Você está na página 1de 2

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA/CAMPUS TOMÉ-AÇU


CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA
LITERATURA DA AMAZÔNIA I
Prof. Dr. José Francisco da Silva Queiroz

ANTOLOGIA POÉTICA 03

BRITO, Paulino de. O 15 de Agosto. In: Cantos Amazônicos


(poesias). Pará: Alfredo Silva & Comp., 1900. p. 105-107.
Pará Olha meiga e expressiva.
Minha pátria é a virgem das florestas O noivo a conversar todo esguelhado,
Com grinaldas de flor de sicupiras Que, vergonhoso, á seu olhar s'esquiva.
Nas tranças, nos vestidos de safiras,
Minha pátria é a virgem dessa terra,
Com que o sol do Equador quiz adorná-la;
Que nutre o conduru e o pau de rosa;
E, coberta de flores e de gala, Engraçada a sorrir, mas vergonhosa,
Singela é feiticeira, E gentil, e mimosa, e tão garrida;
S'espeIhando nas águas do Amazonas, A tapuia discreta e divertida,
Ella é mais do que as outras brasileira. Singela e feiticeira,
Mas guardando os costumes dos seus bosques,
Si o sol desponta por detrás da serra, Ella é mais do que as outras brasileira.
Onde s'elevam condurus gigantes,
Vê trementes brilhar os diamantes, À barra do vestido roçagante
Que a noite fria lhes chorou na rama; D'esmeraldas, rubis e areias d'ouro
E s’eleva, e resvala e se derrama Lhe traz o Tocantins grande tesouro
Do leito, aonde corre assoberbado;
Por sobre o mato rico,
E, passando sereno, ou agitado,
Mas não penetra no tecido espesso O tronco, qu'arrancara.
Da salsa, que enlaçou-se pelo angico. Do grosso miriti leva consigo,
O do ingazeiro, que o tufão quebrara.
Lá canta o c'raxué nas frescas tardes
Do grosso miriti na larga palma; Minha pátria é um éden de delicias,
E, quando a branca lua fulge calma, Onde os dias se passam docemente;
O manso jacamim seu canto exala ; Lá sopra de continuo a brisa ardente,
A branda manjerona, que trescala Que anima a vida em corações gelados:
E a linda mamorana. Nossos céus são mais puros e estrelados,
Embalsamando a brisa vespertina, E a lua mais brilhante;
Nossas terras robustas alimentam
Da sertaneja ambreão a cabana.
O doce bacuri sem semelhante.
Minha pátria é a virgem das florestas,
Lá erra na campina toda a noite
Perfumada de essência de baunilha;
A ruiva capivara assobiando,
E' a morena, donairosa filha
E, por entre o capim se resvalando,
Do largo Tocantins e do Amazonas,
Ao rio vae beber, que junto passa:
E' a meiga tapuia dessas zonas,
À tardinha, a corrente, que perpassa,
Singela e feiticeira.
Em pé na areia ciara.
Mas ornadas das flores dos seus bosques,
Contempla a garça, que, de quando em quando.
Ella é mais do que as outras brasileira.
Sacode as azas que molhar deixara.
Lá canta a sertaneja na viola,
Minha pátria é a virgem dessas terras.
E, vergonhosa, seu cantar modula;
Que banh’o Tocantins e o Amazonas,
E o seio sob a cassa fina pula
Queimada pelo sol d'estivas zonas.
A irmã, no dançar tão divertido.
Ornada das riquezas dessas plagas,
E o velho, muito ufano e embevecido.
A virgem, que se banha nessas águas,
Sentado na maqueira,
Singela e feiticeira,
Orgulha-se por ver a filha esbelta
Mas guardando os costumes dos seus bosques,
E linda estremecer com a palmeira.
Ela é mais do que as outras brasileira.
As lustrosas madeixas do cabelo,
FILHO, Sousa (Joaquim Rodrigues de Sousa Filho). Pará.
De trevo e cumaru todo ambreado,
In: AZEVEDO, J. Eustáquio. Antologia Amazônica
Rescendem, e o jasmim, que prende ao lado.
(poetas paraenses). Belém: Casa Editora Pinto Barbosa,
Derrama um cheiro cativo, inebria:
1904. p. 09-12.
E a roceira, tão cheia de magia,

Você também pode gostar