eu me sinta mal.
– Como assim, vocês são noivos! – a velha fala alterada, ele a
interrompe.
– Éramos, não somos mais, eu esqueci de avisá-los.
Jesus, acho melhor eu inventar uma dor de barriga, não quero
participar dessa lavagem de roupa suja.
– Eu preciso ir ao banheiro! – Cochicho próximo a seu ouvido,
me levanto e saio em direção a casa.
Olho para o céu, e peço uma tempestade ou um tsunami,
qualquer coisa que impeça que esse churrasco aconteça.
Sigo para o banheiro na parte de baixo da casa, faço xixi, lavo
minhas mãos e arrumo meus cabelos, que ainda estão molhados,
pingando.
Eu não posso voltar para lá agora, então sigo para o quarto do
Rui, eu vi um secador em seu banheiro, resolvo secar meu cabelo e
estar um pouco mais apresentável para sua família.
Termino, passo um batom discreto rosa claro, coloco uma
sandália, ao invés das rasteirinhas que estava usando, tomo
coragem e volto para minha tortura.
Saio pela porta de vidro, e percebo que o clima continua tenso,
mas o que vou fazer, me trancar dentro de casa?
Quando chego à mesa a conversa cessa, o que me provoca
muito mal-estar, mas o Rui pega em minha mão novamente, a leva
até seus lábios e a beija. Sua mãe olha cada movimento, parece
possessa com ele, mas por fim ele repousa minha mão em seu colo,
e fica brincando com meus dedos.
– Então, pai, como estão os negócios? – ele diz para quebrar o
clima pesado.
– Tudo bem! – O velho se mexe na cadeira.
– O que você faz, Jackeline? – Sou pega de surpresa com a voz
de seu pai.
O olho confusa, mas que merda, o que devo responder?
– Eu... eu... – Gaguejo.
– Ela trabalha no meu escritório – o Rui diz antes que eu fale
besteira.
Sua mãe dá uma risada sarcástica.
– Fazendo o que? – ela diz.
A olho indignada, o que eu fiz para ela? Não tenho nada a ver
com seus problemas e do seu filho.
– Ela é minha secretária, mãe.
A velha surta, dá uma risada alta, a olho assustada.
– Acho que já podemos ir para casa – seu pai diz rapidamente,
olha no relógio. – Já está no horário do almoço.
Ele se levanta, segura na mão da mãe do Rui e os dois saem
andando para a saída do jardim, olho-os desconcertada.
Será que não é melhor eu não ir? Eles vão me tratar mal, eu
tenho certeza!
O Rui me olha, parece constrangido.
– Acho melhor eu não ir – falo incomodada.
– A gente fica só um pouco. Não ligue para minha mãe, Jack, ela
só está brava porque não falei para eles sobre o fim do meu
relacionamento com a Priscila, ela gosta muito dela.
– Você acabou seu relacionamento três meses antes do seu
casamento e não contou para sua família?! – pergunto incrédula.
– Odeio que se intrometam em minha vida – ele diz displicente.
Balanço minha cabeça afirmativamente, mal sei o que fazer, mas
também não posso abandoná-lo sozinho.
– Vamos, Jack, prometo que não vou deixar ninguém tratá-la
mal. – Ele se levanta, me puxa para junto dele. – Fique tranquila,
você não deve nada para ninguém, você está comigo porque eu
quero, minha mãe que se foda.
O Rui não é muito de falar palavrões, acho que só o ouço
falando palavrões no meio de nossas transas, então me surpreendo
ao ouvi-lo dizer que quer que sua mãe se foda.
– Tudo bem – digo simplesmente.
****

A casa de sua família é imponente, eles são muito ricos, só


existem mansões no bairro onde moram, e a casa deles é uma
delas.
A entrada do condomínio é cercada de seguranças, só devem
viver os milionários nesse lugar.
Eu e o Rui estamos em silêncio, ele parece um pouco tenso,
mas a todo momento ele pega em minha mão e a beija, ele me trata
com muito carinho.
– Vamos, Jack! – Ele me olha e sai de seu carro, saio do carro e
o acompanho.
Ele entra pelo jardim e segue para onde deve ser a área de
lazer.
Olho admirada a construção linda, tirada de uma revista. Um
jardim verdejante, repleto de canteiros de flores encanta os olhos.
Nunca estive em um lugar tão lindo, tão bem cuidado.
Logo à frente vejo algumas pessoas, e chego à conclusão que
será ainda pior, não seremos só nós, eles têm visitas.
– Rui, quem são essas pessoas? – falo num gemido.
– Alguns amigos dos meus pais – ele diz seriamente.
– Rui, eles vão a alguma festa, ou é normal se vestirem desse
jeito? – falo com ironia, ao ver as mulheres com vestidos
sofisticados com tecidos finos e delicados. – Estou me sentindo uma
perua, Rui.
Ele ri, e eu quero matá-lo.
– Jack, fodam-se eles! – ele diz de novo a palavra foda-se, e
acho que isso ocorre com frequência quando ele está nervoso.
Ele aperta minha mão junto a sua, e tenho vontade de chorar, ou
simplesmente sair correndo.
À medida que nos aproximamos, os olhares começam a se voltar
em nossa direção. Sua mãe me olha e logo desvia seu olhar de
mim, me sinto constrangida, as outras mulheres são senhoras,
devem ter a idade da minha mãe, por volta dos 55, 60 anos, mas a
aparência delas em nada lembram a da minha querida mãe, são
mulheres ricas e poderosas, estão vestidas de uma forma que
minha mãe nunca sonhou se vestir.
– Boa tarde! – O Rui diz com sua voz grossa e poderosa, todos,
inclusive os homens olham para nós.
– Boa tarde! – digo num sussurro.
Os homens se aproximam com entusiasmo, cumprimentam o Rui
calorosamente, ele apenas me apresenta como a Jackeline, eles
estendem suas mãos educadamente para mim, e retribuo os
cumprimentos sem muito entusiasmo, gostaria de sair correndo
daqui.
As mulheres o cumprimentam também, mas de forma discreta,
mal olham para mim, quero dizer, elas me medem, devem achar que
sou uma atriz pornô que ele conheceu em sua última visita a uma
boate de streep tease.
Peço pelo amor de Deus para o Rui não me deixar sozinha com
essas pessoas, mas à medida que o tempo passa e as conversas
começam a ficar mais acaloradas entre os homens, me sinto
sobrando no papo, eles são todos empresários, advogados, é
impossível eu manter um papo com eles.
As mulheres estão sentadas em uma mesinha redonda, tomo
coragem, e sigo até lá.
– Com licença, posso me sentar com as senhoras? – Tento ser
simpática, sorrir, mas não tenho muito retorno, elas apenas
balançam suas cabeças.
Sua mãe se levanta e sai em direção a casa, e me sinto tão mal
com isso.
A olho constrangida, abaixo minha cabeça e suspiro.
– Faz tempo que você está com o Rui? – Desperto de meu
desespero, uma das senhoras se dirigiu a mim, acho que isso é um
bom presságio.
– Não, nos conhecemos há pouco tempo – digo seriamente, não
tenho vontade de falar sobre isso, nem sei o que posso dizer sobre
nós.
– Vocês estão namorando? – A outra pergunta.
– Não, não somos namorados! – respondo inquieta. Até que
ponto elas irão para saber sobre nós?
As sobrancelhas delas se levantam, não sei o que acham sobre
isso, mas não parecem achar muito bom.
– A Raquel está abalada, sabe, Jackeline, é isso! – Uma mulher
muito bonita diz. – O Rui iria se casar daqui a alguns meses, e de
repente aparece com outra mulher em sua casa, não teve o respeito
de dizer para a família de seu rompimento com a Priscila – ela diz
indignada.
– Talvez ele não tenha certeza do seu rompimento com a
Priscila, por isso ele não falou nada para seus pais. – Não sei por
que disse isso, mas de repente, me veio isso à mente, talvez ele
tenha a intenção de voltar com ela, por isso não alarmou a família
toda sobre o rompimento.
– Oh, claro, talvez seja isso. – A mulher diz surpresa. – A Raquel
vai ficar muito satisfeita! Me desculpe, Jackeline, eu sei que você
não tem nada a ver com isso, mas ela gosta muito da Priscila, ela é
uma jovem advogada linda e brilhante. O Rui e ela fazem um casal
lindo, você me entende?
À medida que ela fala, sinto uma agonia por dentro, uma vontade
de chorar.
– Sim, entendo – respondo apática. – Será que tem um banheiro
aqui que eu possa usar? – digo apressada, tentando controlar
minhas emoções.
A mulher loira aponta para um local.
– É logo ali, querida. – Me levanto e sigo para o local, e sinto
como se todos olhassem para mim, estou me sentindo tão mal aqui.
Abro a porta e me encosto a ela, e sinto um furacão dentro do
meu peito. Seguro as lágrimas, respiro e inspiro com força.
– Eu não posso chorar – falo em silêncio, mas algumas lágrimas
rolam pelo meu rosto.
O que pensei que havia entre nós? É só sexo, diversão, você
sabe disso, Jackeline! – falo em pensamento.
Eu sei disso, mas no final das contas, estava sendo tão bom
esses últimos dias com ele, que acho que no fundo eu estava
fantasiando coisas, é isso.
Um toque na porta me faz despertar dos meus pensamentos,
limpo meu rosto apressada, ligo a torneira, lavo minhas mãos, me
olho no espelho, abro a porta, e o vejo, e um gelado percorre meu
coração.
– Tudo bem, Jack? – ele diz preocupado.
Tenho tanta vontade de abraçá-lo, mas não o faço, engulo tudo
que ouvi, que senti, e que está me corroendo.
– Está tudo bem – digo sem emoção.
– Fica comigo, não precisa ficar com as amigas da minha mãe,
eu não me importo que você participe da conversa dos homens,
ninguém vai contar piada suja – ele diz divertido me fazendo sorrir.
– Tá bom! – Engulo em seco o que iria dizer, ou seja, a que
horas podemos ir embora?
Chegamos à área onde eles estão, estamos de mãos dadas, sua
mãe já voltou para a mesa, me olha de soslaio, um olhar de
desprezo, disfarça e volta a conversar com suas amigas.
O Rui se senta, e me faz sentar em seu colo, tento sair, mas ele
me segura com força pela cintura.
– Fica aqui! – ele diz autoritário, parece um ogro possessivo.
Reviro meus olhos e fico onde ele me colocou.
Um cheiro maravilhoso de churrasco começa a tomar conta do
ambiente, um senhor todo uniformizado começa a servir, e agradeço
por poder me sentar em uma cadeira. É maravilhoso ficar no colo do
Rui, mas apenas quando estamos sozinhos.
Confesso que perdi o apetite, seria bom conviver com esse
pessoal por algum tempo, eu emagreceria 20 quilos, eles me
causam arrepios e falta de fome.
Belisco algumas coisas, mas nada comparável ao jeito Jackeline
de ser, meu estômago está dando voltas, não estou suportando o
olhar de sua mãe sobre mim.
O Rui se inclina um pouco sobre minha cadeira.
– Você não está comendo nada, Jack! – ele diz com a testa
enrugada.
– Estou de dieta – falo com sarcasmo.
– Daqui a pouco vamos embora, está bom? – Ele coloca uma de
suas mãos em meu rosto, o acariciando e me beija, de um jeito que
sinto borboletas em meu estômago.
Tento me esquivar, mas ele segura meu rosto, parece querer que
todos vejam nosso beijo escandaloso.
– Rui! – falo contra seus lábios. – Isso é constrangedor.
Ele me olha com um sorriso de moleque.
– Você fica com vergonha, Jackeline? Você normalmente é tão
safada, não deveria sentir vergonha – ele diz com seu jeito sedutor,
safado, aliás, quem é muito safado é ele.
– Rui, eu sou safada, mas dentro de quatro paredes, e de
preferência só eu e você – respondo.
Ele me olha a centímetros do meu rosto, com um sorriso sedutor,
me segurando.
– Eu adoro essa boca, sabia? – Fecho meus olhos, apenas para
passar a raiva que estou sentindo do que ele está fazendo, mas ele
novamente me beija, um beijo de língua delicioso, guloso, cheio de
sensualidade, me causando um frio no pé da barriga.
Ele deve estar querendo irritar sua mãe, só pode ser.
– Ei, Rui, vamos deixar para namorar mais tarde. – Ouço uma
voz masculina, e chego à conclusão que foi um homem alto e
simpático que conversou um pouco comigo, apenas sobre
amenidades.
O Rui se afasta de mim e dá um de seus sorrisos lindos e
sedutores.
– Depois a gente continua, minha gostosa – ele sussurra, sela
meus lábios com um último beijo e volta sua atenção a conversa.
À medida que ele se afasta percebo o porquê do aviso de
descolar lábios, estão todos olhando para nós, um verdadeiro
vexame.
Ai, Rui, que raiva de você! Penso ao olhar os rostos indiscretos
me fitando.
Ele pega em minha mão, a leva até seus lábios e se levanta.
– Nós já estamos indo – ele diz descontraído, não há uma ponta
de constrangimento nele.
Me levanto com ele, mais do que depressa.
– Mas ainda é muito cedo! – Seu pai diz com cara de
decepcionado.
– Eu e a Jackeline ainda temos umas coisas para fazer. – O Rui
me olha de lado, sorri, parece provocativo.
Então, ele me arrasta junto com ele, cumprimenta os homens
primeiramente, e eles se despedem de mim. Em seguida seguimos
para as mulheres, todas o abraçam e beijam, parecem conhecê-lo
desde criança, e quando chega minha vez, me sinto como se
tivesse uma doença contagiosa, apenas falam de longe comigo.
Acho que mereço, afinal me deixei levar por ele, e estou vestida
de uma forma pouco comportada, todas devem me achar uma
piranha de quinta.
Respiro aliviada quando chegamos ao seu carro.
– Desculpe, Jack, eu sei que minha mãe não se comportou bem
– ele diz parecendo realmente incomodado, culpado.
– Tudo bem, se eu estivesse no lugar dela, talvez reagisse do
mesmo jeito. Não entendo por que você não contou para eles sobre
sua decisão, a não ser que não seja uma decisão séria, e que tenha
a intenção de reatar.
Ele me olha sério.
– Eu não tenho 20 anos, Jack, minhas decisões são sérias!
– Ok, mas desistir de um casamento é um negócio sério, não é
justo com sua ex-noiva deixar que ela resolva tudo. Imagino que
havia uma festa, uma cerimônia envolvida, pessoas para
desconvidar, acho que sua atitude foi, no mínimo, egoísta. – Olho
para o vidro do passageiro, não sei por que estou falando essas
coisas, não tenho nada a ver com sua vida, mas é que essa pose
dele de que está tudo bem me irrita.
Ele passa alguns longos minutos pensando, enquanto dirige, e
então vira em minha direção e fala:
– Você tem razão, preciso resolver isso, eu realmente não tenho
a intenção de reatar com a Priscila, eu não a amo, e de uns tempos
para cá, não suporto sua presença. Talvez isso explique o porquê de
não querer casar com ela. – Ele me olha.
– É, não dá para casar com alguém que a gente não suporta,
pode até não amar, mas não suportar fica difícil – falo surpresa com
sua declaração.
– Eu não quero me casar, nunca, não suporto a ideia de viver o
resto da vida amarrado a alguém! – ele diz como se fosse um
desabafo.
O olho surpresa, talvez decepcionada.
– Oh, talvez isso explique o fato de você não ter se casado
ainda. – Mexo em minhas mãos. – Você não deseja ter filhos? – O
olho de soslaio.
Ele franze sua testa, parece incomodado com esse assunto.
– Não, terei sobrinhos, eles serão como se fossem meus filhos –
ele diz sem emoção, parece frio e distante, talvez esse seja seu
verdadeiro eu, o Rui caloroso e carinhoso é apenas uma fachada
para me conquistar, no fundo, no fundo, sou apenas uma distração
para um homem rico e entediado, que só vê as mulheres como
objetos de prazer.
– Eu sonho em me casar, pode parecer clichê, mas quero
alguém para envelhecer ao lado, ter filhos, dois, acho que é um bom
número... – falo para provocá-lo. – Não vejo graça em viver a vida
sem um grande amor, sem pensar em ter uma família, pode até ser
que eu não consiga ter uma, mas esse é meu desejo, não tenho
vergonha de dizer isso.
– Todas as mulheres querem isso, só pensam nisso, parece que
não sabem ser felizes se não tiverem alguém ao lado.
– Ninguém é feliz sozinho.
Ele não responde, também decido que o assunto acabou,
azedou na verdade.
Fico calada, decepcionada, é bom demais estar com ele, mas
saber que ele pensa desse jeito é ruim, causa um vazio, pois eu sou
alguém muito diferente, desejo muito ser mãe, ter uma família linda
e feliz, um marido maravilhoso, carinhoso e apaixonado por mim.
Mas as relações humanas mudaram muito, as pessoas hoje em
dia só pensam em si, e em seus desejos, não há mais a entrega, o
altruísmo, não há mais espaço para o amor.
O silêncio volta a rondar o espaço pequeno do carro, pesado e
constrangedor. O assunto não o agrada, isso é fato, e por isso o
clima romântico que havia entre nós acabou.
Chegamos em sua casa, ele estaciona na garagem, desce em
silêncio e segue para o interior da casa.
Sigo para o jardim e vejo o Bóris vindo em minha direção, ainda
bem que ele está aqui.
Me sento em uma espreguiçadeira grande e confortável, ele se
senta ao meu lado, deita sua cabeça em meu colo e ficamos os dois
ali, absorvidos pela paisagem, pelo silêncio quebrado apenas pelos
sons dos pássaros.
– A vida é complicada, Bóris, sorte sua ter nascido cachorro –
digo alheia a tudo, só pensando na minha vida, nas pessoas que
conheci, namorei, amei.
Não acho que realizarei meus sonhos nessa vida, talvez na
próxima, isso se eu não nascer cachorro, gato, pássaro.
Nosso final de semana estava tão bom, que pena que seus pais
encontraram seu caseiro. Poderíamos ainda estar naquele clima
romântico.
Me deito na espreguiçadeira e me deixo levar pela sensação boa
do sol em mim, do pelo macio do Bóris entre meus dedos e da brisa
quente que bate em minha pele.
– Vou dormir um pouco, Bóris, é bom dormir quando a gente fica
triste.
Fecho meus olhos e adormeço.
Capítulo 34
RUI FIGUEIREDO
Estava tudo indo bem até que meus pais chegaram.
Eu sabia que poderia acontecer isso, afinal, estou na mesma
cidade que eles moram, mas eu não pretendia ficar passeando com
a Jack pelas ruas, passaríamos mais tempo dentro de casa, na
represa, e no máximo sairíamos a noite. Mas, acho que não estou
com muita sorte, então quando a Jack interrompeu meu momento
de glória, gozar e continuar excitado, com direito a gozar duas vezes
sem sair de dentro, eu não acreditei.
A situação foi engraçada, mas pela expressão nos rostos dos
meus familiares, eles não acharam nada engraçado quando viram a
Jack estonteante em seu biquíni indecente, mostrando toda a
generosidade do homem lá de cima com ela.
Eu sabia que quando meus pais soubessem do fim do meu
relacionamento com a Priscila, a coisa não ficaria muito boa, e não
foi diferente.
Porra, eu não sei qual a fascinação que os pais têm em ver seus
filhos casados, porque a gente não pode ser feliz solteiro? Aliás,
pela quantidade de casamentos desfeitos que acompanho como
advogado, está provado que esse é o contrato mais falido que
existe, a instituição do casamento é uma mentira, não tenho dúvidas
sobre isso.
A cara de reprovação de minha mãe e de espanto de meu pai
não negam a surpresa e o espanto deles ao me verem com minha
deusa.
Talvez eu tenha agido como um moleque ao não contar para
eles, mas é que não estou a fim de dar satisfações a ninguém sobre
minha vida. Cometi um erro ao deixar as coisas chegarem ao ponto
que chegaram, e agora não quero ouvir ninguém me dizendo o que
devo ou não fazer, a vida é minha, e quero que foda-se o mundo,
ninguém me fará voltar atrás.
Tentei ao máximo não deixar a Jack constrangida com tudo isso,
mas eu sei o quanto minha mãe consegue ser felina, arrogante e
preconceituosa.
Ok, tenho que confessar, o churrasco foi um desastre, porque
para piorar minha mãe e meu pai haviam convidado seus amigos
para participarem.
A Jack é uma mulher encantadora, mas seu corpo chama
atenção demais, e essas velhas mexeriqueiras já devem estar
supondo muitas coisas, como por exemplo, que a Jack é uma
piranha qualquer.
Para mim é fato, mulher muito gostosa incomoda, o companheiro
primeiramente, dá um ciúme da porra de ver outros homens a
desejando, e as mulheres invejosas em segundo lugar, que
gostariam de ter um corpo cheio de curvas e de abundância.
Confesso, sou fissurado pelo corpo da Jack.
Mas, não tenho muito o que fazer sobre isso, não posso mudar a
opinião de ninguém, e também não quero, a Jack não é minha
namorada, noiva, nada, só estamos juntos por conveniência, gosto
de ficar com ela, o sexo entre nós é incrível, mas é só isso.
Seguimos para o meu carro, a cara da Jack não está muito boa,
mas não tenho o que fazer, não planejei esse encontro, foi uma
coincidência infeliz.
– Desculpe, Jack, eu sei que minha mãe não se comportou bem.
– Quebro nosso silêncio, não gosto de vê-la séria, chateada.
– Tudo bem, se eu estivesse no lugar dela, talvez reagiria do
mesmo jeito. Não entendo porque você não contou para eles sobre
sua decisão, a não ser que não seja uma decisão séria, e que tenha
a intenção de reatar.
A olho seriamente, do que ela está falando? Não sou um
moleque, não romperia um casamento por diversão.
– Eu não tenho 20 anos, Jack, minhas decisões são sérias.
– Ok, mas desistir de um casamento é um negócio sério, não é
justo com sua ex-noiva deixar que ela resolva tudo. Imagino que
havia uma festa, uma cerimônia envolvida, pessoas para
desconvidar, acho que sua atitude foi, no mínimo, egoísta! – ela diz
como se quisesse me dar uma lição de moral, é por isso que não
suporto relacionamentos, as mulheres têm essa mania de dizer o
que devemos fazer.
Mas, tudo bem, talvez eu tenha feito as coisas de uma forma
meio atrapalhada, rompi e pronto, mas não tenho a intenção de
reatar, então é bom que eu me certifique que ela desconvidou as
pessoas, devolveu os presentes, enfim, não quero voltar atrás.
– Você tem razão, preciso resolver isso, eu realmente não tenho
a intenção de reatar com a Priscila, eu não a amo, e de uns tempos
para cá, não suporto sua presença. Talvez isso explique o porquê de
não querer casar com ela – digo sem remorsos, ou emoções.
– É, não dá para casar com alguém que a gente não suporta,
pode até não amar, mas não suportar fica difícil. – Ela parece
surpresa, talvez indignada comigo.
– Eu não quero me casar, nunca, não suporto a ideia de viver o
resto da vida amarrado a alguém! – desabafo, porque eu realmente
não suporto a ideia de viver com alguém, sou um cara solitário,
gosto de viver sozinho, de trocar de mulheres quando me encho
delas.
Eu quero que a Jackeline saiba quem eu sou, não quero enganá-
la, ou deixar que ela romantize, se ela é sincera, eu sou mais.
– Oh, talvez isso explique o fato de você não ter se casado
ainda... Você não deseja ter filhos?
Franzo minha testa, fico tenso, odeio esse assunto, odeio tudo
que envolva relacionamentos.
– Não, terei sobrinhos, eles serão como se fossem meus filhos –
respondo.
– Eu sonho em me casar, pode parecer clichê, mas quero
alguém para envelhecer ao meu lado, ter filhos, dois, acho que é um
bom número... Não vejo graça em viver a vida sem um grande amor,
sem pensar em ter uma família, pode até ser que eu não consiga ter
uma, mas esse é meu desejo, não tenho vergonha de dizer isso –
Ela diz com firmeza, parece não se incomodar de falar de seus
sentimentos, anseios.
– Todas as mulheres querem isso, só pensam nisso, parece que
não sabem ser felizes se não tiverem alguém ao lado.
Que conversa de louco é essa que estamos tendo? Eu não
quero falar sobre isso com a Jackeline, estou com ela porque ela é
divertida, leve, me faz bem, mas parecemos um casal discutindo
sobre nosso futuro. Mas que porra, por que chegamos a esse
ponto?
– Ninguém é feliz sozinho – ela diz, parece querer me provocar,
mas ela não me provoca, porque não vivo sozinho, sempre tenho
companhia, nunca falta mulher querendo ficar ao meu lado, e não
preciso casar com nenhuma delas, é só dar uns presentes, levá-las
para passear que elas ficam felizes, e eu também, no final é isso,
não sei por que complicar.
Chegamos em casa, estaciono o carro, e sigo para o interior da
casa, essa merda de assunto me deixou irritado, se ela quiser, que
venha atrás de mim, e eu sei que ela virá.
Me sento em um sofá confortável, zapeio minhas mensagens, só
tem mensagem de mulher, elas ficam loucas no final de semana,
tem meia dúzia que gostaria de estar aqui comigo, talvez eu tenha
escolhido a mais complicada, a mais geniosa, eu deveria saber
disso, afinal, quando a encontrei no elevador ela parecia uma onça,
essa mulher não deve ser nada fácil.
Dispenso as periguetes, talvez durante a semana eu saia com
uma delas, a menos complicada e mais devassa. Confesso que
ainda estou na fissura pela Jack, a filha da puta me pegou de jeito.
Penso nela e olho no relógio.
É, ela não virá atrás de mim, ponto positivo para ela, não gosto
de mulher chiclete. – Penso um pouco irritado, pois era isso que eu
queria, que ela viesse como uma cachorrinha atrás de mim.
– Tudo bem, Jack, aproveite enquanto o feitiço dura. Quando
isso acabar, não terá mais um Rui faminto e insaciável. – Me levanto
e sigo para o jardim.
Balanço a cabeça ao vê-la deitada em uma espreguiçadeira, ela
e o Bóris. Quem vê a cena, diz que a dona do cachorro é ela, e não
eu.
Me aproximo dela, tiro o Bóris da espreguiçadeira, acaricio seus
cabelos, olho para seu rosto, sereno, suave. Não posso mentir para
mim mesmo, a Jack tem mais poder sobre mim do que eu gostaria,
mas isso vai passar, sempre passa.
Me inclino sobre ela, beijos seus lábios, eu adoro essa boca,
mas também adoro esse corpo, essa pele macia, seu cheiro.
Ela abre os olhos, parece sonolenta.
Não estou a fim de conversar, já conversamos muito, e isso me
deixou irritado.
A beijo sem maiores explicações, ela corresponde, nosso beijo
ganha intensidade, sinto seus dedos entre meus cabelos, enfio
minha mão por debaixo do seu vestido, afasto sua calcinha e sinto a
umidade entre suas pernas, eu sei que a excito muito, ela já está
pronta, como sempre.
– Eu quero foder você, Jack! – falo faminto, salivando.
Ela me olha intensamente.
– Então me fode, Rui! – ela diz sensual, sedutora, essa mulher
me deixa louco.
A pego no colo e saio a beijando em direção a casa, em
instantes subo as escadas, abro e fecho a porta do meu quarto,
coloco-a sobre a cama, arranco seu vestido, e mergulho meus
lábios em sua buceta quente, molhada e deliciosa.
Em instantes a levo ao orgasmo.
Adoro o cheiro da Jack, o gosto do seu sexo, dos seus beijos.
Tudo bem, estou inebriado em uma espécie de paixão por ela,
mas é algo momentâneo, carnal e sexual.
Essa pequena discussão mexeu comigo de um jeito estranho,
quero possui-la logo. Então, em instantes arranco minha bermuda,
não me dou o trabalho de tirar a camiseta, estou com pressa, a
penetro feito um animal, e gozo em poucos minutos.
Me deito sobre ela, e fico por alguns minutos abraçado à Jack,
eu gosto disso, desse silêncio, de sentir seu corpo, seu cheiro de
mulher, sua pele macia em contato com minhas mãos.
Desperto do meu estado de letargia.
– Vamos dar uma volta de barco, Jack? – falo mais calmo,
acariciando seus cabelos, e olhando para seus olhos.
– Tudo bem, eu gostei de passear de barco. – Ela sorri, e isso se
reflete em mim, estamos bem novamente.
São estranhos os sentimentos que ela causa em mim, quero
estar bem com ela, preciso senti-la, e saber que ela está feliz, que
não está chateada comigo.
Ela acaricia meu rosto, me olha profundamente, me encanta, me
enfeitiça. Volto a beijá-la, e em instantes recomeçamos com o sexo,
e isso é fato, o sexo entre mim e a Jackeline é algo novo para mim,
não sei dizer como, só sei dizer que com ela é diferente.
Capítulo 35
JACKELINE BARTOLLI
Odia hoje foi complicado, começou bem, mas teve a visita dos
pais do Rui, o almoço e o clima azedou completamente. Achei que o
final de semana estava perdido, mas aí ele apareceu enquanto eu
dormia na espreguiçadeira, me beijou sem maiores cerimônias e em
instantes estávamos novamente em sua cama, fazendo sexo
loucamente, não menos delicioso que os outros, não existe sexo
ruim com o Rui, mas ele estava diferente.
Fecho meus olhos e tento espantar esses pensamentos,
estamos bem de novo, a nuvem escura foi embora, e deixou apenas
um sol maravilhoso.
Estou sentada em uma almofada grande e macia em seu barco,
ele ancorou no meio da represa, e pediu para eu esperar um pouco,
entrou na cabine e sumiu.
Aproveito esses minutos de paz, fecho meus olhos e deixo a
brisa bater em meu rosto. Adoro sentir a natureza, adoro coisas
simples como o calor do sol, a carícia do vento. Gosto também dos
dias de chuva, do frio, amo sentir a vida.
Um beijo suave em meu pescoço e desperto da minha
meditação, abro os olhos e sorrio ao vê-lo me olhando.
– Eu fiz algo para a gente comer, eu sei que você está com
fome, não comeu nada no churrasco.
– Não estou com fome. – Minto, estou varada, mas não posso
deixar a verdade vir à tona.
Ele ri, pega em minha mão e me puxa para um canto do barco,
vejo uma mesinha, uma tábua de frios e um vinho branco.
– Duvido que você não queira experimentar da minha
especialidade.
Sorrio e me sento ao seu lado, pego algo e coloco em minha
boca.
– Muito bom, você quem fez, é sua especialidade? – Brinco.
– Ok, isso não é bem uma especialidade, mas sou bom de
arrumar. Ficou legal, não ficou? – ele diz divertido, adoro vê-lo
assim, e odeio vê-lo frio e egoísta.
Escolho um pedaço de queijo e salivo, que queijo mais gostoso.
– Hum, ficou lindo, você já fez curso de como decorar pratos? –
De novo tiro sarro dele.
– Maldade, Jack, eu aqui querendo te agradar e você me
tratando com descaso. – Ele faz cara de magoado, mas eu sei que é
só charme.
Seguro sua cabeça entre minhas mãos, e dou um beijo
demorado em seus lábios.
– Obrigada, Rui, você é um gentleman. – Ele sorri satisfeito e
entrega uma taça de vinho para mim.
– Estou ao seu dispor! – ele diz cheio de charme.
Passamos algumas horas conversando sobre amenidades,
coisas que ele já fez, viagens, sobre ele basicamente, então ele
pergunta:
– E você, já viajou para fora do país? Me conta o que já fez!
Torço meus lábios, nunca fiz nada, tenho 27 anos, e mal
conheço as cidades dos outros estados do Brasil.
Confesso, tive uma vida sem graça.
– Nunca sai do Brasil, fiz poucas viagens, não sou muito
aventureira – digo sem jeito, acho que de fato nunca tive dinheiro
para nada disso, nasci em uma família muito simples, meu pai
sempre ganhou pouco, ele nunca teve uma profissão, era operário
em uma fábrica, minha mãe nunca trabalhou fora, enfim, somos
como muitas pessoas, mas tive uma vida feliz, sempre tive muito
amor e atenção, isso compensa o resto.
– Não tem vontade de viajar, conhecer outros lugares? – ele
pergunta, com aquele olhar penetrante, intenso e indagador.
– Tenho, talvez algum dia. – Tento não falar muito sobre isso,
porque depois que conheci seus pais, percebi que o Rui não é só
rico pelo trabalho dele, ele é um homem rico de berço.
– Você não está muito falante, Jack, tem alguma coisa te
incomodando? – O olho intrigada.
O Rui é uma caixinha de surpresas, às vezes tão frio e distante,
e às vezes tão preocupado e presente.
É difícil entender esse homem.
– Não! – respondo despreocupada, talvez nossa conversa
depois do famigerado churrasco tenha me deixado meio amortecida,
não sei dizer, sou assim, já tomei tanta porrada da vida que acho
que não sinto mais nada, apenas aceito de bom grado os momentos
felizes, as coisas boas. – Está tudo bem, às vezes sou assim, mais
introspectiva.
– Me desculpe se fui um pouco grosso com você. – Ele evita me
olhar, disfarça.
– Você não foi grosso comigo, só foi sincero – respondo
encarando seu rosto, ele me olha rapidamente, mas logo disfarça e
volta a olhar para o horizonte. – Me desculpe se me intrometi em
sua vida, não tenho nada a ver com o seu relacionamento, com sua
vida, ou da sua família. – Ele me olha pensativo. – Tenho uma
língua muito grande, às vezes ela não cabe em minha boca.
Ele ri de minha piadinha idiota.
– Eu gosto do seu jeito, eu já te disse isso antes. – Ele acaricia
meu rosto, coloca meu cabelo que está em meu rosto atrás de
minha orelha, e me encanta com o seu olhar.
– Seus olhos são lindos, Rui – falo sem pensar, adoro tudo nele,
mas também não preciso ficar babando feito um buldogue.
– Os seus também são lindos, Jack! Você é linda! – Ele me
encara, e eu viro gelatina.
Oh, ele sabe como desestruturar uma mulher.
– Talvez você precise de óculos Rui, quero dizer, você já usa um,
mas deveria usá-lo mais – falo encabulada, ele me deixou muito
sem graça.
– Só preciso de óculos para ler, enxergo bem de longe! – Ele me
encara, passa seu braço pela minha cintura e me puxa para junto
dele, nos deixando a centímetros de distância. – Você é linda, Jack!
Sorrio, continuo sem graça, já ouvi muitos elogios, mas todos de
baixo calão, ser chamada de linda é algo profundo. Eu não sou
linda, eu sei disso, mas ele me faz sentir linda, talvez seja algo de
dentro para fora, me sinto plena quando estou com ele, porque o
Rui é um tipo de homem que faz a mulher que está com ele se
sentir assim, linda, gostosa, plena.
– Obrigada – sussurro, e já sinto meu coração disparado, um
amortecimento nas pernas, eu já senti isso antes, e sei o que
significa.
Não espero que ele me beije, já passei dessa fase, eu quero que
se fodam as convenções, invado sua boca com a minha, e ele me
coloca em seu colo, e apenas nos beijamos, nos acariciamos, e isso
é bom demais. Aos poucos ele me deita no banco, cobre meu corpo
com o dele e transamos ali, no meio de uma represa, a céu aberto.
Não tiramos nossas roupas, foi um sexo meio selvagem,
daqueles que fazemos em lugares indiscretos, parecendo cachorros
no cio.
Aos poucos nos acalmamos, e cada vez fica mais claro para
mim, a atração sexual que existe entre nós é forte demais, não
conseguimos ficar juntos sem nos tocar, me sinto em brasa quando
estou com ele, faria sexo em qualquer lugar, apenas pelo impulso e
descontrole que sinto quando estou com ele.
Isso é bom, mas ruim ao mesmo tempo.
– Quer voltar, Jack? – ele diz manhoso, enchendo meu rosto de
beijos.
Por que ele faz isso comigo, me deixa tão apaixonada?
– Você quem sabe – respondo de olhos fechados, embriagada
de prazer.
– Ok, eu ficaria o dia inteiro aqui com você, só fazendo o que
estamos fazendo, mas a gente pode voltar e curtir um pouco a casa,
a piscina. – Ele se inclina sobre mim, estou deitada. – De noite
saímos, existem muitos restaurantes legais na cidade, você vai
gostar.
– Tudo bem, não sou muito complicada, topo qualquer coisa –
falo com sinceridade e simplicidade, apenas gosto de ficar com ele,
e me assusto com esse sentimento que cresceu dentro de mim.
Como em tão pouco tempo esse homem ganhou tanto espaço
em meu coração?
Mais um beijo, rápido, mas não menos delicioso, ele se levanta,
arruma sua bermuda. Arrumo meu biquíni, estou praticamente nua,
mas de qualquer forma, cubro os principais.
****

Não sei quando foi a última vez que passei um dia tão adorável
quanto o de hoje, realmente não me lembro.
Horas esticadas no sol, revezando entre um mergulho e outro,
muitos beijos e muitas guloseimas.
– Você está acabando com minha dieta, Rui! – digo depois de
me deliciar com uma taça de sorvete.
Ele é jeitoso, engraçado, me cobre de mimos, não vou mentir,
ele é incrível, está o tempo todo me oferecendo coisas, me dando
beijos, ele é apaixonante, pena que tenha um lado negro, aquele
que odeia relacionamentos.
– A gente está fazendo bastante sexo, Jack, uma coisa
compensa a outra – ele diz, e ri ao mesmo tempo.
Sorrio do que ele diz, e o beijo lambuzando seus lábios de
sorvete.
E assim seguimos até o final da tarde, deliciosamente, no melhor
final de semana da minha vida.
****

Entramos no banheiro em meio a muitos beijos, arranco sua


roupa, ele tira meu biquíni. Ele abre a torneira do chuveiro, e
começa a ensaboar meu corpo, e isso é uma tortura, sua mão
escorregando pelos meus seios e trilhando um caminho ardente até
o meio das minhas pernas.
Não, não vou mentir, eu nunca conheci um homem que me
fizesse sentir tanto prazer.
Ele me toca e eu gemo.
Enquanto a gente se beija, ele me enlouquece com seus dedos,
me estimulando e me invadindo.
Minha respiração acelera, ofego de prazer e chego novamente
ao orgasmo.
– Oh, Rui, que delícia... – Gemo descontrolada, enfiando minhas
unhas em suas costas, beijando sua boca, e me entregando por
completo.
– Geme, Jack, pode gemer bem alto, gostosa! – ele diz enquanto
me enlouquece de prazer.
Volto a terra, abro meus olhos e encontro os dele, felinos e
cheios de desejo.
– Agora eu quero você – eu digo ao mesmo tempo em que saio
beijando seu corpo, agacho-me e envolvo seu membro com minha
boca, e levo-o ao orgasmo.
– Jack!!! – Ele geme meu nome, segura meus cabelos, e os
puxa, ele foi para outro planeta, e voltou. – Caralho, Jack, foi
demais.
O abraço e o beijo novamente, confesso, acho que sou
ninfomaníaca. Morro de tesão por esse homem, e vou levá-lo a
exaustão se não me controlar.
– Jack, acho que você vai me deixar de cama – ele diz sem
fôlego. – Que fogo da porra que você tem! – ele diz me prensando
contra a parede e me penetrando.
– Você também tem fogo, Rui – falo em meio as suas investidas
contra meu corpo, fortes, profundas e deliciosas.
– Eu morro de tesão por você, Jack! – ele diz insano, e mais uma
vez deliramos em nossa orgia de sexo.
Ele descansa sua testa na minha e respira de boca aberta,
parece que vai morrer.
– Caralho, isso está parecendo uma competição, Jack! – ele diz
e ri. – Qual de nós dois vai dizer que desiste? – ele fala rindo.
– Acho que sou eu, estou cansada e com sono! – digo exausta.
– Sem chance de dormir, Jackeline, vamos jantar fora, dispensei
a esposa do caseiro.
– Você não tem nada na geladeira? Comemos qualquer coisa! –
digo de olhos fechados, deixando a água cair em minha cabeça.
– Quero sair um pouco, não aguento mais fazer sexo com você –
ele diz e eu arregalo meus olhos, e ele cai na risada.
– Acordou, Jackeline? – Ele ri mais, ensaboando seus cabelos. –
Estou brincando, era só para te acordar – ele diz divertido. – Vou te
levar num restaurante bem romântico, eu sei que você é romântica,
gosta de jantares a luz de velas, ganhar flores...
O olho confusa.
– Como você sabe disso? – Ele me olha confuso, dá um sorriso
sem graça.
– Adivinhei, não estou certo? – Ele faz uma cara engraçada.
– Sim, adivinhou, mas não precisa fazer nada disso – falo
arredia, para que fazer isso se ele não é assim?
– Eu gosto de te ver feliz, sorrindo... – Ele segura meu rosto e
me olha dentro dos olhos, me fazendo sentir as borboletinhas no
estômago.
– Ok, faça o que quiser – respondo me sentindo embriagada por
seu olhar.
– Então, vamos terminar esse banho, antes que eu desista – ele
diz bocejando feito um urso.
Coloquei o vestido que ele me deu na primeira vez que fomos
àquela loja chique. Ele é justo na parte de cima, levemente rodado
abaixo da cintura e com estampas florais.
O tecido leve e delicado dá ao vestido um caimento sensual,
assim como o decote no busto, ele me deixou muito feminina e
chique.
Arrumo meu cabelo em um coque, coloco meus brincos de
argola e faço uma maquiagem.
Me olho no espelho e me sinto bonita, o sol me deixou com a
pele levemente dourada, sexy.
– Podemos ir? – Ele me abraça pela cintura, beija meu pescoço,
viro meu rosto e beijo o canto de seus lábios.
– Podemos. – Me viro para o olhar. – Você está muito gato,
sabia?
Ele está irresistível, apenas uma camisa branca e uma calça
jeans escura o deixam muito bonito.
– São seus olhos, Jackeline! – Ele pisca, fazendo charme. –
Vamos, minha deusa.
Sorrio e o sigo em direção à porta.
Em instantes chegamos ao restaurante, e que restaurante!
Tudo bem, acho que até hoje não tinha frequentado tantos
lugares sofisticados, isso é fato, o Renato é um mão de vaca dos
infernos.
Mas, enfim, não quero lembrar do Renato.
Sentamos em um mesa, o garçom acende a vela, o lugar é
ligeiramente escuro, dando um ar romântico, me sinto especial hoje,
de muitas formas.
– Lindo aqui, Rui! – digo encantada. – Obrigada por me trazer
num lugar tão bonito.
– Você merece, minha deusa! – Ele leva minha mão até seus
lábios e a beija. – Vamos comer o que? – Ele pega o cardápio e
começa a escolher nosso prato.
A noite não foi menos especial do que o dia, comemos num
clima leve, porque não dizer romântico.
Uma banda de música instrumental toca ritmos suaves e
românticos.
– Esse restaurante é muito romântico – falo bebericando meu
vinho.
Ele se levanta e pega em minha mão.
– Então, vamos dançar – ele diz e me arrasta para a pista de
dança, onde alguns casais dançam.
– Você gosta de dançar, né, Rui? – digo me divertindo com seu
rompante.
Ele segura minha mão junto ao seu peito, a outra em minha
cintura, une nossos corpos, e começamos a dançar.
Dançamos com os olhos vidrados um no outro, cada centímetro
dos nossos corpos colados.
Mais uma coisa para a minha lista de coisas que nunca fiz,
dançar juntinho, embalada apenas pelo som harmonioso que sai
dos instrumentos musicais.
– Você não me respondeu, você gosta de dançar? – pergunto
novamente.
– Gosto! – Ele me encara, daquele jeito sedutor, me deixando
sem ar.
– O que mais você gosta, Rui? – pergunto enfeitiçada pelo seu
olhar.
– De você, Jack, de ficar com você, de te beijar, do seu cheiro,
da sua boca. – Enquanto ele fala, seus lábios vão depositando
beijos em meu rosto, pescoço, beijos delicados, singelos. – Do sexo,
Jack, você é viciante! – Um gelado percorre meu estômago, e
parece chegar ao coração.
Fecho os olhos e apenas me deixo levar por ele.
– Você é o mestre da conquista, Rui! – digo de olhos fechados, e
então sinto seus lábios sobre os meus, macios, quentes.
Seus braços me apertam contra o seu corpo e ele aprofunda o
beijo.
– Vamos embora, Jack. – Ele pega em minha mão e sai
rapidamente da pista de dança, em instantes estamos no carro.
Acaricio seus cabelos e beijo seu rosto enquanto ele dirige,
novamente ele está com pressa, afoito, parece um garotão de 20
anos.
Chegamos a sua casa, ele sai me arrastando para seu quarto,
parece que vai tirar o pai da forca.
Ele começa a tirar meu vestido, mas o faço esperar.
– Espera, deixa eu fazer uma surpresa para você – falo com um
sorriso no rosto.
– Vai demorar? – ele diz parecendo salivar.
– Não! – Pego minha mala e sigo para o banheiro.
Tiro meu espartilho, a calcinha e a meia liga da mala.
Em segundos estou despida, colocando o espartilho, e bufando
de raiva enquanto prendo os ganchinhos.
Me olho no espelho, ajeito o espartilho ao meu corpo, e relembro
quando nos conhecemos e sorrio.
– Ele é um devasso, sempre foi. – Respiro e inspiro, e saio do
banheiro, e o encontro deitado na cama, mostrando toda a sua
virilidade, com uma ereção pronta.
Ele me vê e se senta na cama em um solavanco, e me olha de
um jeito que me faz esquecer tudo que passei naquela noite em que
briguei com o Renato.
– Oh, Jack, que visão do paraíso! Vem aqui, minha delícia! – ele
diz com seus olhos de devorador de mulheres.
Caminho até ele sensualmente, ele segura minha cintura e
mergulha sua boca maravilhosa em meus seios, apalpando meu
bumbum, apertando-o entre suas mãos.
– Você é linda, Jack! – Ele me deita, e começa a me enlouquecer
com sua boca, sua língua, que explora cada pedacinho da minha
intimidade, descendo beijos pelas minhas coxas, em minhas pernas
inteiras, em meu pé. Dou risada, porque sinto tesão em cada
pedaço do meu corpo onde ele beija. Ele volta a me beijar,
massageia meu clitóris, beija meu pescoço, volta a me atormentar
sugando meus seios.
– Oh, Rui, eu não aguento... – Falo em soquinhos, tentando
controlar o tesão que sinto. – Me fode, Rui! – sussurro puxando
seus cabelos, enquanto ele beija meus seios, e me estimula com
seus dedos.
– Não precisa pedir duas vezes, minha deusa! Vira, Jack, quero
ver esse bumbum gostoso. Quero te foder de quatro, minha delícia!
Me viro, me apoiando em meus braços, ele me penetra, geme de
prazer, aperta minhas nádegas, mais um estocada...
– Oh, Jack, minha gostosa! – Ele geme meu nome.
– Mais, Rui!
Ele me penetra forte.
– Assim, gostosa? – ele diz com sua voz gutural.
– É, Rui... – Ele me penetra com força. – Ahhh... – Grito de
prazer. – Mais, Rui... – Gemo alto.
– Caralho, Jack, assim eu não aguento. – Mais uma estocada,
junto com um tapa em meu bumbum, grito de surpresa, de prazer,
adoro quando ele faz isso.
– Vai, Rui, me mata de prazer. – E ele começa, seu corpo se
choca contra o meu, duro, insaciável, assim como os tapas, as
massagens. – Eu vou gozar, Rui. – Gemo alto, escandalosa, devo
ter acordado todos os vizinhos. – Ohhh, Rui!!! – Desabo meus
braços, empino minha bunda, e ele se acaba, uma, duas, três
vezes, e seus urros de prazer reverberam no quarto, na casa, no
bairro inteiro. – Jesus, que loucura! – falo para mim mesma, ele
desaba ao meu lado, relaxo meu corpo e tento respirar, estou
ofegante.
Ele fica de olhos fechados, respirando feito um louco. O olho
preocupada e acaricio seu rosto.
– Rui, você está bem? – Sinto um pânico dentro de mim.
Ele abre os olhos e ri.
– Tá com medo que eu morra, Jack?
Relaxo e dou risada.
Credo, sou muito preocupada!
– Acho que estou exigindo muito de você, você já está meio
velhinho! – Brinco e ele ri ruidosamente.
– Tenho 35 anos, mas meu corpinho é de 20! – ele diz
orgulhoso.
Reviro meus olhos, o abraço, me deito em seu ombro e cheiro
seu pescoço.
Estou apaixonada por esse homem, não há o que fazer.
– Rui, meu dia foi maravilhoso, obrigada! – falo cansada, apenas
sentindo seu peito subindo e descendo. – Quero dormir.
Ele se mexe, fica de lado.
– Me deixa tirar isso de você, se vira de costas. – Me viro
preguiçosa, ele vai abrindo os ganchos que prendem o espartilho e
beija minhas costas. – Dorme, minha deusa, eu só vou tomar uma
água. – O sinto me cobrindo com uma colcha e apago, literalmente.
Capítulo 36
JACKELINE BARTOLLI
Que final de semana incrível!
Me espreguiço na varanda do quarto do Rui, olhando a linda
represa a minha frente.
Estou vestindo sua camiseta, não sei para que trouxe camisolas
se não as uso, não consigo colocar nada bonito para dormir, ou
melhor, não uso nada para dormir.
O sol está a pino, mais um dia lindo nos espera, fecho os olhos e
deixo o sol quente aquecer meu rosto, adoro essa sensação de
olhar para o sol e sentir seu calor em minha pele.
Mas meu sossego durou pouco, logo sinto braços fortes ao redor
da minha cintura, me apertando contra uma ereção matutina.
Sim, esse homem é o deus do sexo, deve haver um, existe o
deus da beleza, do amor, e deve haver o do sexo, e o nome dele é
Rui.
– Bom dia, minha deusa! – ele diz no meu ouvido, mordiscando
minha orelha, esfregando sua barba rala contra minha pele. – Como
você acorda e me deixa sozinho na cama? – ele diz manhoso, com
sua voz rouca de sono.
– Bom dia! – O olho de lado. – Você estava dormindo tão
gostoso, não quis te acordar. – Beijo suavemente seus lábios.
Ele me vira para ele, segura meu rosto entre suas mãos e me
beija profundamente.
Aquele friozinho no estômago aperta, acaricio seu peito, seus
pelos macios, sua barriga. Já estou pronta, molhada, encharcada,
ele não pode me beijar que fico assim.
– Vamos para a cama – ele diz com seu olhar de predador, me
coloca em seu colo, abre a cortina do quarto, me deita em sua cama
e pronto, o dia começou como sempre, com muito sexo.
****

Coloco meu biquíni mais decente, prendo meu cabelo em um


coque, coloco um short curto e uma blusinha por cima do biquíni.
Volto para a varanda, o Rui está tomando banho, e enquanto
isso, volto a olhar para a represa, estou apaixonada por esse lugar.
Me sento de joelhos numa poltrona confortável, colocada na
varanda, meu peludo preferido se senta ao meu lado, acaricio seu
pelo macio, beijo sua cabecinha e ficamos nos curtindo. Foi amor à
primeira vista, ele me ama e eu o amo.
– Vamos, Jack! – Ouço a voz grossa do Rui, ele aparece de
cabelos molhados, short e camiseta, tão despojado, nem parece o
advogado fodão que conheço.
Me levanto, pego em sua mão que ele estendeu para mim e o
sigo para o piso inferior. A mesa de café da manhã está estendida e
repleta de coisas deliciosas.
Nos sentamos, comemos e conversamos, estamos tão íntimos,
parecemos um casal de namorados, mas não somos, não posso me
esquecer disso.
– O que vamos fazer? – pergunto ao terminar meu café.
– O que você quer fazer? – ele diz me puxando para seu colo. –
Você que manda, Jack!
Sorrio, beijo seus lábios.
– Só quero ficar com você, não importa fazendo o que – digo
apaixonada, é uma merda, mas é isso, estou apaixonada por ele.
Ele sorri, parece satisfeito, obviamente.
– Estou com saudades de conduzir meu barco, se você não se
incomodar podemos dar uma volta novamente, existe um
restaurante do outro lado da represa, ancoramos lá e almoçamos. –
Ele acaricia meu rosto. – O que você acha?
– Perfeito, adorei! – Saio do seu colo. – Posso ir assim, ou
preciso me arrumar?
– Não. – Ele entorta seus lábios. – Para que, você está linda
assim!
– Oh, não estou linda, short e camiseta, talvez seja melhor um
vestidinho por cima do biquíni, vou trocar. – Sigo apressada para
sua casa, antes mesmo dele responder, não confio mais na opinião
do Rui, da última vez apareci feito uma perua na frente de sua
família, não quero mais passar por isso.
****
Passamos um dia maravilhoso, almoçamos em um lugar incrível,
e agora chegou a hora de voltarmos.
Arrumo minhas coisas em minha mala, termino de colocar
minhas sandálias e estou pronta, aguardando enquanto o Rui
conversa com seu caseiro.
Bom, na verdade ele foi até a casa de seus pais, se despedir
deles, e agora está conversando com o caseiro, eu fiquei com o
Bóris em sua casa.
Ouço barulho de passos na escada e logo meu deus grego
aparece em seu quarto.
– Oi! Deu tudo certo? – pergunto por educação, não pretendo
mais me meter em sua vida pessoal.
– Deu tudo certo! – Ele abraça minha cintura e me dá um beijo
rápido. – Podemos ir? Não quero chegar muito tarde em casa.
– Sim, está tudo arrumado – digo rapidamente.
Ele pega minha mala, a sua e caminha para a porta.
– Vem, Jack!
Caminho junto com ele, ele guarda as coisas em seu carro, e
enquanto isso, ajeito o Bóris no banco de trás.
– Você fez xixi, Bóris? – Ele abana o rabo. – Acho que sim, né? –
Beijo sua cabecinha e sigo para o banco do passageiro. – Estamos
prontos, Rui.
– Ok, passageiros, então vamos começar nossa viagem – ele diz
divertido, me olhando com um sorriso no rosto.
– Você pode me deixar em minha casa? – digo assim que
pegamos a estrada.
Ele me olha de lado, parece incomodado.
– Por quê? Pensei que iriamos para o meu apartamento, e
amanhã você vai comigo para o escritório – ele diz com a testa
levemente franzida.
– Ah! – Penso. – Bom, eu não trouxe uma roupa de trabalho.
– Você veste o seu tailleur que ficou em meu apartamento, não
vejo nada demais. – Ele me olha rapidamente.
– Tudo bem, Rui! – respondo rapidamente. – Estou adorando
nosso final de semana, só pensei em te deixar respirar um pouco.
Não está cansado de mim?
Ohhh! Reviro meus olhos no mesmo momento que digo, isso
soou tão carente!
Como sou idiota.
Ele sorri.
– Não, não estou cansado de você. – Ele me olha de canto de
olho. – Você está cansada de mim?
Bom, não sou só eu que estou parecendo carente.
Sorrio feliz.
– Não, ainda falta muito para ficar cansada de você! – falo em
tom debochado.
– Então, vamos aproveitar – ele diz sedutor.
– Vamos! – respondo sorrindo e beijando seu rosto.
****

Depois de horas na estrada, chegamos ao seu apartamento.


– Vamos relaxar na banheira, Jack – ele diz subindo as escadas
que levam aos quartos. – Estou morto de cansado.
– Tudo bem! – Beijo a cabecinha do Bóris e o sigo para o seu
quarto.
Logo estamos dentro da banheira.
Me sento e em seguida o Rui senta entre minhas pernas.
– Vou fazer massagem em você. – Cochicho em seu ouvido e
começo a massagear seus ombros, pescoço e desço para as
costas. – Gostou?
– Hummm! Muito, Jackeline, você tem mãos de fada – ele diz
preguiçoso. – Vamos ficar mais um pouquinho.
– Tudo bem! – Beijo seus cabelos, acaricio seu tórax, e aproveito
esses minutos deliciosos ao lado desse homem incrível.
Vou sentir falta dele durante a semana, porque no escritório não
podemos desfrutar desses momentos de intimidade, preciso me
acostumar com nossa vida dupla.
Percebo sua respiração profunda, ele cochilou, mas a água
começa a ficar fria, e preciso acordá-lo.
– Rui, vamos sair, a água está esfriando! – Sussurro em seu
ouvido.
– Peguei no sono – ele diz despertando. – Vamos sair, pedimos
alguma coisa para comer, e dormimos cedo, Jack. Você acabou com
todas as minhas energias! – ele diz rindo, e sai da banheira.
– Oh, Rui, que injustiça, parece até que te obriguei a fazer
alguma coisa, ainda nem compramos as algemas! – falo brincando,
e seguindo-o para a ducha.
– Poxa, temos que ir a um sexy shop, faremos isso durante a
semana – ele diz malicioso.
– Era brincadeirinha, você não está levando isso a sério, né?! –
falo ensaboando seus cabelos.
– Claro que estou! Vamos fazer compras, chicotes, algemas,
vibradores, o que mais podemos comprar? – ele diz irônico.
– Sei lá, nunca fui a um lugar desses! Mas, os chicotes serão
para eu usar em você – digo preocupada.
– Vamos fazer umas coisas diferentes, Jack! – Ele sorri, parece
estar adorando a ideia. – A gente vê o que tem de interessante no
sexy shop.
Reviro meus olhos, ele está muito empolgado, não sei se quero
experimentar coisas diferentes.
– Ok, Rui, depois vemos isso – digo rapidamente.
– Quer transar, Jack? Essa história me deixou excitado. – Ele
olha para o seu amigo, depois para mim.
Sorrio do jeito dele, parece um garotão, mas um garotão muito
gostoso, não resisto a ele.
– Rui, você é ninfomaníaco! – Dou risada.
Ele me agarra pela cintura, me fazendo gritar de surpresa.
– Acho que sou, Jack, você me deixou assim. – Então ele invade
minha boca com a sua, e voltamos a nossa maratona de sexo.
****

É indescritível a sensação boa de dormir ao lado do Rui, quero


dizer, grudada ao Rui. Ele é um homem muito carinhoso, atencioso,
gentil, ele é um príncipe, mas tem o seu lado negro, não posso me
esquecer disso.
Adormeço acolhida em seus braços, já acostumei com essa vida
de casal, é bem estranho isso, mas me acostumei com ele como se
o conhecesse há quatro anos. Parecemos almas gêmeas,
combinamos muito, nos damos bem, e quando fazemos sexo, é um
negócio explosivo, nunca senti isso com ninguém, química pura, das
mais perigosas, ele é fogo e eu, a gasolina.
Desperto com beijos suaves e molhados em meus lábios, abro
levemente meus olhos, e encontro os seus, cinzas como uma
tempestade. Seus olhos mudam de cor, ora são claros, quase azuis,
e ora são de uma cor cinza profundo. São lindos, sedutores,
misteriosos e hipnotizantes.
– Bom dia! – falo com um sorriso, aliás, nunca estive tão bem-
humorada nas primeiras horas do dia, acho que é o efeito paixão,
muito hormônio da felicidade correndo solto no corpo causa essa
sensação de felicidade indescritível.
– Bom dia, minha deusa! – ele diz com sua voz rouca, arrumo
seus cabelos com minhas mãos, pois estão bagunçados dando a
ele um ar de menino, ele fica lindo quando acorda. – Hoje é
segunda-feira. Odeio segundas-feiras, Jack!
Ele parece mal-humorado, é estranho vê-lo mal-humorado,
porque ele é um cara bem-humorado.
Ele se levanta e segue para o banheiro, o sigo preguiçosa, me
esticando feito uma cobra. Tivemos uma noite muito quente, então
parece que cada músculo do meu corpo está cansado, como se eu
tivesse feito ginástica.
Acho que vou emagrecer, faço muito exercício quando estou
com esse homem.
Entramos na ducha, ele fecha os olhos e fica embaixo da água.
Abraço sua cintura e esgueiro-me para beijá-lo.
– Tá mal-humorado, Rui?
Ele sorri torto, tão sexy.
– Estou, Jack, hoje é meu dia!
Abraço seu pescoço e procuro seus lábios.
– Eu vou te ajudar a acabar com esse mau humor – falo bem-
humorada.
O beijo, acaricio seu corpo, e por fim envolvo seu pênis com
minha boca.
– Hummm, Jack, você é demais! – Ele geme feito um gato.
Eu queria levá-lo ao orgasmo, mas sou interrompida.
– Vem, gostosa, eu quero te foder! – Ele me coloca de costas
para a parede, me penetra, puxa meus cabelos fazendo com que
meu rosto fique de lado, o olhando. – Fala para eu te foder, Jack!
Esse homem é muito sensual.
– Me fode, Rui! – falo ofegante.
Sinto uma estocada forte, ele puxa mais meus cabelos, me
causando um misto de dor e prazer.
– Fala de novo, Jack! – Ele me beija guloso, com vontade,
parece querer me engolir nesse beijo.
Afasto meus lábios dos seus.
– Me fode, meu homem! – falo gemendo, mas um puxão nos
meus cabelos.
– Você me deixa louco, Jack! – Ele morde meu pescoço. – Eu
sou seu homem, é isso? – Mais estocadas e estou gemendo.
– Você é meu homem, Rui! Me fode, meu homem!
Uma mordida em meu ombro, e tenho certeza que ficarei roxa.
Uma, duas, três estocadas...
– Minha gostosa! – Sua voz sai gutural, ele segura meus seios
entre suas mãos e começa a me foder alucinadamente.
Pai eterno, eu vou morrer! – Penso, deliro, e gozo
estridentemente, ele atingiu meu âmago, o fundo do meu ser, esse
homem é demais, ele não existe, deve ser um robô feito para o
sexo.
– Caralho!!! – ele grita, e geme, e urra, e parece que vai morrer
também.
Sinto seus braços me apertando em um abraço, seu coração
contra a pele das minhas costas, sua respiração rápida, quente e
macia em minha pele.
– Caralho, Jack, que trepada animal!
Descanso minha testa no azulejo, estou tremendo inteira, como
se cada músculo do meu corpo estivesse esgotado.
Ter relações sexuais com um homem como esse leva à
exaustão, literalmente.
Ele me vira para olhá-lo.
– Estou bem melhor agora, Jack! – Ele abre um sorriso grande,
lindo.
Que boca mais linda que ele tem.
– Que bom, Rui! – falo esgotada.
– Vamos tomar banho, hoje é dia de trabalho, Senhorita
Jackeline, seu chefe é bem exigente, e hoje você vai ter que
trabalhar muito – ele diz animado, parece outro, realmente sexo é o
remédio para esse homem.
– Oh, você me deixou cansada, Rui! – falo de olhos fechados,
sonolenta.
– Pode deixar, minha deusa, eu vou cuidar de você! – Sinto suas
mãos labuzadas de sabonete em meu corpo, mas isso não vai dar
certo, porque isso me excita demais.
– Não, Rui, deixa que eu me lavo, é melhor! – Pisco para ele, ele
ri e volta a tomar seu banho.
****

Tomamos café da manhã rapidamente, sigo com o Rui para a


porta, mas antes converso com sua empregada, essa semana será
o coquetel do escritório, e confesso, estou bem nervosa com isso.
– Está tudo certo para o coquetel, Rui – falo enquanto entramos
no elevador.
– Qualquer dúvida, me fala, Jack. Eu sei que isso é novo para
você, não precisa ficar constrangida de me perguntar – ele diz
carinhoso, compreensivo.
– Tá bom. – Me assusto quando o elevador para no andar do
Renato, cada músculo do meu corpo fica tenso.
A porta abre e dou de cara com o Renato, ele me olha surpreso.
– Oi, Renato! – falo num sussurro, sinto a mão do Rui segurar a
minha, ele me puxa para junto dele e abraça minha cintura.
– Oi, Jack! – Ele me olha, olha para a cena, ou seja, eu nos
braços do Rui, disfarça e abaixa a cabeça.
Fecho meus olhos e sinto uma tristeza, meus olhos enchem de
lágrimas.
Por que estou me sentindo assim?
Eu nunca mais retornei uma mensagem, uma ligação dele, ele
tentou falar comigo muitas vezes, mas é que depois que conheci o
Rui não consegui mais pensar nele, simplesmente o Rui me
envolveu em sua teia, não deixou espaço para mais ninguém.
A descida do elevador foi uma tortura, eu, o Renato e o Rui,
aliás, os dois com R, devo ter uma queda por homens com a letra R.
O elevador abre na garagem, ele sai sem se despedir de mim,
some na garagem, e meu peito aperta. Não é assim tão fácil
esquecer um relacionamento de quatro anos, ele foi importante para
mim, não me amou como eu esperava, mas eu o amei. Não sou
uma pessoa fria que já esqueceu o que aconteceu entre mim e ele.
Ele me decepcionou muito, mas também me fez feliz muitas vezes.
O Renato é muito diferente do Rui, introspectivo, tímido, caseiro,
mas ele é amigo, fomos muito amigos, ele era meu melhor amigo,
me dava muitos conselhos.
Me sinto tão triste de nosso relacionamento ter acabado assim!
Sigo de mãos dadas com o Rui para seu carro, calada, absorta
em meus pensamentos.
Ele me olha de lado, disfarço e tento dar um sorriso.
– Tudo bem, Jack? – ele diz já dentro do carro.
– Tudo bem – falo sem vontade, não quero falar sobre isso.
– Parece que esse cara mexe com você – ele diz secamente,
olho para ele, e vejo uma expressão dura. Será que ele tem ciúmes
de mim?
– Namoramos quatro anos, fico triste de termos terminado de
uma forma tão ruim – falo sem o olhar.
Ele não diz nada, acaricia meus cabelos, pega minha mão e a
beija.
– Eu estou aqui, Jack!
Sorrio, é claro que ele está aqui, não há dúvidas disso.
– Eu sei que você está aqui. – Sorrio.
– Então, esquece ele.
O olho surpresa, ele tem inseguranças, e isso é bem estranho.
Porque um homem como o Rui, não parece sofrer de nenhum dos
males dos seres humanos, ele parece acima de tudo isso, seguro,
resolvido, dono de seu coração, da sua mente, da sua vida.
Me esgueiro até ele, aproveito o sinal fechado e o beijo, é assim
que esqueço meus problemas, nesses lábios.
Ele segura meu rosto e me beija, sinto aquele gelado no
estômago, uma vontade louca de dizer...
NÃO, eu não amo o Rui, é paixão, amar é mais profundo, estar
apaixonado é algo superficial, passa, amar é para sempre, não se
deixa de amar alguém.
Eu amo o Renato, o amo acima do amor de homem e mulher,
temos uma história juntos, eu sei que isso parece louco, mas eu
nunca o esquecerei.
Uma buzina nos faz afastar nossos lábios, ele me olha
profundamente, sinto uma pressão no peito e respiro fundo, ele me
tira o ar.
– O trânsito, Rui – digo o acordando do seu feitiço, porque ele às
vezes me olha tanto, isso é tão confuso.
Ele sorri, segura minha mão, a leva até sua coxa e a deixa
descansando ali.
Respiro e inspiro, eu preciso falar com o Renato, conversar com
ele, não posso terminar nosso relacionamento desse jeito!
****

Nossa chegada ao escritório foi triunfal, três advogados estavam


estacionando seus carros na garagem, a recepcionista já havia
chegado, e nos olhou indiscretamente quando saímos do carro do
Rui.
– Merda! – Esbravejo em silêncio.
O Rui sobe a passos largos as escadas do escritório, suas
pernas longas, e seus passos decididos não são páreos para os
meus. Mas, também, não me esforcei para acompanhá-lo, o deixei ir
à frente.
Cumprimento os advogados, a recepcionista, e subo para o
andar que ficamos.
Deixo minhas coisas em minha mesa e entro na sala do Rui.
– Quer que eu arrume sua sala? – pergunto.
Ele está arrumando suas coisas em sua mesa, ele é metódico, e
acho isso engraçado.
– Fique à vontade, Jack – ele diz apressado. – Preciso terminar
de analisar esse processo.
Ele segue para a mesa de reuniões e eu sigo para minha rotina,
abro as janelas, as persianas, organizo sua mesa, aponto seus
lápis, e quando percebo, ele está me olhando.
Tenho vontade de me sentar em seu colo e enchê-lo de beijos,
ele fica lindo de óculos, tenho um fetiche de transar com ele com
esses óculos, mas me controlo, ou melhor, controlo a ninfomaníaca
que existe dentro de mim.
Preciso me tratar!
– Já estou indo embora, chefinho – digo divertida, e logo saio de
sua sala, não quero começar com essa história de sexo no trabalho,
eu sei que ele gosta, e eu também, mas não quero, não aqui.
O dia seguiu preguiçoso, mas com muito trabalho, o Rui está
sério, absorto em seus processos.
É meio da tarde, almocei com ele em sua sala, estou absorvida
em meu trabalho quando meu celular vibra em minha bolsa, o pego
rapidamente e vejo a foto do Renato, e sinto um gelado no peito.
Eu sabia que aquele encontro não ficaria por isso mesmo.
Atendo, não fugirei mais desse confronto, precisamos conversar.
– Alô! – digo com o coração acelerado.
– Oi, Jack! Resolveu me atender? – ele diz sério, sem sarcasmo
na voz.
– Sim, acho que precisamos conversar. Já não estou com tanta
raiva de você, agora consigo falar sem deixar meu temperamento
me levar a um ato de loucura! – Desabafo, tudo isso está
acontecendo por culpa dele, não minha.
– Eu não quero conversar por telefone, precisamos falar
pessoalmente – ele diz tenso, o conheço muito bem. – Você pode
hoje à noite? Eu vou te buscar em seu trabalho.
Respiro e inspiro.
Que situação mais confusa me meti, é estranho porque estou
com o Rui, mas ao mesmo tempo não estamos, não temos um
relacionamento, não devo satisfação da minha vida a ele, assim
como ele não deve a mim.
– Eu vou até seu apartamento, não precisa me buscar – falo de
uma vez. – A que horas posso chegar sem que eu seja
surpreendida por um encontro seu com algum amigo? – falo com
sarcasmo, ainda estou puta com ele, não tenho como negar isso.
– Sem piadinhas idiotas, Jackeline, aquilo não foi um encontro. –
Ele altera sua voz. – Consigo chegar às 19h, tudo bem para você? –
ele diz com sua voz mais dura.
– Tudo bem. Até às 19h, Renato. – Finalizo a ligação, e inspiro
com força.
****

É final de tarde, mais precisamente 18h, daqui a pouco terei que


encontrar o Renato, e mal sei como será esse encontro.
O meu ramal toca e vejo que é o Rui.
– Será que ele irá querer que eu vá para seu apartamento? –
penso alto.
Eu adoro ficar com ele, mas hoje preciso voltar para minha casa,
ver minha mãe, sinto falta dela, me preocupo demais com ela e com
minhas velhinhas. E também, tem o encontro com o Renato, enfim,
hoje não dá.
– Oi, Rui! – Atendo.
– Vem aqui, Jack – ele diz rapidamente e desliga.
Sigo para sua sala, estou com saudades dele, na verdade do
contato físico, esse final de semana só me fez ficar mais louca por
ele. Mas, sou adulta, sei me controlar, não quero confundir as
coisas, sou sua funcionária.
Entro em sua sala, ele está em sua mesa, papéis espalhados,
ele tira os óculos e me olha.
– Tudo bem? Quer ir para o meu apartamento? Podemos jantar,
depois te levo embora – Ele é tão fofo, eu o adoro, e queria muito
ficar com ele, mas hoje não vai dar.
– Rui, hoje não dá, eu preciso ir para casa. – Ele me interrompe.
– Eu te levo, depois que jantarmos. – Ele parece tão carente de
mim, e eu dele, mas eu marquei com o Renato, e preciso dizer isso
a ele.
– Rui, o Renato me ligou, pediu para conversarmos, marquei de
ir ao seu apartamento, vou sair daqui e irei para lá.
Ele me encara com uma expressão muito estranha, os olhos
cerrados, o vão entre os olhos franzidos, acho que ele não gostou
muito da notícia.
– O que você vai fazer no apartamento daquele cara? Ele te
enganou, Jack! – Ele se levanta alterado, me sinto acuada.
– Eu sei, mas ele pediu para conversarmos, eu preciso dar uma
chance para ele se explicar. – Respiro. – Independente de qualquer
coisa, tivemos um relacionamento, Rui. Eu levo essas coisas a
sério, ele não era um cara que eu pegava de vez em quando, ele
era meu namorado, dividimos muitos momentos juntos.
– Foda-se isso, Jackeline! – ele diz nervoso e se vira de costas.
– Então, você conversa com ele, e depois vai para o meu
apartamento.
O olho confusa, não posso ficar com a preocupação de terminar
de falar com o Renato para ir para o apartamento do Rui.
– Hoje não, Rui, é confuso, não sei quanto tempo demorarei com
o Renato – falo inquieta, ele me deixa nervosa com seu jeito.
Ele me encara com as mãos na cintura e balança sua cabeça.
– Tudo bem, você quem sabe, pode ir embora, não preciso mais
de você. – Ele vira de costas e segue para seu banheiro.
Fico por alguns segundos parada no meio de sua sala, atônita.
Que merda foi essa? Não temos nada, ele não gosta de
relacionamentos, então por que está bravo comigo?!
Que se foda você, Rui! – falo em pensamento, sigo para minha
mesa, pego minhas coisas e vou embora. – Ele é muito confuso e
folgado, estou de saco cheio de homens mandando em mim.
Capítulo 37
JACKELINE BARTOLLI
Chego ao prédio do Renato, e do Rui também, e isso é bem
estranho, nunca estive em uma situação como essa.
Sigo a passos inseguros em direção ao elevador, pressiono o
andar do Renato e espero enquanto ele não chega.
Relembro mentalmente tudo o que quero falar para ele, não sei
se tudo seguirá no script que desenhei em minha mente, mas
tentarei, dessa vez falarei tudo que está engasgado em minha
garganta.
O elevador abre em seu andar, respiro fundo e saio, paro em
frente ao seu apartamento, a lembrança de minha última visita aqui
martela em minha cabeça, toco a campainha e logo ele está em
minha frente.
Ficamos nos olhando por alguns segundos, ele está abatido, não
sei se por minha causa, mas não o acho muito bem.
– Oi! – digo embaraçada, sem graça.
– Oi, Jack. – Ele se afasta da porta. – Entra.
Caminho como uma estranha dentro de seu apartamento,
confesso, me sinto mais à vontade no apartamento do Rui, do que
no do Renato.
– Quer beber alguma coisa? – ele diz sem jeito, parece
constrangido também.
– Não, obrigada – respondo parada no meio do caminho.
– Eu pedi uma massa para jantarmos – ele diz de um jeito
tímido. – Vamos até a mesa de jantar.
O sigo em direção à sala de jantar, vejo uma mesa posta de uma
forma que ele não costuma fazer, parece ter caprichado em cada
detalhe.
– Sente-se, Jack, vou buscar os pratos. – Ele sai rapidamente,
me sento, tomo um pouco de água que está em uma taça, respiro e
inspiro, não vejo a hora de acabar com tudo isso.
Ele volta rapidamente, vejo um refratário em suas mãos, ele
coloca sobre a mesa, tira a tampa e vejo uma massa, daquelas bem
saborosas, e que ele não costuma comer desde que resolveu ser
maratonista.
– Deixou de lado sua dieta de carboidratos? – pergunto com
ironia.
– Não estou de dieta – ele diz seco. – Posso te servir? – ele diz
cuidadoso, humilde, não parece o Renato que conheço.
– Sim, obrigada. – respondo parecendo um robô, não estamos
sendo nós mesmos, estamos tentando ser civilizados.
Ele me serve, em seguida serve seu prato, e se senta à minha
frente.
– Tudo bem com você, Jackeline? Não sabia que você já tinha
me substituído, e logo por aquele playboy colecionador de mulheres!
– ele diz sério, ríspido.
Mastigo a porção de massa que coloquei na boca, acho que
esse jantar não dará certo.
– Antes de falarmos sobre mim, fale sobre você, Renato – digo o
encarando, ele larga seus talheres e me encara também.
– Eu não sou gay, não admito que você insinue isso de mim!
Conheço o Leonardo há muito tempo, não sou um cara
preconceituoso, ele me ligou pedindo para ficar em meu
apartamento, e eu não vi problema.
Relaxo minhas mãos em meu colo, respiro e começo a falar.
– Talvez minha desconfiança não venha apenas pelo fato de
você estar com um gay em seu apartamento, mas porque você não
mostrava mais interesse sexual por mim.
Ele me interrompe.
– Casais tem crises, Jackeline, às vezes achamos que não
gostamos mais da pessoa que temos um relacionamento, ficamos
de saco cheio... – Ele mexe em seu prato nervosamente. – Eu amo
você, mas andava confuso, você é uma pessoa difícil, carente, só
pensa em sexo.
Arregalo meus olhos surpresa.
– Qual o problema de gostar de sexo?! – falo indignada.
– Nenhum, mas você é ninfomaníaca, e eu não, esse é o
problema! – Ele me encara.
– Eu não sou ninfomaníaca, você que é anormal – falo alterada.
– Jack, por favor, não vamos brigar – ele diz tentando mostrar
calma. – Ok, talvez eu ande sem libido, trabalho pra cacete, vivo um
bagaço, só tenho vontade de dormir. Não tenho uma vida fácil, só
estou onde estou porque trabalho muito, não nasci playboy, não
tenho pai rico, ou eu trabalho ou estou na merda.
– Eu sei disso! – bufo cansada, não sei o que pensar.
Ele parece tão sincero, tão honesto comigo, estou tão confusa,
tão insegura.
– Por que você estava com aquele cara? Quando você o
conheceu? Desde quando está me traindo com ele?
O olho atônita.
– Eu nunca te traí! Eu... eu... – Me atrapalho, não sei como
contar para ele como tudo aconteceu.
– Esse cara não presta, Jackeline, eu o vejo cada dia com uma
mulher. Porque você foi se envolver com um tipo como esse, só
para me magoar, para me atingir, é isso? – ele diz magoado, parece
tão verdadeiro.
– Não sei por que me envolvi com ele, apenas me envolvi... –
respondo acuada. – Me senti tão diminuída quando te vi com aquele
cara, queria te magoar também, me envolver com o Rui foi uma
forma.
Ele empurra seu prato e me encara com uma expressão dura.
– Eu quero você de volta, Jackeline! – O encaro confusa e
surpresa. – Eu amo você, sempre amei, desde o dia que nos
encontramos pela primeira vez na faculdade, você é a mulher da
minha vida, com quem quero construir uma família, ter filhos...
O interrompo.
– Não parece, Renato, vivo como se fosse seu caso, tenho que
ser anunciada para subir ao seu apartamento, namoramos há quatro
anos e nunca falamos em casamento, em planos para o futuro... –
bufo nervosa. – Suas palavras não falam por suas ações, você
nunca me tratou como se me quisesse como esposa, estou mais
para um caso, alguém que precisa pedir licença para vir ao seu
apartamento. – Meus olhos enchem de lágrimas.
Ele se levanta, segue para a porta e o olho confusa.
O que ele está fazendo? Eu estou falando com ele, droga! –
Penso irritada.
Ele volta rapidamente, para ao meu lado e coloca um molho de
chaves em cima da mesa.
– A chave do apartamento está aqui, é sua, você não precisa
mais ser anunciada! – Ele me olha aflito, parece nervoso.
– Talvez eu não queira mais, agora já passou, estou em outra. –
Me levanto rapidamente, dou a volta na mesa, mas ele entra no meu
caminho, me segura e fala:
– Jack, eu sei que errei com você, mas vamos fazer o seguinte,
dá uma chance para nós dois, para a gente se acertar, e eu te
prometo, vou me esforçar para ser o cara que você espera, eu não
quero te perder! – Então ele segura meu rosto entre suas mãos e
me beija.
É estranho dizer, mas não sinto mais a paixão de antes, a
urgência, a vontade de ser dele.
O beijo do Renato é diferente do beijo do Rui, falta algo, talvez a
paixão que o Rui transmite, mas o Rui é um grande conquistador,
cada beijo dele faz parte de um plano de conquista, eu sou só um
número em sua lista de conquistas, agora sou eu, mas daqui a
pouco haverá outra em sua cama.
Penso no que o Renato disse, que ele é um playboy
colecionador de mulheres, até o Renato sabe da fama do Rui.
Me deixo ser beijada, ele se afasta e me olha profundamente.
– Faz amor comigo, Jack?
Titubeio, não sei se devo fazer isso, estou tão envolvida pelo Rui,
mas ao mesmo tempo, lembro que não significo nada para ele,
talvez o Renato esteja sendo sincero, foi tudo um mal-entendido.
Ele beija meu rosto, meu pescoço, fecho meus olhos e tento
pensar no que sentia por ele, no quanto queria estar bem com ele.
– Eu amo você, Jack! – ele diz me encarando, seu olhar
profundo e intenso, ele parece tão sincero.
Fecho meus olhos e tento não pensar muito, me deixo levar por
ele, pelos seus beijos, seus carinhos.
– Vamos para o quarto. – Ele pega em minha mão e me leva
para seu quarto, volta a me beijar, tira meu blazer, tiro sua camiseta,
e assim, em instantes estamos os dois nus, ele me deita, me
penetra e transamos da forma mais sem graça possível.
Ele goza, se deita ao meu lado e me sinto mal, não é assim com
o Rui. O sexo com ele tem tanta paixão, é tão diferente, me sinto
desejada, e não somente possuída, mas aí me lembro de que ele
não me ama. O que adianta o sexo ser magnífico se não tem amor?
Eu queria os dois, amor e sexo incrível, mas parece que tenho
que escolher, ou tenho amor, ou tenho o sexo maravilhoso.
– Renato, eu preciso de um tempo, estou confusa, sabe? – Me
levanto e coloco minhas roupas.
Ele se levanta apressado, para em minha frente e me olha aflito.
– Como assim, Jack? Você me ama, sempre me amou, a gente
vai se casar...
– Para de ficar me falando isso, você nunca falou sobre nos
casarmos! Por que agora fica com essa história?! – falo irritada.
– Ok, Jack. – Ele segura meu rosto entre suas mãos e me força
a olhá-lo. – Eu nunca falei porque queria primeiro me estabilizar
financeiramente, mas a gente pode se casar no ano que vem, o que
você acha? – Ele me olha, parece aflito.
Nunca me senti tão confusa em minha vida, sempre quis ouvir
essas palavras dele, mas agora, parece que tudo perdeu o sentido,
já não faz mais o efeito de antes.
– Não sei. Por que você nunca me disse nada disso, por que
precisou a gente se separar para você me dizer essas coisas, o que
mudou?
– Jack, nada mudou, mas eu nunca me vi sem você, você faz
parte da minha vida, não consigo me imaginar longe de você. – Ele
me olha angustiado. – Me perdoa se te magoei, eu não sou igual a
aquele cara que você estava, não sou rico ou sofisticado. – Ele sai
andando pelo apartamento. – Eu não sei o que houve entre vocês,
eu só sei que amo você, e queria uma chance, é isso! – Ele volta a
me olhar.
Estou aqui olhando para o Renato, mas meus pensamentos
estão no Rui. Por que aquele filho da puta apareceu em minha vida,
só para me deixar confusa?
– Eu estou confusa, Renato, me deixe pensar um pouco –
respondo decidida. – Eu vou embora, conversamos depois, me
deixe pensar um pouco, não quero agir por impulso.
– Você não me ama mais? – ele pergunta ansioso.
– Não sei, estou confusa, até agora a pouco eu estava com raiva
de você, magoada e decepcionada. Não é fácil retomar algo se
quebrou, Renato.
Ele para a minha frente, mexe no cabelo nervoso.
– Ok, eu vou te dar um tempo para refletir sobre isso.
– Isso, será melhor para nós dois, eu preciso ir, minha mãe deve
estar preocupada. – Pego minha bolsa.
– Eu vou te levar. – Ele segue para a porta, nem sempre foi
assim, o Renato odeia ir até o bairro que moro.
Seguimos em silêncio pelo elevador, caminhamos até seu carro,
entramos e continuamos o caminho todo em silêncio.
Depois de longos minutos ele estaciona em frente ao meu
prédio, olho para ele e digo:
– Obrigada pela carona. – O olho de lado.
– Por nada. – Ele se inclina sobre mim e me beija, e novamente
penso no Rui, no quanto gosto dos seus beijos, e porque o beijo do
Renato perdeu totalmente a graça para mim.
Separamos nossos lábios e o olho agoniada. Queria tanto
retomar nosso relacionamento, gosto da sensação de conforto que
meu relacionamento com ele trazia, o Rui é muito intenso, uma
montanha russa de emoções, de desejos. Não sei se que quero isso
para mim, quero ser feliz, construir uma família, amar e ser amada.
– Tchau, Renato! A gente se fala. – Abro a porta do seu carro e
saio, e o vejo me olhando enquanto sigo para o portão.
– Te amo, Jack! – ele diz antes que eu feche o portão e suba as
escadas.
Não fui capaz de dizer o mesmo, não sei mais o que sinto por
ele.
****

Minha noite foi um inferno. Confusão, medo e preocupação


rondaram meu sono sem me deixar em paz.
Pela primeira vez em minha vida, me sinto completamente
perdida. Adoro estar com o Rui, adoro tudo nele, mas sei que o que
temos não existe, se optar por ficar com ele, estou deixando meu
relacionamento de anos em troca de um relacionamento fadado ao
fracasso.
O Rui nunca irá me amar, ele é um colecionador de mulheres,
essa é a melhor descrição para ele.
Mas, é bom demais estar com ele! Que homem, meu Deus, ele é
viciante.
Amo o Renato, mas não é um amor romântico, não existe
química entre nós, ele não me excita. O sexo ontem foi um desastre,
faltou tudo, e a sensação que senti quando acabou foi péssima.
Não sei o que há com o Renato, mas ele não tem paixão por
mim, amor, talvez, mas não tem paixão.
Sigo em direção ao trabalho me sentindo mal como nunca me
senti, dividida entre o certo e o errado. O certo seria ficar com o
Renato, ele é o meu porto seguro, sempre foi. O Rui é o errado, mas
onde encontro tudo que quero, paixão, desejo, descontrole...
Adoro estar com ele e estou morrendo de saudades dele.
Caminho em direção ao escritório, olho no relógio, ainda é cedo,
ele não deve ter chegado. Sinto uma insegurança, ele ficou tão
bravo comigo ontem. Como será que ele estará hoje?
Tem também o fato de eu ter transado com o Renato, não sei o
que ele achará disso. Não o entendo, não sei o que ele quer de
mim, se é que ele quer alguma coisa de mim além do prazer.
Chego ao escritório, pego a chave em minha bolsa e o abro.
Sigo pelas escadas, o ambiente está vazio e sem vida. Deixo
minhas coisas sobre minha mesa, abro a porta de sua sala e sinto
seu perfume.
– Como adoro seu cheiro, Rui! – falo comigo mesma.
Sua mesa de reuniões está uma bagunça, arrumo tudo
cuidadosamente. Sigo para sua mesa, arrumo tudo com carinho,
adoro cuidar dele, das suas coisas.
De repente sinto uma tristeza, talvez tudo isso não dure muito,
se eu não quiser mais me relacionar com ele, pode ser que ele não
me queira mais como secretária. Então, me dou conta que esse
emprego pode ser uma fraude, só estou aqui para fazer sexo com
ele.
Mas, como um homem poderoso como ele pode colocar um
cargo tão importante em jogo apenas por causa de algumas
trepadas? Ele pode ter isso com quem quiser, não precisa ser
comigo! A não ser que seu nível de insatisfação ande beirando o
absurdo, e ele realmente não se satisfaça com ninguém, e a
Jackeline foi a sua solução mais viável.
Minha cabeça está fritando, confusão, medo e insegurança.
Quero vê-lo logo, preciso vê-lo logo, e então como se os deuses
fizessem uma mágica, ouço sua voz sexy, grossa e sedutora.
– Bom dia, Jackeline! – ele diz sério.
Me viro para olhá-lo, ele caminha até sua mesa, não parece o
meu Rui, e sim apenas o advogado frio.
– Bom dia! Tudo bem? – O olho insistentemente, mas ele não
olha para mim, abre sua pasta e começa a tirar suas coisas.
– Tudo bem! – Ele me olha, seu olhar é cortante, intenso. – E
então, como foi ontem com seu namorado?
Remexo o monte de papéis que estão em minhas mãos, penso
sobre o que aconteceu, não sei se devo contar o que houve.
– Conversamos muito... – Começo a falar, mas ele me
interrompe.
– Transaram? – Ele me encara, sinto um gelado no peito, um
medo.
– Transamos – falo o encarando.
– Eu também, sai com uma garota ontem, estava precisando
relaxar, foi incrível, fazia tempo que não fazia isso.
O olho desconcertada, como ele tem coragem de dizer isso para
mim, assim, com esse descaso, essa frieza?
– Que bom, Rui. – Deixo o monte de papéis sobre sua mesa e
caminho para a porta, saio e desabo sobre minha cadeira, olhando
para o computador e tenho vontade de chorar.
– Oh, meu Deus, por que fui me envolver com esse cara? –
Fecho os olhos e respiro, tento espantar o ardor que sinto em meus
olhos, vontade de chorar, gritar e esmurrá-lo.
Eu transei com o Renato, mas foi uma merda, eu iria dizer isso,
que pensei nele o tempo todo, que me senti a pior das mulheres,
que o adoro, que estou apaixonada, e que só fiz tudo aquilo porque
ele não me quer, ele só quer meu corpo e o prazer que proporciono
a ele.
A porta abre em um solavanco, e ele sai, olho para ele, mas sua
expressão é impassível, dura e distante.
– Estou saindo, não devo voltar hoje. – Ele segue para o
corredor que dá nas escadas e some.
Durou pouco, muito pouco, mas fez um estrago em enorme, um
buraco fundo e vazio em meu peito.
Capítulo 38
RUI FIGUEIREDO
Um final de semana não foi o suficiente para matar o desejo e a
compulsão que sinto pela Jackeline.
Fecho os olhos e tento me concentrar, essa mulher bagunçou
minha vida.
De um homem centrado, focado, estou me saindo um cara idiota,
que só pensa em uma única mulher, em ficar com ela, em transar
com ela, em beijá-la...
Fecho os olhos e tento não fazer o que quero, que é chamá-la
em minha sala, tirar sua roupa e transar com ela feito um louco.
Estou viciado naquela buceta gostosa, no cheiro da Jack, estou
louco por ela.
É final de tarde, não vejo a hora de poder ir embora e passar o
resto da noite enroscado naquele corpo gostoso.
– Jackeline, o que você fez comigo? – falo alto, tentando
exorcizar o medo que tenho de me apaixonar.
Eu não quero isso, não posso e não vou me entregar a esse
sentimento, é só tesão, muito tesão.
Ok, vamos terminar com essa tortura, ligo em seu ramal e a
chamo em minha sala.
Ela entra, a olho fascinado, mas tento não transparecer o quanto
ela mexe comigo.
– Tudo bem? Quer ir para o meu apartamento? Podemos jantar,
depois te levo embora – digo de uma vez, não gosto de rodeios,
joguinhos, eu quero ela, e isso é tão simples quanto querer tomar
água.
– Rui, hoje não dá, eu preciso ir para casa... – Ela começa a
falar, mas a interrompo, eu sei que ela quer ver sua mãe, mas eu
faço o sacrifício de atravessar a cidade, apenas pelo prazer de
ficarmos juntos algumas horas.
– Eu te levo, depois que jantarmos. – Estou me saindo um
perfeito idiota, pareço um cachorrinho carente, estou me odiando,
esse não sou eu.
– Rui, o Renato me ligou, pediu para conversarmos, marquei de
ir ao seu apartamento, vou sair daqui e irei até lá.
Sinto uma pressão no peito, uma raiva tão grande, como ela
ainda pode pensar naquele porra?!
– O que você vai fazer no apartamento daquele cara? Ele te
enganou, Jack! – Não consigo controlar a raiva que sinto.
– Eu sei, mas ele pediu para conversarmos, eu preciso dar uma
chance para ele se explicar. Independente de qualquer coisa,
tivemos um relacionamento, Rui. Eu levo essas coisas a sério, ele
não era um cara que eu pegava de vez em quando, ele era meu
namorado, dividimos muitos momentos juntos.
– Foda-se isso, Jackeline! Então você conversa com ele, e
depois vai para o meu apartamento – respondo ríspido e nervoso,
um ciúme louco pulsa no meu peito, a Jackeline é minha.
– Hoje não, Rui, é confuso, não sei quanto tempo demorarei com
o Renato – ela diz decidida.
Ok, não me rastejarei por essa mulher, nem por ela, nem por
nenhuma, eu quero que ela se foda.
– Tudo bem, você quem sabe, pode ir embora, não preciso mais
de você! – Viro as costas para ela e sigo para o banheiro, estou uma
pilha de nervos.
Jogo uma água em meu rosto uma, duas, três vezes.
Me olho no espelho, e não me reconheço, não sofro por mulher
nenhuma, nunca! Eu quero que a Jackeline se foda, ela e seu
namorado viado.
Volto para minha sala, pego meu celular e seleciono o contato da
mulher mais gostosa que já conheci, a mais linda.
Alguns toques e ela atende.
– Alô, Rui? Nossa, quanto tempo! – Sua voz sai melosa e
sedutora.
– Oi, Helen! Tudo bem com você?
– Agora melhor! Pensei que você já tinha se casado, nunca mais
me procurou! – ela diz.
– Não, não vou me casar mais, estou solteiro, livre, desimpedido
e carente! – Ela ri deliciosamente.
– Eu estou namorando! – ela diz e bufo com raiva. – Mas, eu
abro uma exceção para você! Estou com muitas saudades, Rui, e só
estou namorando porque você não me quis...
Reviro meus olhos, gostosa, mas extremamente carente, odeio
isso.
– Eu te quero, Helen, hoje! Que horas posso te pegar? – Mais
risadas, é uma cachorra, adora um pau, do jeito que eu gosto.
– Agora! Já estou excitada, Rui!
– Eu também, gostosa! Chego aí em 20 minutos.
Desligo, pego minhas coisas e saio de minha sala feito um
furacão.

Você vai se arrepender, Jackeline! – falo em pensamento ao


passar por sua sala e ver que ela já foi embora.
****

O caminho até o trabalho da Helen foi feito em tempo recorde,


ela é secretária de um cliente. Comi e me lambuzei dessa mulher
durante um tempo, mas aí ela começou a me pressionar por um
relacionamento e eu já estava com a Priscila, então precisei
dispensá-la.
A vejo em pé em frente ao prédio, ela usa um vestido colado ao
corpo, ela possui muitas curvas, mas nada comparável à Jack,
nenhuma mulher é comparável a Jack.
Balanço minha cabeça, e a mando se foder mentalmente.
Ela mexe no cabelo preto, escorrido e longo, sorri ao me ver, e
sai se rebolando inteira. A Helen é gostosa, mas não se compara à
Jack.
Fecho os olhos e me puno mentalmente, eu não vou pensar
mais na Jack, a Helen é pura perdição, eu quero ela.
Ela caminha até o carro, entra e sinto seu cheiro, um pouco
enjoativo, doce demais, mas tudo bem, vou suportá-lo por algumas
horas.
– Tudo bem, gostosa? – pergunto, sorrio.
– Muito melhor agora. – Ela dá um sorriso de devassa, enfio
meus dedos entre seus cabelos e a puxo para um beijo.
Logo ligo o carro e dirijo em direção ao motel mais próximo.
Conversamos um pouco, quero dizer, ela fala o tempo todo,
mulheres falam demais, a única exceção é a Jack.
– Sai da minha mente, sua diaba dos infernos! – falo
mentalmente.
Chegamos ao motel, entramos, e não dou muito tempo para a
Helen, começo a arrancar sua roupa, em instantes ela está nua, e
eu também.
– Calma, Rui! Você está muito apressado – ela diz em meio a
minha loucura.
– Você não gosta assim, Helen? – Puxo seus cabelos.
– Oh, assim você me machuca. – Ela reclama, inspiro e expiro,
solto seus cabelos, adoro fazer isso na Jack, ela grita, geme, ela
nunca reclama, ela adora tudo que faço. – Como você gosta que te
foda? – falo em seu ouvido.
– Devagar, seja carinhoso – ela diz, e tento controlar o leão
enlouquecido que está dentro de mim, não sou delicado no sexo,
não sou carinhoso, eu gosto de sexo selvagem.
– Eu não sou delicado no sexo, Helen – falo tenso, daqui a
pouco vou brochar com essa mulher.
Tento me concentrar na simples tarefa de foder essa mulher de
quatro, ela tem uma bunda gostosa, mas a da Jack é deliciosa.
Caralho, que porra de obsessão! – Penso e começo a perceber
minha falta de foco, não dá para transar e pensar em outra mulher.
Eu preciso fazer o que gosto, senão vou brochar.
Meto com força, e bato em sua bunda.
– Não, Rui, eu não gosto assim! – Ela se afasta, e como se fosse
uma maldição a porra do meu pau rateia e fica mole.
Oh, Jackeline, como te odeio! – Penso nervoso.
Isso não vai funcionar, eu estou com raiva, não dá para transar
com ninguém com raiva.
– Não vai dar, Helen, não está legal. – Pego minha calça que
está no chão, a camisa, começo a abotoar tudo com pressa. –
Vamos embora.
Ela me olha atônita, no meio da cama, pernas abertas dando
uma bela visão de sua buceta, mas aquela filha da puta não sai da
minha cabeça, não vou conseguir.
– O que aconteceu com você, Rui? – ela diz, e eu tenho vontade
de mandá-la se foder.
– Você me brochou, Helen! Não gosta de nada, reclama de tudo,
vai se foder! Pede um táxi, vou deixar o dinheiro sobre a mesa. –
Saio insano em direção à porta, deixo uma nota sobre a mesa e
largo a mulher lá.
Uma raiva pulsa dentro de mim, nunca estive tão puto com uma
mulher, minha vontade é ir até o apartamento daquele gay dos
infernos, arrancar a Jackeline de lá pelos cabelos e mostrar para ela
do que ela gosta, de um pau grosso e grande, eu sei como tirar o
fogo daquela mulher, não aquele pangaré.
Chego a minha casa em minutos, subo raivoso para o meu
quarto, me enfio embaixo da ducha gelada, e me masturbo, preciso
gozar, e a visão da minha deusa vem a minha cabeça, gloriosa em
seu espartilho vermelho.
E gozo em segundos...
****

Tive uma noite de cão, literalmente. Passei praticamente a noite


toda na área externa do apartamento, eu e o Bóris, bebendo vinho,
ouvindo música e comendo azeitonas.
Uma dor de cabeça dos infernos pulsa em meu cérebro, entro na
piscina apenas de boxer, e passo algumas horas lá dentro tentando
me acalmar.
Ok, amanhã vou estar melhor, eu vou ficar bem, só preciso me
acalmar, encho mais uma taça de vinho, a bebo em um gole.
Começo a sentir o relaxamento do vinho, saio da piscina e sigo
para meu quarto, preciso dormir, amanhã é um novo dia, vou estar
melhor, tenho certeza disso.
Me deito em minha cama e sinto o perfume da Jackeline em
meus travesseiros e nos lençóis. Levanto ensandecido e arranco
tudo da cama, parece que estou louco.
Deito por cima do colchão e vejo o Bóris se aninhando em meio
aos lençóis jogados no chão.
– Gosta do cheiro dela, Bóris, seu traidor? – Acho que minha voz
está levemente embaralhada, talvez eu esteja um pouco bêbado.
Desperto ao som do celular, uma dor de cabeça me incomodou a
noite inteira, mas não tive coragem de me levantar para tomar um
remédio.
Me levanto destruído, vejo o Bóris deitado sobre os lençóis,
parece amuado, esse cachorro está esquisito ultimamente.
– Sai daí, Bóris, vai passear lá fora. – Rosno, pareço tão canino
quanto ele.
Sigo para o banheiro e ligo a ducha fria.
– Porra! – Grito ao sentir a água gelada em minha pele.
Em minutos estou pronto, desço, tomo uma xícara de café preto
e vejo a empregada.
– Bom dia, Doutor Rui! – ela diz simpática.
– Bom dia, Jô!
– O coquetel será amanhã, está tudo certo, falta apenas sua
secretária me ligar para combinarmos... – A interrompo.
– Ligue no escritório e fale com ela, não quero saber sobre esse
assunto. – Pego minha pasta e sigo para a porta.
****

Enquanto dirijo em direção ao escritório uma inquietação pulsa


em meu peito, eu quero vê-la logo, isso é fato, mas ao mesmo
tempo, não quero, estou com raiva dela.
Estaciono, cumprimento a recepcionista, mas ela me interrompe
no caminho das escadas.
– Doutor Rui! – Ela me chama.
– Oi, Karen! – Rosno.
– Podemos conversar em sua sala? – Ela se insinua.
– Não, não podemos, estou com pressa! – Sigo para as escadas,
meu humor está de péssimo a insuportável.
Chego à sala da Jackeline, ela não está lá, então entro em
minha sala e a vejo.
Uma aceleração cardíaca começa em meu peito, uma
ansiedade, uma vontade de tê-la em meus braços.
– Bom dia, Jackeline! – digo sério.
Sigo para minha mesa, preciso manter minha postura de
advogado frio e distante, e é isso que faço, ela não me tem em suas
mãos.
– Bom dia, tudo bem? – ela diz com sua voz doce, adoro sua
voz, o seu cheiro, ele inebria minhas narinas, suave, feminino.
– Tudo bem! – A olho de relance, estou insano para saber sobre
a merda da sua visita aquele gay maldito, não me aguento e
pergunto: – E então, como foi ontem com seu namorado?
– Conversamos muito... – Ela começa a falar, mas não consigo
me controlar, eu quero saber se ela transou com ele, é isso que
quero saber, porque não suporto a ideia de dividir a Jackeline com
outro homem, ou meio homem.
– Transaram? – A interrompo, com uma pressão no peito,
brochei por causa dessa mulher, e se ela tiver transado com outro
homem vou odiá-la por isso.
– Transamos... – ela diz, e meu ego vira pó, ela me trocou por
um viado, é isso. Isso é demais para mim!
– Eu também, sai com uma garota ontem, estava precisando
relaxar, foi incrível, transamos pra cacete.
– Que bom, Rui. – ela diz, parece decepcionada comigo,
deposita os papéis sobre minha mesa e sai de cabeça baixa.
É isso, Jackeline, é assim que as coisas funcionam com o Rui
Figueiredo.
Me sento em minha mesa, esfrego meu rosto, tento relaxar, mas
não consigo, não vou conseguir trabalhar aqui, junto com ela.
Eu fiz uma grande merda ao contratar a Jackeline, preciso me
livrar dela.
Pego minhas coisas e sigo para a porta, preciso espairecer, vou
ao Fórum, talvez visite o Albuquerque, preciso cuidar da minha vida.
Abro a porta e a vejo sentada, olhando para o computador
desligado.
Me sinto satisfeito, paguei na mesma moeda.
– Estou saindo, não devo voltar hoje – digo sem olhá-la, preciso
me acalmar, talvez passe o dia em casa, não sei o que vou fazer,
confesso, sinto-me meio perdido.
****

Aproveito minha ida ao Fórum para conversar com alguns


amigos juízes, passei algumas horas lá, tratei de algumas
pendências, enfim, até que minha manhã foi proveitosa. No final das
contas, minha manhã foi muito melhor do que ficar na minha sala.
Saio do Fórum e ligo para o Albuquerque.
Ele atende no segundo toque.
– Bom dia, Rui! Como vai? – ele diz secamente.
– Bem, e você Albuquerque?– respondo com o mesmo tom,
sério e distante.
– Muito bem! Então o que o levou a me ligar? Está sumido há
dias! – Sinto malícia em sua voz, mas ignoro.
– Ando muito ocupado, cuidando dos meus clientes, enfim,
gostaria de convidá-lo para um almoço, o que você acha?
– Oh, talvez eu não consiga ir... – O sinto relutante.
– Nós precisamos conversar sobre o caso dos Martinez, eu
ainda não engoli o fato dele tirar o processo do meu escritório, e já
fiquei sabendo que voltou para o seu... – Faço um minuto de
silêncio. – Se você tem a intenção de acabar com nossa parceria
fique à vontade, mas vamos formalizar isso, não aceito retaliação,
isso é baixo e antiprofissional.
– Desculpe, do que você está falando? – Ele finge estar
indignado.
– Você sabe, Albuquerque, você é macaco velho, mas eu não
sou idiota, e tenho um pai influente também! – Ele fica em silêncio.
– Tudo bem, acho que precisamos conversar... – Ele faz uma
pausa. – Você magoou demais minha filha, Rui, estou tendo
problemas com ela. Você não foi homem o suficiente para romper
com seu relacionamento com hombridade, rompeu feito um moleque
irresponsável, não é assim que se age.
Penso sobre o que a Jackeline me disse, ela tem razão, não agi
como homem.
– Eu sei, estava sob forte pressão, da sua filha, obviamente. Ela
forçou esse casamento, eu não queria, não me sinto preparado para
assumir um matrimônio... – Ele me interrompe.
– Você tem 35 anos! Quando você acha que terá idade suficiente
para assumir um matrimônio?! – ele diz alterado.
– Não sei, talvez nunca. Não acredito no matrimônio, conduzo
todos os dias divórcios, as pessoas parecem que se casam já
pensando em se separar, não quero isso para mim.
O ouço bufar no telefone.
– Sou casado há 24 anos, e sou feliz – ele diz.
– Não acredito nisso, é mentira. A Priscila sempre me falou que
o casamento de seus pais é de fachada, vocês não dividem a
mesma cama, você tem amantes, e ela também.
– Que absurdo é esse, do que você está falando? – ele diz
nervoso.
– Eu não disse nada, sua filha que disse! – respondo com ironia.
– Rui, acho melhor conversarmos num restaurante discreto e
acertarmos nossas arestas. Vamos jantar no All Seasons essa
semana.
– Ok, me confirme o dia e horário. – Desligo e respiro.
Vai ser foda, mas tudo é foda, então que se foda, vou assumir as
merdas que fiz.
Capítulo 39
JACKELINE BARTOLLI
Odia e a tarde se arrastaram.
Termino de acertar os últimos detalhes do coquetel com a
empregada do Rui por telefone. Desligo e enfio minha cabeça entre
as mãos e bufo cansada.
Meu dia foi uma merda! Sem o Rui aqui me sinto inútil, ele não
me ligou, não mandou mensagens, ou e-mails, simplesmente
desapareceu.
Penso em tudo que aconteceu entre nós desde o princípio e fico
desolada, eu sabia que isso não daria muito certo, talvez depois
desse coquetel eu peça minhas contas, não vai dar para trabalhar
nesse clima hostil que há entre nós.
Olho meu celular e vejo uma mensagem do Renato.
Oh, que merda, não estou a fim de falar com você Renato! – falo
comigo mesma.
Abro a mensagem, e a leio:
“Oi, Jack! E aí como você passou de ontem para hoje? Pensou
sobre nós? Pensei em fazermos algo hoje à noite, talvez jantar fora,
você escolhe o local. Espero seu retorno.”
Por que a vida é assim? Quando desistimos de uma coisa ela
vem para nós de mão beijada, é sempre assim.
Não tenho vontade de vê-lo, quero bem ao Renato, mas não
tenho vontade de vê-lo, estou chateada com o Rui, e isso está me
incomodando muito.
Eu sei que transei com o Renato, mas é diferente, ele era meu
namorado, não sai por aí procurando homens para transar. Ele, ao
contrário, foi caçar mulher e me jogou isso na cara da forma mais
vingativa possível.
Odeio ele por isso, mas ao mesmo tempo, queria que ele me
entendesse.
Oh, que confusão, vou parar de pensar nisso, chega dessa
história!
Arrumo minhas coisas e sigo para o ponto de ônibus, amanhã é
o coquetel, e isso por si só já está me deixando nervosa.
****

Minha noite foi uma lástima, novamente o Rui ficou


atormentando meus pensamentos.
Me deito em minha cama, estou cansada, mas não consigo
dormir.
Me forço a pegar no sono, caso contrário, parecerei um zumbi.
Algumas poucas horas de sono e estou olhando para o teto. Não
dormi nada, mas resolvo levantar e tomar um banho.
Seco meus cabelos e aproveito para fazer uma maquiagem,
passo meio quilo de corretivo em minhas olheiras, não dormi nada e
isso se reflete na minha aparência cansada.
Sigo para o meu guarda-roupa, hoje tem o coquetel, não sei
como devo me vestir.
Olho demoradamente para minhas roupas, e decido colocar o
vestido florido, ele é um pouco decotado, mas vou disfarçar
colocando um blazer por cima.
Coloco a sapatilha, o salto alto numa sacola e sigo para o
elevador.
Ontem conversei longamente com minha mãe, contei tudo que
estava acontecendo, e como eu esperava, ela acha que devo ficar
com o Renato, ela confia nele, o conhece há muitos anos, e o acha
sério e responsável, apesar de devagar pra cacete.
Não quis dizer a ela da minha súbita paixão pelo Rui, disse
apenas que estava muito envolvida por ele, falei que o sexo com ele
é incrível, e quase a matei de vergonha.
Ainda dou risada com sua resposta:
“Jackeline, não quero saber de sua vida íntima, deixe isso para
contar a sua amiga Carolina. Eu prefiro saber apenas das coisas
menos cabeludas.”
Eu amo conversar com minha mãe, ela é tão sábia, e se eu for
pensar apenas pelo lado racional, o Renato é minha melhor opção.
Porém, serei uma mulher frustrada se me casar com ele, porque
terei que me fechar sexualmente, ele não aceita minhas fantasias
sexuais, fetiches, ele é bloqueado sexualmente, isso é fato.
O Rui não é uma opção, ele é apenas uma aventura, mas para
viver essa aventura terei que abrir mão do Renato, e não sei se
quero fazer isso.
A viagem até o escritório passou rapidamente, uma vez que me
vi imersa em meus pensamentos.
Chego ao portão e vejo o carro do Rui, e sinto um gelado no
peito.
Abro o portão e sigo para o interior do prédio, subo as escadas
delicadamente, para não fazer muito barulho com o salto, chego a
minha sala e a porta da sua está fechada.
Coloco minhas coisas sobre a minha mesa, ligo meu
computador, respiro e inspiro para ganhar coragem, bato em sua
porta e entro.
Ele não se dá ao trabalho de levantar seu olhar, está com um
processo nas mãos, óculos apostos, e uma feição dura e fria.
– Bom dia, Rui! – Me aproximo de sua mesa, ele me olha por
cima de seus óculos.
– Bom dia! – Ele volta a ler.
– Quer que eu arrume sua sala? – Olho ao redor, mas de fato
não há muito que fazer. – Vou abrir as persianas. – Sigo para a
janela, mas ele me interrompe.
– Não quero que abra as persianas, estou com dor de cabeça,
não quero claridade em minha sala. – Ele não me olha enquanto
fala, parece um robô.
– Eu tenho um medicamento para dor de cabeça em minha
bolsa, eu tenho muitas enxaquecas. – Ele me interrompe.
– Eu não quero, estou bem assim. – Franzo minha testa, ele está
um porre hoje.
– Quer um café? Eu posso ir fazer um para você – Me sinto uma
idiota querendo agradá-lo.
– Não! – Ele me encara friamente. – Quero ficar sozinho, tenho
que ler esse documento e você está me atrapalhando.
Ai, que raiva dele!
Giro em meus calcanhares e saio pisando duro em direção a
minha sala.
– Grosso, mal-educado, sem consideração, idiota... – E assim a
lista de xingamentos continua.
Me sento em minha mesa, abro meu e-mail e vejo um monte de
e-mails dele para mim.
Abro um por um, e vejo apenas seus comentários... “Toque esse
assunto, resolva isso...”
Ok, se assim que ele quer que seja, não nos falaremos
pessoalmente, apenas por e-mail.
O período da manhã se arrastou, sinto meu estômago
começando a reclamar, olho no relógio do computador e vejo que é
horário do almoço. O barulho de salto nas escadas me chama
atenção, mas logo vejo a dona do barulho, a maravilhosa Karen
sobe com uma sacola do restaurante preferido do Rui, ela sorri
maliciosamente ao passar por mim, bate em sua porta e entra.
Não suportei isso, então não sai para almoçar, fiquei até que ela
saísse, uma hora depois. Uma raiva louca se apoderou de mim,
gostaria de entrar na sala dele agora e quebrar todos os seus
objetos de arte.
Imbecil, esnobe, mimado e cretino. – Vocifero para mim mesma.
Pego minhas coisas e saio para almoçar, mas não consigo, tomo
apenas um suco de laranja, e fico remoendo o que ele está fazendo
comigo.
Decido acabar com isso agora, não sou mulher de vagabundo,
não vou ficar vendo-o levar mulheres para sua sala para comê-las,
como se eu fosse uma idiota.
Sigo para o escritório insana.
Não quero saber a merda que será minha vida sem emprego, só
quero terminar com essa merda que eu mesma criei.
– Boa tarde, Jackeline! – Olho para aquela vaquinha e tenho
vontade de unhar seu rosto todo, maldita garota oferecida.
Apenas não respondo, ela quer me provocar, e conseguiu.
Chego a minha mesa, deposito minha bolsa e sigo para sua sala,
bato na porta e entro.
Agora ele está em sua mesa de reuniões, parece satisfeito
depois de ter trepado com a Karen.
– Preciso falar com você – falo sem maiores rodeios.
– Agora não posso, estou ocupado. – Ele volta a olhar para o
processo em suas mãos.
– Foda-se que você está ocupado. – Ele me olha assustado. –
Quero te comunicar que não trabalho mais para você, estou pedindo
demissão.
Ele fica me olhando atônito, deposita os papéis sobre a mesa e
me olha.
– Qual o problema? Por que você está pedindo demissão? – Ele
se levanta e vem em minha direção.
– Não quero mais trabalhar para você, é isso. – Recuo com sua
proximidade.
– Seja mais precisa. Por que você não quer mais trabalhar
comigo, o que eu fiz, ou o que te fizeram?
– Pare de me encher o saco, não quero mais trabalhar para você
e ponto. Você quer que eu faça uma carta de demissão? – Tento
sair, mas ele segura meu braço.
– Fica aqui, Jackeline, eu não disse que você pode sair! – Ele
me encara desafiador. – Eu não aceito sua demissão.
Ele se aproxima de mim, me segurando com firmeza.
– Eu não perguntei se você aceita, isso é fato, ninguém é
obrigado a trabalhar para quem não quer – falo raivosa.
– Você não pode abandonar seu emprego, caso contrário você
terá que pagar um salário para mim, ou trabalhar durante 30 dias. –
Ele me encara com seus olhos cinza tempestuosos. – Eu não vou
dispensá-la do aviso prévio, preciso de você, e você não vai me
largar na mão.
– E se eu pagar? – Penso e me desespero, eu não tenho
dinheiro para pagar ele.
– Você tem o seu salário para me pagar? – ele diz irônico.
– Posso arrumar o dinheiro – falo desafiadora.
– Então arrume, caso queira sair sem cumprir os 30 dias de
aviso prévio. – Ele larga meu braço e segue para sua mesa.
– Você é um idiota, Rui! – Viro em direção à porta e saio bufando
de raiva.
****

