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Contemporânea

Contemporary Journal
3(5): 3879-3896, 2023
ISSN: 2447-0961

Artigo

PERITONITE INFECCIOSA FELINA (PIF): REVISÃO


DE LITERATURA

INFECTIOUS FELINE PERITONITIS (FIP): LITERATURE


REVIEW

DOI: 10.56083/RCV3N5-023
Recebimento do original: 10/04/2023
Aceitação para publicação: 11/05/2023

Pollyanna Nayara Alves Ferreira


Graduanda em Medicina Veterinária
Instituição: Centro Universitário Newton Paiva
Endereço: R. Mal. Foch, 15, Grajaú, Belo Horizonte - MG, CEP: 30431-189
E-mail: pollyanna.puc@gmail.com

Sarah Silva Brito


Graduanda em Medicina Veterinária
Instituição: Centro Universitário Newton Paiva
Endereço: R. Mal. Foch, 15, Grajaú, Belo Horizonte - MG, CEP: 30431-189
E-mail: sarah@gmail.com

Paula Cambraia Marinho Magalhães


Mestra em Zootecnia
Instituição: Centro Universitário Newton Paiva
Endereço: R. Mal. Foch, 15, Grajaú, Belo Horizonte - MG, CEP: 30431-189
E-mail: paula.magalhaes@newtonpaiva.br

RESUMO: O vírus da peritonite Infecciosa felina (PIFV), uma mutação não


transmissível do Coronavírus Entérico Felino (FCoV) acomete,
principalmente, animais jovens e em ambientes de colônia. É uma doença
viral imunomediada e sistêmica, classificada nas formas clínicas: efusiva, de
maior gravidade e não efusiva, menos recorrente. O diagnóstico etiológico in
vivo pode ser difícil. Uma análise do histórico do animal, sinais clínicos e
achados laboratoriais encontrados devem ser utilizados na tomada de
decisão sobre diagnósticos adicionais. Sem tratamento específico autorizado
até o momento, utiliza-se de terapias de suporte e imunossupressão para
estimular uma resposta do sistema imunológico de forma paliativa. Estudos

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mais recentes envolvendo as moléculas GS-441524 e GC376 trazem novas
perspectivas para avanços científicos em relação à terapêutica e prognóstico
dessa grave enfermidade para os felinos.

Palavras-chave: Coronavírus, gato, gs-441524.

ABSTRACT: Feline Infectious Peritonitis Virus (FIP), a non-transmissible


mutation of Feline Enteric Coronavirus (FCoV) affects mainly young animals
and in colony environments. It is an immune-mediated and systemic viral
disease, classified into clinical forms: effusive, more severe, and non-
effusive, less recurrent. In vivo etiologic diagnosis can be difficult. An analysis
of the animal's history, clinical signs, and laboratory findings found should be
used when deciding on additional diagnoses. So far, with no specific
authorized treatment, supportive therapies and immunosuppression are
used to stimulate a palliative immune system response. More recent studies
involving the molecules GS-441524 and GC376 bring new perspectives for
scientific advances in relation to the therapy and prognosis of this serious
disease for felines.

Keywords: Coronavirus, cat, gs-441524, inglês.

1. Introdução

A peritonite infecciosa felina (PIF) é uma doença sistêmica e


imunomediada causada pelo vírus da peritonite infecciosa felina (FIPV), uma
mutação do coronavírus entérico felino (FECV), não transmissível a outros
animais e aos seres humanos (CANUTO et al., 2017).
É uma doença grave e, na maioria dos casos, fatal dentro de algumas
semanas. Todavia apenas uma pequena parcela de animais chega a
desenvolvê-la: até 12% dos gatos infectados com coronavírus felino
(FCoV) podem apresentar a PIF dentro do seu organismo. O estresse é um
fator de predisposição para tal ocorrência (ADDIE et al., 2009).
A mutação também está relacionada a fatores virais e de

