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A geopolítica dos oleodutos e gasodutos

Sáb, 30 de Outubro de 2010 16:40

Crédito: Indymedia

Apostando e blefando em um Novo Jogo

Pepe Escobar, Global Research

Os historiadores do futuro estarão facilmente em acordo com o fato de que a Rota da Seda do
século XXI inaugurou seu comércio em 14 de dezembro de 2009. Esse foi o dia em que uma
trama crucial de canalizações entrou em funcionamento, unindo o estado de Turcomenistão
(fabulosamente rico em energia), através do Cazaquistão e Uzbequistão, com a província de
Xinjiang, no longínquo oeste da China. A hipérbole não impediu que o presidente do
Turcomenistão, que tem o espetacular nome de Gurbangulí Berdimujamédov , jactar-se: “Este
projeto tem não somente valor econômico ou comercial, mas também político. China, através
de uma acertada política com visão de futuro, se converteu num dos garantidores chaves da
segurança global”.

O resultado final é que, para 2013, Xangai, Guangzhou e Hong Kong alcançarão, a velocidade
de cruzeiro, cada vez maiores alturas econômicas por cortesia do gás natural subministrado
pelo chamado Gasoduto Central, que se estende ao largo de 1.833 quilômetros.

O duto asiático se projetou, pois, para que operasse a plena capacidade. E pensar que em
poucos anos as grandes cidades da China estarão sem dúvida saboreando também as
fabulosas reservas apenas exploradas do Iraque: estimadas de forma conservadora em 115
bilhões de barris -ainda que seja possível alcançar os 143 bilhões, o que colocaria este país
em frente ao Irã. Quando os generais de opereta da administração de George W. Bush
lançaram sua “guerra contra o terror”, não era precisamente isso o que tinham em mente.

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A economia da China está sedenta e por isso está bebendo tudo o que pode e fazendo planos
para beber ainda mais. Anseia o petróleo do Iraque e o gás natural do Turcomenistão, assim
como o petróleo do Cazaquistão. Mas em lugar de gastar mais de um trilhão de dólares em
uma guerra ilegal no Iraque ou estabelecer bases militares por todo o Oriente Médio e Ásia
Central, China utilizou suas companhias petroleiras estatais para conseguir algo da energia
que necessitava apostando simplesmente por ela numa subastação perfeitamente legal do
petróleo iraquiano.

Enquanto isso, no novo Grande Jogo da Eurásia, China teve o bom senso de não enviar
nenhum soldado a nenhuma parte, nem de pantanizar-se num infinito lamaçal no Afeganistão.
Em lugar disso, os chineses fizeram simplesmente um acordo comercial direto com o
Turcomenistão e, aproveitando-se dos desacordos deste país com Moscou, construíram um
gasoduto que lhes proporcionará grande parte do gás natural que necessitam.

Não é de estranhar, pois, que o czar da energia euro-asiática da administração de Barack


Obama, Richard Morningstar, se viu obrigado a admitir numa audiência no Congresso dos EUA
que não pode simplesmente competir com a China em tudo o que se refere à riqueza
energética da Ásia Central. Se tão somente houvesse apresentado essa mesma mensagem ao
Pentágono...

A equação iraniana

Em Pequim se discute muito, muito em sério, o assunto de diversificar os fornecimentos do


petróleo. Quando o petróleo chegou a $150 americanos o barril em 2008 – antes que os EUA
desatara o desastre financeiro global – os meios do estado chinês denominavam as grandes
do Petróleo estrangeiras “os crocodilos internacionais do petróleo”, o que implicava que a
agenda escondida do ocidente era, em última instancia, parar em seco o desenvolvimento da
China.

Mais de uma quarta parte do que resta das provadas reservas mundiais de petróleo estão no
mundo árabe. China poderia facilmente tragá-las todas. Possivelmente poucos saibam que a
mesma China é atualmente o quinto maior produtor de petróleo do mundo, com 3,7 milhões de
barris diários, justo abaixo do Irã e ligeiramente acima do México. Em 1980, a China consumia
somente 3% do petróleo mundial. Agora consome cerca de 10%, convertendo-se no segundo

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maior consumidor do planeta.

Já superou o Japão nesta categoria, ainda que vá atrás dos EUA, que cada ano engole 27% do
petróleo global. Segundo a Agência Internacional de Energia, a China será responsável por
cerca de 40% do incremento da demanda global de petróleo até 2030. Isso assumindo que a
China cresça a uma taxa anual de “somente” 6%, o que, considerando seu atual crescimento,
parece improvável.

