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ENTRE LATIDOS E INQUIETAÇÕES: UMA REVISÃO DE

LITERATURA SOBRE A CINOMOSE CANINA

Resumo

A cinomose canina é uma doença de relevância na medicina veterinária, causada pelo vírus da
cinomose canina (CDV), que afeta uma variedade de sistemas no organismo canino, incluindo
o respiratório, gastrointestinal e o sistema nervoso central. Esta revisão busca fornecer uma
visão abrangente da cinomose canina, abordando sua etiologia, manifestações clínicas,
diagnóstico, tratamento e prevenção. A terapêutica envolve intervenções sintomáticas e de
suporte, incluindo o uso de soro hiperimune, antimicrobianos, medicamentos sintomáticos e
terapias alternativas. A prevenção por meio da vacinação é fundamental, embora falhas
vacinais possam ocorrer devido à mutabilidade do CDV. A conscientização sobre a cinomose
canina é essencial para cuidadores de animais e profissionais da veterinária, visando garantir a
saúde e o bem-estar dos cães. A colaboração entre a comunidade científica e os envolvidos na
saúde animal é vital para enfrentar esse desafio.

Palavras-Chave: CDV; Vacinação; Cinomose; Vírus.

Introdução

A Cinomose canina é uma doença viral multissistêmica aguda ou crônica, altamente


contagiosa, causada por um Morbillivirus. Sua transmissão ocorre por contato direto,
aerossóis, alimentos ou objetos contaminados, afetando principalmente cães domésticos
jovens, mas também outros carnívoros.

O agente etiológico da cinomose canina é o vírus da cinomose canina (Canine


Distemper Vírus - CDV), que pertence à família Paramyxoviridae e ao gênero Morbillivirus,
compartilhando classificação com outros vírus, como o vírus do sarampo (MV), o vírus da
cinomose focina (PDV), o vírus da peste de pequenos ruminantes (PPRV) e o vírus da peste
bovina (RPV) (King et al., 2011). Esses vírus de RNA têm uma distribuição global, alta
atividade infecciosa e são transmitidos principalmente via respiratória, com potencial para
causar imunossupressão e surtos com alta morbidade e mortalidade (Lempp et al., 2014; De
Vries et al., 2015).
Embora a existência de campanhas de vacinação tenha reduzido significativamente a
ocorrência da cinomose, ela ainda representa um perigo endêmico no Brasil, causando cerca
de 6% das ocorrências clínicas e 11% das mortes de cães (HEADLEY & GRAÇA, 2000).

Com o crescente vínculo entre humanos e seus companheiros caninos, a compreensão


aprofundada da cinomose canina tornou-se cada vez mais crucial, principalmente para fins de
prevenção. O objetivo principal desta revisão é fornecer uma visão geral abrangente da
cinomose - sua natureza, o vírus causador e suas implicações - destinada a pesquisadores e
cuidadores de animais, a fim de ampliar a conscientização sobre esse assunto vital.

Etiologia

O vírus da cinomose canina é um vírus envelopado com um genoma de RNA de fita


simples e polaridade negativa. Ele pertence à família Paramyxoviridae e é reconhecido como
o agente etiológico da cinomose, uma das principais infecções e patógenos significativos que
afetam tanto cães domésticos quanto outros carnívoros (McCANDLISH, 2001).

O genoma viral contém instruções para a síntese de seis proteínas principais, das quais
a hemaglutinina (H) e a proteína de fusão (F) desempenham papéis cruciais. A hemaglutinina
é responsável pela ligação do vírus às células hospedeiras, enquanto a proteína de fusão
facilita a entrada do vírus na célula hospedeira (Sawatsky e VonMessling, 2010). Esse
mecanismo de fusão é vital para a infecção (Moss e Griffin, 2006).

Existem várias estirpes do vírus da cinomose canina, cada uma com características
distintas. A estirpe selvagem-tipo A75/17, por exemplo, é conhecida por induzir infecções
persistentes no sistema nervoso central de cães. Além disso, existe o Distemperoid, que foi
descrito em furões, raposas e cães (GREEN; STULBERG, 1946, SUMMARY, 2009). As
estirpes Onderstepoort e Rockborn são amplamente utilizadas em todo o mundo para o
desenvolvimento de vacinas contra a cinomose (MOCHIZUKI et al., 1999). A estirpe Snyder
Hill, devido ao seu alto potencial neurotrópico, é empregada em experimentos que envolvem
inoculação intracerebral, tanto em estudos da patogênese viral quanto em desafios pós-
vacinais (NEGRÃO et al., 2006, HARTMANN et al., 2007). Além disso, as estirpes Cornell,
R252 e VR-128 também são mencionadas em pesquisas relacionadas ao combate à cinomose
(HARTMANN et al., 2007).

