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O78 Ortodontia preventiva [recurso eletrônico] : diagnóstico e

tratamento / Organizadores, Jorge Abrão ... [et al.]. – Dados


eletrônicos. – São Paulo : Artes Médicas, 2014.

Editado também como livro impresso em 2014.


ISBN 978-85-367-0228-5

1. Odontologia. 2. Ortodontia. I. Abrão, Jorge.

CDU 616.314-089.23

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052

Abrao_Iniciais_eletronica.indd ii 23/10/13 11:50


Versão impressa
desta obra: 2014

2014

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© Editora Artes Médicas Ltda, 2014

Gerente editorial: Letícia Bispo de Lima

Colaboraram nesta edição

Capa: Maurício Pamplona

Preparação de originais: Sandro Waldez Andretta

Leitura final: Sandro Waldez Andretta

Projeto gráfico e editoração: Techbooks

NOTA
Assim como a medicina, a odontologia é uma ciência em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a própria experiência
clínica ampliam o nosso conhecimento, são necessárias modificações na terapêutica, na qual também se insere o uso de medica-
mentos. Os autores desta obra consultaram as fontes consideradas confiáveis, num esforço para oferecer informações completas e,
geralmente, de acordo com os padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana
ou de alterações nas ciências médicas, os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em parti-
cular, os leitores são aconselhados a conferir a bula completa de qualquer medicamento que pretendam administrar, para se certificar
de que a informação contida neste livro está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas precauções e
contraindicações para o seu uso. Essa recomendação é particularmente importante em relação a medicamentos introduzidos recen-
temente no mercado farmacêutico ou raramente utilizados.

Reservados todos os direitos de publicação à


EDITORA ARTES MÉDICAS LTDA., uma empresa do GRUPO A EDUCAÇÃO S.A.

Editora Artes Médicas Ltda.


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e outros), sem permissão expressa da Editora.

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IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL

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Autores

Jorge Abrão
Dentista. Professor associado 3 da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO/USP). Co-
ordenador do Curso de Ortodontia Preventiva da FUNDECTO/USP. Mestre e Doutor em Ortodontia pela USP.

Alexandre Moro
Professor associado dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Ortodontia da Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Professor titular dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Ortodontia da Universidade
Positivo. Mestre e Doutor em Ortodontia.

Ricardo Fidos Horliana


Professor dos Cursos de Graduação e de Pós-Graduação em Ortodontia da Faculdade de Odontologia da
Universidade Santa Cecília (UNISANTA). Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial. Mestre e Doutor em
Ortodontia pela FO/USP.

Roberto Hideo Shimizu


Professor das disciplinas de Ortodontia e Cínica Infantil da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), PR. Professor
dos Cursos de Mestrado em Ortodontia e em Implantodontia do Instituto Latino-Americano de Pesquisa e
Ensino Odontológico (ILAPEO), PR. Coordenador dos Cursos de Especialização em Ortodontia do ILAPEO,
PR, e da UTP, PR. Mestre e Doutor em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Araraquara/Universida-
de Estadual Paulista (FOA/UNESP).

Ademir Roberto Brunetto Arnaldo Pinzan


Cirurgião-dentista. Professor assistente da UFPR. Especia- Professor associado III da disciplina de Ortodontia da Facul-
lista e Mestre em Ortodontia pela Universidade da Califórnia dade de Odontologia de Bauru/USP (FOB/USP).
(UCLA). Diplomado e ex-presidente do Board Brasileiro de
Arno Locks
Ortodontia e Ortopedia Facial.
Pós-Doutor em Ortodontia.
Aguinaldo Coelho Farias
Ary Santos-Pinto
Professor adjunto da disciplina de Oclusão do Curso de
Professor adjunto do Departamento de Clínica Infantil/Orto-
Odontologia da UFPR. Professor do Curso de Especializa-
dontia da FOA/UNESP. Professor dos Cursos de Pós-Gra-
ção em Ortodontia da Universidade Positivo. Coordenador
duação em Ciências Odontológicas da FOA/UNESP. Especia-
do Curso de Especialização em Ortodontia da Associação
lista em Ortodontia pela Fundação Araraquarense de Ensino e
Brasileira de Odontologia (ABO), Guarapuava. Especialista,
Pesquisa em Odontologia (FAEPO) e Grupo de Estudos Orto-
Mestre e Doutor em Ortodontia pela FOA/UNESP. Editor
dônticos e Serviços (GESTOS), Araraquara, SP. Mestre e Dou-
científico adjunto da Revista OrthoScience – Orthodontic
tor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pós-
Science and Practice.
-Doutor pela Baylor College of Dentistry, Dallas, Texas, USA.
Ana Cláudia Moreira Melo
Augusto Ricardo Andrighetto
Professora dos Cursos de Pós-Graduação do ILAPEO, PR.
Professor do Curso de Especialização em Ortodontia da
Mestre e Doutora em Ortodontia pela FOA/UNESP.
UTP, PR. Professor do Curso de Especialização em Orto-
André Tortamano dontia do ILAPEO, PR. Professor dos Cursos de Mestrado
Professor assistente do Departamento de Ortodontia e em Implantodontia e em Ortodontia do ILAPEO, PR. Mestre
Odontopediatria da FO/USP. e Doutor em Ortodontia pela USP.

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vi AUTORES

Bernardo Quiroga Souki Edma H. Daud


Cirurgião-dentista. Professor adjunto do Programa de Pós- Cirurgiã-dentista. Professora assistente do Curso de Gra-
Graduação em Ortodontia da Pontifícia Universidade Cató- duação e da Especialização em Ortodontia da UNISANTA.
lica de Minas Gerais (PUC-Minas). Especialista em Odon- Especialista em Ortodontia pela Universidade Metodista de
topediatria e Ortodontia. Mestre em Odontopediatria pela São Paulo (UMESP). Mestre em Educação pela Universida-
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutor em de Católica Unisantos.
Ciências da Saúde pela UFMG.
Ednara M. F. de Andrade
Carla D’Agostini Derech Cirurgiã-dentista. Professora adjunta da disciplina de Or-
Especialista, Mestre e Doutora em Ortodontia pela UFRJ. todontia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Co-
ordenadora do Curso de Especialização em Ortodontia do
Carlos Alberto Mundstock
Centro Odontológico de Estudos e Pesquisas (COESP).
Cirurgião-dentista. Professor adjunto aposentado da Uni-
Especialista e Mestre em Ortodontia e Ortopedia Funcio-
versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Profes-
nal dos Maxilares pela Universidade Cidade de São Paulo
sor do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia
(UNICID). Doutora em Odontopediatria pela Faculdade de
Facial da UFRGS. Especialista em Ortodontia. Mestre em
Odontologia da Universidade Estadual de Pernambuco (FO/
Odontologia.
UPE). Membro e vice-diretora da Associação Brasileira de
Carlos Eduardo de Oliveira Lima Ortodontia da Paraíba (ABOR), PB.
Cirurgião-dentista. Professor adjunto A do Curso de Odon-
Ester Maria de Sousa Ferreira
tologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Espe-
Cirurgiã-dentista. Professora do Curso de Graduação e Espe-
cialista em Ortodontia pela UEL. Mestre em Ortodontia pela
cialização em Ortodontia da UNISANTA. Especialista em Or-
FOB/USP. Doutor em Patologia Experimental pela UEL.
todontia pela UMESP. Mestre em Odontopediatria pela USP.
Claudenir Rossato
Gerson Luiz Ulema Ribeiro
Cirurgião-dentista. Professor associado da UEL. Mestre e
Cirurgião-dentista. Professor dos Cursos de Graduação e
Doutor em Ortodontia pela FOB/USP.
Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Federal
Cybelle Luísa de Souza Pereira de Santa Catarina (UFSC). Mestre e Doutor em Ortodontia
Odontopediatra e ortodontista. Professora de Odontope- pela UFRJ. Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia
diatria da UNINCOR, campus Belo Horizonte. Especialista e Ortopedia Facial.
em Odontopediatria pela UFMG. Mestre em Ortodontia pela
Gladys Cristina Dominguez
PUC-Minas.
Cirurgiã-dentista. Professora associada do Departamento
Daniel Figueiredo de Ortodontia da FO/USP. Especialista em Ortodontia/Orto-
Cirurgião-dentista. Especialista e Mestre em Ortodontia pela pedia pela Universität zu Köln, Colônia, Alemanha. Mestre,
PUC-Minas. Doutora e Livre-docente em Ortodontia pela FO/USP.
Daniela G. Garib Guilherme Janson
Professora associada de Ortodontia da FOB e Hospital de Professor titular do Departamento de Odontopediatria, Or-
Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP. todontia e Saúde Coletiva da FOB/USP. Coordenador do
Programa de Ciências Odontológicas Aplicadas da FOB/
Daniella Torres Tagawa
USP. Pós-Doutorado em Toronto, Canadá.
Cirurgiã-dentista. Estagiária do Grupo de Pesquisa do Depar-
tamento de Ortodontia da UNISANTA. Especialista em Orto- Izabella Lucas de Abreu Lima
dontia e Ortopedia Facial pela Associação dos Cirurgiões- Cirurgiã-dentista. Especialista e Mestre em Ortodontia pela
-dentistas da Baixada Santista. PUC-Minas.
Décio Rodrigues Martins (falecido) João Batista de Paiva
Ortodontista. Professor Doutor fundador, pesquisador e ex- Professor titular do Departamento de Ortodontia e Odonto-
-professor titular da disciplina de Ortodontia da FOB/USP. pediatria da FO/USP.
Fundador do Hospital de Reabilitação de Anomalias Cra-
João Sarmento Pereira Neto
niofaciais da USP.
Cirurgião-dentista. Professor de Ortodontia da Faculda-
Dirceu Barnabé Raveli de de Odontologia de Piracicaba/Universidade Estadual
Ortodontista. Professor adjunto da disciplina de Ortodontia de Campinas (FOP/UNICAMP). Especialista em Radio-
da FOA/UNESP. Mestre e Doutor em Ortodontia Preventiva logia Odontológica pela Universidade do Estado do Rio
pela FOA/UNESP. Pós-Doutor pela Faculty of Dentistry, Uni- de Janeiro (UERJ). Mestre e Doutor em Ortodontia pela
versity of Toronto, Canadá. UNICAMP.

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AUTORES vii

José Fernando Castanha Henriques Marcio Rodrigues de Almeida


Professor titular da disciplina de Ortodontia da FOB/USP. Professor titular do Curso de Mestrado e Doutorado Aca-
dêmico em Ortodontia da Universidade Norte do Para-
José Nelson Mucha
ná (UNOPAR), PR. Pós-Doutor em Ortodontia pela FOB/
Cirurgião-dentista e ortodontista. Professor titular de Orto-
USP.
dontia da Universidade Federal Fluminense (UFF), RJ. Es-
pecialista em Prótese Dental pela FOP/UNICAMP e em Ra- Marco Antonio L. Feres
diologia pela SOB/UFRJ. Mestre e Doutor em Odontologia: Professor associado Doutor da disciplina de Ortodontia da
Ortodontia pela UFRJ. Faculdade de Odontologia da UFPR. Coordenador do Cur-
so de Pós-Graduação em Ortodontia da UFPR.
José Rino Neto
Cirurgião-dentista. Professor associado do Departamento Marcos André Duarte da Silva
de Ortodontia e Odontopediatria da FO/USP. Mestre, Dou- Mestre em Odontologia: Ortodontia pela Pontifícia Universi-
tor e Livre-Docente em Ortodontia pela FO/USP. dade Católica do Paraná (PUC-PR). Doutor em Odontologia
Juliana S. Pereira Andriani Legal pela USP.
Cirurgiã-dentista. Especialista e Mestre em Ortodontia pela Marcos Roberto de Freitas
UFSC. Professor titular da FOB/USP.
Karina Jerônimo Rodrigues Santiago de Lima Marcos Rogério de Mendonça
Professora adjunta da disciplina de Ortodontia da UFPB. Professor adjunto da disciplina de Ortodontia Preventiva,
Mestre e Doutora em Ortodontia pela FOB/USP. do Departamento de Odontologia Infantil e Social, da FOA/
Kelly Regina Micheletti UNESP.
Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia pela UEM. Maria Beatriz Araujo Magnani
Mestre em Odontologia Integrada pela UEM. Doutoranda Professora do Curso de Graduação e Especialização em
em Ortodontia da FOA/UNESP. Ortodontia da FOP/UNICAMP. Coordenadora do Cur-
Kurt Faltin Jr. so de Especialização em Ortodontia da FOP/UNICAMP.
Ortodontista. Coordenador dos Cursos de Especializa- Membro da Comissão da Escola de Extensão dos Cursos
ção e Mestrado em Ortodontia da Universidade Paulis- de Especialização da FOP/UNICAMP. Mestre e Doutora
ta (UNIP). Pós-graduado e Doutor pela Universidade de II em Ortodontia pela FOP/UNICAMP, com aperfeiçoa-
Bonn, Alemanha. mento em Ortodontia pela Tweed Foundation for Or-
thodontic Research, Tucson, Arizona, USA. Membro da
Lídia Parsekian Martins Tweed Foundations for Orthodontic Research, Tucson,
Professora assistente do Departamento de Clínica Infan- Arizona, USA.
til/Ortodontia da FOA/UNESP. Professora do Programa
de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas da FOA/ Maria Lucia Mucha
UNESP. Mestre e Doutora em Ortodontia pela FOA/UNESP. Cirurgiã-dentista e ortodontista clínica. Especialista e Mestre
em Ortodontia pela UFRJ.
Luciano da Silva Carvalho
Doutor em Clínicas Odontológicas pela FO/USP. Matheus Melo Pithon
Ortodontista. Especialista em Ortodontia pela Universidade
Luís Antônio de Arruda Aidar Federal de Alfenas (UNIFAL). Professor adjunto de Ortodon-
Professor da disciplina de Ortodontia da UNISANTA. Es- tia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).
pecialista e Mestre em Ortodontia pela UMESP. Doutor e
Mestre e Doutor em Ortodontia pela UFRJ. Diplomado pelo
Pós-Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São
Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
Paulo (UNIFESP).
Natalia Martins Insabralde
Luiz G. Gandini Jr.
Especialista em Ortodontia pelo CORA, Bauru. Mestre
Ortodontista. Professor adjunto da FOA/UNESP. Mestre e
em Ortodontia e Doutoranda em Materiais Dentários pela
Doutor pela FOA/UNESP. Pós-Doutor e professor adjunto
UNOPAR, PR.
clínico do Baylor College of Dentistry, Dallas, Texas, USA.
Osmar A. Cuoghi
Luiza Paiva Bittencourt
Professor adjunto da disciplina de Ortodontia Preventiva,
Especialista em Ortodontia pela UFF.
do Departamento de Odontologia Infantil e Social, da FOA/
Lylian Kazumi Kanashiro UNESP. Especialista em Ortodontia e em Ortopedia Fun-
Professora da disciplina de Ortodontia da FO/USP. Mestre e cional dos Maxilares. Mestre e Doutor em Ortodontia pela
Doutora em Ortodontia pela FO/USP. FOB/USP.

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viii AUTORES

Paulo Eduardo Baggio Ricardo Takahashi


Cirurgião-dentista. Professor associado da UEL, PR. Co- Cirurgião-dentista. Professor adjunto da UEL, PR. Especia-
ordenador do Curso de Especialização em Ortodontia da lista, Mestre e Doutor em Ortodontia pela FOB/USP.
UEL, PR. Mestre e Doutor em Ortodontia pela UFRJ.
Rodrigo R. Borbolla
Rejane Targino Soares Beltrão Cirurgião-dentista. Professor do Curso de Especialização
Cirurgiã-dentista. Professora adjunta II de Ortodontia da em Ortodontia e Ortopedia Facial da UNIP. Especialista e
UFPB. Especialista em Ortodontia pela APCB, Bauru. Mes- Mestre em Ortodontia e Ortopedia Facial pela UNIP.
tre e Doutora em Ortodontia pela FOB/USP. Simone Requião Thá Rocha
Renata Feres Cirurgiã-dentista. Professora do Curso de Especialização
Cirurgiã-dentista. Professora de pacientes com necessida- em Ortodontia da Universidade Positivo. Especialista em
des especiais da UFPR. Especialista e Mestre em Orto- Ortodontia pela ABO, PR. Mestre em Odontologia pela Uni-
dontia. versidade Positivo.

Renata Rodrigues de Almeida-Pedrin Solange M. de Fantini


Cirurgiã-dentista. Professora do Programa de Pós-Gra- Ortodontista. Professora do Departamento de Ortodontia e
duação em Odontologia: Ortodontia (Mestrado Profissio- Odontopediatria da FO/USP. Diretora do RW Center no Bra-
nal) e da Graduação da Universidade Sagrado Coração sil. Especialista em Ortodontia pela OSEC. Mestre e Douto-
ra em Odontologia: Ortodontia pela FO/USP.
(USC). Professora do Programa de Pós-Graduação do
CORA, Bauru. Especialista em Radiologia e Ortodontia Telma Martins de Araujo
pela FOB/USP. Mestre, Doutora e Pós-Doutora em Orto- Ortodontista. Professora titular de Ortodontia da Universida-
dontia pela FOB/USP. Residência Internacional em Orto- de Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Radiologia pela
dontia na Universidade de Connecticut, School of Dental UFRJ. Mestre e Doutora em Ortodontia pela UFRJ.
Medicine.
Thácia Oliveira Silva
Renato Rodrigues de Almeida Cirurgiã-dentista. Aluna do Curso de Especialização em Or-
Professor livre-docente sênior da disciplina de Ortodontia todontia da FUNDECTO/USP. Aluna do Programa de Aper-
da FOB/USP. Professor de Ortodontia dos Cursos de Espe- feiçoamento Profissional Continuado (PROAC) da UNESP,
cialização, Mestrado e Doutorado da UNOPAR, PR. São José dos Campos.

Ricardo Lombardi de Farias Thalita Ariane Borges


Cirurgião-dentista. Professor associado da disciplina de Or- Ortodontista. Assistente do Curso de Especialização em
todontia da UFPB. Mestre em Ortodontia pela USP. Doutor Ortodontia da UNIP. Especialista em Ortodontia pela UNIP.
em Ortodontia pela UNESP. Vania Célia Vieira de Siqueira
Ricardo Moresca Professora da disciplina de Ortodontia da FOP/UNICAMP.
Ortodontista. Professor adjunto da UFPR. Professor do Cur- Chefe do Departamento de Odontologia Infantil da FOP/
so de Especialização em Ortodontia da UFPR. Professor ti- UNICAMP. Mestre em Ortodontia pela FOP/UNICAMP. Dou-
tular de Ortodontia da Universidade Positivo. Professor do tora em Ortodontia pela FOB/USP, com aperfeiçoamento
Programa de Mestrado em Odontologia Clínica da Univer- em Ortodontia pela Fundação Tweed-Merrifield. Membro
sidade Positivo. Coordenador do Curso de Especialização efetivo da Tweed Foundations for Orthodontic Research,
Tucson, Arizona, USA.
em Ortodontia da Universidade Positivo. Especialista em
Ortodontia pela UFPR. Mestre em Ortodontia pela UMESP. Weber Ursi
Doutor em Ortodontia pela FO/USP. Diplomado pelo Board Professor livre-docente da Universidade Estadual Paulista
Brasileiro de Ortodontia. Editor da Revista Ortho Science Júlio de Mesquita Filho, São José dos Campos. Mestre e
and Practice. Doutor em Ortodontia pela FOB/USP.

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Prefácio

A ideia de reunir conteúdos de ortodontia preventiva e in- Ortodontia preventiva: diagnóstico e tratamento tem a
terceptativa em um livro construído com a colaboração de missão de uniformizar a nomenclatura, o diagnóstico, o pla-
docentes de diversas regiões do Brasil surgiu em uma tarde nejamento e o tratamento ortodôntico preventivo e intercep-
do mês de janeiro de 2012, durante reunião extraordinária tativo, integrando os diversos departamentos de ortodon-
do Grupo Brasileiro de Professores de Ortodontia e Odonto- tia das instituições de ensino do Brasil, visando à melhoria
pediatria (GRUPO). Por recomendação do então presidente do ensino e da pesquisa na área. Para que essa intenção
do GRUPO, Silvio Issáo Myaki, foi lançado o desafio aos possa ter continuidade, nossa expectativa é que, a cada
docentes de ortodontia sócios do GRUPO para produzirem encontro do Grupo Brasileiro de Professores – em que são
um livro que reunisse as principais filosofias de tratamento. discutidos importantes temas –, sejam atualizados os capí-
Esse livro envolveria os conceitos de ortodontia na atuali- tulos desta obra, bem como se avalie a inserção de novos
dade e seria especialmente importante ao tornar-se referên- tópicos. Com isso, poderemos ter uma obra sempre atual,
cia no ensino entre as diferentes regiões, além de facilitar o que evoluirá constantemente.
aprendizado dos alunos. Agradecemos a todos os autores, aos colaboradores e
A importância dessa proposta se devia, também, ao à Editora Artes Médicas, fundamentais para que pudésse-
fato de compartilhar a experiência de professores altamen- mos concluir esta obra do GRUPO.
te qualificados das principais instituições de ensino de nor-
te a sul do Brasil, unificando o conteúdo programático da
ortodontia ministrado nos cursos de graduação e de pós-
graduação. Os organizadores

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Sumário

CAPÍTULO 1 Dentadura permanente 39


A história da ortodontia 1 Referências 41
Carlos Alberto Mundstock, Luciano da Silva Carvalho,
Marco Antonio L. Feres
CAPÍTULO 5
História da ortodontia na Europa 1 Fatores etiológicos das más oclusões 43
História da ortodontia nos Estados Unidos 2 Renato Rodrigues de Almeida,
História da ortodontia no Brasil 3 Renata Rodrigues de Almeida-Pedrin,
Referências 6 Marcio Rodrigues de Almeida, Daniela G. Garib,
Leituras recomendadas 6 Arnaldo Pinzan, Natalia Martins Insabralde
Etiologia das más oclusões 43
CAPÍTULO 2 Fatores genéticos 44
Crescimento e desenvolvimento craniofacial 9 Disostose cleidocraniana 49
Arnaldo Pinzan, Daniela G. Garib, Décio Rodrigues Martins, Displasia ectodérmica 49
Guilherme Janson, José Fernando Castanha Henriques, Incontinência pigmentar ou síndrome de
Marcos Roberto de Freitas, Renato Rodrigues de Almeida Bloch-Sulzberger 53
Abóbada craniana 13 Fissuras de lábio e/ou palato 55
Face 14 Anomalias dentárias de número: agenesia e
Maxila 14 supranumerário 57
Mandíbula 16 Anquilose 60
Considerações finais 18 Cistos 60
Referências 18 Erupção ectópica dos dentes permanentes 62
Leitura recomendada 19 Freio labial superior 62
Causas ambientais 63
Perda prematura dos dentes decíduos 67
CAPÍTULO 3
Perda de dentes permanentes 68
Classificação das más oclusões 21
Ricardo Lombardi de Farias, Rejane Targino Soares Beltrão, Cáries 68
Karina Jerônimo Rodrigues Santiago de Lima, Considerações finais 69
Ednara M. F. de Andrade Agradecimento 69
Classificação de Angle 21 Referências 69
Outras classificações 29 Leituras recomendadas 69
Agradecimento 31
Referências 31 CAPÍTULO 6
Hábitos bucais deletérios 71
Kurt Faltin Jr., Rodrigo R. Borbolla, Thalita Ariane Borges
CAPÍTULO 4
Desenvolvimento da oclusão dentária 33 Sucção não nutritiva 71
Bernardo Quiroga Souki, Cybelle Luísa de Souza Pereira, Onicofagia 72
Izabella Lucas de Abreu Lima, Daniel Figueiredo Deglutição atípica 72
Dentadura decídua 33 Fonação 72
Dentadura mista 35 Respiração bucal 73

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xii SU M ÁR I O

Considerações finais 73 Radiografia panorâmica 110


Referência 73 Radiografia interproximal 110
Leituras recomendadas 73 Telerradiografia cefalométrica 111
Radiografia de mão e punho 112
CAPÍTULO 7 Imagem radiográfica e análise da dentição mista 112
Diagnóstico em ortodontia 75 Radiografias analógicas convencionais versus
André Tortamano, Gladys Cristina Dominguez, radiografias digitais 113
João Batista de Paiva, Jorge Abrão, José Rino Neto, A tomografia computadorizada cone-beam na
Lylian Kazumi Kanashiro, Solange M. de Fantini ortodontia 113
Informações preliminares 75 Dose de radiação na TCCB 114
Histórico do paciente 75 TCCB: quando solicitar? 115
Respiração oral 77 Dentes inclusos ou impactados 115
Análise facial 78 Anomalias dentárias 115
Análise de modelos 80 Qualidade e quantidade de tecido ósseo 117
Análise individual de Nance 81 Análise das vias aéreas superiores 118
Análise funcional 85 Articulação temporomandibular 118
Fotografias na ortodontia 86 Pacientes fissurados 118
Registro facial e dentário 87 Planejamento ortocirúrgico 119
Referências 87 Outros meios de aplicação da TCCB 119
Leituras recomendadas 88 Cefalometria através de TCCB 120
Referências 121

CAPÍTULO 8
Avaliação da idade esquelética 89 CAPÍTULO 11
Weber Ursi, Thácia Oliveira Silva Biomecânica do movimento dentário e reações
teciduais frente à movimentação ortodôntica 123
Estágios de desenvolvimento: infância, adolescência
Osmar A. Cuoghi, Marcos Rogério de Mendonça,
e puberdade, fase adulta 89 Kelly Regina Micheletti
O surto de crescimento puberal e sua relação com Tecidos de suporte dentário 123
os demais eventos do crescimento 90 Força 124
Métodos para a determinação da idade esquelética 93 Tipos de movimentos dentários 125
Referências 98 Reações teciduais da movimentação dentária induzida 126
Dinâmica da movimentação ortodôntica 127
CAPÍTULO 9 Consideração final 128
Cefalometria radiográfica 99 Referências 128
Claudenir Rossato, Carlos Eduardo de Oliveira Lima, Leitura recomendada 128
Paulo Eduardo Baggio, Ricardo Takahashi
Histórico e definições 99 CAPÍTULO 12
Indicações 100 Placas ortodônticas de contenção 129
Tomada radiográfica 100 José Nelson Mucha, Maria Lucia Mucha, Luiza Paiva Bittencourt
Obtenção do cefalograma 101
O que são e para que servem as placas ortodônticas? 129
Referências 108
Para que servem os grampos nas placas? 129
Leituras recomendadas 108
Qual o material e a espessura do fio a ser utilizado
nos grampos? 129
CAPÍTULO 10 Com que material as placas são confeccionadas? 130
Imaginologia em ortodontia 109 Quais são os tipos de placas? 130
Arno Locks, Gerson Luiz Ulema Ribeiro, Qual o material necessário para a confecção dos
Juliana S. Pereira Andriani, Carla D’Agostini Derech grampos? 131
Critérios para a solicitação de exames 109 O que é necessário fazer antes de começar a
Radiografia periapical 110 confeccionar os grampos? 133

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S U MÁRIO xiii

Qual é o alicate mais utilizado e como utilizá-lo? 133 Considerações finais 176
Como executar dobras nos fios? 134 Agradecimentos 176
GRAMPOS 135 Referências 176
Que tipos de grampos serão executados? 135
PLACAS DE CONTENÇÃO 145 CAPÍTULO 15
Quais são os limites das placas? 145 Alterações verticais: diagnóstico e
O que deverá ser feito antes da colocação tratamento da mordida aberta e profunda 179
do acrílico? 145 Matheus Melo Pithon, Telma Martins de Araujo
Como analisar a placa? 148
Sobremordida exagerada 179
Como recortar e dar acabamento à placa? 149
Mordida aberta 183
Como dar brilho ou polimento final nas placas? 150
Referências 187
A placa está adequada para ser instalada? 151
A confecção da placa inferior é diferente? 151
Referências 153 CAPÍTULO 16
Leituras recomendadas 153 Alterações anteroposteriores: diagnóstico
e tratamento preventivo e interceptativo
das más oclusões Classes II e III de Angle 189
CAPÍTULO 13 Ademir Roberto Brunetto, Aguinaldo Coelho Farias,
Mantenedores e recuperadores de espaço 155 Alexandre Moro, Renata Feres, Ricardo Moresca,
Daniella Torres Tagawa, Edma H. Daud, Simone Requião Thá Rocha
Ester Maria de Sousa Ferreira, Ricardo Fidos Horliana,
Luís Antônio de Arruda Aidar A má oclusão de Classe III 189
A má oclusão de Classe II 195
Mantenedor de espaço 155
Referências 202
Perda precoce de dentes decíduos anteriores 155
Perda precoce de dentes decíduos posteriores 156
Perda precoce de dentes permanentes 157 CAPÍTULO 17
Banda-alça 157 Noções básicas sobre ortodontia corretiva 205
Arcos linguais 158 Ary Santos-Pinto, Dirceu Barnabé Raveli, Luiz G. Gandini Jr.,
Lídia Parsekian Martins
Botão palatino de Nance 158
Aparelhos removíveis 158 Definição 205
Recuperadores de espaço 158 O diagnóstico ortodôntico 206
Perdas de espaço associadas a processos cariosos 159 O tratamento ortodôntico 208
Perdas de espaço associadas a perdas precoces de Aspectos legais 216
molares decíduos 160 Referências 217
Movimento distal dos primeiros molares Leituras recomendadas 217
permanentes 160
Aparelhos recuperadores de espaço 160 CAPÍTULO 18
Referências 163 Ética no tratamento ortodôntico 219
Vania Célia Vieira de Siqueira, Maria Beatriz Araujo Magnani,
CAPÍTULO 14 João Sarmento Pereira Neto
Alterações transversais: diagnóstico e No início do tratamento 220
tratamento da mordida cruzada posterior 165 Durante o tratamento 221
Roberto Hideo Shimizu, Ana Cláudia Moreira Melo, Ao final do tratamento 222
Augusto Ricardo Andrighetto, Marcos André Duarte da Silva Consultas de controle pós-tratamento ortodôntico 222
Definição 165 Referências 223
Prevalência 165
Classificação da MCP 166
Etiologia 166
Diagnóstico da MCP 168
Tratamento 172

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C A P Í T U LO 1

A história da ortodontia
Carlos Alberto Mundstock
Luciano da Silva Carvalho
Marco Antonio L. Feres

A ortodontia, na conceituação moderna, é a especialidade leite”, assim como sobre o uso contínuo da pressão digital
da odontologia que trata do reconhecimento, do diagnósti- para conduzir os sucessores para a posição correta.
co e do tratamento das más oclusões (ou anomalias dento- Durante a Idade Média, da mesma forma que em outras
faciais). O termo ortodontia deriva do grego orthos (correto) ciências, praticamente não há registros de nenhuma evolu-
e odontos (dentes). Quando estudamos a importância des- ção. Existe, no entanto, um relato sobre um médico, Paulus
sa ciência, muitas vezes não nos damos conta da dimensão Aegineta (625-690), que escreveu a respeito da ocorrência
do caminho percorrido até os dias atuais. de dentes extranumerários, sugerindo sua remoção quando
A memória de uma ciência é fundamental para o seu causavam irregularidades nos demais dentes.
entendimento, pois conduz a uma visão holística dos fatos, Já no Renascimento, Leonardo da Vinci (1452-1519)
vertendo luz, iluminando caminhos, contribuindo, enfim, demonstrou a harmonia dos dentes com os lábios e a face
para sua própria evolução. Edward Angle (1855-1930) foi em muitas de suas pinturas.
pioneiro nesse sentido, ao criar uma comissão, dentro de Durante o século XVI, Ambroise Paré (1510-1590), na
seu círculo científico, com o objetivo de ressaltar a impor- França, escreveu sobre pacientes que apresentavam fissu-
tância da ortodontia. ras palatinas.
Este capítulo pretende resgatar, ao menos em parte, a
sequência de acontecimentos que produziu uma especiali-
dade tão fantástica como a que conhecemos hoje. HISTÓRIA DA ORTODONTIA NA EUROPA
O termo ortopedia, grafado em francês (orthopédie), foi
usado pela primeira vez em 1743, por Bunon (1702-1748), Na sequência histórica, sem dúvida, uma personalidade es-
e significava “correção dos dentes”. A palavra ortodontia, sencial na odontologia foi Pierre Fauchard (1678-1761), que
por sua vez, foi empregada por Jacques Lefoulon, em 1839, desenvolveu, em 1723, aquele que talvez seja o primeiro
também com o mesmo sentido. A história da ortodontia, aparelho ortodôntico, denominado bandeau ou bandolet.
desde seu início, está intimamente relacionada com a evolu- Já em 1757, Etienne Bourdet (1722-1789) escreveu um tra-
ção da medicina e da odontologia. tado sobre as diferentes áreas da odontologia, mencionan-
Na Grécia antiga, Hipócrates (460-377 a.C.) escreveu do extrações de dentes para reduzir protrusões dentárias.
um tratado denominado Corpus Hippocraticum, no qual Também no século XVIII, o escocês John Hunter (1728-
menciona, entre outros conceitos, que: 1793), em sua obra publicada em 1771, intitulada História
natural dos dentes humanos,1 descreve o desenvolvimento
• a queda dos primeiros dentes, na criança, acontece dos dentes e dos maxilares a partir de observações cientí-
por volta dos 7 anos de idade;
ficas. Foi o primeiro a nomear os incisivos, os pré-molares
• há pessoas que têm predisposição a dentes irregulares, (bicuspídeos) e os molares.
podendo sofrer de dores de cabeça.
No mesmo século, na Alemanha, G. Janke relacionou
Aristóteles (384-322 a.C.) foi, provavelmente, o primeiro a exfoliação dos dentes decíduos à compressão causada
estudioso a observar de forma comparada as dentições de pelos sucessores permanentes, enquanto A. Brunner re-
diferentes espécimes, como aparece em sua obra De Parti comendava cuidados com os “dentes de leite”, indicando
bus Animalium. sua extração somente após a manifestação da presença do
É interessante observar também o relato do romano correspondente permanente. Em língua alemã, o primeiro
Celsus, em 25 a.C., a respeito da queda dos “dentes de livro sobre ortodontia foi publicado por F. Kneisel, em 1836.

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2 A BR ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H I M IZU

Ele também foi pioneiro no uso de moldeiras e modelos de 1992, a Europa iniciou uma nova era na história que causou
gesso para copiar as más oclusões. Em 1841, o francês grande impacto na ortodontia em todo o continente, incluin-
Le Foulon apresentou o arco para expansão das arcadas do programas de formação de especialistas, tipo de educa-
dentárias. ção e treinamento, número de profissionais, organizações
No início do século XX, vários autores passaram a de- associativas. Atualmente, a maioria dos países da Europa
senvolver trabalhos e aparelhos. McBride (1902) empregava desenvolve uma ortodontia clínica baseada em sólida fun-
aparelhos removíveis ancorados no palato. Herbst, de acor- damentação científica, conjugando técnicas clássicas com
do com G. P. F. Schmuth,2 foi o primeiro a introduzir peças atualizações constantes na busca de ótimos resultados.
pré-fabricadas na construção de aparelhos ortodônticos. O Suas universidades produzem pesquisas de ponta, com in-
austríaco Oppenheim e o sueco Sandstedt desenvolveram fluência mundial.
estudos histológicos para explicar as reações teciduais de-
correntes da movimentação dentária.
Destaque merece ser dado a P. Simon, que foi profes- HISTÓRIA DA ORTODONTIA NOS
sor universitário em Berlim (1921), publicando importante
ESTADOS UNIDOS
trabalho sobre um sistema de diagnóstico das más oclu-
sões. Também apresentou a construção de um aparelho Os primeiros fatos relacionados à ortodontia nos Estados
fixo constituído por bandas. O monobloco de Robin foi, Unidos podem ser registrados a partir de Charles Harris,
possivelmente, o primeiro aparelho de modificação postu- que em 1842 descreveu uma sequência mecânica com
ral (ortopedia funcional); mas, já na década de 1930, foram fios e ligaduras movimentando dentes. Outros estudiosos
desenvolvidos os aparelhos de Schwarz (placas ativas) e também fizeram contribuições, mas grande destaque deve
de Andresen e Häupl (ativadores). Os aparelhos funcionais ser dado a Norman Kingsley, primeiro diretor da Faculdade
foram evoluindo de tal maneira que se tornaram muito usa- de Odontologia de Nova Iorque, que, entre muitas inova-
dos na Europa, principalmente na Alemanha, nessa mes- ções, criou a ancoragem occipital. Foi também no século
ma década. Várias foram as razões para isso, podendo ser XIX que Tucker e Baker utilizaram elásticos para a aplicação
destacado que: de forças intermaxilares. Merece registro a primeira publica-
1. Os metais preciosos que compunham os aparelhos fi- ção inteiramente dedicada à ortodontia, produzida por John
xos estavam proibidos. Farrar, em 1888, chamada Tratado sobre as deformidades
3
2. O “bem-estar social” (welfare state) se desenvolveu ra- orais. Um dos primeiros nomes a considerar a estética da
pidamente, e com o emprego de aparelhos funcionais face e a estabilidade oclusal nos tratamentos ortodônticos
uma maior quantidade de pacientes era atendida – o foi Calvin Case (1847-1923), que sugeria a remoção de
que atendia a uma exigência do governo. dentes para a obtenção de espaços com o intuito de cor-
3. O conceito dogmático de oclusão, proferido por Angle, rigir protrusões acentuadas e reduzir a intensidade das ex-
tinha impacto muito menor na Europa. pansões dentoalveolares. Case foi pioneiro no uso da con-
tenção pós-tratamento. No final do século XIX surgiria um
É importante lembrar que os aparelhos removíveis em-
nome que criaria um novo paradigma na ortodontia, Edward
pregados pertenciam a duas categorias: placas removíveis,
H. Angle. Inteligente, inovador, cientificamente irrequieto,
com acrílico apoiado no palato e molas aplicando força aos
elevou esta ciência a um status especial. Participou de mui-
dentes; e aparelhos miofuncionais (ou funcionais), destina-
tos eventos e congressos, escreveu inúmeros artigos, criou
dos a “regular” e “modificar” o crescimento craniofacial.
aparelhos, sistematizou um novo formato para o estudo e a
Muitos autores participaram da evolução conceitual e
aplicação da ortodontia. Inicialmente em St. Louis, Missouri,
técnica da ortopedia funcional dos maxilares e da ortodontia
depois em Pasadena, Califórnia, desenvolveu a “Escola An-
na Europa nas décadas que se seguiram, sendo impossível
gle de Ortodontia”, berço da formação de profissionais que
registrá-los neste capítulo. De qualquer forma, não podem
na sequência participaram do desenvolvimento da especia-
deixar de ser citados: Balters, que desenvolveu o “Biona-
lidade nos Estados Unidos e no mundo. A contribuição do
tor”; K. Reitan, que com seu vasto conhecimento nas áreas
Dr. Angle para a ortodontia é muito grande, e algumas de
de histologia e citologia impulsionou o estudo das modifi-
suas realizações foram:
cações teciduais resultantes da movimentação ortodôntica;
A. Björk, que colocou luz sobre os intrincados mecanismos • Uma obra com sete edições, a última (1907) intitulada
ligados ao processo do crescimento craniofacial; H. P. Bim- O tratamento das más oclusões dentárias.4
ler, que criou sua própria análise cefalométrica e aparelhos • A criação de um sistema de classificação das más oclu-
diferenciados; R. Fräenkel, que desenvolveu os reguladores sões que, por sua criatividade e simplicidade, tornou-se
funcionais para cada tipo de má oclusão. universalmente aplicado.
Após a queda do muro de Berlim em 1989, e principal- • A criação da American Association of Orthodontists em
mente com a remoção de barreiras econômicas a partir de 1901.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 3

• A introdução, de forma sequenciada e evolutiva, de de mundial, como o American Journal of Orthodontics and
aparelhos e mecanismos: Arco E, Pino e Tubo, Arco Dentofacial Orthopedics, o Angle Orthodontist e o Journal of
Cinta e, finalmente, Edgewise. Este último consolidou Clinical Orthodontics.
a visão de futuro que Angle já demonstrava, permane-
cendo, com ajustes e aperfeiçoamentos, utilizado mun-
dialmente e preferido pela maioria dos clínicos e das HISTÓRIA DA ORTODONTIA NO BRASIL
entidades de ensino.
Os primeiros cursos de odontologia no Brasil foram cria-
A “Escola de Angle” formou muitos profissionais que se dos ao final do século XIX (1884) (Decreto nº 9.311, de 25
tornaram líderes na primeira metade do século XX. Martin 6
de outubro de 1884, que trata da criação dos Cursos de
Dewey criou e foi o primeiro editor da revista científica que Odontologia) vinculados às faculdades de medicina do Rio
mais tarde se tornaria o American Journal of Orthodontics. de Janeiro e de Salvador, as únicas nesta época do Império.
George Hawn deu sequência ao funcionamento da “Escola Tanto a ortodontia quanto a odontopediatria não constavam
de Angle” em 1928, quando Angle já estava com a saú- nos conteúdos curriculares e muito menos como especiali-
de comprometida. Foi nessa época que Charles Tweed dades. Os cursos de odontologia eram anexos dos de me-
frequentou o curso e se tornou, nos anos seguintes, um dicina e duravam dois anos. Com a lei Rivadavia (Decreto
expoente da ortodontia. Outro ex-aluno de Angle, Percy 7
nº 8.659, de 5 de abril de 1911 ) os cursos de odontologia
R. Begg, desenvolveu uma técnica a partir do Arco Cinta, passaram de dois para três anos, e, mesmo assim, apenas
criando a mundialmente conhecida “Técnica de Begg”. Ou- alguns conteúdos de ortodontia e odontopediatria consta-
tro clínico e autor de grande importância foi Robert Strang, vam na clínica odontológica, pois o ensino, até esta época,
que após aprender a técnica Edgewise passou a divulgá- embora desenvolvido por profissionais habilidosos, ainda
-la por meio de cursos e de sua obra clássica Text-book era empírico.
of Orthodontia.5 Em 1922 iniciou-se a formação através de Durante a década de 1940, à medida que os cursos de
programas de pós-graduação em ortodontia nos Estados odontologia se desvinculavam das faculdades de medicina,
Unidos. Um evento de grande impacto na especialidade foi passaram para unidades autônomas, denominadas de fa-
a introdução do cefalostato e da cefalometria radiográfica culdade de odontologia. Neste período, ainda com a estru-
por Broadbent em 1931, o que permitiu diagnósticos mais tura de cátedras, surgia no terceiro ano do curso a cátedra
acurados, relacionando as arcadas dentárias às estruturas de ortodontia e odontopediatria, com conteúdos próprios. A
faciais e cranianas. Os estudos sobre crescimento cranio- partir da década de 1950, ainda sob o regime de cátedras,
facial também tiveram grande impulso a partir da utilização os cursos de odontologia passam de três para quatro anos,
desse recurso. C. Steiner criou uma análise cefalométrica aparecendo a ortodontia e a odontopediatria, lecionadas
de aceitação mundial, sendo um dos primeiros a sugerir em séries diferentes e independentes. Em decorrência da
modificações mecânicas no sistema Edgewise, como a in- vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
8
clinação de bráquetes. Allan Brodie, aluno de Angle, e W. Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, o Decreto-Lei
9
Downs foram dois brilhantes professores da Universidade nº 252, de 28 de fevereiro de 1967, extinguiu as cátedras
de Illinois que fizeram com que o Departamento de Orto- e criaram-se os departamentos, reunindo disciplinas afins.
dontia dessa Universidade ficasse reconhecido internacio- O ortodontista Oswaldo Vasconcellos Villela, em seu li-
10
nalmente. H. Sicher e M. Moss deram grande contribuição vro A história da ortodontia no Brasil, cita Carlos de Almei-
à compreensão do crescimento craniofacial. T. M. Graber foi da Lustosa como um dos pioneiros na prática da ortodontia
um clínico, pesquisador e autor que estudou as anomalias como especialidade no Brasil, na década de 1920. Com
craniofaciais e pacientes com fissura labiopalatina. Foi tam- resultados pouco expressivos e muitas dúvidas, Lustosa
bém um dos pioneiros na aplicação de forças magnéticas viajou aos Estados Unidos para cursar a Angle School of
em ortodontia. Foi editor do American Journal durante 15 Orthodontics. Em 1923, retornou ao Brasil trazendo consi-
anos. A partir das décadas de 1960 e 1970, muitos autores go o certificado do curso de especialização. Em 1924, pu-
apresentaram contribuições à especialidade. J. Jarabak de- blicou o primeiro livro sobre ortodontia no Brasil, destinado
senvolveu todo um sistema mecânico próprio; L. Andrews a cirurgiões-dentistas e pais de pacientes. Seu assistente,
criou o “Straight Wire”; R. Ricketts apresentou a “Terapia Kant Rothier, estimulado, também foi se aperfeiçoar nos Es-
Bioprogressiva”, um conjunto de sólidos princípios que in- tados Unidos.
cluía diagnóstico, planejamento de tratamento e mecânica A partir dessa época, novos praticantes da especialida-
ortodôntica baseada na aplicação de forças extremamente de foram surgindo. Muitos deles assistentes de ortodontis-
leves. Atualmente, e como consequência da natural evolu- tas mais experientes, pois o país continuava desprovido de
ção, os departamentos de ortodontia estadunidenses têm cursos de ortodontia.
atividade clínica e de pesquisa consideradas “de ponta”. Em 1925, nas reformas no ensino promovidas pelo go-
Destacam-se, também, inúmeras publicações com amplitu- verno Arthur Bernardes, a ortodontia passou a fazer parte

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4 A BR ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H I M IZU

do currículo dos cursos de graduação em odontologia, com Nas décadas de 1950 e 1960 surgiram os primeiros
o nome “Ortodontia e Prótese dos Maxilares”. Em 1931, profissionais que também colaboraram para o desenvolvi-
com a reestruturação da disciplina na forma de cátedras, mento e a difusão da ortodontia nas entidades de ensino
durante o governo de Getúlio Vargas, esta passou a se cha- nacionais. Partiu de alguns deles a ideia de formação de
mar “Ortodontia e Odontopediatria”. Apesar das mudanças, cursos de especialização tanto em faculdades, como em
seus conteúdos não eram suficientes para que o aluno pu- entidades de associações de classe.
desse desenvolver a especialidade. Esse quadro persistiu Paralelamente, dois eventos científicos paulistas de or-
até a década de 1950, pois o número de profissionais aptos todontia marcaram a segunda metade da década de 1950.
ainda era pequeno. O primeiro foi a 1ª Semana Paulista de Ortodontia (1957),
Foi a partir da atuação ímpar de Arthur do Prado Dan- organizada pelo Departamento de Ortodontia da Associação
tas (São Paulo) e José Édimo Soares Martins (Rio de Janei- Paulista de Cirurgiões-Dentistas, local onde se agrupavam
ro) que a ortodontia pôde se estruturar como especialidade os ortodontistas paulistas, sendo presidida por Paulo Affon-
e consolidar sua presença no Brasil. so de Freitas. Dela participaram até mesmo palestrantes ar-
Dantas era professor de ortodontia no curso de gradua- gentinos, como Raul Otaño Antier, Fernando Archain e José
ção de odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) Mayoral, além de renomados especialistas de todo o país.
desde 1938, e se tornou a principal referência no ensino Segundo Admar Raupp Terra, este evento simbolizou a evo-
da especialidade no estado. Foi coordenador do primeiro lução científica da ortodontia brasileira. O segundo ocorreu
curso de especialização em ortodontia no Brasil, promovido em 1959, com a visita de Earl W. Renfroe, importante espe-
pelo Departamento de Ortodontia da Associação Paulista cialista da Universidade de Illinois (EUA), que veio ao Brasil
de Cirurgiões-Dentistas (APCD). Tinha a duração de dois apresentar a técnica de Edgewise, criada por Angle.
anos, e foi ministrado de 1951 a 1955 (duas turmas). Vários Em 1959 também foi fundada a Sociedade Paulista de
foram os seguidores de Dantas, que era o responsável pela Ortodontia, que teve como primeiro presidente Oswaldo A.
coordenação da equipe de ortodontistas do serviço dentá- Mesquita Sampaio, que enfrentou muitos problemas com
rio escolar. Dentre eles, Reynaldo Baracchini, Henio Heiras, as lideranças locais, especialmente o Departamento de
Jairo Correa e Sebastião Interlandi, que teve grande desta- Ortodontia da APCD. Em 1962, surge uma nova liderança
que na área de educação, coordenando mais tarde o curso com Paulo Affonso de Freitas, o qual, apoiado por Manuel
de especialização em ortodontia da FOUSP (1966). Carlos Muller de Araujo, então professor da Faculdade de
Édimo Martins lecionava na Faculdade Nacional de Odontologia de Piracicaba, deu um novo rumo à ortodontia
Odontologia da Universidade do Brasil (atualmente Faculdade paulista. Paulo Affonso de Freitas foi o fundador da revis-
de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – ta da SPO, hoje OrtodontiaSPO, durante a gestão de Jairo
FOUFRJ) desde 1937. Em 1950, recebeu uma bolsa de estu- Correa. Por iniciativa de Muller de Araújo, criou-se em 1962
dos da Kellog Foundation, seguindo para os Estados Unidos, o curso de Especialização em Ortodontia na Faculdade
onde se pós-graduou pela Universidade de Washington. de Odontologia de Piracicaba (FOP), hoje Universidade de
Ao retornar para o Brasil, Édimo Martins começou a Campinas (Unicamp). Muller de Araújo também realizou a
idealizar a montagem do primeiro curso universitário de es- 1ª Semana Piracicabana de Ortodontia em julho de 1963.
pecialização em ortodontia. Para tanto, contou com a co- Mais de 200 pessoas participaram do evento, que contou
laboração de Hélio de Oliveira Fernandes, Carlos de Souza com as presenças de Earl W. Renfroe (EUA), Roman Santini
Telles e Antonio Carlos Peixoto da Silva. Posteriormente, (Argentina) e Carlos Garcia Novales (Uruguai).
aderiram Roberto S. Wilhem e Alderico Artese. Porém, o No início de 1968, na Cidade Universitária, em São
primeiro curso de especialização no Rio de Janeiro aconte- Paulo, realizou-se o 1º Congresso Paulista de Ortodontia,
ceu em 1956, na PUC, com a coordenação de Tobias Kant com um grande número de professores, inclusive estran-
Rothier, filho de Kant Rothier. Em 1960, foi finalmente ofi- geiros, que puderam transmitir novos conhecimentos aos
cializado o curso de especialização na UFRJ. Durante essa profissionais brasileiros. Dias antes do evento, a ortodontia
época, mais precisamente em 1955, formou-se, também paulista entrou em luto, pelo falecimento de Arthur do Pra-
no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de Ortodontia, a do Dantas. Em 1973, surge um novo centro de ensino na
partir da união de três grupos, liderados por Édimo Martins, cidade Bauru, sendo seguido depois por várias instituições
Newton de Castro e Kant Rothier. públicas e privadas. A ortodontia, enfim, começava a sair
Regionalmente, foram surgindo outros importantes pro- do eixo Rio-São Paulo. Um exemplo desse fato foi a cria-
fissionais de ortodontia que, pela influência de filosofias de ção, em 1976, do curso de especialização na Universidade
ensino de diferentes universidades, ou pelo domínio de téc- Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Como consequên-
nicas de tratamento de outros países, onde cursaram sua cia, um maior número de profissionais foi surgindo, dando
especialidade, trouxeram diferentes pontos de vista sobre origem a diversas associações, como a Sociedade Para-
a ortodontia, auxiliando em muito seu desenvolvimento no naense de Ortodontia, em 1972 e a Sociedade Gaúcha de
país. Ortodontia, em 1975.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 5

Em 1969, mais precisamente no dia 10 de outubro, na Assim, logo foi sugerida a participação de alunos de
cidade de São Paulo, foi fundada uma sociedade civil de ca- pós-graduação dessas duas áreas, com a finalidade de ad-
ráter cultural, didático e científico, que tinha como objetivo quirirem a experiência docente, pois no futuro poderiam se-
representar e unir os professores de ortodontia e odonto- guir a carreira de professor dessas especialidades.
pediatria, visando à troca de experiências no ensino dessas Em 1970, por iniciativa do professor Manoel Carlos
duas especialidades – o Grupo Brasileiro de Professores Muller de Araújo, presidente da entidade, durante o 1º En-
de Ortodontia e Odontopediatria (GRUPO). Suas reuniões contro do GRUPO, na cidade de Londrina, foi apresenta-
já aconteciam desde 1963, com um grupo de professores da a primeira publicação do Boletim do GRUPO. Desde
paulistas, inspirados por uma ideia inicial de Myaki Issáo, então, já foram realizados 43 Encontros Anuais do Grupo
Muller de Araújo e Orlando Ayrton de Toledo. Na época, ti- Brasileiro de Professores de Ortodontia e Odontopedia-
nham como objetivo principal a unificação dos conteúdos tria em diversas cidades brasileiras, todos coordenados
programáticos das disciplinas de Ortodontia e Odontope- por professores engajados pela melhoria do ensino e pela
diatria, entre as faculdades de odontologia do Estado de maior difusão dessas duas especialidades. Estiveram à
São Paulo. Os conteúdos curriculares da época mostravam frente do GRUPO, como presidentes, importantes profes-
grandes diferenças entre as faculdades, mesmo dentro do sores, como: Manuel Carlos Muller de Araújo (1970-1974),
próprio estado, dificultando a equivalência de conteúdos, Myaki Issáo (1975-1976), Orlando Ayrton de Toledo (1977-
quando ocorriam transferências de alunos. Aos poucos, es- 1980), Carlos Alberto Mundstock (1981-1984), Tatsuko
sas reuniões começaram a se expandir com a presença de Sakima (1985-1986), Adolpho Chelotti (1987-1988), Orlan-
professores de outras cidades e até de outros estados (o do Ayrton de Toledo (1989-1990), Kurt Faltin Junior (1991-
Prof. Luiz Reynaldo de Figueiredo Walter, da Universidade 1994), Fernando Borba de Araujo (1995-1996), Luciano
Estadual de Londrina, por exemplo, que delas participava, da Silva Carvalho (1997-2000), Roberval de Almeida Cruz
auxiliou na expansão dessa ideia para todas as faculdades (2001-2002), Arno Locks (2003-2004), Maria de Lourdes
do país). A partir daí, com a presença de docentes de diver- dos Santos Pinto (2005-2008), Alexandre Moro (2009-
sas faculdades, formou-se, em 1969, o GRUPO de âmbito 2010), Silvio Issáo Myaki (2010-2012), Jorge Abrão (2013-
nacional. Sua forma era a de uma sociedade civil, com cará- ....). Esses encontros, por si sós, contam toda a história do
ter cultural, didático e científico e a finalidade de congregar GRUPO e de sua longa participação no ensino, inclusive
os professores de ortodontia e odontopediatria de todo o como órgão consultor de entidades como Capes e MEC,
país, promovendo o aprimoramento e a integração através mantendo-se até hoje como determinante de qualidade no
do ensino e da pesquisa; envolvendo disciplinas afins; es- ensino e na pesquisa.
tabelecendo normas e especificações de materiais; propug- O GRUPO sempre estimulou a integração do ensino
nando pela uniformização de uma nomenclatura relaciona- nessas duas áreas, pela dinâmica da graduação, por meio
da à ortodontia e à odontopediatria. da discussão e da orientação de reformulações curriculares,
Em 1970 realizou-se o 1º Encontro do GRUPO. Seus como também em todos os níveis da pós-graduação, in-
debates envolviam a uniformização do ensino de graduação centivando o desenvolvimento da pesquisa e abrindo espa-
dessas duas áreas, abrangendo os conteúdos programáti- ço nos encontros, além de trazer publicações das mesmas
cos, a sistemática de ensino, as formas de avaliação, a me- em seu livro anual.
todologia, a integração do ensino, etc. Mesmo discutidos A década de 1970 consolidou-se com o grande avanço
durante vários encontros, os temas sobre o ensino da gra- experimentado pela ortodontia na década de 1960. O nú-
duação nunca foram esgotados, iniciando-se paralelamente mero de profissionais multiplicou-se rapidamente, ao mes-
a abordagem do ensino de pós-graduação e pesquisa nos mo tempo em que mais alunos e recém-formados da gra-
mais diferentes níveis. Devido a essa evolução, no 7º En- duação mostravam-se curiosos e interessados no assunto.
contro Anual, em São Paulo, foi apresentado e aprovado A ortodontia havia definitivamente deixado de ser uma ativi-
o novo estatuto do GRUPO, por uma comissão de profes- dade sem expressão na odontologia, como acontecera na
sores, da qual faziam parte Myaki Issáo, Orlando Ayrton de década de 1950. Em 1977, foi lançado o segundo livro em
Toledo, Luiz Reynaldo de Figueiredo Walter, Manoel Carlos português sobre a especialidade, Ortodontia: bases para a
11
Muller de Araújo, Carlos Alberto Conrado e Renê Guerrini. iniciação, de autoria do Prof. Sebastião Interlandi.
Estatutariamente, a finalidade do GRUPO seria a con- Paralelamente ao desenvolvimento da especialidade,
gregação de todos os professores de ortodontia e odon- ocorria o crescimento do mercado brasileiro de materiais
topediatria do Brasil, para que trabalhassem pela sistema- ortodônticos, pois até então quase tudo que era utilizado
tização do ensino e da pesquisa em todos os níveis. Além pelos ortodontistas era proveniente do exterior. A partir da
disso, deveria também promover o aprimoramento e a inte- década de 1980, surgiram várias pequenas indústrias na-
gração do ensino dessas disciplinas com entidades congê- cionais, que hoje se destacam internacionalmente, além de
neres, nacionais e estrangeiras, e assessorar as entidades representações das melhores empresas estrangeiras no
públicas e privadas. mercado ortodôntico brasileiro.

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6 A BR Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H I M IZU

Em 25 de janeiro de 1994 foi fundado o Colégio Brasi- 4. Angle EH. Treatment of malocclusion of the teeth. 7th ed. Philadel-
leiro de Ortodontia, que passou depois a se chamar Asso- phia: The S. S. White Dental Manufacturing Company; 1907.
5. Srang RHW. A text-book of orthodontia. Philadelphia: Lea & Fabi-
ciação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR),
ger; c1933.
integrando as associações estaduais da especialidade. Seu
6. Brasil. Decreto n° 9.311, de 25 de outubro de 1884. Trata da cria-
objetivo é a excelência dos profissionais e do ensino da or- ção dos cursos de ortodontia. Brasília: Coleção de Leis do Império
todontia, aprimorando seu desenvolvimento com seriedade do Brasil; 1884.
e ética. Seu primeiro presidente foi o Prof. Eros Petrelli. Nes- 7. Brasil. Decreto n° 8.659, de 5 de abril de 1911. Aprova a lei Or-
ta mesma época, o GRUPO foi convidado a participar como gânica do Ensino Superior e do Fundamental na República. Diário
membro da ABOR, sendo incluído em seu estatuto como Oficial da União. 1911;Seção 1.
8. Brasil. Lei n° 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Lei de diretri-
órgão consultor científico e de ensino, tendo assim repre-
zes e bases da educação. Diário Oficial da União. 1961;Seção
sentação permanente no colegiado da entidade.
1:11429.
Em maio de 1995, a ABOR filiou-se à World Federation 9. Brasil. Decreto-Lei n° 252, de 28 de fevereiro de 1967. Estabele-
of Orthodontists (WFO), passando a representar a ortodon- ce normas complementares ao Decreto-Lei nº 53, de 18 de no-
tia brasileira no cenário internacional. vembro de 1966, e dá outras providências. Diário Oficial da União.
Em 1997 realizou-se em São Paulo, sob a presidência 1967;Seção 1:2443.
do Prof. Kurt Faltin Jr., o 1º Congresso da ABOR. Desde 10. Vilella OV. A história da ortodontia no Brasil. Rio de Janeiro: Pedro
Primeiro; 1995.
então, já foram realizados outros congressos, tendo como
11. Interlandi S. Ortodontia: bases para a iniciação. São Paulo: Artes
sedes as cidades de Florianópolis (1999), Recife (2001), Médicas; 1977.
Curitiba (2003), Salvador (2005), Gramado (2007), Brasília
(2009) e Belo Horizonte (2011). O próximo será em 2013, e
terá como sede a cidade de Natal.
Cabe ainda salientar que, em 1997, alterou-se a deno-
LEITURAS RECOMENDADAS
minação da especialidade de Ortodontia para Ortodontia e Asbell MB. A brief history of orthodontics. Am J Orthod Dentofacial Or-
Ortopedia Facial, mudando, assim, o registro do título no thop. 1990;98(2):176-83.
Conselho Federal de Odontologia. A proposta foi sugerida Brito JHM. Faculdade de odontologia: cem anos de história: 1898-
1998. Porto Alegre: UFRGS; 1998.
e fundamentada pelo Prof. Eros Petreli, e endossada pelo
Brodie AG. Orthodontic education. In: Kraus BS, Riedel RA, editors. Vis-
GRUPO. Porém, na 2ª ANEO, realizada em 2001, em Ma-
tas in orthodontics: presented to Alton W. Moore. Philadelphia: Lea &
naus, houve a separação da Ortodontia e Ortopedia Facial Febiger; 1962. p. 37-44.
em duas novas especialidades: Ortodontia e Ortopedia Fun- Chapman H. The early years of the European Orthodontics Society.
cional dos Maxilares, voltando novamente à denominação Amer J Orthod. 1959;45(11):837-46.
inicial da ortodontia como especialidade. Fuzo A. A trajetória da ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO: ca-
Em 1998, a ABOR criou o BOARD Brasileiro de Orto- pítulo I – dois homens e o destino de um País. Ortodontia SPO.
2009;42(1):67-72.
dontia e Ortopedia Facial (BBO), diante da necessidade de
Fuzo A. A trajetória da ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO: capí-
se estabelecerem padrões de excelência clínica no exercício
tulo II – o primeiro grande salto. Ortodontia SPO. 2009;42(2):149-54.
da especialidade. O BBO é a entidade que confere certifica- Fuzo A. A trajetória da ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO: capítulo
dos de excelência de padrão clínico a especialistas mem- III – a ortodontia ganha o Brasil. Ortodontia SPO. 2009;42(3):245-50.
bros da ABOR, após submeterem-se a provas e análise de Fuzo A. A trajetória da ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO: capítu-
casos clínicos. lo IV – o amadurecimento e a popularização da ortodontia. Ortodontia
Podemos concluir que hoje a ortodontia brasileira é SPO. 2009;42(4):329-33.
Fuzo A. A trajetória da ortodontia no Brasil e os 50 anos da SPO: capí-
uma especialidade da odontologia de grande conceito e
tulo V – as novas fronteiras da ortodontia no Brasil. Ortodontia SPO.
destaque no cenário nacional e internacional. 2009;42(5):429-34.
Graber TM. An orthodontic perspective after 75 tears. Amer J Orthod.
1976;69(5):572-86.
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2. Schmuth GPF. História da ortodontia na Europa. In: Interlandi S, livro anual do grupo brasileiro de professores de ortodontia e odonto-
coordenador. Ortodontia: bases para a iniciação. 4. ed. São Paulo: pediatria. São Paulo: Image Maker Compugráfica; 1992.
Artes Médicas; 1999. Grupo Brasileiro de Professores de Ortodontia e Odontopediatria. 9º
3. Farrar JN. A treatise on the irregularities of the teeth and their cor- livro anual do grupo brasileiro de professores de ortodontia e odonto-
rection including, with the author’s practice, other current methods. pediatria. São Paulo: GBPOO; 2000.
Designed for practitioners and students... New York: International Hahn GW. Ortodontics; its objectives, past and present. Am J Orthod
News; 1988. Oral Surg. 1944-1945;42:17-21.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 7

Jacobson B. História da ortodontia nos Estados Unidos. In: Interlandi S, Moss JP. Orthodontics in Europe 1992. Eur J Orthod. 1993;15(5):393-
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C A P Í T U LO 2

Crescimento e desenvolvimento craniofacial


Arnaldo Pinzan
Daniela G. Garib
Décio Rodrigues Martins
Guilherme Janson
José Fernando Castanha Henriques
Marcos Roberto de Freitas
Renato Rodrigues de Almeida

A trajetória do crescimento craniofacial é descrita como e teóricas6 – todos permitem que se construam modelos
uma sucessão simultânea de eventos biológicos que des- que auxiliam no entendimento do crescimento craniofacial
locam a face no sentido anterior e para baixo. O traçado humano. Essa coleta de dados, realizada por longo tempo
cefalométrico, realizado a partir de duas telerradiografias em um mesmo grupo, com os mesmos indivíduos (estudo
de um mesmo paciente (Figura 2-1), obtidas com intervalos longitudinal), ou em grupos de indivíduos diferentes, mas
longos, representa as direções do crescimento nos planos com a mesma idade (estudo transversal), ou então combi-
vertical e horizontal. Estudos in vivo empregando radiogra- nados (estudo misto), possibilita a construção de gráficos
fias da cabeça,1-7 das mãos8 e das vértebras cervicais;7-9 representativos do crescimento,4 mostrando os incremen-
exames macroscópicos (corantes que atuam em áreas tos médios normais que ocorrem em cada idade ou no pe-
de crescimento, como a alizarina empregada por Duha- ríodo pesquisado.
nel); exames microscópicos; medições antropométricas Uma característica comum dos textos de ortodontia
e antropológicas em crânios secos; observações clínicas que versam sobre o crescimento3,5,10 é a definição de cres-
cimento como aumento da massa, e de desenvolvimento
como uma evolução rumo ao amadurecimento das funções.
Tudo vai se sucedendo de forma gradual e harmônica,
até atingir a fase adulta. Há uma concordância dos eventos
que ocorrem (p. ex., ao nascimento, toda criança tem ~
45 ossos craniofaciais; na fase adulta, esse número reduz-
-se para 14 faciais e oito cranianos). Em qualquer grupo
étnico, os fenômenos ocorrem similarmente, com peque-
nas diferenças em magnitudes. Também há uma ampla
variação entre os indivíduos de um mesmo grupo, ou dos
tempos em que ocorrem as modificações, e daí deriva-se
uma tentativa de classificá-los de acordo com a idade es-
quelética (através de radiografias carpais8 e das vértebras
cervicais7,9), a idade dental (por radiografia panorâmica), a
idade cronológica (data do nascimento), a idade biológica
(caracteres pubertários, eventos como a menarca, relação
peso-altura), a idade mental (nível de desenvolvimento in-
telectual), muitas vezes com diferenças bem marcantes de
acordo com o sexo, predominando um consenso5 de que
as meninas antecedem aos meninos, atingindo uma matu-
FIGURA 2-1 Cefalogramas sobrepostos. ridade mais precoce.

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10 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

sulcos, produzidas pelas artérias meningeanas. O simples


pulsar arterial estimula a reabsorção óssea, formando esses
sulcos. Este exemplo nos mostra a alta sensibilidade óssea
em responder com reabsorção, quando existe pressão.
2,5,10
Hunter, em 1771, propôs uma explicação (teoria)
para o crescimento craniofacial, baseando-se na capacida-
de de remodelação dos ossos, que vem a ser a produção de
osso pelos osteoblastos em uma das paredes ósseas e uma
reabsorção óssea, na parede oposta, realizada pelos osteo-
clastos. Este mesmo mecanismo também explica como os
dentes “andam dentro do osso” quando são movimentados
ortodonticamente. Seu raciocínio partiu da premissa de que,
ao analisar uma mandíbula infantil, à distal dos segundos
molares decíduos, deveriam ocorrer fenômenos que per-
mitissem conquistar os espaços necessários para os pri-
meiros, segundos e terceiros molares permanentes. Hunter
acreditava que na parede anterior do ramo ascendente man-
dibular ocorreria a reabsorção e, consequentemente, uma
aposição óssea na parede posterior do ramo ascendente.
FIGURA 2-2 Remodelação em osso chato. Esse movimento ocorreria de anterior para posterior, inclusi-
ve aumentando seu volume gradativamente, para uma mas-
tigação mais efetiva na idade adulta. A teoria de Hunter foi
Os ossos da calota craniana (parietais, frontal, tempo- 1,2
comprovada um século depois, por Humphrey (1871), que
rais e occipital) são ossos chatos, ou seja, com corticais
instalou dois anéis metálicos, justapostos, nos ramos man-
próximas e pouco material medular entre essas corticais.
dibulares de animais jovens de laboratório, que, ao serem
Macroscopicamente, é possível ver duas camadas com-
sacrificados na idade adulta, apresentavam o anel anterior,
pactas externas, nos ossos chatos, entremeadas por osso
com a parte da porção mesial afastada da parede anterior
medular, e histologicamente observa-se que essas duas
do ramo ascendente, e o anel distal, totalmente incluído na
corticais são recobertas, respectivamente, pelo periósteo
massa óssea da parede posterior desse ramo mandibular,
(externamente) e pelo endósteo (internamente) (Figura 2-2).5
justificando o processo natural de remodelação.
As células presentes nessas camadas são as principais 10
Sicher, em 1947, acreditava que a face sofria uma
responsáveis1,11 pelo crescimento aposicional que, obede-
movimentação para frente e para baixo, porque as suturas
cendo a uma ordem genética normal, aumenta o volume
(assim chamadas por unirem ossos de origem de ossifica-
ósseo em espessura, altura, largura e profundidade, numa
ção intramembranosa) com as quais a maxila se relaciona
espécie de adaptação para a vida adulta.
O processo de aposição e reabsorção óssea1,10,11 cha- com o complexo craniofacial (suturas frontomaxilar, zigo-
ma-se remodelação. Na Figura 2-3, observam-se, na par- maticotemporal, zigomaticomaxilar e pterigopalatina) estão
te interna da calota craniana, as impressões em forma de dispostas paralelamente entre si e de maneira oblíqua, res-
tando apenas um movimento para anterior e para frente, na
direção de menor resistência. Ao estudar histologicamente
o material presente entre as suturas, Sicher encontrou um
predomínio de células produtoras de osso, o que o fez acre-
ditar que essa proliferação resultaria no afastamento dos
ossos, deslocando-os espacialmente na direção de menor
resistência. Na Figura 2-4, observam-se as suturas crania-
nas e palatina.
1,2,10
Para Scott (1953), o centro primário do crescimento
da face para frente e para baixo era atribuído aos ossos
da base do crânio (etmoide, esfenoide, parte do occipital
e do temporal) e aos ossos vômer e do septo nasal, que
têm suas ossificações pelo processo endocondral. Para o
autor, a disposição desses ossos guiaria o crescimento para
anterior e para baixo, promovendo deslocamentos deles
mesmos, apoiados posteriormente na coluna vertebral (des-
FIGURA 2-3 Vista interna da calota craniana. locamento primário), que ofereceria natural resistência ao

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 11

FIGURA 2-6 Comparação entre os crânios infantil e adulto.

também cresceram e deram-lhe esta nova visão espacial


(deslocamento secundário) (Figura 2-6).2
O deslocamento secundário resulta do crescimento de
cada osso, quando visto na idade adulta (Figura 2-7).
FIGURA 2-4 Suturas cranianas e palatina. Exemplificando: compare-se a face de um indivíduo
quando criança e depois na fase adulta. O tamanho e a po-
movimento para trás, provocando também movimentos nos sição final são o resultado do crescimento de cada osso,
ossos circunvizinhos na direção anteroinferior. Entre os os- que se soma ao crescimento dos demais ossos.
sos da base craniana encontram-se as sincondroses (assim Para Scott,1,2,10 as sincondroses apresentam, durante
chamadas por unirem ossos de calcificação a partir de um a fase de crescimento, proliferação tecidual entre os ossos
modelo cartilaginoso), sendo as principais a esfenoetmoidal contíguos, o que provocaria o deslocamento no sentido an-
e a esfeno-occipital, esta última fechando-se por volta dos terior (Figura 2-8).
18-20 anos de idade (Figura 2-5).2,10 Já os ossos vômer e do septo nasal guiariam no senti-
Percebe-se no osso examinado isoladamente um dis- do para baixo. Para o autor, as cartilagens são tecidos es-
tanciamento de suas epífises, fazendo-o crescer afastando peciais, que armazenam a capacidade de crescer mesmo
espacialmente essas epífises, o chamado deslocamento em condições de pressão, e a base do crânio apresenta
primário.2 Quando se observa o total de movimento do osso ossos com esse tipo de calcificação, onde primeiramente
na idade adulta, comparando, por exemplo, com sua posi- ocorre a formação de uma matriz cartilaginosa, que depois
ção na fase infantil, é preciso considerar que outros ossos sofrerá o processo de calcificação, diferentemente do osso
de calcificação intramembranosa, onde ocorre diretamen-
te a deposição de tecido ósseo sobre a matriz de tecido
conjuntivo inicial.

FIGURA 2-5 Vistas sagitais, representando os movimentos para


anterior e para baixo da maxila. FIGURA 2-7 Vistas frontal e lateral dos ossos cranianos e faciais.

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12 A BR Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

nas à passagem do ar, que, pelo aumento da necessidade


orgânica geral de obtenção de oxigênio, promove aumentos
em altura, largura e profundidade, alongando a maxila de
anterior para posterior, propiciando espaço para os molares
permanentes irromperem. No paciente respirador bucal, que
tem algum obstáculo à passagem do ar pelo nariz, observa-
-se um aprofundamento do palato, que o torna mais ogival,
alterando as direções normais de reabsorção e aposição
óssea, além de provocar seu estreitamento. Algumas expe-
riências5,10 com animais de laboratório mostram, por exem-
plo, que a remoção de um olho, a obliteração parcial da via
aérea e a secção do feixe do músculo temporal prejudicam
a formação normal das estruturas, e que, embora se forme
FIGURA 2-8 Vista sagital do osso esfenoide. osso, há diferenças na arquitetura em relação ao outro lado
pesquisado, onde as estruturas permaneceram íntegras. O
dente pode ser considerado uma matriz funcional, pois nos
Em 1962, Moss1-3,10 apresentou sua justificativa para a pacientes desdentados o osso alveolar é reabsorvido, per-
direção de crescimento anteroinferior da face, propondo a manecendo apenas o osso basal, dificultando a estabilidade
Teoria da Matriz Funcional. Os ossos, de uma maneira sim- das próteses dentárias removíveis. Por outro lado, a domi-
plificada, teriam a propriedade de proteger os tecidos mo- nância genética também é valorizada, quando se avalia a ne-
les com funções vitais, como o cérebro, a boca, o aparelho cessidade de extração dos terceiros molares, porque o osso
respiratório, o aparelho auditivo e os olhos. Para Moss, es- cresceu insuficientemente, obedecendo às determinações
ses tecidos moles obedecem ao crescimento genético, que impostas pela genética de uma determinada quantidade de
também sofre influências externas, e seu crescimento ocor- osso, sem levar em consideração a parte que necessitaria
re primeiramente; depois, o osso, como uma forma de os para o irrompimento normal de todos os terceiros molares.
proteger, recobre esses tecidos. O cérebro, aumentando de Para o autor, tanto a hipo quanto a hiperfunção também re-
volume e atingindo 90% de seu tamanho adulto3,5 por volta sultam em adaptações dos tecidos musculares e esqueléti-
dos 10 anos de idade, provoca deslocamentos na calota cos, e isso é visível naqueles pacientes com a chamada face
craniana de forma expansiva, o mesmo ocorrendo na base adenoidiana (em sua maioria respiradores bucais), nos quais
do crânio (Figura 2-9). os lábios são hipotônicos, a boca permanece aberta, o pa-
Como resultado, o afastamento dos ossos estimularia lato se estreita e a língua fica rebaixada para facilitar a respi-
a formação de tecido compensatório entre as suturas e as ração, prevalecendo uma tendência de crescimento vertical
sincondroses, preenchendo os espaços deixados pelo afas- da face, alterações na caixa torácica, postura incorreta da
tamento. Também a pressão exercida pelo crescimento ce- coluna vertebral e alterações no padrão mastigatório, além
rebral promove, dentro da calota craniana, reações de remo- das más oclusões características.
delação óssea, desencadeando reabsorções e aposições, A teoria proposta por Enlow,1,2 em 1965, aplica todos os
que igualmente preparam suas corticais para a vida adulta. conhecimentos das teorias propostas inicialmente e, de for-
A remodelação também ocorre na cavidade piriforme e nos ma didática, demonstra que os ossos tendem a um cresci-
seios maxilares, ou seja, suas expansões são atribuídas ape- mento em forma de V e expansivo nas extremidades. Obser-

FIGURA 2-9 Crânios infantil e adulto, e apresenta-


ção das suturas e fontanela anterior.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 13

FIGURA 2-10 Vista oclusal maxilar e sua forma ex-


pansiva para posterior.

vando um crânio humano no sentido transversal, percebe-se anteriores sobre o crescimento, mostrando toda a sua
que o assoalho da fossa nasal e o teto da abóboda palatina complexidade e limitações, somando-se às informações
expandem-se lateralmente em forma de V, atribuindo-se as científicas mais recentes da época concernentes às leis
alterações à teoria de Hunter (remodelação), à teoria de Si- do crescimento.
cher (sutura palatina mediana) e à matriz funcional de Moss
(expansão para compensar a necessidade respiratória), além
do aumento volumétrico da língua. Na mandíbula, também ABÓBADA CRANIANA
se observa esse aumento em forma de V, atribuído à remo-
delação das paredes (anterior e posterior) dos ramos ascen- Em resumo, o cérebro cresce em volume, nas três direções
dentes e à necessidade de aumentar espaços para a língua espaciais, obrigando os ossos que o recobrem a expandi-
e para o irrompimento dos primeiros, segundos e terceiros rem-se em altura, largura e profundidade, auxiliados pelas
molares, além da adaptação para a maxila, no intuito de me- suturas, fontanelas e sincondroses, que têm seus tempos
lhor realizar suas funções específicas (Figura 2-10).12 de fechamento definidos de acordo com a finalização da
van Limborgh13 apresentou sua interpretação do cresci- necessidade de expansão. Também desencadeia a re-
mento, dividindo a cabeça em condrocrânio (ossos da base modelação óssea em cada osso, adaptando-os para pro-
do crânio) e desmocrânio (calvária e esqueleto facial). Tam- teções na fase adulta, aumentando sua espessura, mas
bém descreveu as influências genéticas e ambientais que sempre trabalhando com a premissa de menor quantidade
atuam durante o crescimento, e fez referência à atuação possível, aliviando pesos desnecessários.
dos hormônios, das condições alimentares, dos hábitos e Esse aumento de volume do cérebro promove um mo-
da hereditariedade, que determinam a qualidade e a quanti- vimento do osso frontal para anterior com repercussões na
dade de crescimento. face. A base do crânio também sofre deslocamento para
Petrovic e Stutzmann12 elaboraram a complexa teo- anterior, repercutindo no deslocamento facial para frente
ria do servossistema, demonstrando que a proporção (Figura 2-11).
e a quantidade de cartilagem do côndilo poderiam ser Na base do crânio, o osso temporal, contendo a articu-
modificadas pelo uso apropriado de aparelhos ortopédi- lação temporomandibular, desloca-se para anterior, corro-
cos funcionais. Essa teoria é uma evolução dos estudos borando para o posicionamento final da mandíbula.

FIGURA 2-11 Vistas da base do crânio e sua influên-


cia no crescimento para anterior.

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14 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 2-12 Crânios infantil e adulto compa-


rando o crescimento vertical.

FACE Altura
Na Figura 2-12, numa visão frontal comparativa de duas O crescimento da maxila em altura deve-se, em parte, ao
faces, uma infantil e outra adulta, nota-se o grande cresci- desenvolvimento da cavidade nasal e dos seios maxila-
1-3,5,10
mento que ocorre entre esses dois períodos. res, que se adequam às necessidades respiratórias do
Em termos embriológicos, a face é formada intrauteri- desenvolvimento humano, pelo aumento do fluxo de oxigê-
namente, pelos processos duplos nasais laterais, maxilares, nio delas decorrente. Predominam a reabsorção no assoa-
mandibulares e pelo processo nasal médio, que até a oitava lho da fossa nasal e a aposição no teto da abóboda palatina
semana migraram anteriormente e se fundiram entre si. e em todas as paredes dos seios maxilares, obedecendo ao
processo de remodelação óssea (Figura 2-14).
A diferença entre os tamanhos das raízes dos dentes
14
MAXILA decíduos e permanentes também exige uma maior quan-
tidade de osso alveolar, resultando em aumento na altura
A maxila articula-se com o crânio pelas suturas, que es- da maxila, que também é influenciado pelo maior volume
2,3,5
tão dispostas oblíquas e paralelas entre si. Seus ossos ocupado pela língua adulta.
2
têm ossificação intramembranosa e prevalece a remo- Para Enlow e Hans, existe diferença entre erupção e
delação superficial. Nela estão inseridos músculos res- flutuação dentária. A primeira envolve todo o processo de
ponsáveis por variadas funções, que influenciam, como saída do dente do alvéolo até atingir a linha de oclusão. Por
agentes externos, na forma final de seus ossos. A Figura exemplo, o primeiro molar permanente irrompe na boca
2-13 mostra a relação da maxila com os ossos da base aos 6 anos de idade aproximadamente, atingindo a linha
do crânio, que também exercem influência no seu posi- de oclusão por volta dos 8 anos. Comparando a face de
cionamento anterior. uma criança de 8 anos com sua face aos 18, percebe-se
Seu crescimento tridimensional será explicado a seguir. um aumento na dimensão vertical, sem que esses molares

FIGURA 2-13 Vistas oclusais da relação da base


do crânio com a maxila.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 15

FIGURA 2-14 Perfil maxilar e gráfico representa-


tivo da remodelação maxilar.

percam a relação de antagonismo. Para os autores, após Também se deve atribuir aos ossos vômer e septo na-
atingir a linha de oclusão, a face continua seu processo de sal a influência no direcionamento para anterior da face.
aquisição da dimensão vertical adulta, e o osso alveolar rea- Trabalhos laboratoriais, danificando o septo nasal de co-
liza uma compensação mantendo essa oclusão. Esse au- baias,5 revelaram a consequência negativa desse ato, quan-
mento no volume do osso alveolar é chamado de flutuação, do comparado ao desenvolvimento normal de cobaias não
pois não se caracteriza a erupção dentária, com todos os lesionadas.
seus estágios específicos. A função exercida pela mastigação eficiente e correta10
Para Schudy,15 73% do crescimento total da face ocor- também influencia no padrão de crescimento dos ossos
rem na maxila, sendo que 56% ocorrem no corpo e 44% faciais, no desenvolvimento dos processos alveolares e na
nos processos alveolares. efetividade da mastigação.
O osso esfenoide, localizado na parte média da base
do crânio, apresenta um seio esfenoidal, que se expande
Anteroposterior tridimensionalmente e que repercute no deslocamento para
O necessário alongamento do túber da maxila, ocasionado anterior da face (ver Figuras 2-11 e 2-13).
principalmente pelo aumento do seio maxilar, pelo processo Deve-se ressaltar a importância que o terço médio da
de remodelação, objetiva propiciar o espaço para os mola- face tem na estética facial, motivo de muitos tratamentos
res permanentes. Ao desenvolver-se no sentido anteropos- ortodônticos.
terior, encontra resistência da apófise pterigoide do osso
esfenoide, obrigando-a a deslocar-se para anterior, aumen-
tando assim a profundidade facial, obedecendo a uma níti-
Largura
da e harmoniosa correlação com as mudanças acontecidas Em uma vista frontal da face (Figura 2-15) comparando
no osso frontal. uma criança com um adulto, nota-se o crescimento no

FIGURA 2-15 Crânios infantil e adulto compa-


rando o crescimento em largura.