Não nos falamos mais depois do meu rompante de raiva, e ele


não saiu mais daquela maldita sala.
Mando um último e-mail para ele, preciso ir para a porra de seu
apartamento, tem o coquetel, e eu preciso ajudar sua empregada
com os últimos detalhes.
“Preciso sair agora, sua empregada está me esperando para
checarmos os últimos detalhes do coquetel.”
Vejo uma resposta sua em seguida, fecho os olhos, respiro e o
abro:
“Estou saindo agora, me espere que iremos juntos.”
Merda! – esbravejo mentalmente.
Logo a porta de sua sala abre, ele passa por mim como se eu
fosse um vaso de flor, o olho atônita.
– Vamos, Jackeline! – ele diz ríspido, na porta da sala.
Reviro meus olhos e o xingo mentalmente.
– Idiota!
Pego minha bolsa e o sigo, passo pela recepcionista que nos
olha indiscretamente.
– Nos vemos daqui a pouco no coquetel, Karen! – ele diz para
ela, e vejo o sorriso de satisfação da vaquinha.
O sigo em silêncio, entro em seu carro e permanecemos como
se fossemos dois desconhecidos dentro de um ônibus.
Ele estaciona seu carro na garagem do seu prédio, sai do carro e
anda para o elevador, me ignorando literalmente.
Que ódio de você, Rui. – Penso.
Enquanto subimos no elevador, ele mexe irritantemente em seu
celular, fazendo questão de me mostrar que se diverte com o que
está escrito.
– Idiota! – Puts, falei alto, era só para pensar, mas acabei
falando, ele me encara bravo.
– Você me chamou do que? – ele diz desafiador.
– Idiota! – falo sem medo.
– Por que sou idiota? – Ele sorri de lado, se divertindo comigo.
– Você é idiota e ponto, não vou ficar te dando explicações! –
falo raivosa, mas a porta de seu apartamento abre, vejo muitas
pessoas, um frenesi, uma confusão, e resolvo ignorá-lo, saio à
procura da Jô, e me esqueço dele.
****

Está tudo organizado, e os primeiros funcionários começam a


chegar, não vi mais o Rui, ele subiu para seu quarto e não desceu
mais.
Para espairecer um pouco e desestressar, descobri onde
esconderam o Bóris, na lavanderia, e agora estou com ele.
A cena pode parecer bem estranha, estou sentada no chão, de
vestido e salto alto, acariciando o Bóris, não estou para esse clima
de festa de escritório, mal conheço as pessoas, nunca fui
apresentada a ninguém.
Sinto o trepidar do meu celular no bolso do blazer, pego-o e vejo
que é a Carol, atendo rapidamente.
– Oi, Carol! – Tento não demostrar o quanto estou desanimada,
estou aqui apenas porque sou obrigada, queria mesmo era ir
embora.
– Oi, Jack! Cadê você? Já cheguei à casa do Doutor Rui e não te
achei!
– Oh, fui ao banheiro. Onde você está? – Me levanto preguiçosa.
– Na parte externa, estou te esperando, quero te apresentar a
alguns colegas advogados, todos querem conhecer a secretária do
Doutor Rui! – Ela ri debochada.
– Ah, tá, não estou nesse clima todo, mas estou indo até aí. –
Lavo minhas mãos no banheiro da empregada e sigo para a festa.
A cozinha está uma loucura, muitas pessoas trabalham na
preparação dos coquetéis e dos quitutes que estão sendo servidos.
Sigo insegura para a sala, vejo muitas pessoas, engravatados
em sua maioria, e o meu deus grego, ele tirou seu terno, está
vestido despojado em uma calça jeans e uma camisa preta, ele está
lindo.
Passo por ele e o vejo me olhando de rabo de olho, ele conversa
descontraidamente com uma advogada, eu já a vi algumas vezes,
uma mulher jovem e bonita, mas procuro não pensar muito sobre
isso, preciso espairecer.
Finalmente chego à área externa, a Carolina me vê de imediato,
abre um sorriso largo e acolhedor e vem ao meu encontro.
– Onde você estava, Jack? – Ela cochicha. – Achei que você
tinha ido embora.
– Me sinto constrangida aqui, acho que vou embora, já fiz tudo
que tinha que fazer. – Ela me olha brava.
– Ei, que baixo astral! Vem, vou te apresentar para alguns
colegas! – Ela pega em minha mão e me arrasta para uma rodinha
de homens.
Antes que chegássemos à rodinha todos já estavam olhando
para nós, sorrio constrangida, e tento não pensar muito sobre o mau
humor que estou hoje.
– Essa aqui é a Jackeline, minha amiga e secretária do Doutor
Rui – ela diz orgulhosa, e cada um dos advogados se apresenta
para mim, um mais gato que o outro.
Começamos a conversar, eles perguntam um pouco sobre mim,
contam um pouco sobre eles, fazem piadas, se divertem contando
coisas uns dos outros. É uma turma divertida, e parecem adorar a
Carolina.
Estou bebendo um espumante e rindo das piadinhas dos colegas
da Carolina quando ela cochicha em meu ouvido.
– O nosso doutor não tira os olhos de você. – Olho para ela
assustada e ela ri. – O que você fez para deixá-lo assim? – ela diz
maliciosa.
Franzo minha testa, e me seguro para não olhar.
– Deixe de ser indiscreta, Carol! – Ralho com ela.
– Ok, vou fingir que não vejo. – Ela sai andando, penso em sair
da rodinha, mas logo um advogado bonitão puxa papo.
Começo a conversar, ele é um cara muito divertido, fala sobre
coisas engraçadas do escritório, e quando vejo estou rindo, ele é
muito simpático.
– Posso participar do papo? – Sinto um arrepio percorrer minha
coluna, essa voz me desestrutura.
– Claro, Doutor Rui! Estava contando para a Jack algumas
peculiaridades do escritório. – O rapaz diz simpático.
Sorrio para ele.
– Vocês dois já são íntimos, a Jackeline já te deixou chamá-la de
Jack?! – O Rui diz e fico tensa. Que merda que ele está falando?!
– Nem perguntei se ela se incomodava que a chamasse de Jack,
acho que não tem problema né, Jackeline? – ele diz sem graça.
– Não. Pode me chamar assim, eu prefiro! – respondo
constrangida.
– Eu preciso da Jackeline por um momento. Você nos dá licença,
Augusto? – O Rui diz seco e antipático.
– Fique à vontade. – O rapaz sai meio sem jeito.
Ele segura em meu cotovelo e me conduz para um lugar menos
movimentado, para e me olha.
– Pois não, Doutor Rui? Qual o problema, está faltando gelo no
champanhe? – Ele me fuzila com o olhar.
– Qual era a piadinha engraçada que a estava fazendo rir tanto?
– Ele pergunta num rosnado, e eu caio na risada, acho que estou
meio bêbada.
– Ele estava me cantando – falo para irritá-lo.
Ele cerra seus olhos em uma linha fina e desafiadora.
– Você está brincando, isso pode custar o emprego dele.
Ninguém canta minha secretária! – Ele olha para os meus lábios, e
para provocá-lo mordo meu lábio inferior.
– Sou livre e desimpedida. – Bebo um gole longo da minha
bebida.
– Você bebeu demais, Jackeline – ele diz bravo.
– Só assim para te aturar! – Desvio dele e saio andando a
passos duros em direção à festa.
Logo vejo a Carol, ela me chama e me apresenta mais algumas
pessoas, a conversa está animada, ou eu que estou animada
demais, mas meu sossego acaba logo, uma voz grossa e sexy
sussurra em meu ouvido, me fazendo me arrepiar toda.
– Eu quero conversar com você, sobe para o meu quarto! – ele
diz e sai, mas o ignoro, quero que ele se foda.
A festa segue, e graças à Carolina, não foi um fiasco para mim,
ela me apresentou a todos os funcionários, e me fez sentir bem.
– O chefe está mal-humorado, Jack. Você tem alguma coisa a
ver com isso? – Ela cochicha no meu ouvido.
– Não, não tenho nada a ver com isso. – Olho para ele e o vejo
me olhando, mas desvio meus olhos logo que vejo a vaca da Karen
grudada ao seu lado.
– Piranha! – Penso alto.
– Quem é piranha? – A Carol diz curiosa.
– Ninguém, Carol. – Viro meu espumante no gargalo. – Acho que
vou embora, já está tarde – falo com a Carol, mas logo um
advogado bonitão se oferece para me levar.
– Eu te dou uma carona! – ele diz animado.
– Não precisa, moro um pouco longe... – Ele me interrompe, a
Carol me cutuca.
– Eu faço questão, é tarde para uma dama ir embora sozinha! –
ele diz sedutor, me fazendo rir.
– Ok, vou pegar minha bolsa, mas eu realmente não quero
incomodá-lo – digo sem graça.
– De jeito nenhum, eu faço questão. – Ele repete.
– Tudo bem. Só um momento, vou pegar minha bolsa. – Saio
andando em direção ao local que coloquei minha bolsa, pego-a, e
estou retornando, mas sou impedida pelo trator mais lindo do
mundo.
– Aonde você vai? – ele diz discreto, com a voz baixa e
controlada.
– Embora. – Tento sair, mas ele me segura.
– Eu quero conversar com você, depois te levo. – Ele rosna.
– Eu não tenho nada para conversar com você, a não ser que eu
tenha que limpar a sujeira do apartamento, mas isso não consta no
meu contrato de trabalho! – falo com cinismo.
A bebida me deixou confiante demais, estou mostrando todo
meu descontrole, e isso é muito ruim.
– Jackeline, você está me irritando muito. – Ele sussurra
ameaçador.
– Me larga, ou vou perder minha carona – falo agitada, tentando
me livrar de sua mão.
O rapaz que iria me dar carona se aproxima com a Carol, tento
sorrir para não transparecer a cena absurda.
– Vamos, Jackeline? – O advogado diz, e o Rui aperta meu
braço disfarçadamente.
– Obrigado, Joaquim, mas a Jackeline não pode ir agora, ela
precisa conversar com o pessoal do buffet, enfim... – Ele sorri
falsamente me apertando.
O advogado se despede e sai com a Carol, com um olhar
indiscreto de quem percebe o mal-estar entre mim e o seu chefe.
– Me solte. – Rosno parecendo uma leoa selvagem. – Por que
você não sobe com sua recepcionista para o quarto e trepa com ela,
ao invés de ficar me enchendo o saco?
– Porque eu quero trepar com você, de tudo que é jeito, te fazer
gritar até o bairro inteiro acordar... – Enquanto ele fala, meu coração
dispara, e sinto uma excitação crescendo dentro de mim.
– Eu não sou mulher de vagabundo, Rui, não faço parte de seu
harém de mulheres que você come e joga fora!
– Você é minha, Jackeline. – Ele me olha estreito. – Sobe para
meu quarto e fique lá até eu chegar, e se você for embora ou para o
apartamento daquele gay dos infernos, eu te busco, e te trago até
aqui nem que seja pelos cabelos. – Ele vocifera selvagem. – Não
brinca comigo, você não me conhece.
Sinto uma batedeira louca no meu peito, minha respiração sai
irregular, forte, pode parecer loucura, mas ouvi-lo falar assim me
excita demais.
– Você é louco! – Tento sair do aperto de sua mão.
– Louco por você! – ele diz me olhando com seu olhar intenso,
me fazendo tremer inteira. – Sobe agora, e me espere nua. Quero
você, Jackeline, de todos os jeitos, até você estar exausta!
Não consigo pensar ou piscar, esse homem me deixa tonta e
louca, quero que ele me vire do avesso.
– Me solte, caso contrário não conseguirei fazer o que meu chefe
está mandando! – falo desafiadora.
Ele se aproxima, parece que vai me beijar, mas recua.
– Sobe, eu já estou indo...
Ele me solta, disfarço e começo a caminhar em direção às
escadas, percebo alguns olhares indiscretos em mim, talvez tenham
percebido a cena nada convencional da secretária e do chefe se
engalfinhando no meio de uma festa do escritório.
Já estou próxima das escadas que dão acesso ao seu quarto, e
de repente, aparece na minha frente a Karen oferecida.
– Aonde você vai? – ela diz com a mão na cintura, parecendo a
dona do apartamento.
Dou risada.
– O que você tem a ver com a minha vida? Por acaso você é a
dona deste apartamento? – falo cínica.
– Você é uma piranha, Jackeline, está pensando que o Doutor
Rui é seu... – Ela joga de lado seu cabelo maravilhoso. – Eu que irei
passar a noite com ele.
Giro meus olhos, estou descrente com a cena, ela quer brigar
para ver quem dorme com o chefe?
Não, ela não me conhece, eu não brigo por homem.
– Sério, Karen? – Dou risada. – Jesus, como você está carente,
ele não te comeu direito hoje, foi isso? – Ela tenta bater em meu
rosto, mas seguro seu punho e o dobro com raiva. – Some da minha
frente, sua garota oferecida, caso contrário, vou deixar esse rostinho
bonito cheio de hematomas, sou muito boa de briga. – A empurro
com raiva e subo as escadas bufando nervosa.
Jesus, onde fui me meter!
****

Entro em seu quarto e olho ao redor para ver se não existem


vestígios de suas últimas trepadas.
Odeio a ideia de transar com ele sabendo que ele esteve aqui
com outras mulheres.
Sou ciumenta, possessiva e não sei o que estou fazendo nesse
quarto, e na vida desse homem.
Penso no Renato e me sinto mal com tudo isso, não menti para
ele, disse que estou confusa, não retornei sua mensagem.
Sigo para o banheiro, quero tomar um banho, estou cansada e
suada.
Tiro minhas roupas, as penduro em um gancho, e sigo para a
ducha.
Adoro tomar banheiro em seu apartamento, a ducha é
maravilhosa, a água sai forte e poderosa, relaxando todos os
músculos que estão tensos.
Deixo a água quente e forte cair sobre meu rosto, apoio minhas
mãos no azulejo e relaxo os músculos do meu pescoço que estão
tensos e doloridos.
Não ouvi quando ele entrou no banheiro, tão pouco quando ele
entrou no box, só me dei conta de sua presença quando ele abraçou
meu corpo, senti seus pelos macios em minhas costas e sua ereção
contra meu corpo.
Apesar de surpresa, não me movi e nem reclamei, apenas me
entreguei aos seus beijos em meu pescoço, nuca, e a carícia de
suas mãos em meus seios, o roçar de seus dedos dentro de mim,
fortes, poderosos e ágeis.
Ele sabe como me tocar, a intensidade, a velocidade e a
pressão, em segundos estou com o coração acelerado, a respiração
descompassada, gemendo, e gozando...
– Oh, Rui!!! – Gemo alto. – Hummm, ahhh, assim, Rui...
– Goza pra mim, minha deusa! – Ele sussurra em meu ouvido,
ao mesmo tempo em que chupa e morde minha orelha.
Viro para olhá-lo, enlaço seu pescoço e começo a beijá-lo,
insana, louca e possessiva.
Eu não quero dividi-lo com ninguém, eu o quero só para mim! –
Penso aflita, e passo toda essa aflição para o meu beijo.
Ele levanta uma de minhas pernas e me penetra, enrosco-me ao
seu corpo, e deixo-o nos levar para outro mundo.
Ele urra, geme e goza.
– Você é minha, Jack, só minha! – ele diz contra meus lábios,
sem folego.
– Serei só sua se você for só meu – respondo, abro os olhos e o
encaro.
– Eu sou só seu – ele diz me olhando intensamente.
– Não é, de ontem para hoje você transou com duas mulheres,
isso não é ser só meu! – Me afasto dele.
– E você transou com o gay do seu ex-namorado. – Ele desliga a
ducha e sai do box.
– É diferente, fomos namorados, havia sentimento entre nós, não
sou uma piranha que sai transando com homens desconhecidos –
falo magoada.
– Você não respeitou o fato de estarmos juntos – ele diz de
costas enquanto se enxuga.
– Rui, você não é o tipo de homem que pode cobrar isso de uma
mulher, você é mulherengo, odeia relacionamentos, e não quer nada
de mim além de sexo.
Ele se vira para me olhar, parece irado com o que eu disse.
– Eu te desrespeitei enquanto estávamos juntos? Você ficou
sabendo que eu saí com alguém, transei com alguém? Você não me
conhece de fato, Jackeline, você acha que sabe tudo sobre mim,
mas você não sabe! – Ele sai do banheiro, parece enfurecido
comigo.
Pego uma toalha, me seco de qualquer jeito, a enrolo no meu
corpo e volto para o seu quarto, ele se deitou em sua cama, e olha
para aquele maldito celular.
Oh, que vontade de pegar esse aparelho feito pelo diabo e o
jogar daqui de cima, seria um prazer vê-lo se espatifar lá embaixo.
– Marcando algum encontro, Rui? – falo possessa.
Ele olha para mim, sobrancelhas levemente arqueadas, coloca o
celular sobre a mesinha de sua cama, levanta e segue até mim, e
sinto medo, esse homem tem um jeito que às vezes me amedronta.
Tento não me mover e não mostrar que estou temerosa.
Ele para a minha frente, seu corpo encostado ao meu, ele
levemente inclinado sobre mim, só falta me engolir com seus olhos.
– Você está me irritando com essa história. – Ele rosna, arranca
minha toalha e a joga na lua.
– Eu gosto quando você fica irritado – falo com deboche,
confesso, adoro irritá-lo.
Ele agarra em meus cabelos me fazendo arquear meu rosto,
segura minha cintura contra seu corpo e fala:
– O que mais você gosta, Jackeline? – Ele chupa e morde meu
pescoço, roubando gemidos desesperados da minha garganta.
– Eu gosto quando você me fode, com força! – falo, sussurro, gemo.
– E quando bato na sua bunda gostosa? – Um tapa, uma
massagem, e já me sinto toda molhada.
– Dói, mas eu gosto! – Sussurro entregue a ele.
Jesus, desde quando sou masoquista?
– Oh, Jackeline, você é uma diaba em forma de mulher. – Ele me
joga na cama, segura minhas mãos acima da minha cabeça e me
olha com aquela expressão que me dá medo, mas me excita. – O
sexo com aquele merda foi bom? – Ela fala, quero dizer, ele rosna,
parece insano de ódio.
– Não! – Sussurro. – Com você é bom...
– Então, por que você transou com ele? – Ele vocifera, parece
enlouquecido de ciúmes, e isso só me deixa mais louca por ele.
– Não sei, estava confusa – falo baixo, olhando-o
profundamente.
– Você nunca mais irá transar com esse cara, você me
entendeu? – ele diz possessivo, parece um homem das cavernas.
– E você, nunca mais vai transar com a piranha da sua
recepcionista? – falo ciumenta.
– Eu não transei com ela, só queria te provocar – ele diz, e
segura um sorriso de canto de boca.
– Você está mentindo, vocês ficaram uma hora naquela sala –
falo raivosa.
– Não fala de novo que sou mentiroso, não vou ter mais
paciência com isso – ele diz bravo.
– Tá bom, então você não comeu ela? – falou com um sorriso de
satisfação.
– Não, Jackeline – ele diz sorrindo.
– Oh, Rui, isso me deixa tão feliz – falo sorrindo.
– E o que ganho com isso, por ter sido fiel a você? – Ele esfrega
sua ereção em minha barriga.
– O que você quiser! Sou sua, Rui.
Ele muda sua expressão, parece um animal selvagem, então
invade minha boca com sua língua macia, quente, ele parece louco,
desesperado, machucando meus lábios, puxando meus cabelos, e
me penetra, sem delicadezas, ou romantismos.
O Rui é meio bruto, selvagem, mas eu adoro isso, adoro como
ele faz sexo.
Ele goza ruidosamente, parece um leão nervoso e desaba sobre
mim.
Meu Jesus Cristinho, que homem!
Beijo seus cabelos, acaricio suas costas, eu não queria nunca
mais que ele saísse de mim.
Como adoro esse homem! – Penso, sentindo um gelado no
peito.
Ele acalma sua respiração, se deita ao meu lado e fica calado.
Junto meu corpo ao seu, ele me abraça, me puxa para junto
dele.
– Tudo bem? – pergunto insegura, odeio quando ele fica assim.
– Tudo! – Ele dá um sorriso contido, beija minha testa. – Preciso
dormir, Jack, não dormi nada a noite passada.
Sorrio.
– Eu também, fiquei a noite inteira brigando com você, em
sonhos, é claro. – Me inclino sobre ele rindo.
– Já tinham me dito que as italianas eram geniosas, mas eu não
imaginava o quanto! – Ele dá um sorriso contido, parece cansado.
– Te adoro, Rui! – falei, não era para falar, mas não aguentei
segurar o que sinto por ele, é maior do que mim.
Ele sorri.
– Eu também! – ele diz sorrindo.
Me inclino mais sobre ele, beijo seus lábios suavemente,
carinhosamente, um sentimento forte cresce dentro de mim, me
preenche, me invade, é bom demais estar com ele.
Descanso meu rosto ao lado do seu, grudada a ele, beijo suas
bochechas repetidamente, delicadamente, sentindo seu cheiro
gostoso de creme de barbear. Ele segura minha mão sobre seu
peito, aninhando-a em meio a sua.
Sinto uma paz tão grande ao lado dele, é tão diferente de
quando estou com o Renato.
– Boa noite, minha deusa! – Ele sussurra com sua voz grossa.
– Boa noite, meu deus grego! – falo e dou risada.
Ele ri, vira seu rosto de lado e beija meu nariz.
Capítulo 40
JACKELINE BARTOLLI
Estou dormindo profundamente, envolvida num sonho muito
bom, meu pai faz parte desse sonho, ele está simplesmente me
conduzindo para o altar, meu vestido de noiva é lindo e
escandalosamente sensual, do jeito que o Rui gosta que me vista.
Não vejo meu noivo no altar, mas sei que é o Rui, sinto que é
com o Rui que estou me casando, estou com um sorriso no rosto,
olho para meu pai, ele parece tão feliz e realizado.
A música que toca ao fundo é a mesma que ouvi no carro do
Rui, uma música linda tocada apenas no piano. Meus olhos enchem
de lágrimas, esse deve ser o momento mais feliz da minha vida, eu
vou me casar com o Rui e estou muito apaixonada por ele.
Olho para as pessoas ao redor da igreja, todas sorriem e
gesticulam palavras de carinho e apoio, volto a olhar para o altar, e
o sorriso que estava em meu rosto se esvai, não estou indo me
casar com o Rui, quem está no altar é o Renato.
Estanco no meio do caminho, meu pai me olha confuso.
– O que foi, minha princesa? – ele diz confuso.
– Pai, o que o Renato está fazendo no altar? Irei me casar com o
Rui! – falo sentindo meu coração apertar no peito.
– Jackeline, o Rui se casou com sua antiga namorada, a Priscila,
você não se lembra? – ele diz com seus olhos emocionados.
– Não, é mentira, pai, eles romperam, ele não se casou com ela!
– digo apavorada.
– Casou sim, olhe para o altar, ele é seu padrinho de casamento,
junto com sua esposa.
Olho novamente para o altar, e vejo o Rui e a Priscila de mãos
dadas, e um bebê no colo dele, ele sorri, parece muito feliz.
Meus olhos inundam de lágrimas.
– Eu não posso fazer isso. Eu não amo o Renato, eu amo o Rui!
– Giro em meus calcanhares, levanto meu vestido para não
tropeçar, e começo a correr para fora da igreja, mas algo me segura,
não consigo me mover, então ouço a voz do Renato, me viro e o
vejo.
– Jack, não faça isso comigo, eu te amo, vamos ser muito
felizes! – ele diz com seu olhar de piedade.
– Eu não posso, eu não amo você! – respondo chorando.
– Não precisa me amar, eu vou te dar tudo o que você quer, uma
família, filhos, um marido... – Ele sorri, vejo uma expressão estranha
no seu rosto, uma pessoa chega ao seu lado, olho e vejo o
Leonardo, ele beija o rosto do Renato e me olha.
– Seremos uma família, Jack, eu, você e o Renato. – O Renato
beija os lábios do Leonardo.
– NÃOOOOO!!!!!! – Grito, literalmente, e acordo suada,
assustada e com o coração na boca.
A voz do Rui me tira do meu pesadelo.
– O que foi, Jack?– Ele acende o abajur, alisa meus cabelos, e
limpa as lágrimas que estão no meu rosto. – Você teve um
pesadelo, foi isso?
Olho para ele, ainda vivenciando a sensação horrível do
pesadelo.
– Foi, foi um pesadelo horrível! – Cubro meu rosto com as mãos.
Sinto seus braços ao redor do meu corpo, aninho meu rosto em
seu peito, cheiro-o e o beijo diversas vezes.
– O que foi, Jack, quer falar sobre o seu sonho? – ele diz
beijando meus cabelos.
– Não, eu não quero! – digo aflita.
Ele se deita, trazendo meu corpo para junto do seu.
– Então, vamos voltar a dormir. – Ele me abraça forte junto a ele.
– Está tudo bem, foi só um sonho, dorme, Jack.
****

O pesadelo se foi, não voltei a sonhar, só dormi e foi um sono


tranquilo.
Desperto sentindo o perfume que me viciei desde que conheci o
Rui, estou na mesma posição que ele me colocou quando voltamos
a dormir. Olho de relance em seu relógio digital, ainda é cedo, mas
quero amar o Rui, muito, estou precisando o sentir em mim, saber
que sou sua, que ele é meu.
A sensação do pesadelo voltou ao meu coração, acho que não
suportaria saber que o Rui se casou com alguém. Eu sei que nos
conhecemos a pouco tempo, que eu não deveria sentir isso, mas
estou louca de amor por ele, e sei que posso sofrer muito com isso.
Passeio minhas mãos pelo seu corpo, pelos seus braços, ele é
todo musculoso, forte, exala masculinidade e virilidade.
Beijo seu pescoço, ele se mexe, olho para seu rosto e o vejo
abrindo seus olhos.
– Bom dia, Rui! – Desço minhas mãos por sua barriga, seguro
seu membro entre minhas mãos, ele sempre amanhece excitado, o
acaricio em toda sua extensão, que por sinal não é pouca.
Ele sorri preguiçoso.
– Jeito bom de acordar, Jack. – Ele segura meu rosto entre suas
mãos, me trazendo para um beijo, mas para no meio do caminho. –
Eu não escovei os dentes – ele diz divertido.
– Me beija logo, Rui! – digo sem paciência.
Ele sorri e me beija devagar, preguiçoso, deliciosamente.
Correspondo ao seu beijo, mas não deixo de acariciá-lo, ele
geme em meus lábios.
Distancio meus lábios dos seus, sorrio, o beijo novamente.
– Eu quero te dar prazer, Rui, muito prazer! – Ele me olha com
seu olhar intenso, cheio de sensualidade e desejo.
Beijo seu pescoço, seus ombros, passo minha língua por sua
orelha, volto para sua boca, voltamos a nos beijar, ele aperta minhas
nádegas entre suas mãos, mas volto a beijar seu corpo, beijo seu
tórax, mordo seus mamilos.
– Não, Jack! – Ele arqueia seu corpo, acho que isso dá muito
tesão nele.
– Eu queria as algemas, Rui, por que você não comprou ainda?
– digo segurando suas mãos, do jeito que ele faz comigo.
– A gente compra hoje – ele diz cheio de tesão.
– Fica quietinho, agora é minha vez – falo cheia de atitude, adoro
dominar também, gosto de ser dominada, mas gosto de dominar.
Beijo sua barriga, mordo seus gominhos de músculos, vou
lambendo até chegar ao meu objetivo. Envolvo meus lábios ao redor
de seu pênis, chupando e lambendo.
– Oh, Jack, isso é bom demais! – ele diz de olhos fechados.
Aumento os movimentos com minha boca, ele segura meus
cabelos, os puxa levemente e então em fração de segundos, me
vejo de bruços na cama.
– Eu quero te foder, Jack! – Ele sussurra em meu ouvido, e me
penetra deliciosamente.
– Então, me fode! – Gemo alto.
As primeiras estocadas são calmas.
– Jack, sua buceta é deliciosa, sabia? – Ele continua a se
movimentar calmo, sensualmente, de um jeito excitante.
– O seu pau também, Rui! – Sussurro em meio as suas
investidas.
– Como você quer que eu te fodo, minha gostosa? – Ele
sussurra em meu ouvido, seu corpo cobrindo totalmente o meu,
sinto o seu peso sobre meu corpo, seus braços ao redor dos meus,
estamos literalmente na posição de cachorrinho.
Viro meu rosto para beijá-lo, a gente se beija, ele me fode
vagarosamente.
Separo meus lábios dos seus, a gente se olha, e isso é tão
incrível.
– Eu gosto desse jeito, mas também gosto com força, adoro tudo
que você faz em mim, Rui.
Ele volta a me beijar, envolve meu corpo em seus braços, segura
meus seios entre suas mãos, e me fode forte, coloco toda minha
força em meus braços, gemo, grito e gozo, ele sabe onde fica meu
ponto G, talvez, o H, Y, Z...
– Ruiii!!! Ohhh!!! – Sinto meus braços fraquejarem, mas ele logo
segura seu peso com seus braços, seus movimentam aumentam,
ficam duros, profundos, ele urra ensandecido, e explode em um
orgasmo barulhento e delicioso.
– Ohhh, Jack!!! – Ele morde minhas costas, puxa meus cabelos.
– Caralhooo!!! – Ele berra. – Porra, Jack, que foda deliciosa!!! – Ele
sussurra em meu ouvido, se acalmando vagarosamente, e
finalmente parando. – Porra, que foda do caralho!!! – ele diz de
novo, e desaba ao meu lado, daquele jeito que acho que ele vai
morrer.
Nunca transei com alguém tão intenso, juro que vou voltar para a
academia, não tenho condicionamento físico o bastante para transar
com o Rui, ele acaba comigo, literalmente.
Desabo na cama, minhas coxas e meus braços tremem pela
força que fiz em me manter na posição de cachorrinho.
Minha respiração não está menos ofegante que a dele, o sexo
entre nós é intenso demais.
Pego sua mão e levo para meus lábios, e a beijo, ele me olha de
lado e sorri.
– Jeito bom de acordar! – ele diz de novo.
– Acho que não vou me levantar nunca mais dessa cama. – Dou
risada.
– Eu te levanto, minha deusa! – Ele vira meu corpo e me pega
no colo com uma facilidade tão grande que me sinto uma pluma.
– Rui, você é tão forte – falo enganchada em seu pescoço,
beijando seu rosto.
– Isso é bom, não é? – ele diz manhoso.
– Muito bom, mas acho que preciso ficar mais forte para
aguentar você. – Ele dá uma risada contagiante.
– Estou pegando pesado, é isso? – Ele me coloca no chão do
box, e liga a torneira do chuveiro.
– Não. – Abraço sua cintura o trazendo para junto de mim. –
Adoro sua pegada, não precisa mudar nada!
Ele ri de novo.
– Então podemos repetir, acho que já estou pronto! – Ele olha
para o seu amigo.
Jesus, esse homem não cansa.
– Você tem certeza que não tem 20 anos? – Dou risada.
– Eu menti para você, tenho 22 anos, e corpinho de 35 – ele diz
debochado, beijando meu pescoço.
– Você é lindo, Rui! – falo inebriada pela névoa de paixão que
nos circunda.
Ele vira meu corpo contra a parede.
– Você que é, Jack! – ele diz sedutor, beijando meu pescoço.
– Você só gosta de me comer vendo minha bunda? – O olho
pelo meu ombro.
Ele enterra seu membro dentro de mim, aproveita que estou
olhando de lado e me beija.
– Eu gosto de te comer de tudo que é jeito, mas confesso que
adoro sua bunda. – Ele a aperta entre suas mãos. – Ela é gostosa
demais, Jack. – Uma estacada forte. – Posso dar uns tapinhas?
Adoro fazer isso! – ele diz no meu ouvido, passeando sua língua em
meu pescoço e em minha orelha.
Ele me excita com essa história de tapinhas, isso é fato, adoro
que ele faça isso.
Dou risada, esfrego minha bunda contra seu corpo.
– Pode bater, meu homem – falo sensualmente.
Ele segura forte em meus quadris, dá uma estocada forte e
profunda.
– Não fala assim, Jack, eu não aguento. – Ele bate com força,
massageia. – Assim minha gostosa, você gosta quando faço assim?
– Mais uma estocada, mais um tapa, eu grito, gemo, e fico
encharcada.
– Gosto, Rui! Continua... – Gemo alto.
– Jackeline, você não sabe o que faz comigo. – Sua voz sai
gutural, sinto sua boca em meu pescoço, ele beija, chupa, morde,
bate em meu bumbum, e goza ruidosamente.
Pai eterno, que surra literal de pica.
Descanso minha testa no azulejo e tento normalizar minha
respiração.
– Jackeline, eu sou louco por você! – ele diz beijando meus
cabelos, e respirando ruidosamente.
Mais uma vez aquele friozinho no estômago. Gostaria de
acreditar que isso signifique que ele também está apaixonado por
mim, mas acho que não. Sua loucura tem a ver com o sexo.
– Eu também sou louca por você! – falo baixo, mas logo ele me
vira para olhá-lo, aquele olhar intenso e profundo, ele fecha os olhos
e me beija, vagarosamente, deliciosamente.
Sinto seus braços ao redor do meu corpo, ele me aperta em
seus braços e isso é bom demais.
– Vamos terminar nosso banho, Jack. Eu não aguento uma
terceira vez, eu menti, não tenho 22 anos – ele diz sorrindo.
****

O caminho para seu escritório foi tranquilo, porque de um jeito


estranho estamos na mesma sintonia, como um casal de
namorados.
Ele entra na rua do seu escritório, eu sempre fico tensa quando
chegamos, olho para ele de lado, ele percebe, pega em minha mão
e a beija.
– Não precisamos esconder que temos um relacionamento,
somos solteiros, eu pago minhas contas, você as suas, então... –
Ele me olha e sorri.
– Temos um relacionamento? – Enrugo minha testa.
– Temos. – Ele estaciona seu carro na garagem, e me olha. –
Você gosta de dar nome aos relacionamentos?
– Não, só estou um pouco confusa, eu posso te chamar do que?
– Olho para ele e sorrio. – Meu amante? – Torço meu nariz.
Ele dá risada.
– O que você gostaria que eu fosse para você? – O olho
confusa, por que ele tem que fazer perguntas tão difíceis?
– Namorado! – Viro meu rosto de lado, falo timidamente, isso é
muito esquisito.
Ela abaixa a cabeça, dá risada.
– Tudo bem, então, somos namorados.
Eu não acredito muito nisso, eu e o Rui namorando, será que
isso é sério?!
– Você não gosta de relacionamentos – falo seriamente. – Não
precisa forçar a natureza, podemos continuar como estávamos.
– Não quero me casar, é diferente, mas gosto de namorar – ele
diz com uma simplicidade irritante.
– Ah, claro, sua síndrome é a respeito de relacionamentos
duradouros! – falo desanimada.
– Não, minha síndrome é a respeito de um contrato ultrapassado
e falido chamado matrimônio, não acredito em casamentos, sou um
advogado, divorcio pessoas todos os dias, cheguei a essa
conclusão depois de anos de profissão.
– Eu acredito no casamento, viver para sempre com a mesma
pessoa, ter filhos! – Olho para ele.
Ele olha para frente, fica sério.
– Não quero nada disso, Jack. – Ele me olha com uma
expressão tensa, seus lábios formam uma linha dura, assim como o
meio dos seus olhos, que formaram uma ruga de tensão.
– Tudo bem, não precisamos querer as mesmas coisas, ninguém
jurou amor eterno, que seja eterno apenas enquanto dure. – Tento
sorrir, mas esse assunto me incomoda, gosto dele de verdade, e sei
que vou sofrer, mas sou masoquista e quero viver esse
relacionamento, mesmo sabendo que não há promessas para um
futuro.
Ele coloca uma das suas mãos em meu rosto, me olha
intensamente, olha para meus lábios, e me beija do jeito mais
profundo possível, me fazendo sentir um frio na barriga, um arrepio
na espinha, e as famosas borboletas no estômago.
Ele se afasta e me encara com seus olhos enigmáticos.
– Sem cobranças, Jack.
– Sem cobranças – respondo. – Mas quero fidelidade, esse é o
mínimo que preciso para ficar com uma pessoa.
– Tudo bem. – Ele balança levemente sua cabeça e me dá mais
um beijo. – Vamos! – Ele sai do carro.
****

O escritório ainda está vazio, então entramos e subimos de


mãos dadas.
Minha cabeça está confusa, o Rui me deixa confusa, não
acredito muito que ele vá me levar a sério.
É estranho eu pensar assim e ainda querer me relacionar com
ele!
Sou masoquista, está provado.
– Vamos ao shopping no horário do almoço, para você comprar
algumas roupas – ele diz assim que chegamos a minha mesa.
– Rui, não gosto dessa história de você comprar uma roupa por
dia para mim, não está certo! – Falo com sinceridade, não sou esse
tipo de mulher que gosta de viver às custas do “namorado”.
– Então, deixe algumas roupas suas na minha casa, assim você
resolve esse problema. – Ele segue para sua sala e me deixa com o
queixo levemente caído.
Deixar algumas roupas em sua casa?
Isso está indo bem depressa.
Depois penso sobre isso, agora preciso trabalhar.
****
Meu ramal toca, vejo que é o Rui, e pelo horário provavelmente é
para almoçarmos.
– Oi, chefinho! – Brinco ao atender.
– Vamos almoçar? – ele diz com um tom animado. – A gente
compra uma roupa para você, e aquelas algemas!
Seguro meu riso, mas acabo explodindo em uma risada.
– Ah, as algemas! – falo rindo.
– Isso, vamos providenciar nossos acessórios, aquele
apartamento hoje vai pegar fogo! – Ele diz com um tom sacana.
Mas, aí me lembro que tenho casa, e que não posso abandonar
minha mãe.
– Rui, não posso hoje! – falo com cuidado.
– Porque, porra? – Afasto o telefone do meu ouvido, ele gritou, é
isso?!
– Ei, eu não admito que você grite comigo, ouviu?! – falo
nervosa.
– Desculpe! – ele diz mais calmo. – Eu te levo para sua casa,
mas mais tarde, depois de jantarmos, enfim... – Ele fala cauteloso.
Meu padrinho Cícero, de onde saiu esse homem? Ele está muito
mal-acostumado, pelo visto a mulherada se curvava a ele como se
ele fosse um Deus.
Cacete, que gênio do cão ele tem!
Eu adoro ficar com ele, então vou abrir uma exceção, mas não
será sempre, ele não pode achar que manda em mim.
– Tá bom! – respondo mais calma.
– Desculpe, Jack! – ele diz de novo.
– Está desculpado, só não grita de novo comigo, não sou mulher
de malandro. – Desligo o telefone.
Em cinco minutos a porta abre e ele sai poderoso como só ele
pode ser.
– Vamos, italiana brava – ele diz divertido.
– Eu, brava, acho que não – falo provocativa, pego minha bolsa,
levanto e ele me abraça.
– Já pedi desculpas, desmancha a cara feia – ele diz de um jeito
divertido, me levando a pensar que ele tem dupla personalidade.
Forço um sorriso.
– Está bom assim? – Ele segura meu rosto e me beija, e morde
meus lábios. – Adoro seu jeito, Jack.
– Eu também gosto do seu, mas só o lado bonzinho, aquele
outro que gritou comigo, dispenso. – Passo por ele e ganho um tapa
na bunda. – Ei, tá bem saidinho, posso te processar por assédio! –
Brinco.
Ele dá risada, passa por mim, segura minha mão e me puxa para
as escadas.
Puxo o ar, não sei se estou preparada para assumir esse
relacionamento na frente de todos do escritório.
Passamos pela recepcionista e ela não conseguiu disfarçar sua
cara de espanto ao nos ver de mãos dadas, ela simplesmente focou
em nossas mãos da forma mais descarada possível.
– A Karen é fofoqueira, daqui a algumas horas todos saberão
que saímos de mãos dadas! – digo ao entrarmos em seu carro.
– Você se importa com isso? Eu não! – ele diz enquanto
manobra seu carro.
– Eu não me importo, só estou te dizendo – respondo cuidadosa,
mas por outro lado feliz.
Acho que ainda não caiu a ficha, estou namorando com meu
chefe, e ele é tudo de bom, só espero que isso dê certo.
****

O caminho que ele segue não é o mesmo do shopping.


– Rui, para onde vamos? Esse não é o caminho... – Ele me
interrompe.
– Vamos buscar nossos brinquedinhos. – Ele me olha e sorri
muito devasso.
Reviro meus olhos.
– Rui, eu tenho vergonha de entrar num lugar desses – digo
desesperada.
– Por quê? Você vai comigo, escolhemos nossos brinquedinhos
e pronto.
– Eu sei que é assim, mas eu tenho vergonha, vai você sozinho.
– Olho para o vidro do passageiro.
– Nem fodendo, você que veio com essa história de algemas,
agora encare seus fetiches, Dona Jackeline! – ele diz rindo.
– Oh, meu Deus, por que fui falar sobre isso com você? – Tampo
meu rosto com as mãos.
– É, Jack, você falou com o cara errado, adoro uma sacanagem,
e não vejo a hora de te prender a minha cama – ele diz com sua
cara de depravado.
– Eu que vou te prender, e não você a mim! – falo indignada.
– Pronto, você só poderá me prender se entrar comigo no sexy
shop, caso contrário, sem acordo.
Bufo com raiva, sou depravada, mas entre quatro paredes e com
ele, agora entrar num sexy shop para escolher brinquedinhos é
muito fora de questão.
Ele estaciona em frente a um sobrado grande com vidraças nas
paredes, manequins mostram alguns dos fetiches dos seus
compradores, e em outras vitrines manequins vestem fantasias de
empregadas, bombeiros, e sei lá mais o que!
– Vamos, não vejo a hora de explorar esse lugar! – ele diz
animado.
Jesus, que vergonha!
Saio do carro feito um rato assustado, nunca me imaginei num
lugar desses.
– Rui, não podemos comprar por site? – Fico parada a porta do
passageiro, rezando para ele gostar de minha ideia.
– Não, não dá para ver. O legal é pegar na mão, sentir, essas
coisas...
Levanto minhas sobrancelhas.
Estou bege com esse homem.
– Rui, eu vou me esconder atrás de você, não quero que
ninguém me veja entrando nesse lugar.
Ele gargalha ruidosamente, estende sua mão para mim, fecho
meus olhos e entramos naquele lugar dos infernos.
Uma vendedora estilosa sorri quando entramos, me escondo
atrás do braço do Rui, ele me olha e ri.
– Vocês precisam de ajuda? – Ouço a voz da moça, mas me
nego a olhar para ela.
– Queremos ver umas algemas! – ele diz com sua voz de
cafajeste. – Minha namorada adora esse negócio de algemar, essas
coisas...
Ele me puxa, fazendo com que eu fique na frente do seu corpo.
– Relaxa, Jack, vamos nos divertir. – Ele sussurra em meu
ouvido.
A moça me olha, dou um sorriso insosso para ela, e vejo a minha
frente tipos diferentes de algemas.
– Aqui estão alguns modelos – ela diz muito profissionalmente,
sem sorrisos, olhares, nada.
– Você escolhe, Jack – ele diz no meu ouvido.
Reviro meus olhos, vejo uma forrada com uma camurça,
provavelmente não machuca.
– Acho que essa aqui. – Aponto para a bendita.
– Quer experimentar, para ver se serve? – ela diz simpática, me
fazendo corar de vergonha.
Pego o negócio e seguro um riso, viro de frente para o Rui e
pego em seu pulso.
– Me deixe provar em você. – Sorrio, porque não estou
acreditando que estamos fazendo isso.
Ele me olha com seu sorriso de cafajeste, coloco as algemas
nele e sorrio mais.
– Perfeito, Rui, é assim que irei mantê-lo de agora em diante.
– Tira essa porra, Jack, não gostei muito da sensação. – Dou
uma risada espalhafatosa e tampo minha boca.
– É só de brincadeirinha! – Abro a algema e dou para a
vendedora. – Vamos levar.
– O que mais vocês precisam? – ela diz séria. – Temos chicotes,
vibradores, vendas, todos os acessórios para “maso” ou “sado”!
Arregalo meus olhos.
– Oi?! – falo sem pensar. – Não somos nada disso. – Cuspo as
palavras.
O Rui ri descaradamente em minhas costas e fala no meu
ouvido:
– Um vibrador, talvez, para dar uma apimentada.
Seguro o riso, ele é terrível.
– Uma venda – falo rapidamente.
– E um vibrador – ele fala em seguida.
– Oh, claro, só um minuto! – ela diz se distanciando um pouco de
nós.
– Rui, acho que está bom, né? Vamos começar aos poucos, para
eu me acostumar.
– Tudo bem, Jack, vou dar uma volta, só para ver o que temos
por aqui. – Ele sai andando pelo espaço aberto, onde existem
roupas e acessórios em exposição.
A moça volta e coloca uma série de vibradores e vendas sobre o
balcão.
– Veja o que você acha, esse aqui faz isso. – Ela desanda a falar
sobre o funcionamento dos vibradores, estou roxa de vergonha,
nunca conversei com ninguém sobre isso, muito menos com uma
desconhecida.
– Querida, qual o melhor? – falo rapidamente, vendo se o Rui
não está por perto.
– Esse aqui, é elétrico, funciona com bateria, e aumenta muito
mais o prazer, você vai adorar! – ela diz como se vendesse um
aparelho para depilação.
Reviro meus olhos.
– Então, embrulha esse – falo rapidamente.
– E qual venda? – Ela me olha interrogativa.
Escolho uma preta de cetim.
– Essa aqui, está ótimo – falo apressada. – Me deixa chamar
meu namorado, ele está um pouco empolgado com essa coisa toda.
Ela dá um sorriso contido, e saio rapidamente para chamar o
Rui.
– Pronto, Rui, já escolhi nossos brinquedinhos. Podemos ir? –
falo apressada.
– O que você acha disso? – Ele me mostra uma lingerie/biquíni
de um tecido parecendo um couro, cheio de coisas metálicas, típico
dessas dançarinas de boate de streep tease.
– Meus peitos não cabem aí! – falo rapidamente.
– Cabem sim! – Ele olha para a fantasia e depois para os meus
peitos. – Vai ficar do jeito que eu gosto, vou levar. – Ele sai andando
para a vendedora.
Minha vontade é pegar uma fantasia de bombeiro, só para irritá-
lo, mas quero ir embora logo, talvez outro dia.
Capítulo 41
JACKELINE BARTOLLI
Até que foi divertido entrar num sexy shop, penso, não falo,
porque se falar pode ser que o Rui vá se empolgar com essa
história.
Estamos indo em direção ao shopping.
– E aí, gostou das nossas compras? – ele diz me olhando de
lado, com um sorriso safado no rosto.
– Gostei, não vejo a hora de testar as algemas em você, ver se
são bem resistentes! – Dou risada.
– Eu quero testar o vibrador, vi que você comprou um cheio de
coisas. – Ele me olha. – Você costumar usar um desses?
Abro levemente minha boca, fico rosa, vermelha e por fim, roxa.
– Eu... – falo indignada, não posso dizer a ele que como o
Renato era devagar pra cacete, tive que comprar um desses para
acalmar a ninfomaníaca que vive dentre de mim. – Não, claro que
não... – Olho para o vidro do passageiro.
Ele explode em uma risada insana, olho para ele desconcertada,
enrugo minha testa, e falo:
– Para de rir, Rui.
– Como você é mentirosa, Jack!!! – Ele limpa seus olhos que
estão cheios de lágrimas. – Está na cara que você usa.
Como assim, está na cara que eu uso? Que absurdo é esse?
– Rui, você é muito indiscreto e enxerido, e você não tem nada a
ver com o que faço quando estou sozinha! – falo brava.
– Agora eu tenho, e não quero que você use isso sozinha, você
tem a mim e cacete, não é possível que não estou conseguindo
acabar com o seu fogo! – Ele enruga sua testa.
Levanto minhas sobrancelhas chocada.
– Se eu quiser, eu uso, você não manda em mim! – falo para
desafiá-lo, e irritá-lo é lógico.
– Não vai, não – ele diz feito uma criança.
Me esgueiro em cima dele.
– Eu não vou usar porque não quero, e porque você está dando
no couro! – Dou risada, abraço seu pescoço e dou muitos beijos em
seu rosto.
– Você é louca, Jack! – Ele olha para o lado e ri.
– Louca por você! – Cochicho em seu ouvido.
Ele me olha e sorri, mas como estamos no meio do trânsito, volto
para o meu lugar e logo chegamos ao shopping.
– Vamos almoçar primeiro, Jack, estou morrendo de fome – ele
diz estacionando seu carro.
– Tudo bem, agora já fui trabalhar assim, não vejo necessidade
de comprar alguma coisa.
– Eu quero comprar, não reclama – ele diz segurando em minha
mão e indo rapidamente em direção aos elevadores.
Entramos no elevador que está vazio, ele me prensa contra a
barra que separa o vidro da cabine, o elevador é panorâmico,
abraço seu pescoço e ficamos nos olhando, tipo namorados mesmo,
quer dizer agora somos namorados, e isso é bem maravilhoso,
agora ele é só meu.
Acaricio seus cabelos, ele fecha os olhos, parece um gato
manhoso, me esgueiro um pouco mais e alcanço seus lábios, e o
beijo suavemente, delicadamente.
O bip do elevador avisa que chegamos ao nosso andar, ele abre
os olhos e sorri.
– Vamos, Jackeline Bartolli! – ele diz divertido.
Entramos num restaurante chique do shopping, esperamos o
garçom arrumar um lugar para nos sentarmos, mas não demorou
muito, logo estamos em uma mesa no meio do salão.
Olho disfarçadamente ao redor, e então vejo a Priscila, ela e um
homem mais velho.
O Rui olha o cardápio.
– Vamos pedir esse aqui, Jack, não demora muito para preparar,
estou com tanta fome que sou capaz de comer essa mesa. – Não
tenho tempo de falar sobre a Priscila, ele chama o garçom e faz o
pedido, eu nem vi o que ele pediu. – Traz uns pãezinhos, umas
coisinhas para petiscar – ele diz para o garçom e volta a me olhar. –
Tudo bem? Você ficou séria.
– Sua ex-noiva está aqui, logo ali. – Indico com o olhar.
Ele olha rapidamente.
– Que merda de coincidência. – Ele bufa irritado. – Eu preciso
cumprimentar a Priscila e seu pai, infelizmente e não sei até
quando, temos uma parceria, não posso ignorá-los simplesmente.
Dou de ombros.
– Claro, fique à vontade, é só não beijar ela na boca. – Só depois
que falei que me dei conta da asneira que disse.
Ele revira os olhos, se levanta e sai.
O acompanho com os olhos enquanto ele caminha até eles, ela
logo o vê e abre um sorriso enorme, provavelmente não me viu
ainda.
O Rui cumprimenta primeiramente o velho, que o abraça
calorosamente, depois estende a mão para ela, que o olha
decepcionada.
O sorriso de seu rosto se esvai.
Observo o jeito do Rui, ele está bem sério, altivo. Percebo o
homem o convidando para se sentar com eles, mas ele aponta em
minha direção, os olhos da Priscila seguem até a mim, me olham
longamente, disfarço, desvio o olhar, mas a sinto me olhando, me
fuzilando.
Logo vejo o Rui voltando para nossa mesa, dou um sorriso
contido para ele.
– Tudo certo? – pergunto por perguntar, não estou interessada
em saber desses assuntos particulares dele.
– Tudo certo! – Ele me olha, o garçom chega trazendo alguns
pães e antepastos. – O Doutor Albuquerque nos convidou para
sentar com eles, mas não achei uma boa ideia. – Ele sorri divertido.
Olho disfarçadamente para a mesa deles, e a vejo nos olhando.
Ela irá acabar com o nosso almoço, não suporto comer com alguém
me olhando.
– Eles já estão indo embora, estão esperando o café – ele diz e
me pega olhando para ela.
– Tudo bem. – Sorrio novamente.
Logo os vejo levantando e respiro aliviada.
– Temos um compromisso essa semana, Jack! – ele diz entre
uma garfada e outra.
– Sério? Que tipo de compromisso? – Saboreio a comida que ele
pediu.
– Um jantar dos magistrados, daqui a dois dias, é black tie! – Ele
me olha por entre seus cílios longos.
Torço meus lábios, nunca fui a um evento tipo black tie, mas sei
que é chique, que os homens se vestem feito pinguins e as
mulheres como se fossem a casamentos.
– Não sei o que vestir, nunca fui a um lugar desses – falo com
simplicidade, sou simples demais para o mundo do Rui.
– Aquele vestido preto, eu a fiz comprar por causa dessa ocasião
– ele diz com um sorriso no rosto.
– Irei mostrar metade dos meus peitos para seus amigos
magistrados, é isso? – O olho de lado, esse homem quer me matar
de vergonha.
– Jack, você não sabe o quanto ficou linda naquele vestido, não
tem nada de vulgar, é só um decote. Muitas mulheres que
frequentam esse evento vestem roupas muito mais escandalosas do
que seu vestido, acredite em mim, eu não a colocaria numa situação
constrangedora.
Suspiro.
– Vou confiar em você, não vou mentir, não estou acostumada a
ir nesses lugares, sou bem caipirinha, Rui – falo constrangida.
– Isso só te torna mais interessante, sabia?
Dou risada.
– Oh, você é um cavalheiro, gentil, educado, e me faz sentir a
mulher mais linda do mundo – falo emocionada, nunca me senti tão
plena em toda minha vida, ele me faz sentir linda, poderosa, isso é o
máximo.
Ele pega em minha mão que está sobre a mesa, e a leva até
seus lábios, e a beija demoradamente.
– Você é minha deusa, Jack! – ele diz me olhando com seus
olhos penetrantes e lindos.
Sinto um gelado no estômago, uma sensação boa, uma emoção.
– Você é demais. – Sussurro. – Te adoro, Rui!
Ele beija novamente minha mão, fecho os olhos apenas com
isso, ele me leva até as nuvens.
– Vamos acabar de almoçar, quero comprar umas roupas para
você, essas ficarão em minha casa – ele diz depositando minha
mão na mesa.
O olho atônita, ele está renovando todo o meu guarda-roupa,
isso é maravilhoso, mas me sinto mal, como se estivesse
explorando ele.
– Rui, não precisa, amanhã eu trago algumas coisas da minha
casa. – Suplico.
Ele pisca.
– Eu que mando, Senhorita Jackeline. – Ele volta a comer e
desisto, ele não vai me ouvir, ele é bem teimoso.
****

Como eu imaginava, o Rui escolheu uma dessas lojas de grife


feminina para comprar minhas roupas novas.
Praticamente ele escolheu tudo que comprei, porque confesso:
número um, não tenho gosto, e número dois, me sinto mal de
escolher qualquer coisa, como se estivesse assaltando a carteira
dele.
Nunca me vesti tão bem em toda minha vida, e nem com roupas
tão caras, o valor das minhas roupas envergonham meu guarda-
roupa, que é um modelo de 1.940, assim como minha cama, minha
mãe adora coisas provençais (velhas!), então tudo em nossa casa é
antigo como minha avó, e a única coisa que os deixa mais
bonitinhos é que foram pintados de branco.
Tudo bem, mas não vou me fingir de rogada, estou feliz com
minhas roupas novas, e com o cara incrível que conheci, que não
mede esforços para me agradar, nunca fui tão mimada em minha
vida, o que me faz pensar que o Renato me tratava muito mal.
Não, não posso fazer isso, comparar pessoas, isso é feio.
Enquanto o Rui paga as minhas compras, checo meu celular, e
vejo a centésima mensagem do Renato.
Abro a mensagem:
“Jack, acho que já te dei tempo o bastante para você pensar.
Chega desse joguinho, tivemos uma crise em nosso
relacionamento, mas a gente se ama, sempre se amou. Por favor,
esquece a história do Leonardo, eu juro por minha família, não sou
gay, sou homem, gosto de mulher, da minha mulher. Te prometo
que o ano que vem nos casamos, são só seis meses, você já pode
começar a ver as coisas, agora é pra valer. Por favor, me liga, caso
contrário ficarei de plantão em seu apartamento até que você fale
comigo. Te amo.”
Acabo de ler e me assusto ao ver o Rui ao meu lado, lendo a
mensagem.
– Que porra é essa, Jackeline?! Que história é essa de se casar
o ano que vem?! – ele diz com uma expressão tensa no rosto, sua
voz sai mais grossa e mais brava.
Respiro fundo, ele não pode ficar lendo minhas mensagens, não
faço isso com ele.
– Rui, é feio isso que você fez, eu não fico escondida
bisbilhotando suas mensagens! – Guardo o celular na bolsa, mas
ele pega no meu braço.
– Responde essa porra agora! – ele diz com seu olhar estreito e
perigoso.
– Como assim? – falo atônita.
– Responde essa mensagem, fale que não ama mais ele, que
ele é gay sim, e que não tem porra nenhuma de casamento, e que
você está comigo, Rui Figueiredo, e que se ele continuar mandando
mensagens para você, vou mostrar para ele o que um homem de
verdade faz.
Arregalo meus olhos.
– O que você vai fazer com ele? – pergunto preocupada.
– Com certeza não é enfiar meu cacete no rabo dele! Pega essa
merda e responde agora – ele diz irritado.
É, acho melhor eu responder a mensagem, o Rui parece meio
nervoso, talvez ele enfie um cabo de vassoura no rabo do Renato.
Pego o celular, olho para ele meio temerosa, ele não é um ogro,
mas ele é bem possessivo. Isso me excita nele.
Oh, meu Deus, porque acho que tudo me excita nele? A questão
agora é séria!
Não consigo deixar de sorrir, porque minha mente perversa está
sempre pensando sacanagens com o Rui.
– Por que você está rindo, Jackeline? – ele fala bravo.
Abraço seu pescoço num rompante de loucura, e aperto, aperto
muito meus lábios contra os seus, adoro tudo nesse homem.
Ele me afasta, delicadamente.
– Não me enrola, Jack, escreve essa merda, eu quero ver o que
você vai escrever! – Ele gesticula nervoso.
– Eu gosto do seu jeito possessivo! Me excita, sabia? – Olho
para ele de lado, ele ri, balança a cabeça.
– Escreve, Jackeline! – Ele volta a ficar sério.
– Calma, meu celular é meio lentinho! – Abro o contato do
Renato, não quero ser grossa com ele.
Penso um pouco e começo a escrever.
“Renato, não estou fazendo joguinho, acho que agora é para
valer, acabou. Sinto muito, gosto muito de você, sempre serei sua
amiga, quero bem a você, desejo que você seja feliz, encontre seu
caminho, e que ache uma pessoa que te faça bem, feliz e realizado.
Obrigado pelos momentos felizes que passamos juntos. Eu vou
sempre te amar, como amigo, conte sempre comigo.”
Quando vou apertar o botão de enviar o Rui me assusta.
– Não envia, eu quero ler! – Ele pega o celular da minha mão. –
Onde você fala sobre mim aqui? Não estou conseguindo achar. –
Ele franze sua testa. – Essa mensagem não está legal, tem que ser
mais incisiva, parece carta de amor! – Ele vira seu rosto de lado e
me olha enfezado.
– Não achei necessário ficar dando satisfações da minha vida –
respondo irritada. – Não quero atacá-lo com essa história, ele já nos
viu juntos, sabe que estou saindo com você, talvez nos veja
novamente. – Coloco uma mão sobre o rosto do Rui e acaricio. –
Não gosto de magoar as pessoas, tenho carinho por ele, apesar de
tudo que aconteceu, não consigo ser vingativa.
Ele segura minha mão contra seus lábios e a beija
carinhosamente.
– Não marque nada com esse cara, não vá a seu apartamento,
não fique de conversa escondida com ele, não vou aceitar isso! –
ele diz sério.
– Tudo bem. – O olho com firmeza. – Você fará o mesmo por
mim, não ficará com conversa com suas periguetes? Se eu souber
que você saiu com alguém, eu nunca te perdoarei, Rui.
Ele me olha profundamente, parece pensar sobre nossa
conversa, então diz:
– Fique tranquila, Jack, você tem minha palavra. Eu não sou um
moleque. – Ele pega em minha mão e sai andando a passos largos
em direção aos elevadores.
****

É final de tarde, olho no relógio, já passam das 18h, mas não


vou apressar o Rui, ele passou a tarde toda lendo essas porcarias
desses processos.
Urgh, é muita coisa para ler, sinto até náuseas só de pensar, eu
nunca poderia ser uma advogada.
Ele me passou muitas coisas para fazer hoje, então aproveito
enquanto ele não sai de sua sala e termino alguns assuntos
pendentes.
Meu celular vibra sobre a mesa, fecho os olhos, se for o Renato
não posso atendê-lo, o Rui pode sair da sala e isso pode gerar
alguma confusão. O pego para desligar, mas vejo que é a Carol, e
respiro aliviada.
– Oi,Caroleta! – falo animada.
– Oi, Jack! Tudo bem? – ela diz um pouco estranha.
– Tudo e você? Tá meio estranha, Carol!
– Bom, vou logo ao assunto, a jararaca da recepcionista
espalhou para o escritório todo que você é o novo caso do Doutor
Rui. É verdade? Você não iria me contar isso?
Respiro fundo.
– Essa menina é uma cobra venenosa! – falo sem paciência. –
Não sou o novo caso do Doutor Rui, sou sua namorada! – falo feliz,
com um sorriso no rosto.
– Que?! – Sua voz sai estridente. – Desculpa, Jack, mas isso
não faz muito sentido.
– Por quê? Ele disse que somos namorados – falo feito uma
idiota apaixonada.
– Jack, o Doutor Rui é um mulherengo, a única namorada que
ele teve e que recebeu esse título foi a Priscila.
Reviro meus olhos, odeio aquela Priscila, mas isso não vem ao
caso.
– Foda-se, Carol, estamos juntos, não importa o título que você
queira dar. Dormi em sua casa de ontem para hoje, temos saído
sempre, e ele me fez romper definitivamente com o Renato. Acho
que isso significa alguma coisa, não?
– Sei lá, só não quero que você se machuque. Não confio nele,
Jack! – Seu tom é sério. – Toma cuidado para não se machucar, ele
é um homem instável, rico demais, poderoso demais, isso mexe
com o raciocínio da cabeça de cima e de baixo.
Respiro e inspiro, ela me deixou preocupada, mas balanço
minha cabeça e tento não pensar muito sobre isso, não sou
inocente, eu sei quem ele é, embarquei nessa por livre e
espontânea vontade, e se der alguma coisa errada, não foi por falta
de gente me avisando.
– Fique tranquila, estou me divertindo um pouco, Independente
de qualquer coisa, ele é um homem incrível, Carol, me faz feliz, me
faz sentir linda, nunca me senti assim com ninguém.
– Oh, Jack, você está caidinha por ele, espero de coração que
ele não te machuque, porque se isso acontecer, eu o machucarei, e
será fisicamente!
Dou risada, ela é engraçada, parece um irmão bravo.
A porta abre e sinto o cheiro do homem mais perfumado do
mundo.
– Vou desligar, depois nos falamos – digo apressada, e o vejo se
posicionando na minha frente, enorme e desafiador, sua cara não é
boa, ele é ciumento demais. – Beijos, Carol! Boa noite!
Desligo.
Olho para ele sorrindo.
– Era a Carol, mandou um beijo para você! – Brinco.
Ele relaxa suas feições.
– Vamos? – ele diz impaciente.
– Vamos! – digo animada. – Não vejo a hora de te prender ao pé
da cama.
Ele dá uma risada gostosa, e relaxada.
– Sou cachorro para ficar no pé da cama? – ele diz rindo.
– Você já deve ter sido chamado de cachorro por algum caso
ofendido, tipo a Helena! – Pego minha bolsa.
Ele segura em minha mão.
– Não, ninguém me chamou de cachorro, talvez, filho da puta,
desgraçado, e outros nomes mais pesados – ele diz divertido.
Descemos as escadas, a fofoqueira já foi embora, então respiro
aliviada. Logo estamos em seu carro em direção ao seu
apartamento.
Estarei mentindo se disser que não estou um pouco ansiosa,
nunca usei nada mais ousado com namorados, essa será a primeira
vez. Espero que dê tudo certo.
****

Chegamos ao prédio do Rui, e isso sempre me causa um mal-


estar, tenho medo de encontrar o Renato, não quero encontrá-lo.
Descemos de seu carro, ele pega minhas sacolas, e as carrega
para mim, sempre muito cavalheiro, e seguimos para o elevador, e
respiro aliviada quando chegamos ao seu andar.
Um barulho de patinhas e de repente o Bóris aparece, feliz e
radiante.
– Oi, Bóris! – Me agacho para recebê-lo, e ganho muitas
lambidas, é fato, agora ele me ama mais do que ao Rui.
Olho para o Rui, ele está parado incrédulo.
– Perdeu, playboy, o cachorro agora é meu! – Brinco, me
levantando.
– Ei, Bóris, eu também cheguei! Dá para esquecer um pouco a
Jackeline? – ele diz andando atrás de nós, pois o Bóris só pensa em
mim, fazer o que?
O olho por entre meu ombro, e dou risada.
– Perdeu o cachorro! – Brinco de novo, olho para o Bóris. – Cadê
a bolinha, Bóris? Vai pegar! – E ele sai correndo.
– Como você sabe que ele gosta de brincar com a bolinha?! –
ele diz indignado.
– Adoro cachorros, e sei tudo sobre eles, sou psicanalista para
cães – falo fazendo charme.
O Bóris vem correndo com a bolinha, ele é tão fofo, pego de sua
boca e jogo, e lá vai ele, faço isso três vezes.
– Agora chega, né, Bóris! – O Rui pega a bolinha e não devolve.
– Vem, Jack, vamos subir.
– Depois a gente brinca mais, Bóris. Agora preciso prender seu
pai ao pé da cama, vamos nos divertir um pouquinho! – O Rui olha
para mim e dá risada.
Eu o divirto muito, e não é só na cama, o faço rir muito, e adoro
isso, porque ele fica lindo rindo.
Subo com ele para o seu quarto, ele é daqueles que entra
tirando a roupa.
– Rui, é mais romântico se você me deixar tirar sua roupa. –
Faço charme, e começo a desabotoar sua camisa.
– É que você demora muito, Jack, estou com um tesão da porra.
– Ele me agarra pela bunda, apertando contra seu corpo.
Sorrio e vou beijando seu peito, e sentindo seu cheiro gostoso.
– Adoro seu cheiro, Rui – digo inebriada por seu cheiro, que não
é só o perfume, é o seu cheiro mesmo, ele tem um cheiro meio
amadeirado, cheiro de macho mesmo.
Ele esfrega seu nariz em meu pescoço e vai depositando beijos,
suaves, molhados, eu adoro isso.
Passo minhas mãos pela pele de sua barriga, quente, macia e
musculosa.
– Hum, Jack, tira logo essa porra. – Ele segura meus cabelos
entre os dedos de sua mão, e os puxa levemente, fazendo com que
eu dê passagem para sua boca em meu pescoço e minha nuca.
– Não consigo! – Sussurro, e antes que eu possa dizer mais
alguma coisa, ele tira sua camisa, desabotoa sua calça, tira os
sapatos, a boxer e as meias.
O olho atônita, sou tão devagar e ele tão depressa.
Ele abre o blazer que estou vestindo, o zíper da minha saia,
puxa a blusinha linda que ganhei hoje, aliás, estou só com roupas
novas, até o sutiã e a calcinha.
– Minha gostosa! – Ele sussurra ao me ver só de lingeries. – Vou
te deixar assim, eu gosto de te ver de lingerie – ele diz com olhar de
desejo. – Quer tomar banho, Jack?
Ele diz, mas já está me empurrando para a cama.
– Você quem sabe – respondo, gemo, adoro sentir seu corpo
sobre o meu, ele é tão grande, másculo.
Um click e percebo que ele colocou as algemas em mim,
arregalo os olhos.
– Não foi isso o combinado! – falo indignada.
– Não combinei nada, só disse que deixarei você usar essas
algemas em mim. – Ele sorri, e começa a beijar meu pescoço e
desce para os meus seios. – Vamos tirar isso, está me
atrapalhando. – Ele tira o sutiã apressado.
Arqueio meu corpo ao sentir seus lábios sugando meus mamilos,
as mãos presas me agoniam, quero tocá-lo.
Gemo, me contorço de prazer, e sinto algo sobre meus olhos.
– Agora serão só sensações, Jackeline. Você está presa, e sem
ver nada! – ele diz em meu ouvido, roçando seus lábios na minha
pele, me enlouquecendo de desejo.
– Oh, meu Deus, assim eu não vou aguentar! – Minha respiração
sai ofegante.
– Vai sim, minha deusa, eu vou te enlouquecer! – ele diz
selvagem, sua voz sai rouca, sedutora, me fazendo arrepiar até o
último pelo do corpo.
Sua boca vai descendo pelo meu corpo, parece que as
sensações agora são maiores, me sinto ainda mais sensível.
Ele acaricia o meio das minhas coxas e vai subindo até chegar a
minha intimidade, enfia um dedo, gemo alto, dois dedos e ofego de
prazer.
– Geme, Jack! Grita meu nome, Jack! – ele diz com a voz
gutural, em um entra e sai dentro de mim, com beijos e chupadas
por meu corpo todo.
– Ruiii!!! – Gemo alto, enlouquecida de desejo. – Ahhh!!! – Não
estou aguentado, é muita tortura de prazer. – Não para, Ruiii –
Arqueio meus quadris em direção a sua mão, me movimento junto
com ele, e finalmente gozo loucamente. – Ohhh, ohhh, Rui, você é
demais, Rui!!!
E antes que eu possa me recuperar ele me vira de bruços e
enterra seu membro dentro de mim, duro, com força.
– Grita, Jack! – Uma estocada forte, dura e profunda.
– Ahhh! – Grito e gemo.
Outra, e mais outra, e mais outra, e acho que acordei até São
Jorge!
Grudo nos lençóis do jeito que posso, e ele urra ensandecido,
pior do que eu, ainda bem que somos só eu, o Rui e o Bóris. Somos
muito escandalosos.
Ele desaba ao meu lado, não o enxergo e estou presa, isso é
agoniante.
– Foi delicioso, Jack!
– Foi, Rui, meio agonizante esse negócio de não enxergar e não
poder se mover... – Dou risada, e tento tira a venda com minhas
mãos, mas ele a puxa antes.
– Pronto, agora você pode ver seu macho – ele diz divertido. –
Você gostou, Jack? – Ele franze seu cenho.
– Foi muito bom! – Sorrio, ele me coloca novamente na posição
normal, e se posiciona em cima de mim, pesado e grande.
– Eu gostei desse negócio de te amarrar – ele diz sedutor.
– Ah é, e não vai desamarrar nunca mais? – pergunto olhando-o
com um sorriso.
– Acho que não. – Ele se levanta, olha pelo seu ombro e segue
para o banheiro.
– Ruiii! – Grito – Me solta! – falo desesperada.
Ele ri ruidosamente.
– O que eu ganho com isso? – ele diz divertido.
– Como assim? – falo indignada tentando me levantar. – Vou me
vingar de você, Rui! Você ficará uma semana algemado, vou
comprar um chicote.
Ele volta, me deita de novo, invade minha boca com a sua, e me
beija de um jeito que me sinto encharcada.
– Eu quero mais, Jack! – ele diz contra meus lábios, me
penetrando.
Gemo baixo ao senti-lo duro e ereto dentro de mim.
– Eu não vou poder te algemar hoje? – Sussurro.
– Não sei, vou pensar no seu caso!
– Então me fode! Sou toda sua, meu macho gostoso! – Sussurro,
encaixo minhas pernas ao redor de sua cintura e me entrego
novamente a esse homem maravilhoso.
Capítulo 42
PRISCILA ALBUQUERQUE
Eu e meu pai estamos almoçando em um restaurante
sofisticado, dentro do shopping.
Confesso que fui eu que escolhi o local, fica perto do escritório
do Rui, e sugeri este restaurante pensando nele, na possibilidade de
nos encontrarmos.
Já faz mais de uma semana que ele terminou comigo, ando
sensível, abalada emocionalmente. Eu esperava que ele fosse me
procurar, que fossemos nos acertar, mas ele simplesmente me
ignorou como se eu fosse apenas mais uma de suas amantes.
– Vamos pedir um café, querida? – Ouço a voz de meu pai, e
desperto de meu pesadelo pessoal.
– Pode pedir, papai! – O garçom anota nosso pedido e sai, volto
a olhar para o nada e então eu o vejo.
Existem pessoas que tem o poder de iluminar nosso dia, o Rui
sempre foi assim para mim, desde que o conheci, aos meus 16
anos.
Eu era apenas uma menina para ele, temos uma diferença
grande de idade, mas aos meus 16 anos eu já sabia que era com
ele que queria me casar.
Ele nos cumprimenta friamente, distante, apenas um aperto de
mão.
O que fiz para perdê-lo de uma hora para outra? O que
aconteceu?
Meu pai e ele se cumprimentam rapidamente.
– Que prazer te ver, Rui! – Meu pai diz, ele sempre gostou muito
do Rui.
O Rui é aquele tipo de profissional que é referência no que faz,
sua competência, astúcia e percentual de sucesso, o levou a ser
considerado o melhor na área da família, sua especialidade. Mas,
ele é bom em qualquer assunto jurídico, ele é lindo, competente,
rico, e solteiro. O sonho de qualquer mulher e eu o tinha, em três
meses nos casaríamos, mas aí...
– Venha se sentar conosco, Rui! – meu pai diz animado.
Eu tenho pressionado meu pai para usar sua influência com o
Rui, a meu favor, é lógico, mas isso não tem surtido efeito.
– Obrigado, Albuquerque, mas eu estou logo ali! – Ele olha
para uma mesa e então eu a vejo.
Toda mulher tem um sexto sentido, o meu me diz que essa
piranha é a responsável pela mudança de rumo da minha vida.
De noiva do cara mais almejado em meu círculo de amizades,
passei a ser a noiva largada três meses antes do casamento.
Todo o meu ódio e frustração tem nome, e se chama Jackeline, a
secretária piranha do Rui.
Olho para ela e não consigo disfarçar o ódio que sinto por essa
mulher.
Como ele pode me largar por uma mulher desqualificada como
essa?
Vagabunda, deve ter colocado um litro de silicone para ficar
daquele jeito. Ela é horrível, só tem bunda e peito, sou muito melhor
do que ela!
O que ele viu naquela rampeira?
Ele se despede de nós e volta para a mesa, não consigo desviar
meus olhos deles. Eu não acredito que fui trocada por uma
secretária.
– Vamos filha, e, por favor, pare de olhar para aquela mesa. –
Papai se levanta e o sigo em direção a porta.
Sinto um nó no estômago, não consigo me conformar de perdê-
lo. Eu vivi minha adolescência sonhando com esse cara e consegui
conquistá-lo. Como pude perdê-lo a alguns meses de nosso
casamento?
Lágrimas enchem meus olhos.
– Priscila, esqueça o Rui, por favor! – meu pai diz pela centésima
vez.
– Não consigo. – Lágrimas inundam meus olhos. – Eu o amo,
pai, e o quero de volta.
– Dê um tempo a ele, o deixe se divertir um pouco, logo ele verá
que você é a pessoa certa. – Ele me olha com carinho. – Aquela
mulher é só uma distração, você será a esposa.
Sorrio e tento acreditar nisso.
– Vamos resolver isso, por enquanto se acalme. – Me aninho no
peito do meu pai, e tento acreditar no que ele diz.
Saímos do restaurante, e por mais que eu não queira, volto a
olhar para o interior do ambiente através das paredes de vidro do
local.
Os dois se olham como se fossem namorados, ele segura sua
mão e a leva aos seus lábios e a beija.
Sinto uma dor infinita em meu peito.
– Priscila, vamos! – meu pai diz impaciente, e me dou conta que
estou parada no meio do corredor do shopping, olhando para os
dois como uma voyeur masoquista.
– Eu odeio essa mulher, pai! – Rosno, e tenho vontade de entrar
naquele lugar e matá-la. – Ela não vai tirar o Rui de mim.
– Priscila, por favor, tenho compromissos hoje à tarde, acho
melhor você ir para casa, descansar um pouco, você não está bem.
– Sinto o braço de meu pai em minha cintura, ele me puxa em
direção aos elevadores.
– Pai, você precisa me ajudar a acabar com isso, use a parceria
que você tem com ele para fazê-lo reatar comigo. Suborne, use
suas armas, pai, o senhor não é santo, eu sei que você tem como
colocar o Rui contra a parede! – falo insana.
– Priscila, eu não posso usar minha influência para fazer alguém
se casar com você, isso é loucura! – Ele me olha nervoso. – Você
precisa usar suas armas femininas para reconquistá-lo, seja lá o que
essa mulher fez, você pode fazer melhor! Você é linda, inteligente e
sedutora, só precisa deixar de lado esse seu lado infantil e inseguro.
Me solto dele, odeio que falem assim comigo.
– Não sou infantil, muito menos insegura! – Esbravejo.
– Ok, então seja mais mulher, e menos menina, eu sei que você
só tem 23 anos. Essa mulher é mais velha, parece experiente, o Rui
é um homem de 35 anos, ele não é mais um garotão, não adianta
tratá-lo como se ele fosse um de seus antigos namorados.
Penso um pouco sobre isso.
É fato que tenho dificuldades de lidar com o Rui, em todos os
sentidos.
Morro de ciúmes dele.
Acho que não consigo satisfazê-lo sexualmente, ele vivia atrás
de outras mulheres, não vou me enganar.
Ele tem uma energia sexual que não o acompanho, talvez às
vezes também não goste das coisas que ele faça. Que ele nunca
saiba disso, mas sua atitude na cama me assusta, ele é
incandescente sexualmente, às vezes, chego a pensar que sou
frigida, não consigo sentir prazer, chegar ao orgasmo, mesmo que
ele me estimule muito.
Me sentia toda dolorida depois de uma transa com ele, mas ele
queria a noite inteira, eu ficava exausta, ele nunca cansava, parecia
um louco.
Conversei com diversas amigas, elas acham isso o máximo,
acho até que gostariam de me trair só para sair com o Rui, talvez
algumas tenham feito isso. São um bando de vadias, loucas para
dar para o advogado solteiro e rico.
Preciso me abrir com ele, dizer das minhas dificuldades, pedir
paciência para ele, só quero ser amada, talvez se ele fosse mais
gentil!
Talvez eu deva procurar minha ginecologista, pedir conselhos,
sei lá, estou muito confusa.
Capítulo 43
JACKELINE BARTOLLI
Descanso meu rosto sobre o peito do Rui e sorrio, ele me
enganou, e não pude usar a droga das algemas nele.
Mas não me importo, eu vou enganá-lo, e quando ele menos
imaginar, estará algemado.
Me aninho mais ao seu peito, dou beijos e cheiro ele.
Adoro esse homem!
Ele pediu aqueles combinados japoneses para jantarmos, e não
saímos do seu quarto desde que chegamos ao seu apartamento,
transamos, tomamos banho e comemos aqui.
Somos ninfomaníacos, está provado, não vou fugir da realidade.
Talvez eu seja masoquista, ainda não tenho certeza.
Dou risada sozinha de novo.
– O que você tanto ri, Jack? – Levanto meu rosto e o vejo com
uma cara de riso.
– Estava pensando algumas coisas engraçadas. – Me debruço
sobre seu peito. – Com você, algumas ideias que estou tendo. –
Torço meus lábios.
Ele se levanta rindo.
– Quer que eu te leve para sua casa? – ele diz em pé, nu e
glorioso.
Que homem, papai do céu!
– Não quero te incomodar – falo timidamente, fico com dó dele, é
tão longe.
– Você não me incomoda, vou dormir com você. – Ele segue
para seu closet.
Vejo a algema em cima da mesinha ao lado da sua cama, corro
e pego, e coloco junto com minhas coisas.
Dou risada sozinha, parecemos duas crianças.
O sigo até o closet.
– Você vai passar a noite comigo em meu humilde quarto? –
Faço charme, abraçando as suas costas, beijando sua pele.
– Eu gostei muito do seu quarto, ele tem seu cheiro, sua cara... –
ele diz carinhosamente.
– Tenho cara de velha, é isso? Meu quarto é provençal,
provençal na língua dos pobres, é coisa velha e antiga. – Passo
minhas mãos em seu peito peludo.
– Eu acho bonito e esse tipo de móvel é romântico. Você é uma
mulher romântica, estou certo? – Ele me olha sobre seu ombro,
passa uma camiseta por sua cabeça.
Me coloco a sua frente.
– Sou romântica, muito romântica! – O encaro.
– Eu sei disso. – Ele acaricia meu rosto e me olha intensamente.
– Não sou muito romântico, Jack, mas estou me esforçando para
não te decepcionar.
Sorrio feliz, eu já percebi que ele faz coisas que eu gosto,
jantares românticos à luz de velas.
– Você é o máximo, sabia? – Me esgueiro e o beijo suavemente.
– Não precisa dizer, eu já sabia. – Ele ri de sua piadinha, e
ganha uma mordida nos lábios.
– Se veste, Jack, o caminho até sua casa é longo, e ainda
iremos brincar um pouquinho mais de papai e mamãe – ele diz
debochado.
– Vou avisar minha avó que hoje é dia de tomar o calmante. –
Dou risada e saio apressada de seu closet.
Me visto rapidamente, coloco as algemas na parte de trás da
saia, nas minhas costas. Coloco o blazer para disfarçar e dou risada
sozinha.
Se ele pensa que não irei prendê-lo, ele está muito enganado.
– Rindo de novo, Jack? – ele diz descontraído.
– Sou uma pessoa feliz, por isso estou sempre rindo. – Coloco
meu sapato e sigo até ele.
Ele pega uma sacola e sai na minha frente, possivelmente são
suas roupas de trabalho.
É engraçado como ele é grudentinho, e eu adoro isso, adoro
dormir com ele.
Ele é meu ursinho de pelúcia, bem gostoso por sinal.
****

Eu já havia avisado a minha mãe que o Rui viria dormir comigo


essa noite, então não foi surpresa ao chegar e ver que todas as
minhas companheiras de apartamento estavam acordadas.
Chegamos mais ou menos às 23h, bem tarde para o costume
delas.
Enquanto coloco a chave na porta, recebo beijos em meu
pescoço.
Eu já entendi mais ou menos como o Rui funciona, então esses
beijos são os primeiros sinais de que ele quer sexo.
– Rui, se comporta. – Cochicho e abro a porta.
O barulho da televisão ligada denuncia que alguém está
acordada, então entro com o Rui em meu encalço, olho para a sala
e vejo as três assistindo televisão.
Reviro meus olhos.
– Oi, mamãe, oi, vovó, oi, titia! – falo tentando ficar calma diante
da falta de liberdade que tenho.
– Oi, querida! – Minha mãe se levanta e segue até nós. – Boa
noite, Senhor Rui – ela diz sem graça.
– Boa noite, Dona Amélia! Pode me chamar só de Rui, não sou
tão velho assim – ele diz todo sedutor, estendendo sua mão para
ela, em seguida beija o dorso de sua mão, e vejo minha mãe se
derretendo.
Ele segue até a sala onde estão as outras duas anciãs, minha
avó e minha tia.
– Boa noite, Dona Maria! – Ele segura em sua mão e beija, a
deixando com cara de tonta.
– Boa noite, meu filho, faz tanto tempo que um homem não beija
minha mão! – Acho que a vi vermelha.
Olho para minha mãe, e sorrimos uma para outra.
Ele segue até tia Ofélia, e faz o mesmo.
– Boa noite, Dona Ofélia! – ele diz e minha tia se derrete.
Ele lembrou o nome das duas, e isso é muito cavalheiro de sua
parte.
– Espero que as senhoras não se incomodem que eu passe a
noite com a Jackeline – ele diz, caminha até mim e abraça minha
cintura.
Minha avó se levanta e caminha lentamente até nós.
Sinto um frio no estômago, minha avó é muito indiscreta, tenho
medo do que ela vá falar.
– Imagine, fique à vontade, filho, só não façam muito barulho,
tenho um sono muito leve. Da última vez que você esteve aqui
minha noite foi um inferno, que disposição vocês dois tem... – E ela
olha para o teto.
Reviro meus olhos, coloco a mão na boca e pigarreio.
– Vovó, por favor! – falo baixo, mas ela não ouve.
– Hemmm? Fale mais alto, Jackeline! – Reviro meus olhos.
– Nada, vovó... – Seguro a mão do Rui. – Vamos, Rui! – O puxo
levemente.
– Que pressa, Jackeline! Deixe o rapaz conversar um pouco com
suas velhinhas – ela diz e sorri, segura na outra mão do Rui e o
puxa para o sofá.
Oh, meu Deus, isso não irá dar certo.
Ele a segue com um sorriso, parece se divertir com isso.
Ela se senta e o faz sentar ao seu lado, coloca a mão na coxa
dele, e tenho medo, minha vovó anda meio esquisita ultimamente.
– Então, meu filho, quais são as suas intenções com a minha
neta? – Ela diz, e me desespero.
Sigo apressada até eles e me sento ao lado do Rui.
– Vovózinha, está tarde para bater papo, amanhã nos
levantamos muito cedo, deixe isso para outro dia.
– Oh, Jackeline, que falta de educação, sou a mais velha dessa
casa, me respeite, na ausência do seu pai eu preciso cuidar de
você! Imagine que vou deixar alguém se aproveitar da minha
netinha, ela é muito boba, Senhor Rui. – Ela continua falando feito
uma metralhadora. – Aquele moço, o loiro, enganou minha neta por
quatro anos, eu nunca gostei daquele magrelo... – Ela olha para o
Rui seriamente. – Você pretende se casar com minha neta?
Jesus, o que eu faço?!
– Mamãe, está na hora de dormir. – Minha mãe pega na mão da
minha avó e tenta a tirar do sofá.
– Espere, Amélia, ele não me respondeu...
Não sei onde enfiar minha cabeça, minha avó assusta qualquer
pretendente a namorado.
– Vovó, por favor! – Imploro.
– Dona Maria, eu e a Jackeline estamos nos conhecendo, então
falar em casamente ainda é meio cedo, sabe? – O Rui responde
cuidadoso.
– Como assim, vocês já dormiram juntos, já se conhecem muito
bem, meu filho. O que mais você quer saber sobre minha neta? Me
pergunte que eu falo! Ela é uma menina de ouro, dedicada,
trabalhadora, puxou ao pai, não é muito prendada, mas a Amélia dá
um jeito nisso, em um mês essa moça está pronta para se casar –
ela diz levemente irritada.
Me desespero, pego em sua mão e ajudo minha mãe a tirá-la do
sofá.
– Vovozinha, você vai espantar meu namorado, por favor, pare
de falar essas coisas. – Cochicho em seu ouvido.
– Jackeline, deixe de ser boba, esses moços de hoje precisam
de uma prensa, caso contrário ficam nesse lenga-lenga. Quero
saber a data do casamento.
Eu minha mãe arrastamos a velhinha para o quarto dela, sob
reclamações e xingamentos.
– Mãe, dá um calmantezinho para ela, ela está agitada.
– Oh, Jackeline, não traga mais esse rapaz para dormir aqui, é
só confusão.
Faço cara de brava.
– Ele vai dormir aqui quantas vezes forem necessárias, vocês
precisam se acostumar com isso. – Deixo as duas no quarto da
minha avó, sigo para a sala e me arrepio todo ao ver minha tia
conversando com o Rui.
Meu pai eterno, hoje está difícil.
– Vamos, Rui, estou com sono – falo com um sorriso falso no
rosto.
Ele me olha, sorri, segura a mão da minha tia e a beija, vejo ela
suspirar.
– Boa noite, dona Ofélia! – Ele a deixa no sofá, sob o efeito de
enfeitiçamento que ele provoca nas mulheres.
Sorrio para ele.
– Desculpe, minha vovó tá meio. – Giro o dedo indicador ao
redor da cabeça.
Ele ri, me dá um selinho, segura em minha mão e seguimos para
o meu quarto.
Caramba, que confusão.
****

Fecho a porta do meu quarto, quero dizer, apenas encosto,


preciso resolver o problema da fechadura, não dá para ficar
trazendo o Rui aqui e fazermos nossas festinhas de porta aberta.
Olho para ele e dou risada.
– Sua avó é bem direta, objetiva, gostei dela. – Ele ri. – Ela teria
sido uma grande advogada.
O abraço pelo pescoço e deposito muitos beijos em seus lábios,
ele é tão perfeito que até assusta.
Não vou mentir, o Renato passou por isso, mas ele não teve nem
um centímetro do jogo de cintura e delicadeza do Rui, ele foi tão
grosso com elas.
Ele é grosso, um perfeito ogro.
– Obrigada, Rui, pela paciência, elas são idosas, não sabem o
que dizem. – Tento disfarçar.
Ele me olha com um sorriso.
– Sua avó sabe o que está falando, ela quer te casar e pronto! –
Ele me encara com aqueles olhos sedutores.
– Vamos esquecer minhas anciãs, agora quero só pensar em
você, e sem roupa. – Puxo sua camiseta sem maiores cerimônias,
mostrando aquele tórax lindo, e arrancando uma risada gostosa do
meu deus grego.
– Cheia de atitude – ele diz parado a minha frente, apenas
olhando enquanto tiro sua calça, o sapato, e em segundos o meu
deus grego está nu em pelo, do jeito que gosto de vê-lo.
– Não gosto de te ver de roupa. – Sorrio maliciosa.
– Nem eu a você. – Ele tira meu blazer, puxa a blusinha, e
graças a Deus já coloquei as algemas na bolsa, caso contrário ele
as veria agora.
Agora estamos os dois nus, nos beijando loucamente no meio do
meu quarto.
De repente ele me ergue, me coloca em cima de minha
escrivaninha, empurra tudo que está sobre ela, e me penetra.
– Está com pressa, Rui? – Sussurro de olhos fechados.
– Um pouco, gostosa, talvez essa história de casamento tenha
um efeito contrário em mim, ao invés de me brochar, me deixa mais
excitado.
Enlaço sua cintura com minhas pernas, me apoio na mesinha e
enlouquecemos um ao outro.
– Não faz barulho, Jack! – Ele cobre meus lábios com os seus,
famintos, gulosos, me sufocando.
– Hum, Rui... – Tento gemer baixo. – Tô gozando... – Sussurro.
– Eu também, minha deusa! – Ele fecha seus olhos e solta sons
sensuais, baixos e controlados.
Ficamos abraçados durante alguns segundos, apenas ouvindo a
respiração um do outro.
– Te adoro, Rui! – Olho para ele e o beijo cheia de amor, porque
é isso, eu não faço mais sexo com ele, eu faço amor, mas não
posso dizer essa palavra: amor, ela assusta os homens.
– Eu também, Jack! – ele diz, ele nunca fala por conta própria,
não acho que dirá algum dia.
Espanto esses pensamentos da minha cabeça, não quero
estragar o que há entre nós, é bom demais, não preciso de
declarações de amor, ele está aqui comigo, e isso é a maior prova
que ele sente algo por mim.
– Vamos tomar banho? – falo preguiçosa.
– Acho que estou precisando me deitar, tenho feito muito
exercício... – Ele segue para minha cama. – Conheci uma mulher...
– Ele me olha de uma forma engraçada. – Ela é I N S A C I Á V E
L!!! – Ele enfatiza a palavra, arregalando os olhos. – Porra, acho que
desde que a conheci emagreci uns cinco quilos, tá foda! – Ele
despenca em minha cama, fazendo o colchão pular, é de molas.
– Que engraçado, acho que conheci um N I N F O M A N Í A C
O!!! – Faço como ele, enfatizo a palavra e arregalo meus olhos. – O
cara só pensa em sexo! – Reviro meus olhos. – Não sei se perdi
cinco quilos, mulher só perde peso quando pega uma virose, e tem
que ser daquelas bravas! – Deito em cima dele, passando minhas
pernas pelos seus quadris.
Olho de relance para minha bolsa, ela está em minha mesinha
de cabeceira, aberta, e estrategicamente com as algemas à mostra.
Me esgueiro em cima dele, um dos meus braços segue para a
bolsa, tiro as algemas delicadamente, e as deixo sobre a bolsa.
– Estou cansado, Jack! – Ele faz charme, mas já estou sentindo
seu amigo em mastro em minha barriga.
– Eu acho que ele não está! – Olho para minha barriga.
Ele gargalha.
Me inclino em cima dele novamente, deixando meus seios a
disposição para seus lábios, e ele os suga cheio de vontade.
Seguro suas mãos acima de sua cabeça, enquanto ele está
empolgado com meus seios, levo minha mão até minha bolsa e
pego as algemas.
Tenho vontade de rir da minha travessura, mas me seguro.
Sem que ele perceba, e rapidamente, fecho as duas algemas ao
redor do seu pulso.
Ele para o que está fazendo e me encara com os olhos
arregalados.
Tento segurar o riso, a cara que ele fez foi muito engraçada.
– Jackeline, tira esse troço de mim! – Ele parece apavorado com
a ideia de ficar algemado.
Dou uma gargalhada, pareço meio louca.
– Rui, sua cara é impagável, quer que eu tire uma foto sua
algemado? – Ele me olha feio. – Oh, Rui, assim é chato, você só
quer fazer, não quer receber! – Faço um bico.
– Jack, não gosto dessas coisas de algemas, acho que tenho
problemas, medo de ser preso, já fiz umas cagadas em minha vida
profissional – ele diz sério.
– Mas aqui não é profissional, quero dizer, eu sou profissional,
do sexo, e só sua! – falo para ele relaxar, ele ficou tenso, de
verdade, inclusive seu amigo brochou.
Volto a ficar em cima dele, começo a beijar seu pescoço, desço
para seu tórax, mordo seus mamilos, e ele se apavora.
– Não, Jack! Esse negócio, não! – ele diz, mas seu amigo ficou
empolgado.
– Deixa, Rui! – falo melosa, me esfregando toda nele, volto a
lamber seus mamilos e os mordo levemente.
– Oh, puta que pariu! – Ele se contorce. – Está bom, Jack!
– Ainda não, meu gostoso! – Pego a venda na bolsa. – Trouxe
isso. – Sacudo a venda em frente a ele.
– Jackeline, eu vou te matar quando você me soltar. – Ele rosna.
– Não vai, não! – Brinco com ele, coloco a venda e volto a beijá-
lo. – Está gostoso, Rui? – Passeio minhas mãos pelo seu corpo,
massageio seu membro.
– Oh, Jackeline! – Ele engole em seco.
Vou descendo meus lábios pelo seu corpo, beijo cada pedacinho
desse homem, e vejo seus pelos se eriçarem.
Ele se contorce.
– Já está bom, Jack.
– Ainda não, Rui! – Roço meus seios em seus lábios, deixo ele
saborear um pouco, volto a beijá-lo, vou descendo meus lábios por
seu corpo inteiro, envolvo seu membro com minha boca e ele geme.
– Me solta, Jack. – Ele geme, mas não paro, quero levá-lo até o
orgasmo. – Caralho!!! – Ele se contorce, fica tenso, e de repente
sinto o jato, forte e quente. – Porra!!! – Ele grita e arregalo os olhos,
se ninguém acordou agora, foi um milagre.
Seu peito sobe e desce desesperadamente, alguns sons de
prazer ainda saem da sua boca, volto a beijá-lo, e finalmente tiro a
venda de seus olhos.
– Acabou, meu prisioneiro sexual! – Sorrio o olhando piscar
diversas vezes, seus olhos estão incomodados com a luz. –
Gostou?
Ele dá risada.
– Você é louca! – ele diz rindo.
– Tudo bem, eu sei que sou louca, mas foi bom, você gostou da
brincadeirinha? – Insisto.
– Foi, foi bom, uma loucura boa – ele diz incomodado com as
algemas. – Agora, tira essa porra, não gosto disso!
Pego a chavinha na minha bolsa e as tiro.
– Rui, relaxa, é só uma brincadeira, não precisa ficar nervoso!
Ele se senta na cama e esfrega seus pulsos, eles estão
vermelhos.
– Eu não estou nervoso! – Ele tenta sorrir, mas realmente ele
não gosta dessa brincadeirinha.
– Desculpa! – falo ajoelhada na cama, talvez com cara
arrependimento.
Ele me olha com malícia, me agarra pela cintura, grito de susto,
e de repente me vejo embaixo dele.
– É assim que eu gosto! – ele diz poderoso em cima de mim,
segurando meus braços acima de minha cabeça, dominador,
possessivo, mostrando toda sua virilidade.
– Eu também gosto assim, adoro ser dominada por você. –
Sussurro, nossos rostos estão a centímetros de distância, seus
olhos estão cor de chumbo, o seu jeito é meio selvagem.
– O que você quer que eu faça em você? – ele diz com sua voz
grossa, baixa e ameaçadora.
Sinto seu membro roçando minha entrada, ele não se cansa, é
viril e insaciável.
– Me fode, meu homem. – Sussurro contra seus lábios.
– Oh, Jack, você não sabe o que faz comigo! – ele diz com sua
voz gutural.
Então, ele me penetra, e voltamos para nossa terceira rodada
aqui em casa, em meio a muitos beijos, chupadas e mordidas.
Muitos gemidos, sussurros de prazer e finalmente caímos
exaustos.
Mais uma noite incrível, com o cara mais incrível que já conheci.
****

Acordar sentindo beijos por todo o meu corpo, é assim que tem
sido minha rotina.
O Rui pode ser muitas coisas, mas nunca poderei dizer que ele
não é o cara mais carinhoso do mundo, o mais atencioso, às vezes,
o acho romântico também.
Ele é o sonho de qualquer mulher.
Talvez ele ainda vá mostrar seu lado negro para mim, mas por
enquanto, eu só tenho conhecido um lado, e esse lado parece
compensar todos os outros.
Ele é incrível, nunca conheci alguém que me fizesse sentir tão
feliz.
Eu não sei ao certo o que ele sente por mim, mas o que fazemos
tem sentimento, não é só sexo, eu tenho certeza.
– A gente fez muito barulho, Rui? – Cochicho em seu ouvido, ao
mesmo tempo em que dou beijos em seu rosto, orelha.
– Provavelmente! – Ele ri, enquanto acaricia minhas costas e
meus cabelos. – Vamos nos levantar, gostosa, tenho muitas coisas
pra fazer hoje, não posso namorar o dia todo. – Olho para ele
lânguida, apaixonada, ele beija minha testa.
– É uma pena, mas você tem razão. – Me apoio em seu peito. –
Nossa noite foi maravilhosa, adoro quando você dorme aqui, é tão
emocionante! – Sorrio, porque acho que sou uma menina grande e
travessa.
– Você gosta de emoções, Jack? – Ele me olha enigmático. –
Vou ver o que consigo fazer a respeito disso. – Ele bate em meu
bumbum e se levanta.
– Ai, Rui, assim não gosto, quero a massagem! – Faço cara feia,
vendo o vergão vermelho que ele deixou.
– Não posso, minha delícia, eu não vou resistir a você, e aí
vamos começar tudo de novo, e só vamos chegar amanhã no
escritório. – Ele sorri e segue para o meu banheirinho. – Jack, é hoje
o evento, não se esqueça de levar o seu vestido, sapato, essas
coisas, você se arruma em meu apartamento – ele grita do
banheiro.
Olho para o teto insegura, mas espanto minhas inseguranças,
vai ser legal, tenho certeza disso.
Capítulo 44
JACKELINE BARTOLLI
Coloco meu vestido preto em uma sacola, assim como uma
sandália preta alta, com alguns strass em suas tiras.
Escolho algumas lingeries, maquiagens, perfume e acessórios.
Enquanto estou no quarto, o Rui está tomando café da manhã
com minha mãe.
Sorrio, as coisas entre nós estão indo tão bem que dá até medo,
mas sempre me lembro do que aconteceu em sua casa no interior,
seu ataque de nervos quando falamos sobre relacionamento, as
coisas que ele disse, enfim, não posso me esquecer disso.
Sigo para a sala, minha mãe conversa animada com ele, parece
tão à vontade, ele é um doce com ela, perfeito.
Suspiro e adentro a sala.
– Podemos ir? – Paro ao seu lado, ele me olha com um sorriso.
– Temos que ir, Dona Amélia, obrigado pelo café da manhã – ele
diz simpático, se levanta e segura minha mão.
– Imagine, pode vir quando quiser! Aliás, estou devendo a você
um bacalhau! – Minha mãe diz animada e me olha. – Combine com
ele, Jack, talvez no final de semana, o que você acha, Rui? – Ela o
olha ansiosa.
– Pode ser...
O interrompo.
– Eu combino com o Rui, mãe, e depois te falo. – Beijo sua testa.
– A gente precisa ir, bom dia!
Saímos rapidamente, entramos no elevador, ele segura meu
rosto e beija meus lábios carinhosamente.
– Pode combinar com ela, Jack. Eu não me incomodo de vir
almoçar com elas – ele diz carinhosamente.
Meu coração infla, estamos indo tão depressa com tudo, e mal
sei onde iremos parar.
Me sinto-me em queda livre, sem onde me segurar, sem destino,
tempo ou distância, apenas caindo.
– Obrigada, Rui, pelo carinho com elas – falo sentimental, acho
que estou entrando em minha TPM, comecei com aquele
sentimentalismo exacerbado, vontade de chorar por nada, a
segunda parte disso são meus nervos à flor da pele.
Ele beija minha testa, me abraça e o elevador abre.
Seguimos para o seu carro e logo estamos indo em direção ao
escritório.
****

Ele para seu carro na garagem do escritório, em sua vaga


particular, mas já vejo muitos carros estacionados.
O prédio foi projetado de modo a ter um estacionamento na parte
de trás, mas sua vaga fica logo na entrada.
Deixo minha sacola no banco de trás, saio do carro, ajeito a
camisa preta de seda dentro da calça tipo pantalona.
Me sinto tão elegante, nem pareço a mesma Jackeline, estou
chique demais.
Desperto dos meus pensamentos com um beijo na minha nuca,
olho de lado e vejo aquele sorriso.
– Vamos, você está linda hoje! Quero dizer, você está sempre
linda.
Sorrio feito uma adolescente apaixonada, completamente
derretida.
– Você também está lindo! – digo sorrindo.
Ele pega em minha mão e seguimos para o escritório.
A Karen olha para nós dois com aquele seu olhar felino, cheio de
inveja.
– Bom dia, Karen! – O Rui diz displicente, me puxando com ele
para as escadas.
– Bom dia, Doutor Rui! – Ela me olha de canto de olho e sinto
arrepios, talvez deva andar com um alho na bolsa, para tirar a
mandiga que essa garota está colocando em mim.
– Bom dia, Karen! – falo rapidamente, mas não dou muita
atenção a ela.
Chegamos a minha sala, ele me dá um beijo e me olha
intensamente, daquele jeito que sinto palpitações no coração.
– Tenho que finalizar a análise daquele processo, não deixe
ninguém me atrapalhar. – Ele acaricia meu rosto, me deixando
lânguida e apaixonada. – Só você pode me atrapalhar. – Ele sorri
malicioso, me dá mais um beijo, e tenho uma vontade louca de tirar
sua roupa e grudar em seu pescoço.
Mas não posso, fizemos bastante sexo ontem e hoje pela
manhã, acho que está bom, Jackeline ninfomaníaca.
– Preciso ganhar essa porra, caso contrário o filho da puta do
Albuquerque terá mais um motivo para me sacanear.
Sorrio para ele compreensiva, ele parece preocupado
ultimamente, talvez seja essa sociedade com seu ex-sogro.
– Quer que eu arrume sua sala? – falo meio mole, acariciando
seus cabelos da nuca.
– Pede um café para nós dois, depois você arruma. – Ele beija
meus lábios suavemente, e segue para sua sala.
Ajeito minhas coisas, ligo para a copeira e peço para ela trazer
os cafés.
Entro em sua sala, ele tira seus óculos, me olha e sorri.
– Vem aqui, Jack – ele diz virando sua cadeira de lado. – No
meu colo – ele diz sedutor, e eu me derreto.
– Sem sacanagens, chefe, você tem muito trabalho hoje. – Me
sento em seu colo.
– Quem falou que estou pensando em sacanagens? – ele diz
com um sorriso travesso, pega sua xícara e beberica seu café.
– Eu conheço todas as suas caras, você não me engana mais. –
Pego minha xícara e bebo meu café, numa cena muito interessante.
Onde já se viu a secretária se sentar no colo do chefe para tomar
café!
– Gostei desse novo jeito de tomar café! – ele diz malicioso.
Termino meu café e dou um beijinho rápido em seus lábios.
– Vou abrir suas persianas. – Me levanto e sigo para as janelas.
– Você pode voltar a trabalhar, não precisa ficar olhando a bunda da
secretária – falo sarcástica, o vendo admirando meu traseiro
descaradamente.
– Não canso de olhar a bunda da secretária, ela é muito gostosa
– ele diz com sua cara de tarado.
– Rui, não podemos, se lembre do processo milionário e do
Doutor Albuquerque. – Sigo para a porta. – Acho melhor eu ir para
minha sala, meu chefe é muito tarado – falo divertida, paro na porta
e mando beijos para ele, que me olha e sorri.
Fecho a porta e inspiro com força.
– Estou completamente apaixonada por ele, e verdadeiramente
fodida. – Balanço minha cabeça e tento esquecer esse probleminha
que criei para mim mesma.
****

A manhã passou rapidamente, o Rui me passou tantas coisas


para fazer que agora mal respiro.
Mas, tudo bem, estou gostando muito disso, adoro trabalhar para
ele, especialmente para ele.
Sorrio ao ver ele me chamando pelo ramal interno.
– Pois não, chefinho? – falo brincando.
– Vamos almoçar, secretária gostosa? – ele diz com sua voz
ensopa calcinhas.
– Será um prazer chefinho! E onde almoçaremos, em sua sala?
– pergunto.
– Como você sabe? – ele diz descontraído.
– Já sei tudo sobre meu chefe. – Brinco.
– Quase tudo – ele responde.
– Verdade, quase tudo. Mas você também não sabe tudo sobre
mim, então estamos quites. – O provoco, não posso deixá-lo
totalmente seguro sobre mim, essa é minha tática.
– Ah, é? – Sinto uma mudança no seu tom de voz, como eu
esperava, no fundo ele é bem previsível.
– É, chefinho, tenho muitos segredos. – O provoco novamente. –
Mas, então, o que você quer comer? – Disfarço, fazendo um jogo
que também sei jogar, ele pode ser bem experiente na sedução,
mas não sou uma garotinha inocente, sei como o deixar inseguro.
– Você! – ele diz enfático.
Dou risada.
– Eu perguntei qual o prato que você quer comer! – falo rindo.
– Você nua em cima da minha mesa – ele diz sério, me
provocando aquele friozinho no pé da barriga.
– Rui... – começo a dizer, mas ele me interrompe.
– Pede os pratos, e enquanto esperamos, você mata minha fome
de você. – Sua voz sai baixa, sensual. – Vem, Jack, estou te
esperando.
Desligo o telefone, pego o cardápio em minha mesa e ligo para o
restaurante, peço seu prato predileto e uma salada para mim.
Sigo para sua sala, e assim que abro a porta, ele se levanta de
sua mesa.
– Tranca a porta, Jack. – Ele segue em minha direção. – Quais
são os seus segredos? – Ele segura meus cabelos, daquele jeito
possessivo.
– Se eu te contar não serão mais segredos! – falo provocativa.
Ele beija meu pescoço.
– Você não pode ter segredos comigo. – Ele me olha
intensamente, um pequeno vinco se forma entre seus olhos.
– E você pode ter comigo? – Sussurro, passeando meus dedos
entre seus cabelos.
– Eu não tenho segredos – ele diz, mas percebo que ele não foi
sincero.
– Eu também não. – Faço seu jogo, ficamos nos encarando.
– Você é terrível, Jackeline. – Ele balança sua cabeça. – Sabe
como enlouquecer um homem. – Ele invade minha boca, faminto,
urgente. – Quero você nua, Jack – ele diz em meios aos nossos
beijos.
Desabotoo minha camisa, abro a calça que cai aos meus pés,
ficando apenas de lingerie e sandálias altas.
Ele abre meu sutiã, o joga sobre a mesa, depois a calcinha.
– Tira sua camisa, Rui – falo em meio aos nossos beijos.
Ele a desabotoa com pressa, em segundos ele a joga sobre uma
cadeira, me levanta sobre sua mesa de reuniões, abre sua braguilha
e sem maiores cerimônias me penetra.
– Você é feiticeira, Jack? – ele diz me encarando cheio de
desejo, se movimentando deliciosamente. – O que você fez comigo,
feitiçaria? – Ele puxa meus cabelos, me fazendo arquear meus
seios, dando acesso aos seus lábios.
– Sou feiticeira, Rui – respondo sensualmente, entregue às suas
carícias. – Isso... – Gemo de prazer. – Ai, Rui. – Reclamo diante de
uma mordida em meu pescoço, depois um beijo, mais carícias de
sua língua deliciosa em meus seios.
– Jack, eu não vou aguentar, eu vou gozar! – Ele geme alto,
puxo seus cabelos e beijo-o apaixonada.
Ele volta de sua viagem e me olha.
– Eu não te fiz gozar, não é mesmo? – ele diz meio sem graça.
– Eu adoro fazer a... sexo com você, não necessariamente
preciso gozar todas as vezes, apesar que você me faz gozar a
maioria delas. – O olho nos olhos, não estou mentindo.
– Mas eu quero que seja bom para você também.
– Mas foi ótimo, Rui... – Puxo sua cabeça em direção a minha,
olho para seus lábios. – Eu adoro tudo que envolve você, você me
faz feliz, plena. – Olho nos seus olhos, sinto uma inquietação no
meu peito, é o amor pulsando, uma vontade louca de me declarar
para ele. Mas antes que eu fale, ele me beija, intenso, de um jeito
delicioso, sinto o friozinho na barriga, a adrenalina correndo feito
louca em minhas veias.
– Você é maravilhosa, Jack! – ele diz me encarando, sinto um
gelado no peito.
Nos olhamos intensamente, mas o telefone toca, ele desvia seus
olhos dos meus.
– Eu vou atender.
– Tudo bem. – Desço de sua mesa e pego minhas roupas.
– É o nosso almoço. Se troca no banheiro, a Karen está subindo.
****