Vias de transmissão
A infecção pelo vírus da cinomose canina ocorre por meio da excreção de partículas
virais em aerossóis e outras excreções corporais de animais infectados. Essas partículas virais
podem ser liberadas por um longo período, às vezes estendendo-se por meses. Isso torna a
disseminação do vírus particularmente propensa em locais onde cães são mantidos em grupos,
resultando na instabilidade do vírus no ambiente (FRASER et al., 1997, SILVA et al., 2007).
Ambientes como abrigos, canis, lojas de animais e clínicas veterinárias são propícios para a
disseminação, devido às condições de estresse e à densidade populacional nessas áreas
(Birchard e Sherding, 2003).

Cadelas prenhes que estão infectadas podem transmitir o vírus via transplacentária,
levando a abortos, fetos natimortos ou ao nascimento de filhotes fracos e imunossuprimidos
(Arns et al., 2012). A taxa de infecção pelo CDV é maior do que o número de animais que
manifestam a doença clinicamente, resultando em casos subclínicos de infecção.
Independentemente da presença de sintomas clínicos, animais portadores da infecção aguda
sistêmica eliminam partículas virais em suas fezes, saliva, urina e exsudatos conjuntivais e
nasais a partir do 5º dia após a exposição ao vírus. Essa secreção viral pode ocorrer mesmo
antes da manifestação dos sinais clínicos e persistir por 60 a 90 dias (Appel, 1987).

Patologia

Em condições naturais de exposição, o CDV inicialmente infecta o trato respiratório


superior. Nas primeiras 24 horas após a infecção, ocorre a replicação viral em macrófagos e
linfócitos B e T circulantes, antes que as partículas virais se disseminem pelos vasos linfáticos
para gânglios e tonsilas. Essa fase inicial de replicação nos tecidos linfoides resulta em uma
imunossupressão profunda e duradoura (Deem et al., 2000; Vandevelde e Zurbriggen, 2005;
Greene, 2006).

Posteriormente, o vírus invade órgãos linfoides e tecidos epiteliais por todo o corpo,
aumentando a carga viral em 2 a 6 dias, frequentemente associado a hipertermia devido à
rápida multiplicação viral nos órgãos linfoides, bem como leucopenia devido à depleção de
células linfoides. O sistema nervoso central e os tecidos epiteliais são infectados
aproximadamente de 8 a 14 dias após a infecção pelo vírus (NELSON & COUTO, 2001).

Ao entrar no Sistema Nervoso Central (SNC), o vírus desencadeia alterações


neurológicas significativas e muitas vezes irreversíveis, resultando em um prognóstico
reservado (Gebara et al., 2004b). O grau de comprometimento do SNC está diretamente
relacionado ao tipo de cepa viral envolvida e aos fatores imunológicos do hospedeiro
(Vandevelde e Zurbriggen, 2005; Greene e Appel, 2006). As lesões neurológicas causadas
pela cinomose canina a tornam um modelo animal espontâneo para o estudo de doenças
desmielinizantes associadas à imunidade em humanos, como a esclerose múltipla, devido à
similaridade morfológica nas alterações neurais (Beineke et al., 2009; Wyss-Fluehmann et al.,
2010).