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FIGURA 2-16 Visão posterior da maxila e sua rela-


ção com o assoalho da fossa nasal.

sentido lateral, atribuído em parte à expansão lateral do MANDÍBULA


cérebro, ao aumento do diâmetro e das distâncias das ór-
bitas, à expansão em V da maxila, ao distanciamento en- O osso mandibular, com sua aparência de osso longo,
tre os côndilos mandibulares, ao aumento transversal da constitui-se da união de ossos distintos, que na vida intrau-
cavidade bucal, às adaptações para as funções respira- terina migram para a região do plano sagital mediano e que,
tórias e mastigatórias corretas, ao posicionamento lateral unidos ao nascer por uma sincondrose, se fecham aos 6
da língua e ao tamanho das coroas dentárias no sentido meses de idade definitivamente.
mesiodistal – todos fatores que exigem essa expansão Em sua embriogênese,16 a mandíbula é um osso de os-
lateral, além da necessidade de um desenvolvimento que sificação mista, pois seu corpo e ramo sofrem ossificação
se antecipa, para depois propiciar uma orientação ao intramembranosa e seus côndilos, ossificação endocondral,
crescimento da mandíbula, que ocorre posteriormente ao recobertos por um tecido conjuntivo fibroso.
da maxila. O crescimento em altura do ramo mandibular é quanti-
A sutura mediana palatina também exerce um papel tativamente maior do que o do seu corpo.4
importante, permitindo que os ossos maxilares movimen-
tem-se lateralmente, até se fundirem na adolescência,
quando não se faz mais necessário esse aumento lateral
Anteroposterior
(Figura 2-16). No sentido anteroposterior, no ramo mandibular ocorre a
Existe uma classificação específica correlacionando a remodelação óssea, com predomínio de reabsorção ós-
altura e a largura da face: a) quando a largura é maior do sea em sua parede anterior e correspondente formação
que a altura, denomina-se euriprósopo (também conheci- (aposição) óssea na parede posterior, promovendo um
da como face curta, dimensão vertical baixa ou braquifa- deslizamento e deslocamento no sentido posterior desse
cial); b) quando há uma proporção adequada entre a altura ramo, possibilitando o espaço para a erupção dos dentes
e a largura facial, mesoprósopo (mesofacial); e c) quando permanentes posteriores.1-6,10 O mesmo é observado no
a altura prevalece sobre a largura, leptoprósopo (também corpo mandibular. A articulação com a fossa mandibular,
conhecida como face longa, dimensão vertical alta ou doli- pelo côndilo, será influenciada pelo movimento da base do
cofacial).3,5,10 No entanto, as leis do crescimento são iguais crânio para anterior, além das informações de Petrovic e
para todos, variando a quantidade que definirá o tipo facial Stutzmann,12 de que a mandíbula é altamente adaptativa,
final. Estudos de Ricketts6 informam que, aos 3 anos de ida- buscando uma relação eficiente com a maxila.
de, já está estabelecido o padrão de crescimento facial do Observa-se na Figura 2-17 o ângulo mais aberto pre-
indivíduo, com pouca variação futura. sente na mandíbula infantil, entre o ramo e o corpo man-

FIGURA 2-17 Mandíbulas infantil e adulta.

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FIGURA 2-18 Comparação do crescimento mandibu-


lar no sentido vertical.

dibular, quando confrontado com o mesmo ângulo na ciosidade do perfil. Nos animais não se observa proeminên-
mandíbula adulta, além da diferença entre suas alturas e cia mentoniana como nos seres humanos, destacando-se
comprimentos. um volume maior no sexo masculino. É uma região tão im-
portante no ser humano, que a procura por mentoplastias e
próteses nessa área é alta nos consultórios dos cirurgiões
Altura ortognáticos e plásticos.
O desenvolvimento vertical do ramo mandibular é o prin- O osso alveolar também sofre adaptações em sua al-
cipal responsável pela determinação da dimensão vertical tura,4 para propiciar mais espaço para as raízes dos dentes
da face humana (Figura 2-18). É interessante notar que permanentes, quando comparado àquele necessário para
a mandíbula é suportada espacialmente por um conjunto as raízes dos decíduos (Figura 2-19).
de ligamentos e músculos3 que a pressionam em direção Existe uma organização trabecular específica para neu-
à maxila, sendo este esforço neutralizado em parte pelas tralizar a força liberada pela mastigação, seguindo em dire-
gonfoses (articulações entre os dentes e os processos al- ção aos côndilos.
veolares) e em parte pelos côndilos. A ossificação endo-
condral presente nos côndilos3,10,12 explica-se pela neces-
sidade de crescer mesmo sob condições de pressão, o
Largura
que não ocorreria se sua ossificação fosse intramembra- Na Figura 2-20, comparando numa vista oclusal uma man-
nosa, pois reagiria com a reabsorção óssea, quando sob díbula infantil com uma adulta, observa-se um movimento
estresse. O côndilo é descrito como possuidor de uma na direção posterior dos ramos mandibulares em forma de
alta capacidade adaptativa, conferindo-lhe propriedades V, expandindo-se para as extremidades, conforme descre-
diferenciadas.5 veram Enlow e Poston1 e Enlow e Hans.2
A região do mento também recebe atenção especial A necessidade de mais espaço e a influência das
dos ortodontistas, que a consideram responsável pela gra- complexas funções linguais exigem uma expansão para

FIGURA 2-19 Crescimento em profundidade do cor-


po mandibular e destaque para a presença das raízes
dentárias e sua importância no crescimento vertical.

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FIGURA 2-20 Expansão mandibular em forma de V.

sua acomodação, além da acomodação de um maior nú- dentes, muitas vezes evitando-se futuramente uma mordi-
mero de dentes, suprindo assim as demandas funcionais da aberta esquelética, que demanda procedimentos mais
da vida adulta. complexos.
Problemas no sentido anteroposterior, quando diag-
nosticados em idades precoces, podem receber o auxílio
CONSIDERAÇÕES FINAIS de aparelhos ortopédicos, que atuam “atrapalhando” a dire-
ção normal de crescimento ou mesmo alterando seu vetor,
Os pacientes ortodônticos, na maioria das vezes, chegam em uma tentativa de equilibrar as tendências e buscar rela-
ao consultório em idade de crescimento, somente quando ções ósseas mais harmoniosas.
os clínicos gerais e os odontopediatras os encaminham Pelas características próprias do crescimento mandibu-
para tratamento. lar, em um paciente portador de Classe III do sexo masculi-
O ensino de noções de ortodontia na graduação visa no, tanto o próprio paciente quanto seus responsáveis são
a conscientizar esses profissionais sobre a necessidade de esclarecidos sobre o longo tempo de tratamento que essa
reconhecimento das más oclusões e o encaminhamento má oclusão requer. Similarmente, uma intervenção ortog-
adequado, para aumentar as chances de o ortodontista ter nática também leva em consideração a idade média dos
o crescimento como seu aliado. incrementos finais do crescimento, podendo uma mesma
A falta de informações ou de condutas clínicas ade- má oclusão ser tratada mais precocemente em uma menina
quadas, muitas vezes, é crucial para o prognóstico. Os do que em um rapaz.
livros de ortodontia3,4,10 costumam apresentar gráficos re- No livro de Proffit e colaboradores5 são apresentados
presentativos da precocidade dos eventos de maturação dois cefalogramas, de dois casos clínicos, primeiro na idade
nas meninas, em relação aos meninos. Mas não dizem que adulta e, depois, na idade senil, quando são apresentadas
é comum os pais acharem que o filho mais velho deve re- as alterações do crescimento tardio, numa clara alusão de
ceber atenção ortodôntica antes que a filha de idade infe- que o crescimento não para de ocorrer. Embora de forma
rior. No livro-texto de Pinzan e colaboradores4 são apresen-
mais rápida e exuberante entre a infância e a juventude, o
tadas várias medidas lineares e angulares, obtidas do Atlas
processo é contínuo, avançando com a idade, numa ve-
de crescimento craniofacial, de telerradiografias realizadas
locidade infinitamente menor, quando comparado ao que
em jovens com boas oclusões, dos 6 aos 18 anos de ida-
ocorre na adolescência.
de, de ambos os sexos. Os resultados, anualizados, foram
confrontados e receberam tratamento estatístico, em que
algumas medidas diferem entre os sexos na mesma idade,
perceptíveis numérica e graficamente, reforçando a preco-
REFERÊNCIAS
cidade das meninas. 1. Enlow DH, Poston WR. Crescimento facial. 3. ed. Rio de Janeiro:
Uma mordida cruzada deve receber tratamento prio- Artes Médicas; 1993.
ritário, para “destravar” o crescimento da maxila, permitin- 2. Enlow DH, Hans MG. Noções básicas sobre crescimento facial.
do seu desenvolvimento normal. Nos casos indicados para São Paulo: Santos; 1998.
disjunção palatina, a avaliação da consolidação da sutura 3. Ferreira FV. Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 6. ed.
São Paulo: Artes Médicas; 2004.
mediana palatina é importante para a conduta clínica, que
4. Pinzan A, Pinzan-Vercelino CRM, Martins DR, Janson G, Henri-
pode dispensar ou requisitar um procedimento cirúrgico. ques JFC, Freitas MR, et al. Atlas de crescimento craniofacial. São
Em uma mordida aberta, diagnosticada precocemente, Paulo: Santos; 2006.
recebendo o devido tratamento interceptativo, aproveita- 5. Proffit WR, Fields HW, Sarver DM. Ortodontia contemporânea. 4.
-se o potencial natural do crescimento dos alvéolos e dos ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2007.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 19

6. Ricketts RM. Um método de 4 (quatro) passos para distinguir as 12. Petrovic AG, Stutzmann JJ. Metodologia de pesquisa empregada
mudanças ortodônticas do crescimento natural. OrtodontiaSPO. nos achados dos estudos de crescimento craniofacial. In: Graber
1979;12(1):36-47. TM, Rakosi T, Petrovic AG. Ortopedia dentofacial com aparelhos
7. Silva FLBS. Avaliação cefalométrica do crescimento craniofacial funcionais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. p.
em crianças leucodermas brasileiras, com má oclusão de Classe 13-34.
II durante as fases de crescimento determinadas pela maturação 13. van Limborgh J. Factors controlling skeletal morphogenesis. Prog
das vértebras cervicais [tese]. Bauru: USP; 2010. Clin Biol Res. 1982;101:1-17.
8. Mercadante MMN. Radiografia de mão e punho. In: Ferreira FV. 14. van der Linden FPGM. Crescimento e ortopedia facial. Rio de Ja-
Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. 4. ed. São Paulo: neiro: Quintessence; 1990.
Artes Médicas; 2001. 15. Schudy FF. The rotation of the mandible resulting from growth: its
9. Santos SCN, Almeida RR, Henriques JFC, Bertoz FA, Almeida RR. implications in orthodontic treatment. Angle Orthod. 1965;35:36-
Avaliação de um método de determinação do estágio de matu- 50.
ração esquelética utilizando as vértebras cervicais presents nas 16. Larsen WJ. Embriología humana. 3. ed. Madrid: Elsevier; [2003].
telerradiografias em norma lateral. Rev Dent Press Ortodon Ortop
Facial. 1998;3(3):67-79.
10. Moyers RE. Ortodontia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
1991.
LEITURA RECOMENDADA
11. Amabis JM, Martho GR. Biologia das células: origem da vida, cito-
Moore KL, Persaud TVN. Embriologia clínica. 8. ed. Rio de Janeiro: El-
logia e histologia, reprodução e desenvolvimento: ensino médio. 2.
sevier; 2008.
ed. São Paulo: Moderna; 2007.

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C A P Í T U LO 3

Classificação das más oclusões


Ricardo Lombardi de Farias
Rejane Targino Soares Beltrão
Karina Jerônimo Rodrigues Santiago de Lima
Ednara M. F. de Andrade

É bastante conhecida a definição de saúde do preâmbulo


da Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS):1
“Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental
e social, e não apenas a ausência de doenças”. Partindo
desse princípio, pode-se dizer que os “desvios da normali-
dade” da oclusão dentária – independente de apresentarem
ou não sintomas – estão entre as patologias de maior pre- FIGURA 3-1 Descrição da chave de molar, de acordo com o ar-
valência no ser humano. tigo publicado por Angle.2
Tais desvios são conhecidos como más oclusões den-
tárias e, dependendo do grau de comprometimento das
era bem mais amplo – aspecto que também determinaria
estruturas mais diretamente envolvidas (dentes, ossos e
a necessidade de uma classificação dos seus desvios de
musculatura), seus efeitos negativos não apenas serão ma-
normalidade, igualmente mais abrangente.
nifestados na face, como também repercutirão em outras
Adotando como referência (hipótese) a estabilidade
partes do organismo.
dos primeiros molares permanentes superiores, Angle lan-
Tal abordagem leva ao conceito de que as más oclusões
çou como proposta de “classificação das más oclusões” as
dentárias são nocivas à saúde ou facilitadoras de doença.
consagradas: Classe I, Classe II e Classe III (Figura 3-1).
Como qualquer tipo de “doença”, as más oclusões
Tratando-se de uma classificação secular e aparente-
dentárias devem ser compreendidas por meio de diagnósti-
mente simples, o principal legado de Angle2 jamais perdeu
cos, cujas precisões serão determinantes nos êxitos das fa-
a sua “força científica”. Muito pelo contrário: ao longo dos
ses seguintes, que envolverão: planejamentos e execuções
seus 114 anos de existência (1899-2013), ela ainda é o
de tratamentos. É importante que essa sequência esteja
tema principal de milhares de trabalhos científicos (clínicos
embasada em evidências científicas – caminho único para
e acadêmicos) que contribuem a cada momento com outra
alcançarmos os bons e previsíveis resultados.
de suas principais características: a comunicação universal.
Uma das “evidências científicas” mais consolidadas na
literatura diz respeito à necessidade de trabalharmos com
um sistema de classificação eficiente e capaz não apenas
de agrupar e rotular as anomalias, mas também de pos-
CLASSIFICAÇÃO DE ANGLE
sibilitar aos seus usuários uma perfeita compreensão dos
Classe I
problemas e de suas dimensões.
Nesse sentido, a ortodontia encontra-se muito bem Angle2 definiu a má oclusão de Classe I como um relacio-
servida, por contar com a famosa Classificação das más namento mesiodistal normal entre os arcos dentários, com
oclusões,2 trazida ao mundo, em 1899, pelo seu brilhante os primeiros molares ocluindo corretamente, embora um ou
patrono, Prof. Edward Hartley Angle (1855-1930). mais dentes possam estar lingualizados, ou vestibularizados
Em seu antológico trabalho, percebe-se que Angle es- (Figura 3-2).
tava insatisfeito com a maneira de se classificar as anoma- Pelo fato de a Classe I preservar um bom relaciona-
lias da oclusão – “apenas” com a descrição de irregularida- mento oclusal no segmento posterior (região dos mola-
des dos dentes. Para ele, o conceito de oclusão dentária res), a mesma pode ser considerada como uma anomalia

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frequente a observação de maus posicionamentos


dentários, nos mais variados graus e intensidades, prin-
cipalmente na região anterior superior e inferior.
Sendo o desalinhamento dentário a principal ca-
racterística da má oclusão de Classe I, não são obser-
FIGURA 3-2 Definição da má oclusão de Classe I, de acordo vados maiores comprometimentos nas estruturas es-
com o artigo publicado por Angle.2 queléticas e musculares.
• Perfil facial: Na existência de um bom relacionamento
eminentemente dentária, anteroposterior das bases esqueléticas (maxila e man-
sem maiores envolvimen- díbula), é comum observarmos um perfil facial equilibra-
tos esqueléticos e/ou do nos indivíduos portadores de má oclusão de Classe
musculares. I, semelhante aos portadores de oclusão normal (Figura
Esse tipo de má oclu- 3-5). Eventualmente, algum tipo de comprometimento
são tem como caracterís- pode acontecer por conta de casos extremos de bipro-
tica principal apresentar trusão ou mordida aberta anterior.2,3
uma correta relação ante- • Etiologia: A má oclusão de Classe I é de origem here-
roposterior entre os primei- ditária, tendo como forte característica a discrepância
ros molares permanentes, entre o tamanho dentário e as bases ósseas alveolares,
superiores e inferiores. Ou condição que é verificada pela constatação clínica de
FIGURA 3-3 Relação molar de seja, uma relação de mola- apinhamentos (discrepâncias negativas) ou diastemas
Classe I. res normal, onde a cúspide (discrepâncias positivas).
mesiovestibular do primei- • Outras evidências: Muitas outras constatações clínicas
ro molar superior oclui no sulco mesiovestibular do primeiro de desvios de normalidade na Classe I são atribuídas à
molar inferior (Figura 3-3).2 presença de hábitos bucais deletérios, que podem ser
Uma vez observada a estabilidade oclusal posterior, determinantes dos seguintes quadros:
suas principais alterações acontecem nos segmentos ante- • Mordida aberta anterior: hábitos de sucção; inter-
riores dos arcos dentários, com um ou mais dentes em má posição de língua e lábio;
posição (Figura 3-4).2 • Mordida cruzada posterior: derivada de respiração
bucal e/ou hábitos de sucção;
Classe I – Complementações (clínicas e cefalométricas) • Protrusão superior: proveniente de hábitos de suc-
• Displasia dentária: É nas estruturas dentárias que a ção de dedos ou objetos, assim como de interpo-
má oclusão de Classe I mostra a sua maior desarmo- sição de língua e lábio;
nia. Apesar de os dentes posteriores (molares) estarem • Mordida cruzada anterior: consequência de api-
bem relacionados no sentido anteroposterior, é muito nhamento superior com forte participação da mus-

FIGURA 3-4 Má oclusão de Classe I com apinhamento anteroinferior. (Fotografias gentilmente cedidas pela Dra. Rosa Helena
Wanderley Lacerda.)

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 23

FIGURA 3-8 Mordida aberta posterior.


FIGURA 3-5 Perfil facial da má oclusão de Classe I.

culatura labial; hipertrofia de tonsilas faringeanas;


hipertrofia de adenoides; postura de língua alterada
e/ou inserção curta de língua.
• Outras alterações: as más oclusões de Classe I po-
dem apresentar alterações transversais, verticais e
anteroposteriores – isoladas ou combinadas.4 Em
relação às alterações transversais, é comum en-
contrarmos as mordidas cruzadas posteriores e as
síndromes de Brodie (cruzadas reversas), além de
atresias dos arcos dentários. Com relação às al-
terações verticais, observam-se as sobremordidas
profundas ou o trespasse vertical acentuado (Figu- FIGURA 3-9 Má oclusão de Classe I com apinhamento ante-
ra 3-6); as mordidas abertas anteriores (Figura 3-7); roinferior.
as mordidas abertas posteriores (Figura 3-8); ou as
mordidas abertas com-
pletas com inclinação do
plano oclusal, e contatos
apenas nos posteriores.
Finalmente, no senti-
do anteroposterior, podem
existir as alterações no
trespasse horizontal, indo
desde as sobressaliências
acentuadas (positivas) até
FIGURA 3-6 Sobremordida.
as mordidas cruzadas an-
teriores (sobressaliências
negativas).
FIGURA 3-10 Má oclusão de Classe I com biprotrusão.
Além dessas altera-
ções, também podemos
observar más posições
Classe II
dentárias individuais, como
excesso de espaços carac- Angle2 definiu a má oclusão de Classe II como um po-
terizado pela presença de sicionamento mesiodistal anormal dos arcos dentários,
diastemas e falta de espaço com todos os dentes inferiores ocluindo distalizados
nos arcos causando api- em relação aos superiores e produzindo uma acentuada
FIGURA 3-7 Mordida aberta nhamentos e/ou biprotru- desarmonia na região dos incisivos e nas linhas faciais
anterior. sões (Figuras 3-9 e 3-10). (Figura 3-11).

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atresia do arco superior. Também é acompanhada por uma


função anormal dos lábios e por alguma forma de obstru-
ção nasal e respiração bucal (Figura 3-13).
A Classe II, divisão 2 (ou 2ª divisão), é caracterizada
pela inclinação lingual dos incisivos superiores e pelo arco
FIGURA 3-11 Definição da má oclusão de Classe II, de acordo superior menos atrésico. Também é associada a funções
com o artigo publicado por Angle.2 normais, nasal e labial (Figura 3-14).
Quando a Classe II (divisão 1 ou 2) apresenta a re-
Dessa forma, o sulco mesiovestibular do primeiro molar lação molar em apenas um dos lados, utiliza-se o termo
permanente inferior apresenta-se distalizado em relação à subdivisão. Assim, um paciente com Classe II, divisão 1,
cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior, sendo subdivisão esquerda, apresenta a relação molar de Classe
também chamado de distoclusão (Figura 3-12). II do lado esquerdo e a chave de molar em neutroclusão
A Classe II de Angle2 tem duas divisões, podendo, do lado direito (Figura 3-15). Da mesma forma, outro pa-
eventualmente, cada uma delas apresentar uma subdivisão. ciente que apresente uma Classe II, divisão 2, subdivisão
direita, apresenta a relação molar de Classe II do lado direi-
Divisão 1 to e a chave de molar em neutroclusão do lado esquerdo
CLASSE II Subdivisão (Figura 3-16).
Divisão 2
Classe II, divisão 1 – Complementações
A Classe II, divisão 1 (ou 1ª divisão), é caracterizada (clínicas e cefalométricas)
pela inclinação vestibular dos incisivos superiores e pela • Displasia esquelética: Embora o que mais se observe
nas más oclusões de Classe II, divisão 1, seja o pouco
desenvolvimento mandibular em sentido anteropos-
terior (retrognatismo),5,7 essas discrepâncias maxilo-
mandibulares podem ser devidas não apenas a uma
deficiência mandibular isolada, mas também a uma
combinação com a maxila, no que diz respeito ao prog-
natismo e/ou retrognatismo em cada uma das bases
ósseas.5 Já no sentido transversal, comumente se ob-
servam a atresia maxilar8,9 e a presença de um palato
mais profundo.10
FIGURA 3-12 Relação molar de Classe II.

FIGURA 3-13 Classe II, divisão 1.

FIGURA 3-14 Classe II, divisão 2.

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FIGURA 3-15 Classe II, divisão 1, subdivisão esquerda.

FIGURA 3-16 Classe II, divisão 2, subdivisão direita.

• Displasia dentária: Os dentes não se articulam corre- II, muito provavelmente alguns de seus antepassados
16
tamente. Além da relação molar-canino de Classe II, também a exibiu.
observam-se também: incisivos superiores inclinados • Outras evidências: Estando a Classe II, divisão 1, su-
5,11-13
para vestibular e/ou protruídos na maxila; sobres- bordinada a uma série de condicionantes morfológicos
8,9,14
saliência acentuada; sobremordida normal,9 mode- e funcionais, as Figuras 3-17 a 3-24 oferecem uma me-
12 6,13,14
rada ou profunda; mordida aberta6 e tendência a lhor visualização das várias combinações dentárias e
8,9
mordida cruzada posterior (Figura 3-13). esqueléticas envolvidas nessa anomalia.
• Displasia muscular: Dependendo do grau de desar-
monia entre as estruturas esqueléticas e dentárias, é Classe II, divisão 2 – Complementações
natural constatarmos nas Classes II, divisão 1, um (clínicas e cefalométricas)
comprometimento funcional muscular que, por sua vez, • Displasia esquelética: Alguns estudos científicos não
contribui para a acentuação do problema. Geralmente evidenciaram a existência de discrepância maxiloman-
se observa falta de selamento labial passivo.
13
dibular na Classe II, divisão 2;17,18 porém, alguns auto-
• Perfil facial: O advento da cefalometria e, mais recen- res19 mantêm-se convictos de que a retrusão mandibu-
temente, as análises faciais possibilitaram uma melhor lar também é uma característica comum nesse tipo de
interpretação das desarmonias faciais resultantes dos má oclusão.
maus relacionamentos entre as bases ósseas e os ele- • Displasia dentária: Enquanto os dentes posteriores
mentos dentários. Vem daí a justificativa para explicar a mantêm-se em relação de Classe II, uma das principais
existência rotineira de um perfil convexo, principalmen- características da divisão 2 é a observação de incisivos
te em casos mais severos de desequilíbrio entre as es- centrais superiores lingualizados/verticalizados, junta-
15
truturas envolvidas. mente com seus vizinhos laterais superiores vestibulari-
• Etiologia: Com frequência, a Classe II, divisão 1, de zados (Figura 3-14).
maior comprometimento dentário está associada a pro- • Displasia muscular: Na Classe II, divisão 2, a muscu-
blemas respiratórios e hábitos deletérios. A sucção de latura se apresenta mais equilibrada ou com suaves
dedo/chupeta ou do lábio inferior provoca ou acentua alterações.
o mau relacionamento entre os arcos dentários, assim • Perfil facial: A desarmonia facial não é tão evidente
como a sucção prolongada pode acarretar uma atresia quanto na Classe II, divisão 1. É fácil compreender
do arco superior. Por outro lado, as más oclusões de que, não havendo discrepâncias entre as bases es-
Classe II, divisão 1, de ordem esquelética possuem um queléticas, o perfil facial na Classe II, divisão 2, pode
componente genético em sua etiologia. Assim, quan- ser reto, suavemente convexo ou côncavo (Figura
do um indivíduo apresenta uma má oclusão de Classe 3-25).20,21

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26 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 3-17 Classe II, divisão 1: protrusão dentária superior e FIGURA 3-20 Classe II, divisão 1: protrusão da maxila.
vestibularização dos incisivos superiores. Sem envolvimento es-
quelético.

FIGURA 3-18 Classe II, divisão 1: retrusão dentária inferior. Sem FIGURA 3-21 Classe II, divisão 1: retrognatismo mandibular.
envolvimento esquelético.

FIGURA 3-19 Classe II, divisão 1: incisivos superiores protruídos/ FIGURA 3-22 Classe II, divisão 1: retrognatismo mandibular por
vestibularizados e incisivos inferiores retruídos e extruídos. Há diminuição do comprimento mandibular.
sobressaliência e sobremordida. Interposição do lábio inferior,
aumentando a sobressaliência. Sem envolvimento esquelético.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 27

• Etiologia: Da mesma forma que na Classe II, divisão 1,


o fator hereditário está presente em casos de Classe II,
divisão 2, de ordem esquelética.
• Outras evidências: Um dos sinais patognomônicos
mais característicos da Classe II, divisão 2, é a verti-
calização dos incisivos centrais superiores associada
à sobremordida profunda, sem a presença de sobres-
saliência.20 Tais aspectos, combinados com um bom
relacionamento anteroposterior das bases ósseas, e
mais um forte padrão muscular, servem como proteção
na manutenção de um harmonioso perfil muscular, não
obstante um pouco de perda de altura facial na região
compreendida entre subnasal e pogônio.

FIGURA 3-23 Classe II, divisão 1: retrognatismo mandibular por Classe III
rotação horária da mandíbula. Mordida aberta.
A má oclusão de Classe III foi definida por Angle2 como uma
relação anormal dos maxilares, com todos os dentes infe-
riores ocluindo mesialmente a uma largura normal de um
pré-molar, ou até mais em casos extremos (Figura 3-26).
Com relação à chave de oclusão entre os molares, na
má oclusão de Classe III, os primeiros molares superiores
permanentes encontram-se com as cúspides mesiovestibu-
lares ocluindo distalmente aos sulcos mesiovestibulares dos
primeiros molares inferiores (Figuras 3-27 e 3-28).2

Classe III, subdivisão


A Classe III pode ser encontrada apenas em um lado do
arco dentário, determinando-se a subdivisão, que pode ser
direita ou esquerda, de acordo com o lado onde se verifica
a relação da má oclusão.

CLASSE III Subdivisão

FIGURA 3-24 Classe II, divisão 1: retrognatismo mandibular com Na Figura 3-29 observa-se má oclusão de Classe III,
diminuição do ângulo goníaco. Sobremordida profunda. subdivisão direita, lado em que se apresenta uma relação

FIGURA 3-26 Definição da má oclusão de Classe III, de acordo


com o artigo publicado por Angle.2

FIGURA 3-25 Classe II, divisão 2: incisivos centrais verticaliza-


dos/inclinados para lingual. Ausência de sobressaliência. FIGURA 3-27 Relação molar de Classe III.

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FIGURA 3-28 Classe III.

FIGURA 3-29 Má oclusão de Classe III, subdivisão direita.

de Classe III, enquanto o lado esquerdo apresenta-se com sarmonias esqueléticas encontradas entre a maxila e a
2
relação molar em neutroclusão. mandíbula. Por muito tempo, a má oclusão de Classe III
apresentou-se como sinônimo de prognatismo mandi-
Classe III – Complementações (clínicas e cefalométricas) bular,
22,24
porém diferentes trabalhos têm demonstrado
• Displasia esquelética: A principal característica da má a participação de outros componentes dentoesqueléti-
oclusão de Classe III é o seu comprometimento esque- cos.16,22,25 E, dentre outras, pode-se destacar uma ma-
lético, proveniente de uma posição anteriorizada da xila hipodesenvolvida e retroposta em relação à base
22
mandíbula em relação à base craniana e/ou à maxila. do crânio como uma marcante característica morfológi-
No exame clínico, durante a manipulação da mandíbula ca estrutural da Classe III.
em relação cêntrica, observa-se que as alterações mor- • Etiologia: Sendo a Classe III uma má oclusão de ordem
fológicas faciais persistem, demonstrando a discrepân- esquelética, é compreensível a procedência do compo-
23
cia esquelética entre a mandíbula e a maxila. nente genético em sua etiologia. Na maioria dos casos,
• Displasia dentária: Frente ao desencontro entre as quando um indivíduo apresenta uma má oclusão de
bases ósseas, torna-se evidente, em nível dentário, a Classe III, muito provavelmente algum de seus antepas-
sobreposição do arco inferior ao superior. Essa tendên- sados também a possui (ou possuiu). Esse fato pode
cia é mais observada nos segmentos anteriores, onde ser facilmente comprovado observando-se fotografias
a mordida cruzada envolve inicialmente as estruturas das gerações anteriores.16
dentoalveolares, de forma que os incisivos superiores • Outras evidências: A característica principal da Classe
encontram-se vestibularizados e os inferiores, linguali- III, de acordo com Angle,2 reflete uma alteração dentá-
zados. Em casos mais severos, é comum encontrar- ria, em que o primeiro molar inferior articula-se mesial-
mos o quadro conhecido como mordida cruzada total. mente com o primeiro molar superior. Muito embora o
• Displasia muscular: Induzido pela desarmonia morfo- autor tivesse se referido com mais ênfase ao relaciona-
lógica e funcional das estruturas esqueléticas e dentá- mento entre os molares, essa situação também é ob-
rias, o padrão muscular dos indivíduos portadores de servada nos dentes anteriores aos primeiros molares,
Classe III apresenta rotineiramente uma hipofunção do fato que reforça o termo mesioclusão, quando se abor-
lábio superior, que fica confinado por trás de uma mus- da a Classe III (Figura 3-30).
culatura mais desenvolvida de mentoniano e lábio infe- De acordo com Ellis e McNamara Jr.,22 existem 243
rior. Internamente, a língua também costuma trabalhar possíveis combinações, observando-se 69 variedades em
de forma compensatória em todas as suas funções, no 302 adultos examinados. Dentre essas variações, pode-
sentido de suprir o desequilíbrio funcional existente. -se encontrar a associação da Classe III com outras más
• Perfil facial: O perfil facial dos indivíduos portadores oclusões, como mordida aberta anterior, apinhamento ante-
de Classe III é um forte sinal patognomônico dessa roinferior, mordida cruzada anterior e posterior e trespasse
anomalia; sua apresentação é côncava, devido às de- vertical acentuado, entre outras (Figuras 3-31 a 3-33).

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 29

FIGURA 3-33 Classe III com trespasse vertical anterior acentua-


do. (Fotografia gentilmente cedida pelo Dr. Aníbal Luna.)
FIGURA 3-30 Má oclusão de Classe III, demonstrando em ver-
melho, azul e verde as relações oclusais entre molares, pré-mo-
lares e caninos. • Retrognatismo maxilar: Quando se apresenta deficiên-
cia do terço médio da face, geralmente demonstra-se
um encurtamento maxilar. A região infraorbitária também
se apresenta retruída devido à deficiência maxilar, com a
região malar e o perfil facial côncavos (Figura 3-34).
• Prognatismo mandibular: O perfil facial com protrusão
mandibular demonstra-se mais desagradável, devido à
visualização mais acentuada da mandíbula. Geralmente
a altura facial anterior está aumentada, comparada com
a altura facial posterior, e o giro da mandíbula no sentido
horário mascara o excesso mandibular (Figura 3-35).
• Retrognatismo maxilar e prognatismo mandibular:
Demonstra uma combinação de deficiência maxilar e
protrusão mandibular (Figura 3-36).
• Pseudoclasse III: Durante o estabelecimento de uma
FIGURA 3-31 Classe III com mordida aberta anterior. mordida cruzada anterior, as cabeças mandibulares po-
dem se deslocar da fossa articular para permitir o avanço
da mandíbula que desliza para desviar uma interferência
oclusal, o que possibilita um falso diagnóstico de Classe
III – por isso, muitas vezes, chamada de Pseudoclasse
III. Para o diagnóstico correto, deve-se manipular a man-
díbula, levando as cabeças mandibulares dentro das
fossas mandibulares, em relação cêntrica. Nesse mo-
mento, observa-se o perfil do paciente, que se mostra
normal, comparando-se o tamanho da mandíbula com
o da maxila, havendo uma harmonia. Também é comum
que as inclinações dos incisivos e a relação interarcos
apresentem-se normais, de forma que a borda dos inci-
23
sivos superiores e inferiores se contatam topo a topo.
FIGURA 3-32 Classe III com mordida cruzada anterior e posterior.

OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
Na busca de uma melhor compreensão do relaciona-
mento entre maxila e mandíbula, alguns estudos demons- Não obstante a Classificação de Angle ser a principal re-
traram que, em média, 65% das más oclusões de Classe III ferência para a classificação das más oclusões, não seria
estão associadas a uma deficiência maxilar, com 30% des- coerente deixar de mencionar neste capítulo outras propos-
sas más oclusões exibindo uma associação com protrusão tas classificatórias. Algumas são anteriores ao trabalho de
25-27
mandibular. De acordo com Menezes e Dutra28 e Koo Angle; outras, posteriores. Todas com o objetivo de contri-
29
e colaboradores, a má oclusão de Classe III esquelética buir, com um maior detalhamento de aspectos, para o sem-
caracteriza-se pelas seguintes combinações faciais: pre almejado embasamento científico.

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FIGURA 3-34 Classe III esquelética com FIGURA 3-35 Classe III com mandíbula FIGURA 3-36 Classe III com maxila re-
maxila retruída. protruída. truída e mandíbula protruída.

Classificação de Lischer • Distoversão: o dente apresenta-se mais para distal, em


30
relação à sua posição ideal.
Lischer, em 1911, descreveu as más posições dentárias
• Linguoversão: o dente apresenta-se mais para lingual,
preservando a individualidade de cada estrutura. Sua classi- em relação à sua posição normal.
ficação define as alterações de posição usando a adição do
• Vestibuloversão: o dente apresenta-se mais para vesti-
sufixo “versão” à palavra indicadora da direção para a qual o bular, em relação à sua posição ideal.
dente se desvia da posição normal.
• Infraversão: o dente encontra-se aquém da linha de
Os termos sugeridos por Lischer30 são usados para de- oclusão.
monstrar anomalias individuais dos dentes que influenciam
• Supraversão: quando o dente encontra-se além da li-
a oclusão com malformação do processo alveolar (Figura nha de oclusão.
3-37) e sem necessariamente alterações maxilomandibula-
• Axiversão: o dente tem o seu longo eixo inclinado para
res e das características faciais. mesial ou distal.
Esses termos podem ser utilizados de forma combina-
• Giroversão: o dente envolvido está girado em torno do
da para determinar duas ou mais alterações em um mesmo seu próprio eixo.
dente.
• Transposição: quando dois dentes trocam de posição
• Mesioversão: o dente encontra-se mais próximo à linha no arco dentário.
mediana quando comparado à sua posição normal. • Perversão: indica a impactação do dente, que normal-
mente acontece por falta de espaço no arco.

T.V. LA.V.
M.LA.V.

M.V. TR.V. LA.V. A.V. L.V.


T.V. S.V. M.V.

D.V.
L.V.
B.V.

L.V.

I.V. D.V.

LA.V. = LABIOVERSÃO
L.V. = LINGUOVERSÃO TR.V. = TRANSVERSÃO T.V. = TORSIVERSÃO
T.V. = TORSIVERSÃO LA.V. = LABIOVERSÃO L.V. = LINGUOVERSÃO
D.V. = DISTOVERSÃO
A.V. = AXIVERSÃO S.V. = SUPRAVERSÃO
M.V. = MESIOVERSÃO
B.V. = BUCOVERSÃO M.V. = MESIOVERSÃO I.V. = INFRAVERSÃO
M.LA.V. = MESIOLABIOVERSÃO D.V. = DISTOVERSÃO

FIGURA 3-37 Classificação de Lischer. Fonte: Adaptada de Graber.31

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 31

4. Simon PW. Fundamental principles of a systematic diagnosis of


anomalies: a handbook for research and practice. Boston: Stra-
tford; 1926.
2
5. McNamara JA Jr. Components of class II malocclusion in children
8-10 years of age. Angle Orthod. 1981;51(3):177-202.
6. Sassouni V. A classification of skeletal facial types. Am J Orthod.
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1969;55(2):109-23.
7. Ursi WJS, McNamara Jr JA. Crescimento craniofacial em pacien-
tes apresentando maloclusões de classe II e oclusão normal, entre
os 10 e os 12 anos de idade. Rev Dent Press Ortodon Ortop Fa-
cial. 1997;2(5):49-59.
3 8. Baccetti T, Franchi L, McNamara JA Jr, Tollaro I. Early dentofa-
cial features of Class II malocclusion: a longitudinal study from the
deciduous through the mixed dentition. Am J Orthod Dentofacial
FIGURA 3-38 Classificação de Simon. 1) Plano de Frankfurt; 2) Orthop. 1997;111(5):502-9.
Plano sagital mediano; 3) Plano orbital. 9. Staley RN, Stuntz WR, Peterson LC. A comparison of arch widths
in adults with normal occlusion and adults with class II, Division 1
malocclusion. Am J Orthod. 1985;88(2):163-9.
Classificação de Simon 10. Buschang PH, Stroud J, Alexander RG. Differences in dental arch
morphology among adult females with untreated Class I and Class
Em 1922, Simon4 classificou as más oclusões relacionan-
II malocclusion. Eur J Orthod. 1994;16(1):47-52.
do os arcos dentários a três planos anatômicos: o plano 11. Angle EH. Treatment of malocclusion of the teeth. 7th ed. Philadel-
de Frankfurt, o plano saginal mediano e o plano orbital phia: The S. S. White Dental Manufacturing; 1907.
(Figura 3-38). 12. Brandão AMB, Domínguez-Rodríguez GC, Capelozza Filho L. Ava-
Denominaram-se as alterações verticais, relacionando liação comparativa entre as características da má oclusão Cl II Div.
o plano de Frankfurt aos arcos dentários, de atração, quan- 1ª obtidas pela cefalometria e análise facial subjetiva. Rev Dent
do os dentes se aproximam deste plano (extrusão dos den- Press Ortodon Ortop Facial. 2001;6(2):33-40.
13. Feldmann I, Lundström F, Peck S. Occlusal changes from adoles-
tes inferiores e intrusão dos dentes superiores), e abstração,
cence to adulthood in untreated patients with Class II Division 1
quando os elementos dentais se afastam. deepbite malocclusion. Angle Orthod. 1999;69(1):33-8.
Em relação ao plano sagital mediano, os arcos dentá- 14. Bishara SE. Mandibular changes in persons with untreated and
rios apresentam-se alterados no sentido transversal, poden- treated Class II division 1 malocclusion. Am J Orthod Dentofacial
do estar com contração, quando um segmento do arco ou Orthop. 1998;113(6):661-73.
dente se aproxima do plano, ou distração, quando estes 15. Bishara SE, Jakobsen JR, Vorhies B, Bayati P. Changes in den-
estão afastados do plano sagital mediano. tofacial structures in untreated Class II division 1 and normal sub-
jects: a longitudinal study. Angle Orthod. 1997;67(1):55-66.
As anomalias anteroposteriores referem-se à relação
16. Almeida RR, Almeida Pedrin RR, Almeida MR, Garib DG, Almeida
do arco com o plano orbital, e denomina-se prostração a PCMR, Pinzan A. Etiologia das más oclusões: causas hereditárias
anteriorização do arco dentário, e retração o deslocamento e congênitas, adquiridas gerais, locais e proximais (hábitos bucais).
para posterior. Rev Dent Press Ortodon Ortop Facial. 2000;5(6):107-29.
17. Demisch A, Ingervall B, Thüer U. Mandibular displacement in Angle
Class II, division 2 malocclusion. Am J Orthod Dentofacial Orthop.
1992;102(6):509-18.
AGRADECIMENTO 18. Peck S, Peck L, Kataja M. Class II Division 2 malocclusion: a heri-
table pattern of small teeth in well-developed jaws. Angle Orthod.
Agradecemos ao Sr. Aldemberg da Silva Ferreira o traba-
1998;68(1):9-20.
lho realizado nas ilustrações deste capítulo. 19. Pancherz H, Zieber K, Hoyer B. Cephalometric characteristics of
Class II division 1 and Class II division 2 malocclusions: a compara-
tive study in children. Angle Orthod. 1997;67(2):111-20.
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em 3 set. 2013]. Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp. cephalometric and arch width characteristics of Class II division
br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da- 1 and division 2 malocclusions. Eur J Orthod. 2006;28(2):179-
-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude- 83.
-omswho.html. 22. Ellis E 3rd, McNamara JA Jr. Components of adult Class III maloc-
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32 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

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In: McNamara JA Jr, Brudon WL. Orthodontic and orthopedic treat- efeito de forças ortopédicas no tratamento da maloclusão de
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dade contemporânea. In: Ortodontia contemporânea. São Paulo: ricana; 1980.
Pancast; 1991. p. 2-15.

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C A P Í T U LO 4

Desenvolvimento da oclusão dentária


Bernardo Quiroga Souki
Cybelle Luísa de Souza Pereira
Izabella Lucas de Abreu Lima
Daniel Figueiredo

As mudanças vividas pela odontologia nas últimas décadas, gios: pré-dental, erupção dos dentes decíduos e dentadura
decorrentes da redução drástica na prevalência da doença decídua madura.1
cárie, determinaram um novo papel para os cirurgiões-
-dentistas que se prontificam ao atendimento de crianças
e adolescentes. O monitoramento do desenvolvimento da
Pré-dental
oclusão dentária, dentro de um programa permanente de Também conhecido como período dos roletes gengivais,
saúde bucal, faz parte do espectro de responsabilidades caracteriza-se pelos abaulamentos gengivais espessos e
confiadas a esses profissionais. Tal acompanhamento deve segmentados que indicam o local de desenvolvimento dos
contribuir para o desenvolvimento de uma dentadura per- germes dentários. A arcada superior apresenta formato de
manente saudável nos aspectos funcionais e estéticos.1 ferradura e se encontra posicionada anteriormente à arca-
Neste capítulo optou-se por utilizar a classificação da da inferior, mais estreita e em forma de U. Não existe uma
biogênese da oclusão dentária em três momentos distin- padronização ou relação fixa entre maxila e mandíbula, mas
tos: as dentaduras decídua, mista e permanente. Tal no- geralmente se observam contatos entre os roletes gengi-
menclatura é de uso simples pelos clínicos, permitindo uma vais posteriores e o espaçamento entre os arcos anteriores
boa comunicação entre os profissionais e o núcleo familiar (Figura 4-1).2 A relação entre mandíbula e maxila observa-
no dia a dia. Para as fases de dentaduras decídua e mista da neste período não é preditiva de alterações ósseas ou
adotaram-se, ainda, algumas subdivisões, para facilitar o oclusais futuras.2 Entretanto, deve-se enfatizar que a ama-
entendimento. mentação desenvolve importante papel no crescimento e
Antes de iniciar a descrição das características de nor- desenvolvimento dessas estruturas.3
malidade no desenvolvimento da oclusão dentária, faz-se Ao nascimento, os dentes decíduos se encontram api-
necessária a diferenciação dos termos dentição e denta- nhados em suas bases ósseas. Porém, no primeiro semes-
dura, usados muitas vezes de maneira incorreta. Os seres tre de vida, ocorre um extenso crescimento da mandíbula
humanos são difiodontes, ou seja, têm duas dentições: uma
decídua e outra permanente. Entretanto, durante o proces-
so de maturação, passamos por diversos estágios de de-
senvolvimento da oclusão, que vão determinando diferentes
dentaduras: decídua, mista e permanente. Assim, o termo
dentição deve ser empregado para designar os dois tipos
de dentes, enquanto o termo dentadura indica o conjunto
de dentes dentro de suas bases ósseas.1

DENTADURA DECÍDUA
Para um melhor entendimento do desenvolvimento da den- FIGURA 4-1 Visão lateral dos roletes gengivais. Observa-se con-
tadura decídua, que acontece desde o nascimento até o tato dos roletes posteriores e espaçamento entre os arcos ante-
período imediatamente anterior à erupção do primeiro dente riores. Observa-se, ainda, o posicionamento anterior da maxila
permanente, este assunto será apresentado em três está- em relação à mandíbula. Fonte: Toledo.4

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34 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

e da maxila, tanto no sentido transversal (sutura palatina permanentes, exceto nas situações onde fatores etiológicos
mediana e sínfise mandibular) quanto no sagital. Esse cres- extremos possam estar presentes.
cimento, na maioria dos casos, é suficiente para que a erup- Em 1950, Baume10 descreveu dois tipos de arcos den-
ção dos dentes decíduos ocorra sem apinhamento.2,5 tários decíduos. No arco do tipo I existem diastemas gene-
Ocasionalmente, observa-se a presença de dentes na- ralizados e no arco do tipo II, nenhum espaçamento inter-
tais (presentes ao nascimento) ou neonatais (irrompem até dentário, apenas o espaço primata pode ser identificado.
30 dias após o nascimento). Nesses casos, cabe ao odon- Os dois tipos de relação dentoalveolar descritos por Bau-
topediatra e/ou ao pediatra definirem a melhor conduta a me são considerados normais. Porém, incisivos alinhados
ser tomada.6,7 e sem diastemas têm 75% de chance de se apresentarem
apinhados no futuro.11 É importante salientar que é possí-
vel haver, em uma mesma criança, um arco tipo I em uma
Erupção dos dentes decíduos arcada dentária, enquanto a outra é do tipo II (Figura 4-2).
A erupção dos dentes decíduos inicia-se, geralmente, seis O espaço primata independe do tipo de arco (I ou II
meses após o nascimento da criança. Quase sempre os pri- de Baume) e está localizado mesialmente aos caninos decí-
meiros dentes decíduos a irromper são os incisivos centrais duos no arco superior e distalmente aos caninos decíduos
inferiores e, antes dos 3 anos de idade, todos os dentes de- no arco inferior (Figura 4-2). Seu tamanho pode variar em
cíduos já se encontram irrompidos.2 A cronologia da erupção um mesmo indivíduo e entre diferentes indivíduos. Em um
é muito variável e parece haver uma tendência à precocidade estudo conduzido com 350 crianças brasileiras, os espaços
na transição entre dentadura decídua e mista em crianças primatas foram mais prevalentes na maxila (97%) do que na
com padrões eruptivos precoces dos dentes decíduos.8 mandíbula (78%).12
A sequência de erupção também é bastante variável, e Os dentes decíduos encontram-se verticalizados em
essa variabilidade costuma não causar nenhuma alteração suas bases ósseas e a angulação interincisivos está próxima
no desenvolvimento da oclusão. Apesar de serem muito ra-
ras nessa etapa do desenvolvimento, deve-se ficar atento à
erupção ectópica e à impacção dental. A sequência erupti- Arco tipo I de Baume
va mais observada é: I, II, IV, III e V.1
O desenvolvimento da dentadura decídua pode ser di-
vidido em quatro fases distintas, com características bem
peculiares: erupção dos incisivos, erupção e intercuspida-
ção dos primeiros molares, erupção dos caninos, erupção
dos segundos molares.

Fase I – Erupção dos incisivos


Caracteriza-se por uma sobremordida acentuada, causada
pela ausência dos dentes posteriores. Além disso, a fossa ar-
ticular praticamente inexistente e o côndilo mandibular pouco
desenvolvido permitem amplas excursões mandibulares.1,9
Arco tipo II de Baume
Fase II – Erupção e intercuspidação dos primeiros molares
Nesse momento ocorre o primeiro ganho de dimensão ver-
tical de oclusão (DVO) e, consequentemente, observa-se
uma redução da sobremordida. Essa fase se caracteriza
pela estabilidade dos arcos dentários nos sentidos trans-
versal e sagital.5

Fase III – Erupção dos caninos


Observa-se o estabelecimento e a manutenção dos espa-
ços primatas entre os caninos e os incisivos laterais supe-
riores e entre os caninos e os primeiros molares inferiores.

Fase IV – Erupção dos segundos molares


FIGURA 4-2 Arcos de Baume. Tipo I – apresenta diastemas ge-
Caracteriza-se pela consolidação do primeiro ganho de neralizados entre os incisivos (•), além dos espaços primatas (*).
DVO e pela aquisição de maturidade oclusal. Essa condi- Tipo II – não apresenta espaçamento dentário, apenas os espa-
ção se manterá estável até a erupção dos primeiros dentes ços primatas podem estar presentes.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 35

dos 180°. Na região posterior não se observa curva de Wilson tradas são os diastemas interincisivos e a variabilidade nos
nem de Spee (Figura 4-3).5 trespasses vertical e horizontal.14
No plano sagital, o engrenamento dentário ideal ocorre
quando o longo eixo dos caninos decíduos superiores oclui
Dentadura decídua madura
na ameia interproximal dos primeiros molares e dos caninos
decíduos inferiores (Figura 4-3). Essa relação é classificada Dos 2,5 aos 5 anos de idade, durante a maturidade da den-
como normo-oclusão e pode ser encontrada em 60% das tadura decídua, ocorrem poucas alterações dimensionais
crianças brasileiras.13 Na região anterior, um trespasse hori- nos arcos dentários.5 Entretanto, algumas mudanças po-
zontal de 0-3 mm é considerado normal. dem acontecer nesse estágio. Destacam-se:
Transversalmente, as cúspides palatinas dos molares
• Pequena migração mesial fisiológica dos segundos mo-
decíduos superiores ocluem nas fossas centrais dos seus lares decíduos (principalmente os inferiores), causada
antagonistas, enquanto as superfícies palatinas dos cani- pela movimentação pré-eruptiva dos primeiros molares
nos decíduos superiores estão em contato com a superfície permanentes. Tal fato favorece a diminuição dos dias-
vestibular dos caninos e dos primeiros molares decíduos temas entre os molares decíduos. Consequentemente,
inferiores (Figura 4-3). pode ser observada uma diminuição do perímetro e do
No aspecto vertical, um trespasse vertical de até 2/3 de comprimento da arcada.
cobertura incisal pode ser considerado normal (Figura 4-3).
• Desgaste oclusal por abrasão mecânica e crescimento
É importante destacar que há uma baixa incidência mandibular podem levar a uma relação dentária anterior
de todas essas características ideais identificáveis em uma de topo e a uma alteração do engrenamento sagital.
mesma criança. As características mais comumente encon-
• Desgaste interproximal ou perda prematura dos dentes
decíduos (lesões cariosas, restaurações insatisfatórias,
extrações precoces) também podem causar uma alte-
ração da relação sagital e vertical interarcos.
• Alteração positiva ou negativa das distâncias interca-
ninos e intermolares. As alterações variam de acordo
com o sexo e o tipo de arco dentário.15
Sagital • Fatores ambientais (p. ex., sucção digital, interposição
lingual) podem causar mordidas cruzadas posteriores
e/ou mordida aberta anterior. Os hábitos deletérios
que persistem após os 4 anos de idade têm maior
chance de causar danos oclusais irreversíveis espon-
taneamente.16

DENTADURA MISTA
Transversal
A fase de dentadura mista é caracterizada pela presença
tanto de dentes decíduos quanto de dentes permanentes
na cavidade oral.2,5,17 A substituição dos dentes decíduos
pelos permanentes acontece ao longo dos anos, em pe-
ríodos distintos. Existem diversas formas de se classificar
e estudar a evolução da dentadura mista. Neste capítulo
está sendo adotada a classificação proposta por van der
Linden,5 na qual três períodos são identificados. No primeiro
Vertical período transitório os incisivos são trocados. No segundo
período transitório os caninos e os molares decíduos são
substituídos pelos seus sucessores. Entre eles está o pe-
ríodo intertransitório.

FIGURA 4-3 Oclusão ideal da dentadura decídua nas visões sa- Primeiro período transitório (erupção dos
gital, transversal e vertical. Observe: chave de caninos decíduos primeiros molares e dos incisivos permanentes)
(sagital); dentes decíduos verticalizados em suas bases ósseas,
ausência das curvas de Spee e Wilson (transversal) e trespasse Os dentes permanentes iniciam a fase pré-eruptiva após a
vertical dos incisivos de 1/3 a 1/2 de coroa. formação completa da coroa, tendo entre 2 e 5 anos para

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alcançar a crista alveolar e mais 1-2 para chegar à oclusão.2 mesial tardio do primeiro molar permanente inferior duran-
Nessa fase pré-eruptiva os germes dos dentes permanen- te o segundo período transitório, após a esfoliação do se-
tes movimentam-se dentro do osso, para fora, para cima e gundo molar decíduo inferior, no “Espaço E” (Figura 4-4).
para baixo, à medida que os maxilares crescem em altura, Ocasionalmente, pode ocorrer um degrau mesial na distal
18
largura e comprimento. Um dente permanente começa dos segundos molares decíduos; nesse caso, os primeiros
seu movimento de erupção após 1/4 do comprimento to- molares permanentes terão uma tendência de erupção em
5
tal de sua raiz ter sido alcançado. Variações na sequência uma relação de Classe III (Figura 4-4). Uma situação con-
de erupção dos dentes permanentes são comuns, mas, em trária seria a presença de um degrau distal posterior aos
geral, a erupção dos dentes permanentes inferiores antece- segundos molares decíduos, levando os primeiros molares
de a dos dentes superiores.5 permanentes a uma erupção em relação de Classe II (Fi-
A transição da dentadura decídua para a permanente gura 4-4). Entretanto, deve ser ressaltado que todas essas
começa por volta dos 6 anos de idade, geralmente com a características da dentadura decídua, que influenciam o
erupção dos primeiros molares permanentes, seguidos pe- estabelecimento da oclusão posterior, podem ser significa-
2,5,17
los incisivos permanentes. No entanto, não é incomum tivamente influenciadas pelo crescimento maxilar e mandi-
2,17
a erupção dos incisivos inferiores permanentes antes dos bular que ocorre durante esse período. Além do diâmetro
primeiros molares permanentes. mesiodistal dos molares decíduos, a relação sagital dos pri-
Esses dentes normalmente erupcionam ao mesmo meiros molares permanentes também pode ser influenciada
tempo, podendo ocorrer uma variação normal na sequência por molares decíduos perdidos precocemente ou por di-
de aparecimento na cavidade bucal, sendo que normalmen- mensões mesiodistais de suas coroas reduzidas por lesões
te o molar inferior precede o molar superior.17 de cárie.
5

O processo de remodelação óssea na região poste- A transição dos incisivos é um processo complexo.
rior dos arcos dentários, responsável por um crescimento A perda de um dente decíduo ocorre pela reabsorção
prévio, proporciona espaço para a erupção dos primeiros de sua raiz e, em menor extensão, pela redução do osso
molares permanentes. Os primeiros molares permanentes, que circunda cervicalmente tal raiz. Ambos os processos
tanto superiores quanto inferiores, têm uma orientação de começam bastante cedo. Durante a erupção dos dentes
erupção perpendicular ao plano oclusal, tanto no sentido permanentes, após a esfoliação dos antecessores, o pro-
mesiodistal quanto no vestibulolingual.5 Entretanto, a traje- cesso alveolar que envolverá suas raízes é gradualmente
tória de erupção intraóssea desses dentes é distinta. En- reposto.5
quanto os molares superiores têm inicialmente a sua coroa Os incisivos centrais superiores irrompem geralmente
voltada para distal, e durante os movimentos eruptivos ela um ano depois dos incisivos centrais inferiores. Todavia, tal
gira em torno do próprio eixo, buscando o seu posiciona- erupção acontece pouco tempo após o aparecimento dos
17
mento na cavidade oral, os molares inferiores têm a sua co- incisivos laterais inferiores na cavidade bucal. Por volta
19
roa inclinada para mesial. dos 8 anos de idade, ocorre a erupção dos incisivos laterais
A relação anteroposterior entre os primeiros molares superiores permanentes. A localização dos incisivos e dos
permanentes antagonistas, após a erupção completa, de- caninos permanentes em formação no interior dos arcos é
pende de suas posições previamente ocupadas no interior determinada pelo tamanho da região que esses dentes ocu-
5
dos arcos, das relações sagitais entre as bases ósseas (ma- pam e pelas dimensões de suas coroas.
xila e mandíbula) e das proporções coronárias mesiodistais O diâmetro mesiodistal dos incisivos permanentes é
5
dos molares decíduos superiores e inferiores. Assim, a maior do que o diâmetro mesiodistal dos dentes decíduos
relação oclusal inicial dos primeiros molares permanentes antecessores em ~ 5 mm no arco inferior e 7 mm no arco
também está diretamente relacionada ao posicionamento e superior. O espaço para o posicionamento adequado dos
ao tamanho dos segundos molares decíduos.2 Estando as incisivos no arco é conseguido por alguns mecanismos: 1)
bases ósseas (maxila e mandíbula) bem posicionadas, se consumo do espaço presente entre os incisivos decíduos;
as dimensões mesiodistais dos segundos molares decíduos 2) posicionamento mais labial durante a erupção dos inci-
inferiores e superiores forem normais, esses dentes terão as sivos permanentes (especialmente na maxila), ocupando
superfícies distais alinhadas em plano terminal reto, e assim um perímetro maior no arco; 3) distalização dos caninos
os primeiros molares permanentes irão assumir uma posi- decíduos durante a erupção dos incisivos permanentes; 4)
ção de topo ao entrar em erupção.20 Nesse caso, a fim de aumento da dimensão transversal dos arcos na região dos
2
estabelecer uma adequada chave de molares (relação de caninos (distância intercaninos).
Classe I), faz-se necessário um movimento mesial do pri- A erupção completa dos quatro incisivos superiores e
meiro molar permanente inferior. Tal ajuste pode ser con- inferiores, bem como dos primeiros molares permanentes,
seguido por meio de dois mecanismos: 1) deslocamento marca o final do primeiro período transitório. Geralmente,
mesial precoce dos dentes inferiores posteriores determi- nos 18-24 meses subsequentes, haverá uma pausa no
nando o fechamento do espaço primata; 2) deslocamento aparecimento de dentes permanentes na cavidade bucal.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 37

Ajuste precoce

6 6
E E D
C
Degrau
E D C
mesial E
6 6

Classe III
Espaço primata

Classe I
6 6
Plano E E D C
terminal C
E E D
reto
6 6

Ajuste tardio
Plano terminal reto

6 5 3
4
6 3
E 5 4
Degrau
distal 6
E
6

Classe II “Espaço E’’


(maior na mandíbula)

Classe I
FIGURA 4-4 Ajuste mais provável da relação dos primeiros molares permanentes de acordo com a relação dos segundos molares de-
cíduos. O degrau mesial tende a evoluir para uma relação molar de Classe III. O degrau distal tende a evoluir para uma relação molar de
Classe II. O plano terminal reto evolui para uma relação de primeiros molares permanentes de topo em um primeiro momento (Classe
II); entretanto, dois mecanismos de ajuste podem fazer com que esses dentes se engrenem em Classe I. Pode haver um deslocamento
mesial precoce dos dentes inferiores posteriores por meio da ocupação do diastema primata, bem como um deslocamento mesial
tardio por ocupação do “Espaço E”.

Todavia, o processo de rizogênese dos dentes permanentes te permanente.17 Os incisivos superiores estão inclinados
(tanto daqueles que já irromperam, como dos ainda intraós- labialmente e diastemas entre eles se fazem presentes. No
seos) e de rizólise dos dentes decíduos continua ativo. arco inferior os incisivos estão menos inclinados e raramen-
5
te existe diastema entre eles. Diante da discrepância nega-
tiva de espaço entre os diâmetros mesiodistais dos incisivos
Período intertransitório decíduos e permanentes, é normal que haja um desalinha-
Durante este período, que normalmente acontece entre os mento dentário na região anteroinferior mesmo existindo os
9-10 anos de idade, não ocorre a erupção de qualquer den- mecanismos compensatórios descritos anteriormente. A

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acomodação dos incisivos inferiores sobre o rebordo, mes- A diferença entre a largura mesiodistal das cúspides dos
mo com alguma giroversão, é aspecto de normalidade. molares decíduos e a de seus sucessores permanentes é
Os dentes decíduos na região posterior, ainda presen- chamada de Leeway space. Segundo Nance,22,23 essa dife-
tes, podem estar desgastados pela atrição das superfícies rença é de 1,7 mm, em média, na mandíbula e 0,9 mm na
adjacentes durante a função, bem como pela ação de bru- maxila, em cada quadrante. No entanto, essa medida varia
xismo, que muitas vezes está presente durante esse estágio consideravelmente e deve ser analisada para cada criança.
de vida das crianças.21 A maior discrepância positiva de diâmetros mesiodistais en-
Nesse período é marcante o posicionamento anties- tre dentes decíduos e permanentes acontece na região dos
tético, porém fisiológico, dos incisivos superiores perma- segundos molares decíduos/segundos pré-molares,17 sendo
nentes (período do “patinho feio”). Tal aspecto fisiológico esta “sobra” deixada quando da esfoliação do segundo pré-
se dá pela pressão dos germes dos caninos permanentes -molar, batizada por Gianelly24 como “Espaço E” (Figura 4-6).
superiores nas raízes dos incisivos laterais permanentes O alinhamento adequado dos dentes posteriores per-
adjacentes, causando uma convergência de suas raízes e manentes em cada quadrante depende de variados fatores,
uma divergência e vestibularização das coroas dos incisivos como: a) quantidade de “Espaço E”; b) invasão dos incisi-
permanentes (Figura 4-5).2,5,17 Com a erupção dos caninos, vos permanentes no espaço destinado aos caninos perma-
a pressão é transferida da região apical dos incisivos para nentes; e c) movimentação fisiológica mesial dos molares
a região das coroas, melhorando sua inclinação e fechando permanentes.2
o diastema.2,17 A parte final desta fase do desenvolvimento ocorre com
a erupção dos segundos molares permanentes, geralmen-
te por volta dos 12 anos de idade. Na maioria dos casos,
Segundo período transitório (erupção dos os segundos molares permanentes erupcionam depois que
pré-molares, caninos e segundos molares todos os dentes decíduos tenham se esfoliado e sido subs-
permanentes) tituídos. Contudo, em alguns casos, os segundos molares
permanentes erupcionam enquanto os segundos molares
A segunda parte do desenvolvimento da oclusão é caracte-
decíduos ainda estão presentes na cavidade bucal.5
rizada pela erupção dos pré-molares, dos caninos e dos se-
A erupção dos segundos molares permanentes está
gundos molares permanentes,2,17 iniciando-se normalmente
frequentemente associada a uma redução do comprimen-
entre 10 e 12 anos de idade. A sequência de erupção mais
to do arco, favorecendo um agravamento do apinhamento
frequente dos dentes permanentes, na região posterior da
na região dos incisivos inferiores.25 Caso esses dentes na
mandíbula, é: canino, primeiro pré-molar, segundo pré-mo-
mandíbula erupcionem precocemente (antes da erupção
lar e segundos molares. Na maxila, a sequência geralmente
dos caninos e dos pré-molares), isso pode resultar em uma
é: primeiro pré-molar, segundo pré-molar e caninos simulta-
redução considerável do perímetro do arco e levar a um api-
neamente aos segundos molares. Como consequência, os
nhamento na região dos pré-molares. Ocasionalmente pode
segundos pré-molares inferiores e os caninos permanentes
ocorrer uma falta de espaço na região posterior dos arcos,
superiores são os dentes mais suscetíveis à impacção e à
levando à impacção dos segundos molares permanentes.2
falta de espaço para os mesmos.

~ 0,9 mm

~ 1,7 mm

FIGURA 4-6 “Espaço E” decorrente da diferença de diâmetro


FIGURA 4-5 Fase do “patinho feio”, caracterizada pela angula- mesiodistal dos segundos molares decíduos e segundos pré-mo-
ção distal das coroas dos incisivos em função do posicionamen- lares. No arco superior esta “sobra” é de ~0,9 mm, enquanto no
to das coroas dos caninos superiores. arco inferior estima-se que seja de ~1,7 mm por quadrante.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 39

DENTADURA PERMANENTE
Com a esfoliação do último dente decíduo, inicia-se a fase
de dentadura permanente. Considera-se a dentadura per-
manente completa somente após a intercuspidação dos 28
dentes permanentes (exceção aos terceiros molares), por
volta dos 12-13 anos de idade. O formato dos arcos, bem
como o alinhamento das coroas dentárias, é afetado pelo
equilíbrio muscular do sistema estomatognático. A pressão
dos lábios, das bochechas e da língua tem grande influência
na posição final dos dentes.5 Apesar de as forças musculares a b c
muitas vezes serem de baixa intensidade, a frequência e a
FIGURA 4-7 (a) Primeiros molares permanentes em relação de
duração são suficientes para a modelagem óssea, especial- Classe I de Angle, porém com posicionamento inadequado do
mente diante de fatores morfogenéticos predisponentes.5,17 segundo pré-molar em função da inadequação da inclinação da
As raízes dentárias são distribuídas pelo espaço disponível coroa do molar superior de acordo com a primeira “chave de
no interior dos ossos maxilar e mandibular, sendo que a posi- oclusão” de Andrews. (b) Melhora na inclinação do primeiro molar
ção final dos ápices é determinada principalmente pela mor- superior. (c) Relação molar adequada permitindo o ajuste sagital
fologia dos maxilares e pelo espaço neles existente.5 do segundo pré-molar. Fonte: Adaptada de Andrews.27

Oclusão normal versus oclusão ideal relação molar é diferente da tradicional, proposta por
Edward H. Angle. De acordo com Andrews,27 é possível
A palavra “normal” implica variações em torno de um va- a cúspide mesiovestibular do molar permanente supe-
lor médio, enquanto “ideal” denota um objetivo que reúne rior ocluir no sulco mesiovestibular do molar permanen-
todas as perfeições concebíveis. Uma oclusão pode ser te inferior (como descrito por Angle)26 e, ainda assim,
considerada como normal quando todos os dentes estão haver uma relação inadequada dos molares (Figura 4-7).
presentes e ocluem de maneira estável, saudável e agra- 2. Angulação dentária: refere-se à angulação da coroa no
dável, mas com variações nas posições dentro dos limites sentido mesiodistal. A região cervical do longo eixo de-
aceitáveis.20 A oclusão ideal seria a oclusão perfeita. Talvez veria estar distal à região incisal do dente (Figura 4-8).
ela não exista na prática, mas o dentista deve ter um padrão
ideal em mente, mesmo que nunca seja atingido.20
Angulação de coroa
Os ortodontistas tiveram por mais de um século uma
referência para a avaliação da “normalidade” da oclusão na 5o
fase de dentadura permanente. De acordo com Edward H.
Angle,26 uma oclusão é normal quando a cúspide mesioves-
tibular do primeiro molar superior permanente oclui no sulco
mesiovestibular do primeiro molar inferior permanente, e os
demais dentes do arco estão alinhados. Entretanto, por se
basear essencialmente na relação anteroposterior dos pri-
meiros molares permanentes, a classificação de Angle tem
recebido críticas ao longo dos anos. Ainda assim, a essência
da ideologia dessa classificação prevalece na ortodontia.
Décadas mais tarde, em busca do aprimoramento das
características de normalidade da oclusão, Andrews estu-
dou as características comuns de indivíduos com padrão
oclusal considerado normal, sendo então identificados seis
parâmetros (“chaves”, em sua definição).27 Assim, foram
90o
descritas as características fundamentais de uma oclusão
dentária sob o ponto de vista morfológico, servindo também
Mesial Distal
como guia para a finalização adequada dos tratamentos or-
todônticos. As seis “chaves” são:
1. Relação molar: a vertente distal da cúspide distovesti- Incisivo central superior esquerdo
bular do primeiro molar permanente superior deve ocluir FIGURA 4-8 Angulação da coroa. Longo eixo da coroa medi-
com a superfície mesial da cúspide mesiovestibular do do a partir de uma linha perpendicular ao plano oclusal. Fonte:
segundo molar inferior permanente. Essa descrição da Adaptada de Andrews.27

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40 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

+7o Torque de coroa –7o

FIGURA 4-9 A inclinação da coroa é deter-


90o 90o
minada pelo ângulo resultante entre uma linha
perpendicular ao plano oclusal e uma linha Plano oclusal
tangente à vestibular da coroa clínica. Em (a),
mostrando inclinação de +7o. Em (b), inclinação a Visão distal b
de –7o. Fonte: Adaptada de Andrews.27 Incisivo central superior esquerdo

A oclusão normal é dependente da angulação dentária,


especialmente dos dentes anteriores superiores, uma
vez que eles têm as coroas mais longas. Basta lembrar –10o
que um retângulo ocupa mais espaço quando inclinado
do que quando em posição vertical. A quantidade de
angulação mesiodistal ajuda a definir a quantidade de
espaço que esses dentes vão requerer, influenciando
tanto na oclusão posterior como na estética anterior.
3. Inclinação dentária: refere-se à inclinação vestibulolin-
gual do longo eixo da coroa. Essas inclinações apre-
sentam diferenças peculiares em relação à região na
arcada. Nos dentes anteriores, a inclinação dos inci-
sivos superiores e inferiores deve ser suficiente para
evitar sua sobre-erupção dentária. Além disso, deve
ser também suficiente para permitir um adequado con-
tato oclusal entre os dentes posteriores (Figuras 4-9 e a
4-10). Nos dentes posteriores superiores (caninos até
molares), a inclinação é lingual de coroa, sendo simi-
lar de caninos até segundos pré-molares, e levemente
+7o
mais aumentada nos molares. Nos dentes posteriores –10o
inferiores (caninos até molares), a inclinação lingual da
coroa aumenta progressivamente dos caninos até os
segundos molares.
4. Ausência de rotações dentais: as rotações podem
modificar a harmonia do arco. Um molar girado, por
exemplo, geralmente ocupa um espaço maior do que o
normal (Figura 4-11), causando uma falta de engrena-
mento correto entre os dentes superiores e inferiores.

FIGURA 4-10 (a) Inclinação inadequada dos incisivos ocasio-


nando falta de engrenamento na região posterior. (b) Quando
os dentes anteriores estão adequadamente inclinados, os pontos
de contato se deslocam distalmente, permitindo uma oclusão
b
normal. Fonte: Adaptada de Andrews.27

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 41

grande variabilidade na época de erupção (entre 17 e 21


anos de idade), na cronologia de mineralização e na mor-
fologia coronorradicular, assim como grande incidência de
agenesia.20
A erupção do terceiro molar tem sido associada ao
desenvolvimento tardio de apinhamento nos incisivos in-
feriores, por supostamente pressioná-los mesialmente. Tal
crença, entretanto, vem sendo cientificamente questiona-
da.17,20,30 Sabe-se que mudanças fisiológicas acontecem
na mesma época em que o terceiro molar se encontra em
processo de erupção, o que causa certa confusão na de-
terminação do exato agente etiológico do apinhamento.17,20
Pode-se citar: 1) uma redução do perímetro do arco dentá-
rio inferior (mesmo em pacientes com agenesia de terceiros
molares), em função da força mesial que incide naturalmen-
te sobre a dentição;17,20,28 2) o crescimento diferenciado tar-
dio da mandíbula em relação à maxila;17,20,31 e 3) a redução
da abrasão dentária na região dos incisivos inferiores, que
compensaria a migração mesial descrita no item 1. Assim,
acredita-se que o apinhamento tardio dos incisivos esteja
mais relacionado com o crescimento mandibular do que
FIGURA 4-11 Primeiro molar permanente com rotação. Obser- com a erupção dos terceiros molares e, portanto, a remo-
ve que a rotação determina uma ocupação de espaço maior do ção profilática desse dente provavelmente não resolveria o
que se o dentes estivesse bem posicionado. Fonte: Adaptada de problema.30 Além disso, nota-se mais apinhamento nos ho-
Andrews.27
mens do que nas mulheres, provavelmente devido ao fato
de que o desenvolvimento mandibular no sexo masculino é
5. Pontos de contato justos: não deve haver espaçamen- maior nessa época.31
to interdental.
6. Curva de Spee: deve ser suave ou inexistente.
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42 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

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C A P Í T U LO 5

Fatores etiológicos das más oclusões


Renato Rodrigues de Almeida
Renata Rodrigues de Almeida-Pedrin
Marcio Rodrigues de Almeida
Daniela G. Garib
Arnaldo Pinzan
Natalia Martins Insabralde

ETIOLOGIA DAS MÁS OCLUSÕES durante a mastigação. Atualmente apresentam-se pastosos


e, portanto, fáceis de serem consumidos com uma menor
A abordagem da etiologia das más oclusões é um tema participação da musculatura facial, comprometendo o cres-
polêmico, uma vez que toda má oclusão tem uma origem cimento e o desenvolvimento da face.
multifatorial. Uma interação de vários fatores pode influen- A abordagem da etiologia das más oclusões geralmen-
ciar no crescimento e no desenvolvimento dos maxilares, te classifica todas as causas em fatores locais ou intrínse-
resultando em más oclusões. O conhecimento desses fa- cos e sistêmicos ou extrínsecos. Essa classificação pode,
tores é imprescindível para o entendimento da etiologia das no entanto, gerar diferentes considerações acerca de uma
más oclusões, que deve ser de domínio do clínico geral, do má oclusão entre os profissionais. Por isso, com o intuito
odontopediatra e do ortodontista. de explicar as possíveis causas das más oclusões, outras
De acordo com os pesquisadores da metade do sé- classificações foram propostas.
1
culo passado, um em cada quatro indivíduos apresentava A sugerida por Guardo refere-se às causas hereditárias
algum tipo de má oclusão que requeria tratamento orto- e congênitas, gerais, locais e às causas proximais (hábitos
dôntico. Essa incidência tem aumentado progressivamen- bucais).
2
te, alcançando índices preocupantes. Tal fato deve-se Salzmann dividiu os fatores etiológicos em pré-natais e
principalmente à evolução do homem, na escala filoge- pós-natais, observando uma influência, direta ou não, des-
nética, em relação ao desenvolvimento craniofacial, aos ses fatores causadores de má oclusão.
hábitos alimentares e sociais e à miscigenação. De acordo
com a teoria da redução terminal, a face humana pas-
sa por um processo evolutivo que lhe diminui, ao mesmo
tempo em que o crânio experimenta um aumento no ta-
manho (Figura 5-1).
Com a redução do tamanho da face e dos maxilares,
o espaço para acomodar todos os dentes torna-se limita-
do; consequentemente, o último dente de cada série tende
a desaparecer (terceiros molares, segundos pré-molares
e incisivos laterais). Isso não ocorre repentinamente, pois
trata-se de um processo lento e de caráter hereditário que
se transmite de geração para geração, com a primeira apre-
sentando um dente com forma anômala (microdontia) e al-
guns de seus sucessores não mais.
A alimentação dos tempos atuais também contribui
para a “involução” da face, com consequente aumento das
más oclusões. No passado, os alimentos eram mais duros e
fibrosos, exigindo um grande esforço da musculatura facial FIGURA 5-1 Evolução do homem. Tendência retrognata da face.

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Posteriormente, Moyers3 sugeriu uma equação orto- liares podem comprometer a morfologia dentofacial de um
dôntica para a interpretação da etiologia das más oclusões. indivíduo, por obedecerem a um padrão genético.
Essa equação representa uma expressão concisa do de- Mossey,4,5 em um trabalho sobre a herança da má
6
senvolvimento de todas as deformidades dentofaciais. oclusão, definiu as más oclusões de acordo com Andrews
– como um significativo desvio de uma oclusão normal ou
atuam em sobre produzindo ideal – e citou os principais componentes da oclusão:
CAUSAS → PERÍODO → TECIDOS → EFEITOS • o tamanho da maxila;
Hereditárias • o tamanho da mandíbula;
Desenvolvimen- Contínuo ou inter- Neuromuscu- Disfun- • a relação entre as bases ósseas (Classe I, Classe II e
to de origem mitente latura ção Classe III) e os fatores que determinam seu equilíbrio ou
desconhecida desequilíbrio;
Traumatismos Dentes Má oclu- • a forma dos arcos dentários;
são • o tamanho e a forma dos dentes;
Agentes físicos Diferentes faixas Ossos e carti- Displasia
• o número de dentes;
etárias lagem óssea • a morfologia do tecido mole e o comportamento dos
lábios, da língua e da musculatura peribucal.
Hábitos Tecidos moles
Enfermidades Não há dúvida de que a genética constitui um dos prin-
cipais fatores etiológicos das más oclusões, e para confir-
Malnutrição
mar sua participação na determinação das semelhanças
* Fonte: Moyers.3 familiares, Krogman, em seu trabalho Crescimento da crian-
7
A classificação utilizada neste capítulo assemelha-se à ça, questionou duas situações interessantes e rotineiras
proposta por Guardo. Segue-se uma abordagem dos fatores que são realizadas por familiares e amigos quando do nas-
etiológicos genéticos e das causas adquiridas gerais e locais. cimento de uma criança: “É menino ou menina?” e “Com
quem se parece?”. A segunda pergunta está diretamente
ligada à herança e o autor finaliza dizendo que “[...] a alegria
FATORES GENÉTICOS de se identificar semelhanças em um bebê é o reconheci-
mento do fato de que os traços físicos são herdados, têm
Os estudos contemporâneos do crescimento e do desen- base genética e seguem uma linha familiar.”.
volvimento craniofacial e da oclusão apontam a genética e As anomalias de tamanho dentário, representadas pe-
o meio ambiente como os principais fatores etiológicos das las macro e microdontias, podem gerar más oclusões como
más oclusões. Determinadas características raciais e fami- apinhamentos e diastemas, respectivamente. Na maioria

FIGURA 5-2A Incisivos centrais superio-


res com macrodontia.

FIGURA 5-2B Microdontia dos incisivos laterais superiores.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 45

das vezes, quando um indivíduo apresenta dentes maiores de forma, intimamente relacionadas às de tamanho, também
(macrodontia) ou menores (microdontia) do que o normal, são determinadas principalmente pela herança e interferem
muito provavelmente alguém da família também é ou foi de maneira direta na oclusão. A anomalia mais prevalente
portador dessa anomalia (Figura 5-2A-B). consiste na forma conoide do incisivo lateral superior, segui-
Entretanto, quando se pode considerar um dente de ta- da por outras formas atípicas menos frequentes, como den-
manho normal ou não? Existem tabelas como as de Graber, tes com cúspides supranumerárias ou extras, cúspide em
Moyers e Moorrees, que mostram as médias dos diâmetros garra (talon cusp), geminação e fusão (Figura 5-3A-B).
mesiodistais dos dentes decíduos e permanentes. Contu- As anomalias de número, em sua grande maioria, são
do, as anomalias de tamanho dentário, por se associarem à de origem genética e podem também estar associadas a
genética, são facilmente diagnosticadas clinicamente e por deformidades congênitas como a displasia ectodérmica e
meio da história familiar (anamnese), descartando a necessi- a disostose cleidocraniana. Muitos autores acreditam que
dade de averiguações em tabelas específicas. As anomalias os dentes supranumerários e as agenesias dentárias, além

FIGURA 5-3A Geminação e fusão dentária.

FIGURA 5-3B Talon cusp ou cúspide em


garra.

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de apresentarem originariamente um componente genético, mesma má oclusão, o que não ocorre necessariamente nos
também estão relacionadas ao atavismo e à evolução hu- gêmeos heterozigóticos (Figuras 5-4 e 5-5). Isso acontece
mana, respectivamente. porque os gêmeos monozigóticos têm essencialmente a
O papel da hereditariedade no estudo das más oclusões mesma composição genética e, portanto, suas diferenças
de gêmeos idênticos (monozigóticos) também tem uma sig- (quando ocorrem) dependem de fatores não genéticos,
nificativa importância na determinação das características como os do meio ambiente. Os gêmeos heterozigóticos, por
morfológicas e dentofaciais. Os estudos de Lundström8 sua vez, apresentam uma disparidade do código genético
revelaram que gêmeos idênticos geralmente apresentam a de 50%, como nos casos de irmãos fraternos.

FIGURA 5-4 Fotografias extra e intra-


bucais e telerradiografias em norma late-
ral de gêmeos idênticos, evidenciando o
mesmo padrão de crescimento facial e as
características da oclusão.

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MEDIDAS M.B.L. 1 M.B.L. 2


SNA 81º 82º
SNB 74º 75º
ANB 7º 7º
FIGURA 5-5 Fotografias extra e intrabucais e teler-
FMA 30º 30º
radiografias em norma lateral de gêmeas idênticas,
SN.GoGn 39º 40º evidenciando o mesmo padrão de crescimento fa-
SN.Gn 73º 73º cial, as características da oclusão e a similaridade dos
SN.ocl 27º 26º valores cefalométricos.

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Outro fator hereditário que contribui para a elevada fre- asiática, o que contribui para o aumento das ocorrências de
quência de uma má oclusão é a miscigenação. Nas popu- más oclusões.
lações raciais homogêneas (grupos geneticamente puros) O tipo facial geneticamente determinado também exer-
quase não se observa má oclusão, enquanto nos grupos ce influência na determinação das características dentofa-
que apresentam grande mistura étnica a prevalência de más ciais e representa um importante fator etiológico de algumas
oclusões aumenta substancialmente. Atualmente, observa- más oclusões. Na população encontram-se basicamente
-se um intenso cruzamento entre as raças branca, negra e três tipos de configuração facial: os braquifaciais, com a

FIGURA 5-6 Fotografias extra e intrabucais de gêmeos heterozigóticos mostrando diferentes oclusões.

