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Mas em um tratamento de água, o que são coagulantes e floculantes? E os desinfetantes, para que
servem? No que resulta a fluoretação? Para quem conhece bem o assunto não são nomes difíceis,
mas para quem não está familiarizado analisando a tabela ao lado podemos entender um pouco
quais elementos fazem parte de cada fase do tratamento da água e sua importância no processo.
Além disso, é preciso uma análise para se rever o sistema de tratamento de água usado no Brasil e
verificar as novas possibilidades já apresentadas pelo setor no mercado, que segue uma tendência
de desenvolver produtos com maior preocupação com o meio ambiente e sustentabilidade.
Segundo explica Dr. Ivanildo Espanhol, Professor Dr. Titular da Politécnica da USP, diretor do
Centro Internacional de Referência em Reúso da Água – Cirra, com tantos avanços da indústria do
setor, é preciso que os sistemas de tratamentos brasileiros se atualizem para oferecer uma água de
maior qualidade à população. “Este sistema de tratamento de água é usado no Brasil há mais de
cem anos para remover sólidos e não são mais suficientes para fornecer uma água segura à
população. O que ocorre é que há partículas que não sedimentam e entram nos filtros. Há hoje
partículas muito pequenas que vêm de poluentes emergentes, de concentração baixa, como
cosméticos, hormônios, entre outros, que foram surgindo com a crescente poluição dos mananciais.
O sistema não acompanhou as indústrias, que estão mais desenvolvidas neste sentido. Por
exemplo, a área ocupada hoje por um sistema de tratamento de água é enorme. Se mudarmos para
um sistema por ultrafiltração, por exemplo, será utilizada ¼ da área e fornecida uma água de maior
valor agregado. As empresas de saneamento não estão preparadas, mas vêm começando a estudar
esta mudança. Um exemplo de processo de tratamento de água mais moderno que citaria seria o de
Físico/Químico, ultrafiltração ou osmose reversa, (POA) oxidativo avançado e desinfecção.”
Para entendermos o que explica o Dr. Ivanildo Hespanhol, vamos analisar como funciona todo o
processo. A fase inicial da aglomeração envolve a coagulação e a floculação, que são processos
diferentes:
Coagulação
Primeira etapa do processo de tratamento, ainda com água em estado bruto, recebe sulfato de
alumínio para começar a aglomeração. Nesta fase, as impurezas na água são encontradas de duas
formas: em suspensão ou dissolvidas. As suspensões podem ser grossas, que são as fáceis de
flutuar ou decantar, como no caso de folhas e restos vegetais; finas, representadas pela turbidez e
bactérias; e coloidais, como emulsões (CO2), ferro e manganês oxidado. Já as impurezas
dissolvidas são sais de cálcio e magnésio, ferro e manganês não oxidados. O processo de
coagulação aglomera as impurezas suspensas ou coloidais e aquelas dissolvidas em partículas
maiores que possam ser removidas por decantação ou filtração.
Floculação
O processo de aglutinação das impurezas continua, na água em movimento, e as partículas se
agregam e se transformam em flocos mais pesados que se sedimentam a uma velocidade adequada.
A agitação suave facilita o contato dos flocos, sem quebrá-los. Quando a floculação não ocorre, há
demora na sedimentação. Por isso, é necessário o uso de floculantes para melhorar a clarificação,
filtração e as operações de centrifugação.
Segundo Dr. Ivanildo Hespanhol, primeiro, há a remoção de colóides sólidos, que têm carga
elétrica na qual não se aproximam por potencial de repulsão e não sedimentam, por conterem carga
contrária e onde é usado o sulfato de alumínio, com três cargas positivas. A floculação oferece uma
agitação leve para formar flocos que passam por um processo de anular a carga e desestabilizar
coagulantes. Na prática, a energia de mistura coagulante agita a uma velocidade de 1.000. Já na
floculação, são realizadas três etapas declinantes nas velocidades de 100, 80 e 60. O objetivo desta
etapa de aglomeração é eliminar turbidez e parte da cor, dependendo como ela estiver, com os
flocos indo para o fundo, esclarece. A água é turva quando contém matérias em suspensão que
interferem na passagem da luz. A turbidez se dá por presença de partículas em estado coloidal, em
suspensão, matéria orgânica e inorgânica, plancton e organismos microscópios. É mais alta quando
a água está em agitação e menor quando a água fica em repouso porque permite a sedimentação
das matérias em suspensão.