Arábia Saudita controla 13% da produção mundial de petróleo. No momento, é o único produtor
oscilante - ou seja, que pode movimentar para cima e abaixo, de acordo com sua vontade, a
quantidade de petróleo bombeado – capaz de incrementar substancialmente a produção. Não
é por acaso, pois, que bombeando 10,9 milhões de barris diários converteu-se em um dos mais
importantes provedores de petróleo a Pequim.

Os três principais, segundo o Ministério do Comércio chinês, são Arábia Saudita, Irã e Angola.
Para 2013-2014, se tudo vai bem, China espera incluir Iraque a essa lista (e de que forma!),
mas primeiro deve esperar que a produção petrolífera do conturbado país arranque. Enquanto
isso, é a parte iraniana da equação da energia euro-asiática que está destroçando os nervos
dos dirigentes chineses.

As companhias chinesas investiram a assombrosa cifra de 120 bilhões de dólares no setor


energético iraniano durante os últimos cinco anos. Neste momento, Irã é o provedor de
petróleo número um dos chineses, alcançando até 14% de suas importações, e o gigante
chinês da energia SINOPEC comprometeu 6,5 bilhões de dólares mais para construir ali
refinarias de petróleo.

No entanto, devido às duras sanções dos EUA impostas pelas Nações Unidas e a anos de má
gestão, o país carece de conhecimentos práticos e de alta tecnologia e sua estrutura industrial
é um desastre. O diretor da Companhia Nacional do Petróleo Iraniano, Ahmad Ghalebani,
admitiu publicamente que têm que seguir importando da China a maquinaria e as peças
utilizadas para a produção de petróleo iraniano.

As sanções podem atuar de forma assassina, freando os investimentos, incrementando o custo


do comércio em mais de 20% e constrangendo gravemente a capacidade de Teerã para

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receber empréstimos dos mercados globais. Contudo, o comércio entre a China e o Irã cresceu
35% em 2009, alcançando a cifra de 27 bilhões de dólares. Por isso, enquanto o Ocidente
vinha fustigando e atacando com sanções, bloqueios e embargos ao Irã, este país vem
evoluindo lentamente como corredor comercial fundamental para a China, assim como da
Rússia e da Índia escassa em recursos energéticos.

Diferentemente do Ocidente, estão todos investindo ali como loucos porque é fácil conseguir
concessões do governo; é fácil e relativamente barato construir infra-estrutura; e é totalmente
necessário estar ali dentro, quando se trata das reservas energéticas do Irã, para qualquer país
que queria ser ator importante em Oleodutistão, esse disputado tabuleiro de xadrez de
importantes condutos energéticos, a partir dos quais se desenvolve grande parte do novo
Grande Jogo na Eurásia. Sem dúvida, os dirigentes desses três países estão dando graças a
qualquer dos deuses aos quais gostam de rezar, que Washington continue atuando tão fácil (e
lucrativo).

Nos EUA poucos parecem saber que no ano passado Arábia Saudita – agora rearmada até os
dentes por cortesia de Washington e quase com paranóia a respeito ao programa nuclear
iraniano – ofereceu fornecer aos chineses a mesma quantidade de petróleo que o país
atualmente importa do Irã a um preço muito mais barato. Mas Pequim, para quem o Irã é um
aliado estratégico chave e por longo prazo, não compôs o trato.

Como se os problemas estruturais do Irã não fossem suficientes, o país tem feito pouco para
diversificar sua economia mais além das exportações de gás e petróleo nos últimos 30 anos; a
inflação já supera os 20%; o desemprego também é superior aos 20%; e os jovens com boa
formação estão fugindo ao exterior, uma fuga importante de cérebros para essa terra
assediada. E não creiam que aí se acabariam seus problemas.

Irã gostaria de ser membro de pleno direito da Organização para a Cooperação de Xangai
(SCO, por sua sigla em inglês) – a união para a cooperação econômico-militar a múltiplos
níveis, que é uma espécie de resposta asiática à Organização do Tratado do Atlântico Norte -
mas é somente observador oficial da SCO porque o grupo não admite nenhum país submetido
às sanções da ONU.