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susceptibilidade dos hospedeiros e acomete, em especial, animais
domésticos situados em ambiente multicat com idade entre 3 meses a 3
anos (70% dos animais com idade inferior a 1 ano). Tal como pode ocorrer
em felinos selvagens (CANUTO et al., 2017; HOSKINS, 1993).
Embora ainda represente uma das causas mais relevantes de
mortalidade em felinos jovens, a PIF é uma das infecções virais mais
pesquisada, na atualidade. Estudos atuais buscam uma melhor
compreensão acerca dos fatores que levam os FECVs transformarem-se em
FIPVs e sua relação com a imunopatogênese da PIF (PEDERSEN, 2019).
Em consonância com Pedersen (2014), o interesse na patogenia dos
coronavírus e os níveis de financiamento de pesquisa aumentaram,
significativamente, nos últimos anos desde o surgimento de doenças como
a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS) e também, a síndrome
respiratória aguda grave (SARS).
Moléculas com ação antiviral têm sido estudadas para o tratamento
da PIF, nos últimos anos, como o GC376 que é um inibidor de protease
semelhante à 3C e também o GS-441524, um análogo de nucleosídeo
(MURPHY, 2018). A pandemia do SARS-COV 2 ressalta uma importância na
continuidade dos estudos acerca do desenvolvimento de terapias antivirais
contra os coronavírus (DELAPRACE et al., 2021).
Esta revisão visa pontuar, de maneira geral, as mais recentes
atualizações científicas no que tange a peritonite infecciosa felina, seu
agente etiológico, diagnóstico, terapêutica e prevenção dessa afecção
severa e ainda fatal para os felinos mais jovens.

2. Revisão de Literatura

2.1 Etiologia

O vírus da peritonite infecciosa felina (PIF) pertence à família

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Coronoviridae, são RNA fita simples, envelopados e pleomórficos, ou seja,
apresentam-se sob diferentes formas dependendo da conformação do seu
capsídeo. A presença de glicoproteínas de membrana torna o vírus sensível
a desinfetantes e detergentes comerciais (FLORES, 2007).
O coronavírus felino (FCOV) pode se apresentar sob dois biotipos
diferentes dependendo da sua patogenicidade. O mais frequente é o
coronavírus felino entérico (FECV), que causa enterite leve ou inaparente em
felinos. O biótipo da peritonite infecciosa felina (FIPV) por sua vez é uma
linhagem mais severa responsável por conduzir para o curso fatal da doença
(FLORES, 2007).

2.2 Fatores de predisposição

Segundo Massitel et al., (2021) em relação a idade, a incidência da


doença em animais jovens, na faixa etária de três meses a três anos, pode
ocorrer devido a imaturidade do sistema imunológico desses animais e à
exposição a fatores estressantes como: castração, desmame, vacinação e
mudanças de ambiente, que contribuem no comprometimento da sua
imunidade. Já em gatos idosos, a evolução da doença é agravada na
presença de outras comorbidades que provocam, no geral, um declínio na
função imunitária.
Infecções do trato respiratório e infecção pelo vírus da
imunodeficiência felina (FIV) ou da leucemia felina (FELV) favorecem o risco
de PIF. (PESTEANU-SOMOGYI, 2006). Machos não castrados possuem uma
maior predisposição devido a alterações de imunidade celular (MASSITEL et
al., 2021).
No geral, a PIF acomete gatos de todas as raças, porém gatos de raças
puras apresentam-se mais susceptíveis, dentre eles destacam-se as
algumas como: Burmês, Bengal, Britânico de pelo curto, Birmanês, Himalaio
Devon Rex e Abissínio. Dependendo da localização geográfica e temporal e

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a predileção dos criadores regionais podem ocorrer variações quanto a esta
predisposição racial (PEDERSEN, 2009).
De acordo com um estudo realizado por Almeida et al., (2019), gatos
sem acesso a rua e que convivem em grupo apresentaram níveis elevados
de anticorpos para Coronavírus felino quando submetidos ao teste
sorológico. O acesso destes animais a rua aumenta em até quatro vezes as
chances de serem soropositivos quando comparados a animais indoor. Sua
vivência com contactantes por sua vez, aumenta em até duas vezes a
probabilidade de serem portadores do FCOV quando comparados a animais
vindos de ambientes de gato único. Sendo assim, estes índices tornam-se
importantes fatores de predisposição a ocorrência da doença.