Termino de escrever um último e-mail, olho no relógio e vejo que


já são 19h, o dia voou, estou cansada, queria ir embora e ficar o
resto da noite deitada com o Rui, não fazer nada, apenas ficar o
beijando a noite inteira.
A porta abre, o olho surpresa e o vejo com seu terno, sua pasta,
e um sorriso de comercial de creme dental.
– Vamos, Jack? – ele diz animado. – Terminei de analisar aquela
porra! Agora é só esperar a audiência... – Ele pisca. – Já ganhei!
Sorrio com seu jeito, ele é tão confiante, absoluto no que faz,
competente, me sinto fascinada com seu jeito, gostaria de ser
segura assim. Como será que se consegue essa autoconfiança? –
Meu chefe me fez trabalhar muito hoje, estou muito cansada. – Faço
charme, desligando meu computador.
– Vou te dar um aumento – ele diz com um sorriso.
– Eu já tenho um salário maravilhoso, e também eu ainda nem
recebi meu primeiro salário, como posso ter aumento? – falo
indignada.
– O pagamento é amanhã, Jack! – ele diz andando na minha
frente.
– Ai, que dia maravilhoso, adoro dia de pagamento! – digo feliz,
não vejo a hora de pagar minhas dívidas, e acho que ficarei sem
dinheiro novamente, mas tudo bem, irei me controlar e no mês que
vem estará tudo certo.
Ele sorri, parece se divertir com minha felicidade, ele não sabe o
que é ser assalariado, deve ser muito bom ser o patrão.
O sigo em direção às escadas, e já começo a sentir certo
nervosismo ao pensar nessa tal festa que iremos.
Ok, é só uma festa. Se acalma, Jack – falo para mim mesma.
****

Chegamos ao seu apartamento, brinco um pouco com o Bóris e


em seguida sigo o Rui em direção ao seu quarto.
– Eu vou tomar banho, Jack. – Ele me olha de lado.
– Eu já vou, só preciso colocar meu vestido em seu armário,
para não amassar. – Pego o cabide com o vestido e entro em
seu closet.
É estranho ver um pequeno espaço do seu armário com roupas
minhas.
Aos poucos tenho invadido sua vida, sua casa, durmo mais aqui
do que em minha casa, e agora invadi seu guarda-roupa.
Nada disso foi premeditado, na verdade ele próprio tem feito com
que as coisas aconteçam dessa forma.
– JACK!– Ele berra do banheiro, me apresso em pendurar meu
vestido, e deixo minha sacola em um canto da parede.
Tiro minha roupa, deixo tudo sobre uma poltrona e sigo para o
banheiro.
Entro no box, abraço suas costas e beijo.
– Tá apressadinho, Rui? – Cochicho no seu ouvido, acariciando
seu tórax.
Ele ri.
– Você precisa dar banho em seu homem, Jack! – ele diz
manhoso, me levando a pensar que ele está muito mal acostumado.
– Rui, você está muito manhoso, sabia? – Coloco shampoo em
minha mão e massageio seus cabelos.
– Faz massagem em minhas costas, Jack, igual aquele dia – ele
diz de olhos fechados, bem dengoso.
Me posiciono em suas costas, passo sabonete líquido em sua
pele e aproveito para massagear seus músculos.
– Assim, Rui? – pergunto massageando seu pescoço.
– Isso, Jack, continua. – Ele espalma suas mãos na parede,
enquanto massageio suas costas. – Tá bom, caso contrário, não
conseguirei ir a lugar nenhum além da minha cama.
– Eu vou tomar banho, Rui! – Coloco seu shampoo em minhas
mãos e massageio meus cabelos, mas logo sinto suas mãos
deslizando pelo meu corpo.
Sorrio.
– Rui, me deixa tomar banho. – Resmungo sentindo seus lábios
em meu pescoço.
– Não dá, Jack, eu não resisto a esse corpo, você é muito
gostosa! – Ele aperta meus seios entre suas mãos.
– Ai, Rui! – Gemo de prazer.
– Você quer fazer amor aqui ou na cama? – ele diz mordiscando
minha orelha, mas o que realmente me chamou a atenção foi a
palavrinha que ele disse.
Abro meus olhos e o encaro.
– Eu quero fazer amor com você em sua cama – respondo.
Ele me olha com um sorriso.
– Seu pedido é uma ordem, minha deusa. – Ele me enrola em
uma toalha, me pega em seu colo, e sai me carregando para o
quarto.
– O que vamos usar hoje, Jack? Talvez o vibrador? – ele diz com
seu corpo sobre o meu, e um sorriso travesso no rosto.
Dou risada.
– Ah, Rui, vamos do jeito convencional hoje!
– Você não está curiosa para experimentar aquele troço? – ele
diz animado.
– Hoje não! – Beijo seus lábios delicadamente. – Hoje eu quero
só papai com mamãe, estou cansada, na TPM.
Ele beija meu pescoço.
– Está desanimada, Jack? – Mais beijos, descendo pelo meu
corpo.
– Não, mas eu fico mais sensível nesses dias, Rui – falo
manhosa. – Preciso de muito carinho.
Ele volta a me beijar.
– Eu vou te dar muito carinho, minha oncinha! – ele diz divertido,
e eu gargalho.
– Eu estou falando sério, Rui – falo lânguida e manhosa.
– Eu também estou falando sério. – Ele desce seus beijos no
meio das minhas coxas, roçando seus lábios em minha pele
sensível. – Eu adoro seu cheiro, Jack. – Ele me cheira. – E seu
gosto... – Ele passa sua língua macia em meu sexo, arqueio meu
corpo de desejo, esfrego-me nele.
Sua boca desliza em minha intimidade de uma forma deliciosa,
me incendiando por dentro.
– Ahhh, Rui!!! – Gemo alto, chegando ao orgasmo. – Ooohhh,
hummm. – Puxo seus cabelos, louca de paixão.
De repente, o vejo por cima de mim, ele me preenche com seu
membro.
– Você gosta assim, Jack? – Ele me encara enquanto se move
sensualmente em cima de mim.
– Adoro, Rui. – O puxo para um beijo.
– Você gosta de papai e mamãe, Jack? – ele diz sorrindo.
Oh, porque ele pergunta tanto? Eu não quero conversar, só
quero seus beijos.
– Eu não quero conversar, Rui, quero que você me foda!
– Porra, Jack, estou tentando ser atencioso, romântico! – ele diz
fingindo estar magoado.
– Eu gosto de ser beijada durante o sexo. Me beija, Rui, bem
gostoso.
– Assim, Jack? – Ele pergunta no meio dos meus lábios.
– Isso. – Abraço seu pescoço e o beijo com vontade.
– Oh, Jack! Eu vou gozar, minha gostosa! – Ele geme calmo,
nem parece o Rui que conheço. – Hummm, Jack!!!
Ele está de olhos fechados e o observo, sua expressão é de
entrega e de puro prazer.
Foi delicioso, calmo, carinhoso, de um jeito diferente, aliás, tenho
experimentado com o Rui diferentes formas de se amar.
Adoro todas, sem exceção, mas gosto de vê-lo desse jeito, ele
parece tão conectado comigo.
Ele abre seus olhos, cinzas como uma tempestade.
– Foi delicioso, Rui. – Acaricio seu rosto másculo.
– Foi sim. – Ele me encara. – Você gosta assim? – Ele sorri.
– Gosto de todos os jeitos. Adoro você, Rui! – Beijo seus lábios
apaixonadamente.
Ele se afasta.
– Vamos nos arrumar, eu sei que você está cansada, mas eu
realmente preciso ir nessa merda, é importante... – O Interrompo.
– Eu sei e eu quero ir, quero saber o que é uma festa black tie –
falo fazendo caras e bocas.
Ele levanta sorrindo e me puxa da cama.
– Vamos nos trocar então...
****

Estou ainda enrolada na toalha de banho, fazendo minha


maquiagem e arrumando meu cabelo, quando vejo meu deus grego
aparecer no banheiro.
Sorrio enfeitiçada.
Ele está demais, se é que isso é possível, eu o acho o cara mais
lindo do mundo, e parece que quanto mais gosto dele, mais lindo ele
fica.
– Você está lindo, Rui! – falo abobada.
Ele me abraça pelas costas, enche meu pescoço de beijos.
– Fica bem linda para mim, vou te esperar lá embaixo. – Apenas
suspiro de amor.
Eu adoro vê-lo de terno e gravata, e de smoking então, ele está
só mais irresistível.
Inspiro profundamente.
Ok, preciso ficar à altura desse homem, nada menos do que
linda. – Penso preocupada.
****
Ajeito o coque que fiz em meu cabelo, usei um gel do Rui para
manter os fios comportados, checo se a maquiagem não está
borrada.
Deixei meus olhos bem maquiados, um batom vermelho, só para
não perder o costume, coloco um par de brincos bonitos para
valorizar o penteado e finalmente coloco o vestido.
Me olho no espelho de seu closet, de frente, de lado, e
finalmente, de costas.
Não posso negar que estou bonita, elegante, mas o decote me
deixa muito sensual.
Confesso que sou tímida, não na intimidade, aliás, não sou nem
um pouco tímida na intimidade, mas sou tímida com meu corpo, não
gosto de expor minhas curvas, nunca gostei.
Sempre vesti camisas e blusas largas, odiava ver os olhos dos
homens sobre meus seios, meu bumbum, não gosto de chamar a
atenção.
Na verdade, gosto de me expor, de seduzir e usar meu corpo,
mas apenas com os homens que me relaciono. Eu adoro ver o que
faço com o Rui, o que meu corpo provoca nele, e por isso estou me
vestindo desse jeito chamativo, quero agradá-lo, somente a ele.
Tento ajeitar o decote indecente do vestido, apenas para não
expor muito meus seios, mas é impossível, então o vejo no espelho.
– Demorei muito? – Seguro na lapela de seu smoking.
Ele beija meu pescoço, me fazendo sentir uma fornalha dentro
de mim.
– Não, você não demorou, eu esperaria minha vida inteira por
você – ele diz no meu ouvido, me arrepiando, e me causando uma
felicidade que vai além de mim.
Sorrio apaixonada, de olhos fechados, sentindo seus lábios me
beijando o pescoço, o rosto, suas mãos roçando meus seios através
do decote.
– Oh, Rui, não faça isso! – reclamo, já me sinto molhada.
– Você está demais, Jack! – Agora suas mãos invadiram o
decote, brincam com meus mamilos.
Ele me vira de costas, beija minhas costas, acaricia meu
bumbum, desce mais um pouco e encontra meu sexo encharcado,
pronto para ele.
Ouço barulho de cinto, zíper, e como eu imaginava, ele me
invade.
Me inclino sobre o móvel a minha frente e me entrego.
– Ruiii!!! – Gemo alto, a sensação deliciosa de prazer chegando.
– Oh, Jack!!! – Ele geme e goza. – Você é demais, Jack! – Ele
beija minhas costas.
Alguns minutos de loucura e ele volta à terra.
– Você está linda, Jack! – ele diz no meu ouvido, me fazendo
sorrir. – Podemos ir?
Sorrio e olho para ele. Que loucura de homem, Senhor!
– Podemos! – respondo. – Tem certeza que não estou muito
escandalosa?
Ele vira seu rosto de lado, me olha demoradamente, e então
volta a olhar para meu rosto.
– Não, você está linda! – Ele segura minha cintura. – Não quero
nenhum homem perto de você, você ficará o tempo todo ao meu
lado.
– Claro, eu não pretendo fazer amigos, muito menos ficar longe
de você! – falo com ironia.
– Então vamos, minha deusa. – Ele beija minha testa, num gesto
tão carinhoso.
Pego minha bolsinha de mão e o acompanho em direção à porta.
Entramos no elevador, abraço sua cintura e repouso meu rosto
em seu peito. Seus braços me envolvem, me sinto tão protegida ao
lado dele.
Logo estamos em seu carro, me sento ao seu lado e o recorte
transpassado do vestido da cintura para baixo abre, expondo boa
parte das minhas pernas.
Ele passa suas mãos por toda a extensão das minhas coxas.
– Toma cuidado quando se sentar, Jack, não quero que ninguém
veja a calcinha da minha mulher. – Sorrio do seu jeito.
Adoro quando ele me chama de “minha mulher”.
– Tudo bem, meu macho – respondo divertida, o fazendo rir.
Seguimos para o lugar da festa num clima delicioso, ele me
conta um pouco sobre esse encontro que acontece todos os anos, é
uma confraternização de juízes, procuradores, os melhores
advogados do país, só tem gente poderosa, foi isso que entendi.
– Sua ex-noiva estará lá? – pergunto desviando meus olhos
dele.
– Talvez sim, o pai dela é um ex-juiz aposentado, ele é muito
influente, e apesar de aposentado, continua bastante atuante – ele
diz sério.
– Por mim, tudo bem. Só perguntei por curiosidade. – Seguro
minhas mãos no colo.
– Eu resolvi aquelas pendências com ela, na verdade com o pai
dela, entrei em contato com a empresa que contratamos para cuidar
dos preparativos do casamento, pedi para cancelar tudo, enfim...
Está tudo resolvido. – Ele me olha de lado. – Eu que havia pagado
tudo, a família dela não teve nenhum prejuízo, só eu que me fodi
com tudo isso.
O olho de lado, ele também me olha.
– Melhor assim, né Rui? – Confesso que fiquei feliz em saber
que ele não irá se casar mais com aquela loira metida a besta.
– Muito melhor! – Ele sorri, e não consigo deixar de sorrir para
ele. – Agora sou só seu, Jackeline.
Sorrio surpresa, confusa, eu não o entendo muito bem, nunca sei
o que ele quer dizer com o que diz, mas é bom ouvir que ele agora é
só meu, independente do que isso signifique.
– Só meu, e costumo ser muito violenta quando isso não
acontece – falo em tom de brincadeira.
– Estou com medo dessa italiana, espero não provocá-la – ele
diz divertido.
Finalmente chegamos ao local do evento, e como eu imaginava,
o lugar é estupidamente lindo.
Dois manobristas abrem as portas para nós, um deles segura em
minha mão e me tira do carro.
Sorrio divertida com a cena, acho tudo tão forçado.
Olho para o Rui e o vejo rindo de mim.
Ele pega em mim mão.
– Vem, minha deusa. – Ele beija minha testa novamente, e eu
adoro isso, adoro seus beijos de língua, mas esse beijo que ele me
dá na testa é tão carinhoso.
Seguimos para o interior do local, solto a respiração
vagarosamente, o lugar é muito luxuoso, os lustres que caem do
teto parecem saídos de um filme antigo, milhares de cristais
imensos e escandalosamente lindos.
Centenas de mesas estão espalhadas pelo local, castiçais e
velas acesas dão um clima mágico ao local. As mesas estão
preparadas para o jantar, mas a maioria das pessoas estão em pé,
circulando pela área livre do salão.
Garçons vestidos elegantemente servem bebidas borbulhantes
em taças finas e longas.
– O que você está achando? – Ele cochicha em meu ouvido.
– Que isso é muito chique para meu gosto. – Faço uma careta,
ele me olha e ri.
Continuamos caminhando entre as pessoas bem vestidas,
glamorosas, chiquérrimas. Percebo muitos olhares sobre nós, e não
sei dizer se tem a ver comigo, com ele, ou com nós dois juntos.
Logo os primeiros conhecidos começam a aparecer.
Um homem aparentando a idade do Rui o abraça, ele me olha
longamente, sorri e estende sua mão para mim.
– Prazer, sou o Carlos, amigo desse cara, nos formamos juntos
na faculdade – ele diz simpático.
Estendo minha mão para ele.
– Prazer, Carlos! Sou a Jackeline. – O Rui me abraça pelas
costas.
– Jackeline! – Ele balança a cabeça, parece pensar. – Você é a
secretária do Rui, é isso? – Ele olha para o Rui rapidamente, volta a
olhar para mim.
Olho para o Rui de soslaio, nem conversei com ele sobre isso, o
que posso dizer sobre nós?
– É... – respondo insegura.
– Isso, Carlão, a Jack é minha secretária, e namorada!
O cara dá uma risada escrachada.
Olho de lado para o Rui e franzo minha testa.
– Ele é assim mesmo, Jack, não liga. – O Rui cochicha em meu
ouvido.
Ele para de rir, tenta se recompor.
– Desculpe, Jackeline. – Ele disfarça. – Então, Rui, como estão
as coisas? – Ele beberica sua bebida e olha disfarçadamente para
meu decote.
– Tudo certo, Carlão, trabalhando muito. – O Rui pega uma taça
de espumante, dá um gole e entrega para mim.
– Certo. – O cara parece meio sem graça. – Bom, vou dar uma
volta, ver se acho os amigos, depois conversamos. – Ele balança a
cabeça em minha direção, olha novamente para o meu decote e sai
andando.
– Bem estranho seu amigo. – As palavras saem da minha boca
antes que eu possa processar.
– É que você deixa os homens meio tontos, minha deusa! – Ele
sussurra em meu ouvido, beija minha orelha, me vira de frente para
ele, beija suavemente meus lábios. – Vamos circular um pouco.
Voltamos a caminhar, o Rui cumprimenta muitos homens, a
maioria são homens, acompanhados, é claro, mas o ambiente é
masculino, as mulheres são apenas um adereço, algo para enfeitar,
não vi uma mulher que aparentasse ser uma juíza, promotora ou
advogada.
– Aqui é tipo um clube dos bolinhas, Rui? As magistradas não
são convidadas? – falo baixo, estamos parados em um canto.
– Não, existem muitas magistradas aqui. Você quer conhecer
alguma? – Ele me olha seriamente.
– Não, não acho que elas queiram me conhecer, mas é que você
só cumprimenta homens, as mulheres não parecem ter muito
espaço nesse ambiente.
– Vou te apresentar para uma juíza! – Ele me puxa, mas
estanco.
– Não, eu não quero conhecer ninguém, era só uma observação,
Rui! – Sussurro, o encarando.
– Tudo bem, fique calma, vamos andar um pouco, não precisa
ficar em pânico, Jack! – Ele me olha seriamente.
Puxo o ar, estou parecendo um rato assustado, preciso relaxar,
bebo um pouco do espumante, preciso de álcool no sangue, esse
lugar me causa calafrios.
Vejo uma roda de pessoas, homens, mulheres, e percebo que o
Rui está indo naquela direção.
Ok, Jackeline, você está acompanhando o cara, seja simpática,
agradável!
Respiro fundo, tomo o último gole de espumante e entrego a
taça para o primeiro garçom que aparece em minha frente.
As pessoas da rodinha o veem, ele parece uma celebridade, é
bem conhecido, logo ouço as pessoas dizendo: “Olha o filho do
Figueiredo, aí!”.
Ah, claro, seu pai é advogado, deve ser conhecido também. –
Penso.
As pessoas o abraçam, e ele fica tão lindo sorrindo, estou
babando nele, preciso me recompor.
– Essa aqui é minha namorada Jackeline! – Ele diz para um
homem.
– Prazer... – Ele estende sua mão para mim. – Que linda jovem,
Rui! – O homem diz.
Então, ele me apresenta para mais um senhor, e outro, e outro, e
não aguento mais conhecer pessoas, não me lembro do nome de
mais ninguém.
– Jack, essa é Doutora Angélica... - Ele sorri para uma mulher de
cabelos grisalhos, curtos, bem ajeitados, parece ter uns 60 anos.
Estendo minha mão para a mulher.
– Ela é juíza, Jack! – ele diz divertido. – A Jackeline estava
incomodada, Doutora Angélica, porque não havia visto mulheres
magistradas aqui – ele diz sorrindo.
– Oh, minha querida, existem muitas, não se preocupe, estamos
em todos os lugares, e é melhor que seja assim, o mundo não
funciona direito sem as mulheres – ela diz imponente, poderosa.
Sorrio encantada.
– Prazer. – Aperto sua mão animada. – Estou feliz de conhecer
uma juíza, não aguento mais cumprimentar homens poderosos.
Ela dá uma risada encantadora.
– Você faz o que querida, é advogada? – Ela pergunta, e eu me
sinto meio deslocada.
– Ela é psicóloga, e minha namorada! – o Rui responde, parece
que ser sua namorada é um posto de poder.
Ela sorri, parece meio confusa, talvez ela conheça a talzinha da
Priscila.
– Eu vi seu pai, Rui, ele está por aí com sua mãe. – Meu sorriso
se esvai do meu rosto.
Que merda!
– Eu não o vi ainda – o Rui responde, começa a falar sobre
outros assuntos, ele pega outra taça de bebida, beberica, entrega
para mim, e assim passamos mais alguns minutos com essa
senhora, que é bem simpática, agradável. – Foi um prazer te ver,
doutora – Nos despedimos da mulher e voltamos a andar entre as
pessoas.
Mais alguns magistrados, advogados, amigos do Rui, estou tonta
de tantas pessoas que conheci, não me lembro do nome de mais
ninguém, só da juíza, do seu amigo Carlos, e de dois ou três
advogados que ele me apresentou, e que foram muito simpáticos
comigo.
E então, os seus pais surgem, como se tivessem vindo do nada
(ou das trevas!).
Seu pai está muito elegante, ele é bem bonitão, talvez uma
versão do Rui com seus sessenta e poucos anos. Sua mãe é uma
senhora muito bonita, altiva, uma madame da alta sociedade, se
veste impecavelmente, parece saída de uma revista de
celebridades.
Seu pai aperta sua mão vigorosamente.
– Tudo bem, filho? – ele diz com aquele olhar paterno, parece ter
muito orgulho do filho.
– Tudo bem, pai, mãe. – Ele beija o rosto da mãe, ela me olha
daquele jeito esnobe.
– Boa noite! – falo discretamente, não me movi do lugar, se eles não
gostam de mim, também não vou gostar deles.
– Como vai, Jackeline? – O pai dele diz educadamente, se
lembrou do meu nome, que milagre!
– Muito bem, obrigada! – respondo polidamente, meu braço está
enganchado no braço do Rui, segurando sua mão.
– Se lembra da Jackeline, mãe? – ele diz para sua mãe nojenta,
ela me olha com desdém, apenas balança a cabeça para mim.
Seu pai começa a conversar com o filho, eles parecem se falar
muito por telefone, os assuntos que falam são recentes, sobre
processos que vi o Rui analisando.
Olho discretamente para sua mãe, e a vejo me medindo, tento
me ajeitar junto ao Rui, na verdade estou tentando me esconder, me
sinto mal vestida na frente de sua mãe, ela deve me achar uma
biscate.
Ele me puxa pela cintura, me abraçando de lado, passo meu
braço pela sua cintura, de um modo que tampe o recorte lateral do
meu vestido e disfarce o decote.
– O jantar já está sendo servido, Antony! – Sua mãe diz mal-
humorada.
– Podemos jantar todos juntos, Rui, venham conosco! – Seu pai
diz simpático, disfarço meu mal-estar e desvio meus olhos de sua
mãe.
– Tudo bem para você, Jack? – Ele segura meu queixo e me
encara.
Sorrio.
– Tudo bem – falo sem emoções, preciso fazer meu papel de sua
acompanhante, e esquecer todo o resto.
Ele beija suavemente meus lábios e me encara com aqueles
olhos acinzentados, que parecem me engolir.
– Vamos, minha deusa! – Ele pisca para mim.
Solto o ar e caminho ao seu lado em direção aos seus pais, que
já estão sentados em uma mesa mais adiante.
Capítulo 45
RUI FIGUEIREDO
Oencontro com meus pais era inevitável, eu sabia que eles
estariam aqui, meu pai não falta a nenhum desses encontros.
Também será inevitável o encontro com a Priscila e sua família,
mas eu precisava vir a essa festa, preciso dos contatos que
encontro aqui, pessoas influentes, importantes.
Estou conversando com meu pai, apesar de não trabalharmos
juntos, cada um de nós tem seu escritório, estamos sempre
trocando ideias sobre os processos que estamos trabalhando.
Meu pai é meu melhor amigo, meu professor, minha referência
de vida. Devo a ele todo o meu sucesso profissional, sem ele eu não
teria chegado onde estou, até hoje aprendo com ele, nos falamos
quase que diariamente, enfim...
Depois que ele me viu com a Jackeline, ele me ligou para saber
o que estava acontecendo, ficou chateado comigo, obviamente. Ele
gostaria que eu me casasse, tivesse filhos, mas está difícil disso
acontecer, ele terá que se contentar com os netos e netas que a
Juliana dará a ele.
– O jantar já está sendo servido, Antony! – Minha mãe diz para
meu pai.
Minha mãe está um porre, e está tratando a Jackeline de um
modo que me desagrada muito.
Tudo tem limite, ela pode até estar chateada com o fim do meu
relacionamento com a Priscila, mas daí tratar mal a Jack, ela está
indo longe demais.
– Podemos jantar todos juntos, Rui, venham conosco. – Meu pai
sugere, eu realmente não estava a fim de fazer isso, pela Jack é
claro, mas essa situação é bem chata, pouco vejo meus pais, e não
ficar com eles hoje seria uma ofensa.
Espero meus pais se distanciarem de nós, seguro o rosto da
Jack e pergunto:
– Tudo bem para você, Jack?
Ela sorri para mim e responde:
– Tudo bem.
Beijo suavemente seus lábios lindos, ela está linda hoje, a
mulher mais linda desse lugar.
Não vou mentir mais para mim mesmo, a Jackeline não é uma
mulher qualquer com quem saio de vez em quando, eu a assumi
como minha namorada, me sinto ciumento e possessivo em relação
a ela.
Ela me causa um turbilhão de sentimentos, coisas novas,
inesperadas.
Tudo começou no dia em que ela transou com seu ex-namorado,
nunca havia me sentido daquele jeito.
Enlouqueci de ciúmes dela, foi estranho, muito estranho, e então
foi aí que decidi oficializar nosso relacionamento, quero dizer, dar
nome ao que temos.
Que se foda a opinião das pessoas, eu sei que ninguém está
entendendo nada, namoro minha secretária, a trouxe a um encontro
de magistrados, mas também a um encontro de famílias. Aqui,
ninguém traz amante, caso, piranha. Os que são solteiros, como o
Carlão, vêm sozinhos, não trazem periguetes, essas coisas.
Então, se a Jack está comigo, é porque o que temos é sério, é
assim que as pessoas leem esse nosso relacionamento.
– Vamos, minha deusa! – digo para a Jack, ela é uma grande
companheira, não reclama de nada, está sempre sorrindo,
simpática.
Nos sentamos à mesa que meus pais escolheram, vejo minha mãe
medindo a Jackeline, talvez eu devesse ter escolhido um vestido
para ela menos chamativo, mas que se foda minha família.
Ela está linda, a Jack é elegante, ela não tem jeito de piranha,
ela é apenas sensual, gostosa, tem um corpo estonteante.
Que se foda o moralismo da minha família, não tenho mais idade
para me preocupar com isso.
Nos sentamos juntos, tomei o cuidado para não deixá-la perto da
minha mãe.
Que Deus me perdoe, mas minha mãe é insuportável, temos um
relacionamento muito complicado, não suporto seu jeito de dondoca,
somos ricos sim, mas ela vive como se fosse dona do mundo.
Só eu sei o quanto meu pai trabalhou e trabalha para manter o
luxo que minha mãe vive, ela gasta aos tubos, vive como se fosse
uma princesa, não move um prato do lugar, tem empregadas até
para acordá-la de manhã.
Talvez meus complexos contra casamento tenham começado
com meu relacionamento com minha mãe.
Não nos damos bem, isso é fato, já não moro com eles há muito
tempo, logo que entrei na faculdade.
Ela é uma mulher mandona, irritadiça, controladora, quer
controlar até os pensamentos do meu pai, e dos filhos. No meu caso
nunca, nunca deixei.
Com certeza meu pai a ama mais do que qualquer coisa neste
mundo, isso não há dúvidas, ninguém suporta alguém assim por
tanto tempo.
Reviro meus olhos ao olhar para ela.
Me perdoe, meu Deus, mas minha mãe é uma bruxa! – falo em
pensamentos, e como reflexo beijo os cabelos da Jack, não quero
que ninguém a trate mal, ela é muito importante para mim.
– Tudo bem, Jack? – Cochicho em seu ouvido.
Ela me olha e sorri.
– Tudo, Rui!
A Jackeline mexe demais comigo, aqui dentro, lá no fundo, ela
me causa uma inquietação no peito.
Tenho vontade de dizer que a adoro, mas não o faço, apenas a
beijo.
A gente se olha, tenho vontade de beijá-la de novo, mas ela não
deixa e se afasta sorrindo.
– Só mais um beijinho, Jack! – falo carente, me sinto tão idiota
quando estou com a Jackeline.
Mas, nosso momento de paz durou pouco, logo ouço uma voz
que não me agrada, é meu sócio e ex-sogro.
Olho e vejo os três, a Priscila, seu pai otário, e sua mãe piranha.
Que família!
Me levanto, pego na mão da Jack, a fazendo ficar ao meu lado, e
então encaro o problema a minha frente.
Até que o Doutor Alburquerque é bem falso, ele finge estar tudo
bem, mas sua filha e sua esposa não disfarçam o ódio mortal que
sentem por mim.
Abraço a cintura da Jack, a colocando à minha frente.
Eu já tenho 35 anos, já passei da fase que me incomodo com
alguém, ou com alguma coisa.
Se alguém me encher o saco, eu mando se foder.
O Albuquerque me olha, olha para sua filha, parece constrangido
com a cena.
– Como vai, Rui? – Ele estende sua mão para mim.
– Bem, obrigado. Essa é a Jackeline – digo rapidamente.
– Boa noite, Jackeline! – ele diz educadamente, o Albuquerque é
um homem vivido e experiente, espero que não confunda as coisas,
que ache que eu deva satisfações da minha vida pessoal para ele.
Olho para a Priscila e sua mãe, elas estão ao lado da minha
mãe, e me indigno ao ver minha mãe abraçada a Priscila, ela quer
me provocar, me irritar, é isso.
– Vamos sentar conosco, Albuquerque? – Minha mãe diz, e eu
sei que ela quer me provocar, e deixar a Jackeline constrangida.
– Não, obrigada, Raquel! – ele diz educado. – Estamos numa
mesa com meus colegas magistrados – ele diz arrogante, ele gosta
mesmo de viver no meio dos juízes poderosos, meu pai sempre foi
apenas um amigo qualquer para ele.
Aliás, meu pai e o Doutor Albuquerque são amigos de longa
data, nossas famílias se conhecem e convivem há anos, minha mãe
conhece a Priscila desde que ela era uma menina, aliás, eu
também.
De fato, nunca reparei muito na Priscila, não me lembro muito
dela, tudo entre nós começou numa festa de aniversário de
casamento de meus pais, eles fizeram uma festa em sua casa,
chamaram todos os amigos e aí reencontrei a Priscila. Ela já havia
se tornado uma adulta, e então tudo começou ali.
Respiro aliviado os vendo partir, mas a Priscila dá uma última
olhada para mim, disfarço, e desvio meus olhos dela.
Hoje, pensando friamente, não sei por que me envolvi com a
Priscila, ela não tem nada a ver comigo, é jovem demais, tola
demais, infantil demais. Que se foda que ela é bonita, o que eu tinha
na cabeça quando me envolvi com essa menina?
Caralho, será que eu iria me casar com ela se não tivesse
conhecido a Jackeline? Porra, como um homem solteiro pode fazer
merdas na vida!
Vejo o garçom trazendo os pratos, o jantar começa a ser servido,
troco algumas palavras com meu pai, nenhuma com minha mãe.
De fato, ela está de cara virada para mim, desde que me viu com
a Jackeline. Ela acha que me importo com isso, mas não me
importo, prefiro assim.
Beijo os cabelos e o rosto da Jack a todo o momento, porque
quero que minha mãe saiba que ela não é uma piranha que
encontrei na rua.
– Vamos jantar, Jack? – Cochicho para a Jackeline, ela está tão
calada, mais do que de costume.
Eu preciso tirá-la dessa mesa, eu sei que a presença da minha
mãe a incomoda.
Ela me olha e sorri, começa a comer, mas mal toca no prato,
como quando fomos ao churrasco na casa dos meus pais.
Termino meu jantar.
– Vamos dar uma volta – falo em seu ouvido e pego em sua
mão. – Dá licença pai, eu vou cumprimentar alguns conhecidos.
– Claro, filho, vá. Depois nos falamos. – Ele bate em minhas
costas e sigo em direção ao segundo salão.
Andamos um pouco, olho para a Jackeline, ela ensaia um
sorriso.
– Melhor agora, Jack, eu sei que minha mãe te incomoda. – Ela
disfarça.
– Não tenho nada contra ela, mas ela não gosta de mim – ela diz
séria, parece chateada.
Isso me incomoda demais, não gosto de vê-la assim, minha mãe
ofuscou seu brilho, ela se apagou.
– Ela não precisa gostar de você. Eu gosto de você, muito, Jack!
– Seguro seu rosto e a beijo, não me importando que estamos no
meio de um monte de pessoas.
Ela se afasta de mim, parece constrangida.
– Tenho vergonha de beijar em público – ela diz sem graça.
Dou risada do seu jeito, a Jack é comportada e devassa, uma
verdadeira contradição em forma de mulher.
Uma banda toca músicas instrumentais no segundo salão, não
sou nenhum dançarino, mas curto esse negócio de dançar, mas
apenas acompanhado.
Me lembro de quando ainda era criança, minha mãe sempre
tocou piano, então enquanto ela tocava suas músicas, eu era
obrigado a dançar com minhas tias e suas amigas. São lembranças
boas da minha infância, adolescência.
– Vem, Jack! – A levou para a pista de dança, ela me olha
sorrindo.
– Já começou, pé de valsa? – ela diz divertida.
– Não é melhor dançar, do que ficar sentada olhando as
pessoas? – pergunto, a apertando contra meu corpo, e segurando
sua mão contra meu peito.
– Muito melhor. – Ela sorri, a beijo delicadamente, não quero
chamar a atenção de todos, mas a vontade que tenho não é essa,
adoro explorar essa boca com minha língua, tenho sede da
Jackeline, ela é viciante.
Enquanto dançamos conto para ela algumas histórias sobre
essas festas, já vi de tudo, casamentos desfeitos, briga de homens,
briga de mulheres, enfim, pode-se se divertir aqui também.
Ela ri muito, parece que passou seu mal-estar em relação a
minha mãe.
Agora a música é lenta, ela passa seus braços pelo meu
pescoço, dançamos nos olhando, ela acaricia meus cabelos, eu
acaricio suas costas.
– Eu queria ir embora, Jack, e fazer uma festinha com você lá
em casa. – Ela sorri e me beija suavemente.
– Então, por que a gente não vai embora? – ela diz manhosa,
depositando beijos suaves em meus lábios.
– Vamos ficar mais um pouco, tem um juiz que preciso trocar
algumas palavras, puxar o saco dele. – Dou risada. – Eu odeio isso,
mas preciso fazer esse jogo. – Abraço mais ela, enfio meu rosto em
seu pescoço, a cheirando, beijando sua pele.
Aquela palavra vem novamente a minha boca, mas não falo.
Tenho problemas com sentimentos, não acho que já amei
alguém. Já gostei de algumas garotas, principalmente em minha
adolescência, mas nunca me entreguei, mergulhei de cabeça.
Não consigo, antes que isso aconteça eu desisto, pulo fora.
A música termina, me afasto e a beijo rapidamente.
– Vamos ver se eu acho o cara, assim ficamos livres para ir
embora. – Saio caminhando em direção ao primeiro salão, andamos
um pouco, olho ao redor e finalmente o acho.
– Achei meu alvo. Vamos lá, Jack!
O juiz em questão é um importante juiz da vara da família, onde
sou muito atuante, se bem que hoje em dia meu escritório tem
especialistas em todas as frentes, não gosto de me focar só em uma
coisa, mas acabo sendo referência nesse assunto.
O cumprimento, apresento a Jackeline, e começo a conversar.
Graças ao meu pai, tenho acesso a todas as pessoas desse
círculo jurídico, ainda jovem eu circulava com meu pai entre essas
pessoas.
Ainda sou conhecido apenas como o filho do Doutor Figueiredo,
mas não me importo. Às vezes, sou reconhecido apenas como Rui
Figueiredo, já me importei com isso no passado, mas o
amadurecimento traz coisas boas, como constatar que é bom ser
filho do Doutor Figueiredo, tenho orgulho de ser seu filho.
A Jack se dependura em meu ombro e cochicha em meu ouvido.
– Posso ir ao banheiro? – ela diz de uma forma engraçada.
Apenas balanço a cabeça e continuo minha conversa com o juiz,
mas não consigo deixar de olhá-la enquanto ela caminha em
direção aos banheiros. Tento disfarçar e conversar com o juiz, ele
fala mais do que sua boca, concordo com a cabeça e olho para a
Jackeline, uma dúzia de olhos masculinos acompanhando seu
gingado, ela está gostosa demais, e eu não quero deixá-la sozinha.
– Então, Doutor Rui, sobre aquele processo em questão... – Eu
gostaria de ir buscá-la no banheiro, mas esse assunto é muito
importante, então aquieto meu mostro interno e presto atenção no
juiz.
Capítulo 46
JACKELINE BARTOLLI
Afesta black tie segue a todo vapor, eu e o Rui dançamos muito,
ele gosta muito de dançar e isso é muito legal.
Se houve algo negativo, foi o encontro com sua mãe, seu pai
não me trata mal, ele meio que me ignora, mas não posso dizer que
ele me destratou, até lembrou meu nome.
Já a velha megera me tratou mal, e ainda por cima queria que a
insuportável de sua ex-noiva ficasse na mesma mesa que
estávamos.
Agora estamos conversando com um juiz importante, o cara fala
mais que o homem da cobra, estou cansada, com meus pés
latejando, e morrendo de vontade de fazer xixi.
Não vou aguentar até o final dessa conversa, vou explodir.
Me esgueiro próximo ao ouvido do Rui e cochicho apenas para
ele ouvir:
– Posso ir ao banheiro? – falo como se fosse uma criança.
Ele me olha discretamente, balança a cabeça positivamente e
saio caminhando para um lugar que acho que ficam os banheiros.
O banheiro é tão chique quanto o salão, vejo batom, perfume,
desodorantes e lencinhos umedecidos a disposição, e um cheiro
delicioso no ar.
Entro na primeira cabine a disposição, e faço cinco litros de xixi.
Saio rapidamente e me surpreendo ao ver a Priscila, ela retoca
seu batom.
Respiro fundo e tento seguir para a pia mais distante da sua,
mas parece que ela está aqui propositalmente.
– Oi, piranha, aonde você pensa que vai vestida desse jeito?
Aqui não é seu puteiro! – Ela para atrás de mim, enquanto lavo
minhas mãos.
Respiro e inspiro vagarosamente, tentando controlar meus
nervos. Sigo até onde estão depositadas pequenas toalhas de
mãos, olho discretamente pelo espelho e vejo todas as mulheres
que estão no banheiro nos olhando.
Não, eu não vou me rebaixar, bater boca com essa garota, ela
quer isso, ela quer que eu me comporte como uma qualquer, eu não
vou fazer isso.
Desvio dela para sair do banheiro, mas ela me segura pelo
braço.
– Você é uma piranha nojenta, e eu vou acabar com sua vida se
você não sair da vida do Rui! – Ela vocifera descontrolada em meu
rosto, sinto o cheiro forte de bebida alcóolica, deve ter bebido feito
uma louca.
Olho para sua mão com ódio.
– T I R E A S S U A S P A T A S D E M I M! – Rosno
controladamente para ela, meus olhos estão cerrados, estou a um
triz de pegar em seus cabelos e arrancar um por um.
A maldita me chamou de piranha, eu não estou aguentando o
ódio que estou sentindo dessa garota.
Puxo meu braço.
– Não vou me afastar do Rui, foi ele quem veio atrás de mim, ele
não te quer mais, perdeu, patricinha! – Desvio dela, mas ela agarra
em meu coque e parte para cima de mim.
Agarro aqueles cabelos falsos e puxo com toda a força, mas ela
me unha para se defender, puxa meu vestido e só ouço o barulho de
tecido rasgando.
Algumas mulheres separam nós duas, sinto sangue nos meus
lábios, ela vocifera feito uma louca, me xinga, parece
completamente louca, uma funcionária do banheiro coloca um papel
higiênico sobre meus lábios, percebo que estou praticamente nua,
uma das alças do vestido rasgou, estou com meus seios de fora,
seguro o tecido e então olho para a vagabunda e vejo a mãe do Rui
a acalmando.
– Ela é uma vagabunda, Raquel, uma prostituta, o Rui deve ter
conhecido ela em alguma dessas boates de putas – ela diz
enquanto a mãe do Rui limpa suas lágrimas, arruma seus cabelos, e
me olha com um desprezo que dói. – Piranha, você não deveria
estar aqui, você não pertence a este lugar, volte para seu ponto, vá
rodar bolsinha. – Enquanto a mãe dela e a mãe do Rui a carregam
para fora, vejo meia dúzia de olhos me olhando como se eu tivesse
tuberculose, apenas a funcionário do banheiro me ajuda, me coloca
sentada em uma cadeira e arruma meus cabelos que estão
espalhados pelo meu rosto...
– Eu vou arrumar seu vestido, tenho linha e agulha aqui, eu faço
isso rapidamente, não se preocupe – ela diz diante de meu estado,
tremo inteira, de nervoso, de raiva, e de vontade de matar aquela
garota.
Tento não chorar, mas estou tão nervosa que não consigo
segurar minhas lágrimas, e soluço de nervoso.
– Se acalme, não se mexa, caso contrário irei machucá-la com a
agulha.
Coloco a mão em minha boca para segurar os soluços, e vejo
sangue, olho para o espelho a minha frente, e vejo um vergão
enorme em meu rosto, chegando até meus lábios.
– É inveja, amiga. Pelo visto tem a ver com homem, não é
mesmo? – A mulher diz.
– Sim... – respondo com raiva.
Ela termina de dar os pontos em meu vestido.
– Ficou bom, nem dá para ver, mas é melhor mandar a uma
costureira – ela diz sorrindo.
– Obrigada, eu não tenho coragem de sair assim daqui! – Choro
vendo meu rosto arranhado, uma marca vermelha arroxeada se
formando, e um leve inchaço ao redor.
– Vou passar um lencinho nos machucados, ela arranhou seus
braços, também! – Olho para meu corpo, vejo marcas de unhas pra
todos os lados, braços, busto, garganta...
Fecho meus olhos e tento controlar meu ódio.
– Eu preciso avisar... – Mas não deu tempo de terminar a frase,
um trator desgovernado entra no banheiro feminino, lindo e
cheiroso, as madames que estavam no banheiro ficam assustadas
com sua presença.
– O que aconteceu, Jack? – Ele se agacha a minha frente.
– Sua ex-noiva enlouqueceu, Rui! Ela precisa de tratamento
psiquiátrico, internação, com direito a colete para loucos.
– Que merda é essa, Jack? – Ele passa seus dedos pelos
arranhões. – Você está bem? – ele diz com um olhar culpado.
– Eu quero ir embora – falo e desabo em lágrimas.
Ele beija meu rosto, limpa minhas lágrimas.
– Desculpe por isso, Jack! – Ele tira rapidamente seu smoking e
o coloca sobre meus ombros. – Vem, vamos embora. – Ele me
levanta me abraça e me encaminha para fora do banheiro.
Escondo meu rosto em seu peito, estou com tanta vergonha,
parece que todos ouviram as coisas que essa maluca disse.
Saímos do banheiro e seu pai aparece a nossa frente.
– O que houve, filho? – ele diz preocupado.
– Aquela maluca da Priscila, aquela garota tem problemas sérios
– ele diz me abraçando contra seu peito. – Eu vou embora, vou
levar a Jack em um hospital, ela está cheia de arranhões, mulher
louca dos infernos.
– Tudo bem – ele diz sem graça.
Olho mais adiante, e vejo a maluca vindo em nossa direção, com
o rosto todo borrado de maquiagem, parecendo uma louca.
– Rui, por favor, vamos sair daqui, a louca da Priscila está vindo
de novo – falo com a voz engasgada.
Se eu não estivesse num lugar como esse, eu quebraria a cara
dessa loira falsificada, mas eu não posso fazer isso aqui.
Ele passa seu braço pelos meus ombros e saímos depressa,
olho para trás e vejo o pai do Rui segurando a maluca.
Logo entramos em seu carro, fecho meus olhos e tento não
pensar no que aconteceu. Sinto beijos em meu rosto, abro meus
olhos e vejo aqueles olhos cinza lindos.
– Vamos a um hospital, tá? – ele diz carinhosamente.
– Não precisa – respondo emotiva.
– Precisa sim. – Ele liga o carro e sai dirigindo.
Me aninho em seu terno, fecho meus olhos e tento esquecer o
vexame.
****

A enfermeira termina de limpar os arranhões e passa


delicadamente um medicamento em meu rosto e meu pescoço.
– Você vai passar esse medicamento umas quatro vezes ao dia,
não vai tomar sol, e vai higienizar para não inflamar. – Balanço
minha cabeça positivamente.
– Ok, você está pronta. Eu cobri o arranhão do rosto, apenas por
estética, amanhã estará melhor, não estará inchado.
– Tudo bem, obrigada. – Me levanto e vejo o Rui sentado em
uma cadeira.
– Vamos, Jack? – Ele se levanta e pega em minha mão.
A enfermeira entrega uma receita para mim.
– Aqui estão os nomes dos medicamentos para passar, em três
dias você já não verá mais os vergões.
– O rosto dela não ficará com essa marca? – Ele me puxa para
seus braços.
– Não, mas fuja do sol enquanto estiver com o ferimento aberto.
Se quiser, coloque um curativo tipo micropore, como eu fiz.
– Ok. Obrigado. – Ele se despede e seguimos pelos corredores
do hospital.
– Amanhã você não precisa trabalhar, Jack! – Ele me olha. –
Você fica no meu apartamento.
– Não precisa, eu irei sim – falo desanimada, fiquei chateada de
ver como a mãe dele tratou aquela desgraçada, e me olhou como se
eu fosse uma piranha.
Estou me sentindo tão humilhada.
– Rui, sua mãe viu tudo – falo sem o olhar, apenas caminhando,
absorta em meus pensamentos.
– Eu sei, Jack. Ela que me avisou que vocês tinham brigado –
ele diz sério.
– O que ela disse para você?
– Que você tinha batido na Priscila. – Engulo em seco, ainda por
cima eu que passarei por barraqueira. – Mas eu sei que não foi você
quem provocou essa situação, não precisa se explicar, eu tenho
certeza que você não faria isso.
Meus olhos enchem de lágrimas, para piorar estou em minha
TPM, sensível como uma flor.
– Ainda bem que você não me acha uma barraqueira, que saio
brigando em banheiros de festas. – Limpo uma lágrima que
escorreu pelos meus olhos.
Ele me abraça junto ao seu corpo, beija minha cabeça.
– Vamos esquecer isso, Jack.
Me aninho em seu peito.
– Tudo bem!
****
Pela primeira vez desde que nos conhecemos, dormimos juntos
sem fazer nada, absolutamente nada.
De fato, e com certeza, ele percebeu que não estou nesse clima,
fiquei com uma coisa ruim dentro do peito, uma raiva, uma vontade
louca de me vingar daquela garota.
Também fiquei com a imagem daquelas mulheres todas me
olhando como se tivessem descoberto um segredo, me senti uma
puta, alguém realmente desqualificada para estar naquele lugar.
Chorei diversas vezes durante a noite, estou um porre, odeio
TPM, me deixa tão frágil.
A única coisa boa de tudo isso é ter o Rui do meu lado, tanto
fisicamente, como no que diz respeito ao apoio.
Ele está tão carinhoso comigo, tão atencioso.
Demorei a conseguir dormir, passei horas pensando em tudo o
que aconteceu, no jeito que sua mãe me tratou, de seus olhares
sobre mim, nunca me senti tão mal em minha vida.
Mas o sono foi chegando, aninhada no peito do Rui, sentindo o
calor do seu corpo, seu cheiro gostoso, e seus carinhos.
****

Abro meus olhos vagarosamente, estou meio confusa, olho ao


meu lado e não vejo o Rui.
Levanto levemente meu corpo, estou com minha cabeça pesada,
e sinto uma sensação de ardor onde estão os arranhões.
Onde está o Rui? – Penso alto.
Vejo minha bolsinha de mão sobre sua mesinha de cabeceira, a
pego, tiro meu celular de dentro, vejo a hora e me assusto.
– Cacete, 10h da manhã!
Coloco as mãos em minha cabeça, sinto meu couro cabeludo
dolorido, e o ódio volta ao meu coração.
– Oh, meu Deus, eu não podia ter deixado de ir trabalhar. – Me
levanto vagarosamente, minha cabeça dói muito, pego o celular
novamente e ligo para o Rui.
Ele atende no primeiro toque.
– Bom dia, Jack! Você está bem? – ele diz carinhoso.
– Bom dia, Rui! Por que você não me acordou? – falo brava.
– Hoje você vai ficar quietinha, amanhã se você estiver melhor,
você trabalha – ele diz bem-humorado. – Não ouse ir embora ou vir
trabalhar, Jack, eu vou almoçar com você em casa.
Sorrio, me sinto melhor só de falar com ele, ele faz tão bem para
mim.
– Rui, eu não quebrei uma perna ou um braço. São só
arranhões, sabia? – digo rindo.
– Tudo bem, mas vamos esperar sumir esse ferimento do seu
rosto.
– Vai demorar, não posso me esconder, eu tinha um monte de
coisas para fazer hoje – falo preocupada.
– Amanhã vemos isso. Qualquer coisa, você pode trabalhar do
meu computador pessoal, eu tenho um escritório lá embaixo, vá até
lá, tem uns livros. Relaxa, Jack, hoje você está de folga.
– Obrigada, Rui, você é um chefe maravilhoso! – falo emotiva,
com vontade chorar, aí que merda de TPM.
– Só chefe? Namorado não conta? – ele diz manhoso.
– Os dois, um homem maravilhoso. – Brinco. – Preciso tomar um
remédio para dor de cabeça, você tem aqui na sua casa? – Coloco
minha mão na testa, odeio enxaquecas, mas tenho muitas.
– Tenho na cozinha, está em um dos armários, vá tomar café,
fique à vontade, a casa é sua – ele diz com uma voz suave,
carinhosa. – Estou com saudades de você, Jack. – Meus lábios se
curvam num sorriso imenso. – Não estou mais acostumado a vir
para o escritório e não tê-la aqui.
Fecho meus olhos, e sinto aquele gelado percorrer meu
estômago.
Ai, Rui, eu te adoro tanto! – Penso.
– Eu também estou com saudades de você – Falo dengosa. –
Você vem almoçar aqui comigo? – Faço charme. – A gente pode
namorar, eu estava tão chata ontem.
– Daqui a pouco estou aí, eu já avisei a empregada que você
ficou dormindo, e que almoçarei em casa.
– Tá bom. Vou tomar um banho, devo estar com cara de bruxa. –
Passo meus dedos sobre meu rosto, olho para os meus braços,
vergões vermelhos e levemente arroxeados aparecem em todos os
lugares, parece que briguei com um gato.
Que ódio daquela garota.
Aquela cobra venenosa não tem unhas, ela tem garras, nunca vi
nada igual, essa cena demorará para sair da minha cabeça.
– Tenho uma reunião agora, Jack, depois conversamos. – Ouço
vozes em sua sala.
– Um beijo, Rui! Te adoro! – falo apaixonada.
– Eu também, até mais tarde. – Ele desliga.
Tiro sua camiseta, a calcinha, me olho no espelho do seu quarto
e desanimo.
Passo os dedos pelo meu pescoço, estou cheia de vergões, nem
percebi quando ela fez isso, mas ficou feio, ela tirou minha pele.
Próximo dos meus seios tem outro, grande e profundo,
provavelmente foi nesse momento que ela rasgou meu vestido.
Sigo para o banheiro.
Vejo sobre a pia os meus medicamentos, não me lembro em que
momento ele comprou, acho que dormi em seu carro, estava tão
nervosa que não me lembro de nada.
Tiro o curativo do rosto e vejo a marca deixada, e meus olhos
enchem de lágrimas. Ela quase atingiu meu olho, a marca é
enorme, me deixou horrível!
As lágrimas escorrem pelo meu rosto, trazendo ardor sobre o
machucado.
Fecho meus olhos e tento me acalmar, abro a ducha do chuveiro
e entro embaixo da água, sinto o ardor sobre os ferimentos.
Encho minha mão de sabonete e esfrego energicamente onde
ela arranhou.
Cobra venenosa, deve ter veneno em suas unhas, nunca senti
tanto ódio por alguém.
Finalizo meu banho, me seco delicadamente e passo os
medicamentos prescritos pelo médico.
Volto para o quarto do Rui, e penso confusa como irei me vestir.
– Ok, você deve ter um roupão, Rui! – Sigo para seu closet.
Vasculho entre os cabides e então acho um roupão grande e
confortável.
– Acho que ele nunca usou, ainda tem cheiro de novo – falo alto.
O coloco sobre meu corpo, e parece que estou vestindo um
cobertor, é enorme, mas bem confortável e fofinho.
Volto para o banheiro, seco meus cabelos, e faço um curativo
sobre o ferimento da minha bochecha, não estou me sentindo bem
com isso no meu rosto.
Me olho no espelho, estou meio pálida, mas é por causa da
enxaqueca, estou me sentindo péssima.
Coloco meu celular no bolso do roupão e desço vagarosamente
as escadas em direção à sala.
O Bóris está deitadinho em um lugar da sala, e quando me vê sai
enlouquecido em minha direção.
– Oi, Bóris! – Acaricio sua cabeça. – Fica calmo, hoje eu não
estou muito bem! – falo devagar. – Vem comigo, vamos procurar um
remedinho.
Entro na cozinha e vejo sua empregada.
– Bom dia, Jô! – falo sem graça.
– Oi, bom dia, Jackeline! Você está bem? O Doutor Rui me disse
que você não está muito bem hoje, precisa de alguma coisa?
Sorrio de seu rompante, nunca a vi falar tanto.
– Estou com uma enxaqueca maior que o mundo, preciso muito
de um remédio sossega leão, você me ajuda a achar? – falo
pausadamente, a cabeça dói só de falar.
Ela caminha depressa, abre um armário alto e pega uma
caixinha de medicamentos.
– Aqui está, Jackeline, tome dois, vamos ver se você melhora,
enxaqueca não costuma passar com esse tipo de medicamento. –
Ela torce seus lábios.
– Ok, obrigada, Jô. – Sigo até um filtro de água, mas logo ela
pega o copo, enche de água e me entrega.
– Vou fazer um chazinho para você. Quer comer alguma coisa?
– Não, só um chazinho, me sinto enjoada – falo desanimada. –
Acho que vou me deitar, para ver se melhoro.
Volto para o quarto do Rui, me deito em sua cama, e logo vejo o
Bóris deitando do meu lado.
– Seu pai não vai gostar disso, Bóris! – Aliso seu pelo macio. –
Mas, ele não está aqui, né? – Beijo sua cabecinha. – Vamos dormir
um pouquinho.
Fecho os olhos, e sinto minha cabeça pulsando, a dor diminui
um pouco, mas não me deixa dormir, mas logo ouço um toque na
porta, olho e vejo a Jô com uma bandejinha nas mãos.
– Seu chazinho, Jackeline! – ela diz sorrindo. – Trouxe uns
biscoitinhos amanteigados, não é bom ficar com o estômago vazio.
– Obrigada, Jô, você é um anjo. – Me sento na cama, ela sai
discretamente, e tomo o chá vagarosamente.
Pego um biscoitinho e coloco na boca, mas me dá enjoos, então
pego outro e dou para o Bóris.
– Gostou, Bóris? Quer mais um? – Entrego mais um para ele. –
Não vamos abusar, não sei se seu pai vai gostar disso. – Coloco
minha mão sobre a testa. – Preciso me deitar, estou tão mal hoje.
Abraço o bichinho peludo do Rui, fecho os olhos e consigo
adormecer.
****

Não sei quanto tempo dormi, mas quando acordei havia um


homem lindo do meu lado, me beijando e me abraçando.
O Bóris já não está mais em sua cama, e o Rui não está mais
vestido.
Sorrio contra seus lábios, ele levou a sério a história de
namorarmos.
– Estou com saudades, Jack! – ele diz me beijando, abrindo o
laço do roupão e explorando meu corpo com suas mãos.
– Eu também, Rui! – Sussurro contra seus lábios, abraço seu
pescoço e aprofundo nosso beijo.
– Você está melhor, minha deusa? – Seus beijos descem para
meu pescoço, ele acaricia meus seios.
– Acabei de melhorar – falo manhosa. – Oh, Rui. – Gemo ao
sentir sua língua em meu sexo, quente, macia e alucinante.
Seguro seus cabelos entre meus dedos, minha respiração fica
acelerada, me esfrego em sua boca e o amortecimento começa.
– Ahhh... Ruiii!!! – Gemo alto. – Hummm, ahhh, que delícia...
Sinto sua boca novamente em meus seios, seu membro
entrando vagarosamente dentro de mim.
– Uhmmm! – Gemo ao senti-lo.
– Você é tão gostosa, Jack! – Ele me olha com suas bolinhas
cinzentas e profundas.
Ele se apoia sobre seus cotovelos, me encaixo em seus quadris
e enquanto ele me beija, seu corpo se movimenta contra o meu,
calmo, mas intenso, e seus beijos cobertos de paixão.
– Eu vou gozar, Jack. – Ele fecha seus olhos e geme
sensualmente, aquela expressão linda que ele fica, adoro vê-lo
nesse momento. – Oh, Jack, que delícia. – Ele relaxa sua cabeça no
vão de meus ombros. – Minha gostosa, não me canso de você! –
Ele beija meu pescoço e relaxa seu corpo sobre o meu, grande e
pesado.
Beijo seus cabelos diversas vezes, adoro tanto esse homem.
– Te adoro, Rui! – Sussurro baixinho, quase que só para eu
ouvir.
– Eu também, Jack – ele diz, ele sempre diz isso, nunca fala por
conta própria, eu queria tanto que ele falasse.
Sinto um ardor nos olhos e as lágrimas inundam meus olhos.
Odeio TPM!
Disfarço, tento limpar as lágrimas que escorreram pelo meu
rosto, mas ele levanta seu rosto e me olha.
– O que foi, algum problema? – Ele enruga sua testa.
– Não, é que os seus remédios não funcionam direito com minha
enxaqueca, minha cabeça ainda está doendo – falo disfarçando.
Ele limpa meu rosto.
– Me fale o nome do medicamento que você costuma usar, eu
vou ligar numa farmácia que entrega aqui no prédio, em 15 minutos
eles estarão aqui. – Ele se afasta, pega seu celular sobre sua
cabeceira, e aperta uma tecla. – Qual o nome, Jack?
– Oh... – Me sento na cama e falo o nome rapidamente, logo a
pessoa o atende, ele faz o pedido, devolve o telefone sobre a
cabeceira e me olha.
– Vamos tomar um banho rápido, dá tempo. – Ele pega em
minha mão.
– Tudo bem. – Tiro o roupão do meu corpo, e o sigo para o
banheiro.
Ele já está embaixo da ducha, abro o box e entro com ele. O vejo
passando seus olhos pelos meus braços, pescoço, seios.
– Você passou o medicamento hoje pela manhã? – Ele passa
seus dedos, suavemente sobre meu rosto. – Vamos tirar isso, dizem
que é melhor que o ferimento respire.
– Tá muito feio, fica melhor coberto. – Sinto seus dedos tirando o
curativo que fiz, ele olha para o meu rosto, o beija carinhosamente e
me abraça apertado.
– Desculpa, Jack. Eu que provoquei isso, você não tem culpa de
nada. – Ele me olha com uma ruga de tensão no rosto. – Mas isso
vai sumir de seu rosto, não fique preocupada.
– Eu sei. – Me aninho em seu peito, acariciando suas costas
largas. – Lava meu cabelo, Rui – falo manhosa.
Me deixe aproveitar desse excesso de cuidados comigo, é tão
bom!
– Tá manhozinha, Jack? – ele diz sorrindo, e passando o
shampoo em meus cabelos.
– Um pouquinho, estou doentinha. – Dou risada da minha
manha. – Preciso de carinho para ficar boa.
Ele sorri, massageia meu couro cabelo, me coloca embaixo da
ducha, passa as mãos pelos meus cabelos tirando a espuma, e eu
fico apenas de olhos fechados, sentindo a sensação deliciosa de ser
cuidada, adoro isso.
Suas mãos começam a ensaboar meu corpo, e isso me dá um
tesão louco, mas me controlo, nem doente meu fogo apaga. Ele me
vira de costas, passa suas mãos pelas minhas costas, no meu
bumbum.
– Que bunda linda você tem, Jack! – Ele beija meu pescoço,
ofego de desejo. – Tá doendo muito sua cabeça, Jack? Eu queria
tanto mais uma vez! – Ele acaricia meu sexo.
– Eu quero, Rui. – Minha respiração sai acelerada, assim como
meu coração está.
– Eu vou fazer bem devagar, está bom? – Ele sussurra em meu
ouvido, espalmo minhas mãos no azulejo e o sinto dentro de mim. –
Está bom assim? – Ele se movimenta vagarosamente, beijando
minhas costas, acariciando meus seios.
– Está, Rui, continua, está delicioso. – Gemo baixo.
Ele me aperta contra seus braços, os movimentos ganham
intensidade, ele morde minhas costas e goza...
– Ohhh... Jackeline, eu estou viciado em você! – Ele dá suas
últimas estocadas, geme baixo e para, e sinto sua respiração em
meu pescoço, forte, quente.
Ele beija minha cabeça.
– Tudo bem, Jack? – Ele pergunta preocupado.
Viro-me para olhá-lo.
– Tudo. Foi bom, Rui, muito bom – falo sentindo uma moleza em
minhas pernas.
– Me deixe finalizar o banho, a farmácia deve estar chegando –
ele diz apressado, ensaboando seus cabelos.
****

Me sento na mesa com o Rui, a empregada dele deixou tudo


arrumado, mas estou mal hoje, nada me apetece.
Na verdade, sou assim quando tenho TPM, acho que estou pior
porque fiquei muito tensa ontem, e juntou as duas coisas, tensão
nervosa com tensão menstrual.
Eu confesso, estou um porre!
– Come alguma coisa, Jack! – ele diz pela terceira vez.
– Não quero, Rui. Não estou muito bem hoje! – digo
desanimada.
– A dor de cabeça não melhorou? – ele diz preocupado.
– Diminuiu, mas estou com mal-estar. – Tomo um pouco de suco,
e dou um pedacinho de carne disfarçadamente para o Bóris.
– Jack, eu estou vendo você dando comida para o Bóris. – Ele
sorri.
– É só um pedacinho! – Faço charme.
– É por isso que ele não sai do seu lado, você está acabando
com toda a educação que dei para ele – ele diz bem-humorado.
– Deve ser chato só comer ração, Rui – falo preguiçosa.
– Ele vai ter dor de barriga, aí você vai ter que limpar a sujeira
dele.
Arregalo meus olhos.
– Oh, não pensei nisso, vamos dar um remedinho para ele? Ele
comeu biscoitinhos também – falo preocupada.
– Não, agora você vai arcar com as consequências... – Ele se
levanta. – Preciso voltar para o escritório, Jack, estou sem
secretária, ela está doentinha hoje! – Ele me levanta da cadeira. –
Fica deitadinha, vou chegar cedo, está bem? – Ele segura meu
rosto e me beija carinhosamente.
– Ok, mas você me leva para minha casa à noite?
Ele enruga sua testa.
– Não, você não vai embora hoje. – Ele me olha com a testa
franzida. – Quer que eu ligue para sua mãe? Ela gosta de mim, eu
digo que você precisa ficar alguns dias em minha casa. – Ele sorri.
Reviro meus olhos.
– Minha mãe cuida de mim, Rui. Aqui em não tenho minhas
coisas, e estou muito chata. – Reclamo.
– A Jô cuida de você, vou pedir para ela comprar o que você
precisar. – Ele segue para a porta. – Eu volto cedo, fica quietinha,
Jack, coloca um filme na televisão.
Ele me dá uma última olhada da porta, pisca para mim e me
manda um beijo com as mãos.
Suspiro apaixonada, eu gosto de ficar aqui, mas quer saber,
sinto falta da minha casa, da minha mãe, ela sabe como cuidar das
minhas enxaquecas, ela tem seus chazinhos milagrosos.
Capítulo 47
RUI FIGUEIREDO
Sigo para o escritório, acabo de almoçar com a Jack, quero
dizer, só eu almocei, ela não comeu nada, aliás a Jack não está
bem, nunca a vi assim, ela está abatida, desanimada.
Penso nos arranhões que a maluca da Priscila fez nela e sinto
uma raiva fora do normal da Priscila.
Não sei se é isso que a está incomodando, ou é a tal da TPM?
Confesso, nunca me importei muito com as inconstâncias da
Priscila, muito menos das outras mulheres que eu saia, eu
simplesmente as ignorava e procurava por outra.
Mas, não consigo fazer isso em relação à Jackeline. Eu
simplesmente não consigo não me importar com ela, me importo
muito, estou incomodado com essa história da Priscila, não me
conformo de vê-la toda machucada.
Fecho os olhos e me puno mentalmente, eu deveria ter ido até o
banheiro quando vi a Priscila caminhando naquela direção, mas não
achei que ela faria algo.
Não estou acostumado com esse tipo de coisa, achei que a
Priscila era civilizada, mas me enganei, ela é descontrolada
emocionalmente.
Não sei ao certo o que faço, talvez conversar com o pai dela,
tenho um pouco de medo de gente maluca, sei lá, vai que a Priscila
resolve terminar o que começou na Jack.
Eu não vou deixá-la trabalhar esses dias, a Priscila pode
aparecer no escritório. Sou neurótico, não confio nela, tenho medo
que ela tente fazer alguma contra a Jack.
Já decidi que ela também não irá para sua casa, quero ela perto
de mim, gosto de cuidar da Jack, ela é manhosa, dengosa, adoro o
jeito dela.
Sorrio ao pensar nela, e penso em tudo que vivemos até agora,
a cada dia que passa ela se torna mais importante para mim, a cada
dia que passa gosto mais dela.
Me sinto confuso em relação a isso, gosto de tê-la por perto,
gosto que ela trabalhe comigo, me incomoda o vazio que ela
provoca quando resolve ir para sua casa.
Normalmente, esse seria o momento de pular fora, eu preciso
sair com outras mulheres, estou fiel demais para o meu gosto, estou
envolvido demais por ela.
Ok, Rui, uma coisa de cada vez – falo para mim mesmo.
– Por que não curto um pouco isso, por que não me deixo levar
simplesmente?
Eu gosto de sua companhia, gosto dela, gosto do seu jeito, gosto
do sexo, por que eu deveria procurar outras mulheres?
Acabei de sair de um relacionamento, e estou entrando em
outro, isso não me parece muito sadio.
Chego ao escritório, estaciono meu carro e sigo para a
recepção.
A Karen está especialmente feliz hoje, deve ser porque a Jack
não está aqui.
– Boa tarde, Karen! – A cumprimento rapidamente.
– Boa tarde, Doutor Rui! – A vejo saindo de sua mesa. – Quer
uma ajuda? Eu vi que a Jackeline não veio hoje, aconteceu alguma
coisa com ela?
Realmente a Jackeline tem razão, a Karen é fofoqueira.
– Nada, ela está doente. – Começo a subir as escadas. – Peça
um café para mim, e suba que irei passar algumas coisas para você
fazer.
Ela abre um sorriso de devassa, balanço minha cabeça e subo.
****

Entro no computador da Jack, olho se ela tem e-mails


importantes e vejo a Karen subindo com o meu café.
– Obrigado, Karen! – Pego o café de sua mão. – Sente-se aqui,
eu já volto.
Ok, eu sei que eu falava da possibilidade de trair a Jack, mas
acho que não será hoje, da última vez que tentei traí-la eu
simplesmente brochei, acho que não estou pronto ainda para comer
outra mulher.
Pego alguns documentos que precisam ser protocolados no
Fórum, levo para a sala da Jackeline e entrego para a Karen.
– Preciso que você mande protocolar esses processos no
Fórum. – Entrego para ela os documentos, ela me olha
decepcionada, talvez achasse que sua ajuda seria sexual, tento não
rir com a situação. – Esses aqui precisam ser enviados ao escritório
do Albuquerque, e esses aqui você arquiva. Tudo certo, alguma
dúvida?
Ela me olha com a boca levemente aberta, ela tem uma boca
deliciosa, já fez loucuras com ela.
Fecho meus olhos e tento me concentrar no que interessa.
– Não, eu sei como fazer – ela diz sem muito animo.
– Obrigado, Karen! – Entro na minha sala e respiro.
Caralho, acho que sou maníaco sexual, só penso em sexo!
****

É final de tarde, trabalhei pra cacete hoje, tenho que confessar


que a Jack tem sido uma excelente assistente, e sua ausência hoje
foi desastrosa para o meu dia.
Mas, tudo bem, eu me viro, e também consigo que a Karen me
ajude com algumas coisas.
Vamos ver como ela estará amanhã, de qualquer modo, não
quero que ela venha trabalhar toda machucada, sei lá, estou me
sentindo mal com isso, culpado.
Meu celular toca e vejo o contato do meu amigo Carlão na tela.
Sorrio, tenho certeza que ele quer saber sobre a Jackeline, ele é
um putanheiro dos infernos.
O atendo no segundo toque.
– Fala, Carlão! – Atendo animado, já imaginando o que ele dirá.
– Então, Rui, quem é a gostosa? – ele diz rindo.
– Eu disse, é minha secretária, o nome dela é Jackeline! – falo
sério.
– Então vocês estão namorando? – Ele ri. – Não acreditei muito
nisso, por acaso, essa é sua tática para despistar a loira?
– Não estou muito preocupado com a Priscila. – Dou uma pausa,
não sei ao certo o que dizer sobre mim e a Jack. – Eu e a Jack
estamos saindo, nada sério, o que você achou dela? – pergunto, só
para não sair do script, é assim que agimos entre nós, não posso
mudar meu estilo.
– Gostosa, bem gostosa! – ele diz malicioso. – Quando não
estiver mais a fim, me dá o contato dela. – Ele ri, não gosto muito da
brincadeira, mas também não posso bancar o babaca, somos
assim, gostamos de tirar barato dos nossos casos.
– Pode deixar, te aviso quando descartá-la! – falo sem emoção,
talvez me sentindo mal de ter falado assim, mas balanço minha
cabeça. A Jack é uma mulher incrível, mas o que temos é
temporário, não vou bancar o cara ciumento e possessivo, não na
frente desses caras, e virar motivo de piadas.
– Então, queria te fazer um convite! – ele diz animado.
– Manda cara, qual convite? – falo meio preocupado, não tem
convite desse cara que não inclua mulheres, ele é pior, muito pior do
que eu.
– Eu fui naquele clube que os caras disseram, conheci duas
garotas, elas são um espetáculo cara. – Ele diminui sua voz. – Sai
com uma delas, e... irmão, a mulher é uma loucura. – O interrompo,
ele enrola demais.
– E onde entro nessa, Carlão? – falo impaciente.
– Marquei com as duas lá naquele clube, vamos lá cara, parece
que a amiga é tão devassa quanto a que saí.
Penso na Jack.
– Não dá cara, a Jackeline está lá em casa esses dias – falo e
coloco a mão sobre minha testa.
– Tá casado, Rui? – Ele ri. – Não sai mais com os caras, não
aceita convite de putaria, não estou te reconhecendo.
Penso rapidamente.
– Hoje não dá, talvez amanhã. Me liga, Carlão, eu tenho uma
reunião agora, estou fodido! – Disfarço, e tento dispensá-lo.
– Tudo bem, vou até lá hoje, combinei com os caras, é
aniversário do Beto. Se der, dá uma passada lá, se a patroa te
deixar, é claro! – Ele dá uma risada enfadonha.
– Vai se foder, Carlão, depois a gente se fala!
Finalizo a ligação, e fico pensando alguns segundos.
Não posso fazer isso com a Jackeline, e eu não me sinto à
vontade de sair.
Que merda, estou cada vez mais castrado pela aquela mulher.
****
Olho no relógio, já são 19h, finalizo a reunião com os advogados.
– Obrigado, pessoal, está bom por hoje. – Pego meus papéis e
sigo para minha mesa.
– Doutor Rui, você tem cinco minutos? – A Carolina diz antes de
sair da minha sala.
– Pois não, Doutora Carolina? – falo formalmente, agora minha
vida está complicada, a Carolina é amiga da Jack, então não posso
sair da linha.
Aliás, as coisas complicaram na minha vida de uma hora para
outra.
– Eu estou muito sobrecarregada... – ela diz incisiva. – Eu sei
que todos os advogados estão, então por que não contratamos
alguns estagiários para nos ajudar?
– Entendo... – Penso um pouco. – Vou conversar com o RH
sobre esse assunto, depois te dou um retorno. – Sorrio para ela.
– Ok, obrigada! – Ela sai com sua postura determinada em
direção à porta.
Gosto muito da Carolina, ela é muito competente, aliás, vou
torná-la uma das associadas do escritório, talvez até o final do ano,
preciso pensar qual o melhor momento.
Tiro meus óculos, coço meus olhos, e quando abro, vejo a Karen
a minha frente.
Ela já tirou seu uniforme, está vestida em uma minissaia e uma
blusinha justa ao corpo. Não vou me fingir de santo, ela está
gostosa pra caralho.
– Pois não, Karen? – digo profissionalmente.
– Eu já estou indo embora, Doutor Rui. – Ela se aproxima da
minha mesa sensualmente. – Será que você pode me dar uma
carona? Estou indo para o cursinho, é bem próximo do seu
apartamento.
Disfarço meu olhar, essa garota está a fim de me arrumar
problemas.
– Talvez eu demore mais um pouco. – Recuo, estou me saindo
um perfeito idiota. O que está acontecendo comigo?
– Eu posso te esperar, esse horário os ônibus estão muito
cheios. – Ela olha para o seu corpo. – É desagradável pegar ônibus
vestida desta forma.
Olho para ela e tenho vontade de dizer: “Então por que você veio
vestida deste jeito se te incomoda andar de ônibus?”, mas não digo,
apenas balanço a cabeça.
– Tudo bem, me espere na mesa da Jackeline! – Volto a colocar
meus óculos e a olho saindo da minha sala.
É, hoje tá foda, e está difícil pra caralho manter o foco.
****

Termino de enviar os últimos e-mails do dia, desligo meu


computador e me estico em minha cadeira.
O dia foi foda hoje, estou cansado pra cacete!
Coloco meu terno, algumas coisas em minha pasta executiva e
saio em direção à recepção.
Abro a porta e vejo a Karen com sua saia minúscula
conversando no telefone da Jackeline, ela me olha, desconversa
com a pessoa e desliga.
– Podemos ir, Doutor Rui? – ela diz insinuante, ela é uma garota
muito esperta, desde que a contratei ela se joga em cima de mim
descaradamente.
Eu sei que não sou santo, mas essa aí é bem vadia.
– Sim, podemos ir! – Sigo em direção às escadas, ela me segue.
Logo estamos em meu carro, ela se senta ao meu lado, olho
como reflexo para suas pernas e é como se ela estivesse só de
calcinha, não dá para ver a saia.
Ela me olha, sorri e cruza as pernas.
Respiro e inspiro, e tento controlar minha compulsão por
mulheres.
Seguimos em silêncio, tento me concentrar apenas na música
que toca.
– Você parece cansado, Rui! – ela diz e sinto uma de suas mãos
em minha nuca.
– Um pouco, Karen – respondo um pouco tenso.
– Porque não tomamos alguma coisa juntos? Tem um bar muito
legal próximo do cursinho. – Ela me encara, seus olhos são muito
bonitos, a Karen é uma garota muito bonita, mas como se fosse
uma maldição a Jackeline vem a minha cabeça.
Ela deve ter feito algum trabalho para me amarrar, eu não
consigo tirá-la da minha cabeça.
Sorrio.
– A Jackeline está me esperando em casa! – Seu sorriso diminui
e ela tira sua mão de minha nuca.
Dirijo mais alguns metros e estaciono o carro em frente ao seu
cursinho.
– Entregue, Karen! – digo aliviado, essa garota é uma tentação
dos infernos.
Ela sorri, inclina seu corpo sobre o meu e me beija nos lábios.
Pela primeira vez na minha vida, recuso uma mulher. Me afasto
dela, me sinto constrangido com a situação, eu realmente não estou
conseguindo trair a Jackeline, e não sei se isso é bom ou ruim.
– Obrigada! – ela diz sem graça.
– Por nada. – Ela sai do carro e relaxo.
Puta que pariu, o que está acontecendo comigo?!
****

Chego ao meu apartamento, olho ao redor e não vejo ninguém,


nem o Bóris.
Subo as escadas, ouço risadas e um latido.
Abro a porta de meu quarto curioso, e lá estão a Jackeline e o
Bóris vendo televisão, numa cena muito interessante.
– Desde quando esse cara vê televisão na minha cama e come
pipoca, Jack? – falo divertido, não consigo ficar bravo com a
Jackeline, e muito menos com o Bóris.
Ele me olha com cara de coitadinho, o Bóris sabe que não pode
subir na minha cama, mas desde que a Jackeline entrou em nossas
vidas, essa casa está uma bagunça, eu não mando em mais nada.
– Oi, Rui. – Ela sorri para mim, tira a coberta do seu corpo e vem
me receber vestida em uma camiseta minha. – Desculpe, é que é
tão chato ver televisão sozinha! O Bóris adora filmes com cachorros,
sabia? – Ela se dependura em meu pescoço.
Abraço sua cintura e a encaro, ela me causa um sentimento
bom, algo que nunca senti antes.
– Nunca convidei esse cara para ver filmes em minha cama,
você está o acostumando muito mal, Jack!
– Só um pouquinho, Rui. – Ela me beija. – Você está cansado?
Vou preparar a banheira para você, depois posso fazer massagem
nos seus pés, o que você acha?
Sorrio e começo a tirar meu blazer.
– Perfeito! Mas eu tenho chulé, Jack! – falo de gozação.
– Oh! – Ela faz cara feia e tampa o nariz. – Tudo bem, eu passo
um creminho para disfarçar. – Ela ri e segue para o banheiro.
– Você parece melhor – digo a vendo animada.
– Sim, acho que descansei tanto que estou bem. Amanhã eu irei
trabalhar, tá bom? – ela diz enquanto abre as torneiras da banheira
e eu tiro minha camisa.
– Não, fica mais um dia aqui, eu não me importo, a Karen está
me ajudando – falo despreocupado, jogando minhas roupas no
cesto para roupas sujas.
– A Karen?! – Ela para o que está fazendo e me olha.
– Isso, ela sabe bastante coisa da rotina do escritório. – A olho
de relance.
– Ah, claro! – Percebo uma mudança em sua atitude, ela ficou
séria.
– Qual o problema, Jack? – A puxo para me olhar.
– Nenhum! – Ela sorri, disfarça, mas eu sei que ela tem ciúmes
da Karen.
– Ela só está me ajudando enquanto você não volta, apenas
coisas simples. – Acaricio seu rosto. – O ferimento está fechando,
daqui a pouco terá sumido. – Beijo o local ferido.
A Jack tem um rosto lindo, vê-lo assim me deixa muito irritado.
– É verdade. – Ela termina de tirar minha calça e a boxer. –
Pronto, agora você pode entrar. – Ela segue em minha frente, tira
minha camiseta e a calcinha, e só de vê-la sem roupa fico excitado.
A sigo com o olhar enquanto ela entra na banheira e se deita me
olhando.
– Vem, Rui! – Ela me olha com aquela expressão que adoro.
– Ok, Jackeline, já estou indo. – Entro na banheira, e me encosto
ao seu corpo, e sinto seus braços envolvendo meu corpo, assim
como suas pernas.
– Eu vou fazer massagem, Rui! – ela diz em meu ouvido, sinto
um arrepio, e não consigo segurar uma ereção.
– Meu pau tinha outros planos para nós dois, Jack. – Levo sua
mão até ele, a fazendo acariciá-lo.
– Você quer que a massagem fique para depois? – Ela beija meu
pescoço, minha orelha.
Um novo arrepio percorre meu corpo, essa mulher me deixa
louco.
– Isso, Jack... Sobe nele, minha deusa... – A puxo para meu colo
e começamos nossa noite do jeito que mais gosto.
Capítulo 48
JACKELINE BARTOLLI
Desperto preguiçosa, olho ao meu redor e não vejo o Rui.
Tivemos uma noite maravilhosa ontem.
Acabei passando minha segunda noite consecutiva no
apartamento do Rui.
Eu havia combinado com ele que trabalharia hoje, mas pelo visto
ele me enganou e não me acordou.
Olho em meu celular e vejo que não é muito tarde, então resolvo
ir para o escritório, não tenho por que ficar aqui o dia todo, estou me
sentindo bem hoje.
Sigo para o banheiro, logo estou trocada, olho no espelho do
banheiro, o ferimento em meu rosto já começou a sumir, então
disfarço com um pouco de maquiagem, a camisa cobre os
arranhões do braço, está tudo perfeito.
Desço as escadas e encontro sua empregada na cozinha.
– Bom dia, Jô! – A cumprimento na porta da cozinha.
– Olá, Jackeline, bom dia! Pensei que você não iria trabalhar
hoje. – Ela sorri. – O Doutor Rui me disse que você passaria o dia
em casa.
– Eu já estou bem, não gosto desse negócio de passar o dia em
casa. – Faço uma careta.
– Então tome seu café da manhã, se sente, eu já te sirvo um
café quentinho – ela diz animada.
Sigo para a mesa.
Confesso que todo esse mimo me deixa feliz, mas não gosto de
me acostumar com coisas que não fazem parte da minha vida.
Sorrio ao vê-la com uma xícara de café e um suco de laranja.
– Pode deixar, Jô, eu me viro – falo ao vê-la arrumando a mesa
com muitas guloseimas.
– Imagine, é um prazer, Jackeline! – Ela sorri novamente, aliás,
ela é tão simpática comigo.
Ela termina de ajeitar as coisas na mesa de jantar.
– Você quer escolher alguma coisa em especial para vocês
jantarem?
Paro minha xícara no meio do caminho.
Acho que ela está pensando que agora moro com o Rui.
– Não Jô, eu... então... não acho uma boa me intrometer nas
coisas do Rui – falo com cuidado. – Hoje mesmo quero voltar para
minha casa, faz alguns dias que estou aqui, preciso ir embora.
Ela me olha sem graça.
– Tudo bem, com licença.
Finalizo meu café da manhã e sigo para o elevador.
****

O caminho até o escritório foi tranquilo.


Adentro o prédio e passo pela recepção vazia, sigo para minha
sala e me surpreendo ao ver minha mesa bagunçada e o
computador ligado.
Ok, não vou mentir, senti um certo incômodo com isso, mas
inspiro e expiro, deixo minhas coisas sobre a mesa e sigo até a
porta da sala do Rui, bato e entro.
O problema de se estar envolvida com seu chefe é que não se
sabe mais onde termina o relacionamento e se começa a vida
profissional.
O fato de ver aquela loira oferecida em sua sala, sentada ao seu
lado, da mesma forma que ele costumava fazer comigo, me azedou.
– Jack, o que você está fazendo aqui? – Ele se levanta
rapidamente, como quem é pego de surpresa.
Ok, tudo bem, eu o peguei de surpresa.
– Eu acho que trabalho aqui – falo irônica.
Ele sorri e caminha até mim.
– A Karen estava me dando uma ajuda – ele diz sem graça, e
me vem um sentimento ruim ao coração.
Ele insistiu tanto para eu ficar em sua casa, para não vir
trabalhar, talvez ele realmente me quisesse longe daqui!
– Ok – respondo tentando manter uma postura profissional. –
Estarei em minha mesa. – Viro as costas e saio caminhando em
direção à porta, abro e saio.
Se ele estiver me enganando, ele vai se arrepender.
****
Demorou cinco minutos, então a porta abriu e a Karen saiu
gloriosa, com um sorriso satisfeito no rosto.
– Dá licença, Jackeline, eu vou terminar essas coisas em minha
mesa! Ela pega alguns papéis e sai desfilando seu corpo
maravilhoso no uniforme pouco comportado para um ambiente de
trabalho.
Fecho meus olhos e tento controlar meu temperamento, mas
meu ramal toca e vejo que é ele.
– Pois não? – falo seca.
– Vem até a minha sala, Jack.
Solto o ar e faço o que ele mandou.
Entro em sua sala, ele me encara enquanto caminho até ele.
– Tudo bem, Jack?
– Tudo ótimo! – respondo tentando ser civilizada.
– Não parece. – Ele me olha sério.
Minha vontade é tirar satisfação com ele, mas isso não faz muito
sentido, aqui é seu escritório, e essa piranha é sua funcionária.
– Você precisa de alguma coisa, Rui? Eu preciso ver alguns
assuntos que ficaram pendentes – falo irritada.
– Vem até aqui, Jackeline – ele diz incisivo, mas eu não estou a
fim.
– Não, eu tenho muitas coisas para fazer, quero dizer, já não sei
se tenho, minha mesa já estava sendo ocupada por outra
funcionária, meu computador estava sendo usado por ela, e
também, ela estava quase sentada em seu colo.
Ele dá risada, mas eu não estou achando nada engraçado.
Estou com um nível de irritação alto, no auge da minha TPM, e
com meus nervos bem afetados.
Ele se levanta e vem em minha direção, e se eu fosse ele, eu
não faria isso. O Renato costumava dizer que na TPM eu sou um
cavalo!
– Ei, Jack, se acalma! A Karen estava me dando uma ajuda, eu
te disse isso ontem.
Dou um sorriso falso.
– Que tipo de ajuda ela te deu, Rui? Por acaso envolveu sexo?
Ele gargalha e isso só piora minha irritação.
– Você é muito ciumenta, Jackeline! – ele diz com sarcasmo.
Lanço um olhar assassino para ele e decido sair de sua sala e
não ir adiante com isso, não estou muito bem hoje para esse tipo de
conversa.
– Dá licença, Rui. – Viro as costas para ele, e quando começo a
caminhar para a porta ele me segura, e faz eu olhar para ele.
– Você gosta de me deixar falando sozinho? – Ele me encara. –
Eu estava passando umas coisas para a Karen fazer, mas já que
você é teimosa e não ficou descansando em meu apartamento,
pode reassumir sua função, não precisa ficar brava por causa disso!
– Eu não estou brava! – Puxo meu braço, tento voltar a
caminhar, mas ele me impede. – Você pode me soltar, Rui? – falo
irritada, muito irritada.
– Só se você me disser que está tudo bem. – Ele me puxa para
junto de seus braços.
– Está tudo bem. – Rosno. – Agora me solta – falo muito irritada.
– Só se você me der um beijo. – Ele me encara, olho no olho,
com um começo de sorriso nos lábios.
Fecho os olhos e respiro, volto a olhar para ele e o beijo
rapidamente, apenas um selinho.
– Assim não, Jack, caralho! – Ele me olha contrariado. – Eu
quero um beijo de verdade!
– Eu não estou a fim, Rui! – Tento me livrar dele, mas ele me
segura com força.
Então, ele enfia seus dedos entre meus cabelos, traz meu rosto
até o seu e mergulha seus olhos nos meus, intensos, profundos.
– É assim que quero que você me beije, Jackeline! – Seus lábios
cobrem os meus, urgentes, famintos, gulosos.
Eu não tinha a intenção de retribuir seu beijo, mas ficou difícil e
quando me dei conta, já estava com meus braços enganchados em
seu pescoço, retribuindo seus beijos com paixão.
Depois de me beijar muito, ele afasta nossos lábios, mas
continua me segurando.
– Está tudo bem agora? – ele diz me olhando intensamente. –
Não aconteceu nada entre a recepcionista e eu.
Seus olhos estão grandes e ameaçadores, mas não recuo, olho-
o da mesma forma.
– Espero que não, Rui! – respondo.
– Você pode ter certeza disso! – Ele me olha sério.
– Ok, me desculpe. Estou um pouco irritada hoje! – falo sem
graça, talvez eu tenha agido feito uma dessas namoradas loucas.
– TPM, Jack? – Ele me olha de lado.
– É, estou em meus piores dias, Rui – falo constrangida.
Ele continua me segurando.
– O que te acalma nesses dias? – ele diz com um sorriso safado
no rosto.
Tento não rir, mas não consigo.
– Não sei, Rui!
– Beijos? – Ele beija meu pescoço. – Você ficou calminha agora.
Ai, que raiva dele.
– Te odeio, Rui! – Sussurro entregue aos seus carinhos. – Me
deixa ir.
– Só quando você disser que me adora – ele diz em meu ouvido.
Oh, como ele é irritante... e delicioso!
– Te adoro – falo baixo, ele está de tão bom humor.
– Mais alto, Jack, eu não ouvi – ele diz em meu ouvido.
Fecho os olhos e sorrio.
Olho em seus olhos.
– Te adoro, Rui! – Sorrio. – Está bom assim?
Ele dá um sorriso torto, lindo.
– Está meio desanimado, mas tudo bem. – Ele me dá um último
beijo. – Pode ir, minha oncinha! – Ele dá um tapa em minha bunda.
Rosno, faço cara feia e o vejo seguindo rindo para sua mesa.
****

Meu celular toca e vejo que é a Carolina.


Nos falamos ontem, contei o que tinha acontecido, enfim, ela
ficou muito brava.
– Oi, Carol! Tudo bem?
– Oi, Jack! Queria saber como você está hoje? – ela diz
carinhosa.
– Eu estou bem, inclusive estou trabalhando! – respondo
animada.
– Que bom! Então, hoje você vai pagar meu almoço! Você já
recebeu, querida! – Ela brinca.
– Tudo bem, vamos aproveitar enquanto ainda tenho dinheiro em
minha conta! – Dou uma risada.
– Ok. Te encontro na recepção! – ela diz rapidamente.
– Só vou avisar meu chefe! – Sorrio.
– Seu bofe, Jack! Você é nada menos do que a namorada do
Doutor Rui Figueiredo. – Ela ri. – Você não é fácil, mulher! – Mais
risadas.
– Tá, depois nos vemos!
Desligo.
Bato em sua porta e entro.
Espero ele terminar uma ligação, ele me olha e sorri.
– Posso sair para almoçar? – pergunto.
Ele franze sua testa.
– Nós vamos almoçar juntos! – ele diz sério.
– Oh, eu disse para a Carol que iria almoçar com ela. –
Choramingo.
– Hoje não, marca para outro dia! – ele diz autoritário.
– Como assim, Rui? E se eu quiser almoçar com ela hoje?
– Você almoça outro dia, hoje nós vamos almoçar em casa! – Ele
pega seu terno.
Oh, ele é muito folgado e mandão.
– Rui, você não manda em mim, sabia?! – falo nervosa.
– Jack, por favor, desmarca com a Carolina, vocês almoçam
outro dia, hoje você fica comigo.
Faço um bico e saio.
Ligo pra Carol, ouço cinco minutos de xingamentos, olho para
cima e vejo o Rui parado a minha frente.
– Vamos, minha deusa? – ele diz com seu sorriso mais lindo no
rosto, e como consequência, esqueço tudo, não consigo ficar brava
com ele.
– Vamos, mandão! – Sorrio.
****

Chegamos ao seu apartamento, ele segue para as escadas


apressado.
– Jack, avisa a Jô que almoçamos em 30 minutos – ele diz. –
Depois você sobe. – Ele pisca e eu reviro meus olhos.
Logo estou subindo para seu quarto, faço o Bóris descer as
escadas e entro.
O vejo em seu computador pessoal, ele digita energicamente.
– Tudo bem? Nunca te vi trabalhando em casa! – Me sento em
sua cama.
– É um assunto pessoal, prefiro usar o computador de casa.
– Tudo bem. – O observo digitando em sua escrivaninha. – Quer
que eu te deixe a vontade, Rui? – pergunto um pouco constrangida.
– Não! – Ele sorri. – Pode ir tomar um banho, eu irei em seguida!
Reviro meus olhos, tudo se resume a sexo com o Rui.
Tiro minha roupa, abro a ducha do chuveiro e tento não molhar
meu cabelo, logo sinto suas mãos em meu corpo, macias e
experientes.
Seus beijos em meu pescoço me amolecem, e parece que toda
aquela irritação foi embora.
– Está gostoso assim, Jack? – Ele pergunta em meu ouvido,
explorando meu sexo com seus dedos.
– Ah! – Gemo baixo. – Continua... assim... mais... ah, Rui... –
Meu coração bate descontrolado. – Eu te adoro, Rui... ohhh...
hummm... – Me contorço de prazer. – Foi delicioso! – falo de olhos
fechados.
– Agora é minha vez, Jack! – O sinto me penetrando
vagarosamente. – Como você quer, minha deusa? Assim
devagarzinho? – Ele segura meus quadris e me penetra lentamente.
– Eu adoro assim, mas eu sei que você gosta mais forte.
– Não, Jack, eu quero te foder, não importa como! – ele diz no
meu ouvido.
Sinto cada pelo do meu corpo arrepiado.
– Eu gosto mais selvagem, Rui! – falo contra seu rosto, beijando
o canto dos seus lábios.
– Assim? – Ele penetra forte, e morde meu ombro.
– Isso! – Sussurro. – Pode ir com força! – Ele aperta seus dedos
contra a pele dos meus quadris.
– Oh, Jack... – Mais uma mordida, agora no meu pescoço, mais
uma estocada. – Assim, minha deusa? – ele diz no meu ouvido.
– Assim, meu homem! Me fode bem forte, eu quero te sentir
inteiro! – Gemo alto e sinto uma nova estocada forte e profunda.
– Eu vou gozar, Jack. – Ele solta um gemido forte e sensual. –
Ohhh... ohhh, minha gostosa, eu estou gozando!
Sinto um misto de dor e prazer, então ele relaxa suas mãos
contra meus quadris, enfia sua cabeça no vão do meu ombro e
descansa.
Ele beija meu ombro.
– Eu deixei uma marca em você, Jack. – Mais beijos em meu
ombro.
Ele não me surpreende, ele é tão intenso, estou cheia de marcas
roxas pelo corpo.
– Não tem problema, Rui! – Descanso minha cabeça na parede.
– Vamos terminar nosso banho, estou morrendo de fome! – ele
diz com um sorriso.
– Você está sempre morrendo de fome, sabia?! – falo irônica.
– Eu gasto muita energia com você, Jackeline! – Ele ri
ensaboando seu corpo. – Nem estou conseguindo mais fazer meus
treinos, você não me deixa em paz! – ele diz divertido.
– Oh, então eu não vou mais dormir em sua casa! – Finjo estar
magoada.
– Você vai sim... – Ele ri bem-humorado.
Terminamos nosso banho e seguimos para o seu quarto.
****

Depois de almoçarmos em sua casa, seguimos direto para o


escritório.
– Obrigado pela companhia! – Ele segura meu rosto
delicadamente e me beija.
– Eu que agradeço pelo almoço – respondo abobada de amor. –
Quer um café, Rui? – pergunto o vendo seguir para sua sala.
– Mais tarde! – Ele sorri e segue para sua mesa.
Tenho que confessar que uma sessão de sexo com o Rui levou
para longe minha TPM.
A tarde seguiu preguiçosa, resolvo descer até a copa para tomar
um café e fazer um para o Rui.
Antes de entrar na copa, vou ao banheiro. Fecho a cabine e
termino de fazer meu xixi, e aí ouço vozes, da Karen e de uma
estagiária que anda com ela.
Penso em sair da cabine, mas escuto...
“E aí, o que aconteceu ontem? Eu vi você entrando no carro do
nosso big boss na hora da saída. Aliás, vocês demoraram muito
para irem embora, o que estava rolando?”
Elas riem e eu sinto uma taquicardia em meu peito.
“Adivinha? Transamos em sua sala. Ele me comeu bem
gostoso...” – A Karen diz, seguida por uma risada.
“Mas e a secretária?” – A estagiária pergunta.
“Não sei, não suporto aquela mulher, ela se acha! Mas o Rui é
louco por mim, ontem ele me levou para o cursinho, ele queria ir
para outro lugar, mas eu não quis, já perdi muitas aulas, se eu não
conseguir entrar em uma faculdade, minha mãe me mata!”
“Eu vi os dois saindo hoje para almoçar juntos, ele parece muito
envolvido por ela, Karen” – a estagiária diz.
“Ele é assim mesmo, mas daqui a pouco ele se cansa dela, mas
agora que ele terminou com a advogada, acho que tenho mais
chances, ele gosta de garotas mais jovens e loiras.”
Fico na indecisão de sair da cabine e acabar com a raça dessa
piranha, mas eu quero saber mais...
“Eu preciso voltar para minha mesa, Karen, senão aquela bruxa
da Carolina vai me esfolar viva, depois você me conta mais.”
Ouço a porta abrindo, saio enlouquecida pensando encontrar a
Karen, mas ela saiu com sua amiguinha.
Meu sangue pulsa em meu cérebro. Minha respiração sai
acelerada e um ódio assassino sufoca meu coração.
– Como ele pode me enganar desse jeito? – Algumas lágrimas
descem pelo meu rosto, mas não vou me permitir chorar por esse
verme.
Lavo meu rosto, respiro fundo e sigo para fora do banheiro.
Passo pela recepção e a ordinária da Karen não está lá.
Subo furiosa, entro em sua sala sem bater, e a vejo inclinada
sobre ele, o decote do blazer escancarado, do jeito que ele gosta,
eles estão rindo, mas quando ele me vê, disfarça. A Karen arruma
seus cabelos e segue em direção à porta, mas antes de sair dá um
sorriso de satisfação para mim.
Tento pensar qual a melhor forma de fazer isso, talvez com uma
faca, mas não tenho uma, e concluo que é melhor assim.
– Algum problema, Jack? A Karen estava me entregando... –
Não o deixo terminar a frase, bato com toda a minha força em sua
cara.
Ele coloca sua mão sobre seu rosto e me olha surpreso.
– Você não me engana mais, Rui! – Meus olhos enchem de
lágrimas. – Eu achei que você era homem, mas não, você é um cara
imaturo, egocêntrico, alguém que só cresceu na idade, mas que
continua agindo como um idiota de 18 anos.
– Do que você está falando, Jackeline?! – Sua voz sai baixa,
ameaçadora, mas eu não tenho medo dele.
– Pergunta para sua recepcionista! – Saio andando a passos
firmes, mas ele me segura.
– A gente já conversou sobre isso hoje, Jackeline! – Ele me olha
com suas pupilas dilatadas. – Qual o seu problema, porra?!
– Nenhum! Tira suas mãos de mim! – Puxo meu braço com
força.
– Jackeline, você é louca, eu já te disse que eu não tenho nada
com essa garota! – Ele passa as mãos pelos cabelos. – Porra, por
isso que odeio relacionamentos, a gente já conversou sobre isso,
pula essa parte.
– Eu também não gosto de relacionamentos, aprendi isso com
você – falo com ódio. – Eu vou embora, não trabalho mais para
você, me avise por mensagem quando for o momento para assinar
meu desligamento.
Saio pela porta da sua sala, pego minha bolsa e desço as
escadas tão depressa que quase caio e saio rolando.
Eu adoraria dar uma surra nessa Karen, mas não quero ficar
aqui mais nenhum segundo.
O caminho até minha casa foi uma tortura. Não consegui soltar
uma só lágrima, mas meu peito está sufocado, assim como minha
garganta, parece que existe algo parado no meio dela.
Abro a porta da sala, minha mãe me vê e vem feliz me receber.
– Oi, filha! Que bom que você chegou cedo hoje! – Beijo seu
rosto. – Está tudo bem, Jack?
– Eu estou com muita enxaqueca, mãe, vou me deitar. – Sigo
para o meu quarto, nem ao menos cumprimentei minha tia e avó.
– Ok. Eu vou preparar um chazinho pra você!
– Ótimo, agora quero ficar sozinha!
Capítulo 49
RUI FIGUEIREDO
Eu sempre achei que não suportaria uma mulher como a
Jackeline.
Odeio mulher brava! – Esbravejo puto.
Enquanto a olho sair furiosa pela porta, tento controlar a raiva
que estou sentindo.
– Ela me chamou do que? Imaturo e egocêntrico, é isso?!
Caralho, eu não admito isso! Ela mexeu com o cara errado!
Ando pela minha sala feito um animal nervoso.
O que aconteceu, porra?! O que afinal a deixou tão nervosa?!
Não posso acreditar que ela ficou daquele jeito porque a Karen
estava em minha sala!
Tudo bem, eu confesso que essa garota é uma diaba safada,
fica se jogando para cima de mim descaradamente, e pelo visto não
ficou satisfeita com o que aconteceu no dia anterior.
Mas a Jackeline não viu nada de mais.
Ok, eu preciso esclarecer isso com a Karen.
Ligo em seu ramal e peço para ela subir em minha sala.
Um toque na porta e a vejo entrando.
Seu sorriso não nega sua satisfação por eu chamá-la
novamente.
– Pois não, Doutor Rui? – Ela sorri e se coloca ao meu lado da
mesa.
– Você andou conversando com a Jackeline? – falo incomodado,
de fato, nem eu sei como falar sobre esse assunto.
– Como assim? – ela diz sorrindo.
– Você falou alguma coisa para a Jackeline sobre eu e você? –
Insisto.
– Não! – Ela me olha de lado. – Eu nunca conversei com sua
secretária, aliás, ela é muito esnobe, nunca me cumprimentou, é
mal-educada e me trata como se eu não existisse. – Ela se
aproxima mais. – Ela não gosta de mim, e tenho certeza que está
louca para me prejudicar junto a você. – Ela continua. – Ela está
sempre fazendo comentários maliciosos sobre mim para outros
funcionários.
Enrugo minha testa.
Não consigo ver a Jackeline fazendo fofoca, ela não gosta da
Karen, mas também não fica falando mal dela.
Porra, era só o que me faltava, lidar com as picuinhas entre a
Karen e a Jackeline.
– Certo! – falo irritado. – Tudo bem, pode ir.
– Doutor Rui, eu gosto muito de atendê-lo neste trabalho de
secretária... – A olho curioso. – Eu não me incomodaria de trabalhar
como sua secretária. – Ela se coloca praticamente no meio das
minhas pernas. – Você parece tenso, quer que eu te relaxe um
pouco? – A vejo seguindo com os dedos até minha braguilha.
Apesar de estar tenso pra cacete, não acho uma boa ideia deixar
a Karen fazer um boquete em mim.
– Karen, eu preciso resolver um problema agora, qualquer coisa
eu te chamo.
Ela me olha decepcionada.
– Tudo bem. – Ela começa a caminhar para a porta, mas para e
me olha. – A Jackeline não irá trabalhar mais no escritório? Eu a vi
indo embora.
A olho por alguns segundos, nem eu sei o que será da Jackeline
na minha vida, mas nesse momento eu não tenho condições de
responder a essa pergunta.
Simplesmente não sei o que quero.
Talvez fosse melhor que ela não voltasse mais, acho que fui
longe demais com ela, me envolvi e permiti que ela se envolvesse
também!
De repente, era isso que eu precisava para acabar com esse
relacionamento.
É isso, estou de saco cheio da Jackeline, ela me irritou demais
com o que fez, e se ela pensa que irei atrás dela, ela está muito
enganada.
– Não sei, Karen! – respondo, não fui capaz de dizer que ela não
voltará.
****
É final de tarde, alongo um pouco minhas costas, minha tarde foi
uma merda, essa história da Jackeline acabou com meu dia.
Resolvo dar uma passada no clube que o Carlão me falou.
Na verdade, clube é o jeito de dizer, é um puteiro de alto nível,
um lugar exclusivo para homens, executivos em sua maioria.
Eu preciso relaxar, voltar à minha antiga vida, aquela que eu
tinha antes de conhecer a Jackeline, e ver meu mundo organizado e
metódico virar de ponta cabeça.
Arrumo minhas coisas e sigo para o meu carro.
– Até amanhã, Karen! – digo rapidamente, mas ela se levanta.
– Posso pegar uma carona com você, Doutor Rui? – ela diz
carente.
– Não! – digo secamente, a Karen está começando a me
incomodar, não estou gostando de seu jeito intrusivo. – Tenho um
compromisso.
Não me dei o trabalho de checar sua expressão.
Entro no meu carro e sigo como um autômato para o lugar
combinado.
Será bom rever meus amigos, hoje é um dia especial, é o
aniversário de um dos caras, estou precisando me desligar um
pouco do trabalho, enfim...
Depois de alguns minutos de trânsito, chego ao local, entrego
meu carro para o manobrista e sigo para o interior da boate.
A música alta e o cheiro de cigarro me incomodam um pouco.
Acho que estou ficando velho! – Penso incomodado.
Logo vejo meus amigos em uma mesa grande, muita bebida e
muita mulher.
O primeiro a me ver é o Carlão, ele levanta o braço animado,
parece feliz em me ver.
– Agora sim, irmão! – Ele aperta minha mão e bate
energicamente em minhas costas.
– E aí, cara? – O cumprimento rapidamente e sigo para
cumprimentar os outros amigos.
Converso um pouco com cada amigo, e então me sento ao lado
do Carlão, vejo duas garotas ao seu lado, logo ele as apresenta e a
loira cola ao meu lado.
Provavelmente o Carlão fez isso de propósito, ele sabe que
adoro loiras.
– Meu nome é Jéssica! – Ela se apresenta, seu sorriso é
perfeito, assim como seu corpo. – Eu estou disponível, caso queira
passar a noite comigo.
Sorrio para ela, preciso beber um pouco, apesar da beleza da
garota, não estou me sentindo empolgado.
– Tudo bem, Jéssica, mas acabei de chegar então...
– Ok! – ela diz sorrindo, se aproxima de mim e acaricia meus
cabelos.
Eu não quero pensar na Jackeline, mas ela vem a minha cabeça,
e com isso um sentimento ruim.
Hoje você não vai estragar minha noite! – falo em pensamentos.
Sinto beijos em meu pescoço, e como se fosse uma maldição,
sinto uma ojeriza, um sentimento ruim, de rejeição em relação à
puta.
Obviamente que ela quer garantir seu cliente, e por isso está
tentando me seduzir o mais rápido possível.
Eu sempre me diverti com isso, mas hoje não está fazendo
efeito.
Ela está me incomodando.
– Gata, me dá um tempo... Eu estou meio nervoso, me deixe
relaxar um pouco sozinho. – Tento não ser grosseiro, mas pela sua
cara, ela não gostou muito.
Me levanto, caminho entre as pessoas, assisto um pouco ao
show de pole dance, mas não vou mentir para mim mesmo, não
estou num bom dia para vir aqui, infelizmente a Jackeline conseguiu
acabar com meu dia e minha noite.
– Não gostou da garota, Rui? – Desperto dos meus
pensamentos, o Carlão está ao meu lado.
– Ela é linda, gostosa, mas não estou com pressa, ela que
espere. – Tomo um gole do meu uísque.
– Quer trocar? Pode ficar com a morena, pensei em te deixar a
loira por causa das suas preferências! – Ele ri discretamente.
Olho para a mesa e vejo a garota, ela deve ter uns 19 anos, é
linda, mas eu estou muito fodido, a Jackeline é uma desgraça na
minha vida, não consigo pensar em sexo sem ela.
– Ela é bem gostosa, mas estou cansado, cara, preciso beber
um pouco primeiro e relaxar.
– Tudo bem, irmão, não tenho preferência. Também podemos
fazer um programa juntos, a gente pega as duas, pode ser bem
divertido! – ele diz com malícia.
– Valeu, vou pensar em sua proposta. – Sorrio sem muita
vontade.
Volto a sentar na mesa, uma curiosidade monstro lateja em
minha cabeça, então pego meu celular, olho as mensagens e vejo
que a Jackeline enviou uma para mim.
Isso não deveria me surpreender, ou mexer comigo, mas não
consigo controlar a ansiedade que sinto.
Abro a mensagem e tenho vontade de matá-la.
Ela fotografou uma carta de demissão e me enviou
por WhatsApp.
– Jackeline, sua sorte é que estamos a mais ou menos 30
quilômetros de distância – falo para mim mesmo.
Uma raiva fora do normal pulsa em meu cérebro.
Eu não vou aceitar essa merda! – Esbravejo sozinho, e escrevo.
“Essa merda não tem valor jurídico nenhum para mim. Se você
deseja pedir demissão, leve essa porra pessoalmente ao
departamento de RH.”
Mulher maldita, conseguiu acabar com qualquer possibilidade de
uma noite de sexo que eu teria com uma dessas putas.
Me viro rapidamente para o meu amigo.
– Eu preciso ir, cara, estou com um problema. – Coloco uma
grana sobre a mesa para pagar minha bebida, o Carlão me olha
incrédulo.
– Alguém morreu? – Ele pergunta.
– Mais ou menos, talvez eu mate alguém! – respondo nervoso e
saio.
****

Acordo com minha cabeça estourando, sigo para o banheiro e


logo estou descendo as escadas.
A mesa de café da manhã está posta, mas não sou capaz de
comer, continuo nervoso, na verdade preciso resolver essa questão
com a Jackeline ou vou ter um ataque cardíaco.
Durante o trajeto para o escritório tento formular algum plano em
relação à Jackeline, mas não consigo, estou bloqueado
mentalmente.
Olho para ver se ela leu minha mensagem, provavelmente sim,
agora só queria saber qual sua próxima loucura.
Chego ao escritório muito cedo, sigo para minha sala, mas não
consigo deixar de olhar para sua mesa, e um sentimento de perda
invade meu coração.
Eu não quero perdê-la, essa é a droga da verdade.
– Eu te odeio, Jackeline, por te invadido meu coração desse jeito
e me tornado dependente de você – falo para mim mesmo.
Eu mal sei o que tenho que fazer, eu realmente não sei o que fiz
de tão errado para deixá-la daquele jeito!
Ok, a primeira coisa a fazer é avisar meu gerente de RH. Ele não
pode aceitar nenhum pedido de demissão dela.
Escrevo um e-mail para o gerente, ele não vai entender nada,
aliás, ninguém me entende mais.
Agora é só esperar, eu tenho certeza que ela virá.
****

Estou em reunião com dois advogados, estamos montando a


estratégia para uma audiência.
Estou quase achando que a Jackeline não virá mais, olho
compulsivo para o meu celular, às vezes para checar o horário, às
vezes para checar se não há uma mensagem dela.
A filha da puta está a fim de estragar mais um dia da minha vida,
mas como se fosse um milagre, o telefone toca.
– Só um minuto! – Sigo apressado para minha mesa.
– Rui! – falo energicamente.
– Doutor Rui, ela chegou! – O gerente diz em código, e chego à
conclusão que desde que contratei a Jackeline
estou desmoralizado com esse cara, essa mulher está me fazendo
de gato e sapato.
– Enrola ela, não aceita a porra da carta, e diga que ela
precisará cumprir o aviso prévio.
– E se ela quiser pagar? – ele diz apático.
– Ela não irá ter dinheiro – bufo cansado. – Preciso
de 15 minutos para terminar uma reunião, não a deixe ir embora, eu
irei conversar com ela.
– Doutor Rui me desculpe perguntar, mas o que aconteceu? O
senhor desconfia que ela irá mover um processo contra o senhor
por assédio, é isso? – O gerente diz sem graça.
– Não, porra! – Esbravejo estressado. – Só faça o que estou
mandando, não a deixe ir embora, ou você será demitido!
Desligo a ligação e sorrio para os advogados.
– Vamos terminar logo isso, eu tenho um assunto complicado
para resolver!
****
Estou quase arrancando meus cabelos, os porras dos
advogados não chegam a um acordo, e o merda do gerente está me
ligando desesperado.
– Ok, caralho, já que vocês dois não chegam a um acordo então
vai ser do meu jeito! – Esmurro a mesa e os dois me olham
assustados. – A reunião acabou.
Eles esbravejam.
– Doutor Rui, só mais um momento, eu queria te explicar o meu
ponto de vista.
– Não estou com tempo nem paciência, Doutor Augusto. Se
quiser, discuta seus pontos com a Doutora Carolina, vou passar
esse processo para ela.
Sigo até meu telefone, ligo para o gerente e aviso que estou
indo.
– Doutor Rui...
– Não me enche, Augusto, caso você não queira ser demitido –
digo autoritário, pego o meu terno e sigo pelos corredores do
escritório, em direção à sala de reuniões onde a Jackeline está, e se
eu disser que não estou nervoso, estarei mentindo.
Estou uma pilha de nervos!
Olho para a porta fechada, respiro e inspiro, nunca me senti tão
nervoso por causa de uma mulher.
Bato na porta e entro, ela me olha, me fuzila com o olhar.
Eu preciso ter calma com ela.
– Obrigado, Ferreira. Pode ir – falo para o meu gerente do RH.
Ele sai acuado, pelo visto a minha oncinha assustou ele.
Olho para a Jackeline, ela me olha duramente, ela está
especialmente deliciosa hoje, com uma calça jeans e uma blusinha
branca marcando seus seios. A Jackeline é minha perdição, sinto
uma atração insuportável por ela.
– Eu preciso ir – ela diz, mas a interrompo.
– Eu preciso saber o que fiz de tão sério para deixá-la desse
jeito.
Ela dá um sorriso amargo.
– Você não sabe, não perguntou para sua recepcionista? – ela
diz com ironia.
– Não sei, e também não vou sair por aí perguntando... Isso é
entre eu e você. O que eu fiz? Eu realmente não sei!
– Você está saindo com a Karen, e se aproveitou dos dias que
fiquei em sua casa para transar com ela em sua sala, levá-la para o
cursinho, e sei lá mais o que vocês fizeram. – Sua voz começa
embargar, ela para de falar.
– Eu não fiz nada disso, Jack, eu disse para você que não tenho
nada com essa garota.
– Então por que ela está dizendo por aí que vocês transaram, ou
transam? – ela diz chorando.
– Eu não sei, ela deve ser louca! Eu não quero esconder nada
de você, então admito que dei carona para ela até o cursinho que
ela frequenta, mas foi só isso.
Ela me olha confusa, limpa seus olhos.
– Eu não sei se consigo acreditar em você, Rui!
Passo minhas mãos pelo meu rosto e bufo nervoso.
– Ok, Jackeline. – Sigo até o telefone, mas ela me interrompe.
– O que você está fazendo? – Ela me olha indignada.
– Ligando para a Karen, vou pedir para ela vir até aqui, vamos
esclarecer essa situação! – Ligo para a recepção, a Karen atende. –
Karen, venha até a sala de reuniões azul, preciso esclarecer um
assunto com você.
– Claro, Doutor Rui! – ela responde solícita.
Olho para a Jackeline e me sento a sua frente.
– Vamos ver quem está mentindo, mas de antemão te garanto,
não sou eu, tenho muitos defeitos, mas não sou mentiroso.
Ela desvia seus olhos de mim, penso em dizer outras coisas,
mas a porta abre e a Karen entra na sala.
Capítulo 50
JACKELINE BARTOLLI
Ouço o ranger da porta do meu quarto, estou encolhida em
minha cama, os olhos estalados, não consigo dormir, não consigo
desviar meus pensamentos do Rui e daquela garota piranha.
Gostaria de enforcá-la como se enforca uma galinha, e o Rui, eu
tiraria o que ele tem de mais precioso, gostaria de guilhotinar seu
pau, e dá-lo para seu lindo cachorro comer.
Minha mãe entra e vejo mais uma xícara de chá em sua mão.
– Mãe, não aguento mais tomar chá. – Choramingo.
– As cólicas passaram, querida? – Ela me olha com pesar.
– Passaram sim, não precisa se preocupar comigo, eu estou
bem! – Beijo seu rosto.
– Jack, você pode enganar muita gente, mas não sua mãe! – Ela
me encara. – O que aconteceu, por que você está assim?
Não suporto quando minha mãe fala assim comigo, então faço o
que estou tentando heroicamente não fazer... chorar!
– O Rui estava me traindo com uma garota bem mais jovem,
mais bonita e mais interessante do que eu! – Soluço. – Ele só
estava me usando.
– Eu te avisei, Jackeline, esses homens ricos e poderosos não
prestam, filha! – Ela limpa minhas lágrimas. – Por que você não
procura seu ex-namorado? Eu sei que ele não é como esse tal de
Rui, mas ele é sério, trabalhador e ama você!
A olho desanimada.
– Eu não o amo mais! Não sinto mais nada, e quando
transamos... me senti tão mal, não consigo pensar em sexo com ele,
como posso voltar para ele assim. Eu amo o Rui, mãe! – Limpo as
lágrimas que escorrem pelo meu rosto, respiro. – Mas eu vou
superar isso, vou digitar agora mesmo minha carta de demissão e
acabar logo com isso!
Me levanto delicadamente, pois agora além de tudo, estou com
cólicas. Sou uma daquelas mulheres batizadas pelo papai do céu.
Eu não tenho dúvidas que ele não gostou muito de sua última
criação!
Ele caprichou nos detalhes, além das dores que possivelmente
terei no parto, ainda sofro todos os meses com intermináveis
cólicas, enxaquecas, e uma TPM dos infernos.
Oh, pai, o que de tão mal fizemos a você para merecer tantas
coisas juntas?!
Talvez nosso presente por passar por isso seja a maternidade, é
isso que minha santa mãe diz.
Segundo ela, não existe momento mais lindo na vida de uma
mulher.
A dádiva de poder gerar outro ser explica tudo e compensa tudo.
Acho que talvez esse seja o motivo para eu querer tanto me
tornar mãe. Sofro tanto todos os meses, então quero meu prêmio
por passar por isso desde minha adolescência.
Digito rapidamente uma carta, imprimo, assino, pego meu celular
e fotografo.
– Ok, seu filho de uma puta, você nunca mais verá minha cara! –
falo para mim mesma.
Entro em seu contato no WhatsApp e anexo a carta.
– Está feito, mamãe. Se Deus quiser, nunca mais ele irá me ver
– falo para minha mãe.
Ela se levanta da minha cama e acaricia meus cabelos.
– Tente dormir, Jack. Você está abatida, filha.
Olho enquanto ela sai, mas não a vejo, só vejo o Rui.
– Eu irei superar isso, não será um babaca pretensioso que irá
acabar comigo.
Encolho-me em minha cama e tento dormir.
****

O sono finalmente chega, mas no meio da madrugada acordei


achando que meu útero sairia pela minha vagina.
Uma cólica maior que o mundo faz eu me contorcer na cama.
As lágrimas descem pelo meu rosto, e como se o cordão
umbilical entre mim e minha mãe nunca tivesse sido cortado, ela
aparece.
– Tudo bem, Jack? – ela diz como sempre apavorada.
– O remedinho mãe, a maldição voltou! – falo fraca.
– Oh, Jack, me prometa que irá procurar um médico para ver
isso, não é normal sentir tantas dores! – Ela me entrega o
medicamento e a água.
– Mãe, já fui várias vezes ao posto de saúde, estou esperando
há um ano para fazer um exame – falo desanimada. – Eu estava
esperando para usar a assistência médica do escritório, mas,
enfim... deixa pra lá!
– Vou esquentar a bolsinha térmica. – Ela sai em disparada, logo
volta com a bolsa térmica, coloca sobre minha barriga e me olha
preocupada. – Posso ir dormir, ou você quer um chazinho?
Tento sorrir para ela.
– Não aguento mais tomar chá. Pode dormir, o remédio já
começou a fazer efeito.
Ela sai do quarto cansada.
Relaxo um pouco, espero enquanto a bolsa permanece quente,
então me levanto e sigo para o banheiro, preciso de um banho,
estou suada e suja.
Volto para minha cama e então pego o celular para ver as horas.
São 5h da manhã.
Vejo notificações de mensagens, entro e me deparo com a
mensagem mal-educada do Rui.
Leio e esbravejo.
Ele é um maldito, e quer me fazer passar pela situação
constrangedora de ir ao seu escritório.
– Merda! – Jogo o celular longe. – Idiota... – xingo ele.
Vou tentar dormir mais um pouco, depois vejo isso.
Me deito novamente e adormeço.
****

É estranho acordar e saber que não tenho mais um emprego.


