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Resumo
A cinomose canina é uma doença de relevância na medicina veterinária, causada pelo vírus da
cinomose canina (CDV), que afeta uma variedade de sistemas no organismo canino, incluindo
o respiratório, gastrointestinal e o sistema nervoso central. Esta revisão busca fornecer uma
visão abrangente da cinomose canina, abordando sua etiologia, manifestações clínicas,
diagnóstico, tratamento e prevenção. A terapêutica envolve intervenções sintomáticas e de
suporte, incluindo o uso de soro hiperimune, antimicrobianos, medicamentos sintomáticos e
terapias alternativas. A prevenção por meio da vacinação é fundamental, embora falhas
vacinais possam ocorrer devido à mutabilidade do CDV. A conscientização sobre a cinomose
canina é essencial para cuidadores de animais e profissionais da veterinária, visando garantir a
saúde e o bem-estar dos cães. A colaboração entre a comunidade científica e os envolvidos na
saúde animal é vital para enfrentar esse desafio.
Introdução
Etiologia
O genoma viral contém instruções para a síntese de seis proteínas principais, das quais
a hemaglutinina (H) e a proteína de fusão (F) desempenham papéis cruciais. A hemaglutinina
é responsável pela ligação do vírus às células hospedeiras, enquanto a proteína de fusão
facilita a entrada do vírus na célula hospedeira (Sawatsky e VonMessling, 2010). Esse
mecanismo de fusão é vital para a infecção (Moss e Griffin, 2006).
Existem várias estirpes do vírus da cinomose canina, cada uma com características
distintas. A estirpe selvagem-tipo A75/17, por exemplo, é conhecida por induzir infecções
persistentes no sistema nervoso central de cães. Além disso, existe o Distemperoid, que foi
descrito em furões, raposas e cães (GREEN; STULBERG, 1946, SUMMARY, 2009). As
estirpes Onderstepoort e Rockborn são amplamente utilizadas em todo o mundo para o
desenvolvimento de vacinas contra a cinomose (MOCHIZUKI et al., 1999). A estirpe Snyder
Hill, devido ao seu alto potencial neurotrópico, é empregada em experimentos que envolvem
inoculação intracerebral, tanto em estudos da patogênese viral quanto em desafios pós-
vacinais (NEGRÃO et al., 2006, HARTMANN et al., 2007). Além disso, as estirpes Cornell,
R252 e VR-128 também são mencionadas em pesquisas relacionadas ao combate à cinomose
(HARTMANN et al., 2007).
Vias de transmissão
A infecção pelo vírus da cinomose canina ocorre por meio da excreção de partículas
virais em aerossóis e outras excreções corporais de animais infectados. Essas partículas virais
podem ser liberadas por um longo período, às vezes estendendo-se por meses. Isso torna a
disseminação do vírus particularmente propensa em locais onde cães são mantidos em grupos,
resultando na instabilidade do vírus no ambiente (FRASER et al., 1997, SILVA et al., 2007).
Ambientes como abrigos, canis, lojas de animais e clínicas veterinárias são propícios para a
disseminação, devido às condições de estresse e à densidade populacional nessas áreas
(Birchard e Sherding, 2003).
Cadelas prenhes que estão infectadas podem transmitir o vírus via transplacentária,
levando a abortos, fetos natimortos ou ao nascimento de filhotes fracos e imunossuprimidos
(Arns et al., 2012). A taxa de infecção pelo CDV é maior do que o número de animais que
manifestam a doença clinicamente, resultando em casos subclínicos de infecção.
Independentemente da presença de sintomas clínicos, animais portadores da infecção aguda
sistêmica eliminam partículas virais em suas fezes, saliva, urina e exsudatos conjuntivais e
nasais a partir do 5º dia após a exposição ao vírus. Essa secreção viral pode ocorrer mesmo
antes da manifestação dos sinais clínicos e persistir por 60 a 90 dias (Appel, 1987).