2.3 Transmissão

A contaminação ocorre pela via oral -fecal, no momento de auto


higienização do felino ou durante sua alimentação (MASSITEL et al., 2021).
Vale ressaltar o uso de caixas de areia compartilhadas como a fonte de
infecção de maior importância, tigelas de água e comida também atuam
como fômites visto que podem apresentar saliva e secreções respiratórias
secretadas pelos felinos, estas excreções por sua vez ocorrem devido uma
replicação primaria na orofaringe e amigdalas nas primeiras horas após a
infecção.
A presença de um envelope rico em glicoproteínas na conformação
viral torna-o sensível a desinfetantes, temperatura superior a 32°C colabora
com a redução drástica da sua taxa de sobrevivência no ambiente
(MASSITEL et al., 2021).
Segundo Pedersen (2014), uma proporção cada vez maior dos gatos
de estimação é oriunda de ambientes multicat como abrigos, gatis e outros
congêneres, que podem ser um fator de estresse e favorecer a transmissão
oral-fecal da PIF em uma idade muito jovem desses animais.

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Um estudo de Sabshin et al., (2012) com 100 gatos admitidos em um
abrigo demonstrou que o coronavírus felino é, significantemente, o
enteropatógeno mais prevalente nas fezes de gatos com diarreia (58%).

2.4 Patogenia

O FCEV provoca a morte de enterócitos ao penetrar e se replicar no


epitélio intestinal, levando à ocorrência de diarreias de grau variável. Além
do epitélio intestinal, também pode ser encontrado no interior de órgãos
ricos em macrófagos e monócitos. Manifesta-se, portanto, uma fase
sistêmica e intestinal (PEDERSEN et al., 2008).
O mecanismo de mutação do FCEV em FCIV ainda não é bem
consolidado, mas acredita-se que sua predileção pelos monócitos e
macrófagos influenciem na sua replicação. A mutação provoca alterações
nas estruturas da superfície do vírus possibilitando que seja fagocitado
pelos macrófagos, ligando-se posteriormente aos ribossomos dessas
células, a partir do momento que ocorre esta ligação o vírus mutado torna-
se apto a replicar-se contribuindo assim com o desenvolvimento da PIF
(JERICÓ et al., 2015).
De acordo com Pedersen et al., (1995) gatos com baixa imunidade
celular e forte resposta humoral possuem maior probabilidade de apresentar
a PIF, ao contrário, gatos com uma imunidade celular mais intensa não
apresentam o curso clinico da doença.
Há duas explicações plausíveis para os eventos pós-disseminação viral.
O macrófago infectado pelo FCIV deixa a corrente sanguínea e entra nos
tecidos subjacentes, sua presença induz a chegada de neutrófilos, fatores
complemento e outras células de defesa para a lesão, gerando um acúmulo
de debris celulares caracterizando uma lesão piogranulomatosa
característica. Outra explicação presume que as lesões ocorram devido a
deposição de imunocomplexos na parede dos vasos sanguíneos, o tamanho

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destas lesões depende do grau de resposta humoral produzida pelo
organismo (JERICÓ et al., 2015).
Conforme os macrófagos infectados morrem, vírus e substâncias
quimiotáticas. As aminas vasoativas ao serem liberadas provocam a
retração de células endoteliais e, consequentemente, a exsudação de
proteínas plasmáticas. Esse evento contribui para formação de exsudatos
ricos em proteínas na PIF (JERICÓ et al., 2015).

