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Papel do BIRD e do FMI

Diego Lopes

May 4, 2017·6 min read

Há algum tempo, as dívidas externas de grande número de


países do Terceiro Mundo vêm se constituindo num importante
assunto da política internacionais. Alguns desses países
subdesenvolvidos endividados já entraram numa espécie de
círculo vicioso, de ácumulo progressivo da dívida: eles
emprestam dinheiro não para investir em suas economias mas
para pagar juros* e amortizar* o principal de suas dívidas
externas. Com isso, o montante de seu desenvolvimento vai se
acumulando a cada ano.

Para resolver o problema, esses países procuram a todo custo


aumentar suas exportações e, ao mesmo tempo, diminuir suas
importações. O objetivo dessa política econômica é conseguir
recursos por meio de grande superávits (saldos positivos) em
suas balanças comerciais. No, entanto, como o saldo comercial,
com raras exceções, não suficiente para pagar os compromissos
da dívida externa, os países subdesenvolvidos endividados
continuam no círculo vicioso, fazendo novos empréstimos para
pagar velhos compromissos.

Vem sendo comum ultimamente a ida desses países endividados


ao FMI (Fundo Monetário Internacional) com sede em
Washington, Estados Unidos.

O FMI surgiu após a Segunda Guerra Mundial juntamente com


seu irmão gêmeo, o BIRD (Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento, também conhecido como
Banco Mundial e igualmente sediado em Washington. Tanto o
BIRD como o FMI são instrumentos financeiros controlados
pelos países ricos, especialmente os Estados Unidos. Na
realidade, essas duas instituições pertecem à ONU e centenas de
países possuem cotas e participam delas.

Em 1944, o mundo passava por um momento muito delicado. A


guerra estava chegando ao fim e havia muita crise e
instabilidade das moedas. Diante disso, dezenas de países
reuniram-se para planejar a estabilidade economica mundial.
Foi nessa ocasião que o BIRD e o FMI foram criados como
complemento dos acordos de Bretton Woods, assinados na
cidade americana de mesmo nome. Na prática, porém, os
Estados Unidos exercem grande influência nessas duas
organizações, pois as maiores contribuições financeiras que elas
rfecebem vêm desse país.

Os acordos de Bretton Woods estabeleceram que o dólar norte-


americano seria a principal moeda (dinheiro) internacional, e o
BIRD e o FMI auxiliaram a estabilização da economia capitalista
mundial, evitando grandes oscilações no valor das diversas
moedas dos países desenvolvidos, e ajudariam a reconstrução do
Japão e a dos países europeus arrasados pela guerra. O BIRD
tem como função conceder empréstimos aos países que
necessitam do dinheiro para investimentos, e o FMI
desempenha o papel de coordenador e fiscalizador dos
empréstimos e das políticas de desenvolvimento postas em
prática pelos países endividados.

A receita do FMI para os países endividados:

A atitude do BIRD e, principalmente, do FMI frente aos países


subdesenvolvidos endividados tem sido a de procurar intervir
em suas políticas econômicas. O FMI não empresta diretamente
grandes quantidades de dinheiro, mas tem um importante papel
de fiscalizador dos pagamentos. Por essa razão tem o apoio dos
banqueiros internacionais.
O FMI procura impor aos países endividados uma política
econômica recessiva, isto é, que entrava atividades econômicas,
dificultando novos investimentos e reduz os ganhos salariais.
Tudo isso sob o pretexto de que o pagamento da dívida externa é
mais importante. As medidas que ele propõe normalmente são:
rigoroso combate a inflação por meio de restrições aos gastos
públicos (governamentais), aos aumentos salariais e aos
empréstimos bancários internos (taxa de juros). Propõe também
a desvalorização da moeda do país endividado em relação ao
dólar, como uma forma de incentivar as exportações e restringir
as importações. O dólar valorizado rende mais aos exportadores,
as mercadorias estrangeiras, pagas em dólar, ficam mais caras
para os importadores.

Na realidade, as medidas normalmente propostas pelo FMI aos


países endividados recaem sobre a maioria da população, pois os
salários são bem mais fáceis de controlar do que os preços em
geral, e os gastos públicos mais fáceis de reduzir são
relacionados às áreas sociais, como educação e saúde. Por isso,
os países que assinaram acordos com FMI, para conseguir uma
dilatação dos prazos da dívida e a diminuição das taxas de juros,
acabaram adotando uma política econômica antipopular, que
consiste basicamente em incentivos à exportação de bens,
sacrificando para isso o poder de compra dos habitantes,
especialmente dos que vivem de salários.

Isso explica por que o FMI tem sido alvo, em anos recentes, de
violentos protestos em alguns países endividados, Perú,
Venezuela, México etc. Nesses países, a população percebeu que
a receita sugerida pelo FMI para pagar os compromissos
externos implica enormes sacrifícios para os trabalhadores.

