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Aula 07 – Representação de elementos do sistema através de

quadripolos (Material baseado nas notas do Prof. Cardieri)


As figuras dessa Nota de Aulas foram retiradas do livro Engineering Circuits
Analysis, Hayt, Kemmerly e Durbin.
CONCEITUAÇÃO DO QUADRIPOLO

Redes de dois pares de terminais, sendo um par de entrada e outro de saída são muito importantes
em circuitos elétricos, pois modelam a situação em que um sinal é processado por um circuito,
gerando outro sinal.

Bipolos vs. quadripolo:

Quanto temos apenas um par de terminais, a


rede é chamada de bipolo. Claramente, ia  ib .

Quando temos dois pares de terminais,


chamamos de quadripolos.

Para a análise de quadripolos, usaremos a seguinte representação para as correntes e tensões dos
pares de entrada e saída. Reparem que as duas correntes entram no circuito, um conceito diferente
do que utilizamos nos dipolos (R, L, C). Se pensarmos no fluxo de potência num circuito do gerador
para a carga, trabalharíamos com uma corrente 𝐼2′ = −𝐼2.

Algumas restrições são impostas quanto à composição do quadripolo e às conexões:


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 Fontes e cargas só podem ser conectados a um par de terminais, de entrada ou de saída. Ou
seja, nenhum bipolo externo pode ser conectado a um terminal de um par, e a um terminal
de outro par.
 Os quadripolos devem ser compostos por elementos passivos lineares (capacitores,
indutores e resistores) e fontes dependentes lineares.
 Fontes independentes não são permitidas no interior do quadripolo.
Estudaremos formas de representação de quadripolos que nos permitirão analisar o funcionamento
do elemento, sem a necessidade de descrever as correntes e as tensões internas do quadripolo.

TIPOS DE QUADRIPOLOS

Quadripolo do tipo Admitância:

Consideremos o quadripolo:

Supondo que não haja fontes independentes no interior do quadripolo, e que todos o elementos que
o compõem (bipolos passivos e fontes dependentes) sejam lineares. Podemos dizer que a corrente 𝐼1̇
é formada pela soma de uma corrente devido a 𝑉1̇ e outra devido a 𝑉̇2 (pelo Princípio da
Superposição). Usando o mesmo argumento para 𝐼2̇ , podemos escrever, portanto:

𝐼1̇ = 𝑦̅11 𝑉1̇ + 𝑦̅12 𝑉̇2 e


𝐼2̇ = 𝑦̅21 𝑉1̇ + 𝑦̅22 𝑉̇2 e

O que nos leva a poder escrever

̇ 𝑉̇
̅ ∙ 𝑉̇ → [𝐼1 ] = [𝑦̅11
𝐼̇ = 𝑄
𝑦̅12
] ∙ [ 1]
𝑌 𝐼2̇ 𝑦̅21 𝑦̅22 𝑉̇2

Os coeficientes 𝑦̅𝑘𝑚 1 são desconhecidos (é o que buscaremos determinar) e têm dimensão de


condutância, ou seja, S ou siemens. Esses coeficientes são conhecidos como parâmetros de
admitância.

1
Sempre que forem usar índices nos trabalhos e relatórios evitem utilizar as letras "i" e "j". O "i" é usado em
engenharia elétrica para representar a corrente e a letra "j" para representar o número complexo (𝑗 = √−1).
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Note que podemos interpretar 𝑦̅11 como sendo a razão 𝑉1̇ /𝐼1̇ quando 𝑉̇2 =0. Assim, podemos
determinar cada um dos parâmetros 𝑦̅𝑘𝑚 curto-circuitando a tensão de entrada ou de saída, ou seja,

𝐼̇
𝑦̅11 = 𝑉1̇ | é a admitância de entrada com curto-circuito (c.c.) na saída;
1 𝑉̇2 =0

𝐼̇
𝑦̅22 = 𝑉2̇ | é a admitância de saída com c.c. na entrada;
2 𝑉̇1 =0

𝐼̇
𝑦̅12 = 𝑉1̇ | é a admitância de transferência com c.c na entrada;
2 𝑉̇1 =0

𝐼̇
𝑦̅21 = 𝑉2̇ | é a admitância de transferência com c.c. na saída.
1 𝑉̇2 =0

Vamos pensar nos circuitos de medida para obter os parâmetros do quadripolo:

Curto-circuito na saída
(𝑉̇2 = 0)

Curto-circuito na entrada
(𝑉1̇ = 0)

É um tratamento parecido com o que fazemos para calcular a impedância de Thevenin (equivalente)
de um circuito qualquer. Aqui todo uma rede elétrica que não vai ser alterada pode ser representada
por um quadripolo, onde conheço as tensões e correntes na fronteira da parte a ser equivalentada.
Veja que como estamos trabalhando com impedâncias este sistema é obtido para uma determinada
frequência do sinal de entrada (função de 𝜔).