Sinto uma tristeza tão grande!
Penso em me vestir e ir até seu escritório, mas não estou em
condições.
Me sinto péssima, não estou bem para pegar um ônibus, metrô,
parece que fui atropelada por um caminhão.
Passei a manhã toda deitada, só saí do quarto para beber água.
Estou cochilando, quando ouço a voz da minha avó.
– Oi, meu bem, sua mãe me disse que você não está muito bem!
– ela diz da porta. – Você está sentindo enjoos? – A olha surpresa
com a pergunta.
– Não, vovó. Mas, já estou melhor. – Me sento na cama.
– Eu passava muito mal quando estava grávida de sua mãe.
Arregalo meus olhos.
– Vovó, eu não estou grávida, são cólicas – falo enfática.
– Não precisa esconder isso da sua avó, eu imaginava que isso
iria acontecer, do jeito que vocês dois passaram aquela noite... – Ela
revira seus olhos. – Ele irá se casar com você, não? Se não casar,
acabo com a raça dele! Sou velha, mas ainda guardo a arma de seu
avô, vou resolver isso na bala, minha neta, deixe comigo!
Coloco minha mão na cabeça.
Meu Deus, é muita confusão para a vida de uma mulher só.
Deve ser por isso que nunca tive muita sorte no amor, essas três
não deixam.
– Vovó, esquece isso, não estou grávida! – Me levanto e sigo
para o banheiro.
Acho que depois dessa história, vou vomitar de verdade.
****

Termino de me vestir e me olho no espelho.


Coloquei apenas uma calça jeans e uma blusinha de malha
branca.
Se existe algo de bom em tudo isso, é que emagreci, constato ao
sentir a calça dançando um pouco em meus quadris e coxas.
Pego um blazer preto e o coloco para disfarçar meus seios,
respiro fundo e sigo para o elevador.
– Tchau, mãe, até mais tarde – falo da porta.
– Você não esqueceu de colocar o seu remédio na bolsa, Jack?
– ela diz preocupada.
– Não, estou levando o kit primeiros socorros. – Tento fazer um
pouco de humor.
– Vá com Deus, meu amor.
Aceno do corredor e entro no elevador.
Levei quase duas horas para chegar ao escritório do Rui, entro
na recepção e não consigo disfarçar o ódio que sinto pela Karen.
Ela também não gosta de mim, então apenas ignoramos uma a
outra.
Sigo até o departamento de Recursos Humanos, cumprimento
alguns advogados que encontro no caminho.
Paro no balcão de atendimento, o gerente se levanta
rapidamente e vem ao meu encontro.
Parece até que ele estava esperando por mim.
– Olá, boa tarde! – falo um pouco nervosa. – Eu já conversei
com o Doutor Rui sobre isso, eu gostaria apenas de entregar minha
carta de demissão. – Entrego para ele o envelope.
– Ah, claro! – ele diz estranho. – Só um momento, Jackeline, me
aguarde um minuto. – Ele segue até sua mesa, pega seu telefone e
faz uma ligação.
Ele deve estar avisando o Rui, meu coração dispara, eu não
quero vê-lo, preciso ir embora.
Aguardo ansiosa seu retorno.
– Você me acompanha, Jackeline? Preciso conversar com você
sobre seu desligamento. – Ele pega em meu braço e me encaminha
ao longo do corredor, abre uma sala e entramos.
– Sente-se, Jackeline. Você quer beber alguma coisa, chá, café,
suco? – Ele segue até o telefone.
Confesso que estou surpresa, nunca fui tão bem tratada em um
desligamento, normalmente eu era escorraçada dos consultórios,
mal me deixavam pegar minhas coisas.
– Um chá de erva doce – respondo sem graça.
Ele se senta à minha frente.
– Existe algo que você queira dizer, Jackeline, a respeito do seu
desligamento? – Ele me encara. – Alguma reclamação, enfim.
– Não, só estou com pressa. Tem como você agilizar isso? – falo
nervosa.
A copeira entra com as bebidas, sorrio para ela, voltamos a ficar
sozinhos.
– Você não gostou do trabalho? – Ele insiste.
– O Doutor Rui sabe das razões de minha demissão, se você
quiser saber mais sobre isso, fale com ele – respondo irritada. – Me
diz uma coisa, o que estamos esperando? Eu preciso ir embora!
– Ok, só mais um minuto, minha funcionária está preparando a
documentação do desligamento. – Ele se levanta. – Deixe-me
cobrá-la. – Ele sorri sem graça e disca um número. – Ela já está
terminando.
Ele sorri novamente, parece nervoso.
– Você chamou o Doutor Rui? – Me levanto de sobressalto, só a
ideia de o ver me deixa nervosa. – Eu não vim aqui para falar com
ele, já conversamos, não tenho nada para falar com ele! – Minha
voz sai levemente alterada.
– Não. Se acalme, Jackeline, beba seu chá – ele diz
pausadamente, parece tomar cuidado com as palavras.
Volto a sentar, meu estômago dá voltas.
Ficamos em um silêncio desconfortável, e então a porta abre e
me sinto aliviada, mas então o vejo entrar na sala, sua presença é
algo que não consigo descrever, ele é magnânimo, parece um Deus,
imponente, poderoso e lindo!
Eu posso estar o odiando, mas não consigo controlar os
batimentos cardíacos que ele me causa, assim como uma moleza
nas pernas e uma dificuldade em respirar.
A impressão que tenho é que com sua chegada o oxigênio do
ambiente diminuiu, assim como o ar condicionado parou de
funcionar.
Um calor fora do normal me abate.
– Obrigado, Ferreira! Pode ir – ele diz para o gerente.
– Eu preciso ir – falo nervosa, me sinto fraca perto dele, não
acho uma boa ideia ficarmos sozinhos.
Ele me interrompe. – Eu preciso saber o que fiz de tão sério para
deixá-la desse jeito.
Um sorriso amargo surge em meus lábios, como ele pode ser tão
falso assim?!
– Você não sabe, não perguntou para sua recepcionista? – digo
com ironia.
– Não sei, e não vou sair por aí perguntando... Isso é entre eu e
você. O que eu fiz? Eu realmente não sei!
Eu não conheço o Rui como conhecia o Renato, mas se ele
estiver mentindo ele é um grande ator.
– Você está saindo com a Karen, e se aproveitou dos dias que
fiquei em sua casa para transar com ela em sua sala, levá-la para o
cursinho, e sei lá mais o que vocês fizeram. – Vomito as palavras, e
começo a sentir minha voz embargar com as lágrimas.
Paro de falar, não quero chorar na frente dele.
– Eu não fiz nada disso, Jack, eu disse para você que não tenho
nada com essa garota.
Ele parece tão sincero.
– Então por que ela está dizendo por aí que vocês transaram, ou
transam? – Não consigo segurar as lágrimas, elas inundam meus
olhos.
– Eu não sei, ela deve ser louca! Eu não quero esconder nada
de você, então admito que dei carona para ela até o cursinho que
ela frequenta, mas foi só isso – ele diz exasperado.
Me sinto tão confusa, como vou saber se ele está sendo sincero
comigo, estou tão envolvida por ele que o mais fácil seria acreditar
no que ele diz.
Limpo meus olhos e falo o que meu coração me diz:
– Eu não sei se consigo acreditar em você, Rui!
Ele esfrega seu rosto nervoso, e em seguida segue até o
telefone.
– Ok, Jackeline.
– O que você está fazendo? – O olho confusa.
– Ligando para a Karen, vou pedir para ela vir até aqui, vamos
esclarecer essa situação!
– Karen, venha até a sala de reuniões azul, preciso esclarecer
um assunto com você – ele diz seriamente.
Ele se senta à minha frente, me encara com seu olhar intenso,
urgente, e então diz:
– Vamos ver quem está mentindo, mas de antemão te garanto,
não sou eu, tenho muitos defeitos, mas não sou mentiroso.
Não consigo manter meu olhar no seu, tento controlar o furacão
que está dentro de mim, mas então a porta abre, e aquela aprendiz
de piranha entra sorridente, mas quando me vê fica séria, e volta a
olhar para o Rui.
– Pois não, Doutor Rui? – De novo aquele sorriso de piranha.
– Sente-se – ele diz duro e frio.
Ela puxa uma cadeira ao lado dele, e sinto novamente aquela
sensação ruim de ciúmes.
– Karen – ele diz olhando para suas mãos sobre a mesa. – Não
sei se você sabe, ou percebeu... – Ele me olha –, mas eu e a
Jackeline temos um relacionamento. – Ele olha para ela. – Somos
namorados.
Olho para ele constrangida, confusa, sei lá o que estou sentindo.
Olho para a Karen, e pareço sentir o ódio em seu olhar.
O silêncio se instala na sala, o Rui me olha insistentemente.
– Bem, a Jackeline ouviu você dizendo, ou ficou sabendo por
outra pessoa... – O interrompo.
– Eu a ouvi dizendo, ninguém me contou, eu estava no banheiro,
ela entrou com sua amiguinha estagiária e então ela começou a
contar que você a tinha comido em sua sala. – Olho para os dois.
– Ela está mentindo, Doutor Rui – ela diz com uma expressão
autêntica, sem rastros de mentiras, nada que mostre que ela esteja
mentindo.
Essa garota é muito mais perigosa do que parece.
– E eu mentiria por que, para qual propósito? – falo indignada.
– Para me prejudicar, você não gosta de mim, diversas pessoas
me disseram que você fala mal de mim! – Ela me encara sem um
pingo de constrangimento. – Você se finge de santa, Jackeline, mas
você é uma víbora.
Estou quase arrancando seus olhos com minhas unhas.
Vagabunda dos infernos!
Ela é uma atriz, a melhor de todos os tempos.
– Eu querendo te prejudicar?! – falo irônica, com ódio, eu vou
matá-la. – Eu quero que você morra, não estou nem aí para você,
sua aprendiz de piranha! – Me levanto e o Rui se levanta junto.
– Fica calma, Jack! – ele diz tenso. – Estamos aqui para
esclarecer essa situação.
– Esclarecer o que? Que essa garota é uma atriz, que ela está
virando o jogo contra mim? – Minhas mãos tremem de nervoso.
– Está vendo, Doutor Rui? Estou aqui agindo com educação, e
essa mulher me ofendeu me chamando de piranha!
Bufo feito um cavalo selvagem.
– Jack, sem xingamentos, vamos apenas conversar.
Me levanto bruscamente, bato na xícara de chá, a derrubando no
chão, causando um estardalhaço na sala.
– Eu não preciso passar por isso, não vou participar desse
teatrinho – bufo com raiva. – Sabe o que acho? Que vocês dois
estão mancomunados nesta história, e mais, que você é uma
piranha, Karen, e você Rui, merece a funcionária que tem. – Sigo
para a porta alucinada de ódio. – Coma e se lambuze dessa
piranha!!! – grito ensandecida.
Caminho com pressa no corredor, limpando minhas lágrimas que
inundam meu rosto.
– Jackeline!!! – ele grita meu nome, viro para o olhar, vejo a
piranha atrás dele, e sigo louca para a porta, mas ele me alcança,
me segura e o vejo respirando feito um touro selvagem. – Volte para
aquela sala! – ele diz entre seus dentes.
– Não volto, você não manda em mim! – Puxo meu braço.
– Então eu vou te levar a força! – ele se inclina sobre mim e de
repente me vejo sendo carregada em seu ombro, feito um saco de
batatas.
– Me coloca no chão!!! – grito histérica.
Subitamente sou jogada em uma cadeira e um Rui selvagem me
encara.
– Não sai daí, Jackeline, eu não estou brincando! – Sua voz sai
baixa, mas me causa calafrios.
Confesso, agora fiquei com medo dele.
– Karen!!! – Ele berra, a víbora entra com o rabinho entre as
pernas.
Ele esfrega seu rosto energicamente e olha para ela.
– Você está demitida, Karen!
Ela olha para ele consternada.
– Doutor Rui, eu não fiz nada disso, essa mulher não presta, ela
que é uma piranha.
Ele a interrompe com um dedo em riste em seu rosto.
– Cala a boca, Karen, e peça desculpas para a Jackeline pela
confusão que você armou, pelas suas mentiras, e por chamá-la de
piranha! – Ele segura em seu braço e a faz ficar de frente para mim.
Ainda estou em estado de choque, não consigo desviar meus
olhos do Rui.
– Eu não vou pedir desculpas para essa piranha! – ela diz
descontrolada.
– Então, você será demitida por justa causa, e não conte comigo
para indicá-la para nenhum emprego. – Ele segue até o telefone e
fala nervoso com a pessoa do outro lado da linha. – Prepare a
documentação para o desligamento da Karen, por justa causa, peça
para alguém a escoltar dentro do escritório, não a quero acessando
mais nada aqui dentro.
Ele desliga a ligação, ficamos alguns segundos, os três nos
encarando, mas então o gerente do RH chega e olha para nós
confuso.
– Não entendi direito, Doutor Rui. A demissão agora é da Karen?
– O homem olha para o Rui desconsolado. – E a Jackeline?
– Eu falei o nome da Jackeline? – O Rui pergunta nervoso. – Eu
não quero mais ver essa garota aqui dentro, some com ela daqui.
Ele pega em meu braço e me levanta feito um ogro da idade
média.
– Me solta! – Choramingo.
Ele me olha desafiador, sua testa está franzida.
– Não fale mais nada, Jackeline, você vai comigo! – Ele aperta
meu braço e sai me arrastando para fora da sala.
– Eu vou te processar, Doutor Rui, por assédio, eu vou acabar
com sua raça! – Apenas ouço a voz da Karen.
O Rui para e olha pelo seu ombro.
– Faça isso, terei um prazer imenso de foder com sua vida,
Karen! – Ele volta a caminhar, me arrastando pelos corredores como
se eu fosse uma criança.
– Eu posso andar sozinha, você pode me largar! – Puxo meu
braço.
– Cala a boca, Jackeline, você não sabe o quanto me deixou
nervoso. – Ele rosna, parece furioso comigo.
Resolvo me calar e obedecê-lo.
Não vou negar o sentimento de amor que estou sentindo por ele.
O Rui me surpreendeu, eu não esperava que ele fizesse isso, na
verdade, eu não achava que ele acreditaria em mim.
Não sei, eu simplesmente achava que ele acreditaria nela.
A vida surpreende a gente, agora só espero que ele melhore seu
humor.
Confesso, estou me sentindo uma criança com medo dos pais!
Capítulo 51
JACKELINE BARTOLLI
ORui abre a porta de sua sala e me empurra para dentro.
Olho para ele enfezada, afinal, acho que agora chega dele me
tratar feito uma boneca.
Ele tira seu terno e o joga sobre um sofá, coloca as mãos na
cintura e me encara furioso.
– Vamos lá, Jackeline, me explique por que você acha que eu
estaria mancomunado com a Karen para te enganar! – Ele parece
indignado. – Que tipo de homem você pensa que sou? – Ele me
encara enfurecido. – Somente de ontem para hoje você me acusou
de ser um cara imaturo, egocêntrico, falso e dissimulado.
O olho envergonhada, talvez a TPM tenha colaborado para
minha explosão de nervos, mas de qualquer modo, agora já falei.
– Me desculpe se exagerei na dose, mas eu acho que tive
motivos para desconfiar, e também você mereceu ouvir umas
verdades – pronto, falei.
Ele balança a cabeça.
– Pelo visto você não irá assumir que cometeu um erro, um
engano! E também não se arrependeu do que fez e falou!
– O que está feito, está feito... Não tenho como desfazer o que
falei. – Dou de ombros.
– Pode sim, peça desculpas para mim, caralho! – ele diz
nervoso. – Você não acha que deve isso a mim?
– Mais ou menos, Rui! Você foi conivente com a postura dessa
garota durante muito tempo, gostava e se aproveitava da falta de
massa encefálica dela... Você não é santo! – falo sem medo.
Ele me olha exasperado.
– Eu mandei a garota embora, Jackeline, por sua causa! O que
mais você quer? – ele diz indignado.
Eu gostaria de dizer que adorei o que ele fez, mas não posso
levantar muito sua bola.
– Nada! – Mexo em minhas mãos. – Obrigada.
– Não fale isso só para me agradar. Fale de coração, Jackeline!
– Obrigada por me defender, eu apreciei muito isso! – Não
consigo segurar um começo de sorriso.
– Você é louca, Jackeline, e quer me enlouquecer junto!
– Pare de me chamar de louca, eu não gosto disso! – respondo
irritada.
Ele olha para o teto, esfrega o rosto e volta a me olhar.
– Você precisa se redimir de todo o nervoso que me fez passar.
– Ele finalmente sorri. – Te dou uma chance para provar que você
merece meu perdão.
Dou uma gargalhada, ele se acha mesmo!
– Rui, é o contrário, você que precisa provar que merece o meu
perdão. – Sorrio.
Ele gargalha.
– Somos um casalzinho bem difícil, você não acha? – ele diz de
bom humor. – Não vamos chegar a lugar nenhum assim.
– Concordo! – respondo cínica.
– Então... – Ele me olha de lado.
– Então o que? – Seguro um riso.
Ele se aproxima de mim.
– Você quer ficar bem comigo novamente, ou prefere continuar
brigando? – ele diz sedutor.
Agora estamos cara a cara, seu perfume invade minhas narinas,
assim como o calor do seu corpo.
– Rui, eu quero confiar em você – falo seriamente. – Não me
sinto feliz de ter desconfiado de sua honestidade, mas a confiança é
algo muito difícil de ser conquistada... Eu preciso ter certeza que
você é honesto comigo. – Ele me encara seriamente. – Não estou
pedindo para você passar o resto da sua vida comigo, só estou
pedindo para não me enganar. – O encaro. – Eu entenderei se você
não quiser ficar mais comigo, mas enquanto eu te fizer feliz, permita
que eu seja a única, isso é importante demais para mim!
Ele me olha profundamente.
– Tudo o que você quiser, Jack! Desde que te conheci só penso
em você, só quero você. Por que você não acredita que eu posso
ser um cara legal?
– Eu quero acreditar, mas às vezes...
– Confia em mim, Jack! – ele diz tão fofo.
Deslizo minhas mãos pelo seu peito, por cima da camisa e me
esgueiro em direção aos seus lábios.
– Eu vou confiar, Rui! – sussurro e o beijo.
Acho que essa briga só colocou mais fogo em nós dois.
Sua boca invade a minha sem maiores cerimônias. Engolimos
um ao outro, em mais um beijo ardente, daqueles que se quer unir
os corpos em um só, em uma confusão de mãos, bocas, línguas e
carícias.
Meus dedos se enroscam em seus cabelos, puxando-os com
desespero.
Ai, que delícia de beijo, mas eu quero mais, eu preciso dele em
mim!
– Eu quero você, Jack! – ele diz contra meus lábios, segurando
meus quadris com força, e esfregando sua ereção contra minha
barriga.
Sinto seus beijos em meu pescoço, ele começa a tirar minha
blusinha, mas aí eu lembro de um detalhe, estou menstruada.
Que merda!
– Rui, não vai dar... – Ele para o que está fazendo e me olha.
– Por quê?! – ele diz indignado.
– Eu estou nos meus dias – falo sem graça.
Ele fica me olhando confuso, parece não entender, então falo de
novo:
– Menstruação, sabe?
Ele me olha decepcionado.
– Sério, Jack? – ele diz contrariado.
– Sério, Rui!
Ele pensa um pouco.
– Eu não me importo, a gente faz assim mesmo, vamos para
minha casa. – Ele segue apressado para sua mesa, pega as coisas
com pressa, enfia tudo na sua pasta e coloca o terno. – Vamos! –
Ele estende sua mão para mim.
– Pode ser meio nojento, Rui – falo incomodada, nunca fiz sexo
neste estado.
– A gente faz no chuveiro. – Ele sorri. – Não se preocupe, eu não
vou desmaiar! – Ele pisca, com uma cara de moleque.
Pego minha bolsa e o acompanho.
****

Em poucos minutos chegamos ao seu apartamento, e confesso


que estou começando a não me importar mais com o Renato.
O Rui sai apressado de seu carro, dá a volta e abre a porta para
mim.
Ele não costuma fazer isso.
– Vamos, minha oncinha, eu quero ver toda essa braveza agora
na cama – ele diz divertido.
Saio do carro e o encaro.
– Hoje não prometo meu melhor desempenho. – Faço uma
careta.
– Ok, esqueci daquele detalhe, mas vamos nos divertir de
qualquer jeito! – Ele segura minha mão e sai andando apressado
em direção aos elevadores.
Não lembrava mais o que era ser beijada dentro de um elevador,
prensada contra as paredes de aço.
Estou me sentindo na adolescência, quando não há lugar para
nada, muito menos para se dar uns amassos.
Finalmente o elevador chega ao último andar, ele afasta seus
lábios dos meus e me encara com seus olhos cinzas.
– Sou louco por você, Jack! – ele diz sério, sinto aquele friozinho
no estômago, e uma vontade louca de dizer as três palavrinhas
mágicas, mas não falo.
– Eu também, Rui! – Seguro seu rosto entre minhas mãos, o
olho e beijo de novo, apaixonada, loucamente apaixonada.
Ele segura minha cintura, se afasta e diz:
– Vamos namorar num lugar decente. – Ele sorri e me leva para
dentro do apartamento, e logo vejo o meu amor peludo.
Me agacho a sua frente e o deixo me encher de lambidas.
– Saudades de mim, Bóris? – Seguro sua cabeça. – Eu também,
bebê!
– Bebê?! – Ouço a voz do Rui num tom indignado.
Olho para ele.
– Me empresta o Bóris, deixa eu chamá-lo de meu bebê. – Olho
para o Bóris, que sorri para mim. – Você gosta de ser chamado
assim, não gosta, Bóris? – Ele late, e eu caio na risada. – Ele me
entende, Rui!
O Rui me levanta.
– O Bóris pode esperar para ter sua atenção, eu não posso,
Jack! Vamos subir, minha gostosa! – Ele me aperta contra seus
braços, apalpando meu bumbum. Você fica muito gostosa de calça
jeans, sabia? – Um beijo em meu pescoço, seguido por um gemido
de prazer.
– Você gostou, Rui? – sussurro entregue aos seus beijos.
– Adorei, quero te ver mais vezes assim! – Uma mordida em
minha orelha, solto um gritinho de prazer.
– Vamos subir, não estou aguentando mais isso! – Ele sai me
arrastando pelas escadas que dão acesso ao seu quarto.
Entramos com ele me agarrando, me beijando e arrancando
minha roupa.
– Me deixe tomar banho primeiro, Rui! – falo ao me ver só de
calcinha.
Ele começa a tirar sua roupa.
– Ok, cinco minutos, é o tempo de eu tirar minha roupa!
Sigo para o banheiro, ligo a ducha e logo vejo a mancha
vermelha no piso do chão.
Oh, isso é tão desagradável!
Um barulho na porta, e meu deus grego entra glorioso, eu o acho
o homem mais lindo e também inteligente do mundo.
– Está pronta, minha delícia? – ele diz sedutor.
– Eu não consegui me ensaboar, você foi muito rápido! –
Reclamo.
– Estou com pressa – ele diz com um sorriso safado e me beija.
– Depois a gente faz isso, agora preciso me afogar em toda a sua
gostosura, Jack! Você é a mulher mais gostosa do mundo! – ele diz
e eu dou uma risada espalhafatosa, de prazer, de felicidade.
– Então se afoga em mim, Rui! Sou sua, só sua, meu homem! –
sussurro.
Ele me encara, me levanta em seus braços, me encaixo em sua
ereção, e gemo.
Seu corpo me prensa contra a parede de azulejos, e então ele
enterra seu membro até o final do meu ser.
– Ahhh, Rui! – Gemo de prazer.
– Oh, Jack, minha delícia! – ele diz de olhos fechados, e começa
a me foder, e me beijar, e a me enlouquecer de prazer.
Algumas estocadas, e ele goza ruidosamente.
Ficamos abraçados, sinto sua respiração forte em meu pescoço,
e seu peito subindo e descendo rapidamente.
– Foi um pouco depressa, Jack! – Ele me olha meio culpado. –
Prometo que na próxima vez vou esperar por você!
Seguro seu rosto entre minhas mãos.
– Tudo bem! – O beijo delicadamente. – Mas, acredite em mim,
foi maravilhoso, porque sexo para mim é mais que um orgasmo!
Ele sorri.
– Não romantiza, Jack! – ele diz com um sorriso.
– É verdade, Rui! – digo enquanto desço de seu colo.
– Ok, sem polêmicas! – ele diz relaxado ensaboando seus
cabelos.
Sinto uma cólica em minha barriga, olho para baixo e vejo o
resultado, uma mancha de sangue se forma onde estou, meu fluxo
está muito intenso, parece que tem aumentado com o passar do
tempo.
Olho para cima e o encontro olhando a cena.
– Eu falei que poderia ser nojento! – falo aborrecida.
– Você está bem? É normal sangrar tanto assim? – Seu rosto
ficou tenso.
– Meu fluxo este mês está muito forte! – Me sinto constrangida
com a cena. – Me desculpe.
Ele me interrompe.
– Não peça desculpas, eu não tenho nojo, é só seu sangue, não
tem nada de nojento nisso. Mas fiquei preocupado, me parece um
pouco demais, você não acha?
– Sim, um pouco demais! – Pego a duchinha para limpar. –
Preciso ir a um médico, mas eu estava sem assistência médica,
será que já posso usar a do escritório? – pergunto um pouco
constrangida.
– Claro que pode, na verdade desde o seu primeiro dia de
trabalho, ninguém te avisou sobre isso? – Ele enruga sua testa.
– Não, eu também não tenho uma carteirinha.
Ele bufa nervoso.
– Eu resolvo isso amanhã, tá bom? – Ele segura meu rosto e me
beija. – Se você não estiver bem, nós não fazemos mais, Jack!
– Eu estou bem. Eu quero mais... – Sorrio apaixonada.
****

Terminamos o banho, me enrolo em uma toalha e sigo para o


quarto.
Vejo o Rui já vestido.
– Nossa, você está muito rápido hoje!
– Eu vou descer e colocar nosso jantar no forno. – Ele me beija
rapidamente. – Pedi para a Jô deixar pronto!
– Sério? Mas como você sabia que faríamos as pazes? – O olho
de lado.
– Sei lá. Não fiz nada de errado, Jack, não tinha por que não nos
acertarmos! – ele diz com simplicidade.
Sorrio feliz.
– Eu já desço, tá? – Sigo para seu closet. – Vou pegar uma
camiseta sua emprestada.
Ele apenas pisca para mim e sai do quarto.
Pego em minha bolsa um absorvente interno e o coloco
rapidamente antes que um desastre aconteça.
Escolho uma camiseta do Rui e a cheiro demoradamente, adoro
o cheiro de suas roupas.
Volto para o quarto, pego um analgésico que uso para as cólicas,
preciso tomar antes que as dores fiquem insuportáveis, e sigo para
as escadas.
O vejo agitado, arrumando a mesa, colocando as travessas, e
sorrio encantada com seu jeito.
Ele é bem independente, mais do que eu.
– Cheguei! – falo animada.
Ele sorri para mim.
– Já está tudo arrumado, madame. – Ele brinca. – Sente-se que
vou servi-la.
– Aí que bonitinho! – falo em tom de brincadeira. – Faltou o
avental, Rui.
– Vou providenciar para o próximo jantar. – Ele enche minha taça
de vinho, e me lembro do meu analgésico.
Será que faz mal beber? Não, acho que não.
Beberico um pouco de vinho com o comprimido.
Ele traz a última travessa, e começa a servir nossos pratos.
– Eu posso fazer isso, Rui! – falo incomodada, vendo ele me
tratar como uma princesa.
– Não se mova do lugar. Acho que já te disse um dia, a única
coisa que você irá fazer aqui é sexo, Jack!
Dou risada!
– Um dia você me deixa fazer uma comida para você? –
pergunto timidamente. – Sei fazer alguns pratos portugueses, minha
mãe me ensinou!
– Claro, Jack, é só dizer, a cozinha é sua! – Ele sorri. – Estou
louco para conhecer seus dotes culinários.
– Combinado! – respondo.
Nosso jantar segue num clima romântico, e, às vezes, penso que
é mentira que ele não seja romântico.
Ele é sim, e eu o acho muito romântico!
– Jack, eu preciso saber se existe mais alguma coisa que esteja
te incomodando, ou alguém? – Ele me encara seriamente.
Penso um pouco.
– Não. Está tudo bem, Rui. – Sorrio.
– Ok, Jack, então vamos combinar uma coisa, antes de você
explodir, você conversa comigo, mas sem bater na minha cara ou
me ofender! – ele diz com um sorriso.
Sorrio constrangida.
– Desculpe bater em seu rosto, quando fico nervosa perco a
cabeça.
– Eu percebi! – Ele arregala seus olhos.
– Você me desculpa? – faço charme.
– Só se você vier até aqui – ele diz sedutor.
Caminho até ele e paro a sua frente.
– Estou aqui, o que você quer que eu faça? – Coloco meus
cabelos atrás da orelha.
– Sente-se aqui! – Ele aponta para seu colo.
– Com muito prazer! – Sorrio e caminho para seu colo, enlaço
seu pescoço. – E agora?
– Agora quero beijos! – ele diz manhoso, me surpreendendo com
seu jeito.
Deposito beijos molhados em seu rosto.
– Assim? – falo dengosa, esfregando meus lábios em sua orelha.
– Adoro isso, Jack! – ele diz manhoso.
– O que mais você gosta, Rui? – sussurro em seu ouvido.
– De te foder, Jack! – Suas mãos acariciam meus seios
deliciosamente. – Que pena que você não está muito bem hoje! –
ele diz com seus olhos cheios de desejo.
– Eu não estou doente, apenas estou com a torneirinha do meu
útero aberta! – falo debochada.
Ele dá risada.
– Você quer, Jack? – ele diz manhoso, beijando meu pescoço e
me deixando louca de desejo.
– Quero, Rui! – respondo de olhos fechados.
– Então, vamos subir, minha gostosa! – Ele me segura, me
levantando em seu colo.
Chegamos a seu quarto em segundos, ele me coloca sobre sua
cama, se deita sobre mim, tira minha camiseta e começa a beijar
meu pescoço, seios, barriga... e para!
– Rui, eu também quero beijar seu corpo.
Ele me olha sorrindo.
– Fique à vontade, minha deusa. – Ele se deita ao meu lado, me
debruço sobre ele e começo a depositar beijos em seu pescoço,
tórax, barriga, até chegar ao seu pênis, o envolvo com meus lábios
e começo a enlouquecê-lo.
Ele puxa meus cabelos, enlouquecido de desejo.
– Quer que eu faça você gozar assim, meu homem gostoso? –
falo sedutora.
– Não! Eu quero te foder, Jack! – Ele me puxa para junto do seu
corpo. – Sobe nele, minha deusa!
Estou tão excitada que não penso duas vezes, que se foda
minha menstruação.
Me esfrego deliciosamente em seu membro, e em segundos
estou gozando ruidosamente.
– Ai, que delícia, Rui!!! – gemo de olhos fechados, entregue
completamente a sensação de prazer.
Me deito sobre seu peito e ele vira nossos corpos de posição,
agora em cima de mim. Seus movimentos são fortes, duros, sinto
um pequeno desconforto, tento relaxar, ele continua, a dor aumenta,
mas antes que eu possa avisá-lo, ele explode de prazer.
– Ohhh, Jack, minha gostosa... Caralho!!! – Ele rosna. – Oh, que
delícia, Jack! – ele diz sem fôlego, e com um sorriso lindo no rosto.
– Cada dia que passa o sexo entre nós está melhor, sabia? – Ele
me encara com um olhar vivo, intenso.
– Sabia! – Acaricio seu rosto, seus cabelos, e me vem de novo
aquela vontade louca de dizer que amo ele! – Te adoro! – falo cheia
de emoção.
– Eu também, Jack!
Sorrio para disfarçar minha decepção.
– Acho melhor você ir para o chuveiro, antes que a torneirinha
comece a vazar... – Ele dá risada.
– Então sai de cima de mim, garanhão! – Brinco com ele.
Ele sai, sigo apressada para o chuveiro e como esperado, lavo o
banheiro de sangue.
Estou odiando isso!
****

Estou dormindo profundamente, enroscada ao corpo do Rui.


Adoro esfregar minhas pernas em suas pernas peludas.
Ele é todo másculo, gostoso, e agora, só meu!
É madrugada quando as primeiras cólicas começam a dar sinal
de vida, tento ignorar, mas elas não são do tipo que se ignora.
Me encolho um pouco, mas a dor aperta, sento na cama e mal
consigo chegar até minha bolsa, pego o comprimido e tento engolir
sem água.
Me agacho no chão, a dor vai para minhas pernas, suo frio e
sinto arrepios e náuseas, as dores realmente são de matar.
Sem querer, gemo de dor, e ouço a voz do Rui.
– Jack, o que você está fazendo aí no chão? – ele diz confuso.
– Estou com cólicas, já vai passar. Me deixe um pouco aqui –
falo, sussurro e gemo.
Estou de olhos fechados, então só sinto seus braços me
levantando e me colocando sobre a cama.
– O que eu posso fazer para te ajudar, Jack? – ele diz com
agonia na voz.
– Eu já vou melhorar, eu já tomei o remédio! – Fecho os olhos e
seguro mais uma contração. – Odeio ser mulher! – Esbravejo.
Sinto seu corpo contra o meu, ele me abraça junto a seu peito e
acaricia minha barriga.
– Ajuda se eu fizer isso, Jack? – ele diz próximo do meu ouvido,
beija meus cabelos.
Sinto sua mão grande e macia massageando em círculos ao
longo da minha barriga, e isso me causa uma sensação boa.
– Ajuda, Rui! – sussurro com meus olhos cheios de lágrimas.
Ficamos abraçados, aos poucos as dores vão acalmando até
que consigo adormecer novamente.
Mas, durou pouco, o remédio não está fazendo efeito, e agora eu
sei o porquê, eu bebi, então possivelmente o efeito do medicamento
foi cortado.
Não tenho mais nenhum comprimido em minha bolsa! – Penso
desesperada.
Me levanto delicadamente para não acordar o Rui, e tento
controlar a dor que sinto.
Desço as escadas vagarosamente, sento no meio delas, espero
a dor passar e volto a descer até que chego à cozinha.
Vasculho a caixinha de medicamentos dele, mas não tem nada
parecido com o que tomo, mas também, aqui é a casa de um
homem, homens não tem cólicas, menstruação, e constato pela
décima vez, papai do céu era machista.
Tomo dois comprimidos de um analgésico qualquer, estou me
sentindo uma viciada em analgésicos, sigo para sua sala, deito em
seu sofá e aguardo a dor passar... Mas, ela não passa!
Choro encolhida no sofá, e me amaldiçoo por não ter comprado
mais uma caixa desses comprimidos.
– Que dor dos infernos, meu Deus! – falo para mim mesma.
Me assusto com a claridade em meu rosto.
– Jack, o que está acontecendo com você? – ele diz com uma
expressão de preocupação.
– Eu preciso de remédio para minhas cólicas, eu não tenho mais
nenhum, e os seus não fazem efeito para mim! – respondo tentando
manter a calma, mas meu rosto está molhado de lágrimas.
Ele se senta no sofá ao meu lado e me abraça forte.
– Por que você não me acordou? – ele diz bravo.
– Não queria incomodar você!
– Vamos em algum hospital! Eu não entendo nada sobre o que
você tem, mas não consigo mais ver você assim. – Ele me pega no
colo. – Vamos nos vestir.
Apenas me encolho em seus braços, só quero que alguém tire
essa dor de mim.
****

A caminho do hospital me contorço de dor e deixo o Rui


desesperado.
– Calma, Jack! Já chegamos! – Ele sai do carro apressado, me
pega em seu colo e me leva para dentro do hospital. – Vou te deixar
aqui um pouco, vou conversar com a enfermeira.
Rosno um sim, e espero que isso não demore, pois acho que
não vou mais aguentar isso, acho que vou desmaiar.
Ouço a voz do Rui, mas minha visão e consciência estão longe,
e de repente, apago, e isso é maravilhoso.
Desperto aos poucos, não sinto mais nenhuma dor, e por um
momento, tive medo que tivesse morrido, mas o som de algumas
vozes me faz abrir os olhos, e então vejo o Rui e um médico
conversando.
Tento me levantar, mas sou impedida por um cateter enfiado em
meu braço, olho e vejo uma bolsa de soro conectada a mim.
Estou me sentindo fraca, sonolenta.
– Rui! – o chamo, ele logo me olha e vem ao meu encontro.
– Oi, Jack! – Ele acaricia meus cabelos. – Você está melhor? –
ele diz com seu rosto tenso.
– Estou! – respondo meio confusa. – Estou me sentindo meio
sonolenta.
– Bom dia, Jackeline! – Olho ao lado do Rui e vejo o médico.
– Bom dia! – falo meio rouca.
– Este é o Doutor Marcelo, ginecologista. – O Rui explica.
– Prazer! – falo desanimada.
– Jackeline, há quanto tempo você sente essas cólicas intensas?
– Eu sempre tive, mas acho que tem piorado com o passar do
tempo! – respondo cansada.
– O seu namorado disse que você também está com um
sangramento exagerado.
– Sim, é verdade!
– Injetamos em você um analgésico e um anti-inflamatório
potente, normalmente usamos esses medicamentos em pacientes
que possuem uma enfermidade chamada endometriose. Você já
ouviu a respeito disso?
– Não, quero dizer, já ouvi, mas não sei o que é. – O Rui se
senta ao meu lado da cama e acaricia meus cabelos.
– A mulher com endometriose apresenta fragmentos do
endométrio fora do útero. Endométrio é a parte interna do útero,
responsável pela menstruação. Neste caso, o local mais comum de
implantação dos fragmentos é a região pélvica, onde ficam aderidos
a uma ou mais estruturas, tubas uterinas, ovários, bexiga, intestino e
outros órgãos.
O olho preocupada.
– Eu tenho isso? – Engulo em seco.
– Pela minha experiência, eu posso afirmar que sim. Mas, para
termos certeza, você fará alguns exames de imagem.
– Eu devo me preocupar com isso? Quero dizer, é algo que irá
me levar à morte? – Minha respiração sai ofegante.
O Rui segura minha mão.
– Não, de jeito nenhum! – Ele sorri e eu também. – Mas a
endometriose traz algumas consequências.
– Como o que? – pergunto nervosa.
– Você precisará saber lidar com a dor, existem muitos
medicamentos e até cirurgia para isso, mas não existe a cura. Além
disso, por volta de 30% das mulheres com esse diagnóstico tem
dificuldades de engravidar. Infelizmente, a endometriose afeta
geralmente os ovários, e isso pode provocar a infertilidade da
mulher.
Meus olhos enchem de lágrimas.
– Eu não conseguirei ser mãe, é isso? – sussurro com a voz
embargada.
– Não temos certeza do grau da sua endometriose. Mas, não se
preocupe ainda, Jackeline. Vamos aguardar seus exames, para
termos certeza do seu diagnóstico. – Ele sorri.
Fecho meus olhos e tento processar as informações que recebi.
Eu não acredito que isso esteja acontecendo comigo.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
– Jack, ele não tem certeza, é só uma suposição!
Abro meus olhos e encontro os do Rui. Ele parece tão
preocupado comigo.
– Ele parecia tão certo a respeito do diagnóstico! – falo aflita.
– Eles vão interná-la aqui por um dia, você fará alguns exames,
tenho certeza que nada disso será confirmado!
Olho para um ponto cego, perdida em meus pensamentos.
– Espero que sim! – respondo mais para mim mesma.
Capítulo 52
RUI FIGUEIREDO
Enquanto espero a Jack fazer seus exames, tento organizar
minha vida profissional.
Nunca estive numa situação como essa, sem secretária, sem
recepcionista, e ausente do escritório.
Sou um cara controlador, gosto de manter meu escritório sob
meu controle. Tenho dificuldades para delegar, melhorei muito, mas
existem assuntos que ainda controlo pessoalmente.
Então, em momentos como esses, percebo que preciso melhorar
ainda mais, pois se um dia eu tiver um problema qualquer, que me
impossibilite de trabalhar, eu estou fodido!
Ligo rapidamente para uma empresa de RH, e peço para enviar
para meu e-mail alguns currículos de recepcionista.
– Senhor Rui, quais as características para o cargo? – A
atendente pergunta.
– Bom, tem que ter boa aparência, ser bonita, jovem, por volta
dos 18 anos, esperta, comunicativa, simpática e... loira! – Termino a
frase e olho para a Jack, ela está dormindo.
– Ok, irei selecionar algumas candidatas e envio para seu e-mail
e do seu gerente de RH.
– Perfeito. Obrigado!
Encerro a ligação, enfio minha cabeça entre minhas mãos e bufo
cansado.
Meu Deus, eu nunca me imaginei envolvido com uma mulher tão
complicada.
A Jack foi um presentinho de Deus para mim, irresistível,
encantadora, sedutora e deliciosa, mas também uma caixinha de
surpresas, em todos os aspectos.
Não sei como ela reagirá ao saber o resultado dos exames.
Quero muito que ela não tenha essa doença, pois ela é muito
mais complicada do que eu esperava.
Enquanto ela dormia, e eu já sabia do diagnóstico pelo médico
de plantão, pesquisei na internet sobre o assunto, e fiquei
preocupado.
Não sei qual será o nosso futuro, mas eu sei do seu sonho de
ser mãe.
Não será comigo, mas poderá ser com outro cara.
A ideia de vê-la com outro homem me deixa nervoso.
Bufo irritado.
Ainda não quero pensar no fim do relacionamento que temos, é
bom demais, a gente realmente combina, e apesar das recentes
brigas e da constatação que a Jack tem uma personalidade forte pra
cacete, eu não quero perdê-la.
Agora é pra valer, embarquei de corpo inteiro nesse
relacionamento.
Até a pouco tempo, eu ainda estava brincando de namorar, mas
agora percebi que com a Jackeline isso não vai funcionar.
Ou eu a assumo, ou sumo da sua vida. Escolhi a primeira opção,
e vou cumprir com a minha palavra.
Acho que estava mal-acostumado, envolvido com mulheres
fáceis e sem personalidade. Conhecer a Jackeline me fez ver que
existem mulheres pelas quais vale a pena mudar.
Me sinto bem com minha decisão, não quero e não vou
decepcioná-la.
A vejo se mexer na cama, estou no corredor para não acordá-la,
então volto para o quarto.
– Oi, bela adormecida! Já acordou? – pergunto ansioso.
É estranho ver o outro lado de uma pessoa, a Jackeline sempre
me pareceu uma mulher forte, decidida, e que não aparenta
fragilidade.
Mas, hoje ela não está assim. Sinto medo em seus olhos,
apreensão, ela está frágil, ela precisa de mim!
Me sento ao seu lado da cama e acaricio seu rosto.
– Cadê o sorriso, Jack? – Ela sorri fraco.
– Estou cansada de ficar aqui, queria ir embora! – Ela desvia
seus olhos de mim desanimada.
– Agora falta só mais um exame! – falo para animá-la.
– Pode ir, Rui, você não precisa esperar. Aliás, você está
fazendo tanto por mim, não sei como te agradecer! – Ela segura
minha mão.
– Pode deixar que sei como você pode agradecer! – falo
malicioso, arrancando um sorriso lindo de seus lábios. – Sua mãe
ligou, eu atendi e expliquei tudo.
– Ela deve estar preocupada!
– Não se preocupe, eu a tranquilizei.
– Obrigada! – Ela sorri fraco. – Já saiu algum resultado?
– Não. O médico virá até o quarto no final do dia, acho que ele
trará todos os resultados – digo apreensivo. – Vai dar tudo certo,
Jack!
– Tomara, Rui! Não quero ter isso, tenho tantos sonhos! – Ela
tenta disfarçar, mas percebo as lágrimas que inundam seus olhos.
Ela está tão frágil!
– Ei, vamos pensar positivo! Mesmo que você tenha esse
problema, existe tratamento, não é como um tumor maligno, é só
um presentinho de grego que recebeu quando nasceu! – Tento
sorrir, brincar com o assunto, mas de fato quem é boa nisso é ela.
A Jack que gosta de se divertir com suas desgraças.
Ela enxuga suas lágrimas e tenta sorrir.
– Eu vou te ajudar, Jack, você não está sozinha! – falo
emocionado, difícil isso acontecer comigo, mas é fato que a dor
da Jack se tornou a minha dor.
Não a quero sofrendo, farei o que estiver ao meu alcance para
ajudá-la.
– Assim eu choro mais! – ela diz com os lábios tremendo. – Me
abraça, Rui.
Meu peito aperta.
– Claro, minha deusa, eu faço tudo que você quiser! – A abraço
forte, como se pudesse passar nesse abraço a força que ela
precisa.
Não sei ao certo o que sinto pela Jack, é forte, é verdadeiro, mas
não é amor! É carinho, é afeto, vontade de cuidar, de tê-la comigo.
Não sei o que é amor, parece que nasci desprovido desse
sentimento!
Nos afastamos, seguro seu rosto entre minhas mãos, deposito
beijos por toda a sua face, o gosto salgado de suas lágrimas inunda
meus lábios, mas não ligo, pois é bom demais estar com ela,
mesmo que esse não seja o melhor dos nossos momentos.
– Obrigada, Rui! – ela sussurra. – Eu... – Ela me olha
intensamente. – Eu... – A sinto titubear.
– O que foi? – A encaro curioso.
– Nada, só queria te agradecer por estar aqui comigo! – ela diz
carinhosa.
Inclino-me sobre ela e cubro seus lábios com os meus.
A beijo sem pressa, sem a paixão que costumamos dividir um
com o outro.
É só carinho, querer bem!
– Adoro essa boca, sabia? – digo próximo aos seus lábios. –
Acho que não consigo mais te beijar sem querer mais, eu até achei
que conseguiria, mas não consigo!
Ela sorri, me abraça forte e beija meu rosto.
– Você é o homem mais incrível que já conheci! – Ela volta a me
olhar, olhos brilhantes, e expressivos. – Mas, não se ache, pois
também tem muitos defeitos!
Gargalho, ela não dá ponto sem nó!
Um toque na porta e então uma enfermeira entra.
– Está pronta, Jackeline? Vamos fazer o último exame, então
você estará livre de mim! – A mulher diz simpática.
Ela se arruma na cama, mas a enfermeira pega uma cadeira de
rodas.
– Você irá aqui, mocinha! Não posso tirar o soro ainda.
A Jack faz uma careta, o que me faz rir.
– Então tá, fazer o quê?
Sigo as duas pelo corredor do hospital.
Não nego minha apreensão, parece até que sou eu que sou o
paciente.
Capítulo 53
JACKELINE BARTOLLI
Sigo pelos corredores do hospital onde estou e sinto meu
coração acelerado.
Acho que esse será o quinto exame que faço hoje. Agora farei o
último e talvez o mais importante, é uma ressonância da minha
região pélvica, onde essa maldição de doença costuma se espalhar.
Já rezei tanto para que eu não tenha essa tal de endometriose,
que estou exausta emocionalmente.
E se eu não puder ter filhos?
Não, não pensarei negativamente, como o Rui disse, esse
problema tem tratamento.
Penso no quanto ele está sendo companheiro comigo, seu
carinho, atenção, e a fortuna que está gastando!
Nunca conseguirei pagá-lo por isso!
Não sei o que seria de mim se não tivesse conhecido o Rui.
Agora, pensando bem, acho que os primeiros sinais dessa
doença surgiram em mim por volta dos meus 20 anos, não tenho
certeza.
Nem sempre senti tantas dores, o que me assustava mais era o
fluxo intenso, cheguei a ter anemia, mas minha mãe achava que era
porque eu vivia fazendo regimes. A partir dos meus 25 anos,
aproximadamente, as dores passaram a ser insuportáveis, antes me
deixavam de cama, mas minha mãe me tratava com suas receitas
milagrosas.
Sei lá, talvez eu tenha sido irresponsável em não ter me cuidado,
mas é que depois da morte do meu pai nossa situação ficou tão
difícil, que evitei a todo o custo gastar com coisas que não fossem
necessárias.
Desde então, vem piorando, mas como eu não tinha uma
assistência médica, e o atendimento público é péssimo, não me
cuidei direito, fui levando, tomando remédios caseiros, analgésicos.
Mas, enfim, nada posso fazer em relação a isso, agora já foi!
Finalmente chegamos à sala de exame, um rapaz me leva até
uma maca grande, onde existe um aparelho enorme.
Ele me posiciona embaixo do aparelho, me dá algumas
recomendações e o exame começa.
Fecho meus olhos e tento pensar coisas boas.
Controlo minha respiração, estou quase ofegante.
Depois de longos minutos ele avisa que terminou e respiro
aliviada.
Saio da sala de exames e encontro o Rui sentado em um banco,
ele me olha e sorri.
– Pronto? – ele diz com um sorriso.
– Sim, agora é só esperar o médico – respondo.
A enfermeira chega apressada, e nos interrompe.
– Vamos voltar para o quarto, Jackeline, o médico encontrará
vocês lá! – Sorrio para ela, e me contento em ser escoltada em uma
cadeira de rodas até meu quarto.
Me deito novamente na cama, o Rui se senta ao meu lado.
– Você está se sentindo bem, quer comer alguma coisa? Eu
posso ir buscar na lanchonete! – ele diz carinhoso.
– Eu não vi você comendo nada, Rui! – falo preocupada com ele.
– Fiz um lanche rápido na lanchonete, no jantar me alimento
melhor! – ele diz arrumando meu cabelo atrás da minha orelha. –
Quer que eu compre um pão de queijo? Eu sei que você adora! –
Ele sorri.
– Não precisa, esse soro tirou minha fome. – Acaricio seu rosto,
mas o seu celular toca.
Ele olha para o display.
– Preciso atender, é do escritório! – Ele se levanta.
– Fica à vontade! – Me sento na cama, pego meu celular e ligo
pra minha mãe.
– Mãe, é a Jack!
– Jackeline do céu! Que agonia, filha! – ela diz apavorada, quero
dizer, minha mãe é sempre apavorada.
– O Rui não te explicou? – pergunto.
– Sim, mas eu precisava falar com você! Você está bem? Já
fizeram os exames? Esse rapaz é muito bom para você, preciso
agradecê-lo pessoalmente...
– Mãe, está tudo bem, mas ainda não tenho o resultado dos
exames. Depois te ligo para dizer, não sei se pedirei para o Rui me
levar, ele está muito cansado! – cochicho, o olhando falar
freneticamente no corredor.
– Estou rezando para que não seja nada sério, eu também tinha
essas cólicas infernais, você puxou a mim, é só isso! – ela diz com
simplicidade.
De repente me vejo pensando na minha mãe e na possível
herança que ela me deu.
– Mãe, por que você não teve outros filhos? – falo cuidadosa.
– Não consegui mais engravidar, você foi meu único presente de
Deus! – ela diz com seu jeitinho de mãe extremamente doce e
meiga.
– Você não foi ao médico para ver isso? – falo incomodada.
– Não, no meu tempo não havia esses médicos todos e não
tínhamos dinheiro para essas coisas! Mas, por que você está
perguntando isso?
Olho novamente para o Rui, e o vejo rindo no telefone, e por
mais que não queira, me vejo enciumada.
– Nada, é só curiosidade. Teria sido bom ter tido irmãos – falo
com meu pensamento longe. – Vou desligar, mãe, eu te amo! – falo
emocionada.
– Eu também, querida! Se cuida e não se preocupe comigo e
com as outras, eu me viro por aqui, estamos bem.
Penso na vida de sacrifício da minha mãe, trancada dia e noite
dentro daquele apartamento, cuidando da minha avó e da minha
tia. Sempre quis dar a ela uma vida melhor, mas percebo o quanto
isso é difícil, tudo se resume a dinheiro, sempre ele.
– Tchau, mãe, manda um beijo para a vovó!
Desligamos a ligação.
Me ajeito na cama, olho para o Rui, agora ele parece checar
suas mensagens, e me vem àquela vontade louca de saber com
quem ele se comunica.
Pode ser apenas profissional, mas...
Tento espairecer, pego novamente meu celular e checo as
mensagens.
Vejo uma mensagem da Carolina e sorrio!
Abro seu contato e leio a mensagem.
“Jack, o escritório todo está falando do babado forte que houve
entre você e o Doutor Rui. Alguns mais exagerados juram que ele te
colocou no ombro e saiu te carregando para uma sala de reunião.”
Respondo sorrindo.
“Parece até mentira, mas foi verdade.”
A vejo digitando online.
“Meu Deus, me conta essa história!!! E a história da Karen, o que
houve? Ela sumiu e minha estagiária disse que ela foi demitida, e
que você foi a responsável por isso.”
Olho para o Rui, agora ele digita no celular.
Volto minha atenção a minha conversa com a Carolina.
“Carol, aquela piranhazinha estava querendo envenenar o
Rui contra mim, ela levou a dela.”
“Nem fala, odiava aquela garota, ela só tinha beleza, caráter
nenhum. Então, mas o que houve que vocês dois não vieram para o
escritório? Trepando até agora? Risos!”
Dou risada.
“Tive mais uma daquelas crises de cólicas, estávamos juntos,
passei muito mal e ele me trouxe a um hospital. Estou fazendo
alguns exames, tomei uns medicamentos, tipo sossega leão. Agora
estou esperando os resultados, parece que tenho endometriose.
Você conhece isso?”
Aguardo enquanto ela digita.
“Já ouvi dizer, mas não sei nada sobre o assunto. Depois me
conta, agora fiquei preocupada.”
Respondo:
“Tudo bem. Depois conversamos. Um beijo.”
Ela responde:
“Outro, Jack.”
Volto meu celular para a mesinha de apoio do quarto.
O Rui está novamente falando no telefone, parece nervoso,
gesticula muito.
E então um médico entra no quarto, me sento novamente com o
coração na boca.
– Jackeline Bartolli? – ele diz sério.
– Sim! – respondo ansiosa, olho para o Rui, ele está olhando
para nós, mas parece enrolado na ligação.
– Eu sou o ginecologista de plantão... – Ele mexe nos envelopes
em suas mãos. – Dei uma olhada em seus exames, e o diagnóstico
de endometriose se confirmou! – ele diz, mas eu já havia me
conformado com o diagnóstico do outro médico.
– E então? O outro médico havia dito alguma coisa sobre o grau.
O Rui entra na sala e cumprimenta o médico.
– Através da ressonância consegui ver muitos locais onde há
endométrio instalado, útero, trompas e ovários. Apenas com uma
vídeolaparoscopia teremos certeza do quando ele comprometeu seu
órgão reprodutor, mas de antemão, digo que a doença não atingiu
órgãos importantes como o intestino e bexiga, isso me deixa um
pouco mais tranquilo.
Tento ver com otimismo o que ele disse.
– Recomendo que você procure seu ginecologista com urgência,
para que ele possa seguir adiante com o diagnóstico da doença,
apenas com os exames de imagem não conseguimos ter noção do
quanto a doença comprometeu seus ovários, por exemplo.
– Como assim? – pergunto preocupada.
– Somente com a incisão de uma câmara em seu útero,
conseguiremos ver o quanto o órgão reprodutor está realmente
comprometido, em alguns casos é necessário retirar os ovários, e
até mesmo o útero. Existem casos em que o risco de câncer no colo
do útero é eminente, então a retirada do órgão é a melhor coisa a se
fazer.
Um bolo se forma em minha garganta e meu coração dispara.
Tento segurar as lágrimas, mas não consigo.
O Rui entra na conversa.
– Então, o que precisamos fazer para tratar a doença, evitar que
piore?
– Claro. – O médico pega em sua mão algumas prescrições. –
Aqui está o nome do anticoncepcional que você deverá usar, ele
ajudará a controlar o fluxo, isso ajudará no controle da doença, e
ajudará também evitar a formação de novos cistos em seus ovários.
Através dos exames pude notar que você já tem esse problema. –
Ele pega um novo papel. – Aqui estão os nomes dos medicamentos
que você usará quando estiver sentindo dor.
Me sinto em estado de torpor, angustiada, triste.
– Ok. – Pego os papéis.
– Procure um bom ginecologista para te acompanhar, eu deixei
anotado aí o nome de uma colega, ela é especialista no assunto. –
Ele me entrega os exames. – É muito importante acompanhar a
evolução da doença e, se necessário, intervir através de cirurgia.
Penso preocupada no problema que agora tenho em minha vida.
Nunca mais poderei ficar sem uma assistência médica.
Não quero e não posso ser dependente do Rui.
Oh, meu Deus, só peço que não me abandone! – Sinto meus
olhos arderem.
– Você já está liberada, Jackeline! – Ele aperta minha mão. –
Boa sorte!
– Obrigada! – Olho para o médico enquanto ele sai.
– Vamos, Jack? – O Rui me olha carinhoso. – O que você acha
de tomarmos um banho e sairmos um pouco para relaxar?
Penso em dizer que não quero, mas acho que isso me fará bem.
– Tudo bem! – Sorrio.
– Então, vamos! Tem um lugar ótimo que quero que você
conheça.
****

Entramos em seu apartamento, e logo vejo o Bóris vindo atrás


de mim.
O abraço forte e beijo, animais fazem bem quando a gente não
está muito legal. O Bóris está sempre por perto quando preciso
dessa energia boa que ele transmite.
– Tudo bem, menino? Passeou bastante hoje?– pergunto feito
uma doida.
– Vem, Bóris! – Seu dono o chama, parece enciumado com o
excesso de atenção que ele me dá.
Ele acaricia o Bóris, joga a bolinha algumas vezes, e então me
olha.
– Vamos subir, tomar um banho, e então saímos para jantar. –
Ele me abraça, beija meus cabelos. – Eu sei que você não está
nesse clima todo, mas faz bem sair um pouco, espairecer.
– Claro, eu quero sair sim, não adiantará nada ficar de velório! –
Sorrio para ele.
– Então, vamos... – Ele segura em minha mão e me conduz em
direção as escadas, entramos em seu quarto. – Pode tomar seu
banho primeiro, eu vou descer até o meu escritório, preciso
responder a alguns e-mails, o sinal de internet no hospital estava
péssimo.
– Tudo bem! – Sorrio para ele.
Tiro minha roupa vagarosamente, além da notícia bombástica,
ainda estou me sentindo levemente drogada, os remédios que tomei
são realmente fortes, me deixaram com uma sensação de torpor.
Entro no box e vejo a poça de sangue se formar aos meus pés, e
sinto um ódio fora do normal de mim, do meu corpo.
– Porque fui nascer com isso? – falo em meio às lágrimas.
Termino o banho, coloco apenas a calcinha e o sutiã, não estou
em clima de sair, queria ficar sozinha, talvez em minha casa, com
minha mãe.
Me enrolo na toalha, me deito na cama no Rui e deixo algumas
lágrimas rolarem livremente, preciso chorar para exorcizar a dor que
estou sentindo.
Os minutos passam sem que o Rui suba, aquela névoa causada
pelos medicamentos começa a fazer efeito, não consigo controlar o
sono que me domina. Apesar de ter passado o dia cochilando, ainda
assim me sinto sonolenta e cansada, então, sem que eu me dê
conta, adormeço profundamente.
Capítulo 54
RUI FIGUEIREDO
Olho para meu relógio de pulso, estou demorando muito, daqui
a pouco a Jack irá desistir de sairmos.
Finalizo o que estou fazendo, fecho meu computador e me estico
na cadeira.
Ok, Rui, você ainda tem mais uma tarefa difícil, animar a Jack,
talvez fazê-la esquecer um pouco tudo isso que está acontecendo
em sua vida.
Acaricio um pouco o Bóris, por um milagre ele está comigo no
escritório, talvez porque a Jack tenha ido tomar banho, ele tem uma
preferência por ela, mas eu não me importo.
– Agora fica aqui, amigão. Eu vou namorar um pouco aquela
mulher que você adotou como dona – converso com o Bóris, só
para não perder o costume.
Subo as escadas, e como se ele entendesse minha língua, ele
fica sentado no final das escadas, me olhando com sua cara de
bobo.
A porta do quarto está levemente encostada, entro e a vejo
deitada em minha cama.
Balanço minha cabeça, bufo cansado, o jantar não vai rolar.
Me aproximo um pouco, a vejo encolhida abraçada ao meu
travesseiro, e sem querer sorrio.
– Minha deusa, não sei como você conseguiu isso, mas a
verdade é que não consigo ficar longe de você!
Me sento ao seu lado e acaricio os contornos de seu corpo.
– Você é minha perdição, Jack – sussurro.
Estou louco de vontade de foder essa mulher, eu sei que seu
estado não é dos melhores, mas eu preciso disso.
Que se foda o seu estado!
Tiro minha roupa, a jogo no chão e me deito ao seu lado,
encaixando meu corpo a suas costas.
Cheiro sua pele e beijo seu ombro, onde aparece uma marca
que deixei.
Estou sempre mordendo a Jack, pareço cachorro, porra!
Beijo seus cabelos, sua orelha.
– Jack! – cochicho em seu ouvido.
Ela se mexe.
– Rui, me desculpa, eu peguei no sono! – ela diz sonolenta. – Eu
vou me arrumar.
Beijo seu pescoço.
– Não, vamos ficar aqui, acho que você não está muito bem para
sair! – Acaricio sua barriga, ela geme como uma gatinha.
Sigo com minha mão até o fecho do seu sutiã, o abro e tiro ele.
Acaricio seus seios macios e volumosos, adoro os seios da Jack,
aliás, eu adoro tudo nela, seu corpo cheio de curvas, seus
excessos, seu cheiro, a maciez da sua pele.
Ela não é o estereótipo de mulher que sempre sai, mas ela me
enfeitiçou, não consigo mais ver graça nas outras, só nela.
Beijo e cheiro suas costas, seu pescoço.
– Você me deixa louco de tesão. – Esfrego minha ereção em seu
bumbum grande e gostoso.
Desço minha mão em direção a sua buceta, acaricio seu clitóris,
ela geme baixo.
– Oh, Rui!
– Você gosta assim, Jack? – falo em seu ouvido, chupo, mordo
seu pescoço, ela me deixa louco de tesão.
– Gosto! – ela sussurra.
– Pede para eu fazer mais.
Engulo sua orelha, minha vontade é morder a Jack inteira.
– Eu... quero... hummm... Oh, Rui!!! – Sua voz sai ofegante.
– Fala, Jack: eu quero mais, Rui! – cochicho em seu ouvido, paro
de estimulá-la.
– Eu quero mais, Rui! – Sorrio ao perceber seu desespero.
Volto a estimulá-la.
– Assim, minha gostosa? – Mordo seu ombro.
– Aiii! – ela reclama. – Isso, assim... – ela diz ofegante, aumento
os movimentos, ela geme alto, se contorce, se estica como um
cobra e goza.
– Goza, Jack, isso, minha deusa, goza para o seu homem. –
Estou insano de desejo de me enterrar em sua buceta. – Eu quero
te foder, Jack, você está com aquele troço? – Desço um pouco
minhas mãos, retiro sua calcinha, e acho o cordão que sai de sua
buceta, e sem maiores cerimônias o puxo.
– Rui! – Ela me olha assustada, mas caralho, eu não tenho nojo
de mulher, de menstruação, eu deveria ter sido um ginecologista.
Me levanto rapidamente, descarto aquele troço no vaso sanitário
e em segundos estou de volta.
– Rui, você não deveria ter feito isso! – ela diz incrédula.
– Feito o que, minha deusa? – Mergulho minha boca em seus
seios, e encerro o assunto.
O tesão que estou não me deixa prosseguir muito com as
preliminares, estamos há muito tempo sem sexo, quero dizer, muitas
horas, e isso é muito para mim. Então, não consigo me segurar, eu
preciso me enterrar logo dentro dela.
Seguro suas mãos no alto de sua cabeça, adoro dominá-la, e
olho em seus olhos, ela fica linda quando fazemos sexo.
Enfio vagarosamente meu pau dentro dela, preciso sentir gentil
com a Jack.
– Eu vou fazer devagar, minha deusa, eu não vou te machucar! –
falo olhando em seus olhos, ela nos meus.
– Você nunca me machuca, Rui! – Ela fecha os olhos. – Me
beija! – Sua boca fica entreaberta, linda, deliciosa.
– Que boca linda que você tem, Jack! Você é toda linda! – Me
movimento vagarosamente. – Minha gostosa! – Mais uma estocada.
– Sou louco por você, Jack! – Beijo-a com vontade.
Mais uma estocada, vagarosa, estou me segurando para ser
gentil, eu sei às vezes sou bruto, mas não hoje, ou enquanto ela
estiver assim.
– Oh, Rui! – Ela se mexe contra meu pau.
– Você quer mais, Jack? – falo num rosnado, ela não sabe o que
faz comigo.
– Quero mais forte, não gosto assim! – ela diz e dou risada, eu
quero ser gentil, mas ela não me deixa.
– Assim, minha delícia? – Faço um movimento forte, me
enterrando inteiro dentro dela.
– Ahhh! – Ela geme. – Issooo!!!
– Oh, Jack! – Enlouqueço, e esqueço a história de ser gentil e
fodo forte, e em segundos chego ao orgasmo. – Oh, caralho, Jack!!!
Fico de olhos fechados, meu coração querendo saltar pela boca.
Solto suas mãos, ela me abraça e me beija feito uma alucinada.
– Calma, Jack! Estou sem fôlego! – Reclamo, ela é uma
taradinha deliciosa, pena que não podemos foder a noite inteira.
Ela me olha sorrindo.
– Foi delicioso, Rui!
– Para mim, também! – digo rindo feito um bobo, ela me deixa
assim. – A gente precisa de um banho, a coisa deve estar meio
complicada. – Faço uma careta.
Saio vagarosamente de dentro dela, olho e vejo o mundo ficar
vermelho.
Caralho, nunca vi nada igual!
– Ok, Jack, não sai daí, eu vou pegar uma toalha, a situação
está pior do que eu pensava! – Me levanto e saio apressado para o
banheiro.
Cacete, a empregada vai achar que estripei alguém em minha
cama.
Levo a toalha para ela.
– Desculpa, Rui, eu arrumo tudo isso! – ela diz apressada, sem
graça, indo para o banheiro.
– Jack, está tudo bem, eu vou levar os lençóis para a lavanderia,
qualquer coisa eu me machuquei – falo para acalmá-la.
– Nossa, que tipo de machucado faz isso? Talvez um pênis
decepado? – ela diz divertida.
Seguro meu pau entre minhas mãos.
– Não fala isso, nem de brincadeira, Jack! – Saio carregando os
lençóis para a lavandeira.
Porra, essa mulher é meio louca, preciso tomar cuidado com o
que faço, caso não queira ter meu cacete tirado fora.
****

Me sento com a Jack na mesa de jantar, a empregada já deixou


nosso café da manhã pronto.
A Jô entra com meu café expresso na mão.
– Aqui está, Doutor Rui! – ela diz atenciosa como sempre.
– Bom dia, Jackeline! Tudo bem? – Ela cumprimenta a Jack, já
percebi que ela está puxando o saco da Jack.
Realmente, não é muito normal uma mulher passar tanto tempo
na minha casa. Acho que nem mesmo a Priscila dormiu tantas
vezes no meu apartamento.
– Tudo, Jô! E você? – Elas trocam gentilezas, mulher é tudo
igual.
– Eu vi os lençóis estendidos no varal. Não precisa se preocupar,
Jackeline, estou acostumada a lavar as coisas do Doutor Rui! – A
empregada diz, a Jack se engasga e dou risada.
– Oh, claro! – A Jack diz sem graça, pega sua xícara e bebe seu
café com leite apressada.
Olho enquanto a empregada sai, ela está vermelha, e então falo:
– Em que momento você foi lavar os lençóis? Eu não vi – digo
enquanto bebo meu café.
– Logo que você dormiu. Eu te enganei, não poderia deixá-la
lavar os lençóis, a toalha, é contra meus princípios – ela diz de uma
forma engraçada.
Apenas dou risada, a Jack é diferente de qualquer outra mulher
que eu tenha conhecido e ponto.
****

Chegamos ao escritório, é estranho não ver a Karen na


recepção, eu já estava acostumado com aquela tentação todos os
dias, mas ao mesmo tempo, sinto um alívio.
Seguimos de mãos dadas em direção ao andar superior, é bom
ter a Jack novamente no escritório.
É estranho como ela conseguiu se tornar parte da minha vida em
tão pouco tempo.
Eu poderia estar enjoado dela, mas não enjoei.
Também poderia estar incomodado por passarmos tanto tempo
juntos, mas isso também não me incomoda.
Chegamos a sua sala, beijo seus lábios, sua testa.
– Preciso escolher algumas candidatas para o cargo de
recepcionista, depois passo o telefone delas para você marcar uma
entrevista – falo enquanto sigo para minha sala.
– Tudo bem! – Ela sorri e se senta em sua mesa. – Daqui a
pouco arrumo sua sala.
– Não precisa, Jack. Hoje você precisa trabalhar muito, tem
coisas pra cacete para você fazer. – Sorrio e sigo para mais um dia.
****

Finalmente o dia termina.


Acho que preciso de férias, não aguento mais ficar analisando
processos, audiências, estou de saco cheio de tudo isso. – Penso
alto, sozinho na minha sala.
Relaxo um pouco na minha cadeira, seleciono o ramal da Jack.
– Vem aqui, minha deusa, estou com saudades de você!
Caralho, isso soou tão meloso!
– Já estou indo, chefinho! – ela diz com sua voz doce.
A porta abre, e vejo aquela mulher linda vindo em minha direção.
– Senta aqui, Jack! – Aponto para meu colo. – Quando acaba
essa merda de menstruação? Não aguento mais essa seca de sexo!
– Beijo seu pescoço.
– Mais alguns dias, Rui!
– Ok... – Sorrio para ela, penso um pouco, não quero parecer
grudento, mas estou sendo grudento, caralho! – Você vai comigo
para o meu apartamento?
Ela acaricia meus cabelos, me olha, e eu já sei o que ela irá
dizer.
– Preciso ir para minha casa, minha mãe está ansiosa para
saber como foram os exames, enfim...
– Tudo bem! – falo, mas não é isso que sinto, mas é melhor
assim, preciso me distanciar um pouco da Jack, estou precisando
respirar um pouco, ficar longe dela.
– Posso ir agora? Demoro um pouco para chegar em casa. – Ela
deposita beijos pelo meu rosto.
– Não faz isso, Jack. – Coloco sua mão sobre meu pau, ele está
duro, ereto e louco por ela.
Puxo seu rosto para junto do meu e a beijo profundamente.
– Até amanhã, Rui! – Ela se afasta, levanta e sai caminhando
vagarosamente em direção à porta.
– Toma cuidado, Jack – falo a vendo sair.
Ela para na porta e me manda um beijo.
– Boa noite! – ela diz.
– Boa noite!
Ela fecha a porta e tento voltar ao que estava fazendo, mas não
consigo.
Então, sem ter muito controle sobre minhas atitudes, me levanto
de sobressalto, e caminho apressado até a porta.
– Jack! – Ela está nas escadas, volta e me olha surpresa. – Eu
vou te levar.
Ela me olha surpresa.
– Não precisa, estou acostuma...
Não a deixo terminar a frase.
– Vou pegar minhas coisas! – Volto para minha sala, fecho os
olhos, e concluo que estou mais fodido do que imaginava.
****

Estaciono o carro em frente ao seu apartamento.


– Pronto, Jack! Entregue! – Sorrio.
– Obrigada, Rui, mas não precisa fazer isso. Já estou
acostumada, não me incomodo de andar de transporte público!
– Mas eu me incomodo! – Seguro seu pescoço, a beijo com
vontade, eu realmente não queria que nossa noite acabasse ainda.
– Quer subir? – ela diz quando afastamos nossos lábios.
Eu realmente gostaria de subir, mas não posso, melhor não.
– Não, não precisa. Amanhã a gente se vê. – Um último beijo,
mas logo me forço a deixá-la ir, essa carência não está legal.
– Tchau! – Ela me beija de novo. – Obrigada!
Ela sai do carro, e fico aguardando enquanto ela entra em seu
prédio.
Ainda permaneço alguns minutos parado em frente ao seu
prédio, e então decido, vou dar um carro de presente para a Jack, é
isso.
****

Saio da loja de automóveis próximo a minha casa, e a única


certeza que tenho é que nunca dei um presente tão caro para uma
namorada.
Está saindo meio caro esse namoro! – Penso alto, dirigindo em
direção ao meu apartamento.
Depois de alguns minutos, estou de banho tomado, toalha na
cintura, deitado em minha cama, sem a menor noção do que fazer.
Zapeio a televisão, olho alguns programas, mas por fim, desisto,
estou me sentindo meio perdidão.
Eu poderia ligar para o Carlão, mas aí me lembro de que ele vai
querer ir a algum puteiro, e não estou a fim.
– Ok, você tinha uma vida antes de conhecer a Jackeline, que tal
voltar a ela? – falo comigo mesmo. – Tipo o que?
Não estou a fim de me exercitar, mas estou precisando, não
treino há praticamente um mês, o personal trainer já até desistiu de
me ligar.
– Tudo bem, vou correr um pouco na esteira! – Coloco uma
roupa confortável e desço para a minha academia particular, que
fica num espaço ao lado da área de lazer.
Uma hora e meia de corrida e o resultado sou eu, o chão e a
esteira encharcados de suor.
Sigo até um dos aparelhos, exercito um pouco os braços, tórax,
e finalmente paro.
– Estou morto, Bóris! – falo com o cachorro, que se deitou ao
meu lado. – Vamos lá, Bóris, preciso tomar um banho e jantar,
depois a gente pode ligar para a Jack. – Penso um pouco. – Não,
lembra a história de macho carente? Então, acho melhor não,
amigão.
Capítulo 55
JACKELINEBARTOLLI
Subo no elevador entorpecida pelos beijos do Rui, é uma pena
que ele não tenha aceitado subir, teria sido muito bom, aliás, essa
história de vivermos grudados um ao outro está fazendo um estrago
enorme.
Não consigo mais ficar longe dele!
Às vezes, o sinto carente, sei lá, o Rui não combina muito com
essa definição, mas quando nos despedimos, o senti tão carente de
mim!
Balanço minha cabeça!
– Não veja coisas onde não existe, Jackeline! O cara não é
capaz nem de dizer um “te adoro” para você. – Penso alto.
Ok, ele diz que é louco por mim, mas acho que é sexualmente.
Tudo se resume a tesão, sexo, desejo carnal.
Estamos juntos há praticamente um mês, num relacionamento
intenso, nos vemos todos os dias, passamos o dia juntos, quase
todas as noites, e até os finais de semana, mas não o sinto entregue
de corpo e alma.
A gente se curte, se dá bem na cama, nos divertimos, rimos,
mas relacionamentos não são feitos só disso.
Balanço novamente minha cabeça.
– Vá com calma, Jack! – falo para mim mesma.
Talvez, todas as notícias a respeito da minha saúde tenham me
deixado para baixo.
É bom estar com ele, mas não teremos um futuro juntos, será
sempre assim. Ele não quer nada mais sério, e eu, talvez não tenha
muito tempo para enrolar, não sei quanto tempo tenho ainda para
conseguir engravidar, se é que engravidarei.
Chego ao meu andar, pego minha chave e entro.
– Jack! – Minha mãe vem apressada me receber.
– Oi, mãe! O que foi, tudo bem? – Estranho seu jeito.
Ela me empurra para a cozinha.
– A senhora está esquisita, o que foi? – digo preocupada.
– Advinha quem está aí – ela diz desanimada.
– Quem, mãe? – A imagem do Renato vem a minha cabeça,
mas isso não faz sentido.
– O Renato! – Ela cochicha. – Eu o coloquei em seu quarto,
porque sua tia e sua avó começaram a falar umas besteiras, então
achei melhor deixá-lo lá.
– No meu quarto, mãe! – A olho aborrecida.
– É, não tinha outro lugar! – Ela faz cara de coitadinha.
– Tá bom, vou conversar com ele! – Sigo para a sala, antes beijo
o rosto de minha avó, minha tia. – Tudo bem, meninas? – falo para
disfarçar.
– Estou de namorado novo lá no salão, Jackeline, ele é um
homem lindo, lembra seu namorado, o... o... como ele chama
mesmo, Reginaldo? – Faço uma careta.
– Rui, tia! Que bom, espero que agora dê em casamento, vou
adorar ser sua madrinha.
Me sento ao lado da minha avó.
– Tudo bem, vovó? – Acaricio seus cabelinhos brancos.
– Querida, o magricelo loiro está aí, mas não dê muita atenção a
ele, o outro moço é muito melhor, que homem, minha neta! Você viu
o tamanho dele, Amélia? Eu o vi pelado, e o negócio dele me
assustou, filha. – Tampo a boca da minha avó.
– Vovó, por favor, não fale essas coisas, é muito chato! –
cochicho.
– Chato é ficar velha, quem me dera ser jovem e ter um homem
daquele, não sairia do quarto com ele. – Ela dá uma gargalhada. –
Infelizmente, o seu avô não era bem-dotado, o negócio dele era
muito pequenino! – Ela faz uma cara feia, mede com os dedos o
tamanho.
Olho para minha mãe e ela parece desconsolada.
– Oh, meu pai! Ela está cada dia pior, Jack! – Minha mãe coloca
a mão na cabeça.
– Vovó, eu preciso ir falar com ele.
– Não esqueça o que eu disse, Jackeline, não dê atenção a esse
pau de virar tripa! Ele tem cara de que tem pinto pequeno. – Saio
rapidamente da sala, respiro e abro a porta do meu quarto, e vejo o
Renato sentado em uma poltrona, lendo um de meus livros
espíritas.
Ele se levanta constrangido.
– Desculpe, eu só estava dando uma olhada, sua mãe pediu
para te esperar aqui! – Ele diz humilde, daquele jeito que o deixei da
última vez.
Não gosto de vê-lo assim, queria ver o Renato de antes, ogro,
sem educação.
– Oi, Renato! – Fecho a porta. – Você deveria ter me avisado
que viria aqui.
Ele me interrompe.
– Se eu avisasse, você não viria para casa, me evitaria.
– Desculpe... – Olho para o chão. – Você está bem, o que
houve? – falo constrangida.
– Sobrevivendo, sinto sua falta, de um jeito que não achei que
sentiria! – Ele me olha entristecido, ele continua com sua expressão
de desolação, e isso me deixa mal.
– Renato, por favor, segue adiante, será melhor para nós dois.
– Para mim, não, talvez para você! – Ele me olha de cima a
baixo. – Você está diferente, parece que o cara está te comprando
com roupas, talvez joias também.
Enrugo minha testa.
– Você está me chamando do que, interesseira? – falo com
raiva.
Ele esfrega seu rosto.
– Não, desculpe, não vim aqui para fazer isso. – Ele se aproxima
de mim. – Eu queria te ver, saber se você está bem, penso demais
em você, e sonhei esses dias com você, não foi um sonho muito
bom, então queria ter certeza que você está bem.
Meu coração aperta, sempre fomos muito conectados, ele
sempre sabia quando eu não estava bem.
– Descobri que tenho uma doença no útero, chama-se
endometriose! – Me sento na cama.
– Eu tenho uma funcionária que tem isso, é um pouco grave... –
Ele me olha preocupado. – Você está bem?
– Tenho sentido muitas cólicas, muito sangramento. Mas você já
sabia disso, lembra? – digo sem graça.
– É verdade, me desculpe, nunca desconfiei que fosse o que a
Luiza tem, ela se ausenta dias do trabalho, você sempre foi tão
forte, aguentava firme.
Sorrio.
– Acho que sou resistente à dor, mas esses dias tive uma crise
muito séria, o Rui me levou ao hospital... – Olho para ele, ele desvia
o olhar de mim. – Fiz alguns exames e então chegaram ao
diagnóstico.
– Você e o playboy continuam juntos? – Ele parece tão magoado
comigo.
– Sim! Estamos namorando, Renato.
– Duvido que seja pra valer, ele não é o tipo de cara que leva
uma mulher a sério – ele diz com ódio no olhar.
– Talvez você não o conheça tanto quanto acha conhecer, vocês
só se viam no elevador – falo com ironia.
– Conheço as pessoas, sou um líder de equipe, não preciso de
muita coisa para saber que tipo de cara ele é, mas, você não é uma
menina tola. – Ele se levanta. – Eu trouxe um presente para você. –
Ele tira um pacote de uma sacolinha. – É igual ao da minha mãe,
você sempre disse que queria um colar igual aquele.
– Oh, Renato... – Sinto meus olhos encherem de lágrimas.
Ele não fez isso!
Eu sempre adorei um colar que sua mãe carregava na garganta,
era uma joia de família, mas era lindo. Apenas um colar de ouro
branco, e uma pedra lapidada chamada malaquita.
Sua mãe dizia que tinha recebido de sua bisavó, e que ela tinha
propriedades de cura, fortalecimento espiritual, e mais algumas
coisas que não me lembro.
Ele pega o pacote, vejo uma caixa de veludo vermelha, ele a
abre, e lá está o colar mais lindo do mundo.
Nunca gostei de joias, mas essa é especial, não sei dizer,
sempre me fascinei com essa joia de sua mãe.
Duas lágrimas caem dos meus olhos, por que ele está
complicando ainda mais as coisas?
– Renato, eu não posso aceitar – digo sem querer magoá-lo.
– Eu sei que demorei em te dar isso, mas é que nunca encontrei
essa pedra, mas recentemente um amigo foi para Tailândia, pedi
para ele ver se achava, e então ele trouxe. – Ele pega o colar em
suas mãos. – Aceita, Jack, não estou pedindo nada em troca.
– Eu não mereço... – As lágrimas escorrem pelo meu rosto,
estou emocionalmente frágil, e ele não está me ajudando em nada
com isso.
– Merece sim. – Ele sorri. – Pelo tempo que me aguentou, sou
um cara complicado, eu sei disso – ele diz um pouco amargo. – Não
sei se encontrarei alguém que me entenda como você me entendeu,
Jack!
Respiro fundo, não sou completamente imune as suas palavras,
eu só queria que fôssemos compatíveis na cama, sinto muito
carinho por ele.
Ele se aproxima mais e mais.
– Dá licença – ele diz com seu olhar de menino tímido e coloca o
colar em meu pescoço. – Ficou lindo em você, o verde combina com
a cor da sua pele.
Passo meus dedos pela pedra.
– Obrigada, Renato! – Enlaço seu pescoço com meus braços e o
abraço forte, e sinto seus braços em minha cintura, num abraço
cheio de sentimentos.
Ficamos assim por alguns segundos, mas não quero que ele
confunda as coisas, então me afasto, seco as lágrimas do meu
rosto.
– Obrigada, de verdade! Não vou mais tirar do meu pescoço –
digo de coração.
– Espero que não esconda por causa daquele cara. – Ele cerra
suas mandíbulas.
– Não! Nenhum homem me põe medo, Renato! – digo decidida.
– Eu sei disso, talvez você coloque medo nos homens, não o
contrário! – Sorrio com sua piadinha. – Quer sair para jantar?
Imagino que você não comeu ainda.
Oh, meu Deus, como ele é insistente! Eu não conhecia esse lado
do Renato.
– Eu estou muito cansada, e as cólicas já começam a dar sinal
de vida, então, vou tomar meu remédio e me deitar, amanhã acordo
muito cedo.
Ele levanta a mão, acho que está cansado das minhas
ladainhas.
– Ok, não precisa ficar se explicando, eu já vou! – Ele me olha
intensamente.
– Tudo bem, vou te levar até a porta. – Viro nos calcanhares e
saio andando rapidamente até a porta.
Passo pela sala como um furacão, não posso dar chance das
minhas idosas dizerem alguma besteira.
O espero no meio do corredor dos elevadores, aperto o botão do
elevador e o sinto parar a minha frente, a milímetros de distância.
Olho para cima, sem graça com a situação, e então ele me beija,
e eu permito pela segunda vez.
Mas as borboletas na barriga, assim como a moleza nas pernas
e os batimentos cardíacos acelerados não acontecem.
Me afasto rapidamente e o elevador abre.
– Obrigada, Renato, o colar é lindo!
– Te amo, Jack, e se você me permitir, eu continuarei sendo seu
amigo. – Ele entra no elevador. – Mudei de prédio, estou em outro
endereço, se quiser conhecer meu novo apartamento, me liga. – Ele
pressiona o botão, fazendo a porta se fechar.
Encosto na parede, e fico alguns minutos olhando para o teto.
Minha vida seria tão mais fácil se eu estivesse com ele, ele quer
casar comigo, quer ter filhos.
Será que vale a pena eu continuar nesse relacionamento com o
Rui?
Ele é apaixonante, carinhoso, atencioso, mas não pode me
oferecer o que quero!
Mas eu os sentimentos, o que faço com eles?
Talvez eu devesse ser prática, objetiva e fria, como o Rui.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto.
– Não sei o que fazer, eu só queria ser mãe, eu quero muito ser
mãe, será que é pecado querer tanto assim? – falo comigo mesma.
– Jack! – Desperto dos meus pensamentos.
– Oi, mãe!
– Vamos jantar? Estou aflita, quero saber sobre o resultado dos
exames, filha.
Sigo até ela.
– Tudo bem.
– Que colar é esse? Que coisa mais linda, filha! Foi o Rui que te
presenteou? – Ela segura a pedra entre seus dedos.
– Não, foi o Renato!
Ela larga a pedra e me olha.
– O Renato? – Sua expressão não nega sua surpresa.
– É! Estranho, não é mesmo? – Sigo para o interior do
apartamento.
– Ele está usando todas as armas para te ter de volta, não
esperava isso dele, sempre foi tão desligado, esquisito – ela diz com
uma careta.
– Às vezes, uma separação, um namorado novo, causam
mudanças que não esperávamos. – Penso um pouco.
Passo pela sala.
– Jackeline, o que é isso em seu pescoço? – Giro meus olhos ao
ouvir minha vovozinha gagá me chamando.
– Nada, vovó, é só um colar. – Penso em seguir para meu
quarto, mas ela se levanta e vem ao meu encontro.
– Me deixe ver isso. – Ela olha atenta para a pedra. – Quem te
deu isso, foi o loiro sarnento?
Reviro meus olhos.
– Vovó, não fala assim dele! Sim, foi ele. – Tento sair, mas ela
não me deixa.
– Isso aqui tem cara de macumba para atrapalhar sua vida. Tira
isso, não deixe esse fedelho estragar seu relacionamento com
aquele moço bonito! – Ela olha para minha mãe. – Amélia, eu já te
disse que vi o bilau do rapaz, é enorme. – Tampo meus ouvidos e
sigo para o meu quarto.
– Jesus, minha avó está cada dia pior.
****

Termino de colocar meu tailleur, me olho no espelho e acaricio a


pedra do colar. A blusinha regata creme realçou a cor da pedra, o
verde ficou vibrante.
Não consegui mais tirá-lo, estou fascinada por ele.
Existem poucas coisas materiais que eu queria tanto, e esse
colar era um deles.
O que irei dizer para ao Rui sobre ele?
A verdade?
Torço meus lábios.
Não sei se ele entenderá, então posso apenas dizer que foi um
antigo presente do Renato.
É isso, contarei meia verdade.
O caminho até o escritório foi especialmente tranquilo, desço do
ônibus e caminho vagorosamente em direção ao escritório, passo
em uma cafeteria, tomo um café com leite e como um pão de queijo
rapidamente, e finalmente sigo para o escritório.
Me surpreendo ao chegar e ver o carro do Rui estacionado.
Ele chegou cedo hoje!
Sorrio, porque apesar das coisas que pensei ontem, eu o adoro,
e estou louca de saudades dele.
Abro o portão que ainda está trancado, abro a porta e subo as
escadas.
O cheiro do seu perfume segue durante todo o caminho, e
parece um imã que me leva a ele.
Coloco minhas coisas sobre minha mesa, bato na porta e entro.
Ele me olha por cima de seus óculos.
– Bom dia! – falo sorrindo.
Caminho até ele, e como se eu revivesse o passado, o vejo
mastigando a haste de seus óculos, e me olhando com seu sorriso
enigmático.
– Bom dia, minha deusa! – Ele vira sua cadeira de lado, me
segura pelo bumbum trazendo meu corpo para junto do seu, me
inclino sobre ele e o beijo, e é tão diferente do beijo do Renato.
Acaricio seus cabelos, olho nos seus olhos, queria tanto dizer
que o amo, mas não posso, não quero, eu preciso ouvir primeiro
dele isso.
– Tudo bem? – ele diz me encarando.
– Tudo, e você? – Ficamos nos olhando, e é estranho, parece
que nós dois estamos num compasso de espera.
– Tudo bem... – Ele se afasta de mim. – Que colar é esse, nunca
te vi usando nada no pescoço, é novo? – Ele enruga a testa, e meu
coração dispara.
Ele é muito observador, não imaginava que perceberia tão
rapidamente.
– Não, eu o tenho há algum tempo, foi um presente. –
Desconverso, sigo para suas janelas. – Posso abrir?
– Pode sim. – O vejo se levantando, ele me abraça pelas costas,
beija meu pescoço. – Quem te deu?
Um gelo passa pelo meu estômago.
Eu não conheço o Rui tanto assim, mas eu já percebi que ele é
bem possessivo.
Mas, não quero mentir, então falo a verdade.
– Foi o Renato! – digo e no mesmo momento ele se afasta de
mim.
– Por que você está usando um presente de seu ex-namorado?
– ele diz irritado.
– O objeto não tem culpa de quem o deu, eu adoro esse colar,
não vejo problema de usá-lo! – falo incisiva.
– Eu vejo! – ele diz com sua cara brava, e de homem mandão.
– Eu não vejo! – Sigo para a próxima janela.
– Tira ele, Jack! – ele diz autoritário.
Respiro fundo, fecho meus olhos, e inspiro.
– Não consigo entender por que eu deveria tirá-lo. – O olho
seriamente. – Você deve ter presentes que ganhou da Priscila e que
ainda usa, talvez uma gravata, uma camisa, eu não vejo problema
nisso.
– Não uso nada que ela me deu, a Priscila tinha gostos bem
esquisitos, provavelmente eu já dei para a empregada. – Ele enruga
sua testa. – Não quero que você use nada que aquele cara te deu.
Ele segue para sua mesa.
– Rui, me entenda, eu amo esse colar, não porque ele me deu,
mas porque adoro essa pedra.
Céus, por que esse carnaval todo por causa de um colar?
O Rui é tão complicado de vez em quando.
– Vamos a uma joalheria do shopping na hora do almoço, eu vou
comprar um colar para você com essa pedra!
Dou uma risada louca.
– Não, as coisas não funcionam assim comigo. – O encaro. – Eu
sei que você tem dinheiro, pode comprar quase tudo que quiser,
mas eu não estou à venda – bufo irritada. – Estou feliz com esse
colar, não quero outro.
Sigo para a próxima janela, mas ele me interrompe, me puxa
pelo braço e me faz olhá-lo.
– Se você gosta de mim e respeita o fato de estarmos juntos,
você irá tirar esse colar, porque ele é um presente de seu ex-
namorado – ele diz bravo. – Normalmente eu não precisaria te dizer
isso, você deveria saber que nenhum homem aceitaria isso. Guarde
isso, e dê para uma filha quando você tiver.
O encaro por alguns minutos.
– Talvez eu não tenha filhos, e muito menos filhas, e não terei
sobrinhos, nem sobrinhas, não tenho irmãos.
Ficamos nos encarando por segundos intermináveis.
– Por favor, Jack, não seja uma pessoa tão teimosa, nenhum
cara aceitaria isso, acredite em mim!
Solto o ar que estava segurando, ele me deixa muito nervosa.
– Ok! – Abro o fecho do colar rapidamente, o pego na mão e saio
andando para a porta, mas novamente sinto sua mão em meu
braço.
– Não fica brava comigo! – Ele enfia seus dedos entre meus
cabelos, acaricia minha nuca. – Minha oncinha... – ele diz sorrindo.
– Eu vou te dar um colar com essa pedra, você não precisa usar
esse. – Ele beija meu pescoço me fazendo fechar os olhos. – Eu
não quero brigar, Jack. – Ele me aperta em seus braços, procura
meus lábios e me beija de um jeito que vejo estrelinhas.
Acho que nunca conhecerei alguém que me faça sentir o que
sinto com o Rui, essa sensação é única, e boa demais!
– Eu não quero outro colar! – falo contra seus lábios.
– Mas eu vou te dar. – Ele me beija de novo.
– Eu não quero! – Paro de beijá-lo e o encaro.
– Por favor, Jack, como você é difícil. – Ele se afasta de mim. –
Toda mulher gosta de ganhar presentes. – Ele se senta em sua
cadeira.
– Eu não sou “toda mulher”, eu sou Jackeline Bartolli, dona de
uma personalidade marcante, senhor... Qual o seu nome mesmo?
Ele dá risada.
– Jackeline Bartolli, se eu soubesse que você era assim, nunca
teria me... – Ele para de falar. – Te contratado. – Ele dá um sorriso.
– Ok, vamos esquecer essa história de colar e tudo mais. –
Reviro meus olhos. – Quer um café, chefinho?
Ele passa sua mão pelo rosto, parece cansado, e o dia nem
começou.
– Tá cansado, Rui? – Vou até sua mesa.
– Muitos problemas na cabeça, minha cara Jackeline. – Ele
fecha os olhos e relaxa em sua cadeira.
Me posiciono em suas costas, aperto seus músculos dos
ombros, do pescoço.
– Está gostoso, chefinho? – falo em seu ouvido, o beijando.
– Não me provoca, Jack, você não sabe a vontade que estou de
te foder. – Sua voz sai levemente rouca, me provocando um gelado
no pé da barriga.
– Eu queria que você me fodesse, sabia? – Mordo sua orelha.
Ele vira sua cadeira rapidamente, me agarra pela cintura, me
fazendo sentar em seu colo.
– Vamos no banheiro, acho que dá... – Não o deixo terminar.
– Não dá, Rui, a gente precisa de um chuveiro. – Seguro seu
rosto entre minhas mãos.
– Então na hora do almoço, depois de comprarmos seu colar.
– Sem colar, Rui, eu só quero você. – O beijo apaixonadamente,
mas um toque na porta me assusta, pulo de seu colo como se fosse
uma adolescente pega no fragrante pelos pais.
Ele ri.
– Pode entrar.
Vejo o gerente de RH.
– Bom dia, Doutor Rui, Jackeline... – Ele me olha sem graça. –
Algumas das candidatas para recepcionista chegaram. Você quer
que eu faça algum teste?
– Pensei que eu deveria marcar as entrevistas? – pergunto
incomodada.
– Eu achei melhor deixar o Recursos Humanos cuidar disso – ele
me diz em um tom mais baixo. – Bom, já que elas já chegaram, eu
posso entrevistá-las, depois vejo se é necessário um teste adicional
apenas com as que gostei.
– Tudo bem. Posso pedir para elas aguardarem na antessala da
Jackeline?
– Sim. – O Rui me olha. – Você recebe as moças, e traz os
currículos para mim?
– Claro. – Sigo com o Gerente de RH até minha sala.
– Eu já volto com as candidatas! – o homem diz seguindo para
as escadas.
****

Quero deixar claro que não tenho nada contra loiras, na verdade,
eu as invejo.
Gosto de ser sincera, e aqui não mentirei, acho as loiras
estonteantes.
Houve uma época da minha vida, que achava que poderia ser
loira, então, por volta dos meus 18 anos, encharquei meus cabelos
com descolorante e fiquei parecendo um travesti. Daquele dia em
diante, resolvi me conformar com minha morenice.
Mas, o fato de ver um desfile de loiras estonteantes na minha
sala, provocou em mim certa revolta.
Por que só tem candidata loira?
Essa é a pergunta que lateja em minha mente, e que irei
descobrir daqui a pouco.
Cada uma das quatro loiras se senta a minha frente, pernas
cruzadas, aliás, todas são altas, magras, e de novo, estonteantes.
Que raiva, elas são todas clones da vaca da Karen.
Então é isso, ele gosta de loiras, como sou idiota, a Priscila é
loira, a Karen era loira, e a próxima recepcionista será loira.
Jackeline sua idiota, esse cara é um safado inveterado.
Sorrio para as donzelas, todas em sua tenra idade, não devem
ter mais que 19 anos, ele também gosta de bebês.
– Olá, qual o nome de vocês? Preciso achar aqui o currículo
para o Doutor Rui entrevistá-las. – Tento ser simpática, mas não
consigo.
Cada uma das princesas me diz seu nome, imprimo os currículos
que ele tinha me enviado pelo e-mail, e vejo o histórico profissional
delas.
Que engraçado as lindezas só trabalharam em eventos como
recepcionistas, ou em feiras, tipo a feira do automóvel, todas são
como modelos, nenhuma fez nada da vida, uma das lindezas
frequenta a faculdade de Moda, a outra de Hotelaria, e as duas
outras apenas fizeram cursos “de modelo”.
Sorrio novamente para elas, elas não têm culpa.
Coloco novamente o colar que o Renato me deu.
Quer saber, não levarei o Rui muito a sério, ele é um cretino.
– Aguardem um momento, daqui a pouco o Doutor Rui chamará
por vocês! – Sigo para sua sala.
Abro e entro, e ele olha novamente para o colar.
– Qual o problema, Jackeline? Achei que tinha sido claro com
você! – ele diz nervoso.
Não me dou ao trabalho de responder.
– Qual o pré-requisito para ser a recepcionista de seu
conceituado escritório? – Não o deixo responder. – Talvez loira? – O
encaro cheia de raiva. – Alta? Magra? Estudante de Moda?
Hotelaria também serve?
Ele pisca os olhos nervosamente.
– O gerente de Recursos Humanos que selecionou – ele diz sem
graça.
– Como você é mentiroso! – Ele tenta me interromper, mas não o
deixo. – Você não tem vergonha na cara. – Estou enfurecida. – Qual
o teste que você fará agora? Um boquete, uma sentada no colo, o
que mais?
Sinto meu coração na boca, meus nervos estão à flor da pele.
– Não é nada disso, Jackeline, mas que porra! – Ele se levanta,
vem em minha direção, mas coloco minha mão bem aberta em sua
frente.
– Não chegue perto de mim, não o levarei mais a sério! Você é
um palhaço, Rui Figueiredo! – Saio batendo meu salto alto, mas ele
entra na minha frente, se posiciona na frente da porta, me
impedindo de sair.
– Jackeline, seja uma pessoa razoável, eu preciso de uma
pessoa com boa aparência para recepcionar os clientes, não estou
preocupado com a faculdade que ela faz, e o fato de ser loira foi
coincidência.
Não suporto ser enganada, nem tratada como uma idiota, então
perco a cabeça, e bato pela segunda vez em seu rosto.
Ele me olha enfurecido, mas não se move.
– Não sou idiota nem retardada, talvez você precise de garotas
assim para se relacionar, mas não será comigo. – Sinto minha
cabeça latejar. – Sai da minha frente.
– NÃO!!! – Ele grita, respira feito um touro enfurecido, fecha os
olhos, balança sua cabeça. – Ok, Jackeline, então qual a sua
opinião a respeito do melhor perfil para uma recepcionista de um
escritório de advocacia?
– Qualquer um! Loira, morena, negra, ruiva, velha, nova, gay,
diversidade, meu caro Rui Figueiredo... – bufo com raiva. – Existem
muitas pessoas inteligentes que poderiam ocupar esse cargo, e
engrandecer o atendimento do seu escritório.
Ele coloca suas mãos sobre seu rosto, bufa feito um touro, e
volta a me olhar.
– Ok, Jackeline, você venceu. Dispense as garotas, você irá
escolher “a nova” ou “novo candidato”, talvez um gay, você disse
isso, não é mesmo? – Ele enruga sua testa.
Então, num movimento rápido ele arranca o colar do meu
pescoço, me deixando atônita.
– Você quebrou meu colar! – falo indignada.
– Vou guardar isso para você, tenho um cofre, ele ficará bem lá.
– Ele sai da porta, e caminha a passos largos para sua mesa.
– Você não tem esse direito! – falo possessa.
– Assim como você tem o direito de interferir na contratação dos
meus funcionários, eu tenho o direito de interferir no que você usa. –
Ele se senta em sua mesa, coloca o colar em sua gaveta. – Vai,
Jackeline, dê uma desculpa para as meninas, diga que a secretária
do chefe não gostou delas.
Olho para ele com a boca semiaberta.
Estou incrédula!
– O que eu digo? – pergunto confusa.
– Se vira, Jackeline! E me deixa sozinho, você já me irritou
demais, o correspondente a uma semana inteira.
Saio da sala dele, olho para as garotas sem graça.
– O Doutor Rui está muito ocupado, então, eu irei entrevistá-las.
– Sorrio de novo, eu fiz uma grande cagada. – Vocês me
acompanhem até uma sala, faremos uma entrevista em grupo.
Elas sorriem meio sem graça, apenas uma garota parece
interessada de qualquer modo.
****