Como pagar a dívida:

Quais são as perspectivas quanto ao pagamento das dívidas


externas dos países subdesenvolvidos? É díficil responder a essa
questão, mas uma coisa parece certa: dificilmente os países do
Terceiro Mundo bastante endividados pagarão integralmente
suas dívidas. O mais provável será a realização de acordos para
reduzi-las.

A moratória: Recentemente, alguns países chegaram a


proclamar a moratória, ou seja, declararam que a dívida não
mais seria paga. Mas foram sempre moratórias parciais, os
pagamentos apenas foram congelados durante algum tempo.
Isso ocorre porque uma moratória radical, em que o país se
negue a pagar qualquer valor, acarretará um perigoso
isolamento dessa nação. Hoje, por ser o mundo extremamente
internacionalizado, nenhum país pode acompanhar sozinho o
ritmo de modernização, sem trocas comerciais e tecnológicas.
Portanto, a moratória radical não pareces ser um bom caminho
para a solução do problema da dívida, pois os países que durante
algumas se isolaram dos demais, como é o caso da China e da
Albânia, ficaram atradados em inúmeros setores da economia.

É importante lembrar ainda que as dívidas não são um


problema puramente econômico ou financeiro, pois envolvem
relações políticas e diplomáticas entre nações. Inclusive, é por
esse caminho que elas serão equacionadas. Em 1991, por
exemplo, o Egito teve metade de sua dívida externa de 35
bilhões de dólares anulada. Sob a liderança dos Estados Unidos,
os países credores pura e simplesmente perdoaram a dívida do
Egito, pois esse país árabe ajudou os países capitalistas
desenvolvidos na guerra contra o Iraque, que em agosto de 1990
invadiu o Kuwait. Os países capitalistas reagiram imediatamente
a essa invasão porque o Kuwait é um grande exportador
mundial de petróleo e aliado do governo norte-americano no
Oriente Médio, uma região intensamente povoada por
muçulmanos com fortes sentimentos antiocidentais. O Kuwait,
portanto, desempenha um papel vital para os interesses dos
países ricos, que desejam manter baixo o preço do petróleo no
mercado internacional. Esse exemplo mostra os fatores políticos
e militares têm papel fundamental na questão da dívida externa
dos países subdesenvolvidos.

Os juros: Uma parte substancial das vultosas dívidas de alguns


países subdesenvolvidos decorre das elevadas taxas de juro.
Mesmo que o país não tome mais dinheiro emprestado, a dívida
está sempre aumentando por causa dos juros que incidem sobre
o valor total do empréstimo. E esses juros não são estabelecidos
por comum acordo entre credores e os devedores, mas fixados
pela política econômica norte-americana. Esse é um dos fatos
que vêm provocando inúmeras controvérsias entre os países
devedores e o bancos credores. Provavelemente, essas taxas de
juros deverão sofrer modificações para que haja acordo visando
equacionar o problema da dívida dos países de Terceiro Mundo.
A desvalorização do dólar: Outro aspecto importante dessa
questão é que o dólar tende a se desvalorizar frente ao iene
japonês e ao Euro moeda dos países que fazem parte da União
Europeia. Isso pode implicar na diminuição relativa das dívidas.
Calcula-se que em 1990 o valor real das dívidas corresponderia
apenas a 40% de seu valor nominal, pois naquela ocasião o dólar
estava supervalorizado frente a essas moedas fortes.

Na realidade, o mundo mudou bastante nas últimas décadas, e a


reestruturação econômica-financeira internacional que deverá
ser feita em função dessas mudanças terá de rever também as
dívidas externas do Terceiro Mundo. O FMI, por exemplo, é uma
instituição comandada por interesses norte-americanos que não
agrada internamente às novas potências econômicas e
financeiras, como a China e a Rússia. Por sua vez, o dólar,
moeda na qual foram contraídas essas dívidas, teve uma
supremacia internacional absoluta até o final da década de 70,
mas a partir dos anos 80 começou a sofrer sucessivas quedas em
suas cotações. As quedas do dólar são reflexo dos frequentes
déficits na balança comercial norte-americana e do maior
dinamismo das economias da China e países emergentes.

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 Fmi
 Bird
 Estados Unidos
 Capitalismo
 Capitalism

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Apr 19, 2017

Hitler era de extrema direita sim


Existe na internet um forte movimento dizendo que o Hitler era
socialista, infelizmente o mundo que estamos vivendo
atualmente está parecendo um grande hospício.

Chega ser engraçado que liberais seguidores Mises e neonazistas


tentem fazer um revisionismo da história, dizendo que o
Holocausto não existiu e que o Nazismo é de esquerda com isso
tentam se livrar do filho feio que é o Nazismo, e sem falar do
desrespeito com as vitímas do Holocausto.

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