2.5 Sinais Clínicos

O início da sintomatologia pode ser súbito, tardio ou insidioso. O


período de incubação varia de semana a meses, geralmente dentro de 14
dias o vírus pode ser encontrado em órgãos variados como fígado, baço,
colón, ceco e posteriormente, sistema nervoso central (JERICÓ et al., 2015).
Felinos infectados pelo FCOV apresentam sinais clínicos inespecíficos
e de curta duração tais como diarreia ou emese transitória decorrente da
replicação do vírus no interior dos enterócitos. Sendo assim dependendo da
carga viral os gatos podem se tornar portadores assintomáticos (JERICÓ et
al., 2015).
De acordo com Jericó et al., (2015), a mutação que permite a
disseminação do FCOV para os macrófagos e monócitos junto a resposta
imune de cada indivíduo, resulta em duas apresentações clinicas da PIF: a
forma não efusiva ou “seca” e a forma efusiva ou “úmida”, esta última
representa cerca de 80% dos casos PIF.
Na forma não efusiva (seca) podem ocorrer o aparecimento de lesões
granulomatosas em órgãos de forma lenta. Podem ocorrer ainda apatia,
anorexia, perda de peso, icterícia, linfonodomegalia mesentérica e
alterações neurológicas (JERICÓ et al., 2015). Alterações oculares também
podem ocorrer, nestes casos deve-se realizar com ajuda de um
oftalmoscópio a avaliação das retinas, as mesmas podem apresentar

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descolamento e ou/ hemorragia e até mesmo uma inflamação (MASSITEL,
2021).
De acordo com Wronski (2020), podem ocorrer uveíte anterior
(inflamação da íris e do corpo ciliar) associada a coriorretinite (inflamação
da coroide e retina), devido ao acumulo de debris celulares de maneira local
ou difusa. O descolamento por sua vez pode ocorrer devido ao surgimento
de manguitos perivasculares causados pela vasculite recorrente.
Na forma efusiva (úmida) podem ocorrer vasculites, ascite, pleurite e
peritonite, os outros achados clínicos semelhantes a forma não efusiva
(seca) tais como apatia, anorexia, perda de peso, icterícia e perda de peso
(JERICÓ et al., 2015).
Felinos com ascite apresentam aumento do volume abdominal, e
durante a palpação deve haver flutuação. Em casos de pleurites durante a
inspeção clinica pode-se observar dispneia, taquipneia, cianose de mucosas
e, em algumas vezes posição ortopneica. Em felinos machos pode ocorrer
aumento do volume escrotal devido ao acumulo de fluido (JERICÓ et al.,
2015).
Devido ao seu caráter agudo a PIF na sua forma efusiva pode levar
ao óbito em até oito semanas (FLORES, 2007).
As principais alterações neurológicas observadas incluem
hiperestesia, tetrapesia, hemiparesia, claudicações e ataxia progressiva
também podem ocorrer (JERICÓ et al., 2015).

2.6 Diagnóstico

O diagnóstico baseia-se na anamnese, sinais clínicos e achados do


exame físico e exames complementares.

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2.6.1 Métodos indiretos

2.6.1.1 Parâmetros Hematológicos

De acordo com Tasker (2018), a linfopenia é relativamente comum em


pacientes com PIF, e está presente em cerca de 55-77% dos casos, na sua
maioria das vezes associado a uma neutrofilia com desvio a esquerda e
anemia normocítica normocromica leve a moderada.