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Exemplo 01: Considere o circuito mostrado abaixo (por simplicidade, somente formado por
elementos resistivos):

Podemos determinar cada um dos parâmetros 𝑦̅𝑘𝑚 aplicando a sua respectiva definição.

Por exemplo, 𝑦̅11 é a razão 𝑉1̇ /𝐼1̇ quando 𝑉̇2 = 0. Portanto, curto-circuitando a saída, teremos entre
os terminais de entrada dois resistores em paralelo, sendo um de 10  e outro de 5  , resultando
em 10 3  , ou seja, 𝑦̅11 = 0,3 𝑆.

Por outro lado, para determinarmos 𝑦̅12 , curto-circuitamos a entrada, e precisamos determinar 𝐼1̇ em
função de 𝑉̇2 . Para tal, podemos aplicar uma tensão de 1 volt na saída e medimos a corrente no curto-
circuito na entrada. Essa corrente será 𝐼1̇ = 0,1 𝐴 , resultando 𝑦̅12 = 0,1 𝑆.

Procedendo de forma similar para os outros paramentos, chegamos a

𝐼1̇ = 0,3𝑉1̇ − 0,1𝑉̇2


𝐼2̇ = −0,1𝑉1̇ + 0,15𝑉̇2

Uma forma alternativa de determinar esses coeficientes é por meio da análise nodal aplicada nos
terminais de entrada e saída, em função de 𝑉1̇ e 𝑉̇2 .

Quadripolo do Tipo Impedância - Parâmetros Impedância:

Consideremos novamente o modelo geral de um quadripolo:

Podemos considerar que as tensões 𝑉1̇ e 𝑉̇2 são respostas das correntes 𝐼1̇ e 𝐼2̇ , ou seja:

𝑉1̇ = 𝑧̅11 𝐼1̇ + 𝑧̅12 𝐼2̇ e


𝑉̇2 = 𝑧̅21 𝐼1̇ + 𝑧̅22 𝐼2̇ e

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Na forma matricial, temos

̇ 𝐼̇
̅ ∙ 𝐼 ̇ → [𝑉1 ] = [𝑧̅11
𝑉̇ = 𝑄
𝑧̅12
] ∙ [ 1]
𝑍 𝑉̇2 𝑧̅21 𝑧̅22 𝐼2̇

Note-se que os coeficientes 𝑧̅𝑘𝑚 têm unidade ohms, sendo chamados de parâmetros de impedância.
As impedâncias podem ser determinadas zerando uma das correntes, ou seja, abrindo a entrada ou a
saída. Assim, os parâmetros 𝑧̅𝑘𝑚 recebem as seguintes denominações:

𝑉̇1
𝑧̅11 = | é a impedância de entrada com circuito aberto (c.a.) na saída;
𝐼1̇ 𝐼̇ =0
2

𝑉̇2
𝑧̅22 = |
𝐼2̇ 𝐼̇ =0
é a impedância de saída com c.a. na entrada;
1

𝑉̇1
𝑧̅12 = |
𝐼2̇ 𝐼̇ =0
é a impedância de transferência com c.a. na entrada;
1

𝑉̇2
𝑧̅21 = |
𝐼1̇ 𝐼̇ =0
é a impedância de transferência com c.a. na saída.
2

Circuito aberto na saída


𝐼2̇ = 0

Circuito aberto na entrada


𝐼1̇ = 0

Vamos calcular os parâmetros do quadripolo:

𝑉̇ 10 3 2 𝐼1̇
[ 1] = [ ][ ]
𝑉̇2 7 2 6 𝐼2̇

Note que 𝑧̅𝑘𝑚 ≠ 1⁄𝑦̅ , uma vez que as condições impostas nas definições são diferentes.
𝑘𝑚