Durante a primeira semana de infecção, os cães apresentam uma linfopenia e são


imunossuprimidos, e a infecção pelo VCC parece causar um efeito de depleção de células T e
B e de necrose nos tecidos linfáticos. Cães que recuperam de forma precoce com no mínimo
de sinais clínicos, respondem com vigorosas reações imunes humoral e celular, produzindo
desta forma uma imunidade duradoura. Anticorpos neutralizantes aparecem inicialmente no
soro de cães infectados em 8 a 9 dias após exposição viral, alcançando um pico em 15
semanas. Estes anticorpos persistem até mesmo em nível significativo na maioria dos animais
por pelo menos 1 ano após a infecção. (TIZARD, 2002; ZEE, 2003)

Manifestações clínicas

Os sinais clínicos da cinomose canina podem variar consideravelmente de acordo com


a virulência da cepa viral, as condições ambientais, a idade e o estado imunológico do
hospedeiro. Em casos de cinomose aguda, é comum observar tosse, diarreia, anorexia,
desidratação e perda de peso em cães afetados. Infecções bacterianas secundárias
frequentemente levam a secreção óculo-nasal mucopurulenta e pneumonia. Além disso, pode
ocorrer uma erupção cutânea que progride para pústulas, principalmente na região abdominal.

Os sinais neurológicos geralmente se manifestam uma a três semanas após a fase


sistêmica da doença e podem incluir hiperestesia, rigidez cervical, convulsões, sinais
cerebelares e vestibulares, bem como ataxia (SWANGO, 1992).

A doença da cinomose canina pode evoluir em quatro fases distintas:

A) Respiratória: Caracterizada por tosse, pneumonia, secreção nasal (frequentemente


causada por infecções secundárias, incluindo Bordetella bronchiseptica), dificuldade
respiratória, secreções oculares e febre. Também ocorre inflamação da faringe, dos brônquios
e aumento das tonsilas (FENNER et al., 1993, SHERDING, 1998).

B) Gastrointestinal: Apresenta sintomas como vômito, diarreia, ocasionalmente


sanguinolenta (geralmente resultado de infecções secundárias), anorexia e febre. Isso
predispõe o paciente a infecções bacterianas secundárias (FENNER et al., 1993, SHERDING,
1998).

C) Nervosa: Caracterizada por alterações comportamentais, convulsões, contrações


musculares rítmicas e persistentes, paralisia ascendente, ataxia e uma variedade de outros
sintomas neurológicos. A mortalidade nesta fase pode variar amplamente, com cães
sobreviventes frequentemente apresentando sequelas (FENNER et al., 1993, SWANGO,
1997, SHERDING, 1998).

D) Cutânea: Marcada por dermatite com o desenvolvimento de pústulas na região


abdominal, hiperqueratose nos coxins podais (conhecida como "doença dos coxins ásperos"),
bem como sintomas neurológicos em cães adultos. Em casos de infecção neonatal, pode
ocorrer hipoplasia de esmalte dentário, conjuntivite e lesões na retina. O curso da doença pode
variar de dias a semanas ou meses, com recidivas intercaladas. A gravidade e a duração da
doença são influenciadas pela virulência da cepa viral (FRASER et al., 1997, ZEE, 2003).

Diagnóstico

A presença de anticorpos nas superfícies das células infectadas pelo vírus resulta em
interações com os receptores dos macrófagos. Isso desencadeia a produção de radicais livres
de oxigênio (ROS) (Vandevelde e Zurbriggen, 2005). Os ROS gerados pela micróglia podem
ter efeitos prejudiciais na transmissão sináptica e até mesmo causar danos diretos aos
neurônios. Além disso, os ROS podem levar à degeneração de fosfolipídios na região cortical
cerebral, afetando a produção de proteínas da bainha de mielina (Miao et al., 2003; Stein et
al., 2004; Vandevelde e Zurbriggen, 2005).

O diagnóstico da cinomose é desafiador devido à variedade de manifestações clínicas


que podem ocorrer. Os sinais clínicos, embora fundamentais para o diagnóstico, podem ser
confundidos com outras doenças (FRASER et al., 1997, GEBARA et al., 2004b, SILVA et al.,
2007, MANUAL..., 2008). Exames complementares, como hemograma, análise do líquido
cefalorraquidiano e exames radiográficos, não fornecem um diagnóstico definitivo da
infecção pelo vírus da cinomose em cães (APPEL; SUMMERS, 1999, ZEE, 2003).

Existem várias abordagens para o diagnóstico da cinomose:

Isolamento Viral: O isolamento viral em cultura celular é uma técnica específica, mas
pode ser difícil de ser realizada. Bexiga urinária, creme leucocitário de sangue com heparina e
cerebelo são espécimes post-mortem adequados para essa técnica. No entanto, se o animal não
estiver na fase aguda da doença, a técnica pode demorar e resultar em falsos negativos (SHIN
et al., 1995).

