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A cinomose é uma doença infecciosa altamente contagiosa com sinais e sintomas inespecíficos
causada por um Morbillivirus da família Paramyxoviridae. Sua evolução depende da
resposta imunológica de cada indivíduo, podendo evoluir para o óbito mesmo em tratamento.
O diagnóstico geralmente é com base na anamnese e sintomatologia devido aos sintomas
apresentados e podem-se solicitar exames complementares, bem como hemograma, teste
ELISA, RT-PCR, imunofluorescência indireta, isolamento viral e identificação da presença de
corpúsculo de inclusão (Lentz), corpúsculo este que será o diagnostico diferencial da
Cinomose. O tratamento instituído é sintomático e de suporte que varia de acordo com o
estado clinico do animal. A profilaxia e manejo devem ser orientados e inclui vacinação com
protocolo recomendado se iniciar ainda em filhotes, controle ambiental com higienização
adequada e isolamento de animais infectados.
Introdução
Stokholm, I., Puryear W., Sawatzki, K., Knudsen, S. W., Terkelsen, T., Becher, P., Siebert, U., &
Olsen, M. T. (2021). Emergence and radiation of distemper viruses in terrestrial and marine
mammals. Royal Sociely. 10.1098/rspb.2021.1969.
A doença pode acometer animais de todas as idades, sem predileção por raça ou sexo, sendo
mais frequentes em cães que não foram vacinados, especialmente quando cessa a imunidade
passiva transmitida pela mãe via colostro ou em que não completaram o protocolo vacinal
(Azevedo, 2013). Sabe-se, entretanto, que animais vacinados ainda são susceptíveis a infecção
do vírus da cinomose canina (CDV), tanto pela falha vacinal, que pode ocorrer por conta das
variações genéticas do vírus, má conservação da vacina, comprometimento da resposta imune
em cães vacinados com temperatura corporal acima de 39,8°C ou aqueles nos quais foram
tratados com corticoides em pelo menos três semanas (Greene e Appel, 2006; Day et al.,
2016).
Azevedo, É. P. de. (2013). Abordagem ao paciente acometido por cinomose canina. Faculdade
de Veterinária. Rio Grande do Sul: Faculdade Federal do Rio Grande do Sul.
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/119391/000970075.pdf?sequenc.
Greene, C.E.; Appel, M.J. Canine Distemper In: Greene, C.E. Infectious disease of the dog
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Day, M.J.; Horzinek, M.C.; Schultz, R.D.; Squires, R.A. Diretrizes Para a Vacinação De Cães E
Gatos.Journal of Small Animal Practice,57, 2016.
Os sinais clínicos da doença são divididos em quatro fases clinicas: na forma respiratória,
gastrointestinal, cutânea e nervosa (Nascimento, 2009). A primeira evidência da infecção do
CDV é facilmente vista na fase respiratória devido a presença de secreção ocular ou nasal,
serosa a mucopurulenta, seguidas dos demais sintomas vistos nessa fase. Em sequência ocorre
a gastrointestinal, de forma que o animal pode apresentar diarreia com ou sem sangue e
vômito. Na fase cutânea, são mais observados hiperqueratose dos coxins plantares e no nariz.
Os sinais neurológicos são os últimos a aparecer, cerca de 30% dos cães são acometidos, e
aproximadamente 10% dos animais com sinais neurológicos acabam indo a óbito por
encefalite aguda. Apesar da recuperação de alguns pacientes, muitos podem ficar com
sequelas permanentes da doença como mioclonias, ataxia, paresia, incoordenação e até
hiperexcitabilidade. Apesar da divisão das etapas da progressão da doença, alguns animais
podem apresentar de forma multissistêmica ou até mesmo não apresentar todos os
sintomas (Brito, 2015; Santos, 2018).
Rendon-Marin, S., Budaszewski, R. D. F., Canal, C. W., & Saens, J. R. (2019). Tropism and
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10.1186/s1285-019-1136-6
Etiopatogenia
Quatro a seis dias após a viremia inicial, uma segunda viremia ocorre intensamente via tráfego
leucocítico. Entre os segundo e sexto dia pode ser observado uma hipertermia em devido à
multiplicação viral exacerbada nos órgãos linfoides, bem como a leucopenia causada pela
destruição de células linfoides. Cerca de oito a dez dias pós-infecção, o CDV migra por
meio de vias hematogênicas ou pelo LCR (liquido cefalorraquidiano) para os tecidos
epiteliais e o sistema nervoso central, levando à sinais clínicos nervosos (Summers et al., 1979;
Higgins et al., 1982; Vandevelde e Zurbriggen, 1995; Maclachlan e Dubivo, 2011).
Summers, B.A.; Greisen, H.A.; Appel, M.J.G. Early events in canine distemper demyelinating
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TIZARD, Ian. Imunologia Veterinária. 10ª ed. Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial
Nacional. Publicado pelo selo Editora Guanabara Koogan Ltda., 2023
- Sinais clínicos
Diversos fatores podem levar a uma variação na manifestação dos sinais clínicos na cinomose,
tais como as condições ambientais, a idade, a cepa viral e o estado imunológico do hospedeiro.
(Freitas-Filho et al., 2014)
Freitas-Filho, E.G.; Ferreira, M.R.A.; Dias, M.; Moreira, C.N. Prevalência, fatores de risco e
associações laboratoriais para Cinomose canina em Jatai-GO. Enciclopédia Biosfera, Centro
Científico Conhecer - Goiânia, 10(18): 2356, 2014.
