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Resumo: A China está entre os poucos países que decididamente apostaram na globalização e
correram seus riscos.
Pela grandeza dos números de sua economia e pela agressividade que tem revelado na área
externa, a China tende a se transformar em um parceiro muito importante na economia
mundial, para o bem ou para o mal. Seu desempenho é apontado como uma das causas da
tendência de recuperação da economia japonesa, há mais de uma década patinando nas
incertezas geradas pelos efeitos tardios das imprudências cometidas nos alegres anos do
“milagre”. Em 2003, 80% do acréscimo das exportações japonesas foi resultante de compras
da China. Segundo recente relatório do Banco de Desenvolvimento da Ásia, a China é
atualmente o maior consumidor mundial de cobre, estanho, zinco, aço e minério de ferro; o
segundo de alumínio e chumbo e o terceiro de níquel. Isto destina-se a sustentar uma
economia que já produz 25% do total mundial de aparelhos de TV e de máquinas de lavar e a
metade das máquinas fotográficas e foto-copiadoras. Não é por outro motivo que a balança
comercial da China com os Estados Unidos já superou a do Japão e no ano passado registrou
um déficit contra os americanos de 103 bilhões de dólares, apesar de ter a China se tornado
um dos mais atrativos mercados para produtos americanos. Em compensação, os chineses
vêm ajudando a economia americana como tomadores de cerca de 120 bilhões em títulos do
Tesouro americano, com o que dão estabilidade à sua moeda e favorecem o preço de seus
produtos de exportação.
Diante desse quadro, sensivelmente agravado pela instabilidade no Oriente Médio, os chineses
têm buscado de todas as formas conseguir parcerias e concessões onde quer que haja
perspectiva de obter combustível. A China – que já havia se tornado uma ameaça aos
interesses americanos na Indonésia - voltou-se para a Rússia com quem suas diferenças
ideológicas e políticas já ficaram no passado. Há cerca de um ano, o presidente Hu Jintao foi a
Moscou para referendar um acordo petrolífero de 25 anos, avaliado em 150 bilhões de dólares,
entre a estatal chinesa CNPC e a maior empresa petrolífera russa, Yukos, para a construção
de um oleoduto de 2400 quilômetros, com capacidade de meio milhão de barris por dia, ligando
o terminal siberiano de Angarsk a Daqing. Mas, quando tudo parecia resolvido, o Japão - que
importa quase todo o óleo que consome - contra-atacou e, oferecendo maiores vantagens,
conseguiu dos russos maneira de ultrapassar os campos chineses, levando um oleoduto
diretamente para o porto asiático de Nakhodka, solução muito mais vantajosa, pois facilitará a
exportação do óleo russo para seus fregueses asiáticos e mesmo para os Estados Unidos.
Para mal dos pecados, seu maior aliado e alvo de seus lobistas, o próprio presidente da Yukos
acabou preso por sonegação de impostos e isso selou de vez a sorte do acordo. Os chineses
perceberam o que é a “guerra do petróleo”.
No Oriente Médio, a China – que possuía, desde 1997, um acordo com Saddam Hussein para
explorar petróleo no Iraque e durante o “embargo” da ONU recebia óleo contrabandeado que
atingia cerca de 4 milhões de barris por ano – reabriu sua embaixada em Bagdá e pretende
participar de uma fatia na exploração do óleo iraquiano após a desocupação do país. Além
disso, procura estabelecer relações com a Arábia Saudita, oferecendo-lhe a oportunidade de
investimentos na China nas instalações petrolíferas de Fujian, em troca da concessão à
empresa chinesa Sinopec de uma vasta área para exploração de gás. Há notícias de que a
China busca acordos petrolíferos com Sudão, Angola, Líbia, Gabão, Chad, Nigéria e Austrália.
Sem falar no alardeado acordo com a nossa Petrobrás.