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Aula 07 - O Significado Teológico da Ascensão de Cristo

Leandro Lima

Objetivo: Entender a importância da Ascensão para o cumprimento dos propósitos


redentivos de Deus, bem como seu significado prático para a vida cristã.

Introdução

Quando o primeiro cosmonauta russo voltou da primeira missão que lançou um


homem ao espaço, ele disse que lá em cima não havia visto Deus ou o Paraíso em lugar
algum1. Infelizmente as pessoas gostam de brincar com coisas que não entendem. A
ascensão de Jesus não significou que ele saiu viajando pelo universo até chegar ao céu. O
que essas críticas e brincadeiras escondem é uma profunda falta de entendimento do que é o
céu e acima de tudo, do que foi a ascensão de Jesus. A ascensão de Cristo representa o
momento em que ele partiu em definitivo desse mundo, para assumir sua posição de
governo celeste. Apesar de não ser uma doutrina muito considerada pela igreja, ela é
fundamental para a fé cristã.
O relato de Lucas em Atos 1.6-11 é um relato histórico. Lucas não está contando
uma lenda ou uma história religiosa. Ele está narrando um evento histórico que pesquisou e
apurou minuciosamente (Lc 1.1-4). Portanto, a ascensão não é uma lenda, é um evento
histórico. O que é bastante criticado no relato de Lucas é a elevação de Jesus às alturas
fisicamente. Uma vez que a terra é redonda, não dá para dizer que o céu fica lá em cima,
então, os críticos taxam esse relato de cheio de primitivismo e impropriedade
terminológica. O fato, porém, é que até hoje dizemos que as estrelas ficam lá em cima. Se
quiséssemos ser científicos, teríamos que dizer que elas também ficam lá embaixo. A
ascensão de Cristo foi uma demonstração visível aos Apóstolos de que ele estava partindo
pela última vez, e que não mais o veriam como já estavam acostumados a ver. Por 40 dias,
ele se manifestou aos discípulos após sua ressurreição, e, naquele dia, ele se elevou da terra,
e depois de alguns instantes desapareceu. A importância desse evento é excepcional, pois
marca o fim da obra de Cristo na terra e o início de sua obra celestial.