Técnicas Sorológicas: As técnicas sorológicas, como a detecção de anticorpos IgM


com um aumento de quatro vezes no título entre a fase aguda e a fase de convalescença,
podem ser usadas para diagnóstico. Isso pode ser determinado por vírus de neutralização ou
imunofluorescência indireta (QUINN et al., 2005). No entanto, esses métodos têm valor
diagnóstico limitado, pois alguns cães afetados podem não apresentar níveis mensuráveis de
anticorpos (APPEL; SUMMERS, 1999, FRISK et al., 1999, ZEE, 2003).

Histopatológico: O exame histopatológico é um método definitivo, pois as lesões


causadas pelo vírus da cinomose no sistema nervoso central são características. No entanto,
esse procedimento é realizado post-mortem e não permite o diagnóstico precoce e prévio à
morte (JONES et al., 2000). A identificação de corpúsculos de inclusão em células associadas
a exsudato, células epiteliais e neutrófilos pode confirmar o vírus da cinomose, mas a
ausência desses corpúsculos não exclui a infecção (GREENE, 1998, JONES et al., 2000).

Técnica de Reação em Cadeia da Polimerase Precedida de Transcrição Reversa


(RT-PCR): A RT-PCR é uma técnica rápida e sensível para a detecção do vírus da cinomose.
Ela não requer a infecciosidade da partícula viral e pode ser realizada em várias amostras
biológicas, como sangue, soro, urina e fragmentos de órgãos (ZEE, 2003, GEBARA et al.,
2004a).

Análise do Líquido Cefalorraquidiano: A análise do líquido cefalorraquidiano


(LCR) pode auxiliar no diagnóstico da infecção pelo vírus da cinomose. Alterações como
pleocitose de células mononucleares e aumento na concentração de proteínas podem ser
observadas em cães com infecção no sistema nervoso central (NELSON; COUTO, 2006).

Teste de Imunofluorescência: As partículas virais podem ser detectadas por meio da


imunofluorescência em células das tonsilas, do trato respiratório, do trato urinário, da
conjuntiva e do LCR nos primeiros dias dos sinais agudos da cinomose canina (SWANGO,
1997, ZEE, 2003).

Diagnóstico Diferencial: O diagnóstico da cinomose pode ser complicado devido à


ampla gama de sintomas clínicos que também são associados a outras doenças infecciosas,
como parvovírus, coronavírus, parainfluenza, raiva e toxoplasmose. O reconhecimento das
características específicas da cinomose, como febre elevada, corrimento conjuntival e nasal
mucopurulento e pneumonia precoce, é essencial para o diagnóstico diferencial (CARLTON;
McGAVIN, 1998, ZANINI; SILVA, 2006). Cada doença apresenta sintomas distintos, o que
permite distinguir a cinomose de outras infecções.

Portanto, o diagnóstico preciso da cinomose canina pode ser desafiador devido à


variedade de métodos disponíveis e à necessidade de diferenciar essa doença de outras
condições clínicas com sintomas semelhantes.

Tratamento e prevenção

O tratamento da cinomose canina é um desafio na medicina veterinária, uma vez que


não existe um protocolo terapêutico específico (Tipold et al., 1992; Kajita et al., 2006). O
tratamento é, portanto, sintomático e de suporte, com várias abordagens possíveis.

Para casos de cinomose canina, o tratamento sintomático e de suporte é fundamental,


uma vez que não existem medicamentos antivirais específicos reconhecidos como eficazes
(SWANGO, 1997, FRASER et al., 1997, SHERDING, 1998, NELSON; COUTO, 2006,
MANUAL..., 2008). Este tratamento pode envolver:

Uso de soro hiperimune: O soro hiperimune pode ser utilizado, pois é capaz de levar
à soroneutralização do vírus livre.

Antimicrobianos de amplo espectro: Antibióticos de amplo espectro são indicados


para tratar infecções bacterianas concomitantes no trato gastrointestinal e no sistema
respiratório.

Medicamentos para controle dos sintomas: Expectorantes, broncodilatadores,


antipiréticos, antieméticos e fluidoterapia podem ser administrados para aliviar os sintomas.

Anticonvulsivantes: São utilizados quando há convulsões presentes.