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largura da face predominando em relação à altura; os doli- • dentes supranumerários


cofaciais, com a altura da face predominando em relação à • hipoplasia do cemento
largura; e os mesofaciais, com características intermediárias
entre os braqui e os dolicofaciais (índice de Kollman). Certas
más oclusões apresentam-se intimamente relacionadas à DISPLASIA ECTODÉRMICA
morfologia facial, como o desenvolvimento de uma mordida
aberta em um indivíduo dolicofacial e de uma sobremordida É uma anomalia de caráter hereditário caracterizada pela
profunda em um jovem braquifacial (Figura 5-7A-F). falta de desenvolvimento dos tecidos de origem ecto-
As más oclusões de ordem esquelética (Classes II e III) dérmica. Os pacientes com essa anomalia geralmente
possuem um componente genético em sua etiologia (Figura apresentam anormalidades de cabelo, unhas, cílios, pele,
5-8A-D e 5-9). Na maioria dos casos, quando um indivíduo dentes, face e glândulas anexas (sebáceas e sudoríparas
apresenta uma má oclusão de Classe III ou II, muito prova- principalmente), além de uma aparência de senilidade (Fi-
velmente algum de seus antepassados também a exibiu. gura 5-11A-G). O fato de ter a perspiração comprometida,
Este fato pode ser facilmente comprovado observando-se devido ao número reduzido de glândulas, leva o paciente
fotografias das gerações anteriores. à hipertermia com crises febris constantes durante a in-
fância – o que pode, inclusive, proporcionar comprometi-
mentos neurológicos. A pele apresenta-se macia, porém
DISOSTOSE CLEIDOCRANIANA fina e ressecada. O cabelo, os cílios e as sobrancelhas
encontram-se em número reduzido. As principais caracte-
A disostose cleidocraniana constitui uma deformidade, geral- rísticas intrabucais e faciais são:
mente associada à hereditariedade, que também pode pro-
vocar alterações na cavidade bucal (Figura 5-10A-N). Além
• ausência total (agenesia) ou parcial (oligodontia) dos
dentes
do sinal clínico mais característico (hipoplasia da clavícula),
os aspectos bucais mais frequentemente observados são:
• dimensão vertical reduzida
• terço inferior facial reduzido
• maxila hipoplásica • ausência de osso alveolar
• protrusão mandibular • maxilares pouco desenvolvidos
• erupção tardia dos dentes permanentes • lábios protuberantes

a c e

b d f

FIGURA 5-7 (a, b) Paciente braquifacial, ou face curta, apresentando sobremordida profunda; (c, d) paciente dolicofacial, ou face
longa, apresentando mordida aberta; (e, f) paciente mesofacial, ou face equilibrada, com bom padrão de oclusão.

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a b c

d e f

FIGURA 5-8 Vistas laterais extra e intrabucais evidenciando má oclusão de Classe II, divisão 1 (a-c), e Classe III (d-f).

a c e

FIGURA 5-9 Fotografias extrabucais de perfil


e telerradiografias em norma lateral mostrando b d f
o desenvolvimento de uma má oclusão de Clas-
se III esquelética. 5 anos e 3 meses 12 anos e 9 meses 17 anos e 2 meses

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FIGURA 5-10B Jovem rea-


FIGURA 5-10A Jovem em lizando com facilidade o
postura normal. chamado “ombro a ombro”.

c d e
FIGURA 5-10C-E (c) Aspecto intrabucal mostrando mordida aberta anterior e alteração na sequência de erupção dos dentes perma-
nentes. (d, e) Aspecto intrabucal, vistas laterais.

FIGURA 5-10F-G Telerradiografia


evidenciando má oclusão de Classe
III e radiografia panorâmica mos-
trando a presença de dentes supra-
f g
numerários (setas).

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h i

j k l
FIGURA 5-10H-L Vistas extra e intrabucais de jovem com postura normal e “ombro a ombro” e aspecto oclusal.

FIGURA 5-10M-N Telerradio-


grafia e radiografia panorâmica
denotando protrusão mandi-
bular (Classe III) e vários dentes
m n
supranumerários (setas).

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 53

a b

d e f
FIGURA 5-11A-F Aspectos faciais, radiográficos e intrabucais de dois irmãos com displasia ectodérmica evidenciando as principais
características, como lábios protuberantes, maxilares pouco desenvolvidos, ausência de osso alveolar e presença de poucos dentes
(agenesia).

INCONTINÊNCIA PIGMENTAR OU malias oculares, assimetria facial, distrofia nasal, anomalias


do couro cabeludo, distúrbios do sistema nervoso e ano-
SÍNDROME DE BLOCH-SULZBERGER malias dentárias (Figura 5-12A-I). Dentre as anomalias den-
Esta síndrome é uma doença que envolve a pele e seus tárias, destacam-se:
anexos, de provável origem genética de caráter dominan- • agenesias
te relacionada ao cromossomo X – portanto, acometendo • anomalias de forma, como dentes conoides, dentes
apenas o sexo feminino, na infância. Os sinais e sintomas geminados ou fusionados e dens in dens
mais frequentemente observados nesta síndrome são: ano- • hipoplasia de esmalte

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54 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

a b

c d e
FIGURA 5-12A-E Paciente com incontinência pigmentar apresentando assimetria facial e aspecto intrabucal mostrando hipoplasia e
agenesia dentária.

i
f g
FIGURA 5-12H-I (h) Aspecto radiográfico demonstrando age-
FIGURA 5-12F-G Radiografias periapicais evidenciando anoma- nesias dentárias. (i) Telerradiografia evidenciando prognatismo
lias de forma – dens in dens e geminação dentária. mandibular (Classe III).

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 55

FISSURAS DE LÁBIO E/OU PALATO • bilaterais:


completa
Este tipo de malformação congênita caracteriza-se pela fal- incompleta
ta de fusão entre os processos palatinos e/ou os segmen- • medianas:
tos que formam o lábio superior, comprometendo invariavel- completa
mente a arcada superior em maior ou menor extensão de incompleta
acordo com o tipo de fissura.
Grupo II – Fissuras transforame incisivo: são as fissuras que
Segundo Vitor Spina,9 as fissuras labiopalatais classifi-
englobam o lábio superior e o palato em toda a sua extensão.
cam-se em três grupos, de acordo com a localização, tendo
Todo indivíduo que apresenta esse tipo de fissura tem má
como referência anatômica o forame incisivo.
oclusão (Figura 5-14A-D). As fissuras deste grupo podem ser:
Grupo I – Fissuras pré-forame incisivo: compreende o gru-
po das fissuras que envolvem somente o palato primário.
• unilaterais:
direita
Podem variar desde uma fissura cicatricial no lábio superior
esquerda
até um rompimento completo do palato primário envolven-
do o lábio superior, o rebordo alveolar e o assoalho da fos-
• bilaterais
sa nasal, terminando na região do forame incisivo (Figura Grupo III – Fissuras pós-forame incisivo: são as fissuras que
5-13A-H). Podem ainda se apresentar: menos comprometem a estética, uma vez que o envolvimento
• unilaterais: anatômico limita-se à região posterior ao forame incisivo, mas
direita (completa ou incompleta) os problemas funcionais relacionados à fala são frequentes
esquerda (completa ou incompleta) (Figura 5-14A-B). Neste grupo as fissuras podem ser:

FIGURA 5-13A-B Fissura pré-


-forame unilateral esquerda in-
a b
completa.

FIGURA 5-13C-D Fissura pré-


c d
-forame bilateral incompleta.

FIGURA 5-13E-F Fissura pré-


e f
-forame mediana incompleta.

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• total (palato duro e mole) No Brasil, a prevalência de pacientes fissurados é de 1


• parcial (somente palato mole) para cada 650 indivíduos. A literatura demonstra, de forma
9 unânime, que as fissuras de palato são mais frequentes e
Ainda segundo a classificação de Spina, há um outro
mais graves (extensão) no sexo feminino. Os dados do Hos-
grupo que compreende as fissuras raras da face:
pital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais, da Univer-
Grupo IV – Fissuras raras da face (Figura 5-16A-B): sidade de São Paulo (USP), não fazem exceção ao revelar
• Fissuras oblíquas que, dos pacientes com fissura isolada de palato, ~ 59%
• Fissuras transversais são do sexo feminino e ~ 41% são do sexo masculino. Isso
• Fissuras do lábio inferior se explica pelo dimorfismo sexual em relação ao período de
fusão dos processos palatinos.

FIGURA 5-13G-H Fissura pré-


g h
-forame mediana completa.

FIGURA 5-14A-B Fissura trans-


a b
forame unilateral direita.

FIGURA 5-14C-D Fissura trans-


c d
forame bilateral.

FIGURA 5-15 (a) Fissura pós-


-forame incompleta e (b) com-
a b
pleta.

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FIGURA 5-16A-B Fissuras raras


a b
da face.

Com base em modelos hipotéticos de fechamento epidemiológicos mostram uma menor prevalência de age-
do palato humano, alguns autores sugeriram que o palato nesias em pacientes da raça negra se comparados aos
secundário dos embriões femininos se fecha numa velo- leucodérmicos, enquanto os asiáticos tendem a mostrar
cidade mais lenta do que a dos embriões masculinos. A uma frequência aumentada de agenesia. Existem também
elevação e a subsequente fusão dos processos palatinos diferenças entre os sexos na prevalência das agenesias.
10
ocorrem com alguns dias de atraso nos embriões femi- Os estudos de Muller e colaboradores e de Dermaut e
11
ninos. No embrião masculino, observa-se o fechamento colaboradores apontam diferenças entre os sexos em
do palato secundário, durante a sétima semana de vida uma prevalência de 3:2.
intrauterina, enquanto no sexo feminino esse período coin- As agenesias dentárias geralmente se apresentam si-
cide com a metade da oitava semana de vida intrauterina. métricas, ocorrendo, portanto, bilateralmente. Observa-se
Tal retardo no tempo de fechamento do palato secundário uma exceção, em relação aos incisivos laterais superiores,
feminino indica uma maior suscetibilidade deste sexo aos que costumam estar ausentes unilateralmente, e nesses
agentes teratogênicos. casos quase sempre o homólogo apresenta anomalia de
forma (conoide) ou de tamanho (microdontia) (Figuras 5-17
e 5-18).
ANOMALIAS DENTÁRIAS DE NÚMERO: As agenesias dentárias interferem diretamente na oclu-
são, podendo ocasionar: oclusão traumática, inclinação dos
AGENESIA E SUPRANUMERÁRIO dentes adjacentes e diastemas, além de uma estética inde-
sejável e prováveis problemas fonéticos.
Agenesia
A agenesia dentária constitui a anomalia de desenvol-
vimento mais comum da dentição humana, ocorrendo
Supranumerários
em ~ 25% da população. O terceiro molar representa o A harmonia facial caracteriza-se pela forma, posição e nú-
dente mais afetado por essa anomalia, exibindo uma pre- mero de dentes anteriores, e é principalmente na região
valência de 20,7%. Excluindo-se os terceiros molares, a anterossuperior que ocorre com maior frequência o apareci-
prevalência de agenesia é de ~ 4,3-7,8%. Os segundos mento desses dentes (~ 90%).
pré-molares inferiores representam os dentes mais co- A incidência na população, de forma geral, é de 1-3%,
mumente ausentes, seguidos pelo incisivo lateral superior sendo mais prevalente no sexo masculino, numa proporção
e pelos segundos pré-molares superiores. Em pacientes de 2:1.
leucodérmicos, a ocorrência da agenesia dentária poderia Muitas teorias têm sido sugeridas para explicar a etio-
ser classificada como: comum, quando afeta os segun- logia dos dentes supranumerários: 1) genética, com estu-
dos pré-molares inferiores, os incisivos laterais superiores dos em linhagem genealógica de algumas famílias nas quais
e os segundos pré-molares superiores; menos comum, foram encontrados vários membros com supranumerários
que inclui, em ordem decrescente de ocorrência, os inci- por duas gerações consecutivas; 2) dicotomia, que é a di-
sivos centrais inferiores, os incisivos laterais inferiores, os visão do germe dentário em dois dentes; 3) atavismo, que
primeiros pré-molares superiores, os caninos superiores e significa o retorno à forma primitiva dos antropoides, que
os segundos molares inferiores; e raras, compreendendo, tinham 12 dentes a mais do que o homo sapiens; e 4) hipe-
em ordem decrescente de frequência, a agenesia dos pri- ratividade da lâmina dentária, que parece ser a mais aceita.
meiros e segundos molares superiores, dos caninos in- A presença de dentes supranumerários irrompidos ou
feriores, dos primeiros molares inferiores e dos incisivos intraósseos é um fator determinante de más oclusões que
centrais superiores. É importante lembrar que existe uma podem ser confirmadas pela sequência das Figuras 5-19 a
diferença étnica na prevalência das agenesias. Estudos 5-24.

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FIGURA 5-17 Vistas intrabucais e aspectos radio-


gráficos evidenciando agenesia dos incisivos laterais
superiores e centrais inferiores.

FIGURA 5-18 Radiografias pe-


riapicais mostrando agenesia de
segundo pré-molar inferior.

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FIGURA 5-19 Vistas intrabucais e radiográficas evidenciando dentadura decídua com 5 e 6 incisivos superiores.

FIGURA 5-20 Vistas intrabu-


cais mostrando mesiodens ir-
rompido bloqueando a erupção
do incisivo permanente direito.

FIGURA 5-21 Vistas intrabu-


cais mostrando incisivos laterais
superiores esquerdos supranu-
merários.

FIGURA 5-22 Vista intrabucal


e radiografia mostrando presen-
ça de terceiro pré-molar.

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FIGURA 5-23 Vista intrabucal e aspecto


radiográfico evidenciando má oclusão cau-
sada por supranumerário mesiodens intra-
ósseo bloqueando a erupção do incisivo
permanente direito.

FIGURA 5-24 Radiografia panorâmica evidenciando


a presença de quartos molares inferiores (setas).

ANQUILOSE A presença de um molar decíduo anquilosado pode


provocar a inclinação dos dentes vizinhos, a redução do
A anquilose dentária, encontrada com frequência entre os 6 comprimento do arco dentário, a impacção do dente per-
e 12 anos de idade, é uma alteração da erupção devido à manente e a erupção ectópica (Figura 5-25A-H).
união do cemento e/ou dentina com o osso alveolar. A infra-
oclusão é notada clinicamente e possivelmente advém de
uma falha genética ou congênita do ligamento periodontal CISTOS
e de trauma oclusal por pressão excessiva durante a masti-
gação. A frequência da anquilose varia muito nos diferentes Patologias como os cistos e os tumores também podem
estudos realizados, de 2,37% a 35,27%. Essa variação se ser consideradas fatores etiológicos de más oclusões,
deve à diferença de faixa etária das crianças pesquisadas principalmente por causarem desvios de erupção dentária
em cada estudo. A maior prevalência ocorre na região pos- (Figura 5-26A-C).
terior e nos molares decíduos, e o primeiro molar decíduo
inferior é o dente mais frequente.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 61

a b

FIGURA 5-25A-D Vistas intra-


bucais e radiográficas eviden-
ciando quatro segundos mola-
c d
res decíduos anquilosados.

e f

g h
FIGURA 5-25E-H Radiografias panorâmicas e periapical mostrando vários segundos molares decíduos anquilosados e um segundo
molar decíduo inferior intraósseo e restaurado com amálgama, antes da anquilose e da erupção dos demais dentes (setas).

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62 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

a b
FIGURA 5-26A-B Deslocamento do germe do primeiro pré-molar inferior provocado por um cisto; radiografias panorâmica e
periapical.

desenvolvimento da oclusão, a inserção fibrosa do freio


paulatinamente se desloca para a superfície vestibular do
processo alveolar, alcançando as proximidades do limite
mucogengival.
A persistência da inserção baixa do freio labial su-
perior, após o desenvolvimento completo da dentadura
permanente, tem sido apontada como um dos principais
fatores etiológicos do diastema interincisivos centrais. No
entanto, é preciso deixar claro que o diastema superior exi-
be uma etiologia multifatorial, pois outros fatores podem
c determiná-lo:

FIGURA 5-26C Deslocamento do germe do canino superior es- 1. Agenesia dos incisivos laterais superiores
querdo provocado por um cisto; radiografia panorâmica. 2. Microdontia dos incisivos laterais superiores
3. Discrepância dente-osso positiva
4. Presença do supranumerário mesiodentes
ERUPÇÃO ECTÓPICA DOS 5. Lesões patológicas como cistos na região dos interinci-
DENTES PERMANENTES sivos centrais
6. Hábitos de sucção de dedo, chupeta, lábios, interposi-
A ectopia do primeiro molar permanente – geralmente o ção lingual, lápis e caneta
superior – é um exemplo clássico de desvio de erupção.
O dente assume uma trajetória para mesial, ocasionando a Graber12 enfatizou ainda que, na presença de um dias-
prematura reabsorção cervical e radicular da face distal do tema interincisivos causado por diversos desses fatores, o
segundo molar decíduo. freio labial superior pode manter-se inserido por lingual, di-
A incidência de ectopia dos primeiros molares perma- ficultando a identificação da real participação da inserção
nentes atinge 2-4% da população infantil. Dependendo do fibrosa na manutenção do diastema. Surge então a clássica
grau de impacção, ela pode ser reversível ou irreversível. discussão: Quem veio primeiro? (Figura 5-33).
Na erupção reversível, o primeiro molar permanente quase Deve-se ter em mente que todos esses fatores etiológi-
sempre apresenta autocorreção; já na erupção irreversível cos do diastema interincisivos centrais apresentam sua im-
ocorre a reabsorção e esfoliação precoce do segundo molar portância na avaliação de um paciente durante a dentadura
decíduo com redução do comprimento do arco dentário e permanente. Nos estágios anteriores do desenvolvimento
perda total de espaço para o sucessor permanente (segun- da oclusão, nas dentaduras decídua e mista, o diastema
do pré-molar) (Figuras 5-27 a 5-32). interincisivos central apresenta-se como uma característica
normal e fisiológica que, segundo Taylor,13 está presente em
97% das crianças durante a erupção dos incisivos centrais
FREIO LABIAL SUPERIOR superiores permanentes. Com a erupção dos incisivos la-
terais superiores permanentes, essa percentagem diminui
O freio labial superior consiste em uma lâmina fibrosa para 46%, e após a erupção dos caninos superiores per-
de tecido conjuntivo, com forma triangular. No recém- manentes, para 7% – e é sobre esse número que se con-
-nascido, estende-se desde o lábio superior até inserir-se centram os fatores etiológicos responsáveis pelo diastema,
na papila lingual, cruzando o rebordo alveolar. Durante o anteriormente discutidos (Figura 5-34A-H).

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 63

FIGURA 5-27 (a) Aspecto ra-


diográfico da erupção ectópica
do primeiro molar permanente
inferior. (b) Aspecto radiográ-
fico da perda de espaço após a
esfoliação precoce do segundo
molar decíduo e perda de espa-
ço para a erupção do segundo
a b
pré-molar.

FIGURA 5-28 (a) Aspecto ra-


diográfico da impacção do pri-
meiro molar permanente infe-
rior. (b) Reabsorção provocada
a b
no segundo molar decíduo.

FIGURA 5-29 (a, b) Radiogra-


fias periapicais lateral direita e
lateral esquerda mostrando im-
a b
pacção e reabsorção (setas).

CAUSAS AMBIENTAIS
As deformações adquiridas, que podem provocar uma má
oclusão, caracterizam os fatores etiológicos pós-natais. Es-
ses fatores dividem-se em gerais e locais.

Gerais
Dentre as causas gerais, podem se destacar os fatores
traumáticos, as enfermidades sistêmicas e os fatores nu-
tricionais.
Traumatismos: acidentes traumáticos obstétricos durante
FIGURA 5-30 Aspecto intrabucal da erupção ectópica após o parto, quando da utilização de fórceps, podem provocar
perda do segundo molar decíduo e migração do primeiro molar fratura do côndilo e hipoplasia da mandíbula. Os trauma-
permanente. tismos envolvendo os dentes decíduos podem provocar

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64 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 5-31 Vistas intrabucais


mostrando erupção ectópica
dos segundos molares perma-
nentes superiores e incisivos la-
terais superiores.

FIGURA 5-32 Erupção ectópi-


ca dos primeiros molares perma-
nentes inferiores.

FIGURA 5-33 Diastema provocado


por sucção incorreta de chupeta e
mantido por hábito de interposição de
lápis e caneta.
Fonte: Revista MAD.

FIGURA 5-34A-B Microdontia


e agenesia dos incisivos laterais
superiores e presença de diaste-
a b
mas interincisivos.

a perda precoce destes ou, ainda, afetar o germe den- tendo a face pode produzir alterações nas posições den-
tário permanente, causando desvios de erupção, dila- tárias e também deformidade dos maxilares quando es-
cerações radiculares e defeitos na estrutura dentária. O tes estiverem na fase de crescimento e desenvolvimento
tecido cicatricial decorrente de queimaduras comprome- (Figura 5-35A-J).

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 65

FIGURA 5-34C-D Deglutição


com interposição lingual e res-
c d
pectivo diastema.

FIGURA 5-34E-F Vistas intra-


bucais evidenciando diastemas
e f
em gêmeos univitelinos.

g
h
FIGURA 5-34G Inserção baixa do freio labial superior com is-
quemia da papila palatina. FIGURA 5-34H Sutura intermaxilar terminada em plano.

Fatores nutricionais ram que a deficiência das vitaminas A, B, C e D, da riboflavi-


na e do iodo pode contribuir para as malformações esque-
Estudos apontam a alimentação como fator preponderante léticas e dentárias (Figura 5-36).
para o crescimento e o desenvolvimento físico, mas não a
confirmam entre as causas de más oclusões. Porém, sabe-
-se que uma alimentação balanceada e mais sólida exige Locais
maior esforço da musculatura peribucal, com consequente
Os itens que constituem o grupo etiológico das causas
desenvolvimento da maxila e da mandíbula e uma autócli-
adquiridas locais representam os fatores mais diretamen-
se mecânica na limpeza dos dentes. A redução do açúcar
te relacionados à cavidade bucal e talvez sejam, para os
também contribui para a higidez dos dentes, prevenindo a
ortodontistas, as causas mais importantes das más oclu-
incidência de cáries.
sões. Portanto, devem ser detectados precocemente pelo
Salzmann2 asseverou que uma falha nutritiva nas crian-
cirurgião-dentista, de forma a proporcionar um adequado
ças em crescimento e desenvolvimento provoca um retardo
desenvolvimento dos arcos dentários.
dos centros de ossificação. Outras pesquisas demonstra-

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66 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 5-35 (a) Proximidade


das raízes dos dentes decíduos
com os germes dos permanen-
tes. (b) Traumatismo dos incisi-
vos centrais decíduos com con- a b
sequente inclinação.

c d

FIGURA 5-35C-F Desvio de


erupção dos incisivos centrais
permanentes como consequên-
cia de traumatismo e erupção ec-
tópica devido a permanência do
e f
incisivo decíduo traumatizado.

FIGURA 5-35G-H Traumatismo


do incisivo central permanente,
com fratura abaixo do ponto de
contato com consequente per-
da de espaço uma semana após
g h
o acidente.

FIGURA 5-35I-J Traumatismo


de maior gravidade atingindo
dentes e osso – vista frontal e
i j
aspecto radiográfico.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 67

FIGURA 5-36 A nutrição correta é necessária para crianças em desenvolvimento, pois evita complicações como o retardo dos cen-
tros de ossificação e as malformações esqueléticas e dentárias.

PERDA PREMATURA DOS DENTES Assim, faltará espaço para a erupção de alguns dentes per-
manentes, determinando más oclusões. Tal fato não ocorre
DECÍDUOS com a perda de dentes decíduos na região anterossuperior,
Os dentes decíduos contribuem para uma fonação, deglu- porque a coroa dos incisivos permanentes já está formada
tição, mastigação e estética adequadas, além de servirem e atua como mantenedora de espaço, em condições nor-
como mantenedores de espaços e guias de erupção para mais. Nos casos de anormalidades, como o bloqueio da
os dentes permanentes. Quando se perde prematuramente erupção de um incisivo central pela presença de um supra-
um dente decíduo, ocorre o rompimento do equilíbrio den- numerário do tipo mesiodens, o incisivo lateral irrompe an-
tário, propiciando a mesialização dos dentes posteriores, a tes que o central com inclinação para mesial e grande perda
distalização dos anteriores e a extrusão dos antagonistas. de espaço. Figura 5-37A-E (ver supranumerários).

a b
FIGURA 5-37A-B Radiografias panorâmicas mostrando espaços insuficientes para a erupção de dentes permanentes.

d
e
FIGURA 5-37C-D Radiografias periapical e panorâmica mos-
trando falta de espaços para a erupção de dentes permanentes FIGURA 5-37E Extração prematura do primeiro e do segundo
por extração prematura. molares decíduos com consequente perda de espaço.

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68 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

PERDA DE DENTES PERMANENTES CÁRIES


A oclusão dentária caracteriza-se pela intercuspidação de As cáries dentárias, principalmente as interproximais, são
um dente superior com dois inferiores, com exceção dos responsáveis pela redução do comprimento do arco dentá-
últimos dentes superiores e dos incisivos centrais inferiores, rio, além de provocarem, muitas vezes, a extração prema-
mantendo, dessa forma, o equilíbrio na cavidade bucal. A tura de dentes decíduos. Ainda hoje, no Brasil, a incidência
perda de qualquer um desses dentes provoca alterações no de cáries dentárias é a maior responsável pelo aumento do
posicionamento dos demais, estabelecendo uma má oclu- número de más oclusões (Figura 5-39A-D).
são (Figura 5-38A-B).

FIGURA 5-38A-B Extração pre-


matura do incisivo central supe-
rior direito e dos primeiros mola-
a b
res permanentes inferiores.

FIGURA 5-39A-B Primeiros


molares permanentes irrompen-
do na cavidade provocada por
uma cárie na face distal dos se-
gundos molares decíduos supe-
a b
rior e inferior, respectivamente.

FIGURAS 5-39C-D Cáries de


c d
mamadeira.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS LEITURAS RECOMENDADAS


Este capítulo dedicou-se a uma retrospectiva da etiologia Almeida RR. Ortodontia preventiva e interceptora: mito ou realidade?
das más oclusões. A determinação da origem das más Maringá: Dental Press; 2013.
Almeida RR, Martins DR, Ursi WJS, Garms Y. Anquilose de dentes decí-
oclusões é de fundamental importância na realização de um
duos. Rev Fac Odontol Lins. 1990;3(2):6-12.
bom diagnóstico. Embora os fatores etiológicos sejam divi-
Almeida RR, Garib DG, Henriques JFC, Almeida MR, Almeida RR. Orto-
didos em causas genéticas e ambientais, cada irregularida- dontia preventiva e interceptora: mito ou realidade? Rev Dent Press
de apresenta uma complexidade muito grande do ponto de Ortodon Ortop Maxilar. 1999;4(6):87-108.
vista causal, com influências multifatoriais. Uma completa Almeida RR, Isbralde CMB, Ramos AL, Terada HH, Ribeiro R, Carreiro
anamnese, envolvendo os pais, e um bom exame clínico LS. Supranumerários – implicações e procedimentos clínicos. Rev
são imprescindíveis na inferência dos possíveis fatores etio- Dent Press Ortodon Ortop Maxilar. 1997;2(6):91-108.
Araújo EA. Hereditariedade em ortodontia. In: Sociedade Paulista de
lógicos envolvidos em cada caso.
Ortodontia. Nova visão em ortodontia e ortopedia facial. São Paulo:
Santos; 2000. p.139-43.
Canut Brusola JA. Ortodoncia clínica. Barcelona: Salvat; 1988.
AGRADECIMENTO Burdi AR, Silvey RG. Sexual differences in closure of the human palatal
shelves. Cleft Palate J. 1969;6:1-7.
Ao Dr. Omar Gabriel da Silva Filho, Professor e Coorde- Campos PSF, Panella J, Freitas C. Displasia cleidocraniana: aspectos
nador do Curso de Ortodontia Preventiva e Interceptativa gerais da condição. RPG Rev Pos-grad. 1999;6(1):84-7.
da PROFIS, pela gentil cessão das fotografias de fissuras Ferreira FV. Ortodontia: diagnóstico e planejamento clínico. São Paulo:
Artes Médicas; 1996.
palatinas, pertencentes ao acervo do Hospital de Reabili-
Garib DG, Silva Filho OG, Janson G. Etiologia das más oclusões: pers-
tação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São
pectivas clínicas (parte I): fatores genéticos. Rev Clín Ortodon Dental
Paulo – Bauru. Press. 2010;9(2):77-97.
Garib DG, Silva Filho OG, Janson G. Etiologia das más oclusões: pers-
pectivas clínicas (parte II): fatores ambientais. Rev Clín Ortodon Den-
REFERÊNCIAS tal Press. 2010;9(3):61-73.
Garib DG, Silva Filho OG, Janson G, Pinto JHN. Etiologia das más oclu-
1. Guardo AJ. Temas de ortodoncia. Buenos Aires: El Ateneo; 1953. sões: perspectivas clínicas (parte III): fissuras labiopalatinas. Rev Clín
2. Salzmann JA. Orthodontics in daily practice. Philadelphia: Lippin- Ortodon Dental Press. 2010;9(4):30-6.
cott; [1974]. Graber TM. Ortodoncia: teoria y práctica. 3. ed. México: Interamericana;
3. Moyers RE. Ortodontia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1980.
1979. Laredo Filho J, Carneiro Filho M, Rangel JPA, Carrasco MJM. Disostose
4. Mossey PA. The heritability of malocclusion: part 1.Genetics, prin- clidocraniana hereditária: aspectos clínicos, radiológicos e genéticos.
ciples and terminology. Br J Orthod. 1999;26(2):103-13. Folha Méd. 1987;95(3):161-8.
5. Mossey PA. The heritability of malocclusion: part 2. The influence of Lundström A. Introduccíon a la ortodoncia. Buenos Aires: Mundi; 1971.
genetics in malocclusion. Br J Orthod. 1999;26(3):195-203. Moorrees CFA. The dentition of the growing child; a longitudinal study
6. Andrews LF. The six keys to normal occlusion. Am J Orthod. of dental development between 3 and 18 years of age. Cambridge:
1972;62(3):296-309. Harvard University Press; 1959.
7. Krogman WM. Child growth. Ann Harbor: University of Michigan Ortega KL, Almeida CEAL, Natalino NRS. Displasia ectodérmica anidró-
Press; 1972. tica hereditária. Rev Assoc Paul Cir Dent. 1995;49(6):473-5.
8. Lundström A. Nature versus nurture in dento-facial variation. Eur J Pindborg JJ. Pathology of the dental hard tissues. Philadelphia: Saun-
Orthod. 1984;6(2):77-91. ders; 1970.
9. Spina V. Classificação das fissuras lábio-palatinas: sugestão de Reenen IF. Tendências filogenéticas na dentição humana. Quintessên-
modificação. Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo. 1972;27:5-6. cia. 1974;1(1):48-52.
10. Muller TP, Hill IN, Peterson AC, Blayney JR. A survey of congenitally Russell DL, Finn SB. Incontinentia pigmenti (Bloch-Sulzberger syndro-
missing permanent teeth. J Am Dent Assoc. 1970;81(1):101-7. me): a case report with emphasis on dental manifestations. J Dent
11. Dermaut LR, Goeffers KR, De Smit AA. Prevalence of tooth age- Child. 1967;34(6):494-500.
nesis correlated with jaw relationship and dental crowding. Am J Silva Filho OG, Ferrari Júnior FM, Rocha DL, Freitas JAS. Classificação
Orthod Dentofacial Orthop. 1986;90(3):204-10. das fissuras lábio-palatais: breve histórico, considerações clínicas e
12. Graber TM. Orthodontics: principles and practice. 2nd ed. Phila- sugestão de modificação. Rev Bras Cir. 1992;82(2):59-65.
delphia: Saunders; 1966. Silva Filho OG, Almeida RR. Fissuras lábio-palatais o que o cirurgião
13. Taylor JE. Clinical observations relating to the normal and abnormal dentista precisa saber. Rev Fac Odontol Lins. 1992;5(2):7-18.
frenum labii superioris. Am J Orthod Oral Surg. 1939;25(7):646- Ursi WJS, Almeida RR, Almeida JV. Mesiodens, macrodontia e má-oclusão:
50. relato de caso clínico. Rev Odontol Univ São Paulo. 1988;2(2): 109-14.

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C A P Í T U LO 6

Hábitos bucais deletérios


Kurt Faltin Jr.
Rodrigo R. Borbolla
Thalita Ariane Borges

Um hábito é o resultado da repetição de um ato com um SUCÇÃO NÃO NUTRITIVA


determinado fim, tornando-se com o tempo resistente a
mudanças. Os hábitos bucais deletérios estão frequente- A sucção é um ato fisiológico necessário, e como tal preci-
mente relacionados com a instalação de más oclusões em sa ser respeitado. Ela é tão essencial, que mesmo os fetos
crianças durante a fase de crescimento e desenvolvimento succionam instintiva e energicamente a língua, os lábios e
craniofacial, podendo ser classificados como não compul- os dedos, de modo que essa função já está plenamente
sivos, quando são de fácil adoção e abandono pela criança desenvolvida ao nascimento. A amamentação no seio ma-
durante o seu amadurecimento, ou compulsivos, quando terno significa para a criança alimentação, aumento da re-
estão fixados na personalidade, a ponto de a criança recor- sistência a doenças, equilíbrio psicológico e treinamento da
rer à sua prática quando se sente insegura. musculatura peribucal com a obtenção do selamento labial.
O desenvolvimento normal do sistema facial é deter- Quando o aleitamento natural é precocemente subs-
minado pela forma e pela função da matriz funcional, que tituído pelo artificial, a criança atinge, em apenas alguns
se refere a todos os tecidos não esqueléticos e espaços minutos, a sensação de plenitude alimentar, porém o bebê
funcionais essenciais para o desempenho de uma função. não realiza sucções suficientes para obter o êxtase emocio-
Um desequilíbrio funcional pode causar um crescimento de- nal, buscando por isso a satisfação na sucção dos dedos
sarmônico na face através da quebra do equilíbrio muscular ou da chupeta.
entre os lábios, a língua e as bochechas. Este equilíbrio é Convém salientar que somente 18% das crianças ama-
responsável pela forma das arcadas dentárias e da oclusão. mentadas no seio materno adquirem o hábito de sucção
Assim, uma ação harmoniosa dos músculos sobre as arca- de dedos, enquanto nas não amamentadas o índice chega
das irá favorecer uma boa oclusão. a 70%.
O diagnóstico ortodôntico estabelece o reconheci- Os hábitos de sucção trazem consequências importan-
mento de uma deformidade dentofacial, devido a hábitos tes para a morfologia do palato duro e alterações de posi-
deletérios, e nos orienta quanto à sequência de tratamen- cionamento dos dentes e de movimentação da língua, com
to. Uma má oclusão funcional também causa um hábito alterações musculares periorais e fonoarticulatórias, com
vicioso de língua e lábios. Com isso, observa-se a im- maior risco de desenvolvimento de mordida aberta anterior
portância do diagnóstico no sucesso do tratamento, por e distúrbios de motricidade oral.
fornecer informações importantes sobre a conduta a ser
tomada e os profissionais necessários na execução dos
procedimentos.
Sucção dos dedos e de chupetas
Nem sempre um hábito bucal deletério é a causa iso- A manutenção do hábito de sucção dos dedos (sucção di-
lada de uma má oclusão. A gravidade desta está relaciona- gital) é altamente perniciosa, pois interfere no crescimento
da com a intensidade, a frequência e a duração do hábito. da maxila e da mandíbula, no posicionamento dos dentes e
Dentre os hábitos deletérios, encontram-se: sucção não nu- nas funções mastigatórias e de fonação, deglutição e res-
tritiva (dedos, línguas e lábios); uso prolongado de chupetas piração.
e mamadeiras; deglutição atípica; respiração bucal; hábitos A consequência disso será uma alteração morfofun-
posturais; bruxismos e onicofagia. cional do sistema estomatognático; porém, deve-se sa-

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72 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

lientar que essas alterações dependem do tipo facial e da DEGLUTIÇÃO ATÍPICA


tendência de crescimento da criança. As crianças com
face retrovertida ou dolicofacial (musculatura hipotônica O processo de deglutição é executado através de um com-
e crescimento vertical) terão frequentemente alterações plexo sinergismo de atividades musculares responsáveis
mais evidentes do que aquelas com o tipo provertido ou pela movimentação da mandíbula, da língua, das boche-
braquifacial (musculatura hipertônica e crescimento hori- chas e dos lábios, entre outros. Essa intensa função muscu-
zontal). lar é de vital importância na regulação dos mecanismos de
Quanto às alterações esqueléticas, dentárias e funcio- crescimento craniofacial, por isso a atividade da musculatu-
nais causadas pelo hábito de sucção, seja digital ou de chu- ra lingual deve estar em equilíbrio com a musculatura peri-
petas, podem ser citados: atresia de maxila, mordida aberta bucal e o espaço funcional bucal deve ser supervisionado.
anterior, mordida cruzada posterior, protrusão dos incisivos As atipias da deglutição são consideradas como pro-
superiores, retrusão dos incisivos inferiores, diminuição do blemas específicos dessa função, mas também podem
ângulo interincisivo, trespasse horizontal e vertical aumenta- decorrer de alterações respiratórias, trocas dentárias, dife-
dos, distorção nos fonemas /s/ e /f/, distúrbio de motricida- rentes tipos de oclusão e mordida, tipo esqueletal do tônus,
de e má postura de língua (Figura 6-1). propriocepção, redução do espaço interno, hábitos orais
Para o sucesso do tratamento dos hábitos de sucção, antigos e até mesmo da idade, pois a deglutição se modifi-
é necessária uma intervenção multidisciplinar envolvendo o ca ao longo vida, devido, entre outras causas, ao tamanho
ortodontista, um fonoaudiólogo, um otorrinolaringologista e da cavidade oral e sua relação com o crescimento e o de-
um psicólogo, a fim de reduzir os riscos de recidiva das más senvolvimento da língua.
oclusões. O diagnóstico é puramente clínico e confirmado A deglutição atípica corresponde a uma movimentação
pela anamnese. inadequada da língua e/ou de outras estruturas. Podem ser
observadas durante a deglutição atípica: ausência de oclu-
são dentária, ausência de contração do masseter, interposi-
ONICOFAGIA ção da língua contra os arcos dentários e interposição labial
para realizar o selamento anterior.
O hábito de roer unhas está relacionado com ansiedade, Os métodos de diagnóstico devem ser realizados com
estresse e angústia, e após a adolescência costuma ser o paciente sentado e no plano horizontal de Frankfurt. De-
substituído por outros, como morder objetos. O diagnós- vem ser discretamente observadas várias deglutições in-
tico é clínico e confirmado pelo aspecto dos dedos das conscientes e também o grau de contração muscular e os
crianças. movimentos mandibulares. Com uma mão sobre o músculo
As más oclusões provocadas por esse hábito são lo- masseter, deve-se dar água ao paciente e pedir que faça
calizadas, devido às pressões induzidas por ele. Também várias deglutições. Se os dentes estiverem em oclusão, é
são observados: apinhamentos, giroversões, retroinclinação possível sentir as contrações do músculo; se a deglutição
dos incisivos superiores, fraturas dentárias, distúrbios tem- for atípica, sem contato dos dentes, não haverá contração
poromandibulares e reabsorção radicular. do músculo. Abaixando o lábio inferior, pode-se observar
se ocorre a interposição da língua durante o movimento de
deglutição.

FONAÇÃO
A fonação é outra atividade exercida com o envolvimento do
aparelho mastigatório, estando intimamente ligada à deglu-
tição. Representa um fator importante no desenvolvimento
e na manutenção do equilíbrio morfofuncional do aparelho
mastigatório.
Cada som que emitimos é manipulado nos espaços
nasal e retrofaríngeo, além do espaço funcional bucal, pela
movimentação específica, sinérgica e equilibrada da mus-
culatura pertinente, incluindo também a movimentação
mandibular.
As trocas de fonemas devem ser tratadas precocemen-
FIGURA 6-1 Efeitos do hábito de sucção digital sobre a denti- te, mesmo antes da instalação da dentição decídua com-
ção. Fonte: Orthomaster.1 pleta, a fim de manter os estímulos normais de crescimento.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 73

Para o correto diagnóstico, pode ser usado um teste sim- Há várias formas de avaliação da função nasal, a mais
ples para avaliar o relacionamento da fala com a dentição, conhecida, e talvez uma das mais antigas, é o espelho mi-
como pedir para a criança contar de um até dez, pronun- limetrado de Altmann. Ele é usado para incentivar o uso
ciar os fonemas /s/, /f/, /t/ e /l/ e observar cuidadosamente funcional do nariz e mensurar a aeração nasal, medindo o
como a língua e os lábios se adaptam às estruturas com as ar expirado em pacientes com obstrução nas vias aéreas
quais se relacionam. superiores. Outros métodos de diagnóstico que podem ser
realizados pelo ortodontista incluem a avaliação do movi-
mento de um pequeno chumaço de algodão colocado sob
RESPIRAÇÃO BUCAL as narinas e a capacidade de retenção de líquidos dentro da
boca (a criança deve ficar com a boca fechada enquanto se
A avaliação inicial das vias aéreas é de vital importância para avalia o tempo que respira pelo nariz).
a criança respirar pelo nariz, de boca fechada, garantindo o
selamento labial. Essa combinação é responsável pelo equi-
líbrio dinâmico-funcional e pelo sinergismo das atividades CONSIDERAÇÕES FINAIS
musculares da língua e dos músculos peribucais.
A obtenção e a manutenção da respiração nasal e do Obtém-se uma face harmônica por meio do equilíbrio de
selamento labial são alguns dos objetivos mais importan- todas as estruturas que compõem o aparelho mastigató-
tes da ortodontia preventiva, onde se observa que crianças rio. Quando ocorre uma quebra desse equilíbrio, a harmonia
com respiração bucal devido a obstrução nasal ou por hábi- fica prejudicada e todo o sistema esquelético e funcional,
to, dependendo da intensidade, da frequência e da duração comprometido.
da mesma, apresentam alterações no crescimento e desen- A quebra do equilíbrio provoca alterações no cresci-
volvimento craniofacial e características faciais e dentárias mento facial e no sistema funcional. Os hábitos deletérios
muito semelhantes entre si. nunca aparecem isolados, mas normalmente associados a
O diagnóstico e o tratamento imediato das causas da uma má oclusão – e quando há mais de um hábito, o trata-
respiração bucal são favoráveis para um bom prognós- mento torna-se mais desafiador.
tico, já que é possível minimizar os efeitos colaterais cau- Para um tratamento de excelência, além do diagnóstico
sados pela deficiência na respiração, redirecionando para individualizado do paciente, obtido por meio de uma anam-
um crescimento facial mais harmônico. Qualquer indivíduo nese bem realizada ou de exames tridimensionais, faz-se
pode apresentar uma respiração bucal e o diagnóstico é de necessária a incorporação de outros profissionais, como
extrema importância, principalmente nos retrovertidos, por otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos e psicólogos. Todos
apresentarem uma musculatura hipotônica e um crescimen- os hábitos devem ser tratados de forma multidisciplinar e
to mais vertical. A musculatura influencia no crescimento com acompanhamentos constantes a fim de se evitarem
ósseo e qualquer desequilíbrio pode alterar a configuração recidivas.
esquelética dos ossos faciais, causando um crescimento
desarmônico. Com uma musculatura mais forte, os prover-
tidos são os menos acometidos de respiração bucal e suas REFERÊNCIA
complicações são menos agressivas.
O diagnóstico começa com uma anamnese criteriosa, 1. Orthomaster. Odontopediatria: hábitos desfavoráveis [Internet]. Rio
visando a elucidar como a criança dorme e se apresenta de Janeiro: Orthomaster; 2013 [capturado em 03 out. 2013]. Dis-
ponível em: http://www.orthonet.com.br/?bgsModulo=bgs_page.
déficit de atenção e sonolência durante o dia. A avaliação
odontopediatria-habdesfavoravel.
clínica orienta no fechamento do diagnóstico e na elabora-
ção de um plano de tratamento individualizado. Os respira-
dores bucais apresentam: lábio superior curto, lábio inferior
hipotônico e ressecado, falta de selamento labial, face alon-
LEITURAS RECOMENDADAS
gada ou adenoidiana, hipertonicidade do mentalis, olheiras Barrêtto EP, Faria MMG, Castro PRS. Hábitos bucais de sucção não nu-
profundas, narinas estreitas, atresia da maxila, retrognatis- tritiva, dedos e chupetas: abordagem multidiscilplinar. J Bras Odon-
mo mandibular, protrusão dentária superior, retrusão den- topediatr Odontol Bebê. 2003;6(29):42-8.
tária inferior. O diagnóstico com o otorrinolaringologista é Cavassini VGS, Ribeiro SG, Nemr NK, Greco AM, Köhle J, Lehn CN.
essencial para determinar se o padrão respiratório bucal é Hábitos orais de sucção: estudo piloto em população de baixa renda.
Rev Bras Otorrinolaringol. 2003;69(1):106-10.
causado por alguma obstrução (hipertrofia de adenoides e/
Enlow DH, Hans MG. Noções básicas sobre crescimento facial. São
ou amígdalas, cornetos, pólipos e outros) ou se é decorren- Paulo: Santos; 1998.
te de um hábito adquirido. O grau de complexidade desse Faltin Junior K, Faltin RM. Ortodontia preventiva na saúde bucal. In: Kri-
hábito obriga a um tratamento multidisciplinar, visando a ger L. ABOPREV promoçäo de saúde bucal. São Paulo: Artes Médi-
bons resultados. cas/ABOPREV; 1997. p. 349-61.

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C A P Í T U LO 7

Diagnóstico em ortodontia
André Tortamano
Gladys Cristina Dominguez
João Batista de Paiva
Jorge Abrão
José Rino Neto
Lylian Kazumi Kanashiro
Solange M. de Fantini

A busca por taxas de sucesso cada vez mais elevadas, Atualmente a comunicação digital é uma realidade con-
entre os casos tratados ortodonticamente, tem estimulado creta. É difícil encontrar pacientes que não tenham aces-
os ortodontistas a aprimorarem constantemente os meios so a telefones celulares e internet, mesmo entre gerações
de diagnóstico e de tratamento das más oclusões. O diag- diferentes. Já faz parte do dia a dia essa tecnologia que
nóstico deve ser como rotina baseado em vários métodos nos permite ter outros tipos de informação, facilitando a co-
de exame. As informações do diagnóstico ortodôntico são municação e a interatividade entre profissionais, pacientes,
provenientes de três principais fontes: informações do pró- amigos e familiares. Facebook, Twitter, Linkedin... várias são
prio paciente, exame clínico e avaliação dos elementos de as ferramentas que podem agilizar a interação entre as pes-
diagnóstico (análise de modelos, proporções faciais, análise soas, mesmo a distância.
funcional, exames radiográficos e fotografias). O conceito
de diagnóstico evoluiu muito desde Tweed, Moyers e Acker-
man, quando era feito puramente sob o ponto de vista de HISTÓRICO DO PACIENTE
oclusão estática, até chegar a um significado mais amplo,
em que são considerados fatores dentoesqueléticos, mus- Análise geral
culares, psicossociais e ATM.
As más oclusões podem apresentar-se devido a diversos
Para se tratar bem qualquer má oclusão, é preciso em
fatores etiológicos, e a literatura especializada atualmente
primeiro lugar reconhecê-la em todas as suas formas e es-
consagra o fato de que, se a causa dos problemas não for
tágios de desenvolvimento: esse reconhecimento constitui
identificada e eliminada, o sucesso do tratamento ortodôn-
o diagnóstico.1 Segundo Profitt e Fields2 e Profitt e colabo-
tico estará comprometido a curto prazo.
radores,3 diagnóstico e planejamento fazem parte de um
Uma análise geral da saúde do paciente pode muitas
mesmo processo; portanto, o diagnóstico é científico e o
vezes esclarecer a causa dos problemas ortodônticos. Nem
plano de tratamento, uma forma de arte.
sempre os pacientes relatam esses fatos, seja por falta de
conhecimento ou memória, ou, até mesmo, por acredita-
rem não haver vínculo com seus problemas apontados.
INFORMAÇÕES PRELIMINARES Para tanto, um bom questionário de perguntas visando a
desvendar esses problemas se faz necessário. É importante
Dados do paciente obter uma cuidadosa história médica e dental dos pacientes
Ao se preencher os dados de um paciente, deve-se não ortodônticos, tanto para promover um plano correto quanto
apenas incluir informações básicas como nome, endereço, para o entendimento completo do problema. Nesta análise
idade, filiação, data de nascimento, sexo, cor e nacionali- são importantes, inclusive, os dados obtidos sobre o tipo
dade, como também seu(s) número(s) de telefone fixo e/ou físico e a ascendência.
móvel e, principalmente, seu(s) endereço(s) de e-mail e de Pode-se iniciar indagando o paciente de maneira ampla
redes sociais. a respeito de seu estado atual de saúde. Esse questiona-

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mento tem como objetivo enquadrar o paciente em uma As tonsilas palatinas, ou amígdalas, devem ser exami-
saúde boa, regular ou deficiente. nadas e, caso estejam aumentadas ou haja alguma dúvida,
A seguir, deve-se tentar saber se “está em tratamen- deve-se solicitar uma avaliação médica.
to médico?” e, em caso positivo, “qual o motivo?”. Isso O mesmo procedimento deve ser feito ao se analisar
pode revelar dados extremamente importantes para o tra- a “adenoide”, que fica mais evidente nas telerradiografias
tamento, desde possíveis fatores etiológicos até cuidados laterais ou nas tomografias volumétricas. A constatação de
necessários. Um exemplo é o paciente que está em tra- problemas nesses dois últimos itens (adenoide ou tonsilas)
tamento de rinite alérgica. Em tal caso clínico específico, está intimamente relacionada com o item seguinte, que é a
existe a suspeita de que o paciente pode apresentar uma respiração. Caso o paciente apresente problemas nesses
respiração bucal e uma possível mordida cruzada poste- quesitos, o auxílio de um otorrinolaringologista deve ser so-
rior. O profissional que corrigir essa mordida cruzada deve licitado e um acompanhamento se faz necessário. Esse fa-
acompanhar com muito cuidado esse paciente, porque, tor etiológico, quando não resolvido, provoca a recidiva dos
caso a rinite persista e a respiração não seja normaliza- procedimentos ortodônticos realizados. Na constatação
da, a tendência à recidiva é muito grande. Outro exemplo desses problemas, a solução pode ser clínica ou cirúrgica,
seria um paciente portador de diabetes melito, no qual o necessitando, portanto, de acompanhamento médico. Na
cuidado deve ser redobrado com relação à higiene bucal finalização do tratamento ortodôntico, uma nova avaliação
e às infecções gengivais no decorrer do tratamento, pois deverá ser feita, porque, caso o problema persista, a estabi-
podem gerar uma possível descompensação dos valores lidade do caso clínico estará comprometida.
glicêmicos e provocar consequências que afetariam não Problemas na dicção também contribuem para o mau
só o tratamento ortodôntico como também a saúde geral posicionamento dentário e/ou das bases ósseas. Como os
do paciente. músculos da cavidade oral são requisitados na fala, a inter-
Os problemas relacionados à “alergia ou sensibilida- posição da língua entre os dentes afeta diretamente o po-
de a remédios” têm grande importância na prescrição de sicionamento destes. Conversar com o paciente, pedindo
medicamentos. Nos tratamentos ortodônticos, o uso de que ele repita algumas palavras, é uma boa alternativa de
medicamentos costuma ser de analgésicos ou de alguns constatação desses problemas. O encaminhamento para
anti-inflamatórios, principalmente na instalação do aparelho uma fonoaudióloga, para ajudar no diagnóstico ou no trata-
ou 2-3 dias após as manutenções do mesmo. Nessa fase mento, se faz necessário em muitos casos.
do tratamento, os pacientes relatam uma sensação doloro- A presença de “hábitos” deletérios é um fator etiológi-
sa mais intensa dependendo da tolerância à dor, o que deve co que pode levar ao insucesso do tratamento ortodôntico
levar o profissional a avaliar melhor sua recomendação. se não for removido. Como exemplos de hábitos deletérios
No item “saúde bucal boa, regular ou deficiente”, uma podemos citar a sucção dos polegares, a onicofagia (ato de
análise minuciosa deve ser feita, pois, caso seja detectado roer as unhas) e a sucção dos lábios. Quanto mais preco-
algum problema, a instalação do aparelho pode ser retarda- cemente o hábito for removido, maiores serão as chances
da ou até mesmo suspensa. Um exemplo não tão incomum de a oclusão do paciente melhorar ou até mesmo voltar à
seria o fato de o paciente apresentar problemas periodon- normalidade.
tais e, após a análise das radiografias, o profissional julgar A “deglutição” atípica interfere diretamente na posição
necessária a ajuda do periodontista antes da instalação do dos dentes e, portanto, sua correção se faz necessária. Em
aparelho ortodôntico. muitos casos, não adianta apenas corrigir a posição dos
A “higiene bucal” deve ser encarada sempre como dentes; é preciso recorrer a uma terapia fonoaudiológica
nosso principal desafio. É o item mais importante dentro para reeducar o paciente a respeito de como deve ser a
de qualquer especialidade da odontologia e, se o paciente correta deglutição. O diagnóstico dessa anomalia é feito
não tiver uma boa orientação, pode colocar em risco todo colocando-se água na boca do paciente e pedindo para o
o tratamento. É dever de todo profissional da área ensi- mesmo deglutir; nesse momento, os lábios devem ser afas-
nar os cuidados bucais necessários, educando o paciente tados com o objetivo de observar se ocorre a interposição
para uma odontologia preventiva. No caso do tratamen- da língua no ato de engolir. A maneira correta de deglutir é
to ortodôntico, a colocação de um aparelho que facilite com a ponta da língua tocando atrás dos incisivos centrais
a retenção de alimento na boca, associada a uma higie- superiores e posteriormente no resto do palato, em um mo-
nização deficiente, pode causar danos maiores do que a vimento de anterior para posterior.
má oclusão presente, gerando um sorriso alinhado, porém Por último, mas não menos importante, vem a “postura
com os dentes manchados, resultado da descalcificação labial em repouso”. A importância dessa avaliação está rela-
do esmalte, o que é esteticamente inaceitável. O profis- cionada com todo o planejamento do tratamento ortodôn-
sional que não atentar para isso poderá ser questionado tico. Os lábios são suportados pelos dentes e o tratamento
pelo paciente ou por seu responsável, por não terem sido ortodôntico visa a posicionar corretamente os dentes na
informados sobre esse risco. boca, levando em conta também a estética facial, que está

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intimamente ligada à posição dos lábios. Se no início do dade desse desequilíbrio estaria associada à duração da
tratamento o paciente não apresentar um vedamento labial interferência.
quando em repouso e seu caso for planejado prevendo que O interesse da ortodontia em avaliar a relação que o
os dentes tomarão uma postura mais para anterior, o perfil padrão respiratório mantém com o desenvolvimento dento-
desse paciente será piorado. facial tem sido uma constante nas últimas décadas. Ainda
A respiração, como já mencionado, é um fator de ex- que novas ferramentas de diagnóstico tenham sido utili-
trema importância na ortodontia, por ter uma relação direta zadas recentemente (rinometria, rinomanometria acústica,
com possíveis problemas ortodônticos da cavidade oral. O nasofibroscopia e tomografia computadorizada), isso não
paciente que apresenta respiração oral, além do ar impuro tem sido suficiente para dissipar a controvérsia a respeito
que inspira, também pode apresentar deficiência transversal de a respiração predominantemente oral ser um fator primá-
de maxila. O profissional que tiver dúvida sobre o tipo de rio ou secundário na alteração do padrão de crescimento
respiração que o paciente apresenta pode realizar um teste dentofacial. Porém, existe uma tendência a aceitar que esse
com o paciente mantendo água na boca por alguns segun- tipo de respiração não é a causa primária do crescimento
dos; caso ele não consiga manter a água, significa que pre- predominantemente vertical do indivíduo. A causa primária
cisa da boca para respirar, o que não é considerado normal. seria genética e o meio ambiente apenas acentuaria a in-
tensidade do vetor de crescimento vertical do indivíduo. A
respiração predominantemente oral pode ser diagnosticada
RESPIRAÇÃO ORAL nos três tipos faciais, porém, no tipo dolicofacial, a frequên-
cia é maior. Isso pode estar associado ao próprio padrão
O espaço das vias aéreas superiores é determinado por inú- facial do indivíduo. No entanto, ao se quantificar a área da
meras estruturas que formam suas paredes. A configuração região anterior da cavidade nasal, a mesma não apresenta
e a dimensão do espaço aéreo são produtos do crescimen- diferença significativa entre os três tipos faciais.
to e do desenvolvimento dos tecidos duros e moles ao lon- A análise da inter-relação da respiração com o cres-
go de seu trajeto, desde a narina até a epiglote. cimento dentofacial é tão complexa que os exames que
O equilíbrio postural, muscular e esquelético das estru- avaliam a morfologia da cavidade nasal, por si sós, não
turas da boca, do nariz e da nasofaringe tem como função podem ser utilizados para prognosticar o comprometimen-
principal manter a capacidade respiratória – o espaço físico to respiratório. A incapacidade de oferecer respostas con-
das vias aéreas superiores. vincentes para a influência da respiração no crescimento
Encontra-se na literatura que, nos indivíduos que apre- dentofacial tem mantido o interesse dos pesquisadores
sentam alteração da função respiratória durante a fase de a respeito do tema. Ao ortodontista cabe diagnosticar as
crescimento, o terço inferior da face, de alguma forma, sofre possíveis alterações da respiração predominantemente
influência no seu crescimento e desenvolvimento. Entre as nasal para a oral, tendo em vista que a alteração do pa-
causas mais frequentes associadas a essas interferências drão respiratório de alguma forma interfere nos vetores de
estariam as hipertrofias das tonsilas faringeanas e palatinas crescimento dentofacial.
e das conchas nasais, assim como os desvios de septo. As características clínicas clássicas do paciente com
Alterações no padrão respiratório levam a modificações que respiração predominantemente oral, como olhar vago, face
abrangem desde o transporte mucociliar nasal até a dinâmi- longa, olheiras, mordida aberta anterior, palato ogival, arcos
ca pulmonar, alterando o padrão de vida do paciente. maxilares atrésicos, mordida cruzada posterior e face lon-
As pesquisas têm demonstrado desequilíbrios dentoal- ga, nem sempre estão presentes juntas. O paciente pode
veolares e estreitamento dos arcos dentários em indivíduos apresentar algumas dessas características, mas não neces-
que respiram predominantemente pela cavidade oral duran- sariamente todas.
te a fase de crescimento, provocando interferência no vetor Durante o exame clínico, a colocação de um espelho
de crescimento vertical da face. Por outro lado, também fo- adjacente às narinas, para verificar o fluxo nasal por meio da
ram descritas alterações na postura e nas dimensões den- condensação dos vapores de água no espelho; a coloca-
tofaciais associadas à melhora da função respiratória nasal, ção de uma mecha de algodão adjacente às narinas, para
em pacientes submetidos à remoção cirúrgica das tonsilas observar o movimento de vaivém da expiração e inspiração;
faringeanas. e a colocação de uma pequena quantidade de água na ca-
A equação de Dockrell, de 1952, talvez seja a melhor vidade oral, seguida da orientação para o paciente manter a
forma de explicar a interferência da respiração no cres- boca fechada por alguns segundos – todos continuam a ser
cimento das estruturas dentofaciais. Em sua equação, o métodos clínicos de diagnóstico utilizados pelos dentistas,
autor afirma que um fator agindo sobre os tecidos por um porém com muito menos frequência.
determinado tempo causa um efeito. Ou seja, a respiração O ortodontista ou o clínico geral, durante o exame clíni-
predominantemente pela cavidade oral provocaria uma al- co e com a anamnese do paciente, suspeitando de respira-
teração no equilíbrio do crescimento dentofacial. A severi- ção predominantemente oral, devem orientá-lo a consultar

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um otorrinolaringologista. A estabilidade da correção das contorno do osso malar, contorno labial com relação à base
más oclusões pode ser comprometida na presença de res- nasal, projeção nasal, comprimento da linha queixo-pesco-
piração predominantemente oral. ço e linha subnasal-pogônio.
Como consideração final, ainda que a análise do pa-
ciente esteja apenas no início, todos os inúmeros fatores
etiológicos que podem causar má oclusão devem ser iden-
Medidas faciais
tificados e, se possível, eliminados, na tentativa de se alcan- A literatura descreve inúmeras grandezas faciais nas vistas
çar a estabilidade após o tratamento, proporcionando uma de frente e perfil, empregadas na análise facial clínica (antro-
saúde adequada associada a uma estética perfeita. pometria direta) e na fotometria. Dentre estas, destacam-se
algumas que se mostram de fácil aplicação clínica, diretas
e objetivas na elucidação das características faciais. A an-
ANÁLISE FACIAL tropometria direta e a fotometria envolvem elementos bási-
cos comuns, como a localização de pontos de referência, a
Durante décadas os especialistas em ortodontia realizaram execução de medições e a avaliação dos achados, compa-
a avaliação morfológica da face com finalidade de diagnós- rando-os a valores normativos. A possibilidade da marca-
tico, bem como o planejamento do tratamento ortodôntico ção dos pontos de referência sobre a face dos indivíduos,
com ênfase nas relações entre ossos e dentes, utilizando previamente aos exames, seja visualmente ou com auxílio
as radiografias cefalométricas em norma lateral e frontal. Tal da palpação, pode tornar o exame mais rápido e eficiente.
avaliação tinha o firme propósito de reconhecer as relações Tais métodos, embora limitados, podem ser facilmente rea-
anatômicas entre os componentes craniofaciais, além de lizados, sendo altamente válidos e eficazes na análise facial.
estabelecer as posições dos dentes dentro do osso basal A seguir, algumas medidas utilizadas na análise facial
de acordo as normas estabelecidas em análises cefalomé- clínica em norma frontal e lateral.
tricas. Pouca atenção era dada ao conjunto de caracterís-
ticas tegumentares faciais que compõem o equilíbrio estru-
tural e estético. Vista frontal
Sabe-se, no entanto, que o tratamento das más oclu- 1. Forma e contorno da face: a primeira relação a ser ava-
sões baseado unicamente na análise do padrão cefalométri- liada é a proporção entre a altura e a largura da face.
co, esquelético e dentário pode não ser adequado, havendo A altura da face é medida pela distância entre os pon-
a necessidade de identificar, de maneira subjetiva e objetiva, tos Trichion (Tr), na linha do cabelo, e o ponto Men-
as características faciais que possam orientar a correção da tual (Me’), enquanto a largura é medida pela distância
má oclusão, no sentido de melhorar ou, pelo menos, manter bizigomática (pontos Zd e Ze). Essa proporção variou
a estética facial presente. Assim, de acordo com um dos em torno de 1,3:1 para o sexo feminino e 1,35:1 para
principais objetivos do tratamento ortodôntico, o equilíbrio o sexo masculino. Outro aspecto importante a ser ob-
da estética facial, a motivação do paciente e a má oclusão servado é que a largura bigonial é, em média, 25-30%
são os indicadores da necessidade de tratamento, porém é menor do que a dimensão mais larga da face, medida
a face que indica como este deve ser realizado. Avaliar as na largura bizigomática. A face pode ainda ser subjeti-
proporções e as relações entre as partes que constituem a vamente descrita como larga/estreita, curta/longa, re-
face como um todo pode direcionar de forma mais precisa donda/oval ou quadrada/retangular. Neste momento é
o planejamento das alterações ortodônticas, ortopédicas ou avaliada a simetria facial.
cirúrgicas que irão ao encontro das necessidades estéticas 2. Avaliação do paralelismo dos planos faciais horizontais:
de cada paciente. para examinar a inclinação dos planos faciais, como o
Para a realização da análise facial clínica, o ortodontis- plano oclusal e o plano bigonial e do mento, é neces-
ta segue dois parâmetros distintos: o primeiro, subjetivo, sário utilizar uma referência horizontal confiável. Caso
baseado na percepção da beleza (uma questão de pre- as pupilas estejam niveladas, a linha interpupilar pode
ferência individual com influência cultural); e o segundo, ser utilizada para a avaliação da inclinação de outros
objetivo, por meio do qual são observados aspectos men- planos. Caso as pupilas não estejam niveladas, é uti-
suráveis da harmonia facial, como as proporções antropo- lizada uma linha de referência horizontal construída a
métricas. partir da horizontal verdadeira, passando por uma das
A análise facial clínica deve ser realizada: 1) em norma pupilas.
frontal, considerando a forma e o contorno da face, os pla- 3. Alinhamento das estruturas faciais em relação ao plano
nos faciais, o alinhamento da linha média e os terços faciais; sagital mediano: o filtro labial é, frequentemente, a es-
e 2) em norma lateral, avaliando-se as seguintes caracterís- trutura confiável para o estabelecimento da linha média
ticas: ângulo do perfil, ângulo nasolabial, contorno do sulco da face. Quando as pupilas estão niveladas e o pacien-
maxilar, contorno do sulco mandibular, rebordo orbitário, te está em PNC, utiliza-se uma linha vertical que passa

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pelo ponto médio do filtro, para avaliar outras estruturas maxila no sentido vertical. A subexposição dos incisivos su-
faciais, não só as de tecido duro e mole que devem periores leva a uma aparência envelhecida, especialmente
estar alinhadas com essa linha de referência, como a se associada a retrusão maxilar. É importante salientar que
própria simetria das estruturas faciais em cada uma o ângulo de visão modifica a quantidade de incisivo supe-
das hemifaces. O alinhamento da linha média de tecido rior visível para o observador, a qual pode ser influenciada
mole deve englobar a sela nasal, o ápice nasal, o filtro pela relação entre a altura do paciente e a do observador e
labial e o mento, sendo avaliado conjuntamente com as também pela espessura labial, já que lábios mais grossos
linhas médias dentárias superior e inferior. tendem a expor menos os incisivos.
4. Terços faciais: a face pode ser dividida verticalmente
em terços – terço superior, delimitado pelos pontos Tr
e glabela; terço médio, do ponto glabela ao ponto Sn; e
Vista de perfil
terço inferior, do ponto subnasal até o ponto Me’. Uma Na vista de perfil a avaliação facial segue os mesmos crité-
face equilibrada deve apresentar a proporção de 1:1:1 rios de posicionamento da cabeça do paciente, de oclusão
entre esses três terços. A altura do terço inferior dimi- e de repouso dos tecidos moles. Nela são observadas as
nuída está normalmente associada a deficiência maxilar seguintes características:
vertical e sobremordida profunda. A altura do terço infe-
1. Ângulo de convexidade facial (G.Sn.Pg’): formado pe-
rior aumentada pode estar associada a excesso maxilar
los pontos glabela, subnasal e pogônio dos tecidos
vertical e mordida aberta anterior. O terço inferior da face
moles, avalia o perfil tegumentar mas não determina se
recebe atenção especial por parte dos ortodontistas,
a origem do problema é maxilar ou mandibular, ou se as
pois essa região é sensível às alterações decorrentes
duas bases ósseas, associadas, contribuem para a de-
dos tratamentos ortodôntico, ortopédico e cirúrgico. Ela
sarmonia. Em uma face com perfil equilibrado, o ângu-
é dividida em duas partes: o comprimento do lábio su-
lo de convexidade apresenta valores próximos a 175º.
perior (~19-22 mm), medido do ponto subnasal ao es-
Nesse grupo encontram-se os indivíduos de Classe I.
tômio; e o comprimento do lábio inferior (~ 38,44 mm),
Quando os valores são < 165º, trata-se de um perfil
medido do estômio ao ponto Me’. A proporção normal
convexo, típico dos indivíduos de Classe II. Finalmen-
do lábio superior para o inferior foi estimada em 1:2, po-
te, quando os valores do ângulo de convexidade são >
dendo ser observada tanto na vista de frente quanto na
180º, fica caracterizado um perfil tegumentar côncavo,
de perfil, independentemente dos valores absolutos, o
característico das más oclusões de Classe III.
que promoveria uma harmonia facial.
2. Ângulo nasolabial: formado pela interseção de duas
O espaço interlabial é a distância entre o limite inferior tangentes, a primeira ao lábio superior e a outra à co-
do lábio superior e o limite superior do lábio inferior, quando lumela nasal, ambas partindo do ponto subnasal. Este
estes estão em repouso. O valor varia de 0-3 mm. Valores ângulo auxilia na avaliação do posicionamento antero-
> 5 mm são observados em casos de lábio superior ana- posterior da maxila e dos incisivos superiores, mas é
tomicamente curto (pouco frequente), excesso vertical ma- também influenciado pela inclinação da columela nasal
xilar (mais frequente) e protrusão mandibular com mordida e pelo tônus do lábio superior. Apresenta intervalo nor-
aberta secundária, estando a sua diminuição associada a mal de variação entre 90 e 110º.
deficiência vertical maxilar, lábio superior anatomicamente 3. Contorno do sulco maxilar: corresponde à curvatura
longo e retrusão mandibular com mordida profunda. entre o ponto subnasal e o lábio superior; está asso-
A exposição dos incisivos superiores é uma das carac- ciado à tensão do lábio superior e deve apresentar-se
terísticas mais importantes no equilíbrio da estética facial e suavemente curvado para frente. Com o aumento da
do sorriso. É medida da borda incisal do incisivo superior tensão do lábio superior, esta curvatura tende a ficar
ao estômio superior (ponto mais inferior do lábio superior), plana e, contrariamente, em lábios hipotônicos, tende a
sendo sugeridos valores ideais entre 3-4 mm com os lábios se acentuar.
em repouso. No sorriso, espera-se que ao menos 3/4 da 4. Sulco mandibular ou labiomentoniano: formado pela
coroa dos incisivos centrais superiores estejam à mostra curvatura entre o lábio inferior e o mento, seu contorno
ou que até 2 mm de gengiva estejam aparentes. Deve-se está relacionado com a protrusão ou retrusão dentoal-
salientar que a exposição dos incisivos superiores costuma veolar e com a espessura do mento.
ser maior nas mulheres, havendo variabilidade na exposição 5. Rebordo orbitário: é indicador da posição maxilar no
dos incisivos superiores, relacionada ao comprimento labial, sentido anteroposterior. Bordas orbitárias deficientes es-
ao comprimento vertical maxilar, ao comprimento da coroa tão relacionadas com hipoplasia da maxila e consequen-
anatômica dos incisivos e à magnitude da elevação labial te posição retruída na face. Outro indicador importante
com o sorriso. A exposição do incisivo superior em relação do posicionamento da maxila é a linha de contorno da
ao lábio, em conjunto com a avaliação do comprimento do região do zigomático e da maxila. Em faces equilibradas,
lábio superior, auxilia na verificação do posicionamento da o contorno facial na região do zigomático estende-se

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anteriormente pela linha base nasal-labial, até a maior A correta observação das características faciais facilita
projeção da maxila, de maneira suave e contínua. Inter- a organização e o entendimento dos dados obtidos, me-
rupções desse contorno relacionam-se frequentemente lhora a comunicação entre profissionais e com o paciente,
com deficiências da maxila no sentido anteroposterior, direciona o diagnóstico para que vá ao encontro das reais
denotando aparência plana ao terço médio da face. necessidades de correção, e facilita o planejamento, reper-
6. Comprimento e contorno da base da mandíbula: são cutindo na melhora dos resultados, tanto para os pacientes
avaliados desde a junção do pescoço com a base da ortodônticos quanto para os cirúrgicos.
mandíbula (C), até o ponto mais inferior do Me’. Este
contorno deve se apresentar bem definido e com valor
igual ou ligeiramente menor à altura do terço inferior da ANÁLISE DE MODELOS
face. A avaliação da extensão da base mandibular tem
importância fundamental na decisão da terapêutica en- O planejamento é fundamental na execução do plano de
volvendo reposicionamento mandibular no sentido an- tratamento, e a análise de modelos é um dos instrumentos
teroposterior e vertical. com que se pode contar na prevenção, resolvendo proble-
7. Posição anteroposterior do lábio superior, do lábio in- mas ou dando condições mais favoráveis para futuras cor-
ferior e do mento: a partir da linha subnasal-perpendi- reções.
cular à linha vertical verdadeira, tem-se uma maneira Os modelos de estudo são de grande importância
prática e objetiva de avaliar a relação anteroposterior para o planejamento e o diagnóstico de um caso clínico.
dos lábios e do mento em relação ao ponto subnasal. Eles fornecem diversas informações, como más posições
É sugerido que o lábio superior esteja ligeiramente à dentárias, apinhamentos, relação molar, classificação de
frente do ponto subnasal e do lábio inferior, e que este, Angle, forma das arcadas, diastemas, sobressaliência, so-
por sua vez, esteja ligeiramente à frente do mento. bremordida e assimetrias, além de permitirem uma análise
detalhada da oclusão. Por meio deles, é possível também
Em suma, a análise facial na vista frontal e na lateral é
executar a análise de modelos. A análise de modelos pode
realizada a partir do posicionamento do paciente na posição
ser executada tanto no arco superior como no inferior, mas
natural da cabeça sob supervisão do profissional, com os
geralmente é obtida no arco inferior. Pode ser executada
tecidos moles relaxados e a oclusão em relação cêntrica.
tanto na dentadura mista como na permanente. Existem
Considerando-se as grandezas faciais estudadas na vista
alguns tipos de análises de dentição mista, baseados em
frontal e de perfil, observa-se que o mais importante, depois
dados estatísticos, em que são utilizadas tabelas obtidas
da avaliação isolada de cada uma das características, é a
a partir das médias das distâncias mesiodistais de grupos
observação do conjunto como um todo, para que as deci- 4
de dentes, sendo as mais conhecidas a de Moyers e a de
sões terapêuticas possam ser tomadas. 5
Ballard e Wylie. Além dessas, há também a análise indivi-
A avaliação facial subjetiva, embora importante na indi- 6
dual de Nance, que usa as medidas de cada dente obtidas
cação do conjunto de sinais e sintomas específicos para as
por meio de modelos e radiografias.
diferentes alterações dentofaciais que o paciente pode apre-
As análises da dentição mista nos permitem fazer a
sentar, necessita de respaldo objetivo que direcione diferen-
avaliação da relação de tamanho (largura mesiodistal) dos
tes profissionais ao mesmo diagnóstico, independentemente
caninos e molares decíduos com os caninos permanentes
das limitações inerentes aos métodos de análise facial. Deve-
e pré-molares. É com base na diferença entre o tamanho
-se salientar, ainda, que radiografias e fotografias estáticas
dos dentes decíduos e permanentes que se poderá saber
e isoladas do paciente podem mostrar um posicionamento
se há ou não espaço para um bom posicionamento dos
inadequado da cabeça, da mandíbula e dos lábios, o que
dentes permanentes na região mesial ao primeiro molar
pode levar à imprecisão do diagnóstico e, consequentemen-
permanente.
te, do plano de tratamento. Isso não significa que os registros
da documentação ortodôntica não sejam válidos, mas que
o registro facial clinicamente controlado seria mais confiável. Material e instrumental necessários
Além disso, as visões puramente de frente e de perfil rara-
Para executar a análise de modelos, são necessários:
mente dominam as percepções da face na vida diária, já que
as pessoas são vistas em movimento frequentemente, em • Cartão de registro
posições intermediárias a esses parâmetros, o que torna ne- • Lápis
cessária a avaliação facial de maneira dinâmica. • Borracha
A importância da análise facial clínica e fotográfica é tão • Compasso de ponta seca
evidente que, nos casos em que há controvérsia nas avalia- • Régua milimetrada
ções de tecidos moles e duros, dificultando o diagnóstico, a • Modelos de gesso
análise da face deve ser utilizada como guia principal, muito • Tabelas de Moyers
embora esses exames na maioria das vezes se completem. • Radiografias

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 81

Também é necessário obter as medidas do espaço o diâmetro mesiodistal dos incisivos inferiores, com com-
presente (EP) e do espaço requerido (ER). passo de ponta seca, e os valores correspondentes a cada
dente são transferidos para o cartão de registro.
Espaço presente: corresponde ao perímetro do volume do
A seguir, determina-se o espaço na região anterior.
osso basal a partir da mesial dos molares de um lado, até
Essa determinação é feita com compasso de ponta seca,
a mesial do lado oposto. Tomado no modelo inferior, utili-
medindo-se a distância mesiodistal do incisivo central e a
zando compasso de ponta seca através de uma abertura
distância que vai da distal desse incisivo central até a mesial
pequena, obtêm-se os diversos valores dos segmentos a
do canino decíduo. Essa medida é feita em ambos os lados
partir da mesial dos molares, sendo então transferidos para
e marcada no cartão de registro. Como os incisivos laterais
um cartão de registro (Figura 7-2). A somatória dos valores
geralmente estão em torsiversão, o espaço presente é me-
obtidos nos diversos segmentos, utilizando uma régua mi-
nor do que a soma dos diâmetros mesiodistais dos quatro
limetrada, nos dará o valor do espaço presente (perímetro
incisivos (ER) (Figuras 7-1 a 7-5).
do arco).
Sabe-se, também, que a soma dos diâmetros mesio-
Espaço requerido: corresponde à somatória dos diâme- distais do canino e do primeiro e segundo molares decíduos
tros mesiodistais de todos os dentes permanentes a par- é maior do que a soma do diâmetro de seus substitutos, ou
tir da mesial dos primeiros molares permanentes de um seja, canino, primeiro e segundo pré-molares.
lado, até a mesial do outro. Na dentição mista, obtém- O passo seguinte é a medição do espaço que vai da
-se a somatória dos quatro incisivos, e a somatória dos mesial do canino decíduo até a mesial do primeiro molar
caninos e dos pré-molares é obtida por meio de tabelas permanente (EP). Isso é feito em ambos os lados, e os da-
(método estatístico) ou radiografias. dos devem ser transportados para o cartão de registro.
Por fim, utiliza-se a tabela de Moyers.1 A partir da soma
do diâmetro mesiodistal dos incisivos, pode-se determinar
Análise de Moyers o tamanho médio do canino e do primeiro e segundo pré-
A análise de Moyers1 baseia-se na soma do diâmetro me- -molares.
siodistal dos quatro incisivos inferiores. A partir desse dado, O mais indicado é trabalhar com um nível de 75% de
e com o uso de tabelas, será previsto o diâmetro mesiodis- probabilidade (Figura 7-6).
tal do canino, do primeiro e do segundo pré-molares bilate-
rais. Mede-se no modelo, ou na própria boca do paciente,
ANÁLISE INDIVIDUAL DE NANCE
Nesta análise é usado o mesmo material da análise anterior,
acrescido de radiografias da região dos caninos e dos mola-
res decíduos, bem como dos caninos e primeiros e segun-
dos pré-molares sucessores, que ainda não irromperam.
Assim, determina-se o espaço presente da mesial do
primeiro molar permanente de um lado, até a mesial do
mesmo dente do lado oposto. Não se deve esquecer, po-
rém, que o que se mede é o espaço, não o dente. Assim,
se um dente estiver em torsiversão, deve-se medir o espaço
deixado por ele e não o seu diâmetro mesiodistal. É comum
o incisivo estar em torsiversão, com o espaço deixado por
FIGURA 7-1 Material para a análise de modelos. ele menor do que o seu diâmetro mesiodistal. A medida de

FIGURA 7-2 Espaço presente.

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82 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 7-3 Espaço presente. Fon-


te: Guedes e colaboradores.7
a b

cada espaço deve ser marcada no cartão-registro para que A seguir, através das radiografias, são medidos os diâ-
seja obtido o valor do espaço presente total. metros mesiodistais do canino e do primeiro e segundo pré-
No modelo deve ser medido o diâmetro mesiodistal -molares.
dos incisivos inferiores permanentes, que deve ser registra- Aqui é preciso ter cuidado: por melhor que seja a radio-
do depois no cartão. grafia periapical, ela pode ter sofrido distorções; portanto, a
correção deve ser executada. Para tanto, utiliza-se a regra
de três.
Exemplo com o canino:
Medida do canino decíduo na radiografia = MCDR
Medida do canino decíduo no modelo = MCDM
Medida do canino permanente na radiografia = MCPR
Medida do canino permanente a determinar (real) = X

X = MCPR x MCDM
MCDR
Discrepância modelo: é aquela obtida pela diferença entre
o EP e o ER. Ela pode ser positiva, negativa ou nula: positiva
quando o EP é maior do que o ER; negativa quando o ER é
FIGURA 7-4 Espaço presente. Fonte: Guedes e colaboradores.7 maior do que o EP; e nula quando o EP é igual ao ER.

FIGURA 7-5 Fonte: Guedes e colabora-


dores.7

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 83

A – Tabela de probabilidades para predizer a soma das larguras de 3-4-5 a partir de 2-1 1-2
Arco superior
21-12 19,5 20,0 20,5 21,0 21,5 22,0 22,5 23,0 23,5 24,0 24,5 25,0 25,5 26,0 26,5 27,0 27,5 28,0 28,5 29,0
95% 21,6 21,8 22,1 22,4 22,7 22,9 23,2 23,5 23,8 21,0 24,3 24,6 24,9 25,1 25,4 25,7 26,0 26,2 26,5 26,7
85% 21,0 21,3 21,5 21,8 22,1 22,4 22,6 22,9 23,2 23,5 23,7 24,0 24,3 24,6 24,8 25,1 25,4 25,7 25,9 26,2
75% 20,6 20,9 21,2 21,5 21,8 22,0 22,3 22,6 22,9 23,1 23,4 23,7 24,0 24,2 24,5 24,8 25,0 25,3 25,6 25,9
65% 20,4 20,6 20,9 21,1 21,5 21,8 22,0 22,3 22,6 22,8 23,1 23,4 23,7 24,0 24,2 24,5 24,8 25,1 25,3 25,6
50% 20,0 20,3 20,6 20,8 21,1 21,4 21,7 21,9 22,2 22,5 22,8 23,0 23,3 23,6 23,9 24,1 24,4 24,7 25,0 25,3
35% 19,6 19,9 20,2 20,5 20,8 21,0 21,3 21,6 21,9 22,1 22,4 22,7 23,0 23,2 23,5 23,8 24,1 24,3 24,6 24,9
25% 19,4 19,7 19,9 20,2 20,5 20,8 21,0 21,3 21,6 21,9 22,1 22,4 22,7 23,0 23,2 23,5 23,8 24,1 24,3 24,6
15% 19,0 19,6 19,6 19,9 20,2 20,4 20,7 21,0 21,3 21,5 21,8 22,1 22,4 22,6 22,9 23,2 23,4 23,7 24,0 24,3
5% 18,5 18,8 19,0 19,3 19,6 19,9 21,1 20,4 20,7 21,0 21,2 21,5 21,8 22,1 22,3 22,6 22,9 23,2 23,4 23,7

B – Tabela de probabilidades para predizer a soma das larguras de 3-4-5 a partir de 2-1 1-2
Arco inferior
21-12 19,5 20,0 20,5 21,0 21,5 22,0 22,5 23,0 23,5 24,0 24,5 25,0 25,5 26,0 26,5 27,0 27,5 28,0 28,5 29,0
95% 21,1 21,4 21,7 22,0 22,3 22,6 22,9 23,2 23,5 23,8 24,1 24,4 24,7 25,0 25,3 25,6 25,8 26,1 26,4 26,7
85% 20,5 20,8 21,1 21,4 21,7 22,0 22,3 22,6 22,9 23,2 23,5 23,8 24,0 24,3 24,6 24,9 25,2 25,5 25,8 26,1
75% 20,1 20,4 20,7 21,0 21,3 21,6 21,9 22,2 22,5 22,8 23,1 23,4 23,7 24,0 24,3 24,6 24,8 25,1 25,4 25,7
65% 19,8 20,1 20,4 20,7 21,0 21,3 21,6 21,9 22,2 22,5 22,8 23,1 23,4 23,7 24,0 24,8 24,6 24,8 25,1 25,4
50% 19,4 19,7 20,0 20,3 20,6 20,9 21,2 21,5 21,8 22,1 22,4 22,7 28,0 23,3 23,6 23,9 24,2 24,5 24,7 25,7
35% 19,0 19,3 19,6 19,9 20,2 20,5 20,8 21,1 21,4 21,7 22,0 22,3 22,6 22,9 23,2 23,5 23,8 24,0 24,3 24,6
25% 18,7 19,0 19,3 19,6 19,9 20,2 20,5 20,8 21,1 21,4 21,7 22,0 22,8 22,6 22,9 23,2 23,5 23,8 24,1 24,4
15% 18,4 18,7 19,0 19,3 19,6 19,8 20,1 20,4 20,7 21,0 21,3 21,6 21,9 22,2 22,5 22,8 23,1 23,4 23,7 24,0
5% 17,7 18,0 18,3 18,6 18,9 19,2 19,5 19,8 20,4 20,4 20,7 21,0 21,3 21,6 21,9 22,2 22,5 22,8 23,1 23,4

FIGURA 7-6 Tabela de Moyers.1

Tanto nas análises que usam tabelas como a de Discrepância positiva: é o desejável quando o ER é menor
Moyers,1 como nas que usam medidas obtidas individual- do que o EP.
mente, como a de Nance,6 há três possibilidades no final,
Discrepância nula: quando as medidas são iguais.
com variações.
Discrepância negativa: quando o EP é menor do que o ER.