O retorno do Filho

Não existe lugar melhor do que o nosso lar. Isso é o que quase todos sentem quando
retornam de alguma viagem longa. A ascensão marcou a volta de Jesus para o seu lar,
porém isso não quer dizer que o lar de Jesus seja em algum lugar no espaço acima de nós. É
comum a Escritura descrever o céu como acima, mas isso é uma força de expressão. O céu
é um luga real, mas a dimensão é espiritual Não é apenas um estado é um lugar, porém, não
é possível chegar a esse lugar através de algum meio de transporte criado pelo homem. Para
chegar ao céu é preciso mudar da dimensão física para a espiritual.
O Evangelho de João narra a trajetória da vida de Jesus como uma viagem de ida e
de retorno. Ele veio aqui através de seu nascimento e voltou para o seu lugar através da
ascensão. Nascimento e ascensão são aspectos opostos da manifestação de Cristo. Em João
17 Jesus falou da posição que ocupava no céu com Deus antes de sua encarnação: “Eu te
1
Ver Wayne Grudem. Teologia Sistemática, p. 517.
glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e, agora, glorifica-me,
ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” ( Jo
17.4-5). E ele completou: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também
comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me
amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.24). Antes de vir a esse mundo, Jesus
desfrutava de uma posição de glória e amor em seu relacionamento com o Pai, porém, por
algum tempo, ele ficou longe disso, embora não de forma total (exceto talvez no momento
da crucificação). O fato é que ao adentrar o mundo, Jesus se esvaziou de algumas
prerrogativas suas. Paulo diz aos Filipenses: “Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a
forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8).
Jesus não se esvaziou de sua divindade quando adentrou o mundo, ele nunca deixou de ser
Deus, ele apenas abriu mão de seu status divino, pois precisava se humilhar como homem.
Paulo não está dizendo que Jesus se esvaziou de sua divindade, mas que se esvaziou de
seus direitos divinos, especialmente sua glória. E de fato, o carpinteiro de Nazaré não foi
reconhecido como um dos grandes desse mundo. Ainda que João tenha dito que sua glória
pôde ser vista na Encarnação (Jo 1.14), é justamente a glória do Verbo eterno que se
submeteu a ser homem e a viver como homem. Mas, em momento algum, Jesus fez questão
de demonstrar sua divindade, exigir deferência ou reconhecimento. Após sua morte e
ressurreição, ele retornou à posição que sempre foi sua de direito. Como bom Filho, ele
retornava ao lar.
De certa forma, Jesus voltou ao céu para reassumir sua antiga posição e ao mesmo
tempo, para assumir uma nova posição. Sua obra Redentora lhe garantiu um status ainda
maior: o de rei Supremo sobre o destino final do universo. Assentado à destra de Deus, ele
está investido dessa posição. Por isso Paulo, após falar da humilhação de Cristo, fala de sua
exaltação: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima
de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo
da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.9-
11). Esse status de Redentor investido de autoridade suprema, Jesus não possuía antes de
sua vinda aqui, pelo simples fato de que ainda não havia morrido pelos pecados. A
ascensão marca o momento em que o Salvador recebeu a coroa e o direito absoluto de
governar o mundo para fins de consumação do plano de Deus. A ascensão introduz um
novo estágio no processo redentivo que é tão importante quanto a ressurreição que
significou a vitória sobre a morte. Bavinck diz que “sua ascensão é um triunfo, em um
sentido mais forte, que a ressurreição” 2, embora, talvez essa frase possa ser entendida como
um exagero. De qualquer modo, a ascensão é o triunfo supremo que conduz à entronização
de Jesus ao posto de governo máximo do Universo.
Pela ascensão, Jesus assumiu sua posição de autoridade nos céus. A bíblia costuma
usar a expressão “sentado à destra de Deus” (Mc 16.19) para exprimir o significado da
posição de autoridade que Jesus se encontra investido desde a ascensão. Pedro em seu
primeiro sermão após o Pentecostes, depois de relatar a trajetória de Jesus desde sua
pregação na galiléia até sua morte e ressurreição, diz que Jesus foi: “Exaltado, pois, à destra
de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo” (At 2.33). No próximo
testemunho que o mesmo Pedro deu, falando então para as autoridades judaicas, ele foi

2
Herman Bavinck. Teologia Sistemática, p. 408.
ainda mais específico: “Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a
fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados” (At 5.31). Estevão,
pouco antes de ser apedrejado, teve uma visão da posição de Cristo: “Eis que vejo os céus
abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus” (At 7.56). Mas a maior descrição da
posição de autoridade que Jesus recebeu ao assentar-se à destra de Deus após a ascensão é o
próprio Pedro que nos dá em sua primeira epístola: “O qual, depois de ir para o céu, está à
destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes” (1Pe 3.22).
Assentado à destra de Deus, Jesus tem em sua subordinação todos os poderes existentes.
Ele é o comandante supremo de tudo o que existe.

Fim de uma obra e começo de outra

Na ressurreição, Cristo consumou a vitória sobre o pecado e sobre a morte, e desse