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Por exemplo:

𝐼̇
𝑦̅11 = 𝑉1̇ |  saída em curto (𝑉̇2 = 0).
1 𝑉̇2 =0

enquanto que

𝑉̇1
𝑧̅11 = |
𝐼1̇ 𝐼̇ =0
 saída em aberto (𝐼2̇ = 0).
2

Porém, podemos mostrar que

−1
𝑄̅𝑌 = 𝑄̅𝑍

Vamos inverter as matrizes:

10 3 2 0,3 −0,1
𝑄̅𝑍 = [ ] → 𝑄̅𝑌 = [ ]
7 2 6 −0,1 0,15

Quadripolo Híbrido H - Parâmetros Híbridos (H)

Uma outra forma de caracterizar um quadripolo é considerar a corrente de entrada 𝐼1̇ e a tensão de
saída 𝑉̇2 como variáveis independentes. Assim, escrevemos as equações

𝑉1̇ = ℎ̅11 𝐼1̇ + ℎ̅12 𝑉̇2 e


𝐼2̇ = ℎ̅21 𝐼1̇ + ℎ̅22 𝑉̇2 e

Na forma matricial, temos

𝑉̇ ̇ ̇ ̅ ℎ̅12 𝐼̇
̅ ∙ [ 𝐼1 ] → [𝑉1 ] = [ℎ11
[ 1] = 𝐻 ] ∙ [ 1]
𝐼2̇ 𝑉̇2 𝐼2̇ ℎ̅21 ℎ̅22 𝑉̇2

com

̅ ℎ̅12
̅ = [ℎ11
𝐻 ].
ℎ̅21 ℎ̅22

Os coeficientes ℎ̅𝑘𝑚 são chamados de parâmetros híbridos h, e recebem as seguintes denominações:

𝑉̇
ℎ̅11 = 𝐼̇1 | é a impedância entrada, com curto circuito (c.c.) na saída;
1 𝑉̇2 =0

𝐼̇
ℎ̅22 = 𝑉2̇ | é a admitância de saída, com c.a. na entrada;
2 𝐼1̇ =0

𝑉̇
ℎ̅12 = 𝑉̇1 | é o ganho de tensão reverso com c.a. na entrada;
2 𝐼1̇ =0

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𝐼̇
ℎ̅21 = 𝐼2̇ | é o ganho de corrente com c.c. na saída.
1 𝑉̇2 =0

Quadripolo Híbrido Tipo G - Parâmetros Híbridos (G)

Da mesma forma, podemos definir os parâmetros híbridos 𝑔̅𝑘𝑚 da forma

𝐼̇ 𝑉̇ 𝐼̇ 𝑔̅ 𝑔̅12 𝑉1̇
[ 1 ] = 𝐺̅ ∙ [ 1 ] → [ 1 ] = [ 11 ∙[ ]
̇𝑉2 ̇𝐼2 ̇𝑉2 𝑔̅21 𝑔̅22 ] 𝐼2̇

com

𝑔̅ 𝑔̅12
𝐺̅ = [ 11
𝑔̅21 𝑔̅22 ]

Podemos facilmente mostrar que

𝐺̅ = 𝐻
̅ −1

Parâmetros de Transmissão

Por fim, uma última forma de caracterizar um quadripolo é considerar a tensão e a corrente de
entrada , 𝑉1̇ e 𝐼1̇ em função da tensão e corrente da saída, 𝑉̇2 e 𝐼2̇ . O quadripolo será:

Assim, escrevemos as equações

𝑉1̇ = 𝑡11
̅ 𝑉̇2 + 𝑡12
̅ 𝐼2̇ [V]
𝐼1̇ = 𝑡21
̅ 𝑉̇2 + 𝑡22
̅ 𝐼2̇ [A]

Na forma matricial, temos

𝑉̇ 𝑉̇
[ 1 ] = 𝑇̅ ∙ [ 2 ]
𝐼1̇ 𝐼2̇

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com

𝑡̅ ̅
𝑡12
𝑇̅ = [ 11
̅
𝑡21 ̅𝑡22 ]

Em sistema de potência utilizamos o quadripolo do tipo transmissão para diversas análise, como
obtenção da corrente de curto-circuito (defeito). Para respeitar o fluxo de potência utilizamos o
quadripolo com a corrente de saída invertida, ou seja:

𝑉̇ 𝑉̇2
[ 1 ] = 𝑄̅𝑇 ∙ [ ′ ]
𝐼1̇ 𝐼2̇

Neste caso temos o quadripolo descrito por

̅ ̅
𝑄̅𝑇 = [𝐴 𝐵 ]
̅
𝐶 𝐷 ̅

Agora ambas as correntes 𝐼1̇ e 𝐼2̇ estão com o sentido para a direita.