DM = EP – ER

Arcada inferior

EP = _______ mm

ER = _______ mm

DM = EP (____) – ER (____) = _____

Arcada superior

EP = _______ mm

ER = _______ mm

DM = EP (____) – ER (____) = _____ mm

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84 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

Análise de modelos digitais Existem atualmente inúmeros softwares que auxiliam


na obtenção de imagens e de informações que possibilitam
Os avanços da era digital refletem-se nas mais variadas as medidas necessárias para a execução da análise de mo-
áreas científicas, melhorando-as. Uma das que mais têm se delos. Dentre eles, podem ser citados o e-model, o Ortho-
beneficiado é a ortodontia, com novas ferramentas de diag- cad e o O3DM (Figuras 7-7 a 7-9).
nóstico, fotografia digital e software cefalométrico, entre ou-
tros recursos. Os tradicionais modelos de gesso ainda são
importantes ferramentas de diagnóstico, mas apresentam
muitas desvantagens, como a necessidade de espaço para
armazenamento, elevado risco de quebra, perda de infor-
mações e dificuldade de envio para outros dentistas, quan-
do necessário. Por isso, alternativas têm sido sugeridas,
como fotocópias, fotografias, hologramas e digitalização de
pontos dos modelos de gesso. Os modelos digitais ofere-
cem vantagens como a facilidade de armazenamento e a
recuperação e transferência entre consultórios, além de um
diagnóstico acurado. A precisão e a confiabilidade das me-
dições feitas em computador com base em modelos digitais
assemelham-se às obtidas a partir de modelos de gesso.
Por outro lado, investigadores encontraram excelente repro-
dutibilidade de modelos digitais e diferenças em algumas
medições, mas estas não foram consideradas clinicamente
significativas. Os modelos digitais são tão confiáveis quanto
os de gesso, constituindo uma ferramenta adicional para o
diagnóstico ortodôntico. FIGURA 7-7 E-model. Fonte: GeoDigm Corporation.

FIGURA 7-8 Orthocad. Fonte:


My Cedent.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 85

FIGURA 7-9 O3DM. Fonte: Or-


tholab O3DM.

ANÁLISE FUNCIONAL unânimes em considerar a relação cêntrica (RC) como uma


importante posição de referência para a realização dos tra-
Os conceitos de oclusão funcional atuais não estão relacio- tamentos oclusais. As divergências concentram-se, porém,
nados somente com a oclusão estática dos dentes e com na escolha da melhor posição condilar a ser estabelecida
as estruturas de suporte. Atualmente, a análise funcional é no momento da máxima intercuspidação habitual. Então,
parte importante do exame clínico. qualquer tratamento reabilitador só deve ser instituído de-
Os objetivos do tratamento ortodôntico devem incluir pois de definida e registrada a posição condilar da RC, para
a estética facial e dentária, o conforto do paciente, a efi- que, a partir dela, se defina a posição condilar a ser adotada
ciência e a longevidade das dentaduras, das estruturas de durante a MIH. Ambas as posições mandibulares podem
suporte e das ATMs, além da estabilidade pós-tratamento coincidir ou os côndilos podem estar ligeiramente à frente
e da satisfação da queixa principal do paciente. Também da RC quando alcançada a MIH, dependendo da escola de
merece destaque a oclusão funcional, avaliada segundo pensamento à qual se filie o profissional.
suas características ideais estáticas e dinâmicas, não por As características da oclusão ideal podem ser mais
ser mais importante do que os demais objetivos citados, bem apreciadas ao se analisarem separadamente duas
mas por ser, ainda, insuficientemente considerada na clínica principais situações funcionais. A primeira está relacionada
ortodôntica cotidiana. com o momento da MIH e a segunda, com os movimentos
A oclusão ideal é aquela que permite a realização de mandibulares desenvolvidos durante as funções de masti-
todas as funções fisiológicas próprias do sistema estoma- gação, deglutição e fonação.
tognático, ao mesmo tempo em que é preservada a saú- Para que os movimentos funcionais mandibulares
8
de de suas estruturas constituintes. Depreende-se dessa transcorram de forma ideal, são exigidas duas característi-
definição que, sendo a oclusão ideal, ficam dispensadas, cas principais: liberdade de movimento e mínimo gasto de
durante as funções mandibulares, adaptações do sistema energia muscular. São responsáveis por elas as guias den-
estomatognático, para a preservação da saúde de seus tárias e condilares que, de forma harmônica, devem promo-
componentes. ver a desoclusão dos dentes posteriores, durante os movi-
Os conceitos de oclusão ideal com oclusão normal mentos protrusivos e de lateralidade. Partindo de posições
não podem ser confundidos. O conceito de normalidade laterais ou anteriores, as guias suaves, porém suficientes,
em um sistema biológico pressupõe um intervalo fisiológi- devem assegurar à mandíbula o livre retorno às posições de
co de adaptação em torno de valores considerados nor- MIH ou RC, evitando-se, durante o trajeto, a ocorrência de
9
mais. O conceito de oclusão ideal estabelece critérios para interferências oclusais e consequentes cargas laterais des-
uma oclusão que dispense a necessidade de adaptação trutivas sobre os dentes posteriores.
neuromuscular. O conceito de oclusão ideal envolve tanto Considerando os movimentos de lateralidade, os tipos
características anatômicas estáticas, como aspectos dinâ- de guia podem variar entre guia pelos caninos, função em
mico-funcionais. grupo parcial ou função em grupo total.
O diagnóstico ortodôntico baseia-se, tradicionalmen- Na guia pelos caninos, apenas estes dentes do lado de
te, em exame clínico e obtenção de registros (fotografias trabalho relacionam-se de modo a desocluir os demais ele-
intra e extraorais, telerradiografia lateral e modelos de ges- mentos, tanto neste lado (de trabalho) como no oposto (de
so) realizados na máxima intercuspidação habitual (MIH). não trabalho). Na função em grupo parcial, a guia é composta
Esta tem sido uma das causas de críticas sofridas pelos pelos caninos e primeiros ou até segundos pré-molares supe-
10
ortodontistas, desde o início do século passado, e me- riores e inferiores do lado de trabalho. E na função em grupo
rece ser analisada em maior profundidade. Os autores são total, participam também, em conjunto com os caninos e pré-

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86 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

-molares, os primeiros molares superiores e inferiores, deven- considere importantes os aspectos da oclusão funcional e
do permanecer desocluídos os segundos e terceiros molares. prefira assumir os riscos impostos, tanto a curto como a
As desoclusões resultantes das guias em lateralidade longo prazo, por um diagnóstico eventualmente equivoca-
devem medir 1 mm no lado de trabalho, e até 2 mm no lado do. É importante salientar que esse tipo de erro dificilmente
de não trabalho. Contribui para essa maior desoclusão, no é superado, por maiores que sejam a qualidade técnica e a
lado de não trabalho, o trajeto do côndilo orbitante, em di- habilidade do profissional, sem que isso implique em gran-
reção anterior, inferior e medial, guiado pela eminência arti- des desgastes, tanto para este como para o paciente. Con-
cular. No movimento protrusivo, a desoclusão posterior deve siderando-se que os tratamentos ortodônticos costumam
ficar em 2 mm. Guias dentárias adequadas dependem das ser longos e exigem esforços de natureza diversa, por parte
relações verticais, horizontais e transversais exibidas pelos dos pacientes, é natural que estes esperem os melhores re-
dentes anteriores, sendo estas influenciadas pelas relações sultados, não só do ponto de vista estético, como também
entre as bases ósseas. do funcional e de estabilidade. Sendo assim, a responsabi-
A sobremordida anterior varia em 4 mm e a sobressa- lidade de oferecer tratamentos mais previsíveis implica em
liência, entre 1 mm e 2 mm, segundo Lee.11 É importante diagnósticos mais acurados, que considerem não apenas
também que os incisivos e os caninos demonstrem as in- as más oclusões morfológicas, mas também as más oclu-
clinações observadas por Andrews,12 ao descrever as seis sões funcionais.
“chaves” da oclusão normal. Evidencia-se, assim, a importância do diagnóstico orto-
No instante em que ocorre a MIH, a estabilidade das dôntico em RC – pelo menos até que seus críticos apresen-
relações interdentárias é garantida pelos múltiplos contatos tem uma alternativa concreta e comprovadamente melhor
bilaterais simultâneos e pelas cargas axiais.13 do que as vagas sugestões habituais.
Os múltiplos contatos bilaterais simultâneos têm o mé-
rito de distribuir as cargas mastigatórias pelo número máxi-
mo de dentes, de modo que a fração de carga destinada a FOTOGRAFIAS NA ORTODONTIA
cada dente, durante as funções normais, seja de magnitude
compatível com os tecidos de sustentação, em cada região Tanto os profissionais como os pacientes têm dado cada
da arcada. vez mais ênfase à estética facial e ao sorriso.
Dawson14 definiu a RC como a posição mais superior A correção das más oclusões por meio de tratamento
dos côndilos nas fossas articulares, e estabeleceu quatro ortodôntico e/ou ortopédico pode alterar a face e o sorriso
condições para sua configuração nas articulações saudáveis: do paciente. Dependendo da má oclusão, do padrão facial
do paciente e da mecânica adotada, o tratamento ortodôn-
1. discos corretamente alinhados com os respectivos
tico pode trazer benefícios ou prejuízos à estética. Assim, é
côndilos;
de suma importância a observação e a análise do paciente
2. conjunto côndilo-disco assentado o mais superiormen-
antes de qualquer intervenção, para que se realizem altera-
te possível, contra a vertente posterior da eminência
ções na oclusão buscando modificações positivas à estética
articular;
da face e do sorriso. Portanto, a análise facial constitui-se
3. polo medial do conjunto côndilo-disco apoiado em
como uma importante ferramenta para auxiliar no diagnósti-
osso;
co e no planejamento do tratamento ortodôntico.
4. músculo pterigoideo lateral inferior relaxado e passivo.
A análise facial e do sorriso permite o reconhecimen-
De acordo com Roth,15,16 deslocamentos condilares to dos elementos positivos e negativos da estética facial e
no plano sagital > 2 mm modificam de forma significativa do sorriso de cada paciente, possibilitando traçar um plano
os valores cefalométricos relacionados com a mandíbula, de tratamento adequado. Podem-se estabelecer, já no iní-
quando comparadas as telerradiografias obtidas em MIH cio do tratamento, as limitações estéticas e a necessida-
com aquelas convertidas para RC. Como consequência, os de de intervenções de outras especialidades (dentística e
pacientes examinados em RC apresentam más oclusões periodontia) para auxiliar no tratamento ortodôntico, visto
diferentes daquelas diagnosticadas em MIH, não apenas que a estética do sorriso não depende somente do posi-
quando examinados os modelos montados em articulador cionamento dos dentes, mas também de sua coloração e
semiajustável, mas também quando estudados os traçados anatomia, e do posicionamento e nivelamento gengival. Tais
cefalométricos em telerradiografias convertidas para RC, análises podem ser realizadas durante o exame clínico, de
principalmente na presença de deslocamentos entre ambas maneira direta. Porém, seria importante o registro facial e
as posições > 2 mm, no sentido vertical e/ou horizontal. dentário para facilitar a comunicação entre profissionais e
A escolha da RC como posição de referência, ao re- com o paciente, para avaliações mais profundas e objetivas,
alizarem-se o diagnóstico e o plano de tratamentos orto- e para que possam ser comparadas as diferentes fases do
dôntico, parece representar uma responsabilidade da qual tratamento. Dessa forma, torna-se necessária a padroniza-
o ortodontista não pode se esquivar, a menos que não ção dos registros facial e dentário por meio de fotografias.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 87

REGISTRO FACIAL E DENTÁRIO Frontal e laterais direita e esquerda


As fotografias frontal e laterais direita e esquerda devem ser
As principais fotografias para os registros da face e do sor-
realizadas com o auxílio de abridores de boca e o paciente
riso para a avaliação da estética são as extraorais (frontal,
em máxima intercuspidação. As três fotografias devem ser
frontal com sorriso máximo, laterais direita e esquerda) e as obtidas paralelamente ao plano oclusal, que deve ficar pa-
intraorais (frente, laterais direita e esquerda, sobressaliência, ralelo às margens superior e inferior da fotografia, mantendo
oclusais superior e inferior). as mesmas proporções dimensionais.
A fotografia frontal deve abranger toda a dimensão
Fotografias extraorais transversal das arcadas dentárias em oclusão, enquanto as
fotografias laterais são obtidas perpendicularmente ao pla-
Para a obtenção da fotografia extraoral, deve-se buscar um no sagital mediano, para que se registre a relação antero-
fundo liso, cuja cor permita o destaque do contorno da face posterior das arcadas dentárias superior e inferior.
do paciente, com o maior eixo do visor da câmera no sen-
tido vertical. Oclusais superior e inferior
O paciente deve estar em pé, com os pés ligeiramen- Além dos abridores de boca, estas fotografias devem ser
te afastados, os braços ao longo do corpo, postura ereta, realizadas com a ajuda de espelhos específicos para tal fim.
com a posição natural da cabeça orientada, olhando para Elas devem registrar todos os dentes da arcada dentária.
o horizonte, em máxima intercuspidação, com os lábios em
repouso e as orelhas descobertas. A fotografia extraoral Sobressaliência
deve apresentar como limites a parte superior da cabeça e Com os abridores de boca em posição, esta fotografia é
a parte inferior do pescoço (região da clavícula). obtida com o paciente em máxima intercuspidação, com
uma incidência de baixo para cima da região anterior, dos
Frontal caninos do lado direito aos caninos do lado esquerdo.
A incidência da câmera deve ser frontal, paralela e coinci-
dente com o plano sagital mediano.
Avaliam-se a simetria facial, as proporções entre os ter- REFERÊNCIAS
ços faciais verticais e a largura da face.
1. Moyers RE. Handbook of orthodontics. 4th ed. Chicago: Year
Frontal com sorriso máximo (máxima contração muscular) Book Medical; 1988.
2. Proffit WR, Fields HW. Ortodontia contemporânea. 3. ed. Rio de
Solicita-se que o paciente execute um sorriso máximo e es-
Janeiro: Guanabara Koogan; 2000.
pontâneo, e a incidência da câmera deve ser frontal, parale-
3. Proffit WR, Fields HW, Sarver DM. Ortodontia contemporânea. 4.
la e coincidente com o plano sagital mediano. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2007.
Permite avaliar a dimensão transversal do sorriso, o 4. Moyers RE. Ortodontia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
corredor bucal, a quantidade de exposição dos incisivos 1991.
superiores e do tecido gengival, o alinhamento das linhas 5. Ballard ML, Wylie WL. Mixed dentition case analysis, estimating
médias, dentária e facial, a inclinação do sorriso e a relação size of unerupted permanent teeth. Am J Orthod. 1947;33(11):
754-9.
entre a curvatura incisal e o lábio inferior – os determinantes
6. Nance NH. The limitations of orthodontic treatment; mixed denti-
do grau de atratividade de um sorriso. tion diagnosis and treatment. Am J Orthod. 1947;33(4):177-223.
7. Guedes-Pinto AC, Moura AAM, Ortega AOL, Haddad AS, Lino AP,
Laterais direita e esquerda Horliana ACRT, et al. Odontopediatria. 8. ed. São Paulo: Santos;
Para o registro dos lados direito e esquerdo da face, a inci- 2010.
dência da câmera deve ser perpendicular ao plano sagital 8. Lauritzen AG. Atlas of occlusal analysis. Colorado Springs: HAH;
mediano. [1974].
9. Ramfjord SP, Ash MM. Oclusão. Rio de Janeiro: Interamericana;
Assim como na fotografia frontal, podem-se avaliar as
1984.
proporções entre os terços médio e inferior da face. Entre- 10. Arnold CRP. Traumatic occlusion. Int J Orthod. 1927;13(1):24-7.
tanto, nesta incidência é possível também a verificação das 11. Lee R. Esthetics and its relationship to function. In: Rufenacht
relações anteroposteriores do nariz, dos lábios superior e CRN. Fundamentals of esthetics. Chicago: Quintessence; 1992. p.
inferior e do mento. 137-209.
12. Andrews LF. The six keys to normal occlusion. Am J Orthod.
1972;62(3):296-309.
Fotografias intraorais 13. Beyron HL. Characteristics of functionally optimal occlusion
and principles of occlusal rehabilitation. J Am Dent Assoc.
As fotografias intraorais registram as características gerais 1954;48(6):648-56.
da má oclusão, além de possíveis desgastes oclusais, man- 14. Dawson PE. Evaluation, diagnosis and treatment of occlusal pro-
chas dentárias, retrações gengivais e outros aspectos. blems. Saint Louis: Mosby; 1974.

Abrao_cap_07.indd 87 18/10/13 10:22


88 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

15. Roth RH. Functional occlusion for the orthodontist. J Clin Orthod. me auxiliar ao diagnóstico ortodôntico: um estudo piloto. Rev Dent
1981;15(1):32-40, 44-51 contd. Press Ortod Ortop. 2007;12(1):84-93.
16. Roth RH. Functional occlusion for the orthodontist. Part III. J Clin Quimby ML, Vig KW, Rashid RG, Firestone AR. The accuracy and re-
Orthod. 1981;15(3):174-9, 182-98. liability of measurements made on computer-based digital models.
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Rheude B, Sadowsky PL, Ferriera A, Jacobson A. An evaluation of the
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1993;103(4):299-312. Orthod. 1997;24(2):139-47.
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Confiabilidade do uso de modelos digitais tridimensionais como exa- 95.

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C A P Í T U LO 8

Avaliação da idade esquelética


Weber Ursi
Thácia Oliveira Silva

Com a evolução da técnica cefalométrica padronizada, a ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO:


compreensão dos fatores relacionados ao crescimento
INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E PUBERDADE,
craniofacial tornou-se de suma importância na prática or-
todôntica. O estágio maturacional do indivíduo irá influen-
FASE ADULTA
ciar diretamente nas decisões relativas ao diagnóstico e no A infância inicia-se no final do período gestacional e esten-
plano de tratamento. A predição da época do crescimento de-se por ~ 10-12 anos, podendo ser dividida em “primeira
puberal, da sua velocidade e da quantidade de crescimento infância” (0-3 anos) e “segunda infância” (3 a 10-12 anos).
remanescente torna-se uma ferramenta bastante útil na cor- A primeira infância é caracterizada por uma taxa de cresci-
reção dos desequilíbrios esqueléticos, auxiliando na melhor mento extremamente alta, quando comparada às demais
escolha de protocolos de tratamento, considerando desde fases da vida pós-natal; no entanto, com o passar do tem-
o uso de forças extrabucais, aparelhos ortopédicos funcio- po, ocorre um declínio substancial. Na segunda infância, as
nais, exodontias ou mesmo cirurgia ortognática. taxas de crescimento continuam altas, porém decrescentes.
Outras questões a serem consideradas quanto à de- Esta fase é caracterizada pelo aparecimento da maioria dos
cisão de quando se iniciar o tratamento desses pacientes centros de ossificação secundários ou epífises. Na face, a
estão fortemente relacionadas aos efeitos psicossociais re- taxa de crescimento é significativa e ocorre o desenvolvi-
sultantes da aparência dentofacial, ao maior risco de trau- mento da oclusão, bem como uma alteração na demanda
matismos na região dos dentes anteriores nos casos de funcional do complexo mastigatório, mas a mandíbula ainda
má oclusão de Classe II e ao prolongamento do tempo de é pouco desenvolvida. No final da infância, a criança cresce
tratamento, que pode provocar sérios problemas quanto à relativamente pouco, pois as taxas de crescimento tornam-
colaboração por parte do paciente e na relação profissional- -se decrescentes até chegar a um estágio de velocidade
-família. Nos casos em que existem efeitos psicossociais mínima pré-pubescente. Nesta época, a união epifisária
danosos devido à aparência estética facial, bem como inicia-se nas mãos e nos pés.
quando há risco de traumatismos, o tratamento precoce A adolescência é marcada por grandes alterações fisio-
está justificado independentemente do estágio de desen- lógicas, morfológicas e comportamentais, observando-se
volvimento dentário ou maturacional do paciente, uma vez significativas mudanças no complexo craniofacial. Segundo
que a relação custo-benefício favorece a decisão pelo tra- Krogman,8 a adolescência é um período de amadurecimen-
tamento. to cultural e comportamental, enquanto a puberdade se re-
Para a identificação dos estágios maturacionais do fere àqueles eventos que levam ao amadurecimento bioló-
indivíduo, parâmetros como características sexuais se- gico. As principais manifestações da puberdade são o surto
cundárias, idade cronológica, desenvolvimento dentário de crescimento puberal, o desenvolvimento das gônadas e
e esquelético, altura e peso têm sido utilizados com fre- das características sexuais secundárias, a distribuição da
1-6
quência. Apesar de os eventos relacionados ao cresci- gordura corporal, o desenvolvimento muscular e esqueléti-
mento ocorrerem em uma sequência razoavelmente cons- co, e, finalmente, o aumento da capacidade e da resistência
9
tante, a época, a duração e a velocidade do crescimento física, principalmente nos homens. O surto de crescimento
3,4,7
são bastante variáveis entre os indivíduos, estando re- puberal, que ocorre neste estágio do desenvolvimento, é
lacionadas ao nível de desenvolvimento maturacional de de grande importância na prática ortodôntica, já que esse
2
cada um. evento se caracteriza por um aumento considerável na taxa

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90 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

Velocidade de crescimento Máxima pubescente

1a Mínima pré-pubescente
infância Seres humanos

2a infância
Adolescência
Adulto

Estágio de desenvolvimento
FIGURA 8-1 Curva de velocidade de crescimento em seres humanos. Fonte: Adaptada de Ursi.10

de crescimento dos tecidos esqueléticos, que se reflete no Uma compreensão da relação existente entre a idade
ganho estatural a partir dessa fase (Figura 8-1). de início do máximo crescimento puberal e outros eventos
Os processos relacionados ao crescimento em geral da maturação física, como o crescimento estatural e cranio-
continuam por toda a vida. Na fase adulta, porém, a lo- facial, o desenvolvimento esquelético e dentário, bem como
calização e o equilíbrio entre o ganho e a perda de massa o aparecimento das características sexuais secundárias, é
óssea absoluta no crescimento esquelético sofrem altera- bastante importante na identificação do momento oportuno
ções, bem como o crescimento ósseo subperióstico, que é para a instituição de um tratamento ortodôntico/ortopédico
responsável por uma maior reabsorção após a meia-idade, nos casos de discrepâncias esqueléticas maxilomandibula-
especialmente nas mulheres. Behrents,11 estudando o cres- res durante esse período.
cimento craniofacial após a adolescência, encontrou que,
particularmente nos indivíduos do sexo masculino, algum
crescimento acontece durante a idade adulta, embora a
O surto de crescimento puberal e o surto de
quantidade não seja clinicamente relevante para a correção crescimento em altura
de discrepâncias esqueléticas preexistentes. O período de aceleração compreende um intervalo de dois
anos em torno do pico de velocidade em altura,16 que é a
representação mais válida do crescimento esquelético indi-
O SURTO DE CRESCIMENTO PUBERAL E vidual, porém incapaz de predizer o crescimento futuro ou
17
SUA RELAÇÃO COM OS DEMAIS EVENTOS remanescente. Informações adicionais são necessárias
18
DO CRESCIMENTO para se determinar o nível de maturação individual.
13
Bergersen relatou uma significativa correlação entre o
O estudo do surto de crescimento puberal começou em início do pico adolescente de todas as dimensões faciais
1759, quando o conde Philibert Gueneau de Montbeillard nos indivíduos do sexo masculino e o pico de crescimento
18
decidiu avaliar a velocidade de crescimento estatural de seu em altura. Hägg e Taranger relataram haver dois anos de
próprio filho durante 18 anos (Figura 8-2).12 diferença entre o começo, o pico e o final do crescimento
Desde então, o surto de crescimento puberal tem sido puberal em altura tanto para homens como para mulheres.
descrito como um período ativo de crescimento acelera- Moore e colaboradores3 encontraram uma relação significa-
do.13 Este evento do crescimento deve ser especialmente tiva entre o crescimento estatural e a maturação esquelética
considerado quando se planeja o tratamento de más oclu- analisando radiografias de mão e punho, sendo que os es-
sões associadas a discrepâncias esqueléticas maxilomandi- cores de maturidade no sexo feminino aos 13 anos se cor-
bulares, sendo de suma importância a detecção do início do relacionaram melhor com a velocidade em altura entre 13 e
surto, para que se possa tirar proveito do mesmo durante o 14 anos; já no sexo masculino, os escores de maturidade
tratamento ortodôntico.14 A idade do início do surto de cres- aos 16 anos se correlacionaram melhor com a velocidade
cimento puberal vai variar de acordo com o sexo, a gera- em altura entre 15 e 16 anos.
ção, a população e o ambiente, além de variar de indivíduo Nos indivíduos do sexo masculino, o pico de crescimento
para indivíduo.15 puberal ocorre entre 12,5-15 anos de idade e é responsável

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 91

25

20

15
Cm/ano

10

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Idade (anos)
FIGURA 8-2 Velocidade de crescimento estatural para o filho de Montbeillard. Fonte: Ursi.10

por um ganho estatural de ~ 20 cm, variando entre 10-30 cm Registros longitudinais em altura podem ser usados
e atingindo, em alguns casos, uma velocidade de crescimen- para se avaliar a taxa de crescimento facial durante a pu-
to de 10 cm ao ano. A velocidade máxima de crescimento é berdade, mas tornam-se inviáveis na prática clínica, já que
alcançada por volta dos 14 anos de idade, podendo variar é muito difícil identificar o pico de crescimento puberal an-
entre os 12 e os 17 anos. Nos indivíduos do sexo feminino, o tes que ele tenha passado, pois os incrementos observa-
pico de crescimento puberal ocorre dois anos antes, por volta dos são muito pequenos, principalmente entre as mulhe-
18
dos 12 anos de idade, podendo variar entre 10,5 e 13 anos res. De uma forma geral, o clínico deve realizar uma única
de idade. No sexo feminino este surto acontece em menor avaliação transversal do nível de maturação esquelética do
magnitude quando comparado ao masculino, com a veloci- indivíduo e levar em consideração outros fatores, além do
dade de crescimento máximo de 8 cm ao ano (Figura 8-3). crescimento estatural.
Hunter,1 avaliando a correlação do crescimento facial
com o crescimento em altura e a maturação esquelética na
O surto de crescimento puberal e o surto de
adolescência, encontrou que o crescimento facial máximo
crescimento craniofacial era coincidente com o máximo crescimento em altura na
Vários estudos têm mostrado uma forte correlação entre o maioria dos indivíduos estudados; além disso, encontrou
pico da velocidade de crescimento em altura e o pico da também que o tamanho facial final era atingido mais cedo
velocidade de crescimento facial.1,13,15,16,19,20 no sexo feminino do que no masculino, em relação à ida-

7 Masculino
Feminino
6
Cm/ano

0
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Idade (anos)
FIGURA 8-3 Surto de crescimento estatural adolescente em indivíduos de ambos os sexos. Fonte: Adaptada de Ursi.10

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92 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

de esquelética, e que, na maioria dos indivíduos do sexo da idade do desenvolvimento mais informativos para aplica-
masculino estudados, uma pequena quantidade de cres- ção clínica do que a idade cronológica.7
cimento facial ocorreu após os 18 anos e, provavelmente, Hunter,1 em seus estudos sobre maturação esquelética,
após a completa maturação esquelética. Já Bergersen,13 em ambos os sexos, encontrou uma diferença significativa
estudando o pico de crescimento facial em indivíduos do entre a idade cronológica média e o período de máximo
sexo masculino, encontrou uma forte correlação entre a crescimento facial. Bergersen,13 estudando o pico de cresci-
maturidade esquelética e o começo do pico de crescimen- mento facial adolescente no sexo masculino, encontrou que
to facial. Moore e colaboradores,3 estudando a maturidade a idade esquelética estimada no começo do pico tem uma
esquelética e o crescimento craniofacial, encontraram que variação de 36% da idade cronológica estimada e é um in-
a relação entre a aceleração e a desaceleração no cresci- dicador mais preciso da época do surto do que a idade cro-
mento das dimensões craniofaciais específicas e a altura nológica. Fishman,23 comparando a idade cronológica com
estatural ou maturidade esquelética não é clinicamente a idade esquelética na avaliação do crescimento craniofa-
significativa para predição, porém esses fatores podem cial, não encontrou coincidência entre as idades na maioria
ser considerados durante o diagnóstico e o plano de trata- dos indivíduos estudados. Haiter-Neto e colaboradores,24
mento em casos individuais. Flores-Mir e colaboradores,17 avaliando a aplicabilidade de três métodos para medir a ida-
em seu estudo avaliando o uso da maturidade esquelé- de esquelética em crianças e adolescentes brasileiros, não
tica para predizer o crescimento facial, encontraram que encontraram diferença estatisticamente significativa entre a
as velocidades de crescimento maxilar e mandibular têm idade cronológica e a idade esquelética estimada.
relação com a maturidade esquelética, porém tal relação A idade dentária tem um baixo valor como critério para
não é tão forte como acontece com a velocidade de cres- avaliação da maturidade esquelética.14,25 Hägg e Taranger,18
cimento facial geral. em seus estudos sobre indicadores maturacionais, encon-
Durante o surto de crescimento craniofacial, o com- traram que o desenvolvimento dental, medido através dos
primento mandibular e a altura do ramo aumentam ~ 24% estágios de erupção, não era um indicador útil do pico de
na adolescência.21 A distância articulare-pogônio (Ar-Pog) crescimento puberal. Já Uysal e colaboradores,26 relacio-
durante o pico de crescimento, segundo Bishara,22 chega nando as idades dentária e esquelética em indivíduos tur-
a aumentar 6,3 mm nos homens e 4,8 mm nas mulheres, cos, encontraram que a completa formação radicular dos
sendo que o surto é menos significativo nos indivíduos do dentes canino e primeiro pré-molar pode ser usada como
sexo feminino e ocorre mais cedo (Tabela 8-1). indicador maturacional do pico de crescimento puberal,
tanto quanto os indicadores para a radiografia de mão e
punho, quando pacientes dessa origem forem tratados.
O surto de crescimento puberal e as idades
Franchi e colaboradores,27 avaliando as fases da dentição
cronológica e dentária para medir a maturidade esquelética, encontraram um forte
Existem muitas diferenças fisiológicas entre indivíduos de valor diagnóstico na dentição mista precoce para a iden-
mesma idade cronológica, e por isso a medida da idade tificação somente da maturidade esquelética pré-puberal.
esquelética é preferível à da idade cronológica quando se Perinetti e colaboradores,28 estudando o desenvolvimento
necessita avaliar o desenvolvimento somático.1 A idade es- dentário para a identificação da fase de maturação esquelé-
quelética pode estar desviada em vários graus para mais ou tica, encontraram uma performance diagnóstica satisfatória
para menos da idade cronológica,23 sendo os indicadores para o estágio de maturação dos dentes inferiores somente

TABELA 8-1 Mudanças médias durante os dois anos no pico de crescimento (período do pico), os dois anos anteriores
(período pré-pico) e os dois anos posteriores (período pós-pico)

PICO PERÍODO PRÉ-PICO PERÍODO PÓS-PICO


PARÂMETRO SEXO
m S m S m S
M 14,1 2,4 12,2 1,2 7,4 2,3
Altura (cm)
F 13,8 1,9 11,8 1,5 5,7 1,9
M 6,3 1,3 5,4 1,5 3,7 1,6
Ar-Pog (mm)
F 4,8 1,0 3,8 0,9 2,8 1,0
M 1,2 0,9 1,0 0,5 0,7 0,4
SNPog (graus)
F 1,2 0,6 0,8 0,6 0,2 0,2

m 5 média; s 5 desvio padrão.


22
Fonte: Adaptada de Bishara.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 93

FIGURA 8-4 Estágios epifisários: (a) epífise me-


nor que a diáfise; (b) epífise com a mesma largura
da diáfise; (c) capeamento epifisário; (d) início da
união epifisária; (e) união total epifisária; (f) seni-
a b c d e f lidade. Fonte: Mercadante.5

na identificação da fase de crescimento pré-puberal, não 1. FD=: epífises das falanges distais com a mesma largura
sendo um indicador confiável do início do surto. das diáfises;
2. FP=: epífises das falanges proximais com a mesma lar-
gura das diáfises;
O surto de crescimento puberal e 3. FM=: epífises das falanges médias com a mesma largu-
o aparecimento das características ra das diáfises;
sexuais secundárias 4. G1: início do aparecimento do gancho radiopaco no
osso hamato;
O aparecimento das características sexuais secundárias,
5. Psi: início da visualização do osso psiforme;
como a menarca, nas mulheres, e as mudanças de voz,
6. R=: epífise do rádio com a mesma largura da diáfise;
nos homens, geralmente indica que o paciente se encontra
7. FD cap: capeamento epifisário nas falanges distais;
numa fase descendente da curva de crescimento.
8. S: visualização do osso sesamoide;
Nos indivíduos do sexo feminino, o aparecimento da
9. G2: gancho do osso hamato ainda mais radiopaco;
menarca ocorre quase sempre após o pico de crescimento
10. FP cap: capeamento epifisário nas falanges proximais;
pubescente.16,29 Se a menarca não aconteceu ainda, a taxa
11. FM cap: capeamento epifisário nas falanges médias;
de crescimento pode estar decrescente, mas certamente
12. R cap: capeamento epifisário no rádio;
o final do crescimento puberal ainda não foi atingido.29 Du-
13. M/FD ui: momento da menarca e início da união epifisá-
rante o surto de crescimento puberal, os indivíduos do sexo
ria nas falanges distais, que ocorrem aproximadamente
masculino sofrem uma grande mudança na voz, que vai se
na mesma época;
tornando progressivamente mais grave. Se as mudanças na
14. FP ui: início da união epifisária nas falanges proximais;
voz já tiverem se iniciado, os indivíduos do sexo masculino
15. FM ui: início da união epifisária nas falanges médias;
estão no pico puberal; se uma voz adulta já existe, a taxa de
16. FD ut: união total epifisária nas falanges distais;
crescimento começa a desacelerar.29
17. FP ut: união total epifisária nas falanges proximais;
A utilização desses indicadores pode reduzir a neces-
18. FM ut: união total epifisária nas falanges médias;
sidade de radiografias carpais ou contribuir para que sua
19. R ut: união total epifisária no rádio.
tomada seja realizada na época apropriada.
O aparecimento do gancho radiopaco no osso hama-
to marca o início do surto de crescimento puberal (SCP),
MÉTODOS PARA A DETERMINAÇÃO DA sendo a época mais adequada para a instituição de tra-
tamentos ortodônticos/ortopédicos. O sesamoide sur-
IDADE ESQUELÉTICA ge antes do pico de velocidade de crescimento puberal
(PVCP). O aumento da radiopacidade do gancho do osso
Método de Martins30
hamato precede o PVCP, sendo o capeamento epifisário
Este método faz uso de uma curva padrão da velocidade nas falanges proximais e médias (FP cap e FM cap) os
de crescimento estatural e dos estágios de ossificação da estágios epifisários que correspondem ao pico. O capea-
mão e do punho. Além da maturação dos ossos, são con- mento epifisário no rádio indica que o PVCP já passou e
siderados os estágios epifisários na mão e no punho (Figura a menarca, para o sexo feminino, indica que o SCP está
8-4). A sequência dos estágios epifisários ocorre primeiro próximo do seu final. A união total epifisária nas falanges
nas falanges distais, depois nas falanges proximais e, por distais indica o final do SCP e a união total epifisária no
último, nas falanges médias, progredindo do dedo polegar rádio indica o final do crescimento na maxila. Porém, o
ao mínino (1 ao 5). crescimento estatural e do côndilo mandibular ainda con-
Segue a descrição dos eventos de ossificação com tinuam por mais um ou dois anos, sendo o término real
base na curva padrão proposta pelo autor e ilustrada na do crescimento dado pelo estágio epifisário de senilidade
Figura 8-5: do rádio.

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94 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

Cm/ano

Início SCP PVCP Fim SCP Term. cresc.

FPcap FMcap
Rcap
610 G2
S
M-FDui
FDcap
R=
Psi FPui

G1 FMui
FM=
FD= FP=
65 FDut

FPut

FMut

Rut

Período (anos)
FIGURA 8-5 Curva padrão da velocidade de crescimento estatural e estágios de ossificação da mão e do punho. Fonte: Mercadante.5

Para a correta utilização da curva padrão proposta pelo 3. MP3: falange média do dedo médio (Figura 8-8)
autor, deve-se sempre considerar o evento que estiver mais (a) Estágio F: largura da epífise igual à da diáfise;
avançado na curva. (b) Estágio FG: largura da epífise igual à da diáfise e
presença de borda medial e/ou lateral distinta da
Método de Hägg e Taranger31 epífise formando uma linha de demarcação per-
pendicular à borda distal;
Neste sistema, dez estágios esqueletais observados nas (c) Estágio G: os lados da epífise se espessam e co-
radiografias de mão e punho foram utilizados, sendo oito brem suas diáfises, formando uma borda afiada
deles já definidos por outros autores e dois novos definidos distalmente a um ou ambos os lados;
e utilizados pelos autores desse método. O crescimento (d) Estágio H: a fusão da epífise com a diáfise tem início;
em altura foi representado graficamente contendo três fa- (e) Estágio I: a fusão da epífise com a diáfise está
ses: início (onset), pico (PHV) e fim (end). Os estágios de
completa.
maturação esquelética foram então correlacionados com o
4. R: epífise distal do rádio (Figura 8-9)
desenvolvimento em altura.
(a) Estágio I: a fusão da epífise com a diáfise tem início;
Os estágios esqueletais são:
(b) Estágio IJ: a fusão está quase completa, mas ain-
1. S: ulnar sesamoide (S) da articulação metacarpofalangeal da existe um pequeno espaço em uma ou ambas
do primeiro dedo antes e após a ossificação (Figura 8-6); as margens;
2. DP3: falange distal do dedo médio (DP3) antes e depois (c) Estágio J: a fusão da epífise com a diáfise está
do estágio I (fusão epífise-diáfise completa) (Figura 8-7); completa.

S I F FG G H I

FIGURA 8-6 Ulnar sesamoi- FIGURA 8-7 Falange distal do FIGURA 8-8 Estágios F, FG, G, H e I da falange média do dedo
de antes e após a ossificação. dedo médio antes e após a fu- médio. Fonte: Hägg e Taranger.31
Fonte: Hägg e Taranger.31 são completa da epífise com a
diáfise. Fonte: Hägg e Taranger.31

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 95

(b) Se o novo estágio IJ é atingido, o período pós-


-puberal já se iniciou.
Os autores concluíram que, se o sesamoide estiver au-
sente, o pico de crescimento puberal ainda não foi alcança-
I IJ J
do; do contrário, se estiver visível, o paciente se encontra
FIGURA 8-9 Estágios I, IJ e J do rádio. no período de aceleração do crescimento do pico puberal,
Fonte: Hägg e Taranger.31 sendo que a fusão epifisária completa do rádio significa que
o fim do pico foi atingido.
32
Os achados baseados no estudo do presente método Deicke e Pancherz, em seus estudos para determinar
são descritos a seguir: se algum crescimento facial ou dentoalveolar ocorre após o
1. Ulnar sesamoide (S): estágio R-J, encontraram em 81% dos indivíduos mudan-
(a) Se o sesamoide não estiver ossificado, o pico não ças de crescimento < 1 mm após esse estágio, não sendo
foi atingido, porém ocasionalmente a ossificação clinicamente importantes para as especialidades da ortope-
pode começar logo após o pico; dia dentofacial e da cirurgia ortognática.
(b) Se o sesamoide já está visível, a maioria dos indi-
víduos já se encontra no período de aceleração do Método de Fishman2
crescimento do pico puberal.
Este sistema, baseado na avaliação de radiografias carpais,
2. Falange média do dedo médio (MP3):
usa quatro estágios de maturação óssea que são encon-
(a) Se o estágio F não é atingido, nenhum indivíduo se
trados em seis sítios anatômicos localizados no polegar, no
encontra no pico;
dedo médio, no dedo mínimo e no rádio. Nesses sítios, são
(b) Se o novo estágio FG é atingido, o indivíduo se
encontrados onze indicadores de maturidade esquelética
encontra no pico de crescimento puberal, prova-
(IME) que cobrem todo o período de desenvolvimento ado-
velmente no período de aceleração;
lescente.
(c) Se o estágio G é atingido, o pico é iminente ou foi
A sequência dos quatros estágios de maturação óssea
alcançado;
segue abaixo e está ilustrada na Figura 8-10:
(d) Se o estágio H é atingido, o período de desacele-
ração do pico de crescimento já se iniciou; 1. Aumento em largura da epífise: quando ela se desen-
(e) Se o estágio I é atingido, o fim do pico é iminente volve lateralmente e atinge a largura da diáfise, pode
ou acabou de ser alcançado. ser aplicada como IME;
3. Falange distal do dedo médio (DP3): 2. Capeamento: ocorre entre o alargamento da epífise e
(a) Se o estágio I não é atingido, nenhum indivíduo sua fusão com a diáfise e é caracterizado por apresen-
está no fim do pico; tar as margens laterais da epífise em ângulo reto apon-
(b) Se o estágio I é atingido, o pico já ocorreu. tando para a diáfise, sendo que o momento do primeiro
4. Rádio (R): sinal de capeamento é aplicável como IME;
(a) Se o estágio I é atingido, o fim do pico é iminente 3. Fusão: ocorre entre a epífise e a diáfise após o capea-
ou acabou de ser alcançado; mento e inicia-se do centro, progredindo lateralmente,

Largura da epífise Ossificação

FIGURA 8-10 Estágios de matura-


ção óssea. Fonte: Adaptada de Fish-
Capeamento da epífise Fusão man.2

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96 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

sendo que o momento da completa fusão é aplicável 5 8


como IME;
4. Ossificação do adutor sesamoide: primeiramente apa-
rece como um pequeno e redondo centro de ossifica-
ção medial à junção da epífise e da diáfise da falange
proximal do polegar, tornando-se progressivamente 2 6 10
maior e mais denso, sendo que a primeira observação
do aparecimento desse osso é aplicável como IME e
ocorre geralmente depois do IME baseado no aumen-
to em largura da epífise e antes daquele baseado no 7 1 9
capeamento. 3
A seguir, os onze indicadores de maturidade esqueléti-
ca em ordem cronológica (Figura 8-11):
4
(a) Largura da epífise igual à da diáfise:
1. Dedo médio: falange proximal
2. Dedo médio: falange média
3. Dedo mínimo: falange média
(b) Ossificação:
4. Adutor sesamoide do polegar 11
(c) Capeamento da epífise:
5. Dedo médio: falange distal
6. Dedo médio: falange média
7. Dedo mínimo: falange média FIGURA 8-11 Indicadores de maturidade esquelética. Fonte:
(d) Fusão da epífise e da diáfise: Fishman.2
8. Dedo médio: falange distal
9. Dedo médio: falange proximal
ciado à aplicação do IME baseado no aumento precoce da
10. Dedo médio: falange média
largura da epífise em vez do capeamento; o contrário irá
11. Rádio
associá-lo à aplicação ou do sesamoide ou do IME baseado
Um esquema sistemático como o apresentado na Figu- no capeamento ou na fusão.
ra 8-12 pode facilitar a avaliação dos indicadores de matu- Após a determinação do estágio de maturação es-
ridade esquelética. Uma etapa bastante útil nessa avaliação quelética do paciente, é necessário localizá-lo na curva de
é a determinação do aparecimento ou não do adutor se- crescimento estatural, ilustrada na Figura 8-13, para assim
samoide, sendo que o seu não aparecimento estará asso- instituir o plano de tratamento adequado.

Esquema de observação da mão e do punho

4. Ossificação do sesamoide

Não? Sim?

1. Largura da epífise = 8. Fusão da epífise e da diáfise FD3


largura da diáfise FP3
Não? Sim?
2. Largura da epífise =
largura da diáfise FM3 5. Capeamento da 9. Fusão da epífise e
epífise FD3 da diáfise FP3

3. Largura da epífise = 6. Capeamento da 10. Fusão da epífise e


FIGURA 8-12 Esquema sistemáti- largura da diáfise FM5 epífise FM3 da diáfise FM3
co para facilitar a avaliação dos in-
dicadores de maturidade esquelé- 7. Capeamento da 11. Fusão da epífise e
tica. Fonte: Adaptada de Fishman.2 epífise FM5 da diáfise do rádio

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 97

Incrementos rior; o pico de crescimento mandibular não irá ocorrer


anuais antes de um ano após esse estágio.
(%) 2. CVMS II: concavidades estão presentes nas bordas in-
6
feriores das vértebras C2 e C3; os corpos de C3 e C4
6 podem apresentar formato trapezoide ou retangular no
5 6 7
5 4 sentido horizontal; o pico de crescimento mandibular
3
2 5 irá ocorrer dentro de um ano após o aparecimento des-
4 Masculino
4 se estágio.
3 3. CVMS III: concavidades estão presentes nas bordas in-
2 7 8 8
3 feriores de C2, C3 e C4, sendo que os corpos de C3 e
C4 apresentam formato retangular no sentido horizon-
2 9
tal; o pico de crescimento mandibular ocorreu dentro
Feminino 9 de 1-2 anos antes desse estágio.
10 10
1
4. CVMS IV: concavidades ainda estão presentes nas
11 bordas inferiores de C2, C3 e C4, e pelo menos um
11
dos corpos de C3 e C4 apresenta formato quadrado;
0
se não quadrado, o corpo da outra vértebra ainda se
10 11 12 13 14 15 16 17 18
apresenta retangular no sentido horizontal; o pico de
Idade cronológica
crescimento mandibular não ocorreu além de um ano
FIGURA 8-13 Localização dos indicadores de maturidade es- antes desse estágio.
quelética na curva de velocidade de crescimento estatural para 5. CVMS V: concavidades ainda são evidentes nas bordas
ambos os sexos. Fonte: Adaptada de Fishman.2 inferiores de C2, C3 e C4, e pelo menos um dos corpos
de C3 e C4 apresenta formato retangular no sentido
vertical; se não retangular no sentido vertical, o corpo
da outra vértebra apresenta-se quadrado; o pico de
Método de Baccetti, Franchi e McNamara Jr.33 crescimento mandibular não ocorreu além de dois anos
Estes autores propuseram uma versão melhorada do mé- antes desse estágio.
todo de maturação das vértebras cervicais (CVM) e sua
Este novo método demonstrou ser bastante útil quan-
validade para a avaliação da maturidade esquelética man-
do se necessita avaliar a maturidade esquelética e se tem
dibular no paciente individual. Com o objetivo de propor um
somente uma radiografia cefalométrica de rotina. O pico de
método mais simples e aplicável à maioria dos pacientes,
crescimento mandibular ocorre entre o CVMS II e o CVMS
incluíram somente as vértebras cervicais C2, C3 e C4, que
III, não sendo atingido antes do CVMS I e do CVMS II.
podem ser facilmente identificadas em um simples cefalo-
Flores-Mir e colaboradores,34 comparando o método
grama. O novo método apresentou cinco estágios matu-
CVM com o método de Fishman, encontraram valores de
racionais (CVMS I-CVM V) ao invés de seis (Cvs 1-Cvs 6),
correlação moderadamente altos, sendo que os níveis es-
como no método original.
queletais influenciam os valores de correlação e devem ser
Os cinco estágios do novo método são (Figura 8-14):
considerados sempre que possível.
1. CVMS I: as bordas inferiores das três vértebras são pla- A escolha da época para a instituição de terapias que
nas, com exceção de uma concavidade na borda infe- visem à correção de discrepâncias maxilomadibulares sig-
rior da C2, que pode ser encontrada ou não; os corpos nificativas deve levar em consideração o estágio de matu-
das vértebras C3 e C4 apresentam formato trapezoidal, ração do paciente, uma vez que pode influenciar decisiva-
com a borda superior afunilada de posterior para ante- mente no resultado do tratamento. Assim, nos pacientes

FIGURA 8-14 Os cinco estágios maturacionais,


de acordo com o método melhorado. Fonte: Bac-
CVMS I CVMS II CVMS III CVMS IV CVMS V cetti e colaboradores.33

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98 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

em crescimento, é preciso escolher a época mais adequada 16. Pancherz H, Hägg U. Dentofacial orthopedics in relation to somatic
para a instituição do tratamento. O objetivo principal será o maturation. An analysis of 70 consecutive cases treated with the
Herbst appliance. Am J Orthod. 1985;88(4):273-87.
de aproveitar o surto de crescimento adolescente craniofa-
17. Flores-Mir C, Nebbe B, Major PW. Use of skeletal maturation ba-
cial, reduzindo o tempo de tratamento e tornando o mesmo
sed on hand-wrist radiographic analysis as a predictor of facial gro-
mais eficiente. Seguindo esse raciocínio, nos casos em que wth: a systematic review. Angle Orthod. 2004;74(1):118-24.
se deseja certificar que o paciente já não apresenta cres- 18. Hägg U, Taranger J. Maturation indicators and the pubertal growth
cimento residual significante – como ocorre nas cirurgias spurt. Am J Orthod. 1982;82(4):299-309.
ortognáticas e na colocação de implantes osteointegrados 19. Björk A. Variations in the growth pattern of the human mandible:
–, é de suma importância a avaliação da maturação esque- longitudinal radiographic study by the implant method. J Dent Res.
1963;42(1)Pt 2:400-11.
lética previamente à instituição de qualquer tratamento.
20. O’Reilly MT. A longitudinal growth study: maxillary lenght at puberty
in females. Angle Orthod. 1979;49(4):234-8.
21. Tracy WE, Savara BS. Norms of size and annual increments of five
REFERÊNCIAS anatomical measures of the mandible in girls from 3 to 16 years of
age. Arch Oral Biol. 1966;11(6):587-98.
1. Hunter CJ. The correlation of facial growth with body height and ske- 22. Bishara SE. Ortodontia. São Paulo: Santos; 2004.
letal maturation at adolescence. Angle Orthod. 1966;36(1):44-54. 23. Fishman LS. Chronological versus skeletal age, an evaluation of
2. Fishman LS. Radiographic evaluation of skeletal maturation. A cli- craniofacial growth. Angle Orthod. 1979;49(3):181-9.
nically oriented method based on hand-wrist films. Angle Orthod. 24. Haiter-Neto F, Kurita LM, Menezes AV, Casanova MS. Skeletal age
1982;52(2):88-112. assessment: a comparison of 3 methods. Am J Orthod Dentofacial
3. Moore RN, Moyer BA, DuBois LM. Skeletal maturation and cranio- Orthop. 2006;130(4):435.e15-20.
facial growth. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1990;98(1):33-40. 25. O’Reilly MT, Yanniello GJ. Mandibular growth changes and matu-
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phalogram. Indian J Dent Res. 2011;22(2):309-16. nostic performance study. Am J Orthod Dentofacial Orthop.
7. Grave KC, Brown T. Skeletal ossification and the adolescence gro- 2008;133(3):395-400; quiz 476.e1-2.
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8. Krogman WM. Child growth. Ann Arbor: University of Michigan; nostic performance of dental maturity for identification of skeletal
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9. Mitani H. Occlusal and craniofacial growth changes during puberty. 29. Hägg U, Taranger J. Menarche and voice change as indicators of
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10. Ursi WJS. Determinação da maturidade esquelética através de 86.
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-ortopédico. In: Interlandi S, coordenador. Ortodontia: bases para ortodontia [dissertação]. São Paulo: [s.n.]; 1979.
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13. Bergersen EO. The male adolescent facial growth spurt: its 33. Baccetti T, Franchi L, McNamara JA Jr. An improved version of the
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14. Chapman SM. Ossification of the adductor sesamoid and the ado- 34. Flores-Mir C, Burgess CA, Champney M, Jensen RJ, Pitcher MR,
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15. Björk A, Helm S. Prediction of the age of maximum puberal growth by Cervical Vertebrae and Hand-wrist Evaluations. Angle Orthod.
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C A P Í T U LO 9

Cefalometria radiográfica
Claudenir Rossato
Carlos Eduardo de Oliveira Lima
Paulo Eduardo Baggio
Ricardo Takahashi

Este capítulo visa a introduzir, de forma simplificada, o aluno Em 1931, Broadbent, nos Estados Unidos, e Hofrath,
de graduação em odontologia no estudo da cefalometria na Alemanha, simultaneamente, apresentaram uma técnica
radiográfica em norma lateral. O texto é fruto da experiência cefalométrica padronizada, utilizando um aparelho de raios
de 50 anos no ensino de Ortodontia Preventiva e Intercep- X de alta potência e um suporte para fixação da cabeça, o
2
tativa no Curso de Graduação em Odontologia da Universi- qual denominaram cefalostato. De acordo com Broadbent,
dade Estadual de Londrina (UEL). Cabe, aqui, salientar que, a cabeça do paciente era centrada no cefalostato, fican-
na ortodontia, a cefalometria é utilizada como um meio auxi- do os condutos auditivos externos em posição de repouso
liar de diagnóstico que apresenta qualidades e deficiências sobre as partes superiores de duas hastes auditivas bilate-
como qualquer outro meio, devendo, portanto, ser utilizada rais. O ponto mais baixo da borda inferior óssea da órbita
com bom senso. esquerda, indicado pelo marcador orbital, deveria ficar no
nível das partes superiores das hastes auditivas. Um posi-
cionador era fixado na concavidade existente entre os os-
HISTÓRICO E DEFINIÇÕES sos frontal e nasais, para apoiar a parte superior da face. A
distância da fonte de raios X ao plano sagital do paciente foi
A abordagem científica para a avaliação dos padrões cra-
fixada em 1,52 m e a do objeto ao filme pode ser medida,
niofaciais humanos foi iniciada por antropólogos e anato-
permitindo calcular-se a ampliação da imagem radiográfica.
mistas em crânios secos. A medição do crânio seco, a partir
Os ortodontistas, no início do século passado, procu-
de marcas osteológicas, chamada craniometria, foi poste-
ravam métodos que pudessem auxiliá-los no diagnóstico e
riormente aplicada a seres vivos, permitindo efetuarem-se
no planejamento dos seus casos clínicos, de forma que fos-
estudos longitudinais do crescimento do crânio e da face.
se possível relacionar diretamente os dentes ao restante do
Essa técnica, a medição da cabeça de um ser vivo, a partir
complexo craniofacial.
de pontos de referência ósseos e de tecidos moles, recebeu
A radiografia cefalométrica lateral em si é o produto de
a denominação de cefalometria.
uma imagem bidimensional do crânio numa vista lateral,
A descoberta dos raios X, por Röentgen (1845-1923),
permitindo que a relação entre os dentes, os ossos, os teci-
em 1895, revolucionou a profissão de cirurgião-dentista, ao
dos moles e os espaços vazios possa ser examinada tanto
possibilitar que uma imagem radiográfica da cabeça pu-
horizontal quanto verticalmente.
desse ser medida em duas dimensões, tornando possível
Assim, um expressivo progresso da ortodontia se deu
o estudo preciso do crescimento e do desenvolvimento
graças à introdução do cefalostato e à posterior difusão da
craniofacial. A medição da cabeça, utilizando marcas nos
cefalometria, por influenciar de forma substancial três gran-
tecidos duros e moles da imagem radiográfica, ficou co-
1 des áreas:
nhecida como cefalometria röentgenológica. Uma técnica
teleröentgenológica, para produzir uma radiografia em nor- • na análise morfológica, avaliando as relações sagital e
ma lateral da cabeça, foi introduzida por Pacini em 1922. vertical da dentadura, da face, do esqueleto e dos te-
Com esse método, o tamanho da imagem foi diminuído cidos moles;
pelo aumento da distância focal para 2 m, mas, devido ao • na análise do crescimento do complexo craniofacial, a
prolongado tempo de exposição, ocorria bastante distorção partir de dois ou mais cefalogramas, em intervalos de
pelo movimento da cabeça do paciente durante a tomada tempo diferentes, que possibilitam comparar as mu-
da radiografia. danças relativas;

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100 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

• na análise do tratamento executado, através da avalia-


ção de alterações durante e após a terapia.
Para melhor compreensão da terminologia empregada
no presente capítulo, fazem-se necessárias algumas defi-
nições:
Telerradiografia: consiste na radiografia da cabeça, obti-
da a uma distância prefixada, com o feixe central do raio X
incidindo perpendicularmente ao plano sagital mediano (te-
lerradiografia lateral) ou perpendicularmente ao plano frontal
(telerradiografia frontal).
Cefalometria: é um método com o qual, empregando-se
radiografias orientadas, obtém-se um cefalograma compos-
to do desenho de certas estruturas anatômicas do crânio e
FIGURA 9-1 Vista frontal de paciente, posicionada no cefalos-
da face, onde são determinados pontos, linhas e planos,
tato para a tomada radiográfica cefalométrica lateral em apare-
além de medidas lineares e angulares, propiciando impor- lho digital.
tantes informações para a elaboração das análises cefalo-
métricas.
esta denominada posição natural da cabeça (PNC), con-
Análise cefalométrica: é a metodologia de interpretação forme ilustram as Figuras 9-1 e 9-2. A cabeça deve estar
dos valores obtidos nos cefalogramas. perfeitamente posicionada no cefalostato, para que as es-
truturas anatômicas bilaterais sejam superpostas e projetem
uma imagem única no filme radiográfico. No que se refere
INDICAÇÕES à ampliação da imagem com a utilização de aparelhos ana-
lógicos, observa-se, em média, um aumento de ~ 8% da
Diversas são as indicações para o uso da cefalometria na radiografia em relação ao tamanho da cabeça do paciente.
rotina clínica, podendo-se destacar que ela: Entretanto, esse valor pode ser alterado, dependendo da
(a) permite a avaliação do crescimento e do desenvolvi- distância da cabeça ao filme, pois, em alguns aparelhos, o
mento dos ossos maxilares e faciais; suporte do chassi pode ser manipulado, aproximando-o da
(b) fornece ao clínico dados importantes para diagnosticar cabeça do paciente, ao passo que, em outros, o suporte é
as anomalias e alterações nas várias regiões do crânio fixo. Por essa razão, trabalha-se com uma média de 8%.
e da face; No que se refere ao tamanho do filme, existe uma variação,
(c) permite que nas telerradiografias de um mesmo pacien-
te, nas diversas fases de tratamento, sejam observadas
todas as alterações que se processam, tanto pelo cres-
cimento, como pela mecânica ortodôntica empregada.
Enseja, dessa forma, que se promovam alterações no
plano de tratamento em curso, quando algum erro no
planejamento é mostrado na telerradiografia;
(d) analisa a telerradiografia, ao final do tratamento orto-
dôntico, com o intuito de avaliar os resultados obtidos e
verificar se suas metas foram atingidas; e
(e) serve como documentação legal, visando à salvaguar-
da do profissional.

TOMADA RADIOGRÁFICA
Para a realização da radiografia cefalométrica lateral, utiliza-
-se uma distância padronizada de 1,52 m entre a fonte de
raios X e o plano sagital do paciente, independentemente de
se utilizar um aparelho analógico ou digital. O paciente deve FIGURA 9-2 Vista lateral de paciente, posicionada no cefalos-
ser posicionado no cefalostato, com os dentes ocluídos, tato, em PNC, para a tomada radiográfica cefalométrica lateral
os lábios em repouso e olhando para o horizonte, posição em aparelho digital.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 101

FIGURA 9-3 Radiografia cefalométrica de paciente, obtida em FIGURA 9-4 Desenho anatômico correspondente à radiografia
aparelho digital na proporção 1:1. cefalométrica mostrada na Figura 9-3.

dependendo da área total da cabeça que necessita ser ava-


• gabarito (template)
liada e do suporte para o chassi do aparelho utilizado. O
• régua milimetrada
tamanho dos filmes pode ser de 18 x 24 cm, 20 x 25 cm,
• transferidor ou protactor
20 x 30 cm e 30 x 40 cm.
• cartolina preta do tamanho do negatoscópio, com um
recorte no centro do mesmo tamanho da radiografia
Com a implantação dos aparelhos de raio X digitais,
lateral de cabeça, para diminuir a claridade e facilitar a
para a realização das radiografias cefalométricas, tornou-
visualização das estruturas a serem copiadas
-se possível padronizar o tamanho das imagens impressas,
ou seja, imprimi-las numa proporção 1:1, com o auxílio de
softwares do próprio sistema digital e pela utilização de um Desenho do cefalograma
apoio nasal contendo uma régua milimetrada. Assim, cali-
Sobre a telerradiografia, coloca-se um papel transparente,
bra-se o tamanho da imagem por essa régua, tornando pos-
sendo mais indicado o ultraphan, que apresenta uma face
sível uma impressão da imagem proporcional ao tamanho
lisa, que é colocada voltada para a radiografia, e outra opa-
real de cada paciente, sendo que o filme para a impressão
ca, voltada para fora, onde se podem desenhar, preferen-
de 20 x 25 cm (esse tamanho não consta anteriormente) se
cialmente com grafite preto 0,5 mm, as principais estruturas
torna suficiente, podendo variar apenas em casos nos quais
anatômicas. O papel é preso à radiografia com três peda-
se necessite de uma visão completa da cabeça do pacien-
ços delicados de fita adesiva fosca, sendo dois na borda
te. Quando se deseja envolver inclusive a região occipital,
superior e um no terço inferior da lateral esquerda, o que
recomenda-se imprimir em filme de tamanho 20 x 30 cm.

OBTENÇÃO DO CEFALOGRAMA
O cefalograma é composto pelo desenho anatômico (Figura S N

9-4), onde são copiadas determinadas estruturas e nelas


demarcados pontos (Figura 9-5). No desenho anatômico, Po

Or
são feitos os traçados de orientação pela união desses pon-
tos, determinando as linhas e os planos cefalométricos, o
ENP
que torna possível determinar grandezas cefalométricas li- ENA
A
neares e angulares (Figura 9-6).
Ls

Li
Go
Material necessário B

P P’
• negatoscópio
Gn
Me
• papel de acetato transparente (ultraphan)
• fita adesiva fosca FIGURA 9-5 Desenho anatômico correspondente à radiografia
• lapiseira com grafite preto 0,5 mm cefalométrica com demarcação dos pontos.

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102 AB R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

permite uma boa fixação e possibilita levantar a borda direi- nha-se todo o seu limite superior (assoalho da cavida-
ta, para visualizar as estruturas diretamente na radiografia, de nasal), da espinha nasal anterior até a espinha nasal
quando existirem dúvidas. posterior. Segue-se desenhando a sua parte inferior (teto
Recomenda-se iniciar os desenhos da esquerda para da cavidade oral), até se aproximar do final do processo
a direita e de cima para baixo, protegendo as mãos com alveolar palatino dos incisivos superiores. Anteriormente,
luvas, para evitar umidade e manchas no papel. Traços fir- ou na pré-maxila, traça-se desde a espinha nasal anterior
mes, uniformes e sem interrupções contribuem para a ob- até o final do processo alveolar vestibular dos incisivos
tenção de um traçado de qualidade. superiores.
Este desenho é feito sobre um negatoscópio, em um
Mandíbula: o seu desenho inclui toda a cortical externa das
ambiente com pouca iluminação, onde as estruturas anatô-
faces vestibular e lingual da sínfise mentoniana, o bordo in-
micas e as do perfil mole são mais bem visualizadas. Após o
ferior da mandíbula, o ramo ascendente e o côndilo.
desenho das estruturas, os pontos cefalométricos são de-
marcados e, com uma régua, passa-se a unir os pontos en- Dentes: as imagens mais anteriores dos incisivos centrais
tre si, de acordo com a análise prefererida do profisssional, superiores e inferiores devem ser desenhadas. Isso pode
obtendo-se, assim, as linhas e os planos cefalométricos. ser feito à mão livre ou com o auxílio de um gabarito (tem-
A última parte consiste na medição dos valores angula- plate). É importante atentar à fidelidade no traçado do ápi-
res e lineares, obtidos por meio dos entrecruzamentos des- ce, da incisal e da face vestibular desses dentes. A coroa e
sas linhas e planos, com o protactor ou com um transferidor as raízes dos primeiros molares superiores e inferiores tam-
e uma régua milimetrada. Nos casos em que, nas radio- bém devem ser desenhadas.
grafias, aparecem estruturas anatômicas bilaterais dissocia-
Perfil facial tegumentar: inicia-se o desenho na região da
das, recomenda-se traçar a média, para se demarcar um só
glabela ou do osso frontal, descendo e contornando o nariz
ponto cefalométrico.
e o lábio superior. Reinicia-se, traçando o lábio inferior e o
Completado o cefalograma, deve-se anotar no canto
contorno do mento.
inferior esquerdo as iniciais do paciente, sua idade e a data
de obtenção da radiografia.
A fase do tratamento em que o cefalograma se rea- Demarcação dos pontos cefalométricos
liza é representada, por convenção, de acordo com a cor
Sela (S): ponto localizado no centro da sela túrcica, determi-
utilizada. O cefalograma inicial deve ser feito em preto, o
nado por inspeção.3
realizado durante o tratamento em azul, o do final do tra-
tamento em vermelho, o da fase de contenção em verde Násio (N): ponto mais anterior da sutura frontonasal.3
e o da fase pós-contenção em marrom. Caso haja a ne-
Pório (Po): ponto mais superior do meato auditivo externo.4
cessidade de se fazer mais de um cefalograma, em uma
das fases anteriormente descritas, para diferenciação, o Orbitário (Or): ponto mais inferior da margem infraorbi-
mesmo poderá ser desenhado com linhas tracejadas e/ tária.5
ou pontilhadas.
Espinha nasal anterior (ENA): ponto mais anterior do
assoalho nasal.6
Estruturas anatômicas utilizadas Espinha nasal posterior (ENP): ponto mais posterior do
Sela túrcica ou turca: localizada na região mediocentral do contorno do osso palatino.6
osso esfenoide. Desenha-se toda a sua extensão anterior,
Subespinhal (A): ponto mais profundo do contorno da pro-
posterior e inferior. Os processos clinoides anterior e poste-
jeção alveolar entre a ENA e o próstio (ponto entre a coroa
rior do osso esfenoide devem ser incluídos.
do incisivo central superior e a projeção alveolar).7
Meato acústico externo: tem a forma ovalada e está lo-
Supramental (B): ponto mais profundo do contorno da pro-
calizado posterior e ligeiramente superior ao côndilo man-
jeção alveolar, entre o pogônio e o infradentário (ponto entre
dibular.
a coroa do incisivo central inferior e a projeção alveolar).7
Ossos frontal e nasais: desenha-se o contorno da região
Gônio (Go): ponto mais posterior e inferior do ângulo da
anterior do osso frontal, a sutura frontonasal e os ossos pró-
mandíbula (Moyers, 1973). É determinado pela bissetriz do
prios do nariz.
ângulo formado pelas tangentes às bordas posterior e infe-
Órbitas: desenha-se a órbita com especial atenção à cur- rior da mandíbula.5
vatura inferior da sua base.
Gnátio (Gn): ponto mais anterior e inferior do mento.8 É
Maxila: a sua imagem, frequentemente, apresenta va- determinado pela bissetriz do ângulo formado pelos planos
riações na forma, de acordo com cada indivíduo. Dese- facial e mandibular.5

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 103

Mento (Me): ponto mais inferior do contorno da sínfise Obtenção das medidas angulares e lineares
mandibular.6
Uma vez feito o desenho anatômico, demarcados os pon-
Columela (C): ponto mais anterior da coluna nasal.9 tos e traçados as linhas e os planos cefalométricos (Figura
Pogônio mole (P’): ponto mais saliente ou anterior do teci- 9-6), serão descritas as medidas angulares e lineares que
do mole do mento.10,11 permitirão a análise e a interpretação do cefalograma.

Medidas angulares
Planos e linhas utilizados SNA: ângulo formado pela interseção das linhas SN e NA.
Seu valor médio é de 82º e expressa o posicionamento, no
A partir dos pontos cefalométricos, serão traçadas as linhas sentido anteroposterior, da maxila em relação à base do
e os planos. Teoricamente, um plano é determinado pela crânio. Quando o valor apresentado for superior à média,
união de três ou mais pontos e uma linha, pela união de dois indica a protrusão da maxila e, se inferior, a sua retrusão
pontos cefalométricos. Em outras palavras, pontos deter- (Figura 9-7).
minados em estruturas bilaterais, como órbitas e condutos
auditivos, quando unidos, determinam planos, o que não SNB: ângulo formado pela interseção das linhas SN e NB.
ocorre quando da união de pontos de estruturas unilaterais, Seu valor médio é de 80º e expressa o posicionamento, no
como sela túrcica e mento, os quais determinam linhas. No sentido anteroposterior, da mandíbula em relação à base do
entanto, nas telerradiografias, por serem bidimensionais, crânio. Quando o valor apresentado for superior à média,
apenas dois pontos são utilizados para determinar tanto as indica a protrusão da mandíbula e, se inferior, a sua retrusão
linhas como os planos. (Figura 9-8).

Plano mandibular (Riedel): traçado do ponto gônio (Go) ao ANB: ângulo obtido da interseção das linhas NA e NB. In-
gnátio (Gn). dica se existe ou não uma boa relação, no sentido ante-
roposterior, entre a maxila e a mandíbula. Seu valor médio
Plano mandibular (Downs): traçado tangente ao bordo é de 2º, sendo a sua variação, para mais ou para menos,
posterior da mandíbula, na região posterior e no ponto men- um indicativo de mau relacionamento entre essas estruturas
to (Me) na região anterior. (Figura 9-9).
Plano de Frankfurt: traçado do ponto pório (Po) ao orbitário SN-GoGn: ângulo formado pela interseção da linha SN com
(Or). o plano mandibular (GoGn). Indica o padrão de crescimento
Plano palatino: traçado do ponto espinha nasal anterior no sentido vertical. Seu valor médio de 32º sugere um cres-
(ENA) ao ponto espinha nasal posterior (ENP). cimento vertical equilibrado. Entretanto, quando ocorre um
aumento desse ângulo, predomina o crescimento vertical, e
Linha SN: representa a base do crânio e é traçada a partir
com a sua diminuição, predomina o crescimento horizontal
do ponto násio (N) até o ponto sela (S).
(Figura 9-10).
Linha NA: traçada a partir do ponto násio (N), passando
FMA (Frankfurt mandibular angle): ângulo obtido pela in-
pelo ponto subespinal (A) e se estendendo até a região da
terseção dos planos de Frankfurt (Po-Or) com o mandibular
coroa dos incisivos.
de Tweed, traçado do ponto Me à média entre as bordas
Linha NB: traçada a partir do ponto násio (N), passando direita e esquerda da mandíbula, na região do ângulo goní-
pelo ponto supramental (B) e se estendendo até o plano aco. Seu valor médio de 25º sugere um equilíbrio do cresci-
mandibular. mento vertical. Quando seu valor é superior à média, sugere
predominância de crescimento vertical, e quando é menor
Longo eixo do incisivo central superior: tem como pontos
do que a média, predominância de crescimento horizontal
de referência a incisal e o ápice do incisivo central superior,
(Figura 9-11).
estendendo-se até interceptar a linha NA e o plano palatino.
1.1 (ângulo interincisivos): formado pela interseção dos lon-
Longo eixo do incisivo central inferior: tem como pontos
gos eixos dos incisivos centrais superior e inferior. Seu valor
de referência a incisal e o ápice do incisivo central inferior,
médio de 131º indica uma boa relação entre esses dentes.
estendendo-se do plano mandibular de Downs até ultrapas-
Quando ocorre um aumento do seu valor, provavelmente os
sar o longo eixo do incisivo central superior em 1 cm.
incisivos se apresentam verticalizados, e em caso de dimi-
Linha S: linha do perfil de Steiner, traçada a partir do ponto nuição, protruídos (Figura 9-12).
pogônio mole (P’) até a columela (C).
1.NA: ângulo determinado pela interseção do longo eixo do
Linha H: linha de perfil de Holdaway, traçada a partir do po- incisivo central superior com a linha NA. Seu valor médio de
gônio mole (P’), passando pelo ponto mais anterior do lábio 22º sugere uma boa inclinação axial do incisivo. Quando o
superior (Ls) até ultrapassar o nariz. seu valor é superior à média, indica que o incisivo está com

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104 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

N

FIGURA 9-6 Cefalograma completo. FIGURA 9-9 Ângulo ANB.

N N
S S
82°

32°

Go

Gn

FIGURA 9-7 Ângulo SNA. FIGURA 9-10 Ângulo SN-GoGn.

N
S

80°
Po

Or

25°

Me

FIGURA 9-8 Ângulo SNB. FIGURA 9-11 Ângulo FMA.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 105

ENP ENA

110°

131°

FIGURA 9-12 Ângulo interincisivos. FIGURA 9-14 Ângulo 1 .PP.

a inclinação aumentada, e quando é inferior, com a inclina- IMPA (incisor mandibular plane angle): ângulo formado
ção diminuída (Figura 9-13). pela interseção do longo eixo do incisivo inferior com o pla-
no mandibular preconizado por Tweed. Seu valor médio de
1 .PP: ângulo determinado pela interseção do longo eixo do
87º indica uma boa inclinação axial do incisivo. O aumento
incisivo superior com o plano palatino. Seu valor médio de
do valor sugere que o incisivo está com a inclinação au-
110º sugere uma boa inclinação axial do incisivo superior.
mentada, e a diminuição, que está com inclinação diminuída
Quando o seu valor é superior à média, indica que o incisivo
(Figura 9-16).
está com a inclinação aumentada, e quando é inferior, com
a inclinação diminuída (Figura 9-14). Medidas lineares
1 .NB: ângulo determinado pela interseção do longo eixo do 1 -NA: distância do ponto mais anterior da face vestibular do
incisivo central inferior com a linha NB. Seu valor médio de incisivo superior, tomada perpendicularmente à linha NA. O
25º sugere uma boa inclinação axial do incisivo. Quando o valor médio de 4 mm indica um incisivo superior bem posi-
seu valor é superior à média, indica que o incisivo está com cionado. O aumento da média sugere a protrusão do incisi-
a inclinação aumentada, e quando é inferior, com a inclina- vo e a diminuição, a retrusão (Figura 9-17).
ção diminuída (Figura 9-15).

N N

22°

25°

FIGURA 9-13 Ângulo 1 .NA. FIGURA 9-15 Ângulo 1 .NB.

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106 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

1 -NB: distância do ponto mais anterior da face vestibular do ner (C-P’). Expressa o posicionamento do lábio, tendo
incisivo inferior, tomada perpendicularmente à linha NB. O como valor médio 0 mm. Valores positivos sugerem a
valor médio de 4 mm indica um incisivo inferior bem posicio- protrusão do lábio inferior e valores negativos, a retrusão
nado. O aumento da média sugere a protrusão do incisivo e (Figura 9-20).
a diminuição, a retrusão (Figura 9-18).
H-Nariz: distância obtida da porção mais anterior da pon-
S-Ls: distância obtida da porção mais anterior do lábio su- ta do nariz, tomada perpendicularmente à linha traçada
perior, tomada perpendicularmente à linha “S” de Steiner (C- da porção mais anterior do lábio superior ao ponto P’. Ex-
P’). Expressa o posicionamento do lábio, tendo como valor pressa o perfil facial tegumentar, tendo como valor médio o
médio 0 mm. Valores positivos sugerem a protrusão do lá- intervalo entre 9 e 11 cm. Valores superiores sugerem um
bio superior e valores negativos, a retrusão (Figura 9-19).
perfil convexo e valores inferiores, um perfil côncavo. Caso
S-Li: distância obtida da porção mais anterior do lábio a linha passe à frente do nariz, o valor encontrado será ne-
inferior, tomada perpendicularmente à linha “S” de Stei- gativo (Figura 9-21).

4mm

B
90°

Me

FIGURA 9-16 Ângulo IMPA. FIGURA 9-18 Medida linear 1 -NB.

C
A

Ls 0mm
4mm
Li 0mm

P’

FIGURA 9-17 Medida linear 1 -NA. FIGURA 9-19 Medida linear S-Ls.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 107

9-11 mm

Ls 0mm Ls

Li 0mm

P’ P’

FIGURA 9-20 Medida linear S-Li. FIGURA 9-21 Medida linear H-Nariz.

AVALIAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS VALORES OBTIDOS

MEDIDAS/ DATAS
INTERPRETAÇÃO
VALORES NORMAIS
21/5/12

SNA 82o 82 RELAÇÃO DAS BASES APICAIS

SNB 80o 78 Maxila bem posicionada e mandíbula retruída em


relação à base do crânio.
ANB 2o 4 Má relação entre as bases ósseas.

SN.GoGn 32o 30 PADRÃO DO ESQUELETO CEFÁLICO

FMA 25o 20 Predominância de crescimento horizontal.

1.1 131o 133 RELAÇÃO DENTÁRIA

1.NA 22o 24 Má relação entre os incisivos.


Incisivos superiores com inclinação aumentada e
1.PP 110o 114 não protruídos.
Incisivos inferiores com inclinação aumentada e
1-NA 4 mm 4 não protruídos.

1.NB 25o 27

IMPA 87o 92

1-NB 4 mm 4

Linha S LS – 0 mm 0 ANÁLISE DO PERFIL MOLE

Linha S LI – 0 mm 0 Lábios superior e inferior bem posicionados.


Perfil reto.
H-Nariz 9 – 11 mm 9

FIGURA 9-22 Ficha com os valores obtidos e interpretados.

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108 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

REFERÊNCIAS LEITURAS RECOMENDADAS


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10. Ricketts RM. A foundation for cephalometric communication. Am J
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C A P Í T U LO 1 0

Imaginologia em ortodontia
Arno Locks
Gerson Luiz Ulema Ribeiro
Juliana S. Pereira Andriani
Carla D’Agostini Derech

O sucesso na finalização do tratamento ortodôntico não tratamento. O princípio de ALARA (As Low As Reasonably
passa apenas por um bom planejamento mecânico, mas Achievable) – o mínimo de radiação dentro do razoavel-
também pelo correto diagnóstico e por um plano de trata- mente possível – deve nortear a postura ética profissional
mento eficaz. do odontólogo.
Diagnosticar implica determinar e conhecer a nature- A ortodontia e a ortopedia craniofacial necessitam de
za de uma doença por meio da análise de seus sinais e um dos maiores aportes radiográficos, se comparadas com
sintomas. Para tanto, além do exame clínico, o profissional outras áreas da odontologia. Vários fatores contribuem para
lança mão de diversas ferramentas de diagnóstico através tal situação, como:
da análise facial, da análise de modelos e de exames radio-
• necessidade de acompanhamento do desenvolvimento
gráficos.
craniofacial;
Dentre os exames radiográficos, as radiografias con-
• necessidade de diagnóstico dentário e craniofacial, o
vencionais são as mais utilizadas e fornecem dados impor- que amplia a área irradiada;
tantes sobre o complexo craniofacial. Contudo, atualmente
• monitoramento da movimentação dentária na arcada e
tem-se dado grande ênfase à utilização da tomografia com- seu relacionamento com a face e o crânio nas avalia-
putadorizada cone-beam (TCCB) como ferramenta auxiliar ções periódicas;
no diagnóstico e no plano de tratamento. A introdução de
• segurança jurídica, uma vez que se trata de uma das
novas técnicas de obtenção de imagens craniofaciais traz áreas mais visadas em interpelações judiciais.
inúmeros benefícios ao profissional e ao paciente, contudo
implica um maior empenho na racionalização da indicação Além dos efeitos à exposição radiográfica, o cirurgião-
desses exames, o que exige constante atualização do clí- -dentista também deve levar em consideração o custo-
nico para o melhor aproveitamento de tais recursos diag- -benefício sob o ponto de vista financeiro, uma vez que o
nósticos. paciente tem alta expectativa quanto ao cuidado do clínico
Este capítulo irá discorrer sobre a indicação e a utili- no que se refere ao custo da indicação do exame.
zação dos exames de imagem utilizados em ortodontia e O clínico deve ter em mente os seguintes fatores na
odontopediatria e suas principais aplicações clínicas. busca da melhor relação custo-benefício:

• Que a imagem forneça a melhor relação diagnóstico-


-terapêutica.
CRITÉRIOS PARA A SOLICITAÇÃO • O exame complementar não deve ser solicitado sem
DE EXAMES que o exame clínico e a anamnese tenham sido previa-
mente realizados.
No caso da solicitação de exames pelo odontopediatra/ • A indicação do exame deve ser apropriada à fase de
ortodontista, o clínico deve ter em mente que a criança desenvolvimento do paciente e sua discrepância den-
está apenas iniciando sua exposição à radiação – um toesquelética.
efeito cumulativo no organismo. É obrigação profissional • O custo financeiro do exame deve ser compatível com
selecionar o exame radiográfico com base na evidência a necessidade terapêutica do paciente.
científica de que o mesmo fornecerá informação funda- • O risco de irradiação ao paciente deve ser o menor
mental para a elaboração do diagnóstico e do plano de possível.