modo, cumpriiu tudo o que era necessário para a salvação de seu povo, porém faltava
justamente a tarefa de distribuir esses dons e conduzir a obra de conversão até aos confins
da terra. Para isso, ele precisava subir à destra de Deus e assumir a posição de autoridade
suprema, de onde poderia realizar a obra que ainda faltava. Por esse motivo, podemos dizer
que a ascensão é o fim de uma obra e o começo de outra. É o fim da obra expiatória terrena
e o começo da obra celestial. Lucas relata que no momento em que Jesus subiu aos céus, os
discípulos ficaram com os olhos como que hipnotizados, fixos no céu. Naquele momento
anjos apareceram e lhes disseram: “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas?
Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11).
Aquela era uma ordem para não permanecerem parados olhando para o céu. Eles tinham
muito trabalho a fazer. Antes da segunda vinda de Jesus tem que acontecer uma outra
“vinda” e uma outra “ida”. É a “vinda” do Espírito Santo e a “ida” dos discípulos a todas as
nações. Jesus subiu aos céus exatamente para possibilitar essas coisas. A vinda do Espírito
Santo para capacitar os discípulos na tarefa que precisavam realizar era imprescindível,
pois sem o Espírito Santo, não havia chances de realizarem a imensa tarefa de
evangelização. Basta ver o Pedro que nega Jesus três vezes, ou o Tomé que mesmo tendo
recebido a notícia dos dez apóstolos sobre a ressurreição de Cristo, ainda tem dúvidas, para
perceber que eles não estavam prontos. Além do testemunho da ressurreição de Cristo, era
necessário o poder do Espírito Santo, e para que isso acontecesse, a ascensão precisou
acontecer primeiro. Jesus deixou bem claro que, se não partisse e fosse exaltado, não
poderia conceder o Espírito Santo, e sem o Espírito, o inconstante Pedro, o duvidoso Tomé
e os outros fracos discípulos jamais conseguiriam levar o Evangelho até aos confins da
terra.
Horton diz que nosso Rei Redentor ascendeu ao céu com um duplo propósito:
Defender a segurança eterna do seu povo e executar o julgamento eterno contra aqueles que
não o receberam3. A fim de defender o seu povo, a principal obra que Cristo iniciou a partir
de sua ascensão foi a de Advogado diante do Pai em favor dos crentes. O Apóstolo João o
chama explicitamente de nosso advogado junto de Deus (1Jo 2.1). A obra sacerdotal de
Jesus, especialmente a celestial, se iniciou graças a ascensão de Cristo. O autor aos Hebreus
fala bastante sobre o caráter de Jesus como nosso Advogado, e nos encoraja a usufruir os
benefícios que Jesus concede como sacerdote de seu povo: “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de
Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa

3
Michael Horton. Creio, p. 138.
confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.
Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos
misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.14-16). Por causa
da ascensão, Jesus “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo
sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). Assentado à destra de Deus, ele realiza sua obra
de intercessão, como o autor aos Hebreus ainda declara: “Ora, o essencial das coisas que
temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da
Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor
erigiu, não o homem” (Hb 8.1-2).
Mas ele está lá em cima com o objetivo de terminar de destruir os inimigos também.
A Bíblia diz que, com a ascensão de Jesus, os exércitos malignos sofreram uma baixa
irrecuperável. Paulo diz que quando Deus ressuscitou a Jesus e o fez sentar à sua direita nos
lugares celestiais, ele passou a ocupar uma posição “acima de todo principado, e potestade,
e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas
também no vindouro” (Ef 1.21). Pedro também fala dessa subordinação forçada: “O qual,
depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades,
e poderes” (1Pe 3.22). Seria sem sentido dizer que os anjos bons se subordinariam a Jesus
após a ascensão porque eles já eram subordinados antes. Parece bem evidente que Pedro e
Paulo estão falando dos poderes malignos. Paulo declarou que o fim somente virá quando
Jesus “houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém
que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés” (1Co 15.24-25). Com
sua ascensão, Jesus assumiu o posto de governo do universo, e sua preocupação principal é
subjugar e eliminar todo o mal da criação de Deus. Evidentemente que ele faz isso
mediante sua obra na cruz, que lhe deu autoridade para executar o plano de Deus para esse
mundo. A partir desse entendimento, podemos interpretar aquela batalha no céu, descrita
em Apocalipse 12, entre Miguel e os anjos bons contra Satanás e seus anjos decaídos como
uma descrição da vitória de Jesus na ascensão. João descreveu uma mulher radiante que
deu a luz um filho varão (Ap 12.1-2). O dragão fez de tudo para devorar o filho da mulher
(Ap 12.3-4), mas o filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono (Ap 12.5). Em seguida
João descreveu a peleja no céu: “Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão.
Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou
no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e
Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos”
(Ap 12.7-9). Com a entronização de Jesus, o Diabo perdeu seu lugar e com ele todos os
seus anjos. Eles foram expulsos em direção à terra, porém, mesmo na terra não poderão
ficar muito tempo (Ap 12.12). Os inimigos já estão debaixo de seus pés, o esmagamento
final é apenas questão de tempo.