Corticosteroides: São indicados para tratar lesões neuronais e edema cerebral, mas
devem ser administrados com cautela, especialmente em casos agudos.

Suplementação vitamínica e mineral: A suplementação pode ser necessária para


apoiar o sistema imunológico do animal.

Terapias alternativas: Terapias como acupuntura e administração de células-tronco


têm sido exploradas na tentativa de auxiliar na recuperação dos pacientes.
Além dessas abordagens, menciona-se o uso de antivirais, como a ribavirina, associada
ao dimetil sulfóxido (DMSO), que possui propriedades anti-inflamatórias. No entanto, a
ribavirina apresenta diversos efeitos colaterais em diferentes espécies, o que levanta
preocupações sobre sua utilidade.

Em relação à prevenção da cinomose canina, a imunização por meio da vacinação é


indispensável (Arns et al., 2012). No entanto, falhas vacinais são frequentes e podem estar
relacionadas tanto à vacina como ao hospedeiro. A alta taxa de mutação do vírus da cinomose,
devido a interferências internas e externas, contribui para essas falhas vacinais.

A proteína H do vírus é uma das mais variáveis geneticamente e tem sido usada para
avaliar a diversidade genética entre os isolados de CDV. Portanto, estudos moleculares são
realizados para entender a origem das cepas virais e a dinâmica de circulação do vírus nos
animais.

A imunização bem-sucedida depende da ausência de anticorpos maternos, pois esses


anticorpos podem bloquear o vírus vacinal. Os filhotes podem ser vacinados a partir das 6 a 8
semanas de idade, com reforços até as 14 a 16 semanas de idade. A revacinação é necessária
um ano após a última dose. Cepas atenuadas do vírus do sarampo também podem ser usadas
em filhotes com alto risco de exposição ao vírus da cinomose.

Em resumo, o tratamento da cinomose canina é principalmente de suporte, visando


aliviar os sintomas e apoiar o sistema imunológico do animal. A prevenção por meio da
vacinação é crucial, mas falhas vacinais podem ocorrer devido à alta mutabilidade do vírus.
Estudos moleculares são realizados para entender melhor a variabilidade genética do vírus e a
eficácia das vacinas.

Considerações Finais

A cinomose canina representa uma enfermidade de notável importância na medicina


veterinária, suscitando um interesse substancial tanto por parte de pesquisadores como de
cuidadores de animais. A presente revisão buscou apresentar uma visão abrangente e criteriosa
sobre a cinomose canina, abordando sua etiologia, manifestações clínicas e impactos, com o
intuito de conscientizar e instruir aqueles envolvidos na saúde canina.

O vírus da cinomose canina (CDV), pertencente à família Paramyxoviridae, é o agente


causal dessa patologia altamente contagiosa. Os sintomas variados da cinomose afetam
primordialmente o sistema respiratório, gastrointestinal e o sistema nervoso central, variando
em gravidade e podendo resultar em óbito nos casos mais severos. O diagnóstico,
frequentemente desafiador, e a ausência de um protocolo terapêutico específico sublinham a
necessidade de tratamento sintomático e de suporte.

A terapêutica envolve uma série de intervenções, incluindo o uso de soro hiperimune,


antimicrobianos de amplo espectro, medicamentos sintomáticos, anticonvulsivantes,
corticosteroides e suplementação vitamínica, dentre outros. Terapias alternativas, como
acupuntura e administração de células-tronco, também têm sido consideradas para
complementar o tratamento convencional.

Adicionalmente, a prevenção desempenha um papel crucial na mitigação dos impactos


da cinomose canina. A vacinação é a pedra angular nessa estratégia, porém falhas vacinais
podem ocorrer devido à mutabilidade do vírus CDV. Portanto, a compreensão da diversidade
genética do vírus, especialmente no que diz respeito à proteína H, assume um papel
fundamental na otimização das vacinas.

Esta revisão visa fornecer uma base sólida de conhecimento sobre a cinomose canina,
direcionando-se a pesquisadores e cuidadores de animais, com o objetivo de sensibilizar e
informar sobre essa enfermidade crucial. A conscientização acerca dos sintomas, métodos de
prevenção, como a vacinação, e as opções terapêuticas disponíveis é essencial para garantir a
saúde e o bem-estar dos animais de estimação.