Desinfecção
Seja para qual for o uso da água, é importante sempre fazer uma desinfecção, mantendo um
residual de cloro para garantir a qualidade por longos períodos. A desinfecção elimina micro-
organismos vivos patogênicos, como algas, fungos, parasitas, bactérias e vírus. Se for para
irrigação e outras aplicações que não abranjam o contato do ser humano, pode não ser necessário
realizar a desinfecção. Há uma série de doenças transmissíveis pela água, como a cólera (Víbrio
cholerae), Amebíase (Entamoeba histolytica), Gastro-Enterite (Rota Vírus), Hepatite (Vírus de
Hepatite A), Disenteria Bacilar (Bactéria Shigella), Poliomielite (Enterovirus poliovirus), Febre
Tifóide (Salmonella typhi) e Febre Paratifóide (Salmonella paratyphi).
Outra preocupação crescente no mundo, segundo Debora Takahashi, PhD em Microbiologia e
Técnica em Biocidas da Dow Microbial Control para América Latina, unidade de negócios da The
Dow Chemical Company, que deve começar a surgir no Brasil é o controle de Legionella –
bactéria muito resistente responsável por infecções pulmonares – em torres de resfriamento,
principalmente de ar-condicionado. Esta bactéria, conforme esclarece, é responsável pela chamada
“Síndrome dos Edifícios Doentes”, porque contamina o ar-condicionado dos prédios, causando
infecções pulmonares graves e de difícil cura. Não há nenhuma legislação sobre o controle deste
micro-organismo no país, mas Debora diz que muitas companhias seguem as diretrizes da sua
matriz e já fazem o controle destas bactérias no ar-condicionado.
Fluoretação
Segundo pesquisadores, pode reduzir a cárie em até 60% e é recomendada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde. No Brasil, a fluoretação das águas de
abastecimento público, em Estação de Tratamento da Água (ETA), é obrigatória, por lei federal,
desde 1975. A Vigilância Sanitária atenta para que a água não contenha flúor em níveis menores
do que o necessário nem acima do aceitável, fixado em 0,8 mg/L. O excesso de flúor pode causar
fluorose dentária, que são manchas esbranquiçadas que aparecem nos dentes. É raro o uso de flúor
natural e o Brasil já produz fluossilicato de sódio, o mais usado em 71% dos sistemas, depois vem
o ácido fluossilícico com 17% e, em seguida, o fluoreto de cálcio em 11% deles. Nas principais
cidades brasileiras, é fator de declínio na prevalência de cárie, mesmo assim, nas Regiões Norte e
Nordeste a maioria da população não tem acesso. A presença do flúor na saliva protege os dentes
contra a doença, o que provoca um efeito bacteriostático, impedindo, em parte, a multiplicação dos
micro-organismos causadores da cárie.
Uma ferramenta que pode ser utilizada no processo de potabilização de água. Esta é a “Osmose Reversa”,
tecnologia que vem sendo desenvolvida por técnicos e engenheiros no setor de tratamento de águas. Porém
ainda tem sido pouco explorada no Brasil.
De acordo com o engenheiro sanitarista, Rolando Piaia, a Osmose Reversa é uma tecnologia de separação por
membranas, que visa à remoção de sais dissolvidos, e possui algumas aplicações, dentre elas dessalinização
(produção de água potável ou água industrial, a partir da água do mar ou águas de fontes salobras);
desmineralização (produção de água desmineralizada, a partir de água doce de manancial de superfície ou
subterrâneo) e reúso de efluentes (produção de água industrial, a partir de efluente tratado).
No Brasil, os primeiros projetos de Osmose Reversa de porte razoável, foram executados no final da década
de 80, com foco na produção de água desmineralizada para a indústria nacional, a partir de água doce de
superfície. Para o consumo humano, a dessalinização tem sido empregada no País, porém ainda muito pouco.
Na região nordestina há um sistema de dessalinização que produz água potável, distribuída no arquipélago de
Fernando de Noronha. Existem, também, unidades de pequeno porte no semiárido nordestino e em algumas
das plataformas offshore da Petrobras, produzindo água potável para os funcionários embarcados.
Mas, existem estudos sendo desenvolvidos, com o intuito de abastecer regiões metropolitanas com água
potável para o consumo humano e industrial, produzida por Osmose Reversa, a partir da água do mar. “A
dessalinização deve ser considerada em estudos de abastecimento de regiões litorâneas, principalmente
quando os mananciais de água doce de superfície, de capacidade adequada ao projeto, estejam distantes ou
com sua qualidade comprometida”, esclarece Piaia.
As maiores plantas de dessalinização se encontram em cidades costeiras, onde realmente não existe outra
fonte de água. Israel e Espanha dominam esse mercado, atualmente. Este processo é uma opção mais cara,
porque envolve uma tecnologia complexa. O sal é uma molécula composta de um átomo de sódio e outro de
cloro que se dissociam em íons quando dissolvido na água. O sódio é o terceiro menor elemento químico
existente, somente maior do que o hélio e o hidrogênio.