2.6.1.2 Parâmetros Bioquímicos

As alterações bioquímicas são variáveis e inespecíficas, mas pode


apresentar pontos importantes que devem ser levados em consideração
junto ao restante dos exames do paciente.
A avaliação da relação das proteínas totais nas efusões de um gato
com PIF faz-se extremamente necessário, pois revela-se um rápido
indicador ou não da doença. Geralmente há mais globulina (G) em relação a
albumina (A), provocando um declínio da relação (A/G). Resultados no qual
a relação mostra-se menor ou igual a 0,4 indica maior probabilidade de
ocorrência da PIF, resultados maiores que 0,8 indica baixa probabilidade da
ocorrência da PIF, no entanto quando a relação permanece entre os
intervalos 0,4 e 0,8 deve-se levar em consideração outros parâmetros
(CARDOSO, 2007).
A hiperbilirrubinemia pode ocorrer entre 21-63% dos casos de PIF,
sem que as enzimas alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina
(ALP) estejam elevadas. Normalmente a bilirrubina não se altera em quadros
de anemia hemolítica imunomediada grave (IMHA), sendo assim deve-se
levar em consideração que a presença de hiperbilirrubinemia na ausência
de atividade elevada das enzimas hepáticas ou anemia grave deve
aumentar o índice de suspeita de PIF (TASKER, 2018).

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2.6.1.3 Análise de amostras de efusão

O liquido de derrame pleural ou abdominal presente na PIF efusiva,


tem um uma aparência viscosa e sua cor pode variar entre vermelha, palha,
rosa ou quilosa. Pode ou não conter presença de fibrina. Possui baixa
concentração de células (inferior a 5x103 células/L) e alta concentração
proteica (superior a 3,5g/dl). É caracterizado como exsudato asséptico ou
transudato modificado (DRECHSLER et al., 2011).
O teste de Rivalta pode ser realizado para mensurar o teor de proteína
do liquido de derrame, porém um resultado positivo não é especifico de PIF.
Associar outros achados, é de suma importância para fechar o diagnóstico.
Para realização do mesmo é necessário a deposição de uma gota do liquido
de derrame de pacientes suspeitos em um tubo de ensaio contendo uma
solução de ácido acético 98% + 8 ml de água destilada. Se a gota mantiver
a forma, ser firme e/ou afunda lentamente indica uma alta concentração
proteica, ou seja, o resultado é positivo, caso haja a dissolução da gota na
solução o resultado deverá ser interpretado como negativo (DRECHSLER et
al., 2011). Há chances de se obter resultados falsos positivos caso o paciente
apresente linfoma ou peritonite bacteriana, visto que em ambos os casos os
líquidos produzidos também apresentam uma alta concentração proteica.

2.6.1.4 Diagnóstico por imagem

Nas imagens de ultrassom podem haver presença de efusões ascíticas


(associadas à distensão abdominal) ou pleurais (associadas à dispneia). No
geral, a ecogenicidade não está diretamente associada a PIF. O Raio-X por
sua vez pode revelar um aumento da silhueta cardíaca, nódulos
pulmonares, hiperplasia dos linfonodos mesentéricos, esplenomegalia e
hepatomegalia também podem ser visualizadas (SYKES, 2013).

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2.6.1.5 Sorologia

Os testes sorológicos frequentemente utilizados incluem


imunoabsorção enzimática (ELISA) e a imunofluorescência indireta (RIFI)
(PEDERSEN, 2009). Entretanto nenhum dos testes permite diferenciar as
formas de PIF, isso se deve ao fato de serem virtualmente semelhantes
gerando uma resposta humoral similar. A titulação sugestiva de PIF deve
ser maior ou igual a 1:3200, e gatos saudáveis podem apresentar títulos de
1:100 a 1:400 além disso felinos com PIF podem apresentar baixas
titulações de anticorpos uma vez que esses podem estar contidos nos
imunocomplexos.
Desta forma o uso de testes sorológicos para a definição do
diagnóstico de PIF mostra-se controverso, devendo, portanto, utilizar de
outros testes e sinais clínicos para gerar um diagnóstico mais fidedigno
(PEDERSEN et. al., 2008).
A presença de anticorpos não necessariamente indica PIF, assim como
a ausência de anticorpos não exclui o diagnóstico de PIF. De acordo com
Addie et al. (2009), é mais recorrente a morte de gatos com falsa
interpretação do teste de sorologia do que pela própria doença.