Nos sentamos em uma mesa redonda, olho uma por uma, elas
não parecem gostar muito da mudança de planos.
– Então, me fale um pouco sobre você, Larissa, é isso? –
Começo pela mais simpática.
– Bom, tenho 18 anos, ainda não comecei minha faculdade, na
verdade meus pais estão sem grana para pagar – ela diz sem graça.
– E o que você quer prestar? – pergunto com o currículo dela em
minhas mãos.
– Quero fazer Gastronomia, adoro cozinhar, aprendi com minha
avó, mas essa faculdade é bem cara, e o curso é diurno, fica difícil
trabalhar e estudar... – ela diz desanimada. – Talvez eu faça
administração, apenas para ter uma faculdade.
– Você já tentou uma dessas bolsas de estudos do governo? –
Sinto pena da garota.
– Não, preciso primeiro entrar em algum curso, é complicado –
ela diz, parece inteligente, esperta.
– Certo... – Penso um pouco. – Você gosta de lidar com
pessoas, do trabalho de recepcionista?
– Mais ou menos, mas me dou bem nessas feiras, a aparência
ajuda.
Desanimo.
– Você poderia escrever para mim uma redação? O assunto que
você quiser! – Entrego para ela um bloco de papéis.
– Ok. – Ela sorri, e concluo, ela é muito bonita, não serve para
ser a secretária do Rui, irei morrer de ciúmes.
Sigo para a próxima.
– Você é a Patrícia, é isso?
– Sim! – ela responde, não parece muito simpática.
– Me fale um pouco sobre você.
– Meu sonho é trabalhar em um grande hotel, tipo o Gran Hyatt.
Também penso em trabalhar em cruzeiros, adoro viajar...
– Sei, e porque você não tenta um trabalho como este? Por que
está se candidatando a um cargo num escritório de advocacia?
– Oh, não sei, minha mãe disse para eu tentar.
– Entendo... – Olho para essas meninas com pesar, todas estão
perdidas. – Se eu fosse você, tentaria apenas o que você quer de
fato, não faça o que não gosta, só te trará frustração.
Ela sorri timidamente
– Obrigada pelo conselho. Estou dispensada? Não gosto muito
de escrever, aliás, sou péssima.
Olho para ela decepcionada.
– Tudo bem, pode ir.
Termino de entrevistar as outras duas, e não vejo nada muito
diferente, todas perdidas, mal sabem por que estão aqui.
Por fim, apenas duas quiseram fazer a redação, as outras duas
simplesmente desistiram apenas pelo fato de ter de escrever.
Lamentável.
Finalmente termino a entrevista.
Sigo com os currículos para minha sala, mal sei o que fazer com
as anotações que fiz, não quero e não vou escolher a próxima
recepcionista.
Sigo para a sala do Rui, bato na porta, ele me olha por sobre
seus óculos.
Ele não está para conversa, então vou logo ao assunto.
– Não achei justo dispensar as meninas sem ao menos
entrevistá-las, então tomei a liberdade de fazer isso. – Coloco os
currículos sobre sua mesa. – Aqui estão minhas anotações a
respeito de cada uma delas, mas duas delas desistiram quando pedi
para escreverem uma redação.
Ele nem ao menos me olha, então viro em meus calcanhares e
sigo para a porta.
– Escolha você, tire esses papéis daqui! – Ele pega os papéis
em sua mão e os direciona para mim.
– Eu não vou escolher ninguém! – Abro a porta e saio, mas me
surpreendo com a porta abrindo.
Ele sai nervoso, joga os currículos sobre minha mesa.
– Eu já disse, você irá escolher “A” profissional ou “O”
profissional para este cargo. – Ele me encara intensamente. – Não
quero falar mais sobre este assunto, Jackeline, a responsabilidade
agora é sua!
Ele dá as costas para mim, entra e bate a porta de sua sala com
força.
Olho para a cena incrédula.
Oh, que merda que fiz!
Capítulo 56
RUI FIGUEIREDO
Ando freneticamente pela minha sala, eu não estou acreditando
no que aconteceu à pouco.
A Jackeline é louca!
Tudo bem, talvez eu tenha sido um grande idiota, preciso apenas
de uma recepcionista, se será loira, morena ou cinza, tanto faz.
Certo, ainda tenho minhas recaídas, não resisto à mulher bonita,
adoro estar rodeado delas, mas não estava planejando comer a
próxima recepcionista.
Bom... pelo menos por enquanto.
Dou risada.
Não, acho que não, a Jackeline realmente me pegou de jeito.
Aliás, insisto, ela é louca, mas estou apaixonado por ela, essa é
a verdade nua e crua.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto, e tento me acalmar.
– Da próxima vez que ela bater em meu rosto, ela vai levar o
dela, essa é a última vez.
Abro a gaveta e olho o maldito colar.
Será que ela está falando a verdade?
Se a Jackeline estiver me enganando, eu a mato. E ele, aquele
bicha enrustida, eu ainda vou provar para ela que aquele cara
queima a rosca.
Mais alguns passos pela minha sala, olho pela janela para
espairecer, e meu celular toca.
Ando até minha mesa, é uma ligação do Doutor Albuquerque.
Bufo nervoso, não é um bom momento para falar com ele, mas
enfim, preciso voltar meu foco para o trabalho.
– Bom dia, Doutor Rui! – ele diz em tom formal.
– Bom dia, Albuquerque! Como vai?
– Bem, e você? – ele diz num tom meio estranho.
– Tudo certo! – respondo distraído.
– Gostaria de marcar com você aquele almoço ou jantar que
combinamos. Precisamos rever nosso acordo de negócios.
Enrugo minha testa, isso não está me cheirando bem, talvez
agora melou de vez. No fim das contas, acho que o acordo só
existia por causa de meu relacionamento com a Priscila.
Sou um idiota, achava que era pela minha competência.
– Ok, quando você quer fazer isso? Acho melhor um jantar,
estou com muito trabalho, tenho evitado almoços de negócios.
– Estou com um pouco de pressa, o que você acha de hoje à
noite?
Oh, ele está com pressa, pelo visto a merda é grande.
– Certo, como você quiser. – Penso um pouco, não quero que
sua filha vá, mas como posso dizer isso sem ofendê-lo? – O jantar
será apenas eu e você, correto?
– Não, Doutor Rui, minha filha é minha parceira de negócios,
trabalhamos juntos, ela amarrou todo o negócio que fizemos, então,
nada mais natural que ela esteja junto.
Fecho os olhos e bufo exausto.
Que merda que arrumei para a minha cabeça, ele pensa que sou
burro, que irei ceder apenas por causa de alguns processos que ele
manda para mim. Gosto de dinheiro, mas não vendo minha alma ao
diabo.
Ok, eu já vendi no início da minha carreira, mas não vendo mais.
Estou consciente que irei perder essa merda, será ruim, mas
sobrevivo sem eles.
– Tudo bem, escolha o restaurante. Prefiro que seja às 21h, o
que você acha?
– Gosto do All Seasons, é discreto, às 21h, até lá!
– Ok!
A ligação é finalizada.
Perfeito, meu dia começou bem complicado, espero que pare por
aí.
****

Olho em meu relógio de pulso, estou com meu estômago dando


voltas, preciso almoçar!
Me levanto, coloco meu terno e sigo para a porta, mas paro por
alguns segundos.
Eu tinha planos de almoçar com a Jackeline em meu
apartamento, não iriamos só almoçar, é lógico, mas isso foi antes
dela fazer aquela ceninha ridícula.
Ok, ela está me dominando um pouco, mas só um pouco, e
apesar de estar louco de tesão por ela (infelizmente quando
brigamos isso piora), não vou ceder ao charme daquela filha da
puta.
Saio de minha sala e a vejo digitando em seu computador.
– Estou saindo para o almoço. – Não me dou ao trabalho de
olhar para ela, mas aí me lembro da confusão que ela armou por
causa da recepcionista, então volto. – Já começou a selecionar os
novos candidatos? – Ela me olha confusa, seus lábios vermelhos
levemente abertos, que boca linda que essa mulher tem... Foco,
Rui, caralho! – Quero uma pessoa iniciando até o início da próxima
semana, Jackeline, não posso ficar com a recepção abandonada.
Eu te dou dois dias para me apresentar as opções.
– Rui, eu nunca fiz isso na minha vida, por favor.
A interrompo.
– Peça ajuda ao Recursos Humanos, em dois dias quero ver as
opções, e até o final da semana precisamos definir quem será o
novo, ou a nova profissional.
– Ok! – Ela me olha desanimada.
Giro em meus calcanhares e saio apressado, agora ela
conhecerá o seu chefe de fato. Nunca fui bonzinho com funcionário,
ela está muito mal-acostumada.
****

Escolho um restaurante de massas tranquilo, quero almoçar em


paz, sem funcionários ou clientes aparecendo para me
cumprimentar.
Enquanto almoço, penso na merda do jantar de hoje.
Será um porre jantar com aqueles dois, não queria ir sozinho,
então penso na Jack.
Quero mostrar para aqueles dois que não devo satisfação da
minha vida a eles, preciso mostrar para a Priscila que não estou
nem aí para ela, e para esse acordo fajuto que fechamos.
É isso, a Jackeline irá comigo, talvez ela não goste da ideia, mas
que se foda, ela está comigo, então precisa me acompanhar em
todos os lugares, até mesmo naqueles menos agradáveis.
Pago a conta e me lembro da história do colar.
Sou um cara marrento, e apesar de já estar com seu presente
encomendado, eu cumprirei com o que disse, comprarei a merda
desse colar, nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida.
Sigo pelos corredores do shopping e entro na primeira joalheria
que encontro.
Vejo uma atendente, pego o colar dela em meu bolso e mostro
para a moça.
– Gostaria de ver o que você tem de joia feita com essa pedra.
Ela pega a joia na mão.
– Essa é uma pedra mineral, não trabalhamos com esse tipo de
material, mas a joalheria no final do próximo corredor trabalha. – Ela
sorri.
– Só por curiosidade, você pode avaliar esse colar? – Estou
curioso para saber do que se trata o presente daquele bicha.
– Claro, só um momento, vou mostrar para o nosso joalheiro.
Tamborilo meus dedos no balcão de vidro, olho algumas joias, e
então a moça retorna.
– Essa é uma peça sem valor comercial, o colar foi feito de prata,
essa pedra é bem comum, facilmente encontrada... É uma peça
barata, comprada em lojas comuns, não foi comprado em uma
joalheria.
Sorrio, esse cara é um merda mesmo.
– Tudo bem, obrigado.
Sigo para o corredor que ela me falou, alguns minutos de
caminhada, chego à joalheria, e vejo diversas peças feitas em
pedras minerais.
– Boa tarde! – Uma linda loira me cumprimenta.
Sorrio para ela e tiro a peça do bolso.
– Gostaria de ver as peças que você tem nessa pedra.
Ela olha o colar.
– Malaquita, eu adoro essa pedra, é cheia de histórias sobre
seus poderes de cura.
– Ah, sei, poderes de cura, não acredito muito nisso, mas enfim,
minha namorada gosta dela. Você tem alguma joia bem bonita, tipo
um cordão longo?
– Você pode me acompanhar, vou te mostrar alguns modelos!
Me sento em uma poltrona, ela traz algumas caixas com
diversos modelos, vejo um bonito, ela é formada por três correntes
de ouro, uma curta, uma média e outra longa, perfeitas, com
pequenas pedras ao longo das correntes, ela é fina e delicada,
combinará com a Jack.
– Muito bonita essa! – Pego em minha mão. – Qual o preço? –
Ela diz e quase caio de costas.
– Não está muito caro? Me falaram que essa pedra é comum!
– Mas nosso trabalho é artesanal, essas pequenas pedras são
lapidadas manualmente, e cravejadas na corrente, é um trabalho
muito delicado, feito pessoalmente pelo nosso joalheiro, é uma peça
única, você tem muito bom gosto. – Ela sorri e eu choro.
– Tenho uma mania besta de escolher sempre as joias mais
caras!
Ela dá risada.
Jackeline, você não merece tudo isso, você é ingrata,
encrenqueira, e não confia em mim.
Penso olhando para a peça em minha mão.
– Ok, eu vou levar – falo mal-humorado.
– Leve também os brincos, para combinar com o colar – a
vendedora malandra diz, espertinha, viu minha cara de idiota.
– Ok, embrulha tudo, e faz um desconto, está muito caro! – Ela ri
novamente, parece meio devassa, mas acho melhor eu me
comportar.
Saio da loja com um puta mau humor, ela não está merecendo
ganhar tantos presentes, mas não consigo resistir a ela. Mas tudo
bem, eu vou querer meu presente também.
Penso no maldito jantar, a Jack não tem roupa para ir.
Tudo bem, Rui idiota, vai lá, gasta mais dinheiro com aquela
ingrata.
Entro numa loja de roupas femininas.
Olho alguns modelos na loja e então vejo um vestido preto, um
pouco abaixo dos joelhos, o decote nas costas é grande, e há uma
fenda na parte de trás. Ele é muito sexy, a Jack ficará linda nele.
– Pois não, posso ajudá-lo? – Uma vendedora se aproxima.
Pego o vestido da arara, o olho com cuidado, o tamanho será
esse mesmo, apesar da Jack ter seios grandes e um bumbum
realmente avantajado, ela não é gorda, apenas muito gostosa.
– Vou levar esse, embrulhe para presente! – Saio andando para
o caixa, a mulher corre atrás de mim.
– O senhor não quer ver mais alguma coisa? – ela diz simpática
Penso nos malditos sapatos.
– Aqueles sapatos, número 37, e mais nada! Nos últimos dias
gastei mais dinheiro com minha namorada do que imaginei gastar
em um ano.
Ela percebe meu mau humor e sai andando.
Logo estou saindo do shopping e seguindo para o escritório.
****

Subo as escadas do escritório com aquela caixa enorme e a


pequena sacola das joias.
Talvez a Jack entenda mal tudo isso, é só ela brigar comigo que
recebe presentes.
Tudo errado.
Eu deveria ter pensado melhor antes de comprar tudo isso.
Merda!
Entro em sua sala e ela me olha rapidamente.
– Boa tarde, Rui! – Ela faz voz de boazinha, já conheço a Jack,
faz merda depois quer se redimir, faz voz doce, cara de boazinha,
ela acha que me engana.
Despejo a caixa grande e a pequena sacola em sua mesa, ela
me olha assustada.
– Hoje à noite você irá comigo em um jantar profissional, comprei
um vestido para você me acompanhar.
– Oh, obrigada... – Ela me olha sem graça.
– A outra sacola é o colar, você não merecia por tudo que fez
hoje, mas sou um homem de palavra.
Saio caminhando para minha sala, fecho a porta e inspiro com
força.
Hoje meu dia está uma merda.
Capítulo 57
JACKELINE BARTOLLI
Tento controlar a curiosidade que se apoderou de mim, e que
quer abrir essa caixa linda e ver o vestido que o Rui comprou para
mim.
Também estou com uma curiosidade enorme de saber a respeito
desse jantar de negócios, com quem iremos.
Agora, com relação ao colar não aguentei de curiosidade, e abri
discretamente o pacote que ele trouxe, e quase desmaiei.
Não desmerecendo o colar que o Renato me deu, mas o do Rui
é muito mais bonito, delicado, chique.
Ele tem muito bom gosto.
O colar do Renato é mais rústico, a pedra está em estado
natural, é muito bonito, mas não é delicado.
Olho com atenção cada detalhe do colar do Rui, as pequenas
pedras envoltas no ouro, e espalhadas ao longo dos três colares.
É tão lindo!
Achei que ele estivesse com raiva de mim, mas se ele estivesse,
ele não me daria um presente desse.
Sorrio encantada e então vejo os brincos, lindos e delicados.
Engraçado como um homem pode surpreender uma mulher.
O Rui é bruto, meio selvagem, mas muito delicado nos detalhes,
nos pequenos gestos, em suas atitudes, ele é um gentleman, é isso!
Não dá para agradecer agora, ele está arisco como um cavalo
selvagem. Não sei como será esse tal de jantar, o clima entre nós
está péssimo.
Será que exagerei de novo?
Oh, ando com meus nervos tão afetados, por qualquer motivo
explodo, são esses hormônios malditos, mexem com meu humor,
com minha paciência, e com meu bom senso.
Guardo rapidamente as joias, e a porta abre num solavanco.
Odeio quando ele fica assim, parece um cavalo.
– Vamos! – ele diz sem olhar para mim, apenas seguindo em
direção ao corredor que dá nas escadas.
– Você quer mesmo que eu vá? Porque dá forma como você
está me tratando, será muito desagradável.
– Tente consertar o estrago que você fez, se redima, peça
desculpas, você nunca faz isso! – Ele me olha com seus olhos
estreitos, bravos.
– Rui, por favor, não vamos retomar esse assunto, você não
sairá como santo – falo nervosa.
O que ele acha que sou, idiota? Ele acha que acreditei que o RH
selecionou somente loiras para a entrevista com o chefe safado?
Ah, vai se catar, Rui Figueiredo.
Ele pega a caixa da minha mão, e sai andando na minha frente.
Faço umas caretas, reviro meus olhos e o sigo até o carro.
Ele guarda a caixa do vestido no porta-malas e entra no carro.
– Quero te pedir desculpas apenas por uma coisa, o tapa em seu
rosto, não vou mais fazer isso, me desculpe! – falo sincera, não
gosto de violência física, mas tenho um gênio do cão, sou muito
explosiva, herança do meu falecido pai.
– Se houver outra vez, eu revidarei. Me desculpe a Lei Maria da
Penha, mas deu, tomou! – Ele arregala seus olhos, e o olho
magoada.
Será que ele teria coragem de bater em meu rosto?
E como se ele tivesse lido minha mente, ele diz:
– Jack, eu não faria isso, tive muita vontade, mas não tenho
coragem. No entanto, não veja isso como uma nova chance para
repetir o que fez, não tolerarei novamente! – Ele me encara com
seus olhos cinza, hoje eles estão escuros, e cerrados.
Já percebi que ele fica assim quando está bravo.
– Entendi! – Me esgueiro em seu banco e beijo seu rosto,
carinhosamente, e cochicho em seu ouvido. – Me desculpe, apenas
pelo tapa! – Sorrio no final, e ele abaixa a cabeça e ri, e volta a me
olhar.
– Você é meio doida, eu tenho certeza disso! – Ele dá um sorriso
de moleque, e fica lindo assim.
– Talvez eu fique lá por volta dos meus 80 anos, minha
vovozinha já está ficando, fala cada coisa que envergonha até o
papai do céu. – Acaricio seu rosto. – Rui, não tente nunca me
enganar, sou esperta, macaca velha.
Ele fica sério.
– Não estava tentando te enganar! – Ele liga o carro e começa a
manobrá-lo.
Seguimos alguns metros da rua onde fica seu escritório, então
falo:
– Você gosta de loiras. Quero dizer, não estou perguntando,
estou afirmando.
– Gosto de mulher, Jackeline! – Ele me olha enfezado. – Buceta,
peito grande, bunda grande, igual a sua. – O olho assustada. – Se
gostasse tanto de loiras não estaria com você, e sim com uma loira.
– Ele olha ligeiramente para mim, depois para o trânsito. – Entendeu
ou quer que eu desenhe?
Faço uma careta.
– Ok, Rui. Vamos parar com isso! – Fecho minha cara, e volto a
olhar para frente.
Entramos em seu prédio, e agora fico mais aliviada ao saber que
o Renato não mora mais aqui.
O sigo para dentro do elevador, e não aguento de curiosidade,
então pergunto:
– Com quem iremos jantar? Eu sei que não conheço ninguém,
mas só por curiosidade. – Olho de lado para ele.
– Você conhece! – Ele me olha. – O Doutor Albuquerque e sua
filha.
Arregalo meus olhos.
– Aquela vadia que me unhou toda? Eu não vou. – O elevador
abre e saio em disparada, e quase caio com aquele bicho enorme
pulando em cima de mim. – Bóris, tenha modos – falo brava.
– Você vai, e vai se comportar como uma lady, educada e gentil.
– Não, eu não vou! Aliás, se eu for, vou dar uma surra nela!
Ele joga a caixa em cima do sofá e gargalha.
– Vamos parar, Jackeline, chega de confusão por hoje. – Ele
relaxa no sofá. – Tudo bem, você não suporta a Priscila, e ela não
suporta você, mas preciso encontrar os dois a negócios. Talvez ele
queira cancelar nosso acordo, não é um encontro de amigos, não
espere gentilezas dos dois, mas preciso de você comigo. Por favor,
não se negue a me acompanhar.
Oh, ele falando assim, com essa carinha que ele faz.
Respiro fundo e inspiro, não resisto a ele!
– Posso jogar uma taça de vinho na cara dela? Tem que ser
tinto, para manchar sua roupa! Se bem que queria jogar ácido.
Ele dá uma risada gostosa.
– Pode, mas só no final. Preciso primeiramente resolver essa
pendência, se você jogar o vinho no começo do jantar, aí não irei
resolver nada! – ele diz de bom humor, aliás, ele se recompõe tão
facilmente de nossas brigas, se fosse outro cara, passaríamos dias
sem falar um com o outro.
Aliás, minhas brigas com o Renato sempre foram assim,
ficávamos dias sem nos falar.
– Tudo bem, eu irei, tentarei me comportar, mas somente se ela
se comportar. Nunca mais aquela mulher me ofenderá, Rui, e nem
colocará suas mãos em mim.
Ele gesticula com as mãos.
– Perfeito, combinado. – Ele se levanta. – Ela não fará nada na
minha frente, ela tem certo medo de mim, não sei por que, costumo
ser tão civilizado. – Ele ri e caminha em direção as escadas.
– Civilizado – falo alto, e começo a segui-lo. – Colocar mulheres
nos ombros, jogá-las em cadeiras, às vezes puxar os cabelos,
morder... estilo homem das cavernas.
– Oh, isso é romântico, Jack, é sinal de amor pela fêmea! – ele
diz irônico, num tom leve, brincando.
Entramos em seu quarto, ele fecha a porta antes que o Bóris
entre, me pega pelos cabelos, naquele estilo homem das cavernas,
e me faz encará-lo.
– Assim é estilo homem das cavernas, Jack? – Ele roça seus
lábios nos meus, e isso me deixa louca de desejo.
– Isso, você parece um homem das cavernas. – Ele puxa mais
meus cabelos, abrindo caminho pelo meu pescoço, morde e chupa,
e isso me deixa louca de tesão. – Rui, por que você me morde
tanto? – falo meio rindo, meio choramingando. – Às vezes, isso dói.
Ele beija o local.
– Tenho esse negócio com mordidas, acho que conviver muito
tempo com um cachorro me deixou meio canino.
Gargalho do que ele disse.
– Eu gosto das suas mordidas – falo entregue, como uma
perfeita masoquista.
Ele tira meu blazer, joga-o no chão e puxa novamente meus
cabelos.
– Oh, Jack, estou com tanta fome de você, se você soubesse.
Ele me beija selvagem, batendo nossos dentes, mordendo meus
lábios, e me causando um amortecimento.
O sinto abrindo minha saia, descendo minha calcinha, e em
seguida subindo suas mãos por baixo de minha camisa, e de
repente um puxão, os botões se rompem, me afasto de susto, mas
ele me puxa novamente para junto de seu corpo, me aperta, me
esmaga contra seu peito.
– Oh, minha gostosa! – Ele rosna.
Ele tira minha camisa pelos meus braços, desce seus beijos para
meu colo, abre o sutiã e abocanha meus seios.
Meu pai, que homem mais gostoso!
– Rui, vamos para o banheiro! – falo em meio a sua loucura, ele
é delicioso, ardente, adoro esse jeito que ele me pega.
Caminhamos atracados um ao outro em direção ao banheiro,
começo a tirar sua camisa, abro o cinto, botão e o zíper. Ele tira seu
sapato de qualquer jeito, logo a calça cai ao chão, puxo a boxer e já
sinto sua ereção contra meu corpo.
– Não consigo tirar sua camisa, Rui – falo em meios aos seus
beijos.
Ele tira suas mãos do meu corpo e começa a tirar sua camisa.
Entramos no box, e em segundos estamos atracados
novamente, agora contra a parede de azulejos, num frenesi de
bocas, mãos, carícias...
– Isso, Rui, me fode – falo insana de desejo, o sentindo me
penetrando.
Ele enfia com força sem membro, uma, duas, três vezes.
– Assim, Jack? – Ele morde meu pescoço, e fode com força. –
Oh, minha gostosa, eu não vou aguentar muito tempo, Jack.
– Oh, Rui, continua, Rui, isso, eu vou gozar. – E gemo alto, e ele
aumenta seus movimentos, unho suas costas, ele me morde, e
finalmente para, e sons roucos e sensuais saem de sua garganta.
– Caralho, Jack! – Ele respira pesadamente, beija meu pescoço.
– Foi incrível, puta paulada deliciosa.
Dou risada de sua definição para o que fizemos.
– Paulada? – falo com ironia.
Ele me olha e ri.
– Trepada, gozada, sei lá – ele diz divertido. – Mas foi incrível,
delicioso.
Procuro seus lábios e o beijo novamente.
– Eu adoro você, Rui, muito! – falo contra seus lábios, tenho
vontade de perguntar o que ele sente por mim, mas não o faço.
– Eu também, Jack! – Ele beija meus cabelos. – Vou ligar o
chuveiro.
– Ok!
Inspiro decepcionada.
Se ele soubesse como é importante ouvir o que ele sente por
mim!
– Marquei com eles às 21h. Você consegue se arrumar em
quarenta minutos? – Ele pergunta enquanto ensaboa os cabelos.
– Consigo! – Disfarço minha decepção, o sexo foi maravilhoso,
não vou estragar esse momento por causa disso.
****

Termino de secar meus cabelos e ajeitá-los.


Não tenho como fazer nada demais, não tenho minhas coisas
aqui, então apenas os deixo soltos, lisos e comportados.
Faço uma maquiagem leve, não tenho maquiagem em minha
bolsa, apenas batom, máscara para cílios e um lápis de olhos, que
uso para delinear.
Sigo para o quarto, e então, vejo o vestido sobre a cama, lindo,
preto e bem-comportado.
O Rui já desceu para a sala, pego o vestido em minhas mãos e o
coloco rapidamente.
Caiu como uma luva.
O decote na frente é discreto, não mostra meus seios, apenas
um pouco do colo, ele tem mangas longas, justinhas aos braços.
Passo minhas mãos ao longo do corpo, fiquei tão magrinha com ele.
Sorrio satisfeita.
Sigo até o closet, e me olho no espelho.
– Nossa, deslumbrante! – falo olhando o decote das costas,
enorme, mas muito elegante.
Olho para a minha bunda, enorme como sempre, mas o preto
disfarça, o vestido é todo justo ao corpo, estou me sentindo linda.
Volto para pegar meu sapato alto, mas vejo sobre a cama um par
de sapatos pretos e altos, lindos.
– Oh, Rui, você pensa em tudo! – Sorrio apaixonada.
Ele pode ter muitos defeitos, ser mulherengo, não gostar de
compromissos, mas ele é tão atencioso comigo.
Coloco o par de sapatos, e ando até o closet, desfilo em frente
ao espelho e sorrio satisfeita.
É bom estar deslumbrante perto daquela loira maldita.
Me lembro de colocar o colar, volto para o banheiro, o pego da
caixa de joias, prendo em meu pescoço, coloco os brincos e me
olho no espelho.
– Simplesmente lindos! – Olho deslumbrada para a joia, nunca
tive nada igual.
Sigo para as escadas, e logo estou na sala, o Rui está sentado
confortavelmente no sofá, digitando mensagens, como sempre!
– Oi! – falo levemente irritada.
Ele finaliza o que está fazendo rapidamente, guarda o celular,
me olha e sorri.
– Você está demais, Jack! – Ele caminha até mim, com aquele
olhar, me devorando.
Paro a sua frente e dou uma voltinha com as mãos na cintura.
– E então, fiquei bem com este vestido? – Faço charme.
– Perfeita, minha deusa! – Ele segura minha cintura, me traz
para junto do seu corpo. – Linda, você está linda! – Ele me encara, e
sinto palpitações em meu coração.
– Você também está lindo! – Seguro seu rosto entre minhas
mãos, e o beijo delicadamente, para não tirar o batom, mas ele abre
aquela boca deliciosa dele, e envolve a minha em um beijo faminto,
cheio de sensualidade.
Sinto suas mãos apertando meu bumbum, colando meu corpo
contra o seu, seu membro duro se esfregando em minha barriga.
Afastamos nossos lábios ofegantes, e vejo o contorno dos seus
lábios completamente manchados de batom.
– Você tirou todo o meu batom! – Abraço novamente seu
pescoço, o beijo novamente, mas me afasto rapidamente, não
podemos fazer nada, para que ficar se torturando. – Vamos, Rui,
depois continuamos.
Ele me olha decepcionado.
– Tudo bem. Não vamos demorar.
– Vou limpar esse batom, Rui. – O puxo até o lavabo, e logo
estamos seguindo para o restaurante.
****

Um manobrista abre a porta do passageiro para mim, desço com


sua ajuda, mas logo o Rui aparece ao meu lado, coloca sua mão em
minha cintura e me encaminha junto com ele para a entrada do
restaurante.
O local é refinado, chique e silencioso.
Ouço apenas um leve zum zum zum ao fundo, mas as pessoas
falam baixo, cochicham.
Acho que ricos não falam alto, ponto negativo para mim, filha de
italiano, às vezes me empolgo e falo meio alto.
Faço uma careta ao ver aquelas pessoas elegantes e ricas me
olhando.
Dou uma leve olhada para meu vestido, para checar se não há
algo de errado, e então o Rui diz:
– Vem, Jack, a mesa é aquela ali! – Ele gesticula com a cabeça,
e logo vejo a loira maldita e seu pai numa mesa de canto.
Meu coração dispara ao vê-los, o Rui me olha de lado, aperta
minha mão contra a dele, e beija meus cabelos, num gesto simples,
mas muito carinhoso.
Sorrio para ele, e então chegamos à mesa.
A loira me olha com uma cara de surpresa, ela não esperava que
ele me trouxesse.
Sorrio provocativa para ela, mas minha vontade é voar em seu
pescoço.
– Boa noite! – O Rui diz com um sorriso no rosto, ele também é
bem provocativo.
O velho levanta, parece meio assustado, me olha de cima a
baixo, e então estende sua mão para o Rui, que o cumprimenta.
– Essa é a Jackeline, você deve se lembrar dela. – O Rui diz,
estendo minha mão para o velho, e ignoro sua filha.
– Boa noite! – falo falsamente, apenas fazendo meu papel de
acompanhante do Rui.
– Como vai, Priscila? – O Rui se dirige a Priscila, que apenas dá
um sorriso amarelo para ele, ela me olha, me fuzila com os olhos.
– Vamos nos sentar? – O homem diz constrangido, parece sem
graça com minha presença.
O garçom puxa a cadeira para mim, o Rui se senta ao meu lado,
e logo pega minha mão, e a segura em seu colo.
O garçom começa a anotar o pedido de bebidas, então cochicho
no ouvido do Rui.
– Quero vinho tinto! – Ele me olha sorrindo e me dá um selinho.
Oh, estou quase pulando de felicidade, e louca para jogar o
vinho nela e manchar sua linda camisa de seda rosa claro e sua
saia tipo lápis creme.
Capítulo 58
RUI FIGUEIREDO
Acara da Priscila ao me ver com a Jackeline foi impagável.
Tenho vontade de rir, mas não o faço, poderei ser mal
interpretado, e não pretendo estragar o clima do jantar.
Eu nunca quis me casar, por que a deixei chegar tão longe?
Eu estava louco?!
Tudo bem que ela chama atenção pelo seu estilo, sua altura, os
cabelos grandes e loiros, e seus olhos, que realmente são muito
bonitos, mas é só.
Ela é uma mulher sem graça na intimidade, muito inteligente,
mas muito chata!
Porra, e se for falar na cama então, uma negação, a mulher
parecia frígida, nada a empolgava.
Enfim, em nada se assemelha ao furacão chamado Jackeline.
A Jack é meu número, combinamos demais na cama.
Tudo bem, vou admitir, sou ambicioso, e me deixei levar pelas
facilidades que meu relacionamento com a Priscila trouxe, seu pai
abria caminhos, facilitava processos, enfim.
É um tanto vergonhoso admitir isso, mas me envolvi com ela por
grana e poder. A vida é cheia dessas situações, e quando vemos,
estamos metidos em relacionamentos que não nos levam a nada,
mas que nos trazem alguns ou muitos benefícios.
O garçom chega a nossa mesa e começa a anotar os pedidos,
então a Jack se esgueira em minha direção e cochicha em meu
ouvido.
– Quero vinho tinto! – Ela sorri, e eu também.
Ela está doida para aprontar com a Priscila, mas eu a entendo, e
concordo que a Priscila está merecendo uma lição, que, no entanto,
não chegará aos pés do que fez à Jack.
Apenas concordo e beijo de leve seus lábios.
A Jack está linda, suas curvas fartas e deliciosas parecem
dançar embaixo do tecido fino e sensual do vestido.
Mas, acima de tudo, ela está elegante.
Passo meus dedos entre os seus, e seguro sua mão junto a
minha coxa. Não vou negar o sentimento bom que ela causa de
estar aqui comigo.
Tenho vontade de beijar sua mão, aliás, tenho vontade de beijá-
la o tempo todo, mas me controlo, não estou a fim de provocar a
Priscila, eu sei que ela ainda gosta de mim.
Confesso, a presença da Jackeline acabou com a pose do velho
Albuquerque.
Ele está salivando pela Jack, mas isso não me incomoda, porque
eu sei que a minha oncinha não me trocaria por um velho rico e
brocha, se ele fosse mais jovem, talvez eu não gostasse de sua
cara de cobiça ao olhar para ela, mas na sua idade ele não é mais
páreo para mim.
E sem querer, me vem à cabeça a imagem do ex-namorado da
Jackeline. Aquele cara me incomoda, e muito, mas depois penso
nisso.
Fazemos os pedidos dos pratos, penso em acabar com o clima
desagradável que se instalou na mesa, mas o Albuquerque
interrompe meus pensamentos.
– Então, Rui, como está seu pai? Faz algum tempo que não nos
falamos. – Ele pergunta bebendo seu vinho.
– Ele está bem, nos falamos hoje, como sempre, ele irá tirar
umas férias com minha mãe, eles irão visitar minha irmã nos
Estados Unidos.
– Oh, que ótimo, eu e a Lorena estamos planejando ir para a
França no final do ano, ela e a Priscila adoram ir até lá para gastar
dinheiro nos ateliês de roupas! – Ele olha para a filha e sorri, mas a
Priscila está com uma expressão péssima. – E sua irmã, como vai?
– Ele pergunta amistoso, me deixando confuso com relação ao rumo
desse jantar.
– Está muito feliz, o ano que vem ela termina sua especialização.
Não sei se ela voltará, ela conheceu um americano, está
apaixonada, e estão pensando em se casar. – Sorrio ao pensar em
minha irmã.
Sempre fomos muito amigos, confidentes, mas ainda não tive
coragem de falar para ela sobre a Jack.
– Oh, que ótimo! A Raquel que não irá gostar de saber sobre
isso, ela sempre diz que não vê a hora da filha voltar. – Ele sorri,
olha novamente para a Jackeline, e então ouço a voz da Priscila.
– Então, Rui, sabe aquele concurso para promotor de justiça? Eu
passei! – ela diz radiante e arrogante. – Vou me afastar das
atividades junto ao escritório do meu pai, porque irei trabalhar na
Promotoria de Justiça aqui de São Paulo, junto com aquele
promotor muito seu amigo, o Fernandez, você se lembra dele? – Ela
dá um sorriso satisfeito.
– Parabéns, Priscila! Mas eu e o Fernandez não somos amigos e
você sabe muito bem disso! – digo tenso, cada músculo das minhas
costas se retesaram.
O que essa filha da puta quer dizer com isso? – Penso nervoso.
Eu tive um problema sério quando estava no início da minha
carreira, me envolvi com clientes que não deveria, mas o dinheiro
era bom, e acabei cedendo. Eu era jovem, arrogante e pretensioso,
achava que sabia tudo sobre a vida.
Mas me fodi, é lógico, a Promotoria de Justiça, esse tal de
Fernandez e sua equipe, descobriram o esquema fraudulento que a
empresa estava metida, e o idiota do Rui era o advogado dos
caras, então entrei no bolo e por pouco não fui preso, e quase
destruí minha carreira de advogado.
Por incrível que pareça, quem me livrou da condenação foi o
Doutor Albuquerque, ele era o juiz do caso e me absolveu.
Mas é bom lembrar, meu pai pagou uma pequena fortuna para
ele fazer isso.
Nada foi de graça, e o Doutor Albuquerque não é santo.
Tento desconversar, esse assunto me deixa tenso.
– Então, Albuquerque, sobre o que você queria falar comigo? –
Beberico meu vinho, e tento relaxar, os músculos do meu pescoço
endureceram completamente.
Olho de relance para a Priscila, ela está com um sorriso no rosto,
não gosto disso.
Os pratos chegam, aguardamos enquanto o garçom se retira,
então ele volta a me olhar.
– Bem, gostaria de dar a notícia sobre o afastamento da Priscila
do escritório! – Ele olha tenso para a filha, observo cada olhar de um
para o outro. O que esses dois filhos da puta estão aprontando para
mim? – Eu e a Lorena estamos muito felizes pela Priscila. –
Desgraçado, desviou o assunto de novo. – Você sabe, a Priscila
estudou muito, este é seu sonho desde menina. – Tamborilo meus
dedos na mesa nervosamente, estou com um nó no meio do
estômago. – Então, por mais que irei sentir a falta dela no
escritório... – Ele segura sua mão sobre a mesa, e a afaga. – acho
que será melhor para ela. – Os dois se olham novamente, e já não
sei mais nada, só sei que estou tenso e preocupado.
Que vontade de mandar os dois se danarem, eu não estou
interessado em saber o que a Priscila irá fazer da vida dela, porra!
– Que ótimo, fico feliz pela Priscila, desejo sorte e felicidades em
sua nova atividade! – Olho firmemente para ela, que bebe seu vinho
e sorri.
– Iniciei essa semana minhas atividades na promotoria. Eu sou
fã do Doutor Fernandez, ele é espetacular.
– Que pena que não posso dividir com você essa admiração, eu
o acho um promotor arrogante, metido a besta, e que se acha dono
do mundo. – Me mexo em minha cadeira, esse assunto está me
deixando nervoso. – Aliás, não suporto promotores, todos são
insuportáveis, e eles também me odeiam, talvez porque não
conseguem vencer um caso quando sou o advogado do réu!
Ela dá uma risada sarcástica, e agora quem quer jogar o vinho
nela sou eu.
Maldita garota, algo me diz que ela vai querer infernizar minha
vida.
– Sério, Rui? Você tem amigos promotores, estranho dizer isso. –
Ela me encara. – Ele está querendo retomar alguns casos antigos,
processos mal resolvidos.
Ela me encara, não desvio meus olhos dela, agora tenho
certeza, ela quer se vingar de mim da forma mais baixa possível.
Minha mente ferve, não tenho mais 25 anos, sou frio e calculista,
não vou entrar no jogo dessa piranha mimada.
– É para isso que ele é pago, aliás, você também será paga para
isso – digo feito um cavalo, perdi a pose, minha vontade é pegar
essa garota pelo pescoço, e colocá-la em seu lugar. – Aliás, que
fique claro para você, Priscila, você será uma funcionária pública,
não é como se estivesse acima do bem e do mal.
– Oh, vamos nos acalmar, promotores e advogados nunca se
deram muito bem. – o Albuquerque dá risada, só queria saber do
que. – Mas no final são os juízes que decidem, não é mesmo? – Ele
dá uma olhada sisuda para sua filha, talvez pedindo para ela se
comportar.
Sinto a mão da Jackeline repousar sobre a minha, a apertando
suavemente.
Se a Jack não estive aqui eu falaria umas verdades para a
Priscila e seu pai. Os dois não são santos, e eu conheço muito bem
os casos que estão envolvidos. Mas, não vou lavar roupa suja na
presença da Jackeline, ela não precisa saber desse monte de
merda que estamos todos envolvidos.
– A comida está ótima, vamos jantar antes que esfrie! – O
bonachão do Albuquerque diz, e agora entendo o porquê dessa
reunião.
– Então, Albuquerque, como ficará nossa parceria? Você
continua tendo interesse nela, ou prefere desfazê-la? – Decido
encerrar esse jantar o mais breve possível, estou com uma raiva
louca desses dois.
– Bem, Rui, esse é o segundo assunto! – Ele pigarreia. – Como
você deve estar percebendo, não temos mandando muitos casos
para seu escritório. – Ele mexe em seus talheres. – Minha filha
montou uma pequena equipe de advogados para tocar os casos
mais complicados, sob minha supervisão, é claro. – Ele me olha,
parece constrangido. – Então, não acho que valha muito a pena
continuar com nosso negócio. – Ele me olha seriamente.
– Perfeito Albuquerque, vou providenciar o distrato do nosso
contrato, deixe que meus advogados façam isso. – Limpo meus
lábios, aperto levemente a coxa da Jack, a avisando que já estamos
indo. – Obrigado pelo jantar, mas estamos com pressa. – Olho de
lado para a Jack, estou insano de ódio. – Ainda quero foder com
minha mulher a noite inteira.
Oh, eu sei, isso soou muito grosseiro, mas eu precisava dizer
isso.
Seguro em seu pescoço, e a beijo indiscretamente, não dou
tempo da Jack reclamar, desgrudo meus lábios e levanto, pego em
sua mão a fazendo se levantar, e antes que eu possa pensar vejo
um movimento rápido da Jackeline.
Ela não se contentou em jogar seu vinho na Priscila, ela jogou o
meu vinho e o dela, e com tanta força que respingou para todos os
lados, inclusive no velho Albuquerque.
– Isso é para você nunca mais se meter comigo! – A Jack diz
feito uma onça, e preciso segurá-la, ela faz menção de querer partir
para cima da Priscila.
Não consigo segurar uma risada ao ver a Priscila toda tingida de
vermelho, seu rosto melecado, os cabelos, ela tenta se limpar
nervosamente.
– Sua piranha maldita! – A Priscila diz e no mesmo momento
vejo o braço da Jackeline passar por mim, e sua mão se estatelar no
rosto da Priscila.
Enrugo meus olhos, deve ter doído, os tapas da Jack doem,
essa italiana tem uma força na mão!
– Sua va... – A Priscila começa a dizer, tenta revidar, mas entro
na frente na Jackeline.
– Se você colocar novamente a mão na Jackeline, ela irá te
processar, tiramos fotos do que você fez a ela e temos testemunhas
(mentira). Ficará bem complicado para uma promotora ter seu nome
envolvido em brigas em banheiros, principalmente no evento mais
importante dos magistrados! – falo com raiva. – Você se tornou uma
promotora, isso não a torna melhor que ninguém, nem imune a
nada! Seu teto agora é de vidro, minha cara Priscila, ande na linha
também, caso contrário também posso foder com sua vida!
A Jack puxa meu braço, meu coração está disparado, e respiro
insanamente.
Eu sei que arrumei uma inimiga perigosa, mas não tenho medo,
não sou um advogado qualquer, e sem falsa modéstia, hoje sou um
dos melhores do país.
– Vamos, Rui! – A Jack diz, e desperto do meu ataque de
nervos.
Olho ao redor, todos os olhares estão sobre nós, fizemos uma
puta baixaria, justamente no All Seasons, o melhor e mais silencioso
restaurante da cidade.
Caralho, desde que conheci a Jack minha vida deu uma boa
animada, andava meio sem graça, agora virou notícia de revista de
fofoca.
– Isso, vamos. – Sorrio para ela, pego em sua mão e saio
rapidamente do restaurante.
Alcançamos a rua, o manobrista entrega o carro, entro e olho
para a Jack.
– Estou morrendo de fome, de você e de comida! – Dou risada, e
ela também. – Vamos num lugar que possamos fazer as duas
coisas.
Ela apenas balança a cabeça, parece meio assustada comigo.
Capítulo 59
JACKELINE BARTOLLI
ORui estaciona seu carro em um motel, daqueles grandes,
luxuosos e imponentes.
Ele está sério, tenso, e parece preocupado.
Nem tudo saiu como ele esperava, acho que é isso, mas não foi
só o fato dele perder sua parceria com o tal do juiz, acho que tem a
ver com a história da Priscila se tornar promotora.
Ela é uma vadia, mas uma vadia bem inteligente, não é qualquer
um que se torna promotor.
Mas, também, não estou nem aí para ela, quero que ela se dane.
Penso com prazer no banho de vinho tinto que dei nela, e, sem
querer, em seu pai.
Sorrio sozinha.
Ela ficou toda lambuzada, e ainda teve o tabefe que dei em seu
lindo rosto, senti os ossos da sua face contra minha mão, coloquei
tanta força no tapa que minha mão ficou ardendo e melecada de
vinho.
Oh, que prazer que senti, queria ter batido mais, mas tudo bem,
acho que está de bom tamanho.
– Vamos, Jack! – O Rui sai do carro.
O acompanho em direção às escadas do lugar e entramos num
quarto luxuoso, rodeado por uma linda cama, muitos espelhos, uma
hidromassagem imensa, um lugar para jantar, uma pista de dança, e
uma piscina.
Caraca, nunca estive em um motel tão legal! – Penso.
– Lindo esse quarto! – digo admirada, andando pelo lugar, e
então vejo o Rui se jogar na cama.
Ele não está legal!
Me aproximo dele, ele está de olhos fechados, então me sento
ao seu lado, acaricio seus cabelos e me inclino sobre ele.
– Você está bem? – pergunto.
Ele abre seus lindos olhos, lindos e enigmáticos, me encara por
alguns segundos, silencioso, apenas me olha, e então ensaia um
sorriso.
– Estou bem, Jack! – Ele acaricia minhas costas.
– Quer conversar comigo, desabafar, me contar o que está te
incomodando? – Continuo o olhando fixamente, e acariciando seus
cabelos.
– Não tem nada me incomodando, só fiquei um pouco nervoso
com o jantar, com aqueles dois, é só isso. – Ele me puxa para mais
perto. – Vim até aqui para esquecer aquele encontro enfadonho, e
não para falar sobre ele.
Ele coloca meus cabelos atrás da minha orelha, e me puxa para
um beijo, calmo, profundo e delicioso.
Voltamos a nos olhar, ele continua estranho, então começo a
depositar beijos pelo seu rosto, pescoço, orelha.
– Quer que eu relaxe você, Rui? – falo em seu ouvido, ao
mesmo tempo, começo a desabotoar sua calça. – Tenho um método
infalível para relaxar, é uma receita de família. – Brinco.
Ele sorri.
– Quero conhecer esse método, Jackeline – ele diz irônico.
Olho para ele, o beijo novamente e enfio minha mão dentro de
sua boxer, ele geme alto.
– Ohhh... – Ele dá risada. – Vamos com calma, my lady!!!
Seguro seu membro entre minhas mãos, apertando o volume
generoso, duro e ereto.
– Se há algo que nasci desprovida, é de calma, my lord!!! –
Brinco com ele.
Então, desço rapidamente sua calça, tiro seus sapatos, meias, e
volto a me posicionar em cima dele, apenas de vestido.
Começo a desabotoar sua camisa, depositando beijos pelo seu
peito.
– Relaxa, Rui! – falo e o beijo novamente, contínuo o sentindo
tenso. – O que você quer que eu faça em você? – falo enquanto vou
descendo beijos pelo seu tórax, sua barriga.
– Está bom assim. Pode continuar, Jack! – ele diz de olhos
fechados.
Abocanho seu membro e o chupo com vontade.
– Oh, Jack! – Ele puxa meus cabelos. – Tira seu vestido, quero
você nua, adoro te ver nua, esse seu corpo me deixa louco! – ele diz
apressado, me ajudando a tirar o vestido.
Tiro o vestido e volto a acariciá-lo, mas ele senta e me puxa para
junto dele.
– Quero foder você, minha delícia! – Rapidamente ele me
posiciona sobre ele, e me preenche com seu membro. – Isso, Jack...
– ele diz de olhos fechados. – Vai, minha gostosa, se mexe nele.
Me mexo sensualmente sobre ele, em movimentos de sobe e
desce, me inclino sobre seu peito, nos beijamos, ele muda nossa
posição, agora estou de bruços, ele por cima, adoro essa posição!
Ele se mexe deliciosamente dentro de mim, apesar de o sentir
tenso, ele não está bruto, ou selvagem, ele está intenso, seus
movimentos são fortes, assim como seus beijos em meus ombros,
suas mordidas, tudo me excita, me deixa insana de desejo.
– Ahhh, Ruiii! – falo ofegante. – Isso, continua, ohhh, não para...
ahhh, uhhh! – E gozo, e ele segura minhas mãos, e me fode forte,
mais uma vez, e de novo...
– Ahhh! – Grito, seus movimentos são profundos e intensos.
E ele continua, mais forte, mais intenso.
– Ruiii!!! – Grito de novo, parece que ele vai me quebrar ao meio,
e quando acho que não vou aguentar, ele para e geme alto.
– Ohhh, Jackeline!!! – Sua voz grossa e poderosa reverbera pelo
quarto. – Caralho!!! – Ele se mexe mais uma vez... – Hummm... –
Mais uma vez e ele desaba sobre mim.
Eu sei que toda a força física foi dele, mas estou esgotada,
exausta.
Desta vez, ele acabou comigo.
– Oh, Rui, me desculpe, mas você está muito pesado – falo
sufocada pelo seu peso, adoro tê-lo sobre mim, mas não dá.
Ele se deita ao meu lado, fecha os olhos e respira pesadamente.
Deito ao seu lado, beijo seu rosto diversas vezes, e falo:
– Te adoro, Rui!
Ele me abraça junto a seu corpo, e ficamos em silêncio.
Ok, ele não vai dizer que me adora.
Me levanto, ele abre os olhos e me olha confuso.
– Preciso ir ao banheiro! – Sigo para o banheiro, abro a ducha e
deixo a água cair sobre meu corpo.
– Está tudo bem, Jack? – Ouço sua voz, então abro os olhos.
– Tudo bem – respondo automaticamente.
– Você parece estranha, eu fiz alguma coisa que você não
gostou? – Ele entra no box.
– Não, é que você nunca diz o que sente por mim, é estranho
isso...
Ele me interrompe.
– Eu sempre falo, claro que falo! – ele diz indignado, como se
fizesse declarações de amor de um em um minuto.
– Você só fala “eu também!” – Olho para ele, ele me olha e
ficamos em um silêncio incomodo.
– Jack, eu gosto de você, não preciso ficar te dizendo isso a todo
o momento – ele diz irritado.
– É que é bom ouvir algo além de “eu também!” – O encaro
novamente.
– Não estou bem hoje para falar sobre isso, me desculpe! – Ele
termina de se ensaboar, sai do box e me deixa sozinha.
Olho para ele incrédula.
Fecho os olhos e tento pensar com clareza.
– Hoje não é um bom dia para cobrar isso dele. – Penso. –
Talvez outro dia, ele não está legal hoje, Jackeline, deixe de ser
imatura.
Ok, bufo com raiva, mas consciente, não vou mais falar sobre
isso!
Termino o banho, seco meus cabelos, sigo para o quarto, pego
minha bolsa e termino de me arrumar.
Me embrulho em um roupão fofinho e macio, e o encontro
deitado na cama, encostado a algumas almofadas, e zapeando os
canais.
Deito ao seu lado, o abraço apertado e beijo seu rosto.
– Está tudo bem, Rui, não vamos brigar.
Ele me olha de lado, me beija suavemente e passa seus braços
pelo meu corpo, me aninhando junto a ele.
– Preciso comer, Jack! Vamos pedir alguma coisa?
– Claro, escolhe alguma coisa para você, eu provei do meu
prato, estava delicioso.
– Ok, deixa eu pedir. – Ele segue até o telefone, e volta para
mim.
– Quero aproveitar o que tem neste quarto, que tal irmos até a
piscina? – falo para animá-lo.
– Ok. – Ele se levanta, tiro meu roupão e o sigo até a piscina.
– Nossa, que água mais quentinha – falo me agarrando ao seu
pescoço.
– Quer namorar aqui? – ele diz manhoso.
– Como você adivinhou? – respondo apaixonada, e entregue.
Então, ele começa com seus beijos, suas carícias, e quando me
dou conta, estamos transando dentro da piscina do motel, e, por
sorte, não sujamos a água.
Ficamos abraçados, apenas sentindo a respiração um do outro,
e então a campainha toca.
– Seu jantar chegou! – Olho para ele.
– Vamos lá!
****

Ficamos num silêncio agradável enquanto ele janta, vez ou outra


ele coloca um pedaço de alguma coisa em minha boca, eu apenas
bebo o vinho que ele pediu.
– O que você achou do banho de vinho que dei na Priscila? –
falo com deboche.
– Perfeito, melhor que isso, só virando a garrafa inteira na
cabeça dela. – Ele dá risada, parece ter adorado o que fiz. – O tapa
também foi legal, senti em mim, você colocou bastante força, deve
ter doído.
Dou uma risada divertida.
– Adorei ter batido nela! – Bato palmas feito uma louca, e ele
balança a cabeça, parece não acreditar na minha alegria.
Ele volta a comer, e eu beberico seu vinho.
– Rui, por que ela estava te provocando com a história do tal de
Fernandez?
Ele para de comer, me olha seriamente, e então desvia seus
olhos de mim.
– Nada, Jack, é que esse cara é um desafeto que tenho, já
estivemos frente a frente no tribunal, ele não gosta de mim, e eu
dele.
– Você ficou tão nervoso com ela, achei que havia algo a mais. –
Olho para ele, e ele me olha, então desvia seus olhos de mim,
parece incomodado com esse assunto.
– Não, não há nada demais, apenas ela me irritou com seu jeito,
com suas provocações.
Dou de ombros.
– Entendi! – Disfarço, não vou insistir, mas acho que há mais do
que simplesmente provocações.
Espero ele terminar de comer, ele se estica na cadeira e me olha
sensualmente.
– O que faremos agora? – ele diz.
Sorrio do seu jeito.
– Não sei! – O olho de lado. – Alguma sugestão? – Faço charme.
Ele se levanta, pega em minha mão e me puxa para a pista de
dança.
– Vamos dançar? – falo rindo ao me ver no centro da pista, ele
liga as luzes piscantes, e coloca uma música lenta.
– Isso, my lady! Como você adivinhou? – ele diz brincando, abre
o laço do meu roupão e me deixa nua na pista de dança.
– Vamos dançar sem nenhuma roupa? Talvez eu pudesse ficar
com o roupão! – Olho para o roupão no chão.
– Nua, Jackeline! Se fosse possível queria vê-la o tempo todo
nua, minha deusa. – Ele tira a toalha que está em sua cintura, e
mostra toda a sua virilidade.
Que homem mais lindo, senhor!
– Então, tá! – A música começa a tocar, ele me abraça pela
cintura, eu o abraço pelo pescoço, e ficamos nos olhando, e
dançando.
Sorrio da situação, é difícil resistir a ele vestida, nua então, é
quase impossível.
– O que foi? – ele diz com um sorriso de canto de boca. – Não
gostou de dançar assim?
Dou risada.
– Gostei, mas é que tem um negócio duro na minha barriga.
Ele olha para seu pau.
– Não consigo controlar esse cara, ele é meio compulsivo – ele
diz debochado.
– Sério?! Nunca percebi isso! – Brinco.
Voltamos a ficar em silêncio, ele me aperta mais ao seu corpo,
sinto sua respiração em minha orelha, e então sua voz baixa, rouca
e sedutora.
– Eu te adoro, Jack!
Sinto um gelado no peito, uma coisa boa, eu queria que ele
dissesse isso todos os dias, desse jeito, ou olhando em meus olhos.
Tudo bem, eu preferia um “eu te amo”, mas vou me contentar
com um “eu te adoro”, acho que evoluímos muito desde que nos
conhecemos.
Me afasto um pouco de seu peito, o olho emocionada e sorrio.
– Satisfeita agora?
– Sim, muito! – respondo.
Ele se inclina sobre mim, envolve meus lábios com os seus e me
beija, de um jeito diferente, intenso, apaixonado, cheio de
sentimentos.
E assim, mais uma vez esquecemos nossas diferenças, os seus
problemas, os meus problemas, e nos encontramos e nos perdemos
um no corpo do outro, numa sintonia, e numa harmonia que nunca
senti com ninguém.
Se não é amor o que sentimos um pelo outro, deve ser algo
muito próximo, é bom demais estar com ele, sentir que sou sua, e
que pelo menos por enquanto, ele é meu!
****

Semanas depois.
Entro no consultório da médica especialista em endometriose.
Nos cumprimentamos rapidamente, ela é bastante objetiva, um
tanto quanto seca, mas parece competente.
Falo rapidamente do meu histórico, ela olha todos os exames
que fiz no hospital e então, finalmente fala, e agradeço, já estava
ficando agoniada, essa mulher parece uma múmia.
– Então, Jackeline, não tenho dúvidas sobre seu diagnóstico,
mas pedirei um exame de vídeolaparoscopia para analisarmos
melhor o seu útero, ovários, enfim, é assim que procedo
normalmente. Pela imagem dos exames seus ovários não parecem
muito comprometidos, mas é importante checarmos isso com
cuidado.
– Doutora Mariana, quero muito ser mãe, você acha que será
possível? – falo com cuidado, tenho medo da resposta, mas não
posso evitar esse momento.
– Não sei, Jackeline, isso dependerá do quanto a doença
comprometeu seus ovários! – Respiro fundo. – A endometriose pode
comprometer seriamente os óvulos, os tornando enfraquecidos,
difíceis de serem fecundados. Mas, ainda assim, uma fertilização in
vitro pode ser a solução, seu útero está ok, você pode manter uma
gestação, enfim. Tudo dependerá do que vermos neste exame.
– Certo! – A olho entristecida. – Podemos marcar para logo, não
aguento mais a agonia de esperar para saber se poderei ser mãe ou
não!
Ela dá um sorriso insosso.
– Você é casada? – Ela olha discretamente para minha mãe
esquerda.
– Não! – Me sinto constrangida.
Ela levanta levemente suas sobrancelhas, talvez pensando
porque estou com tanta pressa se nem casada sou!
– Oh, claro, preciso examiná-la, deite-se na maca.
Sigo para um biombo, tiro minha roupa e me deito na maca.
Ela faz o exame de toque, e então fala:
– Sinto seus ovários um pouco endurecidos, possivelmente são
cistos que se formaram em função da doença.
– Mais uma notícia ruim, não é mesmo? – Seguro as lágrimas.
Ela não diz nada, o que me parece um sim, mas uma notícia
ruim.
– Você pretende tentar engravidar de imediato, ou somente para
o futuro? – ela diz cuidadosa.
– Não tenho um macho interessado em me engravidar, então
será para o futuro.
Pela primeira vez, vejo seus dentes, ela sorri, pelo visto gosta de
uma piadinha sarcástica.
– Bom, então vamos seguir com os exames e cuidar de você.
Pode se levantar. Não vejo necessidade de uma cirurgia para
retirada dos excessos, mas precisarei vê-la a cada seis meses, não
vamos descuidar, se você ainda quer ser mãe, e espero
sinceramente que o seja, não podemos deixar a doença avançar em
seu útero.
Sorrio, no final das contas, ela parece ter coração.
– Doutora, só mais uma dúvida. – Ela me olha interessada. –
Esse procedimento in vitro é eficaz, e... eu nunca conseguirei
engravidar da forma convencional?
– Jackeline, cada caso é um caso, existem mulheres que
precisam fazer a inseminação várias vezes, porque muitas vezes o
óvulo não vinga quando é colocado no útero. Quanto à outra
pergunta, as chances são muito pequenas, porque suas trompas
estão comprometidas, o que impede o espermatozoide conseguir
fecundar o óvulo. Será muito difícil, quase impossível, mas...
– Oh, que merda! – Fecho os olhos e respiro. – Qual o custo
desse procedimento, quero dizer da fertilização in vitro?
– Uns dez mil reais por procedimento...
Arregalo meus olhos.
– Oh!!! – falo admirada. – E normalmente quantos procedimentos
são necessários?
– Depende, existem mulheres que fazem até dez inseminações,
ou mais. Mas, também, já vi casos em que apenas três foram
suficientes, enfim, cada caso é um caso.
No mínimo preciso ter trinta mil reais, o que não é pouco.
– Ok! – respondo desanimada.
Enquanto ela faz as prescrições médicas, penso no que ela
disse.
Se houvesse a chance de engravidar pelo método natural, eu
teria coragem de enganar o Rui e engravidar dele, e sumiria, já que
ele não quer ser pai.
Mas, pela primeira vez na minha vida, não preciso me preocupar
com camisinhas e pílulas, porque não irei engravidar.
E penso no custo dessa merda de fertilização in vitro, uma
pequena fortuna, não é qualquer casal que pode fazer isso, as
chances de eu me tornar mãe estão cada vez mais difíceis.
Merda de vida!
****
Chego ao escritório do Rui desanimada.
Tudo bem, vamos ver o que ela verá no próximo exame, talvez
eu não possa ter filhos e pronto, então arrumarei um gato para criar,
já tenho o Bóris que é meu filho adotivo, posso pegar também um
hamster.
Deixo minha bolsa sobre a mesa, bato de leve na porta do Rui e
entro.
Ele tira seus óculos e sorri.
– Oi, Jack, pensei que você iria me abandonar hoje! – ele diz
bem-humorado.
Sigo até ele.
– Senta aqui! – Ele me puxa para o seu colo. – E então, como foi
a consulta? – ele diz carinhoso.
Deito minha cabeça em seu ombro, estou tão desanimada.
– Nada de diferente, vou fazer mais um exame, é invasivo,
precisarei ficar um dia inteiro no hospital. – Ele beija minha cabeça.
– Não fica desanimada, Jack! – Ele puxa meu rosto para olhá-lo.
– Está tudo bem, ou teve alguma coisa nova que a médica disse?
Não esconda nada de mim, eu quero saber tudo!
Ele me encara curioso, mas nem somos um casal querendo
engravidar, por que tenho que ficar dando detalhes?
– Não, ela não disse nada que o outro médico já não tivesse dito.
– Me levanto do seu colo. – Não é nada, Rui, só fico desanimada
com esse problema, com as consequências dele, enfim, coisas
minhas.
– Entendo. – Ele se levanta, vem até mim, segura meu rosto
entre suas mãos e me olha. – Vamos almoçar em minha casa hoje,
tem uma coisa que quero te dar. – Ele sorri, e acabo sorrindo junto.
– O que é? – digo curiosa, no final, sou como todas as mulheres,
não me aguento de curiosidade.
– Surpresa! – Ele me beija demoradamente, e sinto uma coisa
boa, preciso tanto dele do meu lado, ele é uma pessoa tão forte, me
sinto tão bem quando estou com ele.
Então, o abraço forte, retribuo seu beijo, e tento esquecer essa
história de ser mãe, isso anda mexendo com minha sanidade,
preciso esquecer um pouco isso.
Afastamos nossos lábios, mas volto a abraçá-lo forte,
intensamente, e ele faz o mesmo.
– Quer conversar, Jack? – ele diz no meu ouvido.
Eu queria falar para ele todos os meus medos, mas será
estranho, e parecerá que estou de algum modo o forçando a me
assumir, querer ter um filho comigo.
– Não, só quero carinho – falo abraçada a ele.
Respiro fundo, espanto minhas angústias e me afasto dele.
– Estou melhor, estava precisando de um abraço, e um beijo, é
só isso. – Sigo para a porta, e ele fica parado no meio de sua sala. –
Vou trabalhar, chefe, vá trabalhar também. – Aceno para ele e fecho
a porta.
****

Seguimos para o seu apartamento num clima romântico,


andamos muito românticos um com o outro.
Na verdade, à medida que o tempo passa, nosso namoro está
cada vez melhor, e, às vezes, esqueço que o Rui era aquele cara
cafajeste que conheci há poucos meses atrás.
Ele leva minha mão até seus lábios, e a beija longamente.
– Você está melhor agora? Você chegou um pouco abatida da
consulta, tem certeza que não houve nada demais lá? – Ele me olha
intensamente.
– Rui, as chances de algum dia eu ser mãe são pequenas, e isso
mexe muito comigo! – Meus olhos enchem de lágrimas. – Mas esse
é um problema meu, então, não quero falar sobre isso.
Disfarço, olho para o vidro do passageiro.
– Tudo que diz respeito a você me interessa, Jack! – Ele puxa
meu queixo para eu olhá-lo. – Sou seu amigo, converse comigo.
– Não tenho muito o que conversar sobre isso, e estou cheia
desse assunto – falo irritada.
– Oh, que mudança de humor! – Ele me olha enfezado.
– Me deixa, Rui, por favor! – falo estressada.
– Ok! – Ele tira sua mão de mim e ficamos em silêncio.
Logo ele entra em seu prédio e estaciona em um lugar diferente.
– Por que paramos aqui? – pergunto curiosa.
– Eles estão fazendo manutenção na iluminação, não posso usar
minha vaga. – Ele me olha, dá um sorriso contido e sai do carro.
Saio do carro e sigo até ele, que segura minha mão e me olha.
– Quer ver sua surpresa agora ou depois? – Ele sorri.
O olho confusa e sorrio.
– Agora – falo rapidamente, então ao invés de ir para o elevador
ele segue adiante.
– Para onde estamos indo? – pergunto confusa.
Mas antes que ele responda, chegamos a sua vaga, e diferente
do que ele disse, não há nenhuma manutenção no local, vejo
apenas um carro preto estacionado em sua vaga.
Olho para ele confusa.
– Essa é a sua surpresa! É seu, Jack! – ele diz com um sorriso
lindo, parece meio tímido.
Olho para o carro, estou meio abobada, não acredito nisso. Ele
me deu um carro de presente?
– Rui, não entendi! – falo entorpecida, surpresa, tudo junto.
Ele segue até o pneu do carro, pega algo e volta até a mim.
– Quer que eu desenhe, Jack? – Ele entrega uma chave para
mim e sorri.
Sinto uma emoção no meu peito, uma taquicardia, eu não
acredito que ele fez isso, ele não deveria ter feito isso.
– Rui, eu não posso aceitar – gaguejo, meus olhos enchem de
lágrimas. – Eu não mereço, é um presente muito caro, e...
– Mas eu já comprei! Se você não aceitar, eu vou ficar muito
chateado. – Olho para ele com meu rosto encharcado de lágrimas,
volto a olhar petrificada para o carro, é lindo demais, um sonho.
E então, já que não posso dizer não, explodo de felicidade,
agarro seu pescoço, e começo a beijá-lo feito um louca, em todos as
partes de seu rosto.
– Obrigada, Rui! – falo e o beijo simultaneamente, e ele ri,
parece adorar meu rompante de loucura, e de felicidade. – Oh, Rui,
porque você fez isso? É loucura. – Seguro seu rosto entre minhas
mãos, cheio de marcas de batom para todos os lados. – Obrigado,
Rui, eu amo você! – Oh, não era para falar essas palavrinhas, mas
elas explodiram no meu peito.
Agarro novamente seu pescoço, e mergulho meus lábios nos
seus, com tanta fome, e com tanta vontade que esqueço onde
estamos. – Quero fazer amor com você, dentro do carro! – Ele se
afasta de mim e me olha surpreso.
– Aqui, na garagem?– Ele me olha perplexo.
– É... – Pego a chave. – Como abre ele? – falo atrapalhada.
O Rui aperta um botão, uma luz vermelha acende.
– Vamos, Rui, me fode no meu carro novo! – falo ensandecida,
excitada, e louca por ele.
Ele me olha de lado e sorri daquele jeito que adoro vê-lo, bem
safado.
– Você quem manda, patroa! – ele diz irônico, abre a porta e
entra. – Vem, Jack, será meio desconfortável, mas a gente dá um
jeito!
Oh, mas minha libido está na lua, nada será mais prazeroso do
que transar com o homem dos meus sonhos, no carro dos meus
sonhos.
Entro do lado do passageiro e sinto aquele cheiro característico
de carro novo, e sorrio.
– Ele é lindo, e cheiroso, e é meu! – Pulo no pescoço do Rui de
novo, e em seu colo, e começamos a nos beijar feito dois loucos.
Ele abre minha camisa, tira meus seios para fora e os engole, e
parece que isso nunca foi tão prazeroso, estou louca de tesão.
Então, começo a desabotoar sua calça, o zíper...
– Rui, tira logo isso – falo desesperada. – Eu quero que você me
foda, Rui. – Seguro seus cabelos, os puxos, e mergulho novamente
meus lábios nos seus, e o beijo desesperada, excitada, louca por
ele.
Em um movimento rápido ele desce sua roupa.
– Pronto, Jack! Sou todo seu, minha taradinha! – ele diz com um
sorriso safado no rosto.
Minha saia já está na minha cintura, então apenas afasto minha
calcinha e subo em sua ereção.
Fecho os olhos e sinto um prazer alucinante.
– Oh, Rui, seu pau é o mais delicioso do mundo – falo louca de
tesão.
Ele dá uma risada.
– E a sua buceta a mais gostosa que já provei – ele diz rouco e
sensual.
Suas mãos se espalmam em meu bumbum, e o apertam, e
começamos com os movimentos, e com os beijos, e finalmente
nossos gemidos, a loucura do clímax e finalmente o silêncio, apenas
nossas respirações são ouvidas.
– Eu sei que todas as nossas transas são incríveis, Rui, mas
essa parece que foi mais – sussurro em seu colo, de olhos
fechados, apenas sentindo meu coração batendo desenfreado.
– Também achei! – Ele sorri. – Talvez, porque nunca fizemos
sexo em um carro, então teve um gostinho diferente – ele diz meio
ofegante. – Está calor aqui dentro, né?
Olho para ele, seu rosto molhado de suor, e aí percebo que as
gotas de suor escorrem pelo meu pescoço, costas...
– Um calor dos infernos! – Dou risada. – Obrigada, Rui, não sei
como te agradecer, é um presente maravilhoso, muito caro, muito
valioso.
Ele me olha sério, profundamente.
– Não precisa agradecer, minha deusa. Você merece cada mimo
que eu fizer a você! – O olho hipnotiza. – Você é a mulher mais
incrível que já conheci.
Fico emocionada novamente, e começo a chorar, ele me abraça
forte.
Tento me controlar, enxugo as lágrimas do meu rosto e sorrio.
– Obrigada! – O olho sorrindo. – Adorei, é lindo!
Ele sorri.
– Pronto, era só isso que eu precisava saber – ele diz.
O abraço novamente, e sinto como se o carro estivesse pegando
fogo.
– Vamos sair daqui, estou morrendo de calor. – Dou risada.
– Oh, pensei que você iria querer dar uma segunda, e eu
precisaria dizer que não dá, Jack, preciso tomar um banho, estou
com minhas costas molhadas de suor.
Dou risada de novo, estou muito feliz.
Encho novamente seu rosto de beijos.
– Tudo bem, vou te deixar em paz, mas só por alguns minutos. –
Saio do seu colo. – Passaremos nosso horário do almoço
transando, Doutor Rui Figueiredo.
Ele dá uma gargalhada e sai do carro.
Capítulo 60
RUI FIGUEIREDO
Desde meu encontro com a Priscila e seu pai, naquele jantar
desastroso, não consigo mais dormir em paz.
Algo em meu íntimo, um sexto sentido, não sei, mas algo me diz
que terei problemas com a Priscila, só não sei quando.
Eu preciso me abrir com alguém sobre isso, mas não pode ser
com a Jack.
Tenho sido sincero e honesto com a Jack desde que assumimos
nosso relacionamento, mas não tenho coragem de contar a ela
sobre meu passado.
Me sinto envergonhado, gostaria de esquecer essas coisas que
fiz, para sempre, mas não consigo, e a prova disso está nos
arquivos da promotoria, onde agora tenho uma inimiga de peso.
Pego meu celular e ligo para o meu pai, estou precisando falar
com ele.
A ligação completa.
– Rui! Como vai, filho? – ele diz animado como sempre.
– Bem, pai. E o senhor? – respondo.
– Tudo certo, analisando um processo complicado. – Ele sempre
está enrolado, o que me leva a pensar que meu pai nunca irá se
aposentar. – Mas, então, o que houve, você me parece
preocupado?
Meu pai me conhece muito bem, é impossível esconder algo
dele.
– Pai, a Priscila está agora na promotoria de São Paulo.
– Oh, que surpresa, não sabia que ela estava se preparando
para isso.
– É, ela sempre quis isso e agora conseguiu! – falo irônico. –
Lembra-se do promotor Fernandez? Ela irá trabalhar com ele!
– Oh, como se esquecer daquele pé no saco... –
Ele bufa irritado. – Mas, Rui, seja direto, o que está te preocupando?
Já se passaram muitos anos, seu processo foi arquivado e você
absolvido.
– Estive em um jantar com o Albuquerque e sua filha, talvez a
Priscila ainda achasse que havia chances de retomarmos nosso
relacionamento, mas o fato de eu ter levado a Jackeline comigo
acabou destruindo qualquer possibilidade de voltarmos.
– Você gosta dessa moça, Rui? Essa tal Jackeline?
Me sinto constrangido de falar sobre sentimentos com meu pai,
mas não posso esconder da minha família o que está havendo entre
mim e a Jack.
Estou apaixonado por ela, estamos juntos, e cada dia que passa
estamos mais envolvidos.
Acho que está na hora da minha família aceitá-la!
– Sim, gosto, e gostaria que vocês a conhecessem melhor. Ela é
muito especial para mim.
– Claro, a traga novamente para passear em nossa cidade, mas
peça para ela colocar roupas mais comportadas. – Ele dá uma
gargalhada, e não consigo deixar de rir com ele. – Ela assustou um
pouco sua mãe, você conhece a Dona Raquel, ela é muito
tradicional, acabou tendo uma falsa impressão da moça.
Reviro meus olhos.
– A Jackeline não é uma mulher qualquer, pai. Ela só estava
vestida daquele jeito para me agradar – falo me sentindo culpado.
– Tudo bem, Rui. Sou homem, percebi que vocês estavam em
momentos de intimidade, o problema é sua mãe, mas não se
preocupe com isso! – Ele fica quieto por alguns segundos. – Será
que agora terei chances de ser avô por parte do meu filho
primogênito?
Penso um pouco...
– Não sei, pai! – respondo pensativo, estou apaixonado pela
Jack, mas isso não quer dizer que queira me casar com ela, ter
filhos, essa é outra história.
Ainda é muito cedo para pensar nisso, faz poucos meses que
estamos juntos.
Fico em silêncio, mas meu pai retoma o assunto.
– Bem, vamos voltar ao que estávamos falando. Qual sua
preocupação com relação à Priscila?
Respiro e inspiro pesadamente.
– Ela está magoada por tudo o que aconteceu, e aproveitou a
ocasião em que estávamos todos reunidos para sugerir que o
promotor Fernandez tem a intenção de retomar antigos casos. A
verdade, pai, é que ela quer se vingar de mim, porque mulher
rejeitada é pior que ex-mulher – bufo exausto. – Estou preocupado,
se esse assunto cair em mãos erradas, ou vazar, minha reputação
de advogado honesto e respeitado irá por água abaixo, estarei
arruinado.
– Não acredito nisso, Rui. O caso está arquivado há anos, você
foi absolvido pelo Albuquerque!
– Sei lá, pai, o senhor pagou pela minha absolvição, e o tal do
Fernandez nunca engoliu isso, pode ser que agora ele ache um jeito
de desenterrar essa merda. – Me levanto e ando em círculos pela
minha sala.
– Tudo bem, Rui, fique calmo. Vou pensar num jeito de
descobrirmos se há algum movimento na promotoria para rever o
seu caso.
– Certo, mas tome cuidado com quem o Senhor fala, o
Albuquerque tem seus contatos.
– Fique tranquilo, eu também tenho minhas fontes. – Ele sorri.
– Obrigado, pai, e não fale nada sobre isso com minha mãe! Ela
pode querer falar sobre o assunto com a mãe da Priscila e aí
a merda está feita.
– Claro, não falarei nada. Cuide-se, filho, e traga novamente
essa moça aqui, quero conhecê-la melhor.
Sorrio.
– Sim, farei isso. Um abraço.
Desligo.
Me jogo em um sofá confortável de minha sala e tento me
acalmar.
Em nada adiantará ficar nervoso.
Talvez a Priscila só quisesse mesmo é infernizar minha vida.
Ok, preciso da minha deusa para me acalmar, e então faço a
coisa que ela mais odeia no mundo, berro bem alto seu nome e dou
risada de mim mesmo.
– Jack!!!
A porta abre num solavanco e minha oncinha preferida aparece
com sua cara assustada.
– Quem morreu? – ela diz brava. – Você precisa de um
megafone? Eu posso providenciar para você, Rui – Ela fecha a
porta.
Sorrio para ela.
– Estou precisando de uma massagem, Jack! Faz isso para o
seu chefinho querido? Pode tirar a roupa e ficar à vontade! –
Começo a abrir os botões da minha camisa.
– Não, Rui, eu tenho um mundo de coisas para fazer – ela diz
apavorada, me fazendo rir do seu desespero.
– Relaxa, Jack, acho que você está tensa. – Caminho até ela,
jogo minha camisa na cadeira.
– Não, Rui! – ela diz rindo. – Nem mais um passo! Eu preciso
trabalhar, Rui, me deixa em paz! – Agarro sua cintura.
– Agora não, Jack! Agora é hora de namorarmos um pouco. –
Começo a depositar beijos em seu pescoço. – Vamos foder bem
gostoso, Jack. – Abro o zíper de sua saia e tranco a porta.
– Rui você está muito mal-acostumado! – Ela reclama, mas já
está de olhos fechados, completamente entregue. – Oh, meu Deus,
eu tenho tantas coisas para fazer, e ao invés disso estou trancada
com meu chefe safado.
Dou risada.
– Você não vive mais sem o seu chefe safado! – Apalpo seus
seios deliciosos. – Não quero mais você vestida com essa blusa, se
vestir, não tira o blazer – falo faminto e ciumento. – Esses seios são
só meus, não quero ninguém olhando para eles. – Abocanho seus
mamilos rosados.
– Ahhh... – ela geme. – Mas foi você que me deu essa blusinha!
– ela sussurra.
– Mas só pode usar ela para mim. – Volto a sugar seus mamilos.
– Oh, Rui! – ela geme. – Depois fazemos isso, estou cheia...
A interrompo.
– A gente faz rapidinho, Jack! Preciso relaxar, minha deusa,
estou tenso pra caralho! – A coloco sobre a mesa de reuniões,
abaixo minha calça, afasto sua calcinha e a penetro deliciosamente.
– Tá gostoso, minha delícia? – Me movimento vagarosamente
dentro dela.
– Sim! – ela diz em um gemido. – Hummm, que delícia, me beija!
– Ela abre levemente sua boca vermelha, me enchendo de tesão.
Fodo forte sua buceta.
– Você gosta assim, Jack?
Ela geme alto.
– Gosto, Rui! Ahhh, continua...
– Assim? – Faço com força, do jeito que ela gosta.
– Isso... – Mais um gemido de prazer. – Não para, eu vou gozar!
– ela diz com os olhos fechados.
Invado sua boca com a minha, e fodo com força, segurando suas
coxas, e pressionando seu corpo contra o meu.
E então explodo de prazer, em ondas alucinantes, parece que
não vou parar nunca de gozar, mas por fim, a exaustão do sexo me
atinge, e finalmente paro.
Fui até outra galáxia, sexo com a Jackeline é sempre incrível.
– Que delícia, Rui! – Ela relaxa sua cabeça em meu ombro.
Abro meus olhos e encontro os dela, brilhantes e vivos.
– Valeu a pena perder uns minutos comigo? – Faço charme.
– Sempre vale a pena! – Ela me encara. – Te amo, Rui! – Seus
olhos ficam ansiosos.
Essa é a segunda vez que ela diz que me ama, e isso é bom
demais.
– Eu também, Jack! – Volto a beijá-la, ainda não estou preparado
para falar essas palavras, elas têm um significado muito forte para
mim, só quero falá-las de verdade quando tiver certeza absoluta que
é isso que sinto.
Sou complicado no amor, tenho medo de me entregar, ela
precisará ter calma comigo.
Separamos nossos lábios, ela segue para o banheiro para se
arrumar, ajeito minha camisa, e logo ela volta.
– Sua mãe gostou do carro? – pergunto curioso.
Ela sorri.
– Claro, ela não é boba nem nada! Levei as três para darem uma
volta comigo, as levei para tomar um sorvetinho! – Ela dá uma
risada. – Foi cômico, Rui.
– Que bom, mas hoje você fica comigo, um dia sim e outro não,
para ninguém ficar com ciúmes! – A abraço novamente, a Jack me
passa uma energia boa, ela tira meu estresse, meu mau humor.
Está certo que de vez em quando ela me estressa e me deixa de
mau humor, mas uma coisa tem compensado a outra.
– Então agora me deixa ir, grudentinho. Tenho que trabalhar, Rui.
– Ela choraminga. – Já estou com os dois candidatos que quero te
mostrar. – Ela faz uma careta.
Afasto-me dela e sigo para minha mesa.
– Quer adiantar alguma coisa? – Me sento, coloco meus óculos
e volto para meus processos.
– Você está com um tempinho?
– Para você, sempre. – Relaxo em minha cadeira.
– Vou buscar os currículos, já volto! – Ela sai e volta apressada,
a Jack é uma excelente profissional.
Eu nunca imaginaria que ela se sairia tão bem como minha
assistente, eu só queria conquistá-la, e olha só no que deu.
Ela se senta a minha frente, e me entrega os currículos.
– Rui, talvez eu não seja a pessoa mais qualificada para
escolher a pessoa que ficará na recepção do seu escritório, eu fiquei
com ciúmes de você, por isso armei aquela confusão toda. – Sorrio
de sua confissão. – Não quero mais ver loiras circulando por aqui,
sou possessiva, é isso.
Volto a relaxar em minha cadeira e a olho sorrindo.
Oh, mulherzinha difícil! – Penso.
– Então, o que você quer dizer com esse discurso? – A olho
intensamente. – Posso dar um palpite? – Não a deixo responder. –
Você não selecionou nenhuma mulher, é isso?
– Selecionei, sim. Mas ela não é uma modelo, mas é inteligente,
sabe falar e escrever, tem 25 anos, enfim, é uma pessoa comum.
– Certo, e o que mais? – Cruzo meus braços.
– A outra pessoa... – Ela mexe nervosamente em seus papéis.
– Sei... – Já vi que vem bomba.
– É um gay.
Dou uma risada alta e escrachada.
– Gay? Qual a sua fascinação por gays, já não chega o seu ex-
namorado?
Ela faz uma careta.
– Você não tem certeza que ele é gay.
Me irrito com a necessidade que ela tem de defender esse
maldito.
– Nem você, Jack. Às vezes, parece que você quer que ele seja
homem de verdade, talvez ainda tenha planos de voltar com ele. –
O nível de minha irritação aumentou, odeio falar sobre esse cara.
– Rui, por favor, não estamos falando sobre isso, e nem eu estou
interessada em ninguém! – ela diz indignada. – Caramba, me deixe
falar sobre o candidato.
Respiro e inspiro para me acalmar.
– Fala, seja rápida. – respondo estressado.
– Ele é um menino de 20 anos, cursa Direito, é muito inteligente,
tem uma ótima postura, não é afetado, se é isso que te incomoda. –
Ela solta o ar ruidosamente. – Ele foi tão bem nos testes que fiz, ele
escreve muitíssimo bem. E está tão empolgado para trabalhar em
um escritório de advocacia. – Ela me olha intensamente. – O
entreviste, só para você saber do que estou falando.
– Não sei se daria muito certo, prefiro uma mulher, elas se dão
melhor no atendimento.
– Entre nós, você tem preconceito, não tem? – Ela me olha
seriamente.
– Não, a Carolina é homossexual, eu sei disso, e nem por isso
tenho preconceito contra ela.
– Mas ela é mulher, não tem nenhum advogado gay em seu
escritório. – Ela me encara.
Que mania que essa mulher tem de se meter com meus
funcionários, porra!
– Jack, não me diga que agora você quer meter o seu dedinho
podre nos meus advogados? – A encaro realmente bravo. –
Caralho, que mania que você tem!
– Não quero saber de seus advogados, só fiz uma observação. –
Ela se levanta. – Vamos fazer o seguinte, peça para o departamento
de Recursos Humanos escolher a candidata do seu jeito, não quero
me meter com seus funcionários.
Ela pega seus papéis, e sai nervosa em direção à porta, mas
antes que ela a abra eu grito.
– Voltei aqui, Jackeline!!! Estamos conversando, caralho!!! – falo
nervoso.
Ela para com a mão na maçaneta, vira em minha direção e me
olha com sua cara de italiana folgada.
– Pois não?
Ela é muito folgada, merecia uns tapas em seu bunda gostosa.
– Aqui, Jackeline! – falo autoritário.
Ela caminha sensualmente, exibindo um bico do tamanho do
mundo.
– Você está merecendo levar uns tapas em seu bumbum
gostoso, sabia?
Ela segura seu riso.
– Pode dar, eu gosto! – ela diz bem safada.
Sorrio, ela adora me provocar.
– Talvez à noite eu queira bater bem forte, te fazer gritar até o
vizinho do andar de baixo reclamar para o zelador.
Ela solta uma gargalhada, no final, a Jack é uma devassa
deliciosa.
– Marque para os dois virem aqui conversar comigo, o mais
rápido possível, você está demorando demais com isso.
Ela sorri satisfeita, no final das contas, estou fazendo tudo que
ela quer, mas tudo bem, talvez eu precise oxigenar um pouco
minhas ideias.
– Obrigada por confiar em mim. – Ela se senta em meu colo, me
abraça e me beija.
– Não disse que confio em você. – A provoco.
Ela se levanta nervosinha.
– Jack, controla seus nervos, caralho!
Ela me olha por cima de seu ombro e sorri.
– Tchau, seu chato!
Então, ela sai rebolando seu traseiro delicioso, e sem querer já
estou imaginando sacanagens, e como será nossa noite de sexo.
Capítulo 61
JACKELINE BARTOLLI
Acredito que estou vivendo a melhor fase da minha vida, estou
plena no amor, estou feliz com meu trabalho, e minha vida está
maravilhosa como nunca esteve.
Tudo bem que ainda existem problemas que me incomodam,
como por exemplo, a endometriose, mas tenho procurado não
pensar muito sobre isso, estou me cuidando, farei o tal exame que a
médica pediu, enfim, não tenho como controlar isso. No final das
contas, estou nas mãos de Deus, é ele quem dirá se um dia serei
mãe.
Estou aguardando a chegada dos dois candidatos para o cargo
da recepção, e confesso que estou ansiosa, foi muito difícil escolher
uma pessoa que me agradasse, mas acima de tudo, pensei no
escritório do Rui, alguém que contribua de fato, e que não sirva
apenas para embelezar o ambiente.
Tenho que confessar, amei o rapaz, ele é maravilhoso,
inteligente, agradável, mas também fiz questão de escolher uma
garota, ela é bonita, inteligente e formada.
Sei lá, havia outras pessoas interessantes, é muito difícil
escolher alguém para uma vaga, tentei usar meu bom senso e um
pouco do meu conhecimento em Psicologia, não sei se fui feliz,
espero que sim.
A campainha toca, e como não temos recepcionista, desço as
escadas apressada, acho que estou ficando com as pernas
musculosas, de tanto subir e descer escadas.
Mas, tenho que dizer, não me importo de estar trabalhando em
dobro, faço o que o Rui me pedir, ele é maravilhoso para mim, me
sinto em dívida com ele por tudo que ele tem feito, o carro, os
exames médicos...
Abro a porta e dou de cara com o rapazinho, o nome dele é
Alexandre.
– Bom dia, Alexandre! – Estendo minha mão para ele.
– Bom dia, Jackeline! – Ele me cumprimenta sorrindo, ele é
muito simpático, sorri muito.
Adorei ele.
– Entre, o Doutor Rui está esperando por você – falo
rapidamente, ando muito agitada, nunca trabalhei tanto em minha
vida, mas como disse, estou adorando.
Ele me acompanha pelas escadas, parece um pouco tenso,
tento descontrair, pergunto do trânsito, da faculdade.
No final das contas, acho que uso minha faculdade de Psicologia
no meu dia a dia, confesso que não consigo aplicar meus
conhecimentos em mim mesma, talvez meu psicólogo agora esteja
sendo o Rui, ele me entende mais do que eu imaginava.
Bato na porta do Rui e entro.
Um geladinho toma conta do meu estômago, estou insegura, não
sei se ele gostará das pessoas que selecionei.
– Rui, esse é o Alexandre.
O Rui tira seus óculos de super-homem, olha para nós, ensaia
um sorrindo e segue em nossa direção.
– Prazer, Alexandre. – Ele estende sua mão para o menino.
– Prazer, Doutor Rui! Já ouvi muito falar do senhor lá em nossa
faculdade, nosso professor de Direito de Família sempre o cita em
alguns casos. – O rapaz descamba a falar, eu disse que ele é muito
simpático, e esperto.
Olho para o Rui e vejo sua cara de satisfação, ele é bem
vaidoso, e saber que seu nome é referência em uma faculdade o
deixou nas nuvens.
– Que ótimo, Alexandre, vamos nos sentar! – Ele indica a mesa
de reuniões. – Pode ir, Jack, depois te chamo.
Ele me olha sorrindo.
Oh, eu queria tanto ficar e participar da entrevista, tenho medo
que o Rui seja grosso com o rapazinho.
Saio decepcionada, volto para minha mesa e aguardo enquanto
a entrevista não termina.
Os minutos passam sem que a porta se abra, estou começando
a ficar nervosa, então ouço a voz do Rui e os dois saem da sala.
O Rui conversa animado com o garoto, ele estende a mão para
ele, e diz:
– Obrigado, Alexandre, a Jackeline entrará em contato com
você! – Ele me olha e volta para sua sala.
Olho para o rapaz ansiosa, e sigo com ele pelo corredor.
– Deu tudo certo na entrevista? – pergunto com cuidado.
– Sim, foi muito boa. – Ele diz animado. – Mas, vamos ver se ele
gostou de mim, normalmente o fato de ser gay atrapalha um pouco,
as pessoas ainda têm preconceito no trabalho.
– Oh, entendo – falo preocupada, será que o Rui cometeu
alguma gafe? – Mas, se tiver que ser, será, não é mesmo? Eu gostei
muito de você! – Chegamos à recepção. – Obrigada por ter vindo, e
boa sorte!
– Obrigado, Jackeline! – Ele se despede e vai embora.
Saio correndo pelas escadas, chego à sala do Rui sem fôlego,
abro a porta e olho para ele ansiosa.
– Gostou dele? – Ele levanta seus olhos dos seus processos e
me olha.
– Está ansiosa, Jack? – Ele cruza seus braços atrás de sua
cabeça, mostrando aqueles bíceps maravilhosos.
Sigo até sua mesa, me sento em seu colo, passo meus braços
pelo seu pescoço.
– Diz o que achou dele!
Ele dá risada.
– Esperto, inteligente, gostei dele, e é meu fã, isso sempre ajuda.
Sorrio feliz.
– Sabia que você iria gostar do rapaz, eu já conheço um pouco
meu advogado preferido. – O encho de beijos nas bochechas.
Ele me abraça junto ao seu corpo.
– Quer namorar um pouco? Estou com saudades da minha
oncinha! – Ele beija meu pescoço e sorrio.
Adoro quando ele me chama de oncinha, acho tão bonitinho.
– Foi delicioso ontem à noite, Jack. – Ele acaricia meus seios. –
Você estava deliciosa. – Ele segura meus cabelos entre suas mãos,
os puxando levemente. – Você gritou tanto, delícia! – Sorrio contra
seus lábios.
– Acho que acordamos o prédio todo! – respondo envergonhada
de mim mesma.
Oh, como é difícil namorar um chefe como o Rui, porque ele só
pensa em sexo o dia todo.
– Eu preciso ir, Rui, a outra candidata deve estar chegando! – O
beijo rapidamente. – Vou voltar para minha mesa, depois
namoramos! – Ele segura minha nuca, me beija novamente, e já
começo a sentir a excitação tomar conta de mim, não sei o que
acontece com a gente, não podemos ficar juntos por muito tempo
que já começamos com as sacanagens.
Oh, que calor!
Levanto do seu colo, mas ele me puxa, e a campainha berra lá
embaixo.
– Falei que ela estava chegando. – Limpo seus lábios. – Eu já
volto com a garota.
Desço rapidamente para a recepção, abro a porta e lá está a
candidata. Ela é muito bonita, mas tentei não ser hipócrita, mulheres
bonitas existem em todo lugar, não adiantará em nada tentar fugir
disso, e se o Rui for um cafajeste, ele irá atrás delas e pronto.
– Bom dia, Cristiane! Como vai? – Estendo minha mão para ela.
– Tudo bem, Jackeline e você? – Ela é muito simpática, tem um
sorriso lindo, branco e perfeito, mas não é só isso, ela é muito
inteligente, tem um português perfeito, e não tem nada de
pretensiosa.
Sinto um ciúme latejar em meu peito, às vezes, sou insegura,
sempre acho que serei traída pelo Rui, e isso é muito ruim, preciso
confiar nele.
– Vamos subir, o Doutor Rui está aguardando por você! –
Confesso que não estou tão esfuziante com ela, como estava com o
garoto.
No final das contas, sou uma tonta, uma idiota.
Bato de leve na porta, a abro e vejo o Rui olhando pela janela.
Ele olha para nós e sorri.
– Rui, essa é a Cristiane! – Ele se aproxima, e faz o mesmo que
fez com o Alexandre, estende sua mão para ela.
– Prazer, Cristiane! Sente-se, por favor. – Ele indica uma cadeira,
e fico o observando, e sem notar procuro por rastros de uma
possível recaída sua.
Solto o ar, viro de costas e sigo para a porta.
Estou ficando paranoica.
– Jack! – Viro para olhá-lo. – Fique, participe da entrevista
comigo.
Sorrio para ele.
– Não há necessidade, eu já entrevistei a Cristiane, e estou com
muitas coisas para fazer. – Volto a caminhar para a porta.
Sento em minha mesa e respiro, eu preciso confiar nele, seria
ridículo participar dessa entrevista só porque é com uma mulher.
Volto às minhas atividades e me surpreendo quando a porta
abre, e apenas a garota sai.
A entrevista com o rapaz foi bem mais demorada.
Me levanto rapidamente e sorrio para ela.
– Tudo bem? – Caminho com ela pelo corredor.
– Sim, ele me perguntou algumas coisas, e me pediu para
aguardar um contato seu, espero que ele tenha gostado de mim. –
Olho para ela, a acho meio decepcionada.
Estendo minha mão para ela.
– Assim que tiver a decisão do Doutor Rui, te ligo. Obrigada por
ter vindo. – Me despeço rapidamente, e volto correndo para nossa
sala.
Dois toques na porta e a abro apressada.
O Rui está digitando algo em seu computador, apenas me dá
uma olhada rápida.
– O que achou da garota? – falo ansiosa.
– Boa também. – Ele continua com o que está fazendo.
– E então, já se decidiu? – Me sento a sua frente.
Ele tira seus óculos, relaxa em sua cadeira e me olha, mordendo
a haste dos óculos.
– Estou pensando. – Ele me lança seu olhar enigmático. –
Talvez... – Ele não termina a frase.
– Já sei, você gostou mais da garota, tem mais o perfil do
escritório – falo desanimada.
Ele balança sua cabeça negativamente.
– Você não me conhece de fato, Jackeline.
– Ah, é?! Então, talvez o rapaz? – falo surpresa.
– Sim, gostei mais do Alexandre. É esse o nome dele, né? – Ele
sorri.
Sorrio satisfeita.
– Sim. Confesso, você me surpreendeu, Rui.
– Sou um cara surpreendente, Jackeline. – Ele me olha com sua
expressão sedutora. – Agora quero meu presente, tranque a porta.
Dou risada.
– É pra já, chefinho lindo!
****

Um mês depois.
O tempo tem voado desde que conheci o Rui e que comecei a
trabalhar em seu escritório.
Parece mentira que estamos juntos há mais de três meses.
Hoje farei aquele exame solicitado pela médica, acabei
demorando um pouco, mas é que estava tendo dificuldades com a
agenda da médica, e com a minha.
Mas, enfim, hoje é o grande dia, talvez eu tenha péssimas
notícias, estou tentando me preparar psicologicamente.
Este mês tive novas crises de dor, faltei um dia, no outro fui
trabalhar, mas não suportei de dor, e o Rui acabou me levando para
o hospital.
Está difícil, mas tento não desanimar.
Às vezes, no meio das crises de cólicas, tenho vontade que tirem
meu útero fora e assim nunca mais sentirei dor na minha vida!
Sigo para a sala do Rui, preciso avisá-lo que já estou saindo.
Bato em sua porta e entro.
– Já estou indo, mas o Alexandre está a par das minhas
pendências, ele é muito esperto e está pronto para te auxiliar no que
for preciso – falo preocupada.
Ele me puxa para o meio de suas pernas, me abraça pelos
quadris.
– Fique tranquila, eu me viro com o Alexandre. – Ele beija minha
barriga, e isso me remete a uma gravidez, e me sinto angustiada,
fazendo meus olhos encherem de lágrimas. – O que foi, Jack? – Ele
segura meu rosto.
Puxo o ar.
– Nada, só estou um pouco preocupada com o que a médica
encontrará em meu útero. – Evito olhar para ele.
Ele se levanta e me abraça.
– Fique calma, vai dar tudo certo. – Um beijo em meus cabelos.
– Estarei lá no final do dia. – Mais beijos em meus cabelos, ele é o
homem mais carinhoso que já conheci, só perdendo para o meu
falecido pai.
– Tá bom, o táxi já deve estar lá embaixo. – O beijo rapidamente,
aceno e saio.
****

Depois de passar pelos trâmites burocráticos do hospital, sigo


para um quarto que está reservado para mim.
O seguro médico que o Rui disponibilizou para mim é
simplesmente o melhor.
Ajeito minhas coisas no armário do quarto, visto a camisola
hospitalar e aguardo até que a enfermeira volte para me buscar.
Enquanto espero ligo rapidamente para minha mãe.
– Mãe, é a Jack! Está tudo bem por aí? – falo apressada.
– Oi, filha! Claro que está e você?
– Estou bem, aguardando a médica para fazer aquele
procedimento. – Olho para minhas unhas, estão todas roídas, ando
nervosa por causa desse exame.
– O Rui está com você? – Ela confia tanto nele, estranho isso.
– Não, mãe, mas ele virá no final do expediente do escritório.
– Tudo bem! Dará tudo certo, estou fazendo uma novena para
Nossa Senhora de Fátima. – Percebo sua voz embargar. – Ela está
olhando por você, querida.
– Está tudo bem, mãe. Não sei qual será o resultado, mas estou
preparada.
Respiro profundamente.
– Você voltará para casa hoje? – Ela pergunta carente. – Eu
cuidarei de você, você precisa de repouso, Jack.
– Não sei mãe, verei o que o Rui quer fazer, mas provavelmente
ele me levará para casa amanhã mesmo.
Terei que fazer um repouso de sete dias no mínimo, não tenho
por que ficar em sua casa, preciso de descanso e nenhuma
atividade sexual.
– Está bem, Jack, sua avó e sua tia estão mandando um beijo
para você. Boa sorte, filha.
Desligamos a ligação.
Coloco o celular em meu colo e relaxo minha cabeça nos
travesseiros, mas um som de chegada de mensagem me chama a
atenção.
Abro o aplicativo de mensagens e vejo uma notificação da
Carolina.
“Amiga, me desculpe não poder te acompanhar neste momento,
mas se precisar irei buscá-la, isso se o maridão não for.”
Sorrio com sua mensagem e respondo.
“Fique tranquila, estou bem, e o Rui virá ficar comigo, amanhã
terei alta. Ficarei ausente do escritório esta semana, essa merda de
exame me deixará de molho por alguns dias.”
Vejo-a digitando:
”Boa sorte e depois me ligue para dizer o resultado do exame. Te
amo, Jack.”
Digito em seguida:
“Eu também, irmãzinha!”
A porta abre e uma enfermeira entra com uma cadeira de rodas.
– Podemos ir agora, Jackeline? Sua médica a está aguardando!
Sorrio desanimada.
– Claro, não vejo a hora de acabar com isso.
****
Acordo sozinha em meu quarto, estou com um soro em meu
braço, tento me levantar, mas sinto uma dor incômoda na barriga.
– Ai! – Reclamo, e então vejo o Rui.
Ele estava sentado em uma poltrona.
– Oi, como você está? – ele diz com um sorriso. – Cheguei faz
um tempinho, e já conversei com sua médica. – Ele acaricia meus
cabelos, e me olha intensamente.
– Que bom que você está aqui. – Acaricio seu rosto.
Ele desliza sua mão pela minha barriga e a acaricia
suavemente.
– Tá doendo, Jack? – ele pergunta preocupado.
– Um pouquinho, uma espécie de cólica. – Respiro fundo e
pergunto: – E aí, ela te disse como estão as coisas dentro de mim?
– falo ironicamente.
Ele se afasta um pouco, passa as mãos pelo seus cabelos e
então me olha.
– Um dos seus ovários está comprometido, mas o outro está ok,
ela fez algumas cauterizações onde havia necessidade, mas no
geral está tudo bem, Jack! Daqui a pouco ela virá até aqui e te
explicará melhor, confesso que sou meio lento nessas coisas.
Um dos meus ovários está comprometido. – Penso aflita.
Respiro fundo e tento não chorar.
Ele se aproxima de mim, se inclina e me beija, vagarosamente,
carinhosamente, me fazendo sentir as famosas asas de borboletas
no estômago.
Achei que nunca mais sentiria isso, as famosas sensações de
quando se é adolescente, mas com o Rui eu sinto, muitas
sensações, deliciosas e maravilhosas.
Separamos nossos lábios, e ficamos olhando um para o outro,
estou tão apaixonada por ele.
– Eu te amo, Rui! – As palavras saem de meus lábios sem que
eu tenha controle.
Ele não diz nada, apenas volta a beijar suavemente meus lábios,
meu rosto, me fazendo sentir aquele gelado no estômago, e um
pulsar de desejo.
Oh, meu Deus, como aguentarei ficar tanto tempo sem fazer
amor com ele?
– Não poderemos transar, Rui, não me torture – sussurro.
– Eu sei, Jack. – Ele volta a me olhar. – Uma semana, ou mais,
não sei como conseguiremos esse feito! – Ele faz uma careta.
A porta abre, ele se afasta de mim e vejo a médica.
– Tudo bem, Jackeline? – ela diz seriamente.
– Sim, estou com um pouco de dor, um incômodo.
– É assim mesmo, depois a enfermeira virá aplicar um anti-
inflamatório em você. – Ela se senta ao meu lado da cama.
– Como estão as coisas em meu útero? – pergunto ansiosa.
– Encontrei alguns focos da doença, então precisei fazer
algumas cauterizações, mas eu já esperava isso. – Ela me olha
intensamente. – Um dos seus ovários foi gravemente comprometido,
não há chances de utilizar seus óvulos do ovário esquerdo no caso
de uma fertilização in vitro.
Engulo em seco, ela é muito direta, sem rodeios.
– E o outro ovário, ainda está vivo? – pergunto debochada.
– Sim, está em melhores condições, temos algumas chances de
sucesso no caso de você querer engravidar. – Ela respira
pesadamente. – É isso, Jackeline, agora peço que você faça um
repouso durante sete dias, para que as incisões cicatrizem. Depois
você poderá voltar a sua vida normal. – Ela se levanta. – Essa noite
você ficará no hospital, mas amanhã pela manhã você poderá ir
para casa. Cuide-se e volte em meu consultório daqui a um mês.
Quer ver como você está.
Ela segue para a porta.
– As prescrições médicas estão com a enfermeira, qualquer
dúvida, me ligue no celular. Até logo. – Ela faz um movimento com a
cabeça para mim e para o Rui e sai.
Solto o ar que estava prendendo em meus pulmões.
– Acho que não falei muitas besteiras, certo? – O Rui me tira dos
meus pensamentos.
Sorrio para ele.
– Não, deita aqui comigo, quero sentir seu cheirinho. – Ele sorri
para mim. – Já te falei que adoro seu perfume?
Ele se encaixa ao meu lado, me abraça pela cintura e beija meus
cabelos.
– Não. Quer saber o nome para você me presentear? – ele diz
divertido.
– Depois, agora estou meio sonolenta. Vou dormir de novo, mas
não sai daqui, quero ficar sentindo esse cheirinho de Rui. – Ele sorri,
fecho os olhos e tento esquecer meus problemas.
Ele está aqui comigo, e isso é bom demais, preciso começar a
mudar meus planos de vida, talvez a adoção de um gatinho, enfim...
Fecho meus olhos e adormeço.
Capítulo 62
JACKELINE BARTOLLI
Enquanto tomo banho, verifico as pequenas marcas em minha
barriga, as incisões já estão sumindo, e com isso, a penitência de
não poder fazer amor com o Rui.
Estou subindo pelas paredes! Nunca pensei que estivesse em tal
grau de vício, mas talvez essa semana de abstinência forçada tenha
servido para testar o nível de fidelidade do Rui comigo.
Bem, está certo que não foi uma abstinência completa, temos
feito um tipo de sexo que não mata totalmente a vontade, mas dá
uma aliviada.
Oral, mais precisamente!
Dou risada, pois é lógico que aquela máquina de sexo não ficaria
completamente de descanso, aliás, o Rui deve ter problemas, ele só
pensa em sexo.
Oh, confesso, euzinha também.
Termino meu banho, e visto um vestido soltinho e curto, daqui a
pouco o Rui chegará a meu apartamento, pois apesar desse período
afastada do trabalho, ele vem me ver todos os dias.
Preferi ficar em minha casa, apesar da insistência do Rui para
ficar em seu apartamento, mas não quis dar trabalho para sua
empregada, e seria uma ofensa a minha mãezinha não permitir que
ela cuidasse de sua filhinha quase trintona.
Saio em direção à cozinha, hoje minha mãe está preparando sua
especialidade, bacalhau com batatas ao murro, tudo por causa do
Rui, ela é meio puxa saco dele.
A abraço pelas costas e beijo suas bochechas gorduchas.
– Oh, Jackeline, que susto! – ela diz brava.
– O cheiro está muito bom, quero ver se a senhora não perdeu o
jeito. – Me sento à mesa da cozinha para observá-la.
– Você precisa aprender a fazer esse prato, Jackeline. Está na
hora de você aprender a ser uma dona de casa!
– Cruzes, mãe! Não quero ser uma dona de casa, talvez
aprender a cozinhar, mas odeio trabalhos domésticos! – Coloco
meus pés sobre a cadeira, para não pressionar minha barriga.
– Jack, estou para te perguntar uma coisa. – Ela dá uma pausa.
– Diga, mãe. Por que o suspense? – Mordo uma maçã para
diminuir a fome.
– Já que esse moço parece gostar tanto de você, e não
consegue desgrudar um só dia, por que vocês não se casam? – Ela
vira em minha direção e me olha.
Ajeito-me na cadeira, tomo coragem e digo:
– Ele me disse um dia que nunca irá se casar ou ter filhos. – Ela
arregala seus olhos.
– Como assim?! – ela diz indignada. – E qual o futuro que você
espera com ele?!
– Não sei, mãe. Eu resolvi ser feliz e esquecer um pouco essa
história de casamento e filhos. – bufo cansada.
– Então, vocês poderiam morar juntos, já que ele não quer se
casar. – Ela insiste.
– Mãe, eu não vou cobrar isso do Rui, somos adultos, ele gosta
de ter o espaço dele.
Ela me interrompe.
– Qual espaço, Jackeline? Se ele não está aqui com você, você
está com ele em seu apartamento! – ela diz nervosa. – Eu não
entendo os jovens de hoje em dia, são tão complicados! – Ela solta
o ar.
– Mãe, eu estou feliz apenas namorando ele, não comece
novamente a me pressionar por casamento. Parece até que você
não me aguenta mais!
Ela me olha seriamente.
– Não é nada disso, eu só quero vê-la feliz e realizada como
mulher. Mas, tudo bem, vamos esperar e ver se ele toma uma
atitude de homem! – Ela joga a colher na pia, e sai em direção ao
seu quarto.
Olho para um ponto cego da mesa.
– Talvez minha mãe tenha razão, passamos mais tempo juntos
do que separados, seria tão mais fácil se morássemos juntos. Mas,
não quero pensar sobre isso, porque não quero me decepcionar.
Desperto de meus pensamentos com o som da campainha, me
levanto e saio apressada para a porta da entrada, a abro e vejo meu
deus grego.
– Boa noite, minha deusa! – ele diz com seu sorriso lindo.
Passo meus braços pelo seu pescoço, me esgueiro até seus
lábios, e o beijo apaixonadamente.
Sinto suas mãos em minhas costas, deslizando suavemente, e
me apertando contra seu corpo.
– Hummm, que saudades de você, Rui! – Me afasto um pouco, e
deposito pequenos beijos em seus lábios.
– Eu também, minha deusa! – Ele me olha com seu par de olhos
lindos. – Você passou bem hoje? – ele diz seriamente.
– Sim, não senti mais aquela dorzinha chata. – Me afasto dele. –
Liguei para a médica, ela me prescreveu um remedinho, ela disse
que são gazes que se formaram por causa da cirurgia.
Pego em sua mão, e o levo até a sala, onde estão minha tia e
minha avó.
– Boa noite, senhoras! – ele diz gentilmente, segue até elas e
beija suas mãos. – Como a senhora está, dona Maria?
Dou risada de seu jeito.
– Estou muito bem, Senhor Rui, mas aqueles bombonzinhos que
você trouxe me deram dor de barriga!
Fecho meus olhos.
– Vovó! – A chamo e ela me olha. – Se a senhora não tivesse
comido a caixa inteira no mesmo dia, eles não teriam feito mal.
Ela sussurra alguns desaforos.
– Da próxima vez eu trago outra coisa. – O Rui diz simpático,
cumprimenta minha tia e volta para meus braços.
– Que tomar um banho antes do jantar? – falo baixo, apenas
para ele ouvir.
Ele sorri e balança sua cabeça afirmativamente.
– Então, vem. – O puxo para meu quarto. – Pode ir tomando
banho, vou avisar minha mãe que você chegou.
Abro a porta do quarto dela e entro, ela está enxugando seus
cabelos.
– Mamãe, o Rui já chegou, mas ele vai tomar um banho. Então,
não precisa se apressar, tá? – Coloco a mão na maçaneta, mas ela
me interrompe.
– Jack, lembre-se que você está de repouso e não pode fazer
nada com esse moço! – Ela arregala seus olhos.
– Eu sei, mãe! Não temos feito sexo! – falo indignada.
– Eu não tenho certeza disso. – Ela me olha enviesado. – Seja lá
o que vocês andam fazendo, peço que você tome cuidado e que
sejam mais discretos, existem outras pessoas que moram nesse
apartamento.
A olho exasperada.
– Mãe, a senhora que não está sendo discreta. – Dou de ombros
e saio.
Aff, essas merdas de paredes não seguram o menor gemido de
prazer, que ódio!
Abro a porta do quarto e ouço o barulho de chuveiro.
Sigo atrás de meu deus grego, e ele já está finalizando seu
banho.
Ele sai do box, e sinto ondas de calor pelo meu corpo ao vê-lo
nu, molhado, não aguento mais essa secura de sexo.
O agarro pelo pescoço, e começo a beijá-lo feito uma louca, ele
tira meu vestido desesperado.
– Jack, você não está facilitando as coisas – ele diz faminto,
engolindo meus lábios.
– Vem, Rui! Apaga meu fogo, meu bombeiro! – Dou risada, e o
puxo para o meu quarto, tiro minha calcinha e sutiã, e em segundos
ele está com sua boca no meio das minhas pernas, me
enlouquecendo de prazer.
– Ah, Rui... – falo em soquinhos. – Isso!!! – Fecho os olhos, puxo
seus cabelos. – Ohhh!!!
Sua língua macia e quente me tortura de prazer, e logo um
amortecimento insuportável, e finalmente o clímax.
– Oh, Ruiiiiiii!!! – Gemo alto seu nome, puxo seus cabelos e
finalmente relaxo, e sinto sua boca na minha, um beijo selvagem,
faminto.
– Jack, eu não estou aguentando, alivia seu macho! – Ele me
puxa, senta na cama e agora é a minha vez de me esbaldar nesse
homem delicioso.
O sugo com vontade, em movimentos de vai e vem, ele segura
meus cabelos entre suas mãos e, os puxa com força.
– Oh, Jack, que boca maravilhosa! – ele diz com sua voz rouca.
– Continua, eu vou gozar, gostosa! – Ele puxa mais meus cabelos e
geme de prazer. – Caralho, que delícia, Jack! – Seus olhos estão
fechados e com uma expressão linda.
Ele se deita em minha cama, deito de bruços sobre seu peito e
ficamos abraçados, apenas acariciando o corpo um do outro.
– Faltam só dois dias, Rui – cochicho próxima ao seu ouvido. –
Você aguenta mais um pouco?
Ele me olha de lado.
– Eu aguento, mas não sei você! – Ele dá uma risada gostosa.
– Eu também aguento, seu bobinho. – Me aninho mais ao seu
corpo.
Cheiro e beijo seu pescoço.
– Eu te adoro, Rui! Você me adora? – O olho ansiosa.
– Adoro, Jack! – Ele segura meu rosto e me beija.
– Muito? – falo em meio aos seus beijos.
– Muito, Jack! – Mais beijos.
– Fale mais vezes, eu gosto tanto de ouvir isso! – digo aflita.
– Está bem, eu vou falar mais vezes. – Ele me abraça junto ao
seu corpo.
Me aninho em seu peito forte e gostoso, cheiro e beijo seus
pelos macios, mas um toque na porta nos chama atenção, e em
seguida a voz da minha mãe.
– Jack, o jantar já está na mesa.
Olho para o Rui.
– Minha mãe é uma empata foda! – Torço meu nariz.
Ele me olha de lado, e diz:
– Eu não posso falar mal da sogra, pega mal!
Oh, ele é tão fofo!
Mordo seu lábio inferior.
– Você é muito gostoso. – Dou um beijo barulhento em seus
lábios. – Vem, Rui, eu não posso ficar sozinha com você, é perigoso
demais. – O puxo da cama.
– Caralho, acho melhor eu comprar aqueles comprimidinhos
azuis, acho que não vou dar conta de você quando acabar esse
repouso.
Gargalho, o abraço e beijo.
– Você me faz tão feliz, Rui! – Olho em seus olhos
completamente apaixonada.
– Você também, Jack. – Ele me olha sorrindo. – Depois eu dou
mais um trato em você. – Ele apalpa minha perseguida, me dando
um susto. – Talvez eu precise de um extintor!
Dou uma risada escandalosa, coloco minha roupa e finalmente
saímos do quarto.
****