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110 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

Dentre os exames radiográficos convencionais comu- erros técnicos na aquisição das imagens. Além disso, a
mente utilizados para o diagnóstico e o planejamento or- imagem projetada não se restringe às arcadas dentárias e
todôntico estão as radiografias periapical, interproximal e aos alvéolos, uma vez que sua interpretação exige o conhe-
panorâmica, a telerradiografia cefalométrica lateral e frontal cimento anatômico radiográfico de estruturas da cabeça e
e a radiografia de mão e punho, embora outras incidências do pescoço.
radiográficas também possam ser solicitadas em casos es- A relação das raízes dos dentes posteriores com o
pecíficos. seio maxilar também pode ser facilmente visualizada nes-
sa incidência radiográfica, o que a torna fundamental para
a avaliação da movimentação ortodôntica dos dentes em
3
RADIOGRAFIA PERIAPICAL um seio pneumatizado. Além disso, a radiopacidade dos
seios maxilares pode sinalizar uma inflamação dos mesmos,
O levantamento radiográfico periapical completo prévio à fazendo com que a anamnese seja direcionada aos proble-
instalação do aparelho ortodôntico fixo é importante para mas crônicos respiratórios, especialmente para sinusites re-
uma avaliação minuciosa do formato das raízes, para a de- correntes, uma vez que a movimentação dentária próxima
tecção de patologias crônicas apicais e/ou patologias ósse- à região do seio inflamado está relacionada com uma maior
4
as, para a detecção de cáries, para a avaliação do estado incidência de reabsorção radicular de dentes posteriores.
periodontal e para o acompanhamento da movimentação A radiografia panorâmica também é de grande impor-
ortodôntica de dentes traumatizados. No exame radiográ- tância durante a montagem do aparelho ortodôntico fixo,
fico do adulto é fundamental, porém no exame pediátrico pois, em conjunto com o modelo de estudo, permite um
nem sempre é necessário, dependendo do caso em ques- melhor posicionamento dos acessórios, decorrente da ava-
tão: normalmente a radiografia panorâmica é solicitada e, liação da posição radicular. Contudo, em 2008, Garcia-Fi-
5
se houver necessidade, radiografias periapicais serão provi- gueroa e colaboradores demonstraram que pode haver fa-
denciadas seletivamente. lha de avaliação do paralelismo entre as raízes na radiografia
panorâmica na área dos caninos e do primeiro pré-molar,
sugerindo cautela na interpretação do paralelismo radicular.
RADIOGRAFIA PANORÂMICA O clínico deve estar atento às limitações da radiografia
6
panorâmica, uma vez que esta é obtida por secção, fazen-
A radiografia panorâmica permite a visualização de todos os do com que somente a imagem dentro da área de corte
dentes e suas estruturas de suporte em uma única imagem seja visualizada, o que pode omitir estruturas posicionadas
com risco biológico relativamente baixo, o que a torna um fora dessa área (Figura 10-1).
valioso instrumento de diagnóstico. As radiografias panorâmicas não devem ser utilizadas
Para pacientes em crescimento, sua importância está para medição ou detalhamento de estruturas anatômicas
na avaliação da cronologia de erupção e na aferição da ou patologias; contudo, seu campo de visão ampliado, em
presença e/ou ausência de dentes, além de servir como relação à radiografia periapical, é sua grande vantagem.
meio de avaliação preliminar de contornos e relações ós-
seas da articulação temporomandibular e da região de ter-
1
ceiros molares. RADIOGRAFIA INTERPROXIMAL
Para a criança que faz sua primeira avaliação ortodôn-
tica, a radiografia panorâmica é indicada como avaliação Sua principal indicação está na detecção e na estimativa
inicial, já que em casos de anadontias, extranumerários, al- de profundidade de cáries, seja na face interproximal ou na
terações de processos eruptivos e presença de patologias oclusal. Porém, as radiografias interproximais também são
assintomáticas o diagnóstico precoce evita o agravamento importantes na avaliação da adaptação de restaurações
do problema. existentes e da condição periodontal.
2
A revisão da ADA dos critérios de seleção de exames Normalmente, o paciente encaminhado para tratamen-
radiográficos reconhece o avanço tecnológico na aquisi- to ortodôntico corretivo pelo clínico geral ou pelo odonto-
ção da radiografia panorâmica nos últimos 15 anos, o que pediatra se encontra livre de cáries. Nesses casos, a radio-
amplia sua área de indicação, reiterando ser desnecessário grafia interproximal provavelmente foi solicitada por esses
radiografias periapicais complementares para contrapor de- profissionais, não havendo necessidade de uma nova so-
feitos da imagem radiográfica panorâmica. Assim, o exame licitação.
radiográfico para clínica geral consiste em radiografias inter- O ortodontista deve participar dessa avaliação e estar
proximais posteriores e radiografia panorâmica. ciente da conduta e das recomendações do dentista clínico.
Entretanto, a imagem panorâmica ainda é uma proje- Na presença de lesões incipientes não cavitadas no esmal-
ção complexa dos maxilares, com múltiplas superposições te interproximal, sobre as quais optou-se por observação e
e distorções, as quais podem ser facilmente agravadas com procedimentos não invasivos, o ideal seria a adaptação do

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 111

FIGURA 10-1 Em (a), seção de


imagem de radiografia panorâmica
mostrando apinhamento dentário e
impacção do 25. Em (b), detalhe to-
mográfico demonstrando a reabsor-
ção do 26 em nível cervical, não de-
a b
tectada em radiografia panorâmica.

anel e a cimentação com cimentos com liberação de flúor • acompanhamento das modificações durante o trata-
e o acompanhamento em conjunto pelo ortodontista e pelo mento ortodôntico e registro de sua finalização;
odontopediatra durante o tratamento ortodôntico.7 • instrumento de superposições cefalométricas;
• avaliação da espessura óssea do palato para a instala-
ção de dispositivos de ancoragem ortodôntica.
TELERRADIOGRAFIA CEFALOMÉTRICA
Utilizadas para o estudo radiográfico da região craniofacial Telerradiografia cefalométrica frontal
por mais de um século, as telerradiografias cefalométricas
em norma lateral e frontal permitem a avaliação das propor- Apesar da dificuldade de visualização das estruturas do ter-
ções dentofaciais e das características anatômicas das más ço médio, principalmente devido à sobreposição da porção
oclusões. Estão diretamente relacionadas com a avaliação petrosa do osso temporal, a telerradiografia cefalométrica
do posicionamento das bases ósseas, fazendo com que frontal é uma ferramenta importante nos casos de assime-
más oclusões semelhantes do ponto de vista dentário pos- tria facial e discrepância transversa entre a maxila e a man-
sam requerer tratamentos distintos ao se avaliar a relação díbula (Figura 10-3). Deve ser solicitada para pacientes que
maxilomandibular. apresentam:

• sinal de assimetria facial ao exame clínico;


Telerradiografia cefalométrica lateral • necessidade de determinar a magnitude da discrepân-
cia esquelética transversa entre os maxilares;
A radiografia cefalométrica em norma lateral é considerada
uma solicitação básica na ortodontia por se tratar de um
recurso diagnóstico sob o ponto de vista dentário e orto-
pédico. Trata-se de um exame fundamental, solicitado na
documentação inicial.
A análise desta radiografia é realizada através do tra-
çado cefalométrico (Figura 10-2). A cefalometria visa à de-
terminação de linhas e planos com o intuito de estabelecer
padrões que auxiliem no diagnóstico e no planejamento.
Fornece dados importantes sobre a relação entre as bases
ósseas, o perfil esquelético do paciente, o perfil mole e a
relação dentária, além de permitir a análise do crescimento
vertical e anteroposterior.
Este exame também pode ser solicitado durante ou após
o tratamento ortodôntico, visto que a sobreposição dessas
radiografias nos permite avaliar o padrão de crescimento do
indivíduo e as alterações decorrentes do tratamento.
As indicações para solicitação da radiografia cefalomé-
trica lateral são:

• acompanhamento do desenvolvimento craniofacial; FIGURA 10-2 Telerradiografia cefalométrica em norma lateral


• diagnóstico ortodôntico; com traçado cefalométrico sobreposto.

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112 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

panhamento do padrão facial do paciente, sendo que a


observação da morfologia das vértebras cervicais possi-
bilita solicitar a radiografia de mão e punho em momento
oportuno. Portanto, a análise da maturação vertebral é
auxiliar na avaliação do desenvolvimento epifisário e não
excludente.12

IMAGEM RADIOGRÁFICA E ANÁLISE DA


DENTIÇÃO MISTA
Estimar a dimensão mesiodistal dos dentes permanentes
ainda não irrompidos é de grande importância para a ava-
liação da discrepância dentária e para o planejamento orto-
dôntico na dentição mista. As análises de discrepância nes-
FIGURA 10-3 Telerradiografia cefalométrica em norma frontal
ta época do desenvolvimento dentário recaem basicamente
com traçado cefalométrico.
sobre quatro métodos:

• planejamento da quantidade de expansão necessária (em • Mensuração dos dentes erupcionados diretamente
mm) para a correção, sob o ponto de vista esquelético, em modelos de gesso: trata-se do emprego de tabelas
nas discrepâncias anteroposteriores de Classe II ou III. estatísticas baseadas em regressões lineares, como a
análise de Moyers. Sua maior vantagem é a simplicida-
Nos casos de Classe II, a presença de discrepância de da técnica.
transversa dos maxilares é comum e deve ser corrigida
8 • Emprego de imagens radiográficas convencionais:
previamente ao aspecto anteroposterior. Para a Classe III esta análise pode ser realizada através da mensuração
esquelética, a expansão maxilar prévia à protração deve ser direta dos caninos e pré-molares na radiografia cefalo-
realizada para que a terapia e sua estabilidade tenham me- métrica oblíqua de 45º.
lhores resultados.9 Combinação dos dois métodos anteriores: como a aná-

lise de Tanaka-Jonhson, em que são utilizados modelos
de gesso e radiografias periapicais, estabelecendo-se
RADIOGRAFIA DE MÃO E PUNHO uma relação de proporcionalidade entre as imagens ra-
diográficas e o tamanho real do dente (regra de três).
Idade cronológica, alterações físicas, desenvolvimento da
oclusão e estatura são meios comuns utilizados para iden-
• Utilização de tomografia computadorizada cone-be-
am: permite a mensuração precisa dos dentes ainda
tificar os estágios de desenvolvimento da criança ou ado-
não irrompidos.
lescente. Porém, determinar de maneira precisa o estágio
de crescimento do indivíduo é de grande importância para Todas essas modalidades demonstraram-se de bom
definir o momento correto da intervenção ortodôntica, prin- uso clínico, sendo que a escolha normalmente recai sobre
cipalmente nos casos cirúrgicos e de discrepâncias antero- a disponibilidade de recursos tecnológicos e financeiros.
posteriores. Contudo, as técnicas que utilizam o conjunto de radiogra-
A avaliação pela radiografia de mão e punho tem sido fias e modelo são as de menor confiança, e as que utilizam
classicamente considerada como a melhor forma de indicar apenas a imagem radiográfica apresentam estimativas mais
e acompanhar o grau de maturação esquelética.10 Sua úni- precisas. É importante ter em mente que o erro estimado na
ca desvantagem está na necessidade de um maior número medição do conjunto dos três dentes não erupcionados de
13
de radiografias, aumentando a exposição radiográfica e o um hemiarco é, em média, de 2 mm.
custo financeiro do tratamento. As radiografias periapicais, interproximais e as cefalo-
Em vista disso, a avaliação da maturação esquelética métricas oblíquas de 45º são as consideradas adequadas
através da morfologia das vértebras cervicais na radiografia para a mensuração dos dentes intraósseos na análise da
14
cefalométrica lateral surgiu como uma alternativa prática. dentição mista. Dentre elas, as mensurações em radio-
Contudo, estudos mostram que a avaliação das vértebras grafias cefalométricas de 45º mostram o melhor índice de
cervicais isoladamente não é confiável, indicando a radio- correlação entre a medida na radiografia e a medida real;
10,11
grafia de mão e punho como método mais preciso. contudo, apesar da alta correlação, são necessárias duas
O conhecimento das duas técnicas parece ser a tomadas radiográficas cefalométricas estritamente para a
melhor opção, uma vez que a indicação da radiografia análise da dentição mista do arco inferior, tornando a técni-
cefalométrica lateral é preponderante durante o acom- ca de custo relativo elevado.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 113

As radiografias convencionais apresentam resultado O padrão DICOM não é apenas um formato de arqui-
satisfatório13 e podem ser utilizadas como rotina, mas a vo, mas um conjunto de normas para tratamento, armaze-
TCCB é considerada a melhor ferramenta para a visualiza- namento e transmissão de informação médica em formato
ção dos dentes intraósseos. Ela deve ser solicitada em ca- eletrônico. Foi desenvolvido com a finalidade de padronizar
sos críticos quanto à discrepância de modelo, em casos de a formatação de imagens diagnósticas como tomografias,
giroversões e superposições dentárias, e em situações nas ressonâncias magnéticas, radiografias e ultrassonografias,
quais as informações oriundas do exame sejam benéficas além de estabelecer uma linguagem comum entre equipa-
em outros aspectos para o diagnóstico do caso. mentos de diferentes marcas, geralmente não compatíveis,
e entre equipamentos de captação de imagem e computa-
dores, estejam estes em hospitais, clínicas ou laboratórios e
16
RADIOGRAFIAS ANALÓGICAS utilizando qualquer sistema operacional.
CONVENCIONAIS VERSUS O clínico tem ampla experiência na interpretação das
radiografias digitais convencionais, que produzem quali-
RADIOGRAFIAS DIGITAIS dade de imagem excelente e são atualmente a preferência
O planejamento e o diagnóstico ortodôntico realizados com na indicação radiográfica. Apesar de a tecnologia 3D estar
o auxílio das radiografias analógicas convencionais são tão tomando espaço no diagnóstico radiográfico, não se pode
bons quanto aqueles feitos com as equivalentes digitais, afirmar que o planejamento do caso clínico seja melhor ape-
porém é inegável que a radiografia digital está revolucio- nas porque a TCCB foi solicitada. O clínico deve procurar
nando o conceito de aquisição de imagens em odontolo- atualizar-se frente às novas tecnologias, sem que isso signi-
gia por minimizar a exposição à radiação do paciente e do fique que o uso das radiografias convencionais esteja obso-
radiologista, reduzir o tempo de obtenção da imagem, fa- leto ou prejudique a formulação de um plano de tratamento
cilitar o armazenamento e a comunicação interprofissional estruturado e eficiente.
e permitir o ajuste eletrônico da imagem (contraste, brilho,
densidade, cor).
Para uma visualização adequada da radiografia digital A TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
no consultório odontológico, além dos fatores já comu- CONE-BEAM NA ORTODONTIA
mente observados na técnica com radiografias analógicas,
como o correto posicionamento do filme e da cabeça do A TCCB foi introduzida na odontologia em 1998, por meio
paciente, também a tecnologia de hardware e software en- do tomógrafo NewTom QR-DVT 9000 (NIM, S.r.l., Verona,
17
volvida na aquisição e no processamento e visualização da Itália). Sua grande vantagem está na utilização de uma
imagem influenciam no produto radiográfico final. menor dose de radiação em relação às tomografias con-
18,19
No Brasil, o clínico ortodontista costuma delegar a fase vencionais, o que possibilitou a abrangência de seu uso
de aquisição e processamento de imagem às clínicas radio- clínico odontológico.
lógicas especializadas, porém o mesmo deve ter cuidado O princípio da aquisição de imagens na TCCB é ba-
com dois aspectos em seu consultório durante a interpre- seado na presença de uma fonte fixa de raios X emissora de
tação das imagens digitais: a utilização de um monitor de radiação ionizante em forma de cone, que atravessa o cen-
vídeo de qualidade e a preferência pelo formato DICOM tro da região de interesse (FOV – do inglês field of view) até
(Digital Imaging and Communications in Medicine) para a o detector da imagem do outro lado do objeto escaneado.
visualização das imagens. A fonte de raios X e o detector giram em torno do paciente,
Atualmente não existem estudos que comprovem a emitindo radiação contínua ou pulsátil através do detector,
eficiência dos monitores de LED; apenas os monitores de resultando em múltiplas projeções radiográficas. Essas pro-
matriz de cristal líquido são reconhecidos para finalidades jeções bidimensionais são então reconstruídas, através de
médicas pela American Association of Physicists in Medi- algoritmos, em uma imagem 3D.
cine (AAPM). A literatura ainda não apresenta o padrão de A reconstrução volumétrica e multiplanar da TCCB for-
qualidade dos monitores utilizados para análise radiográfi- nece visualizações precisas de estruturas em diferentes pers-
ca, porém recomenda-se que sejam da melhor qualidade pectivas, dificilmente visualizadas em radiografias bidimen-
possível.15 sionais convencionais, o que pode implicar em mudanças no
A utilização do padrão DICOM como forma de visua- diagnóstico e no plano de tratamento (Figuras 10-4 e 10-5).
lização de imagens digitais é recomendada pela American O melhor tipo de reconstrução dos dados obtidos pela
Dental Association (ADA). Este formato foi desenvolvido TCCB, seja multiplanar ou renderizada, deve ser discutido
pelo American College of Radiology (ACR) e pela National com o radiologista, sendo que a indicação do exame deve
Electrical Manufactures Association (NEMA) com o obje- estar clara na solicitação enviada pelo clínico, para que o
tivo de facilitar a transmissão de imagens radiográficas radiologista defina o melhor protocolo de aquisição radioló-
médicas. gico indicado para o caso. Esse protocolo pode sofrer alte-

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FIGURA 10-4 Reconstrução


multiplanar da imagem tomo-
gráfica através de camadas (ima-
gens bidimensionais) nos três
planos do espaço.

a b c
FIGURA 10-5 (a) Visualização da imagem renderizada. (b) e (c) Aplicação de diferentes filtros de imagem para tecido mole.

rações, principalmente no que se refere ao tamanho do FOV de acordo com o tipo de aparelho utilizado na tomada ra-
e do voxel*, de acordo com a precisão desejada, a idade do diográfica. Desse modo, apesar de dispensar doses de ra-
paciente, a presença de potenciais geradores de artefatos e diação ligeiramente maiores ou semelhantes às de exames
a história clínica da patologia. radiográficos digitais ou analógicos, a TCCB permite a ob-
tenção de máxima qualidade, além de grande possibilidade
de manipulação da imagem.
DOSE DE RADIAÇÃO NA TCCB A dose de radiação dispensada durante a aquisição
da imagem tomográfica também irá variar de acordo com a
As consequências biológicas da radiação ao paciente são quilovoltagem (kVp) e a miliamperagem (mAs) do aparelho,
mensuradas através da dose equivalente efetiva quantifica- a radiação pulsátil ou contínua, a rotação parcial ou total do
da em Sievert (Sv). No exame tomográfico de feixe cônico, tomógrafo, o tempo de aquisição da imagem, o tamanho do
com tomógrafo tipo cone-beam, a radiação dispensada va- FOV e as características individuais do tomógrafo utilizado.22
ria de 15 a 100 mSv, dependendo das características do Existem dois processos que regem os malefícios resul-
tomógrafo e da área escaneada.20,21 tantes do excesso de radiação: o primeiro deles chama-se
A estimativa de exposição à radiação pelo paciente, “determinístico” e ocorre quando uma dose muito elevada
ao se solicitarem os exames radiográficos convencionais de radiação é aplicada em um curto período de tempo, pro-
usualmente utilizados no diagnóstico e no planejamento or- vocando morte celular. A aplicação de radiação neste nível
todôntico, está entre 15,2 e 58,8 mSv, o que pode variar nunca é realizada dentro do âmbito diagnóstico radiológico
bucomaxilofacial. Contudo, após tratamento radioterápico
de lesões cancerosas de cabeça e pescoço, poderá ser
* Voxel (volumetric picture element ou volumetric pixel) é um elemento
volumétrico representando um valor em uma grade regular em um es- detectada a morte celular decorrente especificamente da
paço 3D. radiação. O segundo processo, chamado de “estocástico”,

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altera irreversivelmente a célula, geralmente por danificar o co e no planejamento do caso. Embora a TCCB seja uma
DNA – alteração essa que pode gerar, a longo prazo, cân- ferramenta útil para o clínico, é essencial que seja utilizada
cer. Ao contrário do processo determinístico, o estocástico somente quando a radiografia convencional não possa for-
pode acontecer com a aplicação de doses baixas de radia- necer informações necessárias ao diagnóstico ou planeja-
23
ção através de efeito cumulativo. mento, já que o profissional da saúde tem um compromisso
A dose efetiva de radiação dispensada em um exame ético e legal perante o paciente.
de TCCB para diagnóstico ortodôntico é uma preocupação Recentemente, a American Academy of Maxillofacial
importante, especialmente porque o tratamento ortodôntico and Oral Radiology (AAMOR) publicou um guia de orienta-
costuma iniciar em uma população de pouca idade. O ris- ção para clínicos em relação à indicação da TCCB, desen-
co da radiação ionizante é maior nas crianças do que nos volvido a partir de um painel composto de radiologistas e
adultos, porque: ortodontistas reconhecidamente conhecedores dos aspec-
24
tos relacionados à técnica. A Tabela 10-1 apresenta a re-
• a taxa de crescimento celular e de desenvolvimento
comendação da AAMOR da seleção de imagem para o uso
dos órgãos é maior nas crianças do que nos adultos;
de TCCB em ortodontia.
• as crianças têm maior expectativa de vida;
Dentre as indicações do uso da TCCB na ortodontia e
• a dose efetiva de radiação em relação aos órgãos ir-
suas aplicações clínicas, podem ser citadas a localização de
radiados para obtenção da TCCB, particularmente as
dentes inclusos ou impactados, as anomalias dentárias, a
glândulas salivares, é 30% maior para as crianças do
qualidade e a quantidade de tecido ósseo, a análise da arti-
que para os adultos.
culação temporomandibular, a análise das vias aéreas supe-
Em resumo, estima-se que a criança possa ser de duas riores, as fissuras labiopalatais e o planejamento ortocirúrgico.
a dez vezes mais propensa a carcinomas induzidos por ra-
22
diação. Portanto, todos os procedimentos de imagem e
seus benefícios clínicos devem ser ponderados em relação DENTES INCLUSOS OU IMPACTADOS
à relativa radiossensibilidade do paciente e à habilidade do
operador de reduzir a exposição à radiação. A localização de dentes impactados ou transpostos é, pos-
sivelmente, a indicação mais comum para uso da TCCB
(Figura 10-6). A tomografia pode oferecer informações es-
TCCB: QUANDO SOLICITAR? senciais sobre as raízes dos dentes adjacentes ao dente
impactado ou auxiliar no procedimento cirúrgico de dentes
A evolução nas técnicas de aquisição da imagem é de gran- que serão tracionados. O posicionamento preciso dos den-
de importância para a clínica diária, assim como para os tes inclusos faz com que o procedimento cirúrgico se torne
avanços em pesquisas. Apesar da alta fidelidade de repro- menos invasivo, além de auxiliar no planejamento mecânico
dução das estruturas faciais e das vantagens da TCCB em do dente a ser tracionado. Outra vantagem da TCCB em
relação às radiografias convencionais, este exame ainda relação às radiografias convencionais é possibilitar a deter-
apresenta algumas desvantagens, como: minação do espaço necessário para o tracionamento.
25
Haney e colaboradores compararam diferentes for-
• custo mais elevado para o paciente;
mas de diagnóstico por meio de radiografias 2D (panorâ-
• pode dispensar maior quantidade de radiação do que
as radiografias digitais, variando de acordo com as ca- mica, oclusais e periapicais) com imagens de TCCB e ava-
racterísticas do aparelho e da área a ser escaneada; liaram o efeito dessas informações no plano de tratamento.
Observaram que, em 27% dos dentes avaliados, o plano de
• qualquer movimento durante o escaneamento pode
gerar artefatos que comprometam a precisão na re- tratamento originalmente realizado com imagens 2D foi alte-
construção da imagem; rado após a visualização das imagens 3D, o que demonstra
a influência direta da TCCB no diagnóstico e no planeja-
• possui limitações na visualização de tecidos moles mais
profundos da face; mento em casos que apresentam dentes impactados.
• ainda é uma tecnologia nova, que precisa ser estudada
e aprimorada.
ANOMALIAS DENTÁRIAS
A solicitação da TCCB deve ter uma indicação precisa.
É necessário cautela ao se determinar qual o exame indica- Em relação às radiografias convencionais, a TCCB é mais
do em cada caso e questionar se a questão clínica pode ser fiel na visualização de reabsorções radiculares, associa-
elucidada por uma radiografia convencional. das ou não a dentes impactados, e no diagnóstico de an-
O cirurgião-dentista é responsável pelos exames soli- quilose dentária, dentre outras patologias. A imagem da
citados a seus pacientes, por isso precisa ter certeza de TCCB resulta em melhor definição das raízes dentárias,
que a solicitação da TCCB será fundamental no diagnósti- já que estas podem estar superpostas em radiografias

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TABELA 10-1 Recomendação da American Academy of Maxillofacial and Oral Radiology no que diz respeito à seleção de imagem de TCCB em ortodontia,
segundo as condições clínicas apresentadas

CONDIÇÃO CLÍNICA – ASPECTO DENTÁRIO E ESQUELÉTICO

ANOMALIA SINAIS
A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

DE ANOMALIA DISCREPÂNCIA E/OU


SEVERIDADE NÃO ESTRUTURA DE POSIÇÃO COMPROMETIMENTO ANTERO- DISCREPÂNCIA DISCREPÂNCIA SINTOMAS
DO CASO DETERMINADA DENTÁRIA DENTÁRIA DENTOALVEOLAR ASSIMETRIA POSTERIOR VERTICAL TRANSVERSA DA ATM
Pré-trata- Suave III FOVs (I) FOVs (I) FOVp,m (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVp,m (III)
mento
Moderada FOVm,l (II) FOVs (I) FOVs (I) FOVp,m (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II)
Severa FOVl (II) FOVs (I) FOVs (I) FOVp,m (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II) FOVm,g (II)
Reestudo/ III FOVs (III) FOVs (II) FOVp,m (II) Pré-cirúrgico Pré-cirúrgico Pré-cirúrgico Pré-cirúrgico FOVm,g (II)
acompanha- FOVm,g (I) FOVm,g (II) FOVm,g (I) FOVm,g (II)
mento
Pós-trata- III FOVs (III) FOVs (III) FOVp,m (III) FOVm.g (II) FOVm.g (II) FOVp,m (III) FOVp,m (II) FOVp,m (II)
mento

TCCB, tomografia computadorizada cone-beam; ATM, articulação temporomandibular; FOV, região de interesse (do inglês field of view); p = pequeno (FOV ≤10 cm); m = médio (FOV >10 cm e ≤ 15 cm); g = grande
(FOV > 15 cm). Consenso da indicação entre os estudiosos da Academia: I = perfeitamente indicado; II = possivelmente indicado; III = certamente não indicado.
24
Fonte: American Academy of Oral and Maxillofacial Radiology.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 117

FIGURA 10-6 Paciente de 9 anos de idade com os den-


tes 12 e 22 inclusos e impactados, apresentando diferen-
tes imagens geradas a partir de TCCB.

convencionais, facilitando o diagnóstico das anomalias mento ortodôntico, servindo às mais variadas técnicas te-
dentárias (Figuras 10-7 e 10-8). rapêuticas.26 A imagem tridimensional fornece dados sobre
a presença de deiscências e o nível ósseo periodontal em
qualquer face do dente, ampliando o espectro do diagnósti-
QUALIDADE E QUANTIDADE DE co e a precisão dos procedimentos terapêuticos.
Com relação ao uso de imagem de TCCB para avalia-
TECIDO ÓSSEO
ção da quantidade de tecido ósseo na aplicação de mini-
A possibilidade de manipulação da imagem 3D abre um -implantes ortodônticos, a imagem 3D propicia a fabricação
novo leque de opções diagnósticas, tornando possível a de guias cirúrgicas que proveem um método seguro e pre-
avaliação e o controle da espessura óssea pré e pós-trata- ciso para a instalação de mini-implantes;27 a relação custo/

FIGURA 10-7 Imagens tomográfi-


cas comprovando a suspeita de an-
quilose do dente 11, o que limitou o
planejamento ortodôntico e a cor-
reção completa da má oclusão.

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118 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 10-8 Presença de reab-


sorção cervical externa na vestibu-
lar do dente 12 em paciente enca-
minhado para dar continuidade ao
tratamento ortodôntico. Tal lesão
fez com que a necessidade de ex-
tração do dente 12 alterasse o pla-
nejamento ortodôntico.

benefício ainda não possibilita, contudo, o uso generaliza- res (DTMs). A TCCB pode fornecer imagens com diferentes
do dessa técnica, sendo atualmente ainda muito utilizada a orientações e reconstruções condilares, mostrando as ca-
imagem 2D para este fim. racterísticas morfológicas sob diversos ângulos. Porém, há
poucas informações sobre a sua eficácia no diagnóstico de
DTMs em relação às radiografias convencionais.30
ANÁLISE DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES A qualidade das imagens das articulações temporo-
mandibulares (ATMs) através da TCCB é comparável às
O uso da TCCB para visualização dos seios maxilares e obtidas com tomografias computadorizadas convencionais,
das vias aéreas superiores tem sido uma de suas grandes porém a aquisição da imagem é mais rápida, com menor
aplicações (Figura 10-9). Através da TCCB é possível esta- exposição à radiação e menor custo, o que abre uma nova
belecer os limites do tecido mole das vias aéreas superio- alternativa para visualização das ATMs (Figura 10-10).18
res, o que permite sua análise volumétrica e tridimensional.
Essa informação é muito importante para o ortodontista se
a respiração bucal for considerada como fator etiológico PACIENTES FISSURADOS
de alguns tipos de má oclusão – além de muitos pacientes
28,29
adultos relatarem episódios de ronco ou apneia. Nos pacientes que apresentam fissuras labiopalatinas,
a TCCB pode nos oferecer informações importantes no
planejamento do caso, como o número de dentes e suas
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR orientações, as idades esquelética e dentária do paciente e
a quantidade e qualidade do osso alveolar, além de uma ex-
A literatura se mostra controversa em relação à indicação da celente visualização tridimensional do palato e da pré-maxila
TCCB para o diagnóstico de distúrbios temporomandibula- (Figura 10-11).28

FIGURA 10-9 Visualização da ca-


vidade nasal e do seio maxilar em
diferentes cortes tomográficos de
um mesmo paciente.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 119

b
FIGURA 10-10 Reconstrução
panorâmica através de TCCB
apresentando três cortes para
visualização da ATM, com dis-
tância de 2 mm entre os mes-
c
mos (a, b e c).

FIGURA 10-11 Reconstrução


tridimensional de diferentes
pacientes com fissura palatina
unilateral direita, possibilitando
melhor planejamento da área a
ser enxertada.

PLANEJAMENTO ORTOCIRÚRGICO OUTROS MEIOS DE APLICAÇÃO DA TCCB


O planejamento cirúrgico tem sido facilitado com a utiliza- A TCCB também tem apresentado diversas outras aplicabi-
ção da TCCB, através da confecção de guias cirúrgicas e lidades clínicas. Dentre estas, a superposição tomográfica.
da simulação do resultado do tratamento, permitindo maior A superposição de imagens tomográficas tem se tornado
precisão no posicionamento das estruturas esqueléticas e o foco de muitos estudos. Diversos autores avaliam resultados
dentárias.28,30,31 cirúrgicos ou análise de crescimento através da superposição
A implementação da fotografia tridimensional ao exame de estruturas na base do crânio, criando uma ferramenta con-
de tomografia computadorizada pode permitir ao cirurgião fiável para quantificar o crescimento e o desenvolvimento do
uma predição maior nas alterações faciais decorrentes do indivíduo. Porém, é preciso racionalizar a solicitação desses
procedimento cirúrgico (Figuras 10-12 e 10-13). exames quando a superposição for seu único propósito.

a b c

FIGURA 10-12 TCCB com sobreposição fotográfica de paciente submetido a expansão maxilar. (a) Inicial; (b) estabilização; (c) final da
fase de contenção.

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120 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 10-13 Simulação fotográfica do pós-cirúrgico com


avanço maxilar de 4 mm e mandibular de 8 mm com base no
traçado preditivo realizado por meio de TCCB.
FIGURA 10-14 Imagem cefalométrica obtida a partir de TCCB
CEFALOMETRIA ATRAVÉS DE TCCB com posicionamento do plano horizontal de Frankfurt parale-
lo à base da tomografia e plano sagital mediano perpendicular
O diagnóstico e o planejamento ortodôntico através de ima- a esta.
gens 2D fazem parte da clínica ortodôntica diária. Porém, a
forma de aquisição da imagem radiográfica bidimensional A exposição radiográfica relacionada com a odonto-
apresenta algumas limitações técnicas, como magnificação logia representa a menor percentagem de contribuição
da imagem, distorção geométrica e superposição de estru- (~ 0,2%) dentre todas as fontes de radiação, incluindo as
turas, além de o posicionamento incorreto da cabeça do ambientais ou naturais. A maior radiação absorvida de cau-
paciente poder induzir a erros de projeção. sas não naturais está relacionada com a área médica, sen-
Apesar dessas limitações, a radiografia cefalométrica é do que a exposição à radiação odontológica é estimada em
amplamente utilizada para a descrição morfológica do pa- 1% de toda a radiação ligada aos cuidados da saúde.
ciente, para a análise do crescimento craniofacial e para o A má oclusão é uma anomalia dependente de avaliação
delineamento do plano de tratamento e avaliação dos re- nos planos do espaço anteroposterior, transverso e vertical;
sultados do tratamento.27 Para tanto, é necessária a iden- portanto, não causa surpresa a necessidade de desenvol-
tificação dos pontos cefalométricos que permitam o deli- vimento de novas tecnologias que contemplem, em apenas
neamento de linhas e planos. A dificuldade de identificação um exame radiográfico, o diagnóstico nesses três planos do
desses pontos faz com que haja uma grande margem de espaço – ou seja, a imagem 3D.
erro nos traçados cefalométricos convencionais.32 Estamos em uma fase de transição na qual, dentre as
Ao se utilizarem imagens 3D na determinação dos pon- indicações de imagem diagnóstica solicitadas pelo clínico,
tos cefalométricos previamente estabelecidos em imagens as radiografias digitais (2D) estão atualmente em maior nú-
2D, é preciso levar em consideração que esses foram deter- mero; contudo, estima-se que a imagiologia 3D futuramen-
minados a partir da superposição de determinadas estruturas te venha a ser a escolha preferencial como ferramenta de
da face, resultando em definições como o ponto mais inferior diagnóstico, o que ainda não ocorre devido a alguns fatores,
de um determinado contorno e o centro geométrico de uma como a maior exposição à radiação, a falta de conhecimen-
certa imagem, entre outras. Muitos desses pontos são de di- to interpretativo pelos clínicos e o alto custo relativo. Mas
fícil determinação em imagens 3D. Portanto, é necessária a todos esses obstáculos estão sendo transpostos, fazendo
formação de uma imagem 2D a partir da TCCB para a realiza- com que, no futuro, a imagem 2D seja a exceção e o diag-
ção de análises cefalométricas convencionais (Figura 10-14). nóstico 3D, a rotina. No caso do planejamento cirúrgico das
Os cefalogramas obtidos a partir de TCCB não apre- anomalias craniofaciais, a imagem 3D já se tornou rotina,
sentam diferença estatística nas medidas lineares e angu- não por ser fundamental, mas pela praticidade e agilidade
lares ao serem comparados com os cefalogramas tradicio- no diagnóstico e por um melhor custo/benefício, conside-
nais.33,34 Porém, os erros de mensuração nos cefalogramas rando a necessidade de um grande número de tomadas
obtidos a partir de TCCB são menores do que aqueles en- radiográficas convencionais.
contrados nos cefalogramas convencionais.35 O posicionamento de entidades como a American Aca-
É certo que os benefícios diagnósticos da geração de demy of Craniofacial Radiology24 em identificar casos apro-
imagem suplantam largamente os malefícios da exposição priados para a imagem 3D, utilizando critérios baseados em
radiográfica; contudo, o clínico deve estar atento aos recur- evidência científica, deve ser consultado pelo clínico para
sos de higiene de radição e/ou conhecer as condições da que o seu diagnóstico seja otimizado e os recursos tecnoló-
clínica de radiologia que indica. gicos disponíveis, racionalizados em benefício do paciente.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 121

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C A P Í T U LO 1 1

Biomecânica do movimento dentário e reações


teciduais frente à movimentação ortodôntica
Osmar A. Cuoghi
Marcos Rogério de Mendonça
Kelly Regina Micheletti

A movimentação ortodôntica (MO) é o resultado da respos- cido como lâmina dura. Porém, existe um grupo de fibras
ta biológica do ligamento periodontal (LP) e do osso alveolar do LP inseridas somente no cemento, as chamadas fibras
ao estímulo provocado pelas forças aplicadas aos dentes de Sharpey. Elas apresentam menor diâmetro e estão em
por meio de aparelhos ortodônticos. Para a obtenção de maior número quando comparadas com aquelas inseridas
1
uma MO de qualidade, isto é, o máximo deslocamento den- no osso alveolar.
tário com poucos efeitos colaterais, é preciso conhecer as No LP também são observadas células como os fibro-
características das forças aplicadas, bem como os compo- blastos, os osteoblastos, os cementoblastos, os osteoclas-
nentes biológicos envolvidos. tos e as fibras nervosas. Além desses componentes, estão
presentes também os grupos de células epiteliais denomi-
nados restos epiteliais de Malassez. Esses grupos estão
TECIDOS DE SUPORTE DENTÁRIO posicionados distante do cemento radicular e são respon-
sáveis pela manutenção do espaço existente entre o osso
Durante a movimentação dentária, ocorrem variadas rea- alveolar e o dente.1
ções no LP, no osso alveolar e no cemento radicular, con-
forme a magnitude, a direção e a duração da força aplicada.
Portanto, é importante conhecer os aspectos de normalida-
Osso alveolar
de do periodonto. O metabolismo ósseo é o fator primordial para a movimen-
tação dentária, e a manipulação biomecânica do osso é a
base fisiológica da ortodontia e da ortopedia facial.2
Ligamento periodontal O osso alveolar é formado por osso lamelar. O osso
Os dentes estão unidos à estrutura óssea alveolar através lamelar mineralizado inclui dois tipos de tecido ósseo: o
de fibras colágenas conhecidas como ligamento periodontal osso do processo alveolar e o osso alveolar propriamente
(LP). Em condições normais, o LP está presente ao longo dito, que recobre os alvéolos. O osso alveolar, junto com o
da estrutura radicular e ocupa um espaço entre 0,25 a 0,5 cemento e o LP, é responsável pela inserção do dente na
mm de largura, e suas dimensões, bem como sua qualida- estrutura óssea.1
1
de, são fundamentais para manter a estabilidade dentária. O osso lamelar é composto também por células res-
O LP é formado por um tecido conjuntivo frouxo que con- ponsáveis pela sua integridade. Dentre essas células encon-
tém vários componentes celulares, vasculares e elementos tram-se os osteócitos, os osteoblastos e os osteoclastos.
neurais envoltos por uma matriz extracelular. Uma das fun- Os osteócitos são células aprisionadas em lacunas do tecido
ções do LP e da matriz extracelular é absorver e distribuir ósseo que se comunicam entre si e com os osteoblastos
as forças geradas sobre as estruturas de suporte dentárias. na superfície óssea através de canalículos que contêm pro-
De acordo com a sua disposição, as fibras do LP po- jeções citoplasmáticas dos próprios osteócitos. Os osteo-
dem ser divididas em fibras da crista alveolar, fibras hori- blastos produzem a matriz óssea ou osteoide, composta de
zontais, fibras oblíquas e fibras apicais. Essas fibras estão fibras colágenas, glicoproteínas e proteoglicanas. A matriz
inseridas, de um lado, no cemento da superfície radicular e, óssea sofre mineralização pelo depósito de minerais que
do lado oposto, no osso alveolar propriamente dito, conhe- serão transformados em hidroxiapatita. A reabsorção óssea

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124 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

está associada aos osteoclastos, que são células especiali- situadas entre 100 cN e 400 cN; e intensas, acima de
zadas na destruição da matriz óssea mineralizada. Os osteo- 400 cN.
clastos em atividade aderem à superfície óssea e produzem Uma determinada força gera no periodonto um es-
as chamadas lacunas de Howship.1 tresse no ligamento periodontal (LP) que absorve a força e
O osso alveolar renova-se constantemente em respos- a distribui na superfície do LP. Essa distribuição depende
ta às demandas funcionais. Durante a remodelação óssea, de vários fatores, como a magnitude da força, a superfície
as trabéculas ósseas são continuamente reabsorvidas e no- do osso e a distribuição da força de acordo com o tipo de
5,6
vamente formadas, e a massa do osso cortical é dissolvida movimento realizado. Dados na literatura sugerem que a
e substituída por novo osso. força aplicada deve ter um valor ótimo para preservar a vita-
lidade dos tecidos periodontais e seu valor não deve exce-
2 2 7,8
der 20-25 g/cm ou 80 g/cm . Porém, não há evidências
Cemento seguras para a determinação da intensidade de força ideal
9
O cemento é um tecido especializado mineralizado que se para a movimentação ortodôntica. Assim, a distribuição ou
encontra ao longo da superfície radicular e possui caracte- amplitude do estresse gerado pelo dispositivo ortodôntico
rísticas comuns ao tecido ósseo, tendo a importante fun- no LP, e não a magnitude da força, é o principal parâme-
ção de suportar as fibras do LP que nele se inserem, além tro mecânico de movimentação que regula o deslocamento
de auxiliar na reparação da superfície radicular. Porém, o dentário. Portanto, a movimentação dentária, empregada
cemento não contém vasos sanguíneos nem inervação e, como método terapêutico, é reconhecida como um fenô-
3
contrariamente ao tecido ósseo, não apresenta fases alter- meno biológico e não como um evento estritamente físico.
nadas de reabsorção e aposição. Além disso, o cemento Uma força ótima deve ser aquela que produz um estí-
aumenta de espessura durante toda a vida pela deposição mulo mecânico extrínseco que gera uma resposta celular.
sucessiva de novas camadas. A parte ativa e reacional do As células respondem ao estímulo com o objetivo de res-
cemento está intimamente relacionada com os cemento- taurar o equilíbrio (homeostase), remodelando os tecidos de
blastos e os cementócitos. A preservação dos cemento- suporte. Assim, deve-se considerar um estímulo mecânico
blastos e a justaposição das fibras de Sharpey inibem a adequado quando se proporciona o máximo de movimen-
estrutura radicular de sofrer um processo de reabsorção, tação dentária com mínimos danos irreversíveis à raiz, ao LP
9,10
pois o processo de reabsorção radicular está vinculado à in- e ao osso alveolar.
tegridade dos cementoblastos. Dessa forma, a reabsorção
radicular depende da destruição da camada de cemento-
Duração da força
blastos que protege a superfície radicular.1
Durante a movimentação ortodôntica, ou mesmo du- As forças ortodônticas podem ser aplicadas de forma in-
rante os traumas oclusais, pode ocorrer a remoção de termitente, contínua ou contínua interrompida. As forças in-
pequenas áreas de cementoblastos. No entanto, essas termitentes são observadas com a utilização de aparelhos
células são repostas por células vizinhas, denominadas pré- removíveis e proporcionam períodos de repouso e movi-
-osteoblastos, restabelecendo o tecido cementário com mentação, permitindo a proliferação celular e respostas te-
características morfológicas semelhantes ao primariamente ciduais entre os períodos de ativações. O emprego desse
depositado.3 tipo de força proporciona menos reabsorções radiculares,
porém apresenta menor quantidade de movimentação den-
tária, uma vez que durante os períodos de repouso ocorrem
11
FORÇA recidivas.
Com a força contínua o movimento dentário tende a
As forças são vetores caracterizados por magnitude, direção e ocorrer mais rapidamente, pois o estresse celular permane-
duração. Convém salientar que a forma adequada de expres- ce por um longo período. Esse tipo de força ocorre princi-
sar a unidade de força é o newton (N), e não o grama (g). Para palmente quando se utilizam fios de alta flexibilidade, como
facilitar a conversão das unidades expressas em g, utilizadas os fios superelásticos, associados a aparelhos fixos.
em vários trabalhos, deve-se lembrar que 1 N = 101,937 g, Com a utilização da força contínua interrompida, obser-
ou 1 g = 0,00981 N. Considerando-se que o centi (c) consti- vada principalmente nos fios de aço em aparelhos fixos, o
tui uma unidade de medida 100 vezes menor, conclui-se que estresse permanece por um período menor de tempo, devi-
1 g = 0,981 cN, ou 1 g ≈ 1 cN.4 do à desativação sucessiva, inerente à liga metálica.
Embora o movimento dentário seja maior com o em-
prego de forças contínuas, estudos demonstram que com
Magnitude da força esse tipo de força os dentes apresentam mais suscetibilida-
Quanto à magnitude da força, entendem-se como forças de a reabsorções radiculares do que os dentes movimenta-
12,13
suaves aquelas que atingem até 100 cN; moderadas, as dos com forças contínuas interrompidas.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 125

Direção da força (M = F x d), sendo que essa distância é sempre medida


perpendicularmente à linha de ação da força até o cen-
Para mover um dente de forma controlada, uma força deve tro da resistência. Dessa forma, quando a intensidade da
ser aplicada com magnitude e direção desejadas. Alterar força é aumentada (Figura 11-2a), ou a força passar ain-
a direção, a magnitude ou o ponto de aplicação da for- da mais distante do centro de resistência (Figura 11-2b),
ça implica na qualidade do deslocamento. Intuitivamente, maior será o momento e, consequentemente, a tendência
o ponto de aplicação da força influencia a qualidade e a para a rotação será maior.
quantidade do deslocamento dentário. Existe apenas um Para realizar a movimentação dentária, uma força deve
ponto através do qual uma força pode ser aplicada e que ser aplicada na direção adequada, com a magnitude dese-
movimentará o dente na direção da força sem inclinação ou jada e na posição correta. Alterar a direção, a magnitude ou
rotação. Esse ponto é chamado de centro de resistência e o ponto de aplicação da força irá afetar a forma do desloca-
uma força exercida através dele proporcionará a translação mento dentário.
pura do dente, como mostrado na Figura 11-1.
A localização do centro de resistência depende do ta-
manho e da forma do dente, bem como da qualidade e do TIPOS DE MOVIMENTOS DENTÁRIOS
nível das estruturas de suporte. O centro de resistência po-
siciona-se entre 1/3 e 1/2 da distância da crista alveolar ao A distribuição de tensões no LP é diferente para cada tipo
ápice.14 Porém, para um dente periodontalmente compro- de movimento, e é estabelecida de acordo com a direção
metido, o centro de resistência está deslocado para apical da aplicação da força. A distribuição das tensões no LP
(Figura 11-1). pode resultar nos seguintes tipos de movimento dentário:
Quando uma força é aplicada em um ponto distante Inclinação: neste tipo de movimento a coroa e a raiz se mo-
do centro de resistência de um corpo, o mesmo tende a vem em direções opostas em torno do centro de rotação
inclinar-se e um momento de força é gerado. Portanto, da estrutura radicular. Esses são movimentos observados
o momento é definido como uma tendência para girar e frequentemente quando se utilizam aparelhos removíveis.
pode referir-se, na terminologia ortodôntica, à rotação, à Microscopicamente, as inclinações produzem regiões loca-
inclinação ou ao torque. Uma força que passa pelo cen- lizadas de alto estresse ou tensão (Figura 11-3a).
tro de resistência irá promover a translação do dente na
direção da força, sem rotação e, ainda na terminologia Translação: este tipo de movimento, também conhecido
como movimento de corpo, objetiva deslocar a coroa e a
ortodôntica, identificada como movimento de corpo. Se
raiz na mesma direção, estabelecendo maior distribuição
a mesma força é aplicada fora do centro de resistência,
das tensões. Para se obter esse tipo de movimento, é ne-
o dente se desloca de acordo com o momento gerado,
cessário o uso de um sistema de força frequentemente obti-
apresentando inclinação ou giroversão, de modo que a
do por meio de aparelhagem fixa (Figura 11-3b).
coroa e a raiz se deslocam em sentidos contrários, sendo
este um movimento não controlado. Portanto, o momento Rotação: é o movimento dentário realizado em torno do seu
(M) é o produto da magnitude da força aplicada (F) pela longo eixo e se caracteriza como um dos movimentos mais
distância (d) da força aplicada ao centro de resistência difíceis de serem realizados e contidos (Figura 11-3c).

a b a b
M
F

F F
CRe CRe
CRe

FIGURA 11-1 (a) Dente periodontalmente íntegro com o centro FIGURA 11-2 Força de mesma intensidade: (a) aplicada no cen-
de resistência (CRe) localizado no terço coronal da raiz. (b) Den- tro de resistência (CRe), deslocando o dente sem inclinação; (b)
te comprometido periodontalmente com centro de resistência aplicada na coroa dentária, criando um momento de força (M) na
deslocado para apical. direção da força.

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a b c d
M M F
F F

F
CRe CRe CRe CRe

FIGURA 11-3 Tipos de movimentos dentários: (a)


inclinação; (b) translação; (c) rotação; (d) intrusão.

Intrusão: é o movimento que introduz o dente no seu al- tecidual e consequente fuga e/ou morte celular. Na região
véolo. Esse tipo de movimento produz áreas de compres- tecidual onde todos esses eventos ocorrem, evidencia-se
são em praticamente todo o alvéolo dentário (Figura 11-3d). uma área homogênea, livre de núcleos ou células no LP, que
15
assume um aspecto vítreo ou hialino da matriz extracelular.
A hialinização é uma característica microscópica inerente
REAÇÕES TECIDUAIS DA MOVIMENTAÇÃO aos mais variados tipos de movimentação dentária e obser-
vada em praticamente todos os níveis de força. Nas forças
DENTÁRIA INDUZIDA
de baixa magnitude, o tecido hialino pode ser eliminado de
Os fundamentos da movimentação dentária estão alicer- forma mais rápida do que nas forças intensas. No entanto,
çados no mecanismo biológico de remodelação óssea torna-se relevante procurar formas de controlar a extensão
desencadeado pelas reações celulares decorrentes do es- dessas áreas hialinas, pois as características microscópicas
tresse ou da tensão liberada nas regiões de compressão e dessas regiões não favorecem a movimentação dentária. As
tração do ligamento periodontal. Dessa forma, as teorias regiões hialinas são eliminadas quando elementos celulares
da compressão e tração, bem como da flexibilidade óssea, (p. ex., macrófagos e osteoclastos) de áreas adjacentes não
auxiliam na compreensão da dinâmica da movimentação danificadas migram para as regiões hialinas e removem o
ortodôntica. tecido hialinizado.
A modificação da espessura, bem como o restabeleci-
mento do ligamento peridontal, altera a circulação sanguí-
Teoria da compressão e tração nea e aumenta a atividade celular, favorecendo o equilíbrio
Após a aplicação de uma força, são desencadeadas duas do complexo periodontal durante a movimentação orto-
áreas de estresse no LP, conhecidas como áreas de com- dôntica.
pressão e tração. Nas áreas de compressão, ocorre uma
redução na espessura do LP e uma desorganização signi-
Teoria da flexibilidade óssea
ficativa dessa estrutura, resultante da alteração tanto nas
fibras como nas células do LP. Essas características são mi- Após a aplicação da força, o osso alveolar, o LP e o den-
croscópicas, resultantes da constrição vascular combinada te sofrem deformações.16 A deformação óssea, também
com a perda de substância fundamental amorfa. Nas áreas conhecida como deflexão óssea, gera um fluxo elétrico no
de tração, o espaço do ligamento periodontal se torna mais qual os elétrons são deslocados entre as malhas cristalinas
espesso e suas fibras apresentam-se estiradas. Nessa re- do osso, estabelecendo um fenômeno conhecido como
gião, observa-se microscopicamente a proliferação celular piezoeletricidade. As correntes elétricas geram uma polari-
associada ao aumento na produção de fibras e ao depósito zação das moléculas que interagem com locais específicos
de matriz óssea. da membrana celular (Figura 11-4).
Para que as reações teciduais sejam adequadas, a for- As respostas teciduais bioelétricas e a propagação
ça aplicada deve ser controlada para que não haja estran- dos potenciais elétricos (piezoeletricidade) desencadeados
gulamento dos vasos sanguíneos, o que acaba comprome- durante a flexão óssea desempenham funções essenciais
tendo a circulação e criando áreas de necrose. As forças como mensageiros celulares primários e acontecem em
intensas e/ou prolongadas podem criar extensas áreas de consonância com o mecanismo biológico de compressão e
estresse que resultam em hialinização do LP, associadas a tração do ligamento periodontal.17,18
reabsorções indiretas tanto nas regiões adjacentes às áreas A célula converte o estresse mecânico e responde a
hialinas quanto nos espaços medulares. A hialinização é ca- esse estímulo tanto por mecanotransdução como por uma
racterizada por células com núcleos picnóticos e por vasos reação inflamatória.19 A mecanotransdução constitui a res-
sanguíneos com calibres alterados, resultando em hipoxia posta primária à aplicação da força. O estresse proporciona

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 127

a b Fase 1 – Inicial
Caracterizada pelo início do movimento dentário que
F F ocorre entre 10 e 48 horas após a aplicação da força. Du-
rante essa fase ocorre o deslocamento do dente no es-
+ +
+ –– + –– paço do LP, pela flexibilidade óssea e pela extrusão den-
+ –– + ––
+ – + – tária. Além disso, acontece o processo de recrutamento
+ + de células progenitoras de osteoclastos e osteoblastos, o
CRe
extravasamento e a quimiotaxia de células inflamatórias e
a formação de áreas hialinas, principalmente nas áreas de
compressão.23

Fase 2 – Intermediária ou período de estagnação


FIGURA 11-4 (a) Osso alveolar no momento da aplicação da
força. (b) Deflexão óssea após a aplicação da força; respostas Ocorre logo após a fase inicial e pode se estender até 15
teciduais bioelétricas (sinais positivos [+] e negativos [–] – piezo- dias. Durante esse período, o movimento é mínimo ou
eletricidade). Fonte: Mostafa e colaboradores.19 nulo, devido às resistências proporcionadas pelas estru-
turas do LP, pelo osso alveolar e pelo aparecimento de
áreas de hialinização do LP. Essa restrição de movimen-
variações estruturais e funcionais nas proteínas da matriz
to permanece até a eliminação do tecido de hialinização.
extracelular, no citoesqueleto e nas membranas celulares,
O processo de reabsorção óssea ocorre nas áreas de
modificando assim a sua permeabilidade para certos íons.
maior estresse, ou seja, nos espaços medulares do osso
Dessa forma, a aplicação da força ortodôntica desencadeia
uma reação inflamatória aguda associada ao quadro clínico
de sintomatologia dolorosa, principalmente durante a movi- 6
mentação dentária.
Deslocamento (mm)

Observações microscópicas do periodonto evidencia-


ram que alterações de largura do LP influenciam o aumento
da atividade celular. Frequentemente se observam rupturas 5
das fibras de colágeno dessa estrutura e consequentes da-
nos teciduais, estabelecendo um quadro de hialinização.
1 = fase inicial
2 = fase intermediária
4 3 = fase de aceleração
DINÂMICA DA MOVIMENTAÇÃO 4 = fase linear
ORTODÔNTICA
Na ortodontia clássica, os dentes se movimentam após a 3
aplicação de forças que são intensas logo após a ativação 4
do aparelho e vão declinando até a próxima ativação. Anti-
gamente, o índice de movimentação dentária pelo tempo
passado após a aplicação da força era descrito em três fa-
2
ses – fase inicial, fase retardatária e fase pós-retardatária. A
fase inicial caracterizava-se pelo rápido movimento dentário
logo após a aplicação de força. Após a fase inicial, ocorria
um período retardatário, com taxas relativamente baixas de
1
movimentação dentária ou mesmo nenhuma movimenta-
ção. E a terceira fase da movimentação dentária era carac- 1 3
terizada pelo aumento da taxa de movimento, estabelecido
2
pela reabsorção óssea.20
Estudos posteriores ao de Burstone20 propuseram um 0
novo modelo de quantidade de movimentação dentária ao 0 20 40 60 80 100 120
longo do tempo após a aplicação da força para a movimen- Tratamento (d)
tação dentária.21,22 Esses estudos, realizados em cães da FIGURA 11-5 Curva de representação do tempo x desloca-
raça beagle, dividiram a curva de movimentação dentária mento das diferentes fases de movimentação de um segundo
em quatro fases (Figura 11-5): pré-molar. Fonte: van Leeuwen e colaboradores.22

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128 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

alveolar e em regiões adjacentes às áreas hialinas. Esse 10. Proffit WR. Biologic basis of orthodontic therapy. In: Proffit WR,
fenômeno é conhecido como reabsorção a distância ou Fields HW. Contemporary orthodontics. 3rd ed. Saint Louis: Mos-
by; 2000.
reabsorção indireta.
11. Hayashi H, Konoo T, Yamaguchi K. Intermittent 8-hour activation
in orthodontic molar movement. Am J Orthod Dentofacial Orthop.
Fases 3 e 4 – Aceleração e linear 2004;125(3):302-9.
12. Weiland F. Constant versus dissipating forces in orthodontics: the
Estas fases começam por volta de 30 e 40 dias após a apli- effect on initial tooth movement and root resorption. Eur J Orthod.
cação inicial da força. Nelas ocorre a complementação do 2003;25(4):335-42.
deslocamento dentário até a próxima ativação. Os lados de 13. Pizzo G, Licata ME, Guiglia R, Giuliana G. Root resorption and
orthodontic treatment. Review of the literatura. Minerva Stomatol.
compressão do LP apresentam fibras colágenas sem orien-
2007;56(1-2):31-44.
tação adequada. As superfícies ósseas, próximas ao dente, 14. Burstone CJ, Pryputniewicz RJ. Holographic determination of
apresentam-se irregulares, indicando reabsorção direta ou centers of rotation produced by orthodontic forces. Am J Orthod.
frontal. No entanto, os lados de tração mostram claramente 1980;77(4):396-409.
a deposição de tecido ósseo. 15. Consolaro A. Reabsorções dentárias nas especialidades clínicas.
2. ed. Maringá: Dental Press; 2005.
16. Bassetti CA, Becker RO. Generation of electric potentials by bone
in response to mechanical stress. Science. 1962;137(3535):1063-
CONSIDERAÇÃO FINAL 4.
17. Davidovitch Z, Finkelson MD, Steigman S, Shanfeld JL, Montgo-
A movimentação dentária ortodôntica de qualidade depen-
mery PC, Korostoff E. Electric currents, bone remodeling, and
de do conhecimento e da aplicação adequada dos princí- orthodontic tooth movement. I. The effect of electric currents on
pios físicos e mecânicos para desencadear fenômenos bio- periodontal cyclic nucleotides. Am J Orthod. 1980;77(1):14-32.
lógicos favoráveis com mínimos efeitos colaterais. 18. Davidovitch Z, Finkelson MD, Steigman S, Shanfeld JL, Montgo-
mery PC, Korostoff E. Electric currents, bone remodeling, and or-
thodontic tooth movement. II. Increase in rate of tooth movement
and periodontal cyclic nucleotide levels by combined force and
REFERÊNCIAS electric current. Am J Orthod. 1980;77(1):33-47.
19. Mostafa YA, Weaks-Dybvig M, Osdoby P. Orchestration of tooth
1. Lindhe J, Karring T, Lang NP. Tratado de periodontia clínica e im-
movement. Am J Orthod. 1983;83(3):245-50.
plantologia oral. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
20. Burstone CJ. The biomechanics of tooth movement. In: Kraus BS,
2. Graber TM, Vanarsdall Jr RL. Ortodontia: princípios e técnicas
Riedel RA, editors. Vistas in orthodontics: presented to Alton W.
atuais. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002.
Moore. Philadelphia: Lea & Febiger; 1962.
3. Consolaro A. Reabsorções dentárias nas especialidades clínicas.
21. Pilon JJ, Kuijpers-Jagtman AM, Maltha JC. Magnitude of ortho-
3. ed. Maringá: Dental Press; 2012.
dontic forces and rate of bodily tooth movement: an experimental
4. Isaacson RJ, Lindauer SJ, Davidovitch M. The ground rules for
study. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1996;110(1):16-23.
arch wire design. Semin Orthod. 1995;1(1):3-11.
22. van Leeuwen EJ, Maltha JC, Kuijpers-Jagtman AM. Tooth mo-
5. Quinn RS, Yoshikawa DK A reassessment of force magnitude in
vement with light continuous and discontinuous forces in beagle
orthodontics. Am J Orthod. 1985;88(3):252-60.
dogs. Eur J Oral Sci. 1999;107(6):468-74.
6. Melsen B. Biological reaction of alveolar bone to orthodontic tooth
23. von Böhl M, Maltha JC, Von Den Hoff JW, Kuijpers-Jagtman AM.
movement. Angle Orthod. 1999;69(2):151-8.
Focal hyalinization during experimental tooth movement in beagle
7. Schwarz AM. Tissue changes incident to orthodontic tooth move-
dogs. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2004;125(5):615-23.
ment. Int J Orthod. 1932;18:331-52.
8. Kohno T, Matsumoto Y, Kanno Z, Warita H, Soma K. Experi-
mental tooth movement under light orthodontic forces: rates of
tooth movement and changes of the periodontium. J Orthod. LEITURA RECOMENDADA
2002;29(2):129-35.
9. Ren Y, Maltha JC, Kuijpers-Jagtman AM. Optimum force magnitu- Lindhe J, Lang NP, Karring T, editores. Tratado de periodontologia clí-
de for orthodontic tooth movement: a systematic literature review. nica e implantologia oral. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
Angle Orthod. 2003;73(1):86-92. 2010.

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C A P Í T U LO 1 2

Placas ortodônticas de contenção


José Nelson Mucha
Maria Lucia Mucha
Luiza Paiva Bittencourt

O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM AS tipos de movimentos podem ser conseguidos, teorica-
mente, com as placas ortodônticas, porém são muito
PLACAS ORTODÔNTICAS?
mais difíceis de se obter do que com aparelhos orto-
As placas ortodônticas são aparelhos utilizados nas arcadas dônticos fixos.
dentárias superior, inferior ou em ambas, isoladamente ou • Reeducação: no caso de hábitos deletérios à oclusão
unidas, com a finalidade de prevenção, interceptação, cor- dentária normal, podem ser utilizadas placas ortodôn-
reção ou contenção de problemas ortodônticos. ticas com a finalidade de impedir ou proporcionar a
reeducação desses hábitos. Como exemplo, o hábito
de repouso da língua entre os dentes, que pode provo-
PARA QUE SERVEM OS GRAMPOS car uma má oclusão conhecida como mordida aberta.
Pode-se planejar uma placa ortodôntica com grampos
NAS PLACAS? em forma de grade ou pontas, que irá funcionar como
Para que a placa cumpra a finalidade para a qual foi plane- um lembrete para que o paciente não repouse a língua
jada, geralmente é necessária a utilização de grampos, os entre os dentes, ou, ainda, como um anteparo, para
quais são confeccionados em fios redondos de aço inoxidá- que a língua não provoque uma má oclusão mais gra-
vel. Seus objetivos são: ve. Uma vez eliminada a causa da mordida aberta, o
transpasse vertical normal entre esses dentes pode ser
• Retenção: para manter a placa em posição; caso con- restabelecido.
trário, esta se deslocaria na boca do paciente, não per-
• Contenção: as placas com grampos de contenção são
mitindo a sua finalidade primordial.
utilizadas após a correção ortodôntica com aparelhos
• Apoio: como nas próteses parciais removíveis, são pla- mais complexos e que possibilitaram um melhor con-
nejadas para impedir que se desloquem, principalmen-
trole dos movimentos dentários, como após um trata-
te no sentido vertical.
mento corretivo total com aparelhos fixos em todos os
• Pequenos movimentos dentários: os grampos agem dentes.
como molas e executam o que se convencionou cha-
mar, em ortodontia, de pequenos movimentos dentá- Serão descritos dois tipos principais de placas ortodôn-
rios, como, por exemplo, a verticalização ou a inclina- ticas de contenção: a placa de contenção com grampo de
ção dos dentes, que são as limitações das molas e das Hawley e a placa de contenção Wraparound (com grampo
placas ortodônticas, pois os demais movimentos den- circunferencial vestibular), que foi descrita e utilizada primor-
tários (extrusão, translação, giroversão e torque) não dialmente por Begg.
são conseguidos com precisão. Para a obtenção de
movimentos mais complexos, como um movimento de
translação, é necessário aplicar a força em, pelo me- QUAL O MATERIAL E A ESPESSURA DO FIO
nos, dois pontos do dente a ser movimentado, o que A SER UTILIZADO NOS GRAMPOS?
não ocorre com uma simples mola. Seriam necessárias
duas molas, com aplicação de forças em sentidos con- Para a confecção dos grampos utilizam-se fios de aço inoxi-
trários e intensidades diferentes, para se conseguir o dável, geralmente de 0,6 mm, 0,7 mm, 0,8 mm ou 0,9 mm,
movimento desejado, além do que a estabilização ou 0,025”, 0,027”, 0,032” ou 0,036” (milésimos de polegada),
a retenção da placa seriam dificultadas. Esses outros dependendo da finalidade a que se destinam. Como regra

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130 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

geral, para os grampos de retenção e contenção utilizam-se • Bimaxilares


fios mais espessos; e para as molas, fios mais finos. • Monoblocos de Robin
• Ativadores funcionais de Andressen
• Aparelhos funcionais de Frankel
COM QUE MATERIAL AS PLACAS SÃO • Aparelhos de Bimler
CONFECCIONADAS? • Bionators de Balters
• Ativadores de Woodside e Harvold
Nos primórdios da ortodontia, as placas ortodônticas eram • Aparelho ativador de Stockli
confeccionadas com um material chamado vulcanite, que • Outras modificações
apresentava grande dificuldade para este fim. E para con-
Placas ortodônticas de contenção
fecção dos grampos, utilizava-se ouro, que é um material
• Placa de Hawley
de alto custo.
• Placa Wraparound ou circunferencial
Com o advento das resinas acrílicas autopolimerizáveis,
• Placa de Ricketts
e seguindo-se uma técnica apurada, têm-se obtido exce-
• Placa de Tweed
lentes resultados. A facilidade de manipulação, aliada ao
• Formadas a vácuo
baixo custo e ao pouco tempo dispendido para a confec-
• Outros tipos
ção das placas, faz desse material a melhor escolha. Essas
características das resinas autopolimerizáveis provocaram
um aumento excessivo na indicação de placas ortodônti- Placas ortodônticas corretivas
cas, por parte de alguns profissionais, para a correção de Placas unimaxilares passivas
problemas que não teriam essa indicação. O que se quer
As placas deste tipo não irão por si sós executar um movi-
dizer com isso é que as placas têm indicações precisas e
mento ortodôntico, mas sim impedir o agravamento do pro-
específicas, que devem ser respeitadas caso se pretenda
blema, auxiliar em relação a outras intervenções ou impedir
ter excelentes resultados.
a execução de um hábito que provoca a má oclusão. Sua
ação é indireta, ou seja, passiva.

QUAIS SÃO OS TIPOS DE PLACAS? Mantenedores de espaço: grande parte dos problemas or-
todônticos advém do perímetro do arco dentário, seja por um
Telles,1 em 1959, apresentou a seguinte classificação das problema primário de falta inerente de espaço para todos os
placas ortodônticas, divididas em dois grandes grupos, se- dentes, seja pela perda prematura de dentes temporários, o
gundo seu objetivo específico: que acarreta perda de espaço para os demais dentes perma-
nentes sucessores. Quando da impossibilidade de manuten-
• Placas ortodônticas corretivas; e
ção dos dentes temporários na arcada dentária, ou da perda
• Placas ortodônticas de contenção
desses, muito antes da época normal de esfoliação, é impe-
Placas ortodônticas corretivas riosa a confecção de aparelhos mantenedores de espaço.
• Unimaxilares
Placas oclusais: todas as placas a que os gnatologistas se
• Passivas
referem podem ser classificadas como placas ortodônticas
• Mantenedores de espaço
passivas, pois não irão executar um movimento dentário, e
• Oclusais: diagnóstico de função oclusal, auxi-
sim fornecer informações mais precisas em relação ao diag-
liares da correção, placas miorrelaxantes
nóstico das desarmonias oclusais e articulares. Entram nessa
• Para impedir a prática de hábitos
classificação as placas de relaxamento muscular, as placas
• Ativas
de diagnóstico, as placas de desprogramação propriocepti-
• Simples
va, as placas para recapturar o disco, jigs, front plateau, etc.
• Com molas para pequenos movimentos
• Com arco vestibular Impedir a prática de hábitos: as grades das placas orto-
• Plano inclinado dônticas passivas têm como finalidade impedir a prática de
• Placa de mordida hábitos; elas não executam movimento dentário, mas, ao
• Fendidas impedirem o hábito, permitem o restabelecimento do trans-
• Com mola de expansão (p. ex., placa de passe vertical normal dos dentes envolvidos no problema.
Coffin)
• Com parafuso de expansão (p. ex., placa Placas unimaxilares ativas
de Schwartz) As placas ativas irão provocar algum tipo de movimento
• Mistas. Diversas combinações dentário. É importante enfatizar que a principal condição

Abrao_cap_12 130 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 131

para a indicação de um movimento dentário com placas or- cesso de correção é pela inclinação lateral desses dentes,
todônticas é a presença de espaço, para que o dente mal deve-se analisar cuidadosamente o caso para diferenciá-
posicionado possa ser movimentado. -lo da atresia da base óssea maxilar, em que o problema
está na base esquelética e a solução requer outro tipo de
Para pequenos movimentos: neste tipo de placa, as molas
aparelho.
serão os elementos ativos e provocarão um movimento de
inclinação ou verticalização dos dentes mal posicionados. Placas corretivas mistas
O desenho e a configuração dessas molas são bastante
São combinações das placas anteriormente descritas.
variados e seguem a preferência de cada autor. Deve-se le-
var em conta a necessidade de maior consumo de fio, de
modo a aumentar a resiliência da mola, diminuindo a rigidez Placas ortodônticas de contenção
e promovendo uma ação de mola, e permitir que a força
As placas de contenção são utilizadas após a correção or-
adequada seja aplicada ao dente.
todôntica com a utilização de aparelhos que possibilitem um
Com arco vestibular: esta mola também pode ser chama- controle mais completo dos movimentos dentários.
da de grampo de Hawley. Apesar de ter sido originalmente Nas Figuras 12-1, 12-2 e 12-3 apresenta-se o caso clí-
designada como um grampo de contenção, nesta situação, nico de um paciente com má oclusão que foi submetido a
especificamente, poderá agir como uma mola para o movi- tratamento ortodôntico. Após a conclusão do tratamento,
mento de verticalização de incisivos excessivamente inclina- o paciente fez uso de uma placa superior de contenção do
dos para labial. Para isso, é necessário que exista espaço tipo Wraparound (com grampo circunferencial). Na Figura
para a movimentação, tanto em sentido vertical como an- 12-3 pode ser constatada a grande estabilidade 11 anos
teroposterior. após o término do tratamento.
As placas de contenção, mesmo que tenham sido pro-
Plano inclinado: nos casos de mordida cruzada anterior,
jetadas com a finalidade de manter os dentes nas posições
pode-se confeccionar uma placa com um plano inclinado
obtidas após o tratamento ortodôntico, enquanto ocorre a
de 45º, para que as forças de penetração e deslizamento
reorganização tecidual periodontal, são confeccionadas ba-
estejam equilibradas, quando em contato oclusal, e para
sicamente com a mesma técnica empregada para outras
favorecer o descruzamento dessa mordida cruzada. É im-
situações clínicas, assim como os grampos.
portante o correto diagnóstico para diferenciar uma mordida
As placas de contenção são utilizadas preferencialmen-
cruzada dentária de um problema esquelético mais grave,
te na arcada superior, mas também podem ser usadas na
para o qual esta placa não estaria indicada.
arcada inferior.
Placa de mordida: nos casos de sobremordida exage- Portanto, após se ter o domínio completo da técnica de
rada, em pacientes jovens, com um bom crescimento confecção de um tipo de placa, pode-se alterar sua finalida-
pela frente e um espaço funcional livre adequado, pode- de, com o acréscimo de outros tipos de grampos ou molas,
-se lançar mão de uma placa ortodôntica de mordida ou e ainda executar intervenções em uma série de problemas
com batente anterior. Ao ocluir os incisivos inferiores no ou situações clínicas da prática diária, tais como: preven-
batente da placa superior, os dentes posteriores ficarão ção, interceptação ou pequenos movimentos dentários or-
sem contato e tenderão a erupcionar, restabelecendo todônticos.
uma sobremordida adequada na região anterior. Muitas
vezes, a correção da sobremordida pode levar também
à necessidade de correção do problema anteroposterior, QUAL O MATERIAL NECESSÁRIO PARA A
pois a abertura da mordida faz com que a mandíbula gire CONFECÇÃO DOS GRAMPOS?
no sentido horário, agravando um problema anteroposte-
rior já existente. • Um par de modelos de gesso
• Fios de aço inoxidável de 0,7 mm, 0,8 mm e 0,9 mm
Placas ortodônticas fendidas (0,027”, 0,032” e 0,036”)
Com molas ou parafusos de expansão: indicadas nos ca- • Alicate 139 ou bico de passarinho (ver Figura 12-6)
sos de mordida cruzada posterior, com atresia da arcada • Alicate de corte de fios (Figura 12-4)
superior e inclinações axiais favoráveis dos dentes a serem • Lima meia cana extrafina
descruzados. Isso significa que, ao final da movimentação • Lápis dermatográfico ou vitrográfico (ou que proporcio-
dos dentes, estes deverão estar com suas inclinações ne alguma marcação nos fios)
axiais corretas. As partes laterais da placa farão pressão • Guardanapo de papel – para manter a bancada de tra-
contra os dentes cruzados, promovendo o descruzamento balho limpa
e restabelecendo a função normal. Uma vez que o pro- • Régua milimetrada

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132 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 12-1 Modelos das arcadas dentárias antes do início do tratamento ortodôntico.

FIGURA 12-2 Modelos das arcadas dentárias ao final do tratamento ortodôntico.

Abrao_cap_12 132 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 133

FIGURA 12-3 Fotografias das arcadas dentárias 11 anos após o final do tratamento ortodôntico. O paciente utilizou uma placa superior
do tipo Wraparound (grampo vestibular circunferencial).

FIGURA 12-4 (a) Maneira correta de


segurar o fio pelas extremidades com a
mão esquerda. (b) Segurando dessa ma-
neira, nenhum pedaço do fio cai após o
a b corte.

O QUE É NECESSÁRIO FAZER ANTES Arredondamento das extremidades do fio


DE COMEÇAR A CONFECCIONAR O corte do fio dá-se por amassamento ou esmagamento,
OS GRAMPOS? e tem-se como consequência uma extremidade bastante
irregular, que pode ferir tanto o operador quanto o pacien-
É necessário seguir uma série de procedimentos básicos te. Para se evitar isso, deve-se arredondar as extremidades
(técnica básica), que serão descritos a seguir. com o uso de uma lima (Figura 12-5).

Corte do fio de aço


QUAL É O ALICATE MAIS UTILIZADO E
Para a confecção de grampos é necessário primeiramente
que uma quantidade de fio seja cortada. Para isso, toma-se
COMO UTILIZÁ-LO?
a extremidade do fio de aço (p. ex., 0,8 mm ou 0,032”) do O alicate mais utilizado e recomendado para esses procedi-
rolo e marca-se, com auxílio da régua milimetrada e do lápis mentos é o alicate 139 ou bico de passarinho (Figura 12-6).
vitrográfico, ~ 6 cm de fio. O alicate 139 tem este segundo nome porque a sua
Segurando-se o fio por ambas as extremidades, antes parte ativa lembra um bico de passarinho. Uma ponta ativa
e depois do ponto marcado para o corte, corta-se no ponto é cônica e a outra é piramidal, de modo que, ao se preten-
desejado (Figura 12-4a-b). der uma dobra mais arredondada, esta será feita sobre a
É importante manter ambas as extremidades presas ponta cônica, e uma dobra mais angulada sobre a ponta
para evitar que se perca o pedaço de fio que se pretende piramidal (Figura 12-6).
cortar, ou que o rolo caia no chão; ou, ainda, que alguém
seja atingido pela ponta que salta no momento do corte.

Retificação do fio
Ao ser confeccionado e acondicionado em um rolo, da ma-
neira como normalmente é fornecido pelos fabricantes, o fio
sofre uma série de tensões e deformações, as quais devem
ser eliminadas quando se pretende realizar um bom trabalho.
Com o alicate 139, segura-se a ponta do fio e, com os de-
dos polegar, indicador e médio da mão esquerda, retifica-se
o mesmo. Com o fio reto, as chances de um bom trabalho
são muito maiores do que com um fio deformado ou torcido. FIGURA 12-5 Arredondamento das extremidades do fio.

Abrao_cap_12 133 18/10/13 11:18


134 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

139
139

FIGURA 12-6 (a) e (b) Ilustrações do ali-


cate 139 ou bico de passarinho. a b

Igualmente, uma dobra executada mais próxima do ali- sabendo como segurar o alicate, iniciam-se os exercícios de
cate será mais acentuada (angulada), e uma mais afastada dobras de fios.
será mais arredondada. Com o alicate firme na mão direita, um bom ponto de
Deve-se segurar o alicate com todos os dedos da mão apoio e olhando diretamente para o alicate, em um ângulo
direita, de modo a mantê-lo firme e preso, com um bom de 90º, segurando o fio entre suas partes ativas, as dobras
ponto de apoio para essa mão, na mesa ou bancada de serão executadas pressionando-se o fio com o polegar ou o
trabalho, formando um ângulo reto, ou de 90º graus, com a indicador da mão esquerda.
visão. O alicate funcionará como um torno de bancada, no A pressão do alicate para prender o fio deverá ser sufi-
qual se prende o objeto a ser trabalhado, proporcionando ciente apenas para mantê-lo firme, sem “morder” ou causar
liberdade de movimento ao redor do mesmo. Os dedos da endentações, pois uma pressão excessiva provocará mor-
mão esquerda é que executarão os movimentos necessá- sas, que serão áreas mais frágeis e mais suscetíveis de fra-
rios para as dobras do fio. Não se deve movimentar o alica- tura – como aconteceria com um alicate de corte.
te, nem a mão direita. Quando se pretende fazer uma dobra “para fora” (afas-
Assim, tem-se muito mais firmeza e, consequentemente, tando-se do corpo do operador), e uma dobra antes do ali-
maior precisão para a execução das dobras (Figura 12-7a). cate, pressiona-se com o polegar da mão esquerda para
O cabo do alicate é confeccionado de modo a permitir fora. É importante manter os demais dedos da mão esquer-
uma empunhadura completa com todos os dedos da mão da bem apoiados contra a mão direita (Figura 12-8a-b).
direita. Para abrir e fechar a parte ativa do alicate (ponta), Para executar uma dobra “para dentro”, em direção ao
pressiona-se apenas com o polegar da mão direita contra operador, antes do alicate, pressiona-se com o indicador da
uma das hastes do cabo, o que será mais do que suficiente mão esquerda para dentro. Os demais dedos devem estar
para a abertura e, consequentemente, para o fechamento bem apoiados (Figura 12-9).
do alicate prendendo o fio (Figura 12-7b). Quando se pretende fazer uma dobra “para fora”, após
o alicate, pressiona-se com o polegar da mão esquerda para
fora (Figura 12-10a). E depois para dentro, após o alicate,
COMO EXECUTAR DOBRAS NOS FIOS? agora com o indicador, como ilustrado na Figura 12-10b.
Quando se pretende fazer uma dobra mais arredonda-
Como já mencionado, serão utilizados apenas o pole- da ou mais angulada, de acordo com as pontas ativas do
gar e o indicador da mão esquerda para a execução das alicate, simplesmente se executa a dobra correspondente
dobras. ou se vira a disposição das pontas ativas do alicate – parte
Após o corte de um pedaço de fio de 6 cm de com- cônica ou piramidal para dentro ou para fora.
primento, mantendo ambas as extremidades presas, arre- Quando se pressiona com os dedos polegar ou indica-
dondam-se as extremidades com a lima, retifica-se o fio e, dor próximo ao alicate, a dobra será mais angulada; e quan-

FIGURA 12-7 (a) Forma de man-


ter preso e firme o alicate com a
mão direita. (b) Forma de abrir as
partes ativas do alicate, fazendo
pressão com o polegar, sem colo-
car os dedos dentro do cabo. a b

Abrao_cap_12 134 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 135

FIGURA 12-8 (a) Forma correta de


manter preso o alicate com a mão
direita (para destros), e início de uma
dobra antes da parte ativa do alica-
te e afastando-se do operador. (b)
Execução da dobra “para fora” com
pressão do dedo polegar da mão es-
a b querda.

Grampos de retenção
Para que a placa cumpra com sua finalidade, é necessário
que se mantenha firme em posição. São os grampos de
retenção que fornecem essa estabilidade das placas.
Serão descritas as técnicas de confecção dos grampos
mais comumente utilizados, pois, uma vez dominada a téc-
nica, os passos são basicamente os mesmos para qualquer
tipo de grampo, diferindo apenas os desenhos.

Como confeccionar grampos de retenção vestibular?


FIGURA 12-9 Forma correta de executar uma dobra antes da Como o próprio nome diz, são grampos que exploram a área
parte ativa do alicate e para o lado do operador, pressionan- altamente retentiva abaixo do equador, na região vestibular
do para dentro com o dedo indicador da mão esquerda do dos dentes, promovendo, portanto, a retenção da placa. Nor-
operador. malmente são utilizados no último dente da arcada, no pri-
meiro ou segundo molar, ou, ainda, no terceiro molar superior.
do se pressiona mais afastado do alicate, a dobra será mais Em um modelo de gesso (Figura 12-11), seleciona-se
arredondada, independente da parte ativa contra a qual foi o último molar da arcada superior e, com um lápis grafite
executada a dobra. preto, delimita-se a localização do grampo.
O grampo começará na parte mais mesial do espaço
interproximal, a qual é altamente retentiva, e continuará por
toda a extensão cervical até a união da face distal com a
GRAMPOS face lingual do último molar. Nesta última região, ele se afas-
tará da região cervical, indo para a parte mais central do
QUE TIPOS DE GRAMPOS SERÃO palato. Neste ponto final (palato), deverá receber uma forma
EXECUTADOS? de retenção do acrílico, caso contrário, não permanecerá
firme, envolvido por este.
1. Retenção Com o fio de 0,9 mm (pode ser também o de 0,8 mm,
• Retenção vestibular dependendo da preferência e das características de cada
• Grampo de Adams caso) de espessura, e 6 cm de comprimento, aproximada-
2. Contenção: Hawley, circunferencial, Wraparound, etc. mente, cortado, retificado e com as pontas arredondadas,

FIGURA 12-10 (a) Execução da dobra


“para fora”, com pressão do polegar da
mão esquerda, após a parte ativa do
alicate. (b) Dobra “para dentro”, depois
do alicate, executada com a pressão do
a b dedo indicador da mão esquerda.