Ou seja, Teerã gostaria de ter certa proteção de alguma grande potência contra a possibilidade
de um ataque dos EUA ou Israel. Por muito que o Irã possa estar a ponto de se converter em
um ator muito mais influente no jogo energético da Ásia Central graças aos investimentos

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russos e chineses, é extremadamente improvável que qualquer destes países se arrisque


atualmente em uma guerra contra os EUA para “salvar” o regime iraniano.

A grande fuga

Desde o ponto de vista de Pequim, o título da versão cinematográfica do intrincado conflito


entre os EUA e o Irã e da cada vez maior competição estratégica entre EUA e China em Oleod
utistão seria:
“Escape de Ormuz e Malaca”.

O estreito de Ormuz é a definição de um potencial pescoço de garrafa estratégico. É, depois de


tudo, a única via de entrada ao Golfo Pérsico e por ela fluem agora aproximadamente 20% das
importações chinesas de petróleo. Em sua parte mais estreita tem somente 36 km de largura,
com Irã ao norte e Oman ao sul. Os dirigentes chineses estão preocupados com a constante
presença de grupos de porta-aviões estadunidenses estacionados e patrulhando pelas
imediações.

Com Singapura ao norte e Indonésia ao sul, o estreito de Malaca é outro pescoço de garrafa
potencial como nunca houve outro, e através dele flui 80% das importações chinesas de
petróleo. Em sua parte mais estreita tem somente 54 quilômetros de largura e, como o estreito
de Ormuz, sua segurança depende também da variedade made-in-USA. Em um enfrentamento
com Washington, a marinha estadunidense fecharia rapidamente ou controlaria ambos
estreitos.

Daí que a China está cada vez mais interessada em desenvolver uma estratégia energética na
Ásia Central que poderia resumir-se como: “Adeus, Ormuz!, Adeus Malaca!” E uma calorosa
recepção a uma nova Rota da Seda em forma de duto dede o mar Cáspio ao longínquo oeste
chinês em Xinjiang.

Cazaquistão tem 3% das provadas reservas mundiais de petróleo, mas seus maiores campos
petrolíferos não estão longe da fronteira chinesa. China vê esse país como uma alternativa
chave ao fornecimento de petróleo através de futuros dutos que unirão os campos de petróleo
cazaquistanês com as refinarias de petróleo chinesas no seu longínquo oeste. Na realidade, a
primeira aventura transnacional chinesa em Oleodutistão já está em marcha: o projeto

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petroleiro China-Cazaquistão de 2005, financiado pelo gigante chinês da energia CNPC.

Muito mais por vir: os dirigentes chineses à espera de grandes riquezas energéticas

Rússia também desempenha papel importante nos planos chineses de escapatória.


Estrategicamente, isso representa um papel crucial na integração energética regional,
fortalecendo a relação Rússia-China dentro da SCO, assim como o Conselho de Segurança
das Nações Unidas.

No que se refere ao petróleo, o nome do jogo é o imenso duto que vai desde o Leste da Sibéria
ao Oceano Pacífico (ESPO, por sua sigla em inglês). No último mês de agosto começaram as
obras de uma seção russa de quatro mil quilômetros de largura, desde Taishet, no leste da
Sibéria, até Najodka, ainda dentro do território russo. O primeiro ministro russo Vladimir Putin
saudou o ESPO como “um projeto realmente amplo que tem reforçado nossa cooperação
energética”. E ao final de setembro, os russos e os chineses inauguraram um oleoduto de 999
quilômetros que vai de Skovorodino, na região russa de Amur, até o território petroquímico de
Daqing, no noroeste da China.

A Rússia está fornecendo anualmente até 130 milhões de toneladas de seu petróleo à Europa.
Logo, não menos que 50 milhões de toneladas podem estar dirigindo-se também à China e à
região do Pacífico.

No entanto, há tensões ocultas entre russos e chineses em questões de energia. É


compreensível que os dirigentes russos se sintam preocupados pelos surpreendentes avanços
da China na Ásia Central, que foi o “estrangeiro próximo” da antiga União Soviética. Depois de
tudo – como os chineses estão fazendo na África em sua busca por energia – na Ásia Central
os chineses estão construindo rodovias introduzindo trens de alta tecnologia, entre outras
maravilhas modernas, em troca de concessões de gás e petróleo.