2.6.2 Métodos diretos

2.6.2.1 Imunohistoquímica e Imunofluorescência

A detecção do antígeno do coronavírus felino nos macrófagos pode ser


realizada através de dois métodos. A imunofluorescência é realizada nos
macrófagos dos líquidos de derrame, possui valor preditivo positivo de
100%, isso significa que que há 100% de chance de o gato ter PIF, sem a
possibilidade de ocorrer falsos positivos. A imunohistoquímica também é
100% preditiva de PIF, caso seja positiva. Ambos os testes são necessitam

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de métodos invasivos pois dependem da realização de laparotomia ou
laparoscopia para obtenção das amostras teciduais (JERICÓ et al., 2015).
Ambos os métodos são considerados “Padrão Ouro “para o diagnóstico
de Peritonite Infecciosa Felina, porém para realização dos mesmos deve-se
levar em consideração a situação do paciente, visto que apresentam em sua
maioria uma imunodeficiência, e a abordagem necessária para a realização
do teste na maioria das vezes pode contribuir para o agravamento do curso
clinico da doença podendo até mesmo evoluir ao óbito.
Ambos os testes são realizados principalmente no post-mortem para
justificar a causa do óbito do animal.

2.6.2.2 Reação em cadeia pela polimerase com transcrição reversa


(RT-PCR)

A técnica de PCR é extremamente solicitada na rotina clínica, trata-se


de um teste altamente sensível que permite identificar a presença da
infecção utilizando-se fragmentos de DNA para análise. Entretanto não é
possível distinguir as cepas mutadas da PIF, detectando somente o FCOV
(JERICÓ et al., 2015).
Quando realizado no liquido de efusão em casos de PIF úmida o
resultado positivo torna-se altamente sugestivo de PIF, caso o resultado
seja negativo a suspeita não pode ser descartada visto que este exame
apresenta sensibilidade em torno de 70% e especificidade de 95,8%,
portanto deve-se interpretar os resultados com cautela pois podem ocorrer
falsos positivos (FELTEN et al., 2017).
O mesmo não ocorre com amostras de sangue, devido à baixa carga
viral a taxa de falsos negativos é recorrente e a prova de RT-PCR positiva
aparece não somente em gatos com PIF, mas também em portadores sãos,
assim como a RT-PCR negativa pode comumente ocorrer em gatos com PIF
(JERICÓ et al., 2015).

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O PCR realizado em líquor apresenta 100% de especificidade e possui
80% de sensibilidade quando há sinais clínicos de alterações neurológicas,
sendo assim considerado um exame fidedigno para o diagnóstico da
peritonite infecciosa felina.

2.7 Principais diagnósticos diferenciais

Deve-se ter como diagnóstico diferencial a toxoplasmose, infecção


micobacteriana, colangite linfocítica e pancreatite (TASKER, 2018).

2.8 Tratamento

O tratamento consiste no suporte nutricional, correção e reposição


eletrolítica, que deve ser realizado nos felinos com PIF de acordo com a
sintomatologia apresentada. Uma vez que as manifestações clínicas são
secundárias às reações imunomediada do organismo contra o FIVP (LAPPIN,
2015).
A principal terapia paliativa visa aumentar a modulação da resposta
inflamatória, com a administração de citocinas como a interferona ou inibir a
resposta imune, com o uso de fármacos imunossupressores (LITTLE, 2015).
As drogas imunossupressoras como a ciclofosfamida e glicocorticoides
podem amenizar tais manifestações na PIF não efusiva e efusiva, entretanto
apenas prolongam o tempo de vida sem alterar o seu desfecho (PEDERSEN,
2009).
A prednisolona é o imunossupressor mais utilizado, pois é segura,
suprime a resposta imunitária humoral e a celular, além de estimular o
apetite e o bem-estar do animal (ADDIE & JARRET, 2006). Deve ser
ministrada em doses de 2 a 4 mg/kg SID por via oral (VO) com desmame
gradual a cada 10-14 dias, até determinação da dose mínima por meio da
avaliação da resposta do felino ao tratamento (ADDIE, et al., 2009).