A cinomose canina continua a ser um desafio significativo na medicina veterinária,


demandando contínuos esforços de pesquisa para aprimorar o diagnóstico, o tratamento e a
prevenção dessa doença. A colaboração entre a comunidade científica, profissionais da
veterinária e cuidadores de animais desempenha um papel crucial na luta contra a cinomose
canina, com o objetivo de reduzir sua incidência e minimizar seus efeitos adversos nas
populações caninas em todo o mundo.

Relato de caso

Em um relato de caso redigido por Oliveira, Antonio e Zappa (2009), foi descrito o
encaminhamento ao setor de Moléstias Infecciosas (MI) da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia (FAMED - FAEF) em Garça, SP, no dia 13/08/2008. Tratava-se de um
cão macho, com 8 anos de idade, sem raça definida (SRD), de pelagem caramelo, pesando 3,5
Kg.
Durante o exame físico, o animal apresentava apatia, sinais de desidratação subclínica,
hipertermia, presença de carrapatos e tártaro dentário, secreção ocular e nasal, além de
sensibilidade à palpação abdominal. Além disso, o proprietário relatou que o animal estava
sem apetite há 3 dias e consumia pouca água. É importante destacar que havia outro cão que
teve contato com o paciente e faleceu dois meses antes, com diagnóstico de cinomose,
sugerindo assim a possibilidade de múltiplos sintomas e diferentes formas de transmissão da
doença.

Um hemograma completo, incluindo a contagem de plaquetas e pesquisa de


hematozoários, foi realizado, revelando linfopenia e indicando um processo infeccioso viral,
além da presença do corpúsculo de Lentz, considerado patognomônico da cinomose.

O tratamento instituído consistiu em fluidoterapia com solução glicofisiológica,


infusão de vitamina C e B, bem como o uso do antibiótico cloranfenicol na dosagem de 50
mg/kg a cada 8 horas, por 10 dias consecutivos. Além disso, foram realizadas inalações com
solução fisiológica a cada 12 horas, durante 5 dias consecutivos.

Após 10 dias, o animal retornou ao setor de Moléstias Infecciosas, apresentando uma


melhora satisfatória. A administração de fluidoterapia foi crucial para prevenir a desidratação
e a toxemia (pneumonia), restaurando e mantendo a função cardiovascular, além de corrigir
desequilíbrios eletrolíticos e ácido-base. As vitaminas administradas desempenharam um
papel fundamental na regeneração celular e no estímulo da imunidade. O cloranfenicol, um
antibiótico de amplo espectro, foi utilizado para controlar e combater infecções secundárias à
cinomose. As inalações com solução fisiológica ajudaram a desobstruir as vias respiratórias
do animal (Oliveira; Antonio; Zappa, 2009, p. 04).

Referências

DE, D.; DOS, N.; NASCIMENTO, S. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-


ÁRIDO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA ANIMAL CLÍNICA MÉDICA DE PEQUENOS
ANIMAIS CINOMOSE CANINA -REVISÃO DE LITERATURA. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://www.equalisveterinaria.com.br/wp
content/uploads/2018/12/Daniela_cinomose_concluida1-pdf.pdf>

HEADLEY, S.A.; GRAÇA, D.L. Canine distemper: epidemiological findings of 250 cases.
Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., v.37, p.136-140, 2000.
NELSON, R.W., COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro:
Guanabara, 2 ed., 2001, p.1084

OLIVEIRA, A.; ANTONIO, N.; DA SILVA. REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE


MEDICINA VETERINÁRIA -ISSN: 1679-7353 CINOMOSE CANINA -RELATO DE
CASO. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/ck5KSVD0bmTCFKe_2013-
6-24-16-43-17.pdf>.

Portela, V. A. de B., de Lima, T. M., & Maia, R. de C. C. (2017). Cinomose canina: revisão de
literatura. Medicina Veterinária (UFRPE), 11(3), 162–171. https://doi.org/10.26605/medvet-
n3-1776

VEIGA, A. R. DA et al. RELATO DE UM CASO DE CINOMOSE CANINA ATENDIDO


EM UMA CLÍNICA VETERINÁRIA DE FRANCISCO BELTRÃO, PR. SEPE - Seminário
de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFFS, v. 8, 24 out. 2018.

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