Podemos escrever

𝑉̇
[ 1 ] = [𝐴
̅ 𝐵̅ ] ∙ [ 𝑉̇2 ]

𝐼1̇ 𝐶̅ 𝐷̅ 𝐼2̇

Por facilidade, vamos assumir que a corrente de saída neste quadripolo está no sentido do fluxo e
passaremos a utilizar 𝐼2̇ , ou seja:

𝑉̇ ̅ ̅ 𝑉̇
[ 1 ] = [𝐴 𝐵 ] ∙ [ 2 ]
𝐼1̇ 𝐶̅ 𝐷̅ 𝐼2̇

Os coeficientes 𝑞̅𝑡−𝑘𝑚 são chamados de parâmetros de transmissão ou parâmetros ABCD, e são


calculados seguindo o mesmo procedimento adotado nas outras representações, ou seja:

𝑉̇ ̇
𝐴̅ = 𝑉̇1 | (ganho reverso de tensão) , ̅ = 𝐼1 |
𝐷 (ganho reverso de corrente)
2 𝐼2̇ =0 𝐼̇ 2 𝑉̇2 =0

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𝑉 ̇ 𝐼̇
𝐵̅ = 𝐼̇1 | (impedância de transferência) e 𝐶̅ = 𝑉1̇ | (admitância de transferência)
2 𝑉̇2 =0 2 𝐼2̇ =0

Se conhecermos os sinais do lado de entrada poderemos obter o quadripolo para calcular os sinais do
lado de saída como apresentado a seguir:

−1
𝑉̇ ̅ 𝐵̅ ] ∙ [𝑉1̇ ]
[ 2 ] = [𝐴
̇𝐼2 𝐶 ̅ ̅
𝐷 𝐼1̇

Relembrando, as seguintes condições devem ser obedecidas para que a formulação estudada aqui
sobre quadripolos seja válida:

 O circuito do quadripolo deve ser linear, ou seja, conter apenas bipolos lineares (resistores,
capacitores e indutores supostos lineares) e fontes dependentes lineares,
 O circuito do quadripolo não deve conter fontes independentes,
 Não pode haver qualquer bipolo conectando as duas portas.

QUADRIPOLOS INEXISTENTES

Alguns elementos não podem ser representados por todos os tipos de quadripolos. Vejamos alguns
exemplos:

Não existe Quadripolo do Tipo Impedância

Veja que no exemplo abaixo não é possível obter uma matriz impedância.

A matriz admitância é dada por:

1 1
̇ −
̅ ∙ 𝑉̇ → [𝐼1 ] = 𝑅𝑏 𝑅𝑏 𝑉1̇
𝐼̇ = 𝑄 𝑌 ∙[ ]
𝐼2̇ 1 1 𝑉̇2

[ 𝑅𝑏 𝑅𝑏 ]

Não existe matriz impedância

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A matriz de transmissão é dada por:

𝑉̇ 1 𝑅𝑏 𝑉̇
[ 1] = [ ]∙[ 2 ]
̇𝐼1 0 1 −𝐼2̇

Veja se existe a Matriz de admitância para o exemplo abaixo. Encontre a matriz de impedância e de
transmissão.

A matriz de Impedância é

̇ 𝐼̇
̅ ∙ 𝐼 ̇ → [𝑉1 ] = [ 𝑅𝑎
𝑉̇ = 𝑄
−𝑅𝑎
] ∙ [ 1]
𝑍 ̇𝑉2 −𝑅𝑎 𝑅𝑎 𝐼2̇

A Matriz de admitância não existe.

A matriz de transmissão é dada por:

1 0
𝑉̇ 𝑉̇2
[ 1] = [ 1 1 −𝐼2̇ ]
] ∙ [
𝐼1̇ 𝑅𝑎

IMPEDÂNCIA DE ENTRADA

A impedância de entrada de um circuito é a relação entre a tensão de entrada (V1) e a corrente de


entrada (I1). Vejamos no circuito abaixo.