Seguimos para a sala de jantar, vovó, titia e mamãe nos


esperam na mesa, parecem um pouco ansiosas por nós, batem os
talheres nos pratos, nos copos.
– Oh, finalmente os pombinhos saíram do ninho de amor! – vovó
diz. – E por falar nisso, quando sai o casamento, meu filho?
– Sim, o casamento. – ele diz constrangido, mas logo entro no
assunto.
– Sem data marcada, vovó, ainda é muito cedo para falar sobre
isso. – Desconverso. – Nossa, o cheiro está maravilhoso, mãe!
Estou louca para provar seu bacalhau!
Nos sentamos rapidamente.
– Finalmente vou provar o bacalhau da Dona Amélia! – O Rui diz
com um sorriso, ele tem um sorriso lindo, tenho vontade de beijá-lo
todas as vezes que ele sorri, aquela boca....
Céus, devo estar ovulando, ando especialmente com minha
libido em alta.
Ovulando???
Eu bem que poderia tentar agora.
Oh, mas a médica disse que não consigo engravidar sem uma
inseminação.
Mas, o que custa tentar?
– Jackeline! – Ouço a voz da minha mãe e a olho assustada.
– Oi, mãe! Desculpe, eu estava distraída!
– Sirva seu namorado! – Ela faz uma cara feia.
– Claro. – Pego o prato do Rui e coloco um pouco de cada coisa,
ele é bem comilão, então não economizo na quantidade.
– Oh, Jack, assim vou virar uma bola de futebol – ele diz
divertido.
– Quero você bem gordinho, assim nenhuma mulher vai te
paquerar! – cochicho para ele.
– Tem mulher que gosta de homens gordinhos! – ele diz
sorrindo.
– Jackeline, estou de namorado novo. – Titia diz animada. – Ele
é bem mais novo do que eu, um homem muito interessante.
Tento segurar a risada.
– Titia, a senhora voltou a inventar que é fazendeira, ou algo do
tipo? – Minha mãe me cutuca.
– Claro que não! Desde quando sou de inventar coisas?
– Desde sempre, titia, não precisa mentir para nós, somos sua
família!
– Amélia, cuide da língua da sua filha, caso contrário eu a
arranco pessoalmente. – Ela se altera, faz menção de se levantar,
mas minha mãe intervém a segurando.
– Ofélia, por favor, temos visita, e a Jack só está brincando com
você.
Olho para o Rui, ele disfarça, fala alguma coisa com a vovó, os
dois se dão muito bem, talvez porque vovó o ache parecido com um
artista de sua época, e vive dizendo o quanto ele é lindo.
Voltamos a jantar em paz, e o saldo no final do jantar é uma
garrafa de vinho do porto vazia.
– Me deixe buscar a sobremesa. Fiz pastéis de Belém, espero
que você goste, Rui! – Mamãe diz animada, o vinho a deixou com
as bochechas vermelhas, e um bom humor que eu não via há
tempos.
– Adoro, Dona Amélia! Pode trazer! – O Rui diz também
animado, o vinho também fez efeito para ele.
Entre um gole de vinho do porto e outro, e algumas piadinhas
infames do Rui, minha avó acaba fazendo xixi nas calças, e então, o
jantar termina em meio à correria de levá-la para o chuveiro.
– Oh, Rui, me desculpe, minha mãe tem incontinência. – Minha
mãe diz constrangida.
– Não se desculpe, Dona Amélia. Tenho uma avó também, e a
situação dela não é muito diferente, fique tranquila.
– Já vou me retirar, fiquem à vontade – ela diz se retirando da
sala, onde conversávamos um pouco.
Mamãe sai rapidamente e então pergunto:
– Você nunca falou da sua vovozinha! – falo curiosa.
– É mentira, ela já morreu há uns 50 anos atrás – ele diz com a
maior cara de pau. – Só queria deixar a sua mãe à vontade, vovó
também fazia xixi nas calças! – E ele ri muito.
– Você tomou muito vinho do porto, Rui! Aliás, tomou por mim e
por você! – falo debochada. – Adoro vinho do porto, pena que não
pude tomar nem um golinho.
– Então, deixa eu te beijar para você sentir o gosto. – Ele segura
minha cabeça entre suas mãos, e me dá um daqueles beijos molha
calcinha.
Oh, meu pai eterno, eu não estou aguentando!
– Rui, por favor, para! – digo desesperada, com o coração na
boca e a calcinha encharcada. – Assim eu não aguento!
– Jack, e se a gente fizer bem devagar? Eu não coloco tudo...
O olho completamente confusa, louca de desejo por ele.
– Será, Rui? E se der merda?
– Bem devagar, Jack. Eu prometo. – Ele beija meu pescoço,
acaricia meus seios.
Não consigo resistir, levanto e puxo ele pela camiseta que está
vestindo.
– Vamos logo, não aguento mais essa tortura!
****

A porta abre num solavanco, se chocando contra a parede,


enquanto nós dois nos beijamos como se não nos víssemos desde
o último inverno.
De repente o sinto tirando meu vestido, eu a sua camiseta, ele
puxa meu sutiã com força, arrebentando o fecho (esse é o terceiro
no mês, não aguento mais comprar lingeries).
Ele tira sua calça, a boxer, e em segundos estamos os dois nus.
– Calma, Rui! – falo ao vê-lo faminto sobre mim.
Ele beija e chupa meu corpo inteiro, até chegar à minha buceta e
chupa e suga com desespero.
– Ah, meu Deus! – falo desesperada de desejo.
Ele volta a me beijar, e então me penetra, vagarosamente, e
sinto como se fosse uma viciada em drogas ao reincidir no vício.
A gente se beija mais calmo, ele me penetra gentilmente.
– Tudo bem, Jack? – ele diz ofegante. – Posso continuar?
– Tudo bem, continua – sussurro agarrada aos seus cabelos.
– Jack, eu estou com muito tesão, não vou aguentar por muito
tempo – ele diz com seu olhar de desejo.
– Tá bom. Se solta, Rui, pode gozar!
Ele puxa meus cabelos, suga meus seios, aumenta seus
movimentos, e então urra feito um leão.
– Rui, não faz barulho! – Tento controla-lo, mas é impossível, o
vinho o soltou de um jeito que ele se esqueceu da vida.
Oh, mais foi maravilhoso, delicioso.
O abraço e beijo, não queria que ele parasse, queria transar a
noite inteira com ele.
Finalmente ele relaxa sobre mim, segurando seu peso sobre
seus cotovelos, olhos fechados, e a respiração ofegante.
– Foi demais, minha deusa! – Ele me olha e sorri. – Mas, eu
ainda estou morrendo de tesão, será que não podemos repetir?
Então, sinto sua ereção entre minhas pernas, abro levemente
minha boca, estou surpresa com a rapidez de sua recuperação.
– Rui, não vamos abusar. Eu resolvo seu problema, mas de
outro modo, tá bom? – Seguro seu rosto entre minhas mãos e beijo
seus lábios apaixonadamente.
– Tudo bem, fiquei meio empolgado. – Ele sorri com sua cara de
safado. – Você está sentindo alguma coisa, será que fizemos
merda?
– Não, está tudo bem. – Volto a beijá-lo, a excitação aumenta, e
esqueço que estou de repouso, e que não deveríamos ter transado.
– Rui, talvez a gente possa fazer de novo.
Ele me olha com um sorriso.
– Vira, gostosa, quero te comer olhando essa bunda linda!
– Tudo o que você quiser, meu homem!
****

Uma pequena mancha de sangue em minha calcinha é a prova


que fizemos merda ao iniciar nossas atividades sexuais antes da
hora.
Volto do banheiro preocupada, uma leve cólica está me
incomodando.
O Rui já foi embora logo cedo, me levantei para fazer seu café
da manhã, e fizemos sexo de novo.
É fato, chegamos ao nosso limite!
Pego o celular da médica e resolvo ligar para ela e dizer sobre o
ocorrido.
– Olá, doutora! É a Jackeline Bartolli! – falo temerosa.
– Olá, Jackeline! Tudo bem, querida? – ela diz simpática, aos
poucos ela está se tornando mais receptiva comigo.
– Tudo, doutora, quero dizer, mais ou menos... – Roo uma unha
que já está no toco.
– O que aconteceu? – Sua voz parece preocupada.
– Eu estou com um pequeno sangramento, não é muito, mas...
– Estou um pouco perdida no tempo. Faltam quantos dias para o
final de seu repouso, Jackeline?
– Dois dias. Quero dizer, um dia, praticamente.
– Por acaso você iniciou suas atividades sexuais?
– Oh, então, sim. Sabe, doutora estava um pouco difícil, eu e
meu namorado dormimos juntos todos os dias, então...
– Ok, ok, não precisa explicar, mas então pare de novo, vamos
esperar uns três dias para estancar o sangramento, provavelmente
houve alguma fissura. Mas não é nada grave, caso contrário o
sangramento seria maior.
Suspiro aliviada.
– Oh, que bom que não é nada grave! – Suspiro.
– Jackeline, agora é para valer, sem relações sexuais por três
dias, depois você poderá namorar à vontade com seu namorado! –
Ela dá risada.
Sorrio, ela está de bom humor, talvez seu marido tenha resolvido
comê-la esta noite – Penso divertida.
– Ok, combinado. Obrigada, e desculpe incomodá-la.
– Imagine, mas você teve sorte, acabei de sair de um parto,
adoro trazer bebês ao mundo. – Ela sorri novamente, e sorrio com
ela. – Essa moça tem endometriose, Jackeline, e conseguimos
engravidá-la somente por inseminação, não desanime,
conseguiremos engravidá-la também.
Meus olhos enchem de lágrimas.
– Quem sabe, não é mesmo? Bom dia, doutora.
Desligo e inspiro com força.
Mesmo que ela tenha tido sucesso, havia um homem querendo
ver sua mulher grávida, então, ainda tenho um problema.
Ok, uma coisa de cada vez, e que o Rui me perdoe, mas tentarei
pelo método convencional, e sem sua aprovação, se acontecer, aí
penso sobre isso.
Seja o que Deus quiser.
Junto minhas mãos e faço uma prece em silêncio.
Capítulo 63
RUI FIGUEIREDO
Olho entediado para o monitor do computador.
Os dias passam devagar sem a Jack no escritório.
Sinto falta do seu jeito doce e divertido, dos seus ataques de
nervos, e de seu temperamento bravo, marrento e irritante.
Mas apesar de tudo isso, ela me conquistou, e não consigo
disfarçar o desânimo que sinto sem ela no escritório.
Não vou negar, estou completamente apaixonado pela Jackeline,
e não consigo mais ficar longe dela.
Talvez esse esteja sendo o relacionamento mais intenso que já
tive em meus 35 anos.
Estamos vivendo o equivalente de anos, em meses, e isso me
assusta.
Pode ser que para a Jack tudo isso seja pouco, eu sei que ela
quer e espera mais de mim, mas eu sei que estou fazendo muitas
coisas, coisas que nunca fiz por outra mulher.
A Jack quer casar e ser mãe, e talvez nesse sentido estamos em
rota de colisão.
Não consigo me ver nessa situação, não me vejo pai de uma
criança.
Tenho muitos amigos casados, e todos são unânimes em dizer, o
relacionamento muda demais depois do casamento, e com a
chegada dos filhos, piora ainda mais.
Não quero me casar, somos felizes do jeito que estamos, para
que complicar?
Dois toques na porta e ela se abre, e vejo o assistente da
Jackeline.
Só eu mesmo para concordar com as loucuras daquela italiana
maluca.
– Com licença, Doutor Rui! – O Alexandre diz.
Ele é muito atencioso, mas um pouco exagerado, talvez muito
exagerado, e isso está me irritando.
– Pode falar, Alexandre!
– Anotei alguns recados para o senhor.
– Pode dizer... – Volto a digitar em meu computador.
Ele começa a discorrer sobre os recados e então ouço o nome
daquela maldita garota.
– Priscila Albuquerque, ela disse que é promotora. Será que
anotei certo? – Ele me olha confuso.
– Sim, está correto! – O encaro com atenção. – O que ela disse?
– Para o doutor entrar em contato com ela com urgência, ela
deixou este número aqui! – Ele me entrega um bilhete.
Fecho meus olhos e inspiro.
– Merda! – Esbravejo.
– Desculpe, Doutor Rui, não entendi!
O olho irritado.
– Eu disse merda, Alexandre. Entendeu agora?
Ele me olha assustado.
– Oh! – Ele diz sem graça. – O senhor precisa de mais alguma
coisa, um café, uma água, um suco?
O olho de lado, isso já tá me enchendo o saco.
– Alexandre, deixe para puxar o saco da Jackeline. Ela é a sua
chefe, ok? – bufo irritado.
– Desculpe, Doutor Rui. Só estou fazendo o que ela me mandou!
– Ele me olha constrangido.
– Ela pediu para você puxar o meu saco?
– Não, claro que não, apenas para cuidar do seu bem-estar.
Balanço minha cabeça.
A Jackeline é maluca!
– Tudo bem, obrigado! Pede um café para mim.
E lá vai o assistente da Jackeline, rebolando feito uma menina.
Rui, você não é mais o mesmo – falo comigo mesmo.
Pego o papel com a anotação do telefone da Priscila e olho
demoradamente.
– O que essa filha da puta quer comigo? – falo sozinho.
Preciso resolver isso, caso contrário, não conseguirei dormir.
Digito rapidamente o número, dois toques e a ligação completa.
– Promotoria, Priscila Albuquerque falando!
– Como vai, promotora? Aqui é o Doutor Rui Figueiredo! – falo
com deboche.
– Oh, que surpresa! Você nunca me retornou uma ligação tão
rapidamente, Doutor Rui! – ela diz com ironia.
– Pois é, agora você é uma promotora, antes você era apenas a
namorada chata que pegava no meu pé, dia e noite!
A ouço bufar no telefone.
– Desculpe se eu era uma namorada chata, Rui! – ela faz voz de
boazinha. – Mas te garanto uma coisa, como promotora serei mais
do que chata, serei implacável!
Não aguento sua arrogância, caio na risada.
– Oh, agora fiquei preocupado, Priscila! Então, a que devo a
honra de sua ligação?
– Não acho uma boa conversamos por telefone, prefiro resolver
esse assunto pessoalmente. O que você acha?
– Não sei do que se trata, então não acho nada – falo para irritá-
la.
– Ok, Rui, vou adiantar o assunto! A reabertura do processo da
promotoria contra você!
Um arrepio percorre minha coluna.
Mulher maldita!
Tento manter a calma.
– Priscila, não confunda as coisas, os nossos antigos problemas
de relacionamento não podem interferir em sua função como
promotora – falo nervoso.
– Realmente, você tem razão, Rui! Mas, prefiro conversar com
você pessoalmente, hoje à noite, às 20h no Maximiliano. E não leve
aquela mulher! – Ela altera sua voz. – Nos vemos lá!
Um som oco, ela desligou o telefone em minha cara.
Respiro fundo.
Eu preciso arrumar um jeito de me livrar da Priscila, como, eu
não sei.
****

Olho para meu celular, preciso ligar para a Jack e avisá-la que
hoje não a verei.
Não quero mentir para ela, mas ela não entenderá se eu disser
que preciso jantar com minha ex-namorada.
Ok, apenas uma pequena mentira, somente hoje, Jack.
Seu celular toca pela terceira vez e então ela atende.
– Oi, Rui, eu estava no banho. Tudo bem?
– Oi, minha deusa, está tudo bem, só um pouco cansado! – Faço
manha, e dou risada de mim mesmo.
Tenho que confessar, estou mimado, a Jack está acabando com
minha imagem de advogado frio e calculista.
– Eu faço uma massagem bem relaxante em você. Já está
chegando? – ela diz ansiosa.
Talvez eu tenha acostumado a Jack mal esta semana, quero
dizer, desde que nos conhecemos.
– Jack, não poderei ir te ver hoje, tenho que jantar com um
cliente.
Um silêncio desagradável se instala entre nós.
Merda, ela não gostou ou não está acreditando.
– Sério? – Sua voz muda.
Ok, Rui, assuma sua posição de macho desse casal, e mostre
que você não é um cara dominado.
– Então, Jack, apesar de fazer algum tempo que não faço isso
(mais precisamente desde que a conheci e me tornei
um cordeirinho), eu preciso de vez em quando sair com clientes,
jantar com eles, às vezes acompanhá-los em alguma boate, enfim...
– Sei. – Ela faz uma pausa. – O cliente é homem ou mulher?
Que caralho, por que ela tem que tornar isso ainda mais difícil?
– Homem, Jack! – bufo irritado.
– Qual o nome dele?
Reviro meus olhos.
– Confia em mim, Jack!
Um silêncio pesado e então ela diz:
– Tudo bem! Bom jantar, Rui! A gente se fala amanhã! – Ela
desliga e bufo nervoso.
Volto a ligar para ela.
– Oi! – Sinto a irritação em sua voz.
– Jack, um relacionamento se constrói com confiança. Você
confia em mim?
– Confio... – ela diz titubeante.
– Será apenas um jantar de negócios. Não preciso procurar por
outras mulheres, eu tenho tudo que preciso em você!
Ouço sua respiração forte no telefone.
– Tudo bem, Rui, não estou dizendo nada! Apenas perguntei
quem era.
– É um cliente novo, você não conhece.
– Ok. Bom jantar, Rui – ela diz mais calma.
– Obrigado! Boa noite, minha deusa.
Penso em dizer o quanto gosto dela, mas acabo desistindo, não
gosto de ser meloso.
– Boa noite!
Ela desliga, poderia ter dito que me ama.
Ok, Rui, não seja patético.

****

O restaurante Maximiliano é um daqueles restaurantes antigos e


tradicionais, e que é frequentado em sua maioria por magistrados.
Deixo meu carro com o manobrista e sigo em direção à entrada
do restaurante.
Logo uma hostess me leva até a mesa reservada para a ilustre
Priscila Albuquerque.
Ela sempre adorou usar o nome do pai para abrir portas e
facilitar sua vida.
Dou uma respirada profunda e sigo em sua direção, e como
reflexo ela me vê, e abre um sorriso sedutor para mim.
Estou acostumado a ver a Priscila vestida em seus vestidos
sérios e comportados, então, fico surpreso ao vê-la em um vestido
preto curto, com detalhes em renda.
Provavelmente ela se vestiu assim para me impressionar.
Ela está realmente muito bonita e sexy!
– Olá, Priscila! – A cumprimento formalmente, mas ela se
aproxima e me abraça.
– Oi, Rui! – Ela fica hesitante, e então beija meu rosto. – Como
você está?
Ela retorna para seu assento.
Me sento a sua frente.
– Bem, um pouco atarefado demais, mas não posso reclamar. –
Sorrio, aproveito que o garçom chegou e peço uma taça de vinho. –
E você? Me conte como está sua vida como promotora! – A encaro.
Ela remexe em sua taça.
– Ainda estou tomando conhecimento das rotinas do
departamento, aprendendo, enfim, ainda é muito cedo, cheguei à
promotoria há dois meses!
– Que ótimo! – Remexo os talheres, mas não estou com
paciência. – Então, Priscila, o porquê desse jantar, o que você quer?
– Vou direto ao assunto.
Ela sorri.
– Eu sempre admirei seu jeito objetivo... – Seu olhar intenso
mergulha nos meus. – Vamos pedir os pratos?
– Vamos! – Pego o cardápio e chamo o garçom com pressa. –
Vou comer este aqui! – Mostro para o garçom minha escolha. – E
você, Priscila? – Falo impaciente.
– Vou querer este – ela diz com um sorriso.
O garçom sai e voltamos a nos encarar.
– Então? – falo impaciente.
– Primeiramente, quero que você saiba que não sou sua inimiga.
– Olho para ela descrente. – Não vou negar a decepção e a mágoa
que você me causou, mas eu sei que tive culpa, agi feito uma
menina inexperiente e insegura com você.
A olho admirado, até que enfim ela assumiu suas fraquezas.
– Que bom que você entendeu o que houve.
– Sim, entendi... – Então sua mão segura a minha sobre a mesa.
– Eu amo você, Rui, e estou disposta a esquecer tudo o que houve
entre nós, e recomeçar, do início, sem cobranças e ciúmes
desnecessários, vou aceitá-lo como você é.
Olho para sua mão sobre a minha e confesso, estou surpreso
com o rumo da conversa.
Eu não esperava por isso.
– Priscila, talvez seja tarde para retomarmos esse assunto, eu
gosto muito de você, mas não acho que daremos certo juntos,
somos incompatíveis em muitas coisas – falo com cuidado, tento ser
compreensivo, não magoá-la.
– Nós queremos as mesmas coisas, Rui, somos muito
compatíveis. Somos ambiciosos, queremos poder e dinheiro.
Esquece a história do casamento, dos filhos, eu sei que você não
quer isso, que você não suporta crianças. – Ela sorri. – Eu lembro
bem quando visitamos minha amiga, a Vanessa, você não suportou
ficar cinco minutos ouvindo o choro do bebê!
Relembro esse dia fatídico.
Talvez naquele dia eu tive certeza que não suportava crianças. O
choro daquele bebê quase me enlouqueceu!
Passo minhas mãos pelo meu rosto.
A Priscila tem esse poder sobre mim, somos parecidos em
alguns aspectos, temos algumas coisas em comum, mas é só isso,
eu não a amo.
– Priscila, eu não amo você! – falo com sinceridade.
– Eu não me importo, eu só quero uma chance, para te mostrar
que posso ser melhor do que essa tal de Jackeline. Ela é uma
distração, Rui, mas ela não combina com você, você precisa de uma
mulher a sua altura, alguém que te faça alcançar seus objetivos. O
que uma mulher como aquela pode oferecer a você, sexo, prazer,
diversão? É isso mesmo que você quer? Esse homem não é o
mesmo que conheci há anos atrás!
Porra, que confusão que essa mulher está fazendo em minha
cabeça.
Sim, a Priscila é inteligente, perspicaz, e está usando todo o seu
talento como advogada para dar um nó em minha mente.
O garçom chega com nossos pratos.
– Hum, adoro a comida daqui! – ela diz com um sorriso vencedor
no rosto, talvez percebendo que conseguiu plantar em meu íntimo a
dúvida.
– Eu também gosto! – respondo aéreo.
Confesso que o magnetismo e a sensualidade da Jackeline me
enfeitiçaram desde que a vi pela primeira vez.
Seu poder sobre mim é sexual, sinto uma atração irresistível por
ela, e talvez por esse motivo me perdi dos meus planos de vida, dos
meus sonhos, dos meus objetivos.
Com ela por perto não consigo pensar em mais nada, me sinto
envolvido em uma névoa de sexualidade e prazer que me cegam!
Sim, a Jackeline é uma grande distração, ela me cega, me sinto
embriagado quando estou com ela.
– Então, como estão os negócios? – Seus olhos azuis brilham
como cristais.
Existem mulheres lindas e mulheres inteligentes. A Priscila
consegue ser as duas coisas.
Agora, a vendo novamente em sua realidade, relembro o que me
encantou e fascinou nela.
– Tudo bem, talvez agora um pouco menos pungentes com a
derrocada de seu pai. – Olho para ela, e então ela sorri.
– Eu posso dar um jeito nisso, Rui, é só você querer. – Seus
olhos me encaram. – Meu pai faz tudo o que eu quiser! Ele manda
prender e soltar, Rui!
Confusão e insegurança mexem com minha mente.
Eu não posso me deixar levar tão facilmente pelo que a Priscila
diz, porra!
Caralho, a Priscila é muito mais perigosa do que parece, ela me
deixou confuso, e tirou de mim todas as certezas que eu tinha.
– Vou pensar sobre isso. – Finalmente digo.
– Tenho mais uma coisa para te dizer. – Ela descansa os
talheres sobre a mesa. – Eu não menti a respeito do Fernandez
querer ferrar com sua vida, e foi por isso que aceitei trabalhar na
promotoria. – Olho para ela incrédulo.
– Não inventa, Priscila.
– Você duvida? Eu passei no concurso para juíza também, e
você sabe da minha capacidade! Mas, eu preferi a promotoria, e por
sua causa!
– Sim, você é muito inteligente, arrogante, pretensiosa e mente
bem!
Ela dá uma risada satisfeita.
– Eu fiquei sabendo que o promotor queria te ferrar, Rui, através
de um contato do meu pai. Ele quer fazer isso por causa do último
caso que você o destruiu, o fez passar por incompetente e o
desmoralizou perante sua equipe.
– E daí? – Coloco mais uma garfada em minha boca.
– E daí que ele reabriu seu caso, ninguém sabe, e eu fingi que te
odeio e que quero te foder para ter acesso ao que ele está fazendo.
– Não mente, Priscila! Isso é muito sério! – falo tenso.
– O que você quer que eu descubra para você? Quer uma cópia
do material? Eu arrumo. – Ela sorri e então chego à conclusão que
ela está dizendo a verdade.
– Sim, eu quero! – respondo.
– Ok! Podemos marcar amanhã à noite para eu te mostrar? Só
que prefiro que seja em meu apartamento. – Ela sorri.
Penso na Jackeline, mas a minha sobrevivência é mais
importante, eu preciso da Priscila para me ajudar!
– Tudo bem, às 21h!
Capítulo 64
JACKELINE BARTOLLI
Desligo a ligação do Rui com a nítida impressão que estou
sendo enganada.
O seu discurso bonito de que “relacionamentos são construídos
com confiança” não me convenceu, assim como o jantar com um
cliente.
Sim, sou uma mulher desconfiada, ciumenta, e infelizmente não
confio completamente no Rui.
Sigo para a cozinha para tomar uma água e vejo minha mãe
começando a preparar o jantar.
– Mãe, o Rui não virá hoje! – Tento não transparecer minha
decepção, até ontem falávamos do grude que vivemos um com o
outro.
Até parece uma coisa, quando tudo vai bem, algo acontece para
estragar.
– Ah, é? – Ela me olha surpresa. – O que aconteceu?
Apesar de dividir com minha mãe cada momento da minha vida,
existem momentos que prefiro me calar. Seu excesso de
preocupação comigo, às vezes, me sufoca e me atrapalha.
– Nada, mãe, ele tem seus compromissos profissionais. É só
isso! – Deixo o copo sobre a pia.
– Você ficou chateada, eu vejo pela sua expressão.
Odeio quando minha mãe resolve dar uma de psicóloga.
– Impressão sua, estou cansada de ficar em casa, estou
precisando voltar ao trabalho, é só isso! – Volto para o meu quarto.
Sinto uma vontade louca de ligar para ele, mas não o faço.
Apenas fico remoendo o sentimento ruim em meu peito.
De repente, me vem à lembrança a época quando conheci o Rui,
ele ainda namorava a Priscila e eu tinha pena dela, dizia que sua
cabeça loira tinha mais galhos que uma árvore de Natal.
Não, não serei a próxima.
Tenho muitos defeitos, mas ser omissa e corna não fazem parte
desta lista.
Talvez, meu desejo insano de ser mãe me deixe confusa e
insegura.
Começo a fantasiar um mundo romântico e perfeito, e então
esqueço quem sou, do meu verdadeiro eu.
Quero ser mãe, mas não serei capacho de ninguém.
Talvez ele não me conheça de fato, quero dizer, já mostrei para
ele do que sou capaz.
Pego um livro que estou lendo e me distraio, mas o celular toca,
meu coração dá um salto, mas vejo que é a Carolina.
Atendo rapidamente, a Carolina sempre está por perto quando
preciso dela, ela é meu anjo da guarda.
– Oi, Carol! – Atendo feliz, estou com saudades dela.
– Oi, minha amiga doentinha! – Ela brinca. – Como está o dodói?
Já sarou?
Sua voz sai doce e delicada, parecendo uma criança.
– Sim, estou quase de alta. Só não posso fazer sexo, mas tudo
bem! – falo desanimada.
– E o Doutor Rui Figueiredo está lidando bem com isso?
– Sim, acho que sim! – O desânimo volta a minha voz.
– Está tudo bem, Jack? – ela diz preocupada.
– Claro, só um pouco cansada desse marasmo.
– O pessoal do escritório tem perguntado de você! – Ela sorri. –
Você é uma lenda, amiga! – Ela dá risada.
Sorrio.
– Lenda? Mas, por quê?
– Por que você está mudando nosso chefe, quem esperaria vê-lo
trocando uma recepcionista gostosa por um gay? – Ela dá risada.
– Que bom, pelo menos estou o ajudando a evoluir em algo!
– Você parece desanimada, Jack. O que houve?
– Não é nada, apenas desconfianças – desabafo.
– Como assim? O que aquele babaca fez? – ela diz irritada.
– Nada que eu saiba, apenas fiquei com a pulga atrás da orelha.
– Quer falar sobre isso?
– Não, não se preocupe, estou precisando trabalhar, uma
semana em casa está mexendo com meu raciocínio.
Ela sorri novamente.
– Vamos almoçar quando você voltar ao trabalho, para
fofocarmos um pouco? Sinto falta de você! Esse cara não te deixa
em paz, Jack.
– Você está certa, estou precisando me desligar um pouco do
Rui.
– Isso mesmo. Bom, me deixe ir, vou dançar um pouco com
minhas amigas Drags.
Reviro meus olhos.
A Carolina é bem maluquinha!
– Vai lá, Carol, divirta-se por mim.
– Beijos, querida.
Desligamos a ligação.
Volto a minha leitura, logo o jantar fica pronto, mas não sinto
fome, apenas belisco um pouco e volto ao meu quarto.
Aos poucos o sono chega, e apesar de sentir falta do corpo
quente do Rui, adormeço.
****

Não tive uma noite de sono tranquila. Muitos sonhos confusos e


agitados não me deixaram descansar completamente.
Finalmente os sonhos cessaram e consigo dormir em paz, mas
uma sensação em meus lábios me desperta.
Beijos???
Abro os olhos e me surpreendo ao ver o Rui sobre mim.
– Bom dia, minha deusa! – Ele me olha com um sorriso.
O olho confusa.
– Que horas são? – Me apoio em meus cotovelos.
– Um pouco cedo, mas eu queria te ver antes de ir para o
trabalho. – Ele me encara seriamente. – Sentiu minha falta ontem? –
Um novo beijo em meus lábios. – Eu senti, Jack! Não consigo ficar
por muito tempo longe de você!
Passo meus braços por seu pescoço, o abraço forte e sinto uma
emoção no peito.
Eu o amo tanto!
Mas, preciso voltar ao planeta terra, então pergunto:
– Como foi o jantar? – Volto a olhá-lo, analisando cada reação
sua.
– Foi bom, nada de mais, não se preocupe com isso! – Ele se
levanta, segue até minha escrivaninha, então vejo uma cesta de
café da manhã. – Trouxe isso para você!
Seu sorriso sai tímido, parece sem graça, não sei dizer.
– Querendo me agradar, Rui? Parece até que fez algo de errado!
– O olho de lado, não estou acostumada com tantos mimos.
Sua testa franze, mas ele segue com a cesta até a minha cama.
– Não fiz nada de errado. – Ele me olha com o semblante sério.
– Apenas quero te agradar, porque você é muito especial para mim.
É fofo da parte dele me trazer uma cesta de café da manhã, mas
isso não me compra, valho muito mais do que isso.
– Sou só especial? – O encaro. – Não me contento em ser só
especial, quero mais que isso.
Ele deposita a cesta linda em meu colo.
– O que mais você quer, Jackeline? Você é uma mulher muito
difícil de agradar, sabia? – Seu olhar é intenso, urgente.
– Quero ser amada, respeitada e única, Rui! Nada menos do que
isso, não me contento com pouco, sou egocêntrica no amor,
possessiva e ciumenta, e se você quiser me enganar, não
conseguirá.
Ele se levanta, passa as mãos pelos cabelos, parece nervoso e
então volta a me olhar, de uma forma profunda e urgente.
– Você é tudo isso para mim, Jack! Eu juro. – Nossos olhares se
encontram, e nos olhamos por segundos intermináveis.
Porque ele não fala o que sente por mim?
Não aguento mais isso, eu preciso saber...
– Você me ama, Rui? Eu preciso ouvir isso, para ter certeza que
é isso que você sente por mim.
O percebo hesitante, então ele me olha profundamente e diz:
– Sim! Eu te amo, Jack!
Sinto um misto de felicidade e excitação.
Pela primeira vez ele diz que me ama, talvez de um jeito meio
estranho, num momento meio tenso, mas ele disse.
Coloco a cesta ao meu lado.
– Vem aqui, Rui! – Acaricio o lençol ao meu lado.
Ele caminha vagarosamente em minha direção, parecendo um
felino, seus olhos fitam os meus profundamente, então ele se senta
ao meu lado.
Acaricio seu rosto, estou em um estado de enfeitiçamento.
– Fala de novo que me ama – sussurro com meu rosto próximo
ao seu.
Então, ele me encara e diz:
– Eu amo você, Jackeline!
O olho profundamente, coração batendo depressa, e respiração
descompassada.
– Sou a mulher mais feliz do mundo, sabia? – Enfio meus dedos
entre seus cabelos, e acaricio seus fios sedosos e macios.
Olho para os seus lábios, e encontro seu olhar no meu.
– Me beija, Rui!
Vagarosamente, seus lábios cobrem os meus, fecho meus olhos
e me deixo levar pela sensação incrível que ele me proporciona.
Sua língua macia percorre cada pedacinho da minha boca, ora
sugando, ora mordendo meus lábios, minha língua, me causando
prazer e desejo, tudo de uma vez, e da forma mais plena possível.
Ele me aperta em seus braços, puxo seus cabelos, unimos mais
nossos lábios, uma boca engolindo a outra, a sede de amor nos
enlouquece.
De repente, começamos a tirar um a roupa do outro.
Agora nossos beijos são desesperados, sinto o amortecimento
de seus lábios contra os meus, seus dentes me mordendo, e sua
língua descendo pelo meu pescoço, colo, seios.
Ajudo-o a terminar de tirar sua roupa, então ele repousa seu
corpo sobre o meu.
Sinto sua pele quente contra a minha, ofego de prazer e desejo.
Seu membro roça minha entrada deliciosamente.
– A gente pode transar, Jack? – ele diz ofegante, mordendo e
chupando meu pescoço.
Não consigo raciocinar direito, é muito desejo, é muita vontade
de tê-lo em mim.
E então o sinto me penetrando.
– Rui, a médica disse... – Paro de falar com seus primeiros
movimentos.
Ele volta a beijar meu pescoço.
– O que você disse, Jack? – ele sussurra.
Suas mãos prendem as minhas mãos junto as suas, ele aumenta
seus movimentos contra meu corpo, duros, fortes, profundos.
– Nada! – sussurro entregue aos seus beijos. – Continua.
Fecho meus olhos e me deixo levar pelo nosso amor.
Muitos beijos, gemidos e finalmente o êxtase.
Ficamos abraçados, coração batendo depressa, respiração
ofegante, e uma sensação estranha de paz e felicidade.
Só com ele me sinto assim, como se o mundo parasse, e só
existíssemos nós dois.
– Eu te amo, Rui! – O abraço forte.
– Eu também te amo, Jack!
Procuro por seus olhos, e a gente se olha demoradamente.
– Você vai passar o dia comigo? – Ele se afasta, se apoiando em
seus cotovelos.
– Bem que eu queria! – Ele sorri. – Só vim matar as saudades,
eu preciso ir embora! – Ele acaricia meus cabelos. – Gostou da
surpresa?
– Adorei! – Acaricio seus cabelos. Obrigada pela cesta! Vamos
comer juntos?
– Claro! – Ele se senta na cama. – Se você achou que eu iria
recusar, se deu mal, Jack! – Ele dá risada.
Começo a desfazer o laço, tiro o papel celofane.
– Ela deve ser para duas pessoas, é muito grande. – Pego um
morango e coloco em sua boca.
– Hummm... – Ele faz uma cara maliciosa. – Isso é bem sensual.
– O que é sensual? Comer morangos? – Mordo um, e aproveito
para sensualizar a mordida.
– Isso, você comendo morangos, essa sua boca... – Ele morde
meus lábios. – Oh, Jackeline você não sabe o que faz comigo! – Ele
tira a cesta do meu colo e invade minha boca com a sua. – Estou
com fome de você, Jack... – Ele me beija com gula. – Vamos
terminar com isso logo! – Ele puxa meu corpo por cima do seu e
recomeçamos com nossa loucura de amor e sexo.
****

A gente se abraça e se beija como se fossemos passar o resto


do ano separados.
– Eu te espero amanhã, Jack – ele diz com meu rosto entre suas
mãos, encarando meus olhos. – Não aguento mais aquele cara
atrás de mim, quero minha oncinha de volta.
Sorrio com sua brincadeira.
– Não vejo a hora de trabalhar, não consigo mais passar o dia
com essas três, elas me enlouquecem!
Ele dá risada, beija minha testa, meu nariz, meus lábios e por fim
meu queixo.
– Te adoro, minha deusa!
O abraço forte.
– Eu também! Mais um beijo, Rui.
Ele me beija rapidamente.
– Ok, agora eu preciso ir, Jack, era só pra dar um bom dia, e já
está no horário do almoço, e eu ainda estou aqui. – Ele sorri. – Você
é uma péssima influência para mim, sabia?
– Não sou, não! – Faço uma careta.
– A gente se vê amanhã! – Ele segue para o elevador. – Você se
incomoda se eu sair hoje à noite? Vou encontrar meus amigos!
Eu gostaria de dizer, sim eu me incomodo, mas acho que não
pegaria bem.
– Tudo bem! – falo simplesmente.
– Te prometo que chegarei cedo em casa!
– E como terei certeza?
Ele me olha por alguns minutos, e então diz...
– Eu te ligo quando chegar em casa, e coloco o Bóris para falar
com você!
Dou risada.
– Duvido! – falo com deboche.
– Então, me aguarde! – Ele pisca para mim e então o elevador
se fecha.
Bufo cansada.
Confiança, tudo se resume a isso.
Capítulo 65
RUI FIGUEIREDO
Flashback on
Eu havia esquecido o quanto um jantar pode ser cansativo ao
lado da Priscila.
Ela pode ser uma mulher linda, inteligente, mas não deixa de ser
chata, e tediosa!
Então, sem que eu tenha controle, deixo um bocejo escapar da
minha boca, disfarço, balanço a cabeça e tento mostrar algum
interesse ao caso complicado que ela explica animadamente.
Mas, já cheguei ao meu limite, olho para meu relógio de pulso, e
então digo:
– Desculpe, Priscila, mas eu preciso ir. Amanhã cedo tenho um
julgamento complicado, ainda terei que me preparar.
Ela me olha, parece decepcionada por tê-la cortado no meio da
explicação de um processo de mais de cem páginas.
É estranho imaginar que consegui conviver aproximadamente
um ano e poucos meses com essa mulher. Ela tem compulsão por
trabalho, ela só fala sobre processos, e eu quero esquecer essas
merdas quando saio do escritório!
Então, como se fosse um vício, a Jack vem em meus
pensamentos.
Estou sentindo sua falta.
Que saudades da minha deusa, dos nossos assuntos, do seu
jeito leve, divertido, do seu cheiro, da sua pele macia.
Por alguns minutos e pela décima vez meus pensamentos
viajam até ela.
Me sinto mal pelo que estou fazendo, eu prometi a Jack ser
sincero e honesto, mas não é isso que estou fazendo.
Merda, nunca fui fiel em minha vida, gostaria de voltar a ser o
Rui de antes, mas não consigo!
– Oh, claro! – ela diz constrangida. – Você pode me dar uma
carona? Vim de táxi, meu carro não pode circular hoje. – Ela sorri. –
Rodízio, sabe?
Não engoli muito bem essa desculpa, mas seria desagradável
dizer que não posso lhe dar uma carona.
– Tudo bem, eu te deixo em seu apartamento! – Me levanto e
seguimos em direção à entrada do restaurante.
O caminho até seu prédio segue pesado, uma vez que o papo
entre nós não está fluindo normalmente.
Claramente, a Priscila está querendo forçar a barra comigo, mas
não há mais clima entre nós, o encanto acabou, o tesão, tudo, não
sinto mais nada por ela.
– Entregue, promotora! – Brinco com ela.
– Quer subir? Podemos tomar um vinho juntos! Eu tenho aquele
vinho californiano que você adora. – Ela sorri sedutora, mas não
estou a fim, e nem me sinto seduzido por ela.
– Obrigado, Priscila, mas eu realmente estou cansado.
Ela sorri fraco.
– Obrigada novamente, Rui! O jantar foi maravilhoso! – Ela se
inclina sobre meu banco, e ameaça me beijar, mas logo viro minha
face e ela beija o canto dos meus lábios.
– Por nada, Priscila!
Ela disfarça o mal-estar, e então diz:
– Nos vemos amanhã às 21h, certo? – Ela me olha ansiosa.
– A princípio sim, mas qualquer mudança de planos eu te aviso.
Ela me olha mais uma vez e então deixa o carro, e respiro
aliviado.
****

Finalmente chego em casa, o Bóris vem desanimado me


cumprimentar.
Jogo a bolinha para ele, que a pega, se deita e fica me olhando.
– O que foi? – Me agacho a sua frente e aliso seu pelo. –
Saudades da Jack, é isso? Logo, logo ela virá te ver. – Me levanto. –
Vamos, Bóris, hoje você dorme comigo, afinal eu sou seu dono, é de
mim que você precisa sentir falta.
Olho para ele e entendo seus sentimentos.
– Ela é feiticeira, Bóris, ela deixou nós dois viciados nela! –
Caminhamos pela escada. – Nós, machos, somos fracos, é só
aparecer um belo par de pernas... – Penso um pouco. – De peitos! –
Começo a sentir meu pau dando sinal de vida. – E de bunda, Bóris!
– Me jogo na cama. – Estou com uma saudade do cacete daquela
mulher. – Aliso seu pelo.
Mas, a que horas vou vê-la se tenho que ir na Priscila amanhã?
– Oh, merda, Bóris, eu me enfiei numa encrenca maior que o
mundo – bufo exausto. – Eu preciso saber o que aquele cara quer
fazer contra mim, eu preciso da Priscila do meu lado, Bóris.
Caralho, cacete, porra, merda de passado.
Tiro minha roupa e volto a me deitar.
– Amanhã vejo o que faço. – Fecho os olhos e adormeço.
Flashback off
****

Acordo muito antes do meu horário.


Um maldito sentimento de culpa pulsa no meu peito.
– Essa é a maldição do amor, Bóris, a gente se sente culpado
até de respirar mais forte o perfume de outra mulher. – Me enxugo
rapidamente. – Eu vou até lá, cara, caso contrário não terei paz o
meu dia inteiro.
Me visto e sigo para a porta.
Antes de ir para sua casa, passo em uma floricultura 24 horas e
compro uma cesta de café da manhã para ela.
Tudo bem, talvez eu esteja dando na cara, cesta de café da
manhã e nem ao menos ela faz aniversário, ou é dia dos
namorados, ou outra data qualquer, mas estou precisando fazer
algo para me sentir melhor.
O trânsito está tranquilo, ainda é cedo, então em pouco tempo
chego ao seu apartamento.
Peço para o porteiro ligar no interfone, e logo sou autorizado a
entrar.
O elevador abre em seu andar, a porta está aberta e sua mãe
me espera com uma cara de sono daquelas.
– Bom dia, Dona Amélia! Desculpe o horário.
Ela abana as mãos.
– Está tudo bem. Entre e fique à vontade, preciso me trocar. –
Ela olha para seu corpo, parece constrangida vestida em um roupão
rosa salmão, e segue apressada para seu quarto.
Seguro a cesta em uma das minhas mãos e sigo para o quarto
da Jack, abro e sinto o cheiro de seu perfume, delicado, frutado e
feminino. Ela está dormindo profundamente com seus braços
estendidos atrás da cabeça, uma camisola indecente, uma calcinha
pequena e sensual (é claro que foi um presente meu, não suporto
vê-la comportada).
Deposito sua cesta em uma mesinha de escritório, tiro meu
paletó e sigo até ela.
– Saudades de você, minha deusa! – Beijo suavemente seus
lábios, ela se mexe, mas não acorda.
A olho dormindo por alguns segundos, ela fica linda dormindo,
serena, calma, nem sempre ela é assim, mas adoro o jeito da Jack,
até seus chiliques!
Sorrio novamente, que loucura a minha vida se tornou depois
que conheci essa italiana esquentada.
Beijo novamente seus lábios, eles são tão macios, carnudos, sua
boca é um convite ao pecado, seu corpo inteiro, e é por isso que
estou perdido, fodido e dominado.
É verdade que a Jack é uma grande distração, mas a melhor
delas, e a única que quero ter.
Não é só sexo com a Jack, é muito mais que isso.
– Eu só preciso resolver essa merda, minha deusa, eu prometo
que não vou te trair – falo comigo mesmo, alisando seus cabelos, e
tentando me desculpar de estar a enganando.
Se a Jack descobre isso, não haverá um Rui vivo para contar
história.
– Acorda, minha preguiçosa. – Beijo novamente seus lábios, e
então ela abre seus olhos confusa.
– Bom dia, minha deusa! – Sorrio ao ver sua cara sonolenta, e
talvez mal-humorada, ela tem esse defeito, e só fica bem-humorada
depois de ter um cacete no meio das suas pernas.
– Que horas são? – ela diz com a voz rouca, sensual.
– Um pouco cedo, mas eu queria te ver antes de ir para o
trabalho. Sentiu minha falta ontem? – falo meloso, volto a beijá-la. –
Eu senti, Jack! Não consigo ficar por muito tempo longe de você.
Oh, que merda de sentimento que me domina quando estou com
ela, e sem ela também, estar apaixonado é uma merda, a gente se
transforma, e se torna um grande idiota.
Ela me abraça forte, e isso é bom, é melhor do que palavras.
– Como foi o jantar? – Ela me olha seriamente, parece
desconfiada, e é fato, sinto-me transparente perto da Jack, sem
máscaras, encenações, sou eu em meu estado puro, mas não
posso contar sobre o jantar, ela não irá entender.
– Foi bom, nada demais, não se preocupe com isso. – Preciso
tirar o foco dessa merda de assunto, então sigo até a escrivaninha e
pego a cesta. – Trouxe isso para você!
– Querendo me agradar, Rui? Parece até que fez algo de errado!
– Ela me encara, parece minha mãe quando eu fazia coisas
erradas, o que acontecia a maior parte do tempo.
Caralho de mulher observadora, parece que lê minha mente.
– Não fiz nada de errado. Apenas quero te agradar, porque você
é muito especial para mim – respondo acuado, com um medo da
porra que ela descubra o que ando fazendo.
– Sou só especial? – Ela me encara com aqueles olhos
desconfiados, e chego à conclusão que estou pagando por todos os
meus pecados, me apaixonei pela pior (ou melhor) mulher que
poderia haver. – Não me contento em ser só especial, quero mais
que isso.
Me sento ao seu lado, coloco a cesta em seu colo e tento ter
calma, a Jack é uma mulher esperta demais.
– O que mais você quer, Jackeline? Você é uma mulher muito
difícil de agradar, sabia?
– Quero ser amada, respeitada e única, Rui! Nada menos do que
isso, não me contento com pouco, sou egocêntrica no amor,
possessiva e ciumenta, e se você quiser me enganar, não
conseguirá.
Caralho, será que ela está desconfiando de algo?
Meu coração bate forte, tento me controlar, levanto, passo
minhas mãos pelos meus cabelos, e então digo:
– Você é tudo isso para mim, Jack! Eu juro. – A gente se olha
demoradamente, não sei exatamente o que fazer, ou falar, só quero
que ela confie em mim.
– Você me ama, Rui? Eu preciso ouvir isso, para ter certeza que
é isso que você sente por mim.
Tenho dificuldades de falar sobre sentimentos, já devo ter falado
que amo alguém, mas provavelmente não sentia isso.
Pela Jack é diferente, estou apaixonado por ela, preciso dizer o
que sinto para que ela acredite em mim.
– Sim! Eu te amo, Jack! – As palavras saem com dificuldade,
não fluiu como eu queria, talvez se ela tivesse esperado o momento
certo.
– Vem aqui, Rui! – Seu olhar muda, está mais terno, não existe
mais o vinco entre seus olhos.
Caminho em sua direção e me sento ao seu lado da cama.
– Fala de novo que me ama – ela diz com seus olhos castanhos
vivos e expressivos, sua mão acaricia meu rosto delicadamente.
Ela gosta de me fazer sofrer, de me castigar, e de provar quem
manda nessa relação.
Mas, como um cachorrinho querendo agradar sua dona, repito o
que ela quer, tudo para ver a Jackeline feliz e calma.
– Eu amo você, Jackeline! – Talvez agora as palavras tenham
saído com mais naturalidade, estou tenso pra caralho, me sinto um
cara de 18 anos apaixonado.
Ela me olha profundamente, um sorriso se forma em seus lábios.
– Sou a mulher mais feliz do mundo, sabia?
Ela acaricia meus cabelos, e olho salivando para seus lábios,
mas antes que eu mesmo faça isso ela pede.
– Me beija, Rui!
Foi um beijo cheio de sentimentos, de amor, de saudades.
Em pouco tempo já estamos sem roupa, minha boca explora
cada pedacinho do corpo delicioso da Jack.
É muito tesão o que sinto por ela, mas é mais que isso, caso
contrário já teria acabado.
Antes de penetrá-la me certifico que podemos seguir adiante,
mas está difícil de segurar o tesão que sinto.
– A gente pode transar, Jack? – digo ofegante, ela demora para
responder, geme com meus beijos, se esfrega em minha ereção,
então esqueço tudo e a penetro.
Nossas respirações ofegantes, seus gemidos, os meus gemidos
e então ela diz algo, mas estou para lá de Bagdá, volto a beijar seu
pescoço.
– O que você disse, Jack? – pergunto, ao mesmo tempo que
enterro meu pau dentro dela, ela geme alto, fala alguma coisa, de
novo não entendo, volto a beijá-la, mais gemidos, esqueço de tudo e
de todos, e então gozo.
Ela me abraça forte e diz:
– Eu te amo, Rui!
– Eu também te amo, Jack!
A gente volta a se olhar, e nunca foi tão bom gostar de alguém.
– Você vai passar o dia comigo? – Ela pergunta, me apoio em
meus cotovelos.
– Bem que eu queria. Só vim matar as saudades, eu preciso ir
embora! Gostou da surpresa?
– Adorei! – Seus dedos deslizam pelos meus cabelos, e isso me
dá um prazer e uma preguiça insuportáveis. – Obrigada pela cesta!
Vamos comer juntos?
– Claro! Se você achou que eu iria recusar, se deu mal, Jack. –
Estou me saindo uma verdadeira usina, preciso voltar a me
exercitar, só faço sexo e como, vou ficar gordo.
– Ela deve ser para duas pessoas, é muito grande. – Ela coloca
um morango em minha boca, depois outro em sua, mas não é um
gesto simples e inocente, ela me instiga, me seduz, me excita.
– Hummm, isso é bem sensual! – digo já sentindo a excitação e
o desejo tomando conta de mim.
– O que é sensual? Comer morangos? – Ela faz de novo, ela
quer me provocar, a Jackeline é uma filha da puta sedutora.
– Isso, você comendo morangos, essa sua boca... – Mordo seus
lábios. – Oh, Jackeline você não sabe o que faz comigo! Estou com
fome de você, Jack. – A beijo faminto. – Vamos terminar com isso
logo. – A coloco sobre meu colo e recomeçamos, e isso é viciante,
estou viciado, louco e apaixonado.
****

É começo de noite, estou sozinho no escritório, tiro meus óculos,


arrumo os papéis dentro da gaveta e relaxo minhas costas na
cadeira.
Não estou nem um pouco a fim de ir ao apartamento da Priscila,
eu mais ou menos sei qual a sua intenção. Ela quer me seduzir e
me levar para a cama.
Talvez eu sempre tenha sido muito óbvio, mulherengo e filho da
puta. Mas, algumas coisas mudaram de alguns meses para cá,
talvez seja o efeito Jackeline em minha vida.
Ok, mas é minha carreira que está em jogo, então eu vou até lá,
e quem sabe consigo resolver essa merda logo.
Coloco minhas coisas pessoais em minha pasta, pego as chaves
do carro e meu celular, visto meu terno e saio de minha sala.
Antes de sair, olho para a mesa da Jackeline, está toda
bagunçada, bufo irritado, não vejo a hora da Jack voltar, esse
menino está me deixando louco.
O trânsito até meu apartamento está tranquilo, logo estou
tomando um banho, escolho uma camisa e uma calça jeans, coloco
os sapatos e em alguns minutos estou seguindo para o apartamento
da Priscila.
A sensação ruim volta ao meu peito, é errado o que estou
fazendo, mas é por uma causa justa.
Não vou pensar mais nisso, apenas faça o que tem que ser feito,
Rui, seja frio e objetivo, a Jackeline não precisa saber disso.
Em minutos estou estacionando meu carro em frente ao prédio
da Priscila, fico em silêncio dentro do carro por alguns minutos,
tento me concentrar, então respiro fundo e saio.
A entrada está autorizada, apenas sigo para o elevador, em
segundos estou em frente ao seu apartamento.
Ela mora em um belo prédio, seu pai não economizou no
apartamento, iríamos morar aqui, escolha dela, é lógico. Na
verdade, eu sempre achei que essa merda não daria certo, acho
que andava meio drogado naqueles tempos.
Crio coragem e aperto a campainha, a porta abre e lá está a
versão Priscila vestida para seduzir o Rui.
Ela é bem previsível.
– Você está muito bonita, Priscila! – falo com um sorriso no rosto.
– Que bom que você gostou, pensei em você! – Ela abre a porta
para que eu entre.
Olho para a sala, pequenas velas enfeitam o ambiente, um
cheiro agradável paira no ar.
Ela segue até a cozinha, e retorna com duas taças de vinho
branco.
– E se eu disser que não estou bebendo? – Ela para no meio do
caminho, fica sem graça.
– É sério isso? Você sempre gostou de vinho!
– Estou brincando. – Aceito o vinho e tomo um gole. – Safra
1.980, esse eu conheço.
Ela abre um sorriso.
– É o seu preferido! Sei tudo sobre você, Rui! – Ela se aproxima,
deixando a distância entre nós de centímetros, e mergulha seus
olhos azuis em mim. – Suas comidas prediletas, a marca de roupas
que você usa, o lugar que você mais gosta, suas preferências
sexuais.
Sorrio de sua pretensão.
Por que ela acha que sabe tudo sobre mim? Não sou um cara
tão óbvio, e ela nunca foi uma especialista em mim, ao contrário!
– Então me diga, qual minha comida preferida? – A testo, vamos
ver o que ela sabe sobre mim.
– A mediterrânea, você adora ir ao restaurante Tanit! Acertei?
Sorrio.
– Não, Priscila, adoro comida italiana. – Queria dizer que
também adoro as italianas, na verdade uma italiana, mas não quero
provocá-la.
– Oh! – Ela me olha sem graça. – Mas você gosta da cozinha
mediterrânea.
– Gosto, gosto de comer qualquer coisa. Sou bom de prato,
Priscila. – Penso em dizer do que gosto de comer de fato, mas
também deixo pra lá.
Ela sorri, tenta disfarçar sua mancada.
– Bom, então me deixe dizer qual o seu lugar predileto. – Ela
pensa. – A Grécia, você adorou aquela viagem que fizemos, disse
que o lugar era maravilhoso.
– É verdade, a Grécia é linda, mas eu prefiro minha casa de
campo, adoro olhar para a represa. No final das contas, não sou tão
óbvio assim. – Passo por ela e sigo para sua sala.
– Ok, só estou dando mancadas, mas é que você é muito
fechado, nunca falava muito sobre você – ela diz nervosinha, aliás,
ela sempre foi assim, por qualquer motivo ficava nervosinha, ela é
muito mimada.
– O que mais gosto no sexo, Priscila? – Me sento em seu sofá e
a olho com um sorriso, enquanto bebo o vinho.
Essa vai ser foda, e eu sei que ela não vai acertar.
– Oh, talvez sexo selvagem, dar uns tapas, foder com força,
essas coisas! – Ela não parece muito animada em descrever meu
jeito de fazer sexo, acho que é porque ela nunca gostou.
Mas, ela acertou, e dou uma gargalhada, porque realmente sua
descrição foi engraçada.
– Porra, Priscila, e não é que você acertou!
Ela revira os olhos, parece não gostar muito do meu ataque de
riso, se fosse a Jackeline ela estaria em cima de mim, me enchendo
de beijos, ela adora quando dou risada, e diz que fico lindo rindo.
Oh, merda, a Jackeline, não posso pensar nela agora.
Controlo meu riso, e então volto a minha atenção a ela.
– Ok, Priscila, era só uma brincadeira. Então, vamos lá, estou
louco para saber o que o filho da puta de seu chefe está fazendo.
– Vamos jantar primeiro, eu estou morta de fome! – Ele se senta
sensualmente em seus joelhos, se inclina um pouco sobre mim,
beija meu pescoço. – Quer me foder gostoso, Rui? Eu prometo que
faço tudo que você gosta, do jeito que você gosta! – Sua voz sai
sensual, lânguida.
Oh, caralho, isso não começou bem.
– Priscila, você tem certeza que tem algo para me mostrar, ou só
me chamou até aqui para tentar me seduzir? – Me levanto irritado.
Ela me olha frustrada.
– Claro que tenho! – Ela caminha até mim. – Mas, vamos nos
divertir um pouco. Por que você está tão sério, Rui? – Ela passa seu
braço pelo meu pescoço, beija meu pescoço, meus lábios, mas
seguro seus braços, os tirando do meu pescoço e me afasto.
– Eu não estou a fim, Priscila, não me leve a mal, mas...
– Mas o que? Você agora é fiel? – Ela dá uma risada debochada.
– Me poupe, Rui, aquela piranha não está com essa bola toda.
Eu sei que preciso ter calma com a Priscila, preciso da ajuda
dela, mas, peraí, ela não pode chamar a Jackeline de piranha,
caralho!
– Ela não é uma piranha, e talvez ela esteja com essa bola toda.
– Viro de costas, tento me acalmar. – Vamos comer o que? Não
pretendo me demorar, amanhã tenho que me levantar cedo.
Ela revira os olhos.
– Pensei em pedirmos comida japonesa. O que você acha?
– Por mim, tudo bem! – Coloco minhas mãos na cintura, tento
voltar a minha postura altiva, preciso ser mais frio, estou muito
emocional.
– Ok, vou pedir aqueles combinados que costumávamos pedir! –
Ela segue até sua cozinha.
Bufo cansado, fecho os olhos, e tenho um início de feeling que
há algo de errado nesse encontro.
Depois de alguns minutos, ela volta.
– Já pedi, mas deve demorar uns 40 minutos! – Ela se senta
novamente no sofá, liga o DVD e uma música harmoniosa começa a
tocar. – Relaxa, Rui, você está tão estressado.
– Priscila, mostra logo o que você tem para me mostrar, então
ficarei mais tranquilo e relaxado – falo em pé, no meio da sala.
Novamente ela revira os olhos, segue para seu escritório e volta
rapidamente com um envelope em mãos.
– Só consegui isso, mas é por enquanto. – Ela me entrega o
envelope.
Abro com pressa, e então vejo cópias do meu antigo processo,
nada novo, nada que me dê pistas sobre o que o promotor esteja
fazendo.
Jogo o envelope sobre o sofá com raiva.
– Que porra é essa? Não tem nada aqui!
– Tirei cópia do que encontrei sobre a mesa dele, mas vou
conseguir mais coisas, me dê um tempo. Por enquanto, eu só sei
que ele está revendo seu caso, não sei ao certo o que ele fará
contra você.
– Oh, que estória mais estranha, Priscila! – falo nervoso. – Será
mesmo que existe alguma coisa, ou você só está inventando?
Ela se levanta e vem até a mim, e me encara.
– Eu preciso de mais tempo, para que ele confie em mim.
Esfrego meu rosto, eu sou um grande idiota, ela só está usando
essa merda para se aproximar de mim, não existe nada.
Volto a olhar para ela.
– Ok, quando você descobrir algo você me liga. Agora vou
embora, perdi a fome! – Sigo para a porta, mas ela me segura.
– Ei, espera, vamos jantar, conversamos um pouco... Eu prometo
que eu vou descobrir o que ele está fazendo, mas fique, por favor! –
Ela me olha com súplica.
– Não vai dar, lembrei que tenho uma coisa para resolver hoje. A
gente se fala, manda lembranças para seu pai! – Abro a porta e
saio, a raiva pulsa em meu peito.
Como fui idiota, ela não sabe porra nenhuma, ou simplesmente
não existe porra nenhuma.
Rui seu idiota, essa mulher te enganou direitinho.
Capítulo 66
JACKELINE BARTOLLI
Olho para o relógio sobre a mesinha de apoio do quarto, são
21h40, ele deve estar saindo agora.
Maldito! – Esbravejo sozinha.
Eu até queria ser uma namorada moderna, daquelas que não
liga que seu homem saia para beber com os amigos, coisa e tal,
mas não consigo.
O Rui ainda não conseguiu o certificado de homem fiel, ele está
de experiência, não conheço seus amigos, nem o lugar que eles
costumam ir.
E se for um daqueles puteiros, cujas garotas de programas são
verdadeiras beldades?
Oh, que ciúmes são esses que estou sentindo!
Jogo o livro que estou lendo longe e então meu celular toca.
Corro até minha escrivaninha, e vejo seu nome no display.
Nossa, será que ele já voltou para casa?
Não, impossível.
– Alô!– Atendo rapidamente.
– Oi, minha deusa! O que você está fazendo?
Ouço uma música de fundo, ele parece estar em seu carro.
– Nada, apenas lendo um livro! – respondo curiosa. – Onde você
está?
– No carro! Quer sair comigo?
Sorrio, e apesar de já ter passado dessa fase, continuo sentindo
uma euforia quando ouço sua voz.
– Como assim? E o encontro com seus amigos? – pergunto
surpresa.
– Dei uma passada rápida, mas não estava com muito saco para
ficar lá. Então, já estou chegando em sua casa. Vamos sair para
comer alguma coisa? Não jantei ainda!
Meu sorriso atravessa a porta, não consigo disfarçar a felicidade
em saber que ele não está bebendo e paquerando com seus
amigos.
– Claro, eu já jantei, mas te faço companhia.
– Chego em 20 minutos, fica bem linda para mim! Arruma as
suas coisas, na volta seguimos para o meu apartamento, o Bóris
está com saudades de você. – Ele dá risada.
– Tudo bem! Eu também estou com saudades dele, comprei até
um presentinho, na verdade um brinquedinho bem barulhento, ele
vai adorar! – Sorrio.
– Não, Jack, eu odeio esses brinquedos, O Bóris é compulsivo e
ansioso, ele passa o dia inteiro fazendo barulho... – Sua voz sai
desanimada.
– Relaxa, Rui, ele é criança, precisa se divertir. – Corro para o
meu guarda-roupa. – Posso vestir um vestido vermelho, justo, e que
me deixa bem gostosa? – Sorrio, pego o vestido do cabide e coloco
contra meu corpo.
– Pode! – Sua voz sai esganiçada. – Mas é muito escandaloso?
Oh, o Rui está me saindo bem ciumentinho!
– Ah, Rui, é do jeito que você gosta! Vou colocar, aí você diz o
que acha! – falo animada.
Eu tenho esse vestido há anos, mas me sinto muito constrangida
de vesti-lo, pois minha bunda fica enorme nele, assim como meus
peitos. O modelo é muito sensual, as costas ficam em evidência, e
só comprei porque a louca da Carolina insistiu muito, era para irmos
ao casamento de um conhecido.
Mas hoje, eu quero vesti-lo para o Rui, porque quero ficar muito
linda para ele e gostosa, sensual.
Oh, tem a merda do recesso de sexo.
Mas, nem sangrou mais, e eu preciso namorar ele, muito, ando
numa fome de Rui.
E estou ovulando.
Pego o termômetro, vou medir minha temperatura.
Li na internet, sobre aquele método para engravidar que se
mede a temperatura, é meio confuso de se explicar, mas, eu preciso
transar com o Rui para dar certo.
– Ok, minha delícia, eu estou chegando!
– Tá bom, um beijo!
– Outro.
Desligamos.
Me olho no espelho de corpo inteiro, de costas, de frente, e
então torço meus lábios.
– O que você achou, mãe? Me sinto um pouco escandalosa com
esse vestido.
Minha mãe está sentada em minha cama, observando enquanto
me visto.
– Você está linda, Jack! Aproveite enquanto é jovem e tem esse
corpo maravilhoso, olha para mim agora – ela diz desanimada. –
Mas, aonde vocês vão essa hora? Você não está muito chique filha?
– Mãe, o Rui só me leva a lugares maravilhosos, lindos e
chiques! – falo orgulhosa.
Durante anos frequentei padarias, nada contra elas, mas o
Renato tinha condições de me proporcionar lugares melhores.
Mas isso é passado, e o meu presente é um sonho, nunca achei
que viveria momentos tão incríveis em minha vida.
O interfone toca.
– Mãe, vai lá, eu preciso terminar minha maquiagem. – Sigo
apressada para o banheiro, passo rapidamente a máscara para os
cílios, o batom, borrifo meu perfume.
Termino de colocar meus brincos e a porta do meu quarto abre, e
o meu deus grego entra, e me olha demoradamente.
Ele torce seu nariz, os lábios e então diz:
– Você está gostosa demais, Jack. Não sei se quero dividir essa
visão com mais alguém. – Ele segue até mim. – Acho que ficarei
enciumado. – Suas mãos se espalmam em meu traseiro, o
apertando com vontade, e unindo nossos corpos de uma forma
excitante.
Sinto um cheiro doce, diferente, mas logo a proximidade de seus
lábios meus, do se rosto, e da sua pele me inebriam, o cheiro
amadeirado de seu perfume, e do creme de barbear se misturam,
me causando um bem-estar.
– Minha mulher gostosa. – Ele invade minha boca com sua
língua gulosa, me sugando e se enroscando na minha de um jeito
sensual e erótico.
Adoro o seu cheiro, o seu gosto, esse jeito que ele me beija, me
pega, me fode.
Oh, céus, que fogo que sinto quando esse homem me beija!
– Hummm, Rui, que delícia! – Sinto seu dedo invadindo minha
intimidade, uma leve pressão, afasto meus lábios dos seus, gemo
de prazer, desço meus lábios para seu pescoço, beijo sua pele, e...
Aquele cheiro adocicado invade minhas narinas, então desperto
do meu enfeitiçamento, desço um pouco mais meu nariz, cheiro sua
camisa, e aquele cheiro está em todo lugar.
Minha respiração acelera, abro meus olhos e o empurro
bruscamente.
– Que perfume é esse que está em todo lugar, na sua camisa, no
seu pescoço? – Minha voz sai descontrolada, estou espumando de
raiva.
Ele me olha confuso.
– Não sei! – ele diz confuso.
Puxo sua camisa com força, e o faço cheirar.
– Esse perfume, Rui!!! – Estou descontrolada, gritando.
– Calma, Jack! – Ele tenta me acalmar, mas eu surto, devo ter
gritado muito alto, porque a porta abre e três senhoras me olham
assustadas.
– Não foi nada, Dona Amélia, me deixe conversar com a Jack – ele
diz constrangido.
Meu peito sobe e desce desesperado, sinto-me como um touro
enlouquecido.
– Tudo bem! – Minha mãe me olha assustada. – Estarei aqui ao
lado. – Ela tira as velhinhas assustadas do meu quarto e fecha a
porta.
– Com quem você estava, Rui? Não me engane, seu filho da
puta! – Esbravejo descontrolada.
– Eu não estava com ninguém. – Ele se aproxima de mim, mas o
empurro nervosa.
– Não me toca, Rui! – Minha voz sai embargada.
– Jack, eu estive em um bar, havia homens e mulheres lá, eu
conhecia umas garotas – ele fala nervoso, sua testa franzida, olhos
estreitos. – Elas me abraçaram quando cheguei, e na saída, o
perfume pegou em minha roupa, foi isso, porra!
Solto o ar com força, pelas minhas narinas.
Confusão e insegurança.
Será que é verdade?
– Você está todo impregnado desse perfume de puta! – Berro
novamente, um ciúme louco se apoderou de mim.
– Eu não estive com ninguém, caralho! – Ele passa as mãos
pelos cabelos nervosamente. – Jack, se eu estivesse te traindo eu
estaria aqui agora? – Ele me olha indignado. – Pensa com clareza,
Jack! Se fosse para traí-la eu estaria com a garota, eu tinha dito que
não viria hoje aqui, mas não, eu estou aqui, Jack!
Me viro de costas transtornada.
Eu preciso me acalmar! Penso em silêncio.
Mas, sua voz embriaga meus sentidos, assim como seus beijos
nos meus cabelos, aos poucos ele une seu corpo contra o meu,
passa seus braços ao redor do meu corpo e me aperta mais contra
o seu peito.
– Eu te amo, Jack! Não troco você por ninguém – ele diz no meu
ouvido, aos poucos ele vira meu corpo em sua direção. – Você
acredita em mim? – Seus olhos estão cinza como uma tempestade.
Respiro profundamente.
Não há por que ele mentir para mim, ele não precisava estar
aqui, eu não o esperava, então preciso acreditar no que ele diz.
– Acredito! – falo com a voz fraca.
Ele volta a me abraçar.
– Oh, Jack, como você é brava! Meu Deus!
Sorrio contra seu peito e novamente aquele cheiro vem ao meu
nariz.
Me afasto de seu corpo e sigo decidida para o banheiro.
– Jack, o que houve agora? Caralho! – ele diz cansado.
Volto com o frasco do meu perfume e começo a borrifar em toda
sua camisa.
– Jack, eu vou morrer sufocado com esse excesso de perfume...
– Ele tosse, espirra e vira o rosto diante do meu desatino.
– O único perfume de mulher que você pode exalar é o meu, Rui!
– Borrifo em seu pescoço.
– Chega, Jack! – Ele se afasta de mim. – Porra, estou enjoado
agora. – Ele faz uma careta.
– Pronto, agora estou satisfeita, e nunca mais quero sentir
perfume de outra mulher em você!
Ele gira os olhos, olha para o teto e bufa.
– Ok, Jackeline. É você quem manda, não é mesmo?
– Isso, sou eu quem mando, e você é só meu! – Seguro o
colarinho de sua camisa, e falo nervosa, olhando em seus olhos.
Ele dá um sorriso cafajeste.
– Eu gosto de te ver assim, minha italiana! – Ele puxa minha
cintura com força. – Quer que eu te fodo? Assim seu cheiro vai ficar
em mim, como seu perfume!
Seguro seus cabelos com força, junto nossos rostos, a gente se
olha profundamente, meus lábios roçam os seus sensualmente.
– Quero, Rui! – sussurro contra seus lábios. – Me fode, meu
homem, só meu, de mais ninguém – falo e o beijo possessiva.
Ele me pega em seu colo, coloca sobre minha escrivaninha,
desce suas calças e me penetra.
– Assim, Jack? – Uma estocada forte e profunda.
– Isso! – Ofego de prazer. – Continua.
De novo, gemo alto.
– Geme, minha gostosa! – ele diz insano de desejo.
– Ahhh! – Gemo alto. – Ohhh, Rui... eu vou... hummm, gozar!!!
Então, ele segura meus cabelos entre suas mãos, os puxa com
vontade, beija, morde e chupa meu pescoço e de repente, urra,
geme e por fim me abraça, e fica alguns minutos ofegante, como se
fosse morrer.
– Caralho, minha deusa, acho que dessa vez elas ouviram tudo!
– Ele me olha com um sorriso lindo.
– Será? – Deposito beijos pelo seu rosto, pescoço. Foi tão bom
que nem lembrei desse detalhe.
– Vamos terminar isso lá em casa! – ele diz manhoso, de olhos
fechados, entregue aos meus beijos.
– Tudo bem! – Seguro seu rosto entre minhas mãos, e o olho
profundamente. – Rui, você jura para mim, foi isso mesmo?
– Juro, acredita em mim! – Ele me abraça. – Eu te amo,
Jackeline! Agora é pra valer!
Sorrio do seu jeito.
– Antes não era?
Ele se afasta, arruma sua roupa.
– Mais ou menos! – ele diz divertido. – Vamos sair um pouco,
depois iremos para o meu apartamento.
– Tudo bem. – Sigo para o banheiro, termino de me arrumar e
saio, e o vejo deitado em minha cama, pensativo. – Já estou pronta,
podemos ir!
Ele dá um pulo e sorri.
– Claro, vou te levar numa boate hoje, você irá gostar! – Ele
pega em minha mão e abre a porta.
Seguimos até a sala e então todas olham em nossa direção.
– Graças a Deus vocês se acertaram! – Vovó diz e se levanta. –
Eu e seu avô tínhamos brigas feias, e tudo se resolvia quando eu
pegava o rolo de macarrão.
O Rui coloca sua mão sobre a boca, esconde um riso.
– Tá bom, vovó! – Beijo sua mão. – Nós já vamos.
– Seu avô era um belo de um sem vergonha, minha neta. Ele
andava atrás das quengas. – Reviro meus olhos.
– Eu sei, vovó. A senhora já me contou das escapulidas do vovô,
vamos esquecer isso! – Tento me livrar dela, mas ela me segura
pela mão.
– Você, mocinho... – Ela olha para o Rui. – Faça o favor de andar
na linha. O rolo de macarrão ainda está vivo, não me custa nada
usá-lo em você!
Sinto um apertão em minha mão, é o Rui com pressa e medo da
vovó Maria.
– Fique tranquila, Dona Maria, e guarde o rolo de macarrão, não
será necessário usá-lo. – Ele sorri para vovó.
– Seus dentes são lindos, rapaz! Ande na linha se não quiser
perdê-los! – Vovó dá seu último recado e volta para o sofá. – Vão
com Jesus, Nosso Senhor, e vê se casem logo, não aguento mais
essa fornicação aqui nesse apartamento!
Olho para o Rui, ele arregala os olhos, diz um boa noite e
saímos de cabeça baixa.
O elevador fecha e ele diz com um sorriso:
– Formicação foi foda, Jack! A gente faz amorzinho!
Dou risada.
– Oh, Rui, até disso você tira barato?
– A vovó não está muito feliz com nossa formicação, Jack – ele
diz e cai numa risada contagiante.
Capítulo 67
PRISCILA ALBUQUERQUE
Flashback on
Folheio as páginas de um antigo álbum de família. As fotos são
da época em que eu tinha aproximadamente 17 anos.
Era aniversário de meu pai, nossa mansão estava cheia de seus
amigos importantes.
O pai do Rui era um deles, visto que os dois são velhos amigos.
Aliás, na maioria dos nossos eventos eu esperava ansiosa a
chegada da família Figueiredo, na verdade, o único que me
interessava era o Rui.
Passo meus dedos pelo homem da minha vida, o Rui. Na época
ele devia ter 30 anos, já havia se tornado um advogado de sucesso,
e nem me notava.
Mas eu já alimentava naquela época sonhos de um dia me casar
com ele. Me lembro que naquele dia tentei ser notada dando um
banho de vinho tinto nele, mas só consegui levar uma bronca do
meu pai, e um olhar assassino de sua então namorada.
Ele sempre estava acompanhado de alguma piranha, cada
evento era uma, e cada uma mais linda que a outra.
Olho para a loira biscate ao seu lado, e unho a foto com raiva.
Penso na tal Jackeline e no ódio assassino que sinto por ela.
Em nosso último encontro tive vontade de matá-la, e apesar de
tê-la unhado inteira, a desgraçada acabou com meu cabelo, ela tirou
tufos inteiros, e até pouco tempo eu ainda sentia dores em meu
couro cabeludo.
A porta do meu quarto abre e vejo minha mãe entrar.
Fecho o álbum rapidamente e disfarço pegando o celular.
– Você não vai sair hoje, querida?
– Não, não estou com vontade, vou aproveitar para ler um caso
que estamos analisando na promotoria.
– Você não está saindo com ninguém, Priscila? Achei que você
estivesse saindo com aquele promotor bonitão!
– Quem? – pergunto sem interesse.
– O Doutor Fernandez! – Ela sorri maliciosa.
– Oh, mãe, o cara é barrigudo, careca e tem mau hálito! – Reviro
meus olhos.
– Eu sei, mas é bom ter bons “amigos”, querida! – Ela acaricia
meus cabelos. – Não precisa transar com ele, apenas o seduza,
assim quando você menos esperar, ela estará apaixonado por você!
A olho atônita.
– Ele é casado, mãe! – Me levanto de sobressalto.
– Seu pai também era, e daí? Ele se separou... – ela diz com
naturalidade.
– Talvez por esse motivo nenhum dos meus meio irmãos
queiram contato comigo, não é mesmo? Sou filha da piranha da
secretária que trepava com o chefe! – bufo com raiva. – Me poupe
dos seus conselhos, mãe.
– É por isso que você perdeu o Rui, Priscila, e para a secretária
piranha! – Ela sorri debochada. – Enquanto você fizer pose de
princesa e puritana, esse cara não vai te querer, porque a secretária
é melhor que você e ela conseguiu conquistá-lo!
– Cala a boca, mãe!!! Saia do meu quarto!!! – As lágrimas
escorrem pelo meu rosto.
– Priscila, eu quero abrir seus olhos, me escute, seduza o Rui, o
leve para a cama, arrume um jeito de tirar fotos da cena, e envie a
essa mulher, foi assim que acabei com o casamento do seu pai. Ele
ficou bravo comigo durante um tempo, mas depois esqueceu – ela
diz sem nenhum pingo de arrependimento. – A tire do seu caminho
primeiro, ele está apaixonado por ela.
A interrompo nervosa.
– Ele não está apaixonado por ela!
– Está, eu sou uma mulher vivida e sei o que estou falando. Ele
não vai desistir dela, a faça desistir dele! – Ela se levanta e sai do
meu antigo quarto, na casa dos meus pais.
Ainda tenho o costume de dormir aqui, principalmente quando
estou me sentindo solitária.
Será que deveria seguir o conselho da minha mãe?
Ok, não tenho nada a perder, mas primeiramente preciso
convencê-lo a sair comigo.
– Oh, acho que não dará certo! – Penso um pouco. – Meu pai,
eu preciso de sua ajuda.
****

Não foi fácil convencer meu pai a convidar o Rui para um jantar.
Bufo com raiva.
– Pai, use como argumento a questão da parceria, vamos
pressionar ele cancelando, afinal você só fechou isso por minha
causa!
– Priscila, que confusão você arrumou em minha vida por causa
desse rapaz. Tente focar seus pensamentos agora em seu novo
trabalho, você queria tanto ser promotora, se sinta feliz com isso! –
Meu pai diz aborrecido.
Não aguento mais ouvi-lo me criticar, isso é muito desgastante
para mim.
– Eu queria ter passado no concurso para juíza, mas o senhor
não me ajudou com isso! – digo magoada.
– Não dá para comprar todo mundo, Priscila! Desta vez não deu
certo, tentaremos novamente, quem sabe não temos mais chances
da próxima vez.
– Papai, eu não vivo sem o Rui! Por favor, me ajude! – Imploro. –
Eu preciso do senhor, ele não aceitará um convite meu sem um
motivo.
– Ok. Mas, essa é a última vez. Por favor, me deixe fora dessa
sua história com o Rui, estou cansado disso. Use suas armas para
conquistá-lo, e não me envolva mais nessa confusão. Estamos
combinados?
– Sim, claro – respondo acuada. – Já tenho um plano em mente,
deixe comigo, papai. – Sorrio feliz.
****

Semanas depois.
O procurador Fernandez não é o tipo de homem que me atrai.
Beirando os 40 anos, ele é o tipo de homem que possui um
corpo flácido e desengonçado, resultado de horas debruçado sobre
livros, comendo guloseimas e sanduíches, e nenhuma atividade
física.
Desde que cheguei à promotoria percebi seus olhares
indiscretos sobre mim.
Tenho consciência da minha beleza e inteligência, e do poder de
sedução sobre os homens.
Nunca quis seguir os passos da minha mãe, quero me casar por
amor, e não por dinheiro.
Tudo bem que o Rui é um homem rico, mas eu sou apaixonada
por ele desde que ele era apenas um advogado mediano.
Me sento em frente a mesa do promotor, sorrio sensualmente, e
sem querer faço exatamente o que minha mãe sugeriu, começo
meu plano de seduzi-lo.
– Você tem um minuto, doutor?
Ele para o que está fazendo, e me olha com um sorriso.
– Claro, Priscila! – Ele cruza seus braços na mesa. – E então,
como estão as coisas? Já está mais familiarizada com a rotina do
departamento?
– Sim, aos poucos estou me habituando! – Sorrio para ele. –
Queria te pedir uma coisa!
– Fique à vontade. – Mais um sorriso, ele está louco por mim.
– Gostaria de dar uma olhada em um antigo caso, já arquivado e
tudo mais, é só por curiosidade.
– Não vejo problema. Qual o réu ou os réus?
– Oh... – Fico temerosa de dizer, mas então crio coragem e digo.
– Um advogado, Rui Figueiredo.
– Seu ex-noivo. É dele que estamos falando? – Uma ruga
aparece entre seus olhos.
– Sim, ele mesmo, tenho curiosidade de conhecer este caso, foi
meu pai que o absolveu, então, fiquei interessada.
– Certo. – Ele muda sua expressão. – Eu e seu pai não tínhamos
a mesma opinião sobre esse caso, você sabe disso!
– Sei, claro que sei – respondo acuada. – Mas, eu não estou
aqui para esclarecer essa situação, quero apenas conhecer o
processo que quase colocou aquele filho da puta nas grades! –
Sorrio tentando obter sua confiança.
– Você tem raiva dele, Priscila? – Ele pergunta com certa
satisfação na voz.
– Sim, ele praticamente me largou no altar! – Sorrio fraco.
– Você deve saber que não gosto dele. Já tivemos muitos
embates no tribunal, ele ganhou, não por sua competência, mas
porque é um maldito de um pilantra.
Vejo a raiva em seus olhos.
Apesar de tudo, sei que o Rui é honesto e competente, e o
promotor odeia ele por isso.
– Então, você se incomoda se eu der uma olhada no processo?
– Faço uma expressão angelical.
– Tudo bem, fique à vontade. – Me levanto, mas ele me
interrompe. – Aceita almoçar hoje em minha companhia?
Sorrio.
– Claro, pensei que nunca seria convidada para almoçar com o
chefe!
****

Quando tive a ideia de jantar com o Rui e meu pai, não havia em
minha mente a possibilidade daquela piranha aparecer com o Rui.
Mas, por incrível que pareça, ele teve essa audácia.
Eu também não havia planejado nada com meu pai sobre o que
iríamos falar, com exceção de sua decisão a respeito do fim da
parceria entre eles, o que há tempos meu pai queria, uma vez que a
mesma só aconteceu por minha insistência.
Na época, eu achava ingenuamente que, ao assinar um contrato
com meu pai, ele não teria coragem de me deixar.
Ledo engano.
Acontece que ao ver aquela mulher acompanhando o Rui, e
fazendo o papel que era meu por direito, surtei, e acabei contando
uma história fantasiosa sobre a reabertura do antigo processo de
lavagem de dinheiro que o Rui participou como advogado.
Resumindo, o saldo final do jantar foi desastroso. Além de ver o
Rui se voltar contra mim, acabei levando um banho de vinho e um
tapa na cara daquela desqualificada.
O sangue subiu e só não acabei com a raça daquela piranha,
porque meu pai e o Rui interviram.
Mas, naquele dia decidi que não deixaria as coisas como
estavam. Não vou perder o Rui para uma secretária de quinta
categoria.
Algum tempo depois, tomei coragem e liguei novamente para o
Rui, usei o mesmo discurso sobre a reabertura do processo da
promotoria contra ele, e como um patinho, ele caiu em minha
história.
Marcamos um jantar, tentei seduzi-lo, mas não obtive êxito.
Ele realmente parece enfeitiçado pela piranha.
Uma nova tentativa, agora em meu apartamento.
Como não havia um processo para mostrar, tirei apenas cópia do
antigo processo.
Coloquei uma câmera escondida em meu quarto, e assim o
plano sugerido pela minha mãe entrava em ação.
Mas, mais uma vez fui surpreendida por um surto de homem fiel
vindo justamente do cara mais mulherengo que já conheci.
Eu não estou em meu melhor momento, muito menos com sorte.
Frustração e ódio tomaram conta de mim.
Se o Rui acha que pode me humilhar e sair ileso com isso, ele
está enganado.
Espere para ver do que sou capaz, Rui!
Falo comigo mesma, após acabar com uma garrafa de vinho
sozinha, e espatifar na parede a taça de vinho que ele tomava.
Flashback off
Capítulo 68
JACKELINE BARTOLLI
Olugar que o Rui escolheu para me levar é simplesmente
deslumbrante.
Quando ele me disse que me levaria a uma boate, logo pensei
que seria um daqueles inferninhos que costumava ir com a Carol.
Mas, eu realmente não conheço nada nessa cidade, e a Carol só
frequenta inferninhos!
O lugar é sofisticado, lindo e bem frequentado, dividido em vários
ambientes, separados por gêneros de música, havendo também um
piano, bar e um restaurante.
– Vamos primeiro dar uma passeada para você conhecer a
boate. – O Rui diz animado, enquanto me leva a cada um dos
ambientes.
– Como você conhece aqui? Já veio com alguém? – Minha
pergunta sai meio atravessada, talvez preocupada em saber que ele
frequentava o lugar com a insuportável de sua ex-namorada vaca.
– É de um amigo e cliente, um milionário que não tem onde
enfiar seu dinheiro, então investe em casas noturnas.
Sorrio aliviada.
– É muito bonito, de bom gosto, eu achava que seria... tipo um
inferninho! – falo despreocupada.
– Eu não te levaria a um inferninho! – Ele desvia o olhar, mas
volta a me olhar. – Você costumava ir a esses lugares?
Penso um pouco.
– Já fui com a Carolina, mas não gosto. Fui apenas por falta de
opção! – Sorrio, mas ele não sorri.
– Certo! – ele diz simplesmente e continua a caminhar sob o
barulho de música alta, luzes piscantes, e gente bonita e alegre
circulando pelo local. – Vamos tomar uma bebida antes de jantar? –
Finalmente ele me olha.
– Sim, eu quero. Já acabaram os remédios que eu estava
tomando, estou liberada!
Ele dá um sorriso, mostrando aquela boca linda, não resisto,
seguro seu rosto e o beijo.
Separo nossos lábios e digo o que explode em meu coração.
– Eu te amo, Rui!
Ele para de andar, coloca uma de suas mãos em meu pescoço,
acaricia, me olha profundamente, e diz a centímetros de distância
de meus lábios.
– Eu também, minha deusa! Estou enfeitiçado por você! – Ele
olha para os meus lábios, roça seus lábios nos meus, abro meus
lábios para ele me beijar, mas ele me tortura apenas roçando seus
lábios, me atiçando, me colocando fogo.
Não aguento, estou salivando, então seguro sua nuca, selando
nossos lábios e o faço me beijar na marra.
Ele separa seus lábios dos meus sorrindo.
– Que pressa, Jack! Me deixe fazer o meu joguinho de sedução!
Seguro os cabelos de sua nuca, os puxos e encaro seus olhos
sedutores.
– Não gosto desse joguinho, você já me seduziu, conquistou,
não fique me torturando.
Ele me aperta em seus braços, juntando nossos corpos, roçando
seu membro em mim.
– A noite só está começando, Jack, deixe de ser apressada!
Relaxo, acho que estou tensa com tudo que aconteceu em meu
quarto.
– Tudo bem, Rui Figueiredo. Tome as rédeas de nossa noite! –
Brinco.
– Ok, vamos beber alguma coisa, para dar uma animada! – ele
diz divertido.
Depois da terceira taça de vinho, já me sinto leve e desinibida,
então não foi difícil me soltar nos braços do homem dos meus
sonhos, e dançar e rodopiar até ficar tonta.
– Rui, se você continuar fazendo isso, eu vou vomitar em sua
camisa linda – falo e dou risada.
Ele sorri, encaixa novamente meu corpo ao seu, e me beija, e
acaricia minhas costas.
– O que você acha de jantarmos agora? – ele diz em meu
ouvido, beijando e mordendo minha aréola.
– Simmm... – Gemo, com os pelos do corpo todos eriçados, e
uma excitação no meio das pernas que me enlouquece. – Vamos!
Abro meus olhos e o encontro me encarando.
– Você é a mulher mais linda que já conheci, Jack! – Ele beija
meu pescoço. – E a mais gostosa... – Mais um beijo molhado,
seguido de uma leve mordida.
Um gemido escapa de meus lábios.
– Ohhh, Rui, pare com isso, eu não estou aguentando mais. –
Mais uma onda de arrepios pelo corpo, um gelado no estômago, e
uma umidade incontrolável no meio das pernas.
– Amo você, Jack! – Abro novamente meus olhos, e encontro os
seus, e esse momento é mágico.
Se um dia reclamei que ele não falava sobre seus sentimentos,
parece que agora ele descambou a falar, talvez seja o efeito do
vinho, só sei que ele está especialmente romântico hoje.
– Eu adoro quando você fala que me ama. – Envolvo mais seu
pescoço com meus braços, trago sua cabeça para junto da minha e
o beijo com vontade, sem inibições, apenas paixão, amor, e uma
sensação maravilhosa de felicidade, algo que nunca experimentei
antes.
– Vamos jantar, então podemos ir embora, e nos amar o resto da
noite – ele diz com seus olhos em chamas, intensos, urgentes.
– Vamos! – falo com meu coração acelerado, uma moleza nas
pernas, e uma vontade insuportável de tê-lo em mim.
Enquanto ele janta, belisco um petisco delicioso feito com nada
menos do que jiló assado em tirinhas finas e crocantes, tomo vinho,
e falo besteiras para ele rir.
Já disse que adoro ver ele rir, porque seu sorriso é lindo, do tipo
que ilumina, enche meu coração de amor, e me faz gostar dele cada
vez mais.
Ele segura sua barriga, rindo descontroladamente.
– Chega, Jack! Eu não aguento mais rir, vou ter uma indigestão!
– ele diz com os olhos cheios de lágrimas.
Eu adoro contar para o Rui minhas histórias de quando era
terapeuta, porque ele simplesmente ri de tudo, acha tudo
engraçado, eu nem acho tão engraçado, mas ele acha.
É fato, ele tem um excelente senso de humor.
Então, como estava dizendo, eu apenas contei o caso de um
paciente com problemas de relacionamento com mulheres,
basicamente.
Está certo que o cara era hilário, tinha um tique nervoso
enervante, daqueles que pisca e puxa a cabeça, gaguejava, e tinha
uma mania de limpar os ouvidos e depois cheirar os dedos.
Oh, isso era nojento, o cara era nojento, parecia meio seboso, do
tipo que não toma banho frequentemente. Foi constrangedor dizer
para ele que a primeira coisa a se fazer era tomar banho e ficar
cheirosinho. Não dá para pegar mulher cheirando a cecê e a sebo
sujo.
Enfim, esse era apenas um dos pacientes muito estranhos que
“tentei” ajudar, se eu quisesse daria para escrever um livro.
– Ok, a sessão piadas está encerrada por hoje! – falo com ironia.
– Você é uma ótima companhia, sabia? – Ele me olha com um
olhar diferente.
– Você também é, adoro ficar com você! Costumo enjoar das
pessoas, sou um pouco chata, mas não de você, nunca enjoo de
você! – falo apaixonada.
Me esqueci de dizer, também sou do tipo que não aguenta ficar
por muito tempo com uma mesma pessoa, me canso fácil, talvez por
isso não tenho tantas amigas, não gosto de grude, de “nhenhenhe”.
Oh, eu tenho consciência, sou bem chata e esquisita, talvez por
isso tenha seguido para a Psicologia, todo psicólogo tem um pouco
de louco.
– Confesso que já percebi que, às vezes, você é chata. – Ele dá
risada, e leva um guardanapo na cara, e ele continua. – ...irritante,
mal-humorada...
Faço uma cara feia.
– Ah, é? Você acha tudo isso de mim?– Finjo estar magoada, de
fato, sou tudo isso mesmo.
– É, mas você tem sorte, sou louco por você de qualquer jeito!
Não consigo não sorrir, e me sentir plena, esse é o tipo de
relacionamento que sonhei em minha vida, amor, admiração e
“farpas” (isso soou estranho).
– Eu também sou louca por você! Talvez um pouco mais louca
do que deveria, mas eu sou!
Ele sorri novamente, segura minha mão e a beija
demoradamente, fazendo as borboletinhas voarem freneticamente
em meu estômago.
– Vamos embora derrubar aquele prédio? – ele diz com seu
olhar de predador de mulheres.
– Oh, a noite promete, Doutor Rui! Hoje você terá que trabalhar
muito! – Brinco com ele.
Ele pega novamente em minha mão e me levanta, me coloca na
frente do seu corpo e saímos do restaurante.
****

Eu sempre fui muito contida em meu relacionamento com o


Renato, talvez porque ele era gelado como um freezer, nunca houve
paixão por parte dele, mas acho que isso é dele, ele não é dado a
explosões de sentimentos.
Eu costumava dizer que o Renato não sentia medo, frio, calor,
alegria ou tristeza, suas expressões e reações eram sempre as
mesmas, impassível, como se ele tivesse aplicado muitas doses de
botox no rosto, e assim as expressões sumiram.
Em contrapartida, o Rui é todo sentimentos, suas emoções estão
à flor da pele. Talvez como advogado ele seja bem contido, mas não
comigo.
Amor, paixão e volúpia.
A chegada a sua casa aconteceu em meio a uma correria, ele
me arrastando pelas escadas do apartamento, não me dando tempo
de dizer um oizinho para o coitadinho do Bóris.
A porta do quarto é fechada com um baque, e mal tenho tempo
de respirar, ele enrosca seus dedos entre meus cabelos puxando,
engolindo meus lábios, subindo meu vestido e mergulhando sua
mão em meu sexo, faminto, e insano de desejo.
Ele tenta tirar meu vestido, mas o cordão que o prende as costas
é confuso, então ele me deixa com metade do vestido na cintura,
mergulha seus lábios em meus mamilos, suga-os, morde, guloso,
intenso e cheio de paixão.
Ainda em pé vejo minha calcinha cair no chão, ele se agacha a
minha frente e engole minha buceta com sua língua deliciosa, me
levando até as nuvens.
– Ohhh... Ruiii... – falo em soquinhos.
Puxo seus cabelos.
– Eu vou gozar, Rui... Ohhh... – Gemo descontrolada.
Ele ainda está de roupa, então o vejo tirar a calça rapidamente.
– Vira, gostosa! – ele diz apressado, me colocando de quatro
sobre sua cama e enterrando seu membro dentro de mim de uma
vez, grito de surpresa e excitação.
– Isso, grita, Jack! Grita bem alto! – Ele segura meus cabelos em
um rabo de cavalo, e puxa-os com vontade, em seguida sinto um
tapa forte em meu traseiro, grito novamente. – Quer mais, Jack? –
ele diz insano, me fodendo com força.
– Quero, Rui! Me mata de prazer, meu homem – sussurro, gemo
e grito de novo.
E mais um tapa, uma estocada, e uma sequência louca de tapas
e penetrações vigorosas, ele sobe sobre meu corpo, insano e louco
de paixão, meus braços quase não aguentam a loucura do sexo e
então ele explode de prazer, gemendo feito um louco.
Pai eterno, o que foi isso?
– Oh, puta que pariu! – ele diz. – Porra, que delícia, minha deusa
– ele diz ainda sobre mim, respirando ruidosamente.
– Foi demais, meu homem! – Olho sobre meu ombro e sorrio, e o
vejo sorrindo. – Você é demais, Rui!
Mais um sorriso orgulhoso, beijos em meu pescoço, em meus
ombros, e por fim, uma mordida, ele adora me morder.
– Eu te amo, Jack! – ele diz em meu ouvido, e nunca foi tão bom
ouvir isso, e vindo dele, o cara mais improvável, que achei que era
gelado e sem sentimentos.
Meus olhos enchem de lágrimas, eu realmente não esperava
que isso pudesse acontecer.
– Eu também, Rui, muito, demais...
Ele me vira sobre a cama, nos fazendo deitar um ao lado do
outro, me abraça, me beija e ficamos em um silêncio maravilhoso,
apenas sensações, emoções e uma névoa de amor pairando no ar.
Estar amando, acho que não existe nada melhor no mundo. –
Penso antes de adormecer.
Adormecemos nessa mesma posição, e nem me dei conta que
dormi com o vestido enrolado em minha cintura.
****
Semanas depois.
Dia após dia, construímos nossa relação que não é feita só de
sexo, mas não vou negar, tem muito sexo.
Passados alguns meses juntos, eu sabia que teria que rever
seus pais, o Rui me disse que precisava ir visitá-los, e que eu iria
com ele novamente.
– Jack, eles sabem que agora temos um relacionamento, tipo...
sério! – Ele sorri com sua cara de cafajeste.
– Tipo sério, quer dizer sério, eu espero! – Dou um olhar
assassino para ele.
– Brincadeirinha! – Ele me agarra pela cintura, sentado em sua
cadeira. – Vou assumir Jackeline Bartolli para minha família, como a
mulher da minha vida.
Gargalho eletrizada, ele gosta de me deixar boba de amor.
– Serão somente seus pais? – pergunto insegura. – Aquelas
madames metidas a besta estarão lá? Talvez eu deva comprar um
vestido Channel? Esse é o mais caro que existe, não entendo muito
de marcas de grife!
– Sei lá, deve ser! – Ele ri. – Mas não se preocupe, é só se vestir
comportadinha, nada de ficar mostrando esses peitos gostosos. –
Ele beija meus seios por cima da camisa. – Nem essas pernas... –
Ele enfia suas mãos por baixo da saia, sobe, aperta minhas coxas,
depois meu bumbum. – E talvez tentar não mostrar tanto esse
bumbum.
Dou risada, mas é porque fiquei excitada com essa apalpação
toda.
Recobro minha postura.
– Chega de me apalpar, Doutor Rui. – Me afasto dele com um
cara divertida. – Você escolhe as roupas que devo levar, não sei me
vestir, e sua mãe é chique demais.
– Perfeito, deixe comigo! – Ele dá um tapa em minha bunda.
– Ui, Rui! – Faço uma careta, e fricciono o local. – Então, vou
voltar ao meu trabalho, tenho muitas coisas para fazer.
Me viro e saio rebolando, de propósito, é lógico, e o ouço
assobiar.
Paro na porta e o vejo me olhando com sua cara de tarado, mas
apenas mando beijos para ele e saio feliz.
****

E o final de semana chegou, e com ele a tortura da visita aos


pais do Rui.
Confirmo se coloquei tudo em minha mala, a fecho e bufo
nervosa.
Apesar de ter colocado na bolsa de viagem alguns vestidinhos
curtos, saias e biquínis, o Rui fez questão de comprar para mim
alguns vestidos e conjuntos mais comportados. Como ele disse,
desta vez, preciso estar comportada.
Mas, será melhor assim, pois não será fácil rever a nojenta de
sua mãe.
– Tudo certo, Jack? – Ele sai do banheiro enxugando seus
cabelos e mostrando toda a sua gostosura de macho.
– Tudo arrumado. – Tento controlar a minha ninfomaníaca, e não
o agarrar pela terceira vez, mas aí me lembro de que precisamos
transar muito para aumentar minhas chances de ficar grávida.
Oh, meu Deus, se o Rui descobre minhas intenções com seus
espermas, ele me mata, ou simplesmente me abandona.
Me levanto da cama, estou vestindo apenas uma saia e um modelo
de sutiã muito sensual de renda, sigo até ele feito uma pantera.
– Eu já conheço esse olhar, Jack – ele diz me encarando.
– Ah, é? – Seguro seu pênis. – Então, você sabe o que eu quero.
– Beijo seus lábios, depois o pescoço, percorro sua barriga com
minha mão, o excito e provoco.
– Jack, estamos atrasados, precisamos ir. – Ele reclama, mas já
está de olhos fechados, se deliciando com minhas carícias.
– Só mais uma vez, meu bombeiro! Eu estou pegando fogo! –
Brinco e mordo sua orelha, depois seu maxilar, seu queixo.
– Que fogo, Jack! Haja mangueira para te acalmar! – Ele me
coloca em sua cama, e antes que eu tire minha roupa, ele já está
enterrado até o último centímetro dentro de mim. – Assim que você
gosta, minha delícia?
Seguro seus cabelos e o encaro.
– É assim mesmo, Rui! Me fode com força, meu homem gostoso!
– Invado sua boca com a minha, e enlouqueço de prazer em seu
corpo.
Minutos insuportáveis de prazer, o clímax, e então nossos
gemidos reverberam pelo quarto e possivelmente pelo apartamento
todo.
Ele relaxa seu peso sobre mim, e aos poucos vai retornando à
realidade.
– Que loucura você é, Jackeline! – ele diz depositando beijos em
meu rosto. – Te amo, minha deusa!
Ele me olha intensamente, seguro seu rosto entre minhas mãos,
e o beijo apaixonadamente.
– Eu também, Rui! Podemos ir agora, se você quiser!
– Você primeiro acaba comigo, depois diz que quer pegar duas
horas e tanto de estrada? Jack, você não gosta do seu macho.
Dou risada.
– Oh, Rui, desculpa se cansei você! – falo bem boazinha,
enchendo suas bochechas de beijos. – Tá melhor agora, ou quer
mais beijinhos? – Brinco com ele.
Ele se levanta e me olha.
– Vamos terminar isso logo, prefiro ir hoje. – Ele segue para o
closet, ajeito minha roupa, coloco uma camisa e termino de me
arrumar.
Em minutos, estamos na estrada, eu, o Rui e o, agora NOSSO,
mascote.
****

Depois de longos minutos na estrada, chegamos a sua cidade, e


parece que já me sinto familiarizada com o lugar. O cheiro que paira
no ar é diferente, talvez por estarmos próximos a área rural, onde
existem fazendas, gado e plantações.
Como da outra vez, seguimos para o píer que dá acesso à
represa.
– Vamos ver se a represa continua onde a deixei? – ele diz
sorrindo, e apesar de horas na estrada, ele parece renovado.
Talvez, esse seja o efeito que esse lugar causa nele.
Caminhamos de mãos dadas até o píer, paramos, ele abraça
minhas costas, beija meus cabelos e ficamos ali, apenas
observando a paisagem noturna da represa.
– É bom ficar aqui. Dá uma paz, né? – falo relaxada em seu
abraço, acariciando seus pelos macios dos braços, sentindo a
quentura que vem do seu peito em minhas costas, uma sensação
boa de acolhimento, de proteção.
Ele beija meu rosto, e esfrega sua pele na minha, pequenos
pelos fazem cócegas em minha face.
Finalmente ele beija minha orelha e diz num sussurro.
– Vamos dormir, minha deusa? Estou morto de cansado!
Me viro para olhá-lo, seus lindos olhos estão vermelhos de sono.
– Vamos, vou colocar meu bebezão para dormir. – Brinco, beijo
suavemente seus lábios, ele volta a me encarar, me beija
novamente e a excitação volta.
– Vamos, Jack, eu aguento mais uma, a última do dia! – E ele
me pega no colo, dou um grito de excitação.
– Sou pesada, Rui, me coloca no chão – falo manhosa, não
querendo de fato que ele faça isso.
– Para mim, você é uma pluma! – Ele sorri, me beija, e assim,
seguimos para seu quarto, e terminamos nossa noite como sempre,
com muito amor.
****

O dia amanhece ensolarado, sem nuvens, apenas um sol


maravilhoso que já está a pino.
Me alongo em frente a varanda do seu quarto, e me delicio com
a visão da represa, alguns barcos já estão navegando, Jet Skys, e
pessoas se exercitam em canoas e stand-up paddle.
Como sempre, estou vestida em uma camiseta dele, a camisola
é muito indecente para aparecer em público.
Um abraço em minha cintura, beijos em meu pescoço, e o cheiro
de barba feita inebria minhas narinas.
– E, então, o que faremos? – pergunto abraçada aos seus
braços.
– Antes de irmos almoçar com meus pais, vamos dar uma volta
de barco, já estão trazendo ele! – Ele me puxa em direção ao
quarto. – Vamos tomar banho juntos. – Ele pisca para mim.
Me penduro em seu pescoço e saímos nos beijando em direção
ao quarto, depois no banheiro, ele tira minha camiseta, eu tiro sua
boxer, e nos enfiamos em meio a beijos e carícias dentro do
chuveiro.
Em minutos estou grudada a parede, com um homem enorme
em minhas costas.
– Empina esse bumbum lindo para mim, Jack! – Ele segura
meus quadris e me penetra.
Gemo baixo, mas à medida que a excitação aumenta, seus
movimentos, e sua mão estimulando meu clitóris, explodo de prazer
e esqueço de tudo, gemo e grito seu nome.
– Oh, Jack, você me deixa louco! – E seus gemidos sensuais e
roucos enchem meus ouvidos de prazer. – Te adoro, minha deusa! –
ele diz em meu ouvido, abraça minha cintura e fica em silêncio,
respiração ofegante e o coração disparado. – Pronto, agora posso
começar meu dia. – Ele morde minha orelha. – Está bom para você,
ou quer mais? – Sinto seu nariz em meu pescoço, ele me beija, me
morde.
– Acho que você quer mais, Rui! – Sorrio. – Você é tão viril. –
Fecho meus olhos, sentindo seu membro roçando em meu
bumbum. – Como você consegue se recuperar tão rápido?–
Sussurro.
– Acho que esse é o efeito Jackeline em mim. Esse corpo
delicioso me deixa louco, o cheiro da sua pele. – Ele volta a passar
o nariz em minha pele do pescoço. – Vamos, Jack, na cama. – Ele
me tira do chuveiro, nos enxugamos rapidamente, e voltamos a nos
amar.
****

Me olho no espelho do quarto, passo minhas mãos pelo vestido,


viro o pescoço de lado, e analiso se estou decente e à altura da
velha megera.
O vestido é tipo frente única, mas a parte de trás cobre boa parte
das costas, o tecido é grosso, floral, reto até a cintura, e depois
levemente rodado até os joelhos.
É simples, mas elegante, e fiquei ainda mais bonita com o
bronzeado que peguei no barco.
Coloco a sandália alta, branca e delicada, que comprei junto com
o vestido.
Prendo meu cabelo em um coque, passo um gloss nos lábios,
uma maquiagem leve nos olhos e estou pronta.
Desço as escadas, e encontro o Rui digitando em seu celular, o
que me causa certa irritação.
– Cheguei! – digo de sobressalto, ele me olha surpreso, enfia o
celular no bolso e levanta.
– Você está linda, Jack! – Ele enlaça minha cintura, beija minhas
bochechas, e então me olha com rugas na testa. – O que foi, que
bico é esse?
Respiro fundo e falo:
– Rui, eu sei que você resolve assuntos profissionais pelo
celular, mas hoje é sábado, não acho que exista algo tão urgente
que você precise resolver. Então, eu realmente gostaria de saber o
que tanto você olha e digita nessa merda! – O olho de lado, e o vejo
surpreso, com as sobrancelhas levemente arqueadas.
– Jack, tenho um grupo de amigos que se comunica por
mensagem, às vezes, é algo sério, às vezes, é só piada. É só isso,
não precisa ficar com esse bico!
Passo por ele.
– Espero que seja só isso mesmo! – Me sento em um sofá, o
Bóris se senta comigo, acaricio seu pelo, e tento me acalmar.
– Você quer ver as mensagens? Não tenho nada a esconder, só
peço desculpas, às vezes eles enviam umas coisas meio pesadas. –
Ele dá um sorriso fraco.
Solto o ar.
– Não, não quero ver, confio em você! – digo, mas não é isso
que penso, estou com as mãos pinicando para olhar esse maldito
celular.
– Então, vamos. Não queremos fazer minha família ilustre
esperar por nós, não é mesmo? – Ele estende sua mão para mim,
me levanto e ele novamente me abraça e me encara. – Está tudo
bem mesmo, não quer olhar as mensagens? Não tenho nada a
esconder, estou falando sério.
Relaxo, e deixo um sorriso curar meu mau humor momentâneo.
– Está tudo bem, não quero ver nada. Já disse, confio em você.
Ele beija suavemente meus lábios.
– Então vamos, Jackeline Bartolli, enfrentar a megera da sogra!
– Ele me olha de lado, e não consigo segurar um riso.
– Você que disse que ele é megera, eu não disse nada! – falo
com sarcasmo.
****

Novamente me vejo com o coração angustiado ao entrar na


mansão da família Figueiredo.
Bom, eu acho isso uma mansão, é uma casa grande, com um
jardim enorme, enfim, não me importo muito com isso.
Minhas mãos estão geladas, e um frio no estômago me
incomoda.
Caminhamos pelo jardim, o Rui me olha de lado e aperta minha
mão.
– Tudo bem?
– Tudo. Apenas um pouco nervosa! – falo simplesmente.
– Fique calma. Seja você mesma, Jack, não estamos aqui para a
aprovação da minha família. – Ele me olha carinhoso.
Sorrio nervosa.
– Ok! Posso contar minhas histórias como terapeuta? – Brinco.
Ele dá uma gargalhada.
– Pode, acho que meu pai vai se divertir.
– Estou brincando, vou ficar muda, a Carolina costuma dizer que
falo muitas besteiras.
Ele me olha de lado.
– Eu não acho!
Finalmente alcançamos a área de lazer da casa, vejo seu pai e
sua mãe sentados em cadeiras de descanso, ela com um chapéu
com uma aba enorme cobrindo seu rosto e ombros.
Ela é muito madame! – Penso, revirando os olhos.
Seu pai está vestindo uma bermuda longa e camisa polo, claras,
parece até que irá jogar golfe.
Ele se levanta ao nos ver, e vem ao nosso encontro.
– Finalmente vocês chegaram! – O velho fala animado, ele é
simpático como o Rui (ou o contrário), aliás, o sorriso dele é o
sorriso do pai.
Ele estende sua mão para mim e me olha carinhosamente, sinto
uma empatia por ele.
– Como vai, Jackeline? Seja bem-vinda a nossa casa! – ele diz
tão educadamente, e tão gentil que sinto uma coisa boa no peito.
– Estou bem, e o senhor? – O cumprimento. – Muito obrigada!
Ele abraça calorosamente o Rui, beija o seu rosto, e cochicha
discretamente em seu ouvido.
O Rui sorri, e volta a segurar minha mão.
– Venham – ele diz caloroso.
Olho para a megera, ela não moveu um músculo do lugar,
parece presa à cadeira.
Mais alguns metros e alcançamos o lugar que eles estavam
sentados, seu pai conversa animadamente com o Rui, eles parecem
dois amigos, e não pai e filho.
Finalmente a velha tira seu rabo fedido da cadeira, e vem nos
cumprimentar.
– Olá, mãe! – O Rui a abraça. – Tire esse chapéu, é falta de
educação cumprimentar as pessoas com isso. – Ele joga seu
chapéu sobre a mesa, não consigo deixar de rir com seu desatino
de filho malcriado.
Ela faz uma cara feia para ele, mas volta a abraçá-lo, e então
olha para mim, a namorada mal quista.
– Boa tarde, Dona Raquel! Como vai? – Estendo minha mão
para ela, tento vestir minha máscara da indiferença, mas tenho
náuseas ao ver sua cara de madame nojenta, insuportável e
metida.
– Bem, Jackeline! – ela diz segurando minha mão como se
tivesse nojo, um contato rápido, sem pressão.
Odeio gente assim, sou filha de italiano, do tipo que abraça com
vontade, aperta as mãos como se fosse quebrar os ossos, sou
calorosa e afetuosa em minhas relações, e não suporto gente
superficial.
Estico meus lábios em um sorriso artificial, estamos eu e ela
interpretando.
– Vamos nos sentar? – Seu pai diz simpático, puxando uma
cadeira para mim.
Penso com desânimo qual será o assunto que conversarei com
eles. Se eu entendesse de chapéus, eu puxaria papo com a
megera, diria que seu chapéu é muito bonito.
Mas, resolvo apenas sorrir, e não falar besteiras.
Sentamos eu e o Rui, um ao lado do outro, ele segura minha
mão junto a sua, vira de lado, beija meus cabelos, e cochicha em
meu ouvido:
– Te adoro, minha deusa!
Sorrio constrangida, mas me sinto feliz, e amada.
– Então, Jackeline... – Levanto meus olhos ao ouvir meu nome,
mas graças a Deus é o pai do Rui que está me chamando. – Já está
acostumada a trabalhar com o Rui? Os funcionários dele costumam
dizer que ele é um trator desgovernado! – Ele sorri debochado.
Sorrio sem jeito. O que irei dizer? Que adoro trabalhar com o
Rui, principalmente porque fazemos pit-stops durante o dia, e
transamos feito dois coelhos em sua sala?
– Ele é um ótimo chefe, e no final das contas todos os adoram, é
só fachada, faz parte falar mal do chefe! – Seu pai dá uma risada
escancarada, acho que o Rui puxou ao pai, ri de tudo.
– O Rui me disse que você é terapeuta! – Ele enche uma taça de
vinho para nós dois, e acho que estou me tornando alcoólatra,
nunca bebi tanto em minha vida.
– Sim. Quero dizer, eu era. – Beberico o vinho, preciso me
acalmar.
– Por que mudou de profissão? – Ele insiste e me desespero.
– Oh... – Começo a dizer, mas o Rui me interrompe.
– A Jack não gostava muito do que fazia. Ela nasceu para ser
secretária, a melhor que já tive. – Ele me olha com um sorriso, e eu
me desmancho.
– Não estou com essa bola toda. – Tento disfarçar. – Nunca tinha
trabalhado como secretária, estou aprendendo muitas coisas com o
Rui.
Olho de soslaio para sua mãe, ela me olha com indiferença.
Me sinto mal com sua presença, ela bem que poderia entrar e
não sair mais de sua casa.
– Se o Rui está dizendo é porque é verdade. Ele costuma ser
bem sincero, Jackeline. – Ele sorri para mim novamente. – Você é
filha de italianos, é isso?
Acho que isso é um interrogatório, me sinto em uma sala de
polícia.
– Sim, da parte do meu pai, minha mãe é portuguesa.
– Nossa família também tem portugueses... – Ele começa a falar
animadamente.
Passados alguns minutos, vejo uma empregada toda de branco,
parecendo uma pombinha da paz, ela cochicha algo no ouvido da
Dona Raquel insuportável.
Isso, ela é insuportável como a loira vaca da Priscila!
Ela se levanta.
– Com licença, preciso checar o andamento do almoço! – Ela
segue elegantemente pelo jardim.
Seu vestido é feito de um tecido leve, esvoaçante, ela é bem
magra, altiva.
– Vou ao banheiro, Jack, eu já volto! – ele diz em meu ouvido. –
Pai, cuide da Jackeline para mim. – Ele olha para seu pai, em
seguida sai caminhando a passos largos em direção a casa, na
mesma direção que sua mãe foi.
– Então, Jackeline, como eu estava dizendo, eu adoro comida
portuguesa, temos um restaurante português na região... – Ele volta
a falar animado da cultura portuguesa, e quando percebo, estou
conversando animadamente com o pai do Rui, ele é muito
agradável.
Capítulo 69
RUI FIGUEIREDO
Enquanto a Jack se arruma, zapeio as mensagens que
chegaram no celular.
Dou risada ao ver o desespero da mulherada, tem uma que
apelou para um nude para lá de erótico, mais precisamente de sua
buceta, escancarada na frente da câmera.
Leio a mensagem rapidamente.
“Rui, ela está com saudades de você!”
Dou risada sozinho.
Essa deve estar numa seca desgraçada.
A outra lembra que não nos vemos há meses, e por fim me
convida para um final de semana em sua casa em Angra dos Reis.
Essa aqui é bacana, filha de um deputado corrupto, cheia da
grana e devassa pra caralho.
Mais uma mensagem, e me surpreendo, é da Helen. Depois da
minha brochada não tínhamos nos falado novamente.
“Oi, Ruizinho! Tudo bem com você? Você não estava muito bem
quando nos vimos, mas agora estou sozinha, se quiser sair para
beber e conversar... Estou com saudades de você, me ligue!”
Não estou a fim, Helen!
Deleto o conteúdo dessas e de outras mensagens de antigos
casos, mas antes, envio a mídia da buceta da garota para meus
amigos verem, e escrevo:
“Essa aqui é bem gostosinha, devassa, e está carente. Quem
estiver a fim, eu passo o contato.”
Meia dúzia levanta a mão, pode até ser tribufu, o importante é
que tenha buceta, e faça qualquer coisa na cama... e fora dela,
também!
Dou risada com as mensagens.
“Casou, Rui?”
“Tá brocha?”
“Virou viado?”
“Se não vai comer, eu como!”
“Sumiu...”
E assim vai.
E então, a voz da Jack me desperta, e a vejo linda no vestido
novo que comprei para ela.
– Cheguei! – ela diz com uma expressão séria.
Guardo rapidamente o celular no bolso, levanto e sigo até ela.
– Você está linda, Jack! – Ela fica petrificada, e talvez eu já saiba
o motivo, a porra do celular, ela anda implicando com ele.
– O que foi, que bico é esse? – pergunto.
– Rui, eu sei que você resolve assuntos profissionais pelo
celular, mas hoje é sábado, não acho que exista algo tão urgente
que você precise resolver. Então, eu realmente gostaria de saber o
que tanto você olha e digita nessa merda! – Ela diz irritada.
Não achei que ela seria tão direta, mas isso me preocupou, se
ela vir essa mensagem que enviei para meus amigos, talvez dê
merda.
Resolvo ser sincero (pelo menos um pouco).
– Jack, tenho um grupo de amigos que se comunica por
mensagem, às vezes, é algo sério, às vezes, é só piada. É só isso,
não precisa ficar com esse bico.
Ela passa por mim, parece meio estressada com o assunto.
Preciso desabafar algo, eu reclamava da Priscila, mas a Jack
parece uma general, é brava pra cacete, enfezada e mandona.
Caralho, eu estou fodido com essa mulher! Mas, não dá mais
para voltar atrás, pular fora, ela me conquistou, me enfeitiçou, estou
louco por ela.
– Espero que seja só isso mesmo. – Ela se senta com o Bóris ao
seu lado. Como sempre, o traíra me abandona quando ela está por
perto.
Apesar do medo da porra que estou, faço o que tem que ser
feito.
– Você quer ver as mensagens? Não tenho nada a esconder, só
peço desculpas, às vezes eles enviam umas coisas meio pesadas. –
Ensaio um sorriso, mas a verdade é que estou com um medo da
porra que ela aceite minha sugestão.
Como um bom advogado, às vezes, blefo. Se der certo, perfeito,
se não der, estou fodido!
Solto o ar.
– Não, não quero ver, confio em você.
– Então, vamos. Não queremos fazer minha família ilustre
esperar por nós, não é mesmo? – Pego em sua mão e a levanto do
sofá, e como um maníaco insisto. – Está tudo bem mesmo, não quer
olhar as mensagens? Não tenho nada a esconder, estou falando
sério.
Respiro aliviado, finalmente ela sorri.
– Está tudo bem, não quero ver nada. Já disse, confio em você.
Beijo seus lábios e brinco com ela.
– Então vamos, Jackeline Bartolli, enfrentar a megera da sogra!
– Você que disse que ela é megera, eu não disse nada! – ela diz
com um sorriso, pelo visto adorou ouvir chamar minha mãe de
megera.
Mulher é tudo igual, todas odeiam a sogra.
****

É sempre um desafio apresentar uma namorada a minha mãe.