Apesar de nenhum sinal clínico ser característica única da cinomose e podendo-se manifestar
de formas isolada, a aparição multissistêmica facilita o diagnóstico da doença (APPEL &
CARMICHAEL, 1979). Alterações neurológicas multifocais acompanhados de febre, secreções
nasais e oculares, diarréia, vômitos, anorexia, hiperqueratose naso-digital e/ou dos coxins,
mioclonias, coriorretinite e história de não vacinação são indicativos de cinomose (FARROW &
LOVE, 1983; BRAUND, 1994; SUMMERS et al., 1995).
APPEL, M.J., CARMICHAEL, L.E. Systemic viral diseases. In: CATCOTT, E.J. Canine Medicine. 4.
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Clinicopathological features in 620 neurological cases of canine distemper. Pesquisa
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- Diagnóstico
Por se tratar de uma doença de fator multisistêmica, o diagnóstico clínico da cinomose ainda é
um desafio para os médicos veterinários. O conhecimento dos parâmetros laboratoriais da
doença pode orientar no diagnóstico e prognóstico. A maioria dos diagnósticos são baseados
em: anamnese, sintomatologia e achados hematológicos consistentes (NELSON & COUTO
2010).
NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 4.ed. Rio de Janeiro:
Elservier, 2010. 1674p.
Gutiérrez, M. M. B., Gutiérrez, J. A. O., Simón, M. T. C., Gómez, A. D., Bernal, G. D., Prieto, A.
G., . . . Fernández, I. S. (2015). Manual gráfico de imunologia e enfermidades infecciosas do
cão e do gato: MedVet.
O CDV pode ser diagnosticada através de exames laboratoriais por visualização de corpúsculos
de inclusão de Lentz em esfregaços sanguíneos, no líquor e em impressões das mucosas nasal,
prepucial, vaginal e principalmente conjuntival. Visto que o encontro destes corpúsculos de
Lentz é um achado para diagnostico diferencial de cinomose (GELATT, 1981; GREENE, 1984;
CHRISMAN, 1991).
GELATT, K.N. Textbook of veterinary ophtalmology. Philadelphia: Lea & Febiger, 1981. 788 p.
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Saunders, 1984, 967 p.
CHRISMAN, C.L. Problems in small animal neurology. 2. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1991.
526 p
- Tratamento
Atualmente não existe nenhuma terapia realmente eficaz que combata o vírus, por isso a
importância do tutor manter a carteira de vacinação em dia. O tratamento é sintomático e,
portanto, deve ser avaliado de acordo com a evolução da doença (Crivellentin & Borin-
Crivelletin, 2015).
Crivellentin, L. Z. & Borin-Crivelletin, S. (2015). Casos de rotina em medicina
veterinária de pequenos animais. São Paulo.
Durante os sintomas respiratórios, pode-se utilizar ampicilina (Greene & Vandevelde, 2015).
Estudos apontam a alta taxa de utilização de antimicrobianos de amplo espectro, tais como
ampicilina, cloranfenicol, ceftiofur, fluorquinolonas, amoxicilina associada ao ácido clavulânico,
cefalosporinas, e aminoglicosídeos e recomenda que a nebulização ou o uso de expectorantes,
como Acetilcisteina e bromexina, sejam associados (Mangia & Paes (2008) e Azevedo (2013). A
ribavirina é um antiviral utilizado durante o tratamento. Acredita-se que seu mecanismo de
ação atua interferindo na síntese de mRNA viral e inibe a formação de inosina monofosfato.
Seu uso pode provocar aumento de bilirrubina, ferro e ácido úrico (Spinosa et al., 1999).
Animais com ribavirina em seu protocolo apresentaram queda acentuada na concentração de
hemoglobina. Atualmente a ribavirina tem sido associada ao uso do dimetil-sulfóxido (DMSO)
de forma intravenosa, diluído em solução de cloreto de sódio (NaCl) a 0,9%, ambos por 15
dias, sendo que desta forma, permite que ocorra maior difusão tecidual do fármaco, além de
potencializar a ação antiviral da ribavirina (Torres & Ribeiro, 2012; Viana & Teixeira, 2015).
Viana, K. F. & Teixeira, N. S. (2015). Ribavirina e fase nervosa da cinomose: cura clínica, mas
não esterilizante-Relato de dois casos. Brazilian Journal of Veterinary Medicine, 37(1):29-32.
A acupuntura e fisioterapia são uma das mais antigas formas de tratamento clínico, e vem
sendo empregadas para melhora da qualidade de vida dos animais acometidos pelo CDV,
sendo assim, se é indicado principalmente para o tratamento de sequelas neurológicas que
podem permanecer após o animal se recuperar da infecção (MORAES,2013).
- Prevenção (se houver)
MARTINS, D.B.; LOPES, S. T.D. A.; FRANÇA, R. T. Cinomose canina: Revisão de literatura. Acta
Veterinária Brasílica. v.3,n.2,p.68-76.2009.
A imunidade da vacinação contra cinomose é longa e duradoura, mesmo que casos como falha
vacinal possam ocorrer, recomendam-se reforços de vacinação a cada um a três anos,
dependendo do nível do risco de exposição e conduta veterinária (BICHARD, SHERING,2003).
- Referências Bibliográficas