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Vamos apresentar o quadripolo tipo transmissão:

𝑉1 = 𝐴𝑉2 + 𝐵𝐼2
{
𝐼1 = 𝐶𝑉2 + 𝐷𝐼2

Na carga 𝑍 temos 𝑉2 = 𝑍𝐼2

Descrevendo a relação entre a tensão de entrada e a corrente 𝐼2 :

𝑉1 𝑉2
=𝐴 +𝐵 =𝐴𝑍+𝐵
𝐼2 𝐼2

Descrevendo a relação entre a corrente de entrada e a corrente 𝐼2 :

𝐼1 𝑉2
= 𝐶 + 𝐷 = 𝐶𝑍 + 𝐷
𝐼2 𝐼2

Podemos então obter a impedância de entrada:

𝑉1 𝐴 𝑍 + 𝐵
𝑍𝑒𝑛𝑡 = =
𝐼1 𝐶𝑍 + 𝐷

Exercício: Vamos encontrar a impedância de entrada do circuito abaixo:

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Exercício 2: Obter o Circuito equivalente de Thevenin visto pela carga para o circuito abaixo
̇ = 100∡0° 𝑉.
considerando 𝑉𝑐𝑛

Obter a tensão de circuito aberto.

Obter a impedância equivalente do circuito (Zthev).

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CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DE UM QUADRIPOLO INSERIDO NUM CIRCUITO

1. Impedância de entrada
2. Equivalente de Thevenin
3. Corrente de saída

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4. Ganho de corrente
5. Ganho de tensão
6. Ganho de tensão saída e fonte (Vc)

ASSOCIAÇÃO DE QUADRIPOLOS

A grande facilidade de se trabalhar com a representação do circuito elétrico através de quadripolos é


pela simplicidade da análise através de associações de matrizes. Muitas vezes as associações podem
ser feitas por somas de matrizes, outras por produtos. O adequado é transformar um quadripolo de
uma forma para outra de modo a facilmente associar os elementos e ter, ao final, um único
quadripolo para representar o sistema. Conhecendo-se as condições de fronteira, ou seja, duas das
variáveis (ditas de estado) podemos rapidamente identificar as demais. Vamos ver agora como
associar os quadripolos.

Associação Paralela

Suponha que o circuito elétrico tem ramos em paralelos, ou seja ramos que estão submetidos a um
mesmo potencial de tensão. Podemos representar cada ramo por um quadripolo e, finalmente,
associar os quadripolos de modo a obter um quadripolo resultante.

Vejamos na figura abaixo

O quadripolo Q1 representa as relações entre tensão e corrente no ramo 1. O quadripolo Q2


representa as relações de tensão e corrente no ramo 2. Podemos verificar que as tensões de entrada
dos ramos 1 e 2 são iguais a VA1. De forma semelhante, as tensões de saída dos ramos 1 e 2 são iguais
a VA2. Isto indica que os ramos 1 e 2 encontram-se em paralelo.

Temos então as condições de contorno, apresentadas a seguir:

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I1  I1a  I1b ; V1  V1a  V1b
I 2  I 2 a  I 2b ; V2  V2 a  V2 b

Onde:

V1 – Tensão de entrada para Q1 e Q2.

V2 – Tensão de saída para Q1 e Q2.

I1a e I1b – Correntes nas portas de entrada dos quadripolos Q1 e Q2, respectivamente.

I2a e I2b – Correntes nas portas de saída dos quadripolos Q1 e Q2, respectivamente.

O quadripolo resultante QTOT de uma associação de quadripolos em paralelo é facilmente obtido


associando-se quadripolos do tipo admitância. Ainda que os quadripolos originais estejam descritos
de outra forma eles podem ser convertidos para quadripolos do tipo admitância.

I   Q   V 

Os quadripolos associados em paralelo são expressos como um quadripolo tipo admitância.


Vamos inicialmente apresentar os quadripolos do tipo admitância dos dois ramos do circuito
elétrico Q1 e Q2, respectivamente.

