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ISSN: 2595-6825
RESUMO
A elefantíase nostra verrucosa (ENV) é uma patologia rara e desfigurante secundária a um
linfedema crônico. Caracteriza-se pelo espessamento e liquenificação da pele em associação a
um edema exuberante, observando-se frequentemente lesões hiperqueratósicas, verrucosas e
papilomatosas na área afetada. (1) Em estágios mais avançados e como consequência da fibrose
progressiva, desenvolvem-se lesões verrucosas, culminando numa aparência musgosa (“mossy
appearance"). É uma patologia rara e com elevado impacto, social, estético e funcional, na vida
das pessoas acometidas.(2,3) Tem como diagnóstico diferencial patologias benignas, como
linfedema pré tibial, lipodermatoesclerose e outras malignas como carcinomas. (4) Objetivou-
se relatar o caso de uma paciente diagnosticada com esta patologia com o intuito de contribuir
para a literatura com uma revisão dos principais aspectos associados a ela, visto trata-se de
uma doença com poucos relato disponíveis.
ABSTRACT
Elephantiasis nostra verrucosa pathology (ENV) is a rare and disfiguring disease secondary to
persistent lymphedema. It is characterized by the thickening and liquefaction of the
hyperextension association in hyperextension, frequently observing, induration and versatile
papillae in the area of an environment. It is a more advanced form, more advanced and as a
consequence, functional and functional, culminating in a warty appearance. The objective was
to report the case of a patient diagnosed with this pathology in order to contribute to the
literature with a review of the main associated with it, since it is a disease with few available
reports.
1 RELATO DE CASO
A. R. S. A., paciente do sexo feminino, 77 anos, hipertensa, obesa mórbida, portadora
de insuficiência cardíaca, erisipela de repetição e ex-etilista. Internada em Hospital Quaternário
para investigação de massa abdominal sugestiva de abscesso hepático e lesão em hilo hepático
de etiologia indeterminada, detectados em exame de ultrassonografia. Queixava-se de dor
abdominal e negava outros incômodos.
Ao exame físico, duas alterações chamavam atenção: massa abdominal epigástrica
palpável e alteração deformante em MIE, a qual a paciente não parecia demonstrar estranheza.
Tratava-se de membros inferiores com edema bilateral (++/4+), mais proeminente em MIE,
associado a um linfedema crônico e lesão ulcerovegetante, hiperpigmentada e indolor com
presença de nódulos na face anterior e lateral do membro esquerdo (imagem 1). Associado
ainda a perda de sensibilidade térmica e dolorosa nas regiões adjacentes à lesão. Ao indagar à
paciente, referiu que tal linfedema crônico em membro inferior esquerdo (MIE) tinha evolução
de cerca de 06 anos e já havia sido investigado por equipe médica estando relacionado aos
quadros recorrentes de erisipela a qual tinha tido no passado. Negava dor ou incômodo estético.
Referia incômodo funcional visto que tal deformação limitava sua deambulação.
Realizado Duplex Scan de Membros Inferiores, com ausência de sinais de trombose
venosa profunda ou superficial. Avaliada então por equipe da dermatologia, tendo sido
submetida a biópsia de lesão nodular maior em bloco cirúrgico para obtenção de fragmento
adequado. Biópsia evidenciou histologia compatível com fibroqueratoma adquirido. Diante do
resultado da biópsia associado aos dados da anamnese e exame físico, paciente diagnosticada
com l Elefantíase Nostra Verrucosa (ENV).
Como medidas terapêuticas foi orientado aumento da deambulação, elevação dos
membros e redução do peso corporal. No entanto, não houve melhora substancial da condição
da paciente devido à má adesão e dificuldades de locomoção. Oferecido à paciente ainda a
opção de realização de tratamento com laser de CO2 disponível no serviço, porém paciente por
questões próprias optou para ser submetida a tal tratamento em um segundo momento. Seguiu-
se a propedêutica em relação a sua massa abdominal com exames de tomografia
computadorizada não elucidativos, seguidos por laparoscopia também não elucidativa e a seguir
uma laparotomia exploratória, a qual revelou um tumor de vesícula biliar como provável sítio
primário em estadio metastático para fígado, rim ipsilateral e cólon adjacente. Lesão não sendo
possível de ser ressecada. Dias após, paciente evoluiu com piora do estado geral, parada
cardiorrespiratória e óbito.