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Segundo os estudos de LITTLE (2015), o interferon recombinante
felino e humano demonstraram inibir a replicação do coronavírus in vitro, no
entanto os resultados dos estudos in vivo não demonstraram nenhum efeito
na qualidade de vida ou tempo de sobrevivência dos animais.
A terapia com antivirais ganhou notoriedade em pesquisas de doenças
virais como o HIV e o vírus da influenza humana (LITTLE, 2015).
O primeiro a ser estudado foi o GC376, um antiviral inibidor de
protease. Pedersen et al. (2017) em seu estudo constatou que 30% dos
gatos tiveram remissão 18 meses depois de um período de tratamento de
12 semanas. O fármaco foi administrado subcutaneamente 2 vezes por dia,
sendo que a molécula se mostrou mais eficaz em felinos com a manifestação
exsudativa, do que na não exsudativa da PIF.
A molécula GS-441524 é um análogo do nucleotídeo adenosina
trifosfato (ATP) e forma ativa do Remdesivir (Gilead Sciences). A presente
medicação apresenta um amplo espectro antiviral. É o segundo
medicamento antiviral, após o GC-376 que foi destinado a ser avaliado para
o tratamento de felinos com peritonite infecciosa felina, nos últimos dois a
três anos. (Pedersen, 2019).
As drogras conseguiram inibir a replicação viral de duas maneiras
distintas, bloqueando a clivagem da poliproteína viral ou finalizando a
transcrição do RNA viral. Ambas tiveram resultados virtualmente iguais em
estudos experimentais e culturas de tecidos de infecção em felinos. Contudo
o GS-441524 demonstrou ter uma maior eficácia contra FIPV em ocorrência
natural de infecção do que o GC376 (PEDERSEN, 2019).

2.9 Prevenção

Os principais métodos de prevenção incluem o controle de infecções


de outras doenças comuns dos felinos que são controladas através das
vacinas. Deve-se priorizar a higiene em ambientes com a presença de vários

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animais além de evitar o alojamento exorbitante de animais a cada metro
quadrado. Testes sorológicos podem ser usados para auxiliar a separação
dos felinos principalmente aqueles destinados a reprodução e que em algum
momento apresentaram o vírus do FCOV em altas concentrações na
corrente sanguínea.
Ainda que existam vacinas comercializadas fora do território brasileiro,
principalmente no território dos EUA, sua eficácia ainda é controversa e
necessita-se de maiores estudos, para que seja aprovada e importada por
outros países.

3. Considerações Finais

Pode-se concluir que novas perspectivas a respeito da peritonite


infecciosa serão criadas. Estudos envolvendo uma descoberta pela a cura
clínica, antivirais eficiente contra o coronavírus felino dentre outras lacunas
consonante a PIF encontra-se em fases de experimento sendo que, já
demonstram avanços significativos. Que soluções para o diagnóstico,
terapêutica e prevenção dessa doença tornem-se uma conquista científica
dentro de um futuro próximo.

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Referências

ADIE, D. et al. Feline Infectious Peritonitis: ABCD Guidelines on Prevention


and Management. Journal of Feline Medicine and Surgery, Califórnia,
v.11, p.594-604, 2009. Disponível em:<
https://doi.org/10.1016/j.jfms.2009.05.008> Acesso em: 14 ago. 2021.

ALMEIDA, Ariani C.S., Galdino, Maicon V. and Araújo, João P.


Seroepidemiological study of feline coronavirus (FCoV) infection in
domiciled cats from Botucatu, São Paulo, Brazil. Pesquisa Veterinária
Brasileira [online]. 2019, v. 39, n. 02 p. 129- 133. ISSN 1678-5150.
Disponivel em:<https://doi.org/10.1590/1678-5150-PVB-5706>

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