 I1a  Y11a Y12 a  V1a 


 I   Y 
Y22 a  V2 a 
 2 a   21a

 I1b  Y11b Y12 b  V1b 


 I   Y 
Y22 b  V2 b 
 2 b   21b

Estes elementos em paralelo são associados como apresentado a seguir:

 I1   Y11a  Y11b Y12 a  Y12b   V1 


 I   Y  Y 
Y22 a  Y22b  U 2 
 2   21a 21b

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Os elementos do quadripolo total do tipo admitância apresentado acima correspondem à soma
dos elementos dos quadripolos Q1 e Q2.

 I1  YA YB  V1 
 I   Y 
YD  V2 
 2  C

O quadripolo total do tipo admitância pode ser convertido em um quadripolo que relaciona,
por exemplo, tensão/corrente na entrada com tensão/corrente na saída (do tipo transmissão),
conforme apresentado a seguir:

V2    YB   YA YB 1  V1 


1

I    
1   
 2  YC  YAYD YB  YD YB    I1 
1

Observação importante: para que essa relação


acima seja verdadeira, é necessário que o
quadripolo resultante seja, de fato, é um
quadripolo. Ou seja, as correntes no par de
terminais de entrada devem ser iguais, o mesmo
valendo para as correntes no par de terminais de
saída. Além disso, não podemos ter conexões
externas que façam uma ponte entre a entrada e
a saída.

Para que essas condições sejam válidas na


conexão em paralelo dos quadripolos A e B,
devemos ter:

 Cada quadripolo deve ter um nó em


comum entre sua entrada e sua saída,
 Na conexão em paralelo, esses nós em
comum devem ser conectados.

Associação em Série

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Consideremos agora a conexão em série, como ilustrado na figura abaixo.

Podemos afirmar que os quadripolos estão em série porque a corrente de entrada I1 é a mesma para
os dois quadripolos. Da mesma forma a corrente de saída I2 é a mesma para os dois quadripolos.
Podemos escrever:

Para ambos os quadripolos, temos:

VA  z A I A e VB  z B I B

Como I A  I B  I e VA  VB  V , então

V  VA  VB
 z AI A  z B I B
 z A  z B I

Portanto, para a conexão em série de dois quadripolos, a matriz de impedância resultante é a soma
das matrizes de impedância individuais.

z  z A  zB

Essa relação somente é válida se,

 individualmente cada quadripolo A e B tiver um terminal comum entre entrada e saída,


 os terminais comuns entre entrada e saída de cada terminal estiverem conectados entre si na
associação, como mostra a figura.

Associação em Cascata

Consideremos, por fim, dois elementos de um circuito elétrico representado por quadripolos
conectados como mostra a figura abaixo.

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Através de uma associação em cascata de quadripolos pode-se representar elementos
associados em série num circuito elétrico.

Os sistemas de dois quadripolos Q1 e Q2 podem descrever as variáveis de tensão e corrente


associadas às respectivas portas de entrada e saída.

V1 A  V2 A  V3 B  V4 B 


I   t A I  e I   tB I 
 1A   2A   3B   4B 

Como

V2 A  V3 B 
I   I 
 2 A   3B 

então

V1 A  V4 A 
 I   t At B  I 
 1A   4A 

t  t At B

Ou seja

V1 A  V4 A 
I   t I 
 1A   4A 

Esta associação é muito utilizada porque podemos obter rapidamente as variáveis de saída de um
circuito através de associação em cascata dos seus componentes se eles forem representados por
quadripolos do tipo transmissão. Sabendo as condições de contorno, ou seja, valores de tensão numa
fonte e o estado do sistema num terminal podemos obter as tensões em cada nó e as correntes nos
ramos de forma simples. Vamos ver o método através de um exemplo. Primeiramente vamos
representar os elementos do circuito por quadripolos do tipo transmissão.

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REPRESENTAÇÃO DE ELEMENTOS DO CIRCUITO ATRAVÉS DE QUADRIPOLOS DO TIPO TRANSMISSÃO

Impedância Série

Seja uma impedância série como apresentado abaixo

Podemos escrever as relações entre a tensão e a corrente de entrada com as variáveis V,I de saída
como:

𝐼1 = 𝐼2
𝑉1 = 𝑉2 + 𝑧 𝐼2
𝑉1 1 𝑧 𝑉2
[ ]=[ ][ ]
𝐼1 0 1 𝐼2

Note que para aplicar a associação em cascata é mais interessante utilizar o quadripolo que relaciona
as grandezas do nó 2 com o nó 1 (conheço 2 e desejo obter 1).