Não que eu tenha feito isso muitas vezes, mas ela acabou
conhecendo algumas mulheres que me relacionei ao longo da
minha vida adulta.
É fato que dona Raquel não é simpática, e graças a Deus não
puxei a ela.
Mas a questão é que estamos há algum tempo em sua casa,
sem que ela faça o mínimo esforço para ser simpática com a
Jackeline.
Isso já está começando a me irritar, e está difícil controlar minha
vontade de falar umas merdas para ela, e então a oportunidade
acontece.
A empregada cochicha em seu ouvido, ela pede licença e segue
em direção a casa, aproveito a ocasião e invento uma desculpa para
falar com minha mãe sozinha.
– Vou ao banheiro, Jack, eu já volto! – sussurro em seu ouvido.
Olho para o meu pai e falo em código.
– Pai, cuide da Jackeline para mim.
Ando a passos rápidos em sua direção. Entro na cozinha e a
vejo experimentando os pratos.
– Oi, mãe! Podemos conversar um minuto? – Ela me olha de
soslaio, então dá algumas orientações à empregada e me segue até
o escritório do meu pai.
Entramos calados, e então falo:
– Mãe, sei lá, mas talvez por educação você poderia se esforçar
um pouco para ser simpática com a Jackeline. – Sorrio provocador.
– Não precisa gostar dela, só seja educada e simpática!
Ela me lança um olhar assassino.
– Não vou me esforçar a nada. Seu pai que inventou essa
história, só estou suportando isso porque não posso fazer nada! –
Ela tenta sair, mas eu a seguro.
– A senhora pode fazer sim, seja educada e simpática. A
Jackeline não é nenhuma piranha ou coisa assim, estamos juntos,
eu gosto dela, e não admitirei que a senhora a trate mal.
Ela puxa seu braço.
– Não admito que você fale assim comigo! E me faça um favor,
não traga mais essa biscate em minha casa. – Uma raiva fora do
normal se apodera de mim.
– Biscate são as suas amigas! A Jackeline não virá mais aqui, e
eu também não! – Viro as costas e estou saindo insano, mas ela me
interrompe.
– Rui, não vá embora. – A olho com sarcasmo.
– E quem falou que irei? – Sorrio. – Essa casa também é do meu
pai, e é por isso que estou aqui.
Passo por ela como um raio.
Eu realmente gostaria de ir embora, mas ficarei pelo meu pai.
Chego ao jardim e vejo meu pai gargalhando.
Relaxo e sorrio, a Jack já começou a contar seus casos cômicos.
Ela é uma palhacinha linda.
Confesso que nunca conheci uma mulher tão singular quanto a
Jack. Ela consegue ser divertida, brava, carinhosa, doce, mandona,
e por fim, a melhor parte, um vulcão sexual.
Me sento ao seu lado, seguro sua mão e digo:
– Posso rir um pouco?
Meu pai limpa os olhos.
– Parabéns, Rui! Sua namorada é uma mulher muito divertida,
além de ser muito bonita e simpática.
A Jack já jogou seu feitiço sobre meu pai, o velho tá caidão por
ela.
– Estava contando para seu pai por que desisti da Psicologia. –
Ela sorri debochada.
– Então, continue, quero ouvir também.
Depois de alguns minutos de distração, onde meu pai também
resolveu contar histórias engraçadas, minha mãe surge sem graça
no jardim.
– Já está tudo arrumado. Podemos almoçar, Toni? – Ela finge
que não existo, fazia tempos que não brigávamos.
Climão do caralho para um almoço em família!
– Sim. – Ele pega na mão da Jackeline, me causando surpresa e
espanto. – Vamos, Jackeline, nossa cozinheira é muito boa, você irá
gostar muito da sua comida.
Olho para meu pai, depois para minha mãe e a vejo incrédula
olhando para seu marido.
Hoje ele dorme na casinha do seu cão preferido, um São
Bernardo que pesa mais de 50 quilos! – Penso divertido.
Sorrio com a cena. Eu tinha certeza que a Jack encantaria meu
pai, seu jeito simples e espontâneo conquista qualquer pessoa. É
uma pena que minha mãe provavelmente está envenenada pela
Priscila e sua mãe.
Dou de ombros e sigo os dois em direção à casa.
Capítulo 70
JACKELINE BARTOLLI
Depois de minutos de descontração ao lado do pai do Rui,
finalmente a megera nos chama para o almoço.
Aliás, o pai do Rui é uma graça, tão divertido, alto astral,
inteligente.
Agora já sei a quem o Rui se parece. Eles têm o mesmo jeito,
são tão parecidos, até nas frases.
Apesar de toda a gentileza do Doutor Toni (ele se chama
Antony), ao se sentar à mesa junto com a Dona Raquel, o
constrangimento volta e a fome some.
A mesma empregada uniformizada nos serve, e é tanta
formalidade que me sinto mal.
– A comida está boa, Jackeline? – Seu pai pergunta com um
sorriso no rosto.
– Sim, Doutor Toni, ótima! – respondo acuada, sentindo um nó
no estômago, e remexendo a comida.
– Você gosta de carne de pato? – Ele olha para o meu prato. –
Não a estou vendo comer.
– Está uma delícia, é que me alimento devagar!– Disfarço, enfio
um pedaço de carne na boca, e mergulhamos novamente no
silêncio.
Um silêncio pesado se instala no ambiente, parecem todos
mudos, apenas o barulho de talheres batendo nos pratos, e então
sinto um gelado em meu braço, olho assustada e vejo um filhote de
urso, mas esse é realmente grande, o Bóris é filhote perto dele.
– Oi, coisa linda! – falo extasiada, e minha loucura por cachorros
vem à tona.
Parece que tenho um imã para eles, todos me amam.
Paro de comer imediatamente, e tenho vontade de me ajoelhar
no chão e acariciar o cão lindo.
Então ouço a voz irritante da mãe do Rui.
– Oh, quem deixou esse bicho nojento entrar em casa? – ela diz
estressada.
A olho consternada. Como ela pode dizer que ele é nojento?
Acaricio a cabeça do cão e vejo o pai do Rui se levantar e vir em
minha direção.
– Desculpe, Jackeline, o caseiro deve ter deixado o Frederico se
soltar. – Ele o pega pela coleira.
– Pode deixar, pai. A Jack gosta de cachorros! – O Rui me olha
sorrindo.
– Tenho fascinação por eles. – Olho para o bichinho com cara de
carente, e penso que se ele desse uma mordida na velha megera
seria bem interessante.
O pai do Rui segura o bichinho.
– Esse aqui é meu companheiro, estamos juntos há um tempão,
mas ele já está velho, assim como eu! – Ele dá risada. – Vou colocá-
lo para fora. Depois se você quiser, o solto no jardim, minha esposa
não gosta muito de cachorros. – Ele olha de lado para a mulher,
parece meio irritado.
Doutor Toni sai com o cachorro, olho por entre os cílios para a
megera, e resolvo ir ao banheiro, o clima está péssimo, e foi uma
péssima ideia ter vindo aqui, não dá para forçar a natureza, ela não
me suporta, e eu também passei a não suportá-la.
– Vou ao banheiro. Onde fica? – cochicho no ouvido do Rui.
– Eu te levo até lá! – Ele empurra sua cadeira e sai.
Franzo minha testa, mas não dá para impedi-lo, ele já está me
esperando na porta.
O sigo até uma porta, ele a abre e vejo um lavabo enorme, o
equivalente a dois banheiros do meu apartamento.
Entro, o Rui entra comigo e fecha a porta, o olho confusa.
– Rui, por favor, me deixa sozinha. O que vão achar que
estamos fazendo aqui?
Ele sorri malicioso, se aproxima de mim, me acuando contra a
pia de mármore que ocupa uma parede inteira.
– Rui, por favor! – Imploro.
Ele segura minha cintura, gruda seu corpo ao meu, e começa a
depositar beijos em meu pescoço.
– Por favor, por que, Jackeline? – ele diz rouco, lambendo e
beijando minha orelha.
Coloco minhas mãos em seu peito.
– Por favor, não faça isso. Volte para a mesa! – Não aguento
suas carícias, fecho meus olhos e me entrego à sensação deliciosa
que ele me causa.
Ele enfia sua mão por baixo do meu vestido, sobe pelas minhas
coxas, as acariciando, para em minha calcinha e começa a descê-la
vagarosamente.
Tento empurrá-lo, mas ele parece uma rocha.
– Não, Rui! Agora é sério, não vamos transar no lavabo da casa
dos seus pais. – Tento parecer brava, mas não consigo.
– Será que não vamos mesmo? – ele diz com sua cara de
cafajeste.
Ele abre o zíper de sua calça, arregalo meus olhos.
– Rui, nãooo! – Mas ele foi mais rápido do que eu, me colocando
sobre a pia, e me penetrando de uma vez.
– Não, Jackeline? – ele diz debochado, depositando beijos
molhados em meus lábios, e se movimentando lentamente dentro
de mim. – Você não quer mesmo? Quer que eu pare?
Ai, que delícia de homem!
– É, a gente não deveria! – falo de olhos fechados, me
entregando a sua loucura.
Seguro seus cabelos entre meus dedos, os puxos levemente, o
beijo, gemo baixo, e finalmente gozo.
– Hummm, Ruiii!!! – Gemo baixo, me controlando. – Por que
você faz essas coisas?
Estou embriagada, ele me embriaga, e só faço loucuras quando
estamos juntos.
– Você gosta de uma loucura, Jack! Você é safada e gostosa! –
Ele aumenta seus movimentos. – Eu vou gozar, minha deusa, bem
gostoso, do jeito que você gosta. – Então ele joga sua cabeça para
trás e geme, tão macho, tão viril.
Seguro sua cabeça e faço-o voltar a me beijar, e a gente se beija
loucamente, e finalmente paramos, e ficamos um olhando para o
outro.
– Foi bom, delícia? Pra mim, foi demais – ele diz com seu olhar
intenso.
– Foi bom, sempre é bom! – Sorrio e desço da pia. – Mas não
deveríamos de ter feito isso! Agora que sua mãe terá certeza que
sou uma vadia.
– Não fala isso, Jack, ninguém sabe o que fizemos. Somos um
casal apaixonado, que não consegue ficar muito tempo sem sexo. –
Ele dá um sorriso fraco.
– Eu sei... – Tento sorrir, mas não consigo, estou com um
sentimento ruim dentro de mim. – Rui, não consigo mais ficar no
mesmo ambiente que sua mãe.
Ele me olha entristecido.
– Desculpe, mas ela não gosta de mim, não me sinto bem aqui.
A gente pode ir embora? – Desabafo.
Ele segura meu rosto entre suas mãos grandes, me olha
intensamente e beija suavemente meus lábios.
– Tudo bem, Jack! – Ele se arruma e lava suas mãos. – Eu vou
voltar para a mesa, vamos apenas esperar o café. Pelo meu pai,
está bem?
– Claro! Seu pai é um doce, adorei ele. – Sorrio sem graça. –
Esquece o que eu disse, se quiser ficar mais um pouco, ficamos.
Ele me interrompe.
– Não, podemos ir, ficamos bastante tempo. – Ele abre a trava
da porta. – Espero por você na sala de jantar.
Ele fecha a porta, espalmo minhas mãos sobre a pia e me olho
no espelho.
– Será que sou tão ruim assim? – Sinto meus olhos
lacrimejarem, mas não permito que as lágrimas sigam adiante.
O problema não sou eu, é ela!
Faço minhas necessidades, ajeito meu vestido e volto para
minha penitência.
****

Quando chego à mesa eles estão conversando em um tom de


voz baixo, diminuo o passo, mas logo percebem que cheguei e o pai
do Rui sorri.
– Venha, Jackeline! Estamos te esperando para comer a
sobremesa – ele diz cheio de hospitalidade.
– Obrigada! Desculpem se demorei um pouco. – Me sento ao
lado do Rui, ele volta a segurar minha mão, a leva até seus lábios e
a beija.
Eu adoro isso, adoro que beijem minha mão, acho isso tão
romântico.
O Rui é romântico, só que ele não descobriu isso ainda.
Sorrio para ele, que inclina seu rosto em minha direção, me beija
próximo a orelha e cochicha:
– Te amo, Jack!
Um friozinho percorre todo o meu estômago.
Olho para ele e apenas gesticulo com meus lábios.
– Eu também.
Evito olhar para a sogra megera, mas vejo a empregada
trazendo uma travessa com pequenos recipientes, cada um é um
tipo de doce.
Vejo o Rui pegando dois de uma vez, e acho engraçado.
– Você vai ficar gordinho! – cochicho em seu ouvido.
– Eu faço bastante exercício com você. – Ele pisca para mim.
Escolho uma das sobremesas, e finalmente todos terminam, não
vejo a hora que sirvam o café e que acabe essa tortura.
– Vamos tomar o café na varanda? – Seu pai se levanta, o Rui
pega em minha mão e o seguimos para uma varanda linda.
Nos sentamos em uma mesa redonda, e novamente ficamos em
silêncio.
Eu até não sou de falar tanto assim, mas está sendo muito difícil
ficar calada.
Ai, que nervoso!
Enrosco meu braço ao do Rui, unindo nossas mãos, e me
encaixo ao seu corpo, sentindo seu cheiro, seu calor. Adoro tanto
ele, se a mãe dele soubesse o quanto!
O Rui e o pai começam a conversar, falam sobre pessoas,
depois sobre processos, e quando acho que vou dormir de tédio, o
café chega.
Finalmente terminamos a maldição do café.
– Pai, nós já vamos! – O Rui se levanta, e percebo que está
ignorando sua mãe, na verdade, os dois não trocaram uma só
palavra desde que chegamos.
Me sinto mal ao pensar que é por minha culpa, amo tanto minha
mãe, imagino que o Rui também ame a sua. Não gostaria de ser
motivo de discórdia entre os dois.
– Agradeço terem vindo! Espero que você volte para nos visitar,
Jackeline! – Seu pai diz.
Sorrio ao apertar sua mão.
– Obrigada, Doutor Toni. Adorei o almoço, muito obrigada pelo
convite!
Me volto para a Dona Raquel e estendo minha mão para ela.
– Obrigada, Dona Raquel. – Tenho vontade de dizer que não
quero vê-la nunca mais em minha vida, mas infelizmente, não
posso.
Ela segura minha mão daquela forma irritante, mas para
provocá-la, aperto com firmeza, e mantenho o aperto, e a olho
dentro dos seus olhos, que são acinzentados como os do Rui.
Um leve movimento de sobrancelhas mostra que ela não gostou
do meu aperto de mãos, mas apenas sorrio.
– Vamos, Jack! – O Rui me puxa para a saída sem se despedir
de sua mãe.
****

Finalmente chegamos à casa do Rui, e nunca foi tão bom chegar


a esse lugar.
Me esparramo em um sofá, e logo meu bicho peludo vem se
aninhar a mim.
– Posso dormir um pouco, Rui? Me deu um sono! – falo
preguiçosa.
– Claro, vou me trocar e relaxar um pouco lá fora! – Ele me beija
delicadamente. – Depois eu acordo vocês dois!
O ouço subir as escadas, mas o relaxamento é tanto que durmo
em segundos.
Não sei quanto tempo dormi, mas quando acordo o céu está
vermelho, e o sol se pondo.
Olho ao redor e não vejo o Rui, então me levanto e sigo para o
jardim, e o encontro dando algumas braçadas na piscina.
Me sento em um puff gigante e fico o admirando enquanto ele
nada.
Finalmente ele para na borda da piscina.
– Oi, preguiçosa! – ele diz divertido, passando as mãos pelos
cabelos e rosto.
– Dormi demais! Por que você não me chamou? – Faço um bico.
– Achei melhor não te acordar, você poderia ficar mal-humorada
– ele diz debochado.
– Eu, mal-humorada, imagine! – Brinco. – Vem, Rui, estou com
saudades – falo manhosa, estendendo minha mão para ele.
– É pra já, minha delícia. – Ele fricciona seus braços na borda da
piscina e sai num impulso.
– Oh, que homem mais lindo! – falo babando naquele corpo
másculo e vejo sua expressão orgulhosa.
Ele se inclina sobre mim, respingando gotas para todos os lados.
– Vamos subir? Tomamos um banho e depois saímos para jantar
fora. O que você acha?
Enlaço seu pescoço.
– Perfeito. – Seguro seu rosto e o beijo demoradamente.
Ajudo-o a se enxugar com a toalha e seguimos para o interior da
casa.
****

Depois de namorarmos, tomarmos banho e depois namorarmos


novamente, finalmente estamos prontos.
Coloco um dos vestidos que ele me deu, é elegante, comportado
e me deixa bonita.
Termino de colocar a sandália alta, prendo novamente meus
cabelos em um coque e finalizo a maquiagem.
– Estou bem, Rui? – Giro a sua frente, atrapalhando sua visão
do programa que ele está vendo.
– Está linda, Jack! – Ele se senta na cama. – Podemos ir agora?
– Ele boceja. – Já estou ficando com sono!
O puxo da cama.
– Vamos, Rui, estou morrendo de fome – reclamo. – Mal comi na
casa dos seus pais.
Ele se levanta rapidamente e logo estamos em seu carro, a
caminho do restaurante português que o pai do Rui sugeriu.
A cidade é pequena, então em pouco tempo estamos no lugar.
O clima é bem alegre, com toalhas quadriculadas em verde e
vermelho (imitando a bandeira portuguesa) cobrindo as mesas, e
decorações e fotos que remetem a Portugal.
– Adorei aqui! – falo animada, ouvindo uma música portuguesa
ao fundo.
– Bem típico, Jack. Sua avó iria adorar. – O Rui diz
despreocupado.
Sorrio do seu jeito, no fundo, ele adora minha vovó pentelha.
Logo estamos sentados, escolhendo os pratos que iremos
comer.
– Pede um vinho do Porto, Rui. Estou com vontade desde aquele
dia em minha casa – falo empolgada com nossa noite.
Começamos a conversar e então o Rui para de falar, sorri e olha
para a porta.
– Eu não acredito que estou vendo esse cara. – Ele sorri. – É um
amigo de infância, Jack. Eu não o vejo há uns dez anos.
Olho para trás e vejo um rapaz alto, da idade do Rui, com uma
mulher também da nossa idade, bem bonita, ruiva de olhos azuis,
vindo em nossa direção com um sorriso.
O Rui se levanta e abraça calorosamente o rapaz. Me levanto
também, e cumprimento a sua mulher, ela é bem simpática.
– Porra, cara, quanto tempo não te vejo! – O rapaz diz sorrindo
muito. – Até que você não está tão velho assim! – ele diz divertido,
batendo nos ombros do Rui.
Então ele olha para mim.
– Prazer, meu nome é Gabriel, sou amigo do seu... – Ele olha de
relance para a mão do Rui, então ri. – Sei lá o que esse cara é seu!
Oh, ele é muito simpático.
Estendo minha mão para ele.
– Namorados!
Ele dá uma risada divertida.
– Ainda namorando, Rui? Está na hora de casar, brother!
Então ele apresenta sua esposa.
– Essa aqui é a mulher da minha vida e mãe dos meus filhos –
ele diz bem-humorado.
Os dois começam a conversar, enquanto isso, converso
amenidades com sua esposa, que é uma daquelas mulheres
meigas, delicadas e que sorriem o tempo todo.
Mas, logo o garçom chega com nossos pratos.
– Eu vou deixá-los jantarem em paz. – O rapaz diz rapidamente.
– O que você acha de ir amanhã à nossa casa, Rui? Minha esposa
ganhou bebê faz pouco tempo, mas podemos fazer um churrasco,
assim colocamos o papo em dia!
O Rui me olha interrogativo.
Apenas balanço minha cabeça positivamente, eles trocam
telefones, se despedem, e voltamos ao nosso jantar.
****

Tivemos uma daquelas noites muito especiais, dançamos ao


som da banda de músicas típicas de Portugal, e foi muito divertido,
o Rui é muito divertido.
É madrugada quando chegamos a sua casa, subimos para o
quarto, ele tira minha roupa, eu a dele, e nos amamos calmamente,
sem aquela urgência que é comum nas nossas transas.
Muitos beijos apaixonados, muitos olhares longos e profundos, e
finalmente nos entregamos um ao outro, numa sintonia e harmonia
perfeitas.
Depois do clímax, aquela sensação de paz e felicidade toma
conta de nós, e nos entregamos ao cansaço, e finalmente
adormecemos um grudado ao outro.
– Te amo, Rui! – cochicho em seu ouvido, antes de adormecer
totalmente.
– Eu também, Jack – ele diz com sua voz levemente rouca.
Olho para ele e decoro cada traço do seu rosto.
Nunca estive tão apaixonada por alguém, e isso me causa um
medo, uma ansiedade.
Se eu engravidar, o que é difícil, mas ainda assim existe uma
chance pequena de acontecer, eu posso perdê-lo.
Enfio meu rosto em seu pescoço, cheiro e beijo sua pele.
Um sentimento de culpa se apodera do meu coração, não é
certo enganá-lo, fazer algo sem seu consentimento.
Está decidido, não continuarei com esse plano maluco de
engravidar. Não é assim que se faz, não é certo, não sei onde
estava com a cabeça quando resolvi parar de tomar a pílula.
Preciso apenas esperar minha próxima menstruação e retornarei
a pílula.
Abraço seu peito, o cheiro e beijo novamente.
– Te amo, Rui! – Adormeço em seguida.
****

Desperto com a luz do dia em meus olhos, e uma sensação de


que poderia dormir o dia todo.
Me espreguiço na cama, e logo sinto o corpo do Rui junto ao
meu.
Estou tão acostumada a dormir com ele!
Adoro esfregar minhas pernas nas suas, sentir as cócegas que
seus pelos macios fazem em minha pele. Mas, também gosto da
sensação de plenitude que sinto quando estou com ele.
Amar é maravilhoso, mas causa um medo, principalmente
quando se sabe que a pessoa que se está amando nem sempre foi
um exemplo de homem sério e fiel.
Penso em sua mania de ficar no celular, eu sei que isso é muito
comum atualmente, até mesmo uma espécie de doença da
humanidade moderna. Eu também faço isso, mas não é do jeito que
ele faz.
Ele é um daqueles homens que está sempre checando
mensagens, e isso me irrita demais, e apesar de ter dito que não
queria ver as mensagens, uma pulguinha não para de buzinar em
minha orelha.
Eu deveria ter visto as mensagens, apenas para me sentir mais
segura, e ter certeza que ele não se comunica com ninguém.
Fecho os olhos e bufo.
Ele passa o dia comigo, as noites também, como ele pode me
trair assim?
Não, eu não vou mexer em seu celular, preciso acalmar os
ciúmes que tenho dele.
Me abraço a ele, enfio minhas pernas no meio das suas, e o
calor da sua pele contra a minha pele nua, aquele seu cheiro
amadeirado, masculino e excitante entra em minhas narinas, e não
consigo segurar a excitação que sinto em meu sexo.
Beijo seu pescoço, seu peito, esfrego minhas pernas nas suas,
acaricio sua pele com minhas mãos, e então ele abre os olhos
preguiçoso, mal consegue mantê-los abertos.
– Bom dia, Rui! – Me ergo um pouco em meus braços, deposito
pequenos beijos em seus lábios. – Dormiu bem, meu urso? – falo
brincando.
– Dormi, Jack. Mas ainda estou com sono. – Ele abraça meu
corpo, me fazendo deitar novamente. – O que você quer, minha
deusa? Está empolgada logo cedo? – Ele esfrega seu pênis contra
meu corpo e beija meu pescoço.
– Vamos namorar, Rui? – falo manhosa, sentindo seus beijos
pelo meu corpo.
– Já estamos namorando. – Ele me olha e ri, e de repente sinto
um dedo entrar em mim. – É isso que você quer? – Ele me olha com
sua cara de safado. – Talvez mais um?
Dou risada de seu jeito divertido.
– Talvez aquele grandão? – Brinco.
– Qual? – Enquanto ele diz, seu dedo entra e sai deliciosamente
dentro de mim.
– Aquele que fica dependurado no meio das suas pernas, o
famoso tripé! – Brinco.
Ele para o que está fazendo e dá uma gargalhada.
– Tripé? – Ele me olha rindo. – Então coloca o tripé na sua boca,
quero ver o que você faz com ele.
– Com todo prazer! – Me esgueiro em seu corpo e começo a
sugar seu membro.
– Engole ele, Jack! – ele diz com seu olhar de desejo.
Faço o que ele pede, mas antes que ele goze, ele me faz parar.
– Quero dentro de você, delícia! Fica de quatro! – Faço o que ele
pede. – Isso, Jack, que bunda mais linda você tem! – Ele acaricia
minha pele. – Um dia desses, Jack... – Ele me penetra. – A gente
podia fazer algo diferente... – Sinto seu dedo acariciar entre minhas
nádegas. – O que você acha?
Gemo ao seu contato, a sensação de prazer com ele dentro de
mim, a sua voz grossa em meu ouvido.
– Tá bom, podemos fazer – sussurro, entregue às suas caricias,
agora em meus seios.
– Talvez hoje? – Novamente ele acaricia o local.
Estou muito excitada, e de fato, ele está sempre insinuando que
quer, e por que não?
– Tudo bem – sussurro.
– Serei cuidadoso, tá! – De novo sua voz grossa e sensual em
meu ouvido. – Colocarei bem devagar... – Ele estimula o local com
seu dedo. – Está gostoso, Jack?
Meu coração está disparado, e uma excitação louca tomou conta
de mim.
– Tá, pode continuar... – Ele continua com a penetração e com a
estimulação com seus dedos.
De repente ele tira seu membro de mim, e enquanto estimula
meu clitóris, me penetra por trás.
– Relaxa, Jack! – Ele beija meu pescoço, e aos poucos relaxo, e
finalmente ele está todo dentro de mim, e a sensação é incrível. –
Está gostoso, posso continuar? – Mais beijos e mordidas em meu
pescoço, ombros, costas.
Minha excitação está na lua.
– Continua... – Minha voz sai fraca, estou louca de desejo.
Seus movimentos ganham vigor, assim com seus dedos em meu
ponto de prazer, e a excitação, o amortecimento, o prazer de tê-lo
em mim, e então...
– Oh, Rui... – Gemo alto, e o prazer vem em seu ponto máximo,
em ondas alucinantes, tudo dobrado, e melhor, e mais intenso.
E seus gemidos e seu urro de prazer preenchem o quarto,
insanos, vigorosos, como tudo nele.
– Caralho, Jack... – Mais um urro, e aos poucos ele vai se
acalmando. – Foi demais, Jack! A melhor de todas.
Fecho meus olhos e desmonto na cama.
Foi intenso pra cacete, delicioso demais, e cansativo.
– Foi demais, Rui! – Olho para ele ao meu lado, meus cabelos
bagunçados no rosto, e sou incapaz de me mover.
– Você é demais, Jack, a mulher mais incrível que já conheci.
Meu sorriso se esparrama em minha face.
– Você também é o cara mais incrível que já conheci. – Sorrio,
embriagada de amor. – Eu amo você, de um jeito que nunca amei
alguém.
Ele me olha por segundos intermináveis, indecifráveis, de um
jeito que parece ler minha alma, meu âmago.
– Eu também, Jack! Nunca senti por ninguém o que sinto por
você! – Ele acaricia meus cabelos, me beija lentamente. – Te amo,
minha deusa!
O abraço junto a mim, e nos beijamos por longos minutos,
apenas beijos, carinho e amor.
Finalmente paramos e nos olhamos intensamente.
– Vamos tomar um banho, para passar a preguiça? – ele diz
carinhoso.
– Sim, mas hoje estou especialmente preguiçosa, Tenha
paciência comigo, estou meio lenta. – Seguro sua mão e me
levanto.
– Não achei você lenta agora a pouco. – Ele me olha com uma
cara engraçada.
– Engraçado, né? Não sou lenta para essas coisas.
Ele dá risada, e seguimos para o chuveiro.
****

A casa onde mora seu amigo e a esposa é um encanto, e lembra


aquelas casas americanas, que não possuem portões, grades, ou
cercas elétricas. Mas, óbvio que fica em um condomínio de casas,
num bairro muito arborizado, um pouco afastado de onde o Rui tem
sua casa, e próximo da estrada.
Como da outra vez que vim a sua cidade, o céu está limpo, sem
nuvens, apenas um sol maravilhoso enfeita o céu azul e límpido.
– Que casa mais fofa! – digo assim que ele estaciona seu carro
no meio fio, desço do carro e o encontro logo ao meu lado.
– Esse meu amigo se formou em Medicina, e a esposa era
enfermeira, se conheceram no hospital onde trabalhavam,
acabaram se apaixonando e casaram há muitos anos, acho que
logo que ele se formou.
– Que legal! – falo animada, aguardando enquanto eles não
atendem a campainha.
Finalmente o Gabriel aparece com um bebê no colo, lindo
demais, daqueles gordos, bochechas rosadas, olhos incrivelmente
azuis, como os da mãe.
Sorrio encantada, talvez babando feito uma doida, e com as
mãos pinicando para pegar o bebê em meus braços.
– Bom dia, pessoal! Desculpe a demora, eu estava ajudando a
Melissa trocar os bebês. – Ele diz animado.
– Os bebês? – pergunto curiosa.
– Sim, tivemos gêmeos, eles estão com oito meses. – Ele vai
falando enquanto entramos na casa.
– Oh, ele é um bebê lindo! – falo extasiada mexendo nas
mãozinhas da criança.
Esqueci por alguns minutos do Rui, aquele bebê se tornou o
centro das minhas intenções.
Vejo sua esposa descendo as escadas, com mais uma cópia
daquele bebê lindo.
– Oi, Jackeline! Que bom que vocês vieram! – Ela me abraça
com o bebê no colo.
– Que lindos seus bebês, estou encantada! – Acaricio os
cabelinhos loirinhos e finos do bebê.
– Vamos para o jardim, o Gabriel já está arrumando as coisas.
Seguimos todos para a área externa da casa, e confesso,
continuo ignorando o Rui e só tenho olho para os bebês.
– Quer que eu te ajude com o outro bebê? Parece que o Gabriel
está meio atrapalhado. – Tento não parecer ansiosa, mas não
consigo controlar a vontade que sinto de segurar um dos bebês.
– Oh, seria ótimo, assim ele consegue fazer as coisas. – Ela o
chama. – Deixe que a Jackeline me ajude com o Jonathan.
Sigo sorrindo até ele, pego aquele bebê no meu colo e parece
que sinto meu coração inflar.
– Parabéns, Melissa! Eles são lindos! – falo e acaricio o bebê,
que me encara como se eu fosse o bicho papão. – Adoro esse
cheirinho que eles têm. – Beijo sua cabecinha, cheiro, e sinto uma
emoção por dentro.
– Você e o Rui não pretendem se casar? – Ela pergunta
enquanto caminhamos para sua cozinha.
– Acho que não, o Rui não é o tipo de homem que quer se casar
– falo despretensiosamente, mas ela me olha decepcionada.
– Sério? – Ela arregala seus olhos azuis. – Achei que vocês...
– Não, nós não temos planos de casar.
– Você não quer se casar, ter filhos? Você parece gostar tanto de
crianças!
– Eu gosto mesmo, mas... – Dou de ombros.
E os minutos foram passando, talvez no melhor dia da minha
vida, acho que nunca passei tanto tempo cuidando de bebês.
Enquanto os dois homens conversavam no jardim e preparavam
o churrasco, eu e a Melissa demos papinhas para os gêmeos,
depois trocamos suas caquinhas, e por incrível que pareça, não
senti nojo das sujeirinhas deles. Estou em estado de graça, e acho
tudo que vem deles é maravilhoso, até o regurgito do pequeno
Jonathan em meu colo, que me fez colocar uma roupa emprestada
da Melissa.
– Oh, Jackeline, me desculpe! – ela diz sem graça, tentando
limpar meu vestido. – Coloque esse meu vestido de grávida, acho
que servirá em você. – Ela olha para o meu corpo. – Enquanto isso,
irei colocar seu vestido para lavar e secar, daqui a alguns minutos
estará pronto.
– Está tudo bem, Melissa. – Enfio seu vestido de grávida, que
apesar de justo no busto, coube, mas ficou um pouco curto demais,
já que sou mais alta que ela, talvez um pouco indecente nos seios,
mas resolvi me esconder um pouco no quarto dos bebês, até que
meu vestido estivesse pronto. – Posso ficar aqui com eles, enquanto
meu vestido não fica pronto?
– Claro! Vamos aproveitar e dar banho neles, assim o tempo
passa mais depressa! – Ela pega um dos bebês, tira sua roupinha, e
enquanto isso, cuido do outro.
– Sua ajuda está sendo maravilhosa, Jackeline! De vez em
quando recebo algumas visitas que não gostam muito de ajudar
com os bebês, nem toda mulher gosta de crianças, quero dizer, elas
gostam, mas só quando elas estão no colo das babás!
Dou risada da sua constatação.
– Você não tem babás para te ajudar? – pergunto sentada com o
bebê em meu colo, acariciando e brincando com suas mãozinhas, e
sem querer me vejo com os olhos cheios de lágrimas, talvez eu não
consiga ter um desses para mim.
– Jackeline! – A ouço me chamar, eu tinha ido até outro mundo,
no meu mundo interior, e nem notei que ela falava comigo.
– Desculpe, Melissa, me distrai com seu bebê. – Tento disfarçar
uma ou duas lágrimas que escaparam de meus olhos.
– Algum problema, Jackeline? Por que você está chorando? –
Ela vem até mim com o bebê enrolada em uma toalha.
– Sabe, Melissa, talvez eu nunca consiga engravidar, tenho um
problema sério em meu útero, trompas e ovários. – Desabafo. – Um
dos meus ovários já está comprometido, e o outro também deve
estar caminhando para isso. – Mais lágrimas escorrem dos meus
olhos. – Daqui a algum tempo terei que tirar meu útero, a médica
disse que normalmente quem tem meu problema desenvolve câncer
no futuro, enfim, não sei se serei mãe um dia.
Tento me recompor, limpo as lágrimas, e então olho para ela, e
vejo seu rosto molhado, ela simplesmente caiu no choro comigo.
– Me desculpe! – falo constrangida, ela vivendo seu melhor
momento da vida, e eu estragando tudo com meus problemas.
– Sinto muito, Jackeline, muito mesmo, de verdade! – Ela me
abraça junto com o bebê, e choramos as duas juntas.
Nos afastamos em meio às lágrimas descontroladas.
– A gravidez me deixou muito sensível, me desculpe o
descontrole. – Ela coloca o bebê dormindo no berço. – Vamos dar
banho no Flavinho? – Ela pega o bebê do meu colo. – Prepare-se
para dar banho em um bebê, Jackeline! Já fez isso em sua vida? –
Ela sorri, e sorrio junto.
– Nunca, acho melhor você não confiar em mim.
Ela dá risada.
– Faremos juntas, sou enfermeira de berçário, ensinei muitas
mamães a darem o primeiro banho em seu bebê. – Ela tira a roupa
do seu filho, e o coloca em meu colo. – Vamos lá, vou te ensinar.
Capítulo 71
RUI FIGUEIREDO
Sempre procurei não me apegar muito às mulheres que me
relacionava, e também mantinha uma postura mais distante e fria,
assim ficava mais fácil sair dos relacionamentos quando não mais
atendiam ao meu objetivo, que era basicamente, diversão e sexo.
O meu relacionamento com a Jackeline começou completamente
diferente do meu padrão, talvez porque ela é diferente das outras
mulheres, sempre foi contida, arredia e difícil!
Então, como se fosse um castigo, eu que cai em sua armadilha.
Estou de quatro pela Jackeline! Está certo que ela também fica
de quatro por mim, mas no sentido literal da palavra.
E falando nisso, que foda deliciosa tivemos hoje pela manhã.
Porra, foi demais!
E penso nela pela vigésima vez.
O que tanto ela faz com a esposa do Gabriel? Caralho! – Penso
irritado.
Nunca fui um cara muito carente, ou do tipo ciumento, mas
ultimamente...
Ok, confesso, às vezes tenho umas recaídas, fico ciumento com
a Jack, mas é que ela é do tipo mulherão, e chama muito a atenção
com aquele corpão cheios de curvas, de abundâncias.
Ela é gostosa pra caralho!
Mas que porra de demora é essa?
Olho no relógio novamente, pela quinta vez para ser mais
preciso.
Sério, ela deve ter esquecido que veio comigo, ela simplesmente
desapareceu com a esposa do Gabriel, parece que enlouqueceu
quando viu aquele monte de bebês.
Tudo bem, não é um monte, são dois, mas é o suficiente para
enlouquecer qualquer um. Quero dizer, parece que a Jack não
enlouquece, e pelo visto arrumou um emprego de babá.
– Ei, Gabriel, será que está tudo certo lá em cima? As duas
desapareceram!
O Gabriel me olha com um sorriso, enquanto prepara nosso
churrasco.
– É por aí mesmo, cara, esses anjinhos dão um trabalho da
porra! – Ele ri divertido, junta as mãos e fala. – Graças a Deus a
Jackeline está dando uma força, caso contrário você teria que fazer
o churrasco sozinho – Ele bufa cansado. – A filha da puta da babá
largou a Melissa na mão, ela anda estressada pra caralho.
Ele balança a cabeça, e chego à conclusão que quem está
estressado é ele.
– Eu imagino! – Reviro meus olhos ao me colocar em seu lugar.
– Confesso, cara, não nasci para isso, nasci sem esse dom! –
Brinco.
– Ninguém nasce, a gente aprende, e quando eles nascem a
gente se apaixona e fica mais fácil de superar essa loucura.
– Tô fora! – Viro a lata de cerveja no gargalo.
Ele ri novamente.
– Encontrei seus pais há uns oito meses atrás, antes dos
gêmeos nascerem. – Ele me olha de canto de olho. – Eles disseram
que você estava noivo de uma garota, parece que a conheço, é aqui
da cidade, certo?
– É verdade, filha do juiz, o Albuquerque. Lembra dele? – falo
despreocupado.
– Porra, quem não lembra? O cara mandava na cidade! – Ele faz
uma cara feia. – Mas, e aí, o que aconteceu? Lembro que tinha até
data para o casamento, e se não me engano, sua mãe entregou um
convite para minha mãe.
– A Jackeline aconteceu! – Dou risada de mim mesmo.
Engraçado eu admitir isso, agora passado alguns meses, mas foi
isso mesmo, minha deusa do espartilho vermelho me deixou louco,
me esqueci de tudo e de todas.
Ele dá uma risada alta e espontânea.
– Sério, amor à primeira vista? – Ele tira barato. – Mas, então, o
relacionamento é sério?
Ele me olha de lado.
– Sim! – A resposta sai meio estranha, como já disse, odeio falar
de sentimentos, principalmente com um amigo.
– Você está pensando em assumir o relacionamento, tipo casar?
Já está na hora, brother! – Ele me olha engraçado.
Dou risada, achei que só mulheres eram pressionadas a casar.
Penso um pouco antes de responder.
Talvez pela primeira vez em minha vida, começo a pensar em
viver com alguém, quero dizer, com a Jack.
Passamos mais tempo juntos do que longe um do outro, e eu
finalmente admito que esteja amando. Então, talvez esteja na hora
de viver um relacionamento de verdade, dividir o mesmo teto, a
mesma cama.
– Estou pensando em morarmos juntos, mas não quero me
casar de papel passado, essas merdas, talvez fazer um test drive,
ver se consigo viver com uma mulher.
Ele dá uma gargalhada.
– Tá na hora, Rui! Assim você vai ser avô, ao invés de pai,
caralho! – Ele dá risada.
– Uma coisa de cada vez. Falei em morarmos juntos, não ter
filhos! – digo irritado.
Me sinto uma mulher trintona, que todo mundo quer ver casada e
grávida, caralho!
– Mas e a Jackeline, ela também pensa assim? Quero dizer, ela
parece bem empolgada com crianças, talvez ela queira ser mãe! –
ele diz sério.
– A Jackeline tem um problema sério no útero, provavelmente
ela não conseguirá ter filhos – respondo pensativo. – Talvez por
esse motivo penso em morarmos juntos, não corro o risco de ser pai
de surpresa, ela está praticamente estéril.
Não me sinto orgulhoso de dizer isso, talvez o assunto me
incomode, porque se trata da Jackeline, a mulher que amo.
– Isso é foda! – Ele comprime os lábios. – Cara, se a Melissa
não engravidasse acho que nosso casamento teria acabado, ela
quase me enlouqueceu com essa porra!
– Sério? Qual o problema dela? – pergunto por perguntar, aliás,
ando cada vez mais especialista em problemas femininos.
– Sei lá cara, o ciclo menstrual dela é todo atrapalhado, ela tem
umas merdas nos ovários, coisa de mulher. Sou cardiologista, não
entendo nada de bucetas, quero dizer, entendo o básico, só o que
preciso.
Caímos na risada.
– Mas, então, como vocês conseguiram? – pergunto por
curiosidade.
Aliás, não sei por que de uma hora para outra resolvi me
preocupar com essas coisas.
– Fertilização. Não havia outro jeito, ela simplesmente não
engravidava!
– É... A médica da Jack disse que no caso dela a fertilização
poderia resolver, mas eu realmente não quero, cara! Eu amo a
Jackeline, mas nosso relacionamento para por aí, não quero filhos.
– Ok, Rui, sem estresse, cada um pensa de um jeito. – Ele sorri.
– Eu sou louco por esses carinhas, não troco o choro deles pelas
minhas noites tranquilas... É legal pra caralho... só vivendo esse
momento para saber.
Ficamos em silêncio.
Acho que evolui pra cacete desde que conheci a Jack, mas daí
querer ter filhos, é demais pra mim.
****

Finalmente o churrasco fica pronto, o Gabriel segue para chamar


as damas, e então as duas descem apenas com um dos anjinhos do
Gabriel.
– Desculpem a demora, eu e Jackeline estávamos brigando com
meus meninos, um deles resolveu lavar o vestido da Jackeline de
vômito – ela diz rindo, mas eu só de ouvir isso sinto náuseas, olho
para a Jack, e tenho aquela compulsão em cheirá-la.
Confesso, não suporto aquele cheiro de azedo.
– Ela lavou meu vestido, Rui! – ela cochicha em meu ouvido,
vendo minha cara de nojo.
A Jack se senta ao meu lado, imediatamente grudo minha mão
na dela, daqui ela não sai mais, chega de bebês por hoje.
– Eu preciso pegar umas coisas na cozinha. – A Melissa diz, e a
Jack imediatamente se oferece para ajudá-la.
Tá foda hoje.
– Eu pego para você. – A Jack diz solícita.
– Oh, você não saberá onde está, fique com o Flavinho para
mim, eu vou até lá.
Fecho meus olhos rapidamente, eu achava que a história tinha
acabado, mas acho que só quando formos embora.
Vejo o sorriso enorme da Jack ao pegar o bebê no colo, suas
covinhas nas bochechas ficam em evidência, e isso só acontece
quando ela sorri de verdade.
É uma merda, ela adora essas coisinhas pequenas e
trabalhosas.
– Ele não é lindo, Rui? – Ela levanta o bebê para eu ver, joga ele
para o alto, brinca, beija.
Oh, acho que estou irritado com isso.
Finalmente a mãe da coisinha retorna.
– Pronto, Jackeline, obrigada. – Ela faz menção de pegar o
bebê, mas a Jack grudou nele.
– Deixa ele comigo mais um pouquinho, daqui a pouco vamos
embora, e dificilmente os verei de novo. – Mais brincadeiras, o bebê
gargalha em seu colo.
– Ei, Rui, faz um desses para a Jackeline se divertir! – A Melissa
diz, o sorriso da Jack some, o meu também, ficamos tensos. – Eu
estava brincando – ela diz sem graça, e inventa algo para fazer.
E novamente a Jack se esquece de mim, e só tem olhos para
esse anãozinho, ele até que é bonitinho, mas chora, faz cocô pra
caralho, vomita.
Não, não estou a fim.
– Jack, devolve o bebê pra mãe dele – cochicho no ouvido da
Jack, que me olha indignada.
Mas, então a Melissa diz:
– Vou tirar uma foto sua com o Flavinho, Jackeline. Cadê seu
celular, Gabriel? – Ela pega o celular do marido, ajusta a câmera, e
click. – Pronto, depois tiro de você com o Jonathan – ela diz
animada. – Preciso gravar seu número de celular no meu aparelho,
para batermos papo de vez em quando.
Reviro meus olhos.
O churrasco é servido, o bebê começa a reclamar, chora, faz
aquele escândalo, e dorme no colo da Jack.
A olho de relance, e ela parece absorvida pela coisinha pequena
e sedutora, seus olhos estão vidrados no sono do bebê, e suas
mãos acariciam o tempo todo ele, os cabelos, as mãozinhas, as
bochechas.
Bufo pensativo, talvez angustiado.
Talvez um dia eu queira, talvez por ela, mas não agora, daqui
uns cinco anos. Preciso de um tempo, é muita coisa para um cara
só, até ontem eu vivia como uma cara de 20 anos, e de repente,
querem me casar e me dar filhos.
O Gabriel chama a minha atenção, voltamos a conversar, e
assim me distraio dessa loucura que foi vir à casa dele.
Já é final de tarde quando resolvemos ir embora, estou exausto
só de ver o trabalho que os gêmeos do Gabriel dão.
Agora o segundo já acordou, e a Jackeline já grudou nele
também.
A Jack é meio obsessiva por crianças – penso preocupado.
– Acho melhor irmos, Jack, precisamos arrumar as coisas e
pegar a estrada – falo meio de saco cheio.
– Tudo bem! – Mais beijos no bebê, ela não cansa. – Tira a foto
dele, Melissa, quero uma recordação desses lindos – ela diz
agarrada ao bebê.
A Melissa faz uma sessão de fotos da Jackeline com seus
bebês, algumas minhas também com o Gabriel, e finalmente
podemos ir.
– Caralho, Jack, você passou o tempo todo com os filhos da
Melissa, e nenhum comigo!
Merda, isso soou bem gay, mas as palavras estavam me
sufocando, eu precisava dizer.
– Credo, Rui! Você tem ciúmes de dois bebezinhos, que coisa
mais estranha! – Ela faz uma cara feia.
– Não tenho ciúmes de ninguém, mas é que você mal se sentou
ao meu lado e me fez companhia.
– Achei que você queria colocar o papo em dia com seu amigo –
ela diz displicente.
– Porra, haja assunto, ficamos umas seis horas na casa deles.
Ela me olha rindo, se inclina sobre meu banco, me abraça, me
beija, e tenho que dizer, adoro isso.
– Tá carentinho, Rui? – Mais beijos em minhas bochechas. –
Agora sou só sua. – Ela envolve meu pescoço com seus braços. –
Te amo, meu bebezão lindo! – ela diz em meu ouvido, sorrio feito
um idiota apaixonado.
Ela volta para seu banco.
– Depois que o Gabriel enviar as fotos dos bebês, você me
envia? Fiquei tão apaixonada por eles.
Olha para ela, e vejo seus olhos sonhadores.
Tento não pensar muito sobre isso, não posso me sentir
responsável ou culpado, nos conhecemos há alguns meses, as
coisas não funcionam assim comigo.
Capítulo 72
JACKELINE BARTOLLI
Finalmente chegamos a casa do Rui e confesso, estou em
estado de graça.
Tenho certeza que nasci para ser mãe, daquelas bem babonas,
exageradas, e protetoras.
Amei passar minha tarde com a Melissa e seus bebês, e se
morássemos na mesma cidade, não sairia de sua casa, a ajudaria
criar seus filhos, tipo ama de leite.
Espreguiço-me na cama, depois de uma sessão de sexo com o
Rui e um banho, não sinto vontade de fazer mais nada de minha
vida, além de dormir.
Me sinto tão molenga esse final de semana, meio lenta,
preguiçosa, acho que ando trabalhando demais para o meu chefe
carrasco lindo.
Ele sai do banheiro glorioso, como só ele pode ser.
Que corpo esse homem tem, por isso morro de ciúmes dele.
Mas, não é só o corpo, é esse rosto másculo, tudo é harmonioso
nele, como um deus grego.
E novamente a maldição do celular vem aos meus pensamentos,
ando obcecada por ele, quero dizer, para saber com quem o Rui
tanto dedilha sua tela.
– Ainda assim, Jack? – Ele enruga sua testa, e enxuga seus
cabelos. – Pensei que já estivesse trocada. Precisamos ir, gostosa!
– Rui... – falo manhosa. – Será que não poderíamos dormir aqui
hoje, saímos amanhã bem cedo! – Bocejo cansada. – Estou tão
cansada, não foi fácil ajudar a Melissa com aqueles bebês lindos!
Ele balança a cabeça levemente, e mal acredito que ele ficou
com ciúmes dos bebês, o Rui é tão bobinho.
– Tem certeza? Você vai dormindo no caminho, é mais fácil
chegarmos hoje à noite, amanhã será corrido. – Ele coloca a toalha
na cintura e caminha até mim.
– Por favor, Rui, estou me sentindo tão cansada. – Bocejo de
novo. – Queria tanto dormir aqui, gosto tanto da sua casa, é tão
gostoso dormir aqui, com esses passarinhos piando e enchendo o
saco de manhã.
Ele dá risada e se senta ao meu lado da cama.
– Está tudo bem com você? Normalmente você tem mais pique
do que eu! – Ele acaricia meus cabelos e me olha intensamente.
– Sim, estou bem, apenas cansada, e com muito sono. – Puxo
ele para junto de mim. – Vamos dormir bem juntinhos, meu ursinho!
Ele sorri de novo, que boca linda esse homem tem.
– Será que você aguenta mais um pouco? Vou fazer um lanche
para nós! – Ele se levanta, pega uma bermuda que está sobre um
sofá confortável que existe em seu quarto.
– Vou descer com você, caso contrário, dormirei, e meu
estômago está roncando. – Ele vai pegar sua camiseta, mas eu a
pego primeiro. – Ainda lenta, sou mais rápida que você, Doutor Rui
Figueiredo. – Brinco com ele, enlaçando seu pescoço, e olhando
para seus olhos lindos. – Adorei nosso final de semana, como
sempre.
Ele sorri levemente, abraça minha cintura e me beija
longamente, me fazendo sentir borboletinhas e outras coisas no
estômago e em outras partes do corpo.
– Vamos comer, depois namoramos mais um pouco – ele diz
com seu olhar intenso, aquele que me conquistou, e que não me
deixou mais sair de sua vida.
****

O celular do Rui toca às 5h da manhã, e tenho vontade de


desligá-lo, voltar a dormir e não trabalhar hoje.
– Vamos, Jack, você que pediu para irmos embora hoje! – Ouço
sua voz, estou babando literalmente, com minha cabeça enfiada no
travesseiro, a levanto com os olhos fechados, zonza de sono.
– Que horas são, Rui? Não dá para dormir mais 15 minutos? –
Minha cabeça volta a despencar sobre o travesseiro.
Sinto um movimento no colchão, abro lentamente meus olhos e
vejo o Rui de banho tomado.
– Está na hora, preguiçosa. – Ele tira a coberta que está sobre
mim. – Vamos, Jack, a gente toma um café no caminho.
– Oh, Rui, parece que não dormi nada, estou com tanto sono! –
Choramingo.
– Quer que eu te leve para o banheiro no colo, e te coloque
embaixo do chuveiro?
– Nãooo!!! – Arregalo meus olhos e o vejo rindo divertido. – Eu já
vou. – Me levanto lentamente, e caminho meio cambaleando para o
banheiro. – Parece que bebi ontem, estou meio zonza.
Ele me abraça pelas costas e sai me escoltando até o banheiro,
liga o chuveiro, e me enfia embaixo da ducha (dormi nua, como
sempre).
– Quer que eu te ensaboe, ou você se vira? – Abro meus olhos
preguiçosa.
– Eu me viro – resmungo. – Estou mal-humorada, só para você
saber.
Ele revira os olhos e sai rindo do banheiro.
Depois de duas horas e tantas de estrada, finalmente chegamos
a sua casa. Dormi o caminho todo, e ainda assim estou com sono,
parece que fui mordida pelo mosquito do sono.
Coloco uma roupa de trabalho, ele também, a empregada faz
dois cafés expressos para nós e pães de queijo.
Engraçado, eu nunca tinha visto pão de queijo eu sua casa,
agora sempre tem no café da manhã.
Sorrio sozinha com a constatação que ele pediu para ela fazer
para mim.
Me esgueiro no banquinho que estamos sentados, e beijo seu
rosto demoradamente.
– Você pediu para fazer pão de queijo para mim? – pergunto
cheia de charme.
– Eu não! – ele diz indignado.
Mas eu sei que sim, ele nunca dá o braço a torcer, mas eu sei
que foi ele, ele me mima o tempo todo, é o cara mais especial que já
conheci, da forma dele, mas sim, ele é muito especial.
– Te amo, Rui Figueiredo, por pedir para a Jô fazer pão de queijo
para mim. Sou viciada neles, só falta um doce de leite para ficar
perfeito.
Ele me olha de canto de olho e dá um sorriso contido.
– Amanhã eu sei que terá doce de leite, você faz tudo que eu
quero. – Dou uma risada divertida.
– Não vai ter, não! Se vira, Jackeline, vá ao mercado e compre. –
Ele desce do seu banquinho, abraça minha cintura e me beija. –
Qual a marca que você gosta?
Caio na risada.
– Não falei? – Encho seus lábios de beijos, rindo e beijando. – Te
adoro, Rui! – Mais beijos. – Muito, sabia? – Volto a olhá-lo nos
olhos.
– Chega de namoro, Jackeline, vamos trabalhar. – Ele dá um
tapa na minha bunda e sai andando pela sala. – Chega de dar pão
de queijo para o Bóris. Ele está ficando gordo, Jackeline.
O Rui parece que tem olhos nas costas, que saco! Disfarço e
escondo rapidamente o pão de queijo que estava dando para o
cachorro.
– Que pão de queijo? Imagine que dou pão de queijo para o
Bóris! – Jogo o pãozinho discretamente e saio correndo atrás do
Rui, agarro sua cintura e seguimos para o elevador.
****

O período da manhã se arrasta, me sinto cansada, preciso


dormir cedo hoje, e não fazer sexo.
Meu ramal toca, atendo e ouço a voz da Carolina:
– Bom dia, sumida! – ela diz animada como sempre.
– Bom dia, advogada! Como foi seu final de semana? – falo
entretida com a organização dos papéis a minha frente.
– Bom! Saí com a Mirella, fomos a um show, depois a um motel,
e você já sabe! – Ela ri.
Reviro meus olhos.
– Eu e o Rui fomos para o interior, almocei com a sogra megera,
quase morro de indigestão, mas deu tudo certo. – Torço meus
lábios. – Também conheci um casal de amigos dele, a esposa do
cara teve gêmeos, Carol, você não tem ideia como eles são lindos!
– Legal, amiga! Esse namoro está bem sério, hein!
Sorrio.
– Está muito legal! Ele é um cara incrível, Carolzinha, estou
loucamente apaixonada por ele! – falo sonhadora.
– E ele, será que também está? – ela diz intimidadora.
Giro meus olhos.
– Acho que sim! Pelo menos ele disse... – falo indignada.
– Tá bom, só estou te enchendo o saco, ele parece
apaixonadíssimo por você! E também, entre nós, quem não se
apaixonaria por Jackeline Bartolli? Essa italiana é apaixonante. –
Ela brinca.
Dou risada.
– Podemos almoçar hoje, Jack? Estou com saudades de você,
faz tanto tempo que não batemos papo!
Puxo o ar e concordo com ela, não tenho tido tempo para ela,
estou sempre com o Rui.
– Claro, vamos almoçar! Eu pago hoje, estou em dívida com
você. – falo animada.
– Ok, mas eu quero ir naquele restaurante dos bacanas! – Ela ri.
– Eu pago o meu, e você o seu, assim não te exploro.
– Fique tranquila, Carol, não tenho mais dívidas, e meu chefe
vive pagando meus almoços. Finalmente não estou dura!
Damos risadas.
– Combinado, às 13h, lá embaixo!
– Ok, beijos!
Desligamos.
Um toque em meu ramal e vejo que é o Rui.
– Oi, chefinho lindo! – Brinco.
– Vem aqui, gostosa – ele diz com sua voz grossa e sexy.
– É pra já!
Me levanto animada, abro sua porta e o vejo em sua mesa.
– Tudo bem? No que posso ajudá-lo? – Finjo formalidade.
– Senta aqui no colo do seu chefinho lindo – ele diz com sua
cara de safado.
Dou a volta em sua mesa, abraço seu pescoço, me sento em
seu colo, dou um beijo gostoso nele, volto a olhar para ele e sorrio.
– Pronto, mais alguma coisa? – falo irônica.
– Queria te avisar que vou almoçar com um cliente! – Ele
acaricia meus cabelos. – Vou sair agora, devo demorar umas duas
horas, esse cara fala pra caralho, é enrolado e compulsivo. – Ele
revira os olhos. – Odeio almoçar com ele, mas ele é milionário, e eu
adoro o dinheiro dele.
Dou risada.
– Tudo bem, peça uma massa, assim ele ficará cheio e com
sono. Ah, enche a cara dele de vinho.
Ele balança sua cabeça.
– Boa ideia. Talvez, depois ele venha até o escritório, para
assinar o contrato, de repente o vinho ajude com isso, vou seguir
sua sugestão.
Ele segura meu rosto e me beija.
– Bom almoço, Jack! – Ele levanta nós dois, segue até seu terno.
– E nada de comer lanches.
– Tá bom, vou almoçar com a Carolina.
– Ok! – Mais um beijo, agora na testa. – Se comporta, aquela
Carolina é meio doida.
Sorrio, e o acompanho com o olhar até a porta.
Ele acena para mim, e eu fico ali o olhando apaixonada.
****

A Carolina escolheu um restaurante do shopping bem legal, de


comida árabe.
Aconchegamo-nos a uma mesa, começamos a conversar, e
assim que nossos pratos chegam, ouço uma voz masculina,
olhamos para cima e quem está lá é o Doutor Fernando, aquele
meio galinha que ficou me paquerando assim que comecei a
trabalhar no escritório.
– Posso me sentar com as senhorinhas? – ele diz em tom de
brincadeira.
Eu e a Carol trocamos olhares desanimadas, afinal, a ideia era
um almoço de amigas. Mas fazer o que?
– Claro, pode se sentar! – respondo imediatamente, e a Carol
reitera meu convite.
Os dois trocam algumas palavras, mas logo sou incluída no
assunto.
O Doutor Fernando é do tipo galanteador, charmoso, sedutor, e
que parece estar o tempo todo jogando charme para cima das
mulheres.
Dou risada sozinha, eu e a Carol parecemos duas adolescentes
nos cutucando embaixo da mesa, e tentando disfarçar que estamos
rindo não para ele, mas sim DELE!
Disfarço, sorrio de algumas piadinhas, brincadeiras que ele faz,
ele é tão óbvio que dá até tédio!
E então, tomo um susto ao ver o Rui em minha frente.
Cacete, o que ele está fazendo aqui?
– Oi, Rui! – falo meio desconcertada, sua expressão é aquela
que não gosto, sua testa está franzida, e os olhos cerrados.
– Olá! – Ele olha para todos, então pega em minha mão e diz:
– Vocês se incomodam que eu roube a Jackeline de vocês? Eu
preciso apresentá-la a um cliente. – Ele sorri, mas eu sei que este é
seu sorriso falso.
– Rui, eu convidei a Carol para almoçar, então preciso ficar e
pagar a conta! – Tento sorrir, mostrar descontração, mas ele me
levanta a força.
– Vou avisar ao garçom que a conta dessa mesa é por minha
conta. – Ele sorri de novo daquele jeito falso, e me arrasta para sua
mesa.
– Rui, por favor, eu não quero almoçar com você e seu cliente! –
falo brava.
– Você quer o que, Jackeline? – Ele para e me encara
enfurecido. – Almoçar com aquele porra do Fernando? Você pensa
que não vi o jeito que conversavam, seus sorrisos para ele?
Arregalo meus olhos incrédula.
– Você está doido? Eu apenas estava sendo simpática, sorrir faz
parte!
Céus, o Rui está doente!
– Chega, Jackeline! Você irá almoçar comigo, e não quero mais
falar sobre isso! – Ele entrelaça minha mão na sua e sai
caminhando a passos largos pelo restaurante.
Meu pai eterno, esse homem é problemático!
Finalmente chegamos à sua mesa, um homem com cara de
bonachão me cumprimenta.
– Então é essa a felizarda? – Ele se levanta. – Muito prazer. –
Ele me cumprimenta com um sorriso.
– Ela mesma! – o Rui responde sério. – Jackeline, esse é nosso
cliente, o Senhor Salim!
Cumprimento o senhor, estou sem graça.
O que será que o Rui disse para ele?
– Então, como estávamos falando... – O Rui começa a falar
energicamente, parece meio nervoso, estressado, vira a taça de
vinho de uma única vez no gargalo, chama o garçom apressado, e
diz:
– Veja o que a moça quer comer, traga mais um vinho, e inclua a
conta daquela mesa em minha conta! – Ele diz tudo secamente, me
fazendo sentir um gelado no estômago.
– Não quero nada, eu já havia terminado meu prato – respondo
irritada.
O assunto entre os dois continua, me sinto entediada, mas
resolvo ficar em silêncio e não arrumar briga com o Rui.
Olho com espanto os dois secarem a segunda garrafa de vinho.
O Rui não conseguirá trabalhar hoje.
Ele já está mais relaxado, calmo, então sinto sua mão em minha
coxa, num movimento de sobe e desce excitante, em seguida seus
dedos começam a subir minha saia, até atingir minha calcinha.
Abro levemente minha boca em sinal de surpresa, seguro sua
mão, mas ele força a passagem, e logo seu dedo está roçando meu
sexo por cima da calcinha, devagar e excitante.
O celular do cara toca, agradeço aos céus, me inclino em
direção ao ouvido do Rui.
– Rui, por favor, tira sua mão daí! – cochicho.
Ele me olha com um sorriso, beija meus cabelos, e segue com
sua boca até minha orelha:
– Só se você gozar para mim! – Um beijo suave, que me faz
arrepiar inteira.
Sorrio provocativa, passo minha mão por baixo da toalha,
encontro seu volume generoso, duro e ereto, o aperto com força e o
faço soltar um pequeno grito.
– Ai, caralho! – Ele geme de dor.
O homem devolve o celular para a mesa, e olha assustado para
o Rui.
– Tudo bem, Doutor Rui? Algum problema? – Ele parece
realmente preocupado, então olho para o Rui e percebo que estou
apertando demais suas bolas.
– É o nervo ciático. Não se preocupe, às vezes, ataca do nada! –
ele diz, e tenho vontade de gargalhar.
Alivio o aperto e sorrio para ele.
– Está melhor agora, Rui? – Acaricio seus cabelos, e o olho
sorrindo.
Ele tira minha mão do meio das suas pernas, e a segura com
firmeza.
– Agora estou, minha deusa! – ele diz irônico.
Cruzo minhas pernas para impedi-lo de avançar novamente em
área proibida, beberico sua taça de vinho, e dou risada das piadas
que o Rui conta para o cliente.
O homem está pra lá de Bagdá, vermelho feito um pimentão, e
rindo até da história triste da morte de sua esposa.
– Eu adoro esse rapaz, Jackeline! – ele diz sentimental. – O Rui
é como alguém da minha família.
O Rui dá um apertão em minha mão, e relembro que o Rui disse
que só queria o dinheiro dele.
Coitadinho!
– O Rui também tem muito apreço pelo senhor, não é Rui? –
Aperto sua coxa.
– Claro! O Senhor Salim, é o tio que nunca tive! – Os olhos do
homem enchem de lágrimas, ele está caindo de bêbado.
Oh meu Deus!
– Acho que precisamos ir, Rui! – Sorrio para o homem. – O
senhor veio dirigindo? – pergunto em pânico.
– Não se preocupe, querida, estou bem! – Ele tenta se levantar,
mas não consegue.
Olho para o Rui.
– Oh, Rui, você embebedou o cara! – cochicho.
– Eu não, você que disse para encher a cara dele de vinho!
– Eu não quis dizer isso! – falo desesperada. – Vamos levá-lo
para o escritório, ele não pode ir embora assim.
****
Olho pela terceira vez o homem deitado na recepção da minha
sala, roncando feito uma motosserra.
Reviro meus olhos e sigo para a sala do Rui.
Entro sem bater.
– Rui, não dá para trabalhar com aquele cara roncando em
minha sala! – Faço um bico.
– Então fica aqui na sala do seu chefinho lindo, minha deusa! –
ele diz meio mole, deixando claro que ele também não tá legal.
– Oh, Rui, onde já se viu beber desse jeito? Você e o cliente
estão bêbados! – falo brava.
– Faz amor comigo, Jack, que minha bebedeira passa! – Ele se
levanta e vem em minha direção.
– Não, Rui! Seu pau nem vai subir!– falo irritada com a situação.
– Não sobe o caralho, dá uma olhada nisso aqui! – Ele abre sua
calça e coloca aquele negócio grande e duro para fora.
O olho assustada.
– É, parece que está funcionando, né! – Me afasto um pouco. –
Guarda isso, Rui, o cara pode acordar...
Ele gargalha, está bêbado de verdade.
– Ele vai acordar só amanhã, Jack! – Mas alguns passos e estou
prensada contra sua mesa. – Quero te foder, gostosa... – Ele me
coloca sobre sua mesa. – E tem que ser agora, estou com um tesão
da porra.
Aquela boca gulosa invade a minha com pressa, em seguida um
puxão em minha blusa faz os botões cederem, expondo os meus
seios no sutiã.
Sua língua macia percorre toda a minha pele, se demorando ao
redor das alreolas, lambendo e sugando deliciosamente.
– Ruiii!!! – Gemo de prazer.
– Você quer o meu pau dentro de você, Jack? – Ele acaricia meu
sexo com os dedos, de uma forma erótica e sensual.
– Quero, Rui! – respondo de olhos fechados.
– Então pede, Jack.
– Oh, Rui... – Seu dedo me penetra.
– Pede, Jack: “Enfia seu pau em minha buceta, Rui.”
Oh, que tortura!
– Enfia seu pau, Rui... – Gemo alto.
Ele beija meu pescoço.
– Primeiro vou lamber ela inteirinha, Jack, adoro sua buceta –
ele diz sensualmente, com sua voz baixa e rouca.
Ele mergulha sua língua em mim, me fazendo ofegar de prazer.
– Ahhh!!!
Jogo minha cabeça para trás e me entrego à sensação de prazer
que ele me proporciona. E os movimentos aumentam, e a
intensidade, e finalmente o êxtase, seguido de um arrepio de prazer,
gemidos, um amortecimento e o Rui me penetra, intenso, com
movimentos rápidos, firmes, fortes e de repente ele explode de
prazer.
– Oh, Jackeline! – Ele segura meu rosto entre suas mãos e me
beija faminto. – Você me mata de prazer, Jackeline! – Uma
expressão de puro prazer toma conta de seu rosto.
Olhos fechados, a respiração rápida, ficamos assim por alguns
segundos, desfrutando desses momentos de puro prazer.
– Foi gostoso, delícia? – Ele sussurra em meu ouvido. – Eu
adorei, queria mais.
Sorrio contra seu peito.
– Foi gostoso, muito gostoso! – Beijo seus lábios. – Preciso me
arrumar, tira esse negócio gostoso de dentro de mim, por favor! –
falo em tom de brincadeira.
– Ele quer mais – ele diz com seu jeito safado.
Então, ouço alguém bater na porta, empurro o Rui para longe de
mim.
– Rui, guarda esse negócio! – Desço da mesa toda atrapalhada,
tento fechar a camisa, mas existem muitos botões arrancados no
desespero do Rui. – Rui, minha camisa não fecha! – Ele pega seu
terno e joga em cima de mim, e então diz:
– Pode entrar! – Ele alisa sua camisa, arruma a gravata e sorri,
como sempre.
A porta abre e vejo o Senhor Salim entrar, ele está péssimo.
A gravata frouxa foi deixada assim de propósito pelo Rui, para
que ele não morresse sufocado. Seu pescoço gordo não suportaria
a pressão dela.
Ele está suado e vermelho, e passa suas mãos nervosamente
pela testa.
O Rui caminha até ele animado.
– Sente-se aqui, Senhor Salim, a Jackeline irá providenciar um
café para nós. – Então ele me olha. – Jack, café e água, e imprima o
contrato para formalizarmos a consultoria jurídica. – Ele pisca, e não
tenho como não rir, o Rui é muito engraçado.
****

Chegamos ao seu apartamento em meio a sua comemoração a


respeito da assinatura do contrato.
– Porra, sua ideia de encher a cara do libanês foi perfeita, Jack!
– ele diz no elevador. – Ele nem reclamou do valor! – Ele ri divertido.
– Eu não queria embebedar o cara! Eu estava brincando, Rui! –
reclamo.
Andamos em direção à sala, ele se joga no sofá, o Bóris pula em
cima dele e o enche de lambidas.
Sento ao lado dos dois, e perdemos alguns minutos entre afagos
e carinhos em seu mascote carentinho.
– Vamos subir, minha gostosa, vamos comemorar, você diz onde
você quer ir hoje – ele diz enquanto subimos a escada.
– Quero dormir, Rui! – Entramos em seu quarto e ele me olha
surpreso.
Tiro seu terno e coloco em um mancebo, e me jogo em sua
cama.
– Como assim, Jack? Vamos comemorar!
– Tô cansada, Rui! – Bocejo feito uma leoa.
– Que desânimo é esse? Vamos comemorar em um lugar legal.
– Ele se senta ao meu lado da cama e acaricia minhas pernas.
– Tá bom, mas posso dar uma dormidinha enquanto você toma
banho?
Ele me dá um beijo rápido.
– Vinte minutos, Jack. – Ele dá um tapinha em meu bumbum e
segue para o banheiro.
Relaxo em sua cama, abraçada ao seu travesseiro.
Quando começo a pegar no sono, ouço o toque do meu celular.
Abro meus olhos preguiçosa, me levanto, pego minha bolsa, o
celular, e vejo o nome da Melissa, minha nova amiga.
Sorrio e atendo.
– Oi, Melissa! – Atendo-a feliz.
– Oi, Jackeline! Tudo bem?
– Tudo ótimo.
Trocamos algumas palavras, pergunto dos bebês, falamos sobre
besteiras e então ela me pergunta:
– Você já viu as fotos que o Gabriel enviou para o Rui?
Levanto as sobrancelhas.
– Não, ele não me disse nada!
– Oh, esses caras são todos tapados! – Ela ri, e ouço ao fundo o
chororô dos bebês. – Você está com ele agora? Dá uma olhada, as
fotos ficaram lindas!
A curiosidade toma conta de mim.
– Estou em seu apartamento, ele está tomando banho agora,
mas o celular dele está bem aqui, vou fuçar nas mensagens dele e
achar as fotos que o Gabriel enviou! – Sorrio. – Depois te ligo para
avisar se achei as fotos. Um beijo, Melissa!
Pego o celular do Rui no aparador, desbloqueio a tela e entro. O
aplicativo de mensagens está na primeira tela, titubeio um pouco,
me sinto constrangida de mexer em seu celular.
– Dane-se! – digo finalmente para mim mesma.
Abro o bendito, vejo muitos contatos, muitos rostos de mulheres,
não me aguento de curiosidade, escolho uma aleatória e abro:
“Oi gostosão! Tô com saudades, me liga para sairmos.”
Meu coração dá um salto, chamo a vagabunda de meia dúzia de
nomes feios.
– Filho da puta! – Esbravejo, sentindo uma raiva louca dele.
Ele mentiu para mim!
Escolho um novo contato, e quase jogo o celular na parede.
Um par de peitos siliconados aparece na minha frente.
A vadia mandou uma foto nua da cintura para cima. A cara dela
já fala tudo.
– Piranha! – falo comigo mesma.
Meu peito sobe e desce rapidamente, estou respirando como um
touro nervoso.
E vejo outras mensagens, convites para sair, declarações de
saudades, enfim, ele continua como antes, não mudou nada.
Como fui inocente em acreditar nesse cara, ele me enganou
direitinho!
Uma desilusão toma conta do meu coração.
Acreditei tanto nele.
Limpo as lágrimas que desceram pelo meu rosto, e então ele
abre a porta do banheiro e me vê com seu celular em meu colo.
– O que você está fazendo, Jack? – Suas sobrancelhas se
curvam numa expressão brava e de quem não gostou de me ver
com seu celular.
– A Melissa me ligou avisando que o Gabriel havia enviado as
nossas fotos para o seu celular. – Tento controlar a raiva e a
decepção que estou sentindo. – Achei que não havia nada de mais
em entrar em suas mensagens e olhar as fotos que o Gabriel enviou
para você. Mas, acabei me levando pela curiosidade, vi muitos
contatos de mulheres e então entrei em alguns, e aí descobri por
que você perde tanto tempo com essa merda! – Jogo o celular na
cama.
Me sinto estranhamente calma, talvez amortecida, talvez eu já
esperasse isso dele.
Uma vez galinha, sempre galinha.
Me levanto sob seu olhar confuso e pego minha bolsa.
– Jack, espera! Eu não sai mais com nenhuma dessas mulheres
desde que estamos juntos... – Ele segura meu braço.
– Então, o que significam essas mensagens? Que tipo de
homem deixa ex-casos cadastrados em seu celular? – Meu tom de
voz está terrivelmente calmo. – Você não é sério, Rui, você só
estava brincando comigo esse tempo todo. – Tiro meu braço de sua
mão, desvio dele com um bolo na garganta.
Ele entra rapidamente na minha frente, impedindo que eu saia.
– Jack, eu não me comunico com nenhuma dessas mulheres. –
Ele esfrega seu rosto. – Você tem razão, eu não deveria tê-las
mantido aí, mas não houve má intenção da minha parte. Eu sou fiel
a você, não duvide de mim! Eu disse que te amo, eu nunca disse
isso para ninguém. Acredite em mim, eu deleto essas mensagens
que elas enviam, é coisa de homem, temos algumas manias idiotas,
mas isso não é traição, Jack.
Ficamos nos olhando segundos intermináveis, mas não dá para
dizer que está tudo bem.
Não consigo.
– Eu vou embora. Por favor, me dá licença! – Pego na maçaneta,
mas ele me impede.
– Por favor, Jack, acredita em mim!
– Eu acreditei, Rui, e olha o que encontrei. Você é falso e
mentiroso. – Algumas lágrimas descem pelo meu rosto. – Por favor,
me deixe ir embora.
– Não, eu não vou deixar! – ele diz com um olhar angustiado. –
Você mesma pode bloquear quem você quiser, não vamos brigar
por causa disso. Eu sei que errei, mas não foi para te enganar. Foi
imaturidade minha, Jack!
Viro minhas costas para ele, ando pelo quarto e me sento na
cama.
Ele vem até mim, se ajoelha a minha frente, e me entrega seu
celular.
– Você faz isso, ok? – ele diz com cara de cachorro sem dono.
Estou confusa, mas acima de tudo, estou me sentindo
enganada, ele conversava com essas mulheres pelas minhas
costas.
Não acredito mais nele.
Olho novamente para ele, depois para o celular.
Entrego o celular para ele.
– Eu vou embora! Não quero mais saber das suas histórias, Rui!
– Me levanto rapidamente, e saio pela porta.
Ele me alcança.
– Do que você está falando? – Ele me encara enfurecido.
– Que não quero mais esse relacionamento cercado de histórias
mal contadas, de mentiras, armações. Desisto de você, volte para
sua vida de playboy comedor de garotinhas e de piranhas! Não
gosto de homens como você, não sei por que me deixei cair em sua
lábia! – Puxo meu braço e volto a caminhar para as escadas, mas
antes de sair, largo as chaves do carro que ele me deu, assim como
os documentos.
Nunca precisei de homem para me sustentar, vou sobreviver
sem ele.
Capítulo 73
RUI FIGUEIREDO
Eu não queria deixá-la ir embora assim, achando que eu sou
um filho da puta, e que a estou enganando gratuitamente. Mas, não
consegui, naquele momento, ver um jeito de convencê-la de que
tudo foi um mal-entendido.
Tenho consciência que foi cagada minha, eu não precisava
manter aquelas garotas nos meus contatos de mensagens, mas
achava divertido dividir com meus amigos as conversas, mídias,
essas merdas.
Ok, também tem aquele negócio do ego, ser assediado pela
mulherada faz bem para a autoestima.
Mas, no final das contas, nada disso valia a pena, era só
curtição, nunca levei nada disso a sério.
De fato, eu não sabia mais o que era ser exclusivo de uma única
mulher, nem mesmo na época da Priscila. Eu a traia desde o início,
nunca gostei dela de verdade, era tudo um jogo, um negócio, nunca
levei a sério o que tínhamos.
Mas, não é assim com a Jack, estou apaixonado por ela! Estou
levando a sério nosso relacionamento, estou me dedicando, e
melhorei pra cacete, não digo 100%, mas 80%, e esses 20% dizem
respeito a essas coisas, pequenos detalhes, coisas bobas, mas que
para uma mulher faz uma diferença enorme.
Eu até deletei e bloqueei alguns contatos, das mais chicletes, e
acabei deixando esses talvez por comodismo, babaquice, coisa de
homem, temos essa necessidade de provar nossa masculinidade.
Me deito na minha cama, olho para o teto e tento pensar em algo
que a faça me perdoar.
A Jackeline é uma mulher difícil, não vai ser fácil convencê-la
que não troquei mensagens com essas mulheres, que não sai, e
que não tinha a intenção de fazer isso.
– Merda! – Esbravejo sozinho.
A noite estava boa pra cacete, nosso dia foi ótimo, fechamos um
contrato que queria há tempos, iríamos comemorar, e a noite
acabaria boa como sempre, a gente se amando e dormindo juntos.
Justamente agora, que resolvi que está na hora de virar homem,
assumir um relacionamento de verdade.
Não estou com muita sorte com a Jack.
Ok, a deixarei esfriar a cabeça, amanhã conversamos, quero
dizer, se ela for trabalhar.
Fecho meus olhos e me puno mentalmente pela burrice.
– Agora a merda está feita, preciso achar um jeito de consertar!
– Me levanto e sigo para cozinha.
****

Tive uma daquelas noites de merda, remoendo o que aconteceu,


e tentando achar um jeito de conseguir seu perdão.
Tomo um banho e me visto rapidamente, quero chegar cedo ao
escritório, provavelmente ela estará lá, e teremos um tempo para
conversarmos antes do pessoal chegar (prefiro estar sozinho com a
Jack, ela costuma gritar um pouco quando fica nervosa).
Logo estou no meu carro, ansioso para ver se a Jackeline foi
para o trabalho, ou chegar à conclusão que a situação está ainda
pior do que eu pensava.
Abro a garagem e estaciono meu carro, sigo para a porta de
entrada, e percebo pelas luzes apagadas que ela não chegou
ainda.
Um certo desânimo me abate, algo me diz que ela não virá.
Começo minha rotina, despacho alguns e-mails, leio outros, as
horas passam rapidamente e logo está no horário de entrada dos
funcionários, me levanto, sigo até sua sala, está vazia e do jeito que
ela deixou no dia anterior.
Ok, ela não vira, é isso!
Ligo rapidamente para a recepção, o rapaz atende.
– Bom dia, Alexandre! – falo sem muito ânimo.
– Bom dia, Doutor Rui! – Ele, ao contrário, fala com energia,
animação, e a voz mais esganiçada que da Jackeline.
– Por acaso a Jackeline ligou para você, avisou alguma coisa?
Ela não chegou ainda!
– Sim, ela me ligou a pouco, disse que não virá hoje, assuntos
particulares – ele diz em tom de fofoca. – Ela pediu para ajudá-lo,
então, assim que eu terminar algumas coisas que estou fazendo,
subo a sua sala.
– Ok, não tenho pressa, qualquer coisa eu te ligo! Obrigado! –
Desligo a ligação desanimado.
Essas coisas que me irritam em um relacionamento, essas
picuinhas, desentendimentos, brigas idiotas.
Odeio isso, não tenho saco, nem paciência.
Ok, ok, fui eu que provoquei a confusão, então eu tenho que dar
um jeito de consertar.
****

Ligo pela terceira vez no dia para o gerente do RH.


Como da outra vez, ele deve me achar o cachorrinho de
estimação da Jackeline, aquele que ela joga para o alto, veste
fantasias de dias das bruxas, de papai noel...
Me sinto um idiota na mão dessa mulher.
Ele atende rapidamente.
– Boa tarde, Doutor Rui!
– Boa tarde, Ferreira! E então, ela te ligou?
Dá uma certa vergonha de dividir com meu funcionário dos
Recursos Humanos a situação ridícula que me encontro. Minha
secretária e namorada me abandona, não me atende, não lê minhas
mensagens, e preciso evitar que ela peça demissão sem falar
comigo.
– Então, Doutor Rui, nada ainda! – ele responde sem graça. – O
doutor quer que eu ligue para ela, converse? Talvez eu consiga
convencê-la a vir trabalhar, entendo que houve algum problema
entre vocês. Brigas de casal, é isso?
Está vendo? É disso que falo, minha moral tá na lama por causa
da Jackeline.
– É, brigamos ontem, ela ficou chateada comigo, e resolveu se
vingar não vindo trabalhar! – Dou um sorriso idiota. – Mulher é uma
merda, Ferreira, elas fazem uma confusão dos infernos na vida da
gente, é por isso que tem tanto viado por aí!
Ele dá risada.
– Verdade! – Ele volta a sua postura séria. – Já percebi que a
Dona Jackeline é um pouco explosiva.
Que caralho, agora ele acha que somos amigos, e vai falar mal
da Jackeline para mim?
Era só o que me faltava!
– Impressão sua, ela é bem centrada, só está brava comigo! –
falo seriamente. – Então, vamos continuar monitorando. Se ela vier
com a história de carta de demissão você rasga, se enviar por e-
mail, você desconsidera, se for por telefone, diga que ela precisa
falar com o dono dessa porra. Combinado, Ferreira?
– Claro, Doutor Rui. Fique tranquilo.
Desligo, relaxo em minha cadeira e bufo cansado.
É isso, Rui, você é o rei das cagadas.
****

É meio da tarde, ainda não consegui falar com a Jack, apesar de


tentar ligar, enviar mensagens e tudo mais, mas ela não está a fim
de falar comigo, então tenho uma ideia.
Ligo para o Alexandre, ele atende rapidamente.
– Pois não, Doutor Rui?
– Alexandre, anota aí o endereço que vou te passar. – Termino
de falar o endereço da Jack. – Agora você irá tentar descobrir o
telefone fixo deste endereço, você tem o número do apartamento, o
nome da Jackeline, e da mãe dela, acho que não será muito difícil,
tente através do site da empresa de telefonia.
– Ok, Doutor Rui. – Ele parece confuso. – Mas não é mais fácil
ligar no celular da Jackeline?
Dou risada de mim mesmo, como vou dizer ao garoto que ela
não atende seu chefe, namorado e capacho?!
– Faça o que mandei, Alexandre, e não pergunte demais! – Falo
mal-humorado, e desligo.
Alguns minutos e o menino me liga.
– Doutor, o senhor tinha razão, consegui no site da empresa de
telefonia. – Ele sorri feliz com sua conquista.
– Ok, me passe então! – falo apressado, anoto o número que ele
dita. – Obrigado, Alexandre, volte ao seu trabalho.
Olho para o número e dou risada:
– Vamos ver se você não vai falar comigo, Jackeline!
Disco o número, demoram um pouco para atender, e então a voz
da vovozinha da Jack vem ao telefone.
Fecho meus olhos e bufo, acho que não vai dar certo essa
ligação!
– Boa tarde, Dona Maria, aqui é o Rui... – Não deu tempo de
terminar a frase, ela começou a me xingar. – Dona Maria, deixe eu
me explicar... – Tento falar, mas essa velhinha tem um esgoto na
boca, então desligo.
Meu Deus, a vovó da Jack não é nada fácil, não me admiro a
Jack parecer com ela.
É impossível falar, ela só me xinga e promete quebrar minha
cabeça com o rolo de macarrão.
Estou perdido com a família da Jackeline.
Espero mais alguns minutos, tento novamente, e agora é a voz
da mãe da Jack, respiro aliviado.
– Dona Amélia, boa tarde... – Ela também me interrompe, todas
estão de mal comigo.
– Fale logo, Doutor Rui, não estou com paciência para seu
lenga-lenga!
Giro meus olhos, eu preciso de sua mãe como minha aliada, ela
não pode ficar com raiva de mim!
– Dona Amélia, houve uma mal-entendido entre eu e sua filha,
eu a amo de verdade. – A ouço bufar no telefone. – Inclusive, eu
quero pedir permissão para a senhora, para levá-la para morar
comigo. Estamos juntos há alguns meses, eu adoro sua filha, não
tenho outras mulheres, eu juro para senhora! Sou um homem
honrado, às vezes, cometo alguns erros, mas é porque sou meio
burro! Eu respeito a Jackeline, ela é uma mulher maravilhosa, eu
nunca a trairia por diversão... – Fico em silêncio. – A senhora
acredita em mim?
Me sinto meio idiota com a situação, implorando pelo perdão da
mãe, mas é isso aí, a Jack se apoia muito na mãe, então se ela
convencê-la a conversar comigo, será mais fácil.
– Oh, Doutor Rui, você é tão confuso... – ela diz sem muita
paciência comigo. – Mas, já que você quer assumir seu
relacionamento com a Jackeline, acredito em você. Mas já tem data
marcada, ou é só para convencer ela a te atender? – ela diz brava.
Porra, a mãe da Jack quer se livrar da filha, que inferno de
pressão.
– Por mim pode ser hoje, se ela quiser, é lógico. Ela está muito
brava comigo, Dona Amélia? – Enrugo minha testa, preocupado
com a resposta.
– Um pouco... – Ela faz silêncio. – Na verdade, ela está muito
brava, uma arara! – Ela ri, então dou uma relaxada, pelo visto, a
mãe da Jack já está acostumada com seus “pitis”.
– Ah, eu também estou chateado, Dona Amélia! Foi uma
vacilada minha, coisa de homem, mas não tenho nenhum caso,
essas merdas, a Jackeline já me dá bastante trabalho, ela é brava,
mal humorada, e não me deixa em paz um minuto. Acho que a
senhora entende do que estou falando, não é mesmo?
Me sinto à vontade com a mãe da Jack, ela é uma senhora
simples, mas bem inteligente, parece aquelas mães sábias, cheia de
conselhos para dar, gosto dela, está aí uma sogra que quero ter.
– Entendo, entendo sim, não precisa explicar meu filho, eu já
percebi! – Ela parece um pouco constrangida, talvez eu tenha
exagerado, acabei me abrindo um pouco demais com a sogra. –
Vamos, fazer o seguinte, venha jantar aqui em casa, farei um
bacalhau, percebi que você gostou da minha bacalhoada! – A sinto
relaxada, já conquistei a sogra, tenho certeza disso. – Então, você
poderá conversar com a Jack, ela é geniosa, mas é uma menina
muito doce, Doutor Rui, será uma esposa maravilhosa.
Oh, será que ela pensa que iremos nos casar?
Preciso deixar claras as coisas, para depois não apanhar de todo
mundo junto.
– Dona Amélia, iremos morar juntos, não é um casamento.
– Tudo bem, não tem problema. Os jovens hoje em dia são mais
práticos, não querem casar, mas o importante é que você a
respeitará como uma esposa. Estou certa? – ela diz meio brava.
– Claro, como uma esposa, companheira, é tudo igual no final
das contas, não é mesmo? – falo cuidadoso. – Amo muito a Jack,
farei de tudo para darmos certo!
Ela fica em silêncio.
– Dona Amélia? – A chamo preocupada.
– Estou aqui, um pouco emocionada, não quero empurrar minha
filha para fora de casa, não é isso, mas quero que ela seja feliz,
construa uma família, tenha filhos...
Oh, aquela palavrinha maldita, mas resolvo não corrigi-la a
respeito disso, posso contrariá-la e aí acabou a bacalhoada.
– Entendo a senhora, ela será feliz vivendo comigo, não sou uma
pessoa muito difícil – falo para descontrair.
– O problema é ela, né, Doutor Rui? A Jack tem um gênio dos
infernos.
Dou risada sozinho.
– Eu já percebi, mas eu consigo domá-la, eu já aprendi como
controlar aquela italiana!
Ela dá risada, e eu também, eu Dona Amélia já somos amigos.
– Então, estamos combinados, Doutor Rui! Te espero para o
jantar.
– Sim, chegarei cedo, preciso de algum tempo para convencer a
Jack a não me jogar pela Janela. – Ela ri novamente. – Ah, Dona
Amélia, gostei daqueles pastéis de Belém, faça de novo!
– Oh, claro, pode deixar, vou comprar também um vinho para
nós.
A interrompo.
– Não, o vinho é por minha conta, faço questão! – Antes de
desligar, me lembro de um detalhe. – Dona Amélia, não conte para
ela sobre morarmos juntos, quero falar com ela pessoalmente sobre
isso.
– Claro, fique tranquilo!
Nos despedimos, giro meu pescoço, e me preparo
emocionalmente para enfrentar minha oncinha.