Apesar das crescentes tensões entre China, Rússia e EUA, é muito cedo para estarmos
seguros sobre quem pode alçar-se com o triunfo no novo Grande Jogo na Ásia Central, mas há
uma coisa bastante clara: os “istãos” da Ásia Central estão convertendo-se em jogadores de
pôquer cada vez mais potentes no seu próprio direito. Enquanto a Rússia tenta não perder sua
hegemonia no local, Washington põe todas as suas fichas nos dutos ao redor da Rússia

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(incluindo o oleoduto de Bakú-Tbilisi-Ceyhan –BTC- que bombeia petróleo de Azerbaijão até a


Turquia através da Geórgia) e a China eleva suas apostas pelo seu futuro na Ásia Central. Seja
quem for o que perca, este é um jogo em que os “istãos” não podem senão beneficiar-se.

Recentemente, Gurbanguli, o líder turcomano, elegeu a China como saída do seu país por um
crédito extra de 4,18 bilhões de dólares para o desenvolvimento do sul de Yolotan, o maior
campo de gás do país. Os chineses já haviam soltado três bilhões de dólares para ajudar no
seu desenvolvimento. Os burocratas da energia em Bruxelas ficaram desolados. Com reservas
estimadas em mais de 14 trilhões de metros cúbicos em gás natural, o campo tem potencial
para inundar de gás a faminta de energia União Européia durante mais de vinte anos. Adeus a
tudo isso?

Em 2009, as reservas provadas de gás do Turcomenistão foram estimadas na assombrosa


cifra de 8,1 trilhões de metros cúbicos, as quartas maiores do mundo, atrás da Rússia, Irã e
Qatar. Não é surpreendente que, desde o ponto de vista de Ashgabat, a capital do país, pareça
sempre estar chovendo gás. No entanto, os especialistas duvidam que a idiossincrásica
república da Ásia Central sem saída para o mar tenha atualmente ouro azul suficiente para
abastecer a Rússia (que absorvia 70% dos fornecimentos do Turcomenistão ante que se
abrisse o gasoduto até a China), a China, a Europa Ocidental, e o Irã, todos ao mesmo tempo.

Atualmente, o Turcomenistão vende seu gás a: China, através do gasoduto mais longo do
mundo, com sete mil quilômetros, desenhado para uma capacidade de 40 bilhões de metros
cúbicos por ano; Rússia (10 bilhões de metros cúbicos por ano, que desceu de 30 bilhões por
ano até 2008); e Irã (14 bilhões de metros cúbicos por ano). O presidente iraniano Mahmud
Ahmadinejad dispõe sempre de uma almofada vermelho de saudação por parte de Gurbanduli,
e o gigante russo da energia Gazprom, graças a uma apólice melhorada de preços, é tratado
como cliente preferencial.

No entanto, no atual momento os chineses estão por cima de todos e, em geral, passe o que
passe, há poucas dúvidas de que Ásia Central será para o China o provedor exterior mais
importante de gás natural. Contudo, o fato de que o Turcomenistão tenha comprometido na
prática todas as suas futuras exportações de gás à China, Rússia e Irã, significa a morte virtual
de vários planos de gasodutos através do Mar Cáspio a favor de Washington e da União
Européia.

IPI frente à TAPI uma e outra vez

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Na frente do petróleo, ainda que todos os “istãos” vendessem à China todos os barris de
petróleo que estão bombeando atualmente, alcançariam satisfazer somente a metade das
necessidades diárias de importações da China. Em longo prazo, somente o Oriente Médio
poderá saciar a sede de petróleo da China. De acordo com a Agência Internacional da Energia,
as necessidades globais de petróleo chinês aumentarão a 11,3 milhões de barris por dia (bpd)
em 2015, incluso se a produção interior alcançar um máximo de 4 milhões de barris.
Compare-se isso com o que alguns dos provedores alternativos da China estão produzindo
agora: Angola:1,4 milhões de bpd; Cazaquistão: também 1,4 milhões de bpd; e Sudão: 400 mil
bpd.

Por outra parte, Arábia Saudita produz 10,9 milhões de bpd; Irã ao redor de 4 milhões, os
Emirados Árabes Unidos (EAU) 3 milhões, Kuwait 2,7 milhões; e depois temos Iraque, que
atualmente produz 2,5 milhões e é provável que alcance os 4 milhões em 2015. Contudo,
Pequim ainda não está completamente convencido de que esse seja um fornecimento seguro,
tendo em conta sobretudo todos esses “sítios de operações avançadas” em Emirados Áraves
Unidos, Bahrein, Kuwait, Qatar e Oman, mais os grupos de combate navais que se multiplicam
pelo Golfo Pérsico.