Para o caso acima o quadripolo seria

[𝑄] = [1 5 + 𝑗 30
]
0 1

Vamos agora descrever um ramo como uma carga (impedância para a terra):

Impedância em Paralelo

Novamente vamos representar um elemento do circuito, agora em paralelo.

Analisando o circuito podemos escrever as equações de tensão e corrente para os terminais de


entrada e saída. Ele é muito parecido com o anterior, mas no início é importante desenhar o
circuito para pode escrever as equações corretamente.
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𝑉1 = 𝑉2
𝐼1 = 𝐼2 + 1/𝑧 𝑉2
𝑉1 1 0 𝑉2
[ ]=[ ][ ]
𝐼1 1/𝑧 1 𝐼2

Novamente estamos trabalhando com o quadripolo tipo transmissão para podermos fazer a
associação em cascata.

Atenção quando forem escrever o quadripolo (de qualquer tipo) analisando o circuito. Sempre
verifiquem se as grandezas (unidades) da equação estão corretas, por exemplo na equação de
I1 acima todos os termos devem ter unidade de corrente. Escrevam as equações com calma.

Elemento PI

Este elemento é bastante usado em potência para representar uma estrutura com mais ramos,
como mostrado a seguir:

Analisando o circuito para representá-lo por um quadripolo tipo transmissão temos:

𝑉2
𝑉1 = 𝑉2 + 𝑅𝑏 𝐼𝑏 = 𝑉2 + 𝑅𝑏(𝐼2 + 𝐼𝑐) = 𝑉2 + 𝑅𝑏 (𝐼2 + )
𝑅𝑐
𝑅𝑏
𝑉1 = (1 + ) 𝑉2 + 𝑅𝑏 𝐼2
𝑅𝑐
𝑉1 𝑉2 𝑉1 𝑉2 1 𝑅𝑏
𝐼1 = 𝐼𝑏 + 𝐼𝑎 = 𝐼𝑏 + = 𝐼2 + + = 𝐼2 + + ((1 + ) 𝑉2 + 𝑅𝑏 𝐼2)
𝑅𝑎 𝑅𝑐 𝑅𝑎 𝑅𝑐 𝑅𝑎 𝑅𝑐
𝑅𝑏 1 1 𝑅𝑏
𝐼1 = (1 + ) 𝐼2 + ( + + ) 𝑉2
𝑅𝑎 𝑅𝑐 𝑅𝑎 𝑅𝑎 𝑅𝑐
𝑅𝑐 + 𝑅𝑏
( ) 𝑅𝑏
𝑉1 𝑅𝑐 𝑉2
[ ]=[ ][ ]
𝐼1 𝑅𝑎 + 𝑅𝑐 + 𝑅𝑏 𝑅𝑎 + 𝑅𝑏 𝐼2
( ) ( )
𝑅𝑎 𝑅𝑐 𝑅𝑎

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Esta dedução deve ser entendida como um exemplo, porque ela é muito elaborada e não é
prática. O melhor seria montar um quadripolo para as impedâncias em paralelo e outro para a
impedância série e fazer a cascata de quadripolos (produto das matrizes).

USANDO QUADRIPOLO PARA ANÁLISE DE CIRCUITO

Muitas vezes conhecemos algumas grandezas do circuito e queremos obter as demais. Pela
teoria de quadripolo sabemos que dado um par de variáveis conhecidos podemos obter o outro

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par. Isto significa que se representarmos o circuito elétrico por um único quadripolo
equivalente, se soubermos duas variáveis podemos obter as demais.

Precisamos inicialmente representar cada elemento do circuito pelo seu quadripolo do tipo
transmissão. Depois teremos que associar os quadripolos em cascata para encontrarmos o
quadripolo equivalente. Finalmente teremos que aplicar as condições de contorno para
obtermos tensão/corrente numa porta (terminal). Desta forma podemos calcular, com o auxílio
do quadripolo de cada elemento, as tensões e correntes ao longo do circuito.

Deixando isto mais claro, vamos obter a tensão na carga sabendo que a tensão na fonte do
circuito abaixo é conhecida. Começaremos identificando os vários quadripolos do circuito.