Um novo estado para a humanidade

A igreja é a grande beneficiada com a exaltação de Jesus, pois graças a essa


exaltação, Jesus tem capacitado sua igreja na tarefa de evangelização, o que de certo modo,
também é uma maneira de fazer os inimigos baterem em retirada. Os dons que ele distribui
para seu povo são frutos de sua ascensão. Paulo fala disso na carta aos Efésios: “Por isso,
diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens” (Ef
4.8). Os dons que foram dados à igreja para realizar a difícil tarefa de convencer o mundo e
edificar os crentes vêm a nós por causa da ascensão de Cristo. Sua exaltação era necessária
para que pudesse conceder a seu povo um pouco de seu poder. Paulo tem mais a falar sobre
a importância da exaltação de Cristo para a igreja. Ele diz que Deus fez Cristo “sentar à sua
direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e
de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro. E
pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à
igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef
1.20-23). Cristo exaltado e assentado à destra de Deus é o governador supremo de todas as
coisas, mas quem se beneficia com isso é a igreja, de quem ele é o Cabeça. Sua posição de
autoridade garante a segurança e a eficácia de sua igreja durante a peregrinação dela nesse
mundo. O fato de Cristo estar no céu, não significa que ele esteja limitado ao céu, pois sua
onipresença garante que ele esteja com seu povo todos os dias até a consumação do século
(Mt 28.20)4.
A ascensão de Cristo nos fala de um novo estado para a humanidade. A humanidade
decaída em Adão, agora passa a ser exaltada em Cristo. É lógico que isso é privilégio
somente dos crentes em Jesus. A Bíblia diz que Deus juntamente com Jesus “nos
ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6). De alguma
forma maravilhosa, Cristo está no céu assentado à destra de Deus, e nós estamos lá com ele.
Nós não só experimentamos a ressurreição de Cristo, o que foi estudado no capítulo
anterior, como participamos de sua ascensão. O fato de estarmos espiritualmente assentados
com Cristo nos lugares celestiais nos garante uma autoridade que o homem nunca dispôs,
exceto talvez, no caso de Adão antes da queda. Não só participamos do combate espiritual,
lutando “contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso”
(Ef 6.12), como somos armados de armas que “não são carnais, e sim poderosas em Deus,
para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o
conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co
10.4). Também somos colocados numa posição de juízes desse mundo e até dos anjos (1Co
6.3). Assim se cumpre em nós aquilo para o que desde o início Deus nos criou, conforme a