Patologia
Posteriormente, o vírus invade órgãos linfoides e tecidos epiteliais por todo o corpo,
aumentando a carga viral em 2 a 6 dias, frequentemente associado a hipertermia devido à
rápida multiplicação viral nos órgãos linfoides, bem como leucopenia devido à depleção de
células linfoides. O sistema nervoso central e os tecidos epiteliais são infectados
aproximadamente de 8 a 14 dias após a infecção pelo vírus (NELSON & COUTO, 2001).
Manifestações clínicas
Diagnóstico
A presença de anticorpos nas superfícies das células infectadas pelo vírus resulta em
interações com os receptores dos macrófagos. Isso desencadeia a produção de radicais livres
de oxigênio (ROS) (Vandevelde e Zurbriggen, 2005). Os ROS gerados pela micróglia podem
ter efeitos prejudiciais na transmissão sináptica e até mesmo causar danos diretos aos
neurônios. Além disso, os ROS podem levar à degeneração de fosfolipídios na região cortical
cerebral, afetando a produção de proteínas da bainha de mielina (Miao et al., 2003; Stein et
al., 2004; Vandevelde e Zurbriggen, 2005).
Isolamento Viral: O isolamento viral em cultura celular é uma técnica específica, mas
pode ser difícil de ser realizada. Bexiga urinária, creme leucocitário de sangue com heparina e
cerebelo são espécimes post-mortem adequados para essa técnica. No entanto, se o animal não
estiver na fase aguda da doença, a técnica pode demorar e resultar em falsos negativos (SHIN
et al., 1995).
Tratamento e prevenção
Uso de soro hiperimune: O soro hiperimune pode ser utilizado, pois é capaz de levar
à soroneutralização do vírus livre.
Corticosteroides: São indicados para tratar lesões neuronais e edema cerebral, mas
devem ser administrados com cautela, especialmente em casos agudos.
A proteína H do vírus é uma das mais variáveis geneticamente e tem sido usada para
avaliar a diversidade genética entre os isolados de CDV. Portanto, estudos moleculares são
realizados para entender a origem das cepas virais e a dinâmica de circulação do vírus nos
animais.
Considerações Finais
Esta revisão visa fornecer uma base sólida de conhecimento sobre a cinomose canina,
direcionando-se a pesquisadores e cuidadores de animais, com o objetivo de sensibilizar e
informar sobre essa enfermidade crucial. A conscientização acerca dos sintomas, métodos de
prevenção, como a vacinação, e as opções terapêuticas disponíveis é essencial para garantir a
saúde e o bem-estar dos animais de estimação.
Relato de caso
Em um relato de caso redigido por Oliveira, Antonio e Zappa (2009), foi descrito o
encaminhamento ao setor de Moléstias Infecciosas (MI) da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia (FAMED - FAEF) em Garça, SP, no dia 13/08/2008. Tratava-se de um
cão macho, com 8 anos de idade, sem raça definida (SRD), de pelagem caramelo, pesando 3,5
Kg.
Durante o exame físico, o animal apresentava apatia, sinais de desidratação subclínica,
hipertermia, presença de carrapatos e tártaro dentário, secreção ocular e nasal, além de
sensibilidade à palpação abdominal. Além disso, o proprietário relatou que o animal estava
sem apetite há 3 dias e consumia pouca água. É importante destacar que havia outro cão que
teve contato com o paciente e faleceu dois meses antes, com diagnóstico de cinomose,
sugerindo assim a possibilidade de múltiplos sintomas e diferentes formas de transmissão da
doença.
Referências
HEADLEY, S.A.; GRAÇA, D.L. Canine distemper: epidemiological findings of 250 cases.
Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., v.37, p.136-140, 2000.
NELSON, R.W., COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro:
Guanabara, 2 ed., 2001, p.1084
Portela, V. A. de B., de Lima, T. M., & Maia, R. de C. C. (2017). Cinomose canina: revisão de
literatura. Medicina Veterinária (UFRPE), 11(3), 162–171. https://doi.org/10.26605/medvet-
n3-1776