****

Estaciono o carro em um desses empórios onde vende produtos


importados.
Listo mentalmente o que preciso comprar:
Bombons para a vovó, flores para a sogrinha, duas garrafas de
vinho português (uma garrafa ficará de presente para as velhinhas
encherem a cara).
Enquanto ando pelos corredores, tento lembrar se preciso de
mais alguma coisa.
– Ok, já comprei um perfuminho para a tia da Jack, só para
deixá-la mais afável, e não arrumar encrenca com a Jack. – Penso
alto.
Para a Jack comprei um anel, tipo noivado, mas não é noivado, é
de compromisso, espero deixá-la mais calma, mulheres adoram
joias, então, talvez consiga que ela me perdoe mais facilmente,
enfim, achei que essa era uma boa forma de me redimir dos meus
erros.
Dou risada sozinho, parece que estou comprando a família da
Jack, mas não é isso, mulher gosta de um agrado, se sentem
importantes, e tudo mais.
Acabo de comprar os itens, sigo para o caixa e logo estou em
meu carro.
Enquanto dirijo em direção a sua casa, penso mentalmente no
que irei falar com ela. Mas, não sei ao certo, a Jack é uma caixinha
de surpresas, só espero que ela esteja mais calma.
Estaciono o carro em frente ao seu prédio e sigo com as sacolas
para a portaria.
Me sinto meio patético, nunca fui de fazer essas coisas, mas
talvez esse seja um novo Rui, mais afável, simpático, doméstico, e...
família.
É, é isso, é uma mudança positiva, para melhor, ficar comendo
cada dia uma mulher é meio sem graça, no começo é bom, mas
depois fica cansativo.
O porteiro anuncia minha chegada, e logo estou no elevador,
batendo meu pé insistentemente no chão.
Confesso, estou meio nervoso.
O elevador abre em seu andar, toco a campainha, e logo Dona
Amélia abre a porta e sorri para mim.
Ufa, acho que estou com sorte.
– Boa noite, Dona Amélia! – falo com um sorriso, usando todo
meu charme. – Trouxe isso para a senhora... – Entrego um buque
de tulipas para ela.
Ela abre um sorriso largo, fica vermelhinha e tímida.
– Oh, muito obrigada! Não precisava se incomodar com isso.
– Espero que goste dessas flores. São tulipas, a senhora
conhece? – Ela abre a porta e entro na sala de jantar.
– Sim, são maravilhosas! Entre, Rui.
Entrego a sacola com as garrafas para ela.
– Aqui estão os vinhos, trouxe duas garrafas, a outra fica para
uma próxima vez!
– Não precisava... – ela diz sem graça. – Quer que eu avise a
Jack, ou você prefere ir direto ao seu quarto? – Ela me olha meio
enviesado.
– Ela está muito brava ainda? – Enrugo minha testa.
Ela diminui a voz, e fala em tom de segredo.
– Um pouco, mas depois que você conversar com ela, tudo
ficará melhor! – Ela sorri.
– Tudo bem, me deixe cumprimentar as outras senhoras. – Sigo
até a sala de estar. – Boa noite!
A vovó me olha esquisito, e não gosto do olhar dela.
– Então o senhor teve coragem de vir até aqui, depois de ter
colocado os cornos na minha neta. – Ela se levanta, e a vejo
pegando algo do lado do sofá.
Oh, caralho, essa velhinha deve estar de brincadeira.
– Dona Maria, fique calma, foi um mal-entendido, eu nunca faria
isso com a Jackeline. – Dou alguns passos para trás. – Eu trouxe
seus bombons, esses aqui são feitos com licor de frutas, a pessoa
da loja disse que não existe nada melhor no mundo.
Ela me olha de lado.
– Você está tentando me comprar com esses bombonzinhos sem
graça?
– Não, claro que não, eu nunca faria isso, mas se a senhora não
quiser, eu dou para a mãe da Jack.
A vovó melhora sua expressão e coloca o rolo de macarrão de
lado.
– Quero experimentar esses bombons, espero que não me deem
novamente dor de barriga. – Ela pega a caixa mal-humorada.
– Não coma tudo de uma vez, Dona Maria, um ou dois por dia
está bom.
Ela faz uma cara feia, mas pega a caixinha.
– Obrigada, querido. E espero que sua desculpa para minha neta
seja muito boa, ela está uma fera com você!
Respiro aliviado ao vê-la voltar para sua poltrona.
– Dona Ofélia, trouxe esse perfume para a senhora ir aos seus
bailes. – Ela escancara os dentes (ou talvez a dentadura), se
levanta animada, pega a caixinha do perfume e imediatamente o
borrifa em seu corpo.
– Que delícia! – Ela sorri. – Espero conquistar um homem bem
bonito com essa colônia, quem sabe um igual a você! – Ela me olha
de lado, meio estranho.
Será que a tia da Jack está me paquerando na cara dura?
Oh, velhinha assanhada!
Balanço minha cabeça levemente.
– Com certeza a senhora conquistará. – Me afasto um pouco, ela
se encheu de perfume, e meu nariz já começa a reclamar. – Vou
conversar com a Jackeline, me deem licença!
Coço meu nariz, o perfume é bom, mas se colocado em excesso
fica bem enjoativo.
– Dá licença, Dona Amélia, vou até o quarto da Jack. – falo meio
temeroso.
– Fique à vontade, eu avisei a ela que você viria jantar conosco.
Ela não gostou, mas quem manda aqui sou eu – ela diz cheia de
personalidade, aliás, o que não falta nessa família de mulheres é
personalidade.
Sorrio levemente e sigo para seu quarto.
A porta está fechada, ouço um som, possivelmente de televisão,
respiro fundo, bato na porta e ouço:
– Rui, se for você, vá embora! Eu não quero falar com você! –
ela está brava.
Fico parado com cara de idiota, mas eu já estou aqui, não vou
embora.
Abro a porta e a vejo sentada em sua cama com cara feia.
– Eu falei para você ir embora, você pode até enganar minha
mãe, mas a mim, não – ela diz com seu jeito de italiana enfezada.
Fecho a porta.
– Vamos conversar, Jack, eu sei que errei, mas não te trai, eu
juro pela saúde do meu pai! Eu até juraria pela da minha mãe, mas
aí talvez você ficaria feliz se ela adoecesse. – Faço uma piadinha
idiota, doeu até em mim.
– Você é um idiota, Rui. – A cara feia continua.
– Um idiota que te ama, que é louco por você!– Tento me
aproximar um pouco de sua cama, mas ela fica brava.
– Não se aproxime, eu não disse que você pode, aliás, você não
deveria estar aqui! Vá jantar com minha mãe, você convenceu ela,
não eu.
– Oh, Jack, não seja assim, eu tenho tentado ser o cara que
você quer, melhorei pra caralho, e continuo melhorando... – Dou um
passo em sua direção. – Eu já tirei todas aquelas mulheres do meus
contatos, bloqueei, enfim, eu sei que deveria ter feito isso antes,
mas não fiz, e admito meu erro.
– Não estou interessada! – Ela desvia seus olhos de mim, pega
um livro e finge lê-lo. – Era só isso? Pode ir.
– Trouxe um presente para você. – Sigo até sua cama, e me
sento ao seu lado.
– Eu não quero presentes, e não disse que você poderia se
sentar em minha cama!
Não consigo não rir com seu jeito.
– Não tem graça, Rui, eu não te perdoei, não disse que está tudo
bem. É sério o que você fez, sabia?– Ela me olha furiosa. – É muita
falta de respeito o que você fez, e como saberei o que você
conversava com elas?
– Eu não conversava com elas, eu juro! – A encaro seriamente.
– E por que mantinha os contatos lá? – Ela pergunta indignada.
– Coisa de homem, Jack. Homens e mulheres são diferentes,
não tente nos entender totalmente! – falo irritado.
Ela bufa nervosa.
– Queria ver se eu ficasse recebendo fotos de paus de outros
homens em meu celular, ou se outros homens ficassem me
convidando para sair! – ela diz magoada.
– Eu também não iria gostar. Confesso que foi imaturidade
minha, Jack, estou amadurecendo com você!
Ela não consegue segurar um sorriso.
– Me perdoa, não farei mais esse tipo de coisa. Pode checar
meu celular quando quiser, você nunca mais encontrará nada, fique
tranquila – falo com sinceridade.
Ela mexe em suas mãos, e então me olha.
– Será que posso confiar em você, Rui? – ela diz com seus olhos
tristes.
– Pode, Jack, você tem minha palavra. – Pego sua mão, levo até
meus lábios e a beijo demoradamente. – Eu amo você, minha
oncinha!
Ela sorri novamente.
– Eu também amo você...
Capítulo 74
JACKELINE BARTOLLI
Muitas coisas aconteceram desde que conheci o Rui, boas e
ruins, mas uma certeza eu tenho, ele mudou minha vida.
Talvez eu devesse agradecê-lo por ter me feito ver a realidade,
ou seja, que o Renato não me merecia.
Tê-lo conhecido me deu uma outra perspectiva da minha vida,
do que sou, e de como posso ser amada e desejada.
Não posso negar o quanto ele me faz feliz e realizada como
mulher.
Mas a decepção que senti ao ver aquelas mensagens é grande
demais, eu não esperava que ele ainda tivesse contato com aquelas
piranhas oferecidas.
Onde já se viu uma mulher se prestar ao papel de enviar uma
foto nua para um homem?
Acho que sou muito antiquada, mas o fato é que não me
conformo com essa história de nudes!
É mania, está na moda, mas eu acho um absurdo!
Oh, que piranha maldita, eu deveria ter pego o telefone da
vagabunda, e acabado com a raça dela!
Fecho os olhos e tento me acalmar.
Estou há horas no meu quarto, pensando a respeito do que vou
fazer da minha vida.
Não consegui ir para o escritório, estou com muita raiva dele.
Mas, também, não posso sumir do meu emprego, querendo ou
não, ele é meu chefe, recebo um salário pelo que faço, não é só
amor, então, não posso fugir da minha responsabilidade.
Seguro meus joelhos contra meu peito, e olho para o nada,
passei o dia de pijama, é meio da tarde, e ainda estou assim.
A porta abre e vejo minha mãe.
– Oi, Jack, ainda assim?
Ela vem até a mim, se senta nos pés da minha cama e acaricia
meus pés.
– Estou desanimada, mãe! – digo sem vontade.
– Ele ligou aqui em casa!
Enrugo minha testa confusa.
– Como assim? Ele não tem o telefone aqui de casa!
Ela dá de ombros.
– Sei lá, então ele descobriu, conversei um pouco com ele. – Ela
me olha com firmeza. – Jack, talvez você devesse dar uma chance
do Rui se explicar novamente, ele me pareceu tão sincero, filha!
Oh, esse cara é muito esperto, ele já enrolou minha mãe.
– Mãe, eu já conversei com ele, não há muito o que dizer, ele é
um safado, e não perdeu a mania de trepar com várias mulheres ao
mesmo tempo – respondo cheia de raiva.
– Jack, pense com clareza! Vocês estão o tempo todo juntos, em
que momento ele saiu para encontrar alguma mulher?
Solto o ar com força.
– Não sei, talvez quando ele diz que vai almoçar com algum
cliente! Criatividade é o que não falta no Rui!
– Não, não acredito nisso. Ele parece muito apaixonado por
você, homens apaixonados não fazem isso. – Ela se levanta. –
Jack, me desculpe, mas eu acredito no seu namorado, e o convidei
para jantar conosco.
Arregalo meus olhos incrédula.
– Mãeee... como você pode fazer isso comigo?
– Quero que você dê uma chance para ele dizer o que
aconteceu, você ama tanto esse moço, Jack! Olha só seu estado,
você passou o dia neste quarto, chorando, se lamentando, não
comeu, não se trocou, parece uma morta viva!
Viro meu e me deito na cama.
Ela é uma traíra.
– Não quero mais papo com você, mãe, e quando ele chegar,
diga que não quero falar com ele! Acho que só a vovó me entende,
também, o vovô colocava mais galhos nela do que uma floresta
inteira. – Olho para minha mãe. – Você deve ter meios-irmãos por
aí, mãe, e devia procurá-los, já que é a favor dos homens colocarem
chifres em suas mulheres.
– Não fale besteiras, Jack, sua avó sempre foi muito ciumenta,
papai era um santo, trabalhava dia e noite, e ela era assim como
você, ciumenta, desconfiada – ela ralha nervosa. – Vou até o
mercado buscar algumas coisas que preciso, e veja se toma um
banho e fica bonita para seu namorado, com certeza deve haver
muitas mulheres querendo um homem como ele.
Ela vira de costas e toma uma almofadada no traseiro.
– Jackeline! – ela diz nervosa. – Me respeite.
– Isso é para a senhora nunca mais dizer isso. – Empino meu
nariz, me levanto e sigo para o banheiro, acho que preciso de um
banho.
****

A campainha toca e meu coração dá um salto ornamental, um


triplo carpado. É assim que se fala? Não importa, o que importa é
que não quero falar com ele.
Ok, eu até tomei um banho, passei meus cremes, meu perfume,
batom, e vesti uma roupa decente, quero dizer, me arrumei para o
safado do Rui.
Ah, como me odeio, e neste exato momento, o colchão está me
pinicando inteira, de vontade de levantar e ir até a sala vê-lo e matar
a saudade que estou sentindo dele.
Oh, meu Deus, que inferno de sentimento é esse que toma conta
da gente, tirando o raciocínio lógico, a vergonha na cara, e a noção
do que é certo e errado?
– Rui, seu maldito sedutor, ladrão de corações! – penso alto,
mas falo baixinho, vai que ele entra no quarto.
Sim, eu quero vê-lo, e quero que ele me convença que não havia
segundas intenções naqueles contatos (não sei como, isso é tão
óbvio para mim).
Deixo a televisão ligada, me sento na minha cama, e espero
como uma penitente até que ele venha até meu quarto.
E então, um toque na porta, um novo salto triplo no meu
coração, seguido de uma arritmia, respiração rápida e um certo
amolecimento nas pernas.
Será que é normal um homem provocar isso em uma mulher?
Eu respondo, não é, mas é que o Rui é o homem mais sedutor
que já conheci em minha vida, me sinto embriagada por ele.
– Foco, Jackeline, pelo amor de Deus! – falo para mim mesma,
antes que eu levante abra a porta, tire sua roupa, e faça o que mais
quero.
Tudo bem, crio coragem e falo:
– Rui, se for você, vá embora! Eu não quero falar com você!
É mentira, eu quero falar com ele, mas preciso fazer certo
charme.
Mas, é obvio que ele não me obedece e então a porta abre, e ele
entra magnânimo como só ele pode ser, e seu perfume me inebria.
Ele está tão lindo hoje!
Respiro fundo e me esforço de verdade para manter minha
postura, não posso arrefecer, ele não merece.
– Eu falei para você ir embora, você pode até enganar minha
mãe, mas a mim, não – digo com firmeza.
Ele fecha a porta, me olha profundamente, e diz:
– Vamos conversar, Jack, eu sei que errei, mas não te trai, eu
juro pela saúde do meu pai! Eu até juraria pela da minha mãe, mas
aí talvez você ficaria feliz se ela adoecesse.
Ai, que piadinha mais idiota, ele me irritou profundamente com
isso.
– Você é um idiota, Rui!
– Um idiota que te ama, que é louco por você! – ele diz com seu
jeito sedutor, me causando aquele friozinho na barriga.
Céus, como é difícil! Mas não posso ceder, ele é falso.
Ele tenta se aproximar, mas me apavoro, não consigo resistir
muito a ele, a distância é sempre mais segura.
– Não se aproxime, eu não disse que você pode, aliás, você não
deveria estar aqui! Vá jantar com minha mãe, você convenceu ela,
não eu.
– Oh, Jack, não seja assim, eu tenho tentado ser o cara que
você quer, melhorei pra caralho, e continuo melhorando... Eu já tirei
todas aquelas mulheres dos meus contatos, bloqueei, enfim, eu sei
que deveria ter feito isso antes, mas não fiz, e admito meu erro.
Nem percebi quando ele se aproximou, aquele olhar intenso me
deixa tonta.
Preciso parar de olhar para ele, então pego um livro e disfarço.
– Não estou interessada! Era só isso? Pode ir!
– Trouxe um presente para você. – Ele se senta em minha cama,
e como eu esperava, ele está derrubando minhas defesas.
– Eu não quero presentes, e não disse que você poderia sentar
na minha cama! – Tento heroicamente manter minha postura dura,
mas está difícil.
Um sorriso ilumina seu rosto, mas não é para ele sorrir, não
estamos falando sobre amenidades.
– Não tem graça, Rui, eu não te perdoei, não disse que está tudo
bem. É sério o que você fez, sabia? É muita falta de respeito o que
você fez, e como saberei o que você conversava com elas?
– Eu não conversava com elas, eu juro! – Ele me encara com
seu olhar intenso e profundo.
– E por que mantinha os contatos lá? – pergunto indignada, não
consigo entender ele, parece maluco.
– Coisa de homem, Jack. Homens e mulheres são diferentes,
não tente nos entender totalmente! – Ele se altera, fica irritado.
– Queria ver se eu ficasse recebendo fotos de paus de outros
homens em meu celular, ou se outros homens ficassem me
convidando para sair!– respondo magoada, ele não se colocou em
meu lugar, eu deveria pedir para algum amigo gay da Carol enviar a
foto de seu negócio para mim.
– Eu também não iria gostar. Confesso que foi imaturidade
minha, Jack, estou amadurecendo com você!
Oh, Rui, como você é cretino! Ele ainda tem coragem de assumir
que é um homem de 35 anos com cabeça de 20.
Oh, meu Deus, onde fui amarrar meu bode?
– Me perdoa, não farei mais esse tipo de coisa. Pode checar
meu celular quando quiser, você nunca mais encontrará nada, fique
tranquila! – ele diz com sua cara de cachorrinho sem dono, ele fica
tão gostoso quando faz essa carinha de coitadinho.
Olho para minhas mãos confusa, me sinto uma tonta de acreditar
nele, mas também, meu coração pede para eu perdoá-lo.
Que indecisão, meu Deus!
– Será que posso confiar em você, Rui? – Finalmente olho para
ele e pergunto, quero tanto acreditar nele, quero tanto que ele não
esteja me enganando.
– Pode, Jack, você tem minha palavra! – Ele segura minha mão
e a beija demoradamente. – Eu amo você, minha oncinha!
Um friozinho percorre toda a minha espinha, me fazendo sorrir, e
me fazendo sentir a mulher mais feliz do mundo.
– Eu também amo você...
Me ajoelho na cama, ao seu lado e seguro seu rosto entre
minhas mãos.
– Se você pisar na bola de novo, eu mato você, ou melhor, eu
mato ele! – Dou uma olhada para sua braguilha.
Ele abre um sorriso largo, aquele que adoro.
– Vou andar na linha, minha deusa, até mesmo porque, não
quero ser um eunuco.
– Te amo, Rui! – Começo a depositar beijos pelo seu rosto,
cheios de amor, de saudades, acho que não vivo mais sem ele. –
Por favor, chega de surpresas.
Ele me abraça pela cintura.
– Eu vou ser um bom menino, minha deusa! Eu juro!
Olho para ele e dou risada.
– Não gosto de bons meninos, gosto de meninos maus, mas só
na cama! – falo com malícia.
Ele me deita na cama e me encara com aqueles olhos lindos.
– Você só pode gostar de um menino mau, e o nome dele é Rui
Figueiredo, Jackeline! – ele diz com aquele olhar possessivo, que
adoro, adoro vê-lo assim.
– Então vem, meu menino mau, não aguento mais de saudades
de você! – O puxo para um beijo, daqueles que sugam até os
neurônios, intenso, selvagem, urgente.
Tiramos nossas roupas com pressa.
– Tem que ser rápido, Jack, elas estão esperando por nós para
jantar – ele diz em meio aos nossos beijos desesperados.
– Tá bom... – Solto um gemido, ele me penetrou. – Aiii, que
delícia, Rui!
Enquanto ele se movimenta dentro de mim, seus lábios vão
depositando beijos pelo meu pescoço, depois nos meus seios.
– Hummm, minha gostosa! – Ele suga e lambe minhas alreolas.
– Oh, Ruiii!!! – Gemo e me contorço de prazer. – Mais, meu
homem, bem forte!
Puxo seus cabelos e me esfrego em seu corpo.
– Assim, Jack? – Um estocada forte, profunda e sem querer
solto um grito. – Não grita, gostosa.
– Não consigo, Rui. – Mais uma estocada. – Aiii, Ruiii!!! – Minha
respiração sai em soquinhos. – Continua!!!
Ele enfia sua língua deliciosa em minha boca, me beija faminto e
aumenta seus movimentos contra meu corpo, puxo seus cabelos,
unho suas costas e finalmente gozo, foi demais.
– Oh, Rui, você é demais! – falo sem forças.
– De quatro, Jack. – Ele me vira com pressa, me fode feito um
louco e goza em segundos, controlando os sons que saem de sua
garganta, apertando meus quadris, e finalmente parando.
– Caralho, Jack, que delícia!
Me deito vagarosamente e o puxo para junto de mim, o abraço e
procuro por seus lábios, e nos beijamos.
– Te amo, Jack! – ele diz com seus olhos bem abertos, vivos e
intensos.
Sorrio enfeitiçada.
– Eu também!
Ele beija minha testa ternamente, acaricia meus cabelos, e eu
apenas fecho meus olhos, me sentindo como uma gatinha
manhosa.
– Eu tenho uma proposta para te fazer!
Olho para ele, não quero pensar nisso, mas penso: proposta de
casamento, será?
Uma batucada se instala em meu peito.
– Proposta? – Tento controlar a ansiedade.
– É... – Ele acaricia meus cabelos e sorri. – Quer morar comigo?
Eu sei que pensei em casamento, mas o efeito de sua proposta
foi o mesmo, então a emoção toma conta de mim, meus olhos
enchem de lágrimas.
– Morarmos juntos? – pergunto de novo, porque não estou
acreditando, estamos há tão pouco tempo juntos, quero dizer, daqui
a pouco faz seis meses, ainda assim é pouco.
Mas já ouvi histórias de pessoas que se conhecem, e em menos
de um mês já estão se casando, e essas são as uniões que dão
mais certo, ninguém precisa de quatro anos para ter certeza que
ama alguém e que quer passar o resto da vida juntos.
– Isso, assim acabamos com esse vai e vem, roupas suas
espalhadas para todos os lados. – Ele ri. – A gente se dá bem, Jack,
se gosta, estamos sempre juntos, adoro sua companhia, dormir e
acordar com você.
Sorrio feito uma tonta, e não consigo controlar as lágrimas que
escorrem pelo meu rosto.
– Eu quero, Rui, muito... – Procuro seus lábios, e o beijo
apaixonadamente.
Me afasto um pouco, e tento me recompor, estou tremendo.
– Prometo que me comportarei, não farei muita bagunça e não
serei chata, quero dizer, só um pouquinho! – Dou risada.
Ele dá risada.
– Eu sou bonzinho, deixo você fazer um pouco de bagunça! –
Ele enxuga meu rosto com suas mãos. – Mas, agora, meu
apartamento será sua casa também, então você também terá
obrigações... – Ele se levanta.
– Ah, é? – O admiro andando pelo meu quarto. – Tipo o que?
– Sei lá, coisas de mulher, cuidar das compras, da empregada,
do Bóris... – Ele me olha sobre o ombro e sorri, e entra no banheiro.
– Não é só alegria, Jackeline, tem tristeza também.
Tento me controlar e não dar um grito de felicidade.
Encho meus pulmões de ar e sorrio feito uma louca.
Preciso gritar, então enfio minha cabeça no travesseiro e dou um
grito contido.
Oh, meu Deus, muito obrigada!
Pulo da cama, faço uma dancinha louca, dou alguns pulos, e
finalmente me recomponho e sigo para o banheiro atrás do meu
amor!
****

Seguimos para a sala de jantar, a mesa já está posta, mamãe e


as outras estão na sala vendo televisão e tricotando, literalmente,
elas adoram tricô.
– Chegamos, mãe! – digo timidamente, diante de seu sorriso
malicioso.
– Então, vamos jantar, está tudo pronto! – Ela caminha feliz para
a cozinha, ajudo vovó a se levantar, e vejo minha tia cochichando no
ouvido do Rui.
Oh, velhinha assanhada, é só ver o Rui que ela se arruma toda.
– Hum, que perfume é esse? – pergunto meio incomodada, o
cheiro é meio enjoativo, sinto um certo mal-estar com aquele
cheiro.
– É meu, Jackeline, o seu namorado trouxe pra mim. Não é uma
delícia? – ela diz animada, se derretendo e olhando para ele.
– É sim, mas acho que a senhora passou demais, está um pouco
forte! – Tampo meu nariz, e sinto um arrepio.
– Eu também gostei, querido. Traga um para mim, também! –
vovó diz segurando a mão do Rui.
Ele faz o maior sucesso com a velhinhas, elas ficam acesas
quando ele vem ao nosso apartamento e traz presentes.
Sorrio.
– Pode deixar, vovó, eu compro um para a senhora! – digo
rapidamente, chega de despesas para o Rui.
– Não, Jack, eu faço questão de presentear a vovó! – ele diz e
ela escancara a dentadura.
– Isso, meu querido, me chame de vovó!
Ele beija a mão da vovó, e acho que ela vai explodir de
felicidade.
Finalmente começamos a jantar, e hoje, diferente da outra vez,
não gostei muito do bacalhau, o gosto está estranho.
– Não gostou, filha? Você não comeu nada! – minha mãe diz
chateada.
– Achei que dessa vez o gosto está muito forte... – Faço uma
careta. – A senhora comprou da mesma marca?
– É o mesmo, Jack, como comprei muito da última vez,
congelei.
– Deixa pra lá, mãe, mas adorei as batatas! – falo para animá-la.
Olho para o Rui, ele nem para conversar, está muito entretido
com seu prato.
– Gostou, Rui? – pergunto em seu ouvido.
– Muito, Jack, está muito bom – ele diz guloso.
Beberico o vinho do porto, e conversamos mais um pouco, hoje
estão todas muito comportadas, devem ter levado um “pito” da
minha mãe.
Aliás, ela é bem brava quando quer.
O Rui é o último a terminar seu jantar, mamãe serve seus
famosos pastéis de Belém, e finaliza com um cafezinho.
Ela adora quando jantamos com elas, ela capricha em tudo,
desde a colocação da mesa, até o último detalhe.
O Rui se remexe em sua cadeira, olho para ele e o vejo
mexendo em seu bolso.
– Senhoras, gostaria de dividir com vocês uma decisão que eu e
a Jack tomamos hoje! – Ele me olha sorrindo. – Nós iremos morar
juntos!
Vovó dá um grito, pulo na cadeira, olho para ela assustada e a
vejo juntando as mãos em posição de oração.
– Oh, Jesus, Nosso Senhor ouviu minhas preces! – ela diz como
se fosse uma oração. – Eu e a Amélia sempre sonhamos com esse
momento, que nossa menina fosse levada para o altar...
Fecho meus olhos, tudo na minha família é um problema.
– Vovó, só corrigindo, não vou para o altar, vamos morar juntos!
Ela me olha indignada.
– Como assim? Minha neta só sai de casa de véu e grinalda!
Mamãe interfere rapidamente, cochicha enérgica no ouvido da
vovó, que fala alguns palavrões, esbraveja, mas por fim, parece
entender a situação.
– Então, vovó... – O Rui olha para minha avó, parece cuidadoso.
– Não precisamos nos casar, a gente se ama, queremos ficar junto,
eu vou respeitar sua neta independente do papel assinado, enfim...
– Eu também acho um absurdo não haver casamento... – Titia
diz cheia de razão. – Eu até tenho o vestido guardado, é um modelo
copiado da Coco Channel.
– Aquele que a senhora fez em 1.960, tia? – pergunto, e tento
não rir. – Acho que as traças já comeram ele!
– Oh, Jackeline, como você é irritante, desde que nasceu é
assim, extremamente irritante! O senhor não sabe a cagada que
está fazendo ao se juntar com essa menina – ela diz nervosa. – É
isso, Jackeline, você só está juntando os trapos com esse homem,
se ele te levasse a sério te levaria para o altar, como o Luiz Alberto
queria fazer comigo, mas sua avó, essa velha coroca, não deixou.
Arregalo meus olhos com o ataque de nervos da minha tia.
– Coroca é você, Ofélia... – Vovó se altera. – Aquele sem
vergonha tinha uma mulher em cada bairro, sua burra!
Coloco minha mão sobre minha testa, é impossível fazer algo
sério com minha família.
– Vamos parar com essa algazarra!!! – Abro meus olhos
assustada com a voz alterada da minha mãe. – Esse é um momento
feliz, e estamos comemorando, e ninguém tem nada a ver com a
vida da minha filha! Ouviu, Ofélia? – As duas se encaram, parecem
duas adolescentes em pé de guerra.
– Não quero saber da vida da sua filha! – Titia tenta se levantar,
mas mamãe a segura com firmeza, ela sempre foi assim enérgica,
sempre mandou na família inteira, adoro mamãe, sempre tão
poderosa. – Fique aí, o Rui ainda não terminou de falar.
Então mamãe sorri para o Rui, bem calminha.
– Continue, Rui! Me desculpe, famílias compostas só de
mulheres são assim mesmo.
Olho para o Rui, e tenho até dó dele, mas ele tira de letra essas
confusões, deve até achar divertido.
– Fique tranquila, Dona Amélia, minha família também tem essas
coisas. Toda família tem, não é mesmo? – Então o vejo tirar uma
caixinha do bolso e me falta o ar. – Como eu estava dizendo... – Ele
olha para mim sorrindo. – Iremos morar juntos, mas é um
compromisso sério, então eu comprei um presente para minha
deusa! – Ele abre a caixinha e eu puxo o ar, agora de verdade.
Um anel, daqueles que tem uma pedra grande, sextavada, e
incrivelmente brilhante.
– Rui... – Coloco meus dedos sobre minha boca, os olhos ardem
com as lágrimas querendo explodir em meus olhos. – Que lindo.
Ele pega o anel na caixinha, segura minha mãe esquerda e o
coloca.
– Te amo, minha deusa! – Ele cochicha, olhando em meus olhos,
e acho que nunca me senti tão emocionada em minha vida.
Tudo bem, houve a morte do meu pai, mas esse tipo de emoção
não é boa de ser lembrada.
Olho para o anel deslumbrante, ele me surpreendeu, me
encantou e me deixou nas nuvens.
O abraço num rompante de felicidade, e tasco um beijo daqueles
de desentupir até o último cano da cidade, porque sou filha de
italiano, e sou explosiva nas emoções.
Me afasto só um pouco, apenas para olhar em seus olhos, tão
brilhantes, tão intensos...
– Te amo, Rui! – As lágrimas caem livremente. – Obrigada, não
precisava disso...
Ele segura meu rosto, me dá mais um beijo.
– Te amo, Jack, e vou te fazer muito feliz!
E a gente se beija de novo, simplesmente esquecemos onde
estávamos.
– Está bom, queridos! Se quiserem, voltem para o quarto! –
Ouço a voz da minha mãe, me recomponho, sorrio para o Rui, ele
limpa meu rosto.
– Desculpe, mamãe! – falo ainda embriagada pelo momento.
– Me deixe ver, Jackeline! – vovó diz curiosa.
Estico minha mão para todas verem, sorrindo feito uma idiota.
– Parece com aquele que a Jackeline Kennedy tinha,
provavelmente ganhou do John Kennedy!
A olho admirada, vovó é bem antenada, e tem uma memória
invejável.
– Sabia, Rui, o nome da Jackeline foi em homenagem
a Jackeline Kennedy – mamãe diz, ela sempre me contava essa
história quando eu era criança. – Sou fã daquela mulher, uma pena
que seu casamento tenha tido um fim tão trágico...
Interrompo minha mãe, falar de desgraça a essa hora traz mau
agouro.
– Chega, mãe, não gosto muito dessa história! – falo séria, mas
sorrio no final da frase. – Obrigada pelo nome, adoro me chamar
Jackeline.
– Eu agradeço ao jantar, Dona Amélia, mas pensei de eu e a
Jack irmos para nossa casa! – Ele me olha com um sorriso, e eu,
acho que vou explodir de alegria, mal acredito no que está
acontecendo. – A senhora se incomoda?
Ele é tão bonitinho, fica pedindo autorização para minha mãe,
como se eu ainda a obedecesse.
– Claro que não! – ela diz feliz, estava louca para se livrar de
mim. – Vamos fazer assim, eu arrumo as malas da Jack, e ela vem
pegar esses dias.
De repente, sinto uma tristeza ao pensar que deixarei minha
mãe, minha avó e minha tia (a gente não se dá bem, mas se ama) e
começo a chorar!
– O que foi, Jack? – O Rui tenta me consolar, mas estou
chorando feito uma criança.
Olho para minha mãe, e choro mais, me levanto e vou até ela,
dou um abraço longo e dolorido, e a faço chorar também.
– Oh, Jackeline, pare com isso, filha! – Ela esfrega minhas
costas. – Nos veremos sempre, e vamos falar sério, você nunca
está em casa, vive na casa do seu namorado, qual a diferença?
Tento me recompor, enxugo meu rosto.
– É que... – Minha voz embarga. – Vou sentir sua falta! – falo e
choro de novo, estou incontrolável.
Sinto um corpo quente e macio em minhas costas, um abraço
apertado, me viro e mergulho naquele peito macio, cheiroso, e é
como se o cheiro dele tivesse o dom de me acalmar.
Ele me passa tanta segurança.
Alguns beijos em meus cabelos, e sua voz em meu ouvido.
– Está mais calma? Podemos ir?
Respiro fundo, tiro meu rosto de seu peito e volto a olhar para
minha mãe.
– Eu já vou, mãe, chega de despedidas, senão vou chorar de
novo... – Saio rapidamente da sala de jantar, sigo para o meu
quarto, pego minha bolsa, olho para minhas coisas e mordo meus
lábios, a emoção está à flor da pele.
– Vamos, Jack? – A voz do Rui me tira dos meus pensamentos.
Sorrio para ele.
– Vamos!
Capítulo 75
RUI FIGUEIREDO
Algumas semanas depois.
Aexperiência de dividir a mesma casa com uma mulher pode
ser complicada, mas interessante e divertida.
Aos poucos a Jack vai se sentindo mais segura, mais à vontade
com sua nova vida.
Ainda é muito cedo, faz apenas algumas semanas que ela veio
morar comigo, então ainda estamos nos ajustando às novidades.
Confesso que não tenho sentido muita diferença, nosso
relacionamento sempre foi muito intenso, e isso me tornou muito
dependente da Jackeline, ligado a ela.
Aos poucos estou retomando minha vida, voltando às minhas
antigas atividades.
Então, hoje eu e a Jack iremos começar com as aulas de
condicionamento físico.
O personal trainer já chegou. Enquanto aguardo a Jack descer,
começo a correr na esteira.
– A patroa não virá, Rui? – O professor pergunta impaciente.
– Ela estava se vestindo, daqui a pouco ela aparece – respondo
despreocupado, mas de repente, ela aparece na porta da minha
academia particular, e eu quase me esborracho na esteira.
Que porra de roupa é essa? A Jack está doida?
– Oi, bom dia! – ela diz simpática. – Desculpe a demora!
– Imagine, fique tranquila! – O puto do treinador arreganha seus
olhos e saliva feito um bulldog.
Ela não irá se exercitar desse jeito, a não ser que ela queira que
eu arrebente a cara desse filho da puta que está secando minha
mulher.
Desligo a porra da esteira.
Começamos mal essa aula.
Pego em seu braço.
– Vem cá, Jack! – A levo para fora da academia, e a arrasto até
a sala de estar.
– Rui, o que foi? – ela diz nervosinha.
– Que porra de roupa é essa, Jackeline? – Minha voz sai meio
alterada, eu realmente estou querendo arrancar os olhos daquele
cara.
– Como assim? – Ela me olha indignada. – Não é assim que as
mulheres se vestem para ir à academia? Top, calça legging, tênis...
– Ela coloca as mãos na cintura e me olha.
– As outras mulheres podem, mas a minha mulher, não. Troca
essa roupa, coloca uma calça larga e uma camiseta. Não quero que
o filho da puta do professor fique olhando para o seu corpo.
Saio caminhando em direção à academia.
– Então, não vou mais fazer essa merda! Você já me irritou, Rui!
– Ela sai bufando em direção às escadas.
Esfrego meu rosto, sigo apressado até ela e a seguro
novamente.
– Jack, se troca e vem fazer a porra da aula – falo de saco cheio.
– Assim não dá, Jack, você está muito gostosa, e eu serei obrigado
a quebrar a cara do professor se ele olhar de novo para a sua
bunda! Entendeu agora? – Tento ter calma, tudo é novo para nós.
Ela gira os olhos.
– Ok, vou trocar de roupa, mas se você disser que não está legal
de novo, eu desisto! Vamos ver se acho uma burca em meu
armário! – Ela se solta de mim e sai caminhando enfezada.
Respiro fundo, volto para a academia, dou um sorriso insosso
para o professor e tento voltar para minha corrida.
Alguns minutos depois, ela aparece novamente e sorrio ao vê-la.
Agora sim, ela entendeu meu recado, colocou uma calça de
moletom larga e uma camiseta minha, bem grande.
Ela sorri para o professor e vem em minha direção.
– E agora, Rui? Estou decente, ou preciso colocar um vestido
até os pés? – ela diz irônica.
Dou risada.
– Ficou perfeito, minha deusa, isso tudo é só meu, não quero
ninguém almejando minha mulher!
– Hum, Rui, isso soou tão possessivo! – ela diz debochada.
– Eu sou possessivo, porra! – Faço cara de macho, de vez em
quando preciso colocar o pinto na mesa, caso contrário, a Jack quer
mandar em tudo.
– Posso voltar à aula agora? – ela pergunta irônica.
– Só se der um beijo em mim primeiro! – Brinco com ela, adoro
irritar a Jack.
Ela se esgueira sobre a esteira e me beija rapidamente.
– Pronto, agora vou me exercitar! – ela diz cheia de charme.
– Não se cansa muito, Jack, ainda quero dar uma paulada antes
de ir para o escritório! – Não consigo não sorrir com minha frase.
Ela arregala os olhos, faz uma cara feia.
– Rui!
– Vai lá, gostosa!
Esqueço um pouco da Jack, e volto ao meu treino.
Eu sempre gostei de treinar com esse cara, mas agora com a
Jack treinando comigo, não está dando muito certo.
Bufo irritado.
Se ele colocar de novo a mão na coxa da Jackeline...
E ele coloca, e o sangue sobe, me levanto do aparelho que
estou treinando e sigo até eles.
– Reinaldo, vem aqui um momento. – Tento controlar meus
ciúmes, e não dar na cara o meu incômodo. – Com relação ao
treinamento da Jackeline... – Penso qual a melhor forma de dizer
isso, mas não acho, então vomito. – Não quero mãozinha boba!
Passe o treino para ela e seja discreto, não quero apalpação na
minha mulher. – Sorrio para relaxar o clima. – Fui claro?
– Desculpa, Rui! Se toquei na sua garota foi na boa, sem
malícia...
O interrompo antes que ele fale merda e eu quebre os dentes
dele.
– Perfeito, é só não tocar nela! – Volto ao que estava fazendo, e
a vejo me olhando, então dou uma piscadela para a Jack.
Caralho, que porra de aula, vai dar meio dia, mas não vai dar o
horário que termina essa merda!
****

Faz algum tempo que não falo com meu grupo de amigos, eu até
troco mensagens com eles, mas agora tenho sido mais cuidadoso
com o conteúdo.
Então, quando vejo o celular vibrar em minha mesa, e o nome do
Carlão no visor, já meio que sei qual será sua conversa.
Atendo de pronto.
– Fala, Carlão! – falo animado.
– E aí, Rui? O que tá acontecendo com você cara, sumiu?
Tenho que concordar que realmente sumi, talvez precise dar
uma passada no encontro dos caras, apenas para mostrar que não
estou completamente dominado.
– É verdade, ando na correria, muito trabalho, a Jackeline,
enfim... – falo despreocupado, girando um lápis entre meus dedos.
– Ainda tá saindo com a secretária? Pelo visto a foda com ela é
boa, cara! – ele diz malicioso.
– Estamos morando juntos – falo e me preparo para ouvi-lo.
– O que?! – Sua voz sai alta. – Você está morando com a
garota? Sério, Rui, eu não estou acreditando! – Ele parece
indignado.
– É sério, cara, já faz algumas semanas, mas o namoro já estava
sério, então nada mais natural do que morarmos juntos!
Engraçado como esse assunto já está totalmente resolvido em
minha cabeça.
– Eu estou bem surpreso, não achava que a coisa era muito
séria, achei que era só diversão.
– É bem sério, e a Jackeline é bem brava! Então, não posso sair
da linha! – Dou risada sozinho.
– Bom, então, vou te desejar boa sorte – ele diz meio
desanimado.
– E você, está com alguém? – pergunto por perguntar, não tenho
muito interesse em saber da vida do Carlão, somos amigos, mas
cada um tem sua vida.
– Nada sério, saindo com algumas garotas, só curtição, eu
realmente ainda não estou preparado para dar esse passo que você
deu.
– O que você acha de marcarmos um jantar? Eu levo a
Jackeline, assim você conhece melhor ela, e você... – Penso um
pouco, se o Carlão levar uma periguete a Jack vai surtar. – Escolhe
uma garota decente para levar com você, não pode ser puta, nem
periguete, arruma uma que dê para apresentar, tipo para a família!
Ele gargalha do outro da linha.
– Tudo bem, quando podemos fazer isso? – ele diz animado.
– Pode ser amanhã, ou hoje, você quem sabe, não temos
nenhum compromisso.
– Tudo bem, amanhã. Vou pensar numa mulher para levar.
– Podemos fazer lá em casa, o que você acha? – Sugiro.
– Perfeito, Rui. Às 20h estarei lá!

Ligo para o ramal da Jack, ela atende rapidamente.


– Oi, gostosa, temos um compromisso amanhã à noite. O Carlão
irá jantar com a gente, lá em casa. – Enquanto falo, assino alguns
papéis.
– Ah, é, que legal, mas... eu devo fazer o que? – ela diz confusa.
Dou risada sozinho, a Jack está toda atrapalhada sem sua mãe.
– Ligue para a Jô e combine com ela para fazer um jantar para
nós! – falo com paciência.
– Tá. E qual será o prato, Rui? – Ela se desespera. – Eu não
entendo nada dessas coisas, me ajuda!
Balanço levemente minha cabeça.
– Jack, essa é sua parte, se quiser, peça ajuda para sua mãe,
mas é melhor que não seja bacalhau, nem todo mundo gosta... –
Digito a senha no meu computador. – Você cuida disso para nós?
Me deixe voltar ao trabalho. – Desligo o telefone e me estico na
cadeira.
Vamos ver o que a Jack consegue fazer sozinha.
****

Entro no elevador e bato meu pé no chão de mármore


impaciente.
Olho no meu relógio de pulso, assim vamos chegar atrasados,
caralho!
– Jack, dá uma acelerada.
Ela vem correndo, ela e o Bóris, agora ele me abandonou de
vez, vive atrás da Jack, nem lembra mais de mim.
– Ei, Bóris, você fica! – Puxo sua coleira enérgico para colocá-lo
para fora do elevador.
– Oh, Rui, não fala assim com ele! – Ela se agacha no chão. –
Mamãe vai trabalhar, mais tarde estamos de volta, Bóris. Fica bem
bonzinho! – Ela enche ele de beijos, e chego à conclusão que o
Bóris está bem boiola desde que a Jack entrou em sua vida.
– Jack, não mima tanto o cachorro! Ele é macho, fica mal para
ele essa melação toda.
Ela revira os olhos.
– Você também gosta de carinho, Rui! – Ela se dependura em
meu pescoço, beija meu rosto, meus lábios.
– Mas eu sou seu macho, você precisa cuidar de mim, me dar
carinho, atenção – falo e dou risada de mim mesmo, ando tão
esquisito ultimamente.
– E o Bóris é meu bebê. – Ela ri no meu ouvido.
Penso com desânimo que a Jack está descarregando seu lado
maternal com o Bóris. Isso pode ter um lado bom, mas me
incomoda um pouco, gostaria que ela esquecesse um pouco essa
sua loucura por ser mãe.
Tento não pensar muito nisso, não dá para controlar tudo, aos
poucos ela vai se acalmar.
– Está tudo certo com o jantar? – A abraço pelas costas, beijo
seus cabelos, sua orelha.
– Sim! A Jô irá fazer várias coisas, assim fica mais fácil acertar.
Você conhece a namorada dele, sabe o seu estilo? – ela diz
manhosa, esfregando seu rosto no meu, enquanto dou beijos em
suas bochechas.
Confesso, estou muito apaixonado pela Jack.
– Não, não vejo o Carlão faz tempo, e não perguntei quem é a
garota! – falo e penso preocupado, o Carlão é meio sem noção, vai
que ele traz uma daquelas garotas de faculdade que ele tá
comendo.
Porra, vai pegar mal, mas foda-se, vai pegar mal para ele, não
para mim, não tenho nada a ver com isso.
****

O dia passa rapidamente, eu e a Jack estamos em perfeita


sintonia no trabalho. Ela já sabe como gosto das coisas, eu já sei
como lidar com ela, o pessoal do escritório já a conhece e respeita,
aos poucos ela está tomando conta de quase toda a parte de
administração do escritório, me deixando mais livre para cuidar da
parte jurídica, que é onde preciso ter foco.
O celular toca, e vejo a foto do meu pai.
Faz algum tempo que não nos falamos, ele foi para o Estados
Unidos visitar minha irmã, então apenas trocamos algumas
palavras, nada muito particular, como é o caso da minha recente
decisão de morar com a Jackeline.
Atendo o telefone rapidamente.
– Boa tarde, filho! Acabamos de chegar ao Brasil! – ele diz
animado, parece estar ainda no aeroporto.
– Boa tarde, pai! Que bom! Então, como foi a viagem, tudo
certo? – pergunto.
– Tudo certo, só sua mãe que está um pouco abatida, por causa
do efeito do Jet Lag, mas daqui a dois dias ela já estará bem! E
você e a Jackeline, como estão?
Sorrio, é bom saber que meu pai aceitou a Jack, minha mãe eu
meio que já sabia que poderia rejeitá-la, mas também, eu não estou
muito preocupado com isso.
– Estamos bem... – penso um pouco, preciso contar para ele. –
Eu e a Jack estamos morando juntos, pai! Faz algumas semanas,
na verdade aconteceu logo que vocês viajaram, então não tive muito
tempo de te contar.
– Oh, que surpresa boa! Parabéns, Rui – ele fala entusiasmado.
– Isso é muito bom, filho, está na hora de você assumir uma mulher,
ter uma família, e a Jackeline me parece uma jovem encantadora,
acho que você fez a escolha certa!
Penso em dizer sobre a parte de “ter uma família”, mas dará
muito assunto, e não estou a fim de alongar isso.
– Ela é encantadora! O senhor tem razão, fiz a escolha certa! –
falo pensativo.
– Bom, então quando você irá nos convidar para um almoço ou
jantar em sua casa? Precisamos comemorar esse momento!
Sorrio, mas me sinto preocupado, minha mãe foi extremamente
desagradável na última vez que nos vimos.
– Não sei, pai, vamos combinar – respondo sem muita vontade.
– Quero conhecer a família da sua... companheira? Posso
chamá-la assim? – ele diz divertido.
– Sim, companheira, acho que somos mais do que namorados
agora! – Sorrio com essa constatação.
– Então como você quer fazer? Leve os pais da Jackeline até
nossa casa, para que eu possa conhecê-los.
Enrugo minha testa e torço meu nariz.
– A Jack morava com a mãe, uma avó e uma tia, essa era a sua
família, e... Pai, não sei se dará muito certo. – Penso um pouco. –
Vamos fazer assim, eu combino com a Jack, talvez seja melhor o
senhor vir aqui para São Paulo, fazemos um encontro em meu
apartamento, será mais simples para a família dela.
– Perfeito, eu e sua mãe nos hospedamos em algum hotel, não
iremos te incomodar. Vou esperar sua ligação, não demore, quero
comemorar esse momento com você! – Sinto emoção em sua voz, e
concluo o quanto é importante para o meu pai que eu tenha alguém,
parece que ele tem medo que eu fique velho e sozinho.
– Ok, pai. Converso com a Jack e ligo para o senhor – falo com
carinho. – Bom retorno para vocês, e diga à mamãe que estou com
saudades dela – falo com dificuldade, a relação entre eu e minha
mãe nunca foi fácil, e parece que piorou nos últimos tempos.
– Pode deixar filho, eu falo. Nós amamos muito você! – ele diz
emotivo, tenho um pai muito carinhoso, e talvez essa foi minha
sorte. Minha carga emocional vem toda dele, minha doce mãe não é
muito dada a rompantes de carinho e nem de amor, ela é fria e
distante, sempre foi.
– Eu também amo vocês! Se cuida, pai! – Desligo com uma
sensação estranha no peito, acho que é saudades, sou meio frio,
como minha mãe, mas também herdei o lado emotivo do meu pai,
ainda bem.

****

Finalmente o expediente termina, minha cabeça está explodindo,


fazia tempo que não tinha casos tão complicados, longos e
extenuantes.
Ligo no ramal da Jack, estou precisando da minha dose diária de
Jackeline.
Ela até pode ser brava, às vezes, mal-humorada, irritante, mas
ela é o equilíbrio que preciso, seu jeito doce, carinhoso e leve me
desestressa, acalma...
Ela demora um pouco a atender.
– Oi, chefinho! – ela diz apressada. – Não me diga que você
quer pedir alguma coisa, a gente precisa ir embora.
– Primeiro, por que demorou para atender? Segundo, sou seu
chefe, se eu pedir, você me obedece!
Ela gargalha, não está nem aí para o fato de eu ser seu chefe.
– Ai, está com a macaca hoje? – ela diz divertida.
– Vem aqui, Jack! Estou precisando de carinho – falo manhoso.
– Rui, vamos para casa, aí eu encho você de carinho – ela diz
apressada.
– Vem aqui, Jack, mas que porra de mulher teimosa! – falo sem
paciência.
– Ai, Rui, você está chato! – Ela bate o telefone na minha cara.
A Jack abre a porta e me olha enfezada.
– Fala logo o que você quer, eu prometi para a Jô que chegaria
cedo em casa, para a gente checar os últimos detalhes.
– Jack, não vamos receber o presidente dos Estados Unidos, é
só um jantar... – bufo cansado. – Da próxima vez combino em um
restaurante, assim você fica mais calma.
Ela segue até a mim.
– O que foi, o que você quer? – ela diz com um bico.
– Senta aqui! – Aponto para o meu colo. – Estou com minha
cabeça explodindo, preciso de carinho.
– Tudo bem, era só falar, eu vou pegar um remedinho para você.
– Ela se levanta. – Rui, você está ficando muito manhoso. – Ela sorri
e segue para sua sala.
Ela volta com o medicamento, traz uma água e tomo
rapidamente.
– Podemos ir embora agora? – ela diz apressada.
– Podemos. Mas, Jack, eu ainda quero chegar em casa, tomar
um banho, e fazer um amorzinho com você, nada de pressa, você
está muito agitada hoje. – Me levanto e sigo até onde está meu
terno.
– Tudo bem, Rui. Nós faremos o que você quiser, tá bom? – ela
diz agitada, e aí me lembro de uma coisa, que estou há tempos para
perguntar para ela.
Sigo até sua mesa.
– Jack, quando vem sua menstruação? – Ela para, me olha meio
surpresa, ensaia um sorriso.
– Estou meio perdida com a data, eu deveria ter anotado, mas
agora não sei. – Ela desvia os olhos de mim, enfia os papéis de sua
mesa na gaveta, parece meio nervosa.
– Mas, você toma o anticoncepcional, depois que termina, mais
ou menos em três dias o fluxo desce. Não é assim que funciona? –
pergunto incomodado.
– É, é assim que funciona, preciso ver minha cartela, não sei
quantos faltam... – Ela me olha novamente, sorri, mas não é um
sorriso normal. – Vou ver isso quando a gente chegar em casa.
– Você está tomando o anticoncepcional, não está, Jack? – A
olho com firmeza.
– Sim, claro que estou... – Ela desvia de mim. – Vou até seu
banheiro, é rapidinho! – Ela sai apressada.
Esfrego meu rosto nervoso.
Não, ela não faria isso comigo, e para a Jack engravidar não é
tão fácil assim.
Giro meu pescoço estressado.
Ok, estou imaginando coisas.
– Vamos, Rui! – Ela sorri, pega sua bolsa e sai na minha frente.
– Vamos, Jack!
Capítulo 76
JACKELINE BARTOLLI
Além do nervosismo que eu já estava sentindo por causa dessa
merda de jantar, agora soma isso ao fato do Rui estar desconfiando
de mim.
Enquanto voltamos para casa, tento lembrar quando parei de
tomar o anticoncepcional, mas simplesmente não me lembro, me
perdi nas datas, aconteceram tantas coisas que acabei me
esquecendo desse detalhe tão importante!
Porque não anotei isso em algum lugar? Merda! – penso
preocupada.
Sinto sua mão em meu pescoço, ele o acaricia suavemente e me
olha com ternura.
– Tudo bem? Não precisa ficar nervosa com o jantar, o Carlão é
um antigo amigo da época de faculdade, ele não tem frescuras.
Sorrio para ele, o Rui tem sido tão maravilhoso pra mim,
estamos tão felizes, tão apaixonados um pelo outro.
Mas a questão não é o jantar que está me angustiando, mas sim
minha menstruação.
Fui tão imatura ao tentar engravidar sem seu consentimento!
Quando tomei a decisão de parar a pílula, simplesmente não
medi as consequências, apenas agi por impulso, estava abalada
com a descoberta da endometriose, com a possibilidade de nunca
engravidar, de perder meu útero, estava sob forte pressão
emocional.
Mas agora, depois de raciocinar direito, percebo que estou
vivendo um momento maravilhoso com o Rui, e se eu engravidar
contra sua vontade, estragarei tudo que conquistei com ele.
Oh, meu Deus, me ajuda! – penso aflita.
E sem querer, estou desejando que a gravidez não tenha
ocorrido.
Eu quero ser mãe de um bebê do Rui, mas eu preciso que ele
queira também, caso contrário, minha tentativa será um desastre.
Chegamos a sua casa, sigo até a cozinha, vejo com a
empregada os últimos detalhes e então subo para o quarto.
Ainda me sinto um pouco perdida em sua casa, não é como se
fosse minha.
De fato, me sinto de férias, com aquela sensação de saudades
do meu apartamento.
É estranho isso, aqui é muito melhor, mais confortável, mas falta
algo, falta aquela sensação de lar, do aconchego materno. Nunca
imaginei que sentiria tanta falta da minha casa, da minha mãe, da
minha avó, e até da minha tia chata!
Não sei o que tenho, mas estou emocionalmente instável, choro
escondida, às vezes, fico desanimada, só quero dormir.
Mas, não deixo o Rui perceber essa minha fraqueza, porque ele
está tentando de verdade me fazer feliz, e que eu me sinta em casa.
Aliás, ele me mima o tempo todo, faz tudo o que gosto e quero.
Como posso dizer para ele que estou me sentindo triste?
Oh, meu Deus, como mulher é um bicho complicado! Por que
somos tão instáveis, por que esses malditos hormônios mexem
tanto com a gente?
Sigo para o banheiro, ele já está na ducha, tiro minha roupa,
entro no box, o abraço, acaricio seu tórax forte e gostoso, beijo suas
costas, eu amo cada pedacinho do Rui.
Logo os beijos começam, as carícias, e em pouco tempo
estamos atracados um ao outro, num frenesi de corpos, e finalmente
o êxtase, seguido de uma sensação de preguiça, de esgotamento.
Ele beija meu pescoço delicadamente.
– Vamos sair do banho, delícia, daqui a pouco o Carlão chega
com sua namorada! – ele diz em meu ouvido.
Me sinto esgotada, com vontade de dormir e acordar somente
amanhã, mas crio coragem e digo:
– Vamos, quero que você me ajude a escolher uma roupa
adequada!
Saímos do chuveiro, nos enxugamos e ele diz:
– Quero você bem linda, Jack!
– Ok, então, me ajuda!
– Vamos lá dar uma olhada em suas roupas.
Sigo o Rui em direção ao closet, agora divido com ele seu
armário, mas ele é enorme, não precisei espremê-lo para ajeitar
minhas coisas.
– Então, deixe-me ver... – ele diz empolgado.
– Talvez esse aqui! – Ele pega um suéter de malha, estiloso,
com recortes nos ombros e uma saia de seda, tipo lápis, num tom
de magenta, muito bonita. Aliás, ainda nem usei essas duas peças
que ele me deu. – O que você acha, Jack? – Ele me mostra as
roupas.
– Pode ser. – Pego as peças, e começo a colocar minha lingerie.
– Tudo bem, Jack? Você está tão calada, séria, você não
costuma ser assim! – Ele me olha intensamente, e isso me deixa
nervosa.
– Está tudo bem, Rui! – Disfarço e sigo até o espelho, mas logo
o vejo atrás de mim.
– Eu fiz ou falei alguma coisa que te magoou? – O Rui me
encara com um olhar meigo, e me sinto muito mal de estar
enganando ele.
Gostaria muito de me abrir com ele, de falar logo o que fiz, mas
aí estragarei o jantar e talvez nosso relacionamento.
– Não é nada, Rui! – Sorrio forçada. – Você tem sido perfeito,
maravilhoso, viu? – O abraço forte, ele procura meus lábios, nos
olhamos por alguns segundos.
– Eu te amo, Jack! – ele diz bem sério, me encarando
profundamente, me fazendo sentir uma emoção no meu peito.
– Eu também. – Beijo suavemente seus lábios, uma, duas, três
vezes. – Muito, Rui!
– Não me provoca, Jack, estamos atrasados – ele diz com seu
olhar sedutor, segurando minha cintura, e apertando meu corpo
contra o seu.
– Não estou te provocando. – Sorrio. – Mais um beijinho. –
Procuro seus lábios, mordo, beijo, e tenho vontade de mais.– Talvez
dê tempo, Rui. – Mordo sua orelha.
– Hummm, Jack, adoro esse fogo, minha gostosa! – Ele segura
minhas nádegas, aperta com força, beija minha boca com urgência,
e vai descendo, descendo, até chegar ao meio das minhas pernas.
– Coloque seu pé em meu ombro!
Faço o que ele pede, e sinto sua língua gostosa, macia, quente,
e ofego, gemo, puxo os seus cabelos.
– Oh, Ruiii!!! Hummm... – E tenho um orgasmo delicioso.
Me assusto ao ser pega no colo, não tenho tempo de nada, em
segundos estou em sua cama.
– Eu gostaria de fazer daquele outro jeito, Jack – ele diz com seu
corpo sobre o meu, se esfregando em mim. – Quero comer essa
bunda gostosa, você deixa?
Oh, meu Deus, ele pedindo assim, no meu ouvido, me
mordendo, me lambendo, sou capaz de qualquer loucura.
– Deixo, Rui! – falo, meio gemendo.
Ele se deita, me coloca de joelhos ao redor de sua cintura, mas
de costas para ele.
– Eu quero assim, Jack! – ele diz com sua voz rouca. – Vou
passar algo para ficar mais prazeroso, tá bom?
– Sim. – Fecho os olhos e o sinto entrar em mim, gentilmente,
ele é sempre gentil quando fazemos assim. – Tá gostoso, Rui, pode
continuar.
Ele movimenta seu quadril contra o meu corpo, solta sons roucos
e sensuais.
– Está delicioso, Jack! – ele fala baixo. – Posso me empolgar um
pouco mais?
Sorrio.
– Pode. – Minha voz sai num sussurro.
Seus movimentos ganham intensidade, agora são fortes,
decididos, viris.
Tento não me empolgar e fazer muito barulho, mas sua
empolgação tomou conta de mim.
De repente, já não estou mais naquela posição, estamos de
quatro, ele alucinado, eu uma cachorra no cio. E o que era para ser
uma trepadinha rápida, virou uma fodida daquelas.
Finalmente ele goza, sem restrições, barulhento, viril, com seu
jeito macho de ser.
Sinto cada parte do meu corpo tremer com seu peso, finalmente
ele se recompõe, e posso relaxar meu corpo sobre a cama.
– Foi do caralho, Jack! – Ele desaba ao meu lado, e mantém
aquele sorriso pós foda.
– Foi sim, meu gostoso! – Me aninho ao seu peito. – Tomara que
eles atrasem, Rui, estou morta!
Ele beija minha cabeça e se levanta.
– Deixa eu me aprontar, Jack, se quiser, descanse mais um
pouquinho.
O olho desanimada, estava tão gostoso no peito quentinho dele,
assim não tem graça.
– Eu também vou terminar de me vestir.
****

Descemos as escadas e enquanto o Rui vai beber algo, sigo


para a cozinha.
– Ficarei para te ajudar, Jackeline! – A empregada diz.
– Oh, Jô, não quero atrapalhar sua vida.
– Não vai atrapalhar. Eu costumo ficar quando o Doutor Rui faz
esses jantares, não me incomodo.
– Ok! – Sorrio para ela. – Ele fazia esses jantares para quem? –
pergunto enciumada.
– Não sei dizer, não conhecia as pessoas.
– Ah, claro! – falo constrangida, ela é muito discreta.
Volto para a sala e o encontro bebericando um vinho na sala.
Sento ao seu lado, pego sua taça e bebo um pouco de vinho.
– Jack, meu pai está querendo conhecer sua família. Vamos
combinar um final de semana para trazer suas velhinhas em nosso
apartamento, e então convidamos meus pais para virem também.
Olho para ele preocupada.
– Rui, minhas velhinhas não são do tipo comportadas, acho
complicado juntá-las com sua família.
– Mas nós iremos, está decidido! Isso é muito importante para o
meu pai – ele diz incisivo, não me dando muita chance de retrucar.
– Ok, mas não me responsabilizo pelas consequências.
Ele me olha de lado.
– Você tá meio chatinha hoje, né? Será a TPM? – ele diz com
deboche.
Sorrio.
– Deve ser!
Ele vai dizer algo, mas a campainha toca, ele levanta, pega em
minha mão e seguimos juntos até a porta.
O Rui abre a porta e então vejo seu amigo e uma mulher muito
bonita, alta, morena, ela veste um vestido colado ao corpo, e que
corpo! Ela é do tipo mulherão...
– E aí, Rui! – O cara abre um sorriso largo, abraça o Rui, bate
em suas costas, e finalmente me olha.
– Olá, Jackeline! Como vai? – Ele estende sua mão para mim, e
aproveita para dar uma boa escaneada em meu corpo.
Esse amigo do Rui não é muito certo das ideias, concluo.
Finalmente ele puxa a mulher para junto dele.
– Me deixem apresentar uma amiga, essa é a Helen!
A mulher me olha estranhamente, nem um pouco simpática, mas
como eu que estou recebendo as pessoas, resolvo fazer a minha
parte.
– Prazer, Helen! – A cumprimento com um sorriso.
– Prazer, Jackeline! – Ela sorri, mas é um sorriso daqueles
falsos, que se força o sorriso.
Então ela se vira para o Rui e sorri, e não sei por que, mas achei
o seu sorriso para o Rui diferente, como se o conhecesse.
– Como vai, Rui? – ela diz de um jeito tão íntimo.
Não aguento, a pergunta vem como um foguete até minha boca,
e falo:
– Vocês se conhecem? – Acho que o tom saiu mais esganiçado
do que eu gostaria.
Ela vai dizer algo, mas o Rui a interrompe.
– Não, não nos conhecemos. Muito prazer, Helen! – ele diz,
aperta a mão dela rapidamente, e diz em seguida. – Vamos entrar,
vocês bebem alguma coisa? Eu e a Jack estávamos bebendo um
vinho.
Olho para a garota, e a vejo me olhando.
Ela disfarça, cochicha algo no ouvido do Carlão, e volta a me
olhar.
Não gostei dela!
O Rui serve vinho para eles e abraça minha cintura, mantendo
meu corpo contra seu peito.
Os dois homens fazem alguns comentários, mas o clima está
estranho, meio pesado.
Tento puxar papo com a garota, mas ela me ignora duas vezes,
e ao invés de falar comigo, fica puxando papo com o Rui.
Oh, que tipinho estranho esse Carlão trouxe para jantar conosco.
– Rui, posso pedir para servir? – cochicho em seu ouvido.
Ultimamente tenho me sentido mal quando demoro para comer,
então, neste exato momento, me sinto levemente zonza, e não é por
causa do vinho, porque apenas beberiquei o vinho do Rui.
Preciso marcar uma consulta com minha médica, talvez esteja
com anemia.
– O que vocês acham de jantarmos? – O Rui diz simpático.
– Por mim, tudo bem! – A tal Helen diz com sua cara de
antipática.
– Confesso que estou com fome! – O amigo do Rui diz
empolgado.
Nos levantamos todos juntos.
– Eu vou até a cozinha avisar a Jô para nos servir – falo para o
Rui.
A mulher pergunta onde é o banheiro, e deixa os homens
sozinhos.
Falo rapidamente com a Jô, que já está arrumando a mesa de
jantar, e logo retorno para onde os dois estavam conversando, me
aproximo, eles estão entretidos, nem notam minha presença, e
então eu escuto o Rui dizer:
– Eu já comi a piranha, Carlão!
Meu coração dá um salto.
– O que você disse, Rui? – falo num impulso.
Ele vira assustado.
– Oi, Jack, você estava aí? – Ele sorri, mas não me parece muito
feliz em me ver.
– Cheguei agora... Desculpe, eu ouvi você dizer que “comeu a
piranha”, é isso? Que piranha? – O sangue sobe.
– Eu não disse isso, eu disse “eu comi a picanha”. – Ele ri
novamente, parece meio estranho. – Eu estava contando para o
Carlão que levei um cliente para comer uma picanha deliciosa.
O interrompo.
– Quando? Não fiquei sabendo disso.
– Um dia desses, Jack, caralho, não lembro o dia, depois te levo
lá... – Ele volta a falar com o amigo, muda de assunto, me abraça
novamente e me aconchego ao seu peito.
Vejo a morena voltando, ela se rebola inteira, parece fazer de
propósito, para chamar a atenção dos homens.
Já disse né, não gostei dela!
– Vamos nos sentar à mesa, a empregada irá servir o jantar! –
digo rapidamente, estou sentindo um torpor, devo estar com a
pressão baixa.
Seguimos para a mesa linda que o Rui tem em sua sala de
jantar, todos se acomodam e a Jô serve uma saladinha de entrada,
em pequenos bowls, uma mistura de manga, morangos, folhas
verdes, pequenos tomates e outros vegetais.
Essa foi a sugestão de minha mãe, ela aprendeu a fazer em um
programa de culinária.
Todos comem em silêncio, apenas eu cochicho no ouvido do Rui.
– Adorei essa salada, e você?
– Deliciosa, minha deusa, parabéns!
Sorrio.
– Mas eu não fiz a salada! – respondo envergonhada.
De repente a mulher invade nossa conversa.
– Eu acho que te conheço de algum lugar, Rui! – A periguete diz
com um sorriso enigmático.
– Acho difícil! – O Rui responde de imediato, nem ao menos
levanta o olhar para a mulher.
O Carlão entra no assunto.
– O Rui tem razão, Helen – ele diz e sorri para mim. – Está
gostando da vida de casada, Jackeline?
Sorrio e quando vou falar, a tal da Helen me atropela:
– Como assim? Você casou, Rui?
O sangue sobe de novo, essa piranha conhece o Rui, e eu vou
matar um.
– O que você tem a ver com a vida do Rui, o sua... – Iria dizer
piranha, mas me controlo. – Me levanto de sobressalto e sinto a
mão do Rui segurar meu braço.
Vejo o Carlão olhar para o teto e bufar.
– Eu sempre falava do Rui para a Helen, Jackeline. Então, é
como se ela conhecesse o Rui há muito tempo, não é Helen? – Os
dois trocam olhares intensos.
Ela olha para mim e sorri novamente com aquele jeito falso.
– Isso mesmo, de tanto ouvir falar do Rui, me sinto íntima dele! –
Ela encara o Rui, e tenho vontade de matar ela!
Bufo nervosa.
A mão do Rui segura minha cintura gentilmente, me fazendo
sentar.
– Deusa, se acalma, eles são nossas visitas! – ele cochicha
discretamente no meu ouvido.
Viro meu rosto para olhá-lo e sorrio falsamente.
– Tudo bem!
Voltamos a jantar, quero dizer, já não estou conseguindo jantar
mais, garfo a salada e olho para a piranha, e minha vontade é enfiar
o garfo nela.
– Então, Jackeline, como eu estava dizendo, você já se
acostumou a viver com o Rui? Ele me disse que não faz muito
tempo, aliás, há quanto tempo vocês estão juntos, mesmo? – O tal
do Carlão insiste.
– Estamos juntos há uns seis meses, mais ou menos, e eu
passava mais tempo aqui do que na minha casa, então não foi muito
difícil me acostumar à nova vida! – respondo tentando ser simpática,
mas a verdade é que essa mulher está me causando um estresse
enorme.
– Então vocês estão juntos há seis meses? – Ela olha para o
Rui, segura a taça de vinho e faz um gesto bem sensual com seus
lábios.
Que tipo de piranha esse Carlão trouxe? Ela está se insinuando
para o meu homem!
Ohhh!!!
O Rui olha para ela, parece meio incomodado, então resolvo
cortar a conversa dessa biscate.
– Você é bem curiosa, não é mesmo, Helen? O que você tem a
ver com a minha vida e do Rui? Você é amiga dele? – É fato, desci
do salto, ou melhor, despenquei, e estou quase metendo a mão na
cara dessa mulherzinha.
Ela me olha, dá risada e toma o vinho, e meu sangue está cada
vez mais quente, borbulhando.
– Vamos pedir para servir os pratos quentes, Jack? – Ele me
olha meio nervoso.
Olho para a biscate e vejo o Carlão cochichando em seu ouvido,
parece meio bravo.
– Vamos! – Rosno, esse jantar está saindo pior do que esperava.
O Rui berra com sua voz grossa e poderosa:
– Josalice!!!
A mulher vem correndo da cozinha, deve ter se assustado com
a finesse do Rui.
– Pois não, Doutor Rui? – ela diz assustada.
– Os pratos quentes, rápido! – ele diz apressado.
– Então, Carlão, como eu estava te dizendo...
O Rui começa a falar sobre um caso, desses famosos, que estão
passando na mídia. Os dois ficam entretidos, olho para a biscate, a
biscate olha para mim e sorri bem provocativa.
Não estou entendendo essa mulher. – Penso comigo mesma.
A Jô traz os pratos quentes, eu estava tão empolgada em comer
sua comida, mas com essa confusão toda, perdi a fome.
Como um pouco, mas logo deixo a comida de lado.
– Não está com fome, Jack? – O Rui cochicha em meu ouvido.
Olho de rabo de olho e vejo a vadia nos olhando, então resolvo
mostrar quem manda nesse lugar.
– Não, amor! – Olho para ele, seguro seu rosto, ele me olha
confuso, mas antes que ele possa dizer algo, tasco um beijo
daqueles bem gostosos, indecentes, escandalosos, eu não faria
isso, mas essa biscate está me provocando.
Aliás, ando muito irritada, talvez eu realmente esteja para
menstruar, minha TPM é um inferno em minha vida.
Separo meus lábios do Rui e sorrio para ele.
– Te amo, Rui! – falo baixinho, limpo o batom dos seus lábios,
enquanto ele me olha, parece congelado, talvez surpreso com meu
desatino.
Olho para a mesa, vejo os dois olhando para nós, e tenho muita
vontade de rir, gargalhar.
Acho que ando descompensada emocionalmente.
– Gostou da comida, Carlão? A empregada do Rui cozinha muito
bem – falo bem falsa.
Ele disfarça, dá um sorriso amarelo.
– Gostei muito, Jackeline! – Ele balança a cabeça e volta a
comer.
Olho para a cretina e sorrio provocativa.
– E você, Helen, gostou da comida? – falo bem boazinha.
– Como só saladas e grelhados, não gosto de comidas pesadas,
preciso cuidar do meu corpo! – ela diz provocativa.
Ela não sabe com quem está falando.
– Você usa seu corpo para ganhar a vida? – Todos me olham
assustados, e de novo, tenho vontade de gargalhar, só faltei chamá-
la de prostituta! Mas resolvo amenizar. – Quero dizer, é dançarina,
modelo, essas coisas? – Bebo um pouco de água, não posso beber
nada de álcool, caso contrário vou dar um vexame hoje.
Ela me olha furiosa e tento não rir.
– Não, sou secretária. Mas gosto de me cuidar, não quero ficar
gorda e horrorosa como algumas mulheres que conheço.
Olho para ela, quero dizer, a fuzilo com os olhos.
Será que ela falou isso para mim?
– Também sou secretária, e do Rui, né, amor? – Olho para ele,
acaricio seus cabelos, beijo seu rosto, e tenho dó dele, acho que
estraguei seu jantar com o amigo.
– É, Jack! – ele diz, parece meio sem paciência.
– Sério? Você é a secretária dele? – Ela dá uma risada
debochada. – Agora está explicado!
Oh, meu Deus, essa mulher está me irritando.
– Explicado? Explicado o que, querida? – Nós duas nos
encaramos, mas o grito do Rui me tira do meu desatino.
– Josalice!!!
A Jô vem desesperada atender seu patrão louco.
– Tire a mesa. – Ele olha para seus convidados. – Todos já
comeram, não é mesmo?
Vejo o Carlão jogar seu garfo e faca no prato, o coitado ainda
estava comendo.
– Sim, pode retirar! – O Carlão fala com a boca cheia.
– Então, Jô, traz o café.
Ela tenta interrompê-lo.
– Mas e a sobrem...
– O café, Josalice, porra! – ele diz grosseiro com ela.
– Ai, Rui, que jeito de falar com a Jô! Ela só iria dizer...
Ele me interrompe, com aquele seu olhar lança chamas.
– Fica quietinha, Jack!
– Grosso! – sussurro.
Vejo a Jô chegando com a bandeja de café, e acho que suas
mãos estão tremendo, porque o barulho de xícaras batendo é
irritante.
– Precisa de ajuda, Jô? – falo com pena dela.
Ela sorri meio nervosa.
– Pode deixar, Jackeline!
Ela serve o café em tempo recorde.
– Então, Rui, a gente já está indo. Agradeço ao jantar, Jackeline,
estava maravilhoso!
Olho para o Carlão, e fico com dó dele.
– Você não comeu nada, Carlão. Quer levar uma marmitinha?
Ele me olha confuso.
– Não, não precisa. Estou de regime, estou com uma barriguinha
saliente... – ele diz tentando ser simpático.
Ele repousa o guardanapo na mesa.
– Obrigado, mas eu e a Helen precisamos ir. – Ele dá uma
olhada esquisita para a Helen.
O Rui se levanta, pega em minha mão, e seguimos os dois até a
porta.
Quando o Rui vai abrir a porta, me lembro de um maldito licor
que fiz a Jô comprar de última hora e que nem tocamos nele, poxa!
– Rui, esqueci de oferecer a eles o licor.
Ele me interrompe.
– Fica para uma próxima vez, Jack. O Carlão está com pressa, e
também não gosta de licor.
Eles se entre olham.
– É isso mesmo. Preciso ir, Jackeline! – Ele se despede de mim.
– Um dia desses, eu apareço para tomar um café com você.
– Como assim, Carlão? Que história é essa de tomar café com a
Jackeline? – O Rui diz indignado.
Olho para o Rui, ele parece se estranhar com o amigo.
– É o jeito de falar, Rui, mas que porra! – Ele puxa a tal Helen. –
Vamos, Helen.
Os dois entram no elevador e o Rui fecha a porta antes que o
elevador feche.
– Nossa, a gente nem se despediu da piranha da Helen!
Ele tenta ficar sério, mas acaba rindo.
– Percebi que você não gostou muito dela! – Ele caminha até a
mesa, senta e berra o nome da coitada da Jô novamente. –
Josalice!!!
A Jô aparece desnorteada na sala.
– Traz os pratos quentes, eu ainda estou com fome!
Olho para a Jô, e não consigo não rir, e a vejo rindo a caminho
da cozinha.
– Vem, Jack, me faça companhia, aqueles dois estavam tirando
minha fome!
– Você conhecia ela, Rui? Seja sincero.
– Nunca vi na minha vida, mas pode ser que ela tenha me visto
em algum lugar. – Ele balança sua cabeça. – Eu nunca vi mais
morena e nem mais loira, aliás, que mulherzinha esquisita que o
Carlão está saindo.
– Verdade!
Me sento ao seu lado, e resolvo comer um pouquinho, parece
que o mal-estar até passou com a saída dos dois.
****

Dias depois...
Passado o fatídico jantar com o amigo do Rui, resolvo ir jantar
com minha mãe, mas, dessa vez, tem que ser sozinha, por que
preciso arrumar um jeito de fazer um teste de gravidez, e tem que
ser num lugar tranquilo. Não pode ser no trabalho, porque se der
positivo, eu posso ter um ataque de nervos. Em casa também não
irá dar certo, pois o Rui pode aparecer, então o único lugar que
sobrou é a casa da minha mãe.
Sigo para a sala do Rui, já o avisei que irei na casa de minha
mãe, só preciso avisar que estou saindo.
Abro a porta, ele tira seus óculos e me olha.
– Já está saindo, Jack? – Ele pergunta.
– Já, Rui! – Sigo até sua mesa, dou a volta, sento em seu colo,
encho seus lábios de beijos, e não tenho vontade de largar dele.
Acho que estou ficando pegajosa, preciso cuidar disso.
– Se você quiser, eu vou com você! – ele diz carinhoso.
Mal sabe ele o que pretendo fazer.
– Pode sair um pouco, de repente marca com o esquisito do
Carlão! – Ele dá risada.
– Hoje é quinta, vou ao bar que os meus amigos costumam ir,
fico um pouco, depois vou para casa!
Sinto um incômodo.
– Tudo bem! – Me levanto do seu colo. – Comporte-se, Doutor
Rui Figueiredo, você está em minha mira. – Olho pelo meu ombro.
– Eu me comportarei, Jackeline Bartolli – ele diz irônico.
– Então, já estou indo. Até mais tarde! – Faça um movimento
com os dedos e mando um beijo para ele. – Te amo!
– Eu também, te aguardo em casa.
– Combinado!
Finalmente saio, pego minha bolsa e sigo para meu carro.
Alguns metros antes do apartamento de minha mãe, paro em
uma farmácia, vejo alguns testes de gravidez e então escolho um,
levo até o caixa e depois de alguns minutos, estou chegando ao
endereço de minha mãe.
Pela primeira vez venho sozinha, o Rui sempre está comigo, não
tenho do que desconfiar dele, eu que disse que iria sozinha, e que
ele poderia sair com seus amigos.
De certa forma, acho que estou evoluindo.
Quero confiar nele.
A chegada à casa da minha mãe é sempre cercada por uma
emoção meio descontrolada.
Sempre choro, sempre me descontrolo, e acabo descontrolando
todo mundo.
Beijo e abraço minha mãe como se não nos víssemos há um
ano, sendo que todas as semanas nos vemos, às vezes de duas a
três vezes, depende do meu estado emocional.
– Ok, Jack, se controle! – ela diz me empurrando. – Pare de
chorar, que coisa! – diz sem paciência.
Enxugo minhas lágrimas, e falo magoada.
– Parece que só eu sinto sua falta, você nunca está com
saudades de mim.
– Oh, filha, como você é dramática! – ela diz rindo, limpa meu
rosto, e me olha. – Está tudo bem com você? Por que esse choro
todo? Existe algo de errado com você? Você e o Rui não estão se
dando bem? – ela diz preocupada.
– Não, não é isso. Estamos muito felizes, de verdade! – Sigo até
minha vovó. – Você está bem, vó?
– Sim, meu anjo, estamos felizes por você. – Então ela olha para
minha barriga e a acaricia. – Pode contar para sua avó, tem bebê
aqui dentro? – ela diz em tom de segredo.
Arregalo meus olhos.
– Não, vovó, não é isso! – respondo indignada, e preocupada.
– Eu quando estava grávida de sua mãe chorava como se fosse
uma manteiga derretida, somos muito parecidas, Jack. Eu sonhei
com isso, sabia?
Meu coração dispara, sinto uma moleza nas pernas.
– Vovó, eu não quero ter filhos agora. Ainda é muito cedo,
sabe?
– Oh, minha filha, então não deveria ficar agarrando seu homem
daquele jeito, assim virá um filho atrás do outro, vocês dois são bem
fogosos. – Ela dá risada.
Reviro meus olhos.
– Ok, me deixe ir até o banheiro! – Dou um beijo em minha tia,
pego minha bolsa e sigo para meu antigo quarto. – Mãe, vou usar o
banheiro do meu ex-quarto, tudo bem?
– Claro, Jack! O quarto está do jeitinho que você deixou – ela diz
carinhosa.
Sigo apressada, fecho a porta do quarto, abro o banheiro, tomo
coragem e abro a embalagem do teste de gravidez.
– Ok, Jack, agora é a hora! – falo para mim mesma.
Coleto meu xixi, e fico com o bastonete em minha mão, sem
coragem de enfiá-lo dentro do recipiente.
De repente, a porta abre, me assusto com a chegada da minha
mãe e derrubo todo o líquido do recipiente, e deixo o teste cair no
chão, piso nele com o sapato, para escondê-lo, e olho para minha
mãe.
– O que foi mãe? Você me assustou? – Tento disfarçar.
– Achei que não tinha papel higiênico em seu banheiro, me deixe
colocar no armarinho. – Ela dispensa os rolos embaixo da pia. –
Pode ficar à vontade.
Ela sorri e sai, e solto o ar que estava guardando nos pulmões.
– Merda, merda, merda!!! – bufo irritada, esmurrando a pia. –
Perdi a porra do teste! – Me agacho e limpo a sujeira que fiz, pego o
teste, e o jogo no vaso sanitário. – Não será hoje que descobrirei se
estou grávida.
Capítulo 77
RUI FIGUEIREDO
Depois do desastroso jantar com o Carlão, não nos falamos
mais, quero dizer, eu mandei uma mensagem para ele, e o
amaldiçoei por toda a eternidade.
Caralho, desde quando a Helen tem cara de mulher que se
apresenta para a família?
Bem, pelo menos eu não a apresentaria para minha família,
talvez porque a conheço bem demais, e sei que ela não presta.
Quero dizer, para foder ela presta, mas não para ter um
relacionamento.
Mas é muita falta de sorte.
Então, de repente, me lembro que o Carlão passou a atender a
empresa onde ela trabalha, e eu fui o imbecil que o indiquei.
É que na época o Carlão estava meio fodido, tinha se separado
recentemente, a mulher o deixou só com as calças. Então, para
ajudá-lo, cedi alguns clientes meus para ele.
Sério, eu não lembrava mais disso, mas também não sabia que
a Helen já tinha aberto as pernas para o Carlão.
Foi isso, fiz uma boa ação com o amigo, e quase me fodi.
Mas que raiva daquela garota, mesmo acompanhada com o
Carlão ela ficou se insinuando para mim!
Tudo bem, sei que sou gostoso, tenho um pau irresistível, mas
agora tenho uma dona.
Dou risada sozinho.
Brincadeiras à parte, eu sei qual era a intenção da Helen, era me
foder com a Jackeline.
Ela não se conformou de me ver em um relacionamento sério,
ela se acha irresistível, a mais gostosa, a melhor na cama, mas ela
não chega aos pés da minha deusa.
Então, depois que a Jack viu aquelas mensagens, eu a bloqueei
totalmente em meu celular.
Mulher magoada e rejeitada é o demônio em forma de gente.
Então me lembro da Priscila, e me benzo, que Deus me livre
daquele encosto.
Dou risada sozinho, pareço a Jack falando, porra!
E então a Jack entra na minha sala, hoje ela está meio tristinha,
não sei o que está acontecendo com ela.
Será que o problema é comigo? Nunca morei com ninguém,
pode ser que, às vezes, eu seja meio grosseiro com ela.
Tento não pensar sobre isso, agora quem não quer desistir
dessa merda sou eu.
Demorei pra caralho para tomar a decisão, mas agora que achei
a mulher ideal, a que combina comigo, não desisto dessa porra nem
fodendo.
Que a Jackeline não me ouça, mas agora quem não vive sem
ela é o idiota do Rui!
– Já está saindo, Jack? – pergunto a vendo se aproximar de
minha mesa.
– Já, Rui!
Ela se senta em meu colo, e me enche de beijos.
Adoro esse jeito carinhoso, espalhafatoso, e exagerado dela.
Mas, ainda assim, a sinto estranha, não sei dizer, tem alguma
coisa de errado com a Jackeline.
– Se você quiser, eu vou com você! – Insisto, mas dessa vez ela
não quer minha companhia, parece que está enjoada de mim.
– Pode sair um pouco, de repente marque com o esquisito do
Carlão! – ela diz e dou risada.
Acho que a Jack não foi muito com a cara do Carlão, e a
presença da Helen só complicou mais a situação.
– Hoje é quinta, vou ao bar que os meus amigos costumam ir,
fico um pouco, depois vou para casa. – Abro o jogo, não vou mentir,
estou me esforçando para ser o cara que prometi a ela.
Ok, eu sei que menti em relação à Helen, mas é que a Jack não
entenderia. Ela é muito ciumenta, brigaria comigo o resto do mês.
– Tudo bem! Comporte-se, Doutor Rui Figueiredo, você está em
minha mira – ela diz possessiva. Aliás somos os dois, formamos um
casal bem complicado.
– Eu me comportarei, Jackeline Bartolli – digo com ironia, para
relaxá-la.
– Então, já estou indo. Até mais tarde! Te amo! – Ela se
despede.
– Eu também. Te aguardo em casa – respondo pensativo, ela
está estranha.
– Combinado! – ela diz antes de fechar a porta.
****

Não me dou ao trabalho de ir para casa trocar de roupa e me


encher de perfume.
Hoje não vou caçar, só rever os amigos mesmo.
Chego ao bar cedo, vejo alguns gatos pingados, os solteiros
chegam mais tarde, quando o bar começa a lotar.
Cumprimento alguns amigos, trocamos algumas ideias, peço
uma bebida, e aos poucos a mesa começa a lotar.
As primeiras periguetes se aproximam, puxam papo. Olho ao
redor, está lotado, muita mulher bonita, barulho e confusão.
Acho que estou ficando velho, não estou curtindo essa agitação
toda, falatório, música alta, cheiro de cigarros, misturados ao de
perfume.
– Acho que deu meu horário, cara! Estou cansado! – falo para
um dos amigos.
– É cedo Rui, a mulherada ainda está chegando! – O cara fala
animado.
– Porra, brother, não deu tempo de te contar, mas agora estou
morando com minha namorada. Então, não estou autorizado a
pegar ninguém, só uma gripe, no máximo. – Ele dá risada, pergunta
mais algumas coisas e finalmente consigo ir embora.
Olho no relógio, para o padrão Rui, é cedo pra caralho!
Vamos ver para o padrão Jackeline.
****

Chego silencioso ao apartamento, apenas algumas luzes estão


acesas, caminho em direção as escadas, mas de repente tomo um
susto ao ver o Bóris descer as escadas feito um louco.
– Ei, garoto, cadê sua dona? – O acaricio e o sigo pelas
escadas.
Abro a porta, e encontro a Jack já deitada.
Tiro minha roupa, tomo um banho rápido, retorno para o quarto e
me aconchego ao corpo gostoso da Jack.
É impossível deitar com a Jack e não me sentir excitado. Esse
seu cheiro me deixa louco. Então, quando percebo, meu pau já está
em mastro, minha mão já a acaricia feito um tarado e meus lábios
beijam sua pele sedosa dos ombros. Estou morrendo de tesão,
caralho!
Ela se mexe levemente.
– Boa noite, minha deusa! – Beijo seus lábios. – Eu já cheguei.
Ela abre seus olhos sonolenta.
– Oi, que horas são? – A general pergunta.
Me esgueiro ao redor da cama, pego o celular, aperto o display e
mostro o horário para ela.
Ela espreguiça seu corpo se enroscando ao meu.
– Parabéns, Rui! Você chegou cedo! – Ela sorri e se aninha ao
meu peito. – Boa noite, meu amor! Estou com muito sono!
– Boa noite, Jack! – A abraço ao meu peito, meio decepcionado,
pensei que a noite seria mais longa para nós dois.
Mas, fazer o quê? Quem chega por último não tem direito a
sobremesa, então apenas me contento em tê-la em meus braços e
adormeço do mesmo jeito que fazemos todos os dias.
****

Dias depois.
A pressão do meu pai pelo encontro das famílias está enchendo
meu saco.
Eu já percebi que a Jack está tentando fugir desse momento, eu
até a entendo, ela tem medo das suas velhinhas, e entre nós, ela
tem razão.
Aquelas três juntas são de matar.
Ok, mas minhas desculpas chegaram ao fim, preciso marcar a
porra da data, caso contrário, vou matar meu pai de ansiedade.
O velho pirou agora que sabe que eu e a Jack estamos... bem...
casados?
Não posso fugir disso, tenho um medo da porra dessa palavra,
mas caralho, casamento é isso, seu idiota! – Esbravejo comigo
mesmo.
A chamo pelo ramal.
– Vem até aqui, Jack!
– Tá bom, chefinho! – Ela brinca.
Já até me acostumei com o jeito que ela me chama, adoro
quando ela me chama de chefinho.
Ela entra na minha sala, caminha até a mim, abraço seu corpo
junto ao meu e falo:
– Jack, preciso de uma data para a porra do encontro entre
nossas famílias!
Ela afasta seu corpo do meu, vira de costas, mexe nervosa nos
cabelos.
– Rui, não vai dar certo! – ela diz nervosa. – Oh, Rui, sua mãe...
– Ela fecha seus olhos.
Sigo até ela, seguro seu rosto a fazendo me olhar.
– Eu entendo sua preocupação, mas faz parte, moramos juntos,
temos um relacionamento sério. Estamos tipo... casados, Jack! As
famílias precisam se conhecer.
Ela sorri.
– Estamos tipo casados! – ela repete rindo.
– É, minha deusa... – Puxo sua cintura, unindo seu corpo ao
meu, sinto uma fome louca por essa mulher, vontade de pegar ela
de tudo o que é jeito. – Faz isso pelo seu maridinho! – Faço voz de
boiola, enfio meu rosto no meio dos seus cabelos, beijo seu pescoço
cheiroso. – Caralho, Jack, estou com um tesão de te pegar em cima
dessa mesa! – Subo sua saia, apalpo seu bumbum grande e
gostoso – Oh, minha delícia, vamos rapidinho.
– Oh, Rui, vamos esperar chegar em casa. – Ela sussurra, mas
já não impõe resistência.
Então, sigo até a porta, tranco-a, e volto apressado.
– Vira, minha gostosa! – A faço deitar seu corpo sobre a mesa,
levanto sua saia, demoro-me um pouco acariciando seu bumbum
perfeito, me inclino um pouco, beijo, passo minha língua. – Você é
uma delícia, Jack.
Ouço seus gemidos.
– Fode logo, Rui! – ela diz apressada.
Abro com desespero minha braguilha, tiro meu pau para fora, o
acaricio um pouco, apenas para admirar um pouco a visão do
paraíso.
– Que bunda você tem, Jack! – Enterro meu pau dentro dela, ela
geme. – Você gosta assim? – Bato de leve em seu traseiro.
– Gosto! – Ela sussurra.
– Então, vou continuar. – Bato de novo, enterro meu pau até o
final, ela geme alto. – Fala que quer mais, Jack!
Estou insano de desejo.
– Hummm, mais, Rui! Desse jeito... Ohhh. – Ela geme alto, e
isso me excita demais.
– Assim, gostosa? – Fodo forte, sem dó, gosto quando ela grita
desesperada.
– É, Ruiii! – Sorrio com seu desespero.
Faço de novo, ela geme, se esfrega no meu pau.
– Mais, Rui, ahhhh, isso, eu vou gozar. – E seus sons de prazer
enlouquecem meus ouvidos.
Enterro meu pau em sua buceta úmida, quente, e o prazer
aumenta, e finalmente gozo, e tenho vontade de gritar, mas me
controlo.
Seguro suas mãos, e relaxo meu corpo sobre o seu.
– Foi gostoso, Jack? – pergunto em seu ouvido.
– Foi, amor! – ela diz lânguida.
Me afasto um pouco, a gente se recompõe.
– Agora... – Fecho meu zíper. – A data, Jack.
Ela sorri.
– Pensei que dando uma rapidinha com você, eu conseguiria te
enrolar! – ela diz com cara de safada, se pendura em meu pescoço
e diz: – Você quem sabe, neste final de semana, o que você acha?
– Perfeito! – Beijo seus lábios e sorrio. – Vou ligar para o meu
velho. – Sigo para minha mesa. – Ele está ansioso, Jack, você não
tem ideia o quanto – falo feliz.
– Eu gosto do seu pai, Rui, aliás você é muito parecido com ele –
ela diz enquanto segue para meu banheiro privativo. – O problema é
sua mãe!
– Não se preocupe com ela, deusa. Só dá uns toques para suas
velhinhas, vê se consegue que elas sejam um pouco discretas, tá
bom? – Olho para a Jack, ela sorri.
– Tarefa difícil, mas vou tentar!
****
Eu não deveria estar surpreso, ou nervoso, mas a ideia de juntar
minha família e a da Jackeline está causando um tsunami na minha
vida.
A Jackeline está insuportável!!!
Só com muito amor para se aguentar uma mulher dia e noite!
Sou um herói, eu sei disso!
– Não fala comigo, Rui, eu estou muito nervosa! – ela diz quase
arrancando seus cabelos.
– Caralho, mas eu vou falar com quem? Com a vizinha,
Jackeline? – falo nervoso. – Vamos logo buscar sua família, porra! –
repito pela quinta vez.
– Espera, eu ainda não terminei com a Jô! – Ela me empurra,
saindo do quarto, me largando com cara de idiota.
Fecho os olhos, bufo, xingo meia dúzia de nomes feios, e por fim
pego minha carteira e celular e desço as escadas.
– Jack, eu vou sozinho, pode ficar aí e... Josalice!!! – Berro o
nome da empregada, que aparece enxugando as mãos
nervosamente. – Faz um chá para a Jackeline, e cuide para que ela
não tenha um troço.
Ela balança sua cabeça positivamente.
– Pode deixar, Doutor Rui!
Caminho em direção à porta de entrada, e de repente, a Jack
entra na minha frente.
– Desculpe, Rui! Estou tão nervosa... – ela diz e começa a
chorar.
Ok, o que posso fazer além de abraçá-la e tentar acalmá-la?
Aliás, estou tentando fazer isso desde ontem.
– Calma, Jack, dará tudo certo! – Beijo sua testa e a faço olhar
para mim. – Irei buscá-las, fique aqui, tome um chá ou um uísque, o
que você achar melhor! – Ela sorri.
– Você conversa com elas, reza a missa? – ela diz preocupada.
– Pode deixar, prometo levá-las para passear, alguns presentes,
já sei como lidar com aquelas moças! – Ela dá risada e fica linda,
toda vermelha de choro, mas linda. – Tome um banho de banheira,
vai te fazer bem.
– Parece uma boa ideia!
Me despeço e saio.
O que não faço por você, Jackeline? – Penso em voz alta,
concluindo no que se tornou minha vida desde que a conheci.
****

Estou sentado no sofá da sala da casa da mãe da Jack, meu pé


ganhou vida própria e bate nervosamente no chão de taco de
madeira, que está solto, faz barulho quando bato o pé.
Estou nervoso e compulsivo.
– O que caralho elas estão fazendo, meu Deus? – Bato os dedos
no braço do sofá.
Então, dona Amélia aparece na sala.
– Pronto, Rui! – Dona Amélia diz, e me admiro com sua
elegância. – Estou bem? A Jackeline que comprou essa roupa para
mim, estou me sentindo um pouco exagerada! – Ela diz sem jeito.
Sorrio, a mãe da Jack é uma figura.
– A senhora está muito bonita, perfeita!
Suas bochechas coram ao meu elogio.
– E as outras? – falo ansioso.
– Vou checar. – Ela sai apressada, e depois de longos minutos
todas aparecem juntas.
Tenho vontade de rir, mas não o faço, seria desagradável.
A tia da Jackeline está vestida num modelo 1.950, ela é sem
noção.
– Vocês estão lindas! – falo bem-humorado.
– Oh, Rui, a Jackeline comprou roupas novas para todas nós,
mas minha irmã insistiu em vestir esse vestido velho, e cheio de
traças.
– Velho? – A mulher diz estressada... – Você é velha! Velha e
invejosa! – Reviro meus olhos, começou cedo a confusão.
– Senhoras... – Sorrio. – Vamos indo, a Jack deve estar nervosa
com nossa demora.
Elas se recompõem, ajeitam suas roupas e sua mãe diz.
– Iremos nos comportar, Rui, prometemos à Jack.
Todas balançam suas cabeças, parecem crianças.
– Então, podemos ir? – pergunto em pânico, essa família da
Jack é maluca.
– Sim, vamos logo, quero ver minha neta, tenho sonhado muito
com ela. – Vovó sai apressada na frente, e apesar da idade, ela é
muito ágil. – Você está cuidando bem da minha princesinha? – Ela
me encara dentro do elevador.
– Claro, Dona Maria! Não sou louco de tratá-la mal – respondo
com humor.
– É bom mesmo. – Ela me olha atravessado.
Seguimos em silêncio até o carro, hoje estou com a SUV, que é
maior e mais confortável.
– O carro é esse aqui. – Abro a porta de trás para elas.
– Oh, que belo carro querido, mas um pouco alto para mim. –
Olho para dona Maria, encalhada entre o banco e a calçada.
– Deixe que ajudo a senhora. – Pego a vovó no colo e a enfio no
banco. – Pronto, vovó, está confortável? – Sorrio para ela.
– Você colocou a mão em minha bunda, eu deveria me
incomodar com isso, mas vou fingir que não vi! – Ela ralha e se
arruma no banco.
Dona Ofélia tenta levantar sua perna para subir no carro, mas a
saia longa, justa, e sem recortes não permite.
Enrugo minha testa, isso não dará certo.
– Só um momento, Senhor Rui – ela diz, tenta de novo, e de
novo, e de repente um barulho de tecido rasgando, fecho meus
olhos... O tecido rasgou de ponta a ponta, deixando a tia da
Jackeline quase de calçola na rua. – Oh, meu Deus! – ela diz
apavorada. – Amélia, sua maldita, foi você que jogou praga, sua...
A vovó e Dona Amélia se curvam de tanto rir.
– Dona Ofélia, acho melhor a senhora subir e se trocar, estamos
atrasados – bufo nervoso ao olhar no relógio.
– Inferno, puta que pariu... – E assim ela segue em direção ao
prédio, segurando o vestido rasgado e xingando.
Ligo o carro, coloco o ar condicionado em 18 graus, estou
pingando de suor e de nervoso.
Finalmente vejo sua tia vindo em nossa direção, e tenho que
confessar, agora ela está bem melhor.
– Agora sim! – A mãe da Jack diz debochada.
– Não me enche, Amélia! – ela diz mal-humorada. – Vamos,
mocinho, esse seu carro me causou um prejuízo inestimável.
– Desculpe, Dona Ofélia...
Ela não me deixa terminar a frase.
– Vamos logo!
Fecho meus olhos e inspiro.
Vai ser engraçado esse encontro.
Capítulo 78
JACKELINE BARTOLLI
Checo com a Josalice se tudo está conforme combinamos.
– Jackeline, tome o chazinho de camomila, você está um pouco
nervosa! – A Jô diz preocupada.
– Não estou um pouco nervosa, Jô, estou uma pilha de nervos! –
Viro o copo de chá no gargalo.
– Está tudo certo, Jackeline. Pode subir tomar um banho, se
arrumar, eu recebo seus sogros se eles chegarem! – ela diz
atenciosa.
– A mãe do Rui não vai muito com minha cara Jô! – falo em tom
de segredo. – Que isso fique entre nós – cochicho como se alguém
estivesse nos ouvindo.
– Claro, sou muito discreta – ela diz.
– Eu já percebi. – Sorrio nervosa. – Então, vou subir e me
aprontar.
Giro nos calcanhares e subo para os quartos.
A ideia do Rui não é ruim, então encho a banheira de água,
coloco alguns sais, e me esparramo nela.
Tento relaxar um pouco com a água quentinha em meu corpo,
acabo cochilando e acordando com o barulho de alguém batendo na
porta.
– Jackeline? – É a voz da Jô.
– Oi, pode entrar! – respondo assustada.
– Seus sogros chegaram! – Ela sorri e eu choro.
Merda, cadê o Rui.
– O Rui chegou? – pergunto aflita.
– Ainda não. Você quer que eu sirva algo para eles? – ela
pergunta.
– Ofereça um vinho, eu já estou indo. – Puxo a toalha de banho,
me enxugo rapidamente e sigo apressada para o closet.
Escolhi para vestir hoje um vestido bem-comportado, amarelo,
assim a jararaca não terá um “ai” para dizer de mim.
Coloco os sapatos altos de verniz, o colar que o Rui me deu,
meu anel, prendo meu cabelo em um coque e passo apenas
máscara em meus cílios, batom, e um pouco de blush nas maçãs do
rosto.
Me olho no espelho.
– Estou bem, sem exageros – falo para mim mesma.
Ok, agora a parte mais difícil, encarar a família dele, quero dizer,
sua mãe, seu pai é muito gentil.
Crio coragem, desço as escadas vagarosamente e então chego
à sala.
Dou uma daquelas respiradas bem profundas, coloco um sorriso
no rosto e sigo até onde os dois estão sentados.
– Boa tarde! Desculpem se demorei um pouco – falo com o
coração na boca.
O pai do Rui se vira para me olhar, abre um sorriso largo, e se
levanta.
– Olá, Jackeline! Quanto tempo! – Ele me abraça bem apertado.
– Fizeram boa viagem? – pergunto nervosa.
– Sim, foi tudo ótimo! Raquel, venha cumprimentar a Jackeline –
ele diz enérgico.
A mulher se levanta com um bico maior que o mundo.
– Olá, Jackeline! Como vai? – Sua voz sai áspera, ela tem um
jeito de falar meio arrogante.
Então ela me olha com desdém e volta a sentar.
Tento não me abalar com isso.
– Estou bem – respondo constrangida com sua frieza.
Então, o pai do Rui segura em meu antebraço e sai andando
comigo em direção à área externa.
– Como estão as coisas? – ele diz animado. – O Rui me contou
que agora vocês estão morando juntos.
– Isso mesmo! – respondo meio sem jeito. – Faz pouco tempo,
ainda estamos nos acostumando um ao outro.
Ele faz alguns comentários, fala do tempo, pergunta de mim, do
trabalho...
Me sinto meio zonza, mas acho que é de fome, não comi nada
hoje.
– Vamos nos sentar um pouco. – Sugiro preocupada com meu
mal-estar.
– Claro! – Ele me encara. – Você está bem? Está parecendo um
pouco pálida!
– Não comi nada hoje, acho que é isso! – Me sento no mesmo
sofá da bruxa.
– Espere um momento, vamos resolver isso. – Ele sai em
disparada para a cozinha, xingo a mim mesma por ter aberto minha
latrina.
– A senhora quer comer alguma coisa, Dona Raquel? O Rui foi
buscar minhas... família! – Sorrio. – Mas, eles já devem estar
chegando! – Tento ser simpática.
– Oh, não se incomode comigo, estou muito bem! – ela diz altiva,
parece uma rainha.
Reviro meus olhos, e então vejo o pai do Rui com uma bandeja.
Me crucifico.
Eu que devia estar servindo os dois, sou uma péssima anfitriã.
Ele coloca sobre uma mesa de centro uma série de frios, bem
estilo Rui.
Até nisso se parecem.
– Vamos petiscar enquanto o Rui não chega! – ele diz sorrindo.
– Oh, Doutor Toni, eu que deveria fazer isso, não o senhor... –
falo constrangida e percebo a Dona Jararaca sorrir debochada.
– Fique tranquila! Não tenho frescuras na casa de meu filho,
quero dizer, agora é a casa do meu filho e sua... – Ele disfarça e não
termina a frase.
– Vou comer um desses. – Petisco alguns frios, e então ouço um
barulho na porta. – Devem ser eles, só um momento. – Me levanto,
uma nova tontura, mas me recomponho, e sigo até a porta.
Antes que eu alcance a porta, vejo o quarteto entrar, a voz e o
sotaque de minha avó podem ser ouvidos na outra esquina do
bairro.
Ela está ficando surda, então falar alto a ajuda a escutar melhor
(brincadeirinha).
– Oi, como vocês demoraram! – choramingando.
O Rui gira os olhos e já imagino que não foi fácil o trajeto até
aqui.
– Jackeline, minha neta, esse seu marido queria nos matar do
coração – ela diz apavorada. – Quase me mijei toda de medo. Onde
fica o banheiro desse lugar? – Ela segura no meu braço, parece
realmente apertada.
– Por aqui, vovó. – A levo até o banheiro.
Retorno, olho para o Rui e pergunto.
– O que você fez, Rui, para apavorar assim minha vozinha?
Minha tia não o deixa responder, ele passa as mãos pelo rosto
nervoso.
– Ele correu, minha santa, correu como um louco, quase mata a
todas nós, estava vendo a hora que ele beijaria o próximo poste! –
Ela se benze. – Nunca mais ando de carro com esse moço! Ele é
louco, Jackeline, não tem juízo.
Olho para o Rui.
– Oh, Rui!
– Jack, ou eu acelerava ou iríamos chegar aqui para o jantar,
porra! – Ele me dá um selinho. – Preciso beber, essas três quase
me enlouqueceram.
Ele passa por mim desnorteado.
Então vejo minha mãe.
– Mãe, como você está bonita! – falo orgulhosa
– Obrigada, filha – ela diz timidamente. – Que bonita sua nova
casa! – Seus olhos brilham de encantamento.
– Gostou? O apartamento do Rui é lindo, não é? – respondo
meio sem graça, ainda não sinto que isso tudo é meu, ou que seja
minha casa.
A sensação é estranha, como se tudo fosse provisório.
– Agora é o seu apartamento também, filha! – Ela me chama a
atenção.
– Eu sei mãe, preciso me acostumar, ainda é tudo muito novo
para mim.
Minha tia cochicha em meu ouvido.
– Acertou no homem querida, cheio da grana! – ela diz
maliciosa.
– Que coisa feia, tia! – ralho com ela.
Ela revira seus olhos e cochicha no ouvido da minha mãe.
– Jack, vamos apresentar sua família aos meus pais! – O Rui
diz, parece um pouco estressado.
– Vamos, claro! – Faço uma oração em silêncio. – Mãe, vem
comigo. – Pego em sua mão, e a levo até os pais do Rui. – Tia, vá
buscar a vovó...
O Rui se adianta.
– Dona Amélia, essa aqui é minha mãe, Dona Raquel! Mãe,
Dona Amélia é a mãe da Jack, aquela é a sua tia Ofélia, e sua avó
Maria.
Minha mãe já sabe toda a história sobre mim e dona Raquel,
então não é novidade para ela que a mulher é um nojo.
– Muito prazer! – Minha mãe diz timidamente.
O pai do Rui se mete no meio.
– Ninguém me apresenta? – Ele diz bem-humorado. – Sou
Antony, pai desse jovem aqui! – Ele segura com firmeza o braço do
Rui, parece muito orgulhoso do filho.
Logo ele está apertando as mãos de todas as três, muito
animado, e simpático.
– Vamos nos sentar, estávamos eu e a Jackeline comendo essas
besteiras enquanto vocês não chegavam.
Sorrio com seu jeito, ele é tão simpático, não sei como pode ser
casado com uma mulher tão antipática.
O pai do Rui fala muito, mal dá espaço para alguém falar.
– Seu pai está falante hoje! – falo em tom de brincadeira.
– Melhor assim, Jack. Antes ele falando do que sua tia e sua
avó! – Ele bufa cansado.
– Elas deram muito trabalho? – cochicho em seu ouvido, bem
carinhosa, ele merece muito carinho, só de aguentar essas três ele
é um santo.
– Puta que pariu! – Ele bufa novamente.
O abraço discretamente e beijo seu rosto.
– Obrigada, meu amor!
Ele me olha e sorri.
– Obrigada, não. Quero um pagamento bem gostoso!
Dou risada do seu jeito.
– Ok, você escolhe qual o pagamento que você quer, ou como
você quer! – falo maliciosa.
– Eu já sei! – Ele bebe seu uísque. – Opção dois...
Dou risada de novo.
– E o que é a opção dois?
– Opção dois é o... – Ele não termina de falar, porque um
alvoroço se instala na sala.
Olho confusa, e então vejo vovó colocando terror.
– A senhora se acha melhor que nós, fica aí com essa pose de
rainha da cocada...
Meu pai, me socorre.
– Mãe, cala a boca da vovó!
Minha mãe dá a volta na sala e levanta minha avó do sofá, e diz:
– Desculpem, mamãe está um pouco agitada com a viagem. –
Ela ri, mas acho que é de nervoso.
A vovó se senta ao meu lado.
– Não gostei dessa mulherzinha metida.
– Vó, por favor! – Imploro.
– Jackeline, sou uma mulher de quase 80 anos, não gosto de
falsidade.
– Ok, vovó, mas só hoje, não fale grosserias para ninguém, por
mim ,vovó!
Ela cochicha alguns palavrões e finalmente se cala.
Aos poucos o assunto volta à rodinha de pessoas, e realmente
vovó tem razão, Dona Raquel destoa do grupo.
Finalmente a Jô avisa que o almoço está servido.
Nos levantamos, e mantenho minha avó ao meu lado.
O clima poderia estar desagradável com a atitude hostil da mãe
do Rui, mas não está, porque o pai do Rui e ele mesmo falam muito,
fazem brincadeiras, e contam piadas, deixando o clima leve e
agradável.
– O almoço estava ótimo, Jackeline! – O pai do Rui diz
cavalheiro.
– Obrigada, Doutor Toni. Mas, as honras são da Josalice, a
empregada do Rui.
– Nossa empregada, Jack! – O Rui me corrige pela segunda vez.
– Isso. Ainda não me acostumei. – murmuro.
– E você, Dona Amélia, está feliz com a união do Rui e de sua
filha? – O pai do Rui pergunta, me deixando meio nervosa.
Minha mãe limpa a garganta e diz com firmeza:
– Sim, eu, minha irmã e minha mãe, estamos muito felizes. O
Rui é um rapaz maravilhoso. – Olho para o Rui e vejo seu sorriso
satisfeito. – Ele é muito amoroso, atencioso, e apaixonado pela
minha filha, e isso é tudo que uma mãe quer. Ele se tornou meu filho
de coração. – Ela cobre a mão do Rui com a sua e se emociona, e
me emociono junto.
– Obrigado, Dona Amélia! – O Rui diz emocionado, é difícil vê-lo
assim, mas já o conheço o suficiente para saber todas as suas
nuances. – O sentimento é recíproco. – Então ele beija a mão de
minha mãe.
Ele é lindo demais.
Meus olhos enchem de lágrimas.
Mamãe se recompõe e sem que eu esperasse, ela diz:
– E a senhora, Dona Raquel? Está feliz com a união dos nossos
filhos?
O Rui aperta minha coxa, engulo em seco, olho por entre os
cílios para a víbora e ouço...
– Não podemos escolher para nossos filhos quem queremos
para eles. – Ela se cala.
Abaixo meus olhos entristecida.
– A senhora não sabe o que está perdendo, criei com esmo
minha Jackeline, não somos ricas, mas ela é uma moça educada,
religiosa e de família.
Tento impedi-la de continuar, mas não consigo, ela está
magoada por mim, por ver o jeito que a mulher me trata.
– Não estou muito preocupada com isso. – A víbora responde.
Ouço a voz do pai do Rui ao fundo, provavelmente tentando
controlar a cobra.
– Mas deveria! – Mamãe se altera, levanta da cadeira e encara a
bruxa.
– Mãe, por favor... – Suplico a segurando.
– Me desculpem, mas não consigo me sentar à mesa com uma
pessoa que não queira bem a minha filha! – Minha mãe diz
magoada.
– Rui, me ajuda, minha mãe está perdendo a cabeça. – Me
levanto rapidamente. – Mãe, por favor, vamos tomar um arzinho.
Meu coração bate freneticamente.
O Rui dá a volta na mesa, tenta tirar minha mãe.
– Me desculpe, Rui, por estragar seu almoço. Vamos pedir um
táxi para irmos embora.
Me desespero com a situação.
Foi muito pior do que eu pensava, minha mãe estragou tudo.
– Por favor, mãe, não faça isso! – falo chorando.
– Me deixe, Jackeline!
Fecho os olhos e ouço novamente a voz da víbora...
– Não sou obrigada a gostar de sua filha... – Me viro lentamente
para olhá-la. – -Meu filho era noivo de uma jovem brilhante como
ele, eles iriam se casar em alguns meses, mas então sua filha
apareceu, seduziu meu filho usando roupas escandalosas, parecia
uma prostituta quando a vi na casa de meu filho.
Foi rápido, muito rápido, mas quando me dei conta, minha mãe
estava em cima da megera, arrancando seus cabelos, e a xingando
de tudo o que é nome.
– Ninguém chama minha filha de prostituta. – Minha mãe diz
insana, arrancando os cabelos da velha.
Correria, confusão, gritaria...
Fiquei parada no meio da sala de jantar, desnorteada, vendo as
duas se engalfinhando, enquanto o Rui e seu pai tentavam
desgrudar as duas, e vovó e titia gritavam gritos de guerra do tipo:
“arrebenta ela, Amélia!”
De repente, sinto novamente aquele torpor, minha visão
escurece, uma falta de ar, um mal-estar...
– Rui! – Só tive tempo de dizer isso, tudo escureceu, tentei me
segurar em algo, mas minhas pernas vieram abaixo.
Senti apenas o impacto do meu corpo sobre o chão.
Apaguei literalmente.
****

Desperto sentindo o mundo girando.


– Jack! Jack! – A voz do Rui buzina no meu ouvido.
– Está tudo girando – falo tonta.
– Eu vou ligar para o meu amigo e pedir para ele mandar uma
ambulância. – Ouço o pai do Rui dizer.
– Calma, pai, ela só ficou nervosa. – O Rui acaricia meus
cabelos. – Você está melhor, Jack?
– Rui, ela bateu a cabeça na queda! – Ouço a voz nervosa do
pai do Rui. – Vamos levá-la logo a um hospital.
Me apavoro com a ideia de ir a um hospital, fazerem exames em
mim, e por fim o Rui descobrir.
Oh meu Deus!
– Não, não precisa! – Minha voz sai fraca.
Mamãe chora ao meu lado.
– Foi tudo minha culpa! Me desculpe, Jack! – ela diz aos prantos.
– Está tudo bem, mãe... – Tento me sentar, minha cabeça está
girando. – Me deixe subir para o quarto.
O Rui segura minha mão, me amparo no sofá, a vertigem
aumenta, dá um nó em meu estômago, e de repente, um jato de
vômito incontrolável lava o chão e todos que estavam próximos.
– Oh, porra! – O Rui xinga, dei um banho nele.
– Minha Virgem Maria, leve essa menina para o médico! – Minha
mãe diz apavorada.
– Preciso me deitar! – falo, choro e me deito no sofá novamente,
fecho os olhos e tudo gira.
– Rui, se você não a levar no médico, eu levo! – Seu pai pega
em minha mão.
– Espera, pai! Mas que caralho! – ele diz nervoso. – Eu preciso
me trocar, porra! Josalice!!! – ele grita histérico. – Limpa essa
sujeira! Oh, meu Deus, que nojo! – Ele reclama.
Tampo meus olhos com minha mão e tento me recompor.
Alguns segundos se passam, um zum zum zum irritante na sala,
todos cochicham, parece que estou nas últimas!
De repente, sinto o meu corpo ser levantado.
– Vamos, Jack, a gente vai até um hospital.
– Não precisa... – reclamo.
– Fica quietinha, Jack, só não vomita em mim novamente.
– Eu irei com minha filha! – Minha mãe diz.
– Eu também... – Minha avó diz.
– Eu também... – Minha tia diz.
O Rui bufa.
– Vocês ficam aqui, logo dou notícias da Jackeline! – O Rui diz
apressado.
– De jeito nenhum, todas iremos! – Mamãe diz nervosa.
– Ok, ok, vocês vão com meu pai! Pai, leve elas. Vou colocar a
Jack deitada no banco de trás.
A sensação do elevador descendo em nada está colaborando
com minha vertigem e com meu estômago.
Quando finalmente chegamos ao térreo, estou completamente
nauseada.
– Me põe no chão, Rui!
– Por quê? – Ele me olha confuso.
– Vou vomitar...
Foi o tempo de ele me colocar no chão e eu lavá-lo.
– Oh, Jack, mas que merda!
Começo a chorar, estou grávida, agora tenho certeza.
– Não chora, Jack! – Ele me pega no colo de novo. – Você ficou
muito nervosa, foi isso. É só tomar um sorinho com um sossega
leão. – Ele sorri.
– É... – respondo sem humor.
O caminho até o hospital foi um inferno, uma salivação louca,
vontade de vomitar, cabeça girando.
Finalmente me colocam em uma maca. A enfermeira coloca
aqueles medidores de pressão.
– Oh, a pressão dela está muito baixa! Você é gestante, querida?
– A enfermeira diz tirando minha pulsação.
O Rui olha assustado para a enfermeira.
– Não! – digo rapidamente.
– Vou chamar a médica para te examinar!
Suo frio de medo.
Olho para o Rui, ele olha para mim.
– Daqui a pouco você estará melhor! – ele diz carinhoso.
Concordo com a cabeça.
Uma moça jovem chega apressada.
– Olá, Jackeline! – Ela checa meu coração, meus olhos... –
Quando foi a data de sua última menstruação? – Ela me olha com
firmeza.
– Não me lembro! – Olho de relance para o Rui.
– Você já foi mãe, Jackeline?
– Não! – respondo tensa.
– Usa algum método anticoncepcional? – Enquanto ela fala, olho
o Rui.
Ele se afastou da cama, anda nervosamente pela sala, esfrega
seu rosto.
– Jackeline?
– Pílulas.
– Ok. Vamos colher seu sangue, e verificar se não há o risco de
uma gravidez, enquanto não fica pronto, vamos colocar em você um
soro com um medicamento para diminuir essa vertigem e para
náuseas também. – Ela sorri.
A enfermeira tira meu sangue, e em seguida coloca o soro em
minha veia.
– O exame leva uns 15 minutos para ficar pronto! – ela diz com
um sorriso. – Eu já volto.
Fecho meus olhos e tento não pensar que daqui a pouco
descobrirei se meu grande sonho está concretizado.
Mas, não sei qual será a reação do Rui. Provavelmente, será
péssima.
– Jack, tem alguma coisa que você queira me falar? – Ele me
encara seriamente.
– Não. Vou tentar dormir, Rui, estou muito tonta ainda.
Fecho meus olhos e o ouço bufar nervoso.
Logo a tontura passa, e cochilo.
****

Desperto com um barulho em meu ouvido. Abro os olhos, e


encontro meia dúzia de olhos em mim.
– Acordou, filha? – minha mãe diz apavorada. – Estamos todos
muito preocupados com você, Jack!
– Eu estou melhor, talvez eu já possa ir... – Olho para o Rui.
– Não, Jack, precisa aguardar o médico ou a médica virem até o
quarto, não sabemos o que você teve ou tem. – Ele arregala seus
olhos claros.
Minha avó e minha tia se sentam em um sofá e contam histórias
de desgraças, doentes terminais, erros médicos, bactérias
hospitalares, e então um homem com um jaleco branco entra no
quarto, olha aquele mundo de gente e fala:
– Todos estão aqui por causa da Jackeline? – Ele pergunta bem-
humorado. – Essa moça deve ser muito querida.
Ele se aproxima, e me examina novamente.
– A pressão já voltou ao normal, assim como a pulsação. – Ele
sorri. – O senhor é o companheiro da Jackeline? – Ele sorri para o
Rui.
– Sim...
Sinto uma taquicardia.
– Gostaria de parabenizá-lo, sua esposa está grávida!
Meu Deus!
Acho que agora vou desmaiar de vez.
– Grávida?! – Ouço essa palavra dezenas de vezes, como em
um eco, em diferentes tons.
– Sim... – ele diz sorrindo. – Essa moça está gravidíssima!
Parabéns, Jackeline, desejo a você e ao bebê muita saúde!
Não consigo responder, apenas repito a frase.
– Eu estou grávida! – falo comigo mesma.
– Você já pode ir para casa. Se tiver mal-estar, tome esses
medicamentos, mas procure uma obstetra para orientar você.
Ele olha para todos.
– Parabéns, família! – Faz um gesto com a cabeça e sai.
Olho para todos, e sinto um misto de emoção e surpresa.
– Você está grávida, Jack! – mamãe diz extasiada. – Nossa
Senhora do bom parto ouviu minhas preces!
O pai do Rui se aproxima da cama, aperta e beija minha mão
com tanto carinho, que me emociono.
– Obrigado, Jackeline! Essa criança será muito amada e querida
por nossa família. Estou muito emocionado. – Seus olhos brilham
com as lágrimas.
Olho para o Rui, mas ele não olha para mim.
Recebo cada beijo e abraço da minha família, então, o pai do Rui
tira todos do quarto, deixando nós dois sozinhos.
Finalmente ele me olha, e não tem alegria em seu olhar.
– Você me enganou, Jack! Engravidou pelas minhas costas.
Uma emoção forte vem ao meu peito.
– Eu... – Penso em mentir, dizer que foi sem querer, mas não
posso fazer isso, preciso assumir o que fiz. – Me desculpa, Rui, eu
confesso, parei de tomar o anticoncepcional logo que soube que
havia perdido um dos meus ovários, não pensei muito, apenas no
meu desejo de ser mãe, fui egoísta, eu sei! – As lágrimas inundam
meus olhos. – Não achei que conseguiria, acho que foi um milagre...
Eu quero esse bebê, Rui, e se você não quiser, não se preocupe, eu
vou tê-lo sozinha.
– Eu confiei em você, Jackeline, você agiu pelas minhas costas.
– Ele parece indignado comigo. – Eu nunca deixei nenhuma mulher
entrar assim na minha vida, achei que você era diferente, mas acho
que a única preocupação que você tinha esse tempo todo era foder
comigo para engravidar.
– Não é verdade – falo magoada. – Eu amo você!
– Não tenho mais certeza disso, aliás, em relação a nada que diz
respeito a você! Você me usou, Jackeline, para engravidar do filho
que você tanto queria. Não tem nada a ver comigo, eu sou só o
trouxa que te deu os espermatozoides, não é mesmo? – Seu tom de
voz sai cortante, cheio de raiva e rancor.
– Eu me apaixonei por você muito antes de tudo isso, Rui! Nunca
planejei engravidar de você, mas não me culpe por ter esse sonho...
Você nunca iria concordar, porque para você isso não é importante.
Eu nunca quis me aproveitar do nosso relacionamento, talvez eu
não achasse que engravidasse de fato, aos poucos estou ficando
estéril. Mas eu engravidei, e do homem que amo, e se você me ama
de verdade, você me perdoará e ficará feliz, que não seja por você,
mas por mim! – Limpo minhas lágrimas.
– Eu não consigo! – ele diz friamente. – O que você fez foi um
daqueles golpes baixos para arrancar dinheiro de um idiota
desavisado.
Suas palavras entram no meu coração e me ferem de verdade.
– Eu não preciso de você para ser mãe, não preciso do seu
dinheiro, do seu nome, de nada seu, você nem verá a cara dele, não
se preocupe! – Me levanto, pego minha bolsa, desvio do seu corpo,
abro a porta e saio pelo corredor.
Vejo minha mãe conversando com minha tia e minha avó, o pai
do Rui me olha confuso, mas não dou tempo dele se aproximar.
– Vamos pegar um táxi! – Sigo na frente.
– Aonde você vai, Jackeline? E o Rui? – minha mãe diz nervosa.
– Não tem mais Rui, mãe, acabou! – falo aos prantos.
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ATRAÇÃO IRRESISTÍVEL
VOLUME 2
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