4
Entretanto, não devemos pensar que ele esteja “fisicamente” entre nós, como se seu corpo físico
fosse onipresente. Segundo o calvinismo, a natureza divina de Jesus é onipresente, mas sua natureza
humana não é, porque não há comunicação de atributos entre as naturezas de Jesus. Na Reforma,
uma longa discussão sobre isso se estabeleceu entre Luteranos e Calvinistas. Até mesmo um
catecismo surgiu para tentar fazer a conciliação entre as duas partes: o Catecismo de Heidelberg.
Esse catecismo foi formulado para estabelecer um consenso, porém, suas idéias em relação à Santa
Ceia inclinam-se muito mais para a teologia reformada. O Catecismo dá um destaque imenso a
ascensão de Jesus, pois há só uma pergunta sobre a ressurreição e quatro para a ascensão, e como
nota Klooster, isso aponta, evidentemente para a questão do debate sobre as naturezas de Jesus à luz
da discussão sobre a Santa Ceia (Ver Fred H. Klooster. A Mighty Comfort – The Christian Faith
Acording to the Heidelberg Catechism, p. 53). A Questão 47 do catecismo antecipa uma dúvida e
provável objeção: Se Cristo está no céu, então, como ele pôde ter dito que estaria conosco todos os
dias até a consumação do século? A resposta é: “Segundo sua natureza humana, não está agora na
terra, mas segundo sua divindade, majestade, graça e Espírito, jamais se afasta de nós”. Desde o
momento da ascensão, Jesus não está mais fisicamente entre nós. Não há qualquer comunicação de
atributos na pessoa de Jesus. A natureza humana permanece humana e não recebeu o atributo da
onipresença. Já a natureza divina que sempre foi onipresente está em todo lugar ao mesmo tempo. É
nesse sentido que Jesus está presente entre nós. Por causa de sua onipresença divina ele está
conosco todos os dias até o fim do mundo.
Bíblia testemunha do homem: “Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de
honra o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos” (Hb 2.8). Em Cristo
estamos exaltados à destra de Deus, fomos elevados a um novo estado, o estado da
ascensão. Essa é uma doutrina maravilhosa e que os crentes precisam aprender mais. Não
tem nada a ver com o triunfalismo da teologia da prosperidade, é apenas o reconhecimento
de nosso status em Cristo, que nos traz privilégios e também responsabilidades.
Por fim, poderíamos dizer que a ascensão de Cristo garante também a nossa própria
ascensão física futura. Jesus disse a seus discípulos pouco antes de sua partida: “Na casa de
meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos
lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para
que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo 14.2-3). Para o mesmo lugar onde Jesus foi,
ele deseja levar seus discípulos. Isso acontecerá na Segunda Vinda, como Paulo diz:
“Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e
ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles,
entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o
Senhor” (1Ts 4.16-17). Do mesmo modo como Jesus foi elevado entre nuvens para o céu,
nós também experimentaremos uma ascensão física. Esse estado de exaltação, Jesus o
descreve simbolicamente em Apocalipse 3.21: “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo
no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono”. Assim
como a ressurreição de Jesus garante nossa própria ressurreição, podemos dizer que sua
ascensão garante a nossa ascensão.

Conclusão

É comum a tendência de se valorizar a obra que Jesus realizou durante seus dias
aqui na terra e minimizar a obra que ele realiza hoje no céu, mas as duas coisas são
igualmente importantes. Por isso a ascensão é tão importante quanto o nascimento ou a
paixão de Cristo. Na verdade uma coisa depende da outra. Precisamos ver a obra de Cristo
como um todo, e nisso devemos incluir o nascimento, a vida perfeita, a morte, a
ressurreição, a ascensão, o derramamento do Espírito e a segunda vinda. Todos esses
eventos são igualmente importantes e necessários para a salvação do povo de Deus. O
resumo disso é que tudo o que Jesus realizou foi absolutamente necessário para que a obra
fosse completa, pois todos esses eventos são igualmente necessários para a salvação, e
nenhum poderia faltar.
A ascensão de Jesus ao céu foi um acontecimento de importância indizível. Ela
marca de forma definitiva a passagem de Jesus por esse mundo, e demonstra que a
encarnação e o esvaziamento do Filho de Deus não foram em vão. Ela é a evidência de que
a expiação foi realizada e que o sacrifício foi aceito. Ela demonstra que a vida venceu a
morte, e que agora, é só uma questão de tempo até que todos os elementos do plano de
Deus se encaixem, e conduzam o mundo à consumação.
Assim como sua morte e ressurreição, a ascensão dirige a humanidade para um
novo status, para um novo modo de vida. Através de sua ascensão, Jesus assumiu sua
posição de poder e autoridade, de onde governa todas as coisas para o cumprimento do
plano de Deus. De onde também intercede e dirige sua igreja, protegendo-a e fortalecendo-
a para que a missão dela seja cumprida integralmente.
Nossos corações devem se alegrar pela posição que Cristo ocupa à destra de Deus.
Também devemos nos esforçar para viver a vida de pessoas exaltadas que Cristo nos
confere por sua ressurreição e ascensão. Ao cristão, nenhuma vida é digna, a não ser a que é
lá do alto. A verdade é que somos lá de cima. Lá é nosso lar. Portanto, enquanto estivermos
aqui, segundo o Apóstolo Paulo, nossa vida deve ser assim: “Buscai as coisas lá do alto,
onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são
aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em
Deus”. (Cl 3.1-4). Nada menos do que uma vida assim pode agradar a Deus e a nós
mesmos.

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