Abrao_cap_12 135 18/10/13 11:18


136 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 12-11 (a) Modelo de


gesso da arcada dentária superior
após término do tratamento or-
todôntico e necessitando que se
confeccione uma placa de con-
tenção. (b) Delimitação da área
para a execução do grampo de
a b
retenção vestibular.

coloca-se a extremidade do fio no espaço interproximal e, Volta-se o modelo e confere-se a adaptação. Segue-se
com o lápis dermatográfico, marca-se o ponto onde está com o procedimento descrito anteriormente. Marca-se com
ocorrendo o afastamento do modelo. Existe uma extensão o lápis o ponto em que não está ocorrendo mais a adapta-
do fio, ainda que mínima, que já está adaptada, e a partir ção e volta-se para o alicate; repetem-se as dobras, agora
desse ponto será feita a marca com o lápis (Figura 12-12a-b). em nova posição.
Com o alicate 139 bem firme na mão direita e um bom As marcações com o lápis são em pequenas extensões
ponto de apoio, em ângulo reto de visão, prende-se o fio e de maneira sistemática, até que toda a parte vestibular
imediatamente antes da marca, de modo que esta fique fique corretamente adaptada à região cervical.
tangente às pontas do alicate. Ao se chegar à região distal, a adaptação terá de ser
Com o polegar da mão esquerda, pressiona-se para feita em outra direção, pois o fio ficará com a extremidade
fora suavemente, contra a ponta cônica do alicate, de modo para “cima”, com o modelo repousando na bancada. Se-
a contornar o fio e executar a dobra desejada. Pode-se des- gue-se o mesmo procedimento de marcar no ponto que se
locar o fio levemente, fazendo com que a marca agora fique afasta da adaptação e simplesmente se muda a orientação
entre as pontas ativas do alicate, e repete-se a operação da fixação do fio no alicate e segue-se com a mesma se-
pressionando-se com o polegar da mão esquerda. Com quência de pressionar com o polegar ou indicador da mão
pressão suave, contorna-se o fio de maneira adequada para esquerda. Vai-se alternando a posição do fio no alicate até
se adaptar à cervical vestibular do dente (Figura 12-13a-b). que toda a sua extensão fique adaptada à região cervical
Caso a dobra tenha sido excessiva, volta-se atrás; caso (Figura 12-15a-b).
tenha sido insuficiente, acentua-se mais. Terá sido excessi- Segue-se alternando as posições do fio no alicate até
va quando, entre o início e após a marca executada no fio, a que toda a região cervical distal do fio fique corretamente
parte intermediária está afastada do dente. adaptada ao modelo (Figura 12-15b).

FIGURA 12-12 (a) Delimitação ou


marcação do local para a execução
do grampo de retenção vestibular.
(b) Colocação da extremidade do
fio no início do contorno cervical e
no ponto onde está se iniciando o
afastamento; realiza-se, então, nes-
a b
te local, a marcação com o lápis.

FIGURA 12-13 (a) Execução da


dobra com o alicate 139 e pressão
do polegar da mão esquerda para
fora. (b) Após a execução da dobra
a b
e verificação da adaptação.

Abrao_cap_12 136 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 137

FIGURA 12-14 (a) Execução da


dobra com o alicate 139 e pressão
do polegar da mão esquerda para
fora. (b) Após a execução da dobra
a b
e verificação da adaptação.

FIGURA 12-15 (a) Execução da


dobra para que o fio se adapte na
parte distal do último molar. (b) Se-
quência das dobras até que toda a
a b
extensão da cervical fique adaptada.

Na região do palato, deve-se fazer uma dobra de reten- Como avaliar o grampo de retenção vestibular?
ção do acrílico. Pode ser em forma de zigue-zague ou de Devem ser observados os seguintes pontos para a aceita-
elo, também chamada de virola, que deverá estar adaptada
ção do grampo:
ao modelo, sem ficar saliente, isto é, no mesmo plano. O
restante do fio é cortado (Figura 12-16). • Adaptação desde o espaço interproximal na face mesial
Com isso, está pronto o grampo de retenção vestibular • Contorno com adaptação em toda a extensão cervical
(Figura 12-17a-b). vestibular
Procede-se à mesma sequência para a execução • Contorno com adaptação em toda a extensão cervical
do grampo de retenção vestibular do lado oposto (Figura distal
12-18). • Forma de retenção do grampo adaptado ao modelo

FIGURA 12-16 (a) Necessidade


de realizar uma dobra de retenção
neste fio. (b) Após a execução da
dobra de retenção em forma de
a b
elo ou virola.

FIGURA 12-17 (a) Visualização da


adaptação do fio na face palatina.
(b) Adaptação do fio na face ves-
a b
tibular.

Abrao_cap_12 137 18/10/13 11:18


138 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 12-18 (a) Visualização


da adaptação do fio na face pala-
tina do molar do lado oposto. (b)
Adaptação do fio na face vesti-
bular no molar do lado oposto da
a b
arcada.

Antes da colocação do acrílico na placa será feito um ra. Geralmente se utiliza o primeiro molar para o grampo
leve afastamento do grampo na região palatina, para que o de Adams, pelos motivos anteriormente descritos. A face
acrílico envolva o grampo. vestibular do primeiro molar para o qual será confecciona-
Por enquanto, o grampo deverá estar bem adaptado, do o grampo de Adams será dividida em três partes. Do
sem espaços entre ele e o modelo, em toda a sua extensão. total da largura (dos 3/3), serão registrados no fio de aço,
Caso não esteja aceitável, inicia-se a confecção de um novo com o lápis vitrográfico, 2/3 da largura do primeiro molar
grampo. (Figura 12-19a-b).
Com auxílio do alicate 139, serão feitas dobras em ân-
gulos retos neste fio, exatamente no local das marcas reali-
Como confeccionar um grampo de Adams? zadas anteriormente (Figura 12-19b).
O grampo de retenção de Adams pode ser considerado Segurando agora por fora do fio, na menor extensão da
como um grampo de retenção interproximal duplo, com parte ativa do alicate (ponta cônica), serão feitas dobras no
grandes propriedades retentivas, sendo, portanto, indi- sentido contrário das executadas anteriormente. Com isso,
cado quando se requer uma maior retenção das placas têm-se duas pequenas alças unidas por um segmento de
ortodônticas ou quando outros tipos de grampos não fio. Essas alças aumentam de largura, de modo a se aproxi-
conseguem desempenhar tão bem essa finalidade. Isso mar da largura real do primeiro molar, necessitando apenas
é verdadeiro em pacientes jovens, nos quais os molares de pequenos ajustes para isso. Essas pequenas diferenças
têm coroas curtas ou onde esses dentes não fizeram ainda devem-se, também, às diferenças encontradas em diferen-
toda a sua erupção. tes partes ativas dos alicates (Figura 12-20a).
Uma vez delimitado o local da confecção do grampo, Para que as alças tenham forma de retenção na super-
são necessários 8-10 cm de fio de 0,7 mm de espessu- fície vestibular do molar, a qual é arredondada no sentido

FIGURA 12-19 (a) Divisão da lar-


gura do molar em 3/3, no sentido
mesiodistal. Tomar 2/3 dessa me-
dida e transferir para o meio do
segmento de fio. (b) Executar duas
a b
dobras em ângulo de 90º neste fio.

FIGURA 12-20 (a) Dobras em


sentido contrário às executadas
anteriormente, formando duas
alças unidas por uma extensão de
fio. (b) Dobras de ~ 45º no sentido
a b
horizontal.

Abrao_cap_12 138 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 139

FIGURA 12-21 (a) Visualização


da dobra em 90º, executada para
afastar levemente da face vestibu-
lar. (b) Adaptação na face oclusal
para evitar qualquer interferência
a b
oclusal.

mesiodistal, é necessário dobrar as alças para dentro em ~ Na Figura 12-22a-b é ilustrado um exemplo de um
45º (Figura 12-20b). grampo de retenção de Adams, adequadamente confec-
Quando os prolongamentos dos fios estiverem tocando cionado.
na região vestíbulo-oclusal, serão feitas marcas nesses pro- Tangente aos pontos marcados, com auxílio do alica-
longamentos, com o lápis vitrográfico, para a adaptação do te 139, serão feitas as dobras para que o fio fique o mais
fio nas áreas interproximais (Figura 12-21a). adaptado possível nessas superfícies.
Também para que o prolongamento do fio fique com Após os prolongamentos mesial e distal do fio terem
algum afastamento da face vestibular do molar, que é arre- sido adaptados nas porções oclusais, segue-se com o pro-
dondada no sentido cérvico-oclusal, semelhante ao grampo cedimento usual de marcar onde está se afastando, e a par-
de retenção interproximal, é necessário que, na altura do tir desse ponto dobrar o fio para continuar adaptando-o à
segmento do fio que serve de união às duas alças, seja feita região lingual (Figura 12-22b).
uma dobra de ~ 90º (Figura 12-21b). Assim como com os outros grampos, também será fei-
O importante é que as extremidades das duas alças ta uma forma de retenção e eliminado o excesso.
fiquem tocando nos pontos retentivos da face vestibular do Como determinar que o grampo de Adams está correto?
molar, nas áreas mesial e distal, cervicalmente abaixo dos
Para que o grampo de Adams seja considerado correto (Fi-
pontos de contato do dente.
guras 12-22 e 12-23), é necessário que:
As regiões cervicais são altamente retentivas. Para que
isso ocorra, é necessário algumas vezes fazer pequenos 1. As alças retentivas toquem na mesial e na distal em
ajustes nas alças, ou nas angulações das dobras, para que a pontos o mais cervical e interproximal possível.
retenção seja conseguida e os prolongamentos do fio fiquem 2. A parte do fio que funciona como união das duas al-
exatamente na região das cristas marginais interproximais. ças retentivas deve ficar afastada do dente, porém o

FIGURA 12-22 (a) Vista vestibu-


lar do grampo de Adams. (b) Vista
lingual com forma de retenção em
a b
forma de elo ou virola.

FIGURA 12-23 (a) Vista oclusal


do grampo de Adams muito bem
adaptado a esta superfície. (b) Vis-
ta lingual com forma de retenção
a b
em forma de zigue-zague.

Abrao_cap_12 139 18/10/13 11:18


140 AB R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

mínimo possível, para não causar incômodo ao pa- normal; (2) tenha espaço adequado para a movimenta-
ciente. ção, tanto no sentido horizontal como no vertical; (3) não
3. O prolongamento do fio que parte da alça que está em interfira na função; (4) o paciente apresente boa saúde
contato com o dente deve se afastar de forma seme- geral e oral; (5) não apresente desarmonias dentárias ou
lhante ao grampo de retenção interproximal e retornar esqueléticas.
em direção oclusal. Também vai funcionar de modo Para a confecção do grampo de Hawley, usa-se nor-
semelhante ao grampo de retenção interproximal, para malmente um fio de 0,7 mm de espessura e uns 15 cm de
diminuir a rigidez do grampo. comprimento, previamente retificado, ou seja, reto.
4. Haja a melhor adaptação possível na superfície oclusal Delimita-se o local onde será confeccionado o gram-
interproximal, para não interferir na função. po com o auxílio de um lápis. Inicia-se na parte interna do
5. O comprimento e a forma de retenção do acrílico sejam modelo, promovendo a forma retentiva como descrita an-
adequados. teriormente, entre os caninos e pré-molares; passa-se pelo
espaço interproximal entre os caninos e pré-molares; pro-
longa-se em direção gengival até 2-3 mm além da cervical
Grampos de apoio oclusal do dente canino; forma-se uma alça nesta região e retorna-
Para evitar que a placa inferior se desloque no sentido ver- -se em direção oclusal, na face vestibular do canino, de
tical, é necessário que se confeccionem grampos de apoio modo que se utilize apenas 1/3 da face vestibular do canino
nela. Eles devem ser sempre aos pares, para equilibrarem para a alça (Figura 12-24a-b).
igualmente a placa em posição. Na placa superior, uma vez A finalidade de alça é dar flexibilidade ao grampo, quan-
que apresenta uma grande área de apoio no palato, não do for para contenção, ou funcionar como mola, nos casos
será necessário confeccionar grampos de apoio. de pequenos movimentos. O grampo estende-se por toda
Seleciona-se a região de menor interferência oclusal e, a face vestibular dos caninos e incisivos na altura da metade
com um fio de 0,7 mm de espessura e 5 cm de comprimen- dessas faces.
to, posiciona-se no sulco onde se pretende fazer o apoio. A confecção do grampo de Hawley pode ser iniciada
Não se deve estender o apoio até a fossa central do dente, pelo arco vestibular ou por uma das extremidades. Quando
para evitar maiores interferências. O mínimo de apoio já é se inicia por uma das extremidades, o fio é mais facilmente
suficiente para o objetivo pretendido. mantido em posição e controlado. Será descrita essa forma
Toma-se o alicate 139 e posiciona-se tangente (justo) de confecção.
à marca executada, dobrando-se com uma angulação de Após se cortar o fio, arredondar as pontas e retificá-lo,
~ 90º. inicia-se pela confecção do elo para retenção do acrílico.
Assim como com os outros grampos, deve-se fazer Deve apresentar uma extensão aproximada de 1,5-2 cm
uma forma de retenção na extremidade lingual. desde o elo até o espaço interproximal oclusal, para que
fique retido dentro do acrílico. Deve ser bem adaptado na
Como confeccionar um grampo de Hawley? superfície palatina do modelo para que o acrílico, quando
O grampo de Hawley, ou arco vestibular, é utilizado para de sua colocação, não fique excessivamente espesso (Figu-
contenção dos dentes anteriores, superiores ou inferiores, ra 12-24). Adapta-se da melhor maneira possível na região
após a utilização de aparelhos fixos, ou como mola para interproximal oclusal para que não interfira na função e/ou
pequenos movimentos nos casos de inclinação labial na oclusão.
exagerada dos incisivos e que preencham os requisitos No ponto em que estiver se afastando na região inter-
indispensáveis para este tipo de movimento com esse proximal, marca-se com o lápis e procede-se às dobras
tipo de mola. Ou seja, principalmente: (1) que, ao final do como descrito anteriormente para a adaptação dos gram-
movimento, a inclinação dos incisivos esteja próxima do pos de retenção.

FIGURA 12-24 (a) Início da con-


fecção do grampo de Hawley, pela
parte retentiva, com a confecção
de um elo ou virola. (b) Após a
adaptação no espaço entre o pré-
-molar e o canino, a determinação
a b
do local para a confecção da alça.

Abrao_cap_12 140 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 141

FIGURA 12-25 (a) Determinação


do ponto para executar a dobra
para a adaptação do fio na metade
da altura da face vestibular dos den-
tes anteriores. A extensão da alça
no sentido mesiodistal é de 1/3 da
largura do canino. (b) Execução da
a b
dobra com auxílio do alicate 139.

É conveniente traçar o trajeto do grampo com um lápis maior número de contato com essas superfícies. A razão
preto para melhor visualizar a sequência da confecção. desse procedimento é aumentar a área de ação da alça,
Dobra-se na porção vestibular, acompanhando o traje- caso contrário, ela não terá a ação pretendida (p. ex., man-
to desenhado anteriormente, e na altura da alça marca-se ter os dentes contidos em suas posições) (Figuras 12-26a-b
com um lápis, de modo a contornar esta região de forma e 12-27a-b).
arredondada. Segue-se adaptando passo a passo, como ilustrado na
Imagina-se a metade de um círculo na extremidade da Figura 12-28a-b.
alça e divide-se este círculo com uma linha – este ponto A porção vestibular, estando adequadamente adap-
de divisão do meio do círculo é o local onde deve ser po- tada às faces vestibulares, e chegando ao canino do lado
sicionado o alicate 139 para a confecção da alça (Figura oposto, adapta-se a este, pelo menos nos 2/3 anteriores;
12-24b). então, marca-se o ponto para a confecção da alça deste
Dobra-se, então, a alça com auxílio do alicate 139, de outro lado, seguindo-se os mesmos passos descritos ante-
modo que sua largura ocupe apenas 1/3 da largura da face riormente (Figura 12-29a-b).
vestibular do canino (Figura 12-25b). Após a confecção e a adaptação da alça deste outro
Confere-se a adaptação no modelo de gesso e marca- lado, marca-se com o lápis na altura do ponto de contato
-se no ponto correspondente à metade da altura das faces entre o canino e dobra-se, adaptando-se da melhor manei-
vestibulares dos dentes. Dobra-se com o alicate 139 neste ra na região oclusal (Figuras 12-30 e 12-31).
ponto, de modo que forme um ângulo reto com a haste Igualmente, nesta extremidade do fio, será necessário
mesial da alça (Figura 12-25b). adaptar o modelo à área palatina e confeccionar uma viro-
A seguir, vai-se adaptando o fio em toda a extensão la, elo ou zigue-zague, como forma de retenção do acrílico
das faces vestibulares dos dentes anteriores, fazendo o (Figura 12-32a-b).

FIGURA 12-26 (a) Adaptação à


face vestibular do canino da me-
lhor maneira possível, sempre com
o uso do alicate 139. (b) Sequência
das dobras já adaptada à face vesti-
a b
bular do canino.

FIGURA 12-27 (a) Adaptação à


face vestibular do canino. (b) Se-
quência das dobras já adaptada à
face vestibular do canino, e inician-
a b
do a adaptação à lateral.

Abrao_cap_12 141 18/10/13 11:18


142 AB R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 12-28 (a) e (b) Sequência


a b
de confecção do grampo de Hawley.

FIGURA 12-29 (a) A adaptação


chegou até 2/3 distal da face ves-
tibular do canino; marca-se neste
ponto. (b) Neste local executa-se a
a b
confecção da alça do lado oposto.

FIGURA 12-30 (a) Conformação


da alça entre o canino e o primeiro
pré-molar. (b) Ilustração da dobra
a b
com o auxílio do alicate 139.

FIGURA 12-31 (a) Conformação


da alça entre o canino e o primeiro
pré-molar na superfície oclusal. (b)
Ilustração da dobra com o auxílio
a b
do alicate 139.

Como analisar se o grampo de Hawley está correto? • Alça com altura de 1,2 mm além da cervical do canino,
mas não mais do que isso
Pontos a serem observados na avaliação do grampo de
Hawley: • Dois terços do canino contornados pela alça
• Adaptação do fio à maior área das superfícies vestibu-
• Extensão de 1,5-2 cm da parte interna do grampo e lares dos dentes envolvidos e à altura da metade das
bem adaptado faces vestibulares
• Ótima adaptação aos espaços interproximais oclusais • Dobras iguais no lado oposto (Figuras 12-24 a 12-32)

Abrao_cap_12 142 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 143

FIGURA 12-32 (a) Necessidade de


adaptar o fio à superfície do pala-
to, no modelo de gesso. (b) Adap-
tação e forma de retenção, com o
a b
grampo finalizado.

Como confeccionar um grampo de contenção Para confeccionar este tipo de grampo, é necessário
circunferencial ou Wraparound? um fio de 0,9 mm ou 0,036” (milésimo de polegada) de es-
pessura e 20 cm de comprimento. Isso porque se está con-
Um dos problemas dos grampos de contenção do tipo sumindo uma maior quantidade de fio, que se torna mais
Hawley é a sua interferência oclusal quando localizados en- flexível pela maior extensão, e, consequentemente, há ne-
tre o canino e o pré-molar. Nem sempre é possível passar o cessidade de se usar um fio mais espesso.
fio por essa região sem que interfira nos dentes antagonis- Inicia-se, preferencialmente, por uma extremidade,
tas durante a função. Isso se deve também aos requintes de como o lado superior direito do modelo de gesso, pela re-
finalização, que podem ser perdidos devido a interferências tenção do fio na superfície do palato (Figura 12-34).
oclusais do grampo de contenção. É importante, também, que no último dente envolvido
Para se evitar esse problema, pode-se passar o gram- na contenção Wraparound o fio contorne o mais próximo
po entre a lateral e o canino, caso haja espaço nessa região, possível a região cervical, lembrando um grampo de reten-
ou então confeccionar um grampo de contenção circunfe- ção vestibular, para aumentar a retenção e a estabilidade
rencial ou Wraparound. No tipo circunferencial, o grampo desta placa (Figura 12-35).
será estendido do último dente da arcada de um lado ao Nos demais dentes, o fio contorna a face vestibular
último dente da arcada do lado oposto. A vantagem deste com contatos na maior extensão, estando localizado na
último é que não terá nenhum fio colocado na oclusal dos metade das faces vestibulares.
dentes, permitindo uma excelente contenção e uma ótima
função do paciente, sem nenhuma interferência.

FIGURA 12-33 (a) e (b) Grampo


de contenção circunferencial ves-
a b
tibular ou Wraparound.

FIGURA 12-34 (a) Início da con-


fecção do grampo Wraparound
pelo elo retentivo ou virola. (b)
Uso do alicate 139 para este proce-
a b
dimento.

Abrao_cap_12 143 18/10/13 11:18


144 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 12-35 (a) e (b) Adapta-


ção da melhor maneira possível ao
contorno cervical do último molar
do fio, para funcionar nesta região
como um grampo de retenção ves-
a b
tibular.

FIGURA 12-36 (a) e (b) Continua-


ção das ilustrações da adaptação
do fio de 0,09 mm ao contorno
cervical do último molar, para
funcionar nesta região como um
a b
grampo de retenção vestibular.

FIGURA 12-37 (a) Continuação da


adaptação aos demais dentes, agora
no terço médio no sentido vertical
das faces vestibulares. (b) Segue-se
a mesma regra do grampo de Haw-
ley para a alça: ocupar apenas o ter-
a b
ço distal da largura do canino.

FIGURA 12-38 (a) Forma de con-


fecção da alça. (b) Retorno à mes-
ma altura. Terço médio nas faces
a b
vestibulares dos dentes superiores.

FIGURA 12-39 (a) e (b) Grampo


a b
Wraparound finalizado.

Abrao_cap_12 144 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 145

FIGURA 12-40 (a) e (b) Grampo


a b
Wraparound finalizado.

PLACAS DE CONTENÇÃO ço médio com o terço cervical na maioria das placas, ou na


união do terço médio com o terço incisal nas placas de con-
tenção com batente. A razão para a localização desse limite
Após a confecção dos grampos, será necessária a colo-
entre o terço médio e o terço incisal é que esta é a altura
cação do acrílico para finalizar o trabalho. Será ilustrada a
normal do transpasse vertical ou da sobremordida normal
confecção de uma placa de contenção com grampo Wra-
(Figura 12-41a).
paround. Considera-se que a descrição da confecção des-
se tipo de placa sirva de base para os demais tipos. Os pas- Placa inferior: o limite das placas inferiores na região in-
sos técnicos serão muito semelhantes. O mais importante ferior será de ~ 5 mm acima do limite inferior da molda-
é obedecer à sequência de uma técnica correta, e então é gem, em toda a extensão. A razão para tal procedimento é
possível confeccionar outros tipos de placas. aliviar a região, que apresenta várias inserções musculares
– quando não foi realizada uma moldagem funcional com
movimentos específicos para evidenciar esses músculos.
QUAIS SÃO OS LIMITES DAS PLACAS? Se o limite for excessivo, causará traumatismos ao paciente
quando em função.
É necessário determinar os limites das placas, ou seja, até Na parte superior da placa, o limite será na metade das
onde será estendido o acrílico durante a confecção destas. faces linguais de todos os dentes. Diferentemente da placa
Placa superior: na região posterior, o limite será na união do superior, se o limite ficar na região cervical, a placa se tor-
palato duro com o palato mole, na altura das fóveas palati- nará muito baixa e, portanto, fragilizada. A razão para essa
nas. Esse limite não deverá ser ultrapassado, sob pena de localização superior do limite é aumentar a resistência da
causar desconforto ao paciente (p. ex., náuseas). O limite placa (Figura 12-41b).
das placas superiores é idêntico ao das dentaduras totais
superiores, podendo até mesmo ficar aquém deste.
Na região cervical posterior, deverá estar localizada na O QUE DEVERÁ SER FEITO ANTES DA
linha cervical, acompanhando o contorno dos dentes des- COLOCAÇÃO DO ACRÍLICO?
sa região. As razões para essa localização são: minimizar a
quantidade de material, diminuir o volume da placa e evitar Após definir os limites da placa e conferir se a posição dos
interferências na função e o acúmulo de alimentos entre a grampos está dentro dos padrões aceitáveis, com espaço
placa e os dentes. suficiente para o acrílico, procede-se ao isolamento do mo-
Na região anterior, de canino a canino, o limite será uma delo de gesso para facilitar a remoção do acrílico posterior-
linha contínua, que poderá estar localizada na união do ter- mente.

FIGURA 12-41 Os limites das pla-


a b
cas: (a) superior e (b) inferior.

Abrao_cap_12 145 18/10/13 11:18


146 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

Deve-se agitar o frasco do isolante para gesso para Dessa forma, evita-se a formação de uma placa muito es-
homogeneizar a mistura e proporcionar uma camada uni- pessa, pesada e pouco estável na região 4.
forme; no momento de aplicá-lo, deve-se fazê-lo com um
pincel e em apenas um sentido, para não remover o isolante
previamente aplicado, evitando-se, assim, uma distribuição
Como colocar o acrílico na placa?
irregular do mesmo (Figura 12-42a). Pode-se utilizar acrílico auto ou termopolimerizável na con-
Da mesma forma, será necessário aguardar até que o fecção das placas. A vantagem do acrílico termopolimeri-
isolante forme uma película protetora sobre a superfície do zável é uma menor ocorrência de porosidade no material;
gesso, o que leva cerca de 10-15 min. Procede-se, então, à porém, devido ao pouco tempo em que o paciente vai fazer
colocação e fixação do(s) grampo(s) (Figura 12-42b). uso da placa, em comparação com as dentaduras totais, e
Para fixar os grampos em suas posições corretas no seguindo-se uma técnica correta, podem-se obter excelen-
modelo, normalmente se utiliza cera utilidade (Figura 12-43). tes resultados com a utilização de acrílico autopolimerizável
Para que o fio envolva o acrílico na região lingual, os na confecção das placas ortodônticas.
grampos devem ser levemente afastados do modelo. O fio Material necessário:
não deverá tocar no modelo na região lingual, tampouco de-
verá estar excessivamente afastado. Na primeira situação,
• Acrílico autopolimerizável, pó e líquido
não será envolvido pelo acrílico e, na segunda, a placa terá
• Um pote Dapen
de ficar excessivamente espessa para envolver o grampo.
• Conta-gotas
A área do palato em que será confeccionada a placa Inicialmente, coloca-se uma camada de pó na região
superior deve ser dividida com auxílio de um lápis, ou ape- 1, cujo modelo já está com os grampos fixados com cera
nas mentalmente, em quatro regiões, como mostra a Figura utilidade (Figura 12-44a). A seguir, despeja-se um pouco de
12-43. líquido de acrílico (monômero de metacrilato de metila) em
As regiões 1, 2 e 3 correspondem às partes mais altas um pote Dapen e, com o auxílio do conta-gotas, pingam-
do rebordo alveolar e a parte 4, à parte mais baixa, conside- -se algumas gotas na superfície do pó que está no modelo
rando o modelo repousado na bancada de trabalho, que é (Figura 12-44b).
onde o acrílico será colocado. Aguarda-se que o líquido seja incorporado pelo pó e,
A sequência de colocação do acrílico sobre o modelo se for necessário, aplica-se uma nova camada de pó e mais
deverá obedecer exatamente a esta ordem: 1, 2, 3 e 4. As- líquido, até que se forme uma camada homogênea e uni-
sim, as partes altas receberão primeiro o acrílico e haverá forme de acrílico que seja suficiente para dar resistência à
um escoamento deste para as partes mais baixas; conse- placa e envolver os grampos (Figura 12-45).
quentemente, a parte 4 será quase que automaticamente Deve-se fazer isso sem pressa, para que o acrílico não
preenchida, sem a necessidade de muita adição de acrílico. seja excessivamente umedecido e escoe. Assim, será in-

FIGURA 12-42 (a) Aplicação do


isolante com um pincel em apenas
um sentido. (b) Verificação da adap-
a b
tação do grampo de contenção.

FIGURA 12-43 (a) Divisão da área


do palato em quatro regiões. (b)
Modelo já com as áreas delimita-
das, isolado e grampo fixado com
a b
cera utilidade.

Abrao_cap_12 146 18/10/13 11:18


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 147

FIGURA 12-44 (a) Colocação de


uma pequena quantidade de pó na
região 1. (b) Com um conta-gotas,
goteja-se uma pequena quantida-
de de líquido sobre a superfície do
a b
pó.

FIGURA 12-45 (a) Gotejamento


de uma pequena quantidade de
líquido na região 1. (b) Repete-se
este procedimento de maneira gra-
a b
dual e lentamente.

corporada uma maior quantidade de pó e uma menor quan- o acrílico fica com aspecto esbranquiçado) (Figura 12-47).
tidade de líquido, que é o recomendado para se obterem Segue-se com os mesmos passos na região 3, colocando-
os melhores resultados. Além disso, ao não se manipular -se primeiro o pó, depois o líquido e, por fim, mantendo-se
o material com espátula, evitam-se bolhas de ar e, conse- úmidas as regiões anteriores (Figura 12-48).
quentemente, porosidades. A partir da região 3 (Figura 12-48), será necessário co-
Na região 2 repetem-se os mesmos passos descritos locar apenas uma pequena quantidade de pó na região 4
anteriormente. Ao se colocar o líquido de acrílico na região para que ela tenha a espessura necessária. Segue-se com
2, deve-se também manter umedecida a região 1 para evi- os mesmos passos descritos anteriormente (Figura 12-49).
tar uma evaporação muito rápida nesta e ter, como conse- Sempre que se passa de uma região para outra, é
quência, uma polimerização incompleta (em tais situações, necessário que a anterior seja mantida umedecida pelo

FIGURA 12-46 (a) Colocam-se


novas camadas de pó e goteja-se
novamente com o líquido, até se
formar uma camada uniforme de
acrílico, com cerca de 2-3 mm de
espessura. (b) Repete-se este pro-
cedimento até que a região 1 esteja
completa, e então passa-se para a
a b
região 2.

FIGURA 12-47 (a) Novas cama-


das de pó são colocadas na região
2. (b) Goteja-se novamente com
o líquido até formar uma camada
uniforme. Repete-se esse proce-
dimento até que a região 2 esteja
completa, e então passa-se para a
a b
região 3.

Abrao_cap_12 147 18/10/13 11:19


148 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 12-48 (a) Novas camadas


de pó são colocadas na região 3. (b)
Gotejamento do líquido na região
3. Repete-se esse procedimento
até que a região 3 esteja completa,
a b
e então passa-se para a região 4.

FIGURA 12-49 (a) A região 4 já


está praticamente pronta pelo es-
coamento do acrílico para ela. (b)
Uma pequena porção de pó pode-
rá ser colocada nesta região para
a b
finalizar a placa.

líquido do acrílico para ter uma polimerização mais unifor- menor retenção. Cuidados devem ser tomados neste mo-
me e evitar a rápida evaporação desse líquido, o qual é mento, para não danificar ou deformar os grampos, nem
muito volátil. quebrar a placa ou o modelo. Esta última situação ainda
Para evitar a evaporação muito rápida, que ocasiona- seria a preferível, ao invés de fraturar a placa, pois somente
ria áreas esbranquiçadas no acrílico, devido à polimeriza- não haveria condições de conferir e repetir o trabalho no
ção insuficiente, é conveniente cobrir essa superfície com mesmo modelo.
algo que impeça a volatilização do líquido. Pode ser uma
camada uniforme de vaselina em pasta, a qual deve ser
colocada antes de estar completada a polimerização do COMO ANALISAR A PLACA?
acrílico. Após a colocação da vaselina em pasta sobre a
superfície do acrílico, espera-se a finalização da polime- Após a remoção da placa do modelo de gesso, procede-
rização. -se à análise do trabalho executado até o momento para
Pode-se, também, utilizar recipientes para polimeriza- verificar se:
ção que recebem pressão de água ou ar, para promover
• O acrílico está envolvendo os grampos
uma maior condensação da massa de acrílico e diminuir o
• A placa tem a extensão delimitada no modelo
aparecimento de bolhas de ar e, consequentemente, de po-
• Tem a espessura adequada em toda a extensão
rosidades.
Quando se tem certeza do término da polimerização
• Apresenta a superfície regular

do acrílico da placa, procede-se à remoção da mesma do


• Não apresenta falhas, bolhas de ar ou porosidades

modelo. Para tanto, utiliza-se uma espátula, que é inserida Preenchendo esses requisitos, procede-se ao recorte,
de modo a favorecer o deslocamento da placa pela via de desgaste e acabamento da placa.

FIGURA 12-50 (a) Aguarda-se a


total polimerização da placa. (b)
Remoção da placa do modelo com
a b
o auxílio de uma espátula.

Abrao_cap_12 148 18/10/13 11:19


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 149

COMO RECORTAR E DAR ACABAMENTO Na região dos dentes anteriores, que vai do canino de
um lado até o canino do lado oposto, o desgaste também
À PLACA? deve ser apenas no sentido vertical da placa; porém, agora
Para remover os excessos de acrílico utilizam-se pedras deve estar localizado até a altura do limite determinado an-
montadas ou brocas de aço para vulcanite. Os recortes e teriormente. Nesse caso, até a união do terço médio com o
os desgastes deverão ser sempre pelo lado externo, nunca terço incisal das faces linguais desses dentes. É importante
pelo lado interno. que, no caso de se estar fazendo um batente, este seja o
Elimina-se o excesso na região posterior até o limite en- mais plano e regular possível, formando um platô para o
tre o palato duro e o palato mole com o auxílio de uma broca contato dos dentes antagonistas inferiores.
ou pedra montada em motor com peça de mão, recortando Após o recorte do excesso, regulariza-se o restante da
sempre em bisel (Figura 12-51b). Não devem ficar degraus superfície da placa para que seja uniforme e de igual espes-
nessa área, pois serão desconfortáveis para o paciente. sura em toda a sua extensão (Figura 12-54a).
Na região dos dentes posteriores também será desgas- Para o acabamento e a regularização da superfície, uti-
tado o excesso, sempre no sentido vertical, em forma de lizam-se tiras de lixas para madeira, tipo nº 180, montadas
bisel, até o limite cervical. Cuidado deve ser tomado para em mandris, e motor com peça de mão. A finalidade é dei-
que não seja desgastada a porção que fica em contato com xar a superfície o mais lisa possível (Figura 12-54a-b). Tam-
os dentes. A placa deve fazer contato, na região cervical, bém podem ser utilizadas lixas d’água. Quanto mais lisa e
com toda a extensão desses dentes posteriores. Na Figura uniforme ficar a superfície com as pedras, brocas ou fresas,
12-52 está ilustrada a forma como a broca é utilizada para menos trabalho se terá com as lixas. Quanto mais bem aca-
remover o excesso, no sentido vertical, contornando esse bado for o trabalho executado com a lixa, menor e mais fácil
limite. será o trabalho subsequente de acabamento e polimento

FIGURA 12-51 (a) Eliminados os


excessos de acrílico até a região
cervical previamente demarcada.
(b) Recorte do excesso na região
posterior. É importante que o aca-
bamento seja feito nesta e em ou-
a b
tras regiões em forma de bisel.

FIGURA 12-52 (a) Forma de recor-


te dos excessos na altura na parte
posterior, até o nível cervical. (b) O
desgaste deverá ser feito até per-
manecer apenas uma linha de con-
a b
tato na região cervical.

FIGURA 12-53 (a) Forma de recor-


te dos excessos na altura na parte
anterior, até a metade da face lin-
gual desses dentes ou até onde foi
definido o limite. (b) Desgaste da
a b
parte anterior da placa.

Abrao_cap_12 149 18/10/13 11:19


150 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 12-54 (a) Forma de re-


gularizar a superfície externa da
placa. (b) Polimento da superfície
externa da placa com lixas para ma-
a b
deira no 180.

final. É importante que não fiquem superfícies ásperas ou da placa, que se traduzem por marcas esbranquiçadas
degraus com ângulos vivos, os quais seriam desconfortá- e irregulares na superfície. Também é importante man-
veis para o paciente. No caso do batente, sua superfície ter a placa firmemente presa, segura pelas mãos, para
deve estar lisa e regular, e com o bordo posterior levemente evitar que se solte e, consequentemente, se deforme
arredondado (Figura 12-54b). ou frature. Esta fase estará concluída quando for obser-
vada uma superfície lisa e polida de maneira uniforme,
sem os riscos deixados pela lixa para madeira.
COMO DAR BRILHO OU POLIMENTO 2. Com uma roda de pano montada no torno para poli-
mento, e ainda utilizando-se a mistura de pedra-pomes
FINAL NAS PLACAS? com água, aumenta-se o polimento com a roda de
Para dar o polimento final na placa, utiliza-se a seguinte se- pano, que é menos abrasiva do que a escova de pe-
quência: los. Utiliza-se sempre a velocidade baixa. Seguem-se
os mesmos cuidados descritos para o primeiro passo e
1. Com uma escova de pelos em forma de roda, que será conclui-se esta parte quando novamente toda a super-
montada no torno para polimento, em baixa velocidade, fície estiver uniformemente polida e já com um pequeno
utiliza-se uma mistura de pedra-pomes em pó e água brilho (Figura 12-56b).
e inicia-se o processo de polimento da placa (Figura 3. Lava-se a placa com água e sabão para eliminar o ex-
12-56a). É importante manter a superfície do acrílico cesso de pedra-pomes, que é altamente abrasivo, para
sempre umedecida com a mistura de pedra-pomes e se iniciar o polimento final ou brilho da placa.
água, caso contrário, o calor e o atrito provocados pela 4. Com o auxílio de uma roda de pelúcia ou de pano
escova de pelos provocarão queimaduras na superfície delicado, montada no torno para polimento em baixa

FIGURA 12-55 (a) e (b) Placa re-


cortada, alisada após a análise de
detalhes, pronta para ser polida.
a b

FIGURA 12-56 (a) Polimento com


escova de pelos em torno para
polimento, com mistura de pó de
pedra-pomes e água. (b) Polimento
mais delicado com roda de pano e
a mesma mistura anterior de pe-
a b
dra-pomes e água.

Abrao_cap_12 150 18/10/13 11:19


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 151

FIGURA 12-57 (a) Polimento com


roda de pelúcia (pano mais deli-
cado) e pó de branco de Espanha
com água para o brilho final. (b)
Placa com grampos de Hawley e
a b
batente concluída.

velocidade, e com a utilização de (a) pó de branco de Para que a placa seja considerada aprovada (Figuras
Espanha com água ou (b) líquidos para polimento de 12-59 e 12-60), é preciso:
metais como BrassoTM ou Kaol TM, procede-se ao poli-
mento final da placa (Figura 12-57a).
• Respeitar seus limites anatômicos
5. Lava-se a placa em água corrente com sabão e o au-
• Ter recortes adequados
xílio de uma escova; seca-se e analisa-se o trabalho
• Ter uma espessura uniforme e adequada (nem falta,
nem excesso)
concluído (Figura 12-57a).
• Ter polimento correto e brilho uniforme em toda a sua
Pode-se também, após este último passo, utilizar poli- parte externa
mento químico para aumentar ainda mais o brilho e o acaba- • Ter sua superfície interna corretamente isolada
mento da placa. É importante que a placa esteja muito bem • Ter os grampos envolvidos pelo acrílico
polida antes de se efetuar o polimento químico, pois este não • Ausência de bolhas ou porosidades
vai eliminar as imperfeições do acabamento e do polimento.

A CONFECÇÃO DA PLACA INFERIOR É


A PLACA ESTÁ ADEQUADA PARA SER DIFERENTE?
INSTALADA?
Cabe lembrar que, para a placa inferior, é necessária a con-
O polimento é importante para facilitar a higienização da fecção de grampos de apoio, para evitar que se desloque
placa e dificultar a incorporação de pigmentos ou outras no sentido vertical (Figura 12-61).
substâncias provenientes dos fluidos bucais.

FIGURA 12-58 (a) Placa com


grampos de Hawley e batente con-
cluída, vista externa polida. (b) Vis-
ta interna sem nenhum desgaste e
a b
com bordas desgastadas em bisel.

FIGURA 12-59 (a) e (b) Placa com


grampos de contenção do tipo
Wraparound adequadamente con-
a b
feccionada e polida.

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152 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 12-60 (a) e (b) Outro


exemplo de adaptação do fio e de
acabamento da placa de conten-
a b
ção Wraparound.

FIGURA 12-61 (a) Grampos de


apoio oclusal na placa inferior para
evitar que ela se desloque no sen-
tido vertical e grampo de Hawley
nesta mesma placa. (b) A placa in-
ferior será dividida em três regiões:
lado direito, anterior e lado esquer-
do. A ilustração mostra a coloca-
a b
ção do acrílico na parte 2.

Para a confecção da placa inferior, seguem-se os mes- Muitas técnicas podem ser descritas com os mesmos
mos passos da placa superior, só que, em vez de dividir propósitos. Esta é uma delas. Outras também podem che-
a placa em quatro regiões, divide-se em três: uma lateral gar a resultados semelhantes. A ênfase está em seguir os
interna direita, uma interior interna e uma lateral interna es- passos técnicos corretos para atingir excelentes resultados
querda (Figura 12-62). e resolver muitos dos problemas ortodônticos incipientes ou
A altura dos recortes da placa inferior também tem modi- aparentemente simples.
ficação no sentido de que na parte inferior será feito um des- Os problemas ortodônticos que estão ao alcance do
gaste, respeitando o limite de 5 mm acima do fundo do rebor- clínico podem ser resolvidos de maneira simples, rápida,
do. Este bordo terá um arredondamento, de forma a lembrar econômica e precisa, como é o caso das mordidas cru-
uma gota. Na parte superior o recorte ou limite será na meta- zadas e abertas, que podem ser corrigidas com auxílio
de das faces linguais e em forma de bisel (Figura 12-63). de placas simples com torno ou parafuso de expansão e
Para a confecção de outros tipos de placas ortodôn- grade para controle de hábito, como ilustrado na Figura
ticas, podem-se seguir basicamente os mesmos passos 12-64.
descritos anteriormente. As variações das placas para ou- Porém, caso os problemas não sejam diagnosticados
tros objetivos podem ser obtidas de forma satisfatória se corretamente, orientados, prevenidos, interceptados ou até
forem seguidos os passos corretos. Este é um ponto básico corrigidos precocemente, ou não se intervenha no momen-
e fundamental: uma sequência técnica correta vai levar a to oportuno, tenderão a se agravar, necessitando de trata-
resultados corretos, ao passo que a falta de uma sequência mentos mais complexos e onerosos, implicando em uma
lógica de atitudes e procedimentos técnicos implica no des- omissão de responsabilidade de todos os profissionais de
conhecimento do caminho a ser percorrido. odontologia.

FIGURA 12-62 (a) Finalização da


colocação de líquido na parte 3
da placa inferior. (b) Placa inferior
finalizada ilustrando o acabamento
a b
interno.

Abrao_cap_12 152 18/10/13 11:19


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 153

FIGURA 12-63 (a) e (b) Placa infe-


rior finalizada ilustrando o acaba-
a b
mento interno e externo.

FIGURA 12-64 (a) Placa supe-


rior com grampos de retenção de
Adams e arco vestibular de Hawley.
(b) Placa superior com grade para
controle de posição de repouso da
língua e parafuso de expansão para
a b
correção da mordida cruzada.

REFERÊNCIA Graber TM, Neuman B, editors. Removable orthodontics appliances.


2nd ed. Philadephia: Saunders; c1984.
1. Telles CS. Placas ortodônticas. Anais da Faculdade Nacional de Moyers RE. Ortodontia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
Odontologia. 1959:193-219. 1988.
Proffit WR, Fields HW. Contemporary orthodontics. Saint Louis: Mosby;
1986.
Schwarz AM. Las correciones ortodóncicas con placas. Barcelona: La-
LEITURAS RECOMENDADAS bor, 1944.
Strang RHW. A textbook of orthodontia. 3rd ed. Philadelphia: Lea & Fe-
Mucha JN. Grampos e placas ortodônticas: introdução a técnica básica
biger; 1950.
de laboratório. Rio de Janeiro: Guanabara Koogam; 1997.
Adams CP. The desing and construction of removable orthodontics
apliances. 4th ed. [S.l.]: John Wright & Sons; 1970.

Abrao_cap_12 153 18/10/13 11:19


C A P Í T U LO 1 3

Mantenedores e recuperadores de espaço


Daniella Torres Tagawa
Edma H. Daud
Ester Maria de Sousa Ferreira
Ricardo Fidos Horliana
Luís Antônio de Arruda Aidar

MANTENEDOR DE ESPAÇO de cada um, bem como nos aspectos relacionados à cola-
boração do paciente.
A ortodontia preventiva visa a prevenir, interceptar e orientar,
atuando em fase precoce do desenvolvimento da criança.
A manutenção do espaço nas fases de dentição decídua e PERDA PRECOCE DE DENTES DECÍDUOS
mista constitui-se numa das atividades mais importantes na
prevenção das más oclusões.
1 ANTERIORES
Durante o desenvolvimento da dentadura decídua para Na região anterior superior, a perda prematura quase sem-
a mista e a permanente, a ocorrência de anormalidades pre é causada por traumatismo, podendo também ocorrer
é um fato que pode estar presente constantemente. Nos por cáries. Frequentemente, essa perda não afeta a distân-
arcos dentários, a mais frequente é a discrepância entre o 7
cia intercaninos; entretanto, Moyers considera que, se a
espaço presente e o espaço requerido para a erupção e perda precoce ocorrer antes que os incisivos permanentes
acomodação de todos os dentes permanentes. A perda se desenvolvam o suficiente para manter as dimensões do
parcial ou total da estrutura dentária acarreta uma diminui- arco, isso pode levar a uma pequena perda de espaço. Em-
ção do espaço disponível no arco dentário, provocando um bora essa perda geralmente não provoque distúrbios signi-
2-4
desequilíbrio estrutural e funcional. ficativos à oclusão, pode favorecer a instalação de hábitos
Os dentes decíduos deveriam permanecer na cavidade bucais deletérios e função incorreta de lábios e língua, le-
8
bucal até a época da erupção dos sucessores permanen- vando a problemas de fonação, deglutição e mastigação.
tes, mas há situações clínicas em que isso não é possível,5 Quando ocorrem perdas generalizadas de todos os
levando à perda de espaço. incisivos decíduos, indica-se o mantenedor de espaço es-
A gravidade da perda de espaço dependerá da se- tético-funcional (Figura 13-1), importantíssimo no desenvol-
quência de erupção dos dentes sucessores, da intercuspi- vimento psicoemocional da criança. É interessante colocar
6
dação do molar e da idade do paciente. Se um dente decí- um expansor mediano no aparelho removível superior para
2
duo é perdido antes que o germe do sucessor permanente acompanhar o crescimento.
tenha iniciado a formação da raiz, haverá atraso na erupção A extração de um elemento decíduo deve ser prece-
7
do permanente e consequente perda de espaço. dida de criteriosa análise, quando é feita com o objetivo de
A consequência mais grave da perda precoce é a mi- obter-se a harmonização dentária. As perdas de caninos
gração dos dentes adjacentes para o espaço originado. A decíduos nem sempre são devidas a cáries. Quase sempre,
migração depende do elemento perdido, da oclusão local, sua queda precoce se deve à erupção de incisivos muito
da relação sagital entre os dois arcos dentários, da influên- largos, que, ao irromperem lingualmente, pressionam os
cia da língua, da musculatura bucal, da época da perda e caninos decíduos e provocam prematuramente a reabsor-
2
das condições de espaço no arco. ção de sua raiz (Figura 13-2). Quando a perda é unilateral,
Com o objetivo de preservar o espaço presente e re- pode haver desvio da linha média e inclinação distal e lingual
2,9,10
duzir a severidade ou a prevalência dessas más oclusões, dos incisivos na direção do espaço desocupado (Figura
alguns aparelhos mantenedores de espaço têm sido pro- 13-3). Quando a perda é bilateral, especialmente no arco
postos e sua seleção será baseada na indicação específica inferior, ocorre uma inclinação lingual dos incisivos e uma

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156 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 13-3 Radiografia panorâmica evidenciando que não há


FIGURA 13-1 Mantenedor de espaço estético funcional. Fonte: espaço para a erupção do canino permanente e para a inclinação
Paixão e Fuzy.13 dos incisivos para o lado da perda. Fonte: Paixão e Fuzy.13

correta intercuspidação e em contatos proximais nos seg-


mentos posteriores. Assim sendo, ao colocar mantenedo-
res de espaço nas perdas precoces, deve-se tentar eleger
os que preservam a distância mesiodistal ou os que recu-
peram a distância perdida, assim como manter a relação
oclusal com o antagonista, evitando a extrusão alveolar e
dentária.16
A perda dos molares decíduos deve-se à anquilose
e, principalmente, às cáries dentárias. Quando os molares
decíduos são perdidos precocemente e o primeiro molar
permanente irrompe, o arco lingual passivo pode ser usa-
do na maxila e na mandíbula. Aparelhos removíveis também
FIGURA 13-2 Perda precoce do canino decíduo inferior por
podem ser utilizados, desde que se obtenha a cooperação
erupção ectópica do incisivo lateral, com acentuada perda de
espaço. Fonte: Paixão e Fuzy.13 do paciente.17
Embora não haja consenso sobre a frequência com
2
que ocorre o fechamento de espaço ou o desenvolvimento
diminuição do arco. A instalação de um mantenedor de es- de uma má oclusão após a perda precoce de um dente
paço após a perda unilateral de um canino decíduo deve ser decíduo, diversos autores15,18 têm sugerido algumas con-
imediata para prevenir a assimetria do arco.11 Da mesma siderações que devem ser feitas pelo profissional ao avaliar
forma, a presença dos caninos decíduos é fundamental na a possibilidade e necessidade de manutenção de espaço,
definição correta dos movimentos mandibulares.12 dentre elas: o tipo de má oclusão que o paciente apresen-
ta; a presença ou ausência de espaço no arco dentário; o
tempo decorrido após a perda; a quantidade de osso sobre
PERDA PRECOCE DE DENTES DECÍDUOS a coroa do dente não irrompido; a sequência de erupção
POSTERIORES dentária e a ausência congênita do sucessor permanente.

Quando se perde prematuramente um dente decíduo,


ocorre o rompimento do equilíbrio dentário, propiciando a
Perda dos primeiros molares decíduos
mesialização dos dentes posteriores, a distalização dos an- A perda do primeiro molar decíduo torna-se mais séria
teriores e a extrusão dos antagonistas. Assim, o sucessor quando ocorre antes da erupção dos primeiros molares
permanente, sem espaço disponível, desvia sua trajetória permanentes, pois há grande possibilidade de encurtamen-
de erupção, irrompendo por vestibular ou lingual no arco to da arcada por ocasião da erupção desses dentes. Nos
dentário; ou permanece impactado, determinando uma má casos de perda dos primeiros molares decíduos, pode-se
oclusão.14 Perdas, principalmente em arcos tipo II de Bau- inserir um mantenedor removível ou um arco lingual, se os
me, causam maior incidência de fechamento de espaço.10,15 primeiros molares permanentes estão presentes.1
O espaço ocupado pelos dentes decíduos posteriores De acordo com alguns autores,2,6,19 se a perda do pri-
no arco inferior costuma ser, em média, 1,7 mm maior do meiro molar decíduo ocorrer antes do início da atividade
que o espaço a ser ocupado pelos permanentes sucedâ- eruptiva do primeiro molar permanente, a perda de espaço
neos. É o denominado espaço livre de Nance, o qual per- não será significativa; por outro lado, se a perda ocorrer du-
mite, quando da substituição dos dentes decíduos pelos rante a erupção do primeiro molar permanente, a perda de
permanentes, um arranjo de oclusão que se traduzirá na espaço será significativa.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 157

Perda dos segundos molares decíduos


A perda prematura dos segundos molares decíduos gera
uma migração dos primeiros molares permanentes, origi-
nando uma perda no comprimento do arco, impactando o
segundo pré-molar. Uma coroa de aço no primeiro molar
(Figura 13-4) e, em alguns casos, no canino decíduo, com
uma barra horizontal e um braço em balanço, pode ser
construída em um plano vertical penetrando a gengiva me-
sial ao primeiro molar permanente. Um aparelho simples é
o mantenedor de espaço da Unitek com extensão intragen- FIGURA 13-4 Coroa alça. Fonte: Paixão e Fuzy.13
gival.17 Outra opção seria a instalação de uma banda-alça.
Quando há perda dos segundos molares decíduos sem dente decíduo, pela impactação do dente permanente ou
10
que o primeiro molar permanente tenha erupcionado, se pelo desvio da trajetória; da ausência congênita do dente
10
nada for feito, o primeiro molar permanente após a erup- permanente; da apresentação do problema aos pais.
ção sofrerá inclinação para mesial. Indica-se a colocação
de um orientador de erupção, que deverá guiar a erupção
do primeiro molar permanente antes mesmo e depois de Características de um mantenedor
aparecer na mucosa bucal.12 de espaço
De acordo com Corrêa,2 essa migração não é tão acen- Os mantenedores de espaço devem manter a distância
tuada na mandíbula, mas o tratamento é complexo, devido mesiodistal e a altura vertical correspondente ao dente
à dificuldade de recuperação de espaço no arco inferior. removido; não devem lesar ou alterar os dentes que es-
tejam servindo de suporte, nem os tecidos circunjacentes;
devem ser de simples confecção e resistentes à atividade
PERDA PRECOCE DE DENTES mastigatória; devem ser facilmente higienizáveis; não de-
PERMANENTES vem impedir o crescimento e o desenvolvimento dos arcos
1
dentários.
Quando as extrações do primeiro molar permanente ocor-
rem em idade na qual o segundo molar ainda não erupcio-
nou, deve-se esperar pela migração deste, que irá ocupar Tipos de mantenedores de espaço
o lugar do primeiro molar. É importante que seja obtida uma De um modo geral, os mantenedores podem ser fixos ou
radiografia do segundo molar para verificar se o mesmo ain- removíveis. Sua indicação está condicionada a alguns fato-
da se encontra no interior da cripta óssea. Caso contrário, res, como: casos com uma ou múltiplas extrações; tipo de
se já rompeu a cripta e o segundo molar estiver submu- oclusão dentária; faixa etária do paciente; condições psico-
coso, próximo de erupcionar, é indicado um orientador de lógicas do paciente.
1

erupção, que será transformado em mantenedor de espaço Os aparelhos fixos geralmente podem ser utilizados por
funcional, após completar a erupção. períodos mais longos do que os removíveis e apresentam
Quando a perda precoce do primeiro molar perma- como vantagem não necessitar da colaboração do paciente
nente ocorre com a presença do segundo molar perma- 22
para o uso. Os aparelhos mais comumente empregados
nente, a conduta torna-se semelhante à perda precoce de são a banda-alça, o arco lingual de Nance e o botão pala-
qualquer outro dente, ou seja, coloca-se um mantenedor tino de Nance.
de espaço.20
Segundo Corrêa,2 o mantenedor de espaço é indicado
nas seguintes condições: para devolver a estética, a fona- BANDA-ALÇA
ção e a função; para evitar hábitos prejudiciais; e quando
houver fatores psicológicos envolvidos. Nos casos de uma única extração, a banda-alça é um bom
A colocação de um mantenedor de espaço depende artifício para a manutenção de espaço. É constituída por um
do tempo decorrido da perda;9,10 do local da perda;9 de o anel ortodôntico, geralmente adaptado ao primeiro molar
espaço ainda não ter sido perdido;13,20 da discrepância den- permanente, ao qual é soldada uma alça, adaptada ao es-
toalveolar;9 da idade do paciente;9,10 dos arcos tipo I e II paço da extração e que vai entrar em contato com o dente
de Baume; da sequência de erupção;9,10 da perda do dente mais próximo, geralmente o primeiro molar decíduo (Figu-
antes de haver 3/4 de raiz formada do dente permanente;10 ra 13-5). Nos casos de perda precoce do primeiro molar
da quantidade de osso que recobre o dente;20,21 da erup- decíduo, podem também ser utilizadas uma coroa de aço
1
ção retardada do permanente pela retenção prolongada do inoxidável e uma alça de fio redondo.

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FIGURA 13-5 Banda-alça. Fonte: Clínica CISO.23


FIGURA 13-6 Arco lingual de Nance. Fonte: Paixão e Fuzy.13

ARCOS LINGUAIS
O arco lingual de Nance é um aparelho estático que tem a
função de manter o perímetro da arcada dentária, sendo
indicado para perda de mais de um dente posterior no arco
inferior, associado à presença dos molares e incisivos per-
9
manentes inferiores. São construídos de duas bandas orto-
dônticas adaptadas aos primeiros molares permanentes, às
quais, soldado ou mesmo encaixado, se encontrará o arco
lingual, que vai de molar a molar, adaptado cervicalmente a
todos os dentes (Figura 13-6).

BOTÃO PALATINO DE NANCE FIGURA 13-7 Botão de Nance. Fonte: Paixão e Fuzy.13

O botão palatino de Nance é um aparelho mantenedor de modificações ou substituição. Essa necessidade deverá ser
espaço fixo e não funcional, sendo indicado para as per- observada pelo profissional durante o acompanhamento,
24
das múltiplas e bilaterais de molares decíduos superiores que será realizado por meio de exames periódicos.
(Figura 13-7). Não é possível aplicar regras rígidas em relação à ne-
cessidade ou não da manutenção do espaço diante da
19,25
perda precoce de um dente decíduo. Na região ante-
APARELHOS REMOVÍVEIS rior há pouca movimentação dos dentes adjacentes. Na
região posterior, devido à força dos lábios e da língua, há
São os mais utilizados, por serem de fácil confecção. Indi- 2,19
uma maior migração. A incidência de fechamento é pro-
cados para casos de múltiplas extrações e extrações bilate- porcional ao tempo decorrido da perda prematura. Quanto
rais. Os dentes usados para a confecção desses aparelhos mais precoce for a extração, maior será o fechamento do
podem ser pré-fabricados em resina acrílica, mas também espaço, principalmente se acontecer antes da erupção do
podem ser os dentes naturais do próprio paciente. Estão in- 20
primeiro molar permanente. Em alguns casos, ocorre uma
dicados para a reabilitação estética e funcional do paciente, intercuspidação perfeita, principalmente dos primeiros mo-
para crianças com perdas dentais generalizadas distribuí- lares permanentes, que impedem a inclinação dentária, ante
das pela arcada e com maturidade emocional para aceitar o uma perda precoce.
20

uso de um aparelho removível e evitar o desenvolvimento de


hábitos deletérios. As vantagens do uso de um mantenedor
do tipo removível são muitas, dentre as quais a possibilida- RECUPERADORES DE ESPAÇO
de de reabilitar ao mesmo tempo os segmentos anterior e
posterior, a recuperação da dimensão vertical de oclusão, A integridade da coroa do dente decíduo é de fundamen-
18
a facilidade de higienização e o baixo custo (Figura 13-8). tal importância na erupção correta do dente permanente.
Considerando que a criança está em fase de crescimen- O processo carioso, destruindo a coroa do dente decíduo,
to e desenvolvimento, e que a esfoliação dos dentes decídu- estará diminuindo o espaço, ou seja, o perímetro do arco
os e a erupção dos permanentes fazem parte do processo, dentário, e o problema será tanto maior quanto maior for a
deve ficar bem estabelecido que o aparelho pode requerer extensão da cárie dentária.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 159

FIGURAS 13-8 Mantenedor


de espaço estético funcional.
Fonte: Clínica CISO.23

As perdas de espaço arco, a perda de um inci-


são ocasionadas principal- sivo decíduo pode resultar
mente por cáries interpro- em um rápido fechamento
7
ximais e por perdas preco- de espaço.
ces de molares decíduos, Pode-se também ter
que levam a uma inclina- perda de espaço anterior
ção ou a um movimento pela presença de supranu-
mesial dos primeiros mola- merário na região anterior.
res permanentes7 (Figuras A retenção prolongada dos
13-9 e 13-10). incisivos permanentes, im-
Se a perda de espaço pedindo sua erupção nor-
não for tratada, pode oca- mal, favorece a inclinação
sionar problemas como a axial dos dentes adjacen-
retenção prolongada ou tes com acentuada perda
FIGURA 13-9 Perdas de espaço a impacção do sucessor FIGURA 13-11 Radiografia pe- de espaço (Figuras 13-11
por cáries interproximais. Fonte: permanente. riapical mostrando a presença e 13-12).26
Almeida e colaboradores.26 A época de recuperar do dente supranumerário. Fon-
o espaço é importante, te: Almeida e colaboradores.26
uma vez que a posição e o estágio de desenvolvimento
do segundo molar permanente geralmente são fatores li-
mitantes.7
PERDAS DE ESPAÇO ASSOCIADAS A
A quantidade de perda de espaço na região posterior PROCESSOS CARIOSOS
está diretamente ligada à presença do primeiro molar per-
Nas perdas de espaço por processos cariosos antes da
manente.
erupção dos primeiros molares permanentes, ocorrem pou-
Os incisivos podem ser perdidos prematuramente
cas alterações axiais. A ausência da curva de Spee, nessa
como resultado de traumatismo, quase sempre quando
fase, não favorece a mesialização dos dentes decíduos. Já
a criança está aprendendo a se levantar e a andar, mas
as perdas de espaço por processos cariosos após a erup-
também por cáries. Antes que os dentes permanentes se
ção dos primeiros molares permanentes ocasionam a perda
desenvolvam o suficiente para manter as dimensões do

FIGURA 13-10 Perda de espaço por perda prematura do segundo FIGURA 13-12 Supranumerário bloqueando a erupção do ICS com
molar decíduo inferior esquerdo. Fonte: Almeida e colaboradores.26 consequente perda de espaço. Fonte: Almeida e colaboradores.26

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160 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 13-13 Cárie distal no segundo molar decíduo inferior, FIGURA 13-14 Falta de espaço para erupção do 15. Fonte: Mi-
permitindo inclinação do primeiro molar permanente. Fonte: Lino.12 randa e colaboradores.27

de contato interproximal, que leva à inclinação do primeiro


molar permanente e, consequentemente, à perda de espa-
ço (Figura 13-13).12

PERDAS DE ESPAÇO ASSOCIADAS A PERDAS


PRECOCES DE MOLARES DECÍDUOS
Segundo Moyers,7 o deslizamento dos primeiros molares
permanentes envolve três tipos distintos de movimentos
dentários: inclinação mesial da coroa, rotação e translação. FIGURA 13-15 Espaço recuperado. Fonte: Miranda e colabora-
Há diferenças precisas no comportamento do movimento dores.27
mesial entre os primeiros molares superiores e os inferiores,
diferenças essas causadas pelas variações na forma coro-
MOVIMENTO DISTAL DOS PRIMEIROS
nária, no número de raízes e nas relações oclusais.
Na maioria dos casos, a perda dos primeiros molares MOLARES PERMANENTES
decíduos não é tão séria quanto a dos segundos molares O movimento dentário básico na recuperação do espaço
decíduos. A gravidade do problema depende da sequência é o movimento distal dos primeiros molares permanentes,
de erupção dos dentes sucessores, da intercuspidação do que deve ser inverso aos movimentos que ocorreram quan-
molar e da idade do paciente. A perda do perímetro do arco do o dente se posicionou mesialmente. Assim, a seleção do
tem mais probabilidade de ocorrer quando o primeiro molar aparelho recuperador de espaço depende da necessidade
decíduo for perdido mais cedo.7 de inclinação, rotação ou translação, ou de combinações
As perdas mais rápidas do perímetro do arco ocorre- desses movimentos.
7

rão com a perda precoce dos segundos molares decíduos. Um movimento de inclinação é mais facilmente cor-
Entretanto, a época da perda do segundo molar decíduo é rigido do que um de translação, em que o dente se mo-
um fator determinante no tipo de movimento observado.26 vimenta de corpo. Esses casos requerem maior força e
Os primeiros molares permanentes superiores se incli- controle para um movimento adequado de coroa e de
nam rapidamente para mesial, fazendo com que a cúspide raiz.
7

distovestibular fique mais proeminente no plano oclusal, e a


raiz lingual faz com que haja uma rotação da coroa (Figuras
13-14, 13-15 e 13-16a-b).7 APARELHOS RECUPERADORES
Quando o segundo molar decíduo é perdido antes da DE ESPAÇO
erupção do primeiro molar permanente, também se pode
observar a translação do primeiro molar permanente duran- Os aparelhos recuperadores de espaço são dispositivos di-
te sua erupção.7 nâmicos com a finalidade de recuperar espaços nos casos
Em relação aos primeiros molares inferiores, observa- em que o diâmetro mesiodistal destinado ao dente perma-
-se uma inclinação mesial, uma rotação coronária e uma nente em fase de erupção foi perdido.
7
translação, mas eles são mais propensos a mostrar uma Para Myers, esses aparelhos são usados somente
inclinação lingual durante o movimento mesial, devido à au- para recuperar o espaço que uma vez existiu. E recuperar
sência de uma raiz lingual.7 não é criar espaço.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 161

FIGURA 13-16 Fotografia


dos modelos (a) inicial e
(b) final do caso. Observar
o ganho de espaço de 3,0
mm na região do dente 15,
devido ao movimento do
16 para distal. Fonte: Mi-
a b
randa e colaboradores.27

Existe uma grande variedade de aparelhos recupera- Confecção da mola de verticalização do molar
dores de espaço. Quando os aparelhos mais simples (os
removíveis) não tiverem força para realizar o movimento ne- Com um alicate 139, fazer uma curva na extremidade do fio,
cessário, podem-se utilizar forças extrabucais ou aparelhos para adaptá-lo à face proximal mesial do molar. Determinar
fixos.7 a dimensão vestibulolingual do dente e transferir ao fio, com
Dentre os aparelhos removíveis indicados para desin- lápis dermatográfico, a medida encontrada a partir da extre-
clinar o primeiro molar permanente, recuperando o espaço midade contornada. Com a ponta cônica do alicate, em cima
para a erupção do segundo pré-molar permanente, en- da marca, fazer a primeira curva da mola, deixando os seg-
contram-se a mola de verticalização molar (Figuras 13-17, mentos paralelos. Em seguida, fazer a segunda curva, em
13-18, 13-19 e 13-20), o parafuso expansor (Figura 13-21) direção lingual. Adaptar o segmento terminal da mola no lado
28
e a mola de Benac (Figuras 13-22a-d). lingual do rebordo alveolar, fazendo as dobras de retenção.

FIGURA 13-17 Vista oclusal da mola de verticalização molar. Fo- FIGURA 13-19 Vista oclusal do aparelho recuperador de espaço
tos da mesa clínica do Curso de Graduação em Ortodontia da em posição. Fotos de casos tratados na clínica do Curso de Gra-
Universidade Metodosita de São Paulo (UMESP), ano 1990. duação em Ortodontia da UMESP (1990), arquivo pessoal.

FIGURA 13-18 Vista vestibular da adaptação da mola dupla para FIGURA 13-20 Aparelho recuperador de espaço adaptado
verticalização de molar. Fotos da mesa clínica do Curso de Gra- na boca do paciente. Fotos de casos tratados na clínica do
duação em Ortodontia da Universidade Metodosita de São Pau- Curso de Graduação em Ortodontia da UMESP (1990), arquivo
lo (UMESP), ano 1990. pessoal.

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162 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

mm, e posicionar um parafuso expansor unilateral na região


onde se precisa recuperar espaço, de maneira que, ao ser
ativado, promova o movimento distal para a verticalização
do primeiro molar permanente.26

Orientação ao paciente
O paciente deve usar o aparelho dia e noite, removendo-o
apenas para as refeições e higienizações bucais.

Ativações do aparelho
A cada 15 dias, 1/4 de volta.

FIGURA 13-21 Aparelho com parafuso expansor. Aparelho da Aparelho recuperador de espaço com
mesa clínica expositiva da Dentaurum.
mola de Benac
O plano dado pelos três segmentos da mola deve ficar Este aparelho removível é constituído de uma placa de re-
perpendicular à face mesial do molar, ou paralelo ao plano sina acrílica com grampos de retenção Adams auxiliares
oclusal (Figuras 13-16 e 13-17).28 e um arco vestibular de Hawley como elementos estabi-
lizadores, e como componente ativo, a mola de Benac,
Orientação ao paciente construída com fio de aço inoxidável de 0,8 ou 0,9 mm de
26
O paciente deve usar o aparelho dia e noite, removendo-o diâmetro.
apenas para as refeições e higienizações bucais.
Indicação
Ativações do aparelho Este tipo de mola tem indicação restrita às regiões posterior
26
Ativar a mola ~ 1,0 mm em direção distal, a cada 15 dias. superior ou inferior, devido ao diâmetro do fio.

Ativação
Confecção do aparelho com parafuso expansor A ativação não deve ultrapassar a metade do diâmetro me-
Com o modelo de trabalho em mãos, confeccionar os siodistal do dente em questão, com controle de 15-21 dias
grampos de retenção, mais um arco de Hawley com fio 0,7 até se obter o espaço desejado (Figura 13-22a-d).

a b

FIGURA 13-22 (a) Mola de


Benac ativada; (b) mola de
Benac em posição; (c) espa-
ço recuperado para erupção
do segundo pré-molar; (d)
vista oclusal com o segundo
pré-molar irrompido. Fonte:
c d
Almeida e colaboradores.26

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 163

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C A P Í T U LO 1 4

Alterações transversais: diagnóstico e


tratamento da mordida cruzada posterior
Roberto Hideo Shimizu
Ana Cláudia Moreira Melo
Augusto Ricardo Andrighetto
Marcos André Duarte da Silva

Alterações transversais nos arcos dentários são frequen- como, quando e, provavelmente, a partir de hipóteses ini-
temente observadas na clínica odontológica. O reconheci- ciais, por que as MCP se estabelecem.
mento da mordida cruzada posterior (MCP) é relativamente Toda investigação analítica parte, em um primeiro mo-
simples, pois é determinado pela situação típica de inversão mento, do conhecimento correto da prevalência, ou seja,
do padrão oclusal transversal esperado, em que os dentes da frequência em que uma doença ou condição ocorre na
maxilares deveriam colocar-se mais a vestibular em relação população, inicialmente em caráter descritivo, dados estes
aos mandibulares. O entendimento de sua importância e obtidos, geralmente, a partir de estudos clínicos e/ou epi-
6
influência deletéria, bem como de sua prevalência e possibi- demiológicos retrospectivos – transversais ou longitudinais.
lidades terapêuticas, passa, necessariamente, pelo estudo Portanto, é de suma importância o reconhecimento da qua-
aprofundado da anatomia e da fisiologia de todos os com- lidade e das limitações dos estudos disponíveis,7 para que
ponentes do sistema estomatognático. todas as informações possam ser utilizadas com a confiabi-
A primeira noção fundamental que se faz necessária é a lidade (utilidade) clínica esperada.
de normalidade em termos de forma e posição dos dentes, As estimativas atuais, em sua maioria, indicam valores
1
bem como de forma e posição dos arcos dentários em re- de ocorrência (frequência) obtidos, geralmente, a partir de
lação a suas bases ósseas e no âmbito do funcionamento estudos transversais, sejam de uma condição específica de
de todo o sistema mastigatório, considerando os sistemas avaliação no tempo3 ou mesmo durante a avaliação de dois
2,3
articulares e neuromusculares associados, assim como ou mais momentos distintos (transição entre dentaduras).
suas participações etiológicas nas diversas classes de mor- Nesse sentido, o risco de manutenção das MCP foi avalia-
4,5
dida cruzada. do, e parece aumentar durante a transição para a dentadura
permanente.8
Inúmeros estudos têm oferecido informações a respei-
DEFINIÇÃO to da prevalência das MCP.
3,5,6,8-10
A literatura especializada
apresenta valores de prevalência que vão de 1,0% a 23,5%
As MCP caracterizam-se por uma relação entre os arcos
para a ocorrência de MCP em crianças com dentição de-
superior e inferior invertida no sentido transversal quando
3 cídua.3 O valor de prevalência de 7,7% (1:13) em dentição
em relação cêntrica (RC).
decídua e mista foi apresentado como um indicador de que
esta classe de problema persiste entre os momentos de
PREVALÊNCIA avaliação – e também não se autocorrige.9 Para a dentição
decídua e mista, Wong e colaboradores11 relataram uma
A confiabilidade das informações concernentes à prevalên- prevalência entre 8-23%.
cia da MCP, assim como em quaisquer outros estudos de Um valor de alta prevalência (45,9%) para a MCP uni-
prevalência, depende, sobretudo, da qualidade dos regis- lateral,12 mostrando o elevado grau de prevalência da con-
8
tros disponíveis dessa condição, bem como do tipo de deli- dição assimétrica, e, ainda, de 8,4% para MCP associada
neamento realizado para os estudos. Tal combinação pode, à perda dentária precoce,12 possibilita o entendimento de
de fato, oferecer os meios adequados ao conhecimento de que, realmente, um dado padrão de ocorrência interdepen-

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166 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

dente toma parte durante o processo de crescimento e de- relação de topo bilateral, que pode ser indicativa de
senvolvimento craniofacial, quando diversos fatores etioló- atresia bilateral da maxila.
gicos parecem concorrer para o estabelecimento das várias • Posterior bilateral: caracterizada pelo cruzamento de
classes de MCP.3-5,10,13 ambos os lados do arco, direito e esquerdo.
Silva Filho e colaboradores,3 em estudo retrospectivo • Total: caracterizada pelo cruzamento de todos os den-
abrangente com 2.016 crianças brasileiras, verificaram que, tes superiores em relação aos inferiores.
para a dentadura decídua, a prevalência de oclusão normal
foi de 26,74% e a incidência de vários tipos de MCP foi de
20,81%. Os autores também descreveram a prevalência ETIOLOGIA
dos vários tipos de mordida cruzada estudados e constata-
ram desvio funcional da mandíbula em 91,91% das crianças As causas da MCP podem ser estudadas de acordo com a
com MCP unilateral, atribuindo esta condição à classe es- forma apresentada em um indivíduo: dentoalveolar, esque-
pecífica de MCP unilateral funcional. lética ou funcional. Também podem ser por uma mescla de
Contudo, variações geográficas (universo de estudo), fatores etiológicos com predominância de um,14 ou seja, um
tipo de classificação utilizada,9 idade dos indivíduos incluí- fator etiológico principal e outro(s) secundário(s).15
dos, qualidade amostral e critérios de inclusão/exclusão,
número amostral, técnica de registro, modos de delinea- Etiologia da MCP dentoalveolar
mento (desenho) dos estudos,7 entre outros fatores, são as
Nas MCP dentoalveolares, o local primariamente envolvido
variáveis que comumente se apresentam inserindo um fator
é o dente, e sua causa está relacionada principalmente com
de maior incerteza quanto à confiabilidade de aplicação das
uma inclinação desfavorável de um ou mais dentes, levando
informações de prevalência associadas às MCP, embora há
a uma relação de mordida cruzada unitária ou segmento
muito seja conhecida a frequente ocorrência dessa classe
do arco.15,16 Essa inclinação desfavorável origina-se quase
específica de má oclusão.
sempre da falta de um padrão adequado de erupção dos
dentes, sendo que se entende por padrão a cronologia e a
sequência de erupção dentária.15,17
CLASSIFICAÇÃO DA MCP A MCP dentoalveolar pode também estar relacionada
com os fatores que interferem no desenvolvimento trans-
Quanto à natureza
versal normal dos maxilares,17 como os hábitos de sucção
• Funcional: quando existe desvio mandibular a partir de não nutritivos15,17-19 e a respiração bucal.18 A adaptação dos
interferências dentárias, ou seja, contatos prematuros músculos que compõem o arcabouço da cavidade bucal
que fazem com que a mandíbula se desvie lateralmen- ao ato de sucção digital ou de chupeta causa uma pressão
te, ocasionando uma MCP unilateral. Nesses casos, negativa intrabucal e um estreitamento do arco maxilar, re-
comumente é observado desvio da linha média inferior sultando em um cruzamento posterior dentoalveolar14,15,20
para o lado da mordida cruzada. Contudo, quando a (Figura 14-4). A língua é uma estrutura anatômica importan-
mandíbula é posicionada em RC, observa-se correção te para o bom desenvolvimento da dimensão transversal da
parcial ou total da linha média e evidencia-se uma mor- maxila.21 Seu posicionamento mais baixo, devido à postura
dida de topo bilateral (Figura 14-1). mandibular alterada no respirador bucal, e a alteração na
• Dentoalveolar: quando um ou mais dentes encon- pressão aérea na cavidade nasal podem levar a um estreita-
tram-se cruzados, porém não há envolvimento do osso mento do arco maxilar durante o período de crescimento e
basal (Figura 14-2). desenvolvimento facial.14,15,20 A respiração bucal seria cau-
• Esquelética: quando existe discrepância esquelética sada por obstrução das vias aéreas superiores ou, quando
basal entre a maxila e a mandíbula, no sentido transver- não mais existe a obstrução, pelo hábito já adquirido de res-
sal (Figura 14-3). pirar pela boca.15
Vários são os fatores que podem causar algum grau
de obstrução das vias aéreas superiores, como: cornetos
Quanto à localização inferiores edemaciados; desvio do septo nasal; tonsilas pa-
• Anterior latinas (amígdalas) hipertróficas; tonsila faríngea (adenoide)
• Posterior unilateral: caracterizada pelo cruzamento de hipertrófica; rinite alérgica, dentre outros.15 A tonsila faríngea
um dos lados, quando a mandíbula oclui em máxima hipertrófica é frequentemente estudada como fator relacio-
intercuspidação habitual (MIH). Normalmente este tipo nado com o padrão de respiração bucal,19,22 e sua visuali-
de mordida cruzada é acompanhado de deslocamen- zação pode ser facilmente realizada em telerradiografias em
to mandibular lateral com consequente desvio da linha norma lateral (Figura 14-5).19,22
média. Entretanto, quando se executa a manipulação Ainda é possível que o hábito constante de apoiar o
para a posição de RC, frequentemente se observa uma rosto sobre a mão ou de descansá-lo sobre o antebraço,

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 167

a b c

d e

FIGURA 14-1 Vista intrabucal de pa-


ciente com MCP funcional: (a) lateral di-
reita; (b) frontal; (c) lateral esquerda; (d)
posicionamento mandibular em RC. Má
oclusão com atresia maxilar bilateral após
RC: (e) lateral direita; (f) frontal; (g) lateral
f g
esquerda.

FIGURA 14-2 Vista intrabucal frontal de


paciente com MCP dentoalveolar: (a) late-
a b
ral direita; (b) frontal.

FIGURA 14-3 Vista intrabucal de pacien-


te com MCP esquelética: (a) frontal; (b)
a b
oclusal superior.

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a b c d
FIGURA 14-4 Paciente com hábitos de sucção digital e respiração bucal. (a) Vista extrabucal frontal; (b) vista extrabucal de perfil; (c)
vista intrabucal frontal; (d) vista intrabucal oclusal.

sa de MCP.15,16,23,27 Essa falta de equilíbrio entre a largura


dos ossos basais pode ser resultado de um modelo de
crescimento herdado, de um impedimento do crescimento
normal por trauma ou, ainda, de uma MCP funcional não
corrigida.15
Por fim, salienta-se que o crescimento e o desenvolvi-
mento do sistema estomatognático sofrem influência here-
ditária e ambiental,15,28 que podem atuar separadamente ou
em conjunto como causas de uma mesma má oclusão.18 A
hereditariedade é um fator de grande importância na etiolo-
gia das más oclusões,15 assim como na da MCP,18 porém a
complexidade da genética muitas vezes torna difícil a análi-
se da hereditariedade como fator etiológico.14,15

DIAGNÓSTICO DA MCP
FIGURA 14-5 Telerradiografia em norma lateral mostrando ton-
sila faríngea hipertrófica. A deficiência transversal da maxila está relacionada com
o desenvolvimento insuficiente da largura maxilar, geral-
durante a infância, leve a uma pressão sobre os dentes su- mente apresentando uma MCP.29 É uma das más oclusões
periores, com consequente inclinação dos mesmos para a mais frequentemente observadas nos diferentes períodos
20
palatina, originando uma MCP unilateral. da dentição, desenvolvendo-se cedo; e por apresentar
uma baixa taxa de correção espontânea, a presença da
MCP é indicativa da necessidade de tratamento ortodônti-
Etiologia da MCP funcional co precoce.11,25,30,31
As interferências dentárias podem levar a um desvio da Kutin e Hawes9 já haviam ressaltado que as MCP não
mandíbula para o lado direito ou esquerdo em decorrência tratadas precocemente permanecem na dentição perma-
da ação muscular, com a finalidade de se obter um contato nente; contudo, se tratadas precocemente, essa correção
oclusal razoável para a mastigação15,18,23 e confortável para é mantida durante a transição das dentições.
o paciente.17 É comum encontrar-se uma MCP funcional Assim, esse tipo de má oclusão poderá apresentar uma
devido ao contato prematuro dos caninos decíduos.4,16,20,24 eventual associação com o crescimento mandibular assi-
Essas interferências oclusais seriam resultado de uma con- métrico, a partir de uma posição assimétrica do côndilo na
tração bilateral da maxila.15 fossa articular. Nesse sentido, sugere-se que a MCP poderá
A forma mais prevalente de MCP é a unilateral, carac- resultar em diferenças entre os lados direito e esquerdo na
terizada por um deslizamento funcional lateral da mandíbula relação côndilo-fossa articular, a qual pode ser responsável
para o lado do cruzamento.25,26 por um desarranjo interno na articulação temporomandibu-
lar (ATM) associado a um deslocamento do disco articular.32
A MCP não pode ser confinada somente à displasia
Etiologia da MCP esquelética dentária, estando mais frequentemente relacionada aos
O crescimento desarmônico da dimensão transversal en- problemas esqueléticos adjacentes. A MCP esquelética
tre os ossos basais (maxila e mandíbula) é a principal cau- pode ser resultante das seguintes combinações maxilo-

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mandibulares: maxila atrésica e mandíbula normal, maxila enquanto a distância intermolares inferiores não está rela-
normal e mandíbula expandida, e maxila atrésica e mandí- cionada à real dimensão basal mandibular.
bula expandida.27 Nas más oclusões de Classe I esquelética, ou seja,
Para a avaliação e a identificação radiográfica das dis- sem a presença de discrepância sagital entre a maxila e a
crepâncias esqueléticas transversais, a radiografia postero- mandíbula, uma atresia maxilar moderada ou severa poderá
anterior é uma ferramenta disponível e confiável. No entanto, causar MCP (Figura 14-7).
Betts e colaboradores33 e Vanarsdall e White34 ressaltaram Em crianças com má oclusão de Classe I esquelética,
a importância da análise tridimensional no diagnóstico da segundo alguns autores,36,37 a MCP se manifesta unilateral-
MCP. Dessa forma, as imagens tomográficas podem e de- mente, embora a atresia seja simétrica. Neste caso, ocorre
vem ser utilizadas para a avaliação nos três planos do es- um deslocamento funcional da mandíbula para um dos la-
paço. É importante ressaltar que o crescimento transversal dos (direito ou esquerdo), passando geralmente de uma re-
finaliza-se mais cedo e, portanto, o tratamento ortodôntico lação transversal de topo bilateral para uma MCP unilateral
deverá ser iniciado precocemente; caso contrário, a MCP funcional em MIH. É importante ressaltar que, embora em
esquelética poderá ser tratada somente por meio de uma MIH se visualize uma MCP unilateral, a expansão deverá ser
intervenção cirúrgica.27 simétrica e o mais precoce possível.
Para a elaboração do plano de tratamento de um caso A literatura aponta que as MCP devem ser tratadas
clínico com a presença de MCP, deve-se determinar se o precocemente. Embora elas se manifestem inicialmente
mesmo apresenta uma displasia esquelética verdadeira ou funcionais em MIH, podem evoluir para uma MCP unila-
envolve somente as estruturas dentoalveolares (Figura 14- teral verdadeira com a manifestação do crescimento e,
6). Ainda, qualquer meio que possa ser utilizado para iden- dessa forma, desenvolver uma assimetria dentária e/ou
tificar as características morfológicas da MCP pode ser útil esquelética facial. Outra consequência é o estabelecimen-
na possível prevenção ou tratamento precoce dessa condi- to de disfunção temporomandibular, pela remodelação as-
ção, e também ser um guia para confirmar se a mecânica simétrica da ATM.37,38
de tratamento empregada é apropriada.27 Saliente-se ainda que, principalmente nas más oclu-
Normalmente, a avaliação do plano transverso é reali- sões de Classe I em que se verifica atresia maxilar, ocorre
zada nos modelos de estudo; contudo, Vanarsdall e White34 também uma atresia mandibular dentária (inclinação lingual
ressaltaram que somente a análise dos arcos dentários não dos dentes posteriores inferiores), podendo mascarar a
constitui um método de real avaliação da dimensão trans- atresia maxilar.
versal. Para Gottlieb e colaboradores,35 a distância intermo- Portanto, a intercuspidação que se verifica nesses ca-
lares pode ser correlacionada à dimensão basal na maxila, sos clínicos (Figura 14-8) não deve ser o referencial para se

a b

FIGURA 14-6 (a) MCP dento-


alveolar. Observe a inclinação
palatina dos dentes posteriores
superiores. (b) MCP esquelética.
Observe a atresia do palato e a
inclinação adequada dos dentes
posteriores superiores.

a b c

FIGURA 14-7 Vista intrabucal de paciente com má oclusão de Classe I esquelética com atresia maxilar e MCP. (a) Lateral direita;
(b) frontal; (c) lateral esquerda.