2 DISCUSSÃO
A Elefantíase Nostra Verrucosa (ENV) é uma complicação rara e grave do linfedema
crônico que gera hipertrofia cutânea progressiva, com consequentes alterações cutâneas
deformantes.(1)
Embora a patogenia da ENV não seja precisamente conhecida, acredita-se que o
linfedema crônico não filarial, causado por obstrução linfática bacteriana ou não infecciosa,
seja responsável pelo surgimento da doença.(2) A obstrução dos vasos linfáticos não filarial
pode ser causada por infecções bacterianas de repetição, como erisipela e celulite; neoplasias;
linfangiomas; cirurgias; traumas; fibrose linfática pós-radiação; obesidade e estase venosa
crônica.(2,3) Esses, portanto, constituem fatores de risco para a ocorrência da ENV, cuja
prevalência é diretamente proporcional à maior incidência de complicações (4). Nesse contexto,
a obstrução linfática crônica gera acúmulo de fluido rico em proteínas no espaço intersticial e
consequente estado inflamatório crônico, com indução à proliferação de fibroblastos e
queratinócitos, levando à fibrose da derme, do tecido subcutâneo e dos vasos linfáticos. (5)
A ENV pode ocorrer em qualquer topografia, sendo, no entanto, mais habitual nas
extremidades dos membros inferiores, principalmente pernas e pés, por serem dependentes da
gravidade. O quadro clínico da ENV consiste em extremidades aumentadas de tamanho e
deformadas, sendo os membros inferiores, (2) A doença é caracterizada ainda por edema não
depressível, com sinal de Kaposi-Stemmer positivo devido ao linfedema, associado a
espessamento e liquenificação da pele, que adquire aparência fibrótica. (3) Assim, inicialmente
tem-se uma aparência semelhante a pedras de calçamento (cobblestones) na área afetada. Com
a evolução da doença, pode-se ter nódulos em forma de placas hiperceratóticas na região, com
aparência verrucosa.(1) Eventualmente, pode haver formação de crostas, ulcerações e aumento
da lesão, o que predispõe à colonização de bactérias e fungos, com consequente odor fétido e
dor no local. (2) Ademais, podem estar presentes sinais flogísticos, como dor, calor e eritema,
além de febre. A incidência de complicações é diretamente relacionada aos fatores de risco
presentes. (5,6)
O diagnóstico é clínico, baseado na anamnese e no exame físico do paciente, e exames
de imagens raramente são utilizados.(5) A realização de biópsia torna-se necessária devido ao
risco de neoplasia associada e a fim de diferenciar dos diagnósticos diferenciais (5,7). Achados
histológicos podem incluir hiperplasia pseudoepiteliomatosa, canais linfáticos dilatados,
espaços teciduais alargados e extensa hiperplasia de tecido fibroso na derme, tecido subcutâneo
e paredes dos vasos linfáticos (2). Diagnósticos diferenciais da patologia em questão incluem
3 CONCLUSÃO
A elefantíase nostra, como complicação do linfedema crônico por erisipelas de
repetição, é um transtorno raro, crônico e deformante, que, em sua forma verrucosa, se
caracteriza por hiperceratose e papilomatose da epiderme, associadas à fibrose da derme e
subcutâneo. (1) O diagnóstico é primariamente clínico e a realização da biópsia torna-se
necessária para descartar neoplasias associadas. Não há um tratamento consensual perante o
REFERÊNCIAS
2. FREDMAN, Rafi et al. Elephantiasis Nostras Verrucosa. Eplastia, [s. l.], v. 12, 12 out.
2012. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3479949/. Acesso em:
3 maio 2022.
4. Sancho, A. Q., Cura, L., Alonso, S. A., & López, M. (2019). Treatment of Elephantiasis
Nostras Verrucosa with CO2 Laser. Indian dermatology online journal, 10(6), 704–706.
https://doi.org/10.4103/idoj.IDOJ_484_18
5. Kar Keong N, Siing Ngi AT, Muniandy P, Voon Fei W. Elephantiasis nostras verrucosa:
a rare complication of lower limb lymphoedema. BMJ Case Rep. 2017;2017:bcr2017221492.
Published 2017 Aug 28. doi:10.1136/bcr-2017-221492
6. Samanci, Nilay Sengul, and Sule Poturoglu. “Elephantiasis nostras verrucosa.” The
Indian journal of medical research vol. 145,6 (2017): 849. doi:10.4103/ijmr.IJMR_79_16