Na frente do gás, a China conta definitivamente com algo que pode mudar o jogo no sul da
Ásia. Pequim já gastou 200 milhões de dólares na primeira fase da construção de um porto de
águas profundas em Gwadar, na província paquistanesa de Balochistão. Queriam, e
conseguiram, que Islamabad desse “garantias de soberania para as instalações do porto”.
Gwadar está a somente 400 quilômetros de Ormuz. Com Gwadar, a marinha chinesa terá
disponível uma base que permitiria controlar facilmente o tráfico no estreito e quiçá algum dia
inclusive frustrar os desígnios expansionistas da marinha estadunidense pelo Oceano Índico.

Mas Gwadar tem outro papel futuro infinitamente mais substancioso. Poderia converter-se no
pivô de uma competição entre dois dutos há muito tempo discutidos: o TAPI e o IPI. O TAPI
representa o duto que atravessa Turcomenistão-Afeganistão-Paquistão-Índia, que não poderá
ser construído enquanto as forças de ocupação estadunidenses e da OTAN estejam
combatendo contra a resistência, convenientemente etiquetada de “talibã”, no Afeganistão.
Contudo, o IPI é o duto Irã-Paquistão-Índia, também conhecido como o “duto da paz” (o que
faria com que o TAPI fosse o duto da guerra). Para incomensurável desgosto de Washington,
no último mês de junho, Irã e Paquistão chegaram finalmente a um acordo para construir a
parte “IP” do IPI, com a garantia do Paquistão a Irã de que tanto a Índia como a China
poderiam incorporar-se ao projeto mais tarde.

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Seja IP, IPI ou IPC, Gwadar será o nó górdico. Se, sob pressões de Washington, que trata
Teerã como a peste, a Índia se vê obrigada a sair do projeto, China já deixou claro que quer
entrar nele. Os chineses construiriam então um enlace a
Oleodutistão
desde Gwadar ao longo da rota da rodovia do Karakorum no Paquistão até a China através do
passo de Junjerab, outro corredor terrestre que demonstraria ser imune às interferências
estadunidenses. Além disso teriam incluído o benefício de cortar radicalmente a rota de
caminhões cisterna de 20 mil quilômetros de longitude ao redor da borda sul da Ásia.

Poderia dizer-se que para os indianos seria um movimento estratégico alinhar-se com o IPI,
matando como triunfo uma profunda suspeita que os chineses movam peças para exceder na
busca de energia estrangeira como uma estratégia de “colar de pedras”: estabelecendo uma
série de “portos-base” ao longo de suas rotas chave de fornecimento de petróleo desde o
Paquistão até Myanmar. Nesse caso, Gwadar já não seria simplesmente um porto “chinês”.

Quanto a Washington, ainda crê que se constrói o TAPI a conter a Índia para que não rompa
completamente o embargo imposto pelos EUA contra o Irã. Paquistão, faminto de energia,
prefere obviamente a China, seu aliado “a todo o momento”, que poderia comprometer-se a
construir todo tipo de infra-estrutura energética dentro do país devastado pelas inundações. Em
poucas palavras, se a cooperação energética sem precedentes entre o Irã, Paquistão e China
progridem, será um sinal de importante derrota para Washington no novo Grande Jogo na
Eurásia, com enormes repercussões geopolíticas e geoeconômicas.

No momento, a prioridade estratégica de Pequim tem sido desenvolver cuidadosamente todo


um conjunto, notavelmente diverso, de provedores de energia: um fluxo de energia que cobre
Rússia, o mar da China Meridional, Ásia Central, o mar da China Oriental, o Oriente Médio,
África e América do Sul. As incursões da China na África e América do Sul serão abordadas
em um futuro giro pelos lugares quentes da energia do planeta.

Pepe Escobar é autor de Globalistan: How the Globalizad World is Dissolving into Liquid War
(Nimble Books, 2007) y
Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge
. Seu último livro es
Obama does Globalistan
(Nimble Books, 2009). Pode-se entrar em contato com ele em:
pepeasia@yahoo.com

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Traduzido do Espanhol por Base Paulo Petry, PCB em Cuba.

Fonte: http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=21431

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