Lembrando do diagrama unifilar do nosso exemplo, vamos supor que conhecemos a tensão do
gerador que é igual a

𝑉𝑙̇ = 14,281 ∠34,5° 𝑘𝑉

Vamos agora representar cada carga (potência) por sua impedância

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Neste caso a tensão de fase do gerador (seria a tensão em cada máquina) é

𝑉𝑓̇ = 8,245 ∠4,5° 𝑘𝑉

As impedâncias são:

̅̅̅
𝑍1 = 476,1 ∠31,79° Ω = 404,678 + j 250,813 Ω
̅̅̅
𝑍2 = 851,673 ∠ − 26,565° Ω = 761,760 − 𝑗 380,879 Ω

Quando representamos cada elemento do circuito por quadripolos obtemos o circuito abaixo.
Veja que pelo exercício conhecemos a tensão V1 e sabemos que I6 é zero, ou seja,
conhecemos duas variáveis do quadripolo equivalente do circuito.

Descrevendo cada quadripolo.

𝑉1 1 5 + 𝑗 30 𝑉2
[ ]=[ ].[ ]
𝐼1 0 1 𝐼2
1 0
𝑉2 𝑉3 1 𝑉4
[ ]=[ ]=[ 1] [ 𝐼4 ]
𝐼2 𝐼3 (404,678 + j 250,813)
1 0
𝑉4 𝑉5 1 𝑉6
[ ]=[ ]=[ 1] [ 𝐼6 ]
𝐼4 𝐼5 (761,760 − 𝑗 380,879 )

Profa Maria Cristina Tavares DSE/FEEC/UNICAMP


Saber que a corrente I6 é nula não interfere na obtenção do quadripolo. O quadripolo representa um
elemento do circuito e isto não é alterado pela condição de contorno, ou seja, pelo valor de tensão e
corrente nas portas de entrada ou saída.

O quadripolo equivalente do circuito será

𝑄𝑡𝑜𝑡 = 𝑄1 𝑥 𝑄2 𝑥 𝑄3
1 0 1 0
𝑉1 1 5 + 𝑗 30 1 1 𝑉6
[ ]=[ ]𝑥[ 1] 𝑥 [ 1] [ 𝐼6 ]
𝐼1 0 1 (404,678 + j 250,813) (761,760 − 𝑗 380,879 )
𝑉1 1,03162 + 𝑗 0,082 5 + 𝑗 30 𝑉6
[ ]=[ ].[ ]
𝐼1 0,0028 − 𝑗0,00058 1 𝐼6

Como conhecemos V1 e I6 vamos escrever as equações, porque teríamos que rearranjar o quadripolo
para um do tipo híbrido.

𝑉1 = 𝐴 𝑉6 + 𝐵 𝐼6
𝐼1 = 𝐶 𝑉6 + 𝐷 𝐼6

Como I6 é nulo temos

𝑉1 = 𝐴 𝑉6

Ou seja

𝑉1 8,245 103 ∠4,5°


𝑉6 = = = 7,967𝑥103 ∠0° 𝑉
𝐴 1,03162 + 𝑗 0,082

O que resulta em

𝑉𝑐𝑙 = 13,8 𝑥 103 ∠30° 𝑉

Novo exercício

1) Dado o sistema mostrado no diagrama unifilar abaixo e descrito a seguir:

Gerador: 10.000 kVA; 6,6 kV; reatância subtransitória = 1,52 ohms.


Transformador 1: 15.000 kVA; 6,6/138 kV, Xeq = 70 ohms, referida ao lado da alta tensão.
Transformador 2: 15.000 kVA; 13,8/138 kV, Xeq = 85 ohms, referida ao lado da alta tensão.
Motor síncrono: 13,8 kV; 5.000 HP; f.p. 0,8; 75% de rendimento.
Carga: 2.000 kVA; 13,8 kV; fator de potência = 0,9 em atraso.
Impedância da linha de transmissão = 3 + j18 ohms.

Profa Maria Cristina Tavares DSE/FEEC/UNICAMP


Desenhe o circuito monofásico. Considere 1 HP = 746 W
Represente o circuito por quadripolos. Sabendo que a tensão no gerador é 13,2 kV calcule a
tensão na carga.

Profa Maria Cristina Tavares DSE/FEEC/UNICAMP

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