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a b c

d e f
FIGURA 14-8 Má oclusão de Classe I esquelética com atresia maxilar e molares inferiores inclinados para lingual. (a) Vista lateral direi-
ta; (b) frontal; (c) lateral esquerda; (d) oclusal superior; (e) oclusal inferior; (f) frontal inferior.

afirmar que não ocorre uma atresia maxilar, pois o resta- tam uma óbvia constrição da maxila. Assim, muitas vezes,
belecimento das inclinações vestibulolinguais normais dos as atresias maxilares não evidenciam um cruzamento, pois
dentes posteriores inferiores poderia levar a uma condição as distâncias intermolares são maiores do que as distân-
de topo a topo ou cruzamento posterior, uni ou bilateral. cias intercaninos (divergências dos arcos para posterior).
Na presença de discrepâncias sagitais esqueléticas Ou seja, na presença de discrepância anteroposterior entre
entre a maxila e a mandíbula (Classes II e III), as atresias a maxila e a mandíbula, essa atresia pode ser mascarada
maxilares se manifestam de maneiras distintas, exigindo um (Figura 14-9).
diagnóstico diferencial. Muitas más oclusões de Classe II Portanto, é imprescindível que seja avaliada a morfolo-
esquelética, quando avaliadas clinicamente, não apresen- gia da arcada superior e a relação anteroposterior em que

a b c

d e
FIGURA 14-9 Má oclusão de Classe II esquelética com atresia maxilar e ausência de MCP. Vista intrabucal. (a) Lateral direita; (b) frontal;
(c) lateral esquerda; (d) oclusal superior; (e) oclusal inferior.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 17 1

a b c
FIGURA 14-10 Diagnóstico diferencial: manipulação dos modelos de estudo de uma má oclusão de Classe II esquelética com atresia
maxilar restabelecendo a relação anteroposterior-presença de MCP. (a) Vista lateral direita; (b) frontal; (c) lateral esquerda.

se encontram a maxila e a mandíbula. Em termos de diag- arco zigomático durante a análise facial, a morfologia da
nóstico, ao simular a correção da má oclusão de Classe arcada superior e a inclinação vestibulolingual dos dentes
II, nos modelos de estudo, protruindo o modelo inferior e/ posteriores. Essa avaliação auxilia na definição do tipo de
ou retruindo o modelo superior, verifica-se a presença da expansão que será realizada: dentoalveolar ou esquelética.
atresia maxilar e/ou da MCP (Figura 14-10). Isso indica a A expansão esquelética deve ser feita nos casos clínicos
presença de uma atresia maxilar como componente da má que apresentam ossos zigomáticos deficientes, maxilas
oclusão de Classe II esquelética. triangulares e dentes posteriores com inclinação vestibu-
Segundo Tollaro e colaboradores,39 a maxila, nos casos lolingual correta.
clínicos de má oclusão de Classe II, mesmo não apresen- Na má oclusão de Classe III, a situação praticamente se
tando MCP, é 3-5 mm mais estreita do que o ideal em re- inverte, uma vez que a maxila se posiciona posteriormente
lação à mandíbula. Portanto, recomenda-se que a primeira à mandíbula (Figura 14-11). Da mesma forma que na má
fase do tratamento da má oclusão de Classe II seja a expan- oclusão de Classe II, o diagnóstico diferencial, para avaliar
são do arco maxilar.40 se há diferença transversal, pode ser realizado com a ma-
Segundo Capeloza Filho e Silva Filho,41 para a ela- nipulação dos modelos de estudo. A MCP pode apresentar
boração do diagnóstico é de fundamental importância ou não atresia maxilar. Ao se protruir a maxila ou retruir a
avaliar o crescimento da maxila observando a região do mandíbula, restabelecendo o correto posicionamento ante-

a b c
FIGURA 14-11 Má oclusão de Classe III esquelética com atresia maxilar e MCP. (a) Vista lateral direita; (b) frontal; (c) lateral esquerda.

a b c
FIGURA 14-12 Diagnóstico diferencial: manipulação dos modelos de estudo restabelecendo a relação anteroposterior-ausência de
MCP. (a) Vista intrabucal lateral direita; (b) frontal; (c) lateral esquerda.

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roposterior, será possível avaliar se realmente ocorre a atre-


QUADRO 14-1 Desgaste seletivo em canino decíduo
sia maxilar e/ou a MCP (Figura 14-12).
Saliente-se ainda que, na avaliação do paciente, para a Indicação: MCP unilateral funcional
elaboração do diagnóstico, é importante investigar os fato- Fase: Dentadura decídua ou mista precoce
res etiológicos da atresia maxilar e associá-los às avaliações
Conduta clínica: Desgastes seletivos que permitam à
fonoaudiológica e otorrinolaringológica. Esse cuidado visa à mandíbula assumir posição adequada.42 Em seguida,
estabilidade da correção da MCP. aplicação tópica de flúor42

Expansão lenta da maxila


TRATAMENTO
Os aparelhos de expansão lenta são aqueles que geram
É consenso na literatura ortodôntica que o tratamento da forças leves visando ao movimento dentário.46 Podem ser
MCP deve ser iniciado o mais cedo possível (Figura 14-13),42,43 aparelhos removíveis, com torno expansor (Quadro 14-2,
considerando-se, conforme citado anteriormente, que a auto- Figura 14-14)43 ou molas de expansão.47
correção é pouco provável44 ou até mesmo impossível.42
Várias são as possibilidades de tratamento, sendo que QUADRO 14-2 Aparelho ortodôntico removível com
a escolha depende da etiologia da má oclusão, da fase de torno expansor
desenvolvimento do paciente e do tipo de mordida cruzada.
A seguir, algumas das opções de tratamento para a MCP. Indicação: MCP dentoalveolar
Fase: Dentadura decídua ou mista precoce
Possibilidades de tratamento Conduta clínica: Ativação do torno expansor (1/4 de vol-
ta/semana)
Remoção de interferências oclusais (Quadro 14-1)
Conforme abordado anteriormente, é comum que a MCP Aparelhos fixos, como o quadri-hélice (Quadro 14-3, Fi-
unilateral na dentadura decídua tenha como fator etiológico gura 14-15), também são considerados de expansão lenta.
a presença de interferência oclusal, geralmente estabeleci- São dispositivos que resultam em movimento dos molares
da por ocasião da erupção dos caninos decíduos.45 Neste em direção vestibular.46 O quadri-hélice foi desenvolvido por
caso, desgastes realizados nesses dentes podem ser sufi- Ricketts a partir da inclusão de quatro hélices em um arco
cientes para a correção da má oclusão.44 de expansão em W.48
A associação de exercícios miofuncionais ao desgaste A principal vantagem desse aparelho é que ele não de-
também mostrou resultados favoráveis na correção da MCP pende da colaboração do paciente, por ser um dispositivo
unilateral.42 fixo.49

a b c

d e f
FIGURA 14-13 Vista intrabucal de paciente na fase de dentadura decídua com MCP: (a) lateral direita; (b) frontal; (c) lateral esquerda.
Após tratamento: (d) lateral direita; (e) frontal; (f) lateral esquerda.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 173

O quadri-hélice é um aparelho de fácil confecção e utili-


zação. Inicialmente, é realizada a adaptação de bandas nos
molares (Figura 14-16a), seguida de moldagem com alginato
e transferência das bandas para o molde (Figura 14-16b).
Assim, obtém-se o modelo de trabalho com a presença das
bandas. Em seguida, é confeccionado o aparelho com as
quatro hélices, sendo duas localizadas na região anterior e
duas na região posterior, e realizada a soldagem nas bandas
(Figura 14-16c). Existe também a possibilidade de, em vez
de se fazer essa soldagem, adaptar o arco em tubos linguais
presentes nas bandas dos primeiros molares (Figura 14-17).
A ativação inicial (expansão do aparelho até que a face
lingual das bandas dos molares superiores fique na área do
sulco central dos molares inferiores) deverá ser realizada an-
50
FIGURA 14-14 Vista oclusal de aparelho ortodôntico removível tes da instalação na boca e, se necessário, ativações pos-
com torno expansor. teriores poderão ser realizadas sem remoção do dispositivo
48
por intermédio de alicate tridente.
O efeito esperado pelo aparelho quadri-hélice é den-
QUADRO 14-3 Aparelho quadri-hélice toalveolar, com aumento da distância intercaninos e inter-
molares. Contudo, já foi demonstrada a possibilidade de
Indicação: MCP dentoalveolar
abertura da sutura palatina mediana ao se utilizar este dis-
Fase: Dentadura decídua ou mista positivo durante a dentadura decídua.
49

Conduta clínica: Ativação a cada 40-60 dias50


Expansão rápida da maxila (ERM)
São aparelhos fixos nos quais se utilizam forças elevadas
em um curto período de tempo a fim de gerar o efeito orto-
46,51,52
pédico de abertura da sutura palatina mediana.
A primeira referência à abertura da sutura palatina me-
diana foi publicada por E. H. Angell, em 1860, ao relatar o
uso bem-sucedido de um dispositivo disjuntor maxilar em
51
uma paciente de 14 anos de idade. O procedimento gerou
uma série de críticas na comunidade científica, e algumas
tentativas posteriores de validação da conduta clínica. Em
1958, Haas defendeu sua tese na Universidade de Illinois,
abordando a abertura da sutura palatina mediana. Em
1961, publicou um estudo, composto por uma fase expe-
rimental em animais e uma parte clínica em humanos, no
qual consolidava a proposta de abertura da sutura palatina
51
mediana.
FIGURA 14-15 Vista oclusal do arco superior mostrando apare- O disjuntor de Haas é um dispositivo mucodentossu-
lho quadri-hélice. portado (Quadro 14-4; Figura 14-18), composto por bandas

a b c

FIGURA 14-16 (a) Adaptação de bandas nos primeiros molares superiores. (b) Transferência das bandas para o molde em alginato. (c)
Vista oclusal do aparelho após soldagem às bandas.

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Para a confecção do aparelho, inicialmente é realizada


a adaptação das bandas nos dentes indicados anterior-
mente, seguida da moldagem e transferência das bandas
para o molde. Dessa forma, ao ser realizado o processo de
deposição do gesso, no modelo de trabalho obtido estarão
presentes as bandas. Em seguida, confecciona-se a estru-
tura metálica com a utilização de fios de aço inoxidável de
0,9 ou 1,0 mm, que serão soldados às bandas; posiciona-
-se, então, o torno expansor e realiza-se a acrilização do
aparelho. Após o processo de acabamento e polimento,
está pronto para utilização clínica.
O protocolo de ativação dependerá de fatores como a
idade do paciente e a magnitude do comprometimento es-
quelético. Para evitar que o paciente engula a chave de ati-
FIGURA 14-17 Aparelho quadri-hélice adaptado aos tubos lin-
vação do aparelho, esta poderá ser amarrada com fio dental
guais dos primeiros molares superiores.
ao pulso do responsável pela ativação diária do dispositivo.
Geralmente, o tempo de ativação do torno expansor
nos primeiros molares e primeiros pré-molares ou molares varia ente 2-6 semanas,25 sendo indicado o acompanha-
decíduos superiores. Fios de aço inoxidável são soldados mento dos resultados semanalmente.51 Espera-se a abertu-
às bandas tanto por vestibular como por palatina, com um ra da sutura palatina mediana, resultando em aumento das
torno expansor inserido e estabilizado em resina acrílica na dimensões transversais do arco dentário maxilar. Além do
porção central do aparelho.51 efeito ortopédico dessa abertura com o uso da expansão
rápida, também está bem documentada a ocorrência de
QUADRO 14-4 Disjuntor palatino de Haas efeitos dentoalveolares, caracterizados pela vestibulariza-
ção dos dentes posteriores.54,55
Indicação: MCP esquelética
O controle do efeito do tratamento deverá ser realizado
Fase: Dentadura decídua, mista ou permanente tanto clínica como radiograficamente. O sinal clínico mais
Conduta clínica: evidente de abertura da sutura palatina mediana é o espaço
Dentadura decídua ou mista precoce – 1/4 a 2/4 de gerado entre os incisivos centrais superiores (Figura 14-19),
volta por dia25 que ocorre, normalmente, a partir da terceira volta completa
Dentadura permanente – 1/4 de volta pela manhã e
do parafuso.54 Radiografias oclusais também são indicadas,
1/4 de volta à noite,51 ou 2/4 pela manhã e 2/4 à noite53
pois permitem a comprovação do efeito ortopédico do dis-

FIGURA 14-18 Vista oclusal de arco su-


perior com disjuntor palatino de Haas.
(a) Disjuntor modificado, sem o fio vesti-
bular; (b) disjuntor modificado, sem ban-
a b
das nos pré-molares.

FIGURA 14-19 Evidência clínica da aber-


tura da sutura palatina mediana (diastema
entre os incisivos centrais superiores). (a)
a b
Vista oclusal; (b) vista frontal.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 175

Em um estudo utilizando tomografias computadoriza-


das, Weissheimer e colaboradores55 compararam os efeitos
dos aparelhos de Haas e Hyrax e observaram que ambos
mostraram resposta esquelética de abertura da sutura pa-
latina mediana, sendo que a curto prazo o efeito ortopédico
do Hyrax foi ligeiramente maior; porém, tal diferença pode
não ser clinicamente significativa.
Ressalte-se que, para o tratamento precoce da má
oclusão de Classe III, torna-se necessária a ERM, indepen-
dentemente da presença ou ausência de atresia maxilar,
pois atua desestabilizando as suturas entre o complexo na-
somaxilar e a base do crânio, proporcionando, também, a
ancoragem para a tração anterior da maxila.59
FIGURA 14-20 Evidência radiográfica de abertura da sutura pa- Quando o paciente que necessita de disjunção da
latina mediana.
maxila apresenta um padrão de crescimento facial predo-
minantemente vertical, é interessante a utilização de um
positivo (Figura 14-20), a partir da observação de uma área aparelho que promova o controle vertical posterior, a fim
radiolúcida na sutura palatina mediana.54 de se evitar o efeito colateral de aumento da altura facial
É indicada a sobrecorreção até que as cúspides lin- anterior, comumente observado quando se faz a expansão
guais dos molares superiores toquem as cúspides vesti- rápida da maxila com um disjuntor bandado.60 Nessas si-
bulares dos molares inferiores.25 Após a última ativação, o tuações, o referido efeito é altamente contraindicado, pois,
parafuso deve ser estabilizado com fio ortodôntico ou resina caso ocorra, piorará o padrão, fazendo com que a face se
acrílica para evitar sua desativação.23 Um período de con- torne mais vertical. Uma alternativa é o emprego do disjun-
tenção de 3-6 meses deve ser estabelecido.25,51,53 tor colado (Figura 14-22),40,61 pois, por apresentar uma
O fechamento do espaço criado entre os incisivos cobertura oclusal posterior em acrílico, promove um efeito
centrais superiores ocorre de forma gradativa e espontâ- de biteblock, fazendo com que haja intrusão dos dentes
nea durante o período de contenção.54 Segundo Mutinelli e posteriores, bem como inibição do crescimento vertical al-
colaboradores,56 a correção transversal, principalmente em veolar posterior.62-64
pacientes jovens, é estável ao se utilizar o disjuntor de Haas. De acordo com McNamara Jr. e Brudon,40 a dimen-
Outro dispositivo de ERM comumente utilizado é o são transversal palatina ideal durante a dentição mista é
Hyrax, que foi idealizado por Biederman em 1968. O Hyrax de 33-35 mm. Assim, um paciente com dimensão redu-
é um dispositivo dentossuportado, já que não apresenta a zida requer o tratamento com disjunção maxilar (Figura
porção em acrílico na parede lateral do palato (Figura 14- 14-23). A disjunção é realizada até que as cúspides pa-
21), e, assim como o disjuntor de Haas, tanto resulta em latinas dos dentes superiores posteriores toquem as cús-
movimento ortopédico de abertura de sutura palatina me- pides vestibulares dos dentes posteriores inferiores. Após
diana, como apresenta efeitos dentoalveolares,57 podendo a completa disjunção, o aparelho é mantido durante 4-5
ser usado em indivíduos das Classes I, II e III esqueléticas meses para reorganização da sutura palatina mediana. Ao
com bons resultados verticais e sagitais.58 final desse período, o disjuntor é removido e é imediata-

FIGURA 14-21 Disjuntor palatino Hyrax. FIGURA 14-22 Disjuntor colado.

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176 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

a b

Largura palatina 29 mm
Adulto – 36-38 mm
D. mista – 34-35 mm

FIGURA 14-23 (a) Largura palatina c d


normal para paciente na dentadura
permanente e mista; (b) atresia ma-
xilar; (c) efeito esquelético e den-
toalveolar do disjuntor colado; (d)
após disjunção, em contenção com
aparelho removível e tendência
de verticalização espontânea dos
dentes. Fonte: Esquema adaptado
do desenho original de McNamara
Jr. e Brudon.40

mente instalado um aparelho removível para manter os AGRADECIMENTOS


resultados obtidos.
Agradecemos aos seguintes professores, que contribuí-
ram com comentários e sugestões para o capítulo: Isabela
CONSIDERAÇÕES FINAIS Almeida Shimizu, Siddhartha Uhrigshardt Silva e Ricarda
Duarte da Silva.
A MCP é uma discrepância transversal comumente obser-
vada em crianças durante a dentadura decídua e mista.
É de extrema importância o correto diagnóstico desta má REFERÊNCIAS
oclusão para que seja interceptada o mais precocemente
1. Ferro F, Spinella P, Lama N. Transverse maxillary arch form and
possível, de modo a permitir o adequado crescimento e de-
mandibular asymmetry in patients with posterior unilateral crossbi-
senvolvimento craniofacial. Dentre os aspectos abordados
te. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2011;140(6):828-38.
neste capítulo, pode-se concluir que: 2. Hesse KL, Artun J, Joondeph DR, Kennedy DB. Changes in con-
dylar position and occlusion associated with maxillary expansion
1. A MCP não se autocorrige; assim, é consenso na litera-
for correction of functional unilateral posterior crossbite. Am J Or-
tura ortodôntica que sua correção deve ser realizada o
thod Dentofacial Orthop. 1997;111(4):410-8.
mais precocemente possível; 3. Silva Filho OG, Silva PRB, Rego MVNN, Capelozza Filho L. Epide-
2. A MCP dentoalveolar poderá ser corrigida com expan- miologia da mordida cruzada posterior na dentadura decídua. J
são lenta. No entanto, a MCP esquelética deverá, pre- Bras Odontopediatr Odontol Bebê. 2003;6(29):61-8.
ferencialmente, ser corrigida com expansão rápida; 4. Locks A, Weissheimer A, Ritter DE, Ribeiro GLU, Menezes LM,
3. Para minimizar a recidiva, os fatores etiológicos da atre- Derech CD, et al. Mordida cruzada posterior: uma classificação
didática. Rev Dent Press Ortodon Ortopedi Facial. 2008;13(2):
sia maxilar devem ser diagnosticados e eliminados;
146-58.
4. Avaliações otorrinolaringológica e fonoaudiológica de- 5. Macena MC, Katz CR, Rosenblatt A. Prevalence of posterior cros-
vem ser realizadas nos pacientes que apresentam atre- sbite and sucking habits in Brazilian children aged 18-59 months.
sia maxilar, melhorando o prognóstico da correção; Eur J Orthod. 2009;31(4):357-61.
5. Nas más oclusões de Classe I esquelética, ou seja, sem 6. Tesch RS, Ursi WJS, Denardin OVP. Bases epidemiológicas para
a presença de discrepância sagital entre a maxila e a análise das más oclusões morfológicas como fatores de risco no
desenvolvimento das desordens temporomandibulares de origem
mandíbula, uma moderada ou severa atresia maxilar
articular. Rev Dent Press Ortodon Ortop Facial. 2004;9(5):41-8.
poderá causar MCP;
7. Almeida ER, Narvai PC, Frazão P, Guedes-Pinto AC. Revised cri-
6. Na presença de más oclusões de Classe II e III esquelé- teria for the assessment and interpretation of occlusal deviations in
ticas, as atresias maxilares se manifestam de maneiras the deciduous dentition: a public health perspective. Cad Saude
distintas, exigindo um diagnóstico diferencial. Publica. 2008;24(4):897-904.

Abrao_cap_14.indd 176 18/10/13 10:58


ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 17 7

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C A P Í T U LO 1 5

Alterações verticais: diagnóstico e


tratamento da mordida aberta e profunda
Matheus Melo Pithon
Telma Martins de Araujo

Atualmente, uma maior ênfase tem sido dada às más Etiologia


oclusões no sentido vertical, além das usuais nos senti-
A sobremordida exagerada pode ser causada por suprao-
dos anteroposterior e transversal. Esse cuidado deve-se
clusão dos incisivos superiores e/ou inferiores, infraoclusão
ao fato de que as discrepâncias no sentido vertical apre-
dos dentes posteriores em um ou ambos os arcos dentá-
sentam uma maior dificuldade de correção, e seus resul-
rios, combinação da infraoclusão dos dentes posteriores e
tados finais são menos estáveis quando comparados aos
supraoclusão dos incisivos, e mais raramente por inclinação
demais.1 Os problemas verticais são caracterizados prin-
lingual excessiva dos molares inferiores.8 A altura do ramo
cipalmente por duas situações: sobremordida exagerada
mandibular, o ângulo interincisal aumentado, o retroposicio-
e mordida aberta.2
namento mandibular, o comprimento dos incisivos superio-
res e inferiores e o desequilíbrio da musculatura facial são
alguns dos fatores mencionados na literatura.4
SOBREMORDIDA EXAGERADA
A sobremordida exagerada representa uma condição na Classificação
qual o trespasse vertical entre a borda dos incisivos supe-
riores e inferiores é excessiva quando a mandíbula é levada A classificação proposta por Baume,9 a mais utilizada e di-
para uma posição de oclusão cêntrica. É considerada como vulgada, divide a sobremordida em três tipos (Figura 15-1):
um fator comprometedor da saúde e da longevidade dos • leve: quando os incisivos centrais inferiores ocluem
dentes, de doença periodontal e de distúrbios da articula- com o terço incisal dos incisivos superiores;
ção temporomandibular (ATM).3,4 • média: quando os incisivos inferiores ocluem com o
A sobremordida exagerada é uma característica co- terço médio dos superiores; e
mum de muitas más oclusões e sua correção é essencial • exagerada: quando os incisivos inferiores ocluem com
para se obterem resultados ortodônticos funcionais e esté- a protuberância do cíngulo dos superiores ou com a
ticos ideais.5-7 gengiva palatina.

a b c
FIGURA 15-1 Sobremordida exagerada: (a) leve, (b) média e (c) exagerada.

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180 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 15-2 Sobremordida


exagerada: (a) dentoalveolar e (b)
a b
esquelética.

A sobremordida exagerada pode também ser classifi- com sobremordida exagerada por problemas anteriores, a
cada, de acordo com a etiologia, em dentoalveolar e esque- exposição dos incisivos pode ser excessiva. Vale ressaltar
letal. As dentoalveolares apresentam grande capacidade de que em pacientes adultos e mais velhos essa exposição
adaptação e compensação associada à erupção dentária; tende a diminuir.12
as esqueletais refletem desarmonias de desenvolvimento
das estruturas ósseas craniofaciais (Figura 15-2). A erupção Modelos ortodônticos e fotografias intrabucais
dentária pode contribuir de forma a agravar problemas de • Altura do processo alveolar: se o problema for na re-
10
natureza fundamentalmente esqueletal. gião posterior, o processo alveolar estará diminuído,
mas aumentado em largura; se o problema for na re-
gião anterior, estará aumentado verticalmente.
Diagnóstico • Curva de Spee: na ausência de trespasse vertical nor-
Para a realização de uma ortodontia com qualidade, o fator mal, a curva de Spee da arcada inferior apresenta-se
que mais influencia nos resultados dos tratamentos é o ple- suave; já em casos de sobremordida exagerada, ocorre
no conhecimento do diagnóstico ortodôntico. Com relação um aumento gradativo de acordo com a severidade. A
à sobremordida exagerada, existem algumas particularida- curva superior pode apresentar-se reversa.
des que devem ser mais bem compreendidas e interpre- • Apinhamento inferior: é comum quando os proble-
tadas durante essa etapa. Para diagnosticar corretamente mas estão localizados na região anterior, porque a
a sobremordida exagerada, faz-se necessária a realização erupção acentuada dos incisivos superiores faz com
de um exame clínico cuidadoso dos modelos de gesso das que pressionem os incisivos inferiores para trás.
arcadas dentárias, das fotografias faciais e intrabucais, e da
radiografia cefalométrica de perfil. Fotografias extrabucais e radiografia cefalométrica
Estes exames são importantes para a avaliação das propor-
Exame clínico ções dos terços faciais. Nas fotografias extrabucais pode-
Nesta etapa do diagnóstico avaliam-se os terços faciais; -se avaliar se os terços superior, médio e inferior estão em
pode-se utilizar uma régua ou compasso de ponta seca equilíbrio:
para quantificar os terços faciais. Vale lembrar que a face
divide-se verticalmente em terços traçando-se linhas pela
linha do cabelo, da glabela, da base do nariz e do tecido
mole do mento (Figura 15-3).
Os terços estão dentro de uma variação entre 55-65
mm, verticalmente. A linha do cabelo é variável e o terço
superior costuma estar em índice baixo. No terço inferior 1/3 superior
geralmente se encontram mais alterações. Por exemplo,
a altura facial reduzida do terço inferior está associada à
sobremordida exagerada por problema posterior – infrao- 1/3 médio
clusão de dentes posteriores; já quando se tem os terços
proporcionais, é bem provável que o problema seja anterior,
com extrusão dos incisivos ou uma combinação de proble- 1/3 inferior
11
mas anteriores e posteriores.
Um outro dado importante a ser avaliado é a exposição
dos incisivos em repouso. De acordo com a literatura, uma
exposição de 1-3 mm é considerada ideal. Em pacientes FIGURA 15-3 Terços faciais.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 181

FIGURA 15-4 Inclinação dos pla-


nos sela-násio, palatal, oclusal e
mandibular. (a) Estado de normali-
dade com discreta divergência en-
tre os planos. (b) Planos tendendo
a paralelo (característico dos casos
com sobremordida exagerada). (c)
a b c Planos com acentuada divergência
(característico dos casos com mor-
dida aberta).

• Superior: do início do couro cabeludo à glabela; Vale ressaltar que, em alguns casos de sobremordida
• Médio: da glabela até a base do nariz; exagerada, o terço inferior da face fica diminuído, alteran-
• Inferior: da base do nariz ao mento (Figura 15-3). do a proporcionalidade entre o terço inferior e a altura total
da face. Para definir se a referida má oclusão é causa-
Na radiografia cefalométrica de perfil pode-se também
da por dentes anteriores, posteriores ou ambos, pode-se
medir os terços faciais, além da inclinação dos planos sela-
utilizar o seguinte procedimento: coloca-se um rolete de
-násio, palatal, oclusal e mandibular.
cera na região dos dentes posteriores e pede-se ao pa-
Nos casos de sobremordida exagerada, esses planos ciente que o morda até obter-se a harmonia facial, ou seja,
tendem a ficar paralelos (Figura 15-4). um aumento do terço inferior da face. Se a sobremordi-
Independentemente do tipo de análise cefalométrica, da desaparecer, é sinal de que a infraoclusão dos dentes
ou dos valores lineares e angulares utilizados, existem três posteriores é a responsável. Entretanto, se a sobremor-
tipos de padrões de crescimento da face: horizontal, nor- dida persistir, significa que também há uma extrusão dos
mal e vertical. No primeiro, observa-se uma diminuição do dentes anteriores.
terço inferior da face e os pacientes apresentam um padrão
braquifacial. No crescimento normal, existe uma proporção
adequada entre os terços faciais e os pacientes apresentam Consequências
um padrão mesofacial. No último, constata-se um aumento Autores como Strang8 afirmam que a sobremordida exage-
do terço inferior da face e os pacientes apresentam um pa- rada talvez seja a condição mais danosa que possa existir
drão dolicofacial. O diagnóstico dessa característica é fun- para a saúde dos tecidos de suporte e para a longevidade
damental, pois determinadas estratégias de tratamento es- dos elementos dentários. Várias são as suas consequências
tão contraindicadas em algumas situações11 (Figura 15-5). na dentição:

FIGURA 15-5 Tipos faciais: (a)


mesocefálico (proporcionalidade
entre os terços faciais); (b) braqui-
cefálico (terço inferior da face di-
minuído); e (c) dolicocefálico (ter-
a b c ço inferior da face aumentado).

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182 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

FIGURA 15-6 Consequências da


sobremordida exagerada por mui-
tos anos: (a) em oclusão; (b) boca
entreaberta (nota-se apinhamento
inferior, contração do arco inferior
a b
e danos periodontais).

• interferências oclusais nos movimentos excursivos Aparelho extrabucal: a utilização do aparelho extrabu-
mandibulares; problemas periodontais; danos à articu- cal está indicada na correção da sobremordida associada
lação temporomandibular; a problemas esqueléticos em indivíduos em crescimen-
• progressivo apinhamento dentário; contração da região to. Quando se pensa na intrusão de dentes anteriores, o
anterior do arco inferior; e redução do terço inferior da aparelho extrabucal de escolha é do tipo J-hoock,19 que,
face (Figura 15-6). associado a uma tração alta, favorece a intrusão de den-
tes anteriores superiores. Em pacientes nos quais o pro-
Tratamento blema está localizado nos dentes posteriores intruídos,
o extrabucal tipo Kloehn favorece a contenção maxi-
Os mecanismos básicos para o tratamento da sobremor- lar e a distalização dos dentes, assim como sua extru-
dida exagerada dependem de onde se localiza o proble- são – favorecendo o giro mandibular no sentido horário
ma gerador. O tratamento pode envolver a intrusão dos (Figura 15-8).20-22
incisivos inferiores e/ou superiores, a extrusão dos molares
superiores e/ou inferiores, a verticalização dos molares in- Modificações no arco ortodôntico: nos casos em que a
feriores e a vestibularização dos incisivos. Para alcançar sobremordida for ocasionada pela extrusão dos incisivos
esses objetivos, podem ser utilizados diversos tipos de superiores, a placa de mordida está contraindicada e a op-
aparelhos e procedimentos que versam desde o uso de ção é a modificação no arco ortodôntico a ser inserido no
placa de mordida, aparelho extrabucal de tração alta e de interior dos bráquetes, podendo ser o arco utilidade, arcos
tração cervical, arcos de intrusão tipo “utilidade”, até a rea- com degraus para cima ou para baixo ou arcos com cur-
lização de cirurgia ortognática – quando há um compro- vas de Spee contrária – estes com o objetivo de propiciar a
metimento esquelético.13-16 intrusão dos incisivos e a extrusão dos dentes posteriores
(Figura 15-9).23-25
Placa de mordida: seus principais efeitos são a intrusão
dos incisivos inferiores, a extrusão dos dentes posteriores, o Cirurgia ortognática: a correção de uma mordida profunda
crescimento do osso alveolar posterior no sentido vertical e esquelética requer a rotação da mandíbula para baixo, au-
o aumento do terço inferior da face (Figura 15-7).17,18 mentando o ângulo do plano mandibular e a altura da face

a b c
FIGURA 15-7 Tratamento da sobremordida exagerada utilizando placa de mordida: (a) inicial; (b) durante o tratamento com a placa
de mordida; e (c) final.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 183

distâncias interlabiais e/ou com sorriso gengival. A conten-


ção é feita através da utilização de uma placa de mordida
com batente passivo durante 24 h por dia por, no mínimo,
um ano; em seguida, o tempo de uso deve ser reduzido até
sua eliminação.

MORDIDA ABERTA
A mordida aberta pode ser definida como a falta localizada
de oclusão enquanto os dentes restantes estão em oclu-
são. É a falha de um ou mais dentes em encontrar os anta-
gonistas no arco oposto.28-30 Consiste no trespasse vertical
negativo entre os dentes antagonistas, podendo manifestar-
a b -se tanto na região anterior como na posterior, ou, mais ra-
ramente, em todo o arco dentário. Na dentadura mista, os
FIGURA 15-8 Aparelhos extrabucais utilizados para a correção da hábitos bucais deletérios são a principal causa da mordida
sobremordida exagerada: (a) extrabucal tipo Kloehn e (b) J-hoock. aberta anterior, que comumente está associada à interpo-
sição da língua ou do lábio inferior31 e ao hábito de sucção
anterior. No entanto, quando do planejamento, devem-se digital. O tipo e a gravidade dessa má oclusão encontram-
avaliar as más oclusões associadas, haja vista que, em um -se na dependência, também, do padrão de crescimento
paciente com dimensões faciais anteriores curtas, rotar a esquelético da criança.32
mandíbula para baixo revelará uma deficiência mandibular
esquelética. Portanto, as técnicas necessárias para lidar
com esse problema devem ser aquelas para a correção da
Etiologia
deficiência mandibular (Figura 15-10).26,27 Para se entender como se desenvolve a mordida aberta,
é importante lembrar que os dentes e os ossos alveolares
estão expostos a forças e pressões antagônicas advindas
Prognóstico principalmente da função muscular, que, em parte, pode
Por ser tratada, na maioria dos casos, com movimentos determinar a posição dentária. O equilíbrio entre lábios, bo-
dentários intrusivos e extrusivos, a sobremordida exage- checha e língua favorece o perfeito posicionamento dentário
rada apresenta um prognóstico duvidoso, principalmente dentro dos ossos maxilares.
quando em pacientes com padrão de crescimento vertical. Com base nessa ideia de equilíbrio, inúmeros fatores
A extrusão dos dentes posteriores nos pacientes braquice- etiológicos ligados à função estão associados ao desenvol-
fálicos é aconselhável, pois poderá melhorar a estética fa- vimento da mordida aberta, como os hábitos de sucção, a
cial, enquanto nos dolicocefálicos tal procedimento tornaria presença de tecidos linfoides hipertróficos, a respiração bu-
suas faces ainda mais longas.3 Se o espaço funcional livre cal, a fonação e a deglutição atípicas, e a postura anterior da
do paciente for de 2-4 mm, que é o normal, a extrusão dos língua em repouso.33-35 A ação desses agentes etiológicos
dentes posteriores comprometerá a estabilidade do caso. A está ligada à quebra do equilíbrio já mencionado. Vale res-
intrusão dos incisivos superiores e inferiores está indicada saltar que nem todos esses fatores etiológicos apresentam
para corrigir a mordida profunda em pacientes com grandes uma relação de causa e efeito absolutamente esclarecida.

a b c

FIGURA 15-9 Alinhamento e nivelamento dentário para correção da sobremordida exagerada (arcos com curva de Spee contrária): (a)
inicial, (b) intermediária e (c) final.

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FIGURA 15-10 Correção da so-


bremordida exagerada com cirurgia
a b
ortognática: (a) inicial e (b) final.

A mordida aberta é mais frequentemente observada em • Mordida aberta total: engloba tanto a região ante-
pacientes em crescimento, o que pode ser explicado pela rior como a posterior (Figura 15-11).
maior prevalência de hábitos deletérios, pelo tamanho dos • Quanto à etiologia:
tecidos linfoides e pelo crescimento incompleto dos maxila- • Mordida aberta dentoalveolar: relacionada a den-
36
res nos pacientes mais jovens. Portanto, a ocasião mais tes e processos alveolares, sem um comprometi-
adequada para o tratamento da mordida aberta anterior se- mento esquelético. Está relacionada aos hábitos;
ria nessa fase, quando os hábitos poderiam ser controlados os pacientes costumam apresentar um bom pa-
34
e removidos com resultados mais favoráveis. drão de crescimento facial;
A falta de tratamento em idade adequada irá acarretar • Mordida aberta esquelética: há um envolvimento
alterações morfológicas de difícil solução na idade adulta, esquelético e não apenas dentário e alveolar. Os
não somente no aspecto estético e funcional, mas principal- pacientes apresentam uma desarmonia no cresci-
mente no quesito estabilidade do tratamento, pela definição mento facial; a resolução desses casos é difícil, po-
34
e maturação de um padrão funcional muscular alterado. dendo, em muitos casos, ser necessário associar a
Menos frequente, o fator etiológico crescimento ósseo cirurgia ortognática (Figura 15-12).
desarmônico favorece a ocorrência de mordidas abertas • Quanto ao grau de severidade:
mais acentuadas, sendo seu tratamento difícil e com prog- • Mordida aberta suave: quando há uma distân-
37,38
nóstico ruim. cia de até 2 mm da borda incisal ou oclusal dos
dentes;
Classificação • Mordida aberta moderada: quando há uma dis-
tância dos bordos incisais e oclusais > 2 mm e
Devido à diversidade de possibilidades clínicas, não existe ≤ 4 mm;
um sistema de classificação que englobe todas as mordi-
• Mordida aberta severa: quando o distanciamento
das abertas. Dessa forma, serão referenciadas três classifi- das bordas incisais e oclusais é > 4 mm (Figura
cações que levam em conta a localização, a origem e o grau
15-13).
de severidade dessas más oclusões.

• Quanto à localização: Diagnóstico


• Mordida aberta anterior: localizada na região ante-
rior dos arcos dentários (caninos e incisivos); Para o diagnóstico da mordida aberta deve-se proceder à
• Mordida aberta posterior: localizada na região pos- realização de exame clínico e à avaliação de fotografias ex-
terior dos arcos (de pré-molares e molares); tra e intrabucais e de radiografia cefalométrica.

a b c
FIGURA 15-11 Classificação da mordida aberta segundo a localização: (a) anterior, (b) posterior e (c) total.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 185

FIGURA 15-12 Classificação da


mordida aberta segundo a etiolo-
gia: (a) dentoalveolar e (b) esque-
a b
lética.

Exame clínico e fotografias extrabucais prejudicando também os fonemas, podendo, ainda, levar
Nesta etapa do diagnóstico avaliam-se os terços faciais: na o indivíduo a situações desagradáveis em seu ambiente
mordida aberta esquelética, o terço inferior da face é geral- social, criando condições psicológicas desfavoráveis, de-
39
mente aumentado; nos casos de envolvimento puramen- vido a um certo grau de desconforto que se apresenta.
te dentoalveolar, esse terço pode apresentar-se normal. A Portanto, esse tipo de má oclusão deve ser corrigido o
exposição dentária e gengival deve ser verificada, uma vez mais precocemente possível, pois quanto mais cedo a
que, quando não há exposição dentária ao sorriso nem em correção, mais simples a terapêutica e melhor seu prog-
repouso, as extrusões dos dentes podem ser implementa- nóstico.40
das a fim de fechar a mordida, melhorando a exposição dos
dentes ao sorrir e em repouso. Tratamento
Modelos ortodônticos e fotografias intrabucais Devido aos seus inúmeros fatores etiológicos, à sua com-
plexidade e à predisposição a recidiva,40 a mordida aberta
Estes elementos são importantes como registro da má oclu-
apresenta diferentes abordagens de tratamento, não exis-
são vertical, para quantificar a severidade do problema, per-
tindo, ainda, consenso a respeito de qual é a melhor. No tra-
mitir a observação da evolução do tratamento e comparar
tamento de uma mordida aberta, é necessário, inicialmen-
com o tratamento finalizado.
te, conhecer suas causas e suprimi-las, para então corrigir
Radiografia cefalométrica e traçados cefalométricos seus efeitos.
Basicamente, os diferentes tipos de tratamento podem
São também importantes para medir os terços faciais, além
incluir:
da inclinação dos planos sela-násio, palatal, oclusal e man-
dibular. Nos casos de mordida aberta com envolvimento es- • Modificação de comportamento para eliminação de
quelético, os planos tendem a ficar divergentes, consideran- hábitos ou funções anormais
do os valores cefalométricos normais propostos (Figura 15-4). Nesta categoria há envolvimento do ortodontista
com a adaptação de dispositivos ortodônticos (placa
com grade, grade fixa, arco lingual com esporão, es-
Consequências porões colados, dentre outros) que impedem a ação da
A mordida aberta acarreta alterações no aspecto estético língua ou dos dedos na quebra do equilíbrio bucal; do
do indivíduo, dificulta a preensão e o corte dos alimentos, psicólogo com ações que visem a orientar a não reali-

a b c

FIGURA 15- 13 Classificação da mordida aberta segundo a severidade: (a) suave, (b) moderada e (c) severa.

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186 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

a b c

FIGURA 15-14 Tratamento da mordida aberta anterior por interposição lingual com utilização de grade palatina fixa: (a) inicial, (b) pós-
-instalação da grade e (c) após seis semanas de uso.

zação de hábitos; do fonoaudiólogo com a readequa- cos intermaxilares (extrusão de dentes anteriores) e
ção da tonicidade dos tecidos, propiciando o correto com auxílio de ancoragem esquelética (mini-implantes
46,47
exercício de suas funções; e do otorrinolaringologista e/ou placas) ou aparelhos extrabucais de tração
para a avaliação das obstruções que porventura exis- alta (quando se desejar intrusão de dentes posterio-
41-44 48
tam, assim como para sua correção. res) (Figura 15-15).
Acredita-se que as atividades voluntárias, como a
deglutição e a fonação, sejam de mais fácil correção Tratamento cirúrgico das bases ósseas
utilizando-se exercícios miofuncionais, enquanto as in- Este tratamento deve ser feito nos casos em que o en-
voluntárias, como o hábito postural da língua, sejam de volvimento é esquelético, impossibilitando que outras
difícil automação, sendo necessária a intervenção orto- condutas possam ser tomadas por extrapolar os limites
dôntica (Figura 15-14).
45
ortodônticos.49
• Movimentação ortodôntica através da extrusão de Não existe consenso quanto ao melhor dispositivo para
dentes anteriores ou intrusão de molares a correção dessa má oclusão. O único consenso que pare-
O tratamento realizado com esses objetivos é fei- ce existir é o de que o tratamento da mordida aberta é difícil
to com aparelho ortodôntico fixo associado a elásti- e de pouca estabilidade (Figura 15-16).

FIGURA 15-15 Tratamento da


mordida aberta anterior através de
extrusão de dentes anteriores: (a)
a b
inicial e (b) final.

FIGURA 15-16 Tratamento orto-


cirúrgico da mordida aberta an-
teroposterior: (a) inicial e (b) final
a b
(pós-cirurgia).

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 187

Prognóstico 16. Millett DT, Cunningham SJ, O’Brien KD, Benson P, Williams A,
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aberta apresenta etiologia multifatorial, a escolha torna-se -Yamamoto T. Comparison of the intrusion effects on the maxillary
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C A P Í T U LO 1 6

Alterações anteroposteriores: diagnóstico e


tratamento preventivo e interceptativo das
más oclusões Classes II e III de Angle
Ademir Roberto Brunetto
Aguinaldo Coelho Farias
Alexandre Moro
Renata Feres
Ricardo Moresca
Simone Requião Thá Rocha

A MÁ OCLUSÃO DE CLASSE III tipicamente côncavo. Também podem estar associados


um ângulo goníaco obtuso e um aumento da altura facial
A má oclusão de Classe III é essencialmente definida, se- anteroinferior.5-7
gundo Angle,1 por uma relação distal da cúspide mesioves- As características dentárias da Classe III também são
tibular do primeiro molar superior permanente em relação específicas e incluem, em grande parte dos casos, mordida
ao sulco mesiovestibular do primeiro molar inferior perma- cruzada anterior, incisivos inferiores com inclinação lingual
nente. Se essa relação molar estiver presente apenas em excessiva e incisivos superiores geralmente inclinados para
um dos lados, o paciente é classificado como Classe III, vestibular. De acordo com essa descrição, é interessante
subdivisão_3 (o lado que apresente esta relação). notar que os incisivos comumente se apresentam em incli-
É uma má oclusão que geralmente representa um de- nações que tentam compensar a discrepância anteroposte-
safio para o ortodontista, devido ao comprometimento da rior entre as bases ósseas maxilar e mandibular. A mordida
estética facial e, principalmente, ao fato de o prognóstico cruzada posterior também pode estar associada em alguns
ser muitas vezes desfavorável, a médio e longo prazo. Esse casos.6,7
prognóstico desfavorável está relacionado à limitação do Funcionalmente, a Classe III gera uma série de insta-
controle do crescimento mandibular, uma vez que as tera- bilidades oclusais, principalmente devido à deficiência nas
pias ortodônticas e ortopédicas disponíveis podem ser pou- guias de oclusão, que pode levar a desgastes dentários
co efetivas.2-4 Outro fator complicador no prognóstico da acentuados, dificuldade na mastigação e sinais e sintomas
Classe III é que os diferentes padrões faciais, como pacien- de disfunção temporomandibular.
tes dólico e braquifaciais, podem gerar respostas distintas Apesar de suas importantes alterações dentoesqueleti-
aos tratamentos comumente empregados.3 cofaciais, a Classe III é a má oclusão menos frequente entre
A estética facial pode ser considerada o motivo prin- as discrepâncias sagitais e sua prevalência pode variar entre
cipal que leva os pacientes com má oclusão de Classe III as diferentes regiões do mundo. Nas populações caucasia-
a procurar tratamento, por ser uma condição socialmente nas, sua prevalência pode variar de 1 a 4%. Já na popula-
limitante, principalmente para as mulheres. Algumas carac- ção asiática, pode atingir proporções na ordem de 4 a 14%
terísticas faciais são peculiares a esta má oclusão, como devido à maior frequência de deficiência maxilar e ao fato de
sulcos nasolabiais acentuados e bem definidos, proemi- esse grupo apresentar um padrão facial mais horizontal.2,3,8
nência zigomática (maçã do rosto) pouco protuberante, as- No Brasil, estima-se uma prevalência de ~ 3%.9,10 As varia-
pecto facial de cansaço, olheiras acentuadas, prognatismo ções entre diferentes estudos, considerando uma mesma
mandibular e diminuição ou ausência do sulco labiomen- população, podem ser devidas a diferenças metodológicas
tual. O conjunto dessas alterações proporciona um perfil e às faixas etárias avaliadas.

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190 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

Etiologia e diagnóstico diferencial leva a uma rotação horária da mandíbula, trazendo-a


para uma posição mais anterior, causando ou agravan-
É interessante notar que a classificação de Angle baseia-se do a má oclusão. Essa deficiência vertical também oca-
apenas na relação oclusal dos primeiros molares permanen- siona uma exposição reduzida dos incisivos superiores
tes no sentido anteroposterior. Portanto, não leva em con- e, consequentemente, aumentada dos inferiores.
sideração outros aspectos importantes, como as relações Ainda como consequência desse erro esquelético
das bases ósseas nos sentidos sagital e vertical. Assim, se- maxilomandibular, pode surgir a mordida cruzada an-
1
gundo Angle, uma Classe III não necessariamente implica terior, e os incisivos podem estar compensados, com
uma discrepância sagital negativa entre as bases ósseas, suas inclinações axiais incorretas (superiores inclinados
podendo ocorrer em padrões faciais equilibrados, sendo, para vestibular e inferiores inclinados para lingual), pro-
nesses casos, uma ocorrência apenas dentoalveolar. curando um contato funcional. Dependendo do grau da
Foi somente com o desenvolvimento do método cefa- hipoplasia maxilar, pode ocorrer mordida cruzada pos-
lométrico, a partir da introdução do cefalostato, em 1931, terior, geralmente bilateral.
que foi possível estudar o padrão esquelético dos pacien- A face apresenta o perfil côncavo típico da Classe
tes com essa má oclusão. Com esse recurso foi possível III, além de algumas características específicas que po-
compreender melhor a participação dos fatores dentários e dem auxiliar na determinação da origem do problema,
esqueléticos que podem estar associados na determinação bem como na melhor opção de tratamento. O exces-
da Classe III, permitindo uma descrição mais detalhada do so mandibular pode ser caracterizado por uma linha
problema e complementando a definição original de Angle. queixo-pescoço aumentada, ausência ou suavização
Surgiram então novas classificações, mais completas do do sulco labiomentual e eversão do lábio inferior. A defi-
ponto de vista etiológico, considerando essas novas infor- ciência maxilar, por sua vez, pode estar associada a um
mações. Uma das mais aceitas até hoje é a classificação aumento do ângulo nasolabial, a uma diminuição das
11
proposta por Moyers, que classificou a Classe III de acor- proeminências zigomáticas (maçãs do rosto), a uma in-
do com três possíveis fatores etiológicos: versão do lábio superior e a um aumento na exposição
1. Origem dentoalveolar: a Classe III é causada exclusi- das escleróticas.
vamente pela má posição dentária associada ao osso Com o tempo, há uma tendência de piora da Clas-
alveolar, sem comprometimento das bases ósseas. Ou se III, pois a mandíbula apresenta uma maior taxa de
seja, não há um erro esquelético, estando as bases ós- crescimento pós-puberal do que a maxila, sendo essa
seas maxilar e mandibular bem relacionadas entre si e diferença ainda maior em pacientes Classe III, o que tor-
com a base anterior do crânio, no sentido anteroposte- na seu prognóstico desfavorável a médio e longo prazo.
rior. A relação molar de Classe III pode ser originada por 3. Origem funcional: a Classe III ocorre quando a man-
movimentos dentários decorrentes de perdas precoces díbula sai da relação cêntrica e assume uma posição
de dentes decíduos, agenesias ou dentes ectópicos, mais anterior ou anterolateral devido a um contato pre-
por exemplo. Como não há uma discrepância sagital, maturo dos dentes (geralmente caninos decíduos). É
a mordida cruzada anterior geralmente está ausente e chamada também de Pseudoclasse III, pois, quando
a face apresenta-se equilibrada, sem o perfil côncavo se elimina o contato prematuro, a mandíbula volta para
que caracteriza a Classe III. sua posição fisiológica, eliminando a relação de Classe
2. Origem esquelética: nesta situação, há uma discrepân- III e normalizando a relação dos dentes anteriores. Em
cia sagital negativa entre a maxila e a mandíbula, estan- alguns casos, a mandíbula pode ter um deslocamen-
to anterior e lateral, podendo surgir, além da mordida
do a mandíbula à frente da maxila em relação à base
cruzada anterior, uma mordida cruzada posterior, que
anterior do crânio. Tradicionalmente, considera-se a
geralmente é unilateral.
Classe III esquelética como um sinônimo de prognatis-
mo mandibular, que também pode ser denominado de Outra situação frequente de interferências oclusais que
Classe III verdadeira. No entanto, a Classe III esqueléti- podem levar a uma Classe III funcional é quando os inci-
ca pode ter diferentes constituições. Pode ser originada sivos superiores irrompem lingualizados e/ou os inferiores
por protrusão mandibular (hiperplasia da mandíbula), vestibularizados, gerando uma guia incisal desfavorável que
retrusão maxilar (hipoplasia da maxila) ou, ainda, uma desloca a mandíbula para uma posição protruída.
associação desses dois fatores. Também é comum quando a Classe III esquelética é
Estudos mais recentes têm revelado que a defi- agravada por uma interferência nos dentes anteriores, es-
ciência anteroposterior da maxila (retrusão maxilar) tem tando associada, portanto, a um fator funcional. Em tais si-
se mostrado como a principal responsável pela origem tuações, é frequente que o paciente tenha em relação cên-
da Classe III, em combinação com vários tamanhos de trica uma relação de topo dos incisivos e, em decorrência
12,13
mandíbula. Além disso, a maxila também pode ter da instabilidade oclusal, a mandíbula desliza para anterior,
uma deficiência de crescimento no sentido vertical, que piorando a Classe III.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 191

Quando existe o componente funcional determinando superiores e inferiores, contribuindo decisivamente para o
ou contribuindo para o surgimento da Classe III, é forte- diagnóstico diferencial da Classe III.
mente recomendado que seja realizada a correta manipu- Outra informação importante que pode ser obtida a
lação mandibular para reconhecer o ponto de prematuri- partir da análise das vértebras cervicais na telerradiografia
dade, bem como o grau de contribuição para a origem do de perfil ou por meio de uma radiografia de mão e punho é
problema. a identificação do estágio do crescimento do paciente. Esse
De acordo com o exposto, as diferentes etiologias da dado pode orientar quanto ao melhor momento de se iniciar
má oclusão de Classe III exigem tratamentos diferenciados, o tratamento.
que serão abordados posteriormente. Por isso, o diagnósti-
co diferencial preciso entre essas situações é um dos pon-
Tratamento
tos fundamentais para o sucesso do tratamento.
O diagnóstico diferencial deve ser realizado a partir da A abordagem terapêutica da Classe III pode variar de acor-
coleta de dados utilizando diferentes fontes de informações. do com a etiologia e também considerando a idade do pa-
A anamnese pode ser direcionada para se conhecer o his- ciente e o estágio do desenvolvimento da dentição.12,14
tórico odontológico e familiar do paciente, por exemplo. As Classes III de origem dentoalveolar e funcional po-
Sabe-se que a Classe III esquelética tem uma correlação dem ser tratadas de maneira simples e com prognóstico
genética bastante evidente. O levantamento das caracte- bastante favorável, uma vez que sua correção depende
rísticas familiares pode fornecer dados importantes para a apenas de uma resposta ortodôntica, não necessitando de
elaboração do prognóstico do caso. controle ortopédico do crescimento facial.
O exame clínico pode revelar informações relevantes Durante a dentição mista podem ser utilizados aparelhos
sobre as características oclusais e funcionais. Fotografias ortodônticos removíveis com molas digitais para promover pe-
padronizadas da face podem auxiliar na identificação das quenos movimentos dos primeiros molares permanentes no
características faciais do paciente. Por meio dos modelos sentido de restabelecer a relação molar de Classe I, geralmen-
de estudo, é possível avaliar as posições dentárias, a forma te perdida por fatores locais como migrações dentárias por
dos arcos e as relações interarcos dentários, além das cha- perdas precoces de dentes decíduos ou ectópicos. Da mes-
ves de molares e caninos. A radiografia panorâmica permite ma forma, as inclinações vestibulolinguais dos incisivos po-
avaliar o padrão de desenvolvimento da dentição. Por fim, dem ser facilmente corrigidas, eliminando eventuais mordidas
o estudo cefalométrico do caso, a partir da telerradiografia cruzadas anteriores. Caso haja a necessidade de expansão
de perfil, vai permitir a determinação da relação maxiloman- do arco dentário superior, devido a uma mordida cruzada pos-
dibular em relação à base anterior do crânio, bem como a terior, por exemplo, parafusos expansores também podem ser
determinação das inclinações vestibulolinguais dos incisivos associados aos aparelhos removíveis (Figuras 16-1 a 16-4).

FIGURA 16-1 Inicialmente o paciente apresentava uma relação molar de Classe III com mordida cruzada do incisivo central superior
esquerdo.

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FIGURA 16-2 A manipulação mandibular revelou uma interferência oclusal devido à lingualização do incisivo central superior esquer-
do com o deslocamento funcional da mandíbula para anterior.

Caso não haja uma colaboração efetiva do paciente no do crescimento mandibular podem ser pouco efetivos e o
uso dos dispositivos removíveis, o ortodontista pode lan- prognóstico, desfavorável a médio e longo prazo.
çar mão de aparelhos ortodônticos fixos empregando as Durante as dentições decídua e mista até o início da
chamadas mecânicas 4 x 2, que utilizam bráquetes e tubos dentição permanente, a utilização de aparelhos ortopédicos
ortodônticos fixados nos incisivos e nos primeiros molares funcionais pode ser uma boa opção.16,17 Esses dispositivos
permanentes, respectivamente, para produzir os movimen- contribuem para a correção da Classe III por uma combi-
tos dentários necessários para a correção da Classe III e/ou nação de efeitos dentoesqueléticos. Os efeitos esperados
de suas decorrências. incluem a liberação do crescimento anterior da maxila e o
Na dentição permanente, o tratamento ortodôntico cor- redirecionamento do crescimento mandibular, aumentando
retivo com aparelhos fixos, associado a recursos auxiliares a altura facial anteroinferior, além da adequação das inclina-
como placa labioativa, elásticos intermaxilares, molas e mi- ções dos dentes anteriores.
ni-implantes, produz resultados eficientes para o tratamento Por serem aparelhos intrabucais, proporcionam uma
da Classe III dentoalveolar e/ou funcional.15 Nesses casos, o vantagem estética em relação aos extrabucais. No entanto,
objetivo do tratamento será restabelecer as características exigem uso intenso (~ 20 h por dia) para produzir os efeitos
de uma oclusão normal. esperados.
O grande desafio para o ortodontista é o tratamento da Em casos de prognatismo mandibular moderado, a
Classe III esquelética, uma vez que os métodos de controle mentoneira com tração occipital pode ser utilizada. Embo-

FIGURA 16-3 O tratamento foi planejado com a utilização de um aparelho ortodôntico removível superior com mola digital para
vestibularização do dente 21, levante de mordida e parafuso expansor.

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FIGURA 16-4 Caso finalizado com adequação da inclinação vestibulolingual do incisivo central superior esquerdo, alinhamento dos
incisivos superiores e correção da Classe III funcional.

ra a capacidade da mentoneira de modificar o crescimento rior da maxila utilizando forças ortopédicas, sendo melhor
mandibular seja controversa, seu uso é melhor indicado em indicado quando uma Classe III por deficiência maxilar for
pacientes jovens na fase final da dentição decídua e início diagnosticada.
da dentição mista. A força ideal é de ~ 450 g, devendo ser Esta terapia necessita de dois dispositivos para sua
utilizada por ~ 14 h diárias. Estudos mais recentes18,19 indi- efetivação: um intraoral, que consiste em um aparelho ci-
cam que a eficácia da mentoneira no controle da Classe III mentado nos dentes posteriores por meio de bandas or-
aumenta quando é utilizada em longo prazo, até o término todônticas, nas quais existem ganchos soldados bilateral-
da curva de crescimento. mente; e outro extraoral, que é a máscara facial. Diferentes
A tração reversa da maxila utilizando máscara facial modelos de máscara facial estão disponíveis, sendo que o
(Figura 16-5) é outra alternativa de tratamento bastante efi- de Petit é um dos mais populares. Este modelo de máscara
ciente que também pode ser aplicada precocemente, ainda facial consiste em uma haste metálica em cuja extremidade
na dentição decídua, até os estágios iniciais da dentição superior há um apoio para a testa e, na extremidade inferior,
permanente.2-4,12-14 Esse método de tratamento tem por adapta-se um apoio para o queixo. Entre as extremidades
propósito principal estimular o crescimento anteroposte- há um suporte intermediário regulável, geralmente ajusta-
do para ficar na altura dos lábios. Elásticos adaptados do
suporte intermediário até os ganchos do aparelho intraoral
produzem a força necessária para a modificação ortopédica
da maxila (Figura 16-6).
A intensidade ideal da força que será exercida na ma-
xila por meio dos elásticos difere entre as diversas pesqui-
sas clínicas disponíveis, podendo variar de 100 até 800
g/força de cada lado. Porém, um protocolo de aplicação
que tem apresentado bons resultados clínicos recomen-
da o início da tração maxilar com 100 g/força, ampliados
gradativamente até 500 g/força de cada lado. O tempo
de uso diário também varia entre os autores; contudo,
quanto maior for, melhor será o resultado. Entretanto, não
se pode esperar que o paciente faça uso do aparelho em
período integral, devido aos seus compromissos sociais.
Por isso, considera-se 14 h diárias uma utilização satisfa-
FIGURA 16-5 Máscara facial de Petit. tória. Geralmente, o tratamento dura em média 8-12 me-

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No entanto, quando se realiza a disjunção maxilar, deve-se


Apoio para controlar os efeitos colaterais dentoalveolares indesejados
a testa para minimizar a rotação horária da mandíbula.
A tração reversa da maxila provoca mudanças signi-
ficativas do ponto de vista estético e funcional. Estetica-
mente, promove um deslocamento anterior e inferior do
Haste de terço médio da face, o que traz uma melhora do perfil
metal facial e da exposição dos incisivos superiores, levando a
uma face mais harmônica. Há também uma melhora nas
Suporte para olheiras e nos sulcos nasolabiais, pelo “preenchimento” do
elásticos terço médio da face e das maçãs do rosto (Figura 16-7).
Funcionalmente, há o descruzamento da mordida ante-
rior, quando esta se encontra cruzada ou no topo (Figura
16-8), além de uma melhora na intercuspidação dos den-
Apoio para
o queixo tes posteriores.
Ainda do ponto de vista funcional, acredita-se que pos-
FIGURA 16-6 Componentes da máscara facial de Petit. sa haver uma melhora respiratória nos pacientes submeti-

ses, sendo por vezes necessário repeti-lo em uma idade


mais avançada, dependendo do crescimento facial do
paciente.
A direção da força aplicada também pode variar e deve
ser ajustada de acordo com os efeitos desejados. Quando
o gancho estiver posicionado na região dos primeiros mo-
lares superiores, ocorre uma maior rotação anti-horária do
plano palatino, havendo também um aumento da altura fa-
cial anteroinferior, abertura da mordida e inclinação dentária a
com extrusão dos molares. Quando se deseja evitar esses
efeitos, aconselha-se posicionar os ganchos na região dos
caninos decíduos, aumentando o deslocamento do com-
plexo nasomaxilar para frente e para baixo e reduzindo a
abertura da mordida. Também para minimizar os efeitos
colaterais, recomenda-se que a direção da força aplicada
seja horizontal e paralela ao plano oclusal, ou suavemente
inclinada para baixo e para frente, entre 20-30o em relação
ao plano oclusal.
b
Os melhores resultados com a máscara facial são al-
cançados em crianças em dentição decídua ou mista ini-
cial, pois as suturas estão menos calcificadas e o paciente
apresenta uma boa quantidade de crescimento durante
esse período. Nesses casos, os segundos molares decí-
duos superiores podem ser utilizados como suporte para
o aparelho intraoral, tanto para a disjunção maxilar como
para a tração reversa. Uma vez erupcionados, os primeiros
molares permanentes superiores podem ser utilizados para
ancorar esses aparelhos. c
Previamente à tração maxilar com a máscara facial, ge-
ralmente é recomendável realizar a disjunção maxilar, que FIGURA 16-7 Fotografias evidenciando os efeitos faciais da
tração reversa da maxila em paciente do sexo feminino. Em (a),
consiste na abertura da sutura palatina mediana que leva
paciente com 6 anos e 10 meses, antes do início do tratamento;
a um afastamento lateral das hemimaxilas. Esse procedi-
em (b), fotografias após a tração, paciente com 8 anos e 4 meses;
mento contribui para o aumento da largura da maxila, nor- em (c), paciente com 17 anos e 11 meses, após a retirada do apare-
malizando eventuais discrepâncias transversais da maxila lho fixo (segunda fase do tratamento ortodôntico). É importante
em relação à mandíbula, e potencializa o efeito da másca- ressaltar que o tratamento não durou 11 anos e 6 meses, apenas
ra facial devido à ruptura do sistema de suturas da maxila. as fotografias foram feitas após esse tempo.

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c
FIGURA 16-8 Fotografias mostrando os efeitos intrabucais da tração reversa na mesma paciente da Figura 16-7. Em (a), fotografias pré-
-tração, com 6 anos e 10 meses; em (b), após a tração com 8 anos e 4 meses; em (c), fotografias finais após remoção do aparelho fixo
com 17 anos e 11 meses.

dos a essa terapia ortodôntica, apesar de ainda não existi- ancoragem esquelética tem possibilitado movimentos den-
rem estudos científicos comprovando essa hipótese. tários mais amplos, permitindo a distalização dos dentes
O uso da máscara facial deve se prolongar até pro- inferiores.
duzir uma sobrecorreção da Classe III – ou seja, até se Discrepâncias esqueléticas mais severas em pacientes
alcançar um trespasse horizontal de ~ 4 mm e uma relação sem potencial de crescimento vão exigir a associação do
de Classe II dos caninos decíduos. Recomenda-se esse tratamento ortodôntico com a cirurgia ortognática da face.
procedimento para prevenir que o crescimento mandibu- Tendo em vista a complexidade do tratamento da Clas-
lar residual, que se estende por mais alguns anos após se III esquelética durante a dentição permanente, a corre-
o término do crescimento maxilar, provoque a recidiva da ção precoce da Classe III reveste-se de grande importância,
Classe III. Outra medida interessante para evitar a recidiva pois pode evitar tratamentos compensatórios ou mesmo
é, após a obtenção da correção desejada, manter o uso uma futura intervenção cirúrgica.
da máscara facial apenas no período noturno por mais al-
guns meses.
Quando se obtém sucesso no controle ortopédico da A MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II
Classe III com a normalização da relação anteroposterior
entre a maxila e a mandíbula, a ortodontia corretiva com os A classificação das más oclusões foi proposta por Angle1
aparelhos fixos que será realizada posteriormente, já com a em 1899; ele definiu a Classe II (distoclusão) como uma re-
dentição permanente bem estabelecida, torna-se mais sim- lação mesiodistal deficiente dos arcos dentários, com to-
ples e previsível. dos os dentes inferiores ocluindo distalmente em relação à
A persistência da discrepância esquelética sagital entre posição normal, produzindo uma desarmonia acentuada na
a maxila e a mandíbula durante os estágios finais da cur- região dos incisivos e nas linhas faciais. Angle1 também di-
va de crescimento pode exigir abordagens diferenciadas. ferenciou as más oclusões de Classe II em divisão 1, na qual
Discrepâncias suaves e moderadas podem ser camufladas os incisivos superiores estão protruídos, e em divisão 2, na
durante a ortodontia corretiva com tratamentos compensa- qual os incisivos superiores estão inclinados para lingual.
tórios ou mesmo extrações dentárias. Mais recentemente, a Por fim, descreveu uma subdivisão de cada uma dessas

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24
divisões, na qual a oclusão distal é unilateral, com o lado em relação aos superiores. Spalding divide a Classe
oposto exibindo relação normal. II dentária em:
O tratamento da má oclusão de Classe II é de gran- • Protrusão dentária superior: problema dentoalveo-
de interesse para o clínico, pois atende à demanda de boa lar que não deve ser confundido com excesso ma-
parte dos pacientes no consultório dentário. Silva Filho e xilar ou protrusão da face média. A diferença é que,
9
colaboradores, ao analisarem a prevalência das más oclu- enquanto no excesso maxilar há uma protrusão de
sões, observaram que a Classe II está presente em 42% da toda a face média, a protrusão dentária afeta ape-
população brasileira. nas os lábios. O trespasse horizontal é excessivo,
A má oclusão de Classe II pode se manifestar preco- podendo haver espaçamento generalizado asso-
cemente, prejudicando não só a estética, mas também ciado aos incisivos superiores protruídos.
algumas funções essenciais, como a mastigação, a de- • Mesialização dos primeiros molares superiores:
20
glutição e a fonação. Segundo Baccetti e colaboradores, pode acontecer na perda prematura dos den-
esta má oclusão pode ser diagnosticada na fase da den- tes posteriores decíduos. A migração mesial dos
tadura decídua, pela presença de um degrau distal nos primeiros molares vai ocorrer se houver perda do
segundos molares decíduos, uma relação de Classe II nos contato proximal mesial com os segundos molares
caninos e um trespasse horizontal acentuado, sendo que decíduos, decorrente de ausência congênita, ex-
seus sinais clínicos podem persistir até a dentadura per- tração, cáries, anquilose. Isso também pode acon-
manente. Além disso, a análise de indivíduos com Clas- tecer nos casos de erupção ectópica do primeiro
se II, desde a fase de dentição mista até a permanente, molar permanente.
mostra que as alterações mais significativas em relação ao • Origem esquelética: essa situação mostra uma dis-
crescimento ocorrem no ângulo de convexidade esquelé- crepância sagital no tamanho ou na posição das bases
tica e facial, acompanhadas por uma tendência à retrusão apicais, e não na má posição dos dentes em relação
mandibular, verificando-se também a manutenção da dis- às bases apicais. A má oclusão esquelética pode es-
crepância esquelética de Classe II. Durante este período, tar associada às más oclusões dentárias. Pode haver
não há uma correção espontânea da má oclusão, e sim também uma compensação dentária, como a protru-
um agravamento no trespasse horizontal, devido a uma são dos incisivos inferiores e a retrusão dos superiores.
retrusão dos incisivos inferiores – ou seja, a Classe II não O arco dentário superior também pode se apresentar
21
se autocorrige. mais estreito do que o normal.
As más oclusões esqueléticas podem ser divididas em:
Etiologia e diagnóstico diferencial
• Deficiência mandibular: a Classe II esquelética pode
A má oclusão de Classe II não é uma entidade única, e isso resultar de uma mandíbula pequena ou retruída em
ficou bem delimitado no estudo de Moyers e colaborado- relação à maxila. Independentemente de a deficiência
22
res, que, em 1980, dividiram uma amostra de 697 pacien- mandibular ser absoluta (por causa do tamanho) ou
tes com má oclusão de Classe II em seis tipos horizontais relativa (devido à posição), a relação dentária antero-
(A, B, C, D, E e F) e cinco verticais (1, 2, 3, 4 e 5). Esse pen- posterior resultante é de Classe II. O paciente portador
23
samento foi corroborado por McNamara, que, em 1981, dessa condição geralmente apresenta uma aparência
realizou um estudo em 277 pacientes com má oclusão de facial caracterizada por um ângulo nasolabial normal,
Classe II, a fim de avaliar a presença e a distribuição de uma protrusão relativa dos dentes anteriores superiores
quatro componentes horizontais e de um vertical, que se- e uma deficiência relativa do mento, causada pelo ta-
riam responsáveis pelas alterações dentoesqueléticas. Ele manho reduzido ou pela posição retraída da mandíbula.
observou que a Classe II pode resultar de numerosas com-
Muitas vezes, o paciente vai apresentar uma ausência
binações dos componentes. A partir dessa amostra, foram
de selamento labial. O trespasse horizontal também
encontradas 77 combinações, ou seja, 77 tipos diferentes
poderá ser grande, principalmente se o lábio inferior fi-
de Classes II.
car atrás dos incisivos superiores, aumentando a sua
De forma geral, a Classe II pode ser classificada em:
protrusão.
• Origem dentoalveolar: embora a maioria das más • Excesso maxilar: o excesso maxilar também pode ser
oclusões de Classe II seja causada por uma discre- a causa da Classe II. Ele pode se apresentar como um
pância ou deformidade esquelética, é possível ter uma desenvolvimento excessivo da dimensão vertical ou sa-
relação esquelética normal associada à má oclusão gital, ou de ambas. No caso de um excesso maxilar
dentária. Nessas condições, os molares superiores se vertical, ele pode ser anterior ou posterior. Em ambas
moveram para frente mais do que o normal durante o as situações, a mandíbula é rotacionada para trás e
desenvolvimento dentário, enquanto os molares infe- para baixo (rotação posterior ou horária), resultando
riores permaneceram em uma posição mais posterior em uma relação esquelética de Classe II. É possível

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também, embora seja menos comum, ter um excesso maxilares, modificando o padrão de aposição óssea nesses
de maxila no sentido anterior, ou seja, uma protrusão locais. Embora essas forças sejam destinadas a restringir o
do terço médio da face. A aparência dessa deformida- crescimento anterior e inferior da maxila, também podem
de pode ser confundida com a protrusão dos dentes inibir a extrusão dos molares superiores e causar sua dis-
superiores. Embora ambas as condições exibam con- talização. Muitas vezes, enquanto o AEB segura a maxila,
vexidade esquelética facial com uma posição antero- a mandíbula continua crescendo e acaba “alcançando” a
posterior normal da mandíbula, o excesso maxilar an- maxila, contribuindo para a correção da Classe II.
teroposterior é caracterizado pela protrusão de toda a Para a instalação da ancoragem extrabucal,29 utilizam-
face média, incluindo o nariz e a área infraorbitária, além -se bandas nos primeiros molares com tubos combinados,
do lábio superior. arco facial pré-fabricado, apoio cérvico-occiptal (Interlandi
• Combinação da deficiência maxilar com excesso ma- Headgear – IHG) ou cervical (Kloehn – KHG) e anéis elás-
xilar: é comum existir uma combinação de deficiência ticos (Figuras 16-10 e 16-11). O KHG caracteriza-se por
mandibular e excesso maxilar, cada qual aumentando utilizar uma tala cervical a partir da qual gera a força para a
a severidade do problema esquelético anteroposterior. tração do braço interno do AEB, e é mais utilizado para pa-
Para diferenciar todas as características esqueléticas cientes com um padrão braqui ou mesofacial. O IHG permi-
que contribuem para o desenvolvimento da Classe II, te um maior controle da direção da força e é mais utilizado
deve-se fazer uma análise facial e uma análise cefalo- em pacientes dolicofaciais.
métrica criteriosa. Além de restringir o crescimento da maxila, o AEB tam-
bém pode distalizar os molares. Vigorito29 demonstrou a efi-
cácia da força extrabucal na recuperação de espaço pela
Tratamento da Classe II distalização dos primeiros molares permanentes, durante a
A abordagem terapêutica da Classe II pode variar de acordo fase de dentição mista. Ele empregou uma força extrabu-
com a etiologia e também considerando a idade do pacien- cal com sentido anteroposterior, direção coincidente com
te e o estágio do desenvolvimento da dentição. o plano oclusal e duração de 12 h por dia, com intensida-
Para a Classe II dentoalveolar, uma possibilidade te- de de 700 g em cada lado. Com essa força, o molar foi
rapêutica consiste na distalização dos molares superiores, distalizado de corpo, com uma ligeira inclinação distal da
principalmente se a Classe II for resultante da mesialização coroa. Os primeiros molares superiores foram distalizados
dos molares superiores. É importante avaliar se o molar veio em ~ 3-4 mm, de cada lado, e os inferiores em ~ 2-3 mm,
para frente por inclinação ou de corpo. Se for por inclina- em ~ 4-8 meses.
ção, pode-se utilizar um aparelho removível com uma mola Uma outra possibilidade terapêutica para restringir o
digital para desinclinar o molar e distalizar a coroa. Se ele crescimento da maxila é a utilização do AEB conjugado30
veio de corpo para frente, para distalizá-lo será necessário (Figura 16-12). Esse aparelho é constituído por uma pla-
utilizar um aparelho mais sofisticado, como algum de an- ca de acrílico com recobrimento oclusal, arco vestibular,
coragem extrabucal (AEB), ou um método de distalização grampos de retenção, parafuso expansor e tubos para a
25
contemporâneo, como o Pêndulo (Figura 16-9) ou o Distal inserção do arco facial. Seus principais efeitos são: restri-
26 27
Jet, ou então lançar mão de mini-implantes. ção do deslocamento anteroposterior da maxila; melhora
Outra possibilidade de tratamento para a Classe II da relação maxilomandibular; inclinação palatina dos incisi-
dentária envolve extrações. Dependendo da severidade da vos superiores; distalização dos molares; mínima influência
Classe II – por exemplo, se é meia Classe II ou Classe II de sobre a posição dos dentes inferiores. O tempo de uso
uma cúspide (completa) –, pode-se avaliar a possibilidade pode variar de 12-18 horas por dia e a força, de 400-700 g
de tratamento com extrações de pré-molares. Quando o de cada lado. Na verdade, o tempo de uso, a força aplica-
paciente apresenta uma protrusão dos dentes inferiores e/ da e a duração do tratamento dependem da fase de cres-
ou apinhamento dos incisivos inferiores, pode-se pensar em cimento em que se encontra o paciente e da colaboração
tratar a Classe II com a exodontia de quatro pré-molares, do mesmo.
dois superiores e dois inferiores. Quando o paciente apre- Nos casos de Classe II que apresentam problemas no
senta uma Classe II completa, prefere-se a exodontia ape- crescimento mandibular, podem-se empregar aparelhos
28
nas dos dois primeiros pré-molares superiores. funcionais para estimulá-lo.
Para o tratamento das Classes II esqueléticas, faz-se Norman Kingsley,31 um influente ortodontista norte-
necessária a alteração ortopédica da maxila e/ou da man- -americano, recebeu o crédito de ter desenvolvido o pri-
díbula. meiro aparelho para posicionar a mandíbula para frente em
Quando se deseja modificar o crescimento da maxila, 1879. No entanto, a maioria dos autores24 considera que
29
pode-se utilizar um aparelho de AEB. Para ter uma força foi Robin32 quem desenvolveu o primeiro aparelho funcional
ortopédica, o AEB deve possuir uma força pesada, em tor- removível na França, em 1902. Apenas três anos mais tar-
no de 700 g de cada lado, a fim de comprimir as suturas de, Herbst,33 em Berlim, introduziu seu propulsor fixo para

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a b c

d e f

g h i

j l m

n o
FIGURA 16-9 Paciente com perda precoce dos segundos molares superiores decíduos e mesialização dos primeiros molares perma-
nentes (a-d). Para a correção da Classe II foi utilizado o aparelho Pêndulo com molas removíveis. Em (e), fotografia oclusal na instalação
do aparelho. Em (f-i), 5 meses após o início da distalização. Após a correção da Classe II, foi instalado um botão de Nance para manter
os molares na posição (j-o) e aguardar a erupção dos dentes permanentes.

avançar a mandíbula. O aparelho funcional mais popular ini- as relações verticais, abrir ou fechar o plano mandibular e
cialmente, o “Ativador”, foi desenvolvido por Andresen,34 na conseguir um bom funcionamento muscular. Quase todos
Dinamarca, em 1908, e depois modificado na Noruega por os aparelhos tentam aumentar o crescimento mandibular.37
seu colega Häulp.35 Uma característica comum entre os vários tipos de apa-
Os aparelhos funcionais têm sido usados36 em casos relhos funcionais que estimulam o crescimento mandibular
de Classe II para aumentar as dimensões dos arcos, alterar é a alteração da posição da mandíbula por sua propulsão.

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FIGURA 16-10 (a) Vista oclusal do


arco interno do AEB entrando no
tubo dos primeiros molares superio-
res. Repare na dobra em baioneta an-
tes da entrada do tubo. (b) Arco facial,
tala cervical e elástico para a instala-
a b
ção do AEB do tipo Kloehn (KHG).

d
FIGURA 16-11 Paciente tratada com o AEB IHG com tração 3/5, 500 g de força, 12 h por dia, durante 14 meses. (a) Vista de perfil no
início, com o AEB e 21 meses após o início. (b) Fotografias intrabucais iniciais. (c) Fotografias intrabucais 14 meses após a instalação do
AEB, e final dessa fase. (d) Fotografias intrabucais 7 meses após o final do AEB, e sem usar aparelho fixo. Houve a troca dos dentes e a
paciente está pronta para iniciar a fase de aparelho fixo para detalhar a oclusão e finalizar o tratamento.

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200 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

a b
FIGURA 16-12 AEB conjugado: (a) vista superior; (b) vista oclusal.

Essa propulsão, por sua vez, altera o crescimento mandibu-


lar e, mais especificamente, o crescimento condilar.
Há várias hipóteses e/ou teorias que tentam explicar
38
o mecanismo de ação dos aparelhos funcionais, como:
hipótese da epífise condilar; hipótese da matriz funcional;
hipótese da descompressão condilar; teoria do servossiste-
ma do crescimento facial. De forma geral, pode-se afirmar
que os aparelhos funcionais removem o côndilo da fossa
mandibular e promovem seu crescimento para cima e para a
trás, ao mesmo tempo em que a fossa mandibular é re-
modelada para frente e para baixo. Além disso, as altera-
ções dentárias também ajudam a corrigir a Classe II. Vários
aparelhos distalizam os molares superiores e mesializam os
inferiores. Alguns também ajudam a diminuir o trespasse
horizontal (overjet), retraindo os incisivos superiores e vesti-
bularizando os inferiores39 (Figuras 16-13 e 16-14).
De acordo com Faltin Jr.,40 a ortopedia maxilar apresen-
ta três grandes campos de ação: ortopedia maxilar mecâni- b
ca; propulsores mandibulares; ortopedia funcional dos ma-
xilares. Para ele, os métodos ortopédico-maxilares devem
ser utilizados principalmente em pacientes ainda em idade
de crescimento.
A principal indicação do aparelho funcional na correção
da Classe II esquelética é a deficiência mandibular. O cres-
cimento da mandíbula pode ser estimulado clinicamente,
porém não em todos os pacientes com Classe II. Os pa-
cientes com melhor resposta são os meso ou braquifaciais
c
com mordida profunda.38
Para a construção do aparelho funcional, de forma FIGURA 16-13 Paciente tratado com o aparelho de Herbst PMA
geral, será necessário realizar moldagens perfeitas dos ar- (Abzil, São José do Rio Preto, SP, Brasil) com Cantilever. (a) Vistas
cos superior e inferior e também a mordida de trabalho ou dos perfis no início, no final da fase de Herbst, e no final do tra-
“construtiva”. Essa mordida é muito importante, pois repre- tamento com aparelho fixo. (b) Vistas frontais no início, no final
senta a posição anterior, vertical e transversa da mandíbula da fase de Herbst, e no final do tratamento com aparelho fixo. (c)
onde o aparelho vai ser construído. Vistas frontais sorrindo no início, no final da fase de Herbst, e no
Com relação à época de tratamento, o melhor momen- final do tratamento com aparelho fixo.
to para a instalação de um aparelho destinado a aumentar
o crescimento da mandíbula é um pouco antes do pico de Atualmente, uma das maiores controvérsias a respeito
crescimento puberal.41 Vários estudos mostram, que se o do uso de aparelhos funcionais é se o ganho promovido por
42
aparelho for colocado no momento adequado, e o pacien- eles persiste a longo prazo. Alguns pesquisadores acredi-
te tiver um bom potencial de crescimento, a mandíbula vai tam que os aparelhos apenas aceleram e/ou antecipam o
crescer mais do que se não estivesse com o aparelho.38 crescimento da mandíbula durante seu uso, e que após a

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 201

e
FIGURA 16-14 Fotografias intrabucais do paciente da Figura 16-13 mostrando os efeitos intrabucais do aparelho de Herbst, que foi
utilizado por 12 meses, seguido do uso do aparelho fixo por mais 18 meses. (a) Fotografias iniciais; (b) após a instalação do aparelho de
Herbst PMA; (c) após a remoção do aparelho de Herbst PMA; (d) com o aparelho fixo na fase de retração anterior superior; (e) no final
do tratamento após a remoção do aparelho fixo.

sua remoção a mandíbula passa a crescer menos, chegan- as décadas de 1960 e 1970.24 Nos anos 1980, já era pos-
do ao mesmo tamanho que chegaria se não tivesse sido sível reposicionar os maxilares ou os segmentos dentoal-
usado o aparelho.43 Essa é a grande questão a ser respon- veolares em todos os três planos do espaço. A adoção da
dida no futuro. fixação interna rígida, na década de 1980, foi um progresso
Nos indivíduos que já completaram seu crescimento, e adicional no controle e na estabilidade do tratamento com
cuja desarmonia esquelética é tão grande que a magnitu- cirurgia ortognática. Em termos de más oclusões esquelé-
de do movimento dentário (retração superior ou protrusão ticas de Classe II, as opções de tratamento cirúrgico são
inferior) necessário para eliminar o trespasse horizontal é pelo menos tão abundantes quanto as causas estruturais
muito grande para permitir um resultado estável ou estético dos problemas. Essas opções podem ser convenientemen-
(facial), uma possível solução seria a cirurgia ortognática as- te divididas em cinco categorias: avanço mandibular; avan-
sociada ao tratamento ortodôntico. ço subapical mandibular total; impacção maxilar; retrusão
Originalmente desenvolvidas na Europa, as técnicas ci- subapical maxilar anterior; ou uma cirurgia combinada que
rúrgicas foram aperfeiçoadas nos Estados Unidos durante inclua a maxila e a mandíbula.

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202 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

O planejamento do tratamento ortodôntico cirúrgico 12. Macdonald KE, Kapust AJ, Turley PK. Cephalometric changes after
das más oclusões de Classe II deve ser realizado em con- the correction of class III malocclusion with maxillary expansion/face-
mask therapy. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1999;116(1):13-24.
junto pelo ortodontista e pelo cirurgião bucomaxilofacial.
13. Westwood PV, McNamara JA Jr, Baccetti T, Franchi L, Sarver DM.
Após o planejamento, o paciente é encaminhado para o
Long-term effects of Class III treatment with rapid maxillary expan-
ortodontista para a instalação da aparelhagem fixa e a rea- sion and facemask therapy followed by fixed appliances. Am J Or-
lização do preparo ortodôntico pré-cirúrgico. Nessa fase, thod Dentofacial Orthop. 2003;123(3):306-20.
normalmente faz-se a descompensação da posição dos 14. Yavuz I, Halicioǧlu K, Ceylan I. Face mask therapy effects in two
incisivos superiores e inferiores, ou seja, eles são colocados skeletal maturation groups of female subjects with skeletal Class III
numa posição correta na base óssea. Por exemplo, se os malocclusions. Angle Orthod. 2009;79(5):842-8.
15. Araújo EA, Araújo CV. Abordagem clínica não-cirúrgica no trata-
incisivos inferiores estão vestibularizados, eles serão lingua-
mento da maloclusão de Classe III. Rev Dent Press Ortodon Ortop
lizados e/ou retruídos. Algumas vezes, são necessárias ex- Facial. 2008;13(8):128-57.
trações de pré-molares para realizar essas correções antes 16. Baccetti T, Tollaro I. A retrospective comparison of functional ap-
da cirurgia. Outro fator a ser considerado é se o arco supe- pliance treatment of Class III malocclusions in the deciduous and
rior é atrésico. Se for, será necessário realizar a expansão da mixed dentitions. Eur J Orthod. 1998;20(3):309-17.
maxila, antes ou durante a cirurgia para a correção da Clas- 17. Baik HS, Jee SH, Lee KJ, Oh TK. Treatment effects of Fränkel func-
se II. Uma vez pronto o preparo ortodôntico para a cirurgia, tional regulator III in children with Class III malocclusions. Am J Or-
thod Dentofacial Orthop. 2004;125(3):294-301.
o cirurgião fará um novo estudo. Os modelos do paciente
18. Abdelnaby YL, Nassar EA. Chin cup effects using two different
serão montados em um articulador e a cirurgia pode ser si- force magnitudes in the management of Class III malocclusions.
mulada, visando à confecção de um splint ou guia cirúrgico Angle Orthod. 2010;80(5):957-62.
em resina acrílica que será utilizado para auxiliar a reposi- 19. Deguchi T, Kuroda T, Minoshima Y, Graber TM. Craniofacial featu-
44
cionar a maxila e a mandíbula durante a cirurgia. Após a res of patients with Class III abnormalities: growth-related changes
cirurgia, retoma-se o tratamento ortodôntico para finalizar o and effects of short-term and long-term chincup therapy. Am J Or-
thod Dentofacial Orthop. 2002;121(1):84-92.
detalhamento da oclusão.
20. Baccetti T, Franchi L, McNamara JA Jr, Tollaro I. Early dentofa-
cial features of Class II malocclusion: a longitudinal study from the
deciduous through the mixed dentition. Am J Orthod Dentofacial
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xillary expansion and facial mask therapy. Am J Orthod Dentofacial 25. Almeida RR, Almeida MR, Fuziy A, Henriques JFC. Modificação do
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te I: relação sagital. Rev Odontol Univ São Paulo. 1990;4(2):130-7. da má oclusão de Classe II de Angle, 1ª Divisão, utilizando o AEB
10. Góis EG, Vale MP, Paiva SM, Abreu MH, Serra-Negra JM, Pordeus conjugado (Splint Maxilar Modificado): apresentação de um caso
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11. Moyers RE. Ortodontia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 32. Robin P. Obervation sur un novel appareil de redressement. Rev
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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 203

33. Herbst E. Atlas y tratado de ortodoncia. Madrid: Libreria Academi- 40. Faltin Jr K. Ortopedia funcional dos maxilares. In: Petrelli E. Orto-
ca; 1912. dontia contemporânea. 2. ed. São Paulo: Sarvier; 1993. p. 215-
34. Andresen V. Beitrag zur retention. Z Zahnärtzl Orthop. 1910;3:121-5. 52.
35. Andresen V, Häupl K. Funktions-kieferorthopädie: Die Grundlagen 41. Hägg U, Pancherz H. Dentofacial orthopaedics in relation to
d. “Norweg. Systems”. 2. ed. Leipzig: Meusser; 1939. chronological age, growth period and skeletal development. An
36. Graber TM. Epilogue: the state of the art and science for the mid- analysis of 72 male patients with Class II division 1 malocclusion
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37. Johnston Jr LE. The curious case of the chimerical condyle. In: 42. Lai M, McNamara JA Jr. An evaluation of two-phase treatment with
Graber TM, editor. Physiologic principles of fuctional appliances. the Herbst appliance and preadjusted edgewise therapy. Semin
Saint Louis: Mosby; 1985. Orthod. 1998;4(1):46-58.
38. Moro A, Urias D. Crescimento condilar: alterações frente à propul- 43. Johnston LE Jr. Functional appliances: a mortgage on mandibular
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39. Moro A, Janson G, Freitas MR, Henriques JFC, Petrelli NE, Lauris 44. Sant’Ana E, Janson M. Ortodontia e cirurgia ortognática – do pla-
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C A P Í T U LO 1 7

Noções básicas sobre ortodontia corretiva


Ary Santos-Pinto
Dirceu Barnabé Raveli
Luiz G. Gandini Jr.
Lídia Parsekian Martins

DEFINIÇÃO Em termos gerais, ortodontia é a especialidade da


odontologia que se interessa pelos vários aspectos do
Etimologicamente, a palavra ortodontia procede do termo crescimento craniofacial e do desenvolvimento da oclusão
orthodontosie, introduzido pelo francês Joachim Lefoulon dentária envolvidos na busca da preservação da harmonia
em 1841, derivado dos vocábulos gregos orthos (correto) e da funcionalidade das partes envolvidas, bem como pelo
e odontos (dentes), tendo sido modificada, em 1849, por diagnóstico e tratamento de possíveis alterações da norma-
Chapin Harris para orthodontia, que traduz seu propósito de lidade que venham a comprometer o equilíbrio da face e a
alinhar as irregularidades das posições dentárias. eficiência do aparelho mastigatório.
A ortodontia tem como objetivo estudar, prevenir, inter- A maior responsabilidade da prática ortodôntica inclui
ceptar e curar as anomalias das posições dentárias e suas o diagnóstico, a prevenção e a interceptação, além do tra-
relações maxilomandibulares, visando a manter ou restaurar tamento de todas as formas de más oclusões dos dentes
as funções normais do sistema estomatognático. e alterações associadas nas estruturas que os circundam.
A Associação Americana de Ortodontia define a orto- O objetivo do tratamento ortodôntico é prevenir e me-
dontia ou ortopedia dentofacial como o ramo da odontolo- lhorar a oclusão funcional para que a função mastigatória
gia que se preocupa com a supervisão, a guia e a correção normal seja estabelecida de forma ampla e eficaz, promo-
das estruturas dentofaciais em crescimento ou maduras. Tal vendo os estímulos fisiológicos necessários para o desen-
definição inclui condições que requerem movimentação dos volvimento normal do sistema estomatognático e de seus
dentes ou correção da má relação ou malformação das es- componentes estruturais.
truturas correlatas por ajustes nas relações entre os dentes Assim, a ortodontia é uma especialidade fundamentada
e os ossos faciais pela aplicação de forças, pela estimu- por uma orientação terapêutica que pressupõe o desenho, a
lação ou pelo redirecionamento das forças funcionais do aplicação e o controle dos aparelhos funcionais e corretivos,
complexo craniofacial.1 guiando o desenvolvimento da dentição e das estruturas de
O Conselho Federal de Odontologia2 define a ortodon- suporte, buscando a obtenção e a manutenção de uma óti-
tia como a especialidade que tem por objetivo a prevenção, ma relação fisiológica e a harmonia estética entre as estrutu-
a supervisão e a orientação do desenvolvimento do apare- ras faciais e esqueléticas, corrigindo os eventuais desvios do
lho mastigatório e a correção das anomalias das estruturas desenvolvimento da oclusão por meio de aparatos mecâni-
dentofaciais, incluindo as condições que requeiram a movi- cos que atuam sobre a dentição e seu meio ambiente.
mentação dentária, bem como a harmonização da face no
complexo maxilomandibular. Em 1997, passa a ser denomi-
nada ortodontia e ortopedia facial.
O tratamento ortodôntico corretivo
O termo ortodontia e ortopedia dentofacial foi adotado Segundo Vig,3 o tratamento ortodôntico corretivo parte da
pela Associação Dentária Americana (ADA) em 2003, após premissa de que uma sequência lógica de procedimentos,
esforços de Thomas Graber, editor da revista American durante os quais decisões racionais devem ser tomadas,
Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, que determinará o processo e o resultado da correção dos pro-
adotou esta nomina em 1985, após revisão do título ante- blemas levantados pelo paciente (queixas) e pelo clínico
rior, American Journal of Orthodontics. (diagnóstico).

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206 AB R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

Essa sequência de procedimentos começa pelo pro- O diagnóstico ortodôntico deve considerar:
cesso de diagnóstico, no qual informações detalhadas das
1. Características morfológicas e estéticas faciais: o pa-
relações dentárias, esqueléticas e funcionais são coletadas.
drão morfológico facial inclui a tendência rotacional da
No processo de diagnóstico, informações gerais sobre a
face, podendo ser: dolicofacial, apresentando rotação
saúde geral e das estruturas dentofaciais são acrescenta-
posterior com predomínio do crescimento vertical sobre
das, e aspectos relevantes tanto para o profissional quanto
o transversal; mesofacial, com crescimento proporcio-
para o paciente (p. ex., estéticos, sociais e econômicos) de-
nal vertical e transversal; ou braquifacial, com rotação
vem ser considerados.
anterior e predomínio do crescimento transversal sobre
Com base em uma lista de problemas elencados no
o vertical. Como uma característica estética, o padrão
processo de diagnóstico, decisões de tratamento são fei-
facial inclui o grau de convexidade facial.
tas considerando as opções disponíveis. Nessas opções de
2. Discrepância dentária basal anterior (cefalométrica):
tratamento devem ser consideradas a eficiência e a efetivi-
refere-se ao posicionamento dos dentes anteriores em
dade dos procedimentos que serão adotados no proces-
relação à sua respectiva base óssea. Parte-se da pre-
so de correção, identificando os riscos, os benefícios e os
missa de que os dentes anteriores inferiores devem es-
custos de sua implementação. Em um processo de decisão
tar posicionados verticalmente em relação à sua base
informada, o plano de tratamento é assim definido, em co-
óssea com pequena variação (90º, segundo Tweed),
mum acordo com o paciente.
de acordo com o padrão morfológico (+5º nos padrões
Um profundo conhecimento dos processos e dos me-
braquifaciais e –5º nos padrões dolicofaciais). Dentes
canismos de crescimento, assim como a habilidade de
diagnosticar a discrepância entre as bases ósseas e o perfil inclinados para vestibular ou protruídos apresentam
facial, constitui o fundamento sobre o qual se estabelece o uma discrepância negativa, e dentes inclinados para
plano de tratamento. lingual ou retruídos apresentam uma discrepância po-
As decisões que são realizadas no início do tratamento sitiva. Com relação aos dentes superiores, estes devem
irão determinar os objetivos que devem ser alcançados. O apresentar uma inclinação de 75º em relação ao plano
resultado final dependerá da habilidade do ortodontista em palatino (1/plano palatino).
escolher a conduta mais apropriada para cada caso. Assim, 3. Discrepância dentoalveolar: refere-se à diferença exis-
alguns aspectos fundamentais devem ser considerados, tente entre o volume dentário e o volume ósseo alveo-
como a escolha entre expansão sagital ou transversal, ex- lar. Vários métodos estão disponíveis para a análise da
tração ou não extração, uma ou duas fases de tratamento, discrepância dentoalveolar em diferentes fases do de-
permitir o deslocamento dentário natural ou iniciar um trata- senvolvimento da oclusão (dentadura decídua, mista e
mento ostensivo utilizando aparelhos fixos. permanente). É denominada também de discrepância
de arco ou de modelo, uma vez que os modelos de
estudo ortodônticos podem ser utilizados para sua ava-
liação.
O DIAGNÓSTICO ORTODÔNTICO
4. Discrepância dentária: refere-se à diferença do tama-
Segundo Thurow,4 a seleção da forma de tratamento (tera- nho dentário de um dente ou grupo de dentes em rela-
pêutica) mais adequada para cada situação (diagnóstico) é ção a seu homólogo ou aos demais grupos de dentes.
uma parte essencial da prática ortodôntica contemporânea. É denominada de discrepância de Bolton, em home-

Queixa do
paciente

DECISÃO DE
TRATAMENTO
Aparência e
Necessidades necessidades
funcionais psicossociais
FIGURA 17-1 Processo de decisão de trata- Riscos e benefícios
mento na clínica ortodôntica resultante da do tratamento
interação entre as necessidades estéticas,
funcionais e psicossociais do paciente e o
diagnóstico das alterações feito pelo profis- Exame clínico
sional, considerando os riscos e benefícios do (Diagnóstico)
tratamento. Fonte: Adaptada de Ackerman.1

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 207

Atualmente, o processo de diagnóstico está amparado


Exame do paciente em quatro dimensões
na análise do que se convencionou chamar de “documen-
(sagital, vertical, transversal e maturidade)
tação ortodôntica”. Essa documentação é composta por:

• Fotografias extrabucais (faciais) de frente e perfil em si-


Diagnóstico orientado por problema tuação de repouso do tecido tegumentar e sorrindo
Classificação da má oclusão
• Fotografias intrabucais da relação dos arcos dentários
anteriores, das laterais direita e esquerda e da oclusal
dos arcos superior e inferior
Lista de problemas • Radiografia panorâmica
• Radiografias periapicais completas (principalmente em
pacientes adultos)
Possibilidades terapêuticas • Telerradiografia cefalométrica lateral e posteroanterior
(em casos de discrepância transversal ou assimetrias)
• Radiografias de mão e punho
• Modelos de estudo
Síntese do plano de tratamento
A essa documentação são acrescidos os dados obti-
dos em questionários sobre o histórico familiar e pessoal,
as condições de saúde geral, as características físicas
Tratamento (peso, altura e padrão facial) e os dados do exame clínico
(biomecânica ortodôntica) e funcional.

Época ideal para o tratamento


Estratégia ou plano de contenção
ortodôntico corretivo
FIGURA 17-2 Escopo do tratamento ortodôntico contemporâ- O ortodontista deve ter conhecimento profundo dos aspec-
neo. Fonte: Adaptada de Ackerman.1 tos biológicos e mecânicos envolvidos na utilização dos di-
versos tipos de aparelhos, destreza manual, sensibilidade
para detectar os desvios da normalidade e habilidade para
nagem ao responsável pela elaboração do método de traçar metas e definir formas de atuação. Deve ter, ainda,
avaliação da discrepância dentária. flexibilidade na forma de atuação, isto é, deve ser capaz
5. Discrepância transversal: refere-se ao posicionamen- de encontrar alternativas e soluções similares na condução
to dos dentes posteriores em relação à sua respectiva do tratamento da má oclusão, aliando perseverança e um
base óssea. Parte-se da premissa de que os dentes grande poder de persuasão para que suas instruções sejam
posteriores inferiores devem estar posicionados verti- seguidas pelo paciente.
calmente em relação à sua base óssea. A dimensão As displasias ósseas ou esqueléticas têm sua fase ideal
transversal inferior define-se com o estabelecimento de correção coordenada com o surto de crescimento pu-
da dentadura decídua e a erupção do primeiro molar. bertário, quando a possibilidade de influência sobre o cres-
Fatores ambientais e funcionais podem influenciar no cimento ósseo é maior devido à aceleração dos processos
posicionamento dos dentes posteriores. Dentes in- biológicos promovida pelos hormônios sexuais. As altera-
clinados ou posicionados para lingual em relação ao ções dentoalveolares, por sua vez, podem ser adequada-
osso alveolar basal podem ser verticalizados de forma mente tratadas na fase de dentadura permanente jovem,
estável quando são removidos os fatores ambientais quando estão presentes todos os dentes permanentes até
e funcionais de interferência. Com relação aos dentes os primeiros ou segundos molares. A coincidência do surto
posteriores superiores, considera-se a possibilidade de de crescimento pubertário com a fase de dentadura perma-
expansão ativa do arco superior por meio da disjunção nente jovem faz esta fase ser especialmente adequada para
da sutura palatina mediana em indivíduos em cresci- a execução do tratamento ortodôntico corretivo.
mento ativo ou adultos jovens.
6. Estágios de maturação óssea e dentária: referem-se ao Plano de tratamento
potencial de crescimento e à possibilidade de influência Não existe uma “receita” pronta de plano de tratamento, de-
do tratamento ortodôntico nas estruturas esqueléticas vido à grande variabilidade de problemas que os pacientes
que estão em processo de crescimento e maturação e podem apresentar; por isso, o ponto de partida deve ser
do estágio de desenvolvimento da oclusão em que se sempre a identificação desses problemas antes da escolha
encontra o paciente dos dispositivos a serem utilizados.

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cm/ano
10
Sexo
9 Feminino
Masculino
8

3
1a INFÂNCIA 2a INFÂNCIA ADOLESCÊNCIA ADULTA
2

1
FIGURA 17-3 Estágios do desenvolvi- Dentadura decídua Dentadura mista Dentadura permanente
mento dentofacial e sua relação com 0
a velocidade de crescimento estatural 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
segundo o sexo. Fonte: Björk e Helm.5 IDADE

A visualização dos movimentos dentários necessários 3. Estimar o espaço requerido para os requisitos de ancora-
para a correção de uma anormalidade da oclusão consiste gem (efeito recíproco de resistência à força aplicada para
em seis passos básicos: a realização de um determinado movimento dentário)
(a) Ancoragem dentoalveolar (utilização de apoio den-
1. Determinar a posição do incisivo inferior (inclinação)
tário ou alveolar como ponto de suporte do ele-
2. Avaliar a posição e o relacionamento dos caninos infe-
mento ativo responsável por gerar o sistema de
riores
força necessário para o movimento dentário)
3. Avaliar a posição e o relacionamento dos molares infe-
(b) Ancoragem esquelética (utilização de dispositivos
riores
de ancoragem temporários afixados nas estrutu-
4. Determinar a posição do segmento dos incisivos supe-
ras ósseas, tais como microparafusos, miniplacas
riores
e implantes ósseos integrados)
5. Avaliar a posição e o relacionamento dos caninos supe-
(c) Ancoragem muscular (remoção ou utilização das
riores
forças musculares, tais como pressão dos lábios,
6. Avaliar a posição e o relacionamento dos molares supe-
língua e bochecha ou modificação da atividade
riores
dos músculos mastigatórios pela propulsão man-
Para a determinação da posição do incisivo inferior, é dibular ou exercícios de mastigação)
necessário:
1. Estimar as necessidades de espaço
(a) Espaço para o alinhamento dos dentes inferiores O TRATAMENTO ORTODÔNTICO
(b) Espaço para a correção da inclinação dos incisivos
O tratamento é iniciado visando à correção dos problemas
inferiores em relação à sua base óssea (proclina-
transversais (mordidas cruzadas posteriores) e ao nivelamen-
ção ou retroclinação de incisivos)
to e alinhamento intrassegmentos. Quando necessário, é
(c) Espaço necessário para a correção da desarmonia
realizado na sequência o nivelamento entre os segmentos e,
facial
quando extrações dentárias forem necessárias, segue-se o
(d) Espaço necessário para o nivelamento do plano
fechamento de espaços. Após essas fases é realizada a fina-
oclusal inferior
lização com arcos contínuos e a contenção dos resultados.
2. Estimar a dimensão transversal dos arcos dentários e o
Fases do tratamento ortodôntico:
efeito de sua modificação (expansão do arco resultan-
do em espaço adicional para os dentes permanentes e 1. Diagnóstico e definição do plano de tratamento
contração de arco em diminuição na oferta de espaço 2. Montagem do aparelho ortodôntico
para esses dentes) 3. Nivelamento e alinhamento intra-arcos

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 209

Aparelhos removíveis e
ortopédicos funcionais

Aparelhos
ortopédicos fixos
Arcos linguais e
botão palatino

Aparelhos
expansores fixos

Aparelhos extrabucais

Placas labioativas

Aparelhos fixos
parciais 2 x 4
Aparelhos fixos
completos
Decídua Mista
1° período Período 2° período Permanente
Dentadura Jovem Madura transicional inter- transicional Jovem Madura
transicional

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

FIGURA 17-4 Faixa etária e fase do desenvolvimento da dentição ideais para a aplicação dos diversos tipos de tratamento ortodôn-
tico ou ortopédico funcionais. Fonte: Arquivo pessoal.

4. Correção interarcos base dentária não pode ser alargada ou aumentada em seu
(a) Transversal comprimento de forma significativa; o movimento dentário
(b) Vertical está confinado aos limites do osso alveolar e à sua respecti-
(c) Sagital va base óssea; os dentes podem ser movimentados dentro
5. Fechamento dos espaços remanescentes do processo alveolar por uma distância considerável quan-
6. Intercuspidação dentária do forças adequadas são aplicadas. No caso de falta de es-
7. Finalização paço para o posicionamento adequado de todos os dentes
8. Remoção do aparelho no arco dentário ou na presença de apinhamentos, dentes
9. Contenção impactados ou com erupção ectópica, pode ser necessária
A escolha do tratamento mais adequado para cada a extração de dentes permanentes para se obter o correto
caso deve estar amparada em resultados de trabalhos clíni- alinhamento dos dentes remanescentes.
4
cos sistematizados e randomizados. Esses resultados são Segundo Thurow, a terapia ortodôntica constitui um
considerados evidências científicas que, quando disponí- processo ortopédico dentofacial que é alcançado por mo-
veis, devem nortear a prática ortodôntica.
3 dificações estruturais e funcionais da complexa matriz den-
Questões relacionadas ao processo de tomada de toalveolar e esquelética pela ação da energia mecânica
decisões terapêuticas (avaliação de benefícios, custos, ris- que é parte da existência das estruturas faciais. O estresse
cos e responsabilidades), necessidade de novas ferramen- mecânico induzido pela função normal ou por mudanças
tas de diagnóstico e trabalho (como informática), formação na atividade funcional do sistema estomatognático e aque-
de uma nova base de conhecimentos, maior importância le decorrente da aplicação de forças durante o tratamento
para uma prática baseada em evidências científicas e pro- ortodôntico influenciam o crescimento, o desenvolvimento
cedimentos minimante invasivos, além do entendimento do e a função do complexo dentofacial em seu processo de
indivíduo como um todo, serão cada vez mais importantes maturação e manutenção como elemento estruturado. A
na formação dos profissionais que irão atuar na área da natureza multifuncional da face é única em sua diversidade
3
ortodontia. e no modo como estão combinadas as várias funções que
Algumas premissas básicas são consideradas nesse são aí desenvolvidas.
6
processo de decisão: os ossos não podem ser expandi- Segundo Proffit, o tratamento ortodôntico baseia-se
dos ou ter seu crescimento estimulado de forma ilimitada; a no princípio de que uma pressão prolongada aplicada a

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210 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

Adaptação do
sistema
estomatognático

Complexo
Mandíbula
nasomaxilar Tecidos
reativos

Articulação
Ligamento Processo Sutura
temporo-
FIGURA 17-5 Adaptação do sistema estomatognáti- periodontal alveolar palatina
mandibular
co. Fonte: Adaptada de Roberts e Hartsfield Jr.7

um dente promoverá um movimento dentário à medida que diretamente à sua superfície, através dos quais são transmi-
reações teciduais ocorrem no ligamento periodontal e no tidas as forças geradas pelos fios, elásticos ou molas a eles
osso alveolar que circunda o dente. Ocorre uma remodela- fixados, e que realizam os movimentos dentários necessá-
ção óssea ao redor do dente, caracterizada pela remoção rios para a correção das anomalias dentofaciais.
seletiva de osso nas áreas de compressão e pela formação O controle da posição dentária é obtido nos três planos
de osso nas áreas de distensão das fibras periodontais. As do espaço, de forma que os dentes podem ser movimenta-
forças aplicadas aos dentes podem afetar o padrão de apo- dos por translação, inclinação controlada ou correção radi-
sição e reabsorção óssea de áreas reativas distantes dos cular, ainda que movimentos de rotação, intrusão e extrusão
dentes, as suturas maxilares e as superfícies ósseas de am- dentária sejam possíveis.
bos os lados da articulação temporomandibular. Anomalias O deslocamento e a rotação de múltiplos dentes são
no processo de remodelação podem ocorrer como resulta- adequadamente realizados pelos aparelhos fixos – tão
do de algumas doenças que afetam direta ou indiretamente bem quanto movimentos individuais de dentes ou de gru-
o sistema estomatognático, como a periodontite, a artrite e pos de dentes em uma mesma direção ou em direções
a ostoclasia tumoral induzida. opostas, ao mesmo tempo e nos três planos do espaço.
Segundo Roberts e Hartsfield,7 a ortodontia e ortopedia A vantagem dos aparelhos fixos recai neste controle tridi-
facial promove uma adaptação do sistema estomatognático mensional dos dentes, que produz movimentos precisos,
que envolve uma limitada reação das bases ósseas (maxila impossíveis de serem executados com aparelhos removí-
e mandíbula) e uma grande resposta tecidual do ligamento veis e funcionais. Os aparelhos fixos podem realizar movi-
periodontal, do processo alveolar, das suturas maxilares e mentos complexos, como fechamento de espaços, retra-
da articulação temporomandibular. ção dos dentes anteriores ou movimentação dos dentes
O objetivo do tratamento ortodôntico corretivo, em li- posteriores mantendo sua posição vertical ou inclinação
nhas gerais, é o estabelecimento de uma oclusão normal em relação ao osso alveolar e sua respectiva base óssea
contemplando o(a): (maxilar e mandibular).

1. Estabelecimento de funções adequadas Técnica: conjunto de procedimentos padronizados e se-


2. Estética dentofacial quenciais aplicados a um determinado tipo de má oclusão,
3. Saúde dos tecidos periodontais visando à sua correção. Inclui elementos especialmente
4. Estabilidade dos resultados desenhados para exercerem funções específicas: bandas,
bráquetes, tubos, fios ortodônticos e acessórios (molas,
elásticos).
Definições
Prescrição de tubos e bráquetes: conjunto de característi-
Aparelho ortodôntico fixo cas (compensação vestibulolingual para diferenças de volu-
Os aparelhos fixos são, em sua maioria, variações do apa- me dentário, pré-angulações e pré-torque para compensar
relho arco de canto (edgewise) desenvolvido e apresentado respectivamente as diferenças de angulação e inclinação da
por Angle em 1928. coroa dentária e outras compensações) incorporadas aos
O aparelho ortodôntico fixo é constituído por um con- tubos e bráquetes para compensar as diferenças morfoló-
junto de acessórios, os bráquetes, que possuem canaletas gicas e posicionais dos dentes dentro do arco dentário, de
ou tubos retangulares dispostos em orientação horizontal, forma a permitir a utilização de um arco contínuo padrão
fixados à coroa dos dentes por meio de bandas ou colados para obtenção de uma oclusão ideal.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 211

Bandas ortodônticas: primeira forma de se fixar o apa- Sentindo a necessidade da movimentação da raiz dos
relho aos dentes, foram usadas em 1826, na França, por dentes, e não só da inclinação da coroa, Angle confeccio-
Pierre Fouchard. As bandas eram presas aos dentes por nou um sistema de pino e tubo que consistia em bandas
meio de grampos ou parafusos (braçadeiras). Este proces- individuais em todos os dentes, às quais eram soldados
so foi evoluindo até chegar aos dias atuais, em que exis- tubos verticais, onde eram introduzidos pinos soldados
tem fitas de aço para a confecção das bandas, as quais verticalmente ao arco que passava pela vestibular dos den-
são fixadas aos dentes por meio de cimentação. Atual- tes. Com esse sistema foi possível, pela primeira vez, um
mente, essas bandas estão disponíveis pré-fabricadas em controle da posição radicular e um movimento de corpo
várias dimensões. do dente; porém, era um sistema de difícil controle e que
exigia constantes ajustes para a obtenção do movimento
Acessórios: dispositivos que, soldados às bandas, permi-
pretendido.
tem prender os fios e/ou elásticos aos dentes, de forma que
Por volta de 1915, depois de testar diversos desenhos
seja possível sua movimentação.
e realizar várias modificações no sistema pino e tubo, An-
Bráquetes: acessórios soldados às bandas ortodônticas gle criou o arco em forma de cinta, mais prático e mais
ou colados à face vestibular dos dentes, constituídos de fácil de ser utilizado. Foram incluídos os bráquetes com
uma canaleta horizontal, onde são fixados os fios ortodôn- ranhuras retangulares verticais, onde um arco em forma
ticos por meio de amarrilhos metálicos ou elásticos. Essa de cinta era introduzido e mantido por meio de pinos de
canaleta pode ser constituída por duas aletas (simples) ou bronze. Neste aparelho, os dentes podiam mover-se ao
quatro aletas (geminados), que podem conter extensões longo do fio, mas não era possível obter movimentos finos
horizontais, as quais partem da base do bráquete (braços e precisos.
de alavanca), ou verticais (ganchos ou power arm), incor- Em 1928, para superar as dificuldades técnicas e ade-
poradas a uma das aletas cervicais. São confeccionadas quar o aparelho às metas de tratamento mais arrojadas, An-
em diversos materiais, como aço inoxidável e cerâmicas gle modificou os bráquetes, mudando as ranhuras verticais
mono ou policristalinas. para a posição horizontal centralizada no meio do bráquete.
Também modificou a introdução do fio em forma de cinta
Fio ortodôntico: um segmento de fio de diferentes ligas
(maior secção do fio retangular na vertical) para uma posi-
metálicas (cromo-cobalto, cromo-níquel, níquel-titânio, titâ-
ção de “canto” (maior secção do fio retangular na horizon-
nio-molibdênio, etc.) de secção redonda, quadrada ou re-
tal), denominando de arco de canto ou edgewise.
tangular em diversas dimensões, utilizado para a confecção
A introdução do edgewise permitiu um controle com-
dos arcos (parábolas) ou para a fixação (fios de amarrilho).
pleto da posição axial de todos os dentes em todas as dire-
Ancoragem: efeito recíproco (reação) de resistência à força ções, o que não era possível com nenhum tipo de aparelho
aplicada para a realização de um determinado movimen- até então.
to dentário (ação). Na movimentação dentária aplica-se a Tweed, um discípulo de Angle, além de tê-lo auxiliado
terceira lei de Newton, que diz que para toda ação existe na elaboração do edgewise, dedicou-se ao aperfeiçoa-
uma reação oposta e de mesma intensidade (em corpos mento do mesmo e à elaboração dos preceitos básicos de
distintos). sua utilização, além de ter trabalhado nos princípios mecâ-
nicos para o tratamento das más oclusões – a chamada
Origem e desenvolvimento dos aparelhos fixos técnica edgewise padrão.
A origem e o desenvolvimento dos aparelhos fixos remon- Na década de 1930, as ligas de aço-cromo e aço inoxi-
tam a Angle (1855-1930). Edward Hartley Angle criou, em dável foram introduzidas e adotadas na ortodontia, tornan-
1887, um sistema ortodôntico básico, confeccionado com do-a mais acessível em termos de custo.
corda de piano, que era afixado a um primeiro protótipo de Na década de 1950, a técnica de Begg (Raymond
tubo de metal soldado a bandas na forma de braçadeiras Begg), baseada no arco em forma de cinta, e a técnica
que eram apertadas ao redor dos primeiros molares perma- edgewise, baseada no arco em forma de canto, eram as
nentes (Angle system ou sistema Angle). formas mais utilizadas de tratamento com aparelhos fixos.
A partir desse protótipo, Angle implementou seu sis- Em 1957, Robert M. Ricketts deu os primeiros passos
tema, criando o arco em forma de E, constituído por um rumo a um sistema de aparelho fixo pré-ajustado. Adap-
fio de ouro espesso, soldado a bandas customizadas, tam- tando bráquetes ao torque sugerido por Jarabak e Holda-
bém em ouro, fixadas nos primeiros molares, e estendido way, Ricketts desenvolveu completamente sua técnica no
de um lado ao outro, passando pela vestibular de todos os final da década de 1960, com torques totais e aparelhos
dentes, na forma de um arco parabólico. Os dentes eram completamente ajustados, culminando na técnica e filosofia
amarrados a este arco a fim de obter sua movimentação, bioprogressiva.
que consistia basicamente em movimentos de inclinação Laurence Andrews, em 1960, foi um dos primeiros a
em direção ao arco. apresentar uma avaliação estruturada do resultado do trata-

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mento, definida como as “seis chaves da oclusão normal”, te naqueles de alta complexidade, que requerem amplas
que se constituíram em referenciais específicos na busca movimentações, ou onde as estruturas de suporte estejam
por um arranjo e relacionamento dentário normal, funcional comprometidas, e em pacientes adultos, constituindo o ali-
e esteticamente adequado. Andrews introduziu mudanças cerce da mecânica ortodôntica.
no desenho dos bráquetes, utilizando estudos sobre as Assim, a ortodontia corretiva contemporânea pode ser
chaves da oclusão dentária normal. Esses estudos culmina- dividida em três correntes filosóficas de atuação:
ram em uma técnica e filosofia denominada Técnica do Arco
1. Utilização de arcos contínuos para direcionar a movi-
Reto (Straight Wire), baseada em um conjunto de bráque-
mentação e o posicionamento dentário – arco ideal;
tes, tubos e fios desenhados para a obtenção das chaves
2. Utilização de arcos segmentados para direcionar a mo-
da oclusão estática e funcional com a mesma precisão e
vimentação e o posicionamento dentário – arcos seg-
sem a necessidade das dobras em fios requerida na técnica
mentados para obter movimentos do segmento ante-
edgewise.
rior e posterior e para manejo dos caninos;
Com o advento dos bráquetes pré-angulados e pré-
3. Utilização de sistemas de força (biomecânica) para ob-
torqueados, uma ampla gama de prescrições é disponi-
ter a movimentação dentária desejada.
bilizada, cada qual baseada em fundamentos e princípios
clínicos ou em preferências pessoais e filosóficas. A biomecânica
Ronald Roth, em 1976, apresenta modificações tridi- O paciente ortodôntico é caracterizado por um grupo de
mensionais nos bráquetes, de forma a permitir o manejo de alterações esqueléticas e dentoalveolares que demandam
casos com e sem extrações, buscando alcançar os objeti- abordagens de tratamento individualizadas e incluem pro-
vos dos conceitos gnatológicos da odontologia. cedimentos biomecânicos específicos, com o objetivo de se
Bennett, Mclaughlin e Trevisi, após 12 anos de expe- obter uma oclusão ideal que permita uma atividade normal
riência com a técnica do arco reto, sugerem a diminuição da articulação temporomandibular, além de uma estética
considerável dos níveis de força dos arcos de modo a se dentofacial adequada.
obter um melhor controle tridimensional da fase de fecha- As más oclusões são caracterizadas por desvios mor-
mento de espaços. Assim, com mudanças no desenho dos fofuncionais de natureza biofísica dos componentes estru-
bráquetes e com o uso de mecânicas de deslizamento para turais ósseos e dentários de uma norma aceita para a es-
fechamento de espaço, baixa fricção e forças leves e con- pécie humana em magnitude e severidade variadas. Esses
tínuas, estabelecem desde 1990 uma terceira geração dos desvios envolvem alterações na magnitude de expressão
aparelhos autoajustáveis (técnica MBT). do potencial de crescimento, na posição relativa e no pa-
A técnica de arco segmentado (TAS), introduzida na drão rotacional exibido pelos componentes estruturais da
década de 1960 por Charles Burstone, tem como caracte- face, representados pela base do crânio, pelo complexo na-
rística ser uma filosofia contemporânea, originada de con- somaxilar e mandíbula, e pela região dentoalveolar.
6
ceitos biomecânicos, que se aplica a qualquer sistema de Segundo Proffit, o tratamento ortodôntico deve levar
bráquetes existente no mercado. Nesta técnica, aplica-se o em consideração não só os aspectos morfológicos e fun-
conceito de dois dentes, em que é possível se estabelecer cionais (biológicos), mas também os fatores psicossociais e
quais serão os elementos ativos (que serão movimentados) bioéticos com forte influência cultural.
e reativos (que servirão de ancoragem), facilitando o enten- Diferentes abordagens biomecânicas podem ser apli-
dimento e o controle do sistema de forças a ser aplicado. A cadas para se obterem mudanças ortopédicas e ortodôn-
segmentação aumenta a distância entre os pontos de apli- ticas, sendo que alguns métodos são mais efetivos e efi-
cação de forças, criando um espaço para amplas ativações cientes em fornecer os sistemas de forças necessários para
dos dispositivos construídos com fios de alto coeficiente a movimentação dentária ou a ação esquelética requerida
de elasticidade, que geram baixa proporção carga/defle- com um bom controle dos efeitos colaterais.
xão. Essa baixa proporção carga/deflexão tem a vantagem O conhecimento profundo dos aspectos biomecânicos
de resultar na liberação de forças leves e constantes, que relacionados com a movimentação dentária e o efeito orto-
minimizam as alterações direcionais no movimento dentá- pédico fornece a base para o desenho apropriado do apa-
rio, evitam danos biológicos e aceleram a movimentação relho ortodôntico e para a seleção do dispositivo mecânico
dentária. A TAS ainda permite a utilização de dispositivos que contemple o objetivo de correção da má oclusão de
pré-fabricados e pré-calibrados, o que aumenta a eficiên- forma criativa e eficiente.
cia clínica e também dá maior precisão para o ortodontista Atualmente, o tratamento ortodôntico mais utilizado
no controle das forças aplicadas. Alguns exemplos são as emprega versões atualizadas da mecânica de arco contínuo
alças em T, os arcos de intrusão, os braços de alavanca desenvolvida por Angle no início do século passado, que
(cantilever), as alças retangulares, a barra palatina e o arco tem como características a facilidade de aplicação, o con-
lingual, dentre outros. Esses recursos são utilizados hoje de forto para o paciente, a rapidez no atendimento e a possi-
forma rotineira e na maioria dos tratamentos, principalmen- bilidade de se delegarem os procedimentos para auxiliares.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 213

É amplamente aceito que a escolha dos acessórios derar princípios biomecânicos, que devem ser seguidos para
ortodônticos (tubos e bráquetes) e do sistema mecânico uma movimentação efetiva e sem efeitos colaterais.
(composto por fios de diversos calibres e materiais, molas e
elásticos) influencie o resultado do tratamento ortodôntico. Noções básicas de biomecânica aplicada ao
tratamento ortodôntico
A evolução da técnica ortodôntica A aplicação de forças para se obter a movimentação dentá-
O posicionamento ortodôntico tridimensional dos dentes ria constitui a base do tratamento ortodôntico e da correção
em seu arco correspondente ocorre como um resultado da da má oclusão. O entendimento dos princípios biomecâni-
interação entre os fios ortodônticos e os bráquetes fixados cos da aplicação dessas forças e de sua ação é imprescin-
sobre os dentes que geram a energia mecânica (força) que dível para o seu melhor aproveitamento, para evitar efeitos
é transmitida a um periodonto de suporte sadio. indesejáveis e para a escolha do elemento ativo mais ade-
Os pioneiros da ortodontia (Angle, Tweed, Kingsley e quado para cada situação.
Farrar), no final do século XIX, desenvolveram os apare- Uma força, por definição, é a energia necessária para
lhos ortodônticos e o uso de arcos construídos com ligas alterar o estado de movimento ou repouso de um corpo, ou
de ouro, platina e prata, que evoluíram para o que hoje é mesmo para deformá-lo. Considerando que os elementos
conhecido como aparelho edgewise pré-ajustado. Na dé- dentários são rígidos e que as forças a eles aplicadas não
cada de 1930, as ligas de aço-cromo e aço inoxidável foram são suficientes para promover sua deformação, as forças
introduzidas na ortodontia. Essas ligas eram quase duas que são aplicadas a um dente constituem um sistema de
vezes menos resilientes do que suas predecessoras de me- forças que pode ser substituído por uma resultante. Essa
tais preciosos, mas muito mais baratas. Como resultado, o resultante, por definição, é a soma das forças que agem
aço inoxidável foi adotado e muitos ortodontistas tiveram sobre determinado corpo. A resultante é obtida por meio
a preocupação do efeito desse aumento na força liberada da lei dos paralelogramos, em que a resultante de duas for-
pelo aparelho sobre os tecidos bucais. Assim, técnicas de ças que têm o mesmo ponto de aplicação (considerados
forças leves foram desenvolvidas para contornar este fato. os lados de um paralelogramo) corresponde à sua diago-
A introdução de fios de níquel-titânio e titânio-molibdênio na nal. Inversamente a este raciocínio, uma determinada força
ortodontia contemporânea promoveu uma revolução e uma pode ser substituída pelas suas componentes horizontais e
volta ao conceito pioneiro de aplicação de forças leves. verticais, em um processo denominado decomposição de
Na década de 1970, com o advento da colagem direta força. Outro conceito importante é o princípio de transmissi-
de bráquetes e a introdução dos aparelhos pré-ajustados bilidade, que considera que o efeito de uma força sobre um
(compensados para as diferenças anatômicas vestibulolin- corpo rígido será o mesmo se os pontos de aplicação esti-
guais e para a inclinação e angulação das coroas dentárias), verem localizados ao longo de sua linha de ação, ou seja, o
os ortodontistas puderam expandir a oferta de tratamento. efeito independe de onde, ao longo de sua linha de ação, a
Nas décadas seguintes, principalmente de 1990 a 2000, força seja aplicada. Por linha de ação da força subentende-
avanços na técnica de colagem direta e melhoras no dese- -se ao longo de sua direção e sentido.
nho dos bráquetes e nas propriedades dos fios ortodônti- O entendimento da ação da força, quando aplicada à
cos aumentaram as opções de tratamento disponíveis. coroa dentária, fundamenta-se na terceira lei de Newton,
À medida que a ortodontia evoluiu, avanços foram fei- cujo enunciado revela que a toda força de ação correspon-
tos nas seguintes áreas: oferta de bandas pré-fabricadas, de uma força de reação de mesma intensidade e sentido
aperfeiçoamento do desenho de tubos e bráquetes, desen- contrário, e nas características biológicas de implantação
volvimento de novos fios ortodônticos de diferentes com- dos dentes no osso alveolar. Dependendo da linha de ação
posições e propriedades mecânicas, desenvolvimento de da força aplicada ao dente, a movimentação poderá ocorrer
novos materiais para a cimentação das bandas e a colagem sob a forma de translação, rotação pura ou uma combina-
de bráquetes, melhora na técnica de colagem direta e no- ção de ambas.
vas opções de técnicas e mecanoterapias. Para uma melhor compreensão do movimento resul-
Muito embora novas prescrições (características do de- tante da aplicação de uma força, deve-se revisitar o concei-
senho) de bráquetes tenham sido introduzidas, associadas to de centro de resistência, que representa a soma de todos
a protocolos de tratamento preestabelecidos para amplo os elementos de resistência que agem sobre o corpo (no
uso, em muitas circunstâncias um tratamento ortodôntico caso, o dente). O centro de resistência dos dentes localiza-
eficiente e de resultados previsíveis requer mais do que a -se a 2/5 do comprimento radicular coberto pelo osso al-
simples seleção de um estilo particular de bráquete ou de veolar, medido a partir da crista alveolar. Assim, o centro de
uma sequência de troca de arcos. resistência dos dentes é determinado pelo comprimento da
A base fundamental da ortodontia reside na aplicação raiz e pela altura do osso alveolar.
de uma força mecânica para promover o movimento dentá- O movimento de translação (todos os pontos do corpo
rio; assim, os tratamentos ortodônticos atuais devem consi- se deslocam na mesma direção) é obtido quando a linha de

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ação da força passa pelo centro de resistência do dente. À dos para que o aparelho escolhido libere um sistema de for-
medida que esta linha de ação da força passa afastada do ças ótimo e os efeitos indesejáveis possam ser controlados.
centro de resistência, uma tendência de rotação do corpo Um sistema de forças ótimo inclui parâmetros como
será gerada, resultando em rotação ou inclinação do dente. magnitude, constância da força e proporção momento-
Tal tendência rotacional é denominada momento de uma -força adequada.
força e é determinada pelo produto da magnitude da força e A magnitude da força e a proporção momento-força
da distância de aplicação desta força, medida perpendicu- (responsável pelo tipo de movimento requerido) variam de
larmente em relação à sua linha de ação. Uma outra forma acordo com o suporte periodontal, o comprimento radicular
de se obter uma rotação pura é por meio de um binário, que dos dentes e o centro de rotação do movimento dentário
é gerado pela aplicação de duas forças de mesma intensi- desejado. A constância da força é obtida com a utilização
dade e sentidos opostos, paralelas entre si e não colineares, de fios ortodônticos construídos de ligas metálicas com
que recebe a denominação de momento de um binário. O módulos de elasticidade elevados, pela incorporação de
momento de um binário é igual ao produto da magnitude de alças e helicoides nos fios ortodônticos e pelo aumento da
uma das forças e da distância entre as linhas de ação das distância interbráquetes.
forças aplicadas ao dente. Segundo Burstone,8 para que o exercício da ortodontia
Dependendo da linha de ação da força em relação ao seja realizado de forma adequada, é necessário um com-
centro de resistência do dente ou grupo de dentes, o mo- pleto entendimento dos seguintes aspectos:
vimento dentário pode ocorrer de uma das cinco formas
básicas: 1. Princípios básicos sobre forças, momentos, sistemas
de forças equivalentes, resultantes e componentes
• Translação 2. Equilíbrio estático e sua aplicação na solução de pro-
• Inclinação não controlada blemas
• Inclinação controlada 3. Biomecânica do movimento dentário: proporção mo-
• Correção radicular mento/força, proporção carga/deflexão e relação do
• Rotação sistema de força e biologia do movimento dentário
Do ponto de vista clínico, esses cinco tipos básicos de 4. Princípios de construção dos aparelhos, incluindo rela-
movimentos podem ser obtidos por um sistema de força ção do desenho, fios, atrito, materiais e outras variáveis
equivalente. Um sistema de força equivalente pode ser ob- às forças produzidas
tido quando a uma força aplicada sobre determinado dente 5. Ciência dos materiais aplicados aos fios e aparelhos em
ou grupo de dentes associa-se um binário, que é conhecido geral
como proporção momento/força. 6. Habilidade de desenvolver um plano mecânico que te-
Como já dito anteriormente, não existe uma “receita” nha um sistema de força que otimize o movimento den-
pré-pronta de plano de tratamento devido à grande variabili- tário com um mínimo de efeitos colaterais
dade dos problemas apresentados pelos pacientes; portan-
to, deve-se sempre começar pela identificação desses pro-
Seleção dos aparelhos fixos
blemas antes de se escolherem os dispositivos mecânicos A ortodontia evoluiu de um objetivo limitado de tratamen-
a serem utilizados. to, que era o alinhamento normal dos dentes nos arcos,
Os planos de tratamento são baseados em três va- para um conceito de posição tridimensional dos dentes e
riáveis: do osso basal e de estabelecimento ou restabelecimento
de uma função normal e de uma boa estética facial. Mas,
1. Ancoragem horizontal requerida
antes de iniciar a terapia, é essencial que o ortodontista es-
2. Controle vertical da sobremordida
tabeleça objetivos específicos de tratamento, isto é, trace o
3. Presença ou não de apinhamento anterior
caminho que o tratamento deverá seguir.
Em cada uma das fases do tratamento é muito impor- Atualmente, vários sistemas de aparelhos pré-torquea-
tante a definição de quais dentes deverão ser movimenta- dos e pré-angulados estão disponíveis para o tratamento

LOCAL DE APLICAÇÃO SISTEMA DE FORÇA EQUIVALENTE


MOVIMENTO DA FORÇA CENTRO DE ROTAÇÃO (PROPORÇÃO MOMENTO/FORÇA)
Inclinação não controlada Coroa dentária Terço apical radicular > 5:1
Inclinação controlada Cervical do dente Ápice radicular 7:1
Translação Centro de resistência do dente Infinito 10:1
Correção radicular Ápice radicular Ápice da coroa 15 ou 17:1

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 215

ortodôntico dos mais variados tipos de más oclusões es- • Grau de colaboração necessário e nível de colaboração
pecíficas, recebendo a denominação de prescrições. Es- esperado
sas prescrições têm por base as preferências filosóficas e • Aspectos relativos à terapêutica a ser adotada (eficiên-
pessoais dos clínicos e são fundamentadas em conceitos cia, efetividade, tempo de tratamento necessário)
de tratamento aplicados a grupos de más oclusões que • Aspectos socioeconômicos (custo envolvido)
apresentam características semelhantes e cujo objetivo de
Principais problemas nos quais a ortodontia corretiva
tratamento também é semelhante. Assim, as prescrições in-
tem sua aplicação indicada:
corporam princípios que auxiliam o clínico na obtenção de
um resultado de tratamento com menor esforço. • Problemas de espaço
Muito embora a seleção do tipo de bráquete (prescri- • Deficiência de espaço – apinhamentos dentários,
ção) possa influenciar positivamente o resultado do trata- impacções dentárias e erupção de dentes perma-
mento ortodôntico, o impacto da escolha e do mau posicio- nentes ectopicamente. Migrações dentárias re-
namento desses acessórios na coroa dos dentes, por outro sultantes da perda precoce de dentes decíduos.
lado, pode aumentar o tempo de tratamento, interferindo Presença de dentes extranumerários ou supranu-
principalmente na fase de finalização. A fase de finalização merários
constitui uma importante etapa do tratamento ortodôntico, • Espaçamentos dentários – diastemas localizados
podendo interferir na estética dentofacial, na saúde e na ou espaçamentos generalizados. Espaços decor-
função das estruturas de suporte, além de no desempenho rentes da perda prematura de dentes permanen-
funcional dos dentes na mastigação, com repercussão na tes. Espaços decorrentes de ausências de dentes
função adequada da articulação temporomandibular. permanentes
Fatores intervenientes: • Problemas verticais
• Mordidas abertas – decorrentes de hábitos bu-
• Natureza e etiologia da má oclusão cais perniciosos ou de excesso de crescimento
• Condição morfofuncional da face vertical da região anterior da face (decorrentes de
• Fases do desenvolvimento da oclusão – biogênese da padrões de crescimento desfavoráveis – padrão
dentição dolicofacial)
• Período do crescimento e desenvolvimento craniofacial • Mordidas profundas – decorrentes de excesso de
• Estágio da maturação geral, óssea e dentária erupção dentária ou de deficiência de crescimento
• Aspectos psicossociais vertical da face (decorrentes de padrões de cresci-
• Prevenção de danos às estruturas dentofaciais mento desfavoráveis – padrão braquifacial)

Transversais

Verticais

Sagitais - Classe II

Sagitais - Classe III

Espaço

Agenesias

Decídua Mista Permanente


Dentadura 1° período Período 2° período
inter- Jovem Madura
Jovem Madura transicional transicional
transicional

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

FIGURA 17-6 Faixa etária e fase do desenvolvimento da dentição ideais para a correção das alterações dentofaciais. Fonte: Arquivo
pessoal.

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• Problemas transversais à saúde bucal da população, pautado em princípios


• Mordidas cruzadas posteriores decorrentes de há- éticos, legais e na compreensão da realidade social,
bitos bucais perniciosos ou problemas respirató- cultural e econômica de seu meio, dirigindo sua atua-
rios (ambientais) causando estreitamento do arco ção para a transformação da realidade em benefício
superior e/ou inferior da sociedade.
• Erupção ectópica de dentes permanentes ou pa- Segundo Silveira,11 essas Diretrizes Curriculares são
drões de erupção desfavoráveis
reflexo de processo histórico-cultural, constituindo um
• Atresia maxilar relativa em casos de discrepância marco conceitual determinado por relações externas e de
sagital (Classe II ou III)
âmbito social, incluindo a ideologia profissional, influências
• Problemas sagitais
internacionais, as relações dos profissionais da saúde na
• Mordidas cruzadas anteriores dentoalveolares ou sociedade e a estrutura e o contexto socioeconômico e
funcionais
histórico.
• Discrepâncias anteroposteriores decorrentes de Segundo Senna e Lima,12 as DCN devem ser entendi-
migrações dentárias (dentes posteriores)
das dentro de um contexto maior, o da Reforma Sanitária
• Displasias esqueléticas de Classe II Brasileira. Então, consideram que é necessário que a As-
• Displasias esqueléticas de Classe III sociação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO), de
Os avanços tecnológicos têm tornado a ortodontia acordo com a nova definição política do Ministério da Saú-
mais eficiente. Citam-se aqueles que ocorreram na área de de, de orientação do processo de formação dos recursos
materiais dentários – novas ligas de fios ortodônticos, novos humanos da área, estabeleça
materiais adesivos para a colagem de bráquetes e novas
“uma estratégia de trabalho, que vise principalmente
tecnologias para a obtenção de imagens tridimensionais e
à aproximação da Odontologia às demais áreas da
digitais das estruturas dentofaciais.
Saúde”.
O tratamento ortodôntico deve considerar:
Os autores passam, então, a discorrer sobre as com-
• Os limites biológicos da movimentação dentária e da petências e habilidades para o trabalho no Sistema Único
resposta ortopédica das estruturas esqueléticas faciais
de Saúde (SUS) e as mudanças necessárias nos cursos de
a forças mecânicas ou funcionais
graduação em odontologia para atingir esses objetivos. E
• Os mecanismos e os princípios da aplicação de forças
têm uma visão bastante favorável do potencial transforma-
e da obtenção de modificações ortopédicas
dor da implementação das DCN, afirmando que
• As possibilidades de modificações do padrão dento-
facial “As Diretrizes Curriculares fazem parte de um processo
• A motivação e a cooperação de superação de limites da formação e das práticas clí-
• A estabilidade das mudanças obtidas nicas tradicionais”.
Segundo Maruo e colaboradores, 9 o Parecer nº
1.300/01 do Conselho Nacional de Educação/Câmara de
ASPECTOS LEGAIS Ensino Superior contempla as DCN dos cursos de odon-
tologia, que fornecem as orientações para a elaboração de
No ordenamento jurídico brasileiro é vedado ao cirurgião-
currículos que dirigem a formação dos cirurgiões-dentistas
-dentista não especialista a prática da ortodontia corretiva.
brasileiros.
Segundo Maruo e colaboradores,9 a ortodontia está dire- 13
Quando a Lei nº 5.081, de 24 de agosto de 1966, fa-
tamente relacionada com a promoção da saúde humana e
culta ao cirurgião-dentista praticar todos os conhecimentos
os danos causados pela má condução de um tratamento
obtidos em curso regular e de pós-graduação, está suben-
ortodôntico constituem danos à integridade psicofísica e à
tendido que isso ocorrerá em cursos que possuam algum
dignidade da pessoa humana.
parâmetro de fiscalização e, ao se tratar de ortodontia cor-
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)10 dos cursos
retiva, somente os cursos de pós-graduação stricto sensu
de odontologia, que normatizam a formação dos cirurgiões-
e lato sensu conferem documentos legais com parâmetros
-dentistas brasileiros, em seu artigo 3º, explicita que
de qualidade. Da mesma forma, quando o Código de Éti-
o Curso de Graduação em Odontologia tem como ca Odontológica não proíbe a prática das especialidades,
perfil do formando egresso/profissional o cirurgião- considera que o profissional só pratica atos aos quais tenha
-dentista, com formação generalista, humanística, sido devidamente preparado. Essa interpretação é a mais
crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de correta, pois, segundo o artigo 197 da Constituição Federal,
atenção à saúde, com base no rigor técnico e cientí- é de responsabilidade do Poder Público regular, fiscalizar e
fico. Capacitado ao exercício de atividades referentes controlar as ações de saúde.9

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 217

REFERÊNCIAS LEITURAS RECOMENDADAS


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publicados na revista da ABENO, 2002-2006. Arq Odontol. 20 Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2005;127(4):510-5.
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C A P Í T U LO 1 8

Ética no tratamento ortodôntico


Vania Célia Vieira de Siqueira
Maria Beatriz Araujo Magnani
João Sarmento Pereira Neto

Independentemente da área de atuação, todos os profis- de graduação que possa formar um profissional habilitado a
sionais buscam sucesso em suas carreiras, o que implica o realizar uma odontologia de qualidade.
constante desenvolvimento de suas habilidades específicas A maioria dos cursos de graduação em odontologia no
e o predomínio da ética e da moral. Todas as profissões têm Brasil não prepara o futuro profissional para exercer a orto-
seu Código de Ética, que deve ser conhecido, respeitado e dontia corretiva, apenas fornece informações, por vezes insu-
seguido. ficientes, sobre a ortodontia preventiva e interceptora. Exer-
Entende-se como ética um conjunto de princípios que cer a ortodontia como especialidade requer uma capacitação
orientam o comportamento humano quanto ao seu convívio prévia adequada, exigindo, no mínimo, um curso de especia-
social e profissional. Esses princípios apresentam caracte- lização que forneça os conhecimentos técnicos necessários.8
rísticas universais e mostram-se válidos em qualquer a épo- Além disso, o profissional deverá sempre se questionar se
ca.1 Didaticamente, o estudo da ética pode ser separado realmente tem aptidão para exercer a especialidade que al-
em dois campos: meja e se está preparado tecnicamente para isso.
1. o dos problemas gerais, que englobam a liberdade, a Os conhecimentos necessários para desenvolver ativi-
consciência, os bens, os valores, as leis, etc.; e dades ortodônticas em ortodontia preventiva e interceptora,
2. o dos problemas específicos, que englobam as éticas durante o curso de graduação, são determinados pelas Di-
política, sexual, profissional, etc.2,3 retrizes Curriculares Nacionais, e é somente nos cursos de
pós-graduação que o profissional se capacita para atuar na
A odontologia abrange os dois campos da ética.4 ortodontia corretiva.8-11
Durante a sua graduação, o futuro cirurgião-dentista A oferta exagerada e indiscriminada de cursos de es-
obtém informações sobre o Código de Ética da profissão, o pecialização em ortodontia e a concorrência desleal entre
qual deverá seguir ao longo de toda a sua vida profissional. os mesmos – ocorrendo, inclusive, propagandas engano-
A ética odontológica exige responsabilidades junto ao sas – exigem que o Conselho Federal de Odontologia seja
público, aos pacientes, aos colegas de profissão e aos de- eficaz na fiscalização, permitindo que apenas os cursos de
mais profissionais da área da saúde.5 qualidade continuem atuando.8-10 E é de responsabilidade
A ética é um organismo vivo, que se modifica de acor-
dos cursos de especialização preparar bem os profissionais
do com as necessidades da sociedade. Assim, também a
que os procuram – técnica, humana e administrativamente.
ética profissional deve adaptar-se às mudanças que ocor-
O conhecimento técnico-científico obtido proporciona-
rem na sociedade. O Código de Ética Odontológica encon-
rá ao profissional um preparo adequado para o atendimento
tra-se em sua oitava versão e cada uma delas abrangeu
de seu paciente: como recebê-lo, como organizar seu fi-
as necessidades provocadas pela evolução das relações
chário, como realizar e finalizar o tratamento; além de forne-
entre o exercício profissional e a sociedade.6 O cirurgião-
cer todas as informações que possam auxiliá-lo a prevenir
-dentista deve manter-se constantemente atualizado sobre
quaisquer problemas éticos e/ou jurídicos.
os aspectos éticos e legais devido às alterações que ocor-
O Código de Ética Odontológica,12 resolução nº 118,
rem nas leis e nas normas que regem a vida em sociedade
de 2012, do Conselho Federal de Odontologia, no Capítulo
e na profissão.7
III, artigo 9º, inc. VI, prevê que
O cirurgião-dentista, durante a sua graduação, adquire
conhecimentos para desenvolver habilidades nas áreas téc- [...] o profissional deve manter atualizados os conheci-
nica, humana e administrativa. A obtenção do conhecimen- mentos profissionais técnico-científicos e culturais, ne-
to técnico inicia-se na eleição de uma instituição de ensino cessários ao pleno desempenho do exercício profissional.

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220 A B R Ã O, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

O profissional também não poderá negligenciar os as- radiografia panorâmica, telerradiografia em norma lateral e/
pectos administrativos, incluindo conhecimentos básicos de ou posteroanterior, radiografias de mão e punho, imagens
marketing, como: localização do consultório permitindo o complementares tipo cone-bean) e modelos em gesso das
acesso adequado de pacientes com necessidades espe- arcadas superior e inferior. A análise detalhada da docu-
ciais, uma boa fachada com placa, sala de espera confor- mentação ortodôntica auxiliará a realizar o diagnóstico, o
tável, com revistas atualizadas, toaletes, música ambiente, planejamento e o prognóstico do tratamento ortodôntico.
recepcionistas bem vestidas e maquiadas adequadamente, Nos casos de pacientes que buscam o ortodontista por
que recebam o paciente com agilidade e eficiência, bem indicação de um colega da mesma especialidade, o profis-
como o próprio profissional trajado de maneira adequada, sional deverá conhecer a razão da transferência do tratamen-
recebendo o paciente com educação e cordialidade. to – se por mudança de endereço, desentendimento com o
14
A documentação oficial do consultório deverá incluir ortodontista anterior ou sentença judicial contra este.
os cartões de visita e de retorno, impressos de orientação Nos casos de mudança de endereço, o ortodontista
e, principalmente, as fichas clínicas, com todas as infor- que continuará o tratamento deverá obter do paciente ou
mações que conduzam ao diagnóstico e planejamento do do colega que o precedeu a documentação ortodôntica ini-
tratamento, permitindo a elaboração de um prontuário com- cial e relatórios que possam informar sobre a conduta de
pleto de cada paciente atendido. tratamento e como o paciente deixou o consultório anterior.
O profissional deverá obter conhecimentos básicos O ortodontista também deverá solicitar a documentação or-
de psicologia e toda a equipe de trabalho um adequado todôntica completa atual, incluindo radiografias periapicais
equilíbrio emocional, para administrar possíveis reclama- de todos os dentes, para averiguar possíveis alterações ra-
ções, críticas e/ou reivindicações dos pacientes. Também diculares e planejar a melhor conduta para a finalização do
14
é importante que o profissional saiba lidar com as possíveis tratamento.
falhas do paciente quanto à manutenção do aparelho, com Nos casos de desentendimentos com o ortodontista, o
as faltas deste às consultas e quando surgirem divergências profissional deverá escutar atentamente as razões que leva-
relativas aos honorários profissionais. ram o paciente a tomar essa decisão e tentar convencê-lo a
Machen relatou que 47% dos pacientes ortodônticos já se entender com o colega anterior.
processaram seus ortodontistas devido a falhas no relacio- Eticamente, aconselha-se que o ortodontista entre em
namento, e apenas 3% por um resultado ortodôntico final contato com o colega para informá-lo do ocorrido e obter
insatisfatório.13 informações sobre o paciente. O Código de Ética Odontoló-
O profissional deve manter a equipe de trabalho moti- 12
gica, em seu Capítulo V, seção II, artigo 13, inc. I, constitui
vada e incentivar o melhor relacionamento interpessoal pos- como infração ética
sível. O bom relacionamento de toda a equipe se refletirá
no paciente, que também se sentirá motivado ao longo do [...] agenciar, aliciar ou desviar paciente de colega, de
tratamento. O artigo 12º do Capítulo V, Seção II, do Código instituição pública ou privada.
de Ética Odontológica12 enfatiza que Quando o paciente procura o profissional para obter
[...] no relacionamento entre os inscritos, sejam pes- uma segunda opinião, o ortodontista deverá ser cuidadoso
soas físicas ou jurídicas, serão mantidos o respeito, a em suas respostas e contatar o colega tão logo seja possí-
12
lealdade e a colaboração técnico-científica. vel, para não ferir a ética. O Código de Ética Odontológica,
em seu artigo 13, inc. VI, constitui como infração ética
[...] criticar erro técnico-científico de colega ausente, sal-
NO INÍCIO DO TRATAMENTO vo por meio de representação ao Conselho Regional.

Na consulta inicial, o profissional deverá investigar a razão A inadequada atenção a esse fato poderá acarretar
13
pela qual o paciente lhe procurou – se por indicação de um problemas éticos e/ou jurídicos. Machen enfatizou que
colega clínico ou de algum paciente ou ex-paciente; sem in- 40% dos pacientes que já processaram seus ortodontistas
dicação; indicado por um colega ortodontista; ou para obter o fizeram devido a críticas efetuadas por outros ortodontis-
uma segunda opinião.14 tas, quando buscavam uma segunda opinião sobre o trata-
Em todas as situações, o profissional deverá escutar mento ortodôntico que realizavam.
com atenção as expectativas do paciente em relação ao Cada profissional utiliza técnicas e condutas de trata-
tratamento e sua história pregressa; também deverá solici- mento adquiridas em suas formações e experiências clíni-
tar sua documentação odontológica/ortodôntica atual, res- cas. O profissional que realiza uma consulta de segunda
saltando-se que a não solicitação desses exames poderá opinião deve buscar dados relativos à conduta do ortodon-
comprometer o profissional como imprudente. A documen- tista e informações sobre a história do tratamento. É etica-
tação deverá incluir fotografias extra e intrabucais, exames mente inadequado continuar um tratamento sem contatar o
radiográficos (radiografias periapicais de todos os dentes, ortodontista que o iniciou.5

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 221

Nas consultas de planejamento, o profissional deverá O CDC,12 em seu Título I, Capítulo I, artigo 2º, prevê que
informar ao paciente, da maneira mais clara possível, todas
[...] consumidor é toda pessoa física ou jurídica que ad-
as características do caso e, principalmente, quaisquer di-
quire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
ficuldades para a realização do tratamento, caso existam.
Também se devem informar previamente possíveis extra- E no artigo 3º do mesmo Capítulo, prevê que
ções dentárias, cirurgias ortognáticas, etc.
[...] fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, públi-
As expectativas do paciente quanto à condução do
ca ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os
tratamento ortodôntico e aos resultados finais são grandes
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade
e, se o profissional não esclarecer suas dúvidas, o relacio-
de produção, montagem, criação, construção, trans-
namento entre ambos pode entrar em conflito.7 O ortodon-
formação, importação, exportação, distribuição ou co-
tista deve analisar seus casos individualmente, explicando
mercialização de produtos ou prestação de serviços.
as possíveis limitações de cada um, o planejamento do
tratamento, os resultados esperados e se a expectativa do O Consentimento Livre Esclarecido e/ou o Contrato de
paciente será ou não alcançada, pois existem tratamentos Prestação de Serviços deverão ser elaborados de forma
fáceis, com resultados previsíveis, e tratamentos difíceis, clara, objetiva e de fácil entendimento por parte do paciente
com resultados imprevisíveis.7,14,15 ou de seu responsável legal, permitindo-lhes obter informa-
Um dos questionamentos que comumente ocorrem ções a respeito de todo o plano de tratamento e sua condu-
12
nas consultas iniciais engloba o tempo que durará o tra- ção. O Código de Ética Odontológica, em seu Capítulo V,
tamento. Caberá ao profissional bem preparado relatar os Seção I, artigo 11, inc. X, constitui como infração ética
múltiplos fatores relacionados ao tratamento ortodôntico [...] iniciar qualquer procedimento ou tratamento odon-
em questão, envolvendo o diagnóstico, o tipo de tratamen- tológico sem o consentimento prévio do paciente ou do
to e a cooperação do paciente.16 O número de fases do seu responsável legal, exceto em casos de urgência ou
tratamento, o relacionamento oclusal dos molares, a idade emergência.
do paciente ao início do tratamento, o número de extrações
dentárias necessárias, a utilização ou não de aparelhos ex- E o CDC,21 em seu Capítulo III, artigo 6º, inc. III, assegura
trabucais, os ângulos ANB e do plano mandibular iniciais [...] a informação adequada e clara sobre os diferen-
– todos influenciam na duração do tratamento ortodônti- tes produtos e serviços, com especificação correta de
co.16-19 Além disso, as faltas às consultas, as quebras do quantidade, características, composição, qualidade e
aparelho e a higiene bucal deficiente são fatores que tam- preço, bem como sobre os riscos que apresentem.
bém têm relação com o aumento do tempo necessário para
completar o tratamento ortodôntico.19 A cooperação do paciente, desejada pelo profissional,
O profissional deverá, ainda, informar ao paciente sobre durante o tratamento ortodôntico, relativa a higienização,
o investimento financeiro, incluindo as formas de pagamen- utilização de aparelhos extrabucais e demais aparelhos re-
to, os índices de reajuste, o nível de tolerância a atrasos, movíveis, elásticos, faltas às consultas e/ou cancelamentos,
etc. Todas as informações deverão ser oferecidas por escri- deverá ser discutida e incluída no Consentimento Livre Es-
to, em duas vias e assinadas pelo paciente. clarecido e no Contrato de Prestação de Serviços, com a
O Código de Ética Odontológica,12 em seu Capítulo V, assinatura do paciente ou de seu responsável legal, caso
22
Seção I, artigo 11, inc. IV, constitui como infração ética seja menor de idade.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069,
[...] deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, 23
de 13 de julho de 1990), em seu Título I, artigo 2º,
riscos, custos e alternativas do tratamento.
[...] considera criança, para efeitos desta lei, a pessoa
O Código de Defesa do Consumidor (CDC), promulga- até doze anos de idade incompletos, e adolescente
do em setembro de 1990 e em vigor desde março de 1991, aquela entre doze e dezoito anos de idade.
objetivou efetivar o equilíbrio necessário nas relações entre
fornecedores e consumidores.6 De acordo com as regras
do CDC, os profissionais da área da saúde passaram a ser DURANTE O TRATAMENTO
considerados prestadores de serviço, e sua relação com os
pacientes foi estabelecida como um vínculo de consumo.20 Nas consultas de tratamento o profissional deverá sempre
Assim, a abrangência do CDC diante do serviço prestado escutar o paciente e anotar em sua ficha todos os procedi-
foi afetada principalmente em relação aos eventuais resulta- mentos clínicos efetuados.
dos insatisfatórios.6 Atualmente, com a facilidade do acesso O profissional deverá colher a assinatura do paciente
à informação, os pacientes obtêm muitos conhecimentos ou de seu responsável legal a cada procedimento clínico
sobre as possibilidades de tratamento e as condutas profis- realizado e principalmente nos casos de falta às consultas,
sionais, tornando-se cada vez mais exigentes.6,11 quebra ou dano ao aparelho, nível de higienização e pos-

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222 AB R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

síveis reclamações. O profissional poderá enviar uma carta A solicitação de telerradiografais, em norma lateral, e
registrada ao paciente, enfatizando o motivo de seu envio, a realização de sobreposições de traçados cefalométricos
que abrangerá a possível falta de colaboração no tratamento permitem a visualização da movimentação dentária e, em
ortodôntico. Essas informações, conjuntamente com a do- caso de crescimento craniofacial, as alterações decorrentes
cumentação radiográfica, fotográfica e possíveis atestados, desse crescimento. Tais informações auxiliarão o profissional
constitui o prontuário do paciente, que o profissional deve na manutenção ou na alteração do tratamento ortodôntico.
preencher e manter atualizado em um arquivo próprio.7,24-28
O Código de Ética Odontológica,12 em seu Capítulo III,
artigo 9º, inc. X, prevê como um dos deveres fundamentais AO FINAL DO TRATAMENTO
[...] elaborar e manter atualizados os prontuários na forma Ao final do tratamento ortodôntico, o profissional deverá es-
das normas em vigor, incluindo os prontuários digitais. cutar o paciente e verificar se o mesmo encontra-se satis-
O profissional deve prestar atenção às solicitações e feito com o resultado final. Deverá, também, solicitar a do-
fornecimentos de atestados, pois o Código de Ética Odon- cumentação ortodôntica final, incluindo as fotografias extra
tológica,12 em seu Capítulo VII, artigo 18, inc. III, constitui e intrabucais, os exames radiográficos, com as radiografias
como infração ética periapicais de todos os dentes, a radiografia panorâmica, a
telerradiografia obtida em norma lateral e/ou posteroanterior,
[...] expedir documentos odontológicos: atestados, de-
e os modelos em gesso das arcadas superior e inferior. A
clarações, relatórios, pareceres técnicos, laudos peri-
análise criteriosa desses exames auxiliará na visualização
ciais, auditorias ou de verificação odontolegal, sem ter
dos resultados do tratamento e orientará o paciente em suas
praticado ato profissional que o justifique, que seja ten-
consultas regulares de controle específicas para cada caso.
dencioso ou que não corresponda à verdade.
Toda a documentação do caso, do início ao final do tra-
O profissional deve assegurar ao paciente ou ao seu tamento, e mesmo das consultas de retorno, deve constituir
responsável legal o livre acesso ao prontuário, como prevê o o prontuário do paciente, atendendo, quando adequado, a
Código de Ética Odontológica,12 em seu Capítulo VII, artigo todos os critérios administrativos, clínicos e legais.
18, inc. I, que constitui infração ética O prontuário pertence ao paciente, mas fica sob a guar-
da do profissional, e todas as informações são sigilosas. O
[...] negar, ao paciente ou periciado, acesso a seu pron-
Código de Ética Odontológica,12 em seu Capítulo VI, artigo
tuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada,
14, inc. III, constitui como infração ética
bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à
sua compreensão, salvo quando ocasionem riscos ao [...] fazer referência a casos clínicos identificáveis, exi-
próprio paciente ou a terceiros. bir paciente, sua imagem ou qualquer outro elemento
que o identifique, em qualquer meio de comunicação
Se durante o tratamento ocorrerem situações recorren-
ou sob qualquer pretexto, salvo se o cirurgião-dentista
tes de faltas injustificáveis às consultas, quebras do apare-
estiver no exercício da docência ou em publicações
lho, nível de higienização inadequado e o profissional avisou
científicas, nos quais a autorização do paciente ou res-
previamente o paciente ou seu responsável legal, o Código
ponsável legal lhe permite a exibição da imagem ou
de Ética Odontológica,12 em seu Capítulo II, artigo 5º, inc. V,
prontuários com finalidade didático-acadêmicas.
prevê como um dos direitos fundamentais do profissional
No caso de arquivos digitais, os mesmos deverão ser
[...] o renunciar ao atendimento do paciente, durante
impressos e ter a assinatura do paciente ou de seu respon-
o tratamento, quando da constatação de fatos que,
sável legal.7,24,25,28
a critério do profissional, prejudiquem o bom relacio-
Constitui-se dever do ortodontista manter o prontuário
namento com o paciente ou o pleno desenvolvimento
o mais completo possível, o que denota sua dedicação, se-
profissional. Nestes casos, tem o profissional o dever
riedade, conduta ética e técnica.29
de comunicar previamente, por escrito, ao paciente ou
seu responsável legal, fornecendo ao cirurgião-dentista
que lhe suceder todas as informações necessárias para
a continuidade do tratamento.
CONSULTAS DE CONTROLE
PÓS-TRATAMENTO ORTODÔNTICO
A solicitação de radiografias periapicais durante o tra-
tamento ortodôntico fornecerá ao profissional informações As consultas de retorno devem ser agendadas conforme as
sobre a existência ou não de reabsorções radiculares e, características de cada caso, como idade do paciente, tipo
caso existam, ele deverá informar o paciente e alterar a con- e severidade da má oclusão, constituição tecidual e respos-
dução do tratamento com a finalidade de evitar o agrava- tas biológicas, dentre outros fatores,29 podendo ocorrer a
mento das mesmas. cada seis meses ou anualmente.

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ORTOD ONT IA P R EV ENTIVA 223

As consultas de controle poderão se prolongar até que 6. Silva AA, Malacarne GB. Responsabilidade civil do cirurgião den-
se atinja a estabilidade do caso.7 tista perante o Código de Defesa do Consumidor. J Bras Ortodon
Ortop Facial. 1999;4(22):305-10.
Todos os procedimentos clínicos deverão ser anota-
7. Rodrigues CK, Shintcovsk RL, Tanaka O, França BHS, Hebling E.
dos no prontuário, bem como as faltas às consultas, as
Responsabilidade civil do ortodontista. Rev Dent Press Ortodon
quebras do aparelho de contenção, o nível de higieniza- Ortop Facial. 2006;11(2):120-7.
ção, as reclamações, etc. As assinaturas sempre devem 8. Petrelli NE. Aspectos éticos e legais em ortodontia. Entrevista. Rev
ser colhidas. Dent Press Ortodon Ortop Facial. 1998;3(5):6-10.
Se durante as consultas de controle o paciente e/ou o 9. Maruo IT, Colucci MG, Vieira S, Tanaka O, Camargo ES, Maruo H.
profissional verificarem recidiva, esta deverá ser cuidado- Estudo da legalidade do exercício profissional da ortodontia por
cirurgião-dentista não-especialista. Rev Dent Press Ortodon Ortop
samente analisada, uma vez que 70% dos ortodontistas
7,14 Facial. 2009;14(6):42-5.
propõem o retratamento ortodôntico. O Código de Éti- 10. Morgenstern AP, Feres MAL, Petrelli E. Caminhos e descaminhos
12
ca Odontológica, em seu Capítulo III, artigo 9º, inc. XIV, da ortodontia no Brasil. Rev Dent Press Ortodon Ortop Facial.
prevê que 2004;9(6):109-21.
11. Minervino, B; Souza OT. Responsabilidade civil e ética do ortodon-
[...] é dever do profissional da Odontologia assumir res-
tista. Rev Dent Press Ortodon Ortop Facial. 2004;9(6):90-6.
ponsabilidade pelos atos praticados, ainda que estes 12. Conselho Federal de Odontologia. Código de ética odontológica
tenham sido solicitados ou consentidos pelo paciente [Internet]. Rio de Janeiro: CFO; 2013 [capturado em 3 ago 2013].
ou seu responsável. Disponível em: http://cfo.org.br/wp-content/uploads/2009/09/co-
digo_etica.pdf.
A obtenção do almejado sucesso profissional inclui pelo 13. Machen DE. On legal issues in orthodontics. J Clin Orthod. 1992;
menos três atitudes: 26(6):347-53.
14. França BHS, Ribas MO, Lima AAS. Orientações legais aos orto-
1. investimento na formação técnica especializada ade-
dontistas. Rev Dent Press Ortodon Ortop Facial. 2002;2(2):25-
quada; 31.
2. investimento na organização administrativa do consul- 15. Fernandes F. Responsabilidade civil do cirurgião dentista no pós-
tório; e -tratamento ortodôntico. São Paulo: USP; 2000.
3. investimento no equilíbrio emocional de toda a equipe 16. Vig PS, Weintraub JA, Brown C, Kowalski CJ. The duration of
de trabalho. orthodontic treatment with and without extractions: a pilot stu-
dy of five selected practices. Am J Orthod Dentofacial Orthop.
Não existe sucesso sem o devido trabalho e dedicação. 1990;97(1):45-51.
A conduta ética profissional envolve atitudes diárias e 17. Fink DF, Smith RJ. The duration of orthodontic treatment. Am J
30 Orthod Dentofacial Orthop. 1992;102(1):44-51.
uma diferenciação entre envolvimento e comprometimento.
18. Sperry TP. The limitations of orthodontic treatment. Angle Orthod.
O profissional deve não apenas permanecer envolvi-
1993;63(2):155-8.
do com seus pacientes, mas também permanecer com-
19. Beckwith FR, Ackerman RJ Jr, Cobb CM, Tira DE. An evaluation
prometido com eles. O comprometimento implica a paixão of factors affecting duration of orthodontic treatment. Am J Orthod
pelo trabalho, o doar-se para os pacientes, o que se re- Dentofacial Orthop. 1999;115(4):439-47.
fletirá nos resultados do tratamento ortodôntico. A paixão 20. A ética odontológica. Jornal do Conselho Federal de Odontologia.
pelo trabalho motivará a equipe, contagiará os pacientes. O 2011;19(100):3.
profissional comprometido busca não apenas a sua atua- 21. Brasil. Código de Defesa do Consumidor [Internet]. Brasília: Presi-
dência da República; 1990 [capturado em 1 abr 2012]. Disponível
lização técnica, mas principalmente o seu aprimoramento
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm.
pessoal e espiritual. 22. Machen DE. Legal aspects of orthodontic practice: risk manage-
É desenvolvendo uma atitude de responsabilidade pe- ment concepts. The uncooperative patient: terminating orthodontic
care. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1990;97(6):528-9.
los outros que começamos a criar o mundo mais bon-
31 23. Brasil. Estatuto da criança e do adolescente [Internet]. Brasília:
doso e compassivo com que todos sonhamos.
Presidência da República; 1990 [capturado em 1 abr 2012]. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm.
24. Paranhos LR, Guedes TMP, Jóias RP, Torres FC, Scanavini MA.
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sileira; 2010. OrtodontiaSPO. 2009;42(2):143-8.
4. Berlinguer G. Bioética cotidiana. Brasília: UNB; 2004. 26. Paranhos LR, Caldas JCF, Iwashita AR, Scanavini MA, Daruge Jú-
5. New principles of Ethics and Code of Professional conduct. Ameri- nior E. A importância da documentação ortodôntica nas perícias
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1994;106(6):12A-15A. 301.

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224 A B R ÃO, M O RO, H O R L I AN A , S H IMIZU

27. França BHS, Kuss DS. O prontuário clínico e odontológico 29. Velo MMO, Almeida MHC, Almeida RC, Salvatto MV. Ética e litígios
como meio de identificação humana. J Bras Clin Odontol Integr. em ortodontia. Nova Odessa: Napoleão; c2008.
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28. Silva AA, Malacarne GB. Documentos da clínica odontológica. J da liderança. 25. ed. Rio de Janeiro: